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Fase: porção homogênea de um sistema que apresenta propriedades químicas e físicas uniformes.

São consideradas fases todo material puro e também todas as soluções homogêneas, sejam no estado
sólido, líquido ou gasoso. A água pura, por exemplo, pode apresentar as seguintes fases: sólida, líquida
e gasosa. Além disso, uma solução de água com açúcar também é uma fase, assim como o açúcar puro
constitui outra fase distinta. Toda fase apresenta as seguintes características:
• A mesma microestrutura (arranjo atômico).
• A mesma composição química e propriedades físicas.
• Uma interface de separação entre a fase e as fases da vizinhança (fronteira entre as fases).

Quanto à definição dos sistemas, dizemos que um sistema é homogêneo caso esse sistema seja com-
posto por apenas uma fase. Da mesma forma, um sistema é dito heterogêneo caso ele seja formado
por duas ou mais fases.
Componente: substância química distinta que forma a fase. Por exemplo, a fase água líquida pura
é formada apenas por um componente, a água; já a fase água com açúcar é formada por dois com-
ponentes, a água e o açúcar. Esses conceitos de fase se estendem aos sólidos; para uma barra de liga
cobre-níquel, por exemplo, temos uma única fase que é composta pelos componentes cobre e níquel.
Solubilidade ilimitada: para alguns sistemas, por exemplo níquel fundido (líquido) e cobre fundido
(líquido) ou água e álcool, para qualquer concentração de um componente no outro – níquel fundido
em cobre fundido ou água em álcool –, o sistema sempre apresentará apenas uma fase. Isso ocorre
porque a solubilidade do níquel em cobre e do álcool em água é ilimitada, ou seja, independente das
quantidades de um componente misturadas no outro, o sistema resultante apresentará apenas uma
fase, desde que os componentes envolvidos sejam completamente solúveis um no outro.
Para o caso de solidificação de componentes com solubilidade ilimitada (solidificação do sistema
níquel e cobre, por exemplo), o sólido formado constitui uma solução sólida, cujas propriedades
físicas, a estrutura e a composição são uniformes por toda a fase sólida formada.
Solubilidade limitada: entretanto, na maioria dos casos, a solubilidade de um componente em
outro não é ilimitada. Nesses casos, existe um limite de solubilidade de um componente no outro. Se
misturarmos esses componentes em concentrações que não ultrapassem esse limite de solubilidade,
ocorrerá a formação de apenas uma fase. Entretanto, quando a adição de um dos componentes ultra-
passa o limite de solubilidade, ocorre a formação de uma nova fase.
Um exemplo desse comportamento é a mistura dos componentes água e sal. Se adicionarmos uma
pequena quantidade de sal em água e agitarmos, o sistema formado possuirá apenas uma fase, água
salgada. Entretanto, se continuarmos a adicionar sal a esse sistema, após uma determinada quantidade,
ocorrerá a formação de uma nova fase nesse sistema, uma fase de sal sólido. Todo o sal que formou
essa nova fase do sistema é o sal excedente ao limite de solubilidade do sal em água.
Sendo assim, todo sistema formado por componentes de solubilidade limitada possui um limite
de solubilidade definido, que depende dos componentes que o formam. Além disso, o limite de solu-
bilidade é dependente da temperatura, ou seja, ele varia conforme a temperatura varia (ASKELAND;
WRIGHT, 2015).

UNIDADE 6 161
Equilíbrio de Fases

Um sistema é dito em equilíbrio quando sua energia livre é mínima para uma combinação específica
de temperatura, pressão e composição. Essa energia livre é uma função termodinâmica relacionada à
energia interna do sistema e ao grau de desordem dos seus átomos ou moléculas constituintes (entropia).
Macroscopicamente, observa-se, em um sistema em equilíbrio, que as características desse sistema
não mudam ao longo do tempo, isto é, elas permanecem as mesmas indefinidamente, o sistema é
estável. Contudo, qualquer alteração, seja na temperatura, pressão ou composição desse sistema em
equilíbrio, resultará num aumento na energia livre e o sistema buscará um novo estado de equilíbrio.
Os sistemas trabalhados quase sempre são constituídos de duas ou mais fases (sistemas heterogê-
neos) e, nesse âmbito, empregamos o termo equilíbrio de fases para nos referirmos ao equilíbrio entre
as diversas fases que constituem um sistema a uma temperatura, pressão e composição determinadas.
Pense em um sistema formado por açúcar dissolvido em água e, também, açúcar sólido como corpo
de fundo devido ao limite de solubilidade ter sido ultrapassado. Esse sistema possui duas fases distintas,
açúcar + água e açúcar sólido no fundo, que estão em equilíbrio a uma certa temperatura, pressão e
composição (concentração). Caso seja aumentada a temperatura desse sistema, este sairá do estado
de equilíbrio, pois esse aumento da temperatura aumentará o limite de solubilidade do açúcar na água
e, consequentemente, uma quantidade maior de açúcar pode ser dissolvida na água. Em decorrência
dessa perturbação do equilíbrio, o sistema buscará um novo estado de equilíbrio que será alcançado
quando parte do açúcar sólido do fundo se dissolver na fase água + açúcar, até que o novo limite de
solubilidade, nessa nova temperatura, seja alcançado.
Esse exemplo ilustra bem o princípio do equilíbrio de fases para sistemas líquido-sólido. Já em sis-
temas metalúrgicos e de outros materiais, o estado de equilíbrio do sistema é também um reflexo das
microestruturas envolvidas, ou seja, dos arranjos espaciais dos átomos e quantidades relativas das fases.
O equilíbrio de fases para sistemas sólidos é dito metaestável, pois, muitas vezes, o equilíbrio propria-
mente dito nunca é alcançado. Contudo, esse equilíbrio metaestável pode persistir por um período de
tempo longo o suficiente para que as alterações do sistema sejam praticamente imperceptíveis durante
a vida útil da peça ou componente. Além disso, em muitos casos, as estruturas metaestáveis são mais
importantes que estruturas em equilíbrio, como é o caso de alguns tipos de aço e ligas de alumínio
nos quais suas resistências dependem do desenvolvimento de estruturas metaestáveis em tratamentos
térmicos cuidadosamente projetados.
Portanto, além do conhecimento dos estados de equilíbrio e das estruturas, é importante sabermos
também da velocidade (taxa) com a qual essas estruturas são estabelecidas e os fatores que influenciam
essa velocidade (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

