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Revista Udesc 50 anos | 1

2 | Revista Udesc 50 anos


DATA cidade evento
6a8 Florianópolis Semana da Udesc Faed - 52 anos
13 Florianópolis Evento de abertura no Mesc: homenagem aos aposentados
14 Florianópolis Palestra Magna Manuel Castells no Teatro Pedro Ivo
19 a 21 Joinville Semana Cultural da Udesc Joinville (CCT)
20 Florianópolis Comemoração dos 50 anos no Teatro Ademir Rosa (CIC)
Lançamento oficial da Revista Udesc 50 anos:
20 Florianópolis
A trajetória da Universidade dos Catarinenses
20 Balneário Camboriú Plantio de 50 ipês no Campus da Udesc - 5 anos do Cesfi
23 Lages Volta ciclística comemorativa na Udesc Lages (CAV)
27 Florianópolis Sessão Solene na Assembleia Legislativa da Santa Catarina (Alesc)

1º Florianópolis Exposição do Concurso de Fotografia da Udesc no Mesc


3 Florianópolis Lançamento do CD da Orquestra da Udesc no Teatro Ademir Rosa (CIC)
3a7 Florianópolis Jiudesc - Jogos Internos da Udesc
8 a 11 Laguna Semana da Udesc Laguna (Ceres)
23 São Bento do Sul Apresentação da Orquestra da Udesc no Centro Cultural Dr. Genésio Tureck (Ceplan)

15 a 25 Norte Catarinense Projeto Rondon da Udesc - Operação Elpídio Barbosa


21 a 26 Pinhalzinho JUCs - Jogos Universitários Catarinenses

6 Joinville Semana da Udesc Joinville - 50 anos (CCT)


Lançamento da cartilha “Empreendedorismo Mirim”
6 Florianópolis
da Udesc Esag nas escolas básicas da Grande Florianópolis

8 a 11 Florianópolis Semana de Educação Fiscal da Udesc Esag


12 Florianópolis 1º Encontro dos Egressos da Udesc Cefid
17 Ibirama 2º Salão de Ensino, Pesquisa e Extensão da Udesc Ibirama (Ceavi)
18 Ibirama Cineclube Presença da Udesc Cead
23 a 24 Chapecó 5º Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão da Udesc Oeste (CEO)
24 Florianópolis Mostra de Dança da Udesc Cefid

3 Chapecó Udesc na Praça no Oeste


3 Florianópolis Udesc Cefid no Parque
16 Florianópolis Projeto Aflora da Udesc Esag
16 a 18 Florianópolis Jisudesc - Jogos de Integração dos Servidores

4a6 Laguna 11º Encontro de Extensão da Udesc


10 a 15 Florianópolis Semana Udesc Ceart - 30 anos
12 a 14 Lages 1º Festival de Música Universitária e Cultura de SC
16 Polos EaD Exposição de Fotografias “Olhares Pedagógicos” da Udesc Cead

Também serão realizadas sessões solenes nas Câmaras Municipais em cidades com unidades presenciais da Udesc.

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Mensagem do Reitor

Cinquenta anos
acolhendo pessoas
A
ssim como Santa Catarina historicamente acolheu Logo depois, acolheu a Região Norte e a Serra Catarinen-
açorianos, africanos, alemães, italianos, povos se com suas unidades em Joinville e Lages, interiorizan-
eslavos, dentre outros, a Udesc foi criando, ao do o ensino superior público em Santa Catarina.
longo dos seus 50 anos, uma grande cultura acolhedora. Universidade que foi para perto da fronteira, aco-
Primeiro acolheu cursos noturnos na Capital, atendendo lhendo o povo do Oeste. Por quase uma década, foi a úni-
funcionários públicos e pequenos empresários, que tra- ca universidade pública e gratuita nessa região. Qual foi
balhavam durante o dia. Ainda hoje em Florianópolis, a universidade pública e gratuita que também desbravou
muitos cursos de graduação e de pós-graduação privile- o Planalto Norte, o Vale do Itajaí e o Sul Catarinense? A
giam esse tipo de acesso em todos os centros de ensino. Udesc. Resposta curta, para uma universidade de braços

A Udesc é uma universidade de braços longos, que


acolhe a todos e a todas, permitindo diminuir assimetrias
regionais e dinamizar a economia de Santa Catarina
Antonio Heronaldo de Sousa Reitor da Udesc 2012-2016

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expediente

longos, que acolhe a todos e a todas, permitindo diminuir Universidade do Estado


assimetrias regionais e dinamizar a economia de SC. de Santa Catarina – Udesc
Universidade que acolhe paranaenses, gaúchos, pau- Gestão 2012-2016
listas e nordestinos, enfim, acolhe o Brasil. Universidade
Reitor
pioneira na implantação de cotas para grupos socialmen- Antonio Heronaldo de Sousa
te em desvantagem. Universidade que acolhe diretamen-
te mais de três dezenas de municípios, por meio dos po- Vice-Reitor
los de educação a distância e das unidades presenciais. Marcus Tomasi
Dos primeiros acolhidos aos últimos formados, são
milhares de professores, engenheiros, administradores, Revista Udesc 50 anos
enfermeiros, fisioterapeutas, agrônomos, médicos ve-
Coordenação
terinários, profissionais de computação e informática,
Thiago Cesar Augusto
zootecnistas, arquitetos, economistas, dentre várias
outras profissões, todas de igual valor. Textos e edição
Esses profissionais fizeram do Norte Catarinense Gustavo Cabral Vaz
um dos maiores polos metal-mecânicos brasileiros. Tor- Luiz Eduardo Schmitt
naram SC referência na produção de alimentos no Brasil, Rodrigo Brüning Schmitt
seja com o agronegócio cooperativo ou o industrial. Thiago Cesar Augusto
A Udesc também acolheu a formação e a capaci-
Projeto gráfico e editoração
tação de professores nas mais variadas áreas, além de Gustavo Cabral Vaz
administradores públicos e empresariais. Esses profis-
sionais fizeram com que SC despontasse nos principais Pesquisa
indicadores sociais do Brasil. Thiago Cesar Augusto
Além disso, quem acolheu primeiro a necessidade
de formar mestres e doutores no interior? A Udesc. Res- Colaboração
posta curta, para uma instituição de longa ação junto a Rogério Braz da Silva
Tania Rohleder
empresas, órgãos públicos e entidades do terceiro setor.
A Udesc tem desbravado o interior e as áreas ur- Entrevistas
banas menos favorecidas, com projetos de extensão, Paulo Roberto Santhias
como o Rondon de SC. A Udesc tem acolhido crianças
e idosos para oficinas, cursos, espetáculos e competi- Artigos
ções, estimulando uma vida mais saudável e plena. Os artigos desta publicação são assinados,
A Udesc, com seu Hospital Veterinário e sua Clínica portanto representam a opinião dos autores
de Fisioterapia, tem atendido milhares de demandas de
Capa e contracapa
produtores rurais e pacientes em reabilitação.
Laboratório de Design da Udesc (LabDesign)
A Udesc é uma universidade que tem realizado
muitas pesquisas para melhorar nossa produção agro- Fotografia
pecuária e industrial e a qualidade de vida de nossa Arquivo pessoal, arquivo histórico e
população. Qual é o único estado brasileiro livre de fe- assessorias de Comunicação dos centros e
bre aftosa sem vacinação? Qual é o estado brasileiro da Reitoria, Antônio Rossa, CR2 Fotografia,
que tem, ao mesmo tempo, as menores taxas de anal- Eduardo Trauer, Gustavo Cabral Vaz, Jonas
Pôrto, Mauro Tortato e Solon Soares.
fabetismo e um dos melhores índices de desenvolvi-
mento da educação básica e superior? É Santa Catarina. Revisão
Resposta curta, para um Estado que há longos anos tem Luiz Eduardo Schmitt
buscando viabilizar sua própria universidade, que pes- Rodrigo Brüning Schmitt
quisa soluções para seus desafios. Thiago Cesar Augusto
Universidade que produziu clones bovinos a partir
de células de animais inférteis. Universidade que busca Impressão
construir parafusos inteligentes, que mudam de cor para Diretoria da Imprensa Oficial
e Editora de Santa Catarina (Dioesc)
aumentar a segurança das pessoas, entre outras ações.
Ao acolher as pessoas que em SC vivem ou passam Tiragem
a viver, a Udesc valoriza o território e a cultura cata- 5 mil exemplares
rinense. A Udesc valoriza a natureza exuberante desse
Estado, suas paisagens variadas e seu ecossistema. Data da publicação
A Udesc também valoriza o trabalho dessa gente Maio de 2015
empreendedora, que investe seu suor para que, há 50
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)
anos, nosso Estado possa oferecer formação superior
Avenida Madre Benvenuta, 2007 – Bairro Itacorubi
pública, gratuita e de qualidade para seus filhos e aos Florianópolis/SC – CEP: 88.035-901
do que aqui queiram contribuir para a contínua melho- (48) 3321-8000 – comunicacao@udesc.br
ria da sociedade catarinense e brasileira. 9 www.udesc.br

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apresentação

Um passeio pela
história da Udesc
O
s 50 anos da nossa Udesc são motivo de co- voltado a pessoas com mais de 45 anos, na Capital.
memoração para todos os catarinenses. Isso A contrapartida do investimento público na educação
porque a trajetória da universidade se confun- superior pode ser vista ainda em iniciativas como o
de com a da construção do ensino público em Santa Hospital Veterinário de Lages, que presta atendimento
Catarina. Hoje, o papel da Udesc na sociedade vai na região, assim como aulas de diversas modalidades
muito além de formar novos profissionais de quali- esportivas, abertas à população em Florianópolis, no
dade para o mercado de trabalho. A instituição está Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid).
presente em praticamente todos os setores da econo- A lista de fatos históricos e contribuições da
mia do Estado, como no agronegócio, no polo metal- instituição aos catarinenses é extensa. Seria preci-
-mecânico, tecnológico, no turismo e, mais recente- so uma publicação para evidenciar algumas dessas
mente, no polo petroleiro, entre outros. qualidades. É justamente esse o objetivo da revista
É protagonista também de relevantes projetos “Udesc 50 anos: a trajetória da Universidade dos Ca-
voltados à comunidade, como o Rondon, que presta tarinenses”, um registro importante para a comunida-
assistência à população menos favorecida em mu- de sobre o legado da instituição em Santa Catarina.
nicípios do interior do Estado, e a Esag Sênior, que Também, uma fonte de pesquisa histórica para quem
oferta formação complementar em Administração, se interessar sobre o assunto.
Na revista, o leitor poderá conferir artigos exclu­
sivos de reitores que passaram pela instituição, de
servidores dos 12 centros de ensino da universidade,
além de ex-alunos e lideranças políticas. Pessoas que
construíram uma identificação forte com a instituição
e tem muito a contar sobre os feitos e desafios de
cada época. Há também entrevistas com o primeiro
reitor eleito da Udesc, professor Rogério Braz da Silva,
em 1990, e do também reitor Anselmo Fábio de Mo-
raes (2004-2008), que, assim como outros, contribuiu
muito para o fortalecimento da nossa instituição.
Após um amplo trabalho de pesquisa em arqui-
vos históricos, conseguimos elaborar uma linha do
tempo, que mostra com riqueza de detalhes todos os
passos da nossa universidade desde sua fundação,
até os dias de hoje. Você poderá ler ainda conteúdos
especiais sobre os centros de ensino. Uma atração
à parte são as imagens e fotos de época da Udesc,
em diversos momentos, selecionadas especialmente
para remontar a história da nossa universidade.
A leitura da revista “Udesc 50 anos: a trajetória
da Universidade dos Catarinenses” permite um pas-
seio sem igual pelo tempo, para cristalizar um ca-
minho vitorioso pela educação superior no Estado.
Parabéns, Udesc! 9

“A leitura da revista ‘Udesc 50 anos: a trajetória da


Universidade dos Catarinenses’ permite cristalizar um
caminho vitorioso pela educação superior no Estado”
Marcus Tomasi Vice-reitor da Udesc, presidente da
Comissão dos 50 anos da Udesc e ex-aluno da Udesc Esag

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Comissão dos 50 anos Udesc

Presidente: Marcus Tomasi


Vice-Presidente: Thiago Cesar Augusto
Membros:
Carla Regina Magagnin Roczanski Rogério Braz da Silva
Ivan Luis Tonon Rosilane Pontes Bernard
Josiele Vanessa Alves Soeli Francisca Mazzini Monte Blanco
Maria Madalena Brognoli Vicente Concilio

Da esquerda para a direita:


Josiele Alves (coordenadora de Eventos), Ivan Tonon (coordenador de Cultura),
Vicente Concilio (diretor de Extensão da Udesc Ceart), Maria Brognoli
(professora aposentada da Udesc Cefid), Marcus Tomasi (vice-reitor),
Rosilane Bernard (coordenadora de Avaliação Institucional), Carla Roczanski
(coordenadora de Projetos e Inovação), Rogério Braz (professor da Udesc Faed)
e Thiago Augusto (secretário de Comunicação).

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sUMÁRio

10
UdesC
a Universidade
dos Catarinenses

14
HistóRia
a educação
como prioridade no
governo Celso Ramos

26
entReVistas
Rogério Braz da silva e
anselmo Fábio de Moraes

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30
gaLeRia dos
ReitoRes
Os 14 magníficos
dos primeiros 50 anos

32
as Unidades
Raio-x dos
12 centros da Udesc
pelo estado

37
aRtigos
a história da
Udesc na visão
de alguns de seus
construtores e
idealizadores

Revista Udesc 50 anos | 9


A Universidade dos Catarinenses

Vocacionada para
o desenvolvimento
C
riada em 1965, a Universidade do Estado de Santa Essa atuação em todo o Estado, seja com unida-
Catarina (Udesc) é considerada pelo Ministério da des presenciais ou a distância, consolidou o modelo
Educação (MEC) como a quarta melhor universidade vocacionado da Udesc para o perfil socioeconômico e
estadual do Brasil e a 18ª no geral entre 192 avaliadas. cultural das regiões onde a universidade está inserida,
A instituição, que tem excelência no ensino superior no intuito de fortalecer esse contexto. Os cursos ofe-
atuando nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, chega recidos são nas áreas de saúde, tecnologia, educação,
aos 50 anos dispondo de uma estrutura multi­campi, com arte e socioeconômicas.
12 unidades distribuídas em dez cidades do Estado de O Campus I, em Florianópolis, por exemplo, ofere-
Santa Catarina, na Região Sul do Brasil, além de 27 polos ce cursos voltados à educação e ao setor terciário da
de apoio presencial para o ensino a distância, em par- economia e da prestação de serviços, atividades pre-
ceria com a Universidade Aberta do Brasil (UAB/MEC). dominantes dessa região. No Campus II, em Joinville
e São Bento Sul, a Udesc priorizou cursos para aten- Unificada (Sisu) e editais de transferência. Ao todo, são
der a demanda de mão de obra qualificada do setor mais de três mil vagas todos os anos, sendo 20% para
industrial, como engenharias e Informática, além de estudantes de escolas públicas e 10% para negros.
licenciaturas. No Campus III, em Lages, onde se so- Na pesquisa, a Udesc mantém 142 grupos certifi-
bressai a agropecuária, a instituição mantém cursos cados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento e
como Medicina Veterinária e Agronomia. Tecnológico (CNPq), divididos em oito grandes áreas:
Por sua vez, o Campus IV, no Oeste, atende deman- Ciências Agrárias; Biológicas; da Saúde; Exatas e da
das da região com a oferta de cursos de Enfermagem, Terra; Humanas; Sociais Aplicadas; Engenharias; e Lin-
Engenharia de Alimentos e Zootecnia, considerado o guística, Letras e Artes.
segundo melhor do Brasil, além da recém-aprovada Professores e alunos da Udesc realizam 500 ações
Engenharia Química. O Campus V, em Ibirama e Bal- de extensão por ano em diversas áreas para levar o co-
neário Camboriú, tem cursos como o de Engenharia nhecimento obtido no ensino e na pesquisa ao público
de Soft­ware, Administração Pública e Engenharia de externo. As ações gratuitas beneficiam mais de 600 mil
Petróleo, um dos mais concorridos no vestibular. Já o pessoas anualmente.
Campus VI, em Laguna, oferta os cursos de Engenharia A Udesc oferece completa estrutura como biblio-
de Pesca e Arquitetura e Urbanismo. tecas e laboratórios em todas as suas unidades. A ins-
Atualmente, são 15 mil alunos distribuídos em tituição conta ainda com outros diferenciais, como o
53 cursos de graduação e 38 mestrados e doutorados. Hospital Veterinário, o Laboratório de DNA, a Clínica
Mais de 95% dos professores efetivos são mestres e Escola de Fisioterapia, o Museu da Escola Catarinense,
doutores. O ingresso na universidade pode ser feito a Editora Universitária, o Escritório de Direitos Auto-
via vestibulares (verão e inverno), Sistema de Seleção rais e três emissoras de rádio FM. 9
230 mil 600 mil
obras nos acervos pessoas beneficiadas anualmente
das bibliotecas por ações de extensão

1 Florianópolis 17 Criciúma
2 São José 18 Araranguá
3 Itapema 19 Praia Grande
4 Balneário Camboriú 20 Campos Novos
5 Itajaí 21 Caçador
6 Joinville 22 Treze Tílias
7 São Bento do Sul 23 Joaçaba
8 Blumenau 24 Concórdia
9 Indaial 25 Ponte Serrada
10 Ibirama 26 Chapecó
11 Pouso Redondo 27 Pinhalzinho
12 Otacílio Costa 28 Palmitos
13 Lages 29 São Miguel do Oeste Unidades presenciais
14 Braço do Norte 30 Palhoça Unidades e polos
15 Tubarão 31 Canelinha Polos de ensino a distância
16 Laguna

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12 Cursos de graduação
Campus I – Grande Florianópolis
Cursos de pós-graduação
Florianópolis
unidades Florianópolis Administração – Acadêmico (M/D)
Administração vespertino (B) Administração – Profissional (M)
Administração noturno (B) Artes Visuais – Acadêmico (M/D)
27 Adm. Pública matutino (B)
Adm. Pública noturno (B)
Ciências do Movimento
Humano – Acadêmico (M/D)
polos Artes Visuais (B/L) Design – Acadêmico (M)
Biblioteconomia (B) Educação – Acadêmico (M/D)
de EAD Ciências Econômicas (B) Fisioterapia – Acadêmico (M)
Design Gráfico (B) Gestão de Unidades de
Design Industrial (B) Informação – Profissional (M)
31 Educação Física (B/L)
Fisioterapia (B)
História – Acadêmico (M/D)
Música – Acadêmico (M)
cidades Geografia (B/L) Planej. Territorial e Desenvolvimento
História (B/L) Socioambiental – Profissional (M)

53 Moda (B) Redes Em Artes – Profissional (M)


Música (B/L) – Piano, Violão, Teatro – Acadêmico (M/D)
Violino ou Viola e Violoncelo
cursos de Pedagogia (L) Joinville
graduação Pedagogia a Distância (L) Ciências e Engenharia de
Materiais – Acadêmico (M/D)
Teatro (L)
Computação Aplicada – Acadêmico (M)
Campus II – Norte Catarinense Engenharia Civil – Acadêmico (M)

38 Joinville
Ciência da Computação (B)
Engenharia Elétrica – Acadêmico (M/D)
Engenharia Elétrica – Profissional (M)
mestrados e Engenharia Civil (B) Engenharia Mecânica – Acadêmico (M)
Ensino de Ciências, Matemática e
Engenharia Elétrica (B)
doutorados Engenharia Mecânica (B) Tecnologias – Profissional (M)
Engenharia de Produção e Sistemas (B) Física – Acadêmico (M)
Física (L)
Matemática (L) Lages

15 mil Química (L)


Tecnologia em Análise e
Ciência Animal – Acadêmico (M/D)
Ciência do Solo – Acadêmico (M/D)
Ciências Ambientais – Acadêmico (M)
Desenvolvimento de Sistemas (T)
alunos Engenharia Florestal – Acadêmico (M)
São Bento do Sul Produção Vegetal – Acadêmico (M/D)

55 mil Engenharia de Produção


– Habilitação em Mecânica (B)
Sistemas de Informação (B)
Oeste
Zootecnia – Acadêmico (M)
egressos
Campus III – Planalto Serrano M = Mestrado | D = Doutorado

822 Lages
Agronomia (B)
Engenharia Ambiental (B)
professores Engenharia Florestal (B)
efetivos Medicina Veterinária (B)

Campus IV – Oeste Catarinense


Chapecó, Palmitos e Pinhalzinho

793 Enfermagem (B)


Engenharia de Alimentos (B)
Engenharia Química (B)
técnicos Tec. em Produção Moveleira (T)
efetivos Zootecnia (B)

Campus V – Vale do Itajaí


Ibirama
142 Ciências Contábeis (B)
Engenharia de Software (B)
grupos de Engenharia Sanitária (B)

pesquisa Balneário Camboriú


Administração Pública (B)
Engenharia de Petróleo (B)

500 Campus VI – Sul Catarinense


Laguna
ações de Arquitetura e Urbanismo (B)
Engenharia de Pesca (B)
extensão
B = Bacharelado
L = Licenciatura
T = Tecnólogo Revista Udesc 50 anos | 13
História

A educação como prioridade


no Governo Celso Ramos
O
marco inicial do planejamento em Santa Cata- Nesse seminário, que serviu de base para a ela-
rina decorreu de um projeto de lei enviado à boração do Plano de Metas do Governo (Plameg), foi
Assembleia Legislativa em março de 1955, du- identificado que faltava mão de obra qualificada no Es-
rante o Governo Irineu Bornhausen, com a finalidade tado e que, no setor da educação, só existiam 275 mil
de orientar a atuação do poder público, dando origem matrículas em idade escolar primária em um universo
ao Plano de Obras e Equipamentos (POE), que durou de 500 mil crianças. Além disso, o ensino médio dispu-
cinco anos (1956-1960). nha de apenas 23 mil vagas e o superior, menos de mil.
No entanto, as primeiras diretrizes para uma po- Diagnosticou-se também que, além da precarie-
lítica educacional desenvolvimentista em SC surgiram dade das instalações escolares, o ensino ministrado
no Seminário Socioeconômico, promovido em 1959 e era do modelo tradicional, inexistindo treinamento ou
1960 pela Federação das Indústrias do Estado de Santa ensino técnico profissional, somando-se a tudo isso o
Catarina (Fiesc), cujo presidente era Celso Ramos. despreparo do corpo docente.

1 2

1950 1960
1956 1963 1964
A Lei Estadual Lei Estadual Em março,
nº 1.520, de 9 nº 3.191, de 8 ocorre a
de outubro, cria de maio, que implantação
a Faculdade de dispõe sobre o do curso de
Engenharia de Sistema Estadual Pedagogia,
Joinville (FEJ). A de Ensino. Nela, na Faed, em
mesma lei, no artigo está prevista Florianópolis.
1º, ressalta que a FEJ a criação do
poderia integrar a Instituto Estadual
Universidade de Santa de Educação e,
Catarina. Destaca-se vinculado a ele,
que a FEJ entrou em a Faculdade de
funcionamento em 1º Educação (Faed),
de agosto de 1965. marco inicial
da Udesc.

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Foi então em 1961, durante o Governo Celso Ra- voltado à formação do elemento humano para o trabalho
mos, por meio da Lei Estadual nº 2.772, que o Plano de e para a universidade. Foi um plano de investimento para
Metas do Governo (Plameg) para o quinquênio 1961- o ensino e um programa decisivo de escolarização total.
1965 se efetivou. A ação se destinava à execução, ao Essas metas deram origem à criação de seis fun-
aperfeiçoamento e à atualização de obras e serviços dos, obtidos mediante a vinculação de parcelas da
públicos e ao desenvolvimento social e econômico do receita tributária e a aplicação de convênios. Dentre
Estado. Embora não significasse mais do que um orça- eles, estava o Fundo Estadual de Educação, destinado à
mento paralelo de investimentos, seus recursos deve- construção, reconstrução e ampliação de equipamentos
riam ser aplicados em quatro itens: estradas de roda- de prédios escolares de ensino primário, médio e supe-
gem; energia elétrica; agricultura; e educação. rior, incluindo aperfeiçoamento de serviços, melhoria
Os três objetivos principais do Plameg – execução, dos padrões pedagógicos e subvenções e ajudas finan-
aperfeiçoamento e atualização de obras e serviços pú- ceiras e técnicas a entidades particulares ou oficiais.
blicos – foram encaminhados para as seguintes metas:
“O Homem” (Educação e Cultura, Justiça e Segurança 1 – Antigo prédio da Fej na Rua Otto Boehm.
Pública, Saúde e Assistência Social e Sistema de Água 2 – Prédio da Faed nos anos 1960.
e Esgoto); “O Meio” (Energia, Rodovia e Obras de Arte); 3 – Primeira sede da Esag, na Praça Getúlio Vargas.
e “A Expansão Econômica” (Agricultura e Pecuária, In- 4 – Decreto de criação da Udesc.
5 - Lei de criação da Faed.
dústria e Crédito).
6 – Instalações iniciais da Fej.
A primeira dessas metas, que objetivava o homem, 7 – Formatura da primeira turma da Esag, em 1969.
considerou a educação como investimento prioritário, 8 – Formatura da primeira turma da Faed, em 1967.

3 4

6 7 8

1960
1964 1965 1965 1965
Lei Estadual nº 3.530, de 16 de outubro, Decreto Estadual nº Elpídio Decreto Estadual
autoriza o chefe do Poder Executivo a 2.802, de 20 de maio, Barbosa, que nº 3354, de 10
constituir a Fundação Escola Superior da dispõe sobre a Fundação era secretário de novembro,
Administração e Gerência (Fesag). Educacional de Santa estadual de aprova o primeiro
Catarina, outorgando-lhe Educação, estatuto da
o encargo de constituir assume Universidade
a Universidade para o imediatamente para o
Desenvolvimento do também como Desenvolvimento
Estado de Santa Catarina o primeiro do Estado de
(Udesc), a Faculdade de reitor da Santa Catarina
Agronomia de Lages e a Udesc. (Udesc).
Faculdade de Veterinária
de Lages, e incorporar
as instituições de ensino
superior já existentes
como a Fej, Faed e Esag.

Revista Udesc 50 anos | 15


História
O marco inicial da Udesc Estadual de Ensino, o Conselho Estadual de Educa-
ção (CEE/SC), que foi criado em 1961 e instalado em
Apesar de todos esses esforços, Santa Catarina 28 de maio de 1962, acolheu sugestão do Plameg e
ressentia-se da existência de um órgão técnico capaz deixou prevista a criação da Faculdade de Educação
de orientar seu sistema educacional. (Faed) e do Centro de Estudos e Pesquisas Educacio-
Em 1962, o Plameg projetou um convênio com o nais (Cepe), em Florianópolis.
Ministério da Educação e do Desporto (MEC) para a ins- Ambos os órgãos surgiram por meio da Lei Esta-
talação de um centro regional de pesquisas educacio- dual nº 3.191/1963, que foi publicada no Diário Oficial
nais em Florianópolis, cujos estudos pudessem servir do Estado de 7 de junho e responsável por instituir o
de meios ao entendimento dos problemas e, ao mes- Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina.
mo tempo, determinar rumos mais claros e conscientes Para facilitar e agilizar a busca de soluções aos
para a educação catarinense. problemas de gerência das unidades de ensino do Esta-
Para atingir essa meta, o Plameg iniciou sua ges- do, foi levantada a hipótese de vincular a Faed e o Cepe
tão junto ao MEC em 1962, mas, após a regulamen- a um órgão de administração indireta, o que resultou
tação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), ficou defini- na escolha do modelo de fundação dentre as possibili-
do que o ministério não instalaria mais esses órgãos dades existentes.
nos estados. Diante disso, a Secretaria de Estado de Por isso, a Lei Estadual nº 3.191/1963 também
Educação e Cultura, por sugestão do Plameg, criou criou a Fundação Educacional de Santa Catarina (Fesc),
um grupo de trabalho, que realizou estudos sobre o dotada de personalidade jurídica de direito privado,
Centro de Pesquisas Educacionais de Santa Catarina com sede e foro em Florianópolis e jurisdição em todo
naquele mesmo ano, visando a implantação do órgão o território catarinense, supervisionada pela Secretaria
no exercício seguinte. de Estado da Educação e mantenedora das unidades
Durante a elaboração do anteprojeto do Sistema estaduais de formação profissional de nível médio.

1970
1973 1973 1979
Decreto Decreto A Esag se
Federal nº Federal nº muda da Rua
71.810, de 6 71.811, de 6 Visconde de
de fevereiro, de fevereiro, Ouro Preto,
autoriza autoriza nº 91, para o
a Escola a Escola Bairro Itacorubi.
Superior de Superior de Posteriormente,
Educação Medicina a Reitoria da
Física Veterinária Udesc também
(Esef), em (Esmeve), é transferida
Florianópolis. em Lages. para o local.

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Udesc escreve a história de Santa Catarina e do Brasil
Por Paulo Roberto Santhias

Na segunda metade dos anos to de instituições relevantes para O Plameg promoveu o início
50, Santa Catarina assumiu o pro- o desenvolvimento de SC, como o da transição do modo de produção
jeto desenvolvimentista da época, Besc, a pavimentação das princi- incipiente à era do capital indus-
acompanhando as ideias do presi- pais rodovias que ligam o territó- trial, da diversificação da produ-
dente da República Juscelino Ku- rio catarinense, como a BR-101, e ção estadual à exportação, o que
bitschek e tendo planejamento e investimentos em energia, teleco- alterou definitivamente a econo-
desenvolvimento como palavras- municações e principalmente edu- mia, decorrendo muito também
-chave desde o primeiro Plano de cação, com a ampliação e a constru- das mudanças efetivas na educa-
Obras e Equipamentos (POE), apro- ção de escolas e a criação da Udesc. ção catarinense, com a Udesc no
vado pela Assembleia Legislativa O Plano de Metas do Governo protagonismo dessas ações.
em 3 de março de 1955. (Plameg) começou a ser elaborado A universidade, que nasceu
Depois de ser presidente da em seminários realizados na épo- com a vocação de desenvolver as
Federação das Indústrias do Esta- ca em que Celso Ramos presidiu a regiões do Estado em diferentes se-
do de Santa Catarina (Fiesc) naque- Fiesc e foi posto em prática duran- tores, trouxe indubitavelmente ou-
la década, Celso Ramos assumiu o te seu mandato, com foco em três tra inovação no cenário universitá-
governo estadual em 1961. Com áreas: “O Homem”, “O Meio” e a “Ex- rio brasileiro a partir da criação de
sua equipe, planejou o surgimen- pansão Econômica”. infraestruturas multicampi.

2 3 1 – Primeiro prédio do Cefid,


em 1976.
2. Antigo prédio do CAV.
3. Ceart nos anos 1980.
4. Portaria do MEC que
reconhece a Udesc.

1980
1980 1985 1985 1989 1989 1989
Em 17 de abril, Ocorre o Criação Entra em A nova A Udesc passa a ofertar
por meio da reconhecimento do Centro funcionamento, Constituição ensino totalmente
Portaria nº da Udesc como de Artes em 22 de Estadual, gratuito a partir
262, é criado universidade (Ceart), em julho, o Grupo promulgada da promulgação da
o Centro pelo Ministério Florianópolis, de Estudos em 5 de Constituição Estadual,
de Ciências da Educação em 11 de da Terceira outubro, em 5 de outubro. O
Agroveterinárias (MEC), por meio dezembro, Idade (Geti), determina a artigo 39, caput, do
(CAV), após o do Conselho por meio o programa autonomia Ato das Disposições
início do curso Federal de da Portaria de extensão da Udesc Constitucionais
de Agronomia. Educação nº 179 da mais antigo por meio da Transitórias define que a
(CFE), com a Reitoria da da Udesc em criação da “...Udesc será organizada
publicação Udesc. atividade. Fundação sob a forma de fundação
da Portaria Universidade pública mantida pelo
Ministerial nº do Estado de Estado, devendo seus
893, de 11 de Santa Catarina. recursos ser repassados
novembro. em duodécimos”.

Revista Udesc 50 anos | 17


História
A mesma lei colocou a Faed como órgão integran- e teve a direção do professor Osvaldo Ferreira de Melo.
te do Instituto Estadual de Educação (IEE) e previu Assim, nasceu a Faed, fruto do Plano de Metas do
um curso de Pedagogia para que a faculdade pudesse Governo no mandato do governador Celso Ramos e
apoiar o Plano Estadual de Educação na capacitação modelo para a criação de instituições congêneres em
do grande número de professores não habilitados e na outros estados, pois é considerada a primeira faculda-
formação de técnicos em educação para atuação no sis- de de Educação do Brasil.
tema educacional do Estado.
Já o Decreto Estadual nº 563/1963, assinado Criação e incorporação
pelo governador em 14 de agosto daquele ano, esta- das unidades já existentes
beleceu o regulamento da Faed e permitiu a instalação
do Cepe, que iniciou suas atividades com pessoal téc- Dessa dinâmica, emergiram a Escola Superior de
nico especializado. Administração e Gerência (Esag), que foi oficializada pela
O Conselho Estadual de Educação realizou então Lei Estadual nº 3.530, de 16 de outubro de 1964, para
um concurso de títulos para o provimento de profes- suprir a falta de profissionais qualificados nas empresas
sores nas disciplinas de Pedagogia, que teve o resulta- catarinenses, em processo de expansão e modernização;
do homologado pelo Decreto Estadual nº 1.167/1963 e a Faculdade de Engenharia de Joinville (FEJ), que foi
da Secretaria de Educação, de 28 de dezembro, e o criada pela Lei Estadual nº 1.520, em 9 de outubro de
cumprimento do dispositivo regulamentar que deter- 1956, mas somente iniciou as atividades em 1° de agos-
minava a realização dos primeiros exames de habilita- to de 1965, para responder ao crescimento industrial,
ção de alunos ao curso em fevereiro do ano seguinte. especialmente no setor metal-mecânico, igualmente ca-
Em 2 de março de 1964, ocorreu a aula inaugural rente de recursos humanos especializados.
da Faculdade de Educação, que foi proferida pelo pro- Ressalta-se ainda que a Faculdade de Agrono-
fessor Elpídio Barbosa, secretário de Educação e Cultura, mia e a Faculdade de Veterinária, ambas de Lages,

1990
1990 1990 1991 1991 1991
Ocorre a Em 1º de outubro, é sancionada Criação da Criação da Criação do Quadro de
primeira a Lei Estadual nº 8.092. Assim, a Associação Associação Pessoal Permanente e do
eleição para Universidade para o Desenvolvimento dos do Pessoal Plano de Cargos e Salários
reitor na do Estado de Santa Catarina Servidores da Aposentado da Udesc por meio da
Udesc, em é transformada em Fundação Universidade da Udesc Lei Estadual nº 8.332, de
maio. Os Universidade do Estado de Santa do Estado de (Apa) em 9 de setembro. Já a Lei
professores Catarina, mantendo a sigla Udesc. Santa Catarina 21 de Complementar, da mesma
Rogério Braz Essa lei caracteriza a universidade (Asudesc) em agosto. data, dispõe sobre normas
da Silva como “[...] fundação pública, mantida 12 de março. de ingresso e promoção
(reitor) e pelo Estado, vinculada à Secretaria dos servidores da
Johnny Hess de Educação, com patrimônio e Fundação Universidade do
(vice) são receita próprios, autonomia didático- Estado de Santa Catarina.
eleitos pela científica, administrativa, financeira, Ambas são alteradas pela
comunidade pedagógica e disciplinar, observada, Lei Complementar
acadêmica. no que for aplicável, a organização nº 345/2006, válida até
sistêmica estadual”. os dias de hoje.

