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W 9TSADO fM C IE N C IA S fO C T A fl

Universidade Federal da Bahia

Mestrado em Ci ências S o c i a i s

Area de concentração em H i s t ó r i a S o c i a l

Vadios, He ‫*ז‬é t i c o s 0 Bruxas:

os degr edados portugueses no B r a s i l - C o l ô n i a

« M i T B R S l P A M D A •Allá{ Geraldo Pieroni


F A e U L t A D l Dl P X L O M f l A
■IILIO-^CA A h r i 191 9 1■
‫־‬
«A
(«». ém T e « * » _ Q 5 _ 6 3 _
Universidade Federal da Bahia - UFBA
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Esta obra foi digitalizada no


Centro de Digitalização (CEDIG) do
Programa de Pós-Graduação em História da UFBA

Coordenação Geral: Carlos Eugênio Líbano

Coordenação Técnica: Luis Borges

2009
Contatos: lab@ufba.br / poshisto@ufba.br
Vadios, Heréticos e Bruxas:

os d e g r eda do s portuquêses no B i ' a s i l - C o l o n i a

Geraldo Picroni

VNTVBRSIDADE FBDIRAL DA
FACULDADE DE PtLM^FlA
‫ ־‬BipLlOJfiCA
RflGlSTRO
DMTAl
Para Wa1ta P i e r o n i ,

Mar i a Pi eron i ,

Ro s a , Kar co e J o s é Lui z
Abrev i a t u r a s :

ANTT ‫ ־‬Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa

AHU ‫ ־‬Arquivo H i s t ó r i c o U lt ra ma rin o, Lisboa

l?A ‫ ־‬Biblioteca da Ajuda, Lisboa

BNL ‫ ־‬Biblioteca Nacional de l. is boa


AGRADECIMENTOS

Durante estes anos de pesquisas, conheci muitas pessoas;


inúmeros foram os conselhos, sugestões, indic açõe s de
leitu ras, critica s e muito estimulo que re ce b i , d e sd e as
animadas conversas nos charmosos cafés do "Quartier
t i n " que circundam a Universidade de P a r i s IV; passando
pelas tabernas e " t a s c a s " l i s b o e t a s e os restaurantes
universitários em Belo Ho rizonte, onde tenho muitos am2
gos. Agradeço aos professores doutores, Kãtia de QueJ^
r 05 Mattoso ( U n iv e rs id a d e de Sorbonne), Laura de Mello
e Souza ( U n iv e rsi d ad e de São P a u l o ) , Marli Geralda Te^
xeira (Un ive rsi d ad e Federal da B a h i a ) , Caio B o s c h i , Car
la Anastasia e E l i a n e Dutra ( U n iv e rsi d ad e Federal de Mi
n a s ' G e r a i s ) , J a n i c e Theodoro (U n iv e r s id a d e de São Paulo),
A l c i r Lenharo (U n iv e rs id a d e dc Campinas), limar Roh lo ff
(Univer sida de Fluminense), In a i ã Maria Moreira de Car
valho, Consuelo Novais de Sampaio c Fernando Peres (Un^
versidade Federal da B a h i a ) , Karia vlosi da S i l v a Leal
(Arquivo Nacional da Torre do Tomho), Maria Luiza Abran
tes (Arquivo H i s t ó r i c o U l t r a m a r in o ) .
Agradeço ainda os estudantes l ú i i o Ira l, léda e Ana Pa
tricia ; as b i b l i o t e c á r i a s Dona I Ú 1 ia e Maria Clara ( Unj
versidade Federal da Bah ia) e Maria do l ã l i m a (Univors2
dade C a t ó l ic a do S a l v a d o r ) ; aos d i q i t a d o r e s A u r é l i o Fa
‫'ז‬i a s e T a r c i r o L c i t c , os quais partilhai'am comigo os vã
rios se rviço s d a t i 1o g r á f i c o s .
Sou grato ao CNPq por me t e r concedido a bolsa de Mestra
do. entre 1988 e 1990.
sumario

