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Fecharemos a unidade com o estudo da corrosão e degradação dos materiais.

A corrosão é um fenômeno
que ocorre com os materiais metálicos; enquanto a degradação afeta os materiais poliméricos.
Neste primeiro tópico, abordaremos as propriedades ópticas dos materiais, as quais são a resposta
de um material quando submetidos a uma radiação eletromagnética, dentre elas, especialmente a luz
visível. Portanto, discutiremos alguns conceitos básicos importantes para esse estudo e veremos as
propriedades ópticas da refração, reflexão, absorção, cor, entre outras.

Refração

Quando a luz incide na superfície de um material transparente e é, então, transmitida para o seu interior,
ela sofre uma diminuição em sua velocidade e é desviada em relação à sua direção de incidência. Esse
fenômeno de desvio da luz observado na interface do material com o meio externo, ou outro material
diferente, é chamado de refração.
A intensidade do fenômeno de refração em um material é dada em termos do índice de refração,
simbolizado por n, que é definido como a razão entre a velocidade da luz no vácuo, c = 3.108 m/s, e a
velocidade da luz no meio (material), v, conforme mostra a equação:

n=
c
v
O índice de refração n também tem relação com a
fração da luz incidente que é refletida na superfí-
cie, além de mudar a trajetória da luz incidente. A
intensidade da refração está relacionada, também, Feixe incidente
com o tamanho dos átomos e íons que constituem
o material refrator e, quanto maior forem esses θ
átomos ou íons, maior será a redução da veloci-
dade da luz quando atravessar a interface e, con-
Vácuo (ou ar)
sequentemente, maior será o índice de refração
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
O índice de refração pode ser escrito em fun- Vidro

ção, representados, respectivamente por θi e θ r :


ção do seno dos ângulos de incidência e de refra-
θ

sen i
n
sen  r
Feixe refratado
A partir dessa equação, é possível determinar o ân-
gulo de refração da luz em um material específico, Figura 1 - Esquematização da refração da luz na interface
conhecendo-se o índice de refração desse material de dois meios distintos: vácuo e o vidro
e o ângulo de incidência da luz sobre ele (Figura 1). Fonte: Shackelford (2013, p. 374).

UNIDADE 8 225
Na Tabela 1, são fornecidos os índices de refração Reflexão
de alguns materiais cerâmicos e poliméricos. Os
materiais metálicos são opacos à luz visível, por- Nem toda a luz que incide sobre um material
tanto, a luz não atravessa esses materiais. transparente é refratada. Quando a luz incide em
uma interface entre dois meios, cujos índices de
refração são diferentes, e parte dessa radiação lu-
Índice de minosa é dispersa (refrata) na interface dos meios
Material refração médio
e uma parcela é refletida nessa interface, o fenô-
Quartzo (SiO2) 1,55
Mulita ( 3Al2O3 2SiO2) 1,64 meno é conhecido como reflexão.
Ortoclásio (KAlSi3O8) 1,525 A fração da luz incidente que é refletida é cha-
Albita (NaAlSi3O8) 1,529 mada de refletividade (ou refletância) R, e pode
Coríndon (Al2O3) 1,76
ser calculada pela seguinte relação:
Periclásio (MgO) 1,74

R=
Espinélio (MgO Al2O3) 1,72 IR
Vidro de sílica (SiO2) 1,458
Vidro de borossilicato 1,47 I0
Vidro de sílica de cal de soda 1,51-1,52
Vidro de ortoclase 1,51 Na qual IR é a intensidade do feixe de luz refletido
Vidro de albita 1,49 e I0 é a intensidade do feixe de luz incidente.
Polímeros termoplásticos Para o caso particular da luz incidir perpen-
Polietileno dicularmente na superfície (normal à superfície)
Alta densidade 1,545
Baixa densidade 1,51 i  0 , então a refletividade pode ser calculada
Cloreto de polivinila 1,54-1,55 utilizando-se a equação:
Polipropileno 1,47
2
Poliestireno 1,59  n n 
Celuloses 1,46-1,50 R 2 1
Poliamidas (náilon 66) 1,53  n2  n1 
Politetrafluoretileno (Teflon) 1,35-1,38
Polímeros termofixos Na qual n1 e n2 são, respectivamente, os índices de
Fenólicos (fenol-formaldeído) 1,47-1,50 refração dos meios 1 e 2 envolvidos na reflexão.
Uretanos 1,5-1,6
Epóxis 1,55-1,60 Se a luz estiver sendo transmitida do vácuo ou
Elastômeros do ar (meio 1) para um material sólido (meio 2),
Copolímero de polibutadieno/ 1,53
poliestireno considerando que o índice de refração do ar é
Poliisopreno (borracha natural) 1,52 praticamente igual a 1, a relação fica simplificada,
Policloropreno 1,55-1,56 conhecida como fórmula de Fresnel:
2
Tabela 1 - Índices de refração n para alguns materiais cerâ-  n 1 
R S 
micos e alguns materiais poliméricos  nS  1 
Fonte: Shackelford (2013, p. 374 e 375).
Em que ns é o índice de refração do material sóli-
O “brilho” característico de diamantes e obras do. Analisando essa equação, podemos perceber
de arte feitas de vidro é devido ao alto índice que a refletividade é maior para materiais sólidos
de refração desses materiais que permite múlti- com índices de refração grandes, e menor para
plas reflexões da luz no interior desses materiais materiais que apresentam índices de refração pe-
(SHACKELFORD, 2013). quenos (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

226 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Absorção

Dentre as cerâmicas e os polímeros, existem materiais opacos e materiais transparentes à luz visível. Os
materiais transparentes, geralmente, exibem uma aparência colorida. Esse comportamento se deve a
absorção da luz visível na forma de energia (fóton de luz) que pode ocorrer devido à promoção de um
elétron da banda de valência do átomo para a banda de condução, dessa forma, são criados elétrons
livres na banda de condução e, consequentemente, buracos positivos na banda de valência, como
podemos observar na Figura 2.

