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INTRODUÇÃO

Como bem sabemos o homem foi criado a fim de ter comunhão com o Criador. Contudo, devido ao seu

estado atual em pecado, o homem necessita de que Deus se revele a ele, mostrando-lhe as verdades acerca de Si,

do mundo, e do próprio homem, para que possa este voltar a ter comunhão novamente com o Criador. Para

satisfazer esta necessidade Deus revelou-se ao homem de tal forma que este pudesse entender mais sobre Ele e

Seus planos. Esta revelação está ao alcance do homem principalmente por meio do registro dela nas Escrituras

Sagradas.

Ora, o cristianismo está fundamentado na revelação de Deus, e sobre ela se apóia inteiramente. Toda

doutrina cristã está baseada na revelação escrita que Deus produziu por meio de homens vocacionados para isto.

De forma que conhecer a Bíblia é conhecer a vontade de Deus e Sua Pessoa. E ainda que este conhecimento não

implique imediatamente em conhecimento experiencial, não há como ter comunhão com Deus fora desta

revelação.

Diante disto tudo, é preciso que os crentes aprendam cada vez mais acerca das Escrituras a fim de

estarem cada vez mais dentro da vontade do Criador. Para tanto, apresentamos nesta revista dez estudos sobre as

Escrituras, os quais tem como propósito fazer com que os leitores entendam mais a respeito da revelação

entregue por Deus à humanidade.

Certamente cada estudo desta obra não é exaustivo em seu conteúdo, mas tenta esclarecer o essencial

sobre cada tema abordado. Quaisquer dúvidas que o leitor ainda possuir após a leitura dos textos, deverão ser

retiradas mediante pesquisa em outros materiais teológicos de linha reformada, ou por meio de pastores

calvinistas com os quais ele possa entrar em contato.

Deus abençoe seus estudos!

Rev. Dilvan Oliveira


Estud TÍTULOS págin
os as

Nº 1 REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL 04

Nº 2 INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 10

Nº 3 INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS 14

Nº 4 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS 17

Nº 5 INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS 20

Nº 6 A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS 22

Nº 7 CÂNON DAS ESCRITURAS 30

Nº 8 ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS 39

Nº 9 A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 41

Nº 10 A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS 44

2
REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL

Introdução

Antes de estudarmos todas as doutrinas de acordo com seus vários temas, faz-se necessário que
iniciemos com a questão das fontes de onde extrairemos estas doutrinas. Cada religião tem a fonte (ou fontes) de
onde procedem as suas crenças, e com o cristianismo não poderia ser diferente. Portanto, devemos entender bem
de onde é que surgiu cada verdade da religião cristã.
No nosso caso, afirmamos que todas as verdades espirituais são provenientes de revelações dadas pelo
Ser Supremo do universo, o qual se mostrou, por meio delas, a nós. Mas o que são estas revelações? O que
significa “Revelação” dentro do contexto da teologia cristã? “Revelação significa intrinsecamente a exposição
daquilo que anteriormente era desconhecido. Na teologia judaico-cristã, o termo é usado primariamente para a
comunicação da verdade divina de Deus para o homem ou seja: a Sua manifestação de Si mesmo e da Sua
vontade.” 1 Tradicionalmente, na teologia, a revelação divina tem sido classificada comumente como sendo de
dois tipos: Revelação Geral e Revelação Especial.

Revelação Geral

A Revelação Geral “é assim chamada porque chega a cada um de nós simplesmente por vivermos no
mundo de Deus. Deus tem se revelado desse modo desde o começo da história humana.” 2 Todo ser humano pode
contemplar esta revelação, e qualquer um tem acesso a ela, visto ela se dirigir a toda a humanidade. Ela tem em
vista “suprir a necessidade natural das criaturas quanto ao conhecimento do seu Deus”. 3 É importante que
entendamos que “a revelação geral está radicada na criação e nas relações gerais de Deus com o homem, é
dirigida ao homem como a criatura portadora da imagem de Deus, e visa a realização do fim para o qual o
homem foi criado, o que pode ser alcançado somente quando o homem conhecer a Deus e gozar comunhão com
Ele.”4
Como a revelação geral se apresenta ao ser humano? De qual forma o ser humano entra em contato com
ela? Vejamos a seguinte explicação: “A revelação geral não vem ao homem diretamente por comunicações

1
Carl F. H. Henry, Revelação Especial in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Editor, Walter A.
Elwell. São Paulo,Vida Nova, 2009, p 299.
2
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 626.
3
Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 39.
4
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 27.

3
verbais... Deus fala ao homem através de toda a sua criação, nas forças e nos poderes da natureza, na
constituição da mente humana, na voz da consciência, e no governo providencial do mundo em geral”.5
Apesar de satisfatório para conhecer alguns aspectos do Criador, a Revelação Geral não desempenha
mais sua função de modo perfeito e suficiente devido às seguintes razões:

1. O pecado maculou a Revelação Geral de tal forma que esta não mostra Deus clara e perfeitamente
como antes da entrada do pecado;
2. O homem já não consegue entender a Revelação Geral de forma correta devido à sua pecaminosidade.
Assim, ele não tem capacidade espiritual para ver claramente esta revelação deixada pelo Criador;
3. A Revelação Geral nada diz a respeito do perdão do pecado, ou sobre Cristo, ou sobre a salvação.
Portanto, ela é insuficiente para resgatar os pecadores e consumar os planos divinos.6

Base Bíblica: Sl 19:1, 2; At 14:17; Rm 1:19, 20; Rm 2:14-15

Base Confessional:

• Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura Sagrada):

“Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade,
a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis...”

• Catecismo Maior (perg. 2) “Como podemos saber se existe um Deus?” Resposta: “A própria luz da
natureza no homem, e as obras de Deus, claramente testificam que existe um Deus...”7

Revelação Especial

Devido ao fato de a Revelação Geral ser insuficiente aos propósitos divinos, aprouve a Deus apresentar
a Revelação Especial a fim de levar adiante seu plano eterno para o mundo. Podemos explicar a Revelação
Especial nos seguintes termos: “A revelação especial está arraigada no plano de redenção de Deus, é dirigida ao
homem na qualidade de pecador, pode ser adequadamente compreendida e assimilada somente pela fé, e serve
ao propósito de assegurar o fim para o qual o homem foi criado a despeito de toda a perturbação produzida pelo
pecado.”8
Os meios pelos quais a Revelação Especial se apresentou podem ser reduzidos, de forma geral, a três
tipos:

1. Teofanias ou manifestações de Deus :

a. Fogo e nuvens de fumaça (Gn 15:17; Ex 3:2; 19:9, 16, 17; 33:9; Sl 78:14; Sl 99:7);
b. Nos ventos tempestuosos (Jó 38:1; 40:6; Sl 18:10-16);
c. Anjo do Senhor (distinto de Deus - Ex 23:20-23; Is 63:8, 9; identificado com Deus - Gn 16:13;
31:11-13; 32:28);
d. Encarnação de Cristo (Cl 1:19; 2:9).9

2. Comunicações diretas:

a. Voz audível (Gn 2:16; 3:18, 19; 4:6-15; Ex 19:9; Dt 5:4; 1Sm 3:4);
b. A sorte e o Urim e Tumim (1Sm 10:20, 21; 1Cr 24: 5-31; Ne 11:1; Nm 27:21; Dt 33:8);
c. Sonho (Nm 12:6; Dt 13:1-6; 1Sm 28:6; Jl 2:28);
d. Visão (Is 6; 21:1; Ez 1-3; 8-11; Dn 1:17; 2:19; 7-10; Am 7:1-9).10

3. Milagres:

5
Ibid, p 29.
6
Ibid, p 30, 31.
7
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura Cristã, 1999, p 1.
8
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 39.
9
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 34.
10
Ibid, p 34.

4
“De acordo com a Escritura, Deus também Se revela pelos milagres. É especialmente deste ponto
de vista que os milagres da Escritura devem ser estudados... Eles são, acima de tudo, manifestações
de um poder especial de Deus, sinais de Sua presença especial, e servem, com freqüência, para
simbolizar verdades espirituais. Como manifestações do reino vindouro de Deus, tornam-se
subservientes à grande obra da redenção... Eles confirmam as palavras da profecia e apontam para
uma nova ordem que está sendo estabelecida por Deus.”11

Como se pode observar, a Revelação Especial é diferente da Revelação Geral na forma de se apresentar
ao homem, e igualmente diferente em seu conteúdo:

“A revelação especial não serve, simplesmente, ao propósito de comunicar ao homem algum


conhecimento geral de Deus. Descobre ao homem o conhecimento específico do plano divino para a
salvação dos pecadores; da reconciliação de Deus e dos pecadores por meio de Jesus Cristo; do caminho
da salvação aberto por Sua obra redentora, da influência transformadora e santificadora do Espírito
Santo, e das exigências divinas para os que participam da vida do Espírito.”12

Como está claro, a Revelação Especial é indispensável ao ser humano a fim de que este possa sair de
seu estado de pecado e entrar em comunhão com o Criador. Ou seja, a Revelação Especial tem importância
imensurável por se tratar de verdades que mudarão a situação eterna do homem. É por esta causa que Deus fez
com que se registrasse esta revelação a fim de que fosse preservada pelos séculos durante a história humana, sem
os perigos de ser perdida com o passar do tempo, ou ser “adulterada por idéias humanas”. Podemos então falar
da relação entre a Escritura e a Revelação Especial da seguinte forma:

“Em geral pode-se dizer que a revelação especial de Deus assumiu uma forma permanente na Escritura,
e foi assim preservada para a posteridade. Deus quis que Sua revelação fosse o Seu falar perene para
todas as gerações sucessivas dos homens; e tinha, pois, de guardá-la contra a perda, corrupção e
falsificação. E Ele o fez provendo-lhe um registro infalível e vigiando-o com cuidado providencial.”13

Evidentemente nem tudo que fez parte da Revelação Especial está escrito nas Escrituras (Jo 20:30-31),
porém, tudo que foi escrito é suficiente para as necessidades humanas, e suficiente para o homem cumprir os
seus deveres para com Deus (2Tm 3:16, 17).

