Você está na página 1de 53

Curso de Pós-graduação a Distância

Atenção e
Reabilitação
Psicossocial

Autor:
Ludmila de Moura

Universidade Católica Dom Bosco Virtual


www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
SUMÁRIO

UNIDADE 1- REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL ................................................... 03


1.1 Antecedentes históricos .................................................................................... 03
1.2 Conceituação da reabilitação psicossocial ....................................................... 08

UNIDADE 2 – TEORIAS SOBRE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL ................... 18

UNIDADE 3 – A RFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL: POLÍTICA DE SAÚDE


MENTAL DO SUS .................................................................................................. 23
3.1 Hospital Psiquiátrico ......................................................................................... 25
3.2 História do CAPS .............................................................................................. 32
3.3 Tipos de CAPS ................................................................................................. 37
3.4 Programa nacional de Avaliação de Centros de Atenção Psicossocial ............ 39
3.5 CAPS e suas funções estratégicas ................................................................... 40
3.6 Serviço Residencial Terapêutico....................................................................... 45
3.7 Programa de Volta para Casa........................................................................... 49

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 52

2
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UNIDADE 1 – REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

1.1 Antecedentes históricos

No Brasil, desde a metade do século 19, os doentes mentais sempre foram


excluídos da sociedade, sendo internados em hospitais psiquiátricos, por longos
períodos.
Tais hospitais foram construídos em grandes centros urbanos, sendo que
grandes áreas ficaram desassistidas de qualquer tipo de atendimento em saúde
mental.
A partir do movimento
chamado de antipsiquiatria, que se
iniciou na década de 60 na Itália, com
Franco Basaglia, apregoou-se um
movimento de reforma psiquiátrica
nos países ocidentais, levando
posteriormente ao movimento da luta
antimanicomial.
Fonte: http://migre.me/cmnTN

Então “havia essa necessidade de se elaborar um conjunto de formas de


atendimento em saúde mental que seriam aplicadas nos serviços substitutivos que
vinham surgindo com o desmantelamento dos manicômios” (SANTOS, 2008, p. 66).
Esse movimento europeu acabou por influenciar a psiquiatria brasileira.
Na década de 70, no Brasil surgem experiências de substituição do
atendimento hospitalar – a internação psiquiátrica, por atividades extramuros, na
comunidade.
Novas políticas de saúde surgem com a criação do SUS – Sistema Único
de Saúde, a partir da Constituição de 1988. Uma nova política de saúde mental é
definida, em continuidade aos primeiros movimentos da psiquiatria comunitária,
surgida na década anterior.
O governo brasileiro passa a seguir as recomendações da OPAS -
Organização Panamericana de Saúde, contida na Carta de Caracas (de 1990), no

3
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
sentido de ir substituindo os leitos hospitalares por serviços substitutivos criados na
comunidade (BRASIL, 2010):

Incentiva-se a criação de serviços em saúde mental públicos e


territorializados (território é a designação não apenas de uma área
geográfica, mas das pessoas, das instituições, das redes e dos
cenários nos quais se dão a vida comunitária), ao mesmo tempo em
que se determina a implantação de critérios mínimos de adequação
e humanização do parque hospitalar especializado.

Os serviços
substitutivos são assim
chamados, pois têm por objetivo
a desinstitucionalização dos
pacientes psiquiátricos, de
forma a que recuperem a sua
cidadania, deixando de estar
apartados da comunidade da
qual pertencem.
Fonte: http://migre.me/cmnLO

Nesse sentido o foco deixa de ser “a doença mental” e passa a ser o de


“saúde mental” (SANTOS, 2008).
Mas o que se viu é que não basta derrubar muros dos hospitais
psiquiátricos, não é questão de local, de “setting”. Trata-se muito mais de lidar com
preconceitos, novas ideias de que os pacientes têm direito a serem vistos como
cidadãos:

O fato é que a pretensão de detonar um processo de


desinstitucionalização não se garante pela simples criação de um
serviço aberto e mais humanitário do que aquele que se esconde
por detrás dos muros do Hospital Psiquiátrico. A tarefa é mais
complexa e trata-se, de fato, de transformar concepções e relações
(ROSA, 2003, p.316).

4
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Fonte: http://migre.me/cmomW

Por trás da criação dos serviços substitutivos está a noção de cidadania,


que lhe foi retirada com a internação de longa duração. Este conceito (de cidadania)
“implica na participação ampla dos indivíduos em todos os aspectos da vida social,
e o acesso aos bens materiais e culturais da sociedade” (AMARAL; DURMAN,
2004).
Essa forma racionalista de pensar afirma que “a cidadania é a plena posse
da razão. O louco seria aquele excluído da razão e, consequentemente, da
cidadania” (SANTOS, 2008, p.65).
Por fim, segundo Rosa (2003, p. 319), os serviços substitutivos devem:

(...) oferecer diversos espaços terapêuticos, possibilitando aos


usuários o estabelecimento de vínculos, o acolhimento, as trocas, as
relações, as ligações, o aprendizado e as construções necessárias
para que efetive seu projeto de tratamento. Tal projeto deve ser
repensado constantemente, uma vez que as necessidades dos
usuários transformam-se no decorrer do tempo e o serviço procura
contemplar esses diversos níveis de necessidade. [...]

5
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Com o fechamento de leitos de baixa qualidade,

um processo responsável de desinstitucionalização de pacientes


longamente internados passa a ter início, com a implantação de
Residências Terapêuticas e a inclusão de beneficiários no Programa
de Volta para Casa. Simultaneamente, uma rede aberta e
diversificada de atenção à saúde mental deve ser implantada, com
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência e
Cultura, ações de saúde mental na atenção básica e programas de
inclusão social pelo trabalho (BRASIL, 2010).

Os CAPS foram criados através da Portaria GM/MS n.º 336, de 19 de


fevereiro de 2002 (ANEXO 1).

Fonte: http://migre.me/cmoBl

Hirdes (2001), apresenta três motivos que fizeram da Reabilitação


Psicossocial um interesse de estudos científicos:
 O movimento de Reforma Psiquiátrica em países ocidentais, como a
Inglaterra e a Itália, a partir da década de 60, tornando necessário o
surgimento de serviços alternativos comunitários para atender aos
pacientes egressos dos leitos fechados em hospitais psiquiátricos;
 O reconhecimento dos direitos dos portadores de distúrbios mentais,
de outras formas de tratamento mais humanizadas, substituindo a
coerção física (como o eletrochoque) e o uso de medicação excessiva (o
“sossega leão”), que eram usados como forma de contenção da loucura;

6
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Fonte: http://migre.me/cmoLw

 Os novos avanços científicos que mostraram que o paciente


esquizofrênico ou psicótico era passível de tratamento além da simples
internação crônica, desde que a família e a comunidade fossem
envolvidas.

Desse modo, “a reabilitação psicossocial surgiu como uma alternativa para


tais situações em contextos sócio-históricos que buscavam não apenas a
humanização de instituições psiquiátricas” (SANTOS, 2008, p. 66), mas que
consideram que os “loucos” são também cidadãos de pleno direito.
Antes de apresentarmos os tipos de Serviços Substitutivos aos Manicômios,
vamos discutir a conceituação sobre Reabilitação Psicossocial.

Exercício 1

Analise os enunciados a seguir:

I. A Reabilitação Psicossocial deve ser apenas para pacientes "crônicos".


II. O processo saúde-doença envolve também aspectos biológicos, socioculturais e
psíquicos.
III. Para que ocorra uma efetiva reabilitação, é importante a reinserção da pessoa
na sociedade.
IV. A vulnerabilidade psicológica de uma pessoa se define como a capacidade de

7
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
reação a acontecimentos estressantes.
V. Não é uma necessidade ética a desinstitucionalização dos internos em
manicômios.
a) Apenas os enunciados I, II e III estão corretos.
b) Apenas os enunciados I, II, III e V estão corretos.
c) Apenas os enunciados II, III e IV estão corretos.
d) Apenas os enunciados III, IV e V estão corretos.
e) Apenas os enunciados II e III estão corretos.

1.2 Conceituação da reabilitação psicossocial

A eficácia no enfrentamento de fatos estressantes define a vulnerabilidade


psicológica de uma pessoa. Se os recursos utilizados para o enfrentamento não
foram desenvolvidos pela pessoa, poderão ocorrer transtornos mentais.

Os fatores de vulnerabilidade são inversamente proporcionais à


capacidade de enfrentamento de acontecimentos estressantes. Tais
fatores podem ser inespecíficos (como isolamento, falta de sono,
doenças somáticas e efeitos do uso de tóxicos) e específicos (crises
existenciais, reações de perda pessoal, eventos traumáticos e
conflitos insolúveis) (LUSSI; PEREIRA; PEREIRA JUNIOR, 2006, p.
450).

Esses mesmos autores alertam que ao enfrentarmos situações difíceis em


qualquer altura da vida, se nossa capacidade de enfrentamento estiver reduzida,
poderá se desencadear um processo que conduzirá eventualmente a um transtorno
mental.

Fonte: http://migre.me/cmnAO

8
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Essas situações podem trazer para o sujeito mudanças positivas e
crescimento do ser humano. Mas se não for uma resolução saudável, poderá
ocasionar rupturas no processo existencial (CIOMPI; DAUWALDER; AQUE, 1987,
apud LUSSI; PEREIRA; PEREIRA JUNIOR, 2006). Esses autores sugerem o
aprimoramento das habilidades em situações sociais, para diminuir a
vulnerabilidade da pessoa.
Para esse aprimoramento das habilidades sociais, muitas vezes vai ser
necessária a ajuda de profissionais de serviços de saúde mental.
No Brasil, a Reabilitação Psicossocial foi regulamentada com a publicação
da Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001 [ANEXO 2], que “dispõe sobre a proteção e
os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental”, que em seu artigo 5º define:

Art. 5° O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se


caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente
de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto
de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial
assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente
e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo,
assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário
(BRASIL, 2001).

Observa-se neste artigo que a Reabilitação Psicossocial era apenas voltada


aos pacientes “crônicos”, internados por longo tempo, em instituições psiquiátricas,
ou por ser portador de transtornos mentais ou por falta de suporte social. Aqui se
preconiza que deveria haver o planejamento de alta, sob responsabilidade técnica
de profissional competente.

Fonte: http://migre.me/cmqLD

9
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Posteriormente os movimentos sociais e dos trabalhadores de saúde mental
vão defender a ideia de que a Reabilitação Psicossocial deve ser estendida a todos
os pacientes e não somente aos doentes “crônicos”.

