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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Sociais


Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Teoria da História - IFCH01-10081- Professora: Beatriz Vieira


Aluno: Bruno Fagundes Bacanhim

Resenha

O 18 Brumário de Luís Bonaparte


MARX, K.

Rio de Janeiro

2019

Em 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx analisa o golpe de Estado de 2 de


dezembro de 1851 na França. Os dois prefácios da obra, um de 1869 de Marx e um
1885 de Engels atentam para um novo método de análise do desenvolvimento
histórico do homem, uma análise revolucionária por dois vieses. Marx começa por se
posicionar ante os historiadores que estavam pensando o 18 Brumário comparando
seu materialismo histórico com o objetivismo do historiador médio de seu tempo, e
anuncia a eficiência de suas analysen para pensar diversas sociedades em diversos
tempos pelo seu potencial universal. O segundo viés revolucionário viria do teor, do
sentido e do significado de sua análise para o fim do século XIX, pensando o impacto
desse sujeito histórico, o proletário, o oprimido, aquele cujo espaço na história e na
filosofia era reduzido ao máximo da passividade e esquecimento e agora figura no
diálogo motriz da história

A crítica a Proudhon residia na sua incapacidade de pensar o processo histórico


movido pela luta de classes que desembocaria no golpe de estado, para Marx era
claro que uma análise que se baseia no ato de poder do indivíduo que transforma a
realidade não condiz com o processo da grande contradição socioeconômica que
impele ao conflito grupos antagônicos numa dialética universal entre opressores e
oprimidos. Ao mesmo tempo que o personalismo da análise de Proudhon seria
potencialmente uma apologia ao herói do golpe de Estado, numa crítica aos
chamados “historiadores objetivos”.

Hegel é um ponto de diálogo constante nas obras de Marx. A dialética do Amo


e o Escravo, pensada na Fenomenologia do Espírito é ressignificada dentro de um
novo esquema do qual o materialismo suplanta o idealismo. A contradição
fundamental da história se dá no embate entre o filosofo mais representativo do
pensamento burguês e o filosofo que carrega esse novo ator social ao ponto central
de mudança dos processos históricos, o proletário, como um agente revolucionário.

Marx encarna momentos e personagens históricos numa sucessão de


tragédias e farsas teleológicamente encadeadas nos processos das lutas de classes
que movem a história no sentido da síntese ou da superação. Esse pensamento cíclico
do qual a tese, a antítese e a síntese substituem a afirmação, a negação, a negação
da negação e superação do idealismo hegeliano, com uma ideia semelhante sobre
cultura, (homem constrói, bildung, cultura na transformação da natureza e na
reprodução de sua práxis), ajuda a entender que as relações de produção no trabalho
socialmente empregados na transformação dessa “matéria”, são pensadas como o
ponto de partida para se analisar as sociedades humanas.

Sendo assim é possível perceber que dentro do idealismo hegeliano haveria


um embrião em potencial de uma filosofia que partisse da materialização da ação
humana e que pensasse a dialética envolvida nas suas relações, contudo é Marx que
desenvolve a teoria do materialismo ao conectar as “consciências desejantes” da
dialética entre o Amo e o Escravo as classes sócias. Definindo quem oprime e quem
é oprimido pragmaticamente dentro de grupos identificáveis por seus papeis nas
estruturas de dominação das relações de produção.

As ressignificações que os povos atribuem aos seus processos históricos estão


intimamente ligados a este pensamento nos diversos resgates que os homens fazem
nos seus momentos mais penosos ou nas rupturas mais radicais dos quais as crises
de legitimidade afloram a necessidade de novas perspectivas. É nesse contexto que
Marx articula a tendência geral dos usos da história e da memória, através de
exemplos, nos projetos de futuro que repetem vícios do passado, acarretando
consequentemente que as novas elites, ou as velhas elites com novas roupagens, se
estruturem nos modelos de poder e dominação antigos, esgotados, e traidores dos
iniciais ideias de mudança.

Por meio dessa perspectiva Marx entende a eleição de Napoleão III, como uma
ditadura plebiscitária. E o golpe como o último suspiro da revolução de 1789. Pois em
maio de 1852, o mandato de Luís Bonaparte terminava e segundo a Constituição da
república francesa de 4 de novembro de 1848, as eleições para presidente deveriam
ocorrer a cada quatro anos, no segundo domingo de maio, e o presidente em exercício
não podia se reeleger. O Estado Bonapartista havia destruído os ideias
revolucionários com o passar dos seus governos que refletiam muitos dos privilégios
aristocráticos que foram tão combatidos pelos ideias revolucionários.

Marx escreve: “A Constituição, a Assembleia Nacional, os partidos dinásticos,


os republicanos azuis e os republicanos vermelhos, os heróis da África, o discurso
tonitruante proferido do palanque, o relampejar da imprensa do dia, o conjunto da
literatura, as figuras políticas e os renomados intelectuais, o Código Civil e o direito
penal, liberté, égalité, fraternité [liberdade, igualdade, fraternidade] e o segundo
[domingo do mês] de maio de 1852 – tudo desapareceu como se fosse uma quimera
diante da fórmula mágica pronunciada por um homem que não era considerado
mestre-feiticeiro nem pelos seus inimigos. O sufrágio universal parece ter sobrevivido
só o tempo sufi ciente para redigir de próprio punho o seu testamento diante dos olhos
do mundo inteiro e declarar pessoalmente, em nome do povo: “Tudo o que existe
merece perecer” *. *Nota da edição: Palavras de Mefistófeles em J. W. Goethe,
Fausto, parte I, “No gabinete de estudos” (tradução livre). (N. T.)”, (MARX, Karl, O 18
de Brumário de Luís Bonaparte, Boitempo Editorial, 2011, p. 31).

A Revolução Francesa não foi um acontecimento imediato mesmo que


explosivo, mas um processo que se estendeu durante um longo período, no qual
forças políticas emergiram daquela sociedade insatisfeita, nas populações que viviam
no campo em precárias condições de existência e nas populações urbanas da nova
burguesia que intentava extrapolar os limites comerciais vigentes. Marx pensa a
manipulação das massas no despotismo irrestrito que a republica burguesa
representa na defesa dos interesses de sua classe em detrimento das outras. A
liberdade, a igualdade e a fraternidade haviam sido transfigurados em propriedade
família, religião e ordem.
A atualidade das palavras de Marx são um indicio do seu motor universal que
hoje faz parte das possibilidades de compreensão histórica. “A sociedade é salva
sempre que o círculo dos seus dominadores se estreita, sempre que um interesse
mais exclusivo é imposto a um mais amplo. Toda e qualquer reivindicação da mais
elementar reforma financeira burguesa, do mais trivial liberalismo, do mais formal
republicanismo, da mais banal democracia é simultaneamente punida como “atentado
contra a sociedade” e estigmatizada como “socialismo”.

Referências bibliográficas:

MARX, K. “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”, Boitempo Editorial, 2011

MARX, K. e ENGELS, F. “A ideologia alemã”. SP: Editora Expressão Popular, 2006.

MARX, K. “Contribuição à crítica da economia política – Introdução”. In: Karl Marx:


textos escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1978; pp. 101-126. (Col. Os pensadores).

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. “A fenomenologia do espírito”. In: Os pensadores.


São Paulo: Abril Cultural, 1974.

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