‫ ו‬- Introdução 007/018

2‫ ־‬P ar te 1 019

0 Degredo 019

2.1 A Antiga P r á t i c a da Exclusão S o c i a l 019/027

2.2 0 B r a s i l ‫ ־‬C01ônia: Terra de Coutos Para

Os Criminosos do Reino 028/043

2.3 0 Degredo no P r im e i r o Século da Coloni^

zação 044/061

2.4 0 D i r e i t o Criminal e a Pena de Degredo 062

2.4.1 As Ordenações do Reino 062

2. 4.1.1 As Ordenações Afonsinas 062/064

?.4 .1.2 As Ordenações Manuelinas 064/066

2 . 4 .1 .3 As Leis Extravagantes de

Duarte Nunes do Leão 067/072

2 . 4 .1 .4 As Ordenações f i l i p i n a s 072/077

2.4.2 0 Degredo no D i r e i t o Criminal e

P roc c ss u al 078/084

2 . 4 . 3 i)eq ruda r é Prec i s 0 085

?.4.3.1 Os Crimes Contra a R e l i g i ã o 085/090

?.4.3.2 Os Crimes Contra 0 Rei e os

D ireitos Régios 090/094

?.4 .3.3 Os Crimes Contra a Moralidade 094/099

2 . 4 . 3 . 4 Os Crimes Contra a Pessoa,

sua Honra e Reputação 099/102


2 . 4 .3 .5 Os Crimes Contra o Pa tr2

moni o ‫ ו‬02 / ‫ ו ו‬6

2.5 O Degredo nos Regimentos da I n q u i s i ç ã o ‫וו‬7

2.5.1 E Depois de T u do ... o Degredo ‫ ו ו‬7/ ‫ ו‬23

2.5.1.1 A Comutação das Penas ‫ ו‬23/ ‫ ו‬25

2 . 5 .1 .2 A Confiscação dos Bens 125/130

2 . 5 .1 .3 A I n v i o l a b i l i d a d e dos Se

gredos 130/136

2 . 5 . 1 . 4 A Casa dos Tormentos 136/139

2 . 5 .1 .5 Os Defuntos, Loucos e Suj_

c i das . 140/144

2. 5 .1 .6 Os Menores de Idade 144/150

2.5.2 As Penas para os Culpados 151/163

3‫ ־‬P a r t e 2 164

Os Degredados 164

3.1 Os Delinq uen te s: seus d e l i t o s . . . seus degredos ^ ^

3.1.1 Os Judai zantes 167/171

3.1.2 Os F e i t i c e i r o s 171/178

3.1.3 As Beatas V i s i o n a r i a s 178/183

3. 1.4 Os Curandeiros S u p e r s t i c i o s o s 183/187

3. 1.5 Os Profanadores das Imagens Sagradas 187/191

3. 1.6 Os que Diziam Missa Sem Serem Sacerdotes 191/194

3.1.7 Os Falso s Testemunhos 194/197

3. 1.8 Os Pretensos M i n i s t r o s do Santo O f i c i o 197/200

3.1.9 Os Padres S o l i c i t a d o r e s 200/205

3.1.10 Os BTgamos 205/208

3.1.11 Os SodomTtigos 209/218


3.2 D e t e st á ve is na Metrópole e receados na

Colônia 219

3.2.1 Os Ciganos da "Buena Dicha" 219/230

3.2.2 Os Ciganos Degredados no B r a s i l 231/240

3.3 No P u r g a t ó r i o . . . Mas 0 Olhar no P a r a ís o 241/257

3.4 Os Oltimos Degredados Portugueses no B r a s i l 258/268

4‫־‬ Conclusão 269/277

Apêndice 278/299

Fontes e B i b l i o g r a f i a 300/330
007

INTRODUÇÃO

Em 1986 , quando cheguei a S a l v a d o r , proveni^

ente das Minas G e r a i s , recebi de presente uma velh a edição,

datada de 1949, da t i p o g r a f i a beneditina^ 0 livro 0 Povoa‫״‬

mento da Cidade do S a l v a d o r , e s c r i t o pelo emérito profe^

