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EXAMINAI-VOS A VÓS MESMOS 1

EXAMINAI-VOS A VÓS MESMOS


Daniel E. Parks

“Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé;


provai-vos a vós mesmos”
2 Coríntios 13.5

A s Escrituras Sagradas não condição espiritual; que uma pessoa


precisam exortar-nos a examinarmos pode ser um crente apenas nominal,
os outros. A natureza humana pos- e não verdadeiro; e que o auto-exa-
sui uma inclinação para fazer isso. A me sempre nos revelará a necessida-
natureza humana demonstra propen- de de nos aproximarmos mais de
são em achar erros nos outros, de Deus.
modo que deixamos prontamente de As seguintes perguntas estão
encontrá-los em nós mesmos. entre as que nos podem ajudar a exa-
Por isso, o Senhor Jesus nos minar-nos a nós mesmos.
exorta: “Não julgueis, para que não
sejais julgados” (Mateus 7.1). 1. Amo ao Senhor, meu Deus,
A ênfase das Escrituras está mais com todo o meu ser? Jesus disse:
centralizada em examinarmos a nós “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
mesmos do que em examinarmos os o teu coração, de toda a tua alma e
outros. Isto se evidencia tanto em 2 de todo o teu entendimento. Este é o
Coríntios 13.5 como em outras pas- grande e primeiro mandamento” (Ma-
sagens bíblicas: “Examine-se, pois, teus 22.37,38). Estou em submissão
o homem a si mesmo” (1 Coríntios a este mandamento ou, pelo contrá-
11.28); “Prove cada um o seu labor” rio, estou amando a mim mesmo, ao
(Gálatas 6.4); “Esquadrinhemos os mundo e às coisas do mundo (1 João
nossos caminhos, provemo-los e 2.15)? Está na hora de retornar ao
voltemos para o SENHOR” (Lamenta- primeiro amor (Apocalipse 2.4,5)?
ções 3.40). Quanto o Senhor me amaria se o fi-
Estas exortações nos ensinam zesse de acordo com o meu amor e
que a segurança não é essencial à fé devoção para com Ele?
salvadora; que um crente pode ter
dúvidas a respeito de seu estado e 2. Amo verdadeiramente o
2 Fé para Hoje
meu próximo como a mim mesmo? ses 3.3-9), que eu mesmo produzi e
Após definir “o grande e primeiro obtive? Cristo é a minha santificação
mandamento”, Jesus continuou: “O e santidade (1 Coríntios 1.30,31)? Ou
segundo, semelhante a este, é: Ama- tenho me iludido com o pensamento
rás o teu próximo como a ti mesmo” de que posso me tornar santo ou
(Mateus 22.39). Ele não precisa nos mesmo progredir em santidade, até
exortar a amarmos a nós mesmos, que seja perfeito, sem pecado (Isaí-
“porque ninguém jamais odiou a pró- as 65.5)? Cristo é meu único
pria carne” (Efésios 5.29). Mas o Mediador? Ou, em vez disso, estou
Senhor Jesus realmente precisa nos procurando acesso a Deus por ou-
exortar a amarmos nosso próximo. tros caminhos (1 Timóteo 2.5; João
Eu obedeço ao mandamento dEle — 14.6)? Cristo é meu único Profeta,
o mandamento de amar os inimigos, Sacerdote e Rei? Ou procuro em
abençoar os que me amaldiçoam, fa- outras pessoas o cumprimento des-
zer o bem aos que me odeiam e orar tes ofícios (Hebreus 1.1,2; 10.1-18;
pelos que me vituperam e perseguem Apocalipse 19.6)? Cristo é meu Des-
(Mateus 5.43-48)? Eu me preocupo canso ou estou descansando em
com o bem-estar espiritual do outros, alguém mais (Colossenses 2.16,17)?
da mesma maneira que me preocupo
com meu próprio bem-estar espiri- 4. O que o mundo pensaria
tual? De que maneira e em que pro- sobre o cristianismo, se a minha
fundidade seria amado por meu vida fosse o padrão pelo qual o
próximo, se ele me amasse da mes- cristianismo seria julgado? Imito
ma maneira como eu o amo? realmente a Deus (Efésios 5.1,2)?
Outros vêem Jesus em mim, porque
3. Estou confiando verdadei- estou imitando-O (1 Coríntios 11.1)?
ramente na graça de Deus e Demonstro a religião pura e sem
apenas em Cristo para a minha mácula ou a minha religião é vã
salvação? Creio que a salvação (Tiago 1.26,27)? Se não confessas-
ocorre tão-somente pela graça de se que sou crente, este mundo
Deus, por meio da fé unicamente em reconheceria tal coisa (Atos 11.26)?
Cristo? Ou, pelo contrário, creio que
minha vontade e minhas obras (Efé- 5. Quantas pessoas ouviriam
sios 2.8,9) podem salvar-me? A sobre o Senhor Jesus e seu evan-
minha salvação está alicerçada sobre gelho, se outros crentes testemu-
“a base do arrependimento de obras nhassem na mesma freqüência
mortas e da fé em Deus” (Hebreus com que eu o faço? Tenho confes-
6.1)? Posso confessar, de todo o sado a Cristo diante dos homens, por
coração: “Creio que Jesus Cristo é o meio do batismo (1 Pedro 3.21)?
Filho de Deus” (Atos 8.37)? A mi- Confesso ou nego a Cristo diante dos
nha única justiça é a justiça de Cristo homens, todos os dias (Mateus
imputada, recebida somente por meio 10.32,33)? Obedeço ao mandamen-
da fé? Ou, em vez disso, confesso to de Cristo — contar as grandes
possuir uma justiça própria (Filipen- coisas que Deus tem feito por mim
EXAMINAI-VOS A VÓS MESMOS 3
(Lucas 8.39)? Pode ser dito a meu monstro minha crença no fato de que
respeito o mesmo que foi dito sobre ela é “útil para o ensino, para a re-
a mulher que estava ao poço de Jacó: preensão, para a correção, para a
“Muitos.... creram nele, em virtude educação na justiça, a fim de que o
do testemunho da mulher” (João homem de Deus seja perfeito e per-
4.39)? Se eu sou ministro do evan- feitamente habilitado para toda boa
gelho, mostro-me diligente em ir “por obra” (2 Timóteo 3.16,17)? Ou en-
todo o mundo” e pregar “o evange- contro mais proveito na leitura de
lho a toda criatura” (Marcos 16.15)? comentários, credos e confissões
doutrinárias? Procuro o Senhor Je-
6. Oro como deveria? Come- sus em todas as passagens das
cei com oração a minha jornada cris- Escrituras (Lucas 24.27; João 5.39)?
tã? Desde o momento de minha Ou leio muitos textos, antes de achar
conversão, obedeço ao mandamento qualquer coisa a respeito dEle? Quan-
de orar “sem cessar” (1 Tessaloni- to tempo seria gasto na leitura da
censes 5.17)? Sigo o modelo de ora- Palavra de Deus, se todo crente a les-
ção dado pelo Senhor Jesus (Mateus se tanto quanto eu leio?
6.5-13)? Ou estou sempre ocupado
e não oro? Ou me sinto tão auto-su- 8. Assisto com fidelidade os
ficiente que rejeito a necessidade de cultos de minha igreja? Obedeço
orar? Procuro freqüentemente a co- ao mandamento “não deixemos de
munhão com Deus na oração? Ou oro congregar-nos, como é costume de
somente quando necessito de uma alguns; antes, façamos admoestações
solução imediata? e tanto mais quanto vedes que o Dia
se aproxima” (Hebreus 10.25)? Ou,
7. Leio a Bíblia como deve- em vez disso, sinto que não tenho
ria? Gasto mais tempo lendo a Palavra necessidade de ser exortado, ter co-
de Deus do que os escritos de ho- munhão e alimentar-me com a
mens? As Escrituras Sagradas são o Palavra de Deus pregada? Quantos
meu “prazer” e meditação “todo o cultos a minha igreja realizaria, se a
dia”, ou, em vez disso, encontro mais minha presença fosse exigida? De-
prazer na leitura de outros escritos sejaria que Deus visitasse a minha
(Salmos 119.70,77,97,174)? Procu- casa com a mesma freqüência com
ro tornar-me sábio para a salvação, que visito a casa dEle? Sempre con-
por meio da leitura da Palavra de Deus fesso: “Alegrei-me quando me
(2 Timóteo 3.15)? Ou, depois de todo disseram: Vamos à Casa do SENHOR”
esse tempo confessando ser crente, (Salmos 122.1)? Ou, pelo contrário,
ainda sou ignorante a respeito do acho inconveniente fazer isso, pro-
conteúdo das Escrituras? Cometo os curando razões para não fazê-lo?
mesmos erros dos personagens bí- Quando vou aos cultos, me regozijo
blicos, perdendo bênçãos, por no privilégio de sentar-me à mesa do
ignorar o exemplo que eles deixaram Senhor e anunciar a morte de Cristo,
(1 Coríntios 10.1-13)? Por meio da até que ele venha (1 Coríntios 11.23-
constante utilização da Bíblia, de- 26)? Além disso, quando participo
4 Fé para Hoje
dos cultos, mostro fidelidade em con- minha igreja, se todos os membros
versar “com salmos, entoando e seguissem meu exemplo em dar ofer-
louvando de coração ao Senhor com tas?
hinos e cânticos espirituais” (Efésios
5.19)? 10. Sou um verdadeiro crente
ou estou me enganando com o
9. Contribuo financeiramen- pensamento de que sou crente?
te para a obra do Senhor? Roubo Sou um Judas Iscariotes, que traiu a
a Deus, por não Lhe oferecer “dízi- Jesus por causa de lucros mundanos?
mos e ofertas” (Malaquias 3.10)? Ou, Cristo diria a meu respeito o mesmo
em vez disso, contribuo liberalmente que Paulo disse a respeito de outro
para a obra dEle (Romanos 12.8)? homem: “Demas, tendo amado o pre-
De que maneira o meu exemplo com- sente século, me abandonou” (2
prova o princípio bíblico de que Timóteo 4.10). Como eu responde-
“aquele que semeia pouco pouco tam- ria o questionamento de John Newton:
bém ceifará; e o que semeia com “Isto é algo que desejo muito saber,
fartura com abundância também cei- algo que freqüentemente me deixa
fará” (2 Coríntios 9.6)? Contribuo ansioso — amo ao Senhor ou não?
“com tristeza ou por necessidade” (2 Sou dEle ou não?”
Coríntios 9.7)? Sou um crente que Se temos dificuldade de exami-
“dá com alegria”, sendo amado por nar a nós mesmos, devemos rogar a
Deus? Contribuo sistematicamente, Deus que o faça por nós. “Examina-
conforme a prosperidade que Deus me, SENHOR, e prova-me; sonda-me
me proporciona (1 Coríntios 16.2)? o coração e os pensamentos” (Sal-
Ou minha atitude de não contribuir mos 26.2). “Sonda-me, ó Deus, e
revela meu pensamento de que Ele conhece o meu coração, prova-me e
tem sido mesquinho para comigo? conhece os meus pensamentos” (Sal-
Qual seria a situação financeira de mos 139.23).

