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PORTO ALEGRE
2019
PROGRAMAS DE LEITURA
- “A leitura
. do mundo precede a leitura da palavra” (FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três
artigos que se complementam. 45ª ed. São Paulo: Cortez, 2003, p. 11).
- “Ler as letras de uma página é apenas um de seus muitos disfarces [...] [textos] compartilham com os leitores
de livros a arte de decifrar e traduzir signos [...] contudo, em cada caso é o leitor que lê o sentido [...] é o leitor
que deve atribuir significado a um sistema de signos” (MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São
Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 19).
Tipos possíveis de leitura (SOARES, Magda. O jogo das escolhas. In: MACHADO, Maria Zélia Versiani;
PAIVA, Aparecida; MARTINS, Aracy Alves; PAULINHO, Graça (Orgs). Escolhas (literárias) em jogo. Belo
Horizonte Autêntica, 2009, p. 19-34).
1- Funcional: informações e conhecimentos necessários para o cotidiano (situações práticas da vida-
utilitária);
.
2- Entretenimento: forma de lazer (a serviço do ser humano);
3- Literária: questiona a significação, busca sentido, persegue o valor mutante e mutável da palavra, que é
dirigida pelo estético - A diferença não está no texto e sim em quem lê, para que lê, no modo de ler.
- Para que serve a literatura? Para nada, e para tudo? A literatura não presta para nada. A poesia, o romance, o conto, a crônica, as
narrativas fantásticas e as de cotidiano, as histórias e fatos que não aconteceram e que podiam ou podem acontecer – a literatura não
forma nem conforma os espíritos, não salva nem consola, não ensina nem estimula. Enfim, não se presta para muito para coisa
práticas e aplicadas. Não produz realidades mensuráveis e negociáveis. A literatura presta para tudo. O texto literário é um convite a
uma ação desinteressada, gratuita, uma ação que não se espera que dela resulte lucro ou benefício. É o simples pôr-se em
movimento, para sentir-se e existir num tempo suspendido na história, um tempo em que a pessoa se faz somente para si, para ser,
um tempo de indagação e contemplação, de êxtase e sofrimento, de amor e angústia, de alívio e esperança, disso tudo de uma vez e
para sempre. Nela a gente se forma e se conforma, perde-se e salva-se, se consola e se estimula, aprende e ensina a viver em
realidades incomensuráveis ainda que realmente intangíveis. (BRITTO, Luiz Percival Leme. Ao revés do avesso: leitura e formação.
São Paulo: Pulo do Gato, 2015, p. 53-54)
Para que serve a ficção? Tem alguma utilidade, alguma funcionalidade na formação de uma pessoa [...]? Todos nós, homens e mulheres,
vamos ao dicionário para saber sobre as palavras, aos livros de ciência para saber ciência, aos jornais e às revistas para ler notícias da
.
atualidade e aos cartazes de cinema para saber os filmes que estão passando. Mas onde vamos quando queremos saber de nós
mesmos? Nós, os leitores, vamos à ficção para tentar compreender, para conhecer algo mais acerca de nossas contradições, nossas
misérias e nossas grandezas, ou seja, acerca do mais profundamente humano. (ANDRUETTO, Maria Teresa. Por uma leitura sem
adjetivos. São Paulo: Pulo do Gato, 2013, p. 53-54).
“Entendemos por literatura toda produção escrita através de recursos linguísticos com função estética, da história e da
imaginação da humanidade, veículo de reflexão e libertação para o ser humano” (RÖSING, Tânia; MARTINS, Ana
Carolina. Práticas leitoras para uma cibercivilização. Passo Fundo: EDIUPF, 1999, p. 32).
FORMAÇÃO DE LEITORES E MEDIAÇÃO DE LEITURA
- No início, as leituras eram orais e com afeto com quem as contava (LOIS, Lena. Teoria e prática da formação do leitor: leitura e literatura na sala de
aula. Porto Alegre: Artmed, 2010);
- Agora, a função da formação de leitores fica delegada à escola, por meio de professores e bibliotecários: “[...] oferecendo informações contextuais, dando
pistas para ler nas linhas, nas entrelinhas e por trás das linha; propondo um corpus de textos selecionados pela sua qualidade estética, ética e social (gêneros
discursivos), criando espaços de leitura compartilhada (orientada, reflexiva) e autônoma nos processos de educação literária” (ABRANTES, W.M.
Caminhos metodológicos para a formação de mediadores da leitura. In: Biblioteca e mediação da leitura. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional,
2010, p.76,84).