sor baiano, Thales de Azevedo. L Í com c u r i o s i d a d e : sabia

muito bem que conhecer a h i s t ó r i a de um povo s e r i a a me

l h o r forma de i n s e r i r ‫ ־‬me na sua r e a l i d a d e . Chamou-me ateji

ção, sobretudo, sua narraçao detalhada dos acontecimentos

colocados cr on o lo gi cam en te , mas que deixavam passar aqui e

a c o l á , observações de cunho e t n o l ó g i c o . 0 capítulo "A mar

cha do povoamento", p a r t i c u l ármente, de sp er to u ‫ ־‬me grande

i n t e r e s s e em aprofundar as razões h i s t ó r i c a s do degredo

português no B r a s i l . Thales de Azevedo, como a quase to t a l i_

dade dos h i s t o r i a d o r e s b ra sile iro s, referiu-se su p e rficial

mente aos degredados, embora não fosse essa sua intenção

ao e s c r e v e r 0 seu l i v r o . Raríssimos são os estudos que bu^

cam compreender os mecanismos m a t e r i a i s , j u r í d i c o s e men

t a i s que i n c i d i r a m na vinda desses pr im ei ros povoadores do

B rasil. De toda forma, f o i Thales de Azevedo quem, por pri^

meiro, chamou-me atençao para 0 problema.

Comecei entao a aprofundar 0 assunto. A prt^

melra t a r e f a f o i conhecer a h i s t o r i o g r a f i a b rasileira C£

lo nial. Durante t r ê s anos, com a ajuda de estudantes iht£

ressados, mergulhamos "de cabeça" nas b i b l i o t e c a s e arqui^

vos s o t e r o p o l ‫ ו‬t a n o s . Fase i m p o r t a n t í s s i m a , sobretudo, para


008

conhecer o tratamento dado pelos h i s t o r i a d o r e s a t e m á ti ca ,

a qual me propunha a aprofundar.

Neste í n t e r i m , a editora Cia. das L e tr a s lan

çou no mercado a b r i l h a n t e tese de doutoramento da profe^

sora Laura de Mello e Souza, 0 diabo e a t e r r a de Santa

Cruz, cujo s u b t í t u l o é "a f e i t i ç a r i a e religiosidade popu

l a r no B r a s i l co lo nial". A leitura desta obra foi como uma

luz acesa dentro do t ú n e l , abriam-se os horizontes método-

l ó g i c o s para c on ti n ua r a p e r c o r r e r 0 caminho i n i c i a d o . Tor

nou-se este l i v r o , uma fonte i nd isp ens áve l para a fundamen

tação t e õ r i c a e c o n j e c t u r a l . Profundamente a l i c e r ç a d o nos

documentos e nos pressupostos t e ó r i c o s , i n d is p e n s á ve i s pa

ra uma a n á l i s e da H i s t ó r i a total, 0 diabo e a t e r r a de San

ta Cruz busca, nos aspectos c ot i d i a n o s e prosaicos da pie

dade popular, nos mecanismos da formação e d u ca ti va e da in

formação, na percepção dos val or e s que se manifestam d i f e ‫־־‬

rentemente nos v á r i o s grupos s o c i a i s , os elementos nece^

s ã r io s para r e s g a t a r os s i l ê n c i o s da H i s t ó r i a . Silencios,