18 | Revista Udesc 50 anos


foram criadas pelo Decreto Estadual nº 2.802/1965 e os estabelecimentos estaduais de ensino comer-
(o mesmo da criação da Udesc) – todavia, a Escola cial em funcionamento na data deste decreto;
Superior de Medicina Veterinária (Esmeve) só iniciou IV – A Faculdade de Agronomia de Lages, a Facul-
suas atividades em 1973 e o curso de Agronomia, dade de Veterinária e os estabelecimentos estadu-
em 1980, sendo implantadas para responder à ne- ais de ensino médio agrícola em funcionamento na
cessidade de dinamizar e modernizar a agricultura e data deste decreto;
a pecuária do Estado. Parágrafo único: Integrarão também a Universida-
Toda essa dinâmica culminou com a criação da de os estabelecimentos estaduais de ensino supe-
Universidade para o Desenvolvimento do Estado de rior que vierem a ser criados.”
Santa Catarina (Udesc) em 1965, ocorrida por meio do
Decreto Estadual nº 2.802, de 20 de maio de 1965, Entende-se, portanto, que o surgimento da Udesc
que foi publicado no Diário Oficial do Estado em 4 de está centrado historicamente no esforço de desen-
junho e incorporou as unidades de ensino superior já volvimento que Santa Catarina empreendeu através
existentes, conforme citado no artigo 27: do Plano de Metas do Governo. Esse esforço sofreu a
limitação imposta pela carência de recursos humanos
“Artigo 27 – Integrarão a Universidade: e, dentro desse contexto, a criação da universidade
I – A Faculdade de Educação e o Instituto de Edu-
cação, que comporão o Centro de Formação Pe-
dagógica; 1 – Reitor Rogério Braz e governador Casildo Maldaner
II – A Faculdade de Engenharia de Joinville e os es- durante a sanção da Lei 8.092.
2 – Museu da Escola Catarinense, reformado em 2013.
tabelecimentos oficiais de ensino técnico industrial
3 – Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais,
em funcionamento na data deste decreto; o primeiro da Udesc recomendado pela Capes, em 1995.
III – A Escola Superior de Administração e Gerência 4 – Implantação do curso de Pedagogia na modalidade EaD.

2 3 4

1990
1991 1992 1994 1995 1995 1999
A Lei Estadual Início das Repasse Primeiro Em 6 de Ocorre a
nº 8.332 também atividades do de 1,95% mestrado da dezembro, o implantação
determina que Museu da Escola garantido, Udesc, em Senado Federal, do projeto
a Udesc passe a Catarinense a partir do Ciência e por meio do curso de
receber 1% das (Mesc) em 16 próximo Engenharia do Decreto graduação em
receitas correntes de novembro, ano, por de Materiais, Legislativo nº Pedagogia, na
do Estado em no primeiro meio da em Joinville, é 169, permite modalidade
julho, agosto e prédio da Faed, LDO, da Lei recomendado que a Udesc a distância,
setembro e, a no Centro de Estadual nº pela Capes/ execute os ofertado
partir de outubro, Florianópolis. 9.670, de 29 MEC em 17 serviços de pelo Centro
1,2%, além do de julho. de julho. radiodifusão de Ciências
acréscimo de nas cidades de da Educação
benefícios como Florianópolis, (Faed).
o 13º salário e Joinville e
outras despesas. Lages.

Revista Udesc 50 anos | 19


História
teve exatamente a formação e a qualificação de pes- ta, estão Faculdade de Educação (Faed), Faculdade de
soas como objetivos iniciais. Engenharia de Joinville (FEJ), Escola Superior de Admi-
A partir do princípio de que a universidade é uma nistração e Gerência (Esag) e faculdades de Agronomia
instituição voltada para a busca da verdade por meio e de Medicina Veterinária de Lages;
do cultivo do saber nas suas múltiplas formas e da in- - Complementares: instituições de caráter docente,
vestigação científica, a Udesc se propôs desenvolver de extensão, cultural ou técnico, inclusive as de nível
a educação sob três aspectos: o ensino, como institui- técnico ligadas à vida e aos objetivos da universida-
ção formadora de recursos humanos; a pesquisa, como de. Na lista, estão o Instituto Estadual de Educação,
centro promotor e estimulador do desenvolvimento a Escola Normal de Educação Física e estabelecimen-
científico e tecnológico; e a extensão, como órgão com- tos de ensino técnico;
prometido com o desenvolvimento integral e integrado - Agregados: de ensino superior que dela venham fazer
de Santa Catarina. parte, embora mantidas por outra entidade.
Desde que foi criado, o estatuto vem sofrendo as
O primeiro estatuto e adaptações necessárias ao desenvolvimento do Estado
o desenvolvimento da Udesc e da educação. Outras versões surgiram e deram forma
às características atuais da Udesc.
Em 10 de novembro de 1965, com base no arti- A versão de 10 de abril de 1969, formalizada pelo
go 79 da Lei Estadual nº 4.024, de 20 de dezembro Decreto Estadual nº 7.778, constituía a Udesc em uni-
de 1961, e no parecer do CEE/SC, o Governo do Es- dades de nível superior (as mesmas do primeiro es-
tado aprovou o Estatuto da Udesc pelo Decreto Esta- tatuto) e nível médio, como, por exemplo, a Escola de
dual nº 3.354. Educação Física, em Florianópolis.
O documento personaliza a entidade e a estru- Essa versão passou por uma revisão, que foi de-
tura da Udesc, esclarece sua finalidade e a constitui terminada em 17 de fevereiro de 1972, por meio do
em três categorias: Decreto Estadual nº 45, para unificar as faculdades de
- Integrantes: mantidas pelo Governo do Estado. Na lis- Lages, com o nome de Centro Agro-Veterinário (CAV),

1 2

2000
2000 2000 2002 2002 2003 2003
Criação da Publicada a Em 11 de José Carlos Em 16 de maio, Anselmo Fábio
Associação Portaria nº 769 dezembro, Cechinel é ocorre intervenção de Moraes
dos do MEC, em 2 são criados eleito reitor na Reitoria da (reitor) e
Professores de junho, que dois centros. pro tempore Udesc, sendo Sebastião
da Udesc credencia a O Centro em sessão de nomeado Antônio Melo (vice)
(Aprudesc) Udesc junto ao Educacional do 16 de maio do Diomário de são eleitos
em 9 de ministério para Oeste (CEO), Consuni e toma Queiroz, mas, 41 para o
outubro. oferecer o curso por meio do posse dois dias dias depois, ele mandato de
de Pedagogia na Decreto Estadual depois, porque sai do cargo após 2004-2008,
modalidade a nº 6.032, e o processo Cechinel obter a tomando
distância. o Centro de eleitoral estava recondução em posse em
Educação a sub judice. decisão liminar 12 de abril
Distância (Cead), do Tribunal de de 2004.
por meio do Justiça.
Decreto Estadual
nº 6.034.

20 | Revista Udesc 50 anos


e criar o Centro de Educação Física e Desporto (Cefid), O Parecer nº 632/1985, de 9 de outubro, con-
em Florianópolis. cluiu que a Udesc “se credencia, sob todos os aspec-
Dentre os estatutos que se sucederam, estão as tos, tanto acadêmicos (ensino, pesquisa e extensão)
versões de 1974, aprovada em 24 de outubro pelo De- como materiais, institucionais, organizacionais e,
creto Estadual nº 1.431, e de 1983, aprovada em 23 de principalmente, pelos recursos humanos, para rece-
dezembro pelo Decreto Estadual nº 21.115, junto com ber reconhecimento oficial como Universidade para
o primeiro Regimento Geral da Udesc. o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina”,
O Estatuto de 1974 determinou que a estrutura da sendo “mantida pela Fundação Educacional de Santa
universidade era composta por Faed, FEJ e Esag, além Catarina (Fesc)”.
da Escola Superior de Educação Física (Esef), que foi Essa decisão se efetivou com a Portaria nº 893 do
oficializada pelo Decreto Federal nº 71.810, de 6 de Ministério da Educação e da Cultura, que foi assinada
fevereiro de 1973, e da Escola Superior de Medicina em 11 de novembro de 1985 e publicada no Diário
Veterinária (Esmeve), que foi autorizada pelo Decreto Oficial da União de 26 de novembro daquele ano.
Federal nº 71.811, da mesma data. Com esse reconhecimento, a Udesc conseguiu a au-
Ressalta-se que a oficialização do Centro Agro- tonomia que não teve nos seus 20 anos iniciais, perío-
-Veterinário foi adiada em virtude de o curso de Agro- do no qual funcionou como universidade autorizada, e
nomia só ter entrado em funcionamento nos anos 80. saiu de uma vida autônoma assistida para uma autono-
A Esmeve tornou-se Centro de Ciências Agroveteri- mia didático-científica outorgada pela legislação.
nárias (CAV) por meio da Portaria nº 262, de 17 de
abril de 1980.
Em 1984, a Udesc protocolou processo junto ao 1 – Prédio do curso de Zootecnia, no Oeste Catarinense.
Conselho Federal de Educação (CFE) para obter o reco- 2 – Sede da Udesc Ibirama.
3 – Reunião do Consuni que aprovou atual Estatuto da Udesc.
nhecimento oficial como universidade. O processo foi
4 – Inauguração da nova sede em Laguna.
analisado pela Comissão Especial para Análise de Pro- 5 – Primeiro curso de doutorado da Udesc, em Lages.
cessos de Criação de Universidades. 6 – Prédio da Udesc em São Bento do Sul.

3 4 5

2000
2006 2006 2006 2007 2007
Estatuto atual O Conselho Em 6 de novembro, são Aprovado nos Capes
da Udesc é Universitário da criados os centros de conselhos da aprova,
aprovado pelo Udesc aprova, ensino do Planalto Norte universidade em julho,
Decreto Estadual por meio da (Decreto Estadual nº o atual o primeiro
nº 4.184, de 6 de Resolução nº 268, 4.831) e do Alto Vale do Regimento curso de
abril. Também é o Plano 20 (até Estado (Decreto Estadual Geral da doutorado
aprovada a Lei 2025) em reunião nº 4.832). Já o Centro de Udesc, que da Udesc,
Complementar nº realizada em 28 Ensino do Sul do Estado segue sendo de Manejo
345, em 7 de abril, de setembro. (Decreto Estadual nº aprimorado do Solo,
que dispõe sobre o 5.018) é criado em 28 ao longo em Lages.
Plano de Carreiras de dezembro. Com isso, dos anos.
dos Servidores. O o repasse para a Udesc
texto está sendo é ampliado de 1,95% da
aprimorado até os Receita Líquida
dias atuais. para 2,05%.

Revista Udesc 50 anos | 21


História
Além disso, a decisão da comissão especial resultou “A Faculdade de Educação – Faed, a Escola Supe-
nas mudanças de nomes da Faculdade de Engenharia rior de Administração e Gerência – Esag e o Centro de
(FEJ), que passou a se chamar Centro de Ciências Tec- Educação Física e Desportos – Cefid, patrimônios do
nológicas (CCT), e da Escola Superior de Administração e ensino superior do Estado de Santa Catarina e células-­
Gerência (Esag), que se transformou, em 1986, no Cen- mãe da atual Udesc, ficam preservadas como siglas
tro de Ciências da Administração e, em 2007, no Centro e integrantes, respectivamente, do Centro de Ciências
de Ciências da Administração e Socioeconômicas, com a Humanas e da Educação, do Centro de Ciências da Ad-
aprovação do Regimento Geral da Udesc pela Resolução ministração e Socioeconômicas e do Centro de Ciên-
nº 44 do Conselho Universitário (Consuni). cias da Saúde e do Esporte”.
Antes dessas alterações, porém, a Escola Superior Com o reconhecimento da Udesc em 1985, é
de Educação Física (Esef) passou a se chamar Centro de criado um novo centro por exigência do Ministério
Educação Física e Desportos (Cefid), em 1984. Mais tar- da Educação (MEC): o de Artes, por meio da Portaria
de, com a inclusão de mais um curso de graduação, mu- nº 179 da Reitoria da Udesc, publicada em 11 de de-
dou o nome para Centro de Educação Física, Fisiotera- zembro de 1985.
pia e Desportos, mas, com o Regimento Geral de 2007, Ressalta-se que a atuação da universidade na
tornou-se Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. área começou no início da década de 70 na Faed,
O mesmo caso ocorreu com a Faed, que passou quando o ensino de Artes tornou-se obrigatório e a
a adotar, em 1984, o nome de Centro de Ciências da Udesc foi conclamada a suprir essa necessidade edu-
Educação, e, mais tarde, de Centro de Ciências Huma- cacional do mercado de trabalho. Para a implantação
nas e da Educação. do Ceart, o curso de Educação Artística – com ha-
A resolução do Consuni sobre o Regimento Geral bilitação em Música, Artes Plásticas e Desenho, foi
de 2007 destaca inclusive que as unidades mais anti- transferido da Faed para o novo centro e foi criada
gas mudariam de nome, mas manteriam as siglas: uma nova habilitação, a de Artes Cênicas.

1 2

2010
2010 2010 2011 2011 2011 2012
Em 21 de Ocorre a Oito de abril é Em 25 de Vinte de Na LDO desse
maio, é criado primeira o primeiro dia julho, ocorre novembro é a ano, que
o Centro de operação de inscrições o lançamento data da prova dispõe sobre
Educação do Núcleo para o Vestibular do primeiro do Vestibular o exercício
Superior da Extensionista Vocacionado de edital do de Verão 2012, financeiro
Foz do Itajaí Rondon (NER), Inverno 2011, Programa quando a de 2013, o
(Cesfi). Com da Udesc, de no qual a Udesc de Auxílio seleção deixa de governo amplia
isso, o repasse 4 a 11 de inicia a reserva Permanência ser vocacionada o repasse da
aumenta dezembro, de 20% das vagas Estudantil e passa a Udesc para
para 2,10%. realizada nos para estudantes (Prape). acontecer em 2,49% em
municípios de escolas fase única, já função da
de Calmon e públicas e 10% prevendo a retirada do
Matos Costa. para negros. adesão parcial Fundeb da base
ao Sistema de cálculo da
de Seleção Receita Líquida
Unificada (Sisu). Disponível.

22 | Revista Udesc 50 anos


A lei da transformação O Estatuto da Udesc também dividiu a instituição
em três campi:
Em 1989, a Constituição do Estado de Santa Ca- I - Florianópolis: Centro de Artes (Ceart), Centro de Ci-
tarina, no artigo 39 das Disposições Constitucionais ências da Administração (Esag), Centro de Ciências da
Transitórias, determinou que a Udesc fosse constituí- Educação (Faed) e Centro de Educação Física e Despor-
da diretamente como fundação pública, desligando-a to (Cefid);
da Fesc, o que garantiu à universidade o exercício II – Joinville: Centro de Ciências Tecnológicas (CCT);
da autonomia (artigo 169, caput), a democratização III – Lages: Centro de Ciências Agro-Veterinárias (CAV).
institucional (artigo 169, incisos I, II e III) e a orga- Outro ponto importante do Estatuto da Udesc foi
nização “sob a forma de fundação pública mantida a definição de que os ocupantes dos cargos de reitor
pelo Estado”. e vice-reitor deveriam ser escolhidos em eleição da
Para isso, a Lei Estadual nº 8.092 foi sancionada comunidade universitária (alunos, técnicos e professo-
em 1º de outubro de 1990 e publicada no Diário Oficial res), por meio de voto direto e secreto.
de 4 de outubro, transformando a Universidade para
o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina em
Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina e 1 – Lançamento da pedra fundamental das futuras
mantendo a sigla Udesc. instalações da Udesc em Balneário Camboriú.
Essa lei caracterizou a universidade como “funda- 2 – Primeira avaliação externa realizada na Udesc. A visita
ção pública, mantida pelo Estado, vinculada à Secre- foi organizada pela professora Delsi Fries Davok.
taria de Educação, com patrimônio e receita próprios, 3 – Processadora modular de fibra de bananeira, criada pela
Udesc em Joinville.
autonomia didático-científica, administrativa, financei- 4 – Lançamento do Programa de Apoio à Pesquisas (PAP) da
ra, pedagógica e disciplinar, observada, no que for apli- Udesc, em parceria com a Fapesc, teve presença do ministro
cável, a organização sistêmica estadual”. da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp.

3 4

2010
2013 2013 2013 2013
Em 1º de Em abril, é Centro de Ciências Humanas e da Parceria entre a Udesc e a
março, a protocolado Educação (Faed), marco inicial da Fapesc permite o lançamento
Comissão junto ao Udesc, completa 50 anos. de um edital inédito no Brasil
Externa de Instituto em 12 de agosto. Com o
Avaliação Nacional de Programa de Apoio à Pesquisa
divulga Propriedade (PAP) no valor de R$ 1,8
relatório final Industrial (Inpi) milhão (R$ 900 mil da Udesc
sobre a Udesc, o pedido de e o mesmo valor da Fapesc),
que recebe o registro de os pesquisadores da Udesc
conceito “além patente da recebem as verbas diretamente
do referencial processadora nas contas bancárias dos líderes
mínimo de modular dos grupos de pesquisa, por
qualidade” após de fibra de meio do mecanismo de outorga
ser avaliada bananeira, direta, agilizando os processos e
pela primeira criada na Udesc consequentemente as pesquisas
vez na história. Joinville. na universidade.

Revista Udesc 50 anos | 23


História
Outras conquistas Enfim, o repasse financeiro

Em continuidade ao processo de estruturação da Em 1991, com uma greve que pleiteava melho-
Udesc, o Decreto Estadual nº 6.401, de 28 de dezem- res condições salariais da universidade, o governador
bro de 1990, foi publicado no Diário Oficial nº 14.100, Vilson Kleinübing destinou um percentual da Receita
aprovando o Estatuto da Fundação Universidade do Es- Líquida do Estado, de 1,2%, para a Udesc, além de ga-
tado de Santa Catarina. rantir benefícios como o 13º salário e outras despesas.
A Resolução nº 048/2004 do Conselho Universi- Três anos depois, em 1994, a Udesc teve garanti-
tário (Consuni), de 31 de agosto de 2004, estabeleceu do o repasse de 1,95% da Receita Líquida Disponível,
normas para a constituição da Comissão Estatuinte Uni- por meio da Lei Estadual nº 9.670, de 29 de julho, que
versitária para nova revisão estatutária. A nova versão dispõe sobre as diretrizes para a elaboração dos orça-
foi aprovada pelo Decreto Estadual nº 4.184, de 6 de mentos fiscal, da seguridade social e de investimentos
abril de 2006, e está sendo utilizada até os dias atuais. para o exercício financeiro de 1995.
Em 9 de setembro de 1991, a Udesc obteve outras Também já recebiam o duodécimo na época a As-
duas conquistas importantes: a Lei nº 8.332, que criou sembleia Legislativa (3%); o Poder Judiciário (6%); o
o Quadro de Pessoal Permanente e o Plano de Cargos e Tribunal de Contas (1,2%); e o Ministério Público (2%).
Salários; e a Lei Complementar nº 39, que dispõe sobre Em 2006, com a criação das unidades de Ibirama
normas de ingresso e promoção dos servidores da uni- (Decreto Estadual nº 4.832, de 6 de novembro) e de La-
versidade. Ambas foram alteradas pela Lei Complemen- guna (Decreto Estadual nº 5.018, de 28 de dezembro),
tar nº 345/2006, válida até hoje. Em 2007, os conselhos o repasse sobe de 1,95% para 2,05%. Por outro lado, a
superiores da Udesc aprovaram o atual Regimento Ge- unidade do Planalto Norte foi criada sem aumento de
ral, que segue sendo aprimorado ao longo dos anos. repasse (Decreto Estadual nº 4.831, de 6 de novembro).

1 2

2010
2013 2013 2014 2014
Em 22 de Udesc inaugura, em 19 de novembro, seu A partir de Em 27 de fevereiro,
agosto, é primeiro Centro de Convivência, em Joinville. 6 de janeiro, a Udesc inaugura
criado o estudantes de o novo prédio do
Sindicato todo o País curso de Engenharia
dos Técnicos podem ingressar Ambiental, em Lages.
da Udesc na Udesc, pela O projeto do edifício
(Sintudesc). primeira vez, por segue conceitos de
meio do Sistema sustentabilidade e é
de Seleção replicado para novas
Unificada (Sisu), obras em Balneário
que utiliza notas Camboriú, Pinhalzinho
do Enem. e São Bento do Sul,
gerando economia de
recursos e de tempo.

24 | Revista Udesc 50 anos


Antes disso, também não houve ampliação de re- Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
cursos para a criação do então Centro Educacional do de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb)
Oeste (CEO), previsto pelo Decreto Estadual nº 6.032, da base de cálculo da Receita Líquida Disponível em
de 11 de dezembro de 2002, e do Centro de Educação 2011, os percentuais da Udesc e de todos os poderes
a Distância (Cead), em Florianópolis, estabelecido pelo foram ampliados e ficaram da seguinte maneira:
Decreto Estadual nº 6.034, da mesma data. - Assembleia Legislativa: 4,51%, com aumento de 0,71
A Udesc teve novo aumento no repasse, indo para ponto porcentual;
2,10%, a partir de 2011, com a criação do Centro de - Tribunal de Contas: 1,66%, com aumento de 0,26 pon-
Educação Superior da Foz do Itajaí (Cesfi), em Balne- to percentual;
ário Camboriú, pelo Decreto Estadual nº 3.276, de 21 - Tribunal de Justiça: 9,31%, com aumento de 1,61 pon-
de maio de 2010, e a aprovação da Lei de Diretrizes to percentual;
Orçamentárias (LDO). - Ministério Público: 3,91%, com aumento de 0,68 pon-
A comparação com os poderes mostra que a Udesc to percentual;
teve o menor aumento de repasse entre 1994 e 2010, - Udesc: 2,49%, com aumento de 0,39 ponto percentual. 9
de 0,15 ponto percentual. Os outros aumentos nesse
período foram:
- Assembleia Legislativa: 0,8 ponto percentual;
- Tribunal de Justiça (antes Poder Judiciário): 1,7
ponto percentual; 1 – Centro de Convivência da Udesc Joinville.
2 – Adesão da Udesc ao Sisu é capa nos jornais.
- Tribunal de Contas: 0,2 ponto percentual;
3 – Inauguração do prédio sustentável do curso de
- Ministério Público: 1,23 ponto percentual. Engenharia Ambiental, em Lages.
Após o governo estadual ter retirado o Fundo de 4 – Selo comemorativo dos 50 anos da Udesc.

3 4

2010
2014 2014 2014 2015
Centro de Ciências da Em 19 de A Udesc termina o ano com a Em 20
Administração e Socioeconômicas dezembro, MEC aprovação de três importantes de maio,
(Esag), da Udesc, completa 50 anos. divulga ranking políticas: de Comunicação (foto), de a Udesc
no qual a Udesc Inovação e de Educação a Distância. completa
aparece como a 50 anos de
quarta melhor história.
estadual do
Brasil e 18ª no
geral entre 192
universidades
avaliadas,
além de ser a
melhor de SC
em cursos de
graduação.

Revista Udesc 50 anos | 25


Entrevista | Rogério Braz da Silva Reitor da Udesc entre 1990 e 1994

O primeiro reitor
eleito da Udesc
Udesc – Inicialmente, professor, peço-lhe que faça a tudantil, nunca sofri diretamente com as lutas de classe
apresentação do seu currículo docente até chegar ao da época. Mas, sempre prestei apoio e solidariedade
cargo de reitor da Udesc. aos colegas punidos pelos dispositivos de exceção, que
Rogério Braz da Silva – Em 1974, formei-me em ocorriam frequentemente. Fui sempre contestador, mas
Pedagogia na Faed e paralelamente cursei Administra- nunca ultrapassei os limites estabelecidos pela Dita-
ção na UFSC. Em 1975, fui contratado para técnico em dura. Presenciei particularmente algumas atrocidades
educação da Reitoria e, em 1976, fui admitido como envolvendo colegas da UFSC.
professor de nível superior nas disciplinas de Estru-
tura e Funcionamento do Ensino e para Legislação do Udesc – Como foi o processo de obtenção da autonomia
Ensino, da Faed. Em 1977, exerci por 14 meses o cargo da universidade?
de secretário municipal de Educação de São José. Em Rogério Braz da Silva – Pesado. Somente ocorreu
1979, a convite do então reitor Lauro Ribas Zimmer, após cerca de 70 dias de greve de professores e funcio-
também na condição de presidente da Associação Ca- nários da Udesc, entre julho e setembro de 1991. Nada
tarinense das Fundações Educacionais (Acafe), ocupei mais angustiante para um gestor do que ter que admi-
o cargo de secretário-executivo até 1986, quando vol- nistrar uma universidade parada, justamente por ter
tei para a Udesc para assumir o cargo de pró-reitor de sido o grande incentivador da greve. Concluí que, sem a
Pesquisa e Desenvolvimento. Em 1982, cursei a Espe- greve, o governo ficaria insensível às causas da Udesc.
cialização em Administração Universitária na George Foi uma luta diária para convencer a classe política de
Washington University, em Washington. que a universidade era um ente jurídico diferente das
Em 1986, foi formada a primeira lista tríplice para demais estruturas do Estado.
as escolhas de reitor e vice-reitor da Udesc, justamente
após seu reconhecimento pelo então Conselho Federal Udesc – Quanto à criação do Plano de Cargos e Salários
de Educação (CFE), do Ministério da Educação (MEC), da Udesc, até então inédito na instituição, como foi o
cujos primeiros nomes das listas para reitor e vice- processo administrativo e os relacionamentos deter-
-reitor foram respectivamente o professor Lauro Ribas minantes para o futuro da universidade?
Zimmer e Rogério Braz da Silva. Rogério Braz da Silva – Foi em pleno Governo Vil-
Em 1990, no término do primeiro mandato ofi- son Kleinübing, cuja administração entendo ter sido
cial do professor Lauro Zimmer, a universidade vivia uma das mais benéficas para o serviço público. Não
momentos difíceis porque havia uma dualidade de co- para o servidor público catarinense. O atual secretário
mando. De um lado, o superintendente da Fundação da Casa Civil, Nelson Serpa, era o procurador-geral do
Educacional de Santa Catarina (Fesc), cargo de con- Estado e deu uma contribuição extremamente impor-
fiança do Governo do Estado, que era a mantenedora tante para o sucesso da universidade à época, cuja so-
da Udesc, e, de outro, o reitor, que era definido por lução somente aconteceu quando o governador, depois
representantes da comunidade universitária. de muita insistência nossa, se convenceu a contatar o
Com a Constituição Estadual de 1989, a universi- governador de São Paulo, Orestes Quércia, que recen-
dade ganhou nova configuração e, em 1990, a comuni- temente havia dado autonomia às universidades pau-
dade universitária organizada solicitou ao então gover- listas (USP, Unicamp e Unesp), definindo um percentual
nador Casildo Maldaner que aprovasse a eleição direta de receita líquida de São Paulo para mantê-las.
para reitor e vice naquele ano. Aceito o processo, os co- O modelo, guardadas as devidas proporções, foi
legiados superiores definiram as normas e, em abril de aplicado à Udesc, cuja eleição direta para reitor e
1990, após renhida disputa entre quatro candidatos a vice-reitor já ocorrera em 1990, no governo de Ca-
reitor e vice, no primeiro e no segundo turno bem dis- sildo Maldaner. Após isso, qual seria o obstáculo? O
putados, sagraram-se vencedores os professores Rogé- governo Kleinübing não entendia que a universidade
rio Braz da Silva (reitor) e Johnny Hess (vice-reitor). era um ente jurídico diferente dos demais órgãos e as-
sim não aceitava que nossos técnicos-administrativos
Udesc – O senhor tem a vida ligada à Udesc. Pelo contex- também fossem tratados diferentemente, como o pro-
to, foram momentos cruciais da história a Ditadura Mili- fessor universitário.
tar e a volta da democracia no País. Nessa ótica, quais os Este, a rigor, foi o grande problema para termos
fatos marcantes no seu período de reitor da Udesc? o fim da greve, a de 70 dias, pois nós, como reitor,
Rogério Braz da Silva – Muito embora meu perío- fomos o maior apoiador da tese de que professores e
do como estudante e de início da vida profissional te- técnicos devem ser tratados diferentemente dos téc-
nha se desenvolvido na Ditadura Militar, instalada em nicos dos demais órgãos do Estado. Mas todos esses
1964, e eu tenha participado ativamente da política es- acontecimentos foram bons para a Udesc no final, pois

26 | Revista Udesc 50 anos


“A obtenção da autonomia da universidade foi um
processo pesado. Foi uma luta diária para convencer
a classe política de que a universidade era um ente
jurídico diferente das demais estruturas do Estado”
de outubro de 1991 a abril de 1993 o reitor teve legal- necessidades de pessoal e manutenção, até o governo e
mente o poder de reajustar os salários de professores e a universidade chegarem ao real percentual necessário.
técnicos. É importante destacar nessa luta dois líderes Isso ocorreu somente na Lei de Diretrizes Orça-
dos servidores: o professor Valdir Bernardt e o técnico mentárias (LDO) de 1994, quando estávamos deixan-
Ludgero Luís da Silva. do a Reitoria, e a Udesc passou a receber 1,95% da
Receita Líquida do Estado. Anteriormente, porém, já
Udesc – O senhor encerrou o mandato com o Plano de tramitava no colegiado superior as reivindicações de
Expansão da Udesc em execução, com a criação dos cursos mais acalentados por CCT, Cefid e Ceart. Assim,
cursos de Fisioterapia e Moda, em Florianópolis; de Li- no vestibular de julho de 1994, oferecemos esses cur-
cenciatura em Física, em Joinville; e de Tecnologia da sos, cujos desenvolvimentos tiveram início na gestão
Madeira, em São Bento do Sul. Quais foram os critérios seguinte da universidade.
escolhidos para essa expansão e por que não se pensa- Sobre a verticalização, pensamos sim, pois os pri-
va na verticalização da Udesc? meiros projetos de mestrados iniciaram-se na nossa
Rogério Braz da Silva – Em 1991, com a greve, o gestão. Assim aconteceu com o Mestrado em Engenharia
governo destinou um percentual da receita líquida do de Materiais, do CCT, e o Mestrado em Educação e Cultu-
Estado (1,2%) bem aquém das nossas necessidades, con- ra, da Faed. Também já estava sendo gestado o curso do
tudo, havia um acordo de cavalheiros entre o reitor, o Mestrado em Administração, da Esag. Todos esses três
governador e o secretário da Fazenda, no qual o Estado primeiros mestrados foram analisados e aprovados pelo
assumiria algumas despesas, como o 13º salário, novas Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina. 9

Revista Udesc 50 anos | 27


Entrevista | Anselmo Fábio de Moraes Reitor da Udesc entre 2004 e 2008

Udesc amplia presença pelo


Estado e vive novos tempos
Udesc – Inicialmente, professor, peço-lhe que faça a se, do RJ, em 1985; e doutor em Engenharia Civil pela
apresentação do seu currículo docente até chegar ao Universidade Federal de Santa Catarina, com programa
cargo de reitor da Udesc. de estágio na Universidade da Catalunha, de Barcelona,
Anselmo Fábio de Moraes – Entrei na Fesc/Udesc, mais na Espanha, em 2013.
precisamente no curso de Engenharia Civil, no Centro
de Ciências Tecnológicas (antiga Faculdade de Enge- Udesc – O senhor foi reitor da Udesc no período de
nharia de Joinville), em 1º de agosto de 1981. 2004 a 2008, uma fase distinta e marcada na univer-
Comecei lecionando Materiais de Construção e sidade após traumas e desavenças de gestões anterio-
também lecionei Introdução à Engenharia Civil, Técni- res. Como decorreu o processo para sair daquela crise
cas de Construção e Recuperação de Estruturas e Pato- e como foi obter o signo da candidatura única?
logias do Concreto Armado. Fui, por três vezes, chefe Anselmo Fábio de Moraes – Em 2002, eu tinha
de departamento do curso de Engenharia Civil e duas assumido o cargo de diretor-geral do CCT e a Udesc
vezes coordenador do mesmo curso. De 1998 a 2002, estava em um imbróglio em relação ao cargo de rei-
fui diretor de Ensino do CCT; de 2002 a 2004, fui di- tor, assumindo um pro tempore. Em 2003, houve a in-
retor-geral do CCT; de 2004 a 2008, reitor da Udesc; tervenção pelo Governo do Estado na universidade e,
em 2010, fui diretor-geral do Ceres por três meses; de depois de um mês do retorno do pro tempore, foi que
2010 a 2015, fui diretor de Extensão do Ceres. abriu um edital de eleição para o próximo reitor. Em
Sou engenheiro civil formado na Escola de Enge- reunião entre os diretores de centro da época (Cefid,
nharia Civil de Piracicaba, de SP, em 1975; mestre em Ceart, Faed, CAV, Esag e CCT), foi deliberado que eu
Engenharia Civil pela Universidade Federal Fluminen- deveria ser o candidato, o que não foi acompanhado
apenas pelo diretor do CAV.
Montei então uma chapa e convidei o professor
Sebastião Melo, professor do Cefid, para ser meu vice.
A oposição na época tentou se articular, inclusive com
alguns pró-reitores do interventor, mas, pelo que sei,
não chegaram a um acordo. Em suma, ninguém mais se
candidatou. De qualquer forma, percorremos todos os
centros em campanha e nos sagramos vitoriosos, com
a grande maioria dos votos de todos os segmentos da
universidade (alunos, técnicos e professores), o que foi
de grande valia para a execução do mandato.
Houve ainda um atraso para que eu tomasse pos-
se, mas, com a interferência e a anuência do governa-
dor Luiz Henrique, assumimos em abril de 2004.
Por eu ser de Joinville e já ter tido o cargo de se-
cretário de Serviços Urbanos da cidade, além do senhor
governador ter sido professor da Udesc em Joinville,
ele conhecia meu modo de ser e, desde o primeiro mo-
mento, afiançou que me daria posse no momento certo.
Ou seja, quando a universidade se acalmasse e tivesse
resolvido os problemas jurídicos.

