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TECNOLOGIA

DOS MATERIAIS

Fernando Cuenca Rojas


Ronei Stein
Diagramas de fase
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever equilíbrio, fase e graus de liberdade para um sistema de


materiais e a aplicação da regra de Gibbs para este mesmo sistema.
„„ Identificar um diagrama de fases de um sistema binário isomorfo e
desenhar ou esboçar um diagrama genérico, mostrando todas as
regiões de fases, bem como as informações relevantes.
„„ Aplicar o diagrama de fases de uma liga binária eutética e desenhar
um diagrama genérico, mostrando todas as regiões de fases e infor-
mações relevantes.

Introdução
Na área da engenharia, é fundamental conhecer os diagramas de fases,
uma vez que a área está relacionada com o projeto e o controle dos
procedimentos utilizados em tratamentos térmicos. Algumas das pro-
priedades dos materiais são funções da sua história térmica. A pressão
de vapor de um sólido, do mesmo modo que a pressão de vapor de um
líquido, é uma função de sua temperatura.
O aumento da temperatura de um equilíbrio sólido-vapor, de acordo
com o princípio de Le Châtelier, leva a um deslocamento na posição de
equilíbrio, que ocorre com a absorção de calor. A produção de vapor
pelo sólido é um processo endotérmico.
Portanto, quando a temperatura sobe, mais sólido se evapora e mais
vapor é produzido, até que o equilíbrio seja atingido novamente. Por
isso, a pressão de vapor de equilíbrio de um sólido sobe com o aumento
da temperatura até que o sólido seja fundido. Posteriores aumentos na
temperatura, além desse ponto, elevarão, então, a curva de equilíbrio
líquido-vapor, que termina na temperatura crítica da substância.
2 Diagramas de fase

Neste capítulo, você vai ver como descrever o equilíbrio, identificar


as distintas fases e analisar o grau de um diagrama de fases. Além disso,
conhecerá os diagramas de modo geral, em sistemas binários, e verá
como eles são aplicados em uma liga binária eutética.

Diagramas de fases: definições gerais


De acordo com Smith e Hashemi (2012) as substâncias puras, como a água,
podem ser encontradas em três estados: sólido, líquido ou gasoso, dependendo
das condições de temperatura e de pressão em que se encontra. Um exemplo
familiar de duas fases de uma substância pura, em equilíbrio, é o de um copo de
água com cubos de gelo. Nesse caso, a água sólida e a água líquida constituem
duas fases diferentes, que estão separadas por um limite ou fronteira de fase,
que é a superfície dos cubos de gelo. Durante a ebulição, a água líquida e o
vapor constituem duas fases em equilíbrio. Na Figura 1 é possível analisar a
representação gráfica das fases da água que existem em diferentes condições
de temperatura e pressão.

Figura 1. Diagrama aproximado de pressão: temperatura (PT) para a água.


Fonte: Smith e Hashemi, 2012.
Diagramas de fase 3

Substâncias puras são materiais que possuem composição química e proprieda-


des físicas e químicas constantes, já que não se modificam em pressão e temperatura
constantes. Estas podem se dividir em substâncias simples ou compostas.