162 Diagrama de Fases


Diagrama de Fases de um Componente

Veremos, nesta unidade, os dia-


gramas de fases, que são repre- 1.000

sentações gráficas (curvas) que 100
relacionam variáveis de estado Líquido
10 Sólido B
(temperatura, pressão, compo-

Pressão (atm)
(Água) 
(Gelo)
2 A 3
sições etc.) e as microestruturas 1
C D
de um sistema por meio da re-
0,1
gra de fases de Gibbs (SHAC-
O Gás
KELFORD, 2013). 0,01
 (Vapor d’água)
O diagrama de fases é uma 0,0001
-20 0 20 40 60 80 100 120
ferramenta extremamente útil
quando se trabalha com o con- Temperatura (ºC)
trole de estruturas de um sis- Figura 1 - Diagrama de fases pressão-temperatura para a água pura
tema para a produção de um Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
material. Como vimos anterior-
mente, o estado de equilíbrio de um sistema é definido para uma combinação de temperatura, pressão e
composição; dessa forma, os diagramas de fases são mapas construídos a partir de várias combinações
desses parâmetros uns com os outros na forma de diagramas. Neste tópico, iniciaremos os estudos dos
diagramas de fases, começando pelo diagrama de fases de um componente.

Na Figura 1, podemos observar o diagrama de pura à pressão de 1 atm e à temperatura de 20 °C,


fases da água pura. Esse tipo de diagrama é o mais a partir do ponto referente a essas coordenadas no
simples, pois envolve apenas um componente e é diagrama (ponto A na Figura 1) saberemos que esse
chamado de diagrama de fases unário. Em um sistema possui apenas a fase líquida (água).
diagrama de fases unário, a composição é cons- Além disso, para qualquer ponto sob as curvas
tante (só existe um componente, então esse com- do diagrama, coexistem as duas fases separadas
ponente representa 100% do sistema), as variáveis por essa curva. No sistema representado pelo
de equilíbrio são apenas a temperatura e a pressão, ponto B (Figura 1) a 10 atm e 0 °C, por exemplo,
por essa razão, podemos também chamá-lo de coexistem em equilíbrio as fases sólida (gelo) e
diagrama pressão-temperatura. líquida (água).
No diagrama de fases da água pura (Figura Quando cruzamos uma fronteira (uma curva do
1), vemos três regiões definidas: a região de água diagrama), seja por uma variação na temperatura,
sólida, a região de água líquida e a região de água pressão ou uma combinação de ambas, uma fase
gasosa, delimitadas pelas curvas do diagrama. se transforma em outra. Por exemplo, caso o nosso
Para cada par de variáveis pressão-temperatu- sistema esteja a -20 °C e 1 atm (ponto C na Figura
ra, podemos marcar um ponto no diagrama, e a 1), teremos água na fase sólida, se aquecermos esse
posição desse ponto define a(s) fase(s) presente(s) sistema até 110 °C, mantendo a sua pressão cons-
nessas condições de pressão e temperatura. Assim tante de 1 atm. Primeiramente, vamos verificar o au-
sendo, se tivermos um sistema constituído por água mento da temperatura até pouco antes de 0 °C sem

UNIDADE 6 163
É importante lembrarmos que todos os dia- Os sistemas isomorfos são caracterizados de-
gramas binários estão relacionados a sistemas vido ao fato da completa solubilidade dos seus
com apenas dois componentes, e o eixo das ab- componentes entre si (solubilidade ilimitada) nos
cissas (eixo horizontal, ou eixo x) sempre estará estados líquido e sólido. Esse comportamento é
relacionado a um dos componentes. Na Figura 2, resultado desses componentes terem a mesma
por exemplo, o sistema é composto por cobre e estrutura cristalina, possuírem raio atômico e ele-
níquel, entretanto, o eixo horizontal diz respeito à tronegatividade praticamente iguais e valências
concentração de níquel (de 0%p Ni até 100%p Ni) semelhantes.
no sistema. Uma vez que os sistemas binários são No diagrama de cobre-níquel (Figura 2), po-
sempre compostos por apenas dois componentes, demos ver claramente três regiões distintas: a re-
a soma das concentrações dos dois componentes gião superior, que é a região de líquido (L); a re-
tem, obrigatoriamente, que ser 100%, então, um gião entre as curvas, que é uma região bifásica
sistema cobre-níquel com uma concentração de (duas fases) de coexistência da fase sólida alfa e
40%p Ni, necessariamente, terá uma concentração da fase líquida ( a +L); e a região inferior, que é a
de 60%p Cu, cuja soma dá 100%. região da fase sólida alfa ( a ).

Composição %p Ni

0 20 40 60 80 100
1600

2800
1500
Líquido 1453 ºC

2600
1400
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)

Linha Liquidus Linha Solidus 2400


1300 α+

1200 α 2200


1100 2000
1085 ºC

1000
0 20 40 60 80 100

(Cu) Composição %p Ni (Ni)

Figura 2 - Diagrama de fases binário para o sistema isomorfo cobre-níquel à pressão de 1 atm
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246).

