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Cogitare Enferm.

(22)3: e45480, 2017


Revisão

APLICABILIDADE DE INOVAÇÕES E TECNOLOGIAS ASSISTENCIAIS PARA A


SEGURANÇA DO PACIENTE: REVISÃO INTEGRATIVA

Virna Ribeiro Feitosa Cestari1, Marília Araripe Ferreira2, Thiago Santos Garces3, Thereza Maria Magalhães
Moreira4, Vera Lúcia Mendes de Paula Pessoa5, Islene Victor Barbosa6

RESUMO: Objetivou-se identificar as tecnologias utilizadas pelo enfermeiro para promoção da segurança do
paciente no contexto hospitalar. Revisão integrativa, com busca de artigos em bases de dados na área da saúde,
no período de janeiro a fevereiro de 2016. Foram selecionados 20 artigos, divididos segundo as tecnologias
assistenciais utilizadas. No intuito de promover a segurança do paciente, os enfermeiros utilizam tecnologias
duras – implantação de registros eletrônicos, bombas de infusão, sensores e sistemas computadorizados e de
alerta; incorporam as boas práticas em saúde – construção de instrumentos voltados para segurança do paciente
e identificação de riscos; e realizam/participam de cursos de capacitação profissional – cálculo e administração de
medicamentos e infusões intravenosas e higienização das mãos. Conclui-se que o enfermeiro é um profissional
que tem se preocupado com a segurança do paciente, o que reforça a necessidade da realização de mais estudos
que tenham como foco a utilização de estratégias que promovam tal prática.
DESCRITORES: Segurança do paciente; Enfermagem; Tecnologia biomédica; Assistência à saúde; Capacitação
em serviço.

APPLICABILITY OF ASSISTIVE INNOVATIONS AND TECHNOLOGIES FOR PATIENT SAFETY: INTEGRATIVE


REVIEW

ABSTRACT: The present study aimed to identify the technologies used by nurses to promote patient safety in hospital settings.
Integrative review, with search of articles in databases in the health area, from January to February, 2016. Twenty articles were
selected and sorted according to the assistive technologies used. In the promotion of patient safety, nurses use hard technologies –
implementation of electronic records, automated drug infusion pumps, sensors and computer-based monitoring systems. They also
incorporate good practices in health - construction of instruments targeted to patient safety and identification of risks, and promote/
participate in professional training courses – calculation and administration of medications and intravenous infusions and hand
hygiene. It is concluded that nursing professionals are concerned with patient safety, which reinforces the need to conduct further
studies on the use of relevant strategies.
DESCRIPTORS: Patient safety; Nursing; Biomedical technology; Health care; In-service training.

APLICABILIDAD DE INOVACIONES Y TECNOLOGÍAS DE ASSTENCIA PARA SEGURIDAD DEL PACIENTE:


REVISIÓN INTEGRATIVA

RESUMEN: Estudio cuyo propósito fue identificar las tecnologías utilizadas por el enfermero para promover la seguridad del
paciente en el contexto hospitalar. Revisión integrativa, con búsqueda de artículos en bases de datos en el área de la salud, en
periodo de enero a febrero de 2016. Se seleccionaron 20 artículos, organizados de acuerdo a las tecnologías asistenciales utilizadas.
Para promover la seguridad del paciente, los enfermeros utilizan tecnologías duras – implantación de registros electrónicos, bombas
de infusión, sensores y sistemas computarizados y de alerta; añaden las buenas prácticas en salud – construcción de instrumentos
para dar seguridad al paciente, así como para identificación de riesgos; y realizan/participan de cursos de capacitación profesional
– cálculo y administración de medicamentos e infusiones intravenosas, además de higienización de las manos. Se concluye que
el enfermero es un profesional que se preocupa con la seguridad del paciente, lo que resalta la necesidad de realización de más
estudios cuya énfasis sea el uso de estrategias que promovan esa práctica.
DESCRIPTORES: Seguridad del paciente; Enfermería; Tecnología biomédica; Asistencia a la salud; Capacitación en servicio.