Também podem ser traçados diagramas de pressão-temperatura para outras


substâncias puras. Porém, na prática, é mais comum utilizarmos sistemas
de ligas, ou seja, quando há uma mistura de dois ou mais componentes. Um
exemplo disso é o próprio caso do aço, que é uma liga do sistema formado
por ferro e carbono.
O estudo dos diagramas de fases para sistemas de ligas é muito importante,
pois existe uma correlação entre a microestrutura e as propriedades mecâni-
cas. O desenvolvimento da microestrutura de uma liga está relacionado com
as características de seu diagrama de fases. Ainda, os diagramas de fases
fornecem informações sobre os fenômenos da fusão, fundição e cristalização
dos materiais (CALLISTER JUNIOR, 2016).
Os diagramas de fases também são conhecidos como os diagramas de
equilíbrio, relacionam quantidade das fases em equilíbrio, temperatura e
composição química. Em outras palavras o diagrama de fases é um mapa que
mostra quais são as fases mais estáveis nas diferentes composições, tempera-
turas e pressões (SMITH e HASHEMI, 2012).
Além disso, o diagrama de fases é um método muito eficiente de predizer-
mos que fases se encontram em equilíbrio para uma dada composição de liga em
uma certa temperatura. Também podemos determinar a composição química
de cada fase e calcular a quantidade de cada fase presente (ALMEIDA, 2002).
Mas o que exatamente são as fases? Uma fase é uma parte ou porção homo-
gênea de um sistema com características físicas e químicas uniformes. Todas as
soluções sólidas, líquidas e gasosas são consideradas uma fase respectivamente.
Todo material puro também é considerado uma fase (CALLISTER JUNIOR, 2016).
Para entender melhor o assunto, é importante termos uma noção sobre a
teoria empregada na construção do diagrama de fases. A Figura 2 apresenta a
solubilidade do açúcar na água, onde a curva representa a solubilidade. As com-
posições à esquerda da curva, correspondem a uma única fase, pois todo o açúcar
está dissolvido na fase líquida. Agora, veja bem, se as concentrações do açúcar
aumentam (porcentagens mais elevadas de açúcar), que correspondem ao lado
direito da curva, é impossível dissolver completamente o açúcar; logo, teremos uma
mistura de duas fases, açúcar sólido e um “xarope” líquido (ALMEIDA, 2002).
4 Diagramas de fase

Figura 2. Solubilidade do açúcar na água.


Fonte: ALMEIDA (2002).

Muitas vezes, um sistema monofásico é chamado de homogêneo. Os siste-


mas compostos por duas ou mais fases são denominados misturas ou sistemas
heterogêneos. A maioria das ligas metálicas, sistemas cerâmicos, poliméricos
e compósitos são heterogêneos. Normalmente, as fases interagem de tal ma-
neira que a combinação das propriedades do sistema multifásico é diferente e
mais atrativa que as propriedades de qualquer uma das fases individualmente
(CALLISTER JUNIOR, 2016).

Equilíbrio, graus de liberdade e componentes


Na tecnologia dos materiais o equilíbrio pode ser descrito em termos de uma
grandeza termodinâmica chamada energia livre. A energia livre é uma função
da energia interna de um sistema e da entropia (aleatoriedade ou desordem
dos átomos ou moléculas) (CALLISTER JUNIOR, 2016).
Um sistema está em equilíbrio se sua energia livre está em um valor mínimo
sob uma combinação específica de temperatura, pressão e composição. Do
ponto de vista macroscópico, isso significa que as características do sistema
não mudam ao longo do tempo, mas persistem indefinidamente, portanto, o
sistema é estável. Uma alteração na temperatura, pressão e/ou composição
de um sistema em equilíbrio resultará em um aumento na energia livre e em
uma possível mudança espontânea para outro estado no qual a energia livre
é reduzida (BOYER, 2013).
Diagramas de fase 5

O equilíbrio de fases se reflete por uma constância nas características


das fases de um sistema ao longo do tempo. Para entender melhor, um
exemplo é imaginar o xarope açúcar-água esteja contido em um vaso
fechado e que a solução esteja em contato com açúcar sólido a 20 ºC. Se
o sistema estiver em equilíbrio, a composição do xarope será de 65%p
de C12H 22O11 e 35%p de H 2O (Figura 3) e a quantidade e a composição do
xarope e do açúcar sólido permanecerão constantes ao longo do tempo
(CALLISTER JUNIOR, 2016).

Figura 3. Solubilidade do açúcar (C12H22O11) em um xarope açúcar-água.


Fonte: CALLISTER JUNIOR (2016).

Agora suponhamos que a temperatura do sistema aumenta para 100 ºC,


esse equilíbrio ficará temporariamente perturbado, no sentido de que o
limite de solubilidade foi aumentado para 80%p C12H 22O11 (Figura 3). Assim,
uma parte do açúcar sólido entrará em solução no xarope. Esse fenômeno
prosseguirá até que a nova concentração de equilíbrio do xarope seja es-
tabelecida para a temperatura mais elevada. Esse exemplo açúcar-xarope
ilustra o princípio do equilíbrio de fases usando um sistema líquido-sólido
(CALLISTER JUNIOR, 2016).
Em vários sistemas metalúrgicos, o equilíbrio de fases envolve apenas
fases sólidas. Nesse caso, o estado do sistema é refletido nas características
6 Diagramas de fase