Udesc – E como foram as ações administrativas de supe-


ração dos problemas na sua gestão, tendo por um lado o
servidor público e por outro o Governo do Estado?
Anselmo Fábio de Moraes – A partir da posse,
montamos uma equipe de peso, com vasto conheci-
mento da universidade: professora Sandra Makowiecky
no Ensino; professora Tatiana Comioto na Extensão;
professora Beatriz Goudard na chefia de gabinete; dou-
tora Juliana Lengler Michel na Procuradoria Jurídica;
professor Peter Bürguer na Pesquisa; professor Ivair de

28 | Revista Udesc 50 anos


Lucca na Administração; e professor Arlindo Carvalho bolsas para alunos desses cursos, o que fez com que
Rocha no Planejamento. eles fossem alavancados e servissem de incentivo para
Com a ajuda dos diretores de centro que me apoia- novos cursos, chegando ao patamar que estão hoje.
vam, fizemos um plano de ação e começamos a execu- Criamos também, para apoiar a pós-graduação, o pro-
tá-lo, com a plena convicção de que não poderíamos grama de auxílio para participação de congressos no
errar, visto que, além do imbróglio interno, tínhamos exterior, o Proeven.
que resgatar a credibilidade da instituição. Conseguimos um incremento financeiro com o Go-
A cada dia, focados e trabalhando muito, fomos re- verno do Estado e fortalecemos o Centro de Educação
solvendo os problemas administrativos, criando regras, do Oeste (CEO), que tinha recém iniciado [em março de
transparência, tratando todos com igualdade. Os dois 2004], e também fundamos o Ceres, em Laguna, o Cea-
primeiros anos foram difíceis, pois, além do dia a dia, vi, em Ibirama, o curso avançado da Esag em Balneário
ainda tivemos que passar por uma comissão parlamen- Camboriú, embrião do hoje Cesfi, e a transformação do
tar de inquérito (CPI), cancelamento de vestibular e a curso de Tecnologia Moveleira em São Bento do Sul em
conclusão do curso de Pedagogia a Distância, formando um novo centro, o Ceplan.
14 mil professores em todo o Estado. Na extensão, houve um fortalecimento, no qual
definimos verbas específicas para o ano, dando a de-
Udesc – O senhor é engenheiro civil, foi professor da vida valorização a essa perna do tripé universitário,
Udesc Joinville e encerra a carreira na Udesc Laguna. além de criarmos os jogos dos servidores, que vêm
Sempre manteve uma relação de carinho e atenção ao sendo mantidos com sucesso até hoje, reativarmos os
estudante. Esse seria um jeito de formar bem e despertar jogos universitários entre os centros da universidade e
mais a atenção do estudante para a profissão? apoiarmos a participação nos jogos regionais e nacio-
Anselmo Fábio de Moraes – Trago a convicção de nais universitários.
casa, dos meus pais, de que ter bom relacionamen- Entendo também que um dos pontos fortes foi a
to e respeitar as pessoas, sejam quem sejam, é tudo. construção de obras em todos os centros (em torno de
Nos meus 40 anos de engenharia, principalmente tra- 60 mil m2), o que dobrou o espaço físico da universi-
balhando em obras, e nestes meus 34 anos de Udesc, dade. Administrativamente, conseguimos regulamen-
sempre tentei desenvolver a habilidade de me relacio- tar as compras e contratações através de licitações e
nar e de respeitar as pessoas. Como professor, sem- pregões, acertamos as compras por importação, siste-
pre tive a clareza de que a profissão ma de protocolo digital, informatiza-
exige muito mais do que dar aulas, ção dos centros, melhoria no sistema
pesquisar ou fazer extensão. É pre- Sou uma pessoa de transporte de cada centro, além
ciso conhecer o aluno, os técnicos e
os outros professores, que participam de sorte, pois de abastecer todos os centros com
os insumos necessários para seus
do teu dia a dia. Se envolver. Colocar
limites através de exemplo próprio.
trabalhei com funcionamentos.
Me orgulho também de ter afian-
E foi o que sempre tentei fazer. Fui
por diversas vezes nome de turma,
o que sempre çado e implantado o sistema de esta-
tuinte, que resultou em uma das von-
patrono e paraninfo do curso de En- gostei e no tades dos servidores da Udesc, um
genharia Civil. Encerro minha carreira estatuto moderno que direcionasse o
como professor do curso de Arquite- melhor lugar fazer da universidade e foi completa-
tura e Urbanismo, sendo duas vezes
paraninfo e duas vezes patrono entre em que poderia do com o regimento interno, que guia
ainda hoje os passos do nosso siste-
as seis turmas que se formaram. Para
mim, ser homenageado e reconhecido
trabalhar, a ma universitário.
Uma das grandes necessidades
com esses títulos é da maior grande-
za, mas tem menor significado quan-
Universidade dos que me angustiava e afrontava na
época em que assumi era o baixo sa-
do encontro uma dessas pessoas que Catarinenses! lário que tínhamos. A grande satisfa-
passaram pela minha vida acadêmica ção que tive foi com a elaboração e
e que me reconhecem, me dão um implementação do Plano de Cargos e
abraço apertado e me chamam de professor. Salários, que colocou todos os servidores em um pata-
mar salarial equivalente ao das universidades federais
Udesc – Do seu período de gestão à frente da Reitoria, e pode lhes orientar o futuro.
quais são os pontos que destaca como marcas relevan- Para terminar, digo que não poderia ter feito nada
tes para a Udesc hoje? disso se não tivesse a ajuda dos diretores de centro
Anselmo Fábio de Moraes – Em primeiro lugar, que me apoiaram, dos que não me apoiavam – pois me
acredito que tenha tratado todos com o mesmo carinho faziam trabalhar mais, dos professores e principalmen-
e respeito, o que ocasionou a harmonia na Udesc, tanto te dos técnicos que nunca negaram seus esforços para
que resultou na eleição do meu vice-reitor como meu o crescimento da Udesc. Sempre me pautei na máxima
sucessor e do vice dele como sucessor dele. de que sorte tem aquele que ama o que faz e que tra-
Na parte acadêmica, ampliamos a universidade balha num lugar onde é feliz e, por isso, posso afirmar:
com inúmeros cursos de graduação, além de iniciarmos eu sou uma pessoa de sorte, pois trabalhei com o que
um forte processo de programas de pós-graduação, sempre gostei e no melhor lugar em que poderia traba-
mestrados e doutorados, inclusive com a criação de lhar, a Universidade dos Catarinenses! 9

Revista Udesc 50 anos | 29


Galeria dos Reitores

Os 14 magníficos
dos primeiros
50 anos
1965 a 1967 Elpídio Barbosa 1
1967 a 1968 Orlando Ferreira de Mello 2
1968 a 1974 Celestino Sachet 3 1
1974 Arnoldo Suarez Cuneo 4
1974 a 1976 Antonio Niccoló Grillo 5
1976 a 1979 João Nicolau Carvalho 6
1979 a 1990 Lauro Ribas Zimmer 7
1990 a 1994 Rogério Braz da Silva 8
1994 a 2002 Raimundo Zumblick 9
2002 a 2004 José Carlos Cechinel 10
Mai/jun 2003 Antônio Diomário de Queiroz 11
2004 a 2008 Anselmo Fábio de Moraes 12
2008 a 2012 Sebastião Iberes Lopes Melo 13
2012 a 2016 Antonio Heronaldo de Sousa 14 5

9 10 11

30 | Revista Udesc 50 anos


2 3 4

6 7 8

12 13 14

Revista Udesc 50 anos | 31


Raio-X das unidades
Campus I – Grande Florianópolis

Centro de Artes (Ceart)


Data de criação: 11 de dezembro de 1985.
Primeiro diretor: Dimas Rosa.
Cidade: Florianópolis.
Primeiro curso: Educação Artística.
Cursos de graduação: Artes Visuais (Bacharelado e Licencia-
tura), Design Gráfico (Bacharelado), Design Industrial (Bacha-
relado), Moda (Bacharelado), Música (Bacharelado em Piano,
Violino ou Viola, Violão, Violoncelo), Música (Licenciatura),
Teatro (Licenciatura).
Cursos de pós-graduação strictu sensu: Mestrado em Design,
Mestrado em Música, Mestrado em Redes em Artes (Profissio-
nal), Mestrado e Doutorado em Artes Visuais, Mestrado e Dou-
torado em Teatro.
Resumo: A Udesc Ceart é um centro referência no Brasil quando
os assuntos são Artes Visuais, Design, Moda, Música e Teatro. A
unidade oferece ampla infraestrutura, com diversos prédios distri-
buídos em 11 mil m² de área construída. Todos os anos, forma nes-
sas áreas artistas talentosos, que retornam ao centro em busca de
pós-graduações, além de atrair alunos interessados de todo o País.
Número de alunos: 1.219 (1.013 de graduação/206 de pós).

Centro de Ciências da Administração


e Socioeconômicas (Esag)
Data de criação: 16 de outubro de 1964.
Primeiro diretor: João Baptista Bonnassis.
Cidade: Florianópolis.
Primeiro curso: Administração.
Cursos de graduação: Administração (Bacharelado), Administra-
ção Pública (Bacharelado) e Ciências Econômicas (Bacharelado).
Cursos de pós-graduação strictu sensu: Mestrados em Adminis-
tração (Acadêmico e Profissional) e Doutorado em Administração.
Resumo: A Udesc Esag tem como lema “Escola-empresa-comu-
nidade”, com cursos voltados para as áreas de Administração
e Socioeconômicas. É uma das unidades mais reconhecidas da
universidade nacionalmente, com graduações de conceito máxi-
mo no Ministério da Educação (MEC). Popularizou-se também o
“espírito esaguiano”, que se traduz na criatividade, empreende-
dorismo, união e empenho de seus alunos e professores.
Número de alunos: 1.440 (1.345 de graduação/95 de pós).

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid)


Data de criação: 6 de fevereiro de 1973.
Primeiro diretor: Érico Stratz Júnior.
Cidade: Florianópolis.
Primeiro curso: Educação Física.
Cursos de graduação: Educação Física (Bacharelado e Licencia-
tura) e Fisioterapia (Bacharelado).
Cursos de pós-graduação strictu sensu: Mestrado em Fisiotera-
pia, Mestrado e Doutorado em Ciências do Movimento Humano.
Resumo: A Udesc Cefid tem um dos cursos mais concorridos da
universidade, o de Fisioterapia, e é reconhecida pela relação in-
tensa que mantém com a comunidade, por meio de projetos de
extensão, como aulas gratuitas em diversas modalidades espor-
tivas, além de dança, reabilitações físicas, entre outros. Toda
essa bagagem enriquece a formação dos alunos, que se desta-
cam em suas carreiras.
Número de alunos: 926 (790 de graduação/136 de pós).

32 | Revista Udesc 50 anos


Centro de Educação a Distância (Cead)
Data de criação: 11 de dezembro de 2002.
Primeira diretora: Sueli Wolff Weber.
Cidade: Florianópolis (sede), além de 27 polos EaD no Estado.
Primeiro curso: Pedagogia a Distância (Licenciatura).
Cursos de graduação: Pedagogia a Distância (Licenciatura).
Resumo: A Udesc Cead é detentora do primeiro curso de graduação
a distância de Santa Catarina: o de Pedagogia. No total, são 27 polos
de apoio presencial distribuídos pelo Estado para dar suporte ao estu-
dante. O curso é oferecido por meio de convênio com a Universidade
Aberta do Brasil (UAB). A atual política da Udesc é ampliar a oferta de
cursos a distância para possibilitar a graduação superior em todas as
regiões do Estado.
Número de alunos: 1.965.

Centro de Ciências Humanas e da Educação (Faed)


Data de criação: 8 de maio de 1963.
Primeiro diretor: Osvaldo Ferreira de Mello.
Cidade: Florianópolis.
Primeiro curso: Pedagogia.
Cursos de graduação: Biblioteconomia (Bacharelado), Geografia (Ba-
charelado e Licenciatura), História (Bacharelado e Licenciatura) e Pe-
dagogia (Bacharelado).
Cursos de pós-graduação strictu sensu: Mestrado em Gestão de Unida-
des de Informação (Profissional), Mestrado em Planejamento Territorial
e Desenvolvimento Socioambiental (Profissional), Mestrado e Doutora-
do em Educação, Mestrado e Doutorado em História.
Resumo: A Udesc Faed foi um dos berços da universidade, cujo pri-
meiro curso foi o de Pedagogia, em Florianópolis. Em 2015, ganhará
um novo prédio, um dos mais modernos da Udesc, o que tem con-
tribuído para a excelência no ensino, juntamente com a alta capa-
citação de seus docentes. Tem um papel relevante para a educação
catarinense na formação de professores em diversas áreas, como
Geografia, História e Pedagogia.
Número de alunos: 1.044 (840 de graduação/204 de pós).

Campus II – Norte Catarinense

Centro de Ciências Tecnológicas (CCT)


Data de criação: 9 de outubro de 1956.
Primeiro diretor: Harro Stamm.
Cidade: Joinville.
Primeiro curso: Engenharia de Operação, Modalidade Me-
cânica de Máquinas e Motores.
Cursos de graduação: Ciência da Computação (Bacha-
relado), Engenharia Civil (Bacharelado), Engenharia de
Produção e Sistemas (Bacharelado), Engenharia Elétrica
(Bacharelado), Engenharia Mecânica (Bacharelado), Física
(Licenciatura), Matemática (Licenciatura), Química (Licen-
ciatura) e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de
Sistemas (Tecnólogo).
Cursos de pós-graduação strictu sensu: Mestrado em Com-
putação Aplicada, Mestrado em Engenharia Civil, Mestrado
em Engenharia Mecânica, Mestrado em Física, Mestrado e de Santa Catarina. Criada em 1956 (mas implantado em
Doutorado em Ciências em Engenharia de Materiais, Mes- agosto de 1965), foi o primeiro passo para a interiorização
trado e Doutorado em Engenharia Elétrica (Acadêmico e do ensino superior no Estado. Por essa razão, a unidade é
Profissional), Mestrado em Ensino de Ciências, Matemática referência em cursos voltados para a área de tecnologia e
e Tecnologias (Profissional). engenharias, atendendo a demanda do polo metal-mecâ-
Resumo: A Udesc Joinville é o maior centro de ensino da nico por profissionais desse segmento.
universidade e encontra-se na região mais industrializada Número de alunos: 2.936 (2.728 de graduação/208 de pós).

Revista Udesc 50 anos | 33


Raio-X das unidades
Campus II – Norte Catarinense

Centro de Educação do Planalto Norte (Ceplan)


Data de criação: 6 de novembro de 2006.
Primeiro diretor: Pio Campos Filho.
Cidade: São Bento do Sul.
Primeiro curso: Tecnologia Mecânica - Modalida-
de Produção Industrial de Móveis.
Cursos de graduação: Engenharia de Produção –
Habilitação Mecânica (Bacharelado) e Sistemas
de Informação (Bacharelado).
Resumo: A Udesc Planalto Norte, em São Bento
do Sul, foi criada em cima da vocação da região,
conhecido polo moveleiro do Sul do Brasil. Com
isso, em 1994, surgiu o curso de Tecnologia Mecânica - o curso de Sistemas de Informação, também com foco em
Modalidade Produção Industrial de Móveis, vinculado à atender as demandas da economia regional.
Udesc Joinville. Uma década depois, o centro implantou Número de alunos: 589.

Campus III – Planalto Serrano

Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV)


Data de criação: 6 de fevereiro de 1973.
Primeiro diretor: Paulo Londero Sperb.
Cidade: Lages.
Primeiro curso: Medicina Veterinária
(Bacharelado).
Cursos de graduação: Agronomia (Bacha-
relado), Engenharia Ambiental (Bachare-
lado), Engenharia Florestal (Bacharelado)
e Medicina Veterinária (Bacharelado).
Cursos de pós-graduação strictu sen-
su: Mestrado em Ciências Ambientais,
Mestrado em Engenharia Florestal,
Mestrado e Doutorado em Ciência Ani-
mal, Mestrado e Doutorado em Ciência
do Solo, Mestrado e Doutorado em Produção Vegetal. Entre outros projetos, a unidade conta com um hospital
Resumo: A Udesc Lages construiu uma forte identidade veterinário, voltado para o ensino e o atendimento à co-
com a região serrana catarinense. Com cursos voltados munidade, e um laboratório de DNA, o pioneiro no formato
para o setor agrícola e da saúde animal, o centro é desta- público no Brasil.
que no País em pesquisas nas suas áreas de conhecimento. Número de alunos: 1.784 (1.406 de graduação/378 de pós).

Campus IV – Oeste Catarinense

Centro de Educação Superior do Oeste (CEO)


Data de criação: 11 de dezembro de 2002.
Primeiro diretor: Antonio Waldimir Leopoldino da Silva.
Cidade: Chapecó, Palmitos e Pinhalzinho.
Primeiros cursos: Enfermagem (Bacharelado), Engenharia de Alimen-
tos (Bacharelado) e Zootecnia (Bacharelado).
Cursos de graduação: Enfermagem (Bacharelado), Engenharia de Ali-
mentos (Bacharelado), Engenharia Química (Bacharelado), Tecnologia
em Produção Moveleira (Tecnólogo) e Zootecnia (Bacharelado).
Cursos de pós-graduação strictu sensu: Mestrado em Zootecnia.
Resumo: A Udesc Oeste busca fixar na terra profissionais qualificados
da área de alimentos e Zootecnia, uma forte vocação local, bem como
colaborar na questão da saúde, com o curso de Enfermagem, área ainda
frágil de assistência na região. A interação entre estudantes e a comuni-
dade é um dos pontos fortes do ensino, a partir de atividades propostas
pelas disciplinas, programas de extensão e trabalhos de campo.
Número de alunos: 682 (669 de graduação/13 de pós).

34 | Revista Udesc 50 anos


Campus V – Vale do Itajaí

Centro de Educação Superior


do Alto Vale do Itajaí (Ceavi)
Data de criação: 6 de novembro de 2006.
Primeiro diretor: Dario Nolli.
Cidade: Ibirama.
Primeiro curso: Administração (Bacharelado),
Ciências Contábeis (Bacharelado), Pedagogia (Li-
cenciatura), Psicologia (Bacharelado) e Sistemas
de Informação (Bacharelado) – todos absorvidos
da Fundação Educacional Hansa Hammonia.
Cursos de graduação: Ciências Contábeis (Ba-
charelado), Engenharia de Software (Bachare-
lado) e Engenharia Sanitária (Bacharelado). de Software, Engenharia Sanitária e Ciências Contábeis
Resumo: A Udesc Ibirama foi criada em 2006 para aten- são procurados por estudantes de todo o Estado, que
der uma demanda latente da Região do Vale do Itajaí, também podem continuar a formação em especializações
uma das mais desenvolvidas economicamente de Santa ofertadas pela unidade.
Catarina, na área de tecnologia. Os cursos de Engenharia Número de alunos: 628.

Centro de Educação Superior da Foz do Itajaí (Cesfi)


Data de criação: 21 de maio de 2010.
Primeiro diretor: Maria Ester Menegasso.
Cidade: Balneário Camboriú.
Primeiro curso: Engenharia de Petróleo.
Cursos de graduação: Administração Pública (Bacharelado)
e Engenharia de Petróleo (Bacharelado).
Resumo: Criada em 2010 para atender uma demanda
regional, a Udesc Balneário Camboriú é a unidade mais
nova da universidade. O curso de Engenharia em Petróleo
é um dos mais procurado na Udesc e conta com a parti-
cipação de professores renomados na área, em expan-
são no País, por conta da atuação da Petrobrás e de toda
a cadeia econômica do setor. Recentemente, a unidade
também recebeu o curso de graduação em Administração
Pública no período noturno.
Número de alunos: 357.

Campus VI – Sul Catarinense

Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres)


Data de criação: 28 de dezembro de 2006
Primeiro diretor: João Rotta Filho.
Cidade: Laguna.
Primeiro curso: Arquitetura e Urbanismo.
Cursos de graduação: Arquitetura e Urbanis-
mo (Bacharelado) e Engenharia de Pesca (Ba-
charelado).
Resumo: A Udesc Laguna é um exemplo do
perfil vocacionado da universidade frente à
economia da região. O curso de graduação em
Engenharia de Pesca fomenta o turismo e a in-
dústria da pesca, duas áreas mais fortes na eco-
nomia local, sendo o primeiro curso do gênero
no litoral das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Já Arquitetu- pelas pesquisas envolvendo o setor, com retorno imediato
ra e Urbanismo tem sido importante na defesa do patrimô- em conhecimento e tecnologia para a comunidade.
nio histórico-cultural da região. A unidade é reconhecida Número de alunos: 703.

Revista Udesc 50 anos | 35


Artigos

A história
da Udesc
na visão de
alguns de seus
construtores e
idealizadores

Alcides Abreu, primeiro idealizador..................... 38 Luiz Henrique da Silveira.......................................... 58


Raimundo Colombo, governador............................ 39 Luciano Emilio Hack.................................................... 59
Ludgero Luiz da Silva................................................. 60
Artigos em ordem alfabética Maria Aparecida Lemos Silva.................................. 62
Agnaldo Vanderlei Arnold......................................... 40 Maria Ester Menegasso.............................................. 63
Anselmo Fábio de Moraes e equipe...................... 41 Marino Tessari............................................................... 64
Antonio Niccoló Grillo................................................ 43 Maurício Fernandes Pereira..................................... 66
Carlos Passoni Júnior................................................. 44 Milton Luiz Valente..................................................... 67
Casildo Maldaner.......................................................... 45 Peter Johann Bürguer e Jorge Luiz Ramella..... 68
Celestino Sachet............................................................ 46 Rogério Braz da Silva................................................. 70
Clara Pellegrinello Mosimann.................................. 47 Rogério Simões............................................................. 71
Dieter Neermann e Carlos Alberto Lessa............ 49 Salomão Ribas Junior................................................. 72
Esperidião Amin........................................................... 50 Sandra Makowiecky.................................................... 73
Flávio Ramos................................................................. 51 Sandra Regina Ramalho e Oliveira........................ 74
Gerson Volney Lagemann......................................... 53 Sebastião Iberes Lopes Melo................................... 76
Hercides José da Silva............................................... 54 Sérgio João Dalagnol.................................................. 78
João Nicolau Carvalho............................................... 55 Vera Collaço.................................................................... 79
José Carlos Cechinel................................................... 56 Zenilda Nunes Lins...................................................... 81

Revista Udesc 50 anos | 37


Udesc 50 anos: ampliando
a qualificação da sociedade
Alcides Abreu Primeiro idealizador da Udesc

P
olíticas focais perpetuam mais do que resolvem nos agitamos, perante o Universo” (Francisco Cândido
os temas do foco. Em um país onde ilhas de ri- Xavier, 1989, p. 35 – livro “Refúgio”).
queza convivem com um imenso mar de exclusão Efetivamente, o mundo se desenha, transforma e
social, focalizar, pura e simplesmente, significa excluir. constrói a partir de pessoas que nascem, atuam, pros-
Com base nessa premissa, um projeto de futuro peram e fenecem num sítio determinado – o município.
para Santa Catarina fora desenhado no Governo Celso O homem e a mulher são o “ambiente” que assumi-
Ramos – socializar o conhecimento com a criação da ram a consciência, tudo é sistêmico, holístico, quântico,
Udesc, tendo em vista a transformação da socieda- não desmembrável – tudo está ligado a tudo – por isso
de na perspectiva da solidariedade, da promoção da nós estamos aqui para validar nossa existência no pla-
dignidade e da vida da pessoa – impositivo às gera- neta, já que somos eternos aprendizes nessa escola da
ções, que deve cotidianamente relembrar pelo debate vida que amplia a qualificação da sociedade e aprofun-
e pela interação. da a formação do indivíduo na construção de um “ser”
Como toda a sociedade do nosso tempo, a comu- melhor para ajudar a sociedade.
nidade científica universitária é, a cada dia, desafiada Os 50 anos de existência da Udesc são um desses
pelas ondas do momento contemporâneo – do indivi- momentos extremamente densos de significação para
dualismo e da competição que isola, que fragmenta, todos e que rememora episódios que pessoalmente
que nega o diálogo, que impede o crescimento das pes- vivi desde o início, com reitores magníficos e um corpo
soas e leva à negação do serviço para o bem comum. docente invejável e da qualidade do professor Alexan-
Romper, então, com a ignorância é tão imprescin- dre Francisco Ignácio Evangelista.
dível quanto “[...] clarear o pensamento, diante da natu- Toda a história da Udesc é fruto da participação diu-
reza, e aceitar a extrema insignificância em que ainda turna de quantos conseguimos alcançar e relembrar. 9

“Toda a história da Udesc é fruto da participação diuturna


de quantos conseguimos alcançar e relembrar”

38 | Revista Udesc 50 anos


Fazendo
a diferença
Raimundo Colombo Governador do Estado de Santa Catarina

S
anta Catarina é um estado diferenciado. Nossa versidade tem oferecido nesses 50 anos de existência.
economia diversificada, com diferentes vocações São ferramentas que contribuem significativa-
regionais, torna-nos mais fortes para enfrentar ad- mente para a qualificação da mão de obra catarinense,
versidades e mais atrativos para receber investidores. fator essencial para atrairmos novas empresas para o
A Udesc tem um papel essencial na consolidação Estado. Hoje, já somos referência em geração de em-
desse modelo. Ao completar meio século de história em pregos, mas a formação superior é um ciclo importan-
20 de maio de 2015, a Udesc é reconhecida como uma te para que nossos postos de trabalho aumentem não
referência em educação para todo o País, com um polo apenas em quantidade, mas também em qualidade.
consolidado em Florianópolis, mas também com cen- Empregos de qualidade representam um pré-requisito
tros regionais que garantem um ensino de qualidade para o desenvolvimento de uma região.
em todas as regiões do Estado. E o desenvolvimento ainda maior da Udesc nas
Trata-se de um modelo atento às demandas de próximas décadas é fundamental para que Santa Ca-
cada região, levando professores e pesquisadores para tarina mantenha essa posição de destaque no cená-
desenvolverem e aprimorarem economias regionais. rio nacional. O Governo do Estado sabe disso e, por
Uma estrutura descentralizada que reconhece voca- isso, considero essencial o fortalecimento de insti-
ções com centros especializados, como o de Ciências tuições como a nossa Udesc. É preciso agregar qua-
Tecnológicas, no Norte Catarinense, e o de Ciências lidade, espaço, estrutura, tecnologia e conhecimento
Agroveterinárias, no Planalto Serrano. para se ter competitividade, por isso, é estratégico
O ensino a distância é outra ferramenta dentro da esse investimento. Quando se investe em educação,
Udesc que permite um alcance ainda maior ao consoli- o retorno é muito grande. E, nesse sentido, a Udesc
dado modelo de educação da qualidade que nossa uni- faz a diferença. 9

“Quando se investe em educação, o retorno é muito grande.


E, nesse sentido, a Udesc faz a diferença”

Revista Udesc 50 anos | 39


Duas décadas de atividades
em São Bento do Sul
Agnaldo Vanderlei Arnold Diretor-geral da Udesc Planalto Norte

A
Udesc iniciou suas atividades em São Bento do transferisse da Fetep/Senai para o Colégio São Bento,
Sul com o curso de Tecnologia Mecânica - Pro- próximo à Igreja Matriz.
dução Industrial de Móveis em agosto de 1994, Pensando no crescimento futuro, a Udesc plane-
que estava vinculado ao Centro de Ciências Tecnológi- jou a criação de um centro em São Bento do Sul. Em
cas (CCT), de Joinville, e inicialmente foi mantido por um terreno doado pela prefeitura, no Bairro Centená-
um convênio entre universidade, Associação Comercial rio, próximo ao Senai, a universidade construiu sua
Industrial de São Bento do Sul (Acisbs), prefeitura e sede própria e, em fevereiro de 2005, para lá transfe-
Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa (Fetep). riu suas atividades.
O curso nasceu como resultado da reivindicação O centro da Udesc em São Bento do Sul está situado
de lideranças e empresários da comunidade do Pla- à Rua Luiz Fernando Hastreiter, nº 180, em um terreno
nalto Norte do Estado, com objetivo principal de for- de 18 mil metros quadrados, com 2.320 metros quadra-
mar profissionais qualificados para a indústria mo- dos de área construída, divididos em dois blocos.
veleira da região. Nessa época, o curso funcionava Em setembro de 2006, o Conselho Universitário
junto às instalações da Fetep, atualmente pertencen- (Consuni) aprovou a Resolução nº 266, que criou ofi-
te ao Senai, localizada na Rua Hans Dieter Schmidt, cialmente o centro de São Bento do Sul. A partir dessa
no Bairro Centenário. deliberação, os cursos de Tecnologia Mecânica - Produ-
Com aumento da procura pelo curso, a partir de ção Industrial de Móveis e Tecnologia em Sistemas de
agosto de 1999, o vestibular, que era anual, passou a Informação foram desmembrados do CCT, passando a
ser semestral. Atendendo um anseio da comunidade compor o portifólio do novo centro. Em 2007, o Regi-
estudantil e empresarial e visando a democratização mento da Udesc definiu a denominação oficial: Centro
do acesso à universidade, o curso, que até então era de Educação do Planalto Norte (Ceplan).
diurno, foi transferido para o período noturno. Já a O Ceplan oferece hoje dois cursos de graduação,
primeira turma de alunos de Tecnologia Mecânica - sendo eles os bacharelados em Sistemas de Informação
Produção Industrial de Móveis se formou em 14 de e Engenharia de Produção – Habilitação em Mecânica,
agosto de 1997. conforme relação a seguir:
Em fevereiro de 2002, apesar de dificuldades • Sistemas de Informação: foi criado em agosto de
financeiras da Udesc para iniciar novos cursos, com 2008 e oferece 90 vagas por ano;
objetivo de promover desenvolvimento social e eco- • Engenharia de Produção – Habilitação em Me-
nômico na região do Planalto Norte, o CCT iniciou em cânica: foi criado em março de 2010 e oferece 70
São Bento do Sul mais um curso de graduação: de Tec- vagas por ano.
nologia em Sistemas de Informação. A necessidade No quadro atual do centro, há 63 servidores, sen-
de mais espaço físico fez com que a universidade se do 36 professores e 27 técnicos universitários. 9

“A Udesc Planalto Norte nasceu como resultado


da reivindicação de lideranças e empresários da comunidade,
com objetivo principal de formar profissionais
qualificados para a indústria moveleira da região”

40 | Revista Udesc 50 anos


Expansão da Udesc em Laguna:
uma visão empreendedora
Anselmo Fábio de Moraes Reitor da Udesc 2004-2008
Andrey Pestana de Farias, Claudio Henrique Willemann e João Rotta Filho Ex-diretores da Udesc Laguna
Liliane da Rosa Nesi Técnica universitária

E
m 23 de novembro de 2006, na administração cebeu a notícia que seria disponibilizado um espaço
do magnífico reitor Anselmo Fábio de Moraes e na Ala Oeste do Complexo Educacional Hindeburgo
do seu vice, Sebastião Iberes Lopes Melo, por Moreira, conhecido popularmente por Sambódromo,
meio da Resolução nº 272 do Consuni, foi criado o onde foi fixado o Campus VI da Udesc.
Campus VI - Sul Catarinense e o respectivo Centro O centro iniciou suas atividades pedagógicas e
Educacional do Sul, com sede administrativa na cida- de extensão em Laguna com a recepção dos primei-
de de Laguna, da Fundação Universidade do Estado ros acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo
de Santa Catarina (Udesc). em fevereiro de 2008.
Em 28 de dezembro 2006, o governador do Es- Em 25 de fevereiro de 2008, na presença de auto-
tado, Dr. Eduardo Pinho Moreira, sancionou o Decreto ridades universitárias e políticas, servidores e acadê-
Estadual nº 5.018, que criou o Centro de Ensino Sul micos da primeira turma de Arquitetura e Urbanismo,
do Estado e incorporou ao centro dois cursos, sendo a professora Sandra Makowiecky, na época pró-reitora
o primeiro deles o curso de Arquitetura e Urbanismo. de Ensino da Udesc, proferiu a aula inaugural do Centro
Para gerir essa nova empreitada, foram con- de Educação Superior da Região Sul (Ceres).
vidados os professores João Rotta Filho e Cláudio Passado um período, ao visitar o Colégio Lagu-
Henrique Willemann, a técnica universitária Rosana nense, encontraram-se plaquetas de patrimônio com
Aparecida Nascimento, oriundos do Centro de Ciên- marca da Udesc em armários do colégio, buscaram-se
cias da Saúde e do Esporte (Cefid), e os técnicos uni- todas informações possíveis sobre o referido colégio
versitários Liz Kelly de Amorim Sombrio e Andrey e descobriu-se que o Estado não havia repassado o
Pestana de Farias, oriundos do Centro de Ciências patrimônio da extinta Fesc/Udesc para sua posse.
da Administração e Socioeconômicas (Esag), que de- Nesse meio tempo, incorporou-se ao processo o
ram os primeiros passos em busca de espaço para procurador jurídico da SDR de Laguna, o Dr. Antonio
aportar o novo centro. Reis, que carinhosamente abraçou a causa em favor
Depois de várias tratativas com o então secre- da Udesc e foi um dos nossos grandes defensores
tário de Desenvolvimento Regional de Laguna, Mau- perante o Governo do Estado.
ro Candemil, foi disponibilizada uma sala na própria Dr. Reis diuturnamente trabalhou para que, num
sede da Secretaria de Desenvolvimento Regional pequeno espaço de tempo, o secretário tomasse a
(SDR) para iniciar os trabalhos. decisão de fazer uma audiência pública com pais e a
Após algumas semanas, a direção designada re- comunidade lagunense para repassar o espaço físico

“A aula inaugural para os acadêmicos do curso de


Engenharia de Pesca foi realizada no Auditório
do Hotel Ravena, sendo ministrada pelo então
ministro da Pesca, Altemir Gregolin”

Revista Udesc 50 anos | 41


“Além de oferecer cursos de qualidade reconhecida
e possuir estrutura física ampla, adequada e moderna,
o Ceres auxilia no desenvolvimento econômico
do município de Laguna e da região”

do Colégio Lagunense e mais o Ginásio de Esportes prosperaram de forma tão célere multiplicando seus
para o domínio da Udesc. espaços para satisfazer as exigências que garantam
Ao tomar-se posse do novo espaço, as instala- a formação acadêmica, papel esse que deve ser, no
ções foram reformadas, adequando-as conforme as nosso entender, exercido por universidades públicas
necessidades do centro. e de qualidade.
Devidamente instalado o curso de Arquitetura e Os dois cursos oferecidos no campus da cidade
Urbanismo, perceberam-se o potencial do segmento de Laguna estão aprovados por comissões de ava-
pesqueiro e a vocação econômica e cultural da Re- liadores externos designados pelo Conselho Estadual
gião Sul, e assim criou-se o curso de graduação em de Educação de SC. Além disso, o curso de Arqui-
Engenharia de Pesca. Sua implantação ocorreu no se- tetura e Urbanismo está devidamente credenciado
gundo semestre de 2010, com o diferencial de ser, pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Santa
na época, o primeiro curso do gênero no litoral das Catarina (CAU/SC) e o curso de Engenharia de Pes-
regiões Sul e Sudeste do Brasil. ca está em fase adiantada de cadastramento junto
A aula inaugural para os acadêmicos do curso ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de
de Engenharia de Pesca foi realizada no Auditório Santa Catarina (Crea/SC) mesmo sem ter formado sua
do Hotel Ravena, sendo ministrada pelo então minis- primeira turma.
tro da Pesca, Altemir Gregolin, na presença também Além de oferecer cursos de qualidade reconhe-
de autoridades políticas, do reitor e de professores e cida e possuir estrutura física ampla, adequada e
técnicos do referido curso. moderna, o Ceres auxilia no desenvolvimento econô-
Paralela e simultaneamente a esses acontecimen- mico do município de Laguna e da região, constituin-
tos, os professores responsáveis pela implantação do do hoje sua maior indústria limpa, gerando 105 em-
curso de Arquitetura e Urbanismo, especialistas em pregos diretos e muitos outros empregos indiretos,
projetos, com os acadêmicos do curso de Arquitetura, bem como elabora vários projetos de pesquisa e de
estudaram e planejaram um novo prédio para abrigar extensão que contribuem para a melhoria da urbani-
os cursos e satisfazer as necessidades pedagógicas, zação, da conscientização do patrimônio histórico e
de pesquisa, extensão e administrativas. da preservação ambiental.
Coordenados pelo professor Alberto Lohmann, a Assim como os demais centros de ensino da
partir daí começou a nascer no imaginário de todos Udesc, o Ceres modificou para melhor o município
os segmentos envolvidos o projeto da nova estrutu- que o acolheu como sede e vem cumprindo de forma
ra física. Hoje já construída e concluída, ela abriga o exímia os princípios e as finalidades estabelecidos
campus da Udesc Laguna em instalações modernas e no estatuto da universidade, não olvidando a busca
de vanguarda. da excelência, da preservação e da difusão do conhe-
Em apenas sete anos de existência e partindo cimento científico, tecnológico, artístico, desportivo
de uma estrutura inadequada, incipiente, imprópria e cultural, por intermédio do fomento das atividades
e extremamente limitada, poucos campi da Udesc de ensino, pesquisa e extensão. 9

42 | Revista Udesc 50 anos


Grandes avanços nos anos 70
Antonio Niccoló Grillo Reitor da Udesc 1974-1976

Q
uando assumimos a Reitoria da Udesc, em 23 Paulo (USP), professor Adayr Mahfuz Saliba, proferiu
de julho de 1974, a universidade tinha apenas palestra destacando que “a importância deste evento é
nove anos de existência. Tratava-se, pois, de transcendental, tendo em vista os inúmeros benefícios
uma grande desafio, diante da necessidade de ajudar que advirão, pois, através desse hospital veterinário.
na consolidação de uma instituição que deveria promo- Esta nova instituição de ensino poderá desenvolver
ver a formação dos recursos humanos indispensáveis suas atividades e cumprir sua melhor missão”.
ao desenvolvimento do Estado de Santa Catarina. Também de grande relevância na época para a
Para resgatar a história da Udesc no período da Udesc foi a realização do curso de Planejamento de
nossa gestão (1974-1976), após 50 anos de uma tra- Recursos Humanos, sob o patrocínio da OEA e Sude-
jetória reconhecidamente exitosa, tivemos que rever sul, com o objetivo de preparar profissionais de nível
algumas anotações da distante época, sobretudo do superior responsáveis por pesquisas, planejamento
“Jornal da Udesc”, que, aliás, constituiu uma de nossas e direção de programas de desenvolvimento social e
iniciativas e cujo editorial do primeiro número assim econômico, iniciado em 14 de novembro de 1975, na
se expressava: “Em formato moderno, paginação dinâ- Faculdade de Educação, com a presença do diretor do
mica, e conteúdo versátil, pretende levar a você (e aos Conselho Interamericano para o Desenvolvimento So-
seus amigos, por que não?) a imagem real e verdadeira cial Integrado da OEA, Jorge Riquelme, e do superin-
de uma universidade consciente de seus deveres e or- tendente da Sudesul, Paulo de Freitas Melro.
gulhosa de suas realizações”. Destaque também para o curso de Aperfeiçoamen-
Assim, pudemos selecionar alguns eventos que to em Administração efetuado pela Escola Superior de
ocorreram durante esses dois anos e fazem parte da Administração e Gerência (Esag), a partir de 16 de fe-
história da Udesc. Dentre eles, destaca-se o convênio vereiro de 1976, com a participação de professores do
assinado, em 13 de agosto de 1974, com o Ministério curso de pós-graduação em Administração da Universi-
da Educação e Cultura, através do Programa de Expan- dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ministra-
são e Melhoramento das Instalações do Ensino Supe- do para 28 professores de oito fundações educacionais
rior, no valor de 233 mil dólares, para constantes equi- de Santa Catarina.
pamentos importados da Alemanha para a Faculdade A par da realizações citadas, foi elaborado, no
de Engenharia de Joinville e microscópios monoculares segundo semestre de 1975, o Plano de Capacitação
para a Escola de Medicina Veterinária de Lages. de Docentes para o período 1976-1979, visando a
Na época, o convênio teve um valor extraordinário qualificação do corpo docente e contando com a co-
diante dos reduzidos recursos orçamentários destina- laboração da Capes na concessão de bolsas de mes-
dos à universidade, além de representar uma expressi- trado. Dentro da programação prevista no plano, já no
va melhoria na qualidade de ensino. primeiro semestre de 1976, 11 professores iniciaram
Devemos destacar também a criação da Edito- cursos de mestrado nas áreas de Educação, Engenha-
ra Udesc, implantada com o objetivo de promover a ria e Medicina Veterinária.
publicação de obras de professores da instituição e Por outro lado, para atender às necessidades do
de autores catarinenses. Os livros eram submetidos à corpo discente, foi instalado, em janeiro de 1975, o De-
apreciação de um conselho editorial e publicados após partamento de Apoio e Orientação ao Estudante com
a devida recomendação. o objetivo de apoiar as atividades estudantis no cam-
A nova Editora Universitária teve uma repercussão po social, econômico, cultural, artístico, esportivo e de
muito positiva e, logo após seu lançamento, três impor- orientação educacional, propiciando sobretudo a con-
tantes obras foram publicadas: “Ecologia e Poluição”, de cessão de bolsas de estudo e de trabalho.
Paulo Fernando Lago; “O escravo numa economia mini- Por último, cabe ressaltar, diante da necessidade
fundiária”, de Walter Piazza; e “Abertura operacional da de dotar a universidade de melhores instalações físicas,
universidade”, de Ricardo Hoffmann. a assinatura, em 11 de agosto de 1976, do contrato de
Outro evento significativo da história da Udesc foi obras de terraplenagem para a construção do conjunto
a inauguração, em 7 de novembro de 1975, do Hospital universitário do Bairro Itacorubi, em Florianópolis.
Veterinário da Escola de Medicina Veterinária de Lages, Encerrando este breve depoimento, que resume
com a presença do vice-governador do Estado, Marcos dois anos de intensa atividade, devemos destacar a
Henrique Büechler, e do secretário estadual da Educa- participação de uma formidável equipe de pessoas en-
ção, Salomão Ribas Junior. tusiasmadas e sobretudo competentes na realização de
Na ocasião, o vice-diretor da Faculdade de Medi- um trabalho que certamente contribuiu para a expan-
cina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São são da Udesc. 9

