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Alcaloides isoquinolinicos isolados de Xylopia excellens

Resumo

Os principais alcaloides das folhas e galhos finos de Xylopia excellens, uma espécie

pertencente à família Annonaceae, foram isolados e caracterizados. Onze alcaloides

isoquinolinicos foram identificados como, reticulina, anonaína, nornantenina, liriodenina,

lisicamina, isomochastolina, oxofoebina, oxoglaucina, oxonantenina, oxoputerina, o-

metilmoschatolina. Esses compostos estão sendo reportados pela primeira vez nessa espécie. Os

compostos isolados foram identificados por técnicas espectrocópicas e espectrométricas (RMN de

1D e 2D e EM) bem como a comparação com os dos dados com os descritos na literatura. Os dados

de RMN do alcaloide oxoglaucina foram revistos.

Palavra-chave: Annonaceae; Xylopia excellens, Acaloide Aporfinico; Quimiotaxonomia;

Oxoglaucina

Assunto e Fonte

O gênero Xylopia, da tribo Xylopieae, com cerca de 157 espécies, possui distribuição

pantropical e constitui um dos maiores entre a família Annonaceae (Chatou et al., 2012). Há 70

espécies na África, 40 na Ásia e Oceania e 50 nas Américas, das quais 32 no Brasil (Lopes et al.,

2014).
A espécie Xylopia excellens R. E. Fries é uma árvore com flores de coloração marrom

amarelado (Webber, 1981). Tem ocorrência em vegetação secundária e em solo arenoso (Webber

et al., 1999). As espécies pertencentes a esse gênero são conhecidas por conter um grande número

de alcalóides do tipo benzilisoquinolinicos e aporfinicos (Moreira et al., 2013).

A folhas e galhos finos da espécie X. excellens encontradas dentro do Campus da

Universidade Federal do Amazonas (UFAM) foi coletado no mês de julho de 2011. O material

botânico foi identificado pelo Dr. Antonio Carlos Webber do Departamento de Biologia do

Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFAM e a exsicata da espécie com material fértil foi

depositado no herbário da UFAM sob o seguinte número X. excellens (8279).

Trabalhos anteriores

Essa espécie não apresenta registros na literatura de estudos etnofarmacológicos e

biológicos e de seus constituintes químicos fixos.

Presentes estudos

O material botânico (folhas e galhos fino) de X. excellens foi seco e moído (1 kg) e submetido

a extração com hexano (4L, com remoção no intervalo de 3 dias), seguido pelo metanol (4L, com

remoção no intervalo de 3 dias), após concentrado em evaporador rotatório sob pressão reduzida

a 45 °C, produzindo os extratos hexanos (folhas 13,2 g e galhos finos 6,0 g) e metanol (folhas

90,3 g e galhos finos 136,2 g). Então, esses extratos foram submetidos à extração ácido-base

convencional, de acordo com o trabalho de Chang et al (1998), e adequação de metodologia

descrita por Costa, 2004. As frações alcaloídicas foram, separadamente, submetida à separação

por métodos cromatográficos de HPLC. O isolamento dos alcaloides foram realizados em escala
preparativa e semi-preparativa utilizando o cromatógrafo modelo Shimadzu®, CBM –

20A, equipado com detector de UV SPD-20A, degaseificador DGU-20A e sistema binário de

solventes LC-6AD. Eluição isocrática de 20% de MeOH em água acidificada a 5% de Ácido

Trifluoroacético (TFA). Utilizando a coluna C18 de 250 x 15,00 mm (100A, 5 µ) Phenomenex,

na preparativa e a Fenil-Hexil de 250 x 10,00 mm (5µ) Phenomenex, na escala semi-preparativa.

Da fração alcaloidica das folhas foi possível isolamento do alcaloide benzilisoquinolinico

reticulina (1, 3,0 mg, Nishiyama et al., 2006) e dois aporfinicos nornantenina (2, 5,0 mg,

Vendramin et al., 2013) e anonaína (3, 4,0 mg, Vendramin et al., 2013). Dos galhos finos foi

isolado os alcaloides oxoaporfinicos liriodenina (4, 4,0 mg, Costa et al., 2013), oxonantenina (5,

2,3 mg, Rabelo et al., 2014), lisicamina (6, 5,5 mg, Campos et al., 2008), isomochatolina (7, 2,0

mg, Costa et al., 2011) o-metimochatolina (8, 2,0 mg, Zawawi et al., 2012), oxofoebina (9, 2,0 mg,

Guinaudeau et al., 1988), lanuginosina (10, 2,0 mg, Rabelo et al., 2014) oxoglaucina (11, 5,0 mg,

Harriga et al., 1994; Guinaudeau et al., 1983) e um aporfinico anonaina (2,5 mg) (Fig. 1).