166 Diagrama de Fases


A fase líquida (L) é composta por uma solução líquida homogênea de cobre e níquel, enquanto a fase
sólida alfa ( a ) é composta por uma solução sólida substitucional, que contém átomos de cobre e ní-
quel em sua estrutura cristalina do tipo CFC (cúbica de face centrada). É comum a utilização de letras
gregas ( a , b , g etc.) para a designação das fases sólidas em ligas metálicas.
A curva que separa a região da fase L da região da fase a +L é chamada de linha liquidus (curva
superior), e a curva que separa a região da fase a +L da região da fase a é chamada de linha solidus
(curva inferior).
As linhas liquidus e solidus se interceptam nas duas extremidades da composição, ou seja, quando o
sistema é composto por cobre puro (0%p Ni) e quando o sistema é composto por níquel puro (100%p
Ni). As temperaturas desses interceptos são também as temperaturas de fusão do cobre puro (1085 °C)
e do níquel puro (1453 °C).
Quando o sistema for composto por uma mistura de cobre e níquel, a fusão dessa liga ocorrerá no
intervalo vertical de temperatura entre as linhas liquidus e solidus para a composição da liga. Portanto,
para uma liga no estado sólido contendo 40%p/p Ni e 60%p/p Cu, a fusão tem início em uma tem-
peratura de, aproximadamente, 1230 °C, e se completa em uma temperatura de, aproximadamente,
1270 °C. Conforme a temperatura aumenta, de 1230 °C até 1270 °C, há uma diminuição gradual da
quantidade da fase sólida a e, por consequência, um aumento gradual na quantidade da fase líquida
L, até que toda fase a seja transformada na fase L a 1270 °C.

Interpretação do Diagrama de Fases

Em um sistema binário em equilíbrio, ou seja, a uma temperatura e composição global definidas, é


possível extrair, do diagrama de fases desse sistema, as seguintes informações:
• As fases presentes no sistema.
• As composições de cada uma dessas fases.
• As porcentagens de cada fase no sistema.

Fases presentes no sistema

Para determinar quais fases estão presentes, devemos, primeiramente, localizar no diagrama de fases o
ponto de estado referente à temperatura e composição do sistema estudado e observar em qual região
encontra-se esse ponto. Em sistemas formados por cobre e níquel (diagrama da Figura 3(a)), pontos
acima da linha liquidus representam sistemas formados somente pela fase líquida (L), da mesma forma
que pontos abaixo da linha solidus representam sistemas formados somente pela a fase sólida alfa ( a ).
Por exemplo, para um sistema de composição 60%p Ni - 40%p Cu, a 1100 °C, representado pelo
ponto A no diagrama de fases (Figura 3(a)), vemos que o ponto se encontra abaixo da linha solidus
no diagrama; portanto, esse sistema apresenta apenas uma fase, a fase sólida a .
Para pontos localizados entre as linhas liquidus e solidus, coexistirão, em equilíbrio no sistema,
ambas as fases que circundam a região a +L, ou seja, a fase sólida alfa e a fase líquida.

UNIDADE 6 167
Quantidades relativas de cada fase

Quando o sistema estudado cai nas regiões de • Passo 3: dividir a linha de amarração em
uma única fase (monofásica), as quantidades re- duas exatamente no ponto que representa
lativas são sempre 100% da fase, assim, se o pon- o sistema. A parte à direita chamará S e a
to que representa o sistema está localizado na parte à esquerda chamará R, como pode-
região de líquido (L), esse sistema possui uma mos ver na Figura 3(b), e os valores de S e
quantidade relativa de 100% da fase L. Da mesma R são calculados:
forma, se o ponto que representa o sistema está
localizado na região sólida a , esse sistema possui
S = CS - C0 R = C0 - CR
S + R = CS - C R
uma quantidade relativa de 100% da fase a .
Contudo, quando o ponto estiver na região • Passo 4: a quantidade relativa (em fração) da
entre as curvas (região a + L), vimos que existi- fase à esquerda, Wesquerda, (para o ponto B, a
rão ambas as fases, a e L, em equilíbrio. Nesse fase líquida L) é calculada dividindo o com-
caso, é importante determinarmos as quantidades primento S pelo comprimento total da linha
relativas de cada uma dessas fases em equilíbrio. de amarração, ou seja, S+R. E a quantidade
Esse cálculo pode ser realizado a partir do dia- relativa (em fração) da fase à direita, Wdireita
grama de fases dos componentes. Para os pontos (para o ponto B, a fase a ) é calculada divi-
na região bifásica, devemos utilizar a regra da ala- dindo o comprimento R pelo comprimento
vanca para determinar as quantidades relativas de total da linha de amarração S+R.
cada fase. Supondo que o sistema em estudo seja
S C -C
S + R CS - C R
o representado pelo ponto B (Figura 3(b)), cuja Wesquerda = = S 0
temperatura é 1250 °C, e a composição global do
sistema (ou simplesmente composição do siste- R C -C
S + R CS - C R
Wdireita = = 0 R
ma) é de 35%p Ni, os passos para a utilização da
regra da alavanca são:
• Passo 1: marcar no diagrama o ponto que • Passo 5: as quantidades relativas em por-
representa o sistema analisado. No caso centagem de cada fase são obtidas pela
do ponto B, as coordenadas são 1250 °C multiplicação das frações das fases por 100.

fase à esquerda= Wesquerda × 100 = × 100


e 35%p Ni. CS - C0
• Passo 2: criar uma linha horizontal, cha- % da
CS - C R
mada linha de amarração, que liga o ponto

fase à direita= Wdireita × 100 = × 100


marcado no passo anterior às curvas mais C0 - CR
% da
próximas a ele. Essa linha de amarração é CS - C R
uma isoterma (linha de temperatura cons-
tante) cuja temperatura é a temperatura do As linhas de amarração não são utilizadas em re-
sistema. Nesse caso, a linha de amarração giões monofásicas, pois, não existem duas fases
liga o ponto às linhas liquidus e solidus. para serem unidas.

168 Diagrama de Fases


Composição %p Ni

0 20 40 60 80 100
1600

2800
1500
Líquido 1453 oC

2600
1400
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)
Linha Liquidus Linha Solidus 2400
1300 α+

1200 2200
α


1100 2000
1085 oC

1000
0 20 40 60 80 100

(Cu) Composição %p Ni (Ni)


(a)

Líquido
1300
Temperatura (ºC)

Linha de
amarração α + Líquido


α + Líquido α
1200
 

20 30 40 50
  
Composição %p Ni
(b)
Figura 3 - Diagrama com pontos representando sistemas cobre-níquel à pressão
de 1 atm
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246).