1
Enfermeira. Mestranda em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil.
2
Enfermeira. Residente em Assistência em Diabetes. Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará.
Fortaleza, CE, Brasil.
3
Enfermeiro. Mestrando em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil.
4
Enfermeira. Pós-doutora em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil.
5
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil.
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade de Fortaleza. Fortaleza, CE, Brasil.

Autor Correspondente: Recebido: 25/02/2016


Virna Ribeiro Feitosa Cestari Finalizado: 30/06/2017
Universidade Estadual do Ceará
Av. Dr. Silas Munguba, 1700 - 60741-000 - Fortaleza, CE, Brasil
E-mail: virnarfcestari@gmail.com

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INTRODUÇÃO

A segurança do paciente pode ser definida como o ato de evitar, prevenir e melhorar os resultados
adversos ou as lesões associadas aos cuidados em saúde, usando métodos baseados em evidências.
É um dos assuntos prioritários na área da saúde mundialmente e vem recebendo crescente atenção,
pois, como o processo do cuidado à saúde tem se tornado cada vez mais complexo, eleva o potencial
para ocorrência de acidentes, erros e/ou eventos adversos (EA)(1).
Dados da literatura revelam que milhões de pessoas no mundo sofrem lesões desabilitantes e mortes
decorrentes de práticas em saúde inseguras. Tal estimativa advém de estudos conduzidos em países
desenvolvidos, com sistemas de saúde mais estruturados do que os de países em desenvolvimento,
nos quais dados epidemiológicos ainda são escassos. Em 1999 a temática ganhou destaque a partir de
dados publicados pelo Instituto de Pesquisa dos Estados Unidos, que revelou que os erros de cuidado
à saúde causavam de 44 a 98 mil eventos adversos, anualmente, em hospitais daquele país. Na Europa,
estimou-se que 10,8% dos pacientes hospitalizados foram acometidos por eventos adversos, dos quais
46% poderiam ter sido prevenidos(2).
As consequências oriundas da ruptura da segurança do paciente aumentam os gastos com a
saúde, o tempo de internação, podem implicar em complicações e óbitos, o que ocasiona a redução
da confiança do usuário no sistema de saúde, acarreta danos psicológicos e, muitas vezes, encargos
jurídicos(3).
O enfermeiro tem papel fundamental na promoção da segurança do paciente durante o processo
assistencial, visto ser este o profissional responsável por coordenar a assistência de enfermagem
prestada. Ademais, é crescente o número de enfermeiros atuantes nas instituições e a sua
responsabilidade nos cuidados aos pacientes durante as 24 horas(4). Nessa perspectiva, a prestação
de assistência ao paciente tem exigido da enfermagem atuação extremamente complexa, evocando
a necessidade da mesma se capacitar cientificamente e se comprometer eticamente com ações
sistêmicas de avaliação e prevenção, e tentando viabilizar a redução de desfechos indesejados, assim
como a garantia da qualidade do cuidado prestado(5).
Considerando a magnitude do tema, destaca-se a necessidade da produção tecnológica de
inovações na área da saúde e enfermagem. Quando usada a favor da saúde, a inovação tecnológica
contribui diretamente com a qualidade, efetividade e segurança do cuidado, resultando em um viver
saudável(4). Por conseguinte, surgiu a necessidade de se investigar quais as inovações tecnológicas têm
sido utilizadas pelo enfermeiro na busca pela segurança do paciente.
Com o intuito de contribuir com pesquisas que deem visibilidade à problemática, o presente estudo
teve como objetivo identificar as tecnologias utilizadas pelo enfermeiro para promoção da segurança
do paciente no contexto hospitalar.