, , , , , , ,

Não são os grandes talentos que Deus abençoa, mas


a grande semelhança com Cristo.
Robert Murray M'Cheyne

Quando um pecado está na moda, os cristãos devem


estar fora de moda.
John Blanchard
A IMPORTÂNCIA DOS PRESBÍTEROS 5

A IMPORTÂNCIA DOS PRESBÍTEROS


Dean Allen

Atos 14.21-23, Atos 20.17-35, Tito 1.5, 10-16

A NATUREZA DESTE OFÍCIO SUPÕE eles têm pregado a Palavra de Deus


A IMPORTÂNCIA DOS PRESBÍTEROS para os crentes. Terceiro, conside-
rando atentamente a maneira como
O presbiterato implica em lide- eles vivem, os crentes têm de imitar
rança. A liderança deste ofício se a fé exercida por seus líderes. Por-
manifesta: a) por meio de adminis- tanto, o presbiterato bíblico é um
tração ou governo; b) por meio de ofício de autoridade que se expressa
instrução, ensino e pregação; c) por por meio de governo, instrução e
meio de exemplo. Vemos isto clara- exemplo.
mente em Hebreus 13.17: “Obedecei O verdadeiro cristianismo depen-
[esta é uma norma para a igreja] aos de de presbíteros bíblicos que agem
vossos guias e sede submissos para de conformidade com as Escrituras,
com eles; pois velam por vossa alma, pregando todo o conselho de Deus e
como quem deve prestar contas, para cuidando do rebanho. Este foi o
que façam isto com alegria e não ge- exemplo de Paulo diante dos presbí-
mendo; porque isto não aproveita a teros de Éfeso. Várias vezes, ele
vós outros”. Em seguida, considere disse: “Jamais deixei de vos anunci-
o versículo 7 deste mesmo capítulo: ar todo o desígnio de Deus” (Atos
“Lembrai-vos dos vossos guias, os 20.27); ou seja, “não me esquivei de
quais vos pregaram a palavra de ensinar-vos qualquer coisa proveito-
Deus; e, considerando atentamente sa, fazendo-o publicamente e de casa
o fim da sua vida, imitai a fé que ti- em casa; eu vos ensinei e preguei o
veram”. arrependimento para com Deus e a
Nestes dois versículos, vemos fé no Senhor Jesus Cristo”. O após-
aqueles três elementos da liderança. tolo Paulo pregou...pregou...pregou!
Primeiro, existem aqueles que gover- A função bíblica do presbítero
nam sobre os crentes (“os vossos não é somente pregar todo o conse-
guias”); eles têm governado sobre os lho de Deus, mas também a indis-
crentes e velado por estes. Segundo, pensável supervisão do rebanho.
6 Fé para Hoje
Observe: “Pois velam por vossa tava sobre eles. Estes presbíteros não
alma, como quem deve prestar con- veriam mais o rosto do apóstolo. Eles
tas” (Hebreus 13.17); “Atendei por não teriam mais consigo o apóstolo,
vós e por todo o rebanho sobre o qual para vir e resolver os problemas de-
o Espírito Santo vos constitui bispos les. Portanto, eles tinham de atentar
[supervisores], para pastoreardes a por si mesmos, primeiramente, e de-
igreja de Deus” (Atos 20.28). Eles pois por todo o rebanho sobre o qual
governam sobre vocês para o pró- o Espírito Santo os havia constituí-
prio bem de vocês. Quando é neces- do presbíteros, por causa dos lobos
sário, eles têm de se colocar no meio perigosos que se introduziriam na
do caminho e dizer-lhes: “Parem! O igreja e não poupariam o rebanho. A
que vocês estão fazendo?”, porque existência de presbíteros é impres-
eles velam pela alma de vocês, como cindível. Eles têm de velar e
aqueles que prestarão contas delas no alimentar as ovelhas. A condição do
Dia do Juízo”. homem exige isto.

A CONDIÇÃO DO HOMEM EXIGE O A ORDENANÇA DE CRISTO REQUER


OFÍCIO DE PRESBÍTERO O OFÍCIO DE PRESBÍTERO

Presbíteros, os líderes bíblicos Efésios 4 diz que estes oficiais


da igreja, preservando a Palavra da foram estabelecidos por Cristo, para
Vida através de um exemplo santo, que nós (os santos) não sejamos mais
são extremamente essenciais em nos- crianças levadas de um lado para o
sos dias, assim como sempre foram, outro por todo vento de doutrina.
por causa da condição dos homens. Cristo sabia que necessitamos de
Em Atos 20.29, o apóstolo Paulo presbíteros. Observe em Atos 20.28:
advertiu os crentes de Éfeso a res- “...o rebanho sobre o qual o Espírito
peito dos lobos que se introduziriam Santo vos constituiu bispos”. O
na igreja, não poupando o rebanho. presbítero bíblico não é presbítero
O Espírito Santo havia constituído apenas porque ele escolheu esta fun-
aqueles homens como presbíteros de ção como sua carreira; o presbítero
um rebanho de ovelhas. O perigo: bíblico é alguém colocado por Cris-
lobos vorazes sobreviriam ao reba- to neste ofício. O Espírito Santo o
nho para devorar as ovelhas. As ove- constituiu um supervisor do rebanho
lhas, por natureza, são errantes e de Cristo. O presbítero tem de cui-
vulneráveis aos lobos. Elas precisam dar do rebanho e alimentá-lo (literal-
de vigilância e proteção; elas neces- mente, fornecer pasto). Esta não é
sitam de uma boa e sábia liderança uma posição que você designa para
de presbíteros fortes. si mesmo.
O apóstolo se mostrou urgente Somos mais sábios do que Deus?
em sua última visita aos presbíteros Ele, que designou tal ministério, ha-
de Éfeso, a fim de incutir em suas verá de rejeitá-lo com leviandade,
consciências o dever que agora es- porque decidimos que temos supe-
A IMPORTÂNCIA DOS PRESBÍTEROS 7
rado a necessidade de tal ministério? Paulo disse a Timóteo: “Tem cuida-
O ofício do presbítero que proclama do de ti mesmo e da doutrina. Conti-
a Palavra da Vida com regularidade, nua nestes deveres; porque, fazendo
a cada semana, noite e dia, de casa assim, salvarás tanto a ti mesmo
em casa ou publicamente, é extre- como aos teus ouvintes”. O coração
mamente essencial. É uma ordenança de Paulo vibrava com a salvação da-
de Cristo. queles que ouviam a pregação do
evangelho. O alvo, o objetivo e a pró-
pria essência de nossa obra é a sal-
A ESSÊNCIA DA OBRA NECESSITA DO vação da alma daqueles que se
OFÍCIO DE PRESBÍTERO encontram sob o nosso ministério.
Paulo não partiu de Creta sem deixar
Em Romanos 10.14, Paulo nos ali alguém para completar a obra ini-
apresenta a razão (o objetivo ou pro- ciada. O apóstolo disse a Tito: “Por
pósito) fundamental por que Cristo esta causa te deixei em Creta, para
estabeleceu os presbíteros – “Como, que pusesses em ordem as coisas res-
porém, invocarão aquele em quem tantes, bem como, em cada cidade
não creram? E constituísses
como crerão  presbíteros”
naquele de
quem nada ou-
O verdadeiro cristianismo (Tito 1.5). Isto
era vital! Os
viram? E como depende de presbíteros apóstolos sabi-
ouvirão, se não bíblicos que agem de am que era me-
há quem pre- lhor não deixar
gue?” Observe
conformidade com as a obra apenas
a pergunta de Escrituras, pregando todo em seu estágio
Paulo, a per- o conselho de Deus inicial. O obje-
gunta do Novo tivo do presbite-
Testamento:
e cuidando do rebanho. rato não termi-
como é que  na quando pes-
Cristo falará à soas se conver-
sua alma, para a sua salvação, se não tem ou você pensa que elas estão
houver um pregador? convertidas. É por isso que temos
Quando Paulo esteve entre os de ir de casa em casa, com lágrimas
efésios durante aqueles muitos me- e labores; é por isso que temos de
ses, a essência de sua mensagem foi permanecer de joelhos e temos de
o arrependimento e a fé para a salva- perscrutar as consciências. O obje-
ção. Em essência, o propósito de tivo do presbiterato é a salvação de
todo o trabalho de Paulo foi pregar o pessoas e nada menos do que isto.
arrependimento para com Deus e a A tarefa do presbítero consiste
fé em Jesus, para a salvação dos pe- em edificar as muralhas de Sião, em
cadores e a edificação do corpo de meio a inimigos violentos. Nas Es-
Cristo. crituras somos chamados de coope-
Em 1 Timóteo 4.16, o apóstolo radores de Deus – “Porque de Deus
8 Fé para Hoje
somos cooperadores; lavoura de veis. Uma das coisas que nos quali-
Deus, edifício de Deus sois vós” (I fica para o presbiterato é que nos
Coríntios 3.9). Somos cooperadores preocupamos com as pessoas. Uma
de Deus no edificar a igreja. Você das razões por que somos tardios em
lembra de Neemias quando ele tra- repreender é que desejamos ser gen-
balhava na reconstrução das mura- tis. Queremos ter certeza de que pen-
lhas de Jerusalém? As pessoas se samos de maneira completa no
mostraram dispostas para fazer a assunto, de que procuramos conse-
obra. Em uma das mãos, elas tinham lho e de que não sobrecarregamos,
uma colher de pedreiro e na outra não ferimos, nem machucamos vo-
mão, uma espada. Enquanto edifica- cês, que são nossas ovelhas. Somos
vam a muralha com os materiais de sensíveis. Quando sentimos que vo-
construção, os judeus tinham neces- cês não nos amam, não nos apreci-
sidade de defender-se contra os ini- am nem gostam de nós e que pre-
migos que desejavam destruir a feririam que deixássemos a igreja,
muralha. Houve zombaria, blasfêmi- isto nos magoa. Entendam que os
as, resistência, táticas e artifícios presbíteros precisam da ajuda de
políticos que visavam arruinar a obra vocês. O diabo está cochichando, em
– tudo que os inimigos podiam fazer todo o tempo, no ouvido dos presbí-
para destruir aquela muralha, a cida- teros, os pecados, os erros, as fra-
de e a sua proteção. Quando Samba- quezas deles mesmos. Suportem e
late desejou que Neemias descesse sustentem os presbíteros.
para conversar com ele sobre a obra, Honrem o ofício dos superviso-
Neemias, respondeu-lhe: “Não pos- res designados por Deus. Obedeçam-
so descer. Tenho de construir uma nos, como aqueles que têm de prestar
muralha e não posso desperdiçar meu contas da alma de vocês, para que
tempo conversando com você”. cumpram seu ministério com alegria
Cristo estabeleceu o ofício de e sem tristeza. Ouçam-nos. Orem por
presbítero para a construção das eles. Trabalhem para a edificação
muralhas de Sião em meio aos inimi- deles. Preparem os filhos de vocês
gos. Pessoas que se passam por ove- para este ofício, visto que Deus os
lhas freqüentemente deixam rastros auxiliará a fazê-lo. Sustentem esse
de lobos. O pastor corre o risco de ofício. E que Deus conceda graça
ter todo o seu rebanho devorado, àqueles que, dentre nós, exercem o
enquanto ele próprio se assenta e ofício de presbítero, para que o fa-
dorme, na vã esperança de que seu çamos com fidelidade, por amor à
rebanho está se alimentando sozinho. alma de vocês.
Ajuda-nos, ó Pai. Ajuda-nos a
CONCLUSÕES entender a crucial necessidade dos
meios de graça escolhidos por Ti e
É dever da igreja fortalecer, e não depositados nos dons que tens dado
enfraquecer, as mãos dos ministros à igreja, em seus homens que estão
de Deus. Irmãos, vocês não sabem no ministério.
que, às vezes, também somos sensí- , , , ,
UMA APRECIAÇÃO DE JONATHAN EDWARDS 9

