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O N ATIVO RELATIVO
As regras do jogo
No limite
Da concepção ao conceito
“A d escrição do k ula e q uip ara-se à d escrição dos b uracos n e gros. Os com ple-
xos siste m as d e alia nça são tão im a gin ativos como os com plexos ce n ários evo-
lutivos propostos p ara os g e n es e goístas. Com pre e n d er a teologia dos a borí-
gin es a ustralia nos é tão im porta nte q u a nto cartografar as gra n d es falh as su b-
m arin as. O siste m a d e posse d a terra n as Trobria n d é u m objetivo cie ntífico
tão interessa nte como a son d a g e m do g elo d as calotas polares. Se a q u estão é
sa b er o q u e im porta n a d efinição d e u m a ciê ncia — a ca p acid a d e d e inovação
no qu e diz resp eito às a g ê ncias qu e povoam nosso mundo —, e ntão a a ntropo-
logia estaria b e m próxim a do topo d a hierarq uia disciplin ar […]” (1996a:5)23 .
d a p ela a ntropologia faz u m a filosofia ‘im a gin ária’ com selva g e ns re ais.
Real toads in im aginary gard e ns, como disse a poeta M aria n n e Moore.
Note-se, n a p aráfrase q u e fize mos m ais acim a, o d esloca m e nto q u e
im porta. Agora n ão se trataria m ais, ou a p e n as, d a d escrição antropológi-
ca d o k ula (e n q u a n to for m a m ela n é sia d e socialid a d e), m a s d o k ula
e n q u a nto d escrição m elan ésia (d a ‘socialid a d e’ como form a a ntropológi-
ca); ou ain d a, seria preciso contin u ar a com pre e n d er a “teologia a ustra-
lia n a ”, m as a gora como constituin do ela própria u m dispositivo d e co m -
pre e nsão; do m esmo modo, os com plexos siste m as d e alia nça ou d e pos-
se d a terra d everia m ser vistos como im a gin ações sociológicas in díg e nas.
É cla ro q u e s e r á s e m p r e n e c e ss á rio d e scr e v e r o k ula co m o u m a d e scri-
ç ã o, co m p r e e n d e r a r eligiã o a b orígin e co m o u m co m p r e e n d e r, e im a gi-
n a r a im a gin a ç ã o in díg e n a: é p r e ciso s a b e r tr a n sfor m a r a s co n c e p çõ e s
e m conceitos, extraí-los d elas e d evolvê-los a elas. E u m conceito é u m a
relação com plexa e ntre conce pções, u m a g e ncia m e nto d e intuições pré-
conceitu ais; no caso d a a ntropologia, as conce pções e m relação inclu e m,
a ntes d e m ais n a d a, as do a ntropólogo e as do n ativo — relação d e rela-
ções. Os conceitos n ativos são os conceitos do a ntropólogo. Por hipótese.
“A id éia d e cultura […] coloca o p esq uisa dor e m posição d e ig u ald a d e com
a q u ele q u e ele p esq uisa: a m bos ‘p erte nce m a u m a cultura’. Como ca d a cul-
t u r a p o d e s e r vist a co m o u m a m a nife st a ç ã o e s p e cífic a […] d o fe n ô m e n o
h u m a no, e como ja m ais se d escobriu u m m étodo infalível d e ‘gra d u ar’ dife-
re ntes culturas e arra njá-las e m tipos n aturais, assu mimos q u e ca d a cultura,
como t al, é e q uiv ale n t e a q u alq u e r ou tr a. Tal postula do ch a m a -se ‘r ela tivi-
d a d e cultural’. […] A com bin ação d essas d u as im plicações d a id éia d e cultu-
ra, isto é, o fato d e q u e os a ntropólogos p erte nce mos a u m a cultura (objetivi-
d a d e r ela tiv a) e q u e so m os o b rig a d os a p ost ula r q u e to d a s a s c ult u r a s s e
O N ATIVO RELATIVO 129
“[E]ssas relações d e d ese nvolvim e nto, q u e form a m ta nto nossas com u nid a-
d es como nossas contestações com outre m, dissolve m su a estrutura, e a re d u-
ze m, e m u m caso, ao esta do d e objeto, e, no outro, ao esta do d e sujeito. Eis
por qu e, p ara a pre e nd er outrem como tal, se ntimo-nos no direito d e exigir con-
dições esp eciais d e exp eriê ncia, por mais artificiais qu e fossem elas: o mome n-
to e m q u e o exprimido ain d a n ão possui (p ara nós) existê ncia fora do q u e o
exprime — O utrem como expressão d e um mundo possível” (1969a:335).