Fonte: http://migre.me/cmrBR

Outro problema encontrado na literatura é a respeito da nomenclatura


usada: reabilitação psicossocial e/ou reabilitação psiquiátrica e/ou ressocialização.
Hirdes (2001), usa as duas primeiras nomenclaturas como sinônimas. Já
Santos (2008), defende a nomenclatura Reabilitação Psicossocial por crer que esta
só é possível ocorrer fora do hospital psiquiátrico, justificando através de Basaglia,
pois para este “seria impossível que a ressocialização viesse a acontecer em um
ambiente de instituição total, como o dos manicômios, porque tais locais eram e são
caracterizados como segregadores e estigmatizantes” (p. 67).
Tundis e Costa (1987), afirmam que Delgado usa o termo ressocialização,
em vez de reabilitação, referindo-se à recuperação da cidadania, (da identidade
psíquica e social) dos doentes mentais internados.
No dicionário Caldas Aulete (iDicionário Aulete, on line), encontramos o
termo: (res.so.ci:a.li.za.ção) sf. 1. Ação ou resultado de ressocializar(-se). Já o
verbo (res.so.ci:a.li.zar) v. significa 1. Socializar (-se) de novo.
E o que seria “socializar-se”? No mesmo dicionário encontramos:
(so.ci:a.li.zar) v. 1. Adequar(-se) à vida em grupo, com percepção de direitos,
limites, solidariedade, etc. numa sociedade; agrupar(-se) ou integrar(-se) em
sociedade.

10
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Já o termo (re:a.bi.li.ta.ção, sf.) significa (iDicionário Aulete, on line):

1. Ação ou resultado de reabilitar(-se).


2. Recuperação da estima pública ou particular, pela regeneração
moral ou pelo sucesso.
3. Med. Restabelecimento da saúde física e/ou mental, por meio de
cuidados médicos.
4. Arq. Urb. Conjunto de medidas destinadas a recuperar a
capacidade de utilização de um imóvel ou de um complexo
urbanístico.
5. Jur. Recuperação do crédito por parte de alguém que saldou seus
débitos.
6. Jur. Retorno de uma pessoa à condição de que antes usufruía.

Inicialmente nos interessa, especificamente, as definições de números 1, 3


e 6, porque trazem a ideia da volta a um estado anterior, desde que sob cuidados
médicos.
Vemos uma limitação nesta definição, pois restringe os cuidados apenas ao
médico, desprezando os outros integrantes da equipe de saúde mental. O dicionário
retrata ainda a visão antiga e preconceituosa, do poder único do médico sobre os
cuidados do paciente.
Outra limitação é de que jamais a pessoa pode voltar a um estado anterior,
como que negando a doença existente, assim como negando a internação e o
tratamento.
Para Benetton (apud PITTA, 1996, p. 149),

[...] o termo “reabilitação” precisa ser desvinculado de estados de


exceção e precisa, ao mesmo tempo, ter e manter compromissos de
fato com o desenvolvimento de vida, qualquer vida, no sentido da
trama do cotidiano que implica na aceitação de tudo o que é
habitual.

A história da doença deve ser parte de sua história, assim como da família e
da comunidade onde vive.
Juridicamente também se reforça o juízo de valor com a ideia de
“recuperação da estima pública”, “regeneração moral”, “recuperação de crédito”,
como se o “doente” sofresse apenas um desvio da “normalidade”.
Assim se mantém a ideia de um sujeito a-histórico, uma visão mecanicista,
biomédica, como se o portador de uma doença mental fosse apenas um órgão a ser
consertado.

11
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Fonte: http://migre.me/cmoiU

Para Santos (2008, p.68):

No caso do uso em saúde mental seria uma recuperação de


faculdades psíquicas de incapacitados, o que implicaria em um
sentido “ortopédico” de reabilitação. Já esta acepção remeteria aos
serviços brasileiros de reabilitação de pessoas que passaram por
algum trauma ou acidente, prevalecendo, desta forma, um modelo
mecânico de concerto de fraturas, em uma busca por uma
“normalidade” fisiológica. Ou, no caso, “normalidade” psíquica.

Sabe-se que o processo saúde-doença envolve também aspectos


socioculturais e psíquicos, além do biológico. Dessa forma, o termo psicossocial foi
criado em oposição à visão médica reducionista (SANTOS, 2008).
Reabilitar, para Liberman (1993 apud LUSSI; PEREIRA; PEREIRA JUNIOR,
2006, p. 450), consiste em “melhorar as capacidades das pessoas com transtornos
mentais no que se refere à vida, aprendizagem, trabalho, socialização e adaptação
de forma mais normalizada possível”.
Para Pitta (1996, p. 21), também é possível considerar a reabilitação
psicossocial como um “processo pelo qual se facilita ao indivíduo com limitações, a
restauração no melhor nível possível de autonomia de suas funções na
comunidade”.
Segundo Pinto (2006, apud SANTOS, 2008), o termo psicossocial passou a
ser utilizado na década de 60, nos Estados Unidos, consequência do movimento da
reforma psiquiátrica. E na década de 80, no Brasil, passou a ser usado para
designar os serviços de saúde mental, substitutivos ao paradigma da internação
hospitalar como única forma de tratamento.
Santos (2008), opta pelo termo “reabilitação psicossocial” por este ser
usado na legislação brasileira.

12
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1987 definiu a Reabilitação
Psicossocial como “[...] o conjunto de atividades capazes de maximizar
oportunidades de recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitadores
da cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos individuais,
familiares e comunitários” (PITTA, 1996, p. 21).
Em continuidade, a OMS fez uma proposta terminológica reconhecendo:

Doença ou Distúrbio (condição física ou mental percebida como


desvio do estado de saúde normal e descrita em termos de sintomas
e sinais); Dano ou Hipofunção (dano orgânico e/ou funcional a cargo
de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica);
Desabilitação (disabilitá, limitação ou perda de capacidades
operativas produzidas por hipofunções); Deficiência (desvantagem,
consequência de uma hipofunção e/ou desabilitação que limita ou
impede o desempenho do sujeito ou das capacidades de qualquer
sujeito) (SARACENO, 2001, p. 14).

Santos (2008, p. 71-72), amplia a explicação destas categorias da OMS,


para qualificar os tipos de danos e comprometimentos passíveis de reabilitação
psicossocial:

A primeira, impairment, se refere a uma alteração, deteriorização


e/ou diminuição da função psicológica, social, anatômica ou
fisiológica, que seria determinada por algum dano orgânico ou
funcional e as formas de tratamento envolveriam medicamentos,
psicoterapia, fisioterapia e qualquer outra especialidade necessária.
Disabitily seria a restrição ou carência de habilidades para o
desempenho de atividades socialmente necessárias advindas do
dano (impairment). As formas de tratamento seriam a laborterapia, o
treinamento em habilidades sociais e a reabilitação vocacional.
Já no caso do handicap, ou seja, das desvantagens advindas de
uma alteração – impairment – ou de desabilidades – disabitily –
resultantes de uma alteração de longo prazo do estado “normal” de
uma pessoa, o tratamento seria mais complexo e chegaria a
envolver alternativas residenciais e programas de suporte
comunitário nas áreas de trabalho, educação, transporte e lazer.

A Declaração de Consenso em Reabilitação Psicossocial, escrita por


pesquisadores e profissionais de diferentes nacionalidades, afirma que:

[...] reabilitação psicossocial é um processo que facilita a


oportunidade para indivíduos – que são prejudicados, inválidos ou
dificultados por uma desordem mental – alcançarem um ótimo nível
de funcionamento independente na comunidade. Isto implica ambos
os indivíduos – profissionais e usuários – melhorando competências
e introduzindo mudanças ambientais para criar uma vida com a

13
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
melhor qualidade possível para pessoas que experimentaram uma
desordem mental, ou têm uma deteriorização mental que produz um
certo grau de inaptidão (HIRDES, 2001, p. 65).

Baseados nas definições anteriores, Lussi, Pereira e Pereira Junior (2006,


p.449), afirmam que a reabilitação engloba diversas ações que “se destinam a
aumentar as habilidades do indivíduo, diminuindo, consequentemente, suas
desabilitações e a deficiência, podendo, também, no caso do transtorno mental,
diminuir o dano”.
A reinserção na sociedade é um importante fator
para que seja efetiva a reabilitação. Quando a própria
pessoa se vê incapaz ou impotente para enfrentar a vida,
emerge um estado de inércia e as capacidades de
enfrentamento às dificuldades são enfraquecidas. Essa
situação pode ser melhorada, se o apoio da rede social
for ampliado (LUSSI; PEREIRA; PEREIRA JUNIOR,
2006).
Fonte: http://migre.me/cmsj0
Dessa forma, o conceito de reabilitação psicossocial, segundo Saraceno
(1996, p. 13), envolve “profissionais e todos os atores do processo de saúde-
doença, ou seja, todos os usuários e a comunidade inteira”, supera o conceito
defendido pela psiquiatria tradicional, que separa sujeito e contexto social.

Assim, o processo de reabilitação pode ser visto como “reconstrução, um


exercício pleno de cidadania e, também, de plena contratualidade nos três grandes
cenários: hábitat, rede social e trabalho com valor social” (SARACENO, 1996, p.
15).
A simples alteração do estado de desabilidade para o estado de habilidade,
ou de incapacidade para a capacidade, não é suficiente – embora necessária - para
ser considerada reabilitação.
Essas conceituações têm que estar contextualizadas no momento histórico,
na cultura da comunidade e no local onde ocorrem as ações para com o portador de
transtorno mental. “Desse modo, não há uma fronteira delimitadora dos que
passaram a estar aptos e não aptos à vida, seja ela no âmbito pessoal, social, ou
familiar” (SARACENO, 1996, p. 17).

14
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
As ideias de Pitta (1996, p. 21), vão nesta mesma direção, compreendendo
que:
[...] a reabilitação psicossocial seria um conjunto de programas e
serviços desenvolvidos para facilitar a vida de pessoas com
problemas considerados severos e persistentes em saúde mental,
através da ênfase em aspectos mais “sadios” do organismo e vida
destas pessoas e com uma abordagem compreensiva e um suporte
vocacional no potencial residencial, social, recreacional e
educacional ajustado com as demandas individuais de cada
indivíduo e seu contexto sócio-histórico-cultural.