UMA APRECIAÇÃO DE
JONATHAN EDWARDS
Tom E. Nettles

E m outubro de 2003, aconte- se mais do que seu pai poderia ter


ceu o aniversário de 300 anos de sonhado em fazê-lo.
nascimento de Jonathan Edwards. Ele realizou seus estudos univer-
Devemos expressar gratidão coleti- sitários entre 1716-1720, em Yale,
va a Deus pelo impacto positivo deste e concluiu seu mestrado em 1722.
servo tão dotado em favor da obra De 1722 até 1724, ele serviu como
do evangelho, em geral, e pelo seu pastor interino em duas igrejas, per-
impacto positivo sobre os batistas, manecendo menos do que um ano em
em particular. cada uma delas, em Nova Iorque e
Jonathan Edwards nasceu em 5 Bolton (Estado de Connecticut). Um
de outubro de 1703. Ele era o quin- dos períodos espiritualmente mais
to filho e o primeiro homem dos sete traumáticos de sua vida ocorreu nos
filhos de Timothy e Esther Edwar- três anos em que ele serviu como tu-
ds. Seu pai viera ministrar na igreja tor em Yale, num tempo de muita
de East Windsor (Estado de Massa- incerteza na faculdade, quando a sua
chusetts), em 1694, quando tinha 25 administração se mostrava bastante
anos de idade. E ali permaneceu du- instável. Em 1726, Jonathan viajou
rante todo o resto de sua vida. a Northampton, para ajudar seu avô,
Timothy Edwards era zeloso pela Solomon Stoddard, no ministério da
causa do evangelho, bem como pela igreja. Em 1727, ele se casou com
espiritualidade e educação de seus Sarah Pierpont, o amor de sua vida.
filhos. Jonathan foi o recipiente mais Seu avô faleceu em 1729; assim,
feliz deste zelo. Ele nunca se ressen- Jonathan se tornou o pastor da igreja
tiu desse cuidado de seu pai; em vez de Northampton. Ele permaneceu ali
disso, considerou uma das maiores até que foi demitido em 1750, em
graças o ter sido criado e educado meio a uma controvérsia a respeito
nessa atmosfera. Jonathan aprendeu de quem deveria receber a Ceia do
a encorajar a si mesmo e a esforçar- Senhor.
10 Fé para Hoje
Uma poderosa e inesperada in- afeições humanas e, talvez, o livro
tervenção do Espírito de Deus sobre- mais importante escrito nos Estados
veio a Northampton em 1735; pro- Unidos é Religious Affections (Afei-
pagou-se em direção ao norte, até ções Religiosas). Todo crente, espe-
Northfield, e ao sul, alcançando as cialmente todo ministro do evan-
distantes cidades de Stratford, Guil- gelho, deveria ler este livro de
ford, Lyme e Groton, no Estado de Edwards e sentir-se desafiado a pos-
Connecticut. Jonatahn Edwards se suir maior zelo espiritual pela honra
encontrava no meio de uma rigorosa de Deus e um coração de pastor re-
defesa da justificação pela fé, expe- pleto de discernimento e compaixão.
rimentando criticismo por causa de Entretanto, ninguém deve esque-
seu biblicismo ousado e reformado, cer que Jonathan Edwards foi, antes
quando ocorreu a poderosa obra de de tudo, um evangelista pastoral. Ele
conversão e avivamento. Ele relatou gastou toda a sua mente e todo im-
o fenômeno e analisou as diversas pulso criativo para gravar no coração
experiências espirituais em sua obra e mente de seu povo a necessidade,
Faithful Narrative of the Surprising infinitamente importante, de arrepen-
Work of God in the Conversion of dimento para com Deus e da fé em
Many Hundred Souls. A princípio, nosso Senhor Jesus Cristo. Além de
Jonathan confirmou a morfologia Jonathan Edwards, nenhuma outra
puritana da conversão, ao mesmo pessoa foi capaz de retratar, de ma-
tempo que a modificou, por descre- neira tão desoladora, a condição
ver a variedade nas experiências e por humana, e de mostrar, de modo tão
advertir contra a confiança carnal que alarmante, o seu completo desespe-
todos os traumas produziam na con- ro; ninguém foi capaz de revelar a
versão genuína. O alicerce que ele atratividade e a beleza constrangedora
estabeleceu neste livro determinou o do Senhor Jesus, com maior serieda-
curso da obra de sua vida. Todos os de e liberdade do que o fez Jonathan
seus escritos, daquela época até à sua Edwards. Também, nenhum outro
morte, exploraram algum aspecto da autor conseguiu incutir na mente de
experiência espiritual genuína. O seus leitores a realidade e os propó-
caráter da liberdade humana, visto sitos da eternidade, tão bem como o
que está relacionada com as duas fez Edwards. Ele procurou dispor
grandes realidades: a absoluta sobe- cada elemento do evangelho e sua
rania de Deus e os abrangentes efei- manifestação histórica no contexto
tos do pecado do homem, constitui a de seu propósito crucial e de sua ra-
matriz de acordo com a qual a expe- zão para ser justo como realmente é.
riência cristã tem de ser gerada (ou Às vezes, parece que Edwards foi
regenerada). Ninguém falou a res- levado às portas do inferno, a fim de
peito deste assunto com tanta profun- perceber o que significa estar sob uma
didade e perspicácia quanto Jonathan ilimitada torrente da ira de Deus, e,
Edwards. em seguida, comissionado a relatar
A grande obra de Edwards, que sua percepção. Subseqüentemente,
é também o mais completo exame das parece que Edwards foi levado ao
UMA APRECIAÇÃO DE JONATHAN EDWARDS 11
céu, a fim de contemplar o Senhor clareza. Edwards não tinha essa ca-
Jesus Cristo, em sua glória, bem racterística; todavia, alguns de seus
como o incessante fluir do amor di- seguidores a têm demonstrado e, ao
vino, entre o Pai e o Redentor res- fazerem isso, revertem completa-
suscitado e exaltado; após o que ele mente o interesse teológico de
foi comissionado não a dizer a qual- Edwards. Ao mesmo tempo, uma
quer pessoa, e sim a expandir a apreciação moderada de Jonathan
linguagem humana, de modo que Edwards, no contexto de uma orien-
descrevesse a amabilidade do que ti- tação rigorosamente bíblica, no que
nha visto. O evangelismo de Jona- diz respeito à pregação, é capaz de
than Edwards possuía esse tipo de produzir uma pregação edificante e
urgência imediata. convincente. Uma leitura meditati-
Que tipo de apelo ele apresenta- va nos sermões de Edwards pode
va aos seus ouvintes? Como poderia alimentar a mente e resultar em um
ele, um fiel calvinista, fazer exigên- desejo sincero por ter mais de Deus,
cias urgentes a uma assembléia de um desejo que permanecerá meses e
pecadores, escravizados a suas afei- anos.
ções hostis e sujeitos aos decretos da Os batistas foram afetados dessa
justiça e da misericórdia de Deus? maneira. Com raras exceções, eles
Que teologia estava por trás deste resistiram aos anelos metafísicos e se
coerente e sincero aspecto dos ser- deleitaram com os escritos de
mões de Edwards? Edwards, no contexto de sua inalte-
Jonathan Edwards cativa a men- rável devoção aos ditames da revela-
te e o coração. Aqueles que, com ção bíblica. No entanto, os batistas
simpatia, estudam completamente os desfrutaram realmente de Jonathan
escritos de Edwards, acham difícil Edwards e se beneficiaram de seu
conceber a verdade bíblica em uma poder espiritual e de sua peculiar
disposição melhor do que a apresen- estruturação da ortodoxia reforma-
tada por ele. Edwards consegue da. Os batistas de nossos dias não
captar a maneira de expressão e a podem ser entendidos sem estarem
estrutura na qual eles percebem a cônscios da poderosa influência que
importância da mensagem do evan- Edwards exerceu. No que diz respei-
gelho. Talvez isso não seja sempre to à teologia, podemos argumentar
bom. Visto que não possuem a faci- com segurança que a Convenção dos
lidade de argumentação filosófica de Batistas do Sul nasceu da firmeza dos
Edwards, disciplinada por seu coe- escritos de Jonathan Edwards. A obra
rente e amplo conhecimento das missionária, bem como a defesa da
Escrituras no contexto de uma liberdade religiosa, possui o aroma
imersão na história da teologia cris- de Edwards.
tã, os imitadores de Edwards podem
se tornar obscuros e mais metafísicos, (Extraído de “Founders Journal”,
em vez de expositores que falam com com ligeiras adaptações.)