Base Bíblica: 2Rs 17:13; Sl 103:7; Jo 1:18; Hb 1:1, 2; 1Co 2:9, 10; 1:21

Base Confessional:

• Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura Sagrada):

“Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a
bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são
suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por
isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua
Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o
mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de
Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a
Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu
povo.”

• Catecismo Maior: (perg. 2) “Como podemos saber se existe um Deus?” Resposta: “... só a sua
Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo suficiente e eficaz, aos homens, para a sua
salvação.”14

Conclusão

11
Ibid, p 35.
12
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 36.
13
Ibid, p 38.
14
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 1.

5
Certamente Deus não revelou tudo acerca de Si mesmo, mas o que revelou é suficiente para suprir
nossas necessidades como criaturas espirituais que precisam de comunhão com Ele. Mesmo porque, ainda que
Ele viesse a revelar-Se plenamente a nós, não poderíamos compreendê-lo, pois somos finitos. “Deus é O
Incompreensível. O homem não pode conhecê-lO como Ele é nas profundezas de Seu ser divino”. 15 O Senhor
está tão acima de nós que por mais que quiséssemos conhecer mais dEle, nunca conseguiríamos chegar a um
conhecimento completo:

“Não só é verdade que jamais poderemos compreender plenamente a Deus; é verdade também que
jamais poderemos compreender plenamente nem mesmo uma só coisa acerca de Deus. Sua grandeza
(Sl 145:3), seu entendimento (Sl 147:5), seu conhecimento (Sl 139:6) sua riqueza, sabedoria, juízos e
caminhos (Rm 11:33) estão todos além da nossa capacidade de compreensão plena.”16

Todavia, o conhecimento que temos por meio da Revelação Geral e por meio de Revelação Especial
não somente podem dar a alegria de salvação àqueles que O conhecem e O aceitam pela fé. O acesso a estas
Revelações torna os pecadores ainda mais culpados caso não se rendam a elas. Ou seja, quanto mais acesso ao
conhecimento de Deus, mais culpável o homem fica diante dEle ao recusá-lO.
Mas o que dizer daqueles que nunca tiveram acesso à Revelação Especial? Como poderão ser
condenados por não seguir a um Deus que nem chegaram a conhecer devidamente? A questão é que somos
condenados não por causa dos nossos pecados presentes, mas pelo pecado em Adão. E em segundo lugar, a
Revelação Geral já é suficiente para tornar alguém culpado diante do Senhor. Vejamos a seguinte explanação:

“... Ele ativamente revela esses aspectos de si mesmo a todos, de modo que deixar de agradecer e servir
ao Criador é sempre um pecado contra o conhecimento. No final, nenhuma negação de termos recebido
esse conhecimento será admitida. Paulo usa a revelação universal do poder e da bondade de Deus como
base para a sua acusação contra toda a raça humana como pecadora e culpada diante de Deus, por causa
do nosso fracasso em servi-lo como devemos (Rm 1:18-3:19).”17

INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

Introdução

Ainda que saibamos que Deus decidiu revelar-se ao homem de forma mais eficiente por meio da
Revelação Especial, precisamos entender que Ele ainda resolveu registrar esta Revelação a fim de que
tivéssemos o seu conteúdo fiel. Para que o conteúdo destes registros fosse realmente fiel à Revelação Especial,
Deus fez os escritores sagrados registrarem por meio de um processo que a teologia denomina de Inspiração. É
sobre isto que nós vamos aprender hoje.

Teorias sobre a Inspiração

1. Natural: Não há qualquer elemento sobrenatural envolvido. A Bíblia foi escrita por homens de grande
talento.
2. Mecânica (teoria da ditação): Os autores bíblicos foram apenas instrumentos passivos nas mãos de
Deus, como máquinas de escrever com as quais Ele teria escrito.
3. Parcial: Somente o não conhecível foi inspirado (e.g., criação, conceitos espirituais).
15
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 26.
16
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 102.
17
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 626.

6
4. Conceitual: Os conceitos, não as palavras, foram inspirados.
5. Gradual: Os autores bíblicos foram mais inspirados que outros autores humanos.
6. Neo-ortodoxa: Autores humanos só poderiam produzir um registro falível.18
Conceito de Inspiração: “Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores humanos da
Bíblia de modo a, usando suas próprias personalidades e estilos, comporem e registrarem sem erro as palavras de
Sua revelação ao homem. A inspiração se aplica apenas aos manuscritos originais (chamados de autógrafos).”19

Provas Bíblicas da Inspiração

• Os escritores do Velho Testamento repetidas vezes receberam determinação para escrever o


que o Senhor lhes ordenou (Ex 17:14; 34:27; Nm 33:2; Is 8:1; Jr 25:13; 30:2; Ez 24:1; Dn
12:4; Hb 2:2);
• Os profetas estavam conscientes de que eram portadores de uma mensagem divina, e por isso a
introduziram por tais fórmulas como: “Assim diz o Senhor”; “A Palavra do Senhor veio a
mim”... Estas fórmulas se referem freqüentemente à palavra falada, mas são também usadas
em relação com a palavra escrita (Jr 36:27; 32; Ez 26, 27, 31, 32, 39);
• Os escritores do Novo Testamento freqüentemente citam palavras do Velho Testamento como
palavras de Deus ou do Espírito Santo (Mt 15:4; Hb 1:5; 3:7; 5:6; 7:21; etc);
• Paulo fala de suas próprias como palavras ensinadas pelo Espírito (1Co 2:13), e afirma que
Cristo está falando nele (2Co 13:3). Sua mensagem aos Tessalonicenses é a palavra de Deus
(1Ts 2:13);20
• A inspiração foi tanto verbal (se estende até a escolha das palavras - tanto Jesus quanto Paulo
utilizaram uma linha de argumentação onde dependiam de uma só palavra do texto (Mt 22:43-
45; Gl 3:16)21, quanto plenária (diz respeito a todos os livros das Escrituras - 2Pe 1:20-21);
• Paulo em (2Tm 3:16) afirma que toda Escritura é inspirada por Deus (soprado por Deus);
• Pedro afirma igualmente que nenhuma profecia foi dada por homens, mas foi produto da obra
do Espírito Santo nos escritores (2Pe 1:20-21).

Devemos esclarecer que apesar de toda a Escritura ser inspirada e ser a Palavra de Deus para nós, isto
não significa que tudo nela é de igual “importância”. Vejamos a seguinte explanação:

“Creio que as narrativas e declarações de Gênesis e as genealogias em Crônicas, foram tão


verdadeiramente escritos por inspiração como os Atos dos Apóstolos. Creio que a mensagem de Paulo
sobre a capa e os pergaminhos foi escrita sob direção divina tanto como o vigésimo capítulo de Êxodo,
o décimo sétimo de João ou o oitavo de Romanos. Seja lembrado que não estou dizendo que todas essas
partes da Bíblia sejam de igual importância para nossas almas. Nada disso! O que eu digo é que todas
elas foram igualmente inspiradas.”22

Base Confessional:

• Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA):

Seção II - Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os
livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus
para serem a regra de fé e prática: O VELHO TESTAMENTO: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II
Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías,
Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas,
Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; O NOVO TESTAMENTO:
Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, ITessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito,
Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas, Apocalipse.
18
Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, p 1624.
19
Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, p 1624.
20
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 40.
21
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 45.
22
J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d, p 11.

7
Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.

Seção III - Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem
parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo
algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.

Seção IV - A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não
depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma
verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.

Seção V - Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço
da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a
majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus
toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras
excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se
evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível
verdade e divina autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com
a Palavra, testifica em nosso coração.

Seção VIII - O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo
Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele
foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência
conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias
religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas
línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve,
no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de
todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas
abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e
conforto das escrituras.

8
INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

Introdução

Tendo aprendido que as Escrituras foram Inspiradas por Deus de forma verbal e plenária, podemos
estudar agora as demais características da Escrituras que são o resultado desta Inspiração, sendo a primeira delas
a Inerrância.