como afirmou Le Goff, "que falam muitas vezes mais que a

própria p a l a v r a c s c ^ i t a 1 ) '‫)י‬. Passou‫ ־‬s r , então, a ser fun

damentalmen te importante, conhecer os tra ba lh os de Jacques

Le Goff, f.ichel Vovelle, Carlo Ginzburg, Robert Mandrou ,

Georges Duby, Evclyne P a tl a g e a n , M i c h e l l e P c r r o t , Bronislaw


I
Geremek, Michel foucault, Philippe A rie s , Mikhail Bakhtin,

Lucien Febvre, Ooan-Claude S c h n i t t e tantos outrcs que se

dedicaram ao problema das me ta lid a dc s, dos m a r g i n a is , dos

excl uído s da h i s t ó r i a , das re lações c n t r c c u l t u r a erudita

e popular; enfim, aqueles que, de uma forma ou de outra.


009

p r i v i l e g i a r a m os aspectos da vida qu o ti d i a n a para a elabora

ção de uma nova h i s t o r i a .

Este estudo seguiu os tr a ço s método!5gi cos de

Le Gof f, na sua a l t e r n a t i v a e n tr e a c u l t u r a e r u d i t a e a cul^

tura popular, a d ialética cultural dos homens de l e t r a s e

do povo ( 2 ) . De modo p a r t i c u l a r , La nai ssance du p u r g a t o i r e

(3) tornou-se obra importante para este estudo. Afirma Le

Goff, que, somente a p a r t i r do século X I I , os elementos da

c u l t u r a e r u d i t a e das crenças populares e rig i r a m c on si st en

temente o P u r g a t o r i o . Esta construção se processou através

do C o n c i l i o de Lião I I (1274), e mais d e f i n i t i v a m e n t e com

os C o n c i l i o s de F e r r a r a ‫ ־‬F l orença (1438-1439) e o Concilio

de Trento (1563).

A nivel dogmático, o P u r g a t o r i o não f o i defj[

nido pela Igreja como um luga r p r e c i s o , mas apesar das re t^

cencías dos teÕlogos e da prudencia da i n s t i t u i ç ã o eclesiás^

tica, o seu bom é x i t o r e s i d e na sua e s p a c i a l i zação e no ima

g i n i r i o que p o s s i b i l i t o u o seu pleno desenvolvimento e o

seu sucesso popular. No século X I I I , seu t r i u n f o é t o t a l , é

urna verdade de f é . A Igreja faz descer sua concepção teolÕ

gica para a vida q u ot id ia na do homem comum a t r a v é s dos ensj_

namentos e p r á t i c a s pastorais. O Purgatõrio, de forma con

c r e t a ou a b s t r a t a , torna-se um lu g a r e, com sua i n s t i t u i ç ã o ,

passa a e x i s t i r a p o s s i b i l i d a d e de um mundo intermediário

entre 0 P a r a í s o e 0 I n f e r n o . Mundo te mp orá ri o, efêmero e p£

rificad o r; 0 ''te rce iro lugar" segundo Lu te ro . Nascia assim

a esperança para os pecadores. E sob esta ó t i c a mental que

a vinda dos degredados f e z , da c o l ô n i a b r a s i l e i r a , 0 local


0‫ ו‬0

de p u r i f i c a ç ã o dos desvios e improbidades e x i s t e n t e s no Rej^

no. Mundo*imaginãri 0 tornado v e r d a d e i r o , ocupando uma tempo

ra li d a d e e uma e s p a c i a l i d a d e bem p r e c i s a s .

Michel V o v e l l e , em I d e o l o g i a s e Mentalidades

(4), nos aponta a importancia das mentalidades como re fe re n

cia mais maleável para uma H i s t o r i a to tal, pois 0 conc eito

de mentalidade i n t e g r a 0 que não esta formulado, 0 que se

conserva muito encoberto ao nTvel das motivações inconscien

te s. Mas foi Cario Ginzburg quem revelou as r a í z e s de um mo

delo epistemológico depositado no d e t a l h e , naquilo que a

aparência não manifesta como s i g n i f i c a n t e , mas que ê funda

mental a e x p lic aç ã o c i e n t i f i c a . No seu i n t u i t i v o ensaio

"Sinais: ra íz e s de um paradigma in d iciã rio " (5 ), 0 autor.com

s e n s i b i l i d a d e e golpe de v i s t a , enxerga nos d e ta lh e s( n ão vi^