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12 Fé para Hoje

O TEÓLOGO DO AVIVAMENTO
Erroll Hulse

A ssim como Martinho Lutero de perigo e conflito constantes, en-


permanece como o marco de uma tre os índios, franceses, católicos e
nova época na História da Igreja, as- protestantes ingleses. Edwards foi
sim também Jonathan Edwards per- um pensador arguto e um filósofo
manece como o limiar de um novo cristão que viveu no clímax do con-
mundo evangélico, caracterizado por flito espiritual contra o deísmo e o
avivamentos. Entre Lutero e Edwar- racionalismo. B. B. Warfield o des-
ds encontra-se John Owen, o Prín- creveu como uma figura de verda-
cipe dos Puritanos, que representa deira grandeza na vida intelectual da
três gerações de puritanos ingleses, América colonial.1
que desdobraram a fé reformada em
uma admirável combinação de dou-
O TEÓLOGO DO AVIVAMENTO
trina, experiência e prática. Seguin-
do essa tradição, mas enfrentando Jonathan Edwards foi o mais
diferentes pressões, Jonathan Edwar- perspicaz dos primeiros filósofos da
ds escreveu o clássico Religious América, o mais brilhante e original
Affections (Afeições Religiosas), no de todos os teólogos da América. De
qual ele mostrou o que constitui e o modo contrário a George Whitefield,
que não constitui os elementos da que pregava de improviso e, confor-
conversão autêntica. me os seus contemporâneos, nunca
Jonathan Edwards ministrou titubeava, Edwards escrevia todos os
como pastor em uma nação jovem seus sermões; e, se tivesse de pre-
que estava em desenvolvimento. Ele gar utilizando breves anotações, teria
trabalhou arduamente nas fronteiras dificuldade em fazê-lo. Até hoje o seu
O TEÓLOGO DO AVIVAMENTO 13
sermão Pecadores nas Mãos de um peradamente, cinco ou seis pes-
Deus Irado é um dos mais famosos soas que, de acordo com todas
na América. as aparências, foram convertidas
Os batistas são fascinados pelo para a salvação, uma após outra...
esforço de Edwards em direção a uma Nas primeiras semanas de 1735,
igreja pura, evidenciado na contro- uma preocupação sincera a res-
vérsia sobre a Ceia do Senhor peito das grandes coisas do cris-
(Aliança Parcial), que foi uma das tianismo e do mundo eterno en-
causas de sua demissão de Nor- volveu, de modo abrangente,
thampton, em 1750. Alguns são todas as pessoas de todas as ida-
fascinados pelas obras-primas de des e posições, bem como de to-
Edwards, Freedom of the Will (Li- dos os lugares da cidade. Todas
berdade da Vontade) e The Nature of as outras conversas, exceto as
True Virtue (A Natureza da Verdadei- conversas sobre as coisas eter-
ra Virtude). nas e espirituais, eram logo dei-
Embora estes assuntos sejam xadas de lado. Todas as conver-
importantes, meu ponto de vista é sas, em todos os lugares, entre
que as principais contribuições de todas as pessoas, em todas as
Edwards para a Igreja de Cristo, em ocasiões, se referiam apenas a
todos os lugares, são os seus pensa- estas coisas, a menos que fosse
mentos e os seus livros sobre aviva- necessário as pessoas realizarem
mento. Ele é digno do título “O suas atividades seculares... As
Teólogo do Avivamento”. Os purita- mentes das pessoas estavam ad-
nos ingleses nunca utilizaram a pala- miravelmente desprendidas deste
vra avivamento, embora a teologia mundo, que, entre nós, era con-
deles fosse tendente ao avivamento. siderado algo de pouca importân-
Meu propósito é delinear o pro- cia. Tal mudança de convicção
gresso do interesse e dos escritos de produziu rapidamente uma dife-
Edwards sobre avivamento. rença visível na vida da cidade.
Em 1734/35, um poderoso avi- A maior de todas as mudan-
vamento espiritual sobreveio a ças ocorreu no próprio templo da
Northampton. Edwards o descreveu igreja. Naquele tempo, as nossas
em um livro intitulado A Narrative reuniões eram lindas: a igreja se
of Surprising Conversions (Uma Nar- mostrava viva na adoração a
rativa de Conversões Surpreenden- Deus; todos estavam sinceramen-
tes). As definições de avivamento são te atentos na adoração pública;
diversas. A descrição de Edwards é, todos os ouvintes anelavam ou-
em si mesma, uma definição. vir as palavras do pastor, confor-
me estas saíam de seus lábios; a
Nos últimos dias de dezem- congregação geralmente derrama-
bro de 1734, o Espírito de Deus va lágrimas, quando a Palavra de
começou a agir de modo extraor- Deus era pregada. Alguns chora-
dinário e a operar maravilhosa- vam de tristeza e consternação;
mente entre nós. E houve, ines- outros, de alegria e amor; outros,
14 Fé para Hoje
de piedade e compaixão pelas al- Todas as coisas trabalham juntas em
mas de seus vizinhos. direção ao objetivo de tudo, que é a
glória do Deus Triúno, na redenção
Em 1739, com 36 anos de ida- e na formação da nova terra e dos
de, Edwards pregou uma extensa sé- novos céus.
rie de sermões na qual ele examinou O avivamento ocorrido em
toda a história da raça humana, des- Northampton, que se espalhou por
de a Criação até à segunda vinda de outras cidades, inspirou aquela série
Cristo. Esta série de sermões foi de sermões. Ora, um avivamento ain-
publicada como A History of the da mais abrangente sobreveio à Nova
Work of Redemption (Uma História Inglaterra. Em 1740/41, o Grande
da Obra de Redenção). Edwards an- Despertamento “irrompeu nas igre-
tecipava que através de derramamen- jas dormentes da Nova Inglaterra,
tos do Espírito como um tro-
Santo todos os  vão e relâm-
inimigos de Em terras mais altas, vi pago surgindo
Cristo serão fi- de um céu
nalmente der- diante de mim uma nuvem límpido”.3 De
rotados, em es- ou nevoeiro surgindo modo diferente
pecial o Anti- e ouvi um barulho de 1735, este
cristo (que Ed- avivamento al-
wards, assim
semelhante ao estrondo cançou todo o
como todos os de cascos de cavalos país. O princi-
reformadores vindo pela estrada... pal instrumen-
e puritanos in- 
to deste aviva-
gleses, consi- mento foi Ge-
derava ser o papado) e o falso profe- orge Whitefield, que tinha apenas 25
ta. De acordo com Romanos 11, anos de idade. O caráter deste aviva-
Edwards acreditava que os judeus se- mento pode ser vislumbrado nas
rão convertidos e que isso será o pre- palavras seguintes.
núncio de um crescimento massivo O agricultor Natan Cole relatou
da Igreja, em todo o mundo. O evan- sua experiência. Ele estava trabalhan-
gelho será, então, pregado com mais do quando um vizinho lhe contou que
clareza e será mais eficaz em sua apli- George Whitefield estava chegando.
cação, levando à paz.2 Distorções do
evangelho serão removidas, e as sei- Eu estava trabalhando em mi-
tas, reduzidas a nada. Tudo isto será nha lavoura. Trouxe as ferramen-
realizado não por príncipes, ou seja, tas e o arado para casa, ordenei à
não por poderes humanos ou líderes esposa que se aprontasse para ou-
políticos, e sim por intermédio do Es- virmos o Sr. Whitefield, em
pírito Santo, utilizando os meios da Middletown. Corri com todas as
graça (Zacarias 4.6). Toda a Criação, minhas forças para apanhar o ca-
argumentava Edwards, é apenas o valo no pasto, temendo que che-
palco da grande obra de redenção. garia atrasado para ouvir o Sr.
O TEÓLOGO DO AVIVAMENTO 15
Whitefield. Trouxe o cavalo até a grandes multidões se reuniam. Em
casa, montei rapidamente, bem determinado lugar, 25.000 pessoas se
como a minha esposa, e fomos reuniram para ouvir Whitefield. Este
com tanta rapidez quanto o cava- número representa a maior concen-
lo podia agüentar... Eu desceria, tração de pessoas daquela época.
correria e diria à esposa que ca- Jonathan Edwards defendia, em
valgasse tão rápido quanto pudes- especial, o avivamento, resguardan-
se; e correria... até que ficasse do-o dos seus críticos. Em 1746,
quase sem fôlego... fiz isso vári- depois de pregar uma série de ser-
as vezes, para favorecer o cava- mões sobre este assunto e depois de
lo, pois tínhamos quase 19 qui- muita revisão, ele publicou o seu
lômetros para percorrer em pou- Treatise on Religious Affections (Tra-
co mais do que uma hora. Em tado sobre Afeições Religiosas), que
terras mais altas, vi diante de mim é o seu livro mais lido.
uma nuvem ou nevoeiro surgin- Em 1747, ele publicou um trata-
do e ouvi um barulho semelhante do sobre Zacarias 8.20-22, que saiu
ao estrondo de cascos de cava- da imprensa com o longo e descriti-
los vindo pela estrada... Quando vo título
cheguei a 100 metros da estrada,
pude ver uma torrente de cava- Uma Tentativa Humilde de Pro-
los, com seus cavaleiros... Che- mover Harmonia Explícita e União
gamos até eles, e não ouvi ne- Visível do Povo de Deus na Oração
nhum homem falando palavra al- Extraordinária, em Favor do Aviva-
guma, durante todo o caminho. mento do Cristianismo e do Avanço
Todos seguiam com grande pres- do Reino de Cristo na Terra, confor-
sa; e, quando chegamos à velha me as Escrituras — Promessas e
casa de reuniões, ali havia uma Profecias Sobre os Últimos Dias.
grande multidão — disseram que
três ou quatro mil pessoas esta- Este livro, de 180 páginas, for-
vam reunidas. Descemos de nos- mato pequeno e acabamento em
sos cavalos e sacudimos a poeira, brochura, foi enviado pelos correios
e os pastores estavam vindo à a John Erskine (1721-1803), na Es-
casa de reuniões. Virei-me, olhei cócia. Nesse tempo, John Ryland Jr.
em direção ao grande rio e vi bar- estava se correspondendo com
cos navegando rapidamente, para Erskine; e foi através deste que Jonhn
lá e para cá, trazendo grande nú- Ryland Jr. recebeu uma cópia de Uma
mero de pessoas, que pareciam Tentativa Humilde . John Ryland
lutar pela vida. Em um raio de 19 compartilhou o tratado com John
quilômetros, não vi ninguém tra- Sutcliff (1752-1814). O interesse se
balhando nos campos.4 espalhou, e foram organizadas reu-
niões de oração mensais suplicando
Nos lugares em que George avivamento. A oração especial em
Whitefield pregava na Nova Inglater- favor de avivamento se espalhou por
ra, o Espírito Santo era derramado e todas as denominações. A atividade
16 Fé para Hoje
de intercessão foi o início de uma deixando seu diário na posse de
época notável de despertamento es- Edwards. Este diário constituiu a base
piritual nas ilhas britânicas. Também de sua biografia, escrita por Jonathan
é digno de nota o fato de que esse Edwards, que, no devido tempo, se
tempo de oração especialmente tornou seu livro mais popular. Este
intercessória marca o início do Gran- livro foi reconhecido como a primei-
de Despertamento Missionário, no ra biografia de um missionário
qual William Carey foi o pioneiro. impressa nos Estados Unidos e cau-
O que serviu de excepcional sou grande impacto na causa de
encorajamento para Edwards foi a missões, mais do que qualquer outro
entrada de David Brainerd em sua livro. Foi o avivamento entre os ín-
vida —um assunto sobre o qual se dios que deu poder à biografia de
expressou mais tarde. Em uma ter- Brainerd e que tanto nos prende o
ça-feira, 28 de maio de 1747 (na interesse.
época em que Edwards preparava- James I. Packer, em uma pales-
se para a publicação de um tratado tra apresentada na Conferência
que convocava os crentes a um pac- Puritana de Londres, em 1961, resu-
to de oração), David Brainerd entrou miu de modo proveitoso o ensino de
no jardim da casa pastoral, em Edwards sobre o avivamento, empre-
Northampton. Edwards, cujos pen- gando três tópicos:
samentos estavam engajados na visão
de uma obra missionária de alcance 1. O avivamento é uma obra ex-
mundial, havia se encontrado com traordinária de Deus, o Espírito
Brainerd apenas uma vez. Agora, por Santo, revigorando e propagando a
meio de um contato mais achegado, piedade cristã em uma comunidade.
eles conversariam mais profunda- O avivamento é uma obra extra-
mente sobre a experiência de trabalhar ordinária porque marca uma
entre os índios e, em particular, so- reversão abrupta de uma tendência
bre um conhecimento detalhado do arraigada e um estado de coisas en-
despertamento espiritual entre eles. tre aqueles que professam ser o povo
A história de David Brainerd nos co- de Deus. Contemplar Deus revigo-
move profundamente: suas lutas com rando sua igreja significa pressupor
a total depravação e rejeição do evan- que a igreja estivera, anteriormente,
gelho por parte dos índios, seu moribunda e se tornara dormente.
desespero íntimo por causa dessa
rejeição e, acima de tudo, sua pieda- 2. Os avivamentos têm um lugar
de transparente. central nos propósitos revelados de
Embora limitado em vigor físi- Deus.
co, Brainerd se entregou, de modo “O objetivo de Deus em criar o
incansável e sacrificial, aos índios mundo”, declarou Jonathan Edwar-
entre os quais ele testemunharia um ds, “era preparar um reino para o seu
maravilhoso despertamento espiritu- Filho (pois Ele foi designado o her-
al. Ele morreu de tuberculose, na casa deiro do mundo)”. Este objetivo tem
de Edwards, com a idade de 29 anos, de se cumprir, primeiramente por in-
O TEÓLOGO DO AVIVAMENTO 17
termédio da realização da obra reden- criação foi apenas uma sombra). É a
tora da parte de Cristo, no Calvário; obra da nova criação, que é infinita-
depois, por intermédio do triunfo do mente mais gloriosa do que a velha
seu reino. “Todas as dispensações da criação. Ouso dizer que a obra de
providência divina, desde a ascensão Deus na conversão de uma alma... é
de Cristo até à consumação final de uma obra mais gloriosa do que a cri-
todas as coisas, têm o propósito de ação de todo o universo material.”
outorgar a Cristo a sua recompensa
e cumprir seu objetivo naquilo que
CONCLUSÃO
Ele fez e sofreu na terra.” Um domí-
nio universal está prometido a Cristo A igreja universal possui dimen-
e, nesse ínterim, antes da consuma- sões tão amplas, que não sabemos
ção final, o Pai implementa esta quantos dos seus membros sentem
promessa, em parte, por meio de este mesmo fardo de Jonathan
derramamentos sucessivos do Espí- Edwards. O Espírito Santo é o Espí-
rito, os quais comprovam a realidade rito de graça e de súplicas. Ele im-
do reino de Cristo para um mundo pulsiona o seu povo a orar. A
céptico e servem para estender seus intercessão é quase sempre o precur-
limites entre seus antigos inimigos. sor de um avivamento espiritual. É
impossível pensarmos em qualquer
3. Os avivamentos são as mais outra maneira pela qual o mundo será
gloriosas obras de Deus no mundo. ganho para Cristo.
Edwards insistia nisto, para en-
vergonhar todos aqueles que não pro-
fessavam qualquer interesse no _________________
avivamento divino que sobreviera à 1. B. B. Warfield, Studies in
Nova Inglaterra e insinuavam, por Theology, p. 517.
sua atitude, que a mente de um cren- 2. Quanto à compreensão puri-
te deveria se ocupar mais proveito- tana sobre 2 Tessalonicenses 2.1-12
samente com outros assuntos. e Romanos 11, ver o artigo The
Puritans and The Promise, escrito
“Em sua natureza e realização, por este autor, em God is Faithful,
esta obra é a mais gloriosa de qual- Westminster Conference Papers, ano
quer das obras de Deus” — Edwards 1999.
protestou. “É a obra da redenção (o 3. Jonathan Edwards, biografia
grande objetivo de todas as outras escrita por Iain Murray, p. 155.
obras de Deus e da qual a obra de 4. Ibid., p. 163.