Conceito de Inerrância

1. “Por inerrância das Escrituras entende-se que as Escrituras nos manuscritos originais não afirmam nada
contrário aos fatos”.23

2. “A inerrância é o ponto de vista de que, quando todos os fatos forem conhecidos, demonstrarão que a
Bíblia, nos seus autógrafos originais e corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e nunca
falsa, em tudo quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências sociais,
físicas ou biológicas.”24

Provas da Inerrância

Quando estudamos sobre a Inspiração das Escrituras nós vimos que todas as palavras escritas pelos
escritores bíblicos foram dirigidas e selecionadas pelo Espírito Santo. Desta forma, a Revelação Especial foi
guardada de erros humanos. É por isto que nós cremos que as Escrituras são Inerrantes. Deus por meio da
Inspiração, não permitiu que os escritores cometessem algum erro, seja ele de natureza teológica, histórica,
científica... Além disto, a favor da doutrina da inerrância bíblica podemos afirmar que sendo Deus um Ser que
não mente, não usa de falsidade ou de engano (2Sm 7:28; Tt 1:2; Hb 6:18; Nm 23:19; Sl 119:160; Jo 14:6;
17:17), Suas palavras Inspiradas não podem conter inverdades. Ainda podemos acrescentar o fato de que a
própria Bíblia afirma sua Inerrância em seus textos:

“Fora de dúvida, a Bíblia expressa possuir inerrância. De que outra maneira poderíamos explicar o fato
de Cristo ter reivindicado para as própria letras que formam as palavras da Escritura um caráter
permanente, irrevogável: ‘Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um
til passará jamais da lei, até que tudo de cumpra” (Mt 5:18)?... Em outras palavras, o Senhor estava
afirmando que cada letra, ou cada palavra é importante, e que o Antigo Testamento seria cumprido
exatamente como fora soletrado, letra por letra, palavra por palavra.”25 E igualmente faz argumentos
baseado em uma única palavra da Escritura (Mt 22:32; Mt 22:41-46; Jo 10:34), como também o fez
Paulo (Gl 3:16);

Esclarecimentos quanto ao Conceito de Inerrância Bíblica

1. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim empregar a linguagem comum da fala cotidiana. Isso
diz respeito principalmente às descrições “científicas” ou “históricas” de fatos ou eventos. A Bíblia
pode falar que o sol nasce e a chuva cai porque, pela ótica de quem fala, é exatamente isso que ocorre...
Não nos deve incomodar afirmar que a Bíblia é absolutamente fidedigna em tudo o que diz e também
que emprega linguagem corriqueira para descrever fenômenos naturais ou para fornecer números
aproximados ou redondos quando apropriados às circunstâncias... As declarações bíblicas podem ser

23
Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 59.
24
P. D. Feinberg, Inerrância e infalibilidade da Bíblia, in Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã.
Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 180.
25
Charles C. Ryrie, A Inspiração da Bíblia, in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p 1647.

9
imprecisas e, ainda assim, totalmente verdadeiras. A inerrância diz respeito à fidedignidade, não ao grau
de precisão com que os fatos são relatados.26

2. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim conter citações vagas ou livres. O jeito de uma pessoa
citar as palavras de outra é um procedimento que, em grande parte, varia de cultura para cultura. Na
cultura ocidental contemporânea, costumamos citar textualmente as palavras da pessoa quando as
colocamos entre aspas (chamamos a isso citação direta). Mas quando empregamos a citação indireta
(sem aspas), espera-se um relato preciso limitado apenas à essência da declaração...O grego escrito da
época do Novo Testamento não possuía aspas ou sinais equivalentes de pontuação, e uma citação exata
de outra pessoa precisava incluir apenas uma representação correta do conteúdo dito por ela.27

3. O que não foi ainda explicado não significa que seja inexplicável. É um erro presumir que, o que
ainda não foi explicado, nunca o será um dia.28

4. Não se pode dizer que a Bíblia é falha quando na verdade a interpretação é que está incorreta.29

5. Um relato parcial não é um relato falso. Ocasionalmente, a Bíblia expressa a mesma coisa de
diferentes modos, ou pelo menos de diferentes pontos de vista, em tempos distintos. (Mt 16:16; Mc
8:29; Lc 9:20).30

6. Afirmar que a Bíblia erra quando existem diferenças entre narrações de um fato é um equívoco
que não pode ser levado adiante. Pelo simples fato de divergirem entre si duas ou mais narrações do
mesmo acontecimento, isso não significa que elas sejam mutuamente exclusivas (Mt 28:5; Jo 20:12).31

7. Na Bíblia encontramos diversos recursos literários. Portanto, não constitui erro o autor bíblico fazer
uso de uma figura de linguagem (metáforas – 2Co 3:2-3; Tg 3:6/comparações – Mt 20:1; Tg
1:6/figuras poéticas – Jó 41:1/ sátira – Mt 19:24; 23:24).32

A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

Introdução

Em decorrência da doutrina da Inspiração das Escrituras segue-se que todo ser humano deve dar
ouvidos a elas, pois se constituem Palavras de Deus. No tempo de hoje, onde muita gente parece “escolher o que
vão ou não obedecer” das ordenanças bíblicas, bem como “decidem em quais doutrinas vão crer” simplesmente
por vontade própria, um estudo sobre a Autoridade das Escrituras se faz altamente necessário.

26
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 59, 60.
27
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 60.
28
Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. São Paulo, Mundo
Cristão, 1999, p 18.
29
Ibid, p 19.
30
Ibid, 24.
31
Ibid, 25.
32
Ibid, p 27.

10
Conceito de Autoridade das Escrituras

Primeiramente devemos observar alguns conceitos sobre Autoridade da Bíblia a fim de esclarecermos o
assunto:

1. “O princípio cristão da autoridade bíblica significa que Deus é o autor da Bíblia e deu-a para dirigir a
crença e o comportamento do seu povo. Nossas idéias a respeito de Deus e da nossa conduta devem ser
medidas, testadas e, onde necessário, corrigidas e ampliadas de acordo com a Bíblia, como padrão de
referência. Autoridade é também o direito de ordenar. A Palavra escrita de Deus, em sua verdade e
sabedoria, é o meio que Deus escolheu para exercer o seu governo sobre nós, e as Escrituras são o
instrumento do senhorio de Cristo sobre a Igreja.”33

2. “A autoridade das Escrituras significa que todas as palavras nas Escrituras são palavras de Deus, de
modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou desobedecer a ela é não crer em Deus ou
desobedecer a ele.”34

Há uma frase muito conhecida entre os cristão evangélicos que diz: “A Bíblia é nossa única regra de fé
e prática”. Esta é uma frase por demais feliz, pois declara com precisão a única autoridade sobre a vida
espiritual do ser humano. A Igreja do Senhor se afastou durante anos das Escrituras, e junto a elas acrescentou
várias heresias e tradições humanas e mundanas. Em chegando a Reforma, alguns retornaram ao verdadeiro
caminho deixado por Jesus e seus apóstolos. Desta forma, a Bíblia voltou a ser a única autoridade sobre suas
vidas.
Não é que os reformadores deram autoridade à Bíblia, eles simplesmente reconheceram sua autoridade
por ser a Palavra divina a nós. “Os reformadores acentuaram o fato de que a Escritura tem autoridade inerente
em virtude de sua inspiração pelo Espírito Santo. A Bíblia deve ser crida por causa de si mesma; É a Palavra
inspirada de Deus, e portanto dirige-se ao homem com autoridade.”35 Não precisa da aprovação humana para ter
autoridade. Ela tem autoridade devido à sua fonte - Deus.

Provas Bíblicas da Autoridade das Escrituras

Podemos confirmar que a Bíblia tem autoridade divina por diversas maneiras:

1. Os profetas afirmavam: “Assim diz o Senhor”: Is 1:2; 3:16; Jr 51:1; Ez 28:1,11,20; 47:13; Am 1:9; Jl
2:12; Ob 1:1; Mq 4:6; Na 1:12; Hc 2:2; Sf 3:8; Ag 1:2; Zc 1:3; Ml 1:2;
2. Deus fala por “intermédio” do profeta: 1Rs 14:18; 16:12,34; 2Rs 9:36; 14:25; Jr 37:2; Zc 7:7, 12; Mt
4:4; Mt 1:22; Mt 19:5; Mc 7:9-13; At 1:16; At 2:16-17;
3. O Novo Testamento afirma que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus: 2Pe 1:20, 21; 2Tm 3:16,17;
4. O Novo Testamento é reconhecido como Palavra divina: 2Pe 3:16; 1Co 14:37;36

O Espírito Santo e a Autoridade das Escrituras

Apesar de a Bíblia afirmar sua própria autoridade, os seres humanos não aceitarão sua autoridade a
menos que o Espírito Santo os convença disto. Só Ele nos abrirá os olhos espirituais para reconhecer que as
Palavras da Bíblia são “o próprio Deus falando”: “Nossa convicção definitiva de que as palavras da Bíblia são
palavras divinas vem apenas quando o Espírito Santo fala ao nosso coração nas palavras da Bíblia e por
intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas são as palavras de nosso Criador falando
conosco.”37 Veja o seguinte texto (1Co 2:13,14).
Durante a história da Igreja algumas pessoas quiseram comprovar a autoridade de Bíblia apelando para
argumentos diferentes daqueles que ela mesma oferece a respeito de si. Isto é um trabalho inútil, apesar de bem
intencionado. Observe a explicação abaixo:

“As palavras das Escrituras são autocorroborantes. Elas não podem ser “comprovadas” como
palavras de Deus apelando-se a alguma autoridade superior. Pois caso se apelasse a uma autoridade
superior (por exemplo, exatidão histórica ou coerência lógica) como recurso para provar que a Bíblia é a
33
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 1453.
34
Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 44.
35
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 45.
36
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 44-47.
37
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 48.

11
Palavra de Deus, então a própria Bíblia deixaria de ser a nossa autoridade mais alta ou absoluta e ficaria
subordinada em matéria de autoridade àquilo a que apelássemos a fim de provar que ela é a Palavra de
Deus. Se no final das contas apelamos à razão humana, ou à lógica, ou à exatidão histórica, ou à
verdade científica como autoridade pela qual se demonstra que as Escrituras são as palavras de Deus,
então estamos pressupondo que a coisa para a qual apelamos é uma autoridade superior às palavras de
Deus e também mais verdadeira ou mais confiável”.38

Base Confessional (Confissão de Fé de Westminster)

CAPÍTULO I
DA ESCRITURA SAGRADA

Seção III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon
da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou
empregados senão como escritos humanos.

Seção IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do
testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor;
tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.

Seção V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura
Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia
de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único
meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são
argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena
persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do Espírito Santo
que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso coração.

Seção X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão
examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de
homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão
o Espírito Santo falando na Escritura.

INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS

Introdução

Como temos visto, a doutrina da Inspiração traz como conseqüências várias outras doutrinas a cerca
das Escrituras. Vimos assim a doutrina da Inerrância, Autoridade, e agora a doutrina da Indispensabilidade. O
raciocínio é o seguinte: Se a Bíblia é Inspirada, como poderia conhecer as verdades de Deus a não ser nela? Qual
fonte seria confiável tanto quanto as Escrituras Inspiradas? Por isto elas se tornam indispensáveis. Por isto
mesmo Deus usou do processo da Inspiração, para evitar erros quanto às verdades da Sua Revelação.

Conceito de Indispensabilidade:

“Dizer que as Escrituras são necessárias significa dizer que a Bíblia é necessária para conhecer o
evangelho, para conservar a vida espiritual e para conhecer a vontade de Deus, mas não que seja
necessária para saber que Deus existe ou para saber algo sobre o caráter e sobre as leis morais de
Deus.”39

Provas Bíblicas da Indispensabilidade

38
Ibid, p 49.
39
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 77.

12
A doutrina da indispensabilidade conceituada acima pelo teólogo Wayne Grudem, longe de ser uma
doutrina humana, procede da revelação bíblica. Vejamos como este teólogo prova biblicamente a veracidade
deste assunto:

• As Escrituras são necessárias para se conhecer o evangelho (Rm 10:13-17);


• As Escrituras são necessárias para sustentar a fé espiritual (Mt 4:4; Dt 32:47; 1Pe 2:2);
• As Escrituras são necessárias para o conhecimento seguro da vontade de Deus:

E ainda:

“... Todas as pessoas nascidas na terra têm algum conhecimento da vontade de Deus por intermédio da
sua consciência. Mas esse conhecimento é muitas vezes indistinto e não pode proporcionar certeza. Na
verdade, se não existisse a Palavra escrita de Deus, não poderíamos alcançar a certeza da vontade de
Deus por nenhum outro meio, fosse consciência, conselhos de outras pessoas, testemunho íntimo do
Espírito Santo, mudanças das circunstâncias ou o uso da razão e do bom senso santificados. Todos esses
meios podem proporcionar uma aproximação da vontade de Deus de modos mais ou menos confiáveis,
mas por meio deles seria simplesmente impossível obter a certeza acerca da vontade de Deus, pelo
menos num mundo caído onde o pecado distorce nossa percepção do certo e do errado, introduz
raciocínios falhos nos nossos processos mentais e nos faz suprimir de tempos em tempos o testemunho
da nossa consciência (cf. Jr 17.9; Rm 2.14-15; 1Co 8.10; Hb 5.14; 10.22; também 1Tm 4.2; Tt 1.15).”40

Ainda devemos compreender que a Revelação Geral se tornara ineficiente quanto à sua função de
manifestar a glória de Deus. E mesmo que ela ainda fosse perfeita não poderia salvar o homem de seu estado de
pecado. Por isto as Escrituras são indispensáveis para o homem.

Base Confessional:

• Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA):

Seção I – “Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo
manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo
não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a
salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e
declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da
verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e
malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura
Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu
povo.”

Seção VI – “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e
para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica
e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas
revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a
íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na
Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum
às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência
cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.”

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

Introdução

• Quando houve a Reforma Protestante nós demos um salto importantíssimo para fora das heresias que
existiam dentro da Igreja. Os reformadores gritaram sem hesitar “Sola Scriptura” (somente a Escritura)!
E foram muito criticados por isto.

40
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. p 79, 80.

13
• O tempo foi passando, e ao invés de os protestantes terem continuado unidos nesta verdade, começaram
a ingressar em um novo tipo de heresia (que na verdade não é novo, pois já ocorreu na história da igreja
em anos anteriores) – a heresia das novas revelações.

• Hoje nós vemos tantos absurdos ocorrerem por causa desta “doutrina” que tornou-se até motivo de
piada o que profetizam muitas vezes nas reuniões deles.

• Apesar de triste, esta doutrina ainda se faz muito perigosa para nós reformados devido à facilidade da
aceitação da doutrina por parte dos membros de nossas igrejas.

• É por isto que se torna indispensável o estudo da Suficiência da Escritura a fim de combater as ilusões
destas heresias na vida de nossas ovelhas.

• Em primeiro lugar devemos apresentar alguns conceitos que demonstrem o que é a Suficiência das
Escrituras segundo a teologia. E em seguida tentar continuar o nosso estudo provando a doutrina
biblicamente, observando a base confessional, e por último fazendo aplicações práticas desta verdade.

Conceito de Suficiência das Escrituras

Prestemos atenção nestes três conceitos de Suficiência das Escrituras a fim firmar em nossa mente a
idéia que eles querem passar a respeito do assunto:

1. “Os reformadores sustentaram a perfeição ou a suficiência da Escritura. Isto não significa que tudo que
foi falado ou escrito pelos profetas, por Cristo, e pelos apóstolos está contido na Escritura, mas
simplesmente que a palavra escrita é suficiente para as necessidades morais e espirituais dos indivíduos
e da Igreja. Esta posição envolve a negação de que haja ao lado da Escritura uma palavra de Deus não
escrita de autoridade igual, ou até mesmo superior.”41

2. “Dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém todas as palavras divinas
que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as
palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar
e a ele obedecer.”42

3. “Por completitude das Escrituras se entende que elas contêm todas as revelações existentes de Deus,
designadas a serem uma regra de fé e prática para a Igreja... a Bíblia contém todas as revelações de
Deus existentes, as quais ele designou para serem a regra de fé e prática para sua Igreja; de modo que
nada pode ser legitimamente imposto à consciência dos homens como verdade ou dever que não esteja
diretamente ensinado ou obrigatoriamente implicado nas Escrituras Sagradas.”43

Base Bíblica

Para que possamos perceber a legitimidade da doutrina da Suficiência das Escrituras vamos ver o que
diz suas páginas a este respeito:

• As Escrituras ordenam a nós que “Nada seja acrescentado a ela”: (Dt 4:2; 12:32; Pv 30:5, 6; Ap 22:18-
19);

• Há textos que afirmam que a Bíblia é suficiente para o povo de Deus: (2Tm 3:16, 17; Gl 1:8; Is 8:20);

• Há textos que provam que ela é suficiente para levar a salvação ao pecador perdido (Lc 16:27-31; 2Tm
3:15; Rm 10:14-17);

• O testemunho bíblico mostra por diversas vezes que Jesus e os apóstolos utilizavam a Bíblia para
fundamentar várias conclusões teológicas, e fundamentar suas pregações: (Paulo - At 17:2-3; At 18:28;
41
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 47.
42
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, p 86.
43
Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 136, 137.

14
At 26:22; Jesus - Mt 4:4, 7, 10; Mt 15:1-9; Mt 16:4; Mt 19:4, 5; Mt 22:23-33; Mt 22:34-40; Mt
22:41-46; Lc 10:25-26; Lc 24:27; Lc 24:44-46; Pedro – At 2:16-21, 25-28, 34,35; At 3:11-26);

• Nem Jesus, nem os profetas do Antigo Testamento, e nem os apóstolos, ensinaram que os crentes
devem buscar a vontade de Deus, ou conhecer a Deus buscando informações em outras fontes que não
as Escrituras. Os crentes são encorajados a ler as Escrituras e encontrar nelas o que precisam para sua
vida espiritual (1Co 10:1-13; Rm 15:4; 2Tm 3:15-17; Gl 1:6-9)

Base Confessional

A Confissão de Fé de Westminster Capítulo I, Seção VI, fala sobre a Suficiência das Escrituras nos
seguintes termos:

“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação,
fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente
deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do
Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação
do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas
circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas,
as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da
Palavra, que sempre devem ser observadas.” (2Tm. 3:15-17; Gl. 1:8; 2Ts. 2:2; Jo 6:45; 1Cor. 2:9, 10, l2;
1Cor. 11:13-14)

Aplicações Práticas

1. Sobre a Confissão de Fé de Westminster capítulo I, Seção VI falando acerca da Suficiência da


Escritura:

“Duas questões estão por detrás desta afirmação: primeiro, a posição de Roma em reclamar a
autoridade da Igreja em matéria de fé e vida; segundo, a tendência dos anabatistas de citar
novas revelações do Espírito como algo normativo da fé e comportamento cristãos. A
implicação desta afirmação para o fenômeno carismático moderno dificilmente poderia ser
mais relevante. Reivindicações de revelações diretas e imediatas do Espírito não têm lugar no
pensamento dos teólogos de Westminster.”44

2. Não se deve esperar uma nova revelação:

“Porque, enquanto que o Velho Testamento prediz a nova dispensação, o Novo Testamento
não faz referência a alguma revelação adicional a ser esperada antes do segundo advento de
Cristo: eles sempre se referem à ‘vinda’ ou ‘aparecimento’ de Cristo como o próximo evento
supernatural a ser antecipado.”45

3. O que dizer das predições que se realizam?

“Nosso parâmetro e base de doutrina não é a experiência. É bom lembrar, por exemplo, o que
nos adverte Deuteronômio 13:1-5... Ou seja, o milagre e a predição podem até acontecer, mas
se a doutrina não está de acordo com a Palavra de Deus não serve. Lembre-se que Deus nos
prova!”46

4. E quanto a busca por direção divina? A doutrina da Suficiência não nos limita demais?

44
Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998, p 20.
45
A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo, Os Puritanos. p 65.
46
Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje? São Paulo, Os Puritanos,
1998, p 49, 50.