Para Lussi, Pereira e Pereira Junior (2006), a psiquiatria tradicional sempre


viu a cronificação e o empobrecimento do portador de transtorno mental como
intrínsecos à doença. Porém, diversas pesquisas epidemiológicas recentes
demonstram que na realidade tanto a cronificação quanto o empobrecimento citado
se devem a um conjunto de variáveis externas ao indivíduo. Essas variáveis estão
principalmente ligadas ao contexto da família e da comunidade, podendo ser
modificadas por meio de um processo adequado de intervenção.
Essas intervenções ocorrerão nas variáveis ligadas ao meio ambiente do
paciente, em nível ambiental bem diferente da abordagem biológica defendida pela
psiquiatria tradicional. Então:

uma intervenção sobre a psicose tem sentido, desde que conduzida


sobre ‘todo o campo’, influindo assim sobre a complexa constelação
de variáveis que constituem os fatores de risco e os de proteção. [...]
Nesse sentido, a necessidade de reabilitação coincide com a
necessidade de se encontrarem estratégias de ação que estejam
em relação mais real com as variáveis que parecem mais implicadas
na evolução da psicose (SARACENO, 2001, p. 17).

Deduz-se que a ideia de reabilitação de Saraceno leva em conta a


complexidade do indivíduo, considerando a interação de diversos fatores.
Pitta (1996), lembra que os serviços
de saúde mental têm que considerar qual a
sua finalidade, quem são seus usuários,
avaliando o quanto a nossa sociedade é
díspar e intransigente com as diferenças,
reforçando o vínculo da questão da ética e
da cidadania.
Fonte: http://migre.me/cms9x

15
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Segundo Pinto (2006, apud SANTOS, 2008, p. 72), analisando um CAPS da
cidade do Rio de Janeiro, chama a atenção que:

a reabilitação psicossocial poderia ser entendida como uma técnica


de intervenção, de medicalização do social, de biopoder, de controle
do corpo e este seria o grande risco que ela representaria. Isto se
daria quando ela assumisse um caráter controlador e não
transformador no e do atendimento em saúde mental.

Santos (2008, p. 73), discute as ideias de Pitta (1996) e de Pinto (2006),


afirmando que “uma” técnica de reabilitação psicossocial, se existir, deveria fazer
uso de todas as técnicas existentes, em benefício das “chamadas necessidades dos
usuários e as oportunidades/recursos existentes no contexto de vida dele”.
Ou seja, deve-se ter o cuidado de não estar mudando apenas a “roupagem”
das tradicionais práticas em saúde mental, mantendo as antigas relações de poder,
de subjugo de uns, ditos “racionais” ou “normais”, sobre os “loucos”, mudando-se
apenas o espaço físico, “saindo dos muros e grades dos manicômios para as salas
e serviços dos CAPS” e de outros serviços substitutivos (SANTOS, 2008, p. 73).

Fonte: http://migre.me/cmqHa

Exercício 2

A Ressocialização está mais bem explicada em qual das alternativas


abaixo?
a) É a recuperação da autoestima e do antigo posto de trabalho com os

16
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
mesmos benefícios.
b) É a superação de antigos problemas familiares e melhor relacionamento
com os parentes.
c) É a conquista de novas habilidades profissionais e desenvolvimento
artístico.
d) É a recuperação da identidade psíquica e social dos doentes mentais.

17
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UNIDADE 2 - TEORIAS SOBRE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Em relação às teorias sobre Reabilitação Psicossocial, há diferentes


posicionamentos.
Numa abordagem à teoria da reabilitação psicossocial, Saraceno (1996),
sugere que a reabilitação psicossocial é uma prática que ainda carece de uma
teoria e, assim, acaba se apoiando em ideologias, tais como aquela que entende
que a sociedade é responsável por ter marginalizado os incapazes e que estes
devem ser amparados.
Essa autora considera que a atividade da reabilitação psicossocial seria
muito mais complexa e profunda do que as teorias atuais, que são baseadas em
uma concepção hipocrático-médica decorrente da clínica, onde somente os
profissionais detêm os conhecimentos necessários para conceder a reabilitação
psicossocial aos pacientes e esses seriam não mais que pessoas passivas -
pacientes.
Já Benetton (apud PITTA, 1996), defende que a reabilitação psicossocial é
a recuperação da cidadania, dos direitos sociais, políticos e legais.
Santos (2008, p. 69), acredita que a “reabilitação psicossocial também não
seria apenas mais uma técnica empregada por profissionais especializados em
saúde mental, dentro e fora do contexto hospitalar”.
Conclui-se, para esses autores, que tratamento não é sinônimo de
reabilitação psicossocial. Enquanto o tratamento buscaria a remoção dos sintomas,
a reabilitação visaria principalmente à aquisição de habilidades diversas que
dotariam o sujeito de maior independência funcional (MARQUES, apud PITTA,
1996).
O movimento da reforma psiquiátrica – com a diminuição de leitos
hospitalares e o surgimento de serviços substitutos em saúde mental, são
resultados de uma exigência ética inicialmente por parte dos trabalhadores de
saúde e posteriormente, por parte de toda a sociedade. “E, portanto, deve pertencer
a um grupo de profissionais que tem como prioridade a abordagem ética do
problema da saúde mental” (SARACENO, 1996, p. 13-14).
Então reabilitação psicossocial não depende apenas de técnica e de
tecnologia, mas de uma visão global de cidadania:

18
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Desta forma, por ser a reabilitação algo que busca lidar com a
questão da saúde mental de forma global já implicaria em uma
mudança de perspectiva do que viria a ser um serviço em saúde
mental. Assim, não haveria os profissionais reabilitadores, mas sim
equipes com profissionais em diversas especialidades criando e
trabalhando em serviços de reabilitação psicossocial. E, ainda, não
seria algo restrito à relação técnico de referência e usuário, mas
envolveria todos os usuários e profissionais, as famílias dos
usuários e a comunidade (SARACENO, 1996, p. 14).

Reabilitar então estaria muito mais ligado ao conceito de adquirir cidadania


do que somente habilidades funcionais; ou
seja, promover cidadãos e não somente
esquizofrênicos pintores ou meros
artesãos. Essas técnicas artesanais, no
entanto, poderiam dar início ao processo
de reabilitação, visando à cidadania.
Fonte: http://migre.me/cmqAo

Caso essas técnicas não levassem o sujeito a atingir a cidadania, teriam


sido úteis apenas como entretenimento, um mero passatempo.
Entretenimento pode significar ‘diversão’ (origem italiana) e também ‘manter
dentro’ (origem latina). Então temos serviços de atendimento em saúde mental que
(apenas) empregam técnicas reabilitadoras como o teatro, pintura, música ou
artesanato, e outros serviços que promovem a reabilitação psicossocial através do
exercício da cidadania entre seus usuários (SANTOS, 2008).

A construção da plena cidadania, ponto fundamental da reabilitação


psicossocial, depende de variáveis que operam contra, ou operam a
favor da contratualidade em casa, no trabalho e na rede social. Tudo
o que está contra isso, está contra a reabilitação. Tudo que está a
favor disso é uma variável que coopera para reabilitação
(SARACENO, 1996, p. 17-18).

19
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Fonte: http://migre.me/cmtss

Com relação às questões conceituais de práticas de reabilitação psicossocial


em saúde mental, há posturas divergentes, como as de países como a Itália e a
Inglaterra, sendo esta última detentora de uma visão mais funcionalista.
Segundo Hirdes (2001), há escassez de trabalhos científicos brasileiros
sobre este tema.
Santos (2008, p. 70), cita que:

para Delgado (apud TUNDIS; COSTA, 1987), a ressocialização, que


seria a reabilitação, a recuperação da identidade psíquica e social
de doentes mentais, pode ser compreendida como um conjunto de
estratégias terapêuticas elaboradas em um contexto de atendimento
em saúde mental não excludente desenvolvido para a reconstrução
da cidadania das pessoas internadas por longos períodos em
hospitais psiquiátricos.

Nesse sentido, os serviços de atendimento em reabilitação psicossocial têm


que ter uma forma de tratamento individualizada, específica para cada indivíduo,
voltada para o potencial de mudança, para a capacidade de desenvolvimento e
aquisição de habilidades dos usuários. O projeto terapêutico não visa à redução de
sintomas, mas antes, para o aumento de competências, baseado em um vínculo de

20
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
confiança entre usuário-profissional de saúde, para a tomada de decisões, sendo
que a última palavra seria a do cliente, inclusive sobre a duração de seu tratamento
(SANTOS, 2008, p. 70-71).
Essa autora entende “a reabilitação psicossocial como um processo que se
dá em um determinado contexto sócio-histórico-cultural e seria irrealizável dentro de
hospitais psiquiátricos”. Porque a psiquiatria tradicional, que mantém a lógica dos
manicômios, é positivista, alheia ao contexto sócio-histórico-cultural que produz e
mantém a “loucura” em oposição a uma “racionalidade”, a uma “normalidade”.

Fonte: http://migre.me/cmtLM

Os manicômios mantêm a dicotomia saúde/doença, primam pelo uso


maciço da medicação, facilitam a cronificação da doença, têm controle rígido de
horários, quando muito usam de entretenimentos, mas não de reabilitação em seu
sentido mais amplo.
Por tudo que foi dito acima, percebe-se que a reabilitação psicossocial é
difícil de ser conceitualizada, já que deve levar em conta as individualidades do
portador de distúrbio mental, considerando o seu contexto sócio-histórico-cultural e
deve ser construída no dia a dia no seu fazer.

21
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Exercício 3

Analise os enunciados a seguir:


I. Segundo Benetton, a reabilitação psicossocial supõe a recuperação da cidadania,
dos direitos sociais, políticos e legais.
II. Reabilitar está mais ligado ao conceito de adquirir cidadania, mais do que apenas
a aquisição de habilidades funcionais.
III. Os serviços de atendimento em reabilitação psicossocial têm que ter uma forma
de tratamento individual.
IV. Os manicômios primam pelo uso maciço da medicação
a) Apenas os enunciados I e III estão corretos.
b) Apenas os enunciados I, II e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados II, III e IV estão corretos.
d) Apenas os enunciados II e IV estão corretos.
e) Todos os enunciados estão corretos.