da microestrutura, o que inclui necessariamente não apenas as fases presentes


e suas composições, mas, também, a quantidade relativa das fases e seus
arranjos ou distribuições espaciais (SMITH e HASHEMI, 2012; CALLISTER
JUNIOR, 2016).
Considerações em relação à energia livre e diagramas semelhantes à Figura
2 fornecem informações sobre as características de equilíbrio de um sistema
específico, entretanto, não indicam o tempo necessário para que um novo
estado de equilíbrio seja atingido (BAYER, 2013).
A taxa para alcançar o equilíbrio em sistemas sólidos é extremamente baixa,
porém, o estado de equilíbrio nunca será completamente atingido. Um sistema
desse tipo denomina-se metaestável (CALLISTER JUNIOR, 2016). Dessa
forma, é importante não apenas compreender os estados de equilíbrio e das
suas estruturas, mas também a velocidade ou a taxa na qual essas estruturas
são estabelecidas e os fatores que afetam essa taxa.
O grau de liberdade, em Termodinâmica, representa o número mínimo
de variáveis intensivas (pressão, temperatura e composição) que deve ser
informado para que um dado sistema em equilíbrio esteja definido (VAL;
DOMINGUES; MATENCIO, 2010).
Componentes são aqueles constituintes independentes que estão presentes
no sistema. Em vários casos, será complicado distinguir quantos componentes
existem no sistema. Um constituinte é toda espécie química (íon, molécula)
existente no sistema, enquanto o componente é uma espécie química inde-
pendente (VAL; DOMINGUES; MATENCIO, 2010).
Josiah Willard Gibbs, Físico Matemático, contribuiu muito para a área da
termodinâmica e estabeleceu uma equação que permite determinar o número
de fases que podem coexistir, em equilíbrio, em um determinado sistema. Esta
equação, é conhecida como regra das fases de Gibbs (SMITH e HASHEMI,
2012), apresentada a continuação:

P+F=C+2

Onde:

„„ P: número de fases que coexistem em um determinado sistema.


„„ C: número de componentes do sistema.
„„ F: número de graus de liberdade.
Diagramas de fase 7

A variável “C” na equação é um elemento, composto ou solução no sis-


tema, “F” representa o número de graus de liberdade (temperatura, pressão e
composição) que podem ser alteradas de forma independente, sem que ocorra
alteração das fases no sistema em equilíbrio (SMITH e HASHEMI, 2012).

Para saber mais a respeito do diagrama de fases e regra de


Gibbs, assista o vídeo disponível no link ou código a seguir.

https://goo.gl/CMZDJ1

Diagrama de fases de um sistema binário


isomorfo
Num sistema binário isomorfo, os dois componentes são completamente
solúveis um no outro (MATERIAIS, 2005). Vamos supor que exista um
material com substâncias puras, e uma liga de dois metais, em que a mistura
ou liga entre os dois metais é conhecida por liga binária. Esta é constituída
por um sistema com dois componentes, considerando cada elemento da liga
um componente distinto (SMITH e HASHEMI, 2012).
Um exemplo seria o ouro puro, o qual constitui um sistema com um só
componente, enquanto o ouro de joias de 18K, constituído por 75% de ouro
e 25% de cobre ou prata, constitui um sistema com dois componentes. Por
vezes, um composto também é considerado um componente em uma liga.
Por exemplo, variados tipos de aço-carbono, que contém sobretudo ferro e
carboneto de ferro, são considerados sistemas com dois componentes (GEARY
e MILLER, 2013; SMITH e HASHEMI, 2012).
Os sistemas binários que possuem uma única estrutura cristalina são de-
nominados sistemas isomorfos. Existe solubilidade total entre dois elementos
em estado sólido, quando cumprem as seguintes condições, conhecidas por
regras de Hume-Rothery (SMITH e HASHEMI, 2012):
8 Diagramas de fase

1. os elementos devem ter a mesma valência.


2. a estrutura cristalina dos dois elementos da solução sólida deve ser a
mesma;
3. os tamanhos dos átomos de cada um dos dois elementos não devem
diferir mais do que 15%;
4. os elementos não devem formar compostos, isto é, as eletronegatividades
dos dois elementos não devem ser muito diferentes;

Desta forma, é fundamental saber realizar a leitura de diagramas. Mas


como isto é feito?