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Na criação Deus mostra Sua mão;


na salvação, Seu coração.
Anônimo
18 Fé para Hoje

O CALVINISMO ANIQUILA
O EVANGELISMO?
Ernest C. Reisinger

A resposta desta pergunta é tistas, eram calvinistas, por compro-


“sim” e “não”. Sim, o calvinismo metimento e experiência.
aniquila o evangelismo antibíblico
centralizado no homem e alguns dos
OS CALVINISTAS NÃO SEGUEM JOÃO
métodos antibíblicos e carnais em-
CALVINO
pregados nesse tipo de evangelismo.
Não, o calvinismo não destrói o Os princípios elementares dos
evangelismo centralizado em Deus, dois grandes sistemas de teologia se
no qual os métodos bíblicos são uti- encontram ou no calvinismo ou no
lizados na grande obra de cumprir o arminianismo. Entretanto, estes sis-
mais evidente mandamento de nosso temas teológicos existem desde mui-
Senhor. tos séculos antes de João Calvino
Antes de falar sobre evangelismo haver nascido. Naquela época, eles
e calvinismo, talvez seja prudente eram chamados agostinianismo e pe-
fazer alguns comentários gerais a res- lagianismo, de acordo com os nomes
peito de conceitos errados sobre o dos homens que os definiam, no sé-
calvinismo. Existem fanáticos a fa- culo V. Com justiça, o calvinismo
vor do calvinismo, assim como exis- poderia ser chamado de agostinianis-
tem fanáticos contrários a ele. Este mo, e não significaria que estamos
assunto nos apresenta indagações seguindo Agostinho em direção à
cruciais, importantes e imprescindí- Igreja Católica Romana; pelo con-
veis em nossos dias. Temos ouvido trário, significa que somos seguido-
perguntas sinceras, especialmente da res dos princípios de teologia que
parte de seminaristas e pastores re- Agostinho ensinou. De fato, John A.
cém-ordenados. Broadus, um grande batista do Sul,
Não há dúvida de que os funda- do século XX, estava certo quando
dores e o corpo docente do primeiro declarou que este sistema de teolo-
seminário Batista do Sul, bem como gia retrocede ao apóstolo Paulo. Por
a maioria dos primeiros pastores ba- isso, Broadus chamou o calvinismo
O CALVINISMO ANIQUILA O EVANGELISMO? 19
de “aquele sublime sistema da ver- nário sobre o qual todo o calvinismo
dade paulina”. se alicerça não é a predestinação.
Calvino pode ter sido o homem Não. O ensino primário do calvinis-
que elaborou, pela primeira vez, mo se fundamenta em um alicerce
aqueles princípios doutrinários em mais amplo, o ensino que podemos
um sistema formal. Mas, como já dizer (e não estamos exagerando em
dissemos, os princípios doutrinários dizê-lo) refere-se à própria natureza
não se originaram com João Calvino e caráter de Deus. O único funda-
ou com Agostinho, e sim com o mento sobre o qual o calvinismo está
apóstolo Paulo. Por conseguinte, os edificado é a absoluta e ilimitada
calvinistas soberania de
não seguem Deus. Na rea-

a João Calvi- lidade, o cal-
no; pelo con- O princípio doutrinário sobre vinismo afir-
trário, nos o qual todo o calvinismo se ma e enfatiza
apegamos alicerça não é a a doutrina da
aos princípi- soberania de
os doutriná- predestinação. Deus, sendo
rios que ele  esta doutrina
formulou em a fonte de
um sistema de doutrina cristã. (Isto onde fluem todos os outros princípi-
também é verdade a respeito do Cre- os do ensino calvinista.
do dos Apóstolos. Esse credo não foi É importante entendermos que o
escrito pelos apóstolos. As verdades calvinismo não está centralizado,
bíblicas do credo foram sistematiza- primariamente, em sua doutrina de
das muitos anos depois que os após- predestinação, considerada de manei-
tolos haviam partido para receber sua ra isolada. A predestinação é sim-
recompensa.) Conseqüentemente, plesmente o resultado ou a aplicação
cometemos um grave erro quando da soberania de Deus em referência
afirmamos ou deixamos implícito que à salvação. O calvinismo afirma que
somos seguidores de João Calvino. a soberania de Deus é suprema na
Não batizamos infantes, nem concor- salvação, assim como em todas as
damos com a queima de hereges. Po- outras coisas.
demos dizer, com certeza, que, assim
como o pelagianismo é o progenitor
NOSSA HERANÇA CALVINISTA
do arminianismo, assim também o
paulinismo e o augustinianismo são Ao considerarmos o nosso pas-
os pais do calvinismo. sado, em busca de nossa origem, não
podemos esquecer alguns dos pais e
líderes de nossa grande Convenção
O FUNDAMENTO DOUTRINÁRIO
Batista do Sul que eram calvinistas
DO CALVINISMO NÃO É
firmes e comprometidos.
A PREDESTINAÇÃO
Por exemplo, considerem Basil
Além disso, o princípio doutri- Manly. Um historiador disse que
20 Fé para Hoje
Manly desempenhou a função de re- pois da morte de Boyce, um de seus
gente ao orquestrar os acontecimen- ex-alunos, Dr. David Ramsey, apre-
tos que resultaram na fundação de sentou uma mensagem, no Dia dos
uma convenção batista conservado- Fundadores, em 11 de janeiro de
ra. Manly elaborou uma resolução 1924, intitulada “James Petigru
de seis pontos que levou à separação Boyce, o Excelente Homem de
entre os batistas do Norte e os do Sul. Deus”. Poucas linhas desta mensa-
Esta resolução foi “aprovada de pé e gem do Dr. Ramsey nos mostrarão
com unanimidade”. Basil Manly era que Boyce era um calvinista compro-
um calvinista de primeira ordem. metido e que, ao mesmo tempo,
Em um sermão intitulado “Efi- amava a alma dos homens.
cácia Divina em Coerência com a Meu argumento é que nenhu-
Atividade Humana”, Manly disse a ma outra teologia, além da teo-
um grupo de pastores: logia caracterizada por um amor
Não abandonemos a doutrina avassalador e consumidor para
da atividade e da responsabilida- com os homens, explica James P.
de do homem ou a doutrina da Boyce e seu ministério. Este amor
soberania e da eficácia de Deus. apaixonado foi o elemento que
Por que elas deveriam ser consi- direcionou seu modo de pensar
deradas incoerentes? Ou por que naquelas primeiras conferências e
deveriam aqueles que se apegam na elaboração dos documentos
a uma se mostrar dispostos a du- que levaram ao estabelecimento
vidar, desacreditar ou rejeitar a do seminário. O propósito de aju-
outra? dar seus colegas permeava todos
Manly continuou: os seus planos, sua conversa, seus
A grande razão.... por que a escritos, sua pregação, seu ensi-
família cristã está dividida em no, assim como o filete escarlate
dois lados, cada qual rejeitando permeia todas as cordas dos na-
uma ou outra destas grandes dou- vios da marinha inglesa . Este
trinas, é que a doutrina da de- zelo pelas almas exigiu o melhor
pendência do Ser Divino nos lan- do ser de Boyce, assim como o
ça constantemente nas mãos e na sol da manhã leva as flores e plan-
misericórdia de Deus. O homem tas carregadas de orvalho a se cur-
orgulhoso não gosta disso; ele varem ao deus do dia.
prefere olhar para o outro lado O amor de Boyce por seus
do assunto; torna-se cego, em colegas era tal que, depois de sua
parte, por contemplar apenas um morte, o rabino Moses, de Louis-
lado da verdade, e se esquece do ville, disse a respeito dele:
Criador, em Quem ele vive, se Antes de vir para Louisville,
move e tem sua existência. eu conhecia o cristianismo so-
Considere James P. Boyce, o mente em livros. Foi por meio
principal fundador do primeiro se- de homens como Boyce que
minário — (Seminário Teológico aprendi a conhecer o cristianis-
Batista do Sul — EUA). Muito de- mo como uma força viva. Nesse
O CALVINISMO ANIQUILA O EVANGELISMO? 21
homem, aprendi não somente a ria do Seminário Batista do Sul), dis-
compreender, mas também a res- se:
peitar e a reverenciar o poder Como teólogo, o Dr. Boyce
chamado cristianismo. não tem medo de andar nos anti-
Boyce não somente amava os gos caminhos. Ele é conservador
homens, ele amava a Deus. Ramsey e eminentemente bíblico. Dr.
disse sobre este assunto: Boyce trata com grande imparci-
Nosso pensamento deve en- alidade aqueles cujos pontos de
volver tanto o amor subjetivo vista ele se recusa a aceitar, após
como o objetivo: o amor do ho- discussão; mas, em seu ensino ele
mem para com Deus e o amor de é resolutamente calvinista, se-
Deus para com o homem. O ami- guindo o modelo dos antigos teó-
go íntimo de Boyce e co-funda- logos. Dr. Boyce procura escla-
dor do seminário, John A. recer as dificuldades relacionadas
Broadus, expressou seus própri- a doutrinas tais como: Adão — o
os sentimentos a respeito da teo- cabeça da raça humana, a eleição
logia de Boyce, a qual chamamos e a expiação; ele faz isso não para
calvinismo: ‘Foi um grande pri- silenciar aqueles que apreciam a
vilégio ser dirigido e instruído controvérsia, e sim para ajudar o
por um professor como Boyce, investigador sincero.
em estudar aquele sistema de ver- O Rev. E. E. Folk, no jornal
dade paulina que é tecnicamente Baptist Reflector (Refletor Batista)
chamada de calvinismo, que im- comentou sobre as habilidades de
pulsiona um estudante sincero a Boyce e seus frutos como professor
pensar de maneira profunda; e, de teologia:
quando persuadido por meio de Você tinha de conhecer bem
uma combinação de pensamento a sua própria teologia, pois, do
sistemático e experiência fervo- contrário, não poderia descrevê-
rosa, tal estudante é levado a sen- la perante o Dr. Boyce. E,
tir-se em casa entre os mais embora os jovens alunos fossem,
inspiradores e enobrecedores pon- em sua maioria, arminianos,
tos de vistas sobre Deus e o uni- quando chegavam no seminário,
verso que Ele criou. poucos continuavam seguindo
O legado que Boyce nos outor- esta teologia, pois, estando sob o
gou é a teologia bíblica expressa na ministério do Dr. Boyce, muitos
obra Abstract of Systematic Theo- dos jovens alunos se convertiam
logy (Sumário de Teologia Sistemá- às vigorosas opiniões calvinistas
tica), que não é nada mais do que o dele.
assunto de suas aulas — o puro cal- Boyce e Manly eram calvinistas
vinismo. convictos. E não eram os únicos. A
Em defesa do calvinismo de teologia deles não era algo incomum
Boyce, William A. Mueller, autor nos primeiros dias do Southern
de A History of Southern Baptist Baptist Theological Seminary (Semi-
Theological Seminary (Uma Histó- nário Batista do Sul). W. B. Johnson,
22 Fé para Hoje
o primeiro presidente da Convenção dever era pregar a verdade sem-
Batista do Sul (EUA), era calvinista, pre, conforme a encontrava na
assim como o eram R. B. C. Howell Palavra de Deus, e parar nesse
e Richard Fuller, segundo e terceiro ponto, sentindo que Deus cuida-
presidentes da Convenção. B. H. ria dos resultados (The Life of
Carroll, fundador do Seminário Ba- Patrick Hues Mell, p. 59).
tista do Sudoeste, em Fort Worth, Eu poderia continuar citando
Texas, também era calvinista. nomes e trechos de biografias de fun-
Patrick Hues Mell, presidente da dadores de nossa denominação que
Convenção Batista do Sul por 17 eram calvinistas comprometidos,
anos, foi um polêmico defensor do bem como firmes na evangelização.
calvinismo, mais do que qualquer Citarei apenas mais um nome: o Dr.
outra pessoa. J.A.Broadus,