22
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UNIDADE 3 - A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL: POLÍTICA
DE SAÚDE MENTAL DO SUS

Na década de 1970, iniciou-se a emersão do “movimento sanitário”, que


preconizava mudanças nas práticas de saúde, como modelos de atenção e gestão,
saúde coletiva, participação de trabalhadores e usuários na sua gestão e produção,
etc. Nessa mesma época, no Brasil, deram-se os primeiros passos da Reforma
Psiquiátrica (BRASIL, 2010).
Mesmo tendo sido contemporâneo desse Movimento, a Reforma
Psiquiátrica brasileira se fundamenta principalmente na superação da violência
imposta aos pacientes mentais confinados, preocupação também crescente em
outros países (BRASIL, 2010).

Fonte: http://migre.me/cr0bF

Com grande complexidade política e social, a Reforma Psiquiátrica é um


processo que envolve atores, instituições e forças por vezes concorrentes, em
territórios diversos – seja geograficamente, nível governamental, educacional,
mercadológico, profissional, de pacientes, familiares e da opinião pública, entre
outros (BRASIL, 2010).
O processo da Reforma Psiquiátrica desenvolve-se e aprimora-se entre
impasses, tensões, conflitos e desafios, próprios do cotidiano das instituições,

23
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
serviços e relações interpessoais, tornando-se um rico conjunto de práticas,
saberes, valores sociais e culturais (BRASIL, 2010).
Nas próximas linhas faremos uma descrição geral dos principais marcos
históricos da Reforma Psiquiátrica no Brasil, aprofundando um pouco o processo de
desenvolvimento da política de saúde mental do Ministério da Saúde contemplando
as diretrizes da Reforma (BRASIL, 2010).
O movimento, formado por trabalhadores que integravam o movimento
sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de
profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas (Movimento
dos Trabalhadores em Saúde Mental - MTSM), surgiu em 1978. Este movimento
protagonizou e construiu a denúncia e as violências dos manicômios, da
preeminência de uma rede privada de assistência e da mercantilização da loucura,
formando uma crítica ao saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico presente
(BRASIL, 2010).
Um exemplo é a ruptura com paradigmas que houve no asilo Colônia Juliano
Moreira, que tinha mais de 2.000 internos no início da década de 1980, no Rio de
Janeiro, que usou a experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria.
(BRASIL, 2010).
No II Congresso Nacional do
MTSM realizado em Bauru – SP, em
1987, adotou-se o lema “Por uma
sociedade sem manicômios”. Também
neste ano foi realizada I Conferência
Nacional de Saúde Mental, no Rio de
Janeiro. (BRASIL, 2010).
Fonte: http://migre.me/cpTsC

Importante ressaltar, nesse período, o nascimento do primeiro Centro de


Atenção Psicossocial (CAPS) no Brasil, em 1987 no município de São Paulo,
juntamente com a intervenção na Casa de Saúde Anchieta em Santos – SP.
Também foram implantados os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e dos
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) para os egressos de hospitais
psiquiátricos. (BRASIL, 2010).

24
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
3.1 Hospital Psiquiátrico

A Política Nacional de Saúde está reduzindo gradualmente os leitos


psiquiátricos de baixa qualidade assistencial, dentro de uma diretriz de
reestruturação da assistência hospitalar psiquiátrica, de forma gradual, pactuada e
programada. (SANTOS, 2008).
Uma projeção neste cenário era de que até 2010 menos de 30 mil leitos
psiquiátricos seriam reduzidos. No entanto, faz-se necessário, a ampliação de leitos
psiquiátricos em hospitais gerais, atualmente, apresentando o número de 2.100
leitos, em pequenas unidades destinadas ao atendimento de transtornos causados
pelo uso de álcool e outras drogas.
O número de serviços CAPS III, que funcionam 24 horas e podem realizar
internações breves, é muito pequeno, e tem a sua implantação realizada de
maneira lenta, o que demonstra um problema a ser resolvido. O desejável é que
existam em todos os municípios acima de 200 mil habitantes.
O Ministério da Saúde resolveu substituir o indicador “leitos psiquiátricos por
1.000 habitantes” pelo indicador “leitos de atenção integral em Saúde Mental (LAI-
SM) por 1.000 habitantes”, contabilizando também os leitos de hospital psiquiátrico,
os disponíveis em hospitais gerais, unidades de referência para álcool e outras
drogas, CAPS III e emergências gerais. Os municípios de Campinas, Santos e
Santo André (SP); Betim (MG); Sobral (CE) e Pelotas (RJ) têm demonstrado um
ótimo funcionamento, apresentando uma real substituição do modelo
hospitalocêntrico (cobertura de 0,18 a 0,25 leitos por 1.000 habitantes). Os
municípios com população acima de 500 mil habitantes são os que apresentam o
maior problema (0,63% das cidades brasileiras).
De modo articulado e planejado foi realizada a reversão do modelo de
atenção de acordo com a expansão de uma rede de serviços territoriais e de ações.
Em parceria com estados e municípios, o descredenciamento do Sistema Único de
Saúde (SUS) vem ocorrendo gradativamente, com o intuito de implantar uma rede
substitutiva. Dezoito hospitais psiquiátricos foram apontados para este
descredenciamento a partir da PNASH – psiquiatria, e número de leitos dos
hospitais psiquiátricos vêm sendo reduzidos de forma longitudinal com a migração

25
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
de macro para micro hospitais, além de vários já estarem em processo de
fechamento.

Gráfico 1 – Leitos psiquiátricos SUS por ano (Brasil 2002-2011)

60.000

51.393
50.000 48.303
45.814
42.076
40.000 39.567 37.988
36.797
34.601 32.735
32.284
30.000

20.000

10.000

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

O fato de estados como o Pará, Acre e Amazonas demonstrarem um


percentual abaixo da média nacional, quando comparados a outros estados,
apresentando somente um hospital em seus territórios faz com que o incentivo à
organização de redes de atenção psicossocial seja aumentado, fazendo assim com
que a acessibilidade tenha também um crescimento.
A oferta de leitos psiquiátricos no Brasil, com as distribuições dos atuais
42.076 leitos demonstram um processo histórico de implementação de um modelo
hospitalocêntrico de Saúde Mental, concentrada nos centros de maior
desenvolvimento econômico do país, e deixando regiões carentes sem assistência.

26
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Tabela 1 – Leitos em Hospitais Psiquiátricos por UF (Brasil 2011)

Leitos por
UF População Nº Hospitais Leitos SUS
10.000 hab.
AC 15993583 1 53 0,03
AL 3120922 5 880 2,82
AM 41252160 1 126 0,03
BA 10439601 7 832 0,80
CE 8796032 7 928 1,06
DF 6004045 1 85 0,14
ES 3766834 3 620 1,65
GO 3168133 10 1171 3,70
MA 3512672 3 663 1,89
MG 2068031 17 2242 10,84
MS 19595309 2 200 0,10
MT 1383453 2 202 1,46
PA 84488055 1 56 0,07
PB 6249682 5 706 1,13
PE 6569683 13 2028 3,09
PI 2449341 1 160 0,65
PR 10695532 15 2460 2,30
RJ 3033991 33 5819 19,18
RN 14021432 4 572 0,41
RS 3119015 6 801 2,57
SC 732793 4 670 9,14
SE 2562963 2 280 1,09
SP 7588078 54 10570 13,93
TO 3480937 1 160 0,46
Total 188.052.277 198 32.284 1,717
Total Brasil 190.732.694 1,693
Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

Essa redução ocorre numa ponta, enquanto na outra se amplia uma rede de
assistência aberta e inserida na comunidade. Inicia-se a desinstitucionalização de
27
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
pacientes longamente internados, num processo responsável tanto com a
implantação de Residências Terapêuticas, como com a inclusão de beneficiários no
Programa de Volta para Casa. Simultaneamente, outra rede aberta e diversificada
de atenção à saúde mental vem sendo implantada, com Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência e Cultura, ações de saúde mental na
atenção básica e programas de inclusão social pelo trabalho (SANTOS, 2008).
Desta maneira, a redução de leitos psiquiátricos no país se combina com a
expansão desses novos serviços comunitários de atenção à saúde mental. Essa
redução de leitos – gradual, pactuada e programada – se realiza por 2 mecanismos,
concomitantemente:
1 - Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares –
PNASH/Psiquiatria (PT GM 251, de 31 de janeiro de 2002): este Programa já
vistoriou todos os hospitais psiquiátricos públicos e conveniados ao SUS entre 2002
e 2007, avaliando os hospitais pela qualidade da assistência. As deficiências mais
comuns referem-se desde o projeto terapêutico dos pacientes e da própria
instituição, até aos aspectos gerais da assistência (longo tempo de permanência,
número alto de pacientes longamente internados) e aos aspectos gerais dos
pacientes (limpeza, calçados e roupas, entre outros). Esta avaliação gera uma
pontuação que, cruzada com o número de leitos do hospital, permite classificar a
instituição em 4 grupos de acordo com a qualidade da assistência: boa; suficiente;
aqueles que precisam de adequações e devem sofrer revistoria; e aqueles de baixa
qualidade, encaminhados para o descredenciamento pelo Ministério da Saúde, com
os cuidados necessários para evitar desassistência à população. (SANTOS, 2008).
O programa avalia todos os anos a estrutura física de todos os hospitais, a
dinâmica de funcionamento dos fluxos hospitalares, os processos e os recursos
terapêuticos da instituição, assim como a adequação e inserção dos hospitais à
rede de atenção em Saúde Mental em seu território e às normas técnicas gerais do
SUS, demonstrando, assim, ser um dispositivo fundamental para a melhoria da
qualidade à assistência hospitalar em psiquiatria e para a indução e a efetivação da
política de redução de leitos psiquiátricos.
2 - Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar no SUS
(PRH) – PT GM 52, de 20 de janeiro de 2004 – A principal estratégia deste
Programa é promover a redução progressiva e pactuada de leitos a partir dos
macro--hospitais, hospitais-cidade e hospitais de grande porte (de 240 a mais de mil

28
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
leitos). São componentes fundamentais desse Programa a redução do peso
assistencial desses hospitais de maior porte, que tendem a apresentar assistência
de baixa ou péssima qualidade, e a pactuação entre os gestores do SUS, os
hospitais e as instâncias de controle social, da redução planejada de leitos, evitando
a desassistência. Assim garante-se uma transição segura, onde a redução dos
leitos hospitalares é planificada e simultaneamente oferece alternativas de
atendimento no modelo comunitário. Para que isso ocorra, o Programa define os
limites máximos e mínimos de redução anual de leitos para cada classe de hospitais
(conforme o número de leitos existentes, contratados pelo SUS). Assim, todos os
hospitais com mais de 200 leitos devem reduzir no mínimo, a cada ano, 40 leitos.
Entre 320 e 440 leitos podem reduzir até 80 leitos ao ano (mínimo: 40), e com mais
de 440 leitos podem reduzir, no máximo, 120 leitos ao ano. Desta forma, busca-se a
redução progressiva do porte hospitalar, de modo a situarem-se os hospitais, ao
longo do tempo, em classes de menor porte (até 160 leitos).
Foram retirados do sistema nos últimos anos leitos de péssima qualidade
assistencial. O perfil dos hospitais psiquiátricos mudou. Se em 2002 apenas 24%
dos leitos se localizavam em hospitais de pequeno porte (com até 160 leitos), em
2007, cerca de 44% leitos em psiquiatria encontram-se nestes hospitais. (SANTOS,
2008).
Com a publicação da Portaria GM nº 2644/09 houve uma mudança estrutural
nesta redução de leitos de hospitais psiquiátricos, que contribuiu para a diminuição
dos problemas presentes nos macro hospitais além da qualificação do atendimento.
A partir de dezembro de 2002 a julho de 2011 houve uma migração dos leitos
de macro-hospitais para micro hospitais, sem que houvesse a criação de novos
hospitais e novos leitos psiquiátricos. De janeiro de 2004 a maio de 2005
aproximadamente 2.000 leitos foram desativados. Até o final de 2006 era esperado
pelo Ministério da Saúde a redução de 3.000 leitos de hospitais psiquiátricos de
grande porte.