MÉTODO

Revisão integrativa da literatura, cuja análise dos estudos selecionados foi norteada pela pergunta de
pesquisa: quais as tecnologias utilizadas pelo enfermeiro para a promoção da segurança do paciente?
Optou-se pelas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde
(IBECS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System
on-line (MEDLINE) e National Library of Medicine (PubMed), utilizando os descritores patient safety,
technology e nursing, de acordo com a terminologia MeSH. A equação de busca foi “patient safety”
AND “nursing” OR “patient safety” AND “technology” AND “nursing”.
Os critérios de inclusão delimitados para pré-seleção dos estudos foram: artigos sobre a
temática segurança do paciente; produzidos por enfermeiros; publicados em periódicos nacionais
e internacionais nos últimos seis anos (2011-2016); que contemplassem os objetivos propostos; em
língua inglesa, portuguesa, espanhola e francesa; e disponíveis eletronicamente na íntegra. Foram
excluídos capítulos de livros, teses de doutorado, dissertações de mestrado, editoriais, cartas ao editor
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e artigos de reflexão, revisão e atualização.
A partir das buscas nas bases de dados e aplicação dos critérios de elegibilidade, foram incluídos 20
estudos na presente revisão. A Figura 1 apresenta o fluxograma de seleção desses estudos.

Figura 1 - Fluxograma da seleção dos estudos segundo o PRISMA. Fortaleza, CE, Brasil, 2016

Inicialmente, o processo de seleção dos estudos foi executado por meio da leitura minuciosa de
títulos e resumos, de modo que foram para seleção final os estudos que atendiam aos critérios de
inclusão supracitados. Para seleção final dos artigos, foi realizada análise crítica e detalhada por dois
revisores e um terceiro foi consultado em caso de discordância na seleção das pesquisas.
Dos estudos selecionados para a amostra final, foram coletados os seguintes dados: país, periódico
e ano de publicação, delineamento metodológico, nível de evidência (NE), população-alvo (adulta,
pediátrica ou profissionais de enfermagem), extensão do estudo (unicêntrico ou multicêntrico) e tema
do estudo. Os dados foram inseridos no programa da Microsoft Excel® 2010, submetidos à análise
descritiva e a síntese dos resultados foi apresentada em quadros.
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RESULTADOS

Foi possível observar maior quantitativo de publicações no ano de 2014, com dez artigos (50%). Os
estudos desenvolvidos e publicados no Brasil totalizaram 12 (60%) dos artigos, sendo, dessa forma, o
português o idioma mais frequente de publicação (Quadro 1). A região Sudeste foi a que apresentou
maior número de pesquisas envolvendo a temática em estudo (cinco; 25%); seguidas da Sul (quatro;
20%); Nordeste (dois; 10%) e Centro-Oeste (um; 5%).

Quadro 1 - Caracterização dos estudos selecionados. Fortaleza, CE, Brasil, 2016

Estudo País Periódico/ano de publicação Delineamento NE Extensão do


metodológico estudo
A1(6) Estados Unidos Journal of Nurse Administration/2011 Transversal III Multicêntrico
A2 (7)
Brasil Revista Latino-Americana de Descritivo V Unicêntrico
Enfermagem/2012
A3(8) Canadá Ontario Health Technology Assessment Transversal III Multicêntrico
Series/2012
A4(9) Estados Unidos Nursing for Women’s Health/2012 Transversal III Multicêntrico
A5 (10)
Brasil Cadernos de Saúde Pública/2012 Metodológico V Unicêntrico
A6 11)
Japão Methods of Information in Medicine/2013 Transversal V Unicêntrico
A7 (12)
Brasil Revista Latino-Americana de Metodológico V Unicêntrico
Enfermagem/2013
A8(13) Brasil Revista Gaúcha de Enfermagem/2013 Estudo analítico III Unicêntrico
A9 (14)
Brasil Revista Latino-Americana de Metodológico V Unicêntrico
Enfermagem/2013
A10 (15) Brasil Escola Anna Nery/2014 Descritivo V Unicêntrico
A11 (16)
Nigéria The Brazilian Journal of Infectious Transversal III Unicêntrico
Diseases/2014
A12(17) Noruega BMJ Open/2014 Ensaio clínico I Unicêntrico
randomizado
A13(18) Brasil Revista Escola de Enfermagem da USP/2014 Transversal III Unicêntrico
A14 (19)
Brasil Acta Paulista de Enfermagem/2014 Transversal III Unicêntrico
A15 (20)
Brasil Revista Escola de Enfermagem da USP/2014 Híbrido: produção V Unicêntrico
tecnológica
e pesquisa
metodológica
A16(21) Brasil Acta Paulista de Enfermagem/2014 Longitudinal IV Multicêntrico
A17 (22)
EUA Journal for Healthcare Quality/2014 Transversal III Unicêntrico
A18 (23)
Arábia Saudita International Journal of Electronic Transversal III Unicêntrico
Healthcare/2014
A19(24) Minas Gerais Texto e Contexto Enfermagem/2015 Descritivo V Unicêntrico
A20 (25)
Brasil Revista Escola de Enfermagem da USP/2015 Descritivo V Unicêntrico