A Sra. D. B. um grande
Fitzgerald, O único fundamento sobre o pregador e
hóspede por um dos fun-
vários anos
qual o calvinismo está edifica- dadores de
na casa de do é a absoluta e ilimitada nosso semi-
Patrick H. soberania de Deus. nário. Ele
Mell e mem- disse:
bro da Igreja  Aqueles que
Anthioc (em escarnecem
Oglethorpe, Geórgia), da qual ele era do que chamamos calvinismo po-
o pastor, recorda os esforços iniciais deriam também escarnecer do
de Mell na igreja: Mont Blanc. Não estamos obri-
Quando o Dr. Mell foi cha- gados a defender todas as opini-
mado para assumir o pastorado da ões e atitudes de Calvino; toda-
igreja, esta se encontrava em tris- via, não posso entender como
te estado de confusão. Ele disse alguém que compreende o grego
que certos membros estavam se do apóstolo Paulo ou o latim de
encaminhando ao arminianismo. Calvino ou de Turretin pode dei-
O Dr. Mell amava demais a ver- xar de ver que estes apenas inter-
dade, para respirar duas teologi- pretaram e formularam, de modo
as distintas ao mesmo tempo. A concreto, aquilo que os apósto-
igreja era batista e tinha de con- los ensinaram.
fessar doutrinas peculiares àque- Desejo resumir mencionando
las que a denominação lhe ensi- cinco coisas que não identificam o
nava. Por isso, com aquela calvinismo:
ousadia, clareza e vigor de lin- 1. O calvinismo não é antimis-
guagem que lhe eram caracterís- sionário; pelo contrário, fornece o
ticos, o Dr. Mell pregava aos alicerce bíblico para missões (Jo 6.37;
membros da igreja as doutrinas 17.20-21; 2 Tm 2.10; Is 55.10; 2
da predestinação, eleição, graça Pe 3.9,15).
soberana, etc. Ele disse que seu 2. O calvinismo não elimina a
O CALVINISMO ANIQUILA O EVANGELISMO? 23
responsabilidade do homem. Os ho- sacionalismo e ao movimento de
mens são responsáveis pela luz que Keswick, o calvinismo é o único
têm, quer seja a consciência (Rm sobre o qual podemos afirmar que é
2.15), quer seja a natureza (Rm 1.19- endêmico à história, ao ensino e à
20), quer seja a Lei escrita (Rm herança dos batistas. Até ao presen-
2.17-27), quer seja o evangelho (Mc te século, com seu pragmatismo, os
16.15-16). A incapacidade do ho- batistas do Sul e seus antecessores
mem para fazer o que é reto não o sempre foram calvinistas. O ressur-
isenta de responsabilidade, assim gimento do calvinismo em nossos
como a incapacidade de Satanás para dias é apenas um esforço para res-
fazer o que é reto também não o dei- taurar nossa antiga teologia, que
xa livre de responsabilidade. produzirá um resultado profundo
3. O calvinismo não torna Deus em nosso evangelismo.
injusto. Conceder a bênção da sal-
vação para inúmeros pecadores
Q UE RELAÇÃO EXISTE ENTRE O
indignos não é uma injustiça da par-
CALVINISMO E O EVANGELISMO?
te dEle para com o demais pecadores
indignos. Se um governador perdoa Primeiramente, devemos saber o
um criminoso culpado, está come- que é o evangelismo. O evangelismo
tendo injustiça para com os demais? é a comunicação da mensagem divi-
(1 Ts 5.9.) na e inspirada que chamamos evan-
4. O calvinismo não desanima gelho. É uma mensagem que pode
os pecadores convictos; em vez dis- ser definida em palavras, mas tem
so, lhes dá bons motivos para virem de ser comunicada com autoridade e
a Cristo. “Aquele que tem sede ve- poder. “Porque o nosso evangelho
nha” (Ap 22.17). O Deus que não chegou até vós tão-somente em
convence é o Deus que salva. O Deus palavra, mas, sobretudo, em poder,
que salva é o mesmo que escolheu no Espírito Santo e em plena con-
homens para a salvação e que os con- vicção” (1 Ts 1.5).
vida a desfrutar da salvação. O evangelho informa como
5. O calvinismo não desencoraja Deus, nosso Criador e Juiz, tornou
a prática da oração. Pelo contrário, seu Filho um Salvador de pecadores,
o calvinismo nos motiva a buscar a perfeito e disposto. O convite do
Deus, visto que Ele é o único que evangelho declara que Deus convida
nos pode salvar. A verdadeira ora- os homens a virem ao Salvador, com
ção é um impulso do Espírito Santo fé e arrependimento, e encontrarem
e, por esta razão, estará em harmo- perdão, vida e paz.
nia com a vontade de Deus (Rm E este é mandamento de Deus:
8.16). que creiamos em o nome de seu Fi-
O calvinismo tem caracterizado lho, Jesus Cristo, e amemos uns aos
os batistas autênticos, em sua histó- outros, conforme Ele nos ordenou (1
ria. De modo contrário ao movi- Jo 3.23). Jesus disse: “A obra de
mento liberal, ao movimento Deus é esta: que creiais naquele que
carismático, bem como ao dispen- por ele foi enviado” (Jo 6.29).
24 Fé para Hoje
Eis uma definição de evangeli- evangelista, disse-lhe que a doutrina
zar: (o ensino) é o propósito primordial
“Apresentar o Filho de Deus aos das Escrituras — “Toda a Escritura
homens pecadores, a fim de que po- é inspirada por Deus e útil para o
nham sua confiança em Deus, por ENSINO” (2 Tm 3.16). O evangelismo
intermédio de Cristo, e O recebam sem um alicerce doutrinário é uma
como seu Senhor e Salvador, para casa edificada sobre a areia (Mt 7.24-
servi-Lo como seu Rei, na comunhão 26). É semelhante a galhos sem
de sua igreja”. Você deve observar raízes, cortados e lançados no chão;
que esta definição inclui a Igreja. eles murcharão e morrerão. O
calvinismo possui alicerces doutriná-
rios para o evangelismo.
O EVANGELISMO PRECISA TER UM
O alicerce doutrinário do evan-
ALICERCE DOUTRINÁRIO
gelismo centralizado em Deus asse-
O alicerce doutrinário do evan- gura o seu sucesso. Primeiramente,
gelismo bíblico é tão importante à porque Deus, o Pai, tem algumas
evangelização como o esqueleto o é pessoas que são eleitas:
para o corpo humano. A doutrina a. João 13.18 — “Eu conheço
proporciona unidade e firmeza. O aqueles que escolhi”;
alicerce doutrinário produz o vigor b. João 15.16 — “Não fostes vós
espiritual que torna o evangelismo que me escolhestes a mim; pelo con-
capaz de suportar as tempestades de trário, eu vos escolhi a vós outros”;
oposição, sofrimento e perseguição c. Efésios 1.4 — “Assim como
que, com freqüência, acompanham nos escolheu, nele”;
o verdadeiro evangelismo e missões. d. 2 Tessalonicenses 2.13 —
Por conseguinte, a igreja que negli- “Deus vos escolheu desde o princí-
gencia o verdadeiro alicerce do pio para a salvação”.
evangelismo bíblico logo descobrirá e. João 6.37,39,44,64,65 —
que seus esforços perderam o vigor “Todo aquele que o Pai me dá, esse
e surgirão conversões falsas. A falta virá a mim.... E a vontade de quem
de um alicerce doutrinário prejudi- me enviou é esta: que nenhum eu
cará a unidade da igreja e abrirá as perca de todos os que me deu....
portas ao erro e à instabilidade em Ninguém pode vir a mim se o Pai,
todos os esforços evangelísticos. Fal- que me enviou, não o trouxer”.
tam-nos palavras para exaltarmos a Isto me parece uma garantia de
importância de um alicerce bíblico e sucesso!
ortodoxo no evangelismo autêntico, A segunda garantia de sucesso
centralizado em Deus. encontra-se no fato de que Deus, o
A doutrina molda o nosso desti- Pai, deu ao seu Filho, o grande Pas-
no. No presente, estamos colhendo tor, algumas ovelhas; e o grande
os frutos de um evangelismo que não Pastor fez expiação em favor das
se fundamenta nas Escrituras. O ovelhas que o Pai Lhe deu.
grande apóstolo Paulo, instruindo um A expiação sobre a qual falamos
jovem pastor a realizar a obra de um foi planejada — a cruz não foi um
O CALVINISMO ANIQUILA O EVANGELISMO? 25
acidente. Deus a planejou. Ele não se perguntou por que algumas pes-
estava dormindo, nem foi apanhado soas não crêem? Jesus responde esta
de surpresa pelos eventos que culmi- pergunta: “Vós não credes, porque
naram na cruz. Deus tinha um plano não sois das minhas ovelhas” (Jo
imutável, inalterável, que estava sen- 10.26).
do realizado. O apóstolo Pedro Ele descreveu duas característi-
declarou em sua primeira mensagem: cas de suas ovelhas: “As minhas
“Sendo este [Jesus] entregue pelo ovelhas ouvem a minha voz [disposi-
determinado desígnio e presciência ção de conhecer a vontade dEle]; eu
de Deus, vós o matastes, crucifican- as conheço, e elas me seguem [dis-
do-o por mãos de iníquos” (At 2.23). posição de fazer a vontade dEle]” (Jo
Os apóstolos não somente pro- 10.27).
clamaram esta verdade, mas também A verdade de que a expiação se
oraram a respeito dela. Escute a ora- realizou especificamente em favor
ção deles: “Porque verdadeiramente das ovelhas está em João 17. Veja
se ajuntaram nesta cidade contra o estas palavras da oração de Jesus:
teu santo Servo Jesus, ao qual ungis- “Assim como lhe conferiste au-
te, Herodes e Pôncio Pilatos, com toridade sobre toda a carne, a fim de
gentios e gente de Israel, para faze- que ele conceda a vida eterna a to-
rem tudo o que a tua mão e o teu dos os que lhe deste”; “É por eles
propósito predeterminaram; agora, que eu rogo; não rogo pelo mundo,
Senhor, olha para as suas ameaças e mas por aqueles que me deste, por-
concede aos teus servos que anunci- que são teus”; “Pai, a minha vontade
em com toda a intrepidez a tua é que onde eu estou, estejam tam-
palavra” (At 4.27-29). Na cruz, bém comigo os que me deste, para
Deus estava sendo o mestre de ceri- que vejam a minha glória que me
mônias. conferiste, porque me amaste antes
Jesus também ensinou que Deus, da fundação do mundo” (Jo 17.2,
o Pai, tinha um plano imutável, inal- 9,24).
terável, e poder para executá-lo. Este ponto de vista sobre o al-
“Porque eu desci do céu, não cance da expiação torna a cruz um
para fazer a minha própria vontade, lugar de vitória, pois aquilo que o
e sim a vontade daquele que me en- Pai planejou, o Filho adquiriu e orou
viou. E a vontade de quem me em seu favor. Isso está em harmonia
enviou é esta: que nenhum eu perca com a grande declaração contida na
de todos os que me deu; pelo contrá- profecia messiânica referente a vin-
rio, eu o ressuscitarei no último dia” da de Jesus: “Ele verá o fruto do
(Jo 6.38-39). “Eu sou o bom pas- penoso trabalho de sua alma e ficará
tor. O bom pastor dá a vida pelas satisfeito; o meu Servo, o Justo, com
ovelhas” (Jo 10.11). “Eu sou o bom o seu conhecimento, justificará a
pastor; conheço as minhas ovelhas” muitos, porque as iniqüidades deles
(Jo 10.14). levará sobre si” (Is 53.11).
Jesus deixou claro o motivo por Jesus ensinou esta mesma verda-
que alguns não crêem nEle. Você já de em João 6.37: “Todo aquele que
26 Fé para Hoje
o Pai me dá, esse virá a mim; e o o bom pastor; conheço as minhas
que vem a mim, de modo nenhum o ovelhas, e elas me conhecem a mim,
lançarei fora”. Jesus não disse que assim como o Pai me conhece a mim,
eles talvez virão; que seria ótimo se e eu conheço o Pai; e dou a minha
viessem; que, se decidirem, eles vi- vida pelas ovelhas” (Jo 10.11,14,15).
rão; pelo contrário, Jesus declarou: 3. Jesus orou em favor de todos
Eles virão. Este é um elemento im- aqueles que o Pai Lhe deu: “Assim
portante na mensagem da cruz, a como lhe conferiste autoridade so-
mensagem de nosso evangelismo. bre toda a carne, a fim de que ele
Significa que a morte de Cristo não conceda a vida eterna a todos os que
foi em vão. Pelo contrário, esta ver- lhe deste”; “É por eles que eu rogo;
dade nos diz que todos aqueles em não rogo pelo mundo, mas por aque-
favor dos quais Cristo morreu, para les que me deste, porque são teus”
salvá-los, esses virão a Ele. É inte- (Jo 17.2,9).
ressante observar que, ao anunciar a Esta é a mensagem da cruz que
José o nascimento de Jesus, o anjo você tem ouvido? É a mensagem de
foi diretamente neste ponto: “Ela dará um Cristo cuja morte não foi em vão
à luz um filho e lhe porás o nome de e que cumprirá tudo que foi planeja-
Jesus, porque ele salvará o seu povo do? Ou você ouviu uma mensagem
dos pecados deles” (Mt 1.21). de um Jesus insignificante, impoten-
Observe que o anjo afirmou: te, patético e, às vezes, efeminado,
“Salvará o seu povo”. Ele não dis- que tornou a salvação possível e está
se: “Cada pessoa”, e sim: “O seu assentado, passivamente, esperando,
povo” — as ovelhas. para ver o que os pecadores farão
Deus usou o fato de que tinha com Ele?
algumas pessoas, algumas ovelhas, Isto não é apenas uma ênfase di-
para estimular a evangelização da ferente. É uma mensagem evange-
ímpia cidade de Corinto. O grande lística de conteúdo diferente. O
apóstolo estava com receio de ir a evangelho bíblico está centralizado
Corinto, e Deus o encorajou, dizen- em Deus, honra a Deus e abençoa os
do: “Não temas; pelo contrário, fala pecadores. O evangelismo centrali-
e não te cales; porquanto eu estou zado em Deus possui um alicerce
contigo, e ninguém ousará fazer-te doutrinário que lhe garante eficácia.
mal, pois tenho muito povo nesta ci- Se o seu conceito a respeito do calvi-
dade” (At 18.9,10). nismo destrói o evangelismo, ofere-
1. A vinda de Cristo ocorreu em ço-lhe a sugestão de que examine seu
favor de seu povo — “Ela dará à luz entendimento e estude os seguintes
um filho e lhe porás o nome de Je- livros: Evangelismo e Soberania de
sus, porque ele salvará o seu povo Deus, escrito por J. I. Packer (Edi-
dos pecados deles” (Mt 1.21). tora PES, São Paulo - SP); O Evan-
2. Seu pagamento na cruz se deu gelho de Hoje — Autêntico ou
em favor das ovelhas — seu povo: Sintético (Editora Fiel, São José dos
“Eu sou o bom pastor. O bom pas- Campos - SP), escrito por Walter
tor dá a vida pelas ovelhas.... Eu sou Chantry.
A ESCRAVIDÃO DA VONTADE 27