sive-lmente aprendidos nos l i v r o s , mas a v i v a voz, pelos g c s

tos , pelos o l h a r e s ) os p a r t i c u l a r e s fundados sobre su tile

zas certamente não f o r m a l i z á v e i s , frequentemente não tradu

zTveis em nTvel verbal. "Se a r e a l i d a d e é opaca, existem zo

nas p r i v i l e g i a d a s ‫ ־‬sinais, indício s ‫ ־‬que permitem d e c i f r ã

l a" (6). Esta ê a i d é i a , segundo Ginzburg, que c o n s t i t u i 0

ponto e s s e n c ia l do paradigma sem15tico, fonte fundamental pa

ra 0 estudo das mentalidades.

Nas obras de Robert Mandrou (7) e Georges Du


V

by ( S ) , estive p a r t i c u l a r m e n t e atento em p r e s e r v a r a vincu-

lação das duas pontas da c a d e i a : 0 social e 0 mental, na

t e n t a t i v a de uma abordagem da t o t a l i d a d e h i s t ó r i c a . 0 mental

não vem jamais i so la do do s o c i a l ; t r a t a - s e de i n v e n t a r i a r o s

mitos, as c r e n ç a s , os símb olos , movendo-se na "Longa Dur¿


0‫ו ו‬

ç i o " , e na v a l o r i z a ç ã o das permanências, as quais não sao

definitivamente i m u tá v e is , mas se movimentam muito len ta

mente; comparar estas representações com a r e a l i d a d e , con

f r o n t a r símbolos, r i t o s e i d é i a s que são conservadas nos

grupos com as relações v i s T v e i s que a d i s t r i b u i ç ã o do po

der, da riqueza e do p r e s t í g i o estabelecem entr e os indi^

víduo s.

Com re la ç ã o as normas s o c i a i s , afirma Du

by que, da i n v e s t i g a ç ã o h i s t ó r i c a das mentalidades, se be

n e f i c i a r ã também a H i s t ó r i a do D i r e i t o , que não serã sepa

rada das crenças e dos sentimentos c o l e t i v o s . Neste senti^

do, a H i s t ó r i a do D i r e i t o de um povo não pode se r apenas

a enumeração das normas, sob as quais e le se regeu; mas é

necessãrio enxergar em que c i r c u n s t â n c i a s essas normas se

produziram e quais foram as razões por que se modificaram,

i n ve st i g a ç ã o esta que obriga a v i n c u l a r intimamente a Hi^

tõria ju ríd ic a à H istória social. Ao se estudar 0 D i r e i t o

que vig orava em certo período do passado e em um determi-

nado p a í s , é i n d is p en sá ve l conhecer não somente as condj[

cÔes s o c i a i s , p o líticas e econômicas desse p a í s , mas tam

bém todo 0 aparato mental que produziu os fatos na vida

desse povo.

L 'h isto ire de L ' i ma c! i na i re , de Evelyne Pa

tlagean ( 9 ) , r e v e l ou‫ ־‬me novas p e r s p e c t i v a s de abordagenspa

ra a a n á l i s e dos comportamentos s o c i a i s v iv i d o s na Idade

Média e Moderna. 0 conjunto de r e p r e se n ta çõ e s, por meio

de imagens, símbolos, figuras a l e g ó r i c a s c toda forma de

expressão i c o n o g r á f i c a , aparece como testemunho evi dente


012

do imaginário das sociedades passadas. Re sgatar um i n t e r r o

gatÕrio i n q u i s i t o r i a l , re cu p e ra r as t r a d i ç õ e s de um povo ,

de uma r e g iã o , de uma comunidade e retomar 0 s i g n i f i c a d o

das expressões m í t i c a s , das crenças populares e dos r2_

tuais r e l i g i o s o s constituem a chave de l e i t u r a de um uni^

verso mental onde a sociedade p r o j e t a suas r e a l i d a d e s e

suas i n s a t i s f a ç õ e s .

