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Professora Vera
Por Paula Melichar Suassuna - 2020
Aulas 1 e 2 – Digestão
Digestão
A alimentação tem como objetivo a reposição de água, substratos energéticos, vitaminas e
sais minerais. A disponibilidade energética sem necessidade de alimentação constante deve-
se à capacidade de formação de reservas energéticas, ou seja, de armazenamento de
moléculas simples em formas complexas que podem ser quebradas (em caso de necessidade)
fornecendo energia, como o glicogênio hepático e muscular (glicose), os triglicerídeos
(ácidos graxos e glicerol) e as proteínas (quando são ingeridas em excesso, não são
armazenadas em forma de proteínas: elas são desaminadas e transformadas em gordura – aa
cetogênicos – ou em açúcares - aas glicogênicos).
A digestão é a hidrólise, por enzimas presentes nos diversos sucos digestivos, de formas
complexas ingeridas na alimentação (macromoléculas) em moléculas simples
(micromoléculas) que podem ser absorvidas/assimiladas, uma vez que podem atravessar as
MPs.
Tipos de digestão
1. Digestão extracelular
Ocorre quando uma mucosa/tecido produz determinado suco que é liberado na luz de um
órgão, sobre um alimento presente nessa luz. Esse alimento, então, por ação das enzimas do
suco, dá origem a produtos que são absorvidos na mucosa em questão ou em uma mucosa
localizada adiante no TGI. Assim, a quebra do alimento, na digestão extracelular, ocorre na
luz do órgão.
2. Digestão intracelular
Ocorre quando o alimento chega à membrana, é englobado e posto em um vacúolo que
contêm enzimas que atuam sobre ele. O alimento, digerido, então, dá origem a produtos que
podem atravessar a membrana do vacúolo, para serem usados em outra organela.
3. Digestão em membrana
Ocorre no intestino delgado, nas microvilosidades (protuberâncias das membranas dos
enterócitos em direção à luz do intestino) que contém enzimas digestivas. Ao entrar em
contato com as microvilosidades intestinais, então, o produto é degradado e, depois,
absorvido.
O trajeto do alimento pelo trato gastrointestinal
Na boca, o alimento sofre ação do primeiro suco, o salivar. O suco salivar tem como
principal função umedecer e lubrificar o alimento. O alimento, então, descendo ao longo do
esôfago, estimula glândulas que levam à liberação do suco gástrico, extremamente ácido, no
estômago. Depois da ação do suco gástrico, através da válvula pilórica (esfíncter pilórico), o
suco gástrico chega ao intestino e nele, estimula a liberação de fatores hormonais por células
hormonais /gustativas. Esses fatores hormonais, pelo sangue, chegam à vesícula biliar e
estimulam sua contração e liberando bile no jejuno. Os fatores hormonais também chegam ao
pâncreas e estimulam a liberação de suco pancreático, por ele, no intestino. Além disso,
esses fatores ainda estimulam o próprio intestino a produzir e liberar suco entérico/intestinal.
Assim, por ação conjunta desses 3 sucos, há digestão alimentar no intestino delgado. Os
produtos da quebra dos alimentos são absorvidos no próprio intestino delgado. O que não é
absorvido continua no trato gastrointestinal e chega ao intestino grosso, onde, por ação de
bactérias, também pode digerido, dando origem a produtos - que são absorvidos - e a outros
resíduos, ou seja, produtos do processo de digestão ou alimentos que não foram absorvidos.
Ainda, no intestino grosso, são gerados outros produtos da ação bacteriana sobre os
alimentos. Por fim, os produtos do processo da digestão que não foram absorvidos + produtos
da ação de bactérias sobre os alimentos + algumas bactérias em si formam as fezes, que serão
excretadas.
Suco salivar
Produção:
Por 3 pares de glândulas:
Submaxilar
Parótida
Sublingual
Características:
1,2/L por dia
pH: 6,3 – 6,8. (varia conforme o estímulo e a composição sanguínea – aumentando-se
a uremia, há liberação de um pouco de ureia na saliva; ao ingerir álcool, a saliva
torna-se mais ácida, etc.)