29
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Gráfico 2 – Porcentagem de leitos psiquiátricos por porte hospitalar

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

O investimento Federal em saúde mental em 2011chega a 2,51% do total


gasto pelo Ministério da Saúde, correspondente a 2,31% do orçamento total da
saúde. Houve, assim, uma diminuição no valor total de gasto, porém em 2010 o
Ministério da Saúde contou com recursos extraordinários decorrentes da medida
provisória nº 498/10 que estabeleceu recursos para o Ministério da Saúde e para a
Secretaria Nacional sobre Drogas.
Mesmo não contando com recursos extraordinários no ano de 2011, o valor
gasto com a rede extra-hospitalar foi aumentado. Para 2012, espera-se um
momento significativo do investimento financeiro da rede de ação psicossocial.

30
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Tabela 2 – Proporção de recursos do SUS destinados aos hospitais
psiquiátricos e aos serviços extra-hospitalares entre 2002 e 2011
Gastos
Programa de 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Saúde Mental
Ações e
Programas
153,31 226,00 282,35 406,13 541,99 760,47 871,18 1.012,35 1.280,60 1.290,70
Extra-
hospitalares
Ações e
Programas 465,98 452,94 465,51 453,68 427,32 439,90 458,06 482,83 534,25 522,07
Hospitalares
Total 619,29 678,94 752,86 859,81 969,31 1.200,37 1.329,24 1.495,18 1.814,85 1.812,77
% Gastos
Hospitalares/ 75,24 66,71 61,83 52,77 44,08 36,65 34,46 32,29 29,44 28,80
Gastos Totais
% Gastos Extra-
Hospitalares/ 24,76 32,29 38,17 47,23 55,92 63,35 65,54 67,71 70,56 71,20
Gastos Totais

Orçamento
Executado
28.293,33 30.226,28 36.538,02 40.794,20 46.185,54 49.489,17 54.120,30 62.919,10 67.399,28 78.541,27
Ministério da
Saúde
% Gastos
Programas de
2,19 2,25 2,06 2,11 2,10 2,43 2,46 2,38 2,70 2,31
Saúde Mental/
Orçamento MS

Gastos MS em
Ações e
Serviços 24.293,34 27.181,16 32.703,50 37.145,78 40.750,59 45.801,74 48.670,19 58.270,26 61.965,20 72.332,28
Públicos de
Saúde
% Gastos
Programas de
Saúde 2,55 2,50 2,30 2,31 2,38 2,62 2,73 2,57 2,93 2,51
Mental/Gastos
ASPS

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

O investimento em serviços e ações extra-hospitalares na rede de atenção


psicossocial, em 2006, superou os gastos com a rede hospitalar. Em 2011, esta
tendência continua, o que reafirma o compromisso da gestão Federal com
investimentos em uma rede de atenção com diversificadas ações e serviços,
proporcionando assim, um exercício dos direitos civis de maneira plena.

31
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Gráfico 3 – Proporção de recursos do SUS destinados aos hospitais
psiquiátricos e aos serviços extra-hospitalares entre 2002 e 2011

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

3.2 História do CAPS

O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) surgiu em São Paulo em 1987.


Com recursos federais e de caráter público, este novo serviço veio atender a
demanda de atendimentos em saúde mental, tendo recebido o nome, a princípio, de
Centro de Atenção Psicossocial Luiz da Rocha Cerqueira, com a sigla CAPS, que
posteriormente foi seguida em todo o país pelos próprios usuários deste serviço;
tornando-se um modelo institucional para os demais CAPS brasileiros.
(GOLDBERG, apud PITTA, 1996).
Aos poucos foi sendo edificada a ideia dos centros de atenção psicossocial
como espaços que gerariam a reabilitação psicossocial, que se diferenciam
enquanto uma modalidade de assistência pública em saúde mental individual e
coletiva, que procuram a criação de uma ética e política ajustadas em saúde
mental, (SAMPAIO; SANTOS apud PITTA, 1996), e que procurariam partir com o
sentido de manter incluso, que caracterizava o modelo hospitalar de atendimento

32
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
em saúde mental, o que ainda vinha problematizar a questão da cidadania daqueles
ditos “insanos”.
Oliveira e Fortunato (2007), tentando desconstruir a loucura como sendo
elemento de estudo e tratamento regularizado
com uma veracidade científica, utilizam-se de
conceitos de Michel Foucault, no livro “A História
da Loucura”, onde o autor sugere uma
abrangência da loucura e os saberes em práticas
em saúde mental não apenas a partir da
racionabilidade, mas sim advindo de distintas
questões concernentes à vida, à julgada verdade
natural da ciência contemporânea, e da
problematização dos apontamentos de verdade e
dos conceitos de “loucura” e de “razão”.

Fonte: http://migre.me/cmoeO

Assim também deveriam ser raciocinados os centros de atenção


psicossocial, pois exigem uma desconstrução de práticas que fossem silenciadoras
de atendimento em saúde mental, com a concepção de inovações, voltadas para as
penúrias destes pacientes, não mais baseadas na doença, mas na aflição destes
indivíduos e sua relação com a sociedade. (OLIVEIRA; FURTADO, 2007, p.158).
Importante também é a questão dos profissionais destes serviços de
atenção psicossocial, que devem
perceber o processo de adoecer
psíquico, em sua complexidade
multidimensional, o que ampliaria a
noção conceitual de reabilitação
psicossocial, cuja definição seria
associada ao trabalho do “olhar” volvido
para o sujeito, e não mais para a
doença, consecutivamente buscando
novas subjetividades, e não mais a cura
(OLIVEIRA; FURTADO, 2007, p.159).

33
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Fonte: http://migre.me/cnMwU
A Reforma Psiquiátrica no Brasil teve início na década de 1970,
concomitante ao movimento sanitarista, que vinha propor uma mudança no modelo
de saúde ofertada, passando-se a defender um modelo de prática de saúde
centrada no sujeito, na saúde como produção de tecnologias de cuidado, e não
mais saúde como ausência de doença como caracterizava o modelo biomédico.
Apesar da Reforma Sanitária aparecer contemporaneamente à Reforma
Psiquiátrica no Brasil, esta teve sua própria história com acontecimentos marcantes
e individuais. (BRASIL, 2005).
A forte recessão pela qual passava a sociedade brasileira originou uma
época de aclamada insanidade. Via-se, portanto, absoluta a necessidade da
reorganização do sistema de cuidado de saúde mental no país. As instituições para
doentes mentais eram locais onde as pessoas acometidas por estas enfermidades
eram “depositadas” para serem voluntariamente esquecidas e assim, não fazerem
mais parte do contexto social.
Diante de um processo de redemocratização, não havia espaço para a
configuração da problematização do processo saúde/doença mental presente no
país, tornando-se imediata necessidade de sua modificação. Sendo assim, a
Reforma Psiquiátrica é um movimento sociopolítico. (FERREIRA, 2006).
Em 1986, a 8ª Conferência Nacional de Saúde teve por base a promoção
da saúde com a tentativa da melhoria da qualidade de vida, unindo fatores como
educação, moradia, alimentação e
direito à liberdade, colocando o
Estado como facilitador dessas
condições por meio da criação do
Sistema Único de Saúde (SUS), que
tinha por base central o direito de
todos à cidadania.
Fonte: http://migre.me/cnMLa

Foram então finalmente estabelecidas as diretrizes que possibilitariam uma


reforma sanitária e psiquiátrica com propostas efetivas de uma redefinição das
políticas sociais voltadas à saúde, com consequências na Saúde Mental até então
inexistentes no país.

34
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Nesta Conferência foram estabelecidas as bases para 1ª Conferência
Nacional de Saúde Mental, realizada em 1987, na qual se apresentaram denúncias
sobre violência e maus tratos ao quais estavam expostos os internos dos hospitais
psiquiátricos. (FERREIRA, 2006).
Em decorrência destas duas conferências, evidenciaram-se dois fatos
importantes: O fechamento da Casa de Anchieta, em Santos – SP, em 1989, devido
a denúncias de mortes, violências para com os internos e maus tratos que levaram
a uma intervenção pública que começou com a desapropriação do prédio e do
terreno nos quais a clínica de administração municipal estava instalada. Logo os
eletrochoques que eram utilizados como práticas de punição foram suspensos, bem
como foram arrancadas as grades das janelas e as portas da cela, tendo sido
proibido qualquer tipo de violência psicológica ou física.
Os modos de atendimento em saúde mental, depois desta intervenção
passaram a ser discutidos, então, por uma atenta população (SANTOS, 2008),
oriunda da adesão ao SUS e em 1990, na Conferência Regional para a
reestruturação da assistência psiquiátrica na América Latina, promovida pela
Organização Panamericana de Saúde resultou na Declaração de Caracas
(BERLINCK; MAGTAZ; TEIXEIRA, 2008).
De acordo com a Organização Panamericana de Saúde – OPAS, a
Declaração de Caracas destaca:

1 - A revisão crítica do papel hegemônico e centralizador do hospital


psiquiátrico na prestação de serviços; 2 - A preservação da
dignidade pessoal e os direitos humanos e civis nos recursos
oferecidos; 3 - A oferta de serviços que garantissem a manutenção
do paciente no meio comunitário; e 4 - A internação quando fosse
necessário em um hospital geral. (OPAS, 1992).