“Para atender às necessidades do corpo discente, foi instalado,


em 1975, o Departamento de Apoio e Orientação ao Estudante
com o objetivo de apoiar as atividades estudantis”

Revista Udesc 50 anos | 43


Voltando ao passado da Esag
Carlos Passoni Júnior Instalador da Esag, diretor-geral por dois mandatos e primeiro diretor do Itag

S
ou testemunha e participante do início das ativida- de pós-graduação daquela instituição.
des da Udesc e da Esag. Em 1965, o governador Ivo Certo dia, o professor Naspolini me convidou para
Silveira designou o professor João Baptista Bonnas- acompanhá-lo a uma audiência na Secretaria de Estado
sis, advogado brilhante de grande conceito em Florianó- da Fazenda, cujo titular era o autodidata, mas extraor-
polis, como também professor do curso de Direito da Uni- dinário, Ivan Luiz de Mattos, que nos fez duas propos-
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), para diretor tas: a primeira para que a Esag lhe apresentasse um
pro tempore da Escola Superior e Gerência (Esag), incum- projeto de pesquisa de preços ao consumidor (custo de
bindo-o de proceder à instalação, à seleção dos primeiros vida) e a segunda para que também lhe submetêsse-
professores e ao vestibular dos alunos debutantes. mos um projeto para medir sistematicamente o Produ-
A Esag instalou-se na Rua Visconde de Ouro Preto, to Interno Bruto (PIB) estadual.
nº 91, ao lado do Corpo de Bombeiros, enquanto a Udesc Estávamos em 1968 e o professor Naspolini e eu
funcionava do outro lado da Praça Getúlio Vargas, no pré- saímos da secretaria perplexos: me recordo como se
dio da Sociedade do Divino Espírito Santo. O endereço fosse hoje o susto que levei quando ele concordou ple-
era de uma casa de residência do senhor Acari Silva e namente com o desafio do secretário. Nascia, naquele
precisou passar por adequações: uma das salas de aula momento, o verdadeiro e futuroso Itag.
ficava no térreo; no andar superior, foram instaladas a Fomos à busca de informações e modelos nos dois
biblioteca e, pouco depois, uma segunda sala de aula. principais centros do País (São Paulo e Rio de Janei-
Tive a honra de integrar o primeiro grupo de pro- ro), fazendo-nos acompanhar pelos colegas professores
fessores selecionados, e as atividades de ensino foram Francisco Mastela e Nilton José Andrade, que assimila-
iniciadas em março de 1966. A cidade recebeu a Esag ram as orientações e instalaram esses inéditos traba-
com algum ceticismo, pois se achava que o curso de lhos na Esag, através do Itag.
Administração da UFSC, também recém-criado, seria A consagração do Itag na prestação de serviços
superior em todos os sentidos. veio a ocorrer em 1969, quando o presidente desig-
Objetivando desfazer essa impressão, o professor nado pelo governador para instalar a Caixa Econômica
Bonnassis, homem inteligente e criativo, me convocou Estadual, Dr. Jauro Dêntice Linhares, procurou a Esag,
para uma conversa, perguntando se eu seria capaz de pedindo a montagem de um projeto completo, de ins-
enfrentar o desafio de criar um organismo que propi- talações, manualização de normas, seleção de pesso-
ciasse aos alunos recém-ingressados condições de aliar al, criação de formulários de trabalho e do layout,
os ensinamentos teóricos à prática de mercado. aquisição de móveis e equipamentos, enfim, que lhe
Pensamos juntos que a ideia deveria superar a entregássemos a denominada “chave na porta”, o que
concepção de um “escritório-modelo” e sim promover foi feito com sucesso e rigorosamente dentro da expec-
estudos de cases e a simulação das atividades fictícias tativa que o ilustre Dr. Linhares esperava.
de empresas. A partir daí, projetado na sociedade, o Itag ingres-
O empreendimento recebeu o nome de Instituto sou em outras áreas da prestação de serviços a gover-
Técnico de Administração e Gerência (Itag) e se instalou nos e a empresas, como treinamento e seleção de pes-
em ambiente satisfatoriamente mobiliado e equipado, soal via concursos públicos, projetos de organização e
no precário porão da Esag. métodos, custos e muitos outros.
Nessa altura, o professor Bonnassis anunciou que Nesse período que caracterizou a consolidação
sua tarefa pro tempore estava concluída e que convo- da Esag em Florianópolis, tendo como suporte o Itag,
caria a congregação, presidida por ele e formada pelos jamais faltou o apoio dos reitores da época, entre os
cinco professores do primeiro ano, mais a representa- quais, por justiça, destacamos os colegas professores
ção acadêmica, com dois alunos, com vistas à escolha Celestino Sachet e Antonio Niccoló Grillo.
do primeiro diretor-geral eleito da Esag. Mas a Esag e o Itag retribuíram o apoio sempre re-
Com rara sabedoria, pois o tempo se encarregou cebido da Udesc, contribuindo, com recursos apartados
de provar isso, foi eleito o professor Antenor Naspolini, das receitas de serviços, para a aquisição do terreno onde
educador emérito, que desenhou as linhas que a Esag mais tarde foram construídos os prédios em que até hoje
deveria seguir dali para a frente. funcionam a Reitoria e quatro centros de ensino.
Atualização do regimento, realização de concur- Com a designação de um quadro permanente de
sos para admissões de novos professores, presença técnicos (Sérgio Sachet, Ari de Melo Mosimann, Curcio
frequente de palestrantes oriundos de importantes Jamundá, Fernando Ferreira de Mello Júnior e outros
empresas catarinenses e palestras de conferencistas nomeados posteriormente, como Hercílio Fernandes
de São Paulo e Rio de Janeiro foram suas primeiras e Neto e Ana Maria Carvalho), no final da década de 70 e
entusiasmadas tarefas. durante a década de 80, o Itag, sempre vinculado à Esag
Na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, e à Udesc, consagrou-se em todo o Estado pela elevada
firmou convênio para que alunos formados pela pri- qualidade e pelo respeitável conceito adquirido na pres-
meira turma participassem do respeitadíssimo curso tação de serviços a governos e a empresas privadas. 9

44 | Revista Udesc 50 anos


Um desafio de 50 anos
Casildo Maldaner Ex-governador do Estado de Santa Catarina e ex-senador da República

H
á 50 anos começava a germinar uma semente. centenas de projetos de transferência de tecnologia da
Era o surgimento da Udesc – uma inovadora pro- universidade para a sociedade, cuja relação custo/be-
posta de ensino superior para Santa Catarina. E nefício na maioria das vezes é impossível de se aferir.
há exatos 25 anos, no exercício do mandato de gover- Destaca-se que não basta apenas a geração de
nador, tive o prazer de assinar a Lei Estadual nº 8.092, avanços nos campos da ciência e da tecnologia, mas
que a transformou em fundação pública, mantida pelo é imprescindível a aplicação adequada das inovações,
Estado, vinculada à Secretaria da Educação, com patri- isso é, a transferência do conhecimento adquirido para
mônio e receita próprios, autonomia didático-científica, a construção de uma sociedade próspera. A Udesc, ba-
administrativa, financeira, pedagógica e disciplinar. seada nesses novos paradigmas e, ao mesmo tempo,
A Udesc registra, nesse meio século, uma inesti- atenta às exigências de qualificação humana em larga
mável capacidade empreendedora, alicerçada na com- escala, criou um modelo coerente de pesquisa em ciên-
petência e no brio da sua comunidade acadêmica e no cia e tecnologia e de extensão de serviços à comunida-
apoio e no carinho que toda Santa Catarina nela de- de. Eis a chave do seu crescimento.
posita. Graças à resistência ativa, inteligente e perma- Como exemplo dessa atuação em permanente sin-
nente de professores, alunos e servidores, foi possível tonia com as demandas da sociedade, recordo, dentre
produzir, crescer e ampliar sua contribuição, abrangen- seus 53 cursos de formação, o surgimento da graduação
do todo o Estado. em Engenharia de Petróleo, que, na sua fase de implan-
Conquistou o direito de existir como universidade tação, em 2011, iniciou com 40 vagas por semestre, em
democrática, progressista, comprometida com o saber período integral, em Balneário Camboriú, e tornou-se um
universal e com as necessidades de Santa Catarina e do verdadeiro sucesso, registrando em seu primeiro vesti-
seu povo. Formou sucessivas gerações de profissionais bular o expressivo índice de 21 candidatos por vaga.
qualificados indispensáveis ao desenvolvimento regio- Chama a atenção, desde logo, o grande interesse
nal, bem como a formação das lideranças intelectuais. dos nossos jovens pela novidade. Com cinco anos de
Fundamentada na sua estrutura multicampi, es- estudos, o profissional é diplomado engenheiro com
palhada pelas regiões da Grande Florianópolis, Norte, sólida base técnica e científica para desempenhar em
Planalto Serrano, Oeste, Vale do Itajaí e Sul, contando todos os ramos relacionados à indústria do petróleo
com a vocação natural dos seus docentes e interagindo e também a fazer parte de equipes multidisciplinares
com todos os níveis e modalidades de ensino oferecido responsáveis pelos projetos e desenvolvimento de
nas condições mais diferenciadas e em áreas marcadas campos de petróleo.
por desenvolvimento desigual, ajuda ela a construir um A área de trabalho desses profissionais inclui
país de carências distintas e com problemas variados. É empresas em atividade nas diversas fases da cadeia
a própria sociedade que se constrói através do conhe- produtiva do petróleo, do gás natural e de biocom-
cimento, se desenvolve, amadurece. bustíveis, além dos organismos governamentais rela-
A crise do mundo deixa claro que estamos entran- cionados à área do pré-sal, incluindo instituições de
do em uma sociedade nova e diferente, na qual o re- ensino e pesquisa.
curso econômico básico não é mais o capital, a mão de Podem-se destacar, entre os diferenciais, o caráter
obra ou os recursos naturais, mas sim o conhecimento. inovador do curso, o crescente mercado de trabalho, a
A soberania e a importância econômica, política e cul- sólida formação em Engenharia de Petróleo e a posição
tural de um país são garantidas pela geração e pelo uso estratégica de Santa Catarina em relação ao mercado,
que souber fazer do conhecimento. acrescentando-se ainda o fato de se tratar do primeiro
A Udesc tem demonstrado ser uma instituição curso de Engenharia de Petróleo do Estado.
com credibilidade, competência e compromisso social, Dentro desse contexto, esse meio século da Udesc
empenhada na elaboração de um plano de desenvol- – por ser uma instituição competente para atuar em
vimento permanente. Sua proximidade com o setor amplos setores da difusão do conhecimento, em virtu-
produtivo privado e com prefeituras, além de órgãos de dos recursos humanos qualificados de que dispõe,
públicos de diversos níveis, tem contribuído para isso. do seu imenso potencial instalado e, acima de tudo, do
Esse processo, ao longo dos anos, tem caminhado de seu compromisso social – é a prova do apoio e do cari-
forma gradual e consistente. Hoje, estão em andamento nho que Santa Catarina nela deposita. 9

“A Udesc tem demonstrado ser uma


instituição com credibilidade, competência
e compromisso social, empenhada na elaboração
de um plano de desenvolvimento permanente”

Revista Udesc 50 anos | 45


Primeiros tempos dos 50
Celestino Sachet Reitor da Udesc 1968-1974

A
década dos anos 60 do século passado abriu res e de professores vizinhos de olhos alongados e de
cortinas com dois sonhos que se haviam trans- vozes sem eufonia:
formado realidade. - Onde é que essa tal de Udesc vai cavar técnicos e
Em 21 de abril de 1960, a cidade de Brasília, re- professores gabaritados para movimentar os três mo-
cém-desovada, vestiu galas verde-amarelas para pro- tores de outro barco: ensino, pesquisa e extensão?
var aos brasileiros que tínhamos uma capital fabricada O projeto inovador da Udesc desafiava o próprio
dentro de linhas modernas que haviam deixado o mun- Conselho Federal de Educação – encarregado de “re-
do morrendo de invejas. Ninguém jamais presenciara conhecer” a nova instituição – e que, à época, via com
espetáculo tão ousado. “La ciudad soñada, la Capital de vozes entredentes as instituições de ensino superior
la Esperanza”, foi assim que a imprensa de Buenos Ai- que ousassem espalhar-se para além das beiradas do
res despachou o “saludo” de quase veneração. ninho em que haviam descascado o ovo.
Para nós, os catarinenses, o sonho teve que esperar Tranquila com sua ferramenta arriscada de fazer
cinco anos. E não se tratava de uma cidade: era uma uma nova universidade, a Udesc olhou para o amplo
ideia compromissada em revolucionar corpo e espírito território catarinense e percebeu que, fora da Capi-
de um “novo edifício”. Ao assinar o Decreto nº 2.802, tal, desde o ano anterior, haviam sido plantadas pelos
de 20 de fevereiro de 1965, o governador Celso Ramos respectivos municípios as raízes de uma futura uni-
abria as portas da educação de nível superior que os ca- versidade em Blumenau, Itajaí, Lages e Tubarão. Ora,
tarinenses estavam precisando para compreenderem o se nesses quatro centros havia um grupo de intelec-
mundo aloprado que desfilava no decorrer dos sonhos. tuais disposto a carregar uma instituição de ensino
O “novo edifício” levava o pomposo nome de “Uni- superior, era evidente que a mesma situação seria en-
versidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa contrada em Florianópolis.
Catarina (Udesc)”. E gerava-se mais um argumento para validar a
Assim como Brasília era uma capital diferente de tripla distribuição da Udesc pelo Estado afora. Com a
quantas havia por aí e por todos os lados, a Udesc Udesc, Santa Catarina entrava na descentralização e
apresentava uma estrutura original, bem diferenciada na desuniformização de ensino superior. Desde os pri-
das suas congêneres espalhadas pelo Brasil adentro. O meiros passos, nossa catarínica universidade procurou
pioneirismo apontava para três polos: fugir dos métodos e moldes universitários tradicionais
• No próprio nome da nova escola, que trazia em para engajar-se no processo de um desenvolvimento
seu rosto a palavra “desenvolvimento”, ideia então em econômico e social.
efervescência na área econômico-social, pelo menos Já nos primeiros tempos, além da preocupação
em toda a América Latina. com um ensino voltado diretamente para as necessida-
• Na localização tri-regionalizada das faculdades des geoeconômicas dos catarinenses, a Udesc aplicou
da nova entidade, distantes praticamente duas cente- serviços e pesquisas que forneceram fortes subsídios
nas de quilômetros entre uma e outra. Uma universi- para o Plano Estadual de Educação de 1970, aquele
dade que tinha um pedaço no Litoral; outro ao Norte; e plano que ousou introduzir, no sistema de ensino fun-
um terceiro no Planalto Serrano. damental, um novo processo de avaliação de aprendi-
• Na distribuição temática dos seus cursos: Ciên- zagem: o “avanço progressivo”, que colocava o aluno
cias Humanas, em Florianópolis; Engenharia, em Join- em estudos paralelos para evitar-lhe a reprovação.
ville; e Veterinária, em Lages. Hoje, Brasília, uma cidade sem esquinas, alimenta
E mais. A ousadia de criar uma segunda instituição o orgulho dos brasileiros e a Udesc, universidade de
de ensino superior em Florianópolis, bem nas barbas muitas esquinas pelo Estado afora, vem fermentando
da universidade federal que também se proclamava uma atividade educativa de colheitas ousadas e de
“de Santa Catarina”, deixou um grupo de administrado- saborosos frutos. 9

“O projeto inovador da Udesc desafiava o próprio Conselho


Federal de Educação – encarregado de ‘reconhecer’ a nova
instituição – e que, à época, via com vozes entredentes as
instituições de ensino superior que ousassem espalhar-se para
além das beiradas do ninho em que haviam descascado”

46 | Revista Udesc 50 anos


Lembranças de uma ex-aluna
e ex-professora da Esag
Clara Pellegrinello Mosimann Presidente da Associação do Pessoal Aposentado da Udesc

T
ranscorria a década de 60. O Estado de Santa ministração e Gerência (Esag), a qual, num curto espaço
Catarina dividia-se geográfica e politicamente de tempo, tornou-se referência, conquistando o respei-
em Litoral e Serra. A integração entre os povos to e a credibilidade de todos pela ousadia e inovação.
dessas regiões era praticamente inexistente. Aos que Nela ingressei em 1969, na sua terceira turma.
viviam na região serrana, como eu, tinham como capi- A escola era dirigida à época pelo professor Antenor
tal a cidade de Curitiba, que supria as necessidades de Manoel Naspolini, homem tenaz, presente, que nos
bens de consumo, saúde, educação e cultura. Menos ensinou a ter orgulho da Esag dizendo a todos, alu-
assiduamente arriscavam-se idas a Porto Alegre para nos e docentes, que sofríamos de “esaguite: doença
as mesmas finalidades. Florianópolis ficava “fora de contagiosa e incurável”.
mão”. Era muito difícil chegar à Capital, pois as melho- E realmente fomos contagiados pela “esaguite”.
res estradas cortavam o Estado no sentido Sul-Norte Sentíamos orgulho de ser esaguianos. Havia uma sim-
e não no sentido Oeste-Leste. biose entre alunos e professores, com enriquecedoras
Vim para Florianópolis em 1968, oriunda de Caça- trocas de experiências, pois o corpo discente era for-
dor, onde residia. O deslocamento entre os municípios, mado, na sua maioria, por alunos que exerciam cargos
havendo tempo bom, não era feito em menos de 18 em empresas ou órgãos públicos.
horas. Para o retorno, geralmente pernoitava-se em As aulas eram ministradas num casarão situado
Lages, pois não havia ônibus que fizesse a linha Flo- na Rua Visconde de Ouro Preto, ao lado de onde até
rianópolis-Caçador. Era uma epopeia o deslocamento hoje funciona a sede do Batalhão Corpo de Bombeiros
para a capital dos “barrigas-verdes”, como usualmen- do Estado, em frente à Praça Getúlio Vargas. As ins-
te dizia-se em referência aos catarinenses do Litoral. talações, diferentemente do que é exigido atualmente
Eram dois povos com culturas totalmente distintas. pelo Ministério da Educação (MEC), eram improvisadas
Em razão desse cenário, eram poucas as pessoas e muito simples, o que não prejudicava em nada o com-
que se aventuravam a vir a Florianópolis. Vinha-se promisso dos professores e alunos com a qualidade do
exclusivamente para tratar de assuntos políticos ou ensino e do aprendizado.
relacionados a interesses públicos. A vinda para estu- Havia também a cantina do Darci ou “Bar do Dar-
dar e obter formação acadêmica era considerado um ci”, como acabou sendo chamado, ponto de encontro
ato de loucura. para um café, um jogo de pebolim ou um bate-papo em
Não obstante todas as dificuldades existentes, vim que todos ficavam sabendo do que acontecia na Esag.
em busca de formação acadêmica numa instituição Ao lado do bar, ficava o setor que mais deu visi-
nova, que despontava com um ensino de vanguarda e bilidade e notoriedade à Esag: o Instituto Técnico de
proporcionaria uma nova profissão, a de administrador. Administração e Gerência (Itag), que era o escritório-
Essa instituição denominava-se Escola Superior de Ad- -modelo, laboratório, em que os alunos colocavam em

“As instalações, diferentemente do que é exigido atualmente


pelo MEC, eram improvisadas e muito simples, o que não
prejudicava em nada o compromisso dos professores
e alunos com a qualidade do ensino e do aprendizado”

Revista Udesc 50 anos | 47


“A Esag, com a contribuição do Itag, passou a ser conhecida
por todos os cidadãos catarinenses, contribuindo com
a transposição da barreira cultural e geopolítica existente
entre os municípios do interior e a Capital”

prática os ensinamentos teóricos de todas as áreas Apesar de dominar o conteúdo das disciplinas
da Ciência da Administração. Os trabalhos realizados pela experiência adquirida com os cargos exercidos
pelo Itag foram muitos, com muitos professores, alu- e os cursos realizados na área contábil, a responsa-
nos e técnicos envolvidos, o que demandou sua realo- bilidade em constituir o corpo docente da Esag era
cação para o casarão ao lado da sede da Esag, também grande, mas felizmente a confiança e a técnica em
na Praça Getúlio Vargas. transmitir conhecimentos foram sendo aperfeiçoadas
Não eram raras as vezes em que o Itag reunia pela vivência diária ao longo dos anos, em adição
professores e alunos diuturnamente, inclusive nos aos conhecimentos teóricos obtidos pelos cursos de
sábados e nos domingos, visando atender a enorme pós-graduação concluídos. Foram mais de 30 anos
demanda de serviços do Estado e das empresas em de vida profissional vinculados à Esag, ministrando
geral. O Governo do Estado sempre acreditou na ca- aulas, orientando estágios, chefiando departamentos,
pacidade dos professores e dos alunos da Esag, dele- realizando projetos de pesquisa e trabalhos para o
gando-lhes a execução de planos ousados, de enorme Itag e a Udesc.
responsabilidade, para várias áreas de atuação. Em 1979, a Esag mudou-se para o campus do Ita-
A Esag, com a contribuição do Itag, passou a ser corubi, onde funciona até os dias atuais. A Reitoria da
conhecida por todos os cidadãos catarinenses, con- Udesc posteriormente também foi transferida para o
tribuindo com a transposição da barreira cultural e mesmo campus. Nessa época, a Avenida Madre Ben-
geopolítica existente entre os municípios do interior venuta, atual via de entrada para a Esag e a Udesc,
e a Capital. Novos modelos de organizações e novos estava em fase de abertura, não tendo nem sequer
padrões de administração foram disseminados pelo infraestrutura mínima de asfalto e iluminação pública.
Estado, sobretudo pelas mãos de alunos do interior Com o passar do tempo, a aposentadoria chegou,
que retornavam às suas cidades após a conclusão do mas não o desligamento com a instituição que ainda
curso. O egresso da Esag passou a ser disputado no faz parte da minha vida, pois permaneci ligada à Udesc
mercado de trabalho catarinense por empresas, ór- por trabalhos de pesquisa, como membro do Conselho
gãos públicos e demais organizações. Universitário e de comissões, presidindo atualmente a
Em 1972, colei grau em Administração pela Esag. Associação do Pessoal Aposentado da Udesc (APA).
Em agosto de 1973, ingressei no quadro docente da Minha imaginação não consegue vislumbrar como
instituição, assumindo as disciplinas de Contabilidade teria sido minha vida sem a Esag ou sem a Udesc, pois
e Estrutura e Análise de Balanços, em substituição ao ambas se fundiram no meu caminho profissional e de
mestre Carlos Passoni Júnior, que abdicara de lecionar existência, sendo motivo de orgulho ter participado
para assumir alto cargo executivo na iniciativa priva- efetivamente da história dessas duas instituições que
da. O elo com a Esag, portanto, não era mais de aluna, alavancaram a construção de um estado mais desen-
mas sim orgulhosamente de professora. volvido e destacado no cenário nacional. 9

48 | Revista Udesc 50 anos


Pioneirismo e espírito
empreendedor marcaram
trajetória da Udesc Joinville
Dieter Neermann Ex-diretor-geral da Udesc Joinville
Carlos Alberto Lessa Técnico universitário

U
m futuro promissor acenava para Joinville com no Marcante, no Bairro Zona Industrial Norte.
a criação do primeiro curso de Engenharia, pelo Sempre visando atender as necessidades da co-
Governo do Estado, em 9 de outubro de 1956. Já munidade de Joinville e região, o CCT expandiu sua
na década de 60, ocorreu a explosão da indústria local, área de ensino para além das engenharias, passando
com mais de 500 fábricas em operação e 25 mil pes- a atuar também na licenciatura e na Computação. Atu-
soas empregadas. O município, bem como a indústria almente, o centro oferece nove cursos de graduação
catarinense, vivia em plena expansão e com elevado e dez cursos de pós-graduação, todos integralmente
índice populacional, mas enfrentava grande carência gratuitos. A universidade tornou-se referência na área
por profissionais qualificados. das Ciências Exatas, proporcionando ensino superior
Foi nessa época que um grupo de joinvilenses de qualidade, gerando emprego e ajudando a movi-
visionários, entre eles integrantes do Centro de En- mentar a economia.
genheiros e Arquitetos de Joinville (Ceaj), iniciou es- Desde 1965, mais de 6,5 mil acadêmicos foram
tudos para a criação e implantação da Faculdade de formados pela Udesc Joinville, sem dúvida, o melhor
Engenharia de Joinville (FEJ). Muitas foram as pes- e mais importante centro de ensino do Norte Catari-
soas que participaram dessa empreitada, entre elas, nense, acolhendo jovens de todas as regiões de Santa
o fundador e primeiro diretor da faculdade, Harro Catarina, de outros estados e até do exterior. São estu-
Stamm, falecido em 2011, que dedicou grande parte dantes que vêm em busca de professores qualificados
de sua vida à instituição. e comprometidos com o ensino e de uma ampla estru-
As dificuldades foram muitas, a começar pela cria- tura para alicerçar seu aprendizado.
ção da primeira turma. Naquela época, eram poucos Localizada em uma área de 67 mil metros quadra-
os jovens com formação escolar suficiente para entrar dos, a universidade conta com mais de cem laborató-
numa faculdade e, dos poucos que existiam, nem todos rios para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa
desejavam cursar Engenharia. Para o primeiro vestibu- e da extensão. Os cursos da instituição estão entre os
lar, apenas nove candidatos apareceram. E assim, de melhores do País e seus trabalhos são reconhecidos
forma tímida, iniciou-se, em 1º de agosto de 1965, o nacional e internacionalmente.
primeiro curso de Engenharia de Operação, na modali- Competências, habilidades, conhecimentos e va-
dade Mecânica de Máquinas e Motores. lores são princípios que norteiam os desafios da co-
A década de 70 foi outro período marcante para munidade acadêmica na constante busca pelo apren-
a história da FEJ, pois nessa época ocorreu a estrutu- dizado de qualidade. Com a missão de bem ensinar, a
ração do Centro de Engenharia na Rua Otto Boehm, no Udesc Joinville continua sua luta incessante em criar,
Centro. Foi também nessa década, durante a gestão do inovar e desenvolver novos conhecimentos em ciên-
professor Mário Cesar Moraes, que o curso foi reconhe- cia e tecnologia, fundamentada na capacidade inte-
cido pelo Ministério da Educação (MEC). lectual e científica de seus profissionais. São eles que
Com pioneirismo, superação e inovação, a FEJ se fazem a diferença.
desenvolveu e se transformou no atual Centro de Ci- Temos a certeza de que nenhuma organização se
ências Tecnológicas (CCT), da Universidade do Estado perpetua se não tiver, no seu DNA, a decisão precípua
de Santa Catarina (Udesc). Ainda no final da década de de levar à sociedade a qual pertence a crença de que,
70, a instituição deu outro grande passo, ampliando a só com uma educação desafiadora e comprometida
infraestrutura física para abrigar novos cursos, com a com o saber, é capaz de transformar as pessoas e, por
inauguração do Campus Universitário Professor Aveli- conseguinte, todo o tecido social. 9

“Desde 1965, mais de 6,5 mil acadêmicos foram


formados pela Udesc Joinville, sem dúvida, o melhor
e mais importante centro de ensino do Norte Catarinense”

Revista Udesc 50 anos | 49


A Udesc foi feita para mudar!
Esperidião Amin Ex-governador do Estado de Santa Catarina e deputado federal

N
os fins de 1965, na época com 17 anos de ministrar a disciplina de Economia da Educação na Fa-
idade, comecei a me preparar para o primeiro culdade de Educação da Udesc. Aprendi muito, deba-
vestibular da nossa Esag. Vivíamos o reflexo tendo com alunos formas e fórmulas de avaliação dos
inicial da expectativa de termos um curso de Admi- resultados de investimentos em educação numa socie-
nistração no nosso Estado. Até então, a alternativa dade carente como era (e é!) a nossa, em tais termos.
para uns poucos privilegiados e obstinados era cur- Eis aí um bom trabalho a ser elaborado por ocasião
sar a Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo ou desta celebração – a dos 50 anos da Udesc!
se arriscar em um dos estados vizinhos. Como aluno da Udesc (Esag, 1966-1969), secre-
Era, pois, um fruto da Udesc que impactava dire- tário da Educação (em 1972), professor da Esag e da
tamente na possibilidade de realizar o sonho de fazer Faculdade da Educação, como prefeito de Florianópo-
aqui um curso de graduação. Posso dizer que esse fato lis (1975-1978 e 1989-1990), governador do Estado
direcionou de forma decisiva a minha vida no mais am- (1983-1987 e 1999-2002), tenho dívidas pessoais e
plo sentido. A Esag não só me acolheu como aluno, e visão de gestor que me unem à instituição Udesc de
depois como professor, mas também me propiciou co- maneira indelével.
nhecer sua funcionária Angela, minha companheira de É preciso examinar com atenção a “arquitetura”
vida e mãe dos meus filhos. do projeto da Udesc, desenvolvido entre 1963 e 1965.
Quantas outras histórias de vida foram moldadas Os documentos disponíveis demonstram o caráter ilu-
por esse fato? Creio que depoimentos humanos como minado da iniciativa, consolidada na Lei Estadual nº
este, com que inicio meus comentários sobre os pri- 3.191/1963 e no Decreto Estadual nº 2.802/1965.
meiros 50 anos da Udesc, são tão importantes quanto Os nomes desses ilustres arquitetos devem es-
a visão global do papel desempenhado pela Udesc no tar consignados no panteão dos transformadores da
cenário catarinense. nossa trajetória.
Mas é claro que o balanço de uma existência tão A partir desse início de história, podemos, paro-
generosa e fértil implica procurar avaliar resultados es- diando o título do livro de James Collins e Jerry Por-
truturais e estruturantes. ras, “Feitas para Durar”, dizer que “a Udesc foi feita
Em 1973, tive a extraordinária oportunidade de para mudar”! 9

“Como aluno da Udesc, secretário da Educação, professor


da Esag e da Faculdade da Educação, como prefeito
de Florianópolis e governador do Estado, tenho
dívidas pessoais e visão de gestor que me unem
à instituição Udesc de maneira indelével”

50 | Revista Udesc 50 anos


Os primeiros passos
da Udesc em Lages
Flávio Ramos Primeiro diretor do curso de Agronomia da Udesc Lages

E
m janeiro de 1963, o então governador Celso Ra- ria, sentia a frustração pela falta do curso de Agronomia.
mos enviou ao Conselho Estadual de Educação Em 1977, decidimos com o professor Rheno Ro-
(CEE) expediente manifestando sua intenção de gério Vieira, diretor da Esmeve, dar início à luta pela
criar os cursos de Agronomia e Veterinária em Lages. criação do curso de Agronomia da Udesc, em Lages.
Vários anos se passaram em função de dificuldades en- Levamos nossa reinvindicação ao reitor, João Ni-
contradas na disponibilização dos recursos que aten- colau Carvalho, que prontamente apoiou a iniciativa e
dessem as necessidades. nos alertou para as dificuldades que enfrentaríamos,
Em 1969, o prefeito de Lages Áureo Vidal Ramos pois os recursos eram escassos e teríamos que buscar
nomeou uma comissão que foi formada por Ledo Bar- um grande apoio político.
reto, Walter Hoeschl Neto, Rheno Rogério Vieira, Jú- Para fortalecer o apoio político, na busca dos recur-
lio César Malinverni e Suria Shedid para elaborar um sos necessários, mobilizamos a comunidade lageana com
estudo sobre a possibilidade da implantação dos dois a participação da Associação Comercial e Industrial de
cursos e concluiu pela viabilidade. Lages (Acil), na pessoa do seu presidente, José Pascoal
Em 12 de dezembro de 1972, o CEE, a pedido da Baggio, que convocou uma reunião na qual, em uma pa-
Udesc, criou somente o curso de Medicina Veterinária, lestra, expusemos a importância da Faculdade de Agro-
pois, por interferência e pressão de forças políticas li- nomia para Lages e região e recebemos o apoio de todos.
gadas ao Governo do Estado, o curso de Agronomia foi Reunimos uma grande quantidade de manifesta-
implantado na Universidade Federal de Santa Catarina ções escritas dos mais variados segmentos, como in-
(UFSC), em Florianópolis. dustriais, comerciantes, associações de classes, lide-
Em março de 1973, iniciavam as atividades da Esco- ranças políticas e de outras tantas lideranças dos mais
la Superior de Medicina Veterinária da Udesc (Esmeve). diversos setores da comunidade.
Foi um início muito difícil, pela dificuldade de recur- Com essa etapa cumprida e com o apoio destaca-
sos para contratação de professores, materiais de labora- do do novo reitor, Lauro Ribas Zimmer, levamos nossa
tórios e tantas outras necessidades. Éramos um pequeno solicitação ao governador do Estado, Jorge Konder Bor-
número de professores, sobrecarregados de disciplinas. nhausen, que nos assegurou a liberação dos recursos ne-
Nesse início, cheguei a ministrar quatro disciplinas simul- cessários e nos estimulou à continuidade dos trabalhos.
tâneas, totalizando 28 horas/aula semanais. Muitas manifestações contrárias surgiam, mesmo
Os professores eram remunerados por hora-aula, dentro da própria Esmeve, alegando que os recursos
mas dedicavam tempo integral ao atendimento dos seriam divididos e consequentemente insuficientes
acadêmicos e às tarefas extraclasse, muitas vezes e ocorreriam competições entre as classes. Núcleos
realizadas à noite, que não raramente se estendiam de engenheiros agrônomos alegavam a existência de
madrugada adentro. muitos cursos de Agronomia no Sul do País e de inú-
Esse empenho e essa dedicação motivavam tam- meros profissionais desempregados ou subemprega-
bém os acadêmicos na dedicação ao estudo, que lhes dos. Outras regiões do Estado também procuravam
era exigido de forma séria e rigorosa. exercer pressões políticas para que o curso fosse im-
Os professores, na sua maioria, com larga expe- plantado nas suas cidades.
riência acumulada anteriormente no exercício profis- Buscando contornar a crise, convocamos os enge-
sional, levavam os alunos em carros próprios para re- nheiros agrônomos da região para uma reunião na Es-
alização de atividades de campo e assim capacitá-los meve, onde explicamos em que condições estávamos
para atuações futuras. trabalhando, com apoio do reitor e do governador para
A atuação profissional já dos primeiros médicos ve- implantar um curso de alta qualidade, que contávamos
terinários egressos da Esmeve conquistou no mercado com a experiência profissional de alguns deles, aos quais
de trabalho um alto conceito de qualidade de ensino, seriam oportunizados cursos de mestrado e doutorado.
tanto em conhecimento científico como em habilidade Argumentamos que, para bons profissionais, sem-
prática. A comunidade serrana, embora entusiasmada pre se tem espaço no mercado de trabalho, que capaci-
pelo crescente conceito do curso de Medicina Veteriná- taríamos bons engenheiros agrônomos e que ainda, se