p e nsa m e nto in díg e n a, a d elib eração d e g u ard á-los in d efinida m e nte como
possíveis — n e m d esre aliza n do-os como fa ntasias dos outros, n e m fa nta-
sia n do-os como atu ais p ara nós. A exp eriê ncia a ntropológica, n esse caso,
d e p e n d e d a interiorização form al d as “con dições esp eciais e artificiais” d e
q u e fala Dele uze: o mom e nto e m q u e o m u n do d e outre m n ão existe fora
d e su a expressão tra nsform a-se e m u m a con dição etern a, isto é, intern a à
relação a ntropológica, q u e re aliza esse possível co m o virtual28 . Se h á algo
q u e ca b e d e direito à a ntropologia, n ão é certa m e nte a tarefa d e e x plicar
o m u n do d e outre m , m as a d e m ultiplicar nosso m u n do, “ povoa n do-o d e
todos esses exprimidos q u e n ão existe m fora d e su as expressões”.
De porcos e corpos
cou q u e a diarréia infa ntil com u m é ca usa d a justa m e nte p ela in g estão d e
á g u a n ão-fervid a. Se m se a b alar, a m ulh er piro respon d e u: “Talvez p ara
o p ovo d e Lim a isso s eja v e r d a d e. M a s p a r a n ós, g e n t e n a tiv a d a q ui, a
á g u a fe rvid a d á dia rr éia. N ossos cor p os s ã o dife r e n t e s d os cor p os d e
vocês” (Gow, com u nicação p essoal, 12/10/00).
O q u e pod e o a ntropólogo fazer com essa resposta d a m ulh er ín dia?
Várias coisas. Gow, por exe m plo, tece u com e ntários arg utos sobre a a n e-
dota, e m u m artigo e m pre p aração:
“Este e n u ncia do sim ples [“ nossos corpos são difere ntes”] ca ptura com ele-
g â ncia o q u e Viveiros d e C astro (1996) ch a mou d e p ersp ectivismo cosmoló-
gico, o u m ultin a t u r alis m o: o q u e distin g u e os dife r e n t e s tip os d e g e n t e s ã o
se us corpos, n ão su as culturas. Deve-se notar, e ntreta nto, q u e esse exe m plo
d e cosmologia p ersp ectivista n ão foi obtido no curso d e u m a discussão eso-
térica sobre o m u n do oculto dos espíritos, m as e m u m a conversação e m tor-
no d e preocu p ações e min e nte m e nte prá ticas: o q u e ca usa a diarréia infa n-
til? Seria te nta dor ver as posições d a professora e d a m ulh er piro como re pre-
se nta n do d u as cosmologias distintas, o m ulticulturalismo e o m ultin aturalis-
mo, e im a gin ar a conversa como u m choq u e d e cosmologias ou culturas. Isto
s e ria, p e n so, u m e n g a n o. As d u a s cos m olo gia s / c ult u r a s, n o c a so, e st ã o e m
co n t a to já h á m uito t e m p o, s u a im b ric a ç ã o p r e c e d e d e m uito os p roc e ssos
ontog e n éticos através dos q u ais a professora e essa m ulh er piro viera m a for-
m ulá-las como a uto-evid e ntes. M as sobretu do, tal interpretação estaria tra-
d uzin do o diálogo nos termos g erais d e u m a d e su as p artes, a sa b er, o m ulti-
culturalismo. As coord e n a d as d a posição d a m ulh er piro estaria m se n do sis-
t e m a tic a m e n t e viola d a s p ela a n ális e. Isso n ã o q u e r diz e r, é cla ro, q u e e u
cr eia q u e a s cria n ç a s d e v e m b e b e r á g u a n ã o-fe rvid a. M a s isso q u er diz e r
q u e a a n álise etnográfica n ão pod e ir a dia nte se já se d ecidiu d e a nte m ão o
se ntido g eral d e u m e ncontro como esse ”.