A Reforma Psiquiátrica possibilitou a desospitalização dos doentes mentais,


no entanto, ficar fora do hospital psiquiátrico sem qualquer alternativa de assistência
para estas pessoas é uma incoerência, para isto, houve uma necessidade de
organização, de respaldar esta população-demanda existente na sociedade,
contudo, a desinstitucionalização vem responder a esta urgência histórica como um
dispositivo da saúde mental, fazendo com que a saída dos pacientes do modelo
segregador hospital asilar possibilite outras formas terapêuticas de tratamento,
observando as reais necessidades dos indivíduos, possibilitando assim melhores

35
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
condições de vida para o paciente e para a sua família (SADIGURKY; TAVARES,
1998).
Esta reestruturação no pensar o tratamento do doente mental fez com que
surgissem os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial),
os NAPS (Núcleo de Atenção Psicossocial) e os
CERSAM (Centros de Referência em Saúde Mental)
que integram as diretrizes e princípios normativos do
SUS, em um objetivo central de substituir o modelo
hospitalocêntrico, na tentativa de evitar a internação,
oferecendo um atendimento diuturno, cuidados clínicos
e reabilitação psicossocial das pessoas com transtorno
mental (BRASIL, 2004).
Fonte: http://migre.me/cmtds

Os Núcleos de Assistência Psicossocial (NAPS) eram estruturas


regionalizadas, abertas com atendimento 24 horas, com internações e sistemas de
visitas domiciliares, objetivando oferecer aos usuários uma assistência humanizada,
oferecendo atendimento de psiquiatras, psicólogos, atividades em grupo com o
intuito de reintegrar socialmente os antigos internos da Casa de Saúde Anchieta e
evitar que novos usuários fossem encaminhados para instituições psiquiátricas.
Foram, então, regulamentadas as criações dos CAPS e NAPS por meio das
Portarias nº 189/1991 e nº 224/1992, surgindo assim novas formas de atendimento
à saúde mental que prescindiam de hospitais psiquiátricos. Houve então a
consolidação deste novo modelo de se pensar a saúde mental no campo das
políticas públicas de CAPS e NAPS por todo Brasil durante toda a década de 1990.
(SANTOS, 2008).
Ao final do ano de 2001 foi realizada em Brasília a III Conferência Nacional
de Saúde Mental, caracterizada por ser um fundamental instrumento de
participação e de controle social. Entre representantes de usuários, familiares,
profissionais de saúde, movimentos sociais, cerca de 23 mil pessoas estiveram
envolvidas nas etapas municipal e estadual da Conferência, que contou com 1.480
delegados.
No Brasil, a lei que dispõe sobre a Reforma Psiquiátrica é a lei nº 10.216 de
06 de Abril de 2001, que rege “sobre a proteção e os direitos das pessoas

36
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental” (BRASIL, 2005, p.1).
Durante a mesma houve a consolidação da Reforma Psiquiátrica como
política pública, na qual foram instauradas as diretrizes, estratégias e princípios
norteadores da mudança de assistência de saúde mental no Brasil.
E, assim, por meio de políticas públicas complexas, a Reforma Psiquiátrica
Brasileira consubstanciada em leis e portarias ministeriais, leis municipais e
estaduais realizou uma completa modificação na forma de atendimento do usuário
impulsionando a desinstitucionalização do paciente por meio da concessão de
auxílio-reabilitação psicossocial e inclusão em programas de atenção; criou a
assistência de saúde mental para os detentos do sistema penitenciário; tratou da
assistência farmacêutica na atenção psiquiátrica. Enfim, gerou condições e instituiu
novas práticas terapêuticas objetivando a inclusão do usuário em saúde mental na
sociedade e na cultura. (BERLINCK; MAGTAZ; TEIXEIRA, 2008).

3.3 Tipos de CAPS

O tipo de atendimento realizado pelos CAPS pauta-se na perspectiva do


modelo de saúde ampliada, abandonando a visão de saúde como ausência de
doença, no qual a atenção à saúde voltava-se para um modelo
biomédico/curativista/positivista, percebendo um sujeito fragmentado, no qual a
forma de cuidado direcionava-se ao biológico, ao mecanismo de cura e agente
causador da doença, privilegiando os sinais e sintomas e o uso de medicações.
O serviço CAPS sai deste modelo de
atenção em saúde, e se operacionaliza dentro de
uma atenção em saúde, na qual o sujeito é visto de
forma integral, em sua dimensão biopsicossocial e
cultural, levando em consideração os contextos
nos quais está inserido socioeconomicamente, de
modo indissociável (CAMPOS, 2005).

Fonte: http://migre.me/cnQgU

37
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Os CAPS diferenciam-se como CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e
CAPSad, de acordo com os tipos de demanda dos usuários atendidos, da
capacidade de atendimento e do tamanho.
Os CAPS I oferecem atendimento a municípios com população entre 20 mil
e 50 mil habitantes (19% dos municípios brasileiros, onde residem
aproximadamente 17% da população do país) com uma equipe mínima de 9
profissionais de nível médio e superior, o foco são usuários adultos com transtornos
mentais graves e persistentes, e transtornos decorrentes do uso de álcool e outras
drogas, podendo acompanhar por volta de 240 pessoas por mês, de segunda a
sexta-feira, funcionando das 8 às 18 horas.
Os CAPS II oferecem atendimento a municípios com mais de 50.000
habitantes (equivalente a 10% dos municípios, onde residem aproximadamente
65% da população brasileira). O público-alvo é adultos com transtornos mentais
persistentes, operando com uma equipe mínima de 12 profissionais, com nível
médio e superior, tendo um suporte para acompanhar cerca de 360 indivíduos por
mês, de segunda a sexta-feira, com horário de funcionamento das 8 às 18 horas,
podendo ter um terceiro período, funcionando até às 21 horas.
Os CAPS III são caracterizados por serem os serviços de maior porte da
rede. Com uma previsão de cobertura para municípios com população acima de
200.000 habitantes, que representam uma baixa parcela dos municípios do país,
apenas 0,63%, entretanto, concentram cerca de 29 % de toda a população do
Brasil. Podem funcionar 24 horas, diariamente, também nos feriados e fins de
semana.
Os CAPS III trabalham com uma equipe mínima de 16 profissionais com
instrução entre nível médio e superior, com uma equipe noturna e de final de
semana. Este tipo de CAPS oferece acolhimento noturno, se necessário, realizando
internações curtas, de algumas horas a no máximo 7 ou 10 dias, durante o prazo de
30 dias. Esta permanência e internações temporárias devem ser compreendidas
como recurso terapêutico, que visa evitar as internações em hospitais psiquiátricos,
promovendo uma atenção integral às pessoas que buscam o serviço do CAPS.
O CAPSi é um tipo de serviço especializado em atender crianças e
adolescentes com transtornos mentais, e se operacionaliza em municípios com
população acima de 200.000 habitantes. O funcionamento acontece de segunda a
sexta-feira, das 8 às 18 horas, podendo também ter um terceiro período,

38
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
funcionando até às 21 horas. O trabalho é realizado com uma equipe mínima de 11
profissionais com instrução entre nível médio e superior, com capacidade média de
realizar 180 acompanhamentos com crianças e adolescentes por mês.
Os CAPSad focam o atendimento a pessoas que utilizam, de maneira
prejudicial, o álcool e outras drogas, em cidades com mais de 200.000 habitantes,
ou aquelas que estejam nas fronteiras, ou ainda, as que façam rota de tráfico de
drogas e possuem relevantes cenários epistemológicos, que precisem deste tipo de
serviço para responder de forma eficaz à demanda da saúde mental. É composta
por uma equipe mínima de 13 profissionais entre nível médio e superior, e pode
realizar 240 atendimentos por mês, de segunda a sexta-feira, podendo ter um
terceiro período, funcionando até às 21 horas.

Os usuários que permanecem um turno de quatro horas nos CAPS


devem receber uma refeição diária; os assistidos em dois períodos
(oito horas), duas refeições diárias; e os que estão em acolhimento
noturno nos CAPS III e permanecem durante 24 horas contínuas
devem receber quatro refeições diárias. A frequência dos usuários
nos CAPS dependerá de seu projeto terapêutico. É necessário
haver flexibilidade, podendo variar de cinco vezes por semana com
oito horas por dia a, pelo menos, três vezes por mês. (BRASIL,
2004, p.19).

Observa-se, pela descrição, que o perfil populacional dos municípios é um


dos principais marcadores para o planejamento das ações em saúde mental e para
a implementação dos CAPS, no entanto, este critério deve ser considerado apenas
como um orientador ou norteador para este planejamento, pois deve ser articulado
com a gestão local e outras gestões do SUS, tendo maiores condições de definir os
tipos de serviços que melhor respondam às demandas do seu município, com
relação à atenção à saúde mental.

3.4 Programa Nacional de Avaliação de Centros de Atenção


Psicossocial

Este programa é uma iniciativa da Área Técnica de Saúde Mental do


Ministério da Saúde, e se institui em uma ferramenta de gestão de inferência da
produção de dados nos serviços e em uma oportunidade para uma reflexão diante
das ações cotidianas no serviço de saúde mental.
39
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Com sua terceira edição apresentada em 2008, o programa objetiva
levantar informações acerca destes serviços, o que propicia caracterizar os CAPS,
o acompanhamento, bem como sua estimação da qualidade da assistência que é
proporcionada, além de referenciar seus indicadores, de forma metódica e
constante.
Para tal foi aplicado, em uma amostra de 10% dos CAPS, um teste piloto,
depois de cujos resultados se construiu um questionário estável que foi aplicado
entre novembro e dezembro de 2008.