„„ A leitura de diagramas isomorfos é feita primeiramente definindo o


par composição e temperatura desejado. Esse par define um ponto no
diagrama.
„„ Se o ponto desejado estiver num campo onde somente existe uma
fase, a composição já está definida, e a fase é a indicada no campo
do diagrama.
„„ Se o ponto estiver numa região onde existem duas fases em equilíbrio,
a determinação da composição das fases presentes é possível traçando-
-se um segmento de reta horizontal que passa pelo ponto e atinge as
duas linhas que delimitam o campo de duas fases (linhas liquidus e
solidus). As composições das fases líquida e sólida são dadas pelas
intersecções deste segmento de reta e as respectivas linhas de contorno
(MATERIAIS, 2005).

Um exemplo de sistema binário isomorfo muito utilizado na ciência dos


materiais, por questões de interpretação é o sistema cobre-níquel (Figura
4). A temperatura é traçada ao longo da ordenada, enquanto a abscissa
representa a composição da liga, em porcentagem em peso (escala infe-
rior) e em porcentagem atômica (escala superior) de níquel (CALLISTER
JUNIOR, 2016).
Diagramas de fase 9

Figura 4. Diagrama de fases cobre-níquel.


Fonte: Callister Junior (2016).

Percebe-se pelo diagrama, a presença de três regiões ou campos de fase.


Um campo alfa (α), um campo líquido (L) e um campo bifásico (α + L). Cada
região é definida pela fase das fases existentes na gama de temperaturas e
composições delimitadas pelos limites de fase.
Líquido L é uma solução líquida homogênea composta de cobre e níquel.
A fase α é uma solução sólida substitucional consistindo em átomos de Cu e
Ni na estrutura cristalina cúbica de face centrada. Em temperaturas abaixo
de 1.085 °C, Cu e Ni são mutuamente solúveis em estado sólido para todas as
composições, razão pela qual o sistema é chamado de isomórfico (CALLISTER
JUNIOR, 2016).
10 Diagramas de fase

O aquecimento do cobre puro corresponde ao deslocamento vertical para


cima no eixo das temperaturas. O cobre permanecerá sólido até atingir a sua
temperatura de fusão (1.085 °C).
Para diferentes composições, a fusão ocorrerá ao longo de uma gama
de temperaturas entre as linhas liquidus e solidus. As duas fases (sólida e
líquida) estão em equilíbrio dentro das faixas de temperatura correspon-
dentes. Analisando a Figura 4, percebe-se que a composição varia entre
0%p Ni (100%p Cu), na extremidade horizontal à esquerda, e 100%p Ni
(0%p Cu), à direita.
As três regiões, ou campos, de fases diferentes que aparecem no diagrama
(α, L e α + L) são definidas pelas fases que existem ao longo das faixas de
temperaturas e composições delimitadas pelas curvas de fronteira entre essas
fases. Desta forma:

„„ O líquido L é uma solução líquida homogênea composta tanto por cobre


quanto por níquel.
„„ A fase α é uma solução sólida contendo átomos de Cu e de Ni, e possui
estrutura cristalina CFC.
„„ Em temperaturas abaixo de 1.085 °C, o cobre e o níquel são mutuamente
solúveis um no outro no estado sólido para todas as composições. Essa
solubilidade completa é explicada pelo fato de que tanto o Cu quanto
o Ni têm a mesma estrutura cristalina, raios atômicos e eletronegativi-
dades, e valências semelhantes. O sistema cobre-níquel é denominado
isomorfo em razão dessa completa solubilidade dos dois componentes
nos estados líquido e sólido (CALLISTER JUNIOR, 2016).

Em relação às fronteiras entre as fases, a curva que separa os campos das


fases L e (α + L) é denominada linha liquidus, como indicado na Figura 4; a
fase líquida está presente em todas as temperaturas e composições acima dessa
curva. A linha solidus está localizada entre as regiões α e (α + L); abaixo dela
existe somente a fase sólida α (SMITH e HASHEMI, 2012).
As linhas solidus e liquidus da Figura 4 se interceptam nas duas ex-
tremidades de composição, tais pontos correspondem às temperaturas de
fusão dos componentes puros. Por exemplo, as temperaturas de fusão do
cobre puro e do níquel puro são de 1.085 ºC e 1.453 ºC, respectivamente
(CALLISTER JUNIOR, 2016).
Para qualquer composição, independente dos componentes puros, esse
fenômeno de fusão ocorrerá ao longo de uma faixa de temperaturas entre as
Diagramas de fase 11

linhas solidus e liquidus. As duas fases, sólido α e líquido, estarão em equilíbrio


nessa faixa de temperaturas (CALLISTER JUNIOR, 2016).