Elétron

condução

condução
Espaçamento Banda de

Banda de
excitado
(livre)

Espaçamento
Energia

entre as
bandas

entre as
bandas
Eg ΔE ΔE
Buraco
Banda de

Banda de
valência

valência

Fóton Fóton
absorvido Emitido
(a) (b)

Figura 2 - Representação do mecanismo de absorção de fótons e promoção de elétrons em materiais


Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013).

Entretanto, para que essa promoção aconteça, a energia dos fótons deve ser maior que a energia Eg que
separa as bandas de valência e de condução desse material. Isto é, a condição para que haja a promoção
de elétrons da banda de valência para a banda de condução é que
hv > Eg

Onde hv é a quantidade de energia do fóton; v é a velocidade da luz no material e h é a constante de


Planck, que vale 4,13.10-15 eV∙s (elétron-Volt-segundo). A equação anterior pode ser escrita em termos
do comprimento de onda λ da radiação luminosa.

> Eg
hc
l

No espectro eletromagnético, o comprimento de onda mínimo para a luz visível é de, aproximada-
mente, λ = 0,4 μm (400 nm) e o máximo é de λ = 0,7 μm (700 nm), como podemos ver na Figura 3.

UNIDADE 8 227
Comprimento de onda
Ondas de
radio
Micro-ondas

Infravermelho

Luz
visível
Ultravioleta

Raios X

Raios gama

Figura 3 - Espectro com os comprimentos de onda da luz visível

Nessas condições, a energia máxima e mínima dos fótons da luz visível são, respectivamente:

hc (4, 13.1015 eV  s )(3.108 m/s )


  3, 1 eV
l( mín ) 4.107 m

e
hc (4, 13.1015 eV  s )(3.108 m/s )
  1, 8 eV
l( máx ) 7.107 m

Dessa forma, materiais não metálicos (polímeros e cerâmicas) com Eg maiores que 3,1 eV não absor-
vem nenhum fóton de energia do espectro de luz visível e, portanto, esses materiais, se tiverem pureza
elevada, serão visivelmente transparentes e incolores.
De forma similar, em materiais cuja energia entre as bandas, Eg, é menor que 1,8 eV, toda a energia
da radiação luminosa é absorvida pelo material, e esses materiais são visualmente opacos.
Finalmente, para materiais com energia entre as bandas, Eg, entre 1,8 eV e 3,1 eV, apenas uma parte
do espectro visível é absorvida e, portanto, esses materiais são coloridos.
Apesar dessa abordagem simples sobre absorção de energia ser verdade, existem outros fatores
e mecanismos que ocorrem em muitos materiais envolvendo a energia fornecida pela luz, mas essa
abordagem mais aprofundada não será tratada nesse material (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

Transmissão

Muitas cerâmicas, vidros e polímeros são materiais nos quais a luz pode atravessar de forma eficaz. O
grau de atravessamento da luz é indicado pelos termos:
• Transparência: capacidade de transmitir uma imagem clara através do material.
• Translucidez: transmissão de uma imagem difusa através do material.
• Opacidade: nenhuma transmissão de imagem através do material.

228 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


A transmissão é o fenômeno observado quando a luz atinge um sólido e atravessa toda a extensão desse
sólido. Esse fenômeno está relacionado com os fenômenos da reflexão e absorção, vistos anteriormente.
Para um feixe de luz, de intensidade I0, que incide sobre um material transparente de comprimento l,
como mostrado na Figura 4, a intensidade do feixe transmitido, IT, é dada por

IT  I 0 (1  R)2 ebl

Onde R é a refletividade da luz na interface e β é o coeficiente de absorção que depende do material


específico e varia com o comprimento de onda incidente.

Feixe incidente Feixe


 transmitido

Rβ
Feixe refletido
R

Figura 4 - Esquematização do fenômeno de transmissão da radiação luminosa através de um material sólido


Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013).

Conforme podemos observar na Figura 4, a in-


tensidade de luz transmitida em um material
transparente depende das quantidades perdidas
por reflexão e por absorção. Podemos definir a
absortividade A e a transmissividade T do mate-
rial, que representam, respectivamente, a fração Os painéis solares de geração de energia (painéis
da radiação incidente que foi absorvida e a que fotovoltaicos) funcionam a partir do princípio de
foi transmitida. Sendo assim: absorção da energia luminosa do Sol por meio

=
=
de painéis feitos normalmente de silício. Material
IA IT
A T que, ao absorver essa energia, promove elétrons
I0 I0
da banda de valência para a banda de condução,
Onde IA é a intensidade de luz absorvida pelo ma- deixando buracos positivos para trás e, como
terial e, dessa forma, a soma das frações de radia- consequência, esses elétrons e esses buracos
ção luminosa refletidas, absorvidas e transmitidas dão origem a uma corrente elétrica.
tem que ser igual a 1 (unidade) (CALLISTER;
RETHWISCH, 2013).

R  AT 1

UNIDADE 8 229
Cor

As cores que enxergamos nos materiais transparentes são resultado da absorção seletiva de compri-
mentos de onda específicos da luz, o que significa dizer que a cor é o resultado da combinação dos
comprimentos de onda transmitidos através do material. Por essa razão, os materiais como diamante
e os vidros inorgânicos são incolores, pois eles absorvem igualmente todos os comprimentos de onda
da luz visível.
Já o sulfeto de cádmio, por exemplo, possui um Eg de 2,4 eV, então ele só absorve comprimentos
de onda com energias superiores a 2,4 eV, ou seja, da luz visível ele não absorve os comprimentos de
onda correspondentes à faixa de energia que vai de 1,8 eV até 2,4 eV, e nessa faixa de comprimentos
de ondas estão as cores amarelo, laranja e vermelho. Portanto, o sulfeto de cádmio apresenta coloração
amarelo alaranjado, que representa a composição de comprimentos de onda do feixe de luz transmitido
por esse material.
Os vidros coloridos são o resultado da inserção de íons de impureza ao vidro ainda no estado fun-
dido. São eles: íons de Cu2+ (dão coloração azul esverdeado), Co2+ (dão coloração azul violeta), Mn2+
(dão coloração amarela) entre outros mais.