UNIDADE 6 169
Os comprimentos R e S utilizados na regra da alavanca (passo 3) podem, também, ser determinados
medindo-se as linhas R e S no diagrama de fases com uma régua. E esses valores obtidos podem ser
utilizados para calcular as frações Wesquerda e Wdireita do sistema.

Na Figura 3(b), temos o exemplo de uma liga de composição global 35%p Ni- 65%p Cu a 1250 °C
(Passo 1), cujo ponto que representa essas coordenadas é o ponto B, que se encontra na região entre as
linhas liquidus e solidus (região bifásica a +L); portanto, esse sistema possui duas fases, a fase líquida
L e a fase a , em equilíbrio.
Para a determinação das quantidades relativas de cada fase para esse exemplo, devemos utilizar a
regra da alavanca. Então (Passo 2), traçamos a linha de amarração ligando o ponto B às linhas liquidus
e solidus, na temperatura do sistema (1250 °C).
Na sequência (Passo 3), dividimos a linha de amarração em duas partes, R e S, separadas pelo ponto
B. Os valores de R, S e R+S são:

S = CS - C0 = 43 - 35 R = C0 - CR  35  31
S + R = CS - CR  43  31

Então,
S=8 R=4
S + R = 12

(Passo 4) Para o sistema representado pelo ponto B, a fase à esquerda é a fase líquida L, e a fase à direita
é a fase sólida a, então:
S 8
Wesquerda = WL = 
S  R 12

R 4
Wdireita = Wa = 
S  R 12

Portanto, as frações de cada fase são:

S
WL =  0, 6667
SR

R
Wa =  0, 3333
SR

170 Diagrama de Fases


(Passo 5) Em porcentagem:

% L  WL  100  0, 6667  100  66, 67%

%a  Wa  100  0, 3333  100  33, 33%

Esse resultado indica que o sistema representado pelo ponto B possui duas fases, e 66,67% desse sis-
tema está na fase líquida L e os 33,33% estão na fase sólida a .

Composição das fases

Além das quantidades relativas das fases, é importante determinarmos a composição dessas fases,
ou seja, a concentração ou porcentagem de cada componente dentro de cada fase. Para que isso seja
possível, primeiramente, devemos encontrar o ponto temperatura-composição, no diagrama de fases,
que representa o sistema analisado.
Caso esse ponto esteja localizado em uma região monofásica, a composição ou porcentagem dos
componentes na fase são determinados pela concentração global C0, para o sistema representado pelo
ponto A na Figura 3(a), por exemplo, a C0 é lida diretamente no ponto A e vale 60%p Ni. Portanto, a
composição da fase sólida a para o ponto A é a própria composição global do sistema, que é 60%p Ni.
E como só temos dois componentes constituindo esse sistema (níquel e cobre), o restante será cobre,
ou seja, 40%p Cu.
Já para um ponto localizado em uma região bifásica, a determinação da composição das fases é
feita utilizando os interceptos da linha de amarração criada no Passo 2 descrito anteriormente. O
intercepto da linha de amarração com a curva à direita fornece a concentração CS e o intercepto da
linha de amarração com a curva à esquerda fornece a concentração CR. Essas concentrações CS e CR
são, respectivamente, as composições das fases à direita e à esquerda.
Para o sistema representado pelo ponto B, na Figura 3(b), CS=43%p Ni é a composição de níquel
na fase sólida a (à direita), e CR=31%p Ni é a composição de níquel na fase líquida L (à esquerda).
Então, para o ponto B, dizemos que a composição da fase a é 43%p Ni – 57%p Cu e a composição da
fase líquida L é 31%p Ni – 69%p Cu.

Sistemas Eutéticos Binários

O diagrama de fases eutético binário é outro tipo de diagrama de fases binário muito comum, cuja
característica principal é que os componentes do sistema possuem solubilidade limitada na fase sólida.
O sistema cobre-prata (Figura 4) representa bem o comportamento eutético.

UNIDADE 6 171
Esse diagrama é um pouco mais complexo, pois nele existem três regiões monofásicas e três regiões
bifásicas. As regiões monofásicas são as regiões das fases sólidas a e b e a região da fase líquida L. A
fase a é uma fase sólida rica em cobre de estrutura CFC, contendo prata como soluto. Já a fase b é rica
em prata, com estrutura CFC também, e cobre como soluto. Além disso, a fase a pode ser constituída
puramente de cobre (0%p Ag) e a fase b puramente de prata (0%p Cu). A última região monofásica
é a região da fase líquida L, na qual o sistema prata-cobre encontra-se fundido.
As três regiões de coexistência de duas fases em equilíbrio (bifásicas) são as regiões a +L (fase a
e fase líquida), b +L (fase b e fase líquida) e a + b (fase a e fase b ). As quantidades relativas das
fases e as composições dessas fases podem ser determinadas utilizando os mesmos procedimentos
descritos para os diagramas de fases isomorfos.
No diagrama eutético do cobre-prata (Figura 4), a curva AB que separa a fase a da fase a +L é
chamada de linha solidus, assim como a linha FG que separa a fase b da fase b +L. As linhas BC e
GH que separam, respectivamente, as fases a da fase a + b e a fase b da fase a + b são denomina-
das linhas solvus. Por fim, temos as linhas liquidus, AE e EF, que separam a fase líquida L da fase a
+L e a fase líquida da fase b +L. As linhas liquidus se encontram no ponto E, conhecido como ponto
invariante e determinado pelas coordenadas de temperatura TE e composição CE, que para o sistema
cobre-prata valem, respectivamente, 779 °C e 71,9%p/p Ag.