15
“A verdade da suficiência das Escrituras é de grande importância para nossa vida cristã, pois
nos permite concentrar a busca das palavras de Deus para nós somente na Bíblia, poupando-
nos a infindável tarefa de vasculhar todos os textos de cristãos ao longo da história, ou todos os
ensinamentos da igreja, ou todos os subjetivos sentimentos e impressões que nos vêm à mente
no dia-a-dia, para descobrir o que Deus exige de nós.”47

5. É dever cristão estudar a Bíblia para conhecer o que Deus nos revelou (Dt 29:29) ao invés de procurar
noutras fontes de revelação:

“A suficiência das Escrituras deve-nos incentivar a tentar descobrir aquilo que Deus quer que
pensemos (sobre uma questão doutrinária específica) e façamos (numa dada situação).
Devemos nos convencer de que tudo o que Deus quer nos dizer sobre essa questão se encontra
nas Escrituras.”48

6. Tudo que Deus requer de nós está nas Escrituras, portanto, nenhuma suposta revelação pode nos obrigar
a consciência a obedecer:

“Deus nada exige de nós que não esteja determinado explícita ou implicitamente nas
Escrituras. Isso nos lembra que nossa busca da vontade de Deus deve-se concentrar nas
Escrituras, ou seja, não devemos buscar orientação pelas orações que peçam alteração das
circunstâncias ou dos sentimentos, ou ainda orientação direta do Espírito Santo fora das
Escrituras. Também significa que se alguém alega ter recebido uma mensagem de Deus que
nos diga o que devemos fazer, jamais precisamos supor que é pecado desobedecer a essa
mensagem a menos que possa ser confirmada pela aplicação da própria Bíblia à nossa
situação.”49

7. O que dizer do direcionamento divino no interior do crente? Deus não nos direciona desta forma?

“Deus pode usar e de fato usa impressões subjetivas da sua vontade para nos lembrar e
encorajar, e muitas vezes encaminha os nossos pensamentos na direção correta nas muitas
decisões rápidas que tomamos ao logo do dia – e são as próprias Escrituras que nos falam sobre
esses fatores subjetivos na orientação (ver At 16:6-7; Rm 8:9, 14, 16; Gl 5:16-18, 25). Todavia,
esses versículos sobre a suficiência das Escrituras nos ensinam que tais impressões subjetivas
só podem nos lembrar alguns parâmetros morais que já estão nas Escrituras, ou trazer à mente
fatos que (pelo menos em teoria) poderíamos ter conhecido ou que até já conhecíamos; jamais
poderão acrescentar alguma coisa aos mandamentos das Escrituras, nem substituir a Bíblia na
determinação da vontade de Deus, tampouco se igualar às Escrituras em termos de autoridade
na nossa vida.”50

8. Deus usou os profetas e os apóstolos para entregar a sua revelação ao seu povo. Não existindo mais o
ofício profético, e tendo morrido os apóstolos, não existe mais revelações que possamos afirmar que são
“a Palavra de Deus” para nossa vida.

9. Muitos que receberam uma “suposta nova revelação” do Espírito acabaram por encaminhar-se em
heresias absurdas. Vejamos os seguintes exemplos:

“Benny Himm começou a ensinar que a trindade não eram três pessoas distintas, e sim nove,
porque recebeu isto por “revelação”. Joseph Smith deixou sua Igreja e negou toda a sua fé
iniciando o mormonismo, também por uma revelação. O adventismo se envolveu num
emaranhado de confusão doutrinária por aceitar as revelações de Hellen White como
inspiradas.”51

10. Devem-se ter critérios quantos às experiências pessoais. Elas devem servir para o bem, e não para o
mal. Conquanto possa ser geradora de um sentimento grandioso de bem estar, ou alegria, ou edificação,

47
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 87.
48
Ibid, p 89.
49
Ibid, p 92.
50
Ibid, p 93.
51
Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?, p 27.

16
ou paz... Ainda assim a experiência deve ser avaliada segundo as doutrinas da Bíblia. O único lugar
onde temos a certeza de termos a Palavra de Deus Inerrante são nas Escrituras, e por isto, tudo deve ser
avaliado por meio desta palavra confiável. Tudo o mais é subjugado por sua Autoridade:

“As pessoas querem formar suas convicções a partir das experiências que tiveram. Não estou
negando que coisas extraordinárias acontecem, mas não posso, de sã consciência, diante de
Deus, firmar minha doutrina em experiências, nem mesmo nas minhas próprias, quanto mais
nas dos outros”.52

11. As “novas revelações” podem se tornar um laço perigoso na vida espiritual do cristão:

“Outros há que falam em revelações de um modo exagerado. Para eles tudo é entendido da
seguinte maneira: “Deus me revela”, “eu não fui revelado”, “estou aguardando uma revelação”,
etc. São pessoas que acham que para tudo que se vai fazer ou deixar de fazer é preciso ‘ser
revelado’.”53

12. Quem vive à procura de pessoas que lhe revelem algo de Deus para ela, na verdade não entende que se
torna dependente de uma outra pessoa, e não da Palavra Sagrada. É como se Deus só se comunicasse
por meio daquela pessoa (um tipo de mediador):

“Há indivíduos fracos na fé que ficam à procura de pessoas que se dizem estar recebendo
revelações e fluídos divinos... Alguns partem para as consultas espirituais, o que mais se parece
com agourice, consulta a videntes e a ciganos”.54

13. As “novas revelações” na verdade podem ser simplesmente fruto de uma mente problemática ou
ingênua:

“Mas, outras experiências tidas como revelações extraordinárias, que não passam de sonhos ou
alucinações, não produzem benefícios espirituais e nem podem auxiliar na santidade cristã,
pois geram confusões teológicas e doutrinárias.”55

14. Ainda que Deus se comunique extrabíblia, não seria uma “nova revelação” acrescentando ou
modificando o que já está escrito canonicamente.Devemos nos lembrar que este modo de revelação
acontecia com os profetas e apóstolos, e não há garantia de que aconteça conosco. Além disto, ainda
que aconteça com alguém hoje, não será o modo ordinário de comunicação divina a nós.

15. Podemos ver quatro possibilidades das origens das “novas revelações” recebidas por pessoas da igreja:

• Mentira – Há os que mentem de maneira consciente e deliberada, dizendo que “o Senhor


revelou”, quando sabem que nada aconteceu. Jeremias, o profeta, já expressou a reprovação
divina aos que procedem assim (Jr 23:25-26);
• Problemas psicológicos – Há também os que, por falta de saúde emocional e mental, têm
experiências místicas, que são comunicadas como sendo de origem divina. O pior é que quase
sempre estas pessoas, apesar dos problemas psicológicos, conseguem arrebanhar muitos
seguidores;
• Fraude satânica – O diabo, que pode disfarçar-se até de anjo de luz (2Co 11:14) engana os
desavisados, dando-lhes revelações, que têm aparência boa, mas conteúdo maligno.56
• Deus – Deus pode até se comunicar com um filho dEle hoje em dia de modo extrabíblico!
Porém, devemos levar sempre em consideração:

1- Que este não é o modo comum de Deus se comunicar conosco nos dias de hoje;
2- Que não é prometido pelas Escrituras que este tipo de experiência vá acontecer conosco;

52
Ibid, p 29.
53
Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96, p 13.
54
Ibid, p 14.
55
Ibid, p 15.
56
Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96, p 29.

17
3- Que a comunicação direta do Senhor é totalmente dispensável para nossa vida em comunhão
com Deus;
4- Que este tipo de comunicação nunca contrariará as verdades já reveladas na Bíblia;
5- Que este tipo de comunicação com Deus não é incentivada por nenhum escritor bíblico;
6- Que este tipo de comunicação não nos dá certeza exata da vontade de Deus (ou do que Ele nos
comunicou por meio desta comunicação direta. A Bíblia é inspirada, mas estas comunicações?); E
nem mesmo nos dá certeza de que seja realmente Deus que está se comunicando conosco.

Conclusão

Uma verdade deve ser aprendida por todos os cristãos: A Revelação Especial de Deus está encerrada
nas Escrituras, não porque os homens, ou a Igreja, assim o determina arbitrariamente, mas sim porque elas
mesmas confirmam isto.

CÂNON DAS ESCRITURAS

Introdução

Temos estudado que Deus resolveu dar-se a conhecer aos homens por meio da revelação especial, e que
esta se encontra principalmente nas Escritas Sagradas, onde ficaram registradas. Contudo, não adiantaria
entregar aos homens a Sua revelação especial, se no final das contas eles não pudessem saber quais são os
registros inspirados e quais não são!
Por isto Deus mesmo providencia, por meio dos homens, o ajuntamento destes escritos inspirados em
uma só coleção, a fim de que todos saibam quais os livros que possui a revelação inspirada do Senhor.

Conceituação da expressão “cânon bíblico”

Às vezes muitos cristãos falam do cânon, mas não entendem muito bem o que significa. Para que
possamos compreender bem o assunto do Cânon das Escrituras é preciso entender primeiro o que significa esta
expressão, para depois prosseguirmos com as demais questões relacionadas com este assunto. Abaixo nós damos
três explicações referentes à palavra cânon a fim esclarecer melhor o assunto do qual estamos falando:

1. “A palavra “cânon” deriva do grego Kanon, que significa “cana”, portanto uma vara ou barra, que, por
serem utilizadas em medições, passaram a significar metaforicamente um padrão”.57

2. “O vocábulo grego kanõn, que é de origem semítica (cf o hebraico qãneh, em Ez 40:3, etc.),
originalmente significava instrumento de medir, para mais tarde ser empregado no sentido metafórico
de ‘regra de ação’ semelhantemente... Não foi senão nos meados do quarto século de nossa era que o
termo parece ter sido aplicado à Bíblia. No uso grego, a palavra ‘cânon’ parece ter primeiramente
denotado apenas a lista de escritos sagrados, mas no latim, também se tornou nome para as próprias
Escrituras, o que indicava que as Escrituras são a regra de ação investida com autoridade divina”.58

3. “Kanõn também significa regra ou padrão: daí, um sentido secundário da palavra ‘cânon’ é a lista de
livros que a Igreja reconhece como Escrituras inspiradas, a norma da fé e da prática”.59

57
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 427.
58
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São
Paulo, Vida Nova, 1995, p 246, 247.
59
J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo,
Vida Nova, 1995, p 255.

