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09/11/2019 REFUGIADOS E DESLOCADOS FORÇADOS: DA EXCLUSÃO PARA UMA POLÍTICA DE RECONHECIMENTO – Diplomatize

Idioma:

EDIÇÃO 4 VOLUME III 2017

REFUGIADOS E
DESLOCADOS
FORÇADOS: DA
EXCLUSÃO PARA
UMA POLÍTICA DE
RECONHECIMENTO

Gabrielle Da Cunha

Resumo: A gura do refugiado quebra muitos


paradigmas e questiona como a democracia e o sistema
de Estados estão con gurados. O artigo procura
compreender as construções sociais e categorizações
que ao longo do tempo colocaram os deslocados
forçados como uma ameaça, que os expõe numa
subclasse de cidadania no país solicitado para refúgio e
que tem por consequência, a luta por direitos que esses
reivindicam no sistema internacional. A partir da
pesquisa bibliográ ca e da consulta de relatórios e
documentos do ACNUR, foi possível veri car que o
governo humanitário está mais para controlar do que
auxiliar e atender as necessidades dos refugiados. A
criação dos campos de refugiados é um exemplo claro
de controle espacial que impede milhares, em suma, de
africanos e asiáticos, de atravessarem a fronteira dos
países centrais que tem indiretamente responsabilidade
nos con itos que os forçaram a fugir de seus Estados.

Palavras-chave: Refugiados; direitos humanos; governo


humanitário.

Abstract: The gure of the refugee breaks many


paradigms and questions how democracy and the
system of states are shaped. This article seeks to
understand the social constructions and categorizations

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that over time have transformed the forced displaced as


a threat, which exposes them to a subclass of citizenship
in the requested country for refuge and brings as a
consequence the struggle for rights and recognition that
they claim in the International system. From
bibliographic research and consultation of UN reports
and documents, it is possible to verify that the
humanitarian government is more prone to control than
to assist and meet the needs of the refugees, and the
creation of refugee camps is a clear example of space
control that prevents thousands, Africans and Asians
specially, from crossing the border of the central
countries that have indirect responsibility in the con icts
that forced them to ee their states.

Keywords: Refugees; Human rights; Humanitarian


Government.

Gabrielle Da Cunha[1] [#_ftn1]

1. Introdução

Migrar é um direito humano. Mas embora ele seja


garantido em Declarações, Constituições, ainda no século
XXI não é plenamente respeitado. Mudar, mover-se além
territórios faz parte da história da humanidade, sempre
foram necessários grupos humanos buscarem novos
lugares que respondessem melhor as suas necessidades,
que lhe garantissem a preservação de suas vidas.

Além de buscar melhor condição sócio econômica, há


aqueles que migram por terem suas vidas ameaçadas
pelo próprio Estado onde viviam, por motivos de guerra,
perseguição religiosa, falta de liberdade de expressão,
por violações de direitos humanos e esses são chamados
e reconhecidos como refugiados.

O artigo tem como objetivo entender o motivo da


exclusão e da limitação ao acesso de direitos que

refugiados e outros deslocados forçados[2] [#_ftn2]


encontram na solicitação de refúgio. Através de uma
pesquisa bibliográ ca e da análise do Relatório de
Tendências Globais do ACNUR de 2015 é abordada a
importante discussão sobre as violações de direitos
humanos de refugiados e deslocados, cujo perpetrador é
o próprio Estado e sobre a luta por direitos que esses
reivindicam do sistema internacional.

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Segundo o Relatório de Tendências Globais do Alto


Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)
no nal de 2015, o mundo tinha 65,3 milhões de pessoas
forçadamente deslocadas no mundo, vítimas de
con itos, perseguição, violência generalizada e violação
de direitos humanos.

No mundo inteiro, a crise humanitária que o con ito na


Síria há cinco anos vem causando, levou 5 milhões de
sírios deslocarem-se em sua maioria, para países
europeus e asiáticos. A principal travessia desses
refugiados, o Mar Mediterrâneo, afundou a vida e a
esperança de muitos que morreram no caminho e
aqueles que sobrevivem à travessia encontram
fronteiras bloqueadas e fechadas para eles.