Houve predomínio de estudos transversais, nove (45%); de abordagem quantitativa, 17 (85%);


unicêntricos, 16 (80%); e 13 (65%) estudos tinham os adultos como principal população-alvo. Para o
nível de evidência, foi utilizada a classificação a partir do delineamento experimental(26), constatando
equivalência entre o quantitativo de estudos publicados com NE III (evidências obtidas de estudos
sem randomização controlados, coorte ou de seguimento) e V (evidências originárias de estudos
descritivos), com nove (45%) cada.
No que tange às temáticas, 12 (60%) tratavam da incorporação das boas práticas em saúde para
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a promoção da segurança do paciente; cinco (20%), do uso de tecnologias duras; e três (15%), da
capacitação do profissional enfermeiro (Quadro 2).

Quadro 2 - Distribuição dos estudos segundo temas abordados. Fortaleza, CE, Brasil, 2016

Tema do estudo Estratégias utilizadas pelos enfermeiros


Uso de tecnologias duras Implantação de registros eletrônicos de saúde (A1);
Bombas de infusão inteligentes (A4);
Sistemas de sensores de coleta de sinais vitais (A7);
Sistemas de alerta (A15);
Sistemas computadorizados de entrada do paciente (A18).
Incorporação das boas práticas Construção/validação/adaptação de instrumentos voltados para a segurança
em saúde para a promoção da do paciente (A2, A5, A7, A8, A9, A16, A19);
segurança do paciente Identificação dos riscos para a segurança (A10);
Identificação de medicamentos (A14, A17, A20).
Capacitação do enfermeiro Administração de infusões intravenosas (A3);
Promoção da higienização das mãos (A11);
Cálculo de medicamentos (A12).

DISCUSSÃO

Uso de tecnologias duras


Dentre as tecnologias do cuidado, as duras ou trabalho morto referem-se ao instrumental complexo
em seu conjunto, englobando todos os equipamentos para tratamentos, exames e a organização das
informações(11,23).
A implantação dos registros de saúde eletrônicos é ferramenta para qualificar os cuidados prestados
e a efetivar segurança dos doentes. Oferece nível de detalhamento para relatórios de transferência,
avaliação de administradores, permite a economia de gastos referentes à redução de erros nas
medicações, tempo gasto na documentação, melhoria dos registros de enfermagem e na comunicação
com a equipe(6). Um estudo(6) realizado em 316 hospitais dos EUA evidenciou que apenas 21 (7%)
tinham um sistema de registros eletrônicos implementados em todas as unidades de atendimento ao
paciente, e os enfermeiros desses hospitais foram menos propensos a relatar desfechos desfavoráveis
quando comparados aos que não utilizavam essa tecnologia.
As tecnologias duras também têm sido amplamente utilizadas no processo de medicação. Os erros
na administração dos medicamentos são muito frequentes nas unidades de saúde, principalmente
quando está relacionado a dosagens precisas e medicações nocivas ao corpo humano. Com o objetivo
de amenizar os erros e aplicar uma dose mais fidedigna, foram criadas as bombas inteligentes para
identificar as características especificas dos pacientes, sugerir informações sobre a diluição, taxas
de infusão recomendadas, cálculos de dosagem de acordo com o peso, verificação prévia de fatores
imprescindíveis para assegurar a administração do medicamento, evitando assim uma situação
insegura. A nova tecnologia evidenciou uma redução de erros de 3,1 para 0,8 por 1.000 doses(9).
Outra tecnologia implantada no intuito de promover a segurança do paciente é o Processo
de Enfermagem Informatizado (PEI), embasado na Classificação Internacional para as Práticas de
Enfermagem (CIPE) para UTI. A proposta buscou a recomendação de Diagnósticos de Enfermagem
(DE), identificação das alterações clínicas possíveis e intervenções adequadas para cada caso, por
meio de mensagens de alerta para segurança(20). Os autores constataram a eficácia desse programa e
sugeriram a adição de mais alertas potenciais para: pneumonia iatrogênica, infecções secundárias ao
cuidado prestado, deiscência de sutura no pós-operatório de pacientes com cirurgia abdominal ou
pélvica, perda de acesso vascular e extubação endotraqueal.
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Percebe-se portanto que, com a formulação de sinais de alerta, com suas devidas orientações, o
profissional permanece preparado para situações que comprometam a segurança do paciente, tendo
como suporte um processo que orienta suas ações, a fim de garantir uma prática baseada em evidências
científicas, minimizando e prevenindo os EA.