Será q u e se pod eria dizer, por exe m plo, q u e ca d a m ulh er está ‘cul-
turaliza n do’ a outra n essa conversa, isto é, atrib uin do a tolice d a outra à
‘cultura’ d esta, ao p asso q u e ‘interpreta’ a su a própria posição como ‘n atu-
r al’? S e ria o c a so d e s e diz e r q u e o a r g u m e n to so b r e o ‘cor p o’ a v a n ç a d o
p ela m ulh er piro já é u m a esp écie d e concessão aos pressu postos d a pro-
fessora? Talvez; m as n ão houve concessão recíproca. A m ulh er piro con-
cor d o u e m discor d a r, m a s a p rofe ssor a, d e mo d o alg u m. A p rim eir a n ã o
co n t e sto u o fa to d e q u e a s p e sso a s d a cid a d e d e Lim a (“ t alv e z ”) d e v a m
b e b er á g u a fervid a, ao p asso q u e a se g u n d a recusou p ere m ptoria m e nte
a id éia d e q u e as p essoas d a ald eia d e Sa nta Clara n ão o d eva m.
O ‘relativismo’ d a m ulh er piro — u m relativismo ‘n atural’, n ão ‘cul-
tural’, note-se — pod eria ser interpreta do se g u n do certas hipóteses a res-
p eito d a economia cog nitiva d as socie d a d es n ão-mod ern as, ou se m escrita,
ou tra dicion ais etc. Nos termos d a teoria d e Robin Horton (1993:379-ss.),
p or e x e m plo. H orto n dia g n ostic a o q u e c h a m o u d e “ p a ro q uialis m o d e
visão d e m u n do” (world-vie w parochialis m) como algo característico d es-
sas socie d a d es: contraria m e nte à exig ê ncia im plícita d e u niversalização
co n tid a n a s cos m olo gia s r a cio n aliz a d a s d a m o d e r nid a d e ocid e n t al, a s
cosmologias dos povos tra dicion ais p arece m m arca d as por u m espírito d e
gra n d e tolerâ ncia, m as q u e é n a verd a d e u m a in difere nça à concorrê ncia
d e visõ e s d e m u n d o discr e p a n t e s. O r ela tivis m o a p a r e n t e d os Piro n ã o
m a nifestaria, assim, su a larg u eza d e vistas, m as, m uito ao contrário, su a
miopia: eles pouco se im porta m como as coisas são alh ures 32 .
H á vários motivos p ara se recusar u m a leitura como essa d e Horton;
e ntre outros, o d e q u e o dito relativismo primitivo n ão é a p e n as intercul-
tural, m as intracultural e ‘a utocultural’, e q u e ele n ão exprim e n e m tole-
r â n cia, n e m in dife r e n ç a, m a s sim e xt e riorid a d e a b solu t a à id éia crip to-
t e oló gic a d e ‘c ult u r a’ co m o co nju n to d e cr e n ç a s (Too k e r 1992; Viv eiros
d e C astro 1993). O motivo princip al, e ntreta nto, está p erfeita m e nte prefi-
g ura do nos com e ntários d e Gow, a sa b er, q u e essa id éia do “ p aroq uialis-
mo” tra d uz o d e b ate d e Sa nta Clara nos termos d a posição d a professora,
com se u u niversalismo n atural e se u difere ncialismo (m ais ou m e nos tole-
r a n t e) c ult u r al. H á v á ria s visõ e s d e m u n d o, m a s h á u m só m u n d o — u m
m u n do on d e tod as as cria nças d eve m b e b er á g u a fervid a (se, é claro, se
e n co n tr a r e m e m u m a p a rt e d o m e s m o o n d e a dia rr éia infa n til s eja u m a
a m e aça).