2. Refugiado: Uma ameaça ou uma


vítima

Há muitos questionamentos quando se pensa na relação


Estado e refugiados, como por que é difícil compreender
que os refugiados perderam a maioria de seus direitos e
estão numa situação de extrema vulnerabilidade social, e
que não deveriam serem vistos como indesejáveis? Por
que os Estados em suma não incluem e não promovem
um discurso de inclusão dessas pessoas que precisam
que seus direitos sejam garantidos em qualquer parte do
mundo?

Para responder estes questionamentos se faz necessário


entender como a construção do Estado-Nação e de
conceitos de cidadania, democracia, nacionalismo estão
vinculados entre si e são usadas como que uma barreira
invisível para a compreensão e construção do que
muitos autores irão chamar de uma cidadania
universal[3] [#_ftn3] que indiretamente os deslocados
globais são sujeitos e reivindicam.

Benedict Anderson ao pensar a Nação diz que nenhuma


delas se veem extensivas da humanidade, o que vai
di cultar pensar numa cidadania universal (ANDERSON,
1989, p. 15).  É necessário imaginar além do Estado-
Nação para problematizar e procurar respostas para o
mundo contemporâneo que possui variadas
territorialidades (APPADURAI, 1997).  Se não há fronteiras
para o capital, por que há ainda para as pessoas?

Estados darem status de cidadão a estrangeiros,


garantirem a proteção dos direitos de todos os
deslocados, embora esteja acordado em tratados

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internacionais e não ram a soberania do Estado,


esbarra na construção sociológica, cultural e política do
Estado -Nação, que a rma que o Estado é formado por
um povo que divide uma cultura, memória, identidade
comum, dentro de um território, e que tem um governo
legítimo e soberano dentro e fora de suas fronteiras.

Conforme Stuart Hall a Nação é uma entidade que


produz sentidos, tanto que é “ […] uma comunidade
simbólica e isso explica seu poder para gerar um
sentimento de identidade e lealdade” (HALL, 2000, p. 49).
Tais características levam também ao que se chama de
autodeterminação nacional. Habermas (1998, p. 107)
lembra que o nacionalismo não é um pressuposto do
processo democrático, e assim é mais adequado falar em
autodeterminação democrática.

Nessa discussão, a inclusão numa sociedade


multicultural e dentro das fronteiras de um Estado seria
“[…]uma ordem política que se mantém aberta para a
equalização dos discriminados e para a integração dos
marginalizados sem incorporá-los na uniformidade de
uma comunidade popular homogeneizada” (Habermas,
1998, p. 108). Na autodeterminação democrática se
reconhece que todos são iguais, há leis públicas para
regular a relação entre concidadãos, mas não é
especi cado quem tem acesso à cidadania.

Habermas demonstra um olhar otimista sobre o Estado


democrático e a inclusão das minorias, para ele o agir
comunicativo do indivíduo que se baseia no fato das
vontades e discursos do povo serem efetivados em
normas, constitui assim um governo democrático, aberto
também às reivindicações de outros grupos dentro de
um Estado (HABERMAS, 1998, p.107).Mesmo com as
transformações que a globalização trouxe na
constituição e recon guração das identidades e no
funcionamento do sistema internacional, há movimentos
de abertura e fechamento do pensar a alteridade e a
inclusão de diversos grupos, entre eles os refugiados.

Outra autora, Lisa Malkki (1992) a rma que o pensar


sedimentarizado construído a longos anos faz com que
os refugiados e todos os deslocados sejam vistos como
fora da ordem, como uma patologia. Para ela, ligar
pessoas a lugares, nações a territórios não é só
territorialização, este pensar sedimentarizado está num
plano metafísico, por isso o homem sempre foi visto
como alguém que cria raízes, daí a necessidade da
criação de uma identidade cultural homogênea dentro

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de um Estado-Nação. O que leva a pensar no território,


elemento constitutivo do Estado.

O conceito de território é central na Geogra a e não


possui apenas uma de nição, é um conceito amplo. Para
HAESBAERT:

Desde a origem, o território nasce com uma dupla


conotação, material e simbólica, pois etimologicamente
aparece tão próximo de terra-territorium quanto de
terreo-territor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver com
dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração
do terror, do medo – especialmente para aqueles que,
com esta dominação, cam alijados da terra, ou no
“territorium” são impedidos de entrar. Ao mesmo tempo,
por extensão, podemos dizer que, para aqueles que têm
o privilégio de usufrui-lo, o território inspira a
identi cação (positiva) e a efetiva “apropriação”.
(HAESBAERT,2004, p. 1).