“A atuação profissional já dos primeiros médicos veterinários


egressos da Esmeve conquistou no mercado de trabalho
um alto conceito de qualidade de ensino, tanto em
conhecimento científico como em habilidade prática”

Revista Udesc 50 anos | 51


“O CAV cresceu muito nos últimos anos com os novos cursos
de Engenharia Florestal e de Engenharia Ambiental, vários
cursos de pós-graduação e a contratação de professores
mestres e doutores, que muito contribuem na formação
acadêmica e na ampliação da produção científica”

o curso não fosse instalado em Lages, seria em outra o novo governador, Esperidião Amin, inaugurou as
localidade. No fim da reunião, recebemos as manifesta- instalações do curso de Agronomia com mais de 4 mil
ções de apoio de todos. metros quadrados concluídos. Com a reestruturação da
O professor Rheno nomeou então uma comissão Udesc, em 17 de abril de 1980 foi criado o Centro de
formada pelos professores engenheiros agrônomos Ciências Agroveterinárias (CAV).
da Esmeve Flavio Krebs Ramos, Walter Hoeschl Neto, Fui indicado pelo diretor-geral do CAV como pri-
Eneo Araújo Bianchini e Marcio Camargo Costa, para meiro diretor do curso de Agronomia. Em 1982, foi
sob a presidência do primeiro, elaborar a carta-consul- eleita a chapa composta pelo professor Rheno Rogé-
ta e, em seguida, o plano de curso exigidos pelo Con- rio Vieira como diretor-geral do CAV, professor Flavio
selho Federal de Educação (CFE) que, na época, era o Krebs Ramos como diretor-assistente de Ensino e pro-
órgão responsável pela análise e aprovação de criação fessor Nilson Ernesto Hack como diretor-assistente de
de novos cursos no País. A comissão se reunia perio- Pesquisa e Extensão. Essa equipe foi reeleita por três
dicamente para avaliar, emitir sugestões e aprovar o mandatos, até o fim de 1988.
trabalho que íamos realizando. Apesar de ter sido por várias vezes pressionado
Elaboramos uma vasta carta-consulta, muito bem para me candidatar a diretor-geral, nunca aceitei por
fundamentada, que foi, em curto prazo, aprovada. De- não ter aspirações políticas, nem ambição de poder.
mos então início ao plano de curso, bem mais comple- Sempre optei por atuar na área de ensino, na qual po-
xo, no qual obtivemos o engajamento de profissionais dia trabalhar pelo segmento que julgo ser o principal
atuantes no Estado e de professores de instituições de de qualquer curso superior: a boa formação acadêmica.
ensino superior de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul Do tripé que compõe a universidade, “ensino, pes-
e do Paraná, na composição do corpo docente. O plano quisa e extensão”, o que normalmente mais influi sobre
de ensino foi também rapidamente aprovado pelo CFE. a comunidade produtora é a atuação dos profissionais
Em 27 de setembro de 1979, tendo à frente o go- egressos de bons cursos.
vernador, Jorge Bornhausen, e o reitor, Lauro Zimmer, Em 10 de dezembro de 1984, antes mesmo de for-
acompanhados pelo deputado federal Evaldo Amaral e mar a primeira turma, o curso de Agronomia da Udesc
pelos deputados estaduais Ivan Cesar Ranzolin e Wil- foi reconhecido pelo Ministério de Educação, por meio
son Floriani, foi conseguida a autorização de implanta- da Portaria nº 520.
ção do curso de Agronomia do presidente da República, O Brasil tem aumentado muito sua produção agro-
João Baptista Figueiredo, apesar das restrições impos- pecuária, inclusive pela ocupação de novas áreas, mas
tas pelo governo federal para a criação de novos cursos no futuro esse aumento, tão necessário, somente será
superiores no País. obtido por avanço tecnológico e a pesquisa é o instru-
A elaboração dos projetos de infraestrutura foi mento responsável por essas conquistas.
executada pelo arquiteto Antônio Rogério de Macedo As universidades concentram profissionais do
com a participação do DAE e, à medida que iam sendo mais alto grau de conhecimento e não podem ficar de
concluídos, por etapas, acompanhados dos orçamen- fora dessa evolução tecnológica. A participação de alu-
tos correspondentes, que foram rigorosamente obede- nos nesses projetos amplia sua formação acadêmica e
cidos, os levávamos ao reitor, que imediatamente os desperta o interesse pela investigação científica.
apresentava ao governador para alocação dos recur- O CAV, nos últimos anos, cresceu muito com os
sos, prontamente liberados. novos cursos de Engenharia Florestal e de Engenharia
Para planejar os laboratórios, visitamos os exis- Ambiental, vários cursos de pós-graduação, de mestra-
tentes nas universidades federais do Rio Grande do dos e de doutorados e a contratação de professores
Sul (UFRGS), de Pelotas (Ufpel), de Santa Maria (UFSM) mestres e doutores, que muito contribuem na formação
e do Paraná (UFPR), onde eram detalhadas as condi- acadêmica e na ampliação da produção científica.
ções existentes em cada uma e entrevistávamos os Os programas de extensão atendem os produtores
professores para apontarem as deficiências e as com- rurais e a comunidade, promovendo uma aproximação
plementações necessárias. extremamente importante.
Em março de 1980, ingressava a primeira turma, Continuar crescendo e se aprimorando com muito
aprovada no vestibular de janeiro. Em junho de 1983, sucesso é o desejo dos que iniciaram o CAV. 9

52 | Revista Udesc 50 anos


A Udesc em São Bento do Sul
Gerson Volney Lagemann Pró-reitor de Planejamento e ex-diretor-geral da Udesc Joinville

F
ico feliz pela oportunidade de poder contar, do Informação do CCT a ser oferecido em São Bento. Com
meu jeito, um pouco da história da Udesc Planalto dois cursos, a Fetep ficou pequena para a Udesc e nos
Norte. Sou professor da instituição desde 1989, transferimos para o Colégio São Bento.
sendo até 1995 em tempo parcial. Logo, o início da A situação na época não era fácil, dificuldades
história da Udesc em São Bento do Sul, eu contarei a financeiras na Udesc traziam importantes limitações
partir do que li e do que ouvi contar. operacionais – lembrando que os dois cursos de São
A Udesc em São Bento do Sul foi idealizada a partir Bento do Sul foram criados sem aumento específico de
da sua missão que era e é desenvolver Santa Catarina. repasse do Governo do Estado.
Foi com esse mesmo propósito que a sociedade local, Lembro-me de um certo dia em que fui chamado
liderada pela pessoa do prefeito da época, o Sr. Frank às pressas a São Bento do Sul, como diretor de Ensi-
Bollmann, procurou a Udesc para que ela oferecesse na no do CCT, para resolver algumas reivindicações dos
cidade um curso superior vocacionado à sua principal alunos da primeira turma de Sistemas de Informação
atividade econômica na época: a indústria moveleira. quanto a laboratórios que não estavam a contento.
Em fevereiro de 1994, foi aprovada pelo Conselho Levei comigo o Lucas, presidente do Centro Aca-
Universitário (Consuni) a Resolução nº 006, que criava dêmico de Ciências da Computação, para acalmar os
o curso superior de Tecnologia Mecânica – Modalidade colegas. Iniciado o bate-papo, passei a palavra ao Lu-
Produção Industrial de Móveis no Centro de Ciências cas, que se saiu com a seguinte pérola: “Lembrem-se: os
Tecnológicas (CCT), de Joinville, a ser oferecido fora da pioneiros sofrem, mas sempre serão lembrados!”. Feito!
sede, em São Bento do Sul. Devo essa ao Lucas até hoje!
Méritos devem ser dados à sociedade são-bentense Em tratativas com a prefeitura, conseguimos a do-
pela iniciativa de reivindicar o curso. Mesma deferência ação de uma área no Bairro Centenário, onde constru-
deve ser dada aos professores que abraçaram o projeto, ímos nossa sede. Aqui devo lembrar a importante par-
Rogério Braz da Silva e Pio Campos Filho, respectiva- ticipação do professor Anselmo Fábio de Moraes, que
mente reitor da Udesc e diretor-geral do CCT à época. era nosso reitor na época. Em 2005, eu já respondia
O convênio entre a Udesc, a Prefeitura de São Ben- pela Direção-Geral do CCT, e inauguramos dois blocos
to do Sul, a Associação Empresarial de São Bento do Sul com 2,3 mil metros quadrados, que abrigaram os dois
(Acisbs) e a Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa cursos, distribuídos em salas de aula, laboratórios, bi-
(Fetep) viabilizava o funcionamento do curso, que, de blioteca e espaço administrativo.
início, utilizava-se das instalações da Fetep. O ingresso Enfim, em 2006, eu, na qualidade de diretor-geral
era anual, pelo vestibular, e o curso funcionava no pe- do CCT, e o professor Anselmo, como reitor, convida-
ríodo matutino. Mais tarde, em 1999, o ingresso passou mos o professor Pio Campos Filho, que se dispôs a mu-
a ser semestral, no turno da noite. dar-se para São Bento do Sul para elaborar o projeto
Os professores, na sua maioria, vinham de Joinvil- do centro. Em setembro de 2006, o Consuni aprovou
le em van fretada. Alguns foram contratados a partir a Resolução nº 266, que criou um centro no município.
de processos seletivos como colaboradores do próprio Os cursos de Tecnologia Mecânica e Tecnologia em
município, mais tarde fizeram concurso e estão conosco Sistemas de Informação foram desmembrados do CCT
até hoje, entre eles os professores Agnaldo Vanderlei e passaram a compor o novo centro. O professor Pio
Arnold, Arlindo Costa e Sandro Keine. A adesão desses foi empossado como diretor-geral dessa unidade e, em
docentes foi muito importante na fase de implantação 2007, a Estatuinte da Udesc definiu a denominação ofi-
do curso, tendo em vista suas atuações concomitantes cial: Centro de Educação do Planalto Norte (Ceplan).
na indústria moveleira da região. A evolução continua. Em 2007, o curso de Tecnolo-
Não poderia de forma alguma deixar de lembrar a gia em Sistemas foi transformado em Bacharelado em
atuação dos professores Ailton Barbosa e Dario Nolli, Sistemas de Informação. Em 2009, o curso de Tecnolo-
que, durante muitos anos, coordenaram o curso, fazen- gia em Produção de Móveis seguiu a mesma linha e foi
do várias vezes por semana o trajeto entre Joinville transformado em Engenharia Industrial Mecânica, que,
e São Bento do Sul e sendo verdadeiros exemplos de em 2012, passa a se chamar Engenharia de Produção
dedicação à causa do ensino universitário. – Habilitação Mecânica. Já são 21 anos de história da
A partir de 2002, definitivamente passo a fa- Udesc no Planalto Norte.
zer parte da história da Udesc em São Bento do Sul. Na disciplina de Empreendedorismo, sempre acon-
Daquele ano até 2004, fui diretor de Ensino do CCT selho meus alunos a criarem seus negócios sob a se-
e, de 2004 a 2008, diretor-geral. Assim, a partir de guinte filosofia: “Pensem grande, comecem pequeno e
agora passo a narrar não só o que li ou ouvi, mas cresçam rápido”. Para o Ceplan, replico essa máxima:
também o que vivi! Vamos sempre em frente!
Havia consenso no CCT de que a Udesc deveria No momento em que me aproximo da minha apo-
aumentar sua presença em São Bento do Sul. Em outu- sentaria, justa e merecida, acalento o sonho próximo
bro de 2002, foi aprovada no Consuni a Resolução nº de ver os mestrados em Sistemas de Informação e em
063, que criava o curso de Tecnologia em Sistemas de Engenharia da Produção no Ceplan. 9

Revista Udesc 50 anos | 53


As realizações da Udesc e do Cefid
Hercides José da Silva Ex-diretor-geral da Udesc Cefid

C
omo acontece com todo grande empreendimento, a a serviços, manter as rádios educativas, a ouvidoria,
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) o portal corporativo, o Escritório de Direitos Autorais
teve início difícil, polêmico e contraditório até tor- (EDA) e os demais serviços pertinentes à área.
nar-se a instituição de ensino superior que todos conhe- Hoje, do alto dos seus 50 anos e de roupagem
cemos e consolidar-se definitivamente na comunidade nova, está estrategicamente presente em dez cidades
catarinense e na educação superior do nosso País. e, com 12 centros espalhados regionalmente por toda
Até 1983, funcionava em centros isolados, como a Santa Catarina, vem cumprindo sua grande função e
tradicional Faculdade de Educação (Faed), a Escola Su- missão de educar.
perior de Administração e Gerência (Esag), a Faculdade O Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid)
de Engenharia de Joinville (FEJ), o Centro Agroveteriná- é um desses centros. Antes, porém, de qualquer con-
rio (CAV) e a Escola Superior de Educação Física (Esef). sideração, é justo que rendamos uma homenagem aos
Somente em janeiro de 1984, com a implantação professores Edite Soares, Celínea Moritz, Érico Stratz
de estatuto e regimento próprios e unificados, pas- Júnior, Nildo Walmor Sell, Mafalda Marselha Spring-
sou a ser universidade de fato e de direito. Em 1985 mann e Ivan Nobre, legítimos responsáveis pela reali-
para consolidar esse processo, foi reconhecida pelo zação de um dos mais antigos sonhos dos professores
Ministério da Educação e Cultura (MEC) e, a partir de de Educação Física de Florianópolis: a criação de um
1989, tornou-se totalmente gratuita. Em 1990, com a curso superior de Educação Física na Capital.
criação da Fundação Universidade do Estado de Santa Transcorria 1973 quando esses valorosos profes-
Catarina (Udesc), desvinculou-se da Fundação Educa- sores conseguiram viabilizar, em definitivo, a autori-
cional de Santa Catarina (Fesc). zação de funcionamento do curso de Licenciatura em
Vale lembrar que apenas a partir de 1991, no go- Educação Física, o que ocorreu mais exatamente em 6
verno do ilustre governador Vilson Kleinübing, a Udesc de fevereiro, pelo Decreto Federal nº 71.810.
passou a receber do Poder Executivo de Santa Catarina O Cefid começou aí sua trajetória de conquistas e
um percentual da receita líquida do Estado para sua realizações com vistas a consolidar sua missão de formar
manutenção, o que lhe conferiu autonomia e segurança. profissionais de ponta para o mercado de trabalho em
Desde o início, foi decisiva no desenvolvimento do Educação Física. Em 1981, iniciou a oferta de cursos de
nosso Estado, sendo, portanto, fiel ao seu propósito de especialização lato sensu em várias áreas. Já em 1992,
criação e vocação. Nesses anos, todos os milhares de foi criado o curso do Bacharelado em Educação Física.
administradores, economistas, engenheiros, professo- Entretanto, não evoluiu apenas na área da Educa-
res e muitos outros profissionais formados pela Udesc ção Física, pois, em 1994, criou o curso do Bacharelado
estão atuando no território catarinense e, por que não em Fisioterapia. Em 1998, criou o programa de pós­-
dizer, no Brasil e até mesmo no exterior. É com essa graduação com mestrado e doutorado, conseguindo
contribuição que ela se justifica plenamente perante às assim colocar-se entre os mais destacados centros de
autoridades e ao contribuinte catarinense. Educação Física do País.
Sabe-se, todavia, que muitos contribuíram com Quanto à infraestrutura, tivemos um crescimento
essa missão. Assim é que inúmeros reitores, diretores, muito grande, pois que, partindo de uma simples qua-
professores, funcionários e alunos deram sua cota de dra esportiva, hoje dispomos de um aparato esportivo
trabalho na construção da nossa querida Udesc. composto de ginásios, campo atlético sintético, piscina
Como toda grande universidade, a Udesc atua em coberta e aquecida, além de ótimos laboratórios com
diversas áreas. Na administrativa, por exemplo, tem tecnologias avançadas e clínica de fisioterapia, que têm
como principais atribuições manter o pleno funciona- permitido oferecer um ensino de qualidade, desenvol-
mento da Biblioteca Universitária, proceder a avaliação ver pesquisas e projetos do interesse imediato da co-
de gestão, coordenar os conselhos superiores, favore- munidade local e regional.
cer e coordenar a cooperação internacional e a ava- Certamente a grande missão do Cefid não termina
liação institucional, coordenar projetos, realizar licita- aí, pois muito são os desafios ainda a serem enfrenta-
ções, assessorar-se da procuradoria jurídica, bem como dos e que certamente exigirão união, compromisso e
articular-se com as diferentes pró-reitorias. competência por parte dos seus novos dirigentes.
No ensino, entre outras atribuições, está o acom- No momento, então, em que se comemora meio
panhamento e a observância do calendário acadêmico, século de existência da Udesc, é importante que renda-
dos projetos pedagógicos, da manutenção e da admi- mos uma homenagem aos seus “idealizadores e cons-
nistração dos laboratórios. Na pesquisa, manter a coo- trutores”, reitores, pró-reitores, diretores, professores,
peração internacional, o acompanhamento dos progra- funcionários e egressos, e a todos os demais que a
mas de mestrado e de doutorado e o funcionamento acompanharam nessa longa e frutífera caminhada, tor-
dos laboratórios, entre outras tarefas. cendo para que ela, “a Universidade dos Catarinenses”,
Na extensão, coordenar as ações voltadas para a continue cada vez mais se justificando enquanto insti-
comunidade, manter o portal de periódicos, os labo- tuição de ensino superior do Estado de Santa Catarina
ratórios, o rol de revistas publicadas etc. No tocante e marco na educação superior brasileira. 9

54 | Revista Udesc 50 anos


Primeira universidade multicampi
João Nicolau Carvalho Reitor da Udesc 1976-1979

A
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), mentos, novos laboratórios, e os professores e servido-
primeira universidade multicampi do Brasil, vem res, novos treinamentos e pós-graduações.
a completar 50 anos, um excelente momento para Encontramos a Udesc com a maioria dos cursos
comemorar e refletir sobre seu futuro. por reconhecer. Com uma equipe multidisciplinar, con-
Única universidade estadual criada sob o prisma seguiu-se o reconhecimento do curso de Estudos So-
de campi vocacionados, modelo que rompia com a ciais, que foi desmembrado e transformado em cursos
determinação da burocracia federal de universidade- de História e de Geografia. Foram reconhecidos o curso
-conglomerado, o que gerou muita desconfiança nos de Educação Artística, as habilitações de Artes Plásti-
palácios de Brasília. A Udesc, no seu nascimento agre- cas, Música e Desenho. Reconhecido o curso de Biblio-
gando as palavras “para o desenvolvimento”, foi ide- teconomia. De Engenharia Elétrica. Transformaram-se
alizada para melhor, dentro da universalidade, unir e e reconheceram-se os cursos de Engenharia Operacio-
responder aos desafios socioeconômicos e culturais do nal. Foi reconhecido o curso de Medicina Veterinária. E
Estado, riquíssimo em etnias colonizadoras e em cul- o de Educação Física.
turas diversas, de topografia especialíssima, ocupando Além disso, nos pouco mais de dois anos de man-
um mesmo espaço político: Santa Catarina. dato, tivemos a oportunidade de dar início à criação
Seus cursos iniciais respondiam a esses desafios, do curso de Agronomia, transferindo o Colégio Agríco-
atuando em Florianópolis, na área socioeconômica e la Caetano Costa de Lages para uma modelar Escola­-
cultural; em Joinville, na área tecnológica; e em Lages, Fazenda em São José do Cerrito. Iniciou-se também a
na vertente agropastoril. Na época, a Udesc quase che- montagem do curso de Engenharia Civil em Joinville
gou a Chapecó, absorvendo uma entidade local, o que – e remetemos, para o então Conselho Federal de Edu-
foi impedida pela burocracia encastelada na capital cação (CFE) o processo de reconhecimento da própria
federal, que anos depois meio que copiou, nem sem- universidade, já com o parecer favorável da consulto-
pre com planejamento, multiplicando e espalhando os ria jurídica do Ministério da Educação e Cultura (MEC).
campi das universidades federais pelo País afora. Atos A Udesc completa 50 anos. No nosso mandato, ti-
políticos, nem sempre capitaneados pelas necessidades vemos a oportunidade de construir o campus central,
educacionais e culturais. de ampliar os campi de Joinville e de Lages. De implan-
A Udesc completa 50 anos. Aguarda-se que o cam- tar um sistema justo de distribuição de bolsas de estu-
pus de Lages não continue sendo dilapidado, cortado do, cobrando-se do rico para auxiliar os pobres. Criou­
em pedaços para beneficiar organizações e entidades, -se a bolsa-alimentação, ampliou-se a bolsa-trabalho
decisões equivocadas que amanhã impedirão a criação e deu-se ênfase à integração do Diretório Central dos
de novos cursos. O campus central, em Florianópolis, Estudantes (DCE) e dos diretórios acadêmicos.
que, aliás, é bastante pequeno, foi invadido com o be- O Coral da Udesc praticamente percorreu o País,
neplácito estadual e a omissão da universidade. apresentando composições de catarinenses como Edi-
A Udesc está completando 50 anos. Há que regu- no Krieger, Osvaldo Ferreira de Mello, um dos fundado-
larizar seu patrimônio para atender as demandas futu- res da Udesc, e de tantos outros compositores barrigas-
ras, dentro do princípio de campi vocacionados, para -verdes. O Grupo de Expressão Corporal do curso de
ampliar as necessidades educacionais, tecnológicas e Educação Artística também percorreu o Estado mos-
culturais de um estado que é celeiro de criatividade e trando sua rica arte. Dinamizou-se a Udesc Editora, de
que, até há pouco, possuía umas das máquinas estatais tal forma que se transformou, à época, numa das gran-
mais eficiente do País, com poucas secretarias. des editoras universitárias do País.
A Udesc completa 50 anos. Tive o privilégio de A Udesc vem a completar 50 anos. Que se planejem
dirigi-la no período do governo do Dr. Antônio Carlos os próximos 60, 70 anos e assim por diante, respeitando
Konder Reis, cuja política governamental, sob o lema a semente idealizada pelo governador Celso Ramos e
“Encurtando Distâncias”, modificou a infraestrutura regada pelo governador Ivo Silveira e pelos mandatários
barriga-verde, interligando o Estado com novas estra- que os sucederam.
das asfaltadas e propiciando à educação uma verda- A Udesc completa 50 anos. Há que se respeitar
deira interiorização, com implementação do primeiro e seus estatutos, aprovado pela federação brasileira, há
do segundo graus e o fortalecimento do Sistema Acafe. que se respeitar a Constituição do Estado, que estabe-
A Udesc, nos anos 70, ganhou novos espaços fí- lece os direitos e deveres da sua universidade.
sicos, novas bibliotecas e bibliografias, novos equipa- A Udesc completa 50 anos. Parabéns! 9

“A Udesc vem a completar 50 anos. Que se planejem os


próximos 60, 70 anos e assim por diante, respeitando
a semente idealizada pelo governador Celso Ramos”

Revista Udesc 50 anos | 55


Educação a distância:
um projeto inovador
José Carlos Cechinel Idealizador da Udesc Cead e reitor da Udesc 2002-2004

P
retendo, nesta “conversa”, dizer um pouco, tudo o uso das ferramentas oferecidas pela tecnologia para
seria impossível, a respeito da elaboração e exe- o processo ensino-aprendizagem.
cução desse que eu considero um projeto inova- Elaborado o projeto e após ampla discussão junto
dor na Udesc, estendendo meu olhar até o fim de 2003, à Faed, depois de cumpridas todas as etapas adminis-
enquanto estive diretamente ligado a ele. trativas necessárias, em 23 de outubro de 1997, o pro-
A Udesc demonstrou que estava atenta às inova- jeto de Educação a Distância foi aprovado pelo Conse-
ções do momento e cumpria sua função social ao opor- lho Universitário (Consuni).
tunizar, pela educação a distância, o acesso a um curso Em seguida, o projeto foi encaminhado ao Minis-
de Pedagogia em nível superior, a uma demanda ex- tério da Educação (MEC), sendo protocolado junto ao
pressiva de professores sem habilitação para o magis- gabinete do ministro em 29 de outubro de 1997, sob
tério, que se encontravam impedidos pela distância ou o nº 23999.011187/90-10, quando a pasta ainda não
pela indisponibilidade de tempo para frequentarem os dispunha de regras quanto à educação a distância.
chamados cursos regulares. Só após um ano e meio, em 3 de abril de 1999, a
A educação a distância (EAD) implantada na Udesc, Udesc recebeu a comissão verificadora designada pela
por meio do Centro de Educação (Faed), creio, foi sem Sesu/MEC para avaliação do pleito, merecendo dela o
dúvidas o maior projeto voltado à formação de profes- aval favorável ao credenciamento da Udesc para ofe-
sores para séries iniciais e educação infantil no Estado, recer o curso de Pedagogia na modalidade a distância.
no Brasil, e, com certeza, na América do Sul. Foram cer- Em 4 de abril de 2000, conforme Parecer nº 305, o
ca de 13 mil formandos em Santa Catarina, 1,5 mil no Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou o parecer
Maranhão e mil no Amapá. da conselheira Silke Weber, que recomendou o creden-
As ações da Faed, voltadas à capacitação docente, ciamento da Udesc para oferta do curso de Pedagogia.
à consultoria e à assessoria na definição de encaminha- Em 2 de junho de 2000, foi publicada no Diário
mentos didático-pedagógicos para as políticas educa- Oficial da União a Portaria nº 769, oriunda do Gabinete
cionais de alguns municípios da Grande Florianópolis do MEC, credenciando a Udesc para desenvolver e im-
foram determinantes para o surgimento do curso. plementar seu programa de educação a distância.
No decorrer dessas ações, marcadas por inúmeros Credenciado, o Núcleo de Educação a Distância
encontros, e diante das manifestações sequiosas de (Nead) estruturou-se como Coordenadoria de Educação
muitos docentes das séries iniciais (primeira à quar- a Distância (Cead) para atender inicialmente os 200
ta) e da educação infantil para frequentarem um curso professores do projeto-piloto.
superior, aflorou a ideia de se buscar uma alternativa Para garantir a participação de professores de todos
para responder a esses anseios. os municípios envolvidos, o edital do vestibular (proces-
Como resposta, alguns professores da Faed co- so seletivo) fixou um mínimo de 15 vagas para cada um
meçaram a idealizar, como alternativa, a oferta de um deles, embora a demanda inicial fosse de 1.196 profes-
curso de Pedagogia na modalidade a distância, forman- sores dentre os municípios que aderiram ao projeto.
do então um grupo de estudos, denominado Núcleo de A Coordenadoria de Educação a Distância contava
Educação a Distância (Nead). com uma estrutura bastante enxuta, com um coorde-
Em 1997, o diretor do centro, Osni Mazon Debiasi, nador-geral, uma coordenadoria-administrativa e uma
através da Portaria nº 54, designou uma comissão, a coordenadoria de educação. Funções, na ordem, ocu-
qual tive a honra de presidir, para elaborar o projeto do padas por mim, pelo ex-reitor da Udesc Rogério Braz
curso de Pedagogia na modalidade a distância. da Silva e pela ex-pró-reitora de Ensino da Udesc Sue-
A comissão, pautada nas reflexões e contribuições li Wolff Weber, com o decidido apoio do então reitor
dos seus membros, sendo alguns deles alunos do curso Raimundo Zumblick.
de Especialização em Educação Continuada e a Distân- Sob a égide dos seus administradores, formou­ -
cia da Universidade de Brasília (UnB), 1997/98, organi- se uma equipe didático-técnica-pedagógica altamente
zou um projeto-piloto, para atender 200 docentes, ten- qualificada, para dar consequência ao projeto, sem per-
do como princípios norteadores a interdisciplinaridade, der de vista a qualidade do ensino e da educação a ser
a relação teoria-prática, a aprendizagem significativa e levada aos docentes-alunos.

“A educação a distância implantada na Udesc, por meio


do Centro de Educação (Faed), creio, foi sem dúvidas
o maior projeto voltado à formação de professores
para séries iniciais e educação infantil no Estado”

56 | Revista Udesc 50 anos


A Udesc, em nenhum momento, descuidou-se da
qualidade do curso. A Coordenadoria de Educação a
“A Udesc foi a primeira e,
Distância contava com uma equipe multidisciplinar de por certo única, a formar
profissionais competentes, trabalhando de forma coope-
rativa na concepção do material, tanto impresso quanto professores cegos e/ou
de áudio e vídeo, e no uso dos recursos tecnológicos surdos em nível superior”
mais adequados como meios de comunicação entre alu-
nos, professores, tutores e a própria equipe pedagógica
e técnica, harmonizados com a proposta pedagógica do
curso fundamentada na teoria histórico-cultural.
Os primeiros resultados da execução do curso de Udesc: Câmara de Ensino, Processo nº 730/025, em 21
Pedagogia confirmavam as expectativas dos profes- de outubro de 2002; Conselho de Ensino, Pesquisa e Ex-
sores-alunos com relação à qualidade e à importância tensão (Consepe), em 21 de outubro de 2002; e Conse-
dele para suas vidas. lho Universitário (Consuni), em 24 de outubro de 2002.
O principal louro do sucesso foram os expressivos O Cead constitui-se em órgão setorial de execução
pleitos vindos de todas as regiões do Estado de San- de políticas, programas e projetos de ensino, pesquisa
ta Catarina, principalmente daqueles professores que extensão e prestação de serviços da Udesc, cabendo-
viam, na modalidade a distância, a possibilidade de -lhe funções deliberativas normativas e executivas nos
também terem acesso ao ensino superior. planos didático, científico, administrativo, financeiro e
Foram inúmeras as solicitações vindas das prefei- disciplinar, observadas as disposições do Regimento
turas, de instituições particulares e da Secretaria de Es- Geral e do Estatuto da Universidade do Estado de Santa
tado da Educação, que desejavam oportunizar aos seus Catarina e da legislação aplicável.
docentes à Licenciatura em Pedagogia. O Cead teve, como locus, prédio próprio no campus
A Udesc entendeu, pois, poder abrir esse caminho, de Florianópolis, próximo à Reitoria. O espaço adequa-
propiciando, principalmente aos professores com for- do às atividades do curso contemplava salas para as
mação em nível secundário, o acesso à graduação, fa- coordenações e salas destinadas à correção de provas,
zendo com que eles não só crescessem enquanto pesso- à produção dos cadernos pedagógicos, ao atendimen-
as, mas que tivessem condições de apropriarem-se dos to dos professores-tutores e alunos e para reuniões e
conhecimentos necessários à cidadania, imprescindíveis estudos, além de ambiente virtual de aprendizagem,
ao exercício da profissão e à melhoria da qualidade da biblioteca e secretaria.
educação oferecida às crianças e aos jovens. Dispunha de telefones, fax, televisões, computado-
Assim, depois de um ano de experiência exitosa res e equipamentos indispensáveis ao bom andamento
em educação a distância, a Udesc chegou a outros 60 do curso e um estúdio no qual eram gravados e produ-
municípios, atendendo aproximadamente 3,5 mil pro- zidos os vídeos que acompanhavam os cadernos peda-
fessores-alunos. gógicos e programas para a TV Cultura (Minuto Udesc,
Embalada pelo sucesso, que foi confirmado pela Educação em Foco, Plantão Pedagógico, Notícias).
qualidade do curso, com forte procura por parte de pro- O centro contava ainda com o suporte de três rá-
fessores de outros municípios do Estado, em setembro dios próprias e da TVE-Cultura, mantida pela Udesc e
de 2002, a Udesc deu resposta aos anseios da comuni- pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC);
dade, ampliando o número de vagas para cerca de mais dispunha de uma infraestrutura invejável quanto a
cem municípios e pioneiramente atendendo, além dos meios de comunicação, que permitia, com rapidez e efi-
professores da rede pública e da rede particular, cida- ciência, a conexão com todos os municípios, os quais,
dãos afrodescendentes através de cota e portadores de sem exceção, recebiam sinais de telefonia, televisão,
necessidades especiais, cegos e/ou surdos. rádio e internet. Enfim, uma estrutura física satisfatória
A Udesc foi a primeira e, por certo única, a formar aos objetivos a serem alcançados.
professores cegos e/ou surdos em nível superior para A Udesc, através do Centro de Educação a Dis-
atuarem como professores nas redes de ensino. tância, estava preparada, sob o ponto de vista admi-
Nessa etapa, registrou-se a inscrição de aproxima- nistrativo e didático-pedagógico, para responder com
damente 9,3 mil estudantes, elevando o contingente do qualidade às vagas que oportunizou aos professores,
total de matrículas para 13 mil alunos. tendo a certeza de que buscou soluções inovadoras
Isso tudo sem falar nos três mil do curso de Espe- para resolver problemas de formação e capacitação de
cialização em Gestão Escolar em Santa Catarina e dos recursos humanos para a educação e de que a oferta
quatro mil no Estado do Ceará, onde também foram do curso de Pedagogia para aquele momento represen-
atendidos outros oito mil em curso de extensão. tava um modus de democratização do ensino, compro-
A fim de atender esse contingente de novos alu- missado com a sociedade como um todo, afinada com
nos, a Udesc investiu pesadamente na infraestrutura as políticas do MEC para a educação a distância.
da Cead com ampliação do espaço físico, construção de Concluindo, me resta dizer do conforto com pala-
estúdio e aquisição de novos equipamentos e admissão vras de agradecimento de tantos professores gradua-
de pessoal para assegurar que a ampliação de vagas dos em Pedagogia pela educação a distância, com os
não colocasse em risco a qualidade do curso. quais eventualmente tenho me encontrado, e de tantos
Em 24 de outubro de 2002, através da Resolução nº outros colegas, extraordinários professores, tutores e
055, foi criado o Centro de Educação a Distância (Cead), técnicos, que participaram na execução desse inovador
aprovado por unanimidade em todas as instâncias da projeto, ao dizerem: tempo bom! 9

Revista Udesc 50 anos | 57


Udesc: ferramenta da descentralização
e do desenvolvimento
Luiz Henrique da Silveira Ex-governador do Estado de Santa Catarina e senador da República