18
Como podemos ver nestas explicações acima, o cânon é a coleção de livros que a Igreja reconhece
como revelação inspirada de Deus ao seu povo. E, portanto, quando falamos em canonização de livros escritos,
isto significa “ser oficialmente reconhecido como guia ou regra autorizada em matéria de fé ou de prática.”60
Estes livros canonizados portanto, são completamente diferentes dos demais livros que os homens podem
escrever.

A atitude da Igreja na formação do cânon

Bom, que Deus entregou uma revelação e fez homens escreveram de modo inspirado nós já sabemos.
Mas como foi que se deu o processo de canonização. Ou seja, como foram separados os livros inspirados
daqueles que não procediam de inspiração divina? Em primeiro lugar devemos entender que não foi a Igreja que
escolheu os livros que seriam inspirados ou não. A igreja não poderia “determinar” a inspiração de um livro:

“...nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidade ou autoridade a


qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em que foi escrito. A Igreja ou seus concílios
reconheceram certos livros como Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim
reconhecidos foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.”61
E ainda:

“A Igreja não determinou o cânon; reconheceu o cânon. No sentido mais amplo, nenhum concílio
eclesiástico poderia criar um cânon, se a inspiração é a qualidade essencial da canonicidade, porque
nenhum grupo ou concílio poderia insuflar inspiração em obras já existentes. Tudo quanto os concílios
podiam fazer era dar a sua opinião acerca dos livros que eram canônicos e dos que o não eram e, depois,
deixar que a história justificasse ou invalidasse o seu veredito.”62

Observemos também:

“Há diferença entre a canonicidade de um livro da Bíblia e sua autoridade. Um livro deve conter
autoridade divina, por causa de sua inspiração divina, antes de ser qualificado para canonização. O livro
não recebeu autoridade porque a Igreja decidiu incluí-lo na lista sagrada, mas porque a mesma
reconheceu os livros que deram evidência de conter autoridade divina em virtude de sua inspiração
divina.”63

E mesmo a respeito daqueles livros do Novo Testamento que ficaram algum tempo sob disputa entre as
igrejas, no sentido de reconhecerem sua inspiração, no final, não foi a Igreja, ou concílio, ou qualquer pessoa,
que impôs neles a autoridade como revelação divina:

“O cânon, portanto, não é produto do critério arbitrário de qualquer pessoa, nem foi determinado por
voto conciliar. Resultou do emprego dos vários escritos que provavam o seu mérito e a sua unidade pelo
seu dinamismo interno. Alguns foram reconhecidos mais lentamente do que outros devido ao seu pouco
tamanho, ou devido ao caráter remoto ou particular do seu destino ou à anonimidade de autoria, ou
devido ainda a aparente falta de aplicabilidade a necessidades eclesiásticas imediatas. Nenhum destes
fatores milita contra a inspiração de qualquer destes livros ou contra o seu direito de ter um lugar na
palavra autorizada de Deus.”64

Portanto, a Igreja simplesmente, foi guiada pelo Espírito em todo este processo. Ou dizendo de outra
forma, não foi trabalho do Espírito somente capacitar os escritores a escreverem um material inspirado, mas foi
seu trabalho também “guiar os homens no reconhecimento dos escritos inspirados.”65 Caso contrário, como
poderíamos ter a convicção de que estes livros realmente são os que Deus inspirou? Assim como é seguro
afirmar que os livros são inspirados, podemos confiar que o Espírito da verdade guiou os servos de Deus neste
trabalho tão importante. Ora, quem mais estava interessado que tivéssemos os livros genuinamente inspirados
era o próprio Deus:

60
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83.
61
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p
1651.
62
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 432.
63
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83.
64
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 440.
65
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 84.

19
“Os livros do Antigo Testamento, tal como aqueles do Novo, foram inspirados por Deus. Mas o Espírito
Santo também operou nos corações do povo de Deus, a tal ponto que vieram a aceitar esses livros como
a Palavra de Deus e submeteram-se à sua autoridade divina. A ‘providência singular’ de Deus se
estendeu à origem dos livros separados, como também à sua coleção... Quando Deus pôs o Cânon em
existência, usou homens como Seus instrumentos; ações humanas e reflexões humanas realizaram suas
funções no processo inteiro.”66

Resumindo, o processo de canonização não foi realizado por meio da autoridade da Igreja determinando
quais livros eram inspirados, pelo contrário, foi realizado por meio da ação do Espírito Santo guiando a Igreja a
reconhecer os livros que possuíam autoridade sobre ela.

Regras utilizadas para o estabelecimento do cânon

Como todo processo de escolhas, a Igreja utilizou alguns “requisitos” ou “regras” a fim de comprovar a
inspiração dos livros escritos. Dentre estes testes utilizados podemos citar os seguintes:

1. Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto significava a


autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testamento, o livro
deveria ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido.
2. Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e
autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer
outro livro por comunicar a revelação de Deus.
3. O veredicto das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verdade, houve
uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar
entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou
questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi questionada por um número
grande de igrejas veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon.67

Mais não foram somente estas regras que auxiliaram no processo de formação do cânon. Há igualmente
outras questões que ajudaram neste trabalho importante da Igreja. Além destas “regras” a Igreja pôde ainda
utilizar as seguintes provas para explicar o reconhecimento dos livros autorizados por Deus (inspirados), e
conseqüentemente fazer a delimitação canônica: O testemunho dos judeus, o testemunho de Jesus, o testemunho
dos apóstolos. Vejamos abaixo:

• “Referências nos escritos de Flávio Josefo (95 A.D.) e em 2Esdras 14 (100 A.D.) indicam a
extensão do cânon do Antigo Testamento como os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão
do chamado Sínodo de Jamnia (70-100 A.D.) parece ter partido desse cânon. Nosso Senhor
delimitou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento quando acusou os escribas de
serem culpados da morte de todos os profetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc
11:51). O relato da morte de Abel está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se acha em
2Crônicas 24:20-21, que é o último livro na disposição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso
Malaquias). Para nós, é como se Jesus tivesse dito: “Sua culpa está registrada e toda a Bíblia –
de Gênesis a Malaquias”. Ele não incluiu qualquer dos livros apócrifos que já existiam em Seu
tempo e que continham relatos das mortes de outros mártires israelitas.”68

• “Os doze livros apócrifos do Antigo Testamento jamais foram aceitos pelos judeus ou por
nosso Senhor no mesmo nível de autoridade dos livros canônicos. Eles eram respeitados, mas
não foram considerados como Escritura.”69

• “Sobre a autoridade do Novo Testamento, podemos assumir que durante o ministério do


Senhor Jesus, e quando os livros do Novo Testamento estavam surgindo, o Antigo Testamento
66
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São
Paulo, Vida Nova, 1995, p 247.
67
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p
1651.
68
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p
1651.
69
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p
1652.

20
já existia como uma coleção completa, à qual era atribuída autoridade divina. O Antigo
Testamento é repetidas vezes referido como ‘as escrituras’ (Mt 26:54; Jo 5:39; At 17:2; etc.),
indicando que o Antigo Testamento era uma coleção bem conhecida de escritos, formando
uma unidade. Isto se aplica igualmente à expressão ‘a Escritura’ que algumas vezes denota
uma passagem definida (Lc 4:21; Jo 13:18, etc) mas que mais de uma vez aponta para o Antigo
Testamento como um todo (Jo 2:22; At 8:32; etc.). Dificilmente se torna necessário provar que
era atribuída autoridade divina a ‘as Escrituras’ ou a ‘a Escritura’ (vd Mt 1:22; 5:18; Jo 10:35;
At 1:16, etc.).”70

Oficialização do cânon

Em relação ao cânon do Antigo Testamento nós não precisamos nos deter muito, pois que, tanto Jesus,
quanto os apóstolos, não apoiavam livros diferentes daqueles que hoje possuímos no cânon do Antigo
Testamento. E, igualmente, os reformadores se apegaram aos mesmos livros que eles:

“Por volta do século IV surgiu uma ruptura entre o costume popular nas igrejas do Ocidente e a opinião
dos estudiosos como Jerônimo. As igrejas empregavam os livros apócrifos na versão do Antigo
Testamento, tomados dos códices da Septuaginta. Mesmo o concílio de Hipona em 393 d.C.,
influenciado por Agostinho, mais tarde bispo daquela cidade do norte da África, não optou por fazer
distinção entre escritos canônicos e eclesiásticos (ou apócrifos) do Antigo Testamento. Por outro lado,
as igrejas ocidentais da Ásia Menor, Palestina e Egito tendiam a manter o cânon judaico mais limitado.
Foi por esse cânon mais limitado que optaram os reformadores no século XVI, enquanto a Igreja
Católica Romana endossou a concepção mais abrangente do cânon no Concílio de Trento em 1546.”71

E também:

“ O fato principal é que, seguindo Cristo e os apóstolos, a Igreja, desde o próprio início, tem aceito
como canônicos os mesmos trinta e nove livros do Antigo Testamento contidos em nossa enumeração...
Os reformadores reverteram ao Cânon hebraico, ou, para expressar melhor a verdade, ao Cânon de
Cristo e dos apóstolos.”72

No que diz respeito ao cânon do Novo Testamento, nós vemos que os livros foram sendo escritos, e,
depois, colecionados como material reconhecidamente inspirado. Contudo, somente depois de alguns séculos é
que podemos ver uma definição oficial dos livros canônicos:

“O Terceiro Concílio de Cartago, em 397, emitiu um decreto semelhante ao do Sínodo de Laodicéia, e


apresentou uma lista de escritos idêntica à dos 27 livros do atual Novo Testamento.”73

E ainda:

“O quarto século viu a fixação do Cânon dentro dos limites a que estamos acostumados, tanto no setor
Ocidental como no Oriental da Cristandade. No Oriente o ponto definitivo é a Trigésima nona Carta
Pascal de Atanásio, em 367 D.C. Aqui encontramos pela primeira vez um Novo Testamento de limites
exatos, conforme nós o conhecemos... No Ocidente o Cânon foi fixado por decisão de concílio, em
Cartago, no ano de 397 D.C.”74

70
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São
Paulo, Vida Nova, 1995, p 251.
71
William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo, Vida
Nova, 1999, p 657.
72
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São
Paulo, Vida Nova, 1995, p 253, 254.
73
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 437.
74
J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo,
Vida Nova, 1995, p 259.