O poder referido re ete não só um poder político, mas


ele está relacionado ao sentido concreto e simbólico do
território no que corresponde a dominação e a
apropriação. A dominação jurídico-política do território
que o limita e estabelece quem pode ou não entrar está
presente no fechamento das fronteiras e também na
construção de campos de refugiados onde há dominação
e controle espacial, obedecendo uma lógica de
segurança.

Assim, por perderem a conexão com seus lares


nacionais, há nos refugiados um sentido amoral, eles
passam a ser tratados dessa forma. Categorizá-los como
ilegais já os colocam numa situação social vulnerável,
eles já cam fora da lei do Estado solicitante de refúgio,
sem necessariamente cometerem crimes.  O refugiado
ca fora do mapa, fora de qualquer obrigatoriedade legal
de ter seus direitos garantidos e é tido como uma
ameaça a homogeneidade da identidade cultural de
outro povo, que vai gerar o que Stuart Hall (2000, p. 85)
denomina de racismo cultural.

Quando Hannah Arendt ao falar sobre os apátridas, que


é uma condição parecida com a dos refugiados no que
tange violação de direitos, a rma que “[…] uma vez que
ele constituía a anomalia não-prevista na lei geral, era
melhor que se convertesse na anomalia que ela previa: o
criminoso” (ARENDT, 1979, p.319).  Sendo que tal
condição era pior do que a de um criminoso, pois esse
ainda tinha o abrigo da lei e de certa forma estava em
igualdade de direitos aos demais cidadãos, ao passo que
o apátrida nem isso possuía e que ao praticar um crime,
mesmo temporariamente, um apátrida teria acesso à
igualdade humana.

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Ela faz essa analogia para mostrar o quanto a condição


do apátrida é desumana o que abriga também os
refugiados que cam anos sem receber o status de
refugiado e ter acesso a garantia de muitos direitos.

Até mesmo nas universidades, há um direcionamento


errado em como se coloca os refugiados como objeto de
estudo, eles são abordados como um problema, na
maioria das vezes, não se problematiza as condições
políticas ou processos que forçam massivamente
pessoas a fugirem de seus países, tira-se os refugiados e
deslocados do seu contexto sociopolítico (MALKKI, 1992,
p.33).

Longe de ser uma ameaça, os refugiados são vítimas de


um sistema de exclusão, que além de explorar e
desestabilizar seus países, os colocam num limbo social,
presas fáceis para sub-trabalhos, trabalho escravo e
trá co de pessoas. A mais forte política pensada para os
refugiados é a do controle, dos instrumentos legais que
limitam e controlam o acesso dos refugiados e
deslocados às fronteiras dos países centrais.
(AGIER,2008)

3. Categorização e governo
humanitário

Toda categorização é um ato político, categorizar os


deslocados em refugiados, apátridas, deslocados
internos, migrantes econômicos, etc. é uma forma de
controle. Os campos de refugiados nada mais são que
espaços de exceção, para manter os países centrais livres
desses indesejáveis, em sua maioria, originários de
países asiáticos e africanos (AGIER, 2008).

Como assinala Bordieu (1998), o discurso deve sempre


uma parte muito importante de seu valor aquele que o
domina, a categorização é um ato político e nesse caso
possui também um caráter securitizador (BUZAN,
WAEVER, WILDE, 1998) e de controle do regime espacial
que isola com acesso precário a direitos, milhares de
pessoas abrigadas em campos de refugiados ao redor do
mundo. Desta forma, o humanitarismo se apresenta
como algo contraditório e ambíguo, pois ao mesmo
tempo que protege, organizações internacionais como o
Acnur, as ONG´s de direitos humanos ajudam na
manutenção desse sistema de ajuda e controle
humanitário.