Na intenção de r e s g a t a r os s i l ê n c i o s da Hi^

t ó r ia , encontrei, no homem comum do século X V I , X V I I e

X V III, os nossos personagens. São e l e s os v a d i o s , os here

ticos, as bruxas, os bTgamos e sodomTtigos, enfi m, os mar

g in a li z a d o s pela sociedade, aqueles considerados tra ns g re^

sores da l e i dominante e da moral ortodoxa, e por is so vi^

giados, punidos e doutrinados. Foram e l e s e x c lu íd o s de

suas comunidades e da pró pr ia H i s t o r i a . Em M i c h e l l e P e r r o t

(10) percebi a importância de mo de l a r t a i s p ro ta g o n i s ta s

de forma a ganharem dimensões de s u j e i t o s ativos da Histõ-

ria. B ro ni sl aw Geremek, em Les marginaux p a r i s i e n s aux XIV

et XV s i è c l e s (11) p Jean Claude S c h m i t t , em L *his to i re des

marginaux ( 1 ? ) , i iicen t i varam‫ ־‬me a urna r e l e i t u r a da H istó

ria, recuperando a memorização dos esquecimentos deixados

pela h i s t o r i o g r a f i a tradicion al. Através dos e x c l u í d o s , po

dem‫ ־‬se recuperar os movimentos de transformações fundamen ‫־‬

t a i s das e s t r u t u r a s econômicas, s o c i a i s e i d e o l ó g i c a s .

A sociedade dominante da Baixa Idade Media

e da Idade Moderna gerou um cont inge nte po pul aci on al essen

cial para a "acumulação p r i m i t i v a do c a p i t a l " e m a r g i n a li -

20 U outras c a t e g o r i a s d e f i n i d a s negativamente como os "sem


013

domicílio f ix o " , os "moradores de toda a p a r t e " , os "vaga

bundos", os " i n ú t e i s ao mundo". Michcl Fo u cau lt (13) cha

ma a atenção sobre as e x c l u s õ e s , as p r o i b i ç õ e s e os lim^

tes a t r a v é s dos quais a c u l t u r a dominante se c o n s t i t u i bis^

toricamente. 0 marginal ê temido e r e j e i t a d o ; sua exclu

s*ão do corpo s o c i a l torna-se n e c e s s ã r i a para sa lv a g u a r d a r

a ordem v i g e n t e . "As v í t i m a s da exclusão ‫ ־‬e n f a t i z a Gin£

burg ‫ ־‬tornaiB-se d e p o s i t a r i a s do único d i s c u rs o que repre

senta uma a l t e r n a t i v a radical as mentiras da soeiedadecon^

t i tuTda'' (1 4 ).

C ainda Le Goff quem sugere o r i e n t a ç õ e s de

pesquisa para se e st u d ar os ma rg in a is . No seu a r t i g o "Os

marginalizados no oc id ent e m e d i e v a l " , 0 au to r apresenta lu

miñosas p i s t a s t e ó r i c a s para a sua compreensão h i s t ó r i c a ,

buscando a a n a l i s e dos pr oc es sos , mais do que os estados

da ma rgi nal idad e: Há qae, ¿ e pzKgantaK 0 quz e, em todo

t 2. pKo czòòo, mcuiò impoAXante, <6e a evo-Cução d06 p^,0pK¿ 0 0

m a rg in a liz a do 6 ou a conòldzração que. a 6 0 cie,dadz tem poA,

tle.6 ( 15 ).