Os alcaloides isolados (Fig.1) foram identificados por uma série de métodos de

espectrometria, tais como a EM, RMN (1D e 2D), bem como a comparação com os dados

reportados na literatura. Embora isomochatolina (7) tenha sido descrito em outras espécies da

família Annonaceae, Guatteria blepharophylla (Costa, et al., 2011), Guatteria citriodora (Ralebo

et al., 2014); esta sendo reportado pela primeira vez no gênero Xylopia.

Significado quimiotaxonômica
Os resultados da investigação fitoquímica confimou que a espécie X. excellens tem a

capacidade de biossintetizar derivados de alcaloides isoquinolinicos, tipicamente encontrados em

Annonaceae. Foi relatado o isolamento de um benzilisoquinolinico, reticulina (1); dois aporfinicos,

nornantenina(2), anonaína(3); e oito oxoaporfinicos, liriodenina (4), oxonantenina (5), lisicamina

(6), isomoschatolina (7), o-metilmoschatolina (8), oxofoebina (9), oxoputerina (10) oxoglaucina

(11). Todos os compostos isolados foram reportados pela primeira vez na espécie. Pôde-se

evidenciar que uma grande proporção das aporfinas isoladas são oxigenadas em C7, uma

característica bastante comum em espécies de Xylopia (Zawawi et al., 2012), (Jossang, et ., 1991),

e em outros gêneros de anonáceas, incluindo Guatteria (Lima et al., 2004) e Annona (Teles et al.,

2015). A reticulina, o precursor biossintético de diversos alcaloides, incluindo os aporfinas (Hagel

et al., 2013) foi descrito em X. nigricans (Puvanendran et al., 2010), X. parviflora (Nishiyama et

al., 2006), X. laevigata (Costa et al., 2013) . Os resultados obtidos neste trabalho confirmam a

identidade da espécie com a família Annonaceae, uma vez que os seus compostos isolados são

encontrados em diversos gêneros dessa família, tais como, Annona, Duguetia, Guatteria,

Guatteriopsis, Uvaria entre outros (Campos et al., 2008; Fechine et al., 2002; Rabelo et al., 2014;

Costa et al., 2008; Fleischer et al., 1998).

R3
H3CO
R2
N
HO N
CH3 R1
HO
R6
O
H3CO

N
HO CH3
HO

H3CO

4 R1, R2= OCH2O, R3 , R4, R5, R6= H


R1
5 R1, R2= OCH3, R3= H, R4, R5= OCH3, R6= H
R1
6 R1, R2= OCH3, R3, R4 , R5, R6= H
N
R2 N H 7 R1= R2= OCH3, R3= OH, R4= H, R5= H, R6= H
R2 H
R3 8 R1, R2, R3= OCH3, R4= H, R5= H, R6= H
R3
9 R1, R2, R3= OCH3, R4, R5 = OCH2O, R6= H

R4 R4 10 R1, R2= OCH2O,R3 , R4, R5= H, R6= OCH3


R5 11 R1, R2= OCH3, R3= H, R4, R5= OCH3, R6= H
R5
2 R1= R2= OCH3, R3= H, R4= R5= OCH2O
2 R = R2= OCH3, R3= H, R4= R5= OCH2O
3 R1= R12= OCH 2O, R3= R4= R5= H

3 R1= R2= OCH2O, R3= R4= R5= H

Fig. 1. Constituintes químicos isolados de Xylopia excellens

Table 1. NMR data (CDCl3, 600 and 150 MHz, respectively) for the oxoaporphine alkaloids oxonantenine, and
lanuginosine, and lysicamine.
Oxoglaucine
Position
C mult.b H mult. (J in Hz)a

1 151,24

1a 120,1

2 156,69 7,20 (1H, s)

3 105,7

3a 135,62

3b 121,15 7,79 (1H, d,4,0)

4 123,62 8,93 (1H, d, 4,0)

5 144,18

6a 145,63

7 181,29

7a 126,81

8 110,09 8,03 (1H, s)

9 149,59

10 153,71

11 110,20 8,81 (1H, s)

11a 129,23 -

1-OCH3 60,40 4,04 (3H, s)

2-OCH3 55,56 4,11 (3H, s)

9-OCH3 56,01 4,07 (3H, s)

10-OCH3 56,01 4,08 (3H, s)

a
The experiments were obtained in CDCl3 at 600 MHz and the NMR chemical shift are giving in ppm related to TMS
signal at 0.00 ppm as internal reference. b The correct NMR chemical shifts of the carbon atoms were obtained through
one-bond 1H-13C (HSQC) and long-range 1H-13C (HMBC) experiments.
Agradecimentos:

Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro e bolsas de estudo.

Referências

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(Artigo do Emmanoel que foi submetido)

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A predominância dos alcaloides oxoaporfinicos na espécie X. excellens confirma a

quimiotaxonomia, pois esta classe de alcaloide esta amplamente distribuída em diversas espécies

de Xylopia, tais como: X. ferruginea (Zawawi et al., 2012) ().


O que confirma a quimiotaxonomia da espécie estudada.

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