É
ramos poucos, tanto professores como alunos. zes (três mandatos de prefeito de Joinville, cinco de de-
Lembro-me dos professores Mário Cesar Mora- putado federal, dois de governador e agora de senador).
es, Harro Stamm, Harry Schmidt, Adil Calomeno e A Udesc foi criada dentro de uma visão desen-
Aldo Urban. Assim começou a Udesc em Joinville, com volvimentista do governador Celso Ramos. Com ela,
aulas em salas cedidas pelo Colégio Celso Ramos, na o notável governador começou a descentralização do
Rua Plácido Olympio de Oliveira. ensino superior, antes privilégio da capital do Estado.
Nossa remuneração era praticamente simbólica. Desenhada pelo talento dos irmãos Alcides e Nelson
Mas o que nos impelia não era o ganho pecuniário e Abreu, a Udesc, assim como o Besc e a Secretaria
sim a vontade de servir. A universidade do Estado es- do Oeste, foram braços de uma política de busca do
tava vindo para Joinville, e nós nos jubilávamos com crescimento harmônico e equilibrado de todas as re-
esse fato. Afinal, era uma oportunidade para nossos giões do Estado.
jovens, principalmente para aqueles que não tinham No entanto, a intenção de Celso Ramos estagnou
recursos, deixarem de fazer seus cursos de Engenharia nos campi de Lages e de Joinville. Quando assumimos
em Curitiba ou Florianópolis. o governo, fizemos ela se espraiar pelo Estado, com
Até então, a opção para os futuros universitários novas unidades de ensino no Oeste, no Vale do Itajaí e
de Joinville era rumar para uma cidade maior, onde no Sul do Estado.
encontrariam os cursos que ainda não tínhamos aqui. No nosso período governamental (2003/2010),
Foi o saudoso professor Mário Cesar Moraes quem além de expandirem-se as atividades acadêmicas nos
me convidou para ser professor pioneiro da Faculdade campi existentes, foram criados 20 cursos de gradua-
de Engenharia, recém-instalada. Nós já éramos colegas ção, dentre os quais cinco de Engenharia (Ambiental,
no Colégio Bom Jesus e havíamos sido recrutados para Florestal, de Pesca, Sanitária e de Alimentos), Arquite-
lecionar também na Faculdade de Ciências Econômicas, tura e Urbanismo, Sistemas de Informação, Design de
que havia sido criada pela comunidade luterana. Moda e Enfermagem.
Quando o professor Moraes me convidou, eu res- Durante esses oito anos, dobrou o número de cur-
pondi que não tinha habilitação para lecionar numa sos de pós-graduação stricto sensu. Tínhamos 14 cur-
faculdade de Engenharia. Ele então explicou-me que sos (11 mestrados acadêmicos e três mestrados pro-
o curso formaria engenheiros mecânicos de produ- fissionais). Demos um salto para 28 outros cursos de
ção, voltados para gerência industrial. E, para coman- pós-graduação, sendo 18 mestrados acadêmicos, três
dar trabalhadores, eles precisariam conhecer os prin- mestrados profissionais e sete doutorados.
cípios gerais do Direito, com um detalhamento maior Dentre os cursos de mestrado, destacam-se os de
no trabalhista. Por isso, o curso previa uma cadeira Computação Aplicada e Engenharia (Elétrica, Mecânica,
a ser preenchida por um advogado: Princípios de Su- Florestal e de Materiais). A Udesc começou a formar
pervisão e Liderança. doutores em Ciência do Solo, Produção Vegetal, Ciência
Ocupei essa cadeira por anos, começando no Co- Animal e de Materiais.
légio Celso Ramos e prosseguindo no prédio próprio Dia a dia, a Udesc vai se expandindo territorial e
da Rua Otto Boehm, que foi a segunda casa da Udesc academicamente, como aconteceu nos quatro primei-
no município de Joinville. ros anos do governador Raimundo Colombo.
Em 15 de novembro de 1974, fui eleito deputado Junto com as universidades comunitárias, ela é a
federal, o que obrigou meu afastamento do magistério. ponta de um modelo único no Brasil: o do ensino superior
A minha ausência nas salas de aula tornou-se definitiva, fortemente descentralizado para constituir alavancas do
pois fui eleito desde aquele ano sucessivamente 12 ve- nosso desenvolvimento por toda Santa Catarina. 9

“No nosso período governamental, além de expandirem-se


as atividades acadêmicas nos campi existentes,
foram criados 20 cursos de graduação, dentre os
quais cinco de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo,
Sistemas de Informação, Design de Moda e Enfermagem”

58 | Revista Udesc 50 anos


Muitos bons frutos
colhidos na Udesc Oeste
Luciano Emilio Hack Pró-reitor de Ensino e ex-diretor-geral da Udesc Oeste

A
criação do Centro de Educação Superior do Oeste maioria com recursos da Udesc. Em 2010, a própria
(CEO), com cursos nas cidades de Chapecó, Palmi- Udesc adquiriu uma área de 60 hectares em Guatambu
tos e Pinhalzinho e com o início das atividades com o objetivo de ter uma fazenda experimental.
em março de 2004, foi um momento único e especial. Em 2011, após um longo processo de discussão,
Especial porque simbolizou o despertar da nossa uni- ocorreu a transferência do curso de Enfermagem da ci-
versidade para a necessidade de ampliar o atendimento dade de Palmitos para Chapecó em razão de questões
à Região Oeste de Santa Catarina e não apenas às cida- técnicas, sendo criado no mesmo ano o curso superior
des onde estava instalada. A criação representou uma em Tecnologia em Produção Moveleira naquela cidade. O
grande conquista para a região oestina pois, até então, centro continuou se desenvolvendo na busca de atender
não havia uma universidade pública e gratuita. os anseios da comunidade, passando a oferecer cursos de
É claro que o início do trabalho foi muito difícil, como especialização em Saúde Coletiva e Ciência e Tecnologia
qualquer implantação de curso/centro. No entanto, tínha- dos Alimentos e preparando-se para ofertar o Mestrado
mos algo novo também para a universidade: eram três em Zootecnia, que abriu a primeira turma em 2015.
novos cursos implantados simultaneamente, só que um Uma das grandes dificuldades do centro sempre
em cada cidade – Palmitos e Pinhalzinho estão localiza- foi a falta de técnicos universitários, por isso sempre
dos há cerca de uma hora de carro da sede, em Chapecó. contamos com servidores cedidos pelas prefeituras e
Iniciamos nossas atividades em prédios alugados, o trabalho adicional de nossos professores, que faziam
com dois professores efetivos e dois técnicos efetivos muitas vezes também o serviço de técnicos. No entan-
(motorista e bibliotecária), o que demonstra o tamanho to, a partir de 2010, essa realidade foi melhorando,
do desafio que teríamos pela frente, mas a vontade de com a chegada de novos técnicos.
fazer dar certo era muito maior do que as dificuldades. O grupo que se formou no CEO sempre foi muito
Aos poucos, novas pessoas foram se agregando valoroso, tantos os servidores (professores e técnicos)
ao grupo e todas assimilaram o verdadeiro espírito do como os acadêmicos. Prova disso foram os excelentes
“desbravador” (que simboliza o Oeste Catarinense) e, resultados obtidos nas avaliações dos três cursos, que
com isso, se desdobravam nas suas funções e ativida- foram reconhecidos pelo Conselho Estadual de Educa-
des, fazendo as coisas acontecerem, pois, como todos ção pelo prazo máximo (cinco anos) e tiveram desem-
sabemos, desenvolver o interior dos nossos estados penho excepcional logo no primeiro Exame Nacional
sempre foi e ainda é um grande desafio. de Desempenho de Estudantes (Enade) que realizaram,
Com o passar do tempo, novos professores efeti- com o curso de Zootecnia proporcionando a inserção
vos foram se agregando ao grupo, os professores subs- da Udesc no Jornal Nacional.
titutos apresentavam-se de forma muito envolvida com Isso mostra que a universidade de qualidade é
o projeto e assim fomos nos estruturando, mas sempre formada principalmente pelo material humano e que
com muita dificuldade e luta, pois éramos o centro mais o material humano daquela região é muito bom. Até os
novo, que tinha muito mais necessidades do que os dias de hoje, as avaliações têm sido excepcionais.
outros centros já consolidados, mas nem sempre con- Como gestor, posso afirmar que administrar um
seguíamos convencê-los de que precisávamos de uma centro com essas características não foi e não é fácil,
atenção especial. pois é preciso dar a atenção devida às cidades que es-
Se não bastasse isso, ainda há o fato de sermos o tão fora da Reitoria, o que demanda mais tempo e es-
centro mais longe da Reitoria (na época, viagem aérea forço. No entanto, conseguimos uma abrangência maior
era inviável), o que trazia suas dificuldades. Foram mui- na atuação da universidade.
tas viagens de carro e de ônibus de Chapecó a Florianó- Uma questão sempre foi recorrente no CEO e nas
polis para busca de recursos e participação em reuniões três cidades, principalmente quando nos reuníamos
e outras atividades. Lembro-me de várias viagens de com lideranças locais: “Quem era o responsável pela
carro onde íamos terminando de organizar processos chegada da Udesc no Oeste?”. Muitos atribuíam às suas
(paginando, numerando, revisando textos etc) que deve- ações essa criação. Acredito que realmente foram mui-
riam ser entregues na Reitoria – várias vezes fui a reuni- tas mãos que proporcionaram essa bela realidade, mas
ões em Florianópolis de carro apenas porque precisava uma pessoa com certeza foi muito especial para que
trazer também materiais que eram necessários ao CEO. o CEO surgisse e se consolidasse: o professor Antonio
As coisas foram melhorando gradualmente e os Waldimir Leopoldino da Silva, a quem a comunidade do
municípios doaram áreas, sendo um terreno de três Oeste deve sempre ser grata.
hectares em Pinhalzinho, um de cinco hectares em A Udesc sempre será a primeira universidade pú-
Palmitos e um de 3,8 hectares em Chapecó, para que blica e gratuita a se instalar na Região Oeste. Ela che-
pudéssemos ter nossas sedes próprias, que se torna- gou naquela região tardiamente, é verdade, mas que
ram realidade em 2005, em Pinhalzinho, em 2007, em bom que ali chegamos e que bom que já podemos co-
Palmitos, e em 2010, em Chapecó, construídas na sua lher muitos bons frutos. 9

Revista Udesc 50 anos | 59


O crescimento institucional
e a autonomia da Udesc
Ludgero Luiz da Silva Técnico universitário

I
nspirado na doutrina da Comissão Econômica para Após a promulgação da Constituição da Repú-
América Latina (Cepal), o governador do Estado de blica Federativa do Brasil em 1988, a Udesc sofreu
Santa Catarina, Celso Ramos, criou a Universidade duas grandes mudanças. A primeira com relação à
para o Desenvolvimento de Santa Catarina (Udesc) em manutenção. As universidades que eram preponde-
1965, concebendo-a como uma instituição que nasceu rantemente mantidas pelos governos passaram a
vocacionada à preparação dos recursos humanos ne- ser públicas e gratuitas. A Udesc cobrava anuidade
cessários ao desenvolvimento integral e integrado do de seus alunos, e esses recursos eram destinados a
Estado de Santa Catarina. manutenção e investimentos, enquanto o Governo
A proposta era de uma instituição que fosse capaz do Estado repassava os recursos para pagamento de
de disciplinar ações e de interligá-las numa filosofia pessoal e encargos sociais.
desenvolvimentista que fosse irreversível. No seu nas- A segunda foi com relação ao pessoal. A Fesc, que
cedouro, adotou o modelo organizacional multicampi, era a mantenedora da Udesc, contratava os profes-
funcionando em três regiões socioeconomicamente ca- sores e técnicos universitários através do regime da
racterizadas no Estado: Florianópolis, Lages e Joinville. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por força da
Foi criada, pelo Decreto nº 2.802, de 20 de maio nova constituição, todos passaram para o regime esta-
de 1965, a Fundação Educacional de Santa Catarina tutário do Governo do Estado.
(Fesc), como órgão mantenedor da Udesc. Com a data Nesse período, a Udesc perdeu sua fonte de re-
que assinala o 50º aniversário da criação da Udesc, ceita para manutenção e investimento e o governo
julgo oportuno relatar parte da história que vivi como estadual não supriu essas necessidades. A mudança
servidor no caminho trilhado na busca da consolida- do regime da CLT para estatutário acabou com os
ção jurídico-institucional e da tão sonhada autonomia. ganhos conquistados naquele regime, consequente-
Pela legislação do ensino superior, com seu reco- mente houve uma evasão muito grande de recursos
nhecimento oficial através da Portaria nº 893/1985, do humanos qualificados para outras instituições. Tal-
Conselho Federal de Educação (CFE), a Udesc adquiriu vez tenha sido o período mais difícil na consolidação
autonomia didático-científica, administrativa, financei- da nossa universidade.
ra e disciplinar nos termos da Lei nº 5.540/1968 e do O governador Casildo Maldaner, através da Lei nº
seu estatuto, autonomia de que não gozou nos vinte 8.092, de 1º de outubro de 1990, transformou a Uni-
anos em que funcionou como universidade autorizada, versidade para o Desenvolvimento do Estado de San-
com sua criação pelo Governo do Estado. ta Catarina em Fundação Universidade do Estado de
Sob o aspecto jurídico-institucional, tratando-se Santa Catarina. A universidade conquistou sua inde-
de uma universidade autorizada, com o seu reconhe- pendência e deu o primeiro passo rumo à autonomia.
cimento, passou de uma vida autônoma assistida para Desde a criação da Fesc e da Udesc até 1979,
uma autonomia plena outorgada pela legislação. os dirigentes (presidente da Fesc e reitor da Udesc)

“De 1986 até 1990, do ponto de vista meramente


administrativo, a Udesc sofreu um duplo comando:
um exercido pelo seu reitor e outro pelo superintendente
da Fundação Educacional de Santa Catarina”

60 | Revista Udesc 50 anos


eram indicados e nomeados pelo governador do Es- materiais. Foram executadas as reformas estruturais
tado. De 1979 a 1985, a universidade ficou sob um e pedagógicas e instituídas políticas que sinalizaram
comando único, no qual o superintendente da Fesc nosso comportamento como universidade.
era o reitor simultaneamente. O retrato atual da Udesc está demonstrado na
De 1986 até 1990, do ponto de vista meramente apresentação do Relatório de Gestão 2013: “A Uni-
administrativo, a Udesc sofreu um duplo comando: um versidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) foi
exercido pelo seu reitor e outro pelo superintendente considerada em 2013, por meio da avaliação do Mi-
da Fundação Educacional de Santa Catarina, que era nistério da Educação (MEC), como a quarta melhor
sua mantenedora. Finalmente, em 1990, houve a pri- universidade estadual do País e a 18ª no geral entre
meira eleição, com o professor Rogério Braz da Silva 192 avaliadas. A conquista é importantíssima para o
eleito para reitor. Estado de Santa Catarina, pois nos coloca em desta-
A grande mudança rumo à autonomia só aconte- que no cenário nacional, já que estamos no topo da
ceu após um longo movimento grevista em 1991. O educação superior juntamente com instituições de São
governador do Estado, Vilson Kleinübing, através da Paulo e Rio de Janeiro. No ensino, foram ofertados
Lei nº 8.332, de 9 de março de 1991, criou o Quadro 47 cursos de graduação, 22 mestrados e nove douto-
de Pessoal Permanente e o Plano de Cargos e Salários rados. São 15 mil alunos regularmente matriculados,
da Udesc. Já a Lei Complementar nº 39, de 9 de se- em 12 unidades presenciais e outras 24 com polos de
tembro de 1991, disciplinou o ingresso e a promoção educação a distância. Na pesquisa, foram desenvolvi-
dos servidores da Udesc. dos 480 projetos que envolveram 700 acadêmicos e,
Fica estabelecido nessa lei o repasse de recursos desses, 500 receberam bolsas de iniciação científica.
mensais de 1,2% das receitas correntes do Estado, ex- Na extensão, foram 700 ações que mobilizaram mais
cluídas as parcelas constitucionais destinadas aos mu- de duas mil pessoas entre alunos, técnicos e profes-
nicípios. Foi a conquista da autonomia administrativa sores e nos aproximaram da comunidade com mais de
e financeira da Udesc. 600 mil atendimentos”.
A partir daí, houve um reordenamento interno Pelo que a Udesc tem demonstrado nos seus 50
com a regulamentação dos procedimentos através do anos, funcionando como um fator de desenvolvimento
Conselho Universitário (Consuni). Foi deflagrado um estadual, não se comportou jamais como instituição
processo estatuinte com a participação democrática alienada da nossa realidade e das aspirações sociais.
de todos os segmentos da universidade, que culminou Tem respondido às principais necessidades do Estado
com a elaboração do novo Estatuto da Udesc. no setor e, pelos órgãos de pesquisa e planejamento,
Começaram as ações para preservar e aprimorar deve estar atenta ao futuro de Santa Catarina. Funcio-
seu quadro de pessoal, além do provimento de re- nou e funciona, portanto, comprometida com o desen-
cursos para a manutenção e melhoria das condições volvimento do Estado. 9

“Pelo que a Udesc tem demonstrado nos seus 50 anos,


funcionando como um fator de desenvolvimento
estadual, não se comportou jamais como instituição
alienada da nossa realidade e das aspirações sociais”

Revista Udesc 50 anos | 61


Udesc ontem, hoje, amanhã...
Maria Aparecida Lemos Silva Ex-diretora de Pesquisa e Extensão da Udesc Faed

A
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Cumpri meu dever. Hoje, ao ser convidada para es-
é fruto de um projeto inovador, concreto e bem crever este texto, sinto-me privilegiada, especialmente
intencionado. Quando o excelentíssimo governa- por fazer parte dessa história. E devo ainda enfatizar
dor Dr. Celso Ramos aprovou a criação de uma univer- que minha vivência como acadêmica e profissional da
sidade pública e gratuita em Santa Catarina, nas suas Udesc se refletiu significativamente na minha vida pro-
raízes certamente já lançara perspectivas de formação fissional e pessoal. Agradeço aos bons professores e
de recursos humanos, alicerçados na produção de co- colegas com quem convivi e cresci.
nhecimento científico, filosófico, pedagógico e técnico. Na sua trajetória, a Udesc enfrentou e enfrentará
Visava contribuir de forma competente, ética, co- dificuldades e desafios. Esses, por sua vez, implicam o
erente e aberta à interação com o próprio Estado de reconhecimento de que a universidade, como processo
Santa Catarina, o Brasil e o mundo. Universidade que de crescimento e de transformação de seres humanos,
acompanhasse a evolução dos tempos, mantendo-se exige constante avaliação e tomada de decisão. O pro-
atenta às transformações da sociedade. cesso é dialético e vai se estruturando à luz do diálogo
Sobretudo, voltada para a formação de cidadãos franco, aberto, sem retaliações, mesmo porque líderes
e cidadãs, profissionais capazes de liderar, refletir, su- autênticos não titubeiam diante das contradições e ne-
gerir, coparticipar, conscientes da importância da sua gações próprias do movimento dialético.
inserção no contexto social, político, econômico e cul- Na verdade, não será com palavras bonitas, nem
tural. A abertura e receptividade acadêmica, sem dis- promessas vagas, num clima de pura competição e
tinção de classe, raça, credo político ou religioso, cons- de críticas infundadas entre seus componentes, que a
tituía-se uma das dimensões básicas e prioritárias. Udesc crescerá. Competência, formação, atualização e
Assim, nasceu a Udesc. Estruturada como univer- valorização dos seus profissionais, da administração à
sidade multicampi, com currículos a serem vivenciados sala de aula, implicam reflexão permanente, impulsio-
numa linha de ação interdisciplinar e tendo, como me- nando a ação inovadora, corajosa e até mesmo ousada
tas básicas, o ensino, a pesquisa e a extensão. de parte dos seus gestores. Planejamento, replaneja-
Em 2015, ao completar meio século de existência, mento, pesquisa e intencionalidade na ação técnico-
a universidade tem muita história para contar. Foram -administrativa e pedagógica alimentarão o cotidiano
tantos os reitores, pró-reitores, docentes, discentes e vivido na universidade.
pessoal técnico-administrativo e de apoio, que contri- No entanto, mesmo com planos elaborados, obje-
buíram nessa jornada acadêmica. Muitos, além da for- tivos e metas previstos, a flexibilidade na ação, como
mação acadêmica ali recebida, deixaram sua contribui- possibilidade de abertura e aprofundamento teórico-
ção como profissionais da própria universidade. -prático, não pode ficar de lado. Vale ressaltar: ação
Eu também sou fruto da Udesc. No seu contexto, consciente exige rigor, a começar pela autoavaliação de
estudei, concluí o Bacharelado e a Licenciatura em Su- parte dos envolvidos no processo.
pervisão Escolar e em Administração Escolar, além da Nessa busca de atingir os objetivos que a funda-
Especialização em Planejamento Educacional. mentaram, bem como enriquecê-los, deixando fluir os
Aprovada em concurso público, atuei como pes- que vêm inová-la, a Universidade do Estado de San-
quisadora do Centro de Estudos e Pesquisas Educacio- ta Catarina prossegue na sua lida. Que na sua ação
nais (Cepe). Fui pesquisadora educacional e docente na cotidiana, da teoria à prática, vigore o compromisso
graduação, na especialização e no Mestrado em Educa- político-pedagógico.
ção no Centro de Ciências da Educação (Faed). Assumi Como processo intencional e democrático, a ava-
como diretora de Pesquisa e Extensão na Faed. Coor- liação voltada para seus objetivos institucionais, admi-
denei o Departamento de Metodologia e o representei nistrativos e pedagógicos se transformará em essência.
junto aos demais órgãos colegiados da Faed. Nesse sentido, cumplicidade e desafio serão fermento
Após cursar Especialização em Pesquisa Educa- bom na massa. E possibilitarão a integração entre os
cional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul campus e respectivos centros da Udesc.
(UFRGS), mestrado na Pontifícia Universidade Católica O estímulo constante aos seus profissionais para a
de São Paulo (PUC-SP) e doutorado na PUC-RS, orientei publicação da produção científica torna-se fundamen-
e avaliei um grande número de monografias e disserta- tal. Isso, para não vigorar a sensação de que, na univer-
ções de mestrado. sidade, para publicar é necessário pedir licença. Para
Como representante do CCE/Faed junto à Sociesc, tanto, convém lembrar, verbas são imprescindíveis. E
de Joinville, coordenei uma turma do Mestrado em que o poder público não se esqueça da Udesc; que a
Educação e assumi como docente. Presidi e avaliei estimule e a defenda, pois, afinal, está comprometido
bancas examinadoras do Mestrado em Educação e de com sua criação.
concursos públicos em quatro centros da Udesc. No Enfim, que com seriedade, competência, cumpli-
exterior, participei de eventos de cunho internacional cidade e muita dedicação, seus profissionais busquem
e recebi convites de universidades estrangeiras para a “qualidade”, dimensão tão discutida e almejada nas
assessorá-las na área da Educação. universidades brasileiras e pelo mundo afora! 9

62 | Revista Udesc 50 anos


Implantação em Balneário Camboriú
Maria Ester Menegasso Primeira diretora-geral da Udesc Balneário Camboriú

A
universidade é um espaço peculiar de encontro de Nossa universidade oferece um espaço privilegiado
gerações: nela se moldam o presente e o futuro, para a dedicação ao saber e para a promoção do bem-es-
mediado por profissionais cuja missão é apontar tar da sociedade. Nela, eu tive a experiência de realizar a
os caminhos do conhecimento. Dedicação e participação mediação no encontro de gerações e a missão de educar,
na construção da sociedade, no encontro de gerações e principalmente em um campus fora da sede, onde o con-
no processo de formação dos novos sujeitos sociais são tato com os alunos e a sociedade se fazia diuturnamente.
as vigas mestras da universidade e se realizam por meio A expansão da Udesc me permitiu outra experiência
do ensino, da pesquisa e da extensão. singular, que foi a implantação de um centro recém-cria-
A vida universitária apresenta-se como um privilé- do em Balneário Camboriú, uma região que demandava
gio para aqueles que a exercem com dedicação ao saber uma universidade pública de qualidade e o exercício da
e à promoção do bem-estar da sociedade. A Universi- direção. A Udesc, ao responder a essa demanda, outor-
dade do Estado de Santa Catarina (Udesc) é um espaço gou-me a responsabilidade de dar início às atividades
privilegiado para o exercício desse encontro instituição/ do centro, por meio da implantação de uma estrutura
cidadania. Ao ingressar na Udesc, pude constatar seu acadêmica, de um suporte tecnológico e administrativo
papel de universidade em permanente construção. e de relacionamento com a sociedade local e regional.
Nos últimos dez anos, tem se destacado a Udesc Essa experiência ímpar de implementar um centro
pela vanguarda no crescimento de cursos de graduação a partir da sua constituição formal e de quase nenhum
por todo o território catarinense, ao mesmo tempo em aparato técnico-administrativo é, sem dúvida, impactan-
que apresenta expressivo aumento no número de cur- te na vida de qualquer servidor da nossa universidade.
sos de pós-graduação stricto sensu, tanto de mestrado Meu objetivo à frente desse grande desafio tem
quanto de doutorado. sido o de irmanar a universidade e as forças da comu-
Também a extensão, exercida no seu início como nidade local. Esse desafio está se materializando por
atividade de campo com algumas características de tra- meio da infraestrutura que já existe no centro e das
balho acadêmico e feições de voluntariado, passou a pessoas, sejam elas alunos, técnicos, professores ou co-
se caracterizar como trabalho acadêmico que objetiva laboradores da sociedade. O que mais impressiona é a
servir a sociedade, proporcionando àqueles que dela singularidade do nome Udesc no momento em que a
participam a oportunidade de aprofundar conhecimen- universidade se faz presente junto à comunidade local.
tos e aproximar a universidade da sociedade. Há uma confluência de vontades para que o centro,
Em paralelo ao desenvolvimento da Udesc, estão de Educação Superior da Foz do Itajaí (Cesfi), da Udesc,
minhas experiências vividas nesse período. Acompa- seja implementado com sucesso. De um lado, a univer-
nhando o crescimento da nossa universidade, fui a pri- sidade, apesar das naturais cautelas que são próprias da
meira coordenadora e chefe do curso de Administração administração pública, e, de outro, a comunidade local.
Pública, ao mesmo tempo em que me dedicava a lecionar Uniram-se à direção alunos, técnicos e professores
no mestrado profissional do meu centro, o de Ciências para que o Cesfi se constitua em um centro de excelên-
da Administração e Socioeconômicas (Esag), e a orientar cia em educação superior na Região da Foz do Itajaí.
os trabalhos de dissertação dos meus orientandos. Essa tem sido a visão da direção do centro, que conta
Complementava essas atividades com a pesquisa com o apoio da universidade, do seu magnífico reitor,
para instituições como Programa das Nações Unidas do vice-reitor e dos pró-reitores.
para o Desenvolvimento (Pnud) e Agência Nacional de Tem-se a sensação de que há, na universidade, um
Energia Elétrica (Aneel), além de trabalhos de extensão conjunto de forças que promovem o suporte para que
envolvendo principalmente as organizações não go- os cursos em andamento no centro representem con-
vernamentais, com a intensa participação de alunos e, dignamente a missão da nossa instituição. A excelên-
sempre que possível, de servidores. cia na formação dos futuros engenheiros de petróleo e
Ainda vivi a experiência de coordenar o curso de dos administradores públicos deve atestar a dedicação
Administração Pública fora da sede, em Balneário Cam- diuturna de todos em prol da nossa nobre missão de
boriú, com o apoio direto da Udesc e da comunidade lo- promover o ensino, a pesquisa e a extensão.
cal. Essa vivência me permite afirmar que, sem o apoio À proporção que essa missão se materializa e o Ces-
da sociedade, a universidade pouco ou nada pode fa- fi logra êxito na sua implantação, é a Udesc, no seu cin-
zer, já que o nosso modelo democrático exige que ela quentenário, que dá mais um passo como uma das mais
seja transparente e responda aos anseios da sociedade. importantes instituições do Estado de Santa Catarina. 9

“A excelência na formação dos futuros engenheiros


de petróleo e dos administradores públicos deve atestar
a dedicação diuturna de todos em prol da nossa nobre
missão de promover o ensino, a pesquisa e a extensão”

Revista Udesc 50 anos | 63


Udesc: 50 anos e
sua contribuição na Amazônia
Marino Tessari Diretor-geral do Campus Avançado de Itaituba-Pará 1977-1981

O
Projeto Rondon tinha como lema “integrar para O Campus Avançado de Itaituba foi instalado ofi-
não entregar”. A primeira operação do Proje- cialmente em 19 de julho de 1973 no município de
to Rondon, denominada “Operação Zero”, teve Itaituba, no Pará, sendo mantido em parceria entre
início em 11 de julho de 1967, quando 30 estudantes a Udesc, o Ministério do Interior, por meio do Pro-
e dois professores partiram do Rio de Janeiro para jeto Rondon, e a prefeitura. O campus funcionou até
Rondônia, a bordo de uma aeronave C-47, da Força 1989, quando foi extinto.
Aérea Brasileira (FAB), cedida pelo antigo Ministério A sede era um dos locais mais bonitos da cidade,
do Interior. A equipe permaneceu na área por 28 dias, com área de 80 metros de frente e 180 de fundos,
realizando trabalhos de levantamento, pesquisa e as- com floresta nativa e parte com grama e jardins. To-
sistência médica. talmente cercada, tendo na entrada um símbolo do
No ano seguinte, o projeto contou com a parti- Projeto Rondon, confeccionado em pedras típicas da
cipação de 648 estudantes e foi expandido para ou- região, e, ao lado direito, o mapa do Estado de Santa
tras áreas. Em 1970, o Projeto Rondon foi organizado Catarina com uma placa alusiva ao quinto aniversá-
como órgão autônomo da administração direta e, em rio do campus.
1975, transformado em Fundação Projeto Rondon. Havia quatro construções: uma casa onde residia
As atividades inicialmente eram desenvolvidas o diretor-geral; uma casa onde residia o administra-
apenas durante as férias escolares, como Operação dor, com uma sala onde funcionava o escritório e es-
Nacional, Operação Regional e Operação Especial. tava instalado o rádio amador, que era utilizado nas
Depois evoluíram com a criação do programa “Campi comunicações com os outros campi avançados; as co-
Avançados”, centro de atuação permanente com base ordenações estaduais; e o Núcleo Central do Projeto
física, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, co- Rondon em Brasília.
ordenadas especialmente pelas universidades locali- As casas eram construídas em madeiras típicas
zadas no Sul e no Sudeste do Brasil. da região, bem ventiladas, com venezianas e telas nas
A Universidade do Estado de Santa Catarina aberturas, para impedir a entrada de insetos. Cada
(Udesc) foi convidada a contribuir e participar de um casa possuía três quartos, sala, cozinha, banheiros e
desses campi por meio dos seus centros de ensino, dependências de empregada.
com seus professores e acadêmicos, incluídos os colé- Os alojamentos para 32 estagiários estavam situ-
gios agrícolas Caetano Costa e Vidal Ramos, na época ados na parte da frente, sendo construídos no mesmo
vinculados ao Sistema Fesc/Udesc. Para complemen- estilo das casas, que tinham duas alas, masculino e fe-
tar as equipes, buscou parceria com a Universidade minino, com as instalações sanitárias ao fundo, separa-
do Planalto Catarinense (Uniplac), a Universidade Re- dos por um belo jardim com flores naturais da região.
gional de Blumenau (Furb) e a Universidade do Sul Cada ala possuía quatro quartos com dois beli-
de Santa Catarina (Unisul), envolvendo professores e ches, com capacidade de quatro pessoas cada. Ainda
acadêmicos dessas instituições. faziam parte das instalações uma quadra de esportes,

“O Campus Avançado de Itaituba foi instalado oficialmente


em 19 de julho de 1973 no município de Itaituba,
no Pará, e funcionou até 1989, quando foi extinto”

64 | Revista Udesc 50 anos


que foi construída pelas equipes de acadêmicos e pro- 1977, tornando-se um evento tradicional e constando
fessores, a cozinha, a lavanderia e o refeitório amplo, da lei orgânica do município;
que também era utilizado para as atividades de lazer. • Enfermagem: assistência à saúde materno-in-
Os objetivos dessas ações era a interiorização da fantil por meio de palestras e visitas domiciliares;
universidade em outra área do País, visando contri- • Engenharia Civil: assessoramento à prefeitura
buir para o desenvolvimento social, cultural e eco- no tocante a projetos de novos bairros, com levanta-
nômico da região onde se localizava a sede física do mento topográfico que definiu a expansão da cidade;
campus avançado. Sendo esse local considerado um • Medicina Veterinária: assistência técnica aos
prolongamento das próprias universidades, tinha, pecuaristas e palestras sobre saúde animal nas co-
como finalidades básicas, o treinamento e a capacita- munidades;
ção de estudantes para o futuro exercício profissional. • Serviço Social: a autoeducação popular no de-
Tinha ainda, como objetivo, a oferta de estágios senvolvimento comunitário.
nas suas áreas de formação, com a oportunidade de Nessa oportunidade em que comemoramos os 50
atuar em atividades integradas com a comunidade, anos de existência da Udesc, não poderíamos deixar
identificando problemas e propondo soluções, contri- de registrar na história dessa universidade sua con-
buindo assim para o desenvolvimento de Itaituba, do tribuição à Amazônia, onde entre outros, como o pro-
Pará e da região. fessor Aury Moraes Nunes e o funcionário Francisco
Destacamos algumas atividades desenvolvidas: Manoel Fernandes, estiveram envolvidos, bem como
• Administração: assessoria à prefeitura no cadas- um grande número de acadêmicos catarinenses pres-
tramento imobiliário; taram sua contribuição.
• Agropecuária: palestras aos agricultores da Na condição de professor da Udesc, exerci com
Transamazônica, produção e distribuição de mudas muita honra a função como diretor-geral do Campus
de plantas e orientação para a manutenção de hortas Avançado de Itaituba-Pará de 1977 a 1981, com o
comunitárias; apoio irrestrito dos ex-reitores da Udesc Celestino Sa-
• Biblioteconomia: orientação técnica para a ela- chet, João Nicolau de Carvalho e Lauro Ribas Zimmer.
boração do projeto da construção e manutenção da É importante que, nesse momento, prestemos
biblioteca municipal; uma homenagem a todos que apoiaram como dirigen-
• Direito: orientação na expedição de documen- tes e/ou participantes dessa missão gratificante, que
tos pessoais, especialmente das crianças na cidade, na tinha, como lema, “integrar para não entregar”.
Transamazônica e nas missões indígenas; Aproveitamos também para prestar nossa home-
• Educação: assistência, orientação e treinamento nagem a todos: reitores, pró-reitores, diretores, profes-
de recursos humanos na área educacional; sores, funcionários e egressos, que fazem parte dessa
• Educação Física: criação e organização dos Jo- história e contribuíram para que a Udesc seja referên-
gos Abertos de Itaituba, realizados desde janeiro de cia em Santa Catarina, no Brasil e no exterior. 9

“Os objetivos das ações era a interiorização da universidade,


visando contribuir para o desenvolvimento social, cultural e
econômico da região onde se localizava a sede física”

Revista Udesc 50 anos | 65


Resultados significativos da Udesc
Maurício Fernandes Pereira Presidente do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina

A
década de 1960 foi muito rica em termos de público estadual, consignando, na sua própria cons-
desenvolvimento para Santa Catarina. Foi a tituição, recursos orçamentários para sua mantença
década em que o Estado vivenciou os desdo- como ente universitário autônomo, nos termos da
bramentos da política desenvolvimentista que, na Constituição da República.
década anterior, foi adotada pelo presidente Jusceli- A partir dali, a Udesc continuou seu processo de
no Kubitscheck de Oliveira para o País. Foi a década desenvolvimento, usufruindo da autonomia que sua
do Plano de Metas do Governo (Plameg), igualmente atual condição lhe assegura. Nesse seu caminho evo-
um desdobramento do Plano de Metas anteriormen- lutivo, das inicialmente três cidades (Florianópolis, La-
te implementado no País pelo já citado presidente da ges e Joinville) em que oferecia seus serviços, passou
República, do qual resultaram, dentre outras consequ- a protagonizar, ela própria, um processo maior de inte-
ências, a construção de Brasília e o incentivo ao de- riorização, alcançando o Planalto Norte, a Foz do Itajaí,
senvolvimento industrial no Brasil. o Alto Vale do Itajaí, a Região Sul e o Oeste do Estado.
Do Plameg, resultaram, em Santa Catarina, dentre Dessa forma, atualmente, todas as grandes regi-
outras ações: ões do Estado sediam uma unidade da Udesc, o que é
• Criação do Banco do Estado de Santa Catarina mais um fator de desenvolvimento cultural e socioe-
(Besc); conômico para essas regiões.
• Criação do Conselho Estadual de Educação (CEE); Atualmente, com cursos de graduação em todas
• Desenvolvimento do ensino fundamental públi- as áreas do conhecimento, contemplando as moda-
co, com considerável investimento na expansão física lidades presencial e a distância; com a oferta de 27
da rede escolar; mestrados e 11 doutorados, sediados nos campi de
• Implementação do ensino médio comunitário, Florianópolis, Joinville, Lages e Chapecó; com um
por meio da criação massiva de colégios da Campanha número expressivo de projetos de pesquisa formali-
Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) nos muni- zados e em funcionamento; e com atividades de ex-
cípios nos quais o Estado não tinha alcance para criar tensão vinculadas aos diferentes cursos e programas
colégios públicos; ofertados pela instituição, é possível perceber como
• Oferta de ensino superior por iniciativa do Esta- ela está cumprindo seu papel na promoção do desen-
do e dos municípios, com o aporte financeiro do poder volvimento do Estado de Santa Catarina.
público e cobrança de anuidades dos estudantes. O desempenho dos seus cursos nas avaliações
Na última iniciativa citada, enquadra-se a criação nacionais, com notas no Exame Nacional de Desem-
da Udesc, inicialmente mantida por uma fundação que penho de Estudantes (Enade) e nos Conceitos Prelimi-
aportava recursos governamentais e cobrava igual- nares de Curso (CPC) aponta para um desempenho em
mente anuidades dos seus alunos. nível de excelência.
Com a Udesc, surgiram fundações municipais es- Na comemoração dos 50 anos de existência, a
palhadas por todas as cidades-polo do interior do Es- Udesc tem muito a comemorar, mas uma instituição
tado, resultando, junto com a interiorização do ensino não pode viver das suas conquistas pregressas. Deve
médio, a interiorização do ensino superior, o que foi, buscar nelas, sim, força e inspiração para fazer sempre
sem dúvida, significativo fator do desenvolvimento melhor, até porque, como uma instituição que nasceu
equilibrado que se observa atualmente nas diferentes sob a égide de promover o desenvolvimento em dife-
regiões do Estado. rentes aspectos, como o social, o cultural e o econômi-
Com o advento da Constituição da República de co, as glórias e as conquistas do passado devem servir
1988, que trazia, como um de seus princípios, a gra- como referência para o desafio sempre maior que se
tuidade do ensino nas instituições públicas, ressal- descortina à frente: planejar os próximos 50 anos e o
vando somente as mantidas por fundações públicas próximo século para continuar brindando Santa Cata-
municipais já existentes no ato da sua promulgação, rina com resultados sempre mais significativos.
teve o Estado de Santa Catarina a oportunidade de Por fim, bom lembrar que a nossa Udesc faz parte
fazer a opção de assumir a Udesc como instituição de do Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina, logo
educação superior pública, sob a mantença do poder está sob a jurisdição do CEE. 9