1200 2200

 2000
Liquidus Líquido

1000
1800
Solidus 

α+ 1600
α 779 ºC () β+
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)
 
800

8,0 71,9 91,2 β 1400
(α) () (β)
1200
600
Solvus 1000

α+β 800
400

600


200 400
0 20 40 60 80 100
(Cu) Composição (%p Ag) (Ag)

Figura 4 - Diagrama de fases binário cobre-prata à pressão de 1atm


Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 254).

172 Diagrama de Fases


No ponto E ocorre uma importante reação quando uma liga com composição CE sofre uma alteração
na sua temperatura, passando por TE. Essa reação é escrita como
resfriamento

L(CE )  
 α (Cα E )  β (Cβ E )
aquecimento

na qual, C aE e C b E são as concentrações respectivas das a e b na temperatura TE.

Em uma reação eutética, um sistema de composição CE, na fase líquida, transforma-se em um


sistema com duas fases sólidas α e β ; conforme é resfriado abaixo da temperatura eutética TE, o
processo pode ser revertido pelo aquecimento do sistema.
A reação eutética, no sentido do resfriamento, ocorre à temperatura constante TE até que toda a
fase líquida se solidifique (assim como em componentes puros), e o sólido formado é sempre com-
posto por duas fases.
Fonte: adaptado de Shackelford (2013).

A reação eutética para o sistema cobre-prata (Figura 4) segue a reação:


resfriamento

L(71, 9% p Ag )  
 α (8, 0% p Ag )  β(91, 2% p Ag )
aquecimento

Outra característica interessante dos sistemas eutéticos é que, ao longo de toda a curva BEG (chamada
de isoterma eutética), as três fases ( a , b e L) coexistirão em equilíbrio no sistema (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2013).
Os sistemas eutéticos existem, também, nos materiais cerâmicos e são muito importantes nesses
materiais; a sílica (SiO2) e a alumina (Al2O3), por exemplo, constituem um sistema com uma reação
eutética à temperatura de 1587 °C. A partir do diagrama Al2O3- SiO2, é possível a fabricação de produtos
como os vidros VycorTM e Pyrex®.

Regra de Fases de Gibbs

Os diagramas de fases e os princípios que regem o equilíbrio entre as fases é ditado pelas leis da ter-
modinâmica. Para o nosso estudo, é importante conhecer uma dessas leis, em especial, a regra de fases
de Gibbs, que dita o número de fases que podem coexistir em um sistema em equilíbrio. A regra de
fases de Gibbs é matematicamente expressa pela equação
N C  F  P

UNIDADE 6 173
em que P representa o número de fases presentes, Portanto, para que esse sistema esteja completa-
F é o número de graus de liberdade (número de mente definido, é necessário estabelecermos, além
variáveis controladas externamente, por exemplo da composição global, a sua temperatura.
temperatura, pressão e composição), C é a quanti- Para as regiões bifásicas do diagrama binário
dade de componentes que compõem o sistema, e N cobre-prata (Figura 4), P vale 2, pois em cada uma
é o número de variáveis que não são relacionadas delas coexistem duas fases em equilíbrio, logo
à composição, por exemplo, temperatura e pressão.
N C  F  P
2 1  F  2
F 1
Tenha sua dose extra de
conhecimento assistindo ao Portanto, nesse caso, o sistema (a liga) é com-
vídeo. Para acessar, use seu pletamente especificado utilizando apenas um
leitor de QR Code. parâmetro, que pode ser a temperatura ou a com-
posição de uma das fases. Por exemplo, para uma
liga a 900 °C na região bifásica a +L. Sabendo a
Vamos analisar o diagrama de fases binário mos- temperatura (900 °C, por exemplo), as compo-
trado na Figura 4, nele sabemos que a pressão é sições estarão estabelecidas pela linha de amar-
constante e vale 1 atm, portanto, a única variável, ração nessa temperatura e, aplicando os passos
independente da composição, é a temperatura, ensinados anteriormente, poderemos determinar
nesse caso N = 1. O número de componentes no que as composições da fase a são, aproximada-
diagrama binário é dois; no nosso caso, a prata e mente, 8%p Ag - 92%p Cu, e da fase L são 42%p
o cobre, então C = 2. Ag - 58%p Cu.
Para as regiões monofásicas do diagrama bi- Vamos imaginar, agora, um sistema trifásico,
nário cobre-prata (Figura 4), P vale 1, pois temos contendo as fases L, a e b , isso só ocorre sobre
apenas uma fase, logo a linha BEG do diagrama (isoterma eutética) da
N C  F  P Figura 4. Na isoterma eutética, a temperatura já
2 1  F 1 está definida e, no nosso exemplo, vale 779 °C
(além da pressão constante do diagrama, 1 atm);
F 2
portanto o valor de N é igual a 1, pois a única
Isso significa dizer que, nessas condições, o sistema variável do diagrama que não depende da compo-
(a liga) é completamente especificado utilizando sição continua sendo a temperatura. Já sabemos
dois parâmetros: a temperatura e a composição que a quantidade de fases presentes é três, então
global. Imagine uma liga na fase L, com composi- o valor de P é 3 e a quantidade de componentes
ção de 60%p Ag, somente com essas informações o continua sendo C = 2 (cobre e prata). Com essas
sistema ainda não estará completamente definido, informações, temos:
pois essa liga poderá estar, por exemplo, a 1000 °C,
N C  F  P
1100 °C etc. e ainda estar na região de líquido (L).
2 1  F  3
F 0

174 Diagrama de Fases


Esse resultado mostra que não existem graus de liberdade para uma liga trifásica no diagrama de fases
binário; em outras palavras, significa dizer que, para qualquer sistema localizado sobre a isoterma eutética,
as composições das fases a , b e L, e a temperatura já estão todas fixadas e, no caso do sistema cobre-prata
(Figura 4), valem, respectivamente, CaE = 8%p Ag, CaE = 91,2%p Ag, CLE = 71,9%p Ag e TE = 779 °C.