Incolor, ligeiramente opalescente
Viscosidade: 1,003 (pode variar por causa do estímulo – é dada pela presença de
mucoproteínas – quanto mais mucinas, mais viscosa é a saliva)
Composição:
99,5% H20
0,5% substâncias inorgânicas (sódio, cloro, cálcio, potássio, etc.) e orgânicas
(enzimas do suco, ureia, ácido úrico, mucinas, glicose, fenóis, etc.)
Funções:
Excretora (álcool, morfina, ureia, ácido úrico, etc.)
Lubrificadora (pelas mucinas) e umidificadora (pela água): principal função
Digestiva (não é a principal porque o alimento passa pouco tempo na boca)
Enzimas:
Amilase salivar/ ptialina : apenas hidrolisa ligações glicosídicas alfa-1,4- e não
hidrolisa a ligação glicosídica mais externa, ou seja, tem ação endoglicosidase, só
hidrolisa a partir da segunda ligação glicosídica - por isso, e pelo pouco tempo de
permanência do alimento na boca, não é possível liberar moléculas de glicose na
boca, mas libera-se polissacarídeos menores a partir da digestão de amido e
glicogênio: as dextrinas, que não podem ser absorvidas. Seu pH ótimo de ação é em
torno de 6,8. Portanto, quanto o alimento passa ao estômago, meio muito ácido, essa
enzima deixa de atuar sobre ele, já que é desnaturada.
Lipase lingual: hidrolisa ligações éster dos triglicerídeos/ triacilgliceróis gerando
beta-monoglicerídeos, ao liberar 2 ácidos graxos, ou diglicerídeos, ao liberar 1 ácido
graxo. Ela não hidrolisa a ligação éster do carbono 2 (beta).Como essa enzima é
estável em meio ácido, quando o alimento passa ao estômago, ela continua a atuar
sobre ele, não sendo desnaturada, porém tendo atividade diminuída. A lipase lingual é
importante para o recém nascido porque quando o bebê ingere leite e por acaso
dorme, ele continua com o leite na boca, dando tempo para essa enzima atuar; além
disso, ela é importante porque é estável até pH 3-4, pH estomacal característico em
bebês.
Suco gástrico
Produção:
Cels mucóides: localizadas na parede estomacal, produzem muco que reveste a
mucosa do estômago, protegendo-a da lesão pela acidez do suco gástrico (lise celular)
Cels principais: produzem as enzimas presentes no suco gástrico
Cels parietais: produzem o ácido clorídrico presente no suco gástrico e a
mucoproteína fator intrínseco de Castle.
Características:
2,5 L por dia
Liquido límpido, amarelo claro
pH 1,0 – 2,0
Composição
97 – 99% água
HCL – 0,16 M
Mucinas, sais inorgânicos, enzimas
Produção e ação das enzimas presentes no suco gástrico pelas células principais
Lipase gástrica: age em conjunto com a lipase lingual sobre os triglicerídeos,
originando diacilglicerol ou 2-monoacilglicerol.
Pepsinogênio: sintetizado e liberado pelas células principais, o pepsinogênio não
degrada as proteínas presentes nas cels principais porque é um zimogênio, ou seja, é a
forma inativa da enzima pepsina. Ao entrar em contato com o ácido clorídrico, no
entanto, o pepsinogênio sofre hidrólise ácida, dando origem à enzima protease ativa, a
pepsina. As primeiras moléculas de pepsina formada também podem agir sobre o
pepsinogênio, promovendo uma hidrólise enzimática, o que leva à formação de mais
pepsina. A pepsina, como endoprotease ativa, hidrolisa proteínas, mas não hidrolisa a
ligação peptídica da extremidade: ela só hidrolisa ligações peptídicas no interior da
proteína. Dessa forma, não gera aminoácidos livres: a pepsina dá origem a
polipeptídeos menores.
Quando o quimo chega ao intestino, promove a liberação dos fatores hormonais secretina,
colecistoquinina e o peptídeo insulinotrópico dependente de glicose/ peptídeo inibidor de
gastrina/ GIP.
Suco biliar
É produzido pelo fígado entre uma refeição e outra e é armazenado na vesícula biliar.
Quando o alimento chega ao intestino e estimula a liberação de colecistoquinina, esse fator
hormonal estimula a contração e esvaziamento da vesícula, liberando o suco biliar na luz do
jejuno.