3.5 CAPS e suas funções estratégicas

Na década de 1980, iniciou-se a emersão dos Centros de Atenção


Psicossociais (CAPS) nos municípios brasileiros, que, a partir de 2002 começaram
a receber uma linha exclusiva de recursos do Ministério da Saúde, experienciando,
neste instante, uma grande expansão dos seus serviços.
O CAPS tem como função o acolhimento e a atenção à saúde dos indivíduos
com transtornos mentais graves, e constantes, sendo realizados acompanhamentos
clínicos, buscando manter e fortalecer os laços sociais e promover, por meio de
ações intersetoriais, a inserção/reinserção social dos usuários ao seu contexto, por
meio de atividades de lazer, exercício dos direitos civis e trabalho, sendo estes
serviços municipais abertos e comunitários.
O CAPS surge como um dispositivo significativo para atenção à saúde
mental e vem como função estratégica para a Reforma Psiquiátrica. É por meio
desse que se inicia, em termos de possibilidade de organização, uma nova rede,
que deve substituir, e não somente complementar, os hospitais psiquiátricos. Neste
sentido, o papel do CAPS tem como característica a prestação de atendimentos
clínicos em sistema de atenção diária, procurando evitar as internações
psiquiátricas e regulamentar a entrada da rede de assistência em saúde mental e
dar suporte à rede básica, no que se refere à atenção à saúde mental.
O CAPS atua como articulador estratégico da rede e da política de saúde
mental em um determinado território, operando dentro de uma nova lógica de
saúde, caracterizado por ser um núcleo de uma nova clínica, no qual se produz
autonomia, convidando o usuário a se corresponsabilizar e ser o protagonista da
trajetória do seu tratamento.

40
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
O quadro de desassistência que caracterizava a saúde mental no Brasil tem
sido alterado nos últimos anos com as expansões dos CAPS que produziram
notáveis mudanças na atenção aos indivíduos com transtornos mentais. Apesar de
ainda estar com parâmetros abaixo do nível de cobertura estimado pelo Ministério
da Saúde.
De acordo com o levantamento realizado pela Coordenação de Saúde
Mental Álcool e Outras Drogas, houve significativa habilitação de novos serviços na
rede de Apoio Psicossocial no Brasil, no período de 1998 a 2011, tendo sido
criados 122 somente neste ano, o que demonstra uma expansão contínua destas
instalações no decorrer dos anos. Em 2011 chegaram a 1.742 serviços,
representando assim um aumento considerável de 1.117% de 1998 a 2011, ou
seja, um aumento de mais de 10 vezes a partir do número inicial apresentado no
gráfico abaixo.

Gráfico 4 – Expansão dos CAPS (Brasil 1998-2011)

2000

1800 1742
1620
1600 1467
1400 1326
1155
1200
1010
1000

800 738
605
600 500
424
400 295
208
200
148 179

0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

O menor crescimento de serviços foi constatado em dois setores, que estão


voltados para o cuidado de populações específicas (crianças, adolescentes,
usuários de álcool e outras drogas), e naqueles que têm funcionamento 24 horas.
Também foi constatada a criação do CAPS-ad III, um novo tipo de serviço oferecido
41
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
pela Rede de Atenção Psicossocial para pessoas que fazem uso de drogas e/ou
álcool com funcionamento 24 horas por dia, 7 dias da semana.

Tabela 3 – CAPS por tipo (Brasil 2006-2011)

Ano CAPS I CAPS II CAPS III CAPSi CAPSad CAPSad III Total
2006 437 322 38 75 138 - 1010
2007 526 346 39 84 160 - 1155
2208 618 382 39 101 186 - 1326
2009 686 400 46 112 223 - 1467
2010 791 418 55 128 258 - 1620
2011 822 431 63 149 272 5 1742

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, álcool e outras drogas (2011)

No período de 2002 a 2011 foi possível observar o intenso crescimento


desta cobertura nas regiões Sul e Nordeste, e a região Sudeste manteve o ritmo de
crescimento menor, acompanhando o das regiões Centro-Oeste e Norte.

Gráfico 5 – Indicador de Cobertura CAPS/100.000 habitantes por região (Brasil


2002-2011)

Fonte: IBGE (2011)

42
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
O indicador CAPS/100.000 habitantes, que intenciona produzir uma reflexão
acerca das modificações da Rede extra-hospitalar de saúde mental, bem como do
estado em que se encontra. Conforme este indicador os CAPS I abrangem 50.000
habitantes, os CAPS III e CAPSad III 150.000 habitantes, enquanto os CAPS II, ad
e i, 100.000 habitantes.
Atualmente o país apresenta um índice de 0,72 CAPS/100.000 habitantes, e
11 estados demonstram possuir cobertura acima da média. O estado da Paraíba foi
o que apresentou maior crescimento, enquanto que o menor crescimento foi
atribuído ao Distrito Federal, tendo sido ultrapassado, no que diz respeito à
cobertura assistencial em saúde mental, até mesmo pelo Amazonas, que, por sua
vez, não apresenta nenhuma unidade de CAPSi, CAPSad e CAPSad III. Cinco
CAPSad III foram implantados no país, serviços que estão regulamentados pela
Portaria GM nº130 de 25/12/2012. Mesmo que a intenção desta ampliação seja
diminuir as igualdades nas áreas de cobertura, o quadro espacial de distribuições
de CAPS pelas regiões do Brasil ainda revela disparidades estruturais.

Tabela 4 – Centros de Atenção Psicossocial por tipo e UF e Indicador CAPS/


100.000 habitantes por UF (Brasil, 2011)
Indicador
CAPS CAPS CAPS CAPS CAPS CAPS
UF POP TOTAL CAPS/100.000
I II III i ad ad III
hab
Acre 732793 1 1 2 0,27
Alagoas 3120922 38 6 1 2 47 0,90
Amapá 668689 1 2 3 0,45
Amazonas 3480937 7 4 1 12 0,26
Bahia 140221432 125 32 3 7 16 183 0,87
Ceará 8448055 48 29 3 6 17 103 0,95
Distrito
2562963 1 2 1 3 7 0,25
Federal
Espírito
3512672 7 8 1 3 19 0,44
Santo
Goiás 6004045 16 16 2 4 38 0,50
Maranhão 6569683 37 14 1 3 6 61 0,65
Mato
3033991 24 2 2 5 33 0,69
Grosso
Mato
Grosso do 2449341 9 6 1 1 4 21 0,69
Sul
Minas
19595309 86 44 10 12 21 173 0,69
Gerais
Pará 7588078 24 15 2 2 6 49 0,50
Paraíba 3766834 39 8 3 8 8 66 1,27
Paraná 10439602 37 28 2 8 22 97 0,76
Pernambuco 8796032 28 19 2 7 12 1 69 0,64

43
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Piauí 3119015 30 7 1 1 4 43 0,91
Rio de
15993583 36 39 1 16 18 1 111 0,59
Janeiro
Rio Grande
3168133 15 11 1 2 7 36 0,92
do N
Rio Grande
10695532 66 37 17 26 1 147 1,07
do Sul
Rondônia 1560501 11 5 1 17 0,74
Roraima 451227 1 1 2 0,33
Santa
6249682 47 13 2 6 11 79 0,90
Catarina
São Paulo 41252160 64 79 27 43 67 2 282 0,64
Sergipe 2068031 19 4 3 2 4 32 1,16
Tocantins 1383453 7 2 1 10 0,47
BRASIL 190732694 822 431 63 149 272 5 1742 0,72
Fonte: Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2011)

É possível observar comparando a expansão da cobertura em saúde mental


nos anos de 2002, 2006 e 2011 que a região Nordeste superou todas as demais
regiões do país.

Figura 1 – Mapas de Cobertura 2002-2011

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2011)

Sobre os financiamentos federais, a partir dos anos 2007 e 2008, com o


novo modelo de financiamento proposto pela Portaria GM nº 2867 de 27/11/2008,
nota-se que estes não foram significativos para diminuir a distância entre o aumento
de serviços e os recursos destinados a eles. As Portarias GM nº 3089 de
23/12/2011 e nº 3099 de 23/12/2011 foram publicadas, prevendo assim uma
relevante mudança para o ano de 2012.
44
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Gráfico 6 – Evolução do investimento financeiro federal nos Centros de
Atenção Psicossocial (Brasil 2002-2011)

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2011)

3.6 Serviço Residencial Terapêutico

Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) são casas, localizadas no


perímetro urbano, formadas para atender às necessidades de moradia de
indivíduos que possuam transtornos mentais graves, sejam egressos ou não de
hospitais psiquiátricos. Acolhem no máximo oito moradores, e comumente um
cuidador é denominado para amparar os moradores em seu dia a dia, no coabitar e
no circular pela cidade, sempre focando a autonomia do usuário.

45
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Fonte: http://migre.me/coyAS

Cada residência referencia-se a um Centro de Atenção Psicossocial, e age


junto à rede de atenção à saúde mental dentro da coerência da jurisdição. São
importantes, especialmente, nos municípios-sede de hospitais psiquiátricos, onde
está em andamento o processo de desinstituicionalização de pacientes com
perturbações mentais.
Contemporânea no Brasil, a inauguração e ampliação destes serviços vem
ganhando impulso, o que ordena do SUS uma bem-sucedida e inabalável
articulação com a comunidade, a vizinhança, e demais pessoas de sua região.
Reger um processo responsável de trabalho terapêutico com egressos de hospitais
psiquiátricos é essencial, visto que cada um tem seu próprio ritmo de readaptação à
vida em sociedade, e, sendo assim, esta ampliação, ainda que constante, exibe um
ritmo individual, e que vem seguindo, de forma geral, a desativação dos leitos
psiquiátricos.
Hoje, no Brasil, esta rede conta com 625 serviços em funcionamento, com
cerca de 3.470 moradores, com 154 SRTs em fase de implantação.

Tabela 5 – Residências Terapêuticas por UF (Brasil, 2011)


SRTs NO BRASIL - 2011
MÓDULOS
TOTAL DE TOTAL DE
UF EM EM
MÓDULOS MORADORES
FUNCIONAMENTO IMPLANTAÇÃO
BA 20 1 21 112
CE 5 4 9 29
ES 5 0 5 37
GO 11 3 14 58

46
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
MA 3 1 4 18
MG 77 27 104 518
MS 1 0 1 2
MT 10 0 10 76
PA 0 2 2 0
PB 17 6 23 107
PE 45 24 69 329
PI 4 0 4 22
PR 22 3 25 138
RJ 106 25 131 593
RN 3 0 3 20
RS 39 4 43 141
SC 4 1 5 31
SE 20 0 20 103
SP 233 52 285 1136
TO 0 1 1 0
Total 625 154 779 3470
Fonte: Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2011)

O incentivo financeiro criado pelo Ministério da Saúde em 2004, a expansão


dos Centros de Atenção Psicossocial e o desativamento de leitos psiquiátricos
explicam o largo aumento desta rede, que tinha apenas 85 residências em todo o
país em 2002, e tem estimativa, pelo Ministério da Saúde, de grande ampliação nos
próximos anos, quando 12.000 pessoas poderão se favorecer destes serviços.
São consideradas equipamentos de saúde, e devem assegurar o direito à
habitação destas pessoas, bem como seu reingresso na sociedade,
desempenhando o direito de morar e de circular nos espaços na comunidade, e
respeitando, como lares que são, os costumes, volições e a dinâmica de seus
residentes.
Constituem-se como elementos categóricos da política de saúde mental do
Ministério da Saúde no intuito de efetivarem-se as diretrizes de superação que
havia no modelo de atenção centralizado no hospital psiquiátrico.
O ritmo de implementação dos SRTs manteve-se contínuo nos últimos
quatro anos, com uma pequena aceleração em 2011, resultante do
47
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
desencadeamento do processo de fechamento de expressivos hospitais
psiquiátricos.