Luminescência

Uma característica muito interessante que alguns materiais apresentam é a capacidade de absorver
energia e, então, reemitir essa energia na forma de radiação luminosa. A essa característica, damos o
nome de luminescência.
O que acontece nos materiais luminescentes é que eles absorvem a energia do fóton e, com isso,
ocorre a promoção do elétron da banda de valência (estado fundamental) para a banda de condução
(estado excitado). Quando esse elétron promovido sofre um decaimento para um estado de menor
energia (estado fundamental), ele libera um fóton de energia. Se esse fóton liberado possuir energia
entre 1,8 eV e 3,1 eV (energia dos fótons da luz visível), ele será visível.
A energia absorvida pelos materiais luminescentes para a excitação dos elétrons pode ser de origem
eletromagnética (luz, ultravioleta etc.) ou pode ser de outras fontes, como energia térmica, mecânica,
química etc.
Os materiais luminescentes são classificados com relação ao tempo de resposta, como:
• Fluorescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree-
missão dos fótons é muito curto, geralmente menores que 10 nanosegundos (praticamente
instantâneo).
• Fosforescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree-
missão dos fótons são maiores.

Dentre as aplicações mais comuns da luminescência estão as lâmpadas fluorescentes, detecção de


radiações X e γ, pois certos materiais são fosforescentes quando submetidos a essas radiações (ASKE-
LAND; WRIGHT, 2015).

230 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Fibras óticas

Certamente uma das maiores revoluções no campo a potência do sinal em longas distâncias, muitas
das comunicações foi a utilização das fibras óticas vezes, são utilizados repetidores que amplificam
para a transmissão de dados. Enquanto a transmis- e regeneram o sinal transmitido.
são de dados por meio de condutores, como fios Quanto à constituição, as fibras óticas são forma-
de cobre, dá-se por meio da condução elétrica (por das por um núcleo por onde os pulsos de luz viajam,
elétrons), a transferência de dados nas fibras óticas um recobrimento em torno do núcleo limita a traje-
acontece por transporte eletromagnético (fótons) tória dos pulsos dentro do núcleo, e um revestimen-
que é um processo muito mais veloz. Com isso, os to externo, que protege o núcleo e o recobrimento
sistemas de comunicação e transmissão de dados contra os possíveis danos que o cabo possa sofrer,
experimentaram uma melhora enorme na veloci- como podemos ver na Figura 5, a seguir.
dade e na densidade das informações transmitidas
após a implantação das fibras óticas.
O processo de transmissão de informações por
fibra ótica se inicia com as informações alimenta-
das, sendo transformadas em um sinal eletrônico
em bits (“zeros” e “uns”) por um codificador. Em
Recobrimento
seguida, esse sinal elétrico é convertido em um
sinal óptico (fótons), utilizando um conversor elé-
trico óptico. A saída do conversor elétrico óptico Núcleo Revestimento

são pulsos de luz, de alta potência para os “uns” e


de baixa potência para os “zeros”. Esses pulsos são
Figura 5 - representação do corte transversal de um cabo
transportados pelos cabos de fibra ótica até o seu
de fibra ótica
destino final, em que são convertidos novamente Fonte: Callister e Rethwisch (2013).
em sinais eletrônicos e, então, decodificados.
As fibras óticas têm como função guiar os pul- As fibras óticas são feitas de vidro de sílica de
sos de luz ao longo de distâncias enormes sem que pureza extremamente elevada, além disso, o diâ-
haja perda da qualidade desses pulsos, ou seja, metro dessas fibras é muito pequeno para garan-
as fibras ópticas devem manter a potência dos tir a produção de fibras isentas de defeitos e, por
pulsos e não podem distorcê-los. Para garantir consequência, altamente resistentes.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
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UNIDADE 8 231
dipolos magnéticos são afetados por campos mag- onde μ é o parâmetro chamado permeabilidade,
néticos, assim como os dipolos elétricos são afe- que é uma propriedade do meio específico no qual
tados por campos elétricos. Dentro de um campo o campo H passa e onde B é medido. As unidades
magnético, a própria força desse campo exerce um de μ são H/m (henry por metro) e de B é o T (tesla)
torque que tende a orientar os dipolos em relação que equivale a Wb/m2 (weber por metro-quadra-
a ele. A bússola é um exemplo desse efeito, onde a do), ou seja, 1 T = 1 Wb/m2. Caso o meio seja o
agulha alinha-se com o campo magnético da Terra. vácuo, utiliza-se a permeabilidade do vácuo μ0, que
O campo magnético é caracterizado, em dire- é igual a 4.10-7 H/m (ou 1,257.10-6 H/m).
ção e magnitude em qualquer ponto próximo a Lembrando que um Henry (1 H) é equivalente
esse campo magnético, pela grandeza vetorial H, a um weber por ampère (H = Wb/A). A relação en-
denominada intensidade do campo magnético, tre a permeabilidade de um meio μ e a permeabili-
definida para uma bobina cilíndrica (solenoide) dade do vácuo μ0 é denominada permeabilidade
como sendo: relativa μr, que pode ser conveniente, uma vez que
é uma grandeza adimensional (sem unidades).
H=
NI
l µ
µr =
Onde N é o número de espiras com espaçamento
µ0
compacto e l é o comprimento total em metros
(m), que conduz uma corrente de intensidade Diamagnetismo e
igual a I, em ampères (A), portanto H é dado em Paramagnetismo
ampère/metro (A/m) (CALLISTER; RETHWIS-
CH, 2013). Os materiais sólidos altamente condutores, como
os metais ouro e cobre, possuem permeabilidades
relativas (μr) menores, porém muito próximas,
ao valor unitário (1), por volta de 0,99995. Esses
materiais são chamados de diamagnéticos, que é
uma forma de magnetismo, não permanente, que
S N persiste apenas enquanto um campo magnético
está sendo aplicado.
Os materiais diamagnéticos, em geral, são
constituídos de átomos cujas camadas eletrônicas
são fechadas, dessa forma, não há momento de di-
polo magnético atômico resultante. Todos os ma-
teriais apresentam comportamento diamagnético,
Figura 6 - Representação das linhas de força de um campo
magnético em um ímã uma vez que os átomos que os compõem sempre
terão camadas eletrônicas fechadas. Contudo, de-
Na região ao redor de um gerador de campo mag- vido à fraca intensidade do sinal diamagnético,
nético, podemos definir a indução magnética ou esse efeito só será dominante em sistemas que
densidade do fluxo magnético, simbolizada por não possuam átomos com momento de dipolo
B, definida como: magnético permanente.
B =µH