Endurecimento por Solução Sólida

Em materiais metálicos, existe um comportamento importante, chamado de endurecimento por solução


sólida. Esse comportamento é caracterizado pelo aumento da resistência mecânica como consequência
do aumento da restrição à movimentação de discordâncias do material. Essa é a razão pela qual o latão,
liga de cobre e zinco, é mais resistente do que o cobre puro. Outro exemplo de aplicação desse compor-
tamento é feito pelos joalheiros, que não
fabricam joias com ouro e prata puros, pois
276
são metais muito macios e se deformam

facilmente, contudo a adição de cobre ao
ouro ou à prata eleva a resistência mecâ-
nica dessas ligas e permite a produção de
joias de alta durabilidade. 207

A intensidade do endurecimento por


Limite de escoamento (MPa)


solução sólida depende de dois fatores: o 
primeiro é a diferença de tamanho dos
átomos do metal de base (metal original 138 
da rede) e o metal adicionado (soluto); 

nesse caso, quanto maior a diferença de 

tamanho, maior o efeito de endurecimen-


to, pois, grandes diferenças criam uma 69
distorção elástica na estrutura cristalina
do material e dificulta o deslizamento das
discordâncias (Figura 5).
O segundo fator é a quantidade do
0
elemento de liga, quanto maior for a 0 10 20 30
quantidade desse elemento, maior será Porcentagem do elemento de liga
o endurecimento. Na Figura 5, podemos
Figura 5 - Efeito de endurecimento por solução sólida no cobre para
observar que o cobre com 20%p Zn é mais vários elementos de liga
resistente do que o cobre com 10%p Zn. Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015).

UNIDADE 6 175
Quando a adição de elementos de liga, de maior ou de menor tamanho, ultrapassa o limite de solu-
bilidade, ocorre o endurecimento do material, chamado de endurecimento por dispersão. Nesse
mecanismo, a interface entre a fase de maior quantidade, chamada de matriz, e a fase de reforço,
chamada de precipitada ou fase dispersa, atua como uma barreira que dificulta a movimentação
das discordâncias e, consequentemente, aumenta a resistência mecânica da liga. Na maioria das
ligas, esse endurecimento é alcançado por transformações de fase, como as reações eutéticas e as
reações eutetoides.
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).

Os efeitos do endurecimento por solução sólida nas propriedades mecânicas dos metais são descritos
a seguir.
O limite de escoamento, limite de resistência à tração e à dureza das ligas metálicas são maiores
do que dos metais puros. Esse é um dos motivos pelos quais é frequente o uso de ligas metálicas em vez
do metal puro. Na fabricação de latas de alumínio para bebidas, por exemplo, são utilizadas pequenas
quantidades de magnésio (Mg) para aumentar a resistência dessas latas.
A ductilidade é, quase sempre, reduzida pelo endurecimento por solução sólida. Contudo, exis-
tem exceções, como é o caso das ligas de cobre-zinco, que têm sua resistência mecânica e ductilidade
aumentadas pelo endurecimento por solução sólida.
A condutividade elétrica (assunto que será tratado na Unidade 7) dos metais puros é muito maior
do que a da liga. Esse comportamento é explicado pelo fato dos elétrons serem mais espalhados pelos
átomos de elementos de liga do que pelos átomos da matriz (átomos originais da rede).
Por último, a resistência à fluência, de ligas é maior do que em metais puros, ou seja, ela aumenta
devido ao endurecimento por solução sólida. Este é um dos motivos da seleção de materiais utilizados
em altas temperaturas: levar em consideração a possibilidade de endurecimento por solução sólida.
Nos materiais cerâmicos, a formação de uma solução sólida não tem um efeito significativo no
aumento da resistência, uma vez que a resistência mecânica nesses materiais se deve, principalmente,
à distribuição de defeitos na estrutura do material e não pela propagação e interação de linhas de
discordâncias (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

176 Diagrama de Fases


essa temperatura é alcançada, o ferro a sofre uma fases ricas em carbono, vamos nos ater à parte do
transformação polimórfica da estrutura cristalina diagrama mostrada na Figura 6 (diagrama fer-
CCC para uma estrutura cristalina CFC (cúbica ro-carbeto de ferro), uma vez que todos os aços
de face centrada), chamada de austenita ou ferro e ferros fundidos possuem teores de carbono
g . A estrutura do ferro g persiste até a tempera- inferiores a 6,7%p C.
tura de 1394 °C, a partir da qual o ferro g sofre O carbono é uma impureza intersticial no ferro
outra transformação em sua estrutura e volta a e forma soluções sólidas com as fases a , g e d .
ter estrutura cristalina CCC chamada de ferrita d Observamos que as fases a e d existem apenas
que persiste até a temperatura de 1538 °C, quando, em baixas concentrações de carbono (máximo de
finalmente, sofre a fusão (torna-se líquido). 0,022%p C para o ferro a a 727 °C e 0,025%p C
No diagrama da Figura 6, vemos que a con- para a ferrita d à 1493 °C). Isso se deve ao fato de
centração de carbono (eixo horizontal) estende- que as posições intersticiais na estrutura CCC são
-se até um máximo de concentração de 6,7%p C, pequenas e dificultam a acomodação dos átomos
na qual forma-se um composto intermediário de carbono. Embora as concentrações de carbo-
chamado carbeto de ferro ou cementita (Fe3C), no no ferro a e na ferrita d sejam baixas, elas
representado por uma linha vertical no diagra- influenciam fortemente nas propriedades mecâ-
ma de fases (eixo vertical à direita do diagrama). nicas desses materiais, a fase a , por exemplo, é
Apesar do diagrama completo do ferro-carbono relativamente macia e pode ser transformada em
estender-se além da composição de 6,7%p C, até magnética em temperaturas inferiores a 768 °C.
1600
1538 ºC
1493 ºC

δ 
1400
2500
1394 ºC +

1200
1147 ºC
Temperatura (ºC)

2,14 4,30 Temperatura (ºF)


, Austenita 2000

1000
912 ºC
 + Fe3C
α 1500
800 +
 727 ºC
0,76
0.022
600 α, Ferrita α +,Fe3c
Cementita (Fe3C) 1000

400
0 1 2 3 4 5 6 6,70
(Fe) Composição(%p/pC)

Figura 6 - Diagrama ferro-carbeto de ferro


Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 272).