Nesta l i n h a t e ó r i c a e in sp ir a n d o - se no be

10 tr a b a lh o de Laura de Mello e Souza, 0 re cen te T rõpi co

dos Pec ados, de Ronaldo V ai nf a s ( 1 6 ) , ofereceu-me det^

lhes s i g n i f i c a t i v o s da sociedade m e tr o p o l it a n a e c o l o n i a l

entre os séculos XVI e X V I I I . A h istó ria apresentada por

Vainfas é dedicada as moralidades e ãs se xua lid ad es no

Brasil-ColÔnia. 0 autor, com grande s e n s i b i l i d a d e , compe

t ê n c i a e e r u d i ç ã o , enfoca com potente luminosidade 0 coti^

diano c o l o n i a l dos d e s v i a n t e s da moral ortod ox a, muitos


0‫ ו‬4

deles degredados do Reino.

O conhecimento da numerosa h i s t o r i o g r a f i a co

lo nial, 0 contato com os v á r i o s c r o n i s t a s , que r e i at ara m, i n

‫ ן‬oco aq ui lo que viram e observaram nos primórdios da coloni_

zação, e a fundamentação na H i s t õ r i a das mentalidades foram

etapas possTveis de serem r e a l i z a d a s no B r a s i l . Faltava, po

rém, 0 e s s e n c i a l : as fontes pr i m á ri a s que se encontravam em

Portugal, sem as quais este estudo não t e r i a nenhum valor

h istórico. Decidi, então, p a r t i r para 0 "Reino l u s o " : Arqui_

vo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo H i s t ó r i c o Ultramarj_

no, B i b l i o t e c a Nacional de Li sb o a , Bib lio teca da Ajuda, Ca

sa do Cadaval , B i b l i o t e c a da U n iv e rs id a d e de Coimbra, Arqu_i_

vo D i s t r i t a l de Ev o ra , etc., foram lugares onde pude pesquj_

sar e t r a v a r contato com numerosa e r i q u í s s i m a documentação,

muitas delas inéditas, rela tiva ao degredo português duran

te 0 período da c o lo ni za ç ão das " p r o v í n c i a s u l t r a m a r i n a s " .

De todos os arquivos e b i b l i o t e c a s , detive -

me demoradamente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Lá

pude e nc on tr ar v a s t í s s i m a documentação que me permitiu pene

t r a r na psique e na r o t i n a qu o ti d ia n a da v i v ê n c i a domestica

do povo português nos séculos XVI, XVII e X V III, desta gen

te que v e i o , de maneira espontânea ou f o r ç a d a , c o l o n i z a r as

terras b ra sile iras. Foi nos documentos do arq uivo da Inquj^

si ção ‫ ־‬l i v r o s de denuncias, listas de autos da f e , regi^

.tro s de as s e n to s , cadernos de contas e ,s o b r e t u d o , os valio

sos processos i n q u i s i t o r i a i s - , que pude conhecer as cond2

ções da vida m a t e r i a l e e sp iritua l dos mi lh a re s de réus de

gredados.
0‫ ו‬5

u tiliz e i, além dessa documentação, v i r i a s co

leções de l e i s régias e l e g i s l a ç õ e s do Reino, que me ajuda

ram a compreender os mecanismos de c o n t r o l e e punição dos

desviantes da moral e da ortodoxia r e l i g i o s a , numa época na

qual a missão t r i d e n t i n a impunha, como im p e ra ti vo , a doutr^

nação c a t ó l i c a .

T r a t a ‫ ־‬se este estudo, da origem do degredo

na sua H i s t õ r i a : nos antigos coutos de homizios; na especj^

f i c i d a d e do degredo português na época do expansionismo geo

gráfico, econômico e c u l t u r a l ; nas l e g i s l a ç õ e s do Reino e

nos seus processos c r i m i n a i s ; nos Regimentos da In q u i s i ç ã o

e nos v a r i o s d e l i t o s infamantes ou não, que trouxeram para

0 Brasil centenas de degredados; nos ciganos portuguéses de

portados; como chegaram e 0 que fizeram na Colônia todos es

tes excluídos da sociedade portuguesa que aqui vieram pur

gar seus pecados e cr imes, mas que mantiveram os olhos f i x a

dos na Metrópole. Finalmente, quais foram as últimas lev as

de degredados que, na Colónia brasílica, vieram do Reino.