UNIDADE 8 233
O diamagnetismo é uma forma muito fraca apresenta dipolos. Já na presença de um campo
de magnetismo, que ocorre quando um campo magnético, há a geração de dipolos e a orientação
magnético causa uma mudança no movimento deles no sentido oposto a esse campo.
do orbital dos elétrons do material, gerando um Na Figura 7(b), vemos o comportamento de
pequeno campo oposto. A magnitude da indução um material paramagnético, que na ausência de
magnética B em materiais diamagnéticos é menor um campo exibe dipolos magnéticos, porém es-
que no vácuo, e quando esses materiais são coloca- ses dipolos são orientados aleatoriamente. Quan-
dos entre os polos de um eletroímã forte, eles são do esse material é colocado sobre a ação de um
atraídos para as regiões onde o campo é mais fraco. campo magnético, os dipolos são orientados na
Por outro lado, existem materiais com permea- direção desse campo.
bilidades relativas maiores, mas também muito Entretanto, tanto os materiais diamagnéti-
próximas à unidade, variando entre 1,00 e 1,01, e cos quanto os paramagnéticos só apresentam
esses materiais apresentam momentos de dipolo magnetização quando submetidos a um campo
permanentes, os quais, na ausência de um campo magnético externo, ambos são considerados não
magnético externo, orientam-se de forma aleatória. magnéticos, além de que a densidade de fluxo
Entretanto, quando é aplicado um campo magnético magnético B presente nesses materiais é quase a
externo nesses materiais, os momentos de dipolo mesma que existiria no vácuo.
permanentes se alinham de acordo com esse campo,
esses materiais são chamados de paramagnéticos.
Ambos os comportamentos diamagnéticos e Ferromagnetismo
paramagnéticos são representados na Figura 7.
(a) Os materiais ferromagnéticos são caracterizados
=0 
por exibirem magnetizações muito grandes, es-
pontâneas e que persistem mesmo na ausência de
um campo magnético, diferente das substâncias
paramagnéticas que só apresentam magnetização
enquanto um campo magnético estiver presente.
Os materiais que exibem comportamento fer-
(b)
 romagnético são materiais magnéticos. Alguns
=0
exemplos são os metais de transição, como o ferro,
o cobalto, o níquel e outros materiais (CALLIS-
TER; RETHWISCH, 2013).

Armazenamento magnético
Figura 7 - Disposição dos dipolos magnéticos na ausência
e na presença de um campo magnético externo
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 687). A importância dos materiais magnéticos se dá,
também, pela sua aplicação como componentes
A Figura 7(a) representa o comportamento de um de armazenamento de informações. É notável a
material diamagnético, na qual podemos observar importância dos dispositivos de armazenamento
que, na ausência de um campo magnético, não magnético no setor da tecnologia; a partir des-