Funções da bile
Emulsificação: o suco biliar não contém enzimas; tem como principal função
emulsificar gorduras por meio dos ácidos biliares para facilitar a atuação de enzimas
(hidrossolúveis) pelo aumento da superfície de contato.
Neutralização do quimo-ácido: para permitir a atuação de enzimas que atuam no
intestino, que requerem pH alcalino
Excreção de pigmentos biliares, cobre, zinco, medicamentos, toxinas, etc. –
retiradas do organismo pelo fígado
Ácidos biliares
A partir do colesterol, no fígado, são formados 2 ácidos biliares primários: o ácido cólico e o
ácido quenodesoxicólico. Antes de esses ácidos serem secretados para a vesícula biliar, são
ligados aos aminoácidos glicina ou taurina, para aumentar sua solubilidade, formando ácidos
biliares conjugados: ácido glicocólico, ácido taurocólico, ácido glicoquenodesoxicólico,
ácido tauroquenodesoxicólico – assim, na vesícula, estão presentes ácidos biliares
conjugados. Quando os ácidos primários chegam aos intestinos, sofrem ação de bactérias que
formam os ácidos biliares secundários: o ácido desoxicólico e o ácido litocólico. Esses
ácidos são menos solúveis, porque possuem menos hidroxilas, não são produzidos pela bile e
estão presente na bile porque os ácidos biliares são reabsorvidos no intestino.
Obs. Ácidos biliares X sais biliares: o fígado produz ácidos biliares, mas, na vesícula, estes
são transformados em sais pela ligações com íons
Os ácidos biliares são anfipáticos: possuem parte polar e parte apolar. Na emulsificação, eles
ligam sua parte polar à enzima hidrossolúvel e sua parte apolar à gordura do interior da
micela, permitindo, assim, que o colesterol esterificado e os fosfolipídeos entrem em contato
com as enzimas. Dessa maneira, uma gota de gordura é dividida em várias, bem menores,
aumentando a superfície de contato com as enzimas. Portanto, a emulsificação dessas
micelas mistas de sais biliares e gorduras é essencial para a digestão de gorduras.
Pigmentos biliares
São substâncias tóxicas presentes na bile a serem excretadas nas fezes, que têm como origem
a retirada do grupamento heme da hemoglobina após a lise da hemácia, quando acaba sua
vida útil. Os grupamentos heme são grupamentos prostéticos com um anel porfirina que
contêm ferro (ao qual se liga o O2) em sua estrutura, que estão presos à parte proteica da
hemoglobina. Quando a Hb é lisada, o grupamento heme é aberto, na presença de oxigênio,
liberando carbono sob forma de monóxido de carbono, ferro, que é estocado no organismo, e
porfirina (4 anéis pirólicos ligados por pontes de metileno). A porfirina é lisada e dá origem
ao primeiro grupamento biliar, a biliverdina, que é tóxica e precisa ser eliminada.
Espontaneamente, quando é formada, a biliverdina é reduzida e dá origem a um segundo
pigmento biliar, a bilirrubina, também tóxica e insolúvel. Icterícia é a condição em que a
pele torna-se amarelada devido ao depósito de bilirrubina, insolúvel, nas mucosas.
Assim, os pigmentos biliares podem ser considerados produtos de excreção cuja solubilidade
foi aumentada pelo fígado.
Obs. Icterícia: pode ocorrer em casos de hepatite e cirrose porque o fígado perde a
capacidade de captar bilirrubina do sangue e conjugá-la, levando a seu acúmulo no sangue e
consequente alojamento nas mucosas. Ocorre, também, em recém-nascidos, porque a
capacidade de captação de bilirrubina ainda não é adequada. Nesse caso, o bebê não é
medicado, porque seu fígado é frágil, então é submetido a um banho de luz UV para formar z
dipirróis pela quebra da biliverdina, diminuindo a concentração de bilirrubina no sangue.
Suco pancreático
Produzido por 2 tipos de células:
Acinares: estimuladas pela CCK, liberam suco rico em enzimas, pobre em íons e em
água
Intercalares: estimuladas pela secretina, liberam suco bastante aquoso, pobre em
enzimas e rico em íons bicarbonato
O suco pancreático, junção dessas 2 secreções, tem pH alcalino, contêm cerca de 95% de
água e é rico em enzimas: tripsinogênio, quimiotripsinogênio, pro-elastase, pro-
carboxipeptidases, iro-fosfolipase A2, amilase pancreática, colesterol-esterase, ribonuclease,
desoxirribonuclease e colipase
Iro-fosfolipase A2
Ativada pela tripsina, torna-se fosfolipase A2. Hidrolisa fosfolipídeos, atuando na ligação
éster do carbono 2 (beta), formando um ácido graxo livre e lisolecitina (um
lisofosfolipídeo), o qual auxilia a emulsificação das gorduras.