21
Base Confessional

Voltemo-nos agora pra o que declara a Confissão de Fé de Westminster a respeito da questão do cânon.
Em seu Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA, ela declara o seguinte:

Seção II. “Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os
livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para
serem a regra de fé e prática”:

O VELHO TESTAMENTO: (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I
Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó,Salmos,
Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias,
Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias;
O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo,
II Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas,
Apocalipse.

Seção III - “Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte
do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem
ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.”

Seção VI – “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para
a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e
claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações
do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima
iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há
algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades
humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras
gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.”

Seção VIII – “O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo
Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi
escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência
conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias
religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas
conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve, no temor de
Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações
aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus
de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.”

O cânon da Igreja Católica Apostólica Romana

A Igreja Católica Apostólica Romana possui um cânon diferente dos protestantes. Ela aceita como
canônicos alguns livros judeus, os quais são considerados pelos protestantes como não inspirados. Abaixo
citamos uma explicação acerca dos textos adicionais da Igreja Católica:

“... a Igreja Católica Romana finalmente decretou, em 1546, no concílio de Trento, que os livros de
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2 Macabeus, também fossem aceitos como
canônicos. Nesse ponto deve ser notado que a Igreja Católica Romana também aceita como canônicas
as adições aos livros de Ester, Baruque (‘a carta de Jeremias’), e Daniel (‘a oração de Azarias’, ‘o
cântico dos três hebreus’, ‘a história de Susana’ e ‘ Bel e o Dragão”). Na edição oficial da Vulgata
Latina, que havia sido decidida pelo concílio de Trento, mas que não foi publicada senão em 1592, os
livros de 1 e 2 Esdras, e a Oração de Manassés, também foram inseridos, mas após o Novo
Testamento.”75

75
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São
Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.

22
Todos estes textos não inspirados os protestantes rejeitam que sejam aceitos como Palavra de Deus. E,
“aquilo que foi incluído na Vulgata, em adição aos livros do Cânon hebraico, é o que os Protestantes usualmente
chamam de ‘livros apócrifos’.”76

ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS

Introdução

Tendo aprendido que Deus revelou sua vontade ao homem por meio da Revelação Especial, e garantiu o
registro fiel desta revelação por meio da Inspiração, precisamos entender agora que de nada adiantaria a
Revelação e a Inspiração se não houvesse a obra de Iluminação. A obra de Iluminação fecha o ciclo da
comunicação de Deus com o homem. Ou seja, a obra de Revelação só consegue atingir seu alvo quando ocorre a
obra de Iluminação no coração do homem. Ela depende inteiramente da obra de Iluminação.

Conceito de Iluminação

1. “Iluminação é a atuação de Deus na mente e no coração do homem, através do Espírito Santo,


capacitando-o para compreender o ensino da Bíblia Sagrada.” 77

2. “A doutrina da iluminação relaciona-se com aquele ministério do Espírito Santo que ajuda o crente a
compreender a verdade das Escrituras... a iluminação refere-se ao ministério do Espírito mediante o
qual o significado das Escrituras é tornado claro ao crente. O homem não-regenerado não pode
experimentar este ministério de iluminação, porque está cego diante da verdade de Deus (1Co2:14)... o
Espírito é a conexão direta entre a mente de Deus, conforme revelada nas Escrituras, e a mente do
crente que procura entender as Escrituras.”78

3. “A obra do Espírito Santo em comunicar essa compreensão, é chamada de “iluminação” ou


esclarecimento. Não é uma nova revelação, mas uma obra dentro de nós, que nos capacita a
compreender e a afirmar a revelação da Bíblia, quando é lida, pregada e ensinada. O pecado
obscurece nossa mente e vontade, de modo que perdemos e resistimos à força das Escrituras. O
Espírito, contudo, abre e desanuvia nossa mente e põe o nosso coração em sintonia, de modo a
podermos entender aquilo que Deus tem revelado (2Co 3:14-16; 4.6; Ef 1:17-18; 3:18-19).
Iluminação é a aplicação da verdade revelada de Deus ao nosso coração, de modo que nós passamos
a entender como realidade para nós o que o texto sagrado revela.”79

Quando falamos em Iluminação do Espírito para compreensão das Escrituras não estamos afirmando
que o crente “entenderá a mensagem da Escritura sem que necessite interpretar os textos”. A Iluminação é
absolutamente necessária para todos os crentes entenderem a Bíblia - a Revelação de Deus. “A iluminação,
contudo, não dispensa o esforço sério e piedoso para se compreender corretamente a palavra de Deus. A Bíblia
Sagrada deve ser lida e interpretada.”80 Em outras palavras, para compreendermos as verdades bíblicas
necessitamos tanto de interpretação humana quanto de Iluminação divina.

Base Bíblica da doutrina da Iluminação

A doutrina da Iluminação pode ser facilmente encontrada nos seguintes textos bíblicos:

76
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São
Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.
77
Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D’Oeste, SOCEP, 2001, p 24.
78
C. C. Ryrie, “Iluminação” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Walter A. Elwell, editor.
São Paulo, Vida Nova, 2009, p 305.
79
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 1348.
80
Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D’Oeste, SOCEP, 2001, p 25.

23
• (Ef 1:17-19) Paulo deseja que os efésios entendam verdades espirituais. E para isto, deveriam
ser iluminados em seus corações;
• (1Co 2:14) Paulo diz que o homem natural (o descrente) não aceita as verdades vindas do
Espírito Santo porque não entende. Diferente do homem regenerado, que tem discernimento
espiritual.

Base Confessional:

• Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA):

Seção VI – “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e
para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e
claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações
do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima
iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há
algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades
humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras
gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.”
A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS

Introdução

É verdade que toda denominação possui o seu conjunto de doutrinas, e às vezes ocorrem diferenças
grandes entre umas e outras. Mas se a Bíblia é uma só, porque tantas diferenças? A razão que traz à tona tantas
diferenças de doutrinas é a interpretação dos textos da Escritura. Mas este fato não é novo, já desde os tempos de
Jesus havia diferentes interpretações das Escrituras (Lc 10:26; Mt 22:23; 5:21, 27, 33, 38, 43; At 23:6-8).
Hoje em dia temos a mesma situação, onde os grupos religiosos, ainda que todos igualmente
evangélicos, se dividem devido às interpretações. Mas como saber qual a interpretação correta? Existe um modo
de interpretação correta ou todos estão corretos? Na verdade é impossível que tenhamos dois modos de
interpretar os textos bíblicos, e os dois estejam corretos no resultado. Forçosamente um estará errado!
Visto que a interpretação da Bíblia é um assunto de suma importância, pois é a partir da interpretação
que vamos obter nossas doutrinas, e visto que a Reforma protestante sempre afirmou o direito ao livre exame das
Escrituras por parte de todo cristão, devemos então aprender um pouco das regras de interpretação da Bíblia por
pelo menos duas razões: 1º- Podermos utilizar estas regras em nosso cotidiano quando estudamos as Escrituras;
2º- Ao sermos ensinados acerca de algum ponto doutrinário podermos confirmar sua veracidade.

Interpretação das Escrituras

A esta altura é preciso esclarecer que não veremos todas as regras de interpretação que existe, porém,
veremos algumas fundamentais. Aprenderemos algumas “regras gerais de interpretação”, as quais devem ser
consideradas e utilizadas em qualquer texto bíblico. Ou seja, estas regras procuram abranger a interpretação de
todos os tipos de textos da Bíblia – do Antigo ou do Novo Testamento. São elas:

1. Em nossa Confissão de Fé de Westminster no Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA em sua Seção


IX, temos uma declaração acerca da interpretação das Escrituras. Vejamos o que ela afirma: “A regra
infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o
verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse
texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.” Este texto da
Confissão de Fé nos aponta dois princípios elementares de interpretação: 1- A interpretação das
Escrituras se deve a ela mesma. Ou seja, ninguém deve dizer o significado dos textos, quem faz isto é a
própria Escritura através de outros textos dela mesma. Sendo assim, o sentido de um texto está
clarificado e explicado em outro texto; 2- Os textos da Escritura não possuem vários sentidos, mas
somente um sentido;
2. O sentido do texto deve ser sempre aquilo que o autor quis dizer. Como pensava o reformador João
Calvino: “A primeira função de um intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a
ele o que pensamos que ele deveria dizer.”81

81
Louis Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p 26.

24
3. O texto deve ser lido em seu sentido literal, a não ser que demonstre suficiente evidência, em si mesmo,
de que deva ser interpretado de modo figurado ou simbólico;
4. Todo texto deve ser interpretado de acordo com o assunto a ser tratado no seu contexto. Não devemos
interpretar um texto falando de um assunto teológico do qual o texto não fala;
5. Discernir bem o que é prescritivo e o que é descritivo nas Escrituras a fim de saber o que é obrigatório
a nós e o que não é obrigatório mas foi apenas referido. Se um texto não é prescritivo, mas apenas
descritivo, então não podemos utilizá-lo com uma ordem, ou como uma norma;
6. “As doutrinas não devem ser baseadas em um ou mesmo em poucos versos que possuam sentidos
obscuros.”82
7. As doutrinas das Escrituras não podem contradizer-se. Sendo assim, se alguém interpreta um texto de
forma a confrontar outra doutrina, o intérprete deve então procurar onde errou em sua interpretação;
8. O conteúdo da revelação bíblica veio de forma progressiva, portanto, devemos respeitar o contexto
revelacional de cada texto;
9. Na interpretação devemos diferir entre o que é contradição e o que é paradoxo. Paradoxos existem
nasa Escrituras, contradições não;
10. Deve o intérprete estar atento ao uso de símbolos e tipos nas Escrituras. Ao se deparar com eles, o
intérprete deve considerar a explicação que a própria Escritura faz deles, e não, conceder sua própria
explicação ou interpretação particular;
11. Ao interpretar as parábolas devemos compreender que elas só intencionam uma única lição. O
intérprete deve levar em conta o público-alvo da parábola, a cultura da época, o contexto histórico em
que foi proferida a parábola, e as demais regras de interpretação citadas acima.