- No .entanto, “professores não são leitores” (SILVA, Ezequiel Theodoro da. O professor leitor. In: SANTOS, Fabiano dos; MARQUES NETO, José Castilho;
RÖSING, Tânia M.K.(Orgs). Mediação de leitura: discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global, 2009, p. 23-36).
E:
“A ausência de uma cultura de leitura impõe a constituição de mediadores entre o texto e o leitor, seja no contexto da escola, seja no contexto da família ou,
mesmo, do exercício profissional” (LUFT, Gabriela Fernanda Sé. Práticas leitoras multimídiais e formação de leitores: a leitura como ato criativo,
participativo e dialógico. In: NEVES, I.C.B; MORO, E.L.S; ESTABEL, L.B. (Orgs). Mediadores de leitura na bibliodiversidade. Porto Alegre: Evangraf,
2012, p.159-166.
- Contação de histórias (hora do conto), Leitura em voz alta, Memoriais de leitura (história de leituras), Intertextualidades...
Prof. Gilmar de Azevedo
Recorte:
- A grande função (social) da literatura é a humanização do homem para confirmar a
sua humanidade;
- Nela está a ideia de valor para a pessoa (escritor, leitor e público) e num sentido
trans-histórico, em interesse pelos elementos contextuais (o texto se forma a partir
dele) para confirmar identidade, destino na projeção da experiência humana;
- Função psicológica: atuação psíquica e social do autor, do valor para a projeção da
experiência humana;
- Como? Na necessidade universal de ficção e de fantasia: no primitivo, no civilizado; na
criança, no adulto; no instruído e no analfabeto;
- Mas: a fantasia quase nunca é pura: imaginação explicativa (ciência); fantástica ou
ficcional ou poética (artista, escritor) – “estímulos de realidade” – realidade sensível do
mundo (devaneio) – sub e inconsciente = inculcamento.
LAJOLO, Marisa. Os leitores, esses temíveis desconhecidos. In: LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura
para a leitura do mundo. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1997, p. 33-40.
Recorte:
- O leitor, que se encontra com o livro aberto, pergunta para o autor: “Trouxeste a chave?”;
- O autor deve cativar o leitor porque este sempre tem razão;
- O leitor desfruta de imenso poder, inclusive quando 10% da venda dos livros passam para
o autor;
- Há leitores mais íntimos, profissionais, interlocutores, comparsas – o texto diz o que
diz...: “O leitor é irmão, mas é hipócrita” (p.35 – sobre a distância entre autor e leitor que
pode fechar o livro - o autor tem a obrigação de terminar o que começou);
- Mas há muitos que não têm acesso à palavra, à voz: silêncio e solidão;
- Leitores profissionais: compromissos, confiança da comunidade cultural sobre leitura e
linguagem – em relação ao mercado, atravessadores do mercado organizado. E podem
constituir leituras e leitores em mercadorias;
- O autor tem que construir hipóteses relativas ao leitor que deseja seduzir: imagem que o
leitor tem de si mesmo, que gostaria que o autor tivesse dele. É o leitor, no entanto, que é
seduzido pela história;
- É necessário desconfiar da máscara do leitor: “Em que espelho ficou perdida a minha
face” (Cecília Meireles).
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
Recorte:
O que é que a literatura tem?
-Um bom livro é aquele que agrada, faz voltar a trechos que provocaram prazer particular;
-Eles constituem a biblioteca interior, ficam na memória, como “O velho, o burro e o Estado
Novo”, de Affonso Romano de Sant’Anna:
Será que ela não entende
que em tempos de ditadura
a imaginação se anula
e gera além da moldura
na gravura
outra gravura
como um louco que descerra
na escuridão de seus gestos
a interna luz da loucura?
[…]
Lá vai o ditador
entrando para a Academia
com todos os votos:
quarenta vivos
– e cinco mortos.
O ditador pinta o sete com os políticos
é futurista regionaista, é político apartidário
é fala de fome e povo
– num painel de Portinari.
O ditador aprende com Niemayer a arquitetar o poder,
mistura discurso e ferro, argamassa promessa e areia
e enreda o povo e a esperança como um aranha na teia.
O ditador é pequeno, mas não é bobo,
é capaz de solo e coro
é sem que Villa-Lobos veja
se oculta na partitura
e surge na praça rindo
regendo e encantando o povo.
Recorte:
Chico Buarque de Holanda: Os saltimbancos (baseado nas obras dos irmãos Grimm:
originalidade e propriedade em suspeita - recontextualização): bichos se expressam
como pessoas e lutam contra as maldades – Ditadura Militar (1977)