Lipase pancreática
Mesma função da lipase lingual e da lipase gástrica: hidrolisa triglicerídeos gerando 2 ácidos
graxos livres e um 2-monoacilglicerídeo ou 1 ácido graxo livre e um di-glicerídeo. É ativada
por sais biliares. As lipases apenas atuam nas ligações éster dos carbonos 1 e 3, nunca do 2.
Colesterol–esterase
Hidrolisa os ésteres de colesterol liberando colesterol livre e ácidos graxos livres.
Ribonuclease e desoxirribonuclease
Hidrolisam ácidos nucleicos, liberando polinucleotídeos de DNA (desoxirribonuclease) ou de
RNA (ribonuclease)
Colipase
É uma proteína que não tem atividade enzimática, é liberada em forma inativa, a pro-
colipase e é ativada pela tripsina. Essa proteína atua como “protetora” da atividade da lipase
pancreática, ou seja, impedindo que ela perca sua atividade em meio muito gorduroso, o que
acontece porque a lipase é polar e o triglicerídeo sobre o qual ela atua é apolar. A colipase faz
isso mantendo apenas o sítio ativo da lipase em contato com a gota de triglicerídeo,
estabilizando-a. “A colipase é uma “escada” na qual a lipase “sobe” e fica presa, hidrolisando
a gota de gordura mas sem se soltar dela”
Suco entérico
É extremamente aquoso, assim como o pancreático, tem pH alcalino e contêm algumas
enzimas. As “enzimas intestinais” não se referem somente às livres na luz intestinal: a
fosfatase, a polinucleotidase, a nucleotidase e a nucleosidase estão livres nessa luz, mas as
aminopeptidases, as dissacaridases (maltase, isomaltase, sacarase, lactase), as dipeptidases e a
enteroquinase estão ligadas à borda em escova.
Enzimas de membrana
Glicosidases (maltase, isomaltase, sacarase, lactase)
Sacarase: hidrolisa as ligações glicosídicas do açúcar das frutas, a sacarose, liberando
uma molécula de glicose e uma de frutose.
Lactase: hidrolisa a lactose, o açúcar do leite, liberando galactose e glicose.
Maltase: atua na ligação glicosídica alfa, 1-4, hidrolisando a maltose, produto da
digestão do glicogênio e do amido e açúcar do malte, liberando 2 moléculas de
glicose
Isomaltase: atua na ligação glicosídica alfa, 1-6, hidrolisando os pontos de
ramificação do amido e do glicogênio, liberando 2 moléculas de glicose
OBS. Os humanos não possuem a enzima celulobiase, que hidrolisa a ligação glicosídica
beta-1-4 presente entre as moléculas de glicose que formam o polissacarídeo celulose. Essa
enzima está presente, por exemplo, nas bactérias que habitam os intestinos de ruminantes.
(Di)peptidases
Presas na membrana, hidrolisam as ligações peptídicas entre 2 aminoácidos, liberando-os.
Aminopeptidases
Hidrolisam a ligação peptídica da extremidade, a partir do grupamento amino livre.
Enteroquinase
Polinucleotidase/ diesterase
Enzimas que hidrolisam polinucleotídeos liberando nucleotídeos.
Nucleotidases
Enzimas que hidrolisam nucleotídeos liberando fosfato livre e nucleosídeos.
Nucleosidases
Enzimas que hidrolisam nucleosídeos, liberando uma base nitrogenada e uma pentose.
A digestão de carboidratos
A digestão de polissacarídeos é luminal, ou seja, ocorre nas luzes dos órgãos, por ação
da amilase salivar e da amilase pancreática
A digestão de oligossacarídeos de cadeia curta e de dissacarídeos é extracelular (pois
as enzimas se encontram borda em escova)
A mucosa intestinal absorve exclusivamente monossacarídeos.