234 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


ses dispositivos, foi possível o desenvolvimento então, processados e convertidos nas informa-
de aparelhos, como iPods, reprodutores de mp3, ções originais, de som e imagem.
HDD (drives de disco rígido), os cartões de crédito Atualmente, com o desenvolvimento dos dis-
de tiras magnéticas (precursores dos que utilizam positivos de armazenamento SSD (solid-state
chips), entre muitas outras aplicações. Apesar dos drive), os drives discos rígidos vêm tornando-se
semicondutores apresentarem uma velocidade menos utilizados. Isso se deve ao fato de que os
muito superior para o armazenamento e leitura de SSDs utilizam a memória flash que possui veloci-
informações, os dispositivos de armazenamento dades de armazenamento e leitura muito superio-
magnéticos podem armazenar quantidades de res aos HDD; além disso, os SSD são muito mais
informações bem maiores que os semicondutores resistentes que os HDDs. No entanto, as unidades
e com um custo muito menor. de armazenamento SSD ainda apresentam custo
O processo de armazenamento magnético elevado em relação aos HDDs, e além disso pos-
funciona da seguinte forma: os sons e as imagens suem capacidades de armazenamento menores.
são gravados magneticamente, na forma de sinais
elétricos, em pedaços pequenos do disco ou fita Fitas magnéticas
magnética. Vamos, agora, conhecer dois disposi-
tivos de armazenamento magnético: os drives de As fitas magnéticas são as precursoras dos discos
disco rígido e as fitas magnéticas. magnéticos que mencionamos no tópico anterior.
Elas possuem capacidades de armazenamento bem
Drivers de Disco Rígido (HDD) menores que os discos magnéticos; contudo, o ar-
mazenamento em fitas magnéticas é mais barato
Esses dispositivos são compostos por discos magné- que o armazenamento em disco magnético. Essas
ticos rígidos circulares com diâmetros entre 65 mm fitas possuem dimensões padrões de 12,7 mm de
a 95 mm. Quando os drives de disco rígido estão largura e longos comprimentos (alguns modelos de
em processo de gravação ou leitura de informações, até 1000 m), enrolados na forma de carretéis com
eles costumam alcançar velocidades de rotação de proteção externa para preservação.
até 5400 rpm ou 7200 rpm. A gravação e a leitura dessas fitas são realizadas
É possível alcançar densidades de armaze- por meio de um sistema contendo dois carretéis
namento incrivelmente altas nos HDDs, e esse conectados à fita. Quando estão em operação, a
armazenamento é realizado por meio de um ca- fita é desenrolada de um carretel e enrolada em
beçote de gravação indutivo. O armazenamen- outro com velocidades de até 10 m/s. Entre os
to digital das informações, em sistema binário carretéis, a fita passa por um sistema de cabeçotes,
(conjunto de “zeros” e “uns”), é feito em uma semelhantes ao dos discos magnéticos, de grava-
pequena região do disco magnético, na qual o ção/leitura para a transcrição das informações.
padrão de “zeros” e “uns” dessas informações,
por meio da presença ou ausência de inversões
na direção magnética entre pontos adjacentes, é Supercondutividade
induzido pelo cabeçote de gravação. Já a leitura é
realizada por outro cabeçote, que “sente” o campo A supercondutividade é um fenômeno elétrico
magnético do disco e, com isso, gera variações que ocorre em um estado supercondutor que
na resistência elétrica. Esses sinais elétricos são, pode ser alcançado por alguns materiais. O que

UNIDADE 8 235
acontece é que a resistividade elétrica da maioria cuja movimentação torna-se ordenada e, dessa
dos metais puros (condutores) diminui gradual- forma, os defeitos por átomos de impurezas e as
mente, conforme sua temperatura é reduzida, até vibrações térmicas não causam mais dispersões
alcançar um valor finito muito baixo, que é carac- significativas nesse transporte elétrico, portanto,
terístico para cada metal, na temperatura de 0 K. a dispersão dos elétrons é nula e a condutividade
No entanto, existem materiais que, quando têm é máxima.
sua temperatura reduzida a valores muito baixos, Algumas cerâmicas isolantes elétricas nas
têm sua resistividade elétrica reduzida de valores condições ambientes foram descobertas como
finitos até, aproximadamente, zero, permanecen- supercondutoras a temperaturas críticas TC rela-
do nesse valor conforme a temperatura continua tivamente elevadas. Entre elas está o óxido de ítrio,
a diminuir. A esses materiais específicos, damos bário e cobre (YBa2Cu3O7), cuja temperatura críti-
o nome de supercondutores quando atingem a ca é de, aproximadamente, 92 K. Do ponto de vista
temperatura TC, denominada temperatura crítica, tecnológico, esses materiais são fantásticos, pois
na qual a sua resistividade elétrica é, aproximada- uma vez que eles possuem temperaturas críticas
mente, zero. Para uma melhor compreensão do acima de 77 K, podem ser utilizados como super-
comportamento dos semicondutores frente aos condutores, cujo resfriamento é feito utilizando o
condutores comuns, podemos observar o gráfico nitrogênio líquido, que é muito mais barato que
de resistividade em função da temperatura (Figu- utilizar o hidrogênio líquido ou mesmo o hélio
ra 8) para esses dois tipos de materiais. líquido. Contudo, os supercondutores cerâmicos
têm a desvantagem de serem frágeis, o que difi-
culta a sua aplicação em componentes como em
cabos de instalações elétricas.
Esses tipos de materiais têm um amplo campo
Resistividade elétrica

de aplicações, já são aplicados em aparelhos de


Supercondutor
ressonância magnética no campo da medicina,
em aparelhos de espectroscopia de ressonância
Metal Normal
magnética no campo da química, além de outras
diversas aplicações, como em ímãs de acelera-
dores de partículas, trens de ultra velocidades,
0
0 TC utilizando levitação magnética, transmissão de
Temperatura (K)
energia elétrica praticamente sem perdas etc. O
Figura 8 - Dependência da resistividade elétrica com a tem- obstáculo para essas e muitas outras aplicações é
peratura para materiais condutores para supercondutores o alto custo para manter as temperaturas extrema-
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 707).
mente baixas, necessárias desses supercondutores.
O estado supercondutor pode ser explicado como Para superar esse problema, estão sendo estuda-
sendo o resultado das interações de atração entre dos materiais que possam ser supercondutores a
os pares de elétrons livres (elétrons condutores), temperaturas razoavelmente mais elevadas.