Incorporação das boas práticas em saúde


As boas práticas em saúde envolvem as ações adotadas pelas instituições de saúde bem como
seus funcionários, no intuito de possibilitar a identificação e resolução de problemas com segurança
e agilidade, de forma a propiciar melhor assistência(21).
Os EA são resultados de diversos fatores desfavoráveis, como a estrutura física do local de trabalho;
indisposição de recursos materiais; jornadas de trabalho abusivas; excesso de pacientes por enfermeiro;
ausência de educação continuada; falta de estímulos à notificação de EA, entre outros(14,25). Justifica-
se, portanto, a construção e validação de diversas escalas de predisposição para ocorrência de EA,
buscando a melhoria do cuidado(7).
Envolver o paciente e família na sua própria segurança é uma estratégia de prevenção de EA,
principalmente quando se trata de crianças. Pensando nisso, um estudo metodológico(12) teve como
objetivo elaborar e validar um checklist com intervenções pré-operatórias relacionadas à segurança do
paciente, a ser preenchido pela criança e família. O instrumento demonstrou lacunas na comunicação
entre profissional, crianças e familiares, como a utilização de terminologias técnicas, deficiência de
registros de dados no prontuário, atitudes do profissional frente aos questionamentos da criança ou
familiar, e informações deficientes. Portanto, são necessárias melhorias nas orientações prestadas no
pré-operatório e adaptações da linguagem utilizada.
A implantação do checklist é de baixo custo e demora cerca de três minutos para sua aplicação
e a dificuldade em sua aplicação está localizada na equipe cirúrgica(10). O processo conta com um
responsável pela aplicação, sendo o enfermeiro o indicado para orientar a checagem; o profissional
deve ter autoridade plena sobre o processo cirúrgico, estando apto a interromper o procedimento ou
impedir o avanço, se julgar insatisfatório algum dos itens(13).
A construção e implementação de roteiros também se mostraram eficazes para assegurar a
segurança do paciente. Estudo(24) realizado em Minas Gerais objetivou elaborar roteiro para identificar
os principais incidentes no transporte intra-hospitalar de pacientes internados na UTI. Os autores
verificaram que os incidentes estavam relacionados a panes e problemas de mau funcionamento nos
equipamentos e dispositivos, sendo as circunstâncias de risco frequentes: variação da pressão arterial,
agitação, queda da saturação arterial periférica e taquicardia.
Outro estudo(21) desenvolvido em três unidades de terapia intensiva (UTI) de São Paulo objetivou
analisar as boas práticas em saúde. Ao serem comparadas, as unidades apresentaram diferenças
importantes na mudança de decúbito; prevenções de quedas; prevenção de infecção hospitalar, entre
outros. Os itens que apresentaram medidas eficazes em mais de 90% nas três instituições foram:
colchão caixa de ovo; paciente sentado e grades elevadas para prevenir quedas; identificação do leito;
cabeceira elevada acima de 30º; torneirinhas protegidas com “cone luer” e bolsa coletora de diurese
abaixo do nível da bexiga. Diante disso, as instituições devem manter e aprimorar uma política de
gerenciamento de riscos, prevenindo erros e buscando a melhoria da assistência.
Pesquisa(15) realizada no Ceará revelou que a maior preocupação dos enfermeiros era em relação ao
risco de quedas, transmissão de infecção e EA relacionados ao procedimento cirúrgico. Os enfermeiros
são os principais responsáveis pela implementação das práticas seguras nos serviços, indicando a
qualidade do cuidado prestado. Comprovando tal fato, esses profissionais demonstraram estar atentos
às metas internacionais, bem como aos protocolos de cirurgia segura, realizando os checklists e a
incorporação das evidências científicas.
Além das estratégias específicas voltadas para a segurança, o enfermeiro pode implementá-la no
Processo de Enfermagem (PE), método de trabalho sistematizado e embasado cientificamente que
orienta a assistência e a documentação, facilitando a avaliação do indivíduo. A fim de padronizar o