Gráfico 7 – Residências terapêuticas por ano (Brasil 2002-2011)

700

625
600
550
500 514
487
475
Núm ero de S RTs

400 393

300
265
200
141
100
85
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Anos

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2011)

Exercício 4

1. Analise os enunciados a seguir:


I. O movimento sanitário surgiu no século XIX.
II. O movimento sanitário preconiza a participação de trabalhadores e usuários na
sua gestão.
III. A Reforma Psiquiátrica fundamenta-se principalmente na superação da violência
sobre os pacientes mentais.
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos.
b) Apenas os enunciados I e III estão corretos.
c) Apenas os enunciados II e III estão corretos.
d) Todos os enunciados estão corretos.
e) Nenhum enunciado está correto.

48
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
2. Analise os enunciados a seguir:
I. O Centro de Atenção Psicossocial é um serviço de caráter privado.
II. O processo de adoecer psíquico deve ser percebido em sua complexidade
multidimensional.
III. A Reforma Psiquiátrica possibilitou a hospitalização dos doentes mentais.
a) Apenas o enunciado I está correto.
b) Apenas o enunciado II está correto.
c) Apenas o enunciado III está correto.
d) Nenhum enunciado está correto.
e) Apenas os enunciados I e II estão corretos.

3.7 Programa de Volta para Casa

Considerado um dos fundamentais e mais eficazes instrumentos para a


reintegração social de pessoas com longo histórico de hospitalização, o Programa
de Volta para Casa (PVC) é uma das mais potencializadoras táticas da
emancipação de pessoas com transtornos mentais, dos processos de
desinstitucionalização e diminuição de leitos nos estados e municípios.
O programa, criado pela Lei Federal de nº 10.708, encaminhada pelo
presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Congresso, em 31 de julho de 2003, Portaria
GM nº. 3088, é a consolidação de uma histórica exigência da Reforma Psiquiátrica
Brasileira, e sua proposta já havia sido formulada na II Conferência Nacional de
Saúde Mental, em 1992. Tem como objetivo colaborar efetivamente para o
processo de inclusão social das pessoas com histórico de extensos períodos de
internamentos em hospitais psiquiátricos, por meio do pagamento mensal de um
auxílio-reabilitação do Programa, cujo valor gira em torno de R$ 240,00 (duzentos e
quarenta reais, aproximadamente US$110).
São requisitos para receber este auxílio-reabilitação do Programa de Volta
para Casa, ser egresso de Hospital Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico, além da indicação para inclusão em programa municipal
de reintegração social. O pagamento deste auxílio, graças a um convênio entre
Ministério da Saúde e Caixa Econômica Federal, é feito diretamente aos

49
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
beneficiários, que recebem um cartão magnético, com o qual podem sacar e
movimentar estes recursos, mensalmente.
Além de assegurar o bem-estar global das pessoas, estimulando o total
exercício de seus direitos civis, políticos e de cidadania, o Programa permite a
ampliação da rede de inclusão dos usuários. Para habilitar-se ao Programa, o
município de residência do beneficiário deve ter garantida uma tática de
acompanhamento dos benefícios e uma rede de atenção à saúde mental apropriada
para dar uma concreta resposta a estas demandas.
Este Programa é um dos fundamentais órgãos no processo de reabilitação
psicossocial, de acordo com a bibliografia existente no campo da Reforma
Psiquiátrica, e na medida em que potencializa a emancipação e autonomia de
egressos de hospitalizações psiquiátricas, tem efeitos imediatos nestes usuários.
O Programa enfrenta, entretanto, um paradigma, experienciado após um
longo período de exclusão social, pois a grande maioria dos beneficiários em
potencial, egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos, não possui a
mínima documentação pessoal para se cadastrarem no Programa, visto que muitos
não possuem certidão de nascimento, ou carteira de identidade.
Estas pessoas, após um secular processo de exclusão e isolamento,
encontram-se desprovidas dos requisitos mínimos para o exercício de sua
cidadania. Considerado um dos desafios ainda a ser enfrentado pelo Programa,
com parceria entre o Ministério da Saúde, a Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão do Ministério Público Federal e a Secretaria Especial de Direitos Humanos
da Presidência da República, com o intuito de restituir o fundamental direito de
Identificação, assegurando assim o auxílio-reabilitação do Programa Volta para
Casa. Assim, várias frentes estão surgindo, com estruturas municipais que visam
garantir a tardia, mas necessária identificação destes indivíduos com transtornos
mentais, o que se estabelece como desafio principal da Reforma Psiquiátrica
Brasileira.
Em fevereiro de 2004, o Programa de Volta para Casa, alcançou mais de 4
mil beneficiários em folha de pagamento, tendo os processos de fechamento de
hospitais psiquiátricos em Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, de significativa
importância para o aumento de beneficiários cadastrados. Atualmente, 1.747
pessoas recebem o auxílio-reabilitação. A estimativa é que até o final de 2006,
aproximadamente 3.000 usuários já estariam sendo beneficiados pelo Programa.

50
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
Gráfico 8 – Beneficiários do Programa de Volta para Casa por UF (2003-2011)

Fonte: Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2011)

Exercício 5

Analise os enunciados a seguir:


I. É requisito para receber o auxílio do programa de Volta para Casa ser egresso de
Hospital Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
II. De Volta para Casa é um programa que visa a desinstitucionalização das
pessoas que superam os transtornos mentais após um período de hospitalização.
III. O programa de Volta para casa potencializa a autonomia e emancipação dos
egressos de longas internações.
a) Apenas o enunciado I está correto.
b) Apenas o enunciado II está correto.
c) Apenas o enunciado III está correto.
d) Todos os enunciados estão corretos.
e) Apenas os enunciados I e III estão corretos.

51
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
REFERÊNCIAS

AMARAL, P. C. G.; DURMAN, S. O que pensa a família sobre o atendimento


oferecido pela psiquiatria. Acta Scientiarum Health Sciences. v. 26, nº 1, Maringá,
2004. p.113-119.

BERLINCK, M. T.; MAGTAZ, A. C.; TEIXEIRA, M. A Reforma Psiquiátrica Brasileira:


perspectivas e problemas. Revista Latino-americana de Psicopatologia
Fundamental, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 21-27, março. 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. LEI Nº 10.216, de Abril 2001. Dispõe sobre a


proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona
o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial. 2001. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>. Acesso em: 08
mai. 2018.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção
psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação


Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no
Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços
de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

CAMPOS, G. W. S. Saúde Paideia. São Paulo: Hucitec, 2005.

FERREIRA, G. A. Reforma Psiquiátrica no Brasil: Uma análise sociopolítica.


Psicanálise & Barroco – Revista de Psicanálise, v. 4, n. 1, p. 77-85, jun. 2006.

FOUCAULT, M. História da Loucura na Idade Clássica. 8. ed. São Paulo:


Perspectiva, 2005.

HIRDES, A. Reabilitação psicossocial: dimensões teórico-práticas do processo.


Erechim: EDIFAPES, 2001. 208p.

LUSSI, I. A. O., PEREIRA, M. A. O., PEREIRA JUNIOR, A. A proposta de


reabilitação psicossocial...Revista Latino-americana Enfermagem, 2006, maio-
junho; 14(3):448-56. Disponível em: <www.eerp.usp.br/rlae>. Acesso em: 08 mai.
2018.

OLIVEIRA, F. B.; FORTUNATO, M. L. Reabilitação psicossocial na perspectiva da


reforma psiquiátrica. Revista Vivência, Natal/RN, n. 32, p. 155-181, 2007.
Disponível em:
<http://www.cchla.ufrn.br/Vivencia/sumarios/32/PDF%20para%20INTERNET_32/CA
P%2010_FRANCISCA%20BEZERRA_E_MARIA%20LUCINETE.pdf>. Acesso em:
08 mai. 2018.

52
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Reestruturação da
Atenção Psiquiátrica na América Latina. Boletim Informativo, 3. Washington,
D.C., 1992.

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (OPAS). [homepage na Internet].


Relatório Mundial de Saúde. c2001 [citado 18 nov 2003]. Disponível em:
<http://www.opas.org.br/mostrant.cfm?codigodest=75>. Acesso em: 08 mai. 2018.

PITTA, A. (Org.). Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.

PITTA, A. M. O que é reabilitação psicossocial no Brasil hoje? In: Pitta AM,


organizadora. Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo (SP): Hucitec,
1996.

ROSA, E. Z. A saúde mental na rede pública: impasses e desafios enfrentados pelo


CAPS no percurso pela desinstitucionalização. In: BOCK, A. M. B. T. Psicologia e
compromisso social. São Paulo: Cortez, 2003.

SADIGURSKY, D.; TAVARES, J. L. Algumas Considerações Sobre o Processo de


Desinstitucionalização. Rev. Latino-americana de enfermagem, v. 6, n. 2, p. 23-
27, abril, 2008.

SANTOS, G. L. G. Sobre Discursos e Práticas: a reabilitação psicossocial pelo


“olhar” dos técnicos de referência de um CAPS da Região Metropolitana de Recife.
Dissertação (Mestre em Psicologia). Programa de Pós Graduação em Psicologia da
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife, 2008.

SARACENO, B. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do


milênio. In: Pitta AM, organizadora. Reabilitação psicossocial no Brasil. São
Paulo (SP): Hucitec, 1996.

SARACENO B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania


possível. 2. ed. Rio de Janeiro (RJ): Te Corá/Instituto Franco Basaglia, 2001.

TUNDIS, S. A.; COSTA, N. R. (Orgs.). Cidadania e loucura – políticas de saúde


mental no Brasil. Petrópolis: Vozes / ABRASCO, 1987.

53
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335

Você também pode gostar