236 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Reações eletroquímicas

A corrosão em materiais metálicos é um processo A reação de redução depende do meio ao qual o


eletroquímico, ou seja, consiste em reações quími- metal está exposto, então, existem muitas reações
cas nas quais há transferências de elétrons entre de redução, além da redução em solução ácida
espécies químicas. Nessas reações, os metais são mostrada anteriormente. Em soluções aquosas
os que cedem elétrons (doadores) e esse processo neutras ou alcalinas (básicas) com oxigênio dis-
é chamado de reação de oxidação. Uma reação solvido, por exemplo, a reação de redução seria:
de oxidação genérica é mostrada a seguir.
O2  2 H 2O  4e  4(OH ) 
M  M n  ne 
Além disso, é importante sabermos que qualquer
n+
Onde M é um metal qualquer, M é o cátion me- íon metálico presente em uma solução pode sofrer
tálico (íon carregado positivamente) de carga n+ redução e retornar ao seu estado neutro:
formado na oxidação, n é o número de elétrons
cedidos pelo metal e e- é o elétron cedido. M n  ne   M
O local onde ocorre a reação de oxidação é
chamado de ânodo, e cada metal possui um nú- Como mencionamos, o local onde ocorre a reação
mero característico de elétrons que ele pode doar de oxidação é chamado de ânodo; já o local onde
na reação de oxidação. O ferro e o alumínio, por ocorre a reação de redução é chamado de cátodo.
exemplo, possuem quantidades diferentes de Tanto as reações de oxidação como as reações de
elétrons a serem doados, como podemos ver nas redução são denominadas semirreações, e a rea-
reações a seguir. ção eletroquímica global é sempre constituída de,
pelo menos, uma reação de oxidação e uma reação
Fe  Fe2  2e de redução. Além disso, na reação eletroquímica
global, não pode existir qualquer acúmulo de
Al  Al 3  3e cargas, ou seja, todos os elétrons gerados na reação
(ou semirreação) de oxidação devem ser consu-
Quando os metais perdem (doam) seus elétrons, midos na reação (ou semirreação) de redução.
outra espécie química deve receber esses elétrons, Um exemplo de reação eletroquímica global é
esse processo de recebimento de elétrons é cha- apresentado na equação dada:
mado de reação de redução. Então, se um metal
sofrer oxidação em solução ácida, com concentra- Zn  2 H   Zn2  H 2 ( gás )
ções altas de H+, os íons H+ receberão os elétrons
doados pelo metal como na reação: Essa reação química ocorre quando uma barra
de zinco é mergulhada em uma solução ácida
2 H   2e   H 2 contendo íons H+. A barra de zinco é o ânodo e
sofrerá oxidação (corrosão) segundo a reação de
oxidação:
Zn  Zn2  2e

238 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Os elétrons gerados nessa oxidação serão consumidos pelos íons H+ (cátodo) segundo a reação de redução:

2 H   2e  H 2 ( gás )

Sendo essas as únicas reações de oxidação e redução que ocorrem no processo, o balanço global (soma das
reações) dá origem à reação eletroquímica global do zinco em solução ácida apresentada anteriormente.

Zn  Zn2  2e
2 H   2e   H 2 ( gás )
Zn  2 H   Zn2  H 2 (ggás)

Outro exemplo comum de corrosão ocorre com o ferro na água (que contém oxigênio dissolvido), dan-
do origem à ferrugem. Esse processo ocorre em duas etapas, na primeira o ferro metálico Fe é oxidado
a ferro Fe2+ cuja forma é Fe(OH)2. Na segunda etapa, o Fe(OH)2 é oxidado novamente e transforma-se
na conhecida ferrugem de fórmula Fe(OH)3, cujo íon ferro é Fe3+.

1
Primeira etapa: Fe  O2  H 2O  Fe2  2OH   Fe(OH )2
2
1
Segunda etapa: 2 Fe(OH )2  O2  H 2O  2 Fe(OH )3
2

Taxas de corrosão

Em sistemas reais, a corrosão é um processo que não está no equilíbrio, afortunadamente, na perspec-
tiva da engenharia, e estamos interessados em estimar as taxas nas quais os componentes corroem.
Essa taxa de corrosão é consequência da ação química e é um parâmetro importante de engenharia.
Podemos expressar a taxa como sendo a taxa de penetração da corrosão (TPC) ou a perda de espessura
do material por unidade de tempo.

TPC =
KW
r At

Onde W é a perda de peso, em miligramas (mg), após um tempo de exposição t em horas (h), ρ é a
massa específica em gramas por centímetro cúbico (g/cm³), A é a área exposta da amostra em cen-
tímetros quadrados (cm²) e K é uma constante. Para uma TPC dada em milímetros por ano (mm/
ano), a constante K é igual a 87,6. Uma estimativa aceitável de TPC em projetos é que ela seja menor
que 0,50 mm/ano.

UNIDADE 8 239
Além disso, pode-se definir a taxa de corrosão em toda a superfície exposta do material, geralmente
termos da corrente elétrica como mostra a relação: formando um depósito ou incrustação nessa su-

r=
i perfície. A ferrugem generalizada em aços e no
nF ferro, e também o escurecimento de pratarias, são
exemplos de corrosão por ataque uniforme.
A taxa r é dada em mols por metro quadrado Em situações nas quais dois metais ou ligas
(mol/m²), i é a corrente elétrica dada em ampe- de composições diferentes são colocadas juntas
res (A), n é o número de mols associados à ioni- e em contato com um eletrólito, pode ocorrer a
zação de cada átomo metálico e F é a constante corrosão galvânica. Nesse tipo de corrosão, o
de Faraday que vale 96500 C/mol (ASKELAND; metal mais reativo sofrerá oxidação (corrosão),
WRIGHT, 2015). enquanto o metal menos reativo estará protegi-
do da corrosão. Em ambientes marinhos (água
salgada é o eletrólito), parafusos de aço (ânodo)
Passividade correm em contato com latão (cátodo) devido à
corrosão galvânica. Além disso, a taxa de corro-
A passividade é um fenômeno exibido por metais, são galvânica aumenta conforme a razão entre
como o cromo, ferro, níquel, titânio e muitas ligas a área do cátodo e do ânodo aumenta, ou seja,
desses metais. Esse fenômeno é caracterizado pela para uma dada área do cátodo conforme a área
perda da reatividade química exibida por alguns do ânodo diminui (aumentando a razão), maior
materiais em alguns ambientes específicos. será a corrosão.
Esse comportamento é, possivelmente, devido A corrosão galvânica pode ser reduzida sig-
à formação de um filme de óxido muito fino e nificativamente:
aderente sobre a superfície do metal, e esse filme • Escolhendo metais (os ligas) próximos na
funciona como uma barreira que protege esse série galvânica para produção de junções.
metal contra uma corrosão adicional. Os aços • Utilizando uma área do ânodo tão grande
inoxidáveis são exemplos de ligas metálicas ex- quanto o possível.
tremamente resistentes à corrosão em diversos • Isolando eletricamente metais (ou ligas)
ambientes devido ao fenômeno da passividade. diferentes.