A exclusão dos elementos i n d e s e j á v e i s do ãm

bito comunitário foi amplamente u t i l i z a d o pelo Antigo Reg2

me, como mecanismo de normatizaçao s o c i a l . 0 degredo repre

sntava, na r e a l i d a d e , uma n H i d a p r á t i c a de vingança s o c i a l ,

aplicada aos t ra n sg r es s o r es das normas e l e i s m e tr o p o l it a

nas. Neste s e nt id o, funcionou como uma a l t a necessidade de

defesa s o c i a l e, ao mesmo tempo, re presentava um firme pro

pósito m í s t i c o de expiação dos pecados e dos crimes graves

cometidos no Reino di se i p l i n a d o r .
0‫ ו‬6

Vingança s o c i a l e purgação das c u l p a s , enqua

dram-se pe rfe ita me nt e na l i d e co lo ni zad or a e na p o l í t i c a de


• ^
povoamento u t i l i z a d a pela Coroa portuguesa na epoca dos de^

cobrimentos.

Com 0 degredo no B r a s i l , a velha Lisboa " de

muitas e de sva ira da s gentes" (17) env io u, para a Colônia ,

parte de seu co nt in ge nte populacional que ameaçava a manu

tenção da d i s c i p l i n a moral e religiosa catõ lica metropol2

tana. Eram os j u d a i z a n t e s que i n s i s t i a m na p r á t i c a da lei

de Moisés, f e i t i c e i r o s , blasfemos, beatas v i s i o n á r i a s , c£

randeiros s u p e r s t i c i o s o s , sodomitigos, bígamos, c l é r i g o s so

licitad o res, iconoclastas, pretensos m i n i s t r o s do Santo OfT

cio, falsos sacerdotes e ciganos da "buena d i c h a " .

í esta gente e sti gm at iz ad a os p ro t a g o n i s t a s

desta nossa H i s t o r i a que f e z , do B r a s i l co lo nial, uma ter

ra de degredo para os elementos i n d e s e j á v e i s e perturbado

res da ordem s o c i a l m e t r o p o l it a n a .
0‫ ו‬7

NOTAS:

(1) Le Goff, Ja cqu es. O maravilhoso e 0 qu oti diano no oci

dente medieva 1 . Lisboa. Edições 70, 1985. p . 11

(2) Le Gof f, J. Culture Savante et Culture P o p u l a i r e . I n :

Pour un autre Moyen Age. Temps, t r a v a i l et c u l t u r e en

Occident: 18 e s s a i s P ar i s ¿Jal 1 imard . 1977.

(3) Le Goff, J. La naissance du purgat o i r e . P a r i s : G a l l i -

mard. 1981.

(4) Vovelle, Michel. Id e o lo g i a s e m e n t al id ad es . São Paulo

B r a s i 1i e n s e ,1987.

(5) Ginzburg, Carlo. S i n a i s : r a ‫ ו‬zes de um paradigma ind^

ciario. In : M it o s, emblemas, s i n a i s ; morfologia e

h istória. São P a u l o : Companhia das L e t r a s , 1989.

(6) Tdem, p.177

(7) Mandrou, Robert. L ' h i s t o i r e des m e t a l i t e s . H istoire

5. Encyclopaedia U n i v e r s a l i s , V. V III, 1968.

(8) Duby, Georges. L'h isto ire des metalite's. L 'h isto ire

et ses methodes. Paris. Encyclopedie de la P l e i a d e .

Ga11i ma r d . 1961.

(9) Pat lage an, E v e ly n c . L