A ESCRAVIDÃO DA VONTADE
Michael Horton

““Eu o parabenizo, Erasmus, porque você sozinho, ao contrário dos


outros, atacou a coisa certa, isto é, o problema essencial. Você não me
tem entediado com aquelas divagações sobre papado, purgatório, in-
dulgências e coisas assim – tolices em vez de problemas... Você, e só
você tem visto o ponto para onde tudo converge, e direcionado para
um foco de vida”.
Martinho Lutero

S empre que pensamos sobre relação à hipocrisia, extravagância,


nossas diferenças com Roma, nós intolerância e irrelevância espiritu-
nos voltamos para a veneração de al da igreja.
imagens, a infalibilidade papal, o pa- Muitos evangélicos hoje pode-
pel mediador assegurado aos santos, riam ler Erasmus com proveito, es-
principalmente à Virgem Maria. E pecialmente considerando que
ainda, como Lutero combateu, o muitos problemas têm reaparecido.
ponto chave na Reforma era sobre a Contudo, Lutero estava insatisfeito,
questão: “Quem salva quem?”, “A não meramente com a desordem da
Escravidão da Vontade” de Lutero sala e a colocação da mobília, mas
foi a resposta a “Liberdade da Von- com a mobília propriamente dita.
tade” de Erasmus e estabeleceu o Erasmus estava convencido de
debate da reforma sobre o livre-ar- que discussão sobre coisas como li-
bítrio e a eleição, de uma forma mais vre-arbítrio e predestinação “deve-
veemente. riam ficar longe dos ouvidos
Desiderius Erasmus (1466- comuns”. Afinal, todos sabemos
1536), um humanista holandês, foi “quão grande é a apatia da humani-
uma das mais brilhantes luzes da dade em buscar a bondade divina e
Renascença. Como muitos humanis- tudo leva a crer que a eleição mina-
tas da Renascença (humanismo no rá a responsabilidade humana”, in-
sentido clássico é um bom termo, sistiu Erasmus. Lutero por outro
não pode ser confundido com hu- lado disse: “O Espírito Santo não é
manismo secular), ele foi cínico com cético”, argumentando que a Bíblia
28 Fé para Hoje
é clara nas coisas essenciais e que pelagianismo, e mais tarde ainda
cada crente é obrigado a entender o como arminianismo, isto não foi vis-
que Deus revelou. “Se nós não co- to como uma solução bíblica do pon-
nhecemos estas coisas”, Lutero de- to de vista de Lutero. As Escrituras
clarou “não podemos saber nada ensinam claramente, ele insistiu, os
sobre as coisas cristãs e seremos pi- seres humanos nascem espiritual-
ores que qualquer pagão”. A partir mente mortos, incapazes de respon-
do ponto em que Deus claramente derem a Deus favoravelmente por
se direcionou para a questão da elei- sua própria “vontade”, pois esta
ção e do livre-arbítrio, Lutero dis- vontade é escrava do pecado. Não é
se, “não é irreverente, inquisitivo como se a vontade do incrédulo fos-
ou supérfluo, mas essencialmente se inativa, todavia, é febrilmente
salutar e necessário para um cristão ativa em rejeitar a palavra de Deus
perceber se a vontade faz algo ou que a alma perdida considera boba-
nada em questões pertinentes a sal- gem.
vação eterna”. Portanto, o que o incrédulo re-
Este debate não é para aqueles quer não é mera excitação da von-
de estômagos fracos. O Reformador tade nem o chamar pela fé e
alemão não tinha tempo para os obediência, mas o sobrenatural ato
“Epicureus amantes da paz” que da graça no qual Deus transpõe to-
amavam suas próprias polidez, ra- dos os obstáculos e muda o rebel-
zão, experiência, mais do que a ver- de pecador em direção a Ele,
dade. Na base crítica de Lutero está oferecendo-lhe a dádiva da fé
a sua convicção de que a teologia salvadora.
de Erasmus é centrada no humano. A “Escravidão da Vontade”
Assim como disse J. B. Philips a Nascido Escravo – Editora Fiel) foi
(Nascido
uma geração recente, “seu Deus é minha introdução à Reforma. Como
muito pequeno”, então Lutero disse um jovem estive lutando para enten-
a Erasmus, “suas idéias sobre Deus der as grandes verdades da Epístola
são todas muito humanas”. de Paulo aos Romanos; um amigo
Erasmus quis encontrar o meio da família passou adiante a suges-
termo entre dizer, de um lado, que tão e eu peguei uma cópia. E nunca
Deus nos salva sem a nossa coope- esquecerei o senso de relevância que
ração, e do outro lado, que nós nos experimentei quando este debate al-
salvamos (a nós mesmos). Um lado cançou as mesmas questões que eu
importa-se com a graça; o outro, vinha perguntando – e ouvido per-
com a natureza. Assim, Erasmus guntar – sobre o assunto.
propôs uma posição mediadora co- Porque “A Escravidão da Von-
nhecida como “cooperação” (lit. tade” foi escrito no calor da batalha,
“trabalhar junto”): Deus ofereceu a e contém toda aquela tendência po-
redenção; o homem deve cooperar lêmica que alguém espera de Lutero
com a graça exercitando seu livre- naquela época.
arbítrio. Conhecido (e condenado) Mas o que o leitor irá encontrar
antes de Erasmus como semi- de mais intrigante é a contempora-
A ESCRAVIDÃO DA VONTADE 29
neidade deste debate, pois os argu- ensinados, e se cremos, que não pre-
mentos de ambos os lados nunca cisamos saber estas coisas, a fé cristã
mudaram. é completamente destruída e as pro-
Uma vez que admitamos a coo- messas de Deus e toda a sua palavra
peração do homem na conversão e caem por terra; o maior e único con-
justificação no lado mais estreito, solo e certeza para os cristãos na
não haverá paz de consciência. A adversidade é que... Deus faz todas
questão sempre será: Quanto eu te- as coisas imutavelmente e que sua
nho que fazer? É por isso que Lutero vontade não poderá ser resistida,
responde: “Se, contudo, nós somos mudada ou impedida”.