Formas de corrosão

Neste tópico, vamos elencar algumas formas de


corrosão em materiais metálicos de acordo com a O termo eletrólito refere-se a uma solução capaz
maneira pela qual ocorrem. As causas e os meios de conduzir energia elétrica, ou seja, elétrons,
de prevenção desses tipos de corrosão serão dis- que trafegam na forma de íons, de uma região
cutidos sucintamente. doadora de elétrons até uma região receptora de
O primeiro tipo de corrosão discutido é o elétrons. Uma solução de cloreto de sódio (sal de
ataque uniforme, que consiste na corrosão que cozinha) é um eletrólito.
ocorre com intensidade equivalente ao longo de

240 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


• Conectando eletricamente um terceiro metal com características anódicas, em relação aos outros
dois, para servir de proteção catódica.

A corrosão pode ocorrer na forma de pites, uma forma muito localizada de ataque corrosivo que for-
ma pequenos buracos no material. Os pites podem ter origem em um defeito superficial, como um
arranhão ou mesmo uma pequena variação na composição. Esse tipo de corrosão é muito traiçoeira,
muitas vezes não detectada, e que acarreta pequenas perdas do material e posterior falha.
Os aços inoxidáveis são razoavelmente susceptíveis a pites, entretanto, a resistência a esse tipo de
corrosão aumenta significativamente com uma adição de, aproximadamente, 2% de molibdênio a
esses aços.
Outro tipo de corrosão muito comum é a erosão-corrosão, uma ação combinada de um ataque
químico e da abrasão mecânica causada pelo movimento de um fluido. No geral, todas as ligas metálicas
são susceptíveis, em maior ou menor grau, a esse tipo de corrosão. Em ligas passivadas, o revestimento
protetor pode ser erodido pela ação abrasiva do fluido e, caso essa barreira não seja recomposta rapi-
damente pelo material, a corrosão pode ser severa.
A erosão-corrosão é frequentemente encontrada em tubulações, principalmente em curvas, cotovelos
e em grandes mudanças de diâmetro, rotores, válvulas, bombas e palhetas de turbinas, que são situações
onde há um escoamento turbulento e colisão do fluido. Por essa razão, uma das formas de reduzir a
erosão-corrosão é modificar o projeto para reduzir ou eliminar efeitos da turbulência e a colisão do
fluido. A escolha de um material resistente à erosão e à remoção de bolhas e partículas do fluido, redu-
zindo sua capacidade de erosão, é outra forma de reduzir a erosão-corrosão.

Ambientes corrosivos e prevenção à corrosão

Dentre os ambientes ditos corrosivos estão a atmosfera (ar úmido contendo oxigênio dissolvido), so-
luções aquosas, solos, ácidos, base, solventes inorgânicos, metais líquidos, sais fundidos e, até mesmo,
o corpo humano. A escolha do material adequado depende do ambiente ao qual ele será exposto, a
seguir são mencionados alguns materiais comumente aplicados a alguns tipos de ambientes:
• Atmosfera: ligas de alumínio e de cobre e aço galvanizado.
• Água doce: ferro fundido, aço, alumínio, cobre, latão e alguns aços inoxidáveis.
• Água salgada: titânio, latão, alguns bronzes, ligas de cobre-níquel e ligas de cobre-cromo-mo-
libdênio.
• Solos: ferro fundido e aços-carbono comuns.

Existem diversas formas de lidar com a corrosão, sendo a mais simples a seleção criteriosa do material
utilizado no projeto, após o detalhamento do ambiente ao qual ele será inserido. Entretanto, o fator
econômico, algumas vezes, pode ser determinante e o material “ideal” seja economicamente inviável
ao projeto. Nesses casos, deve-se empregar outras medidas para lidar com a corrosão.