Um outro problema que esse governo humanitário


produz é que nem sempre pessoas que são refugiadas

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são reconhecidas como tal, porque não há vontade


política e nem um sistema igual nos países para o
reconhecimento e tratamento dos refugiados e
deslocados. Diversas são as armadilhas e fragilidades
que o sistema político arma para relativizar,
menosprezar e violar os direitos humanos.

A Convenção de Refugiados de 1951 [4] [#_ftn4] e o


Protocolo de 1967 [5] [#_ftn5] que deliberam quem pode
ser reconhecido como refugiado apresenta muitas
fragilidades, segundo Liliana Jubilut “ há uma de nição
muito ampla e de difícil delimitação prática e a mesma
decorre de um instrumento sem força jurídica
vinculante” (JUBILUT, 2014, p. 13)

Esta limitação do Direito Internacional dos Refugiados


facilita a manipulação dos Estados que inventam formas
de driblá-lo e desta forma, o reconhecimento de
refugiado passa a ser uma concessão de um visto
temporário. Além do tempo curto dessas concessões de
vistos humanitários (para quem é e deveria ser
reconhecido como refugiado), após o vencimento do
visto, estes são obrigados a reassentarem-se num
terceiro, quarto país quando esses não precisam lutar
para não serem enviados de volta ao seu país que ainda
está em con ito.

Todas essas violações são respondidas também com


resistência por parte dos refugiados que pedem e lutam
pelos seus direitos. Agier (2008) cita alguns exemplos da
luta por direitos que presenciou nos diversos campos de
refugiados em que esteve como pesquisador e
voluntário. Como o caso de 200 colombianos deslocados
em Bogotá que ocuparam o escritório da Cruz Vermelha
pedindo proteção diplomática e fazerem-se ouvidos.

Outro exemplo, em Luanda (Angola), 50 refugiados


representantes de diversos países ocuparam o escritório
do Acnur protestando contra maus tratos e alegando
que o Acnur não lhes deu nem o básico, água e abrigo.
Além de reivindicarem que a Convenção de Genebra
fosse aplicada para eles conseguirem serem repatriados
para um terceiro país na África (AGIER, 2008, p. 27).

Os refugiados ao redor do mundo têm travado uma luta


por reconhecimento para terem acesso a direitos. Os
Estados possuem o dever e podem responder à Corte
Internacional de Justiça por negarem asilo e proteção aos
refugiados, mas a ótica securitária aplicada por todos os
Estados no pós-Guerra Fria e de forma mais acentuada a
partir da Guerra ao Terror de 2011, justi ca o exercício
stricto sensu da soberania dos Estados no controle das
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fronteiras e no controle migratório. Ao invés de conduzir


suas políticas migratórias a partir do viés dos direitos
humanos, a maioria dos Estados utilizam o viés
segurança para tratarem do tema.

4.  O controle dos países centrais


Hannah Arendt (1979) ao abordar o contexto Entre
Guerras, analisando a formação de novos Estados após a
queda dos impérios e do tratamento dispensado às
minorias, a rmou que naquele momento, os Estados
satirizaram e colocaram como utopia os direitos
humanos ao imporem um Tratado às Minorias. Longe de
conferir-lhes autonomia e forças para sua
autodeterminação, criaram-se barreiras para dividir, ao
invés de protagonismo, as minorias caram atrás de um
muro que foi construído para mantê-los longe e assim
traçar a divisão do:  nós (Potências europeias e mundiais)
x eles (minorias, os indesejáveis de ontem e de hoje).

Várias décadas passaram e algumas coisas ainda


permanecem, há ainda um processo de se eleger quem
pode ter direitos, todo o desacoplamento e o número
recorde de deslocados e refugiados no mundo é maior
que o do período do Pós II Guerra Mundial, no ontem e
no hoje da História podemos evidenciar que os con itos
no mundo que forçam milhares de pessoas a saírem dos
seus países são resultados do imperialismo, da
necessidade de expansão e acumulação do capital.

Como assinala David Harvey há um “novo imperialismo”,


que se con gura sobretudo na busca dos EUA em
garantir segurança energética, pois quem “controlar a
torneira global do petróleo poderá controlar a economia
global, pelo menos num futuro próximo. ” (Harvey,2013,
p.25).