178 Diagrama de Fases


Na austenita (ferro d ), a concentração máxima de carbono é de 2,14%p C a uma temperatura de 1147 °C,
praticamente 100 vezes maior do que o ferro a , devido aos interstícios maiores da estrutura CFC.
Finalmente, a cementita (Fe3C) é um material muito duro e frágil e sua presença aumenta a resis-
tência em alguns tipos de aços. Ela é formada quando o limite de solubilidade do carbono no ferro a
é excedido abaixo de 727 °C ou quando o limite de solubilidade do carbono no ferro g é excedido
entre as temperaturas de 727 °C e 1147 °C. Os nomes, símbolos, estrutura cristalina, porcentagem
máxima de carbono e temperatura na solubilidade máxima de cada fase estão dispostos na Tabela 1.
Tabela 1 - Informações sobre as fases do sistema ferro-carbeto de ferro

Símbolo Estrutura Porcentagem Temperatura na solubilidade


Nome da fase
(fase) Cristalina máxima (%p C) máxima (°C)

Ferrita ou
a CCC 0,022 727
Ferro alfa

g Austenita ou
CFC 2,14 1147
Ferro gama

Ferro delta ou
d CCC 0,10 1493
Ferrita delta

Cementita ou
Fe3C Ortorrômbica 6,70 -
Carbeto de ferro
Fonte: o autor.

No diagrama ferro-carbeto de ferro, vemos também a ocorrência de uma reação eutética (assim como
nos sistemas eutéticos) na concentração 4,3%p C a 1147 °C, na qual há a transformação da fase líqui-
da L nas fases sólidas ferro g e cementita, representada a seguir.
resfriamento

L  g  Fe3C

aquecimento

Existe uma reação eutetoide nesse diagrama, de extrema importância para os tratamentos térmicos
dos aços, ela ocorre em 0,76%p C, e a 727 °C a transformação pode ser representada por

resfriamento

γ (0, 76%p C )  
 α (0, 022%p C)  Fe3C (6, 7%p C )
aquecimento

na qual vemos que o resfriamento do ferro g conduz a formação do ferro a e da cementita (Fe3C).
Quanto à classificação das ligas ferrosas, temos três tipos:
• Ferro: possui concentrações de carbono inferiores a 0,008%p.
• Aço: possui concentrações de carbono entre 0,008%p e 2,14%p.
• Ferro fundido: possui concentrações de carbono entre 2,14%p e 6,7%p.

Embora essas sejam as classificações das ligas ferrosas, os aços, na prática, raramente ultrapassam con-
centrações 1,0%p C, e os ferros fundidos comerciais geralmente possuem concentrações de carbono
inferiores a 4,5%p.

UNIDADE 6 179
Microestruturas em Ligas de Ferro-Carbono

Como foi dito anteriormente, a reação eutetoide nas ligas de ferro-carbono, que ocorre em 0,76%p C a
727 °C, é muito importante, pois representa as transformações de fases que acontecem nos tratamentos
térmicos de aços. Por essa razão, vamos tratar das reações resultantes do resfriamento lento dos aços,
considerando que o equilíbrio é mantido constantemente durante todo o processo.
Apesar da simplicidade da reação eutetoide, as mudanças de fases que ocorrem durante esse processo
são relativamente complexas. Tomemos como exemplo uma liga de composição eutetoide 0,76%p C a
uma temperatura inicial de 850 °C; nessas condições, existe somente a fase austenita em equilíbrio no
sistema. Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se a sua composição constante. Durante o
resfriamento até a temperatura de 727 °C, não há mudança de fase na liga, ou seja, a fase austenita se
mantém até o sistema alcançar a temperatura eutética de 727 °C. Nessa temperatura, então, o sistema
sofre a transformação de acordo com a reação eutetoide.
resfriamento

γ (0, 76%p C )  
 α (0, 022%p C)  Fe3C (6, 7%p C )
aquecimento

A transformação da austenita ( g ), pelo resfriamento lento, dá origem a uma microestrutura formada


por camadas alternadas das duas fases presentes (a fase a e a fase Fe3C) abaixo da isoterma eutética
de 727 °C, e essa microestrutura formada recebe o nome de perlita.
A perlita apresenta propriedades mecânicas intermediárias entre o ferro a e a cementita (Fe3C), ou
seja, é um intermediário entre a maciez e a ductilidade do ferro a e a dureza e fragilidade da cementita.

Ligas hipoeutetoides

No resfriamento lento de ligas de ferro-carbono fora da composição eutetoide (em concentrações


diferentes de 0,76%p C), temos duas situações: as ligas hipoeutetoides, as quais possuem a composi-
ção abaixo da composição eutetoide (menores que 0,76%p C), e as ligas hipereutetoides, nas quais a
concentração de carbono está acima da composição eutetoide (maiores que 0,76%p C).
Vamos considerar, primeiramente, uma liga hipoeutetoide (concentração de carbono entre 0,022%p
e 0,76%p) a uma temperatura de 1000 °C e com uma composição de 0,38%p C, nessas condições,
temos somente a fase austenita.
Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se sua composição global constante (0,38%p C),
o que é representado no diagrama por uma reta vertical com sentido para baixo. Abaixo de 800 °C, essa
reta cruza a curva do diagrama e, nesse momento, a liga entra numa região bifásica ( a + g ), onde parte
da austenita começa a se transformar em ferro a . A determinação das quantidades e das composições
das fases a e g para qualquer temperatura dentro da região bifásica a + g pode ser feita utilizando
a metodologia estudada no tópico quantidades relativas de cada fase.
Se continuarmos o resfriamento dessa liga dentro da região bifásica a + g , ocorrerá uma diminui-
ção da quantidade da fase g e, por consequência, um aumento da quantidade da fase a ; além disso, a