Em lu g ar d essa leitura, propon ho u m a outra. A a n e dota dos corpos
dife r e n t e s co n vid a a u m e sforço d e d e t e r min a ç ã o d o m u n d o p ossív el
expresso no juízo d a m ulh er piro. Um m u n do possív el no q u al os corpos
h u m a n os s eja m dife r e n t e s e m Lim a e e m S a n t a Cla r a — n o q u al s eja
140 O N ATIVO RELATIVO
n ecessário q u e os corpos dos bra ncos e dos ín dios seja m difere ntes. Ora,
d etermin ar esse m u n do n ão é inve ntar u m m u n do im a gin ário, u m m u n do
d ot a d o, dig a m os, d e o u tr a físic a o u o u tr a biolo gia, o n d e o u niv e rso n ã o
seria isotrópico e os corpos se com portaria m se g u n do leis difere ntes e m
lu g a r e s distin tos. Isso s e ria (m á) ficç ã o cie n tífic a. O q u e s e tr a t a é d e
e ncontrar o proble m a re al q u e torn a possível o m u n do im plica do n a ré pli-
c a d a m ulh e r piro. O a r g u m e n to d e q u e “ n ossos cor p os s ã o dife r e n t e s ”
n ão exprim e u m a teoria biológica altern ativa, e, n aturalm e nte, e q uivoca-
d a, o u u m a biolo gia o bje tiv a im a gin a ria m e n t e n ã o-sta n d ard 33 . O q u e o
arg u m e nto piro m a nifesta é u m a id éia não-biológica d e corpo, id éia q u e
faz com q u e q u estões como a diarréia infa ntil n ão seja m trata d as e n q u a n-
to objetos d e u m a teoria biológica. O arg u m e nto afirm a q u e nossos ‘cor-
p os’ r e s p e ctivos s ã o dife r e n t e s, e n t e n d a -s e, q u e os co n c eitos piro e oci-
d e ntal d e corpo são diverg e ntes, n ão q u e nossas ‘biologias’ são diversas.
A a n e dota d a á g u a piro n ão reflete u m a outra visão d e u m m es m o corpo,
m as u m outro conc eito d e corpo, cuja disson â ncia su bja c e nte à su a ‘ho-
monímia’ com o nosso é, justa m e nte, o proble m a. Assim, por exe m plo, o
co n c eito piro d e cor p o p o d e n ã o e st a r, t al o n osso, n a alm a, isto é, n a
‘m e n t e’, so b o m o d o d e u m a r e p r e s e n t a ç ã o d e u m cor p o for a d ela; ele
p o d e e st a r, a o co n tr á rio, in scrito n o pró prio corp o co m o p e rs p e ctiv a
(Viveiros d e C astro 1996). N ão, e ntão, o conceito como re prese ntação d e
u m corpo extraconceitu al, m as o corpo como p ersp ectiva intern a do con-
ceito: o corpo como im plica do no conceito d e p ersp ectiva. E se, como dizia
Spinoza, n ão sa b e mos o q u e pod e u m corpo, q u a nto m e nos sa b ería mos o
q u e pod e esse corpo. Para n ão falar d e su a alm a.
Notas
6 A ‘im pla usibilid a d e’ é u m a acusação fre q ü e nte m e nte leva nta d a p elos pra-
10 “[O]utre m p ara mim introd uz o sig no do n ão-p erce bido n a q uilo q u e p er-
c e b o, d e t e r min a n d o- m e a a p r e e n d e r o q u e n ã o p e rc e b o co m o p e rc e p tív el p a r a
outre m ” (Dele uze 1969a:355).
(Horton), mod elo inconscie nte vs. conscie nte (Lévi-Stra uss), re prese ntações pro-
posicion ais vs. se miproposicion ais (Sp erb er), e assim por dia nte.
14A p o n d e r a ç ã o é d e Alfr e d G ell (1998:4); ela p o d e ria, é cla ro, a plic a r-s e
ig u alm e nte à ‘n atureza h u m a n a’.
15 Ess e a r g u m e n to é a p e n a s a p a r e n t e m e n t e s e m elh a n t e a o q u e S p e r b e r
(1991:34-38).
se à obra d e F. J ullie n sobre o p e nsa m e nto chin ês (J ullie n e M arch aisse 2000:71).