UNIDADE 8 241
Caso seja possível, a mudança do ambiente, Em virtude dessa resistência extrema à cor-
como a diminuição da temperatura do fluido ou rosão, os materiais cerâmicos possuem diversas
da sua velocidade, pode reduzir efeitos de corro- aplicações, como em recipientes de vidro para
são. Além disso, é muito comum a adição de subs- armazenamento de líquidos, cerâmicas refratárias
tâncias em concentrações relativamente baixas em aplicações onde é necessário um isolamento
ao ambiente para diminuir a corrosividade desse térmico e, ainda, resistência a ataques em tempe-
ambiente. Essas substâncias são denominadas raturas elevadas ou em aplicações em ambientes
inibidores, e sua escolha depende tanto da liga corrosivos e pressões acima da atmosférica. Os
metálica quanto do ambiente. materiais cerâmicos são muito mais recomen-
Alguns inibidores funcionam eliminando uma dados que os metais para suportar a maioria dos
espécie quimicamente ativa do ambiente, outros ambientes corrosivos por longos períodos.
fixam-se na superfície que está sendo corroída e
a protegem. Sua utilização se dá, principalmen-
te, em sistemas fechados, como em caldeiras de Degradação dos Polímeros
vapor ou radiadores de automóveis.
Um dos meios mais eficaz de proteção contra Assim como os materiais metálicos, os polímeros
os diversos tipos de corrosão é a proteção catódi- também sofrem deterioração devido à interação
ca. Esse tipo de proteção consiste em fornecer um com o ambiente. Entretanto, o modo como essa
suprimento de elétrons, por uma fonte externa, ao interação ocorre é diferente: nos metais, ocorre
metal que se deseja proteger, transformando esse um processo eletroquímico, enquanto nos po-
metal em um cátodo. límeros os fenômenos são físico-químicos, por
Outra forma de proteção catódica é acoplar essa razão, a deterioração nos polímeros devido
um metal mais reativo ao metal que se deseja pro- ao ambiente é chamada de degradação.
teger. O metal mais reativo funcionará como um Em geral, os polímeros podem deteriorar-se
ânodo de sacrifício, e será oxidado no lugar do por inchamento, dissolução ou por ruptura de
outro metal. O magnésio e o zinco são os metais suas ligações covalentes. Entretanto, devido à
mais utilizados como ânodo de sacrifício devido complexidade química da classe dos polímeros,
aos seus altos potenciais de oxidação. Um exemplo os seus mecanismos de degradação não são com-
de proteção catódica muito conhecido é a galva- pletamente entendidos.
nização, que consiste na aplicação de uma cama- O inchamento ocorre quando um polímero,
da de zinco na superfície do aço, com a finalidade exposto a um líquido, absorve esse líquido, ou
de proteger o aço contra a corrosão. um soluto desse líquido, e as pequenas moléculas
absorvidas ajustam-se no interior do polímero
e forçam a separação das suas macromoléculas,
Corrosão em Cerâmicas resultando em uma redução das forças de liga-
ção intermoleculares e, consequentemente, em
Os materiais cerâmicos são extremamente imunes uma redução da resistência e um aumento da
à corrosão em quase todos os ambientes. Quando ductilidade do polímero. Pode, ainda, ocorrer a
ocorre nesses tipos de materiais, é uma simples diminuição da temperatura de transição vítrea do
dissolução química, diferente dos processos ele- polímero, e caso essa temperatura seja menor que
troquímicos que ocorrem na corrosão dos metais. a temperatura ambiente, o material, que antes era

242 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


resistente, pode perder essa resistência e tornar- Concluímos a Unidade 8 falando sobre as pro-
-se borrachoso. Já a dissolução ocorre quando o priedades óticas dos materiais, ou seja, do com-
polímero é completamente solúvel no líquido ao portamento de alguns materiais frente à radiação
qual ele está exposto, podendo ser considerada luminosa (luz visível). Dentre essas propriedades,
uma continuação do inchamento. estudamos a refração, que é a mudança da direção
Os polímeros podem também sofrer degra- da luz quando muda de meio, a absorção da ener-
dação devido à ruptura de ligações em suas gia luminosa pelos materiais, a transmissão, que é
cadeias moleculares, causando uma diminuição observada quando a luz consegue atravessar um
do tamanho das moléculas e da massa molar do material mesmo que com perdas de energia, entre
polímero. A massa molar é um fator determinante outras. Foi abordado, também, de forma introdu-
nas propriedades dos polímeros, como resistência tória, as fibras óticas e como as suas propriedades
mecânica e resistência a ataques químicos, então, são revolucionárias para o setor de comunicação.
variações na massa molar acarretam variações nas Além disso, vimos que alguns materiais, quan-
propriedades dos polímeros. do submetidos a um campo externo, sofrem uma
A ruptura de ligações em polímeros pode ser magnetização fraca que dura apenas enquanto
resultante da exposição à radiação, ao calor ou, esse campo estiver presente; esses materiais são
ainda, devido a reações químicas (CALLISTER; denominados diamagnéticos. Por outro lado, te-
RETHWISCH, 2013). mos os materiais paramagnéticos que apresentam
dipolos permanentes e também sofrem uma mag-
netização fraca quando submetidos a um cam-
po externo. Já os materiais ferromagnéticos são
materiais magnéticos que apresentam uma forte
magnetização quando submetidos a um campo
Muitos materiais poliméricos utilizados em apli- externo, que se mantém mesmo que o campo ces-
cações em ambientes externos sofrem um tipo se. Fechamos esta unidade conhecendo algumas
de degradação denominado intemperismo, que aplicações de materiais magnéticos no nosso dia
pode ser uma combinação de vários processos a dia, como os HDDs e as fitas magnéticas.
distintos. A principal causa dessa deterioração é Fechamos a unidade com uma abordagem dos
a oxidação iniciada pela radiação ultravioleta do tipos de corrosão em materiais metálicos e dos
sol. Além disso, alguns polímeros absorvem água, métodos de prevenção deles, além disso, vimos
reduzindo, assim, sua dureza e rigidez, como é o que os materiais poliméricos sofrem degradação
caso do náilon e da celulose. Entretanto, alguns em alguns ambientes e essa degradação pode
polímeros como os fluorocarbonos são, pratica- comprometer seriamente a funcionalidade des-
mente, inertes ao intemperismo. ses materiais.
Fonte: Callister e Rethwisch (2013).

UNIDADE 8 243
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

247
1. C.

A afirmativa II está incorreta, pois o ferro (na forma ferrita α), o cobalto e o níquel exibem comportamento
ferromagnético, ou seja, exibem momento magnético permanente mesmo na ausência de um campo
magnético externo.

2. B.

A afirmativa III está incorreta, pois uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atra-
vessa completamente o material; esse fenômeno é chamado de transmissão e está relacionado com os
fenômenos da reflexão e absorção.

3. Prevenção de corrosão em metais:

• Seleção criteriosa do material adequado, conhecendo-se o ambiente ao qual ele será inserido.

• Proteção catódica ou Galvanização.

• Diminuição da corrosividade do ambiente, como diminuição da temperatura do fluido ou da sua velocidade.

• A adição de inibidores para diminuir a corrosividade do ambiente.

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