ANDE EM OBEDIÊNCIA A DEUS


William Romaine

A ndar em obediência a Deus não significa cumprir a Lei,


como uma aliança de obras. Não é exigido que você faça isso.
Você não pode. Emanuel, seu divino Fiador, tomou sobre Si este
encargo. Visto que era impossível para você, uma criatura caída,
cumprir a Lei, de modo a ser justificado por ela, Ele mesmo veio
para cumpri-la. Ele honrou os preceitos da Lei por meio de sua
infinita obediência e magnificou as penalidades da Lei por meio
do seu inestimável sacrifício. Isto é justiça justificadora.
Por meio da fé na vida e na morte do Deus-Homem, você não
somente é liberto da culpa e da condenação, da maldição e do
inferno, mas também recebe o direito à vida e à glória. A Lei
agora está do seu lado, torna-se sua amiga e o inocenta; ela o
justifica e lhe dará a recompensa prometida à obediência. A Lei
nas mãos do seu Salvador tem somente bênçãos a lhe outorgar.
Você tem de recebê-la dos lábios dEle e obedecer-Lhe, não moti-
vado por qualquer esperança legal em relação ao céu ou por qual-
quer temor servil do inferno. Pois, se assim fosse, você estaria
novamente sob a aliança das obras.
Visto que você não está mais debaixo da Lei, e sim da graça,
esteja atento ao seu privilégio e rogue a Deus que lhe conceda
graça para viver de conformidade com esse privilégio. Você não
está sob a Lei, obrigado a guardá-la completamente, em sua pró-
pria pessoa; nem mesmo, no caso de falhar, está condenado por
ela e sob a sua terrível maldição. Você está sob a graça, um estado
de graça por meio da fé na obediência e nos sofrimentos de seu
bendito Fiador; você está sob o poder da graça, constrangido e
motivado pelo amor de Cristo.
30 Fé para Hoje

UTILIZE MÉTODOS,
MAS NÃO CONFIE NELES;
CONFIE EM DEUS
John Piper

Isto parece tão simples; e, como sidades. No entanto, não devemos


um princípio, é bastante simples. confiar em nosso trabalho, e sim em
Mas, na prática, nós, pecadores, so- Deus; pois, do contrário, sempre es-
mos inclinados a confiar nos meios e taremos ansiosos pelo fato de que
não em Deus. Faço planos freqüen- nossas necessidades não serão satis-
temente e percebo que meu entusias- feitas, se não pudermos trabalhar.
mo cresce ou diminui, à medida que Entretanto, se estamos confiando em
os planos são perspicazes ou não. Deus, não em nosso trabalho, e se
Isto é confiar em planos e não em Ele ordenar que percamos nosso tra-
Deus. Sem dúvida, Ele deseja que balho, podemos estar certos de que
utilizemos meios para realizar a sua Deus satisfará nossas necessidades;
obra. Todavia, é evidente que Deus assim, não precisaremos ficar ansio-
não deseja que confiemos nestes mei- sos. Eis a maneira como Müller
os. “O cavalo prepara-se para o dia apresentou o assunto:
da batalha, mas a vitória vem do SE-
NHOR” (Pv 21.31). Portanto, nossa Por que estou realizando este
confiança deve estar no Senhor e não trabalho? Por que estou envolvi-
em cavalos. “Uns confiam em car- do neste negócio ou nesta carrei-
ros, outros, em cavalos; nós, porém, ra? Em muitas instâncias, no que
nos gloriaremos em o nome do SE- diz respeito à minha experiência,
NHOR, nosso Deus” (Sl 20.7). que reuni no ministério entre os
A vida de George Müller foi crentes, durante os últimos 21
dedicada a comprovar esta verdade. anos, creio que a resposta seria:
Em certa ocasião, ele explicou como “Estou envolvido em minha vo-
esta verdade se relaciona à nossa vo- cação terrena para que tenha meios
cação. Devemos trabalhar para obter de conseguir as coisas necessári-
nosso sustento e suprir nossas neces- as da vida, para mim e minha fa-
UTILIZE MÉTODOS, MAS NÃO CONFIE NELES; CONFIE EM DEUS 31
mília”. No que se refere à voca- me na cama, por causa de enfer-
ção terrena dos filhos de Deus, midade, ou impedir-me, por cau-
este é o principal erro do qual sa de doença, idade avançada ou
resultam quase todos os demais falta de emprego, de obter o meu
erros nutridos por eles — não é pão de cada dia, por meio do tra-
bíblico nem correto estar envol- balho de minhas mãos, meus ne-
vido em um negócio, uma pro- gócios ou minha profissão, Ele
fissão, uma vocação apenas para mesmo providenciará o necessá-
ter meios de conseguir as coisas rio para mim”. (Uma Narrativa
necessárias à vida, pessoal e fa- de Algumas das Realizações do
miliar. Mas, devemos trabalhar, Senhor para com George Müller
porque é a vontade de Deus para — vol. 1, escrito por ele mesmo;
nós. Isto é evidente das seguintes Muskegon, Michigan, Dust and
passagens bíblicas: 1 Tessaloni- Ashes Publications.)
censes 4.11-12, 2 Tessalonicen-
ses 3.10-12 e Efésios 4.28. Esta verdade se aplica não so-
É verdade que o Senhor pro- mente à nossa vocação secular, mas
vê as necessidades da vida por a todas as áreas de nossa vida. Mo-
intermédio de nossa vocação se- mento após momento, usamos meios
cular. No entanto, esta não é A para manter nossa vida e realizar os
RAZÃO por que devemos trabalhar; propósitos de Deus (comida, telefo-
isto é bastante claro da seguinte ne, casa, remédios, carro, pedreiros,
consideração: se o possuirmos as médicos, etc.). Temos de aprender
coisas necessárias à vida depen- a lição de não confiar nestas coisas,
desse de nossa capacidade de tra- quando as usamos, e sim confiar em
balhar, nunca ficaríamos livres de Deus. Isto se aplica também ao pla-
ansiedade, pois sempre teríamos nejamento para a nossa igreja.
de perguntar a nós mesmos: “O Fazemos planos. Elaboramos orça-
que farei quando estiver velho e mentos. Ensinamos e aconselhamos.
não puder mais trabalhar? Ou A tentação permanente é a de confi-
quando, por causa de enfermida- armos nestas coisas e não em Deus,
de, for incapaz de ganhar o pão para agir com, por intermédio de ou
de cada dia?” No entanto, se, por sem estas coisas. Portanto, enquanto
outro lado, estamos envolvidos sonhamos a respeito de missões e de
em nossa vocação terrena, por- nosso ministério, utilizemos meios,
que é a vontade de Deus que tra- mas confiemos em Deus. As promes-
balhemos e que, fazendo isso, sas dEle são as únicas coisas seguras.
sejamos capazes de suprir nossas Todos os nossos meios são falíveis.
necessidades e de nossos queri- George Müller resumiu assim
dos, bem como ajudar os fracos, este princípio:
os doentes, os idosos, os necessi-
tados; assim, temos um motivo Este é um dos grandes segre-
excelente e bíblico para dizermos: dos relacionados ao serviço bem-
“Se agradar ao Senhor colocar- sucedido para o Senhor — traba-
32 Fé para Hoje
lhar como se todas as coisas de- de” (Fp 2.12-13). E conforme Pau-
pendessem de nossa diligência, lo também declara: “Mas, pela graça
mas, apesar disso, não depender de Deus, sou o que sou; e a sua gra-
do menor de nossos esforços, e ça, que me foi concedida, não se
sim das bênçãos do Senhor” (Nar- tornou vã; antes, trabalhei muito
rativa, vol. 2, p. 290). mais do que todos eles; todavia, não
eu, mas a graça de Deus comigo” (1
Ou, conforme a Bíblia o diz: Co 15.10).
“Desenvolvei a vossa salvação com Que o Senhor nos conceda estar-
temor e tremor; porque Deus é quem mos livres de toda ansiedade, enquan-
efetua em vós tanto o querer como o to confiamos nEle, em vez de confi-
realizar, segundo a sua boa vonta- armos nos meios que utilizamos.

PACTO
Em 1752, um grupo de homens apelidados “metodis-
tas”, entre os quais João Wesley, assinou o seguinte pacto,
que cada um colocou na parede de seu escritório.

Fica estabelecido entre nós, que assinamos este documento:


* que não ouviremos, nem procuraremos saber de más in-
formações a respeito uns dos outros;
* que, no caso de ouvirmos algum mal uns dos outros, não
seremos afoitos em acreditar;
* que tão logo seja possível, comunicaremos, oralmente ou
por escrito, à parte acusada, aquilo que ouvimos;
* que, enquanto não tivermos feito isso, não comunicare-
mos a qualquer outra pessoa uma só sílaba do que
ouvimos;
* que nem o mencionaremos, depois, a outra pessoa qual-
quer;
* que não faremos exceção a nenhuma destas regras, a não
ser que nos julguemos absolutamente obrigados, em reu-
nião do grupo, a fazê-lo.

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