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DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Resumo
O texto aborda a geografia como um saber relacionado com a experiência que os homens têm dos
seus espaços vividos. Nessa perspectiva, entende-se que a prática de caminhar em peregrinação
funda uma experiência espacial significativa, multívoca. Tal experiência é compreendida a partir de
duas dimensões: física e simbólica. Para refletir sobre a geograficidade da caminhada em
peregrinação, elementos naturais e as noções de homem religioso e fé são considerados como
expressões da experiência.
Palavras-chave: Experiência espacial; Geografia; Caminhar; Peregrinação.
Abstract
The text treat with geography as knowledge related to the experience that people have of their lived
spaces. From this perspective, it is understood that the practice of walking on pilgrimage founded a
significant spatial experience, multi-valued. This experience is understood from two dimensions:
physical and symbolic. To reflect on the geographicity walk on pilgrimage, natural elements and
religious man notions and faith are considered as expressions of experience.
Keywords: spatial experience; geography; walk; Pilgrimage.
1. INTRODUÇÃO
1
Doutorando em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e integrante do
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (NEPEC). E-mail:
arilsonxavier@yahoo.com.br
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pessoas, levar uma vida social. Assim, a casa, a vizinhança, o comércio, a escola, a
paróquia, são espaços de habitação com os quais se tece fortes experiências
espaciais (CLAVAL, 2010).
Diante da sensibilidade humana, os espaços jamais são neutros. Os espaços
transmitem mensagens que cada indivíduo e grupo social os compreendem de
acordo com seus modos de pensar. A maior ou menor compreensão do conteúdo
das mensagens, seja por quaisquer motivos, definirá o grau de relação e experiência
com espaço. Então, a relação com o espaço é carregada de subjetividades.
Atentemos para as palavras de Paul Claval (2010, p. 39):
Viver é evoluir entre paredes ou se encontrar ao ar livre. Viver é estar em
contato com o meio ambiente em todos os sentidos: com a visão, a audição,
o olfato, o tato. É se mover em um ambiente selvagem, cultivado ou
urbanizado, é percebê-lo enquanto paisagem. As pessoas têm uma reação
emotiva diante dos lugares em que vivem, que percorrem regularmente ou
que visitam eventualmente.
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O geógrafo Paul Claval (2008) fala de “outros mundos” como um problema epistemológico da
geografia. A essa noção, o autor refere-se à idealização por parte do homem religioso de um céu,
paraíso, a ser habitado na vida eterna como recompensa por uma vida espiritual de providências.
Ver: CLAVAL, Paul. Uma, ou Algumas, Abordagem(ns) Cultural(is) na Geografia Humana? In:
Espaços culturais: vivências, imaginações e representações. SERPA, Angelo (Org). Salvador:
EDUFBA, 2008. Para a geografia, interessa o quão o homem guia suas ações por essa crença e,
assim, desenvolve arranjos espaciais pensados para facilitar os seus objetivos.
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Refere-se a uma dimensão espacial da existência humana. Para Eric Dardel, “amor ao solo natal ou
busca por novos ambientes, uma relação concreta liga o homem à Terra, uma geograficidade
(géographicité) do homem como modo de uma existência e de seu destino” (DARDEL, 2011, p.1).
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“A linha interpretativa dentro da geografia cultural recente desenvolve a metáfora da paisagem como
„texto‟ a ser lido e interpretado como documento social” (COSGROVE e JACKSON, 2007, p. 137).
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Ver: COSGROVE, Denis; JACKSON, Peter. Novos rumos da geografia cultural. In: CORRÊA,
Roberto Lobato; ROSENDHAL, Zeny (Org). Introdução à geografia cultural. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
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Labucci compreende a arte de caminhar (incluímos a caminhada em peregrinação) como uma
revolução. Para este autor, “não existe nada mais subversivo, mais alternativo em relação ao modo
de pensar dominante, que o caminhar” (LABUCCI, 2013, p. 9).
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Eu tinha que pagar minha promessa a pé mesmo. De outro jeito eu não queria. O
negócio de meter o pé na estrada, ter fé e acreditar que tudo vai dar certo. Não dá
pra pensar nas dificuldades [...] O corpo se acostuma e você só tem que ir em frente
(Junior, 14/08/2014).
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Ver: SOUZA, José Arilson Xavier de. Peregrinações a pé: experiências e a expressão espacial do
horizonte. In: 33º CONGRESSO DA CONF. OF LATIN AMERICANIST GEOGRAPHERS (CLAG) –
“Interfaces do Espaço Latino Americano”. Anais eletrônicos... Fortaleza-CE: UFC, 2015. Disponível
em: http://media.wix.com/ugd/ccfc55_5a4a3e684c334060b256e4d8748d3e70.pdf. Acesso em 06 jul.,
2015.
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Na entrevista, o religioso referiu-se a cor vermelha. Encarnada é uma expressão que lembra a cor
da carne (vermelha).
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pernas, encostar o cajado, tirar o tênis velho para que os pés respirem, e sacar da
mochila algo para comer. Faz-se uma refeição sem mesa, nem cadeira. Os
peregrinos que passavam na estrada agora ganham espaço na roda e contam das
suas experiências e proezas no caminho. A roda ganha em prosa e os jogos dão o
tom. Ali, os finos colchões também podem ser desdobrados e as redes armadas
sobre os galhos da árvore. Contudo, logo que “o sol esfria”8, lembra-se que o
caminho é o que há para ser vivido e experienciado.
A caminhada não é fácil, mas o Senhor do Bonfim está com a gente. É uma
experiência pra quem está disposto a descansar pouco, mas, por outro lado, manter
contato com a natureza e, quem sabe, até se encontrar aqui (Fátima, 14/08/2014).
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Essa é uma expressão comum ao homem do campo no Brasil. Quer sê-a dizer que os raios solares
já não atingem a terra com tanta intensidade.
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Recomenda-se a leitura de: BESSE, Jean-Marc. Ver a Terra: seis ensaios sobre a paisagem e a
geografia. Tradução de Vladimir Bartalini. São Paulo: Perspectiva, 2006.
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oração de agradecimento, o que pode ser feito ainda com o cajado em mãos e a
mochila nas costas; assiste-se a missa do peregrino, inclusive na companhia de
familiares que esperavam ansiosos; busca-se o velário, para assim se acender uma
vela e pedir intercessão, aliás, já pensando na caminhada em peregrinação do ano
seguinte.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ROSENDAHL, Zeny. O sagrado e o espaço. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES,
Paulo César da Costa (Org). Explorações geográficas: percursos no fim do
século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
SOUZA, José Arilson Xavier de. A paisagem de peregrinos a pé: o horizonte é logo
ali. Espaço e Cultura (UERJ), 2015a. No prelo.
______. Topofilia. Tradução por Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1980.
TURNER, Victor; TURNER, Edith. Image and pilgrimage in Christian culture. New
York: Columbia University Press, 1978.
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