“Atualmente, todas as grandes regiões do Estado


sediam uma unidade da Udesc, o que é mais
um fator de desenvolvimento cultural e
socioeconômico para essas regiões”

66 | Revista Udesc 50 anos


Na universidade construída
por sonhadores e visionários,
a arte fez a diferença
Milton Luiz Valente Primeiro diretor-geral eleito da Udesc Ceart

O
governador Celso Ramos, incentivado pelo seu vi- pelo êxito, ao fim do século passado, do modelo edu-
sionário secretário Alcides Abreu, criou, em 1965, cacional superior de Santa Catarina.
a Universidade para o Desenvolvimento do Es- A existência do curso de Educação Artística, no
tado de Santa Catarina. Celso Ramos, filho de um ex- entanto, passou por um momento crítico, deixando de
-governador do Estado e irmão de um ex-presidente da oferecer vagas em vestibular por força de decisão da
República, sonhou em proporcionar aos jovens do Esta- administração superior da Udesc. Os motivos para tal
do que governava a ventura de obter um título de curso historicamente pouco importam, o que se deve res-
superior que ele próprio não obteve. Sonhou e idealizou saltar é a reação do corpo docente liderado pelo pro-
muitas outras coisas em termos de obras, mas seu maior fessor Dimas Rosa.
legado foi a educação pois, além da Udesc, implantou Naquele momento, não só se mostrou a importância
escolas primárias em locais até então inimagináveis. do curso como a necessidade da sua ampliação. O que
São esses os primeiros grandes nomes da Udesc, em- era ministrado em seis semestres passou a ser feito em
bora antes deles já existisse o curso de Pedagogia (1963) oito com uma ampliação de cargas horárias e disciplinas,
e, consequentemente, a Faculdade de Educação (Faed) além da projeção de futura nova habilitação. A exemplo
e seus pioneiros idealizadores e professores. Nosso ob- do pioneirismo da Faed, no ensino da Pedagogia, o novo
jetivo aqui, sem pretensões de fazer um preciso relato modelo passou a ser parâmetro para todo o País.
histórico, é resgatar nomes e fatos que possam ter sido O reconhecimento da Udesc como universidade, em
determinantes para que a Udesc e, dentro dela, o Centro 1985, obviamente deveu-se ao competente e eficaz tra-
de Artes (Ceart) atingirem a importância que hoje têm. balho da Reitoria e da administração superior da univer-
A Faed, no intuito de suprir a deficiência no ensi- sidade, aliada à excelência dos centros de ensino exis-
no de Artes no então curso ginasial, no início dos anos tentes até então: Faculdade de Educação (Faed), Escola
70, realizou um curso de curta duração nessa área que Superior de Administração e Gerência (Esag), Escola de
acabou sendo o embrião da Licenciatura em Artes, que Engenharia de Joinville (FEJ), Centro de Ciências Agrárias
foi implantada em 1975 e surgiu com uma peculiaridade: e Veterinárias (CAV) e Centro de Educação Física e Des-
além das habilitações em Música e Artes Plásticas, surgia portos (Cefid), unidades criadas na implantação da uni-
a habilitação em Desenho, que era técnica e não artística. versidade no modelo concebido por Alcides Abreu.
Coube a um físico, o então diretor da Faed, Nilson Entretanto, para o modelo universitário preconiza-
Paulo, seguindo o sonho do professor Aníbal Nunes Pires do pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), faltava
– um grande educador, verdadeiro filósofo pela abrangên- uma unidade voltada para as Ciências Humanas e, nesse
cia dos seus conhecimentos e incansável idealizador, ini- contexto, o trabalho feito pela administração da Faed
ciar o ensino de Artes, em nível superior, em nosso Estado. e pelos professores do curso de Educação Artística foi
Se, no primeiro momento, Nanci Teresinha Batistoti, determinante: surgiu o Centro de Artes.
professora de Música e primeira coordenadora do curso Foi um sonho convertido pelo trabalho dos profes-
de Educação Artística da Faed, a convite de Nilson Pau- sores já citados, com muitos outros: Maria Bernadete Cas-
lo, elaborou o projeto do curso de curta duração, logo a telan Póvoas, Rute Ferreira Gleber, Carlos Lucas Besen,
seguir teve a companhia de Dimas Rosa – criativo artista Geraldo Mazzi, Luiz Carlos Canabarro Machado, Dora Ma-
plástico e emérito professor que veio a ser, muitos anos ria Dutra Bay, Beatriz Angela Vieira Cabral, Vera Regina
depois, o primeiro diretor do Centro de Artes – na defi- Martins Collaço, Sandra Meyer Nunes, Cesar Seara Junior,
nição da estrutura do curso de Educação Artística. Sergio Murilo Ulbricht e Estevão Roberto Ribeiro.
No início, além de Nanci e Dimas, foram professo- O espaço disponível não permite citar todos que até
res pioneiros: Otília Delci Canela (artista plástica), Osmar 1986 construíram o curso, mas a funcionária Maria José
Pisani (poeta e crítico de arte), Carlos Humberto Corrêa Castro Parucker, primeira secretária-geral do Ceart, tem
(historiador e também crítico de arte), Dilza Delia Dutra que ser citada pela sua participação efetiva no processo
(professora de Letras, entusiasta e autodidata em Tea- desde o início das licenciaturas.
tro), Maria Célia Kuerten Ribeiro (psicóloga) e o próprio Se um governador sem curso superior criou a Udesc
Aníbal Nunes Pires. e um físico viabilizou um curso de Artes, então não fica
O Coral e a Escola de Música da Udesc ganha- tão estranho constatar que um professor de Matemá-
ram repercussão nacional com o incentivo e apoio dos tica e Desenho Geométrico tivesse a ventura de ser o
reitores João Nicolau Carvalho – escritor, membro da primeiro diretor-geral eleito do Centro de Artes. O cres-
Academia Catarinense de Letras e, mais tarde, pro- cimento intelectual e pessoal que o meio artístico pro-
fessor do curso – e Lauro Ribas Zimmer – destaca- porcionou a todos nós que vivemos aquele momento só
do homem público pela dedicação ao ensino superior não foi maior que o crescimento político, talvez a maior
no Estado e no País e um dos principais responsáveis contribuição do Ceart para a Udesc. 9

Revista Udesc 50 anos | 67


Cinquenta anos de história:
contribuição privilegiada da Udesc
para a educação superior de SC
Peter Johann Bürguer Ex-pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Udesc
Jorge Luiz Ramella Presidente da Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc)

I
ncitados que fomos a nos manifestar a respeito do da Escola Catarinense (Mesc) para o campus-sede junto
acontecimento de repercussão histórica em San- à Reitoria. Oferta os cursos de bacharelado e licenciatu-
ta Catarina relativo às comemorações dos 50 anos ra em Pedagogia, História, Geografia e Biblioteconomia.
da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), 2. CCT (Joinville): O Centro de Ciências Tecnológi-
cabe-nos situá-la no cenário da educação superior na- cas (CCT) foi criado como Faculdade de Engenharia de
cional e internacional. Joinville (FEJ) em 1956. Iniciou o curso de Engenha-
Criada em 1965, a Udesc é hoje uma das mais im- ria de Operação em 1965 e atualmente oferta quatro
portantes universidades estaduais do País, que oferta engenharias (Civil, Produção de Sistemas, Elétrica e
ensino de graduação e de pós-graduação gratuito e Mecânica), além de Ciência da Computação, Física, Ma-
de qualidade. As graduações são compostas por 53 temática, Química e Tecnologia em Análise e Desenvol-
cursos, distribuídos em seis campi com 12 centros de vimento de Sistemas.
ensino, com mais de 13 mil alunos presenciais e cerca 3. Esag (Florianópolis): O Centro de Ciências da Ad-
de dois mil a distância. ministração e Socioeconômicas foi fundado em 1967
Segundo avaliação de 2014 das universidades como Escola Superior de Administração e Gerência
brasileiras feita pelo Ministério da Educação (MEC), a (Esag) e oferece os cursos de graduação em Adminis-
Udesc obteve o conceito 4 (o máximo é 5) no Índice tração, Administração Pública e Ciências Econômicas.
Geral de Cursos (IGC), o que lhe confere o ranking posi- 4. Cefid (Florianópolis): O Centro de Ciências da
tivo de 18ª entre 192 universidades avaliadas. Na ava- Saúde e do Esporte (Cefid) iniciou como Escola Supe-
liação restrita ao nível de graduação (a pós-graduação rior de Educação Física (Esef) em 1973 e oferta os
ainda é recente, tendo formado seu primeiro doutor em cursos de Educação Física (bacharelado e licenciatu-
2011), posiciona-se na primeira posição em SC, sétima ra) e Fisioterapia.
no País e segunda entre as estaduais de todo o Brasil. 5. CAV (Lages): O Centro de Ciências Agroveteriná-
Para desenvolver suas atividades na área da gra- rias (CAV) foi fundado em 1973 como Escola Superior
duação, a Udesc conta com centros de ensino estrate- de Medicina Veterinária (Esmeve) e é considerado um
gicamente localizados em mesorregiões com o objetivo dos melhores centros de ensino agropecuário do País,
de suprir as necessidades de ensino superior de cada segundo as avaliações dos órgãos reguladores. Tem os
uma delas, mencionados a seguir na sequência históri- cursos de Medicina Veterinária, Agronomia, Engenharia
ca das suas criações. São eles: Florestal e Engenharia Ambiental.
1. Faed (Florianópolis): O Centro de Ciências Hu- 6. Ceart (Florianópolis): O Centro de Artes (Ce-
manas e da Educação (Faed) foi criado em 1963, trans- art), fundado em 1985, oferece os cursos de Artes
ferindo-se em 2007 do prédio que abriga hoje o Museu Visuais, Design (Gráfico e Industrial), Moda, Teatro e

“Criada em 1965, a Udesc é hoje uma das mais


importantes universidades estaduais do País,
que oferta ensino de graduação e de
pós-graduação gratuito e de qualidade”

68 | Revista Udesc 50 anos


Música em diversas habilitações. Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG). Os programas
7. Cead (Florianópolis): O Centro de Educação a de pós-graduação perfazem atualmente 27 cursos de
Distância (Cead), criado em 2002, está localizado em mestrado e 11 de doutorado, todos recomendados pela
prédio próprio no campus-sede e oferece o curso de Capes, ocupando posição de destaque em nível nacio-
Pedagogia a Distância, com duração de quatro anos. nal, o que favorece a captação de expressivos recursos
8. CEO (Chapecó, Palmitos e Pinhalzinho): O Cen- financeiros e de bolsas junto à Capes, CNPq, Fapesc e
tro de Educação Superior do Oeste (CEO) foi criado em Finep. Os programas de doutorado incluem estágios
2002 e oferta os cursos de Zootecnia, Enfermagem, En- pós-doutorais ou pós-doutorados.
genharia de Alimentos, Engenharia Química e Tecnolo- Os programas de pós-graduação stricto sensu da
gia em Produção Moveleira. Udesc têm os seguintes cursos:
9. Ceplan (São Bento do Sul): O Centro de Educação 1. Mestrados: Profissional em Artes; Profissional
do Planalto Norte (Ceplan) surgiu em 2006 – de 1994 em Engenharia Elétrica; Engenharia Elétrica; Ciência
até então, a unidade pertencia ao CCT – e atualmente e Engenharia de Materiais; Computação Aplicada; Fí-
oferece os cursos de Sistemas de Informação e de En- sica; Engenharia Mecânica; Engenharia Civil; Engenha-
genharia de Produção Mecânica. ria Florestal; Ciência do Solo; Produção Vegetal; Ciên-
10. Ceavi (Ibirama): O Centro de Educação Superior cia Animal; Ciências Ambientais; Zootecnia; Educação;
do Alto Vale do Itajaí (Ceavi) foi criado em 2006, após Profissional em Planejamento Territorial e Desenvolvi-
a incorporação da Fundação Educacional Hansa Ham- mento Socioambiental; História; Profissional em Gestão
monia pela Udesc, e oferece os cursos de Ciências Con- de Unidades de Informação; Ciências do Movimento
tábeis, Engenharia Sanitária e Engenharia de Software. Humano; Fisioterapia; Profissional em Administração;
11. Ceres (Laguna): O Centro de Educação Superior Administração; Design; Teatro; Artes Visuais; Música; e
da Região Sul (Ceres) tem sede em Laguna. Iniciou seu Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias.
funcionamento em 2008 e hoje oferece os cursos de 2. Doutorados: Engenharia Elétrica; História; Ciên-
Arquitetura e Urbanismo e Engenharia de Pesca. cia e Engenharia de Materiais; Produção Vegetal; Ciên-
12. Cesfi (Balneário Camboriú): O Centro de Edu- cia Animal; Educação; Ciências do Movimento Humano;
cação Superior da Foz do Itajaí (Cesfi) está sediado em Teatro; Artes Visuais; Ciência do Solo; e Administração.
Balneário Camboriú, tendo iniciado suas atividades em Esse cenário retrata que a busca da excelência ge-
2010, e oferta os cursos de Engenharia de Petróleo e rada ao longo de 50 anos de história coloca a Udesc
Administração Pública. num patamar privilegiado para contribuir na evolução
A área da pós-graduação stricto sensu da Udesc e nos impactos sociais e econômicos do modelo de en-
iniciou em 1995 com a criação da Pró-Reitoria de sino superior para o desenvolvimento catarinense. 9

“A área da pós-graduação stricto sensu da Udesc iniciou


em 1995 com a criação da Pró-Reitoria de Pesquisa
e Pós-Graduação. Atualmente, são 27 cursos de mestrado
e 11 de doutorado, todos recomendados pela Capes”

Revista Udesc 50 anos | 69


Udesc: compromisso
com a autonomia
Rogério Braz da Silva Primeiro reitor eleito da Udesc 1990-1994

M
inha relação com a Udesc começa em 1972, uma visão de educador comprometido com as verdadeiras
momento em que iniciei o curso de Pedagogia causas da educação e, em especial, da educação superior
na antiga Faculdade de Educação (Faed). Era e da Udesc, empenhamos esforços visando alcançar dois
uma época marcante, especialmente por dois aspectos: objetivos: inserir, na constituinte catarinense de 1989, a
primeiro porque vivíamos a plenitude da Revolução de prerrogativa da autonomia universitária; e estabelecer sua
Março de 64; e segundo porque sentíamos na prática organização por meio da Fundação Universidade do Esta-
os efeitos gerados pelo Governo Celso Ramos, que fora, do de Santa Catarina, alcançada pela Lei nº 8.092/1990,
sem nenhuma dúvida, o mais inovador e progressista de iniciativa do governador Casildo Maldaner.
da história catarinense. Confesso que tem sido uma relação extremamente
Naquela época, o Conselho Estadual de Educação gratificante, pois, desde o seu iniciar, desenvolvi inú-
(CCE) sediava-se no prédio da própria faculdade, fato meras atividades, ocupei diversos cargos e funções,
que se revelou de significância ímpar, pois seus mem- tendo como apogeu a participação na primeira eleição
bros (professores e colaboradores diretos), todos de no- direta para reitor, em 1990. Nesse capítulo, após uma
tória capacidade técnico-intelectual, além de conselhei- democrática disputa com outros três colegas concor-
ros, também integravam o corpo docente da instituição. rentes, tornei-me o primeiro reitor eleito pela comu-
Devido à minha atuação na política estudantil, tive nidade universitária, para o exercício do mandato de
o privilégio de conhecer a Udesc como poucos, pois me maio de 1990 a maio de 1994.
foi aberta a oportunidade de iniciar o processo de in- Tive a graça de vivenciar outro fato marcante. Na
tegração acadêmica em 1973, com a criação do extinto nossa gestão à frente da Udesc, em 1991, já no governo
Diretório Central dos Estudantes da Udesc, órgão agluti- de Vilson Kleinübing, diversos expedientes legais foram
nador dos diretórios acadêmicos da Faculdade de Edu- aprovados para fortalecer ainda mais a autonomia ad-
cação, da Escola Superior de Administração e Gerência ministrativa, financeira e patrimonial da universidade.
(Esag) e da Faculdade de Engenharia de Joinville (FEJ). A instituição foi agraciada com a destinação de
Com a criação da Escola Superior de Educação Fí- percentual do orçamento do Estado especialmente di-
sica (Esef), em Florianópolis, e da Escola Superior de recionado à sua manutenção e ao seu desenvolvimen-
Medicina Veterinária (Esmeve), em Lages, ambas come- to. Além disso, foi instituído seu primeiro plano de car-
çando a funcionar em 1973, também atuei como mem- gos e salários, com uma clara definição da sua política
bro-fundador dos seus respectivos diretórios acadêmi- de recursos humanos (docentes e técnicos).
cos, com os colegas das turmas iniciantes de Educação No findar do mandato, deixamos aprovados pelos
Física e Medicina Veterinária. colegiados superiores os cursos de Fisioterapia (Cefid),
Como paralelamente cursava Administração na Licenciatura em Física (CCT/Joinville), Tecnologia da Ma-
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), era-me deira (CCT/São Bento do Sul) e Moda (Ceart), oferecidos já
facilitada a integração com suas lideranças, fato pro- no vestibular seguinte. Obtivemos ainda a aprovação em
pulsionador de ricas experiências na política estudantil, todas as esferas governamentais de dois vultosos finan-
que eram ainda acrescentadas com o acompanhamento ciamentos assumidos pelo Estado, um com a Finep e outro
da atuação de colegas acadêmicos da Udesc na direção com o Banco Alemão, destinados à melhoria da gestão e
de órgãos de abrangência estadual, tal como a Federa- de laboratórios, em especial os do CAV e do CCT/Joinville.
ção Catarinense do Desporto Universitário (FCDU). Esses atos foram de particular relevância para a
Se já conhecia bem a Udesc como aluno, a partir de Udesc iniciar sua vocação de universidade incursa na
março de 1976 passei a conhecê-la como profissional, modernidade, de gestora de esforços comprometidos
pois ingressei no seu quadro funcional como técnico em com a responsabilidade de fornecer ao mercado de
educação da Reitoria e posteriormente, em agosto do trabalho profissionais de elevado nível e competência,
mesmo ano, como professor da Faculdade de Educação. sem negligenciar sua participação efetiva no desenvol-
No período de 1986 a 1990, exerci o honroso vimento de diversos setores do Estado.
posto de vice-reitor na gestão do professor Lauro Ri- Por fim, é importante ressaltar que os sucessivos
bas Zimmer, figura notável da educação catarinense e reitores, cada qual comprometido com a visão de ho-
brasileira, que, obrando com sua extraordinária com- mem e educador do seu tempo, devotadamente ofere-
petência, obteve junto às instituições competentes o ceram sua inteligência e seu trabalho em prol de uma
reconhecimento oficial da universidade. universidade de qualidade e verdadeiramente compro-
Junto ao professor Lauro Ribas Zimmer, dotado de metida com a gente catarinense. 9

“Na nossa gestão à frente da Udesc, diversos expedientes


legais foram aprovados para fortalecer ainda mais a autonomia
administrativa, financeira e patrimonial da universidade”
70 | Revista Udesc 50 anos
Udesc Ibirama comprometida com o
desenvolvimento do Vale do Itajaí
Rogério Simões Ex-diretor de Ensino da Udesc Ibirama

O
centro da Universidade do Estado de Santa Ca- to Regional (SDR) definiram que seu campo de estudo,
tarina (Udesc) em Ibirama, bem como o seu res- sua pesquisa e o desenvolvimento das suas ativida-
pectivo Campus V, foi criado em 6 de novembro des estariam voltadas às áreas dos recursos hídricos
de 2006, através do Decreto n° 4.832, do excelentíssi- e sanitários, bem como nos seus impactos nas áreas
mo governador do Estado de Santa Catarina na época, agroindustrial, têxtil e da madeira, buscando desenvol-
Eduardo Pinho Moreira. ver cursos de graduação que atendessem dois princí-
Nesse documento, a unidade foi denominada pios fundamentais: o da excelência acadêmica e o de
como Centro de Ensino do Alto Vale do Estado. Em 1º atendimento às necessidades locais, garantindo o cres-
de junho de 2007, foi aprovada pela Resolução n° 044 cimento da universidade como instituição de ensino,
do Conselho Universitário (Consuni) o novo Regimento pesquisa e extensão e sua inserção no processo de de-
Geral da universidade, na qual é dada a denominação senvolvimento sustentável da região.
oficial do centro da Udesc Ibirama como Centro de Edu- Todo esse estudo e trabalho foram reconhecidos e
cação Superior do Alto Vale do Itajaí – Ceavi. acatados na sua íntegra pela comissão especial institu-
A criação do Ceavi se deu pela absorção da Fun- ída em 22 de fevereiro de 2008, pela Portaria n° 107,
dação Educacional Hansa Hammonia (Fehh) pela Udesc do magnífico reitor Anselmo Fábio de Moraes, com
e, nesse sentido, firmou-se convênio entre as duas ins- o objetivo de apresentar “proposta sobre áreas para
tituições de ensino superior e a Prefeitura de Ibirama oferta de cursos de graduação no Centro de Educação
para viabilizar a transição e transferência dos cursos Superior do Alto Vale do Itajaí – Ceavi, em consonância
de graduação oferecidos pela Fehh para a Udesc. com a vocação da região onde está localizado o centro”.
A Fehh oferecia cinco cursos de graduação com Dessa forma, em 10 de dezembro de 2009, o Ceavi
entradas de 40 vagas semestrais (Bacharelado em aprovou junto ao Consuni seu planejamento estratégi-
Administração, Bacharelado em Ciências Contábeis, co, levando em consideração todo o estudo realizado
Bacharelado em Sistemas de Informação, Licenciatura anteriormente, tanto pela direção do centro como pela
em Pedagogia – Séries Iniciais do Ensino Fundamen- comissão especial.
tal e Psicologia), cuja mantenedora foi transferida para Em fevereiro de 2011, o Ceavi iniciou o ofereci-
a Udesc pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) na mento de 40 vagas semestrais para o curso de Enge-
sessão plenária de 19 de junho de 2007, através do nharia Sanitária no período diurno, em consonância
Parecer CEE/CES/SC n° 162. com o planejamento estratégico do centro.
A Udesc iniciou suas atividades na cidade de Ibi- Já em fevereiro de 2014, foi encerrado o ofere-
rama, de forma permanente, em 1° de janeiro de 2007. cimento de vagas para o Bacharelado em Sistemas de
Nessa data, o professor Dr. Dario Nolli foi nomeado Informação e iniciou-se o oferecimento de 40 vagas
diretor-geral do centro e, com ele, o professor Msc. Ro- semestrais no período noturno para o Bacharelado em
gério Simões como diretor de Ensino e o professor Dr. Engenharia de Software de forma a adequar o curso
Ailton Barbosa como diretor-administrativo. anterior já existente às novas demandas dos mercados
Dos cinco cursos de graduação da Fehh incorpo- regional e nacional.
rados inicialmente, o Ceavi deu continuidade de ofe- O Ceavi tem a visão de ser um centro inovador e
recimento a dois deles, ambos noturnos: Bacharelado de referência no seu fazer acadêmico, reconhecido pela
em Ciências Contábeis e Bacharelado em Sistemas de qualidade e excelência das suas ações e dos seus servi-
Informação. O ingresso neles a partir de então foi via ços, estando compromissado pela sua vocação parceira
vestibular vocacionado, em 1° de agosto de 2007, com com o desenvolvimento do Vale do Itajaí.
oferecimento de 40 vagas semestrais para cada um. Dessa forma, o centro vem cumprindo sua mis-
Os demais cursos que eram oferecidos pela Fehh são em praticar uma educação e gestão inovadoras e
tiveram seu oferecimento cancelado para que a Udesc criativas num processo articulado de ensino, pesquisa
tivesse a liberdade de vocacionar o Ceavi segundo as e extensão para formar cidadãos pró-ativos, críticos e
características da região. reflexivos, capazes de construir uma sociedade mais
Com esse intuito de vocacionamento do centro, humana, eticamente sintonizada com os avanços da ci-
a Direção do Ceavi e o Conselho de Desenvolvimento ência e da tecnologia e compromissada com o desen-
Regional (CDR) da 14ª Secretaria de Desenvolvimen- volvimento sustentável da Região do Vale do Itajaí. 9

“O Ceavi tem a visão de ser um centro inovador e de referência


no seu fazer acadêmico, estando compromissado pela sua
vocação parceira com o desenvolvimento do Vale do Itajaí”
Revista Udesc 50 anos | 71
Quatro momentos com a Udesc
Salomão Ribas Junior Ex-secretário estadual da Educação e ex-deputado constituinte

A
Udesc é uma instituição de ensino que merece superior. Um grande projeto de construção dos campi
nosso respeito e apoio para seguir no caminho universitários de Santa Catarina – os da Udesc e os das
que começou a trilhar há meio século. Pessoal- 18 fundações municipais de então – com recursos do
mente, vivi alguns momentos significativos da nossa Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS) per-
universidade. O primeiro deles quando participava do mitiu regularizar a compra de todo o terreno do Itaco-
movimento estudantil, no início dos anos 1960, e lutá- rubi e a construção do prédio que, nos primeiros tem-
vamos pela interiorização do ensino superior. A Udesc pos, abrigou a Reitoria e a Esag.
nasceu também com essa motivação, a partir da Facul- Igualmente foram construídas as ampliações de
dade de Engenharia de Joinville e do curso de Medi- Lages e Joinville e foi resolvido o problema patrimo-
cina Veterinária em Lages. Foram as primeiras escolas nial das fundações educacionais. Nos dois anos em
superiores catarinenses fora de Florianópolis. Foi um que fui secretário da Educação, abri o diálogo com as
passo importante para não deixar essa questão sob o representações estudantis. O DCE era presidido pelo
controle exclusivo da burocracia de Brasília. acadêmico Rogério Braz da Silva, que mais tarde viria
Voltei a viver um outro momento importante quan- a ser reitor da Udesc.
do fui secretário de Estado da Educação no governo do Meu reencontro com a Udesc se daria na Assem-
Sr. Antônio Carlos Konder Reis, entre 1975 e 1977. A bleia Constituinte. Sob a liderança do reitor Lauro Ri-
Udesc lutava para ser formalmente reconhecida como bas Zimmer, secundado por Rogério Braz da Silva, a
universidade pelo Conselho Federal de Educação (CFE) Udesc pleiteava sua autonomia, a reserva de recursos
para consolidar os cursos existentes, implantar os cur- no Orçamento e sua consolidação institucional. Foi
sos de Estudos Sociais, Biblioteconomia e Educação Ar- uma grande e produtiva discussão sobre a educação,
tística e consolidar a construção do campus do Bairro o ensino em geral e especialmente a Udesc e as fun-
Itacorubi. Na mesma linha, o Hospital Veterinário de La- dações educacionais (Acafe).
ges e o prédio da Faculdade de Engenharia de Joinville. Ao final, concordei e, com a ajuda do professor e
Eu confesso que implicava com algumas coisas: jurista Flavio Roberto Collaço, o principal assessor da
o nome da Udesc; a duplicidade de comando na ad- Constituinte, foi construída uma solução harmoniosa. A
ministração; e a falta de cooperação efetiva com as Udesc teve suas legitimas aspirações atendidas junto
escolas superiores municipais. Achava que não cabia com o apoio às instituições municipais de ensino supe-
o nome de Universidade para o Desenvolvimento do rior. É a redação original do artigo 170, que estabele-
Estado de Santa Catarina, pois dava a entender que ceu a aplicação de um mínimo de recursos do Orçamen-
as outras, inclusive a Universidade Federal de Santa to do Estado nas fundações educacionais.
Catarina (UFSC), não tinham compromissos com Santa Concordei em apoiar a aprovação das emendas,
Catarina. Só consegui resolver esse assunto como pre- mas não abri mão de mudar o nome da Udesc de Uni-
sidente da Comissão de Sistematização da Assembleia versidade para o Desenvolvimento para Universidade
Estadual Constituinte (1989). do Estado de Santa Catarina, mantida a sigla. Foi uma
O comando era duplo porque a Udesc era subordi- intervenção autocrática, confesso. A redação que efeti-
nada administrativamente à Fundação Educacional de vamente criou a Fundação Udesc é a do artigo 39 do
Santa Catarina (Fesc), com um reitor e um presidente Ato das Disposições Transitórias da Constituição. A lei
da fundação. Os professores Antônio Niccoló Grillo e posterior só formalizou a decisão do constituinte. O
Arnoldo Cuneo tinham boa convivência no interesse da mesmo artigo também garantiu a autonomia prevista
educação, mas isso não impedia os conflitos. Quando no artigo 169 com a obrigatoriedade de repasse em
ambos deixaram os cargos, promovi a unificação pro- duodécimos dos recursos orçamentários.
pondo ao governador do Estado a nomeação do meu Anos mais tarde, fui professor colaborador da
chefe de gabinete, professor João Nicolau Carvalho, Udesc, dando aulas na Esag. Tenho orgulho disso. Es-
para ocupar as duas funções: a de reitor da Udesc e a ses são momentos relembrados com emoção quando se
de presidente da Fesc. Foi um passo importante mar- comemoram os 25 anos da Constituição Estadual e da
cando o início da futura solução constitucional. Fundação Udesc e os 50 anos da universidade estadual.
Estimulei a aproximação da Udesc com o nascen- Hoje, a Udesc é uma instituição de grande importância
te sistema da Acafe, reunindo as fundações educacio- na formação dos jovens e no desenvolvimento econô-
nais que estavam efetivamente interiorizando o ensino mico e social de Santa Catarina. 9

“A Udesc nasceu também com essa motivação,


a partir da Faculdade de Engenharia de Joinville e do
curso de Medicina Veterinária em Lages. Foram as primeiras
escolas superiores catarinenses fora de Florianópolis”

72 | Revista Udesc 50 anos


O sonho de atrair os melhores
cérebros e oferecer o melhor
serviço educacional
Sandra Makowiecky Ex-pró-reitora de Ensino e primeira mulher a assumir a Reitoria da Udesc

A
Udesc me deu a chance de fazer grandes ami- a defesa do direito de realizá-la, para não morrermos
zades e de contribuir muito com a instituição soterrados na poeira da banalidade, pois existe sim, em
universitária no seu sentido amplo. Entre todos certa medida, uma banalização das universidades.
os papéis que desempenhei, desejo ressaltar um papel Deve a universidade assumir papéis outros que
que me cabe e a história deve registrar: mesmo que, nem os governos federal, estadual e municipal estão
por breves períodos, fui a primeira mulher a assumir dando conta de fazer? Deve a universidade aceitar a
a Reitoria da Udesc, fui a primeira reitora, o fiz com missão de resolver todas as mazelas sociais do país?
muito gosto e tranquilidade e diga-se: adorei. Deve assumir a incompetência do Estado brasileiro,
Há 18 anos, participei de um evento sobre edu- que, sem sombra de dúvidas, tem uma parcela decisiva
cação no qual uma das conferencistas disse que, nas de responsabilidades em relação a todo o quadro de di-
cadeiras de auditório onde costumamos colocar a pa- ficuldades que enfrentamos? Quando as universidades
lavra “reservado” para autoridades e convidados, de- são chamadas a colaborar, não há como dizer não, mas,
veríamos começar a colocar a palavra “preservado” convenhamos, está passando da conta.
para os professores, devido à situação em que já se Muitas coisas não funcionam: o hospital, o sis-
configurava o cenário de falta desses profissionais. tema de ensino, professores abandonam as escolas,
Evidente que essa é uma das questões mais preocu- a falta de atenção à educação básica; a universida-
pantes em qualquer debate que se pretenda estabele- de tem que ser prefeitura, hospital, escola e tudo o
cer sobre ensino superior. mais. Existe a urgente necessidade de recuperação de
Acredito que o maior desafio da educação brasileira imagem/identidade do professor e da escola. Não res-
está na valorização da carreira do magistério, pois tudo ta dúvida da função social da universidade, mas elas
começa com salas de aula e professores. Não adianta fa- precisam priorizar a graduação para formação de mão
lar em expansão e qualidade em nível algum se continu- de obra qualificada e a pós-graduação precisa ser de
armos a deixar de lado a formação de professores para muita qualidade e impacto.
enfrentar as salas de aula do ensino público e do ensino O que deveríamos querer? Que se garanta a todos
privado. Essa foi uma de minhas maiores bandeiras e a oportunidade de acesso ao conhecimento, que a pro-
hoje uma de minhas maiores preocupações. priedade individual seja respeitada e que se estimule
As instituições de ensino superior (IES) são indis- e se valorize o trabalho produtivo, cuidando do esta-
pensáveis para assegurar as conquistas democráticas do geral de saúde da economia e que as liberdades
no Estado de Direito. Não temos dúvidas da contribui- individuais sejam intocáveis. Não devemos nos perder
ção científica e sociocultural que efetivam para o de- de nós mesmos.
senvolvimento nacional, mas, para isso, precisam gozar Precisamos tornar cada um de nós mais identifi-
de autonomia acadêmica, política e financeira. Por fim, cado com a missão da universidade, que é sobretudo a
entendo como dever do Estado assegurar satisfatório formação e transmissão do conhecimento, tendo como
funcionamento das IES em todos os níveis. meta atrair os melhores cérebros e oferecer o melhor
A ideia de prover a sociedade de uma instituição serviço educacional para fazê-la uma instituição mais
gestora do conhecimento e da cultura universais é mi- forte e mais coesa. Temos absoluta certeza de que sa-
lenar e assim nasceu a universidade, a mais universal ímos sempre mais fortes dos processos educacionais,
entre todas as estruturas de ensino, pesquisa e exten- reinventando as regras de convívio para além dos inte-
são existentes no mundo, sempre em constante modi- resses meramente personalistas e individualizantes ou
ficação e avaliação. das práticas da omissão e da indiferença.
Defendo a retomada de um esprit de corps da uni- Algumas dessas sementes de visão deram bons
versidade, que deve agir como uma corporação, como frutos e sou feliz por isso, mesmo tendo que aceitar
uma associação de indivíduos organicamente articula- democraticamente os desvios que minha boca de Cas-
da para o exercício da sua missão educacional e para sandra anuncia e cumpre. 9

“Mesmo que por breves períodos, fui a primeira mulher


a assumir a Reitoria da Udesc, fui a primeira reitora,
o fiz com muito gosto e tranquilidade e diga-se: adorei”

Revista Udesc 50 anos | 73


A Udesc de cada um
Sandra Regina Ramalho e Oliveira Ex-diretora-geral da Udesc Ceart e ex-pró-reitora de Ensino