Não sem motivo, o maior número de refugiados e


deslocados internos há mais de dois anos são dos países
geopoliticamente estratégicos da África e Ásia no que
tange recursos energéticos, na produção de petróleo e
gás natural, como a Síria, Afeganistão, Iraque, Somália,
Nigéria, onde os con itos e guerras tem participação
direta ou indireta dos EUA e Europa.

Segundo o Relatório Tendências Globais da ONU de


2016, os refugiados contidos no hemisfério sul, em
países como Líbano, Turquia, e Congo estão, em sua
maioria, em campos de refugiados. Nos noticiários da
televisão ao longo de 2015 a crise de refugiados foi
mostrada ao mundo com tristes cenas de refugiados

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mortos no mar Mediterrâneo ou pisoteados, maltratados


por policiais das fronteiras europeias.

Milhares de pessoas tem suas vidas e países destruídos


por políticas expansionistas dos países centrais como
EUA, França, Inglaterra, etc. e ainda são impedidos de
atravessarem suas fronteiras por tornarem-se por eles
uma ameaça.

5. considerações nais

A gura do refugiado quebra muitos paradigmas e


questiona como a democracia e o sistema de Estados
estão con gurados. Percebe-se um movimento cíclico
em que as potências mundiais exploram, desestabilizam
várias partes do mundo para manter seu status quo e se
fecham para não receber em seus territórios a
consequência de suas intervenções.

É necessário desconstruir a ideia que se faz da


identidade ser xa, de que um povo tem uma cultura
homogênea e precisa se fechar para o diferente para
preservar sua identidade cultural, pois esse contato ao
contrário traz muitas oportunidades, nesse processo se
reinventa pessoas, histórias, lugares e assim
desmisti car a gura do refugiado como uma patologia,
a nal migrar faz parte da história da humanidade e
deslocar-se é algo tão comum no mundo
contemporâneo.

Um novo olhar e políticas para uma nova percepção dos


deslocados em todos os países do mundo é necessária, e
traz em si também uma reivindicação por uma ordem
mundial menos desigual e mais justa visto que governo
humanitário apenas controla e deixa no stand-by os
problemas que o capital e as grandes potências criam.

O papel das Universidades é importante para


desconstruir ideias que entravam na garantia dos
direitos humanos, principalmente dos refugiados, e no
apoio a movimentos, participação na elaboração de leis e
ações que criem condições sociais, econômicas e
culturais que permitam e potenciem a luta pela
dignidade e a autonomia desses que assim como outros
grupos vulneráveis, estão excluídos à margem do Estado

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[1] [#_ftnref1] Professora de História e Sociologia.


Graduada em Relações Internacionais pela FAD
(Faculdade Anhanguera de Dourados) e especialista em
História pela PUC Minas Gerais.

[2] [#_ftnref2] O refugiado está dentro da categoria de


deslocados forçados. Utiliza-se ao longo do texto da
expressão refugiados e deslocados forçados por esses
serem obrigados a migrarem para fugir de con itos,
violações, conceito utilizado no Relatório de Tendências
Globais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR). Este relatório é anual e traz dados
sobre o deslocamento global.

[3] [#_ftnref3] Cidadania universal: A intersecção do


Direito Internacional Dos Refugiados, do Direito
Internacional dos Direitos Humanos e do Direito
Internacional humanitário ao pautar numa
universalização dos direitos humanos, cria uma
universalidade da cidadania, reconhecendo o homem
como sujeito de direitos fundamentais independente de
sua nacionalidade. (MAGNO, 2009)

[4] [#_ftnref4] “A Convenção é o instrumento jurídico


internacional que de ne em caráter universal a condição
de refugiado e explicita seus direitos e deveres” (CARLET;
MILESI, 2012, p. 82)

[5] [#_ftnref5] O Protocolo de 1967 ampliou a condição


do reconhecimento de refugiado que pela Convenção de
1951 estava restrito às violações da Segunda Guerra
Mundial. Outras convenções em nível regional foram
criadas a partir destes dois documentos para garantir em
nível regional o direito dos refugiados, como a
Declaração de Cartagena de 1984 que veio a rmar o
Estatuto do Refugiado no âmbito das Américas.

Referências

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30 DE JUNHO DE 2017 POR SECRETARIA DE PUBLICAÇÕES DA ANET

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