180 Diagrama de Fases


composição de ambas as fases sofre um aumento ce constante em 6,7%p durante todo o processo.
na concentração de carbono, sutil para a fase a e Quando a temperatura da liga cruza a isoterma
mais intenso na fase g ; entretanto a composição eutética, toda a fase g restante transforma-se em
global permanece constante. perlita. Portanto, essa liga abaixo da temperatura
Se o resfriamento prosseguir até que seja cru- eutética é composta de perlita e cementita proeu-
zada a isoterma eutetoide (a 727 °C), ocorrerá a tetoide.
transformação de toda a fase g em perlita, e nesse As transformações envolvendo ferro e carbono
momento teremos uma fase a originada antes da são muitas, contudo o intuito do nosso curso é
temperatura eutetoide, chamada ferrita proeute- fornecer apenas uma introdução a esse assunto,
toide, e outra fase a formada junto com a perlita por essa razão, vamos encerrar os nossos estudos
na temperatura eutetoide, chamada ferrita eute- dos diagramas de fases por aqui.
toide. Portanto, em todas as ligas hipoeutetoides Caro(a) aluno(a), nesta unidade, entramos na
de ferro-carbono, resfriadas lentamente abaixo da discussão sobre diagramas de fases, começando
temperatura eutetoide, estarão presentes a perlita com uma conceituação básica sobre os termos
e a ferrita proeutetoide. importantes envolvidos neles. Em seguida, foi
apresentado o diagrama de fases unário da água
pura, no qual pudemos observar as três fases da
Ligas hipereutetoides água, sólida, líquida e gasosa, as interfaces entre
elas e também o seu ponto triplo.
De maneira análoga, existem as transformações Aprofundamos os estudos com os diagramas
das ligas hipereutetoides, cuja concentração de de fases binários, começando pelo estudo dos
carbono do sistema está entre 0,76%p até 2,14%p, sistemas isomorfos, onde identificamos as fases
que acontecem quando essas ligas são resfriadas presentes, líquida e sólida alfa, as linhas solidus
lentamente, a partir da região monofásica da fase e liquidus, e também aprendemos a calcular as
g (austenita) até abaixo da temperatura eutetoide. quantidades presentes de cada fase e a composi-
Vamos considerar uma liga hipereutetoide a ção dessas fases em um sistema.
1000 °C, cuja composição global é 1,5%p C. Nes- Vimos o diagrama de fases binário para siste-
sas condições, a liga apresenta somente a fase g ; mas eutéticos, no qual observamos a existência de
ao resfriarmos essa liga, lentamente, até ela alcan- três regiões monofásicas e três regiões bifásicas.
çar a região bifásica g +Fe3C observaremos que Além disso, vimos que existe uma isoterma eu-
parte da fase g se transformará em cementita tética nesse diagrama, onde ocorre uma reação
(Fe3C), denominada cementita proeutetoide, uma importante para esses sistemas.
vez que é formada antes da temperatura eutetoide. Finalizamos a unidade com uma abordagem
Conforme o resfriamento da liga prossegue introdutória do diagrama de fases do ferro-car-
na região bifásica, é observada uma diminuição beto de ferro, na qual estudamos algumas mi-
gradual na quantidade da fase g e, em contra- croestruturas e transformações importantes desse
partida, um aumento na quantidade da fase Fe3C. sistema.
Além disso, a concentração de carbono na fase Espero que você tenha entendido o assunto e
g diminui durante esse resfriamento, porém a aproveitado esse tempo de estudo. Nos vemos na
concentração de carbono na cementita permane- próxima unidade, até breve.

UNIDADE 6 181
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

186
1. B.

A alternativa (a) está incorreta, pois na composição de 71,9% em peso de prata, o ponto eutetoide ocorre
a 779 °C e é caracterizado pela transformação em duas fases sólidas durante o resfriamento.

A alternativa (c) está incorreta, pois a linha BEG também pode ser considerada uma curva solidus e repre-
senta a temperatura mais baixa em que o líquido pode existir para quaisquer das concentrações.

A alternativa (d) também está incorreta, pois, na construção dos diagramas binários, as regiões monofásicas
estão sempre separadas umas das outras por regiões bifásicas.

E a alternativa (e) está incorreta, pois a curva HGF delimita a região da solução sólida rica em prata.

2. B.

A alternativa (a) está incorreta, pois um ponto localizado na região I corresponde a um sistema bifásico,
ferro-alfa + ferro-gama.

A alternativa (c) está incorreta, pois um ponto localizado na região II corresponde a um sistema bifásico
composto por Austenita (ou ferro-gama) + cementita.

A alternativa (d) está incorreta, pois a quantidade máxima de carbono na fase ferrita (0,022%) é inferior à
quantidade máxima de carbono na fase austenita (2,14%).

E a alternativa (e) está incorreta, pois, durante o aquecimento do ferro puro, da temperatura ambiente
até a temperatura de 1600 °C, o ferro sofrerá as seguintes transformações: ferro-alfa → ferro-gama e de
ferro-gama → ferro-delta.

187
3. A.

Como o primeiro sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva liquidus, a concentração
de Ni na fase L é 40%p (ponto amarelo) e na fase sólida é 54%p (ponto verde), ou seja, maior que 40%p.

1500.0
1450.0
Resfriamemto


1400.0
1350.0
temperatura (ºC)

1300.0 +α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
Primeiro
1050.0 sólido
formado
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni

Já o último sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva solidus, a concentração de Ni na
fase L é 26%p (ponto amarelo) e na fase sólida alfa será exatamente 40%p.

1500.0
1450.0
Resfriamemto


1400.0
1350.0
Temperatura (ºC)

1300.0
+α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
Último
1050.0 sólido
formado
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni

188
189
190
191
192

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