Um modo mais resumido de explicar as regras de interpretação das igrejas reformadas é dizer a
designação deste método. Ele é chamado de método de interpretação histórico-gramatical. Ou seja, é o modo
de interpretação que leva em consideração a história e a gramática. A- Com o termo histórico, queremos dizer
que o intérprete leva em consideração a cultura, contexto histórico dos ouvintes e do escritor, geografia, situação
política, situação religiosa...; B- Com o termo gramatical, queremos dizer que o intérprete leva em consideração
o significado das palavras, contexto das palavras, sintaxe, figuras de linguagem...
Este é o método correto de se interpretar as Escrituras segundo o pensamento reformado. Todos os
demais métodos de interpretação são falhos e redundarão em doutrinas distorcidas.

A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS

Introdução

Bom, em lição anterior já expomos a existência de um cânon sagrado, chega agora o momento de
demonstrar como estes livros estão relacionados uns com os outros. A Escritura possui um tema central, um
assunto que abrange todos os sub-temas. Nosso trabalho neste momento é aprender a compreender como esta
mensagem central está disposta em toda a revelação.
As Escrituras possuem uma coleção de sessenta e seis livros, dos quais 39 formam o Antigo Testamento
e 27 formam o Novo Testamento. Apesar de se encontrar nestes livros uma diversidade enorme de histórias e
assuntos, é bem verdade também que é possível tirar de todos eles um único tema central. Lembremos que as
Escrituras são a Revelação Especial de Deus que visa nos mostrar sua Pessoa e sua Vontade. A Bíblia não traz
informações soltas e sem sentido a cerca do Criador divino. Ela é harmoniosa em seu conteúdo de tal forma que
constitui uma “rede interligada de informações”. O que isto quer dizer? Quer dizer que todos os assuntos tratados
nos sessenta e seis livros estão de alguma forma conectados a um tema central. Podemos comparar o conteúdo
com uma árvore. Ainda que nem todas as informações constituam o “tronco desta árvore” (ou seja, a essência do
tema central), elas são como os “ramos inseparáveis” deste tema.

Revelação Progressiva

Para que entendamos a estrutura das Escrituras precisamos estar a par de que ela foi formada por meio
de um progresso de revelação, e não por um ato de revelação. Certamente as Escrituras trazem uma diversidade
de assuntos interligados, contudo, não implica que todos eles foram revelados em um único momento.

82
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 188.

25
A Escritura foi escrita durante um período longo de tempo – cerca de 1.500 anos. Deus foi entregando
sua Revelação Especial aos poucos, e não tudo de uma só vez. Não revelou tudo definitivamente em um só
momento, mas esclareceu muitas de suas doutrinas lentamente, com o passar do tempo. É o que chamamos de
“progressividade da Revelação”.
Deus só acabou de entregar a Revelação Especial com o último livro Inspirado que foi o Apocalipse.
Isto quer dizer que ainda que certos assuntos fossem tratados desde muito cedo na Revelação Especial, alguns
deles só tiveram seu desfecho revelacional no final do processo de Inspiração. Contudo, visto que já estamos
com a Revelação completa, podemos observar com clareza qual o tema central das Escrituras a fim de
compreendê-las melhor.

Tema Central das Escrituras

Apesar de a Bíblia não ser um só livro, ela possui uma só mensagem. Mas que mensagem é esta? Para
um leitor inexperiente, ela poderá estar falando de vários assuntos, vários acontecimentos, várias personagens...
E por fim ele não compreender qual mensagem constitui o seu tema central. É bem verdade que na Bíblia
encontramos várias histórias e personagens. Vários assuntos e conceitos. Mas todos eles fazem parte de uma
única história denominada História da Salvação.
Todas as histórias, assuntos e conceitos dentro da Escritura têm sua função e propósito dentro da
História da Salvação. Bom, todos eles são parte da História da Salvação, mas onde fica o tema central das
Escrituras? É simples. Em resumo podemos dizer que: A Bíblia contém vários personagens, várias histórias,
vários conceitos, vários assuntos; sendo que todos eles fazem parte de uma única história chamada História da
Salvação. Esta História da Salvação por sua vez é desenvolvida na Bíblia por causa do tema central de que a
Bíblia trata. O tema central da Bíblia é o da Aliança de Deus com um povo escolhido por ele.
O tema "Aliança" no Antigo Testamento pode ser resumido na seguinte frase dita pelo próprio Deus:
“Eu serei o seu Deus, e vós sereis o meu povo”. Toda a História da Salvação vai ser conduzida tendo esta idéia
como ‘pano de fundo’. Não que desprezemos os outros temas presentes, mas sim, que este tema da Aliança é o
seu foco principal. Os outros temas e assuntos encontrados na Bíblia são como “galhos que brotam deste tema
central”. Todos eles estão interligados. Tanto o “tema central” só é totalmente compreendido por meio dos
“temas secundários”, como também os “temas secundários” só são compreendidos tendo o “tema central” como
pano de fundo.
Definido o tema central - “Aliança de Deus com seu povo” - que abre nosso entendimento sobre o
conteúdo total das Escrituras, precisamos esclarecer melhor a idéia contida na palavra "Aliança". A Aliança na
Bíblia é a escolha divina de um povo para seguir seus mandamentos servindo-o (Gn 12:1-3; Ex 3:7-10; Dt 6:1-
5). O amor é a causa desta escolha (Dt 4:37; 10:14-15; 7:7-8; 9:4-6; 10:15; 23:5); e “o propósito real da Aliança
consiste na intenção de Deus de formar um povo propriamente seu.”83

As Duas Alianças Bíblicas Centrais

Os teólogos dividem o tema central da Aliança na Bíblia em duas alianças principais (ou pactos): O
Pacto das Obras (Aliança das Obras) e o Pacto da Graça (Aliança da Graça).
O Pacto das Obras diz respeito ao tempo em que Adão viveu antes do pecado. Neste Pacto o homem
estava condicionado a ter vida eterna somente se obedecesse à ordem do Criador de não comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal (Gn 2:16, 17; 3:1-24).
O Pacto da Graça se refere ao tratamento de Deus com o homem depois da entrada do pecado no
mundo. Desde Gênesis capítulo 3 até Apocalipse 22, é o Pacto da Graça que está em ação.

Administrações da Aliança da Graça

Podemos dividir a Aliança da Graça em dois “períodos distintos”; duas “administrações” diferentes.
Podemos diferenciar estas administrações do seguinte modo: A administração do Pacto da Graça antes de Cristo
é chamada de ‘Velha Aliança’; e a administração do Pacto da Graça depois da vinda de Cristo é chamada de
‘Nova Aliança’*.84

83
O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997, p 44.
84
Ibid, p 53.
* Os termos Velha Aliança e Nova Aliança também são conhecidos como Antigo Testamento e Novo
Testamento.

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Não é que Deus providenciou dois pactos de salvação depois da Queda de Adão em pecado, sendo um
deles a Velha Aliança e o outro a Nova Aliança. Deus providenciou somente um pacto de salvação – o Pacto da
Graça. Este foi iniciado depois da entrada do pecado e continuará até a consumação de todas as coisas. Há,
portanto, duas administrações diferentes para o mesmo Pacto da Graça. Na primeira administração (Velha
Aliança) o Cristo e sua salvação são prometidos; na segunda administração (Nova Aliança) o Cristo já veio e
cumpriu a salvação esperada.

Estilos literários da Revelação

Para finalizar este assunto da estrutura das Escrituras nós vamos nos deter na “forma” como a
Revelação Especial foi escrita durante estes vários séculos de sua formação. Ora, sabemos que a mensagem das
Escrituras procede de um mesmo autor – o Espírito Santo. Porém, temos que nos lembrar que esta mensagem foi
escrita por meio de homens, e que cada mensagem registrada por eles foi escrita com o “estilo literário” que
Espírito Santo guiou que utilizassem. O resultado é que encontramos vários tipos diferentes de literatura dentro
das Escrituras. Para que possamos compreendê-los melhor, abaixo está a divisão tradicional dos livros conforme
seu estilo literário:

Novo Testamento
Livros Tipo Literário
De Mateus até João Evangelhos
Atos Histórico
De Romanos até Filemom Cartas Doutrinárias
De Hebreus até Judas Cartas Doutrinárias
Apocalipse Profético

Antigo Testamento
Livros Tipo Literário
De Gênesis até Deuteronômio Lei

De Josué até Ester Históricos


De Jó até Cântico dos Cânticos Poéticos

De Isaías até Malaquias Proféticos

BIBLIOGRAFIA

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— Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D’Oeste, SOCEP, 2001.

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