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PE, são usados instrumentos como os Diagnósticos de Enfermagem (DE) NANDA Internacional, o
qual nomeia o problema vivenciado, e o Nursing Interventions Classification (NIC) que apresenta as
intervenções prioritárias para este DE(18).
Quanto à administração de medicamentos, a legibilidade das prescrições deve ser prezada pelo
profissional prescritor com todas as informações sugeridas, assinatura e conselho profissional, bem
como o diálogo deve ocorrer nesse momento, deixando claro para equipe as alterações e suspensões,
evitando assim falha de comunicação(19,25).

Capacitação do enfermeiro
A lavagem das mãos (LM) é uma estratégia simples para a segurança do paciente, evitando infecções
para o doente e o profissional. Um estudo(16) desenvolvido na Nigéria teve como objetivo treinar 202
trabalhadores em saúde para a higiene correta das mãos. Após o treinamento, os autores constaram
adesão de 75,3% na LM, principalmente, após o contato com fluidos corporais (75,3%) e após tocar no
paciente (73,6%). A taxa de adesão foi maior em enfermeiros (72,9%) quando comparados aos médicos
(59,7%) e parteiras (65%).
Outra preocupação evidenciada nos estudos selecionados foram os erros nos cálculos das doses
de medicamentos. Um estudo(17) randomizado realizado na Noruega com 183 participantes revelou
que a metade dos médicos é incapaz de realizar cálculo de medicamentos e que, para se tornar um
enfermeiro, são necessários testes sem falhas dessa prática. A implementação de curso de cálculo de
medicamentos levou à melhoria desta prática, 37 (20,2%) dos participantes obtiveram nota excelente.
A capacitação mostrou-se eficaz também em um estudo(8) desenvolvido em Ontario, que buscou
identificar as dificuldades dos enfermeiros no manuseio do paciente com acesso intravenoso. Depois
de identificadas, foram realizadas intervenções educativas por meio de telefonemas.
Os profissionais de saúde necessitam de suporte da educação continuada, buscando a atualização
nas novas diretrizes, como manusear equipamentos modernos, formas de administrar medicamentos
recentes, estratégias para melhorar a assistência e como trabalhar em equipe.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se que a enfermagem é profissão de destaque no que se refere à segurança do paciente


nos mais variados cuidados. Essa atribuição representa grande desafio, pois exige trabalho em conjunto
com a equipe multiprofissional. Espera-se do enfermeiro que sua tomada de decisão vise sempre à
segurança do paciente e que possua a prática embasada na pesquisa e em evidências.
Dentre as contribuições do enfermeiro para a segurança do paciente, destacaram-se os cuidados de
enfermagem como a higienização das mãos, cuidados no manejo e administração de medicamentos,
identificação de riscos à segurança do paciente, uso de sistemas de informação e aplicabilidade de
instrumentos e escalas para avaliar a segurança dos pacientes.

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