C
omo se desincumbir do desafio de escrever so- até mesmo, sobre a herança que representa seu con-
bre a Udesc, “sua história, seu desenvolvimento ceito de instituição, sempre respeitada e reconhecida,
acadêmico (ensino, pesquisa e extensão)” e ain- independentemente de pressões externas de qualquer
da sobre “sua importância no cenário da educação natureza, cenário no qual configura-se como potencial
superior brasileira” em “no máximo duas páginas”, mediadora de relações as mais distintas.
conforme foi solicitado? No nosso contexto, muitas vezes parece que a
A minha Udesc certamente não cabe em tão exíguo sociedade ignora o patrimônio que significa uma uni-
espaço, pois são 50 anos de lutas e glórias, de história versidade, pois o vestibular e as formaturas são ainda
e de estórias, de desempenhos pessoais e coletivos, ri- os eventos que lhe conferem mais visibilidade. E aqui
sos e lágrimas. E, convenhamos, de mesquinharias e talvez seja oportuno diferenciar o que seja demanda e
heroísmos. Que enfoque adotar? Cronológico? Estatís- necessidade social: se demanda seria o que a socieda-
tico? Um desfile de nomes? De gestões? Uma sequência de expressa, de modo verbal ou outro, uma carência, a
de leis, portarias e decretos? Um manifesto? Uma ode? necessidade seria aquilo que ela precisa, mas não con-
Uma manifestação visual? Uma resenha crítica? A visão segue expressar, o que pode ser percebido prioritaria-
da ex-aluna? De professora? Pesquisadora? Gestora? mente pelos estudiosos na respectiva área. Aí está uma
Acredito que cada um que participa ou partici- das principais funções da universidade.
pou dessa instituição, em qualquer das funções que Compete a cada um de nós que dela faz parte atua-
lhe são inerentes, tenha muito o que contar sobre a lizar esse conceito milenar, traduzindo-o para as novas
sua Udesc. Mas aqui me cabe apenas cumprir o de- gerações sem a perda da liturgia dos cargos e ritos, ou
safio de preencher essas poucas linhas; então optei seja, sem renegar a essência do que vem a ser uma
falar de princípios. universidade, o que transcende a essência de quais-
Cumpre, talvez, resgatar inicialmente o conceito da quer outras organizações. Se um aluno vem em busca
instituição “universidade”. Templo do saber, a universi- apenas de um diploma, ele talvez não seja digno de
dade mantém-se ao longo de séculos nas mais diversas recebê-lo. Se um técnico ou um professor satisfaz-se
sociedades ao redor do mundo, e essa permanência é apenas com um emprego, um salário no fim do mês,
a prova maior de que, malgrado as permanentes trans- deveria procurar outro emprego.
formações políticas, sociais e tecnológicas, a universi- Todos que nela atuam ou dela usufruem deveriam
dade continua sendo uma instituição necessária, útil e ter clareza sobre o significado do que é uma universi-
importante para a sobrevivência do ser humano. Em- dade, uma organização que não está acima, abaixo ou
bora alguns entendam que se pode considerar a acade- ao lado de outras entidades. A universidade deve estar
mia grega, que existiu entre 300 e 400 a.C., como a pri- na sociedade, ao mesmo tempo ligada a ela nas suas
meira universidade, no modelo mais próximo ao hoje ações, mas desvinculada para ser autônoma nas suas
vigente é considerada a mais antiga a Universidade de decisões e na produção do conhecimento.
Bolonha, que data de 1088. O sentido mesmo da autonomia nem sempre é
E nós, os geradores, detentores e disseminadores bem compreendido. Nós nos esquecemos que somos
de saberes, temos a imensa responsabilidade sobre autônomos quanto ao pensamento e às ideias; que cada
esse legado universal, que não é só de conhecimentos, professor pesquisa o que e como entender necessário;
mas de procedimentos e de compromissos sociais e, que profere nas suas aulas o discurso que lhe parece o

“A universidade deve estar na sociedade,


ao mesmo tempo ligada a ela nas suas ações,
mas desvinculada para ser autônoma nas suas
decisões e na produção do conhecimento”

74 | Revista Udesc 50 anos


mais adequado; que cada aluno diz o que entende, ba- implantação da pós-graduação, pois, sem ela, toda pes-
seados nas ideologias e ideais que acreditam. E todos quisa é incipiente e muitas delas são solitárias.
são respeitados. E isso é um privilégio que deveríamos Pesquisa e pós-graduação significam mesmo a ge-
lembrar sempre, buscando compreender sua significa- ração de conhecimentos, bem como o atendimento aos
ção e implicações. preceitos constitucionais de prática da indissociabili-
Procedemos com total liberdade, do mesmo modo dade entre ensino, pesquisa e extensão, uma vez que,
que o fazemos quando da seleção de quadros funcio- com pesquisa, o ensino deixa de ser apenas reprodutor
nais e acadêmicos, de alunos e da redação de nossas de fórmulas e ideias de outrem para agregar a produ-
próprias normativas. Isso mostra que a autonomia, ção dos próprios professores-pesquisadores.
conceito até certo ponto abstrato, corporifica-se em E a extensão se qualifica, pois tem a possibilidade
inúmeras dimensões e nunca será demais debatê-la, de deixar de ser um trabalho assistencialista para se
adequá-la a cada situação e compreendê-la em cada tornar, num fluxo permanente de idas e vindas, o lo-
contexto específico. Isso diz respeito a toda universida- cus privilegiado para a respostas às demandas e para a
de que mereça ter esse nome, à universidade de cada captação das novas necessidades sociais.
um, inclusive, à minha, à nossa, à Udesc. Por outro lado, foi a pós-graduação – aí compre-
Entre nós, no princípio éramos a Faed, a Esag, a endidas as participações de professores em bancas e
Esef, a Esmeve, a FEJ. Depois, repetindo o exemplo da eventos, suas publicações e a edição de revistas cientí-
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pri- ficas – que deu maior visibilidade para a Udesc no País
meira universidade oficial do País, então denominada e no exterior, chegando a fazer dela uma referência em
Universidade do Brasil, a Udesc foi formada a partir algumas áreas, como é o caso das Artes.
desses centros pré-existentes. No último parágrafo que me resta, gostaria de
Na época, o objetivo maior era a formação de re- lembrar um fazer que parece estar do outro lado do
cursos humanos – daí a tradição de prioridade ao ensi- balcão para quem nunca o exerceu, a gestão univer-
no de graduação – para a dinamização do desenvolvi- sitária. Não vou falar de propostas nem de mode-
mento do Estado, propugnada pelo Plano de Metas do los de gestão, mas da escolha de gestores. Temos aí
Governo Celso Ramos (Plameg): formação de profissio- talvez a mais relevante dimensão da autonomia uni-
nais para o setor primário em Lages; setor secundário versitária, qual seja, o direito de eleger, entre nós
em Joinville; e para o terciário em Florianópolis. mesmos, aqueles que exercem o poder nas instâncias
Quanto aos grandes passos, os cartoriais foram decisórias. Repito há décadas e não vou me furtar de
a criação da Udesc, em 1965; o reconhecimento, em sublinhar aqui: eleições diretas na universidade só
1985; a independência da Fesc, em 1990. A amplia- têm sentido se conseguirmos construir coletivamente
ção dos três campi iniciais para a atual configuração diferentes modos de fazer política para propor novos
foi outro passo gradativo e definitivo, que ampliou e modelos à sociedade. Seria a grande oportunidade
diversificou ainda mais áreas de conhecimento e a par- para a universidade mudar de fato o que todos tan-
ticipação e contribuição de novas geografias e culturas to criticam. Importar modelos da rua é reproduzir e
regionais do nosso Estado. propor como exemplo, interna e externamente, prá-
Mas passar da mera formadora de profissionais ticas sobejamente conhecidas por todos. Bem como
para uma vera universidade tinha como pressuposto a suas consequências. 9

“A ampliação dos três campi iniciais para a atual configuração


foi outro passo gradativo e definitivo, que ampliou
e diversificou ainda mais áreas de conhecimento
e a participação e contribuição de novas geografias
e culturas regionais do nosso Estado”

Revista Udesc 50 anos | 75


Udesc 50 anos na linha do tempo:
um olhar na janela 2008-2012
Sebastião Iberes Lopes Melo Reitor da Udesc 2008-2012

E
ntão! O que dizer? Udesc, este ano você comple- e preparada para o futuro;
ta seu jubileu de ouro, sinta-se orgulhosa pela 6) que tenha o planejamento e a avaliação como
obra que construiu! Sinto-me grato, honrado e ferramentas fundamentais arraigados na cultura da
feliz por ter tido, com minha equipe e com a ajuda de gestão universitária;
todos, a oportunidade e o privilégio de ter dirigido, 7) em que a cultura da avaliação institucional in-
por quatro anos, os destinos da única organização – a fluencie diretamente no avanço do ensino, da pesquisa,
universidade – capaz de conceder o melhor e maior da extensão e da gestão;
patrimônio aos jovens, a liberdade plena, que somen- 8) engajada na captação de recursos externos,
te se obtém com educação e formação profissional. E quebrando o estigma e também o paradigma de que
também por ter sido convidado para escrever minha as instituições públicas vivem e sobrevivem apenas de
percepção nesta obra alusiva aos 50 anos da Udesc e repasse governamentais;
por ter colaborado, como vice-reitor (2004-2008) e 9) que seja ágil;
como diretor-geral do Cefid (1986-1990), entre outros 10) que seja sensível às vozes da comunidade aca-
cargos e funções que exerci. dêmica e da sociedade e busque constantemente o en-
Teria muito a dizer sobre essa cinquentenária ins- riquecimento da sua imagem institucional.
tituição cuja trajetória vivi, senti e tenho acompanhado Nosso lema de gestão foi “Excelência acadêmica
de perto, pois me considero filho da Udesc – com muito com compromisso social”. De que adianta um(a) sem
orgulho! Nela, ingressei em 1974 como estudante de o outro(a)?
Educação Física na antiga Escola Superior de Educação Quatro anos após! Mais de 90% das 109 metas
Física (Esef), hoje Cefid. Portanto, há mais de 40 anos. foram realizadas e tantas outras incluídas no ca-
Limito-me a falar de um recorte, de uma janela, da minho. Esses ganhos estão no Relatório de Gestão,
qual muito se pode observar, contudo com olhar vicia- disponível no site da Udesc, como símbolo de trans-
do de quem participou do processo como um dos ato- parência e prestação de contas ao nosso patrão, o
res. Seguramente cada um que acompanhou a trajetória cidadão catarinense.
da Udesc nesse período tem seu olhar, fruto de seus A excelência acadêmica foi conquistada e traduzi-
valores, do seu envolvimento ou da sua omissão, que, da por vários indicadores:
por sua vez, orienta sua percepção. Que bom que seja a) O excelente desempenho dos cursos de gradua-
assim, que se tenham várias percepções, pois a univer- ção nas avaliações externas, tendo o Conselho Estadu-
sidade é o lugar próprio da pluralidade. al de Educação de Santa Catarina (CEE/SC) conferido à
Dessa janela, é possível enxergar que firmamos Udesc, em 2011, o Prêmio Educador Elpídio Barbosa por
vários compromissos com a comunidade no nosso ter obtido o melhor Índice Geral de Cursos (IGC) em San-
plano de 109 metas, operacionalizadas em projetos e ta Catarina, aliado ao aumento dos conceitos dos cursos
ações, alinhados com as dez dimensões da Lei dos Si- de mestrados e doutorados no triênio, sendo a 13ª colo-
naes, contidas no Plano Estratégico da Universidade – cada no ranking do Ministério da Educação (MEC);
o Plano 20, que, a partir de 2005, a Udesc pusera em b) Êxito no processo de verticalização, ampliando
prática, que foi trabalhar por uma universidade: de 14 para 28 o número de cursos de mestrados e dou-
1) propositiva; torados, em um cenário em que a pós-graduação, no
2) de excelência acadêmica; último triênio, no Brasil, cresceu 20%, Região Sul (24%)
3) com compromisso social; e na Udesc 100%, além dos projetos em tramitação;
4) que priorizasse a gestão de pessoas e valoriza- c) O sucesso no processo de internacionalização
ção das pessoas; da Udesc com efetivo e real programa de mobilidade
5) com infraestrutura, voltada às demandas atuais estudantil (Prome) a partir de 2010 para a graduação e

“Enxergo dessa janela 2008-2012 um período caracterizado


em cinco expressões: verticalização com internacionalização;
valorização das pessoas; prática do planejamento e da cultura
da avaliação institucional; consolidação da estadualização da
Udesc; e investimento na imagem institucional”

76 | Revista Udesc 50 anos


o programa de doutorado-sanduíche, com financiamen- va Platão – necessárias, mas não as mais importantes;
tos próprios aliados à reativação e à implementação de obra intelectual – nosso maior patrimônio, nosso negó-
acordos de cooperação técnico-científicos com univer- cio; e canteiro da paz e harmonia – a Udesc tornou-se
sidades estrangeiras de excelências comprovadas; um bom lugar para se viver, trabalhar e estudar. Essa
d) Criação de programa de apoio a grupos emer- obra não tem preço!!!
gentes com financiamento de projetos e concessão de Enxergo dessa janela 2008-2012 um período ca-
bolsas de iniciação científica próprios para nucleação racterizado, em cinco expressões, como sendo a época
de novos mestrados. Diria sem medo de errar que o em que se enfatizou: verticalização com internaciona-
processo de verticalização articulado com a internacio- lização; valorização das pessoas; prática do planeja-
nalização da Udesc pode ser considerado como uma mento e da cultura da avaliação institucional; consoli-
das marcas fortes da gestão. dação da estadualização da Udesc; e investimento na
Como indicadores de compromisso social, coloca- imagem institucional.
mos a universidade mais próxima da comunidade, re- E agora, espiando da janela dos 50 anos, como é
tomando sua missão quando criada em 1965. Citamos a Udesc? Nova ou velha? Depende! Parafraseando Sa-
alguns exemplos: chet (1990, p. 30), “a medida do tempo da Udesc não se
a) O processo de estadualização da Udesc, retoma- mede pelo tempo que por ela passou, mas pela veloci-
do em 2004, com a início das atividades acadêmicas dade com que a inovação vai gerando a razão de ser da
na Udesc no Oeste Catarinense, 29 anos após sua cria- própria universidade que é e está para o desenvolvi-
ção. Investiu-se no processo de crescimento horizon- mento de um estado que precisa movimentar-se numa
tal, ampliando significativamente a oferta de cursos de dinâmica de diferencialidades que não se abriram em
graduação e de pós-graduação, passando de seis para 1965 e vão fechar em 2015” (grifo meu).
21 mestrados e criando sete doutorados. Trabalhou-se E dessa mesma janela, o que vemos como Udesc
para a consolidação dos campi de Ibirama, criado em do futuro? Qual a Udesc que queremos? Seguramente
2006, e de Laguna, criado em 2006, além da criação não será maior que nossos sonhos, traduzido no seu
do campus da Foz do Itajaí, em Balneário Camboriú, planejamento estratégico; será proporcional à visão
em 2010, para que a Udesc estivesse presente em dez empreendedora e à dedicação de cada um dos inte-
cidades e nas seis mesorregiões na divisão geopolítica grantes da família Udesc e será também proporcional
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ao investimento que o Estado nela fará.
Todos com sustentabilidade econômica mediante am- Antes de encerrar, cito Celso Ramos (1990, p. 10):
pliação do percentual de repasse à Udesc; “Santa Catarina é impossível já agora sem a Universi-
b) Criação de programas de apoio a permanência dade do Estado – sem a Udesc e as escolas que a inte-
aos estudantes (Prape) em 2011, concedendo auxílio-­ gram, em Florianópolis e no interior, [....] sou grato pela
financeiro para alimentação e moradia a alunos com oportunidade que me deram de ser um pouco agente e
fragilidade socioeconômica; testemunha das mudanças que aconteceram em Santa
c) O programa de acesso à universidade Ações Catarina – A Udesc tem muito a ver com isto”.
Afirmativas, em 2011, e a acessibilidade física para as Nós, reitores de diferentes períodos, com diferen-
pessoas com dificuldade de locomoção; tes desafios, que, com nossas equipes, fomos respon-
d) Criação, em 2010, do Projeto Rondon da Udesc, sáveis por capítulos dessa linda história, não podemos
que levou potencialidades e conhecimento técnico e nunca esquecer de agradecer a todos(as) os(as) agentes
científico aos municípios de baixo índice de desenvol- das comunidades interna e externa que colaboraram
vimento humano (IDH) e tantos outros ganhos ineren- com a Udesc, cada um(a) do seu jeito, do seu modo e
tes ao cotidiano da academia. da sua maneira, e dizer: Parabéns, Udesc, pelos seus 50
Como pilar de gestão, focamos na valorização e anos desenhando e construindo o futuro. 9
no investimento das pessoas por acreditar ser esse o
único caminho capaz de propiciar o progresso de uma REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
nação e o bem-estar do seu povo, associado à melhoria SACHET, Celestino. UDESC – o segundo momento. In:
do clima organizacional da universidade – aproxima- Universidade do Estado de Santa Catarina-Idealização
ção entre as pessoas, com um plano anual de recompo- e Construção da história: UDESC 1965 – 1990. Floria-
sição salarial anual com índices superiores à inflação. nópolis, UDESC, 1990. P 29-30
Vejo que a Udesc nesse período foi um grande RAMOS, Celso. Nos 25 anos da UDESC. In: Universidade
canteiro de obras, com três tipos de edificações: obras do Estado de Santa Catarina-Idealização e Construção
físicas – pelo menos uma grande obra em cada campus da história: UDESC 1965 – 1990. Florianópolis, UDESC,
para servir de templo para educação, como denomina- 1990. P 29-30

Revista Udesc 50 anos | 77


A Udesc e o desenvolvimento de SC
Sérgio João Dalagnol Ex-diretor-geral da Udesc Lages

A
retirada do termo “para o desenvolvimento” do do daí preocupações quanto à sua sobrevivência, porque
nome da universidade talvez tenha sido um divi- nos dava a impressão de que o ensino superior parecia
sor de águas na sua existência. Acompanhamos não ser o objetivo da referida fundação.
essa instituição a partir de 1974, desde sua instala- E, dentro desta dicotomia entre Fesc/Udesc, la-
ção numa modesta residência localizada à Avenida Rio mentavelmente ouvimos em determinada ocasião a
Branco, nº 164, em Florianópolis. Imagine você toda a frase “se for preciso, eu fecho a Udesc”. Acredito e
estrutura administrativa de uma universidade funcio- repito que, a partir desse momento, foi criado o que
nando dentro de uma casa de moradia, com todos seus chamei de “grupo da resistência” com objetivo único
setores, embora naquela época vinculada à Fundação de manter a universidade cumprindo seus objetivos
Educacional de Santa Catarina (Fesc). já traçados pelos seus idealizadores e pelos corpos
Despontava a Udesc como um grande ícone no docente e administrativo.
desenvolvimento agropecuário, comercial e científico Nesse “grupo da resistência”, contávamos com o
para a região, com apenas um curso em Lages, a Escola apoio e a determinação do professor Lauro Ribas Zim-
Superior de Medicina Veterinária. Então, mais do que mer como o grande condutor, mantendo a instituição
nunca, o “desenvolvimento” proposto no nome da nos- em bom andamento e com excelentes resultados, prin-
sa instituição estava cumprindo seu objetivo, apesar cipalmente para os catarinenses.
das dificuldades encontradas para consolidá-la. Apesar dessa grande determinação, os recursos
Ingressei na segunda turma do curso de Medicina necessários para a manutenção e o cumprimento dos
Veterinária, em março de 1974, e, por participar do qua- objetivos da escola continuavam extremamente es-
dro administrativo da escola em Lages, acompanhei os cassos, sendo necessário o uso de estratégias bastante
esforços incansáveis dos seus idealizadores. Todas as simples, porém eficientes, no tocante à sua manuten-
suas atividades funcionavam no local, onde hoje é ape- ção, utilizando os parcos recursos somente nas emer-
nas ocupado por salas de aula, e em espaços bastante li- gências e nas maiores necessidades, tendo em vista a
mitados, obrigando o funcionamento de laboratórios na insegurança do recebimento dos novos recursos.
mesma sala, mesmo com finalidades antagônicas, uma Nesse período, tínhamos a impressão de que o en-
vez que, no mesmo espaço, funcionavam laboratórios tendimento superior alicerçava-se no fato de que, ape-
de Microbiologia e Parasitologia. Mas, com toda a deter- nas com o pagamento dos salários aos docentes e ad-
minação, esses paradoxos foram superados. ministrativos, todos estariam satisfeitos. Entendimento
A aquisição de equipamentos e reagentes era pe- esse não condizente com os objetivos da Universidade
nosa, longa e extremamente restrita, no entanto, foi su- “para o Desenvolvimento” do Estado de Santa Catarina.
perada pelo alto nível de conhecimento teórico-prático Finalmente, com a Constituição do Estado de Santa
disponibilizado pelos pioneiros do ensino da Medicina Catarina, mais uma vez mencionamos com gratidão a
Veterinária no Planalto Serrano. pessoa do professor Lauro Ribas Zimmer, que fez com
Com a implantação de grupos de pesquisa, que, na que, via Carta Magna Catarinense, a universidade fosse
verdade, eram unidades de pesquisa, pudemos contar dotada das ferramentas necessárias para seu cresci-
com apenas um profissional para cada área de conhe- mento e o desenvolvimento do nosso Estado.
cimento da Medicina Veterinária. Esses profissionais Nos seus próximos 50 anos, nossa universidade
empenharam-se em cursar mestrado, trazendo na deve continuar a pensar e principalmente a agir para
bagagem, além do conhecimento e das experiências, que leve conhecimento a todo o Estado de Santa Cata-
uma energia e determinação imensas. Desse modo, a rina. Não me refiro a instalar um campus em cada mu-
Escola Superior de Medicina Veterinária entrava num nicípio, mas em direcionar linhas de ensino, pesquisa e
período de geração de conhecimento reconhecido pe- extensão para as áreas econômicas desenvolvidas em
los órgãos de fomento. Santa Catarina como ferramentas para uma consolida-
Mesmo praticamente sem autonomia, a Udesc se ção do desenvolvimento dessas regiões.
empenhava e gradativamente conseguia estabelecer-se É necessária uma análise sem paixões, interesses po-
com destaque no cenário nacional e, por que não, inter- líticos e outros. Apenas uma análise real e honesta para
nacional. A autonomia financeira inicialmente não existia, que a Udesc, nos seus próximos 50 anos, esteja na van-
estando a Escola de Medicina Veterinária sob a gerência guarda do desenvolvimento educacional, industrial, do
da Fundação Educacional de Santa Catarina (Fesc), advin- agronegócio e de toda a sociedade catarinense. 9

“Mesmo praticamente sem autonomia, a Udesc se empenhava


e gradativamente conseguia estabelecer-se com destaque no
cenário nacional e, por que não, internacional”

78 | Revista Udesc 50 anos


Breve narrativa: como muitos,
eu fiz parte dessa história
Vera Collaço Ex-diretora-geral da Udesc Ceart

E
star presente em acontecimentos que podem Ao colocar acima que esse era um momento menos
contribuir para modificar uma dada realidade é brilhante da Udesc, não quero passar a impressão de
algo fascinante. E sabemos disso quando o es- menosprezo ou de diminuição da sua importância para
tamos vivenciando e posteriormente o confirmamos o período. O que desejo destacar é que a Udesc ainda
quando reconstruímos esse percurso. Eu tive o privi- não possuía as condições de funcionar enquanto uni-
légio de acompanhar momentos relevantes de trans- versidade; essa possibilidade se materializou na segun-
formações estruturais da Universidade do Estado de da metade da década de 1980, ou mais precisamente
Santa Catarina (Udesc). em 1985, quando a Udesc teve seu reconhecimento
A começar pela sua mudança nominal: a sigla ficou como universidade.
a mesma, mas a instituição acadêmica denominava-se Esse reconhecimento implicava na implantação
Universidade para o Desenvolvimento do Estado de de mais uma unidade de ensino que atendesse a área
Santa Catarina (Udesc). A alteração de nome não foi de Ciências Humanas. O caminho mais acessível para
um simples exercício de renovação de siglas e sim a atender exigências do Ministério da Educação e Cul-
transformação de uma universidade, que cobrava men- tura (MEC) era o desmembramento de um curso que
salidades, para uma universidade pública e gratuita. funcionava dentro da estrutura da Faed – o curso de
Não cabe a mim, nesse pequeno relato, abordar as Educação Artística, cujo primeiro vestibular foi reali-
grandes mudanças decorrentes da criação da Universi- zado em dezembro de 1972.
dade do Estado de Santa Catarina. Para isso, a institui- Com a implantação, em 1973, do curso de Edu-
ção conta com outras pessoas, bem mais fundamenta- cação Artística com habilitação em Música, Artes
das para essa narrativa. Plásticas e Desenho, criava-se o primeiro curso su-
Levantei o assunto para apontar de qual história perior voltado para o ensino das Artes da Udesc.
eu fiz parte. Período muito rico, muito tumultuado. Com esse curso, podia-se abrir um novo centro de
O Brasil vivia a redemocratização após a infindável ensino e atender as colocações legais exigidas pelo
ditadura militar; tudo isso gerava uma ansiedade de MEC. O corpo docente vinculado à Educação Artísti-
participação e desejo de consolidar instituições que ca entendeu a relevância do momento e, com todo o
fortalecessem a democracia e a igualdade de direi- empenho, envolveu-se na criação dos projetos para
tos. E, sem dúvida, o espaço acadêmico revestia-se implantar e implementar o novo centro.
como um espaço apropriado e estimulante para ge- Para criá-lo seguindo as exigências do MEC, era
rar novos caminhos. preciso que tivesse quatro habilitações. O curso de Edu-
Antes de adentrar nos momentos transformado- cação Artística, desmembrado da Faed, possuía apenas
res do qual fiz parte, trago para o primeiro plano um três. A habilitação que poderia ser criada, por ter corpo
momento menos brilhante para essa academia, mas docente no Estado, era a de Artes Cênicas. Assim, no
significativo enquanto possibilidade de estar nessa fim de 1985, foi criado o Centro de Artes (Ceart), com
instituição tão importante. as quatro habilitações. E criava-se, por esse meio, o
Em fevereiro de 1979, quando retornei a Florianó- primeiro curso superior de Teatro em Santa Catarina,
polis após cumprir parte do meu mestrado em Teatro cujo primeiro vestibular ocorreu em julho de 1986.
na Universidade de São Paulo (USP), eu me dirigi à Fa- O Centro de Artes instalou-se no Bairro Itacorubi,
culdade de Educação (Faed) – hoje Centro de Ciências onde se encontra até o presente. Naquele período, seus
Humanas e da Educação (Faed) – para verificar a dispo- espaços eram improvisados. Hoje, mesmo precisando
nibilidade de vagas para trabalhar. ser ampliado e reformado, o espaço físico do Ceart ser-
Na Faed, num lindo edifício neoclássico, construído ve de referência para o ensino das Artes no Brasil.
em 1922, fui recebida por uma diretora maravilhosa, Minha história se insere na criação do Ceart na
professora Terezinha Izabel Manso Muniz, que atuou medida em que participei da equipe que elaborou o
como diretora desse centro de 1976 a 1982. Através projeto de criação do curso de Artes Cênicas. Convém
do seu parecer positivo, eu me tornei professora da ressaltar que essa equipe também foi composta pelas
Udesc a partir de março de 1979, com atuação no curso seguintes pessoas: Dilza Delia Dutra, Luiz Canabarro
normal e na graduação de Pedagogia. Machado e Beatriz Angela Vieira Cabral.

“Minha história se insere na criação do Ceart


na medida em que participei da equipe que elaborou
o projeto de criação do curso de Artes Cênicas”

Revista Udesc 50 anos | 79


“A constituição multicampi da Udesc nem sempre
permite que tenhamos uma visão ampla da instituição.
Isso provoca, às vezes, uma ‘miopia da compreensão
da sua dimensão’ e da sua importância social”

O departamento de ensino que abrigou o curso de da Silva. E acho muito importante fazer essas coloca-
Artes Cênicas nos seus primeiros anos de existência foi ções, pois tendemos a esquecer, por inúmeros motivos,
o de Comunicação Artística, que teve, por primeira che- pessoas que administram uma instituição dialogando
fia, a sempre respeitada professora Dilza Delia Dutra. com seus “opositores” políticos.
O meu envolvimento com a administração no Ceart co- Com o intuito de estimular o conhecimento da
meçou em 10 agosto de 1987, quando assumi a chefia. realidade da universidade, o então reitor instituiu a
Em 1987, esse espaço acadêmico passou a ser de- realização das reuniões dos colegiados superiores
nominado de Departamento de Artes Cênicas, do qual (Consuni e Consepe) em diferentes campi da Udesc.
também assumi a chefia. De agosto de 1988 a agosto Dessa forma, foi possível conhecer os outros centros,
de 1990, passei a responder pela Direção Assistente de de Lages e Joinville, os que existiam fora de Florianó-
Ensino, junto com o professor Dr. Milton Luiz Valente, o polis na década de 1990. Essa movimentação auxiliou
primeiro diretor-geral eleito do Ceart. na discussão dos planejamentos orçamentários e exe-
Em agosto de 1990, assumi, por eleição, a dire- cutivos, bem como na compreensão das demandas da
ção-geral, em conjunto com Sandra Makowiecky, como universidade.
diretora de Ensino, e Maria Suzanila Lopes Melo, dire- A constituição multicampi da Udesc nem sempre
tora de Pesquisa e Extensão. Minha portaria de pos- permite que tenhamos uma visão ampla da institui-
se foi assinada pelo também primeiro reitor eleito da ção. Isso provoca, às vezes, uma “miopia da compre-
nova Udesc, o professor Rogério Braz da Silva. O man- ensão da sua dimensão” e da sua importância social.
dato do novo reitor e o meu foram, portanto, coinci- Creio que esse foi um dos grandes legados da gestão
dentes, de 1990 a 1994. E aqui eu retomo a narrativa da Reitoria entre 1990 e 1994. E, por fim, desejo res-
do início desse texto. saltar que foi nessa gestão que o Ceart, pela primeira
A gestão da universidade entre 1990 e 1994 vez, ocupou uma pró-reitoria da Udesc. A professora
criou as macroestruturas que organizam ainda hoje Dra. Sandra Regina Ramalho e Oliveira assumiu, du-
a Udesc. Através do Decreto nº 6.401, de 28 de de- rante quatro anos, a Pró-Reitoria de Ensino, elabo-
zembro de 1990, foi aprovado o Estatuto da Fundação rando um trabalho que instituiu as bases acadêmicas
Universidade do Estado de Santa Catarina – Udesc, da universidade.
depois alterado em outras gestões, e criou-se o Plano Como eu disse no título do texto, fiz aqui uma
de Cargos e Salários para o corpo funcional. Tudo isso breve, muito breve, narrativa de uma história da qual
foi fruto de muita negociação externa, junto ao Gover- fiz parte e que foi construída por muitas outras pesso-
no do Estado e à Assembleia Legislativa, e interna, no as. Eu gosto de contá-la por compreender que fizemos
meio acadêmico. diferença na realidade catarinense, seja com a criação
Essas mudanças, e muitas outras que se fizeram do curso de Artes Cênicas, do Centro de Artes ou da
necessárias em função da implantação do estatuto uni- Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina.
versitário, foram conduzidas de modo extremamente Ver isso tudo sendo construído foi um privilégio, foi
democrático pelo então reitor, professor Rogério Braz um sorriso histórico. 9

80 | Revista Udesc 50 anos


Primeiro passo
Zenilda Nunes Lins Integrante do grupo de implantação do centro de pesquisas da Udesc Faed

A
evolução histórica das instituições, sejam elas de 1969), e motivou visita à faculdade do professor Ja-
educacionais, políticas ou econômicas, deriva de cques Torfs, perito da Organização das Nações Unidas
um ponto inicial: a formulação do pensamento para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
criativo. A esse primeiro impulso, seguem-se o proces- Na ocasião, ele se reuniu com a equipe técnica
so viabilizador da ideia concebida, com sua complexi- do Cepe e analisou as linhas de pesquisa adotadas
dade, e a efetivação. pela instituição.
A ideia geradora da Udesc está gravada no contex- Os estudos e pesquisas realizados pela faculdade
to do Plano de Metas do Governo Celso Ramos (1961- subsidiaram a formulação do primeiro plano estadual
1965), ao estabelecer como alvo da sua gestão a valori- de educação de Santa Catarina e foram decisivos para
zação dos recursos humanos por meio da educação em o reconhecimento da Udesc pelo Conselho Federal de
todos os graus e ramos, da pesquisa e da difusão cultural. Educação (CFE) em 1985.
Na perspectiva de concretizar a auspiciosa pro- Uma sessão solene, realizada em 2 de dezembro
posta, foi criada, no bojo da Lei Estadual nº 3.191, de de 1967, no Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópo-
8 de maio de 1963, a Faculdade de Educação (Faed), lis, com a presença do governador do Estado, Ivo Sil-
célula embrionária da Universidade do Estado de veira, colou grau da primeira turma da faculdade, vale
Santa Catarina. dizer, da Udesc, com 32 formandos.
A organização da faculdade contemplava dois se- Hoje, 50 anos transcorridos, a Udesc projeta-se
tores estruturais: um curso de Pedagogia e o Centro de como excelente instituição educacional graças à abran-
Estudos e Pesquisas Educacionais (Cepe). gência do seu espaço de atuação e à qualidade dos di-
A peculiaridade que a distinguiu de outras faculda- versificados cursos que oferece.
des congêneres reside no pioneirismo da sua implanta- Nessa trajetória, muitos nomes merecem ser men-
ção e no fato de as atividades de pesquisa terem ante- cionados. É difícil nomeá-los sem incorrer no risco da
cedido às de ensino propriamente ditas. omissão. Contudo, três deles precisam ser identificados:
O Cepe apresentou em dezembro de 1963, ao Con- • Professor Alcides Abreu – mentor intelectual do
selho Estadual de Educação (CEE), o relatório do pri- Plano de Metas do Governo 1961/1965;
meiro estudo sobre a educação pública catarinense, “A • Professor Osvaldo Ferreira de Mello – coorde-
marcha de repetência nas escolas primárias de Santa nador das atividades de implantação da Faculdade
Catarina”, e, só em fevereiro de 1964, o curso de Peda- de Educação;
gogia iniciou suas atividades docentes. • Professor Lauro Ribas Zimmer – responsável pelo
O assunto mereceu referência no artigo “Instalação e reconhecimento da Udesc junto ao CFE.
desenvolvimento das Faculdades de Educação no Brasil”, Tive a honra de testemunhar todo o processo e
de J. Lauweys, publicado na Revista Brasileira de Estudos de conviver profissionalmente com os três eméritos
Pedagógicos (volume 51, nº 114, página 301, abril-junho professores da nossa universidade. 9

“Hoje, 50 anos transcorridos, a Udesc projeta-se como excelente


instituição educacional graças à abrangência do seu espaço de
atuação e à qualidade dos diversificados cursos que oferece”

Revista Udesc 50 anos | 81


Gestão atual da Reitoria

Reitor: Antonio Heronaldo de Sousa


Vice-Reitor: Marcus Tomasi
Pró-Reitor de Administração: Vinícius Alexandre Perucci
Pró-Reitor de Ensino: Luciano Emílio Hack
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade: Mayco Morais Nunes
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Alexandre Amorim dos Reis
Pró-Reitor de Planejamento: Gerson Volney Lagemann
Chefe de Gabinete: Matheus Azevedo Ferreira Fidelis
Procuradora Jurídica: Juliana Lengler Michel
Secretária de Cooperação Interinstitucional e Internacional: Cecília Just Milanez Coelho
Secretário de Comunicação: Thiago Cesar Augusto
Secretário de Tecnologia da Informação e Comunicação: Jairo Wensing
Secretário do Controle Interno: Marcos Régio Silva do Nascimento
Secretário dos Conselhos Superiores: Murilo de Souza Cargnin
Coordenador da Editora Universitária: Alexandre Magno de Paula Dias
Coordenadora da Biblioteca Universitária: Lúcia Marengo
Coordenadora de Avaliação Institucional: Rosilane Pontes Bernard
Coordenadora de Projetos e Inovação: Carla Regina Magagnin Roczanski
Coordenadora de Vestibulares e Concursos: Rosângela de Souza Machado
Coordenadora do Museu da Escola Catarinense: Sandra Makowiecky

Gestão atual dos centros

Campus I - Grande Florianópolis


Centro de Artes (Ceart): Gabriela Botelho Mager
Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (Esag): Arnaldo José de Lima
Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid): Paulo Henrique Xavier de Souza
Centro de Ciências Humanas e da Educação (Faed): Emerson César de Campos
Centro de Educação a Distância (Cead): David Daniel e Silva

Campus II - Norte Catarinense


Joinville
Centro de Ciências Tecnológicas (CCT): Leandro Zvirtes
São Bento do Sul
Centro de Educação do Planalto Norte (Ceplan): Agnaldo Vanderlei Arnold

Campus III - Planalto Serrano


Lages
Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV): João Fert Neto

Campus IV - Oeste Catarinense


Chapecó, Palmitos e Pinhalzinho
Centro de Educação Superior do Oeste (CEO): Renata Mendonça Rodrigues

Campus V - Vale do Itajaí


Ibirama
Centro de Educação Superior do Alto Vale do Itajaí (Ceavi): Carlos Alberto Barth
Balneário Camboriú
Centro de Educação Superior da Foz do Itajaí (Cesfi): Luiz Adolfo Hegele Júnior

Campus VI - Sul Catarinense


Laguna
Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres): Carlos André da Veiga Lima Rosa

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