Ver ta m b é m J ullie n (1989:311-312), sobre as ‘ficções’ com p arativas.
m eio d e elu dir essa difere nça. Então, n ão se pod e dizer: m uito b e m, a gora e nte n di,
é só u m a q u estão d e d escrições difere ntes, e ntão p asse mos aos pontos e m com u m
e n tr e n ós e ele s… p ois a p a rtir d o m o m e n to e m q u e e n tr a m os e m co m u nic a ç ã o,
n ós o fa z e m os a tr a v é s d e ss a s a u to d e scriçõ e s. É e ss e n cial d a r-s e co n t a disso ”. O
ponto, com efeito, é esse ncial. Ver ta m b é m o q u e diz F. J ullie n, sobre a difere nça
e ntre se afirm ar a existê ncia d e difere ntes “ modos d e orie ntação no p e nsa m e nto”
e se afirm ar a op eração d e “outras lógicas” (J ullie n e M arch aisse 2000:205-207).
d e C astro (1999:153).
G u attari (1991:43-44, 89, 105, 205-206), b e m como o brilh a nte com e ntário d e Pra-
do Jr. (1998).
25A expressão “ a p are nte m e nte irracion al” é u m clich ê secular d a a ntropolo-
gia, d e An dre w La n g e m 1883 (cf. Detie n n e 1981:28) a Da n Sp erb er e m 1982.
so”, no d u plo se ntido do g e nitivo, como a d e O b eyese k ere (1992) contra Sa hlins e
a d e LiPu m a (1998) contra Strath ern.
m ais d etermin a ntes q u e a noção d e verd a d e. N ão, d e form a alg u m a, porq u e elas
a s u b stit u a m , m as p orq u e m e d e m a v erd a d e d o q u e dig o ” (D ele u z e 1990:177,
ê nfases min h as).
Referências bibliográficas
Resumo Abstract
Este artigo te nta extrair as im plicações This article atte m pts to extract th e th e-
t e óric a s d o fa to d e q u e a a n tro p olo gia or e tic al im plic a tio n s a risin g fro m t h e
n ão a p e n as estu d a relações, m as q u e o fact th at a nthropology not only stu dies
co n h e cim e n to a ssim p ro d u zid o é ele relations, b ut th at th e k nowle d g e it pro-
próprio u m a relação. Propõe-se, assim, d uces in th e process is itself a relation.
u m a im a g e m d a ativid a d e a ntropológi- It t h e r efor e p ro p os e s a n im a g e of a n -
ca como fu n d a d a no pressu posto d e q u e t h ro p olo g y a s a n a ctivity fo u n d e d o n
os proce dim e ntos característicos d a dis- t h e p r e mis e t h a t t h e p roc e d u r e s c h a r-
ciplin a são conceitu alm e nte d e m esm a acteristic of th e disciplin e are conce p-
ord e m q u e os proce dim e ntos investig a- tu ally of th e sa m e ord er as those it in-
dos. Entre tais im plicações, está a recu- vestig ates. Amon g th ese im plications is
sa d a noção corre nte d e q u e ca d a cultu- t h e r eje ctio n of t h e co n t e m p or a ry n o-
r a o u socie d a d e e n c a r n a u m a solu ç ã o tio n t h a t e a c h c ult u r e or socie ty e m -
e s p e cífic a d e u m p ro ble m a g e n é rico, b o die s a s p e cific solu tio n to a g e n e ric
p r e e n c h e n d o u m a for m a u niv e rs al (o p ro ble m, fillin g a u niv e rs al for m (t h e
co n c eito a n tro p oló gico) co m u m co n - a nthropological conce pt) with a p artic-
t e ú d o p a rtic ula r (a s co n c e p çõ e s n a ti- ula r co n t e n t (t h e n a tiv e co n c e p tio n s).
vas). Ao contrário, a im a g e m a q ui pro- M uch th e op posite: th e im a g e propose d
posta sugere que os problemas eles m es- h ere su g g ests th at th e proble ms th e m-
mos são ra dicalm e nte diversos, e q u e o s elv e s a r e r a dic ally h e t e ro g e nic, a n d
a ntropólogo n ão sa b e d e a nte m ão q u ais t h a t t h e a n t h ro p olo gist c a n n ot k n o w
são eles. b efore h a n d w h at th ese will b e.
Palavras-chave Con h ecim e nto Antropo- Key words Anthropological Knowle d g e,
lógico, Im a gin ação Conceitu al, C ultura, Conce ptu al Im a gin ation, C ulture, Rela-
Relação, Persp ectivismo tion; Persp ectivism