Interpretação dos diagramas de fases


Para um sistema binário com composição e temperatura conhecidas e que esteja
em equilíbrio, pelo menos três tipos de informações são disponíveis, sendo que os
procedimentos para efetuar essas determinações serão mostrados considerando
o exemplo do sistema cobre-níquel (Isomorfo Cu-Ni), conforme Figura 4.
Sendo assim, devem-se analisar:

„„ as fases presentes;
„„ as composições dessas fases;
„„ as porcentagens ou frações das fases.

Em relação as fases: deve-se localizar o ponto temperatura-composição no


diagrama e observar a(s) fase(s) correspondente(s) ao campo de fases identifi-
cado. Observe a Figura 4, uma liga com composição de 60 %p Ni-40 %p Cu a
1.100 ºC estaria localizada no ponto A; uma vez que esse ponto está na região
α, apenas a fase α estará presente. Agora veja bem, se fosse, uma liga com 35
%p Ni-65 %p Cu a 1250ºC (ponto B) terá tanto a fase α quanto a fase líquida
em equilíbrio (CALLISTER JUNIOR, 2016; SMITH e HASHEMI, 2012).
Determinação das composições das fases: o primeiro passo para determi-
nar as composições é localizar o ponto temperatura-composição no diagrama
de fases. Se existir, apenas uma fase, o procedimento é trivial: a composição
dessa fase é simplesmente a mesma que a composição global da liga. Veja um
exemplo: considere uma liga com 60 %p Ni e 40 %p Cu a 1100ºC (ponto A
na Figura 4). Nessa composição e temperatura, apenas a fase α está presente,
tendo uma composição de 60 %p Ni e 40 %p Cu. Em uma liga cuja composição
e temperatura estão localizadas na região bifásica, a situação é diferente. Em
todas as regiões bifásicas podemos supor a existência de uma série de linhas
horizontais, uma para cada temperatura; cada uma dessas linhas é conhecida
como linha de amarração, ou algumas vezes como isoterma. Essas linhas de
amarração se estendem pela região bifásica e terminam, em ambas as extre-
midades, nas curvas de fronteira entre as fases (CALLISTER JUNIOR, 2016).
No cálculo de duas fases, usa-se o seguinte procedimento (SMITH; HA-
SHEMI, 2012):
12 Diagramas de fase

a) uma linha de amarração é construída pela região bifásica na temperatura


em que a liga se encontra.
b) são anotadas as interseções, em ambas as extremidades, da linha de
amarração com as fronteiras entre as fases.
c) a partir dessas interseções, são traçadas linhas perpendiculares à linha
de amarração, até o eixo horizontal das composições, onde é lida a
composição de cada uma das respectivas fases.

As porcentagens das fases presentes em equilíbrio também podem ser


calculadas com o auxílio dos diagramas de fases. As regiões monofásicas e
bifásicas devem ser tratadas separadamente. A solução é lógica para uma região
monofásica. Como apenas uma fase está presente, a liga é composta integral-
mente por essa fase; isto é, a fração é de 100% (CALLISTER JUNIOR, 2016).
Se a posição para a combinação de composição e temperatura está localizada
em uma região bifásica, a linha de amarração deve ser usada em conjunto
mediante a regra da alavanca.

Regra da alavanca
O processo de aplicação da regra da alavanca (ou regra da alavanca inversa)
tem os seguintes passos (CALLISTER JUNIOR, 2016):

1. A linha de amarração é construída pela região bifásica na temperatura


em que se encontra a liga.
2. A composição global da liga é localizada sobre a linha de amarração.
3. A fração de uma fase é calculada tomando-se o comprimento da linha
de amarração desde a composição global da liga até a fronteira entre
fases para a outra fase e, então, dividindo esse valor pelo comprimento
total da linha de amarração.
4. A fração da outra fase é determinada de maneira análoga.
5. No emprego da regra da alavanca, os comprimentos dos segmentos da linha
de amarração podem ser determinados ou pela medição direta no diagrama
de fases empregando uma escala linear, de preferência graduada em mi-
límetros, ou subtraindo as composições lidas no eixo das composições.

A Figura 5 apresenta um exemplo em que, a uma temperatura de 1.250 ºC,


tem-se ambas as fases, α e líquido, que estão presentes para uma liga com 35%p
Ni e 65%p Cu. Podemos calcular a fração de cada uma das fases, α e líquido:
para isto, será usada a linha de amarração construída para a determinação das
Diagramas de fase 13

composições das fases α e L. A composição global da liga é localizada ao longo


da linha de amarração e é identificada como C0, enquanto as frações mássicas são
representadas por WL e Wα para as respectivas fases L e α (SMITH; HASHEMI,
2012). A partir da regra da alavanca, WL pode ser calculado de acordo com:

Exemplo:
Determinar a composição (em %p Ni e %p Cu) tanto para fase α quanto para fase líquida.

Figura 5. Uma parte do diagrama de fases cobre-níquel no qual as composições e as


quantidades das fases estão determinadas para o ponto B.
Fonte: CALLISTER JUNIOR (2016).
Solução:
A liga com 35 %p Ni-65 %p Cu a 1250ºC, localizada no ponto B na Figura 5 e que está
no interior da região α + L. Assim, a linha de amarração foi construída pela região das
fases α + L. A linha perpendicular traçada a partir da interseção da linha de amarração
com a fronteira liquidus encontra o eixo das composições em 31,5 %p Ni e 68,5 %p Cu,
o que corresponde à composição da fase líquida, CL. De maneira semelhante, para a
interseção da linha de amarração com a linha solidus, encontramos uma composição
para a fase de solução sólida α, Cα, de 42,5 %p Ni e 57,5 %p Cu.
14 Diagramas de fase

Leia outras informações sobre o assunto no link ou código


a seguir.

https://goo.gl/7N9Fcb

Diagrama de fases de uma liga binária eutética


Um sistema binário eutético tem uma composição específica, que se solidifica
a uma temperatura inferior à de qualquer outra liga. Essa temperatura, que
corresponde à mais baixa à qual pode existir a fase líquida em condições de
resfriamento lento, é conhecida como temperatura eutética. Se o líquido de
composição eutética for resfriado até ́ a temperatura eutética, sua fase líquida se
transforma simultaneamente em duas fases sólidas (SMITH; HASHEMI, 2012).
Uma reação eutética em condições de equilíbrio é um ponto invariante do
diagrama de fases, ou seja, acontece para temperatura e composição da liga
bem definidas. Durante a reação eutética, a fase líquida está em equilíbrio
com as soluções sólidas α e β, portanto, durante a reação eutética, coexistem
três fases em equilíbrio. Já ́ que em um diagrama de fases binário só é possí-
vel ter três fases em equilíbrio a uma determinada temperatura, na curva de
resfriamento de uma liga com a composição eutética aparece, na temperatura
eutética, uma região isotérmica.
Um sistema eutético comum é o chumbo e o estanho, conforme se observa
no diagrama de fases da Figura 6. No sistema chumbo-estanho, as fases das
soluções sólidas também são designadas por α e β; nesse caso, α representa
uma solução sólida de estanho no chumbo; para β, o estanho é o solvente, e
o chumbo é o soluto. O ponto invariante eutético se localiza em 61,9 %p Sn,
e a 183 ºC (361 ºF) (CALLISTER JUNIOR, 2016).
Diagramas de fase 15

A Figura 6 indica que uma solda de estanho de 60-40, ou seja, contém


60%p Sn e 40%p Pb, estará completamente fundida a aproximadamente 185
°C (365 °F), o que torna esse material especialmente atrativo como uma solda
para aplicações em baixas temperaturas, uma vez que essa liga pode ser fundida
com facilidade (SMITH; HASHEMI, 2012; CALLISTER JUNIOR, 2016).

Figura 6: Diagrama de fases chumbo-estanho.


Fonte: CALLISTER JUNIOR (2016).
16 Diagramas de fase

ALMEIDA, A. W. Ligas: diagrama de fases. [S.l.: s.n.], 2002. Disponível em: <http://www.
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BAYER, P. S. Estrutura de metais, cerâmicas e plásticos. Joinville: Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Campus Joinville, 2013. Disponível
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CALLISTER JUNIOR, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 9. ed.
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FELIPE, B. Diagramas de fases. [S.l.: s.n.], 2014. Disponível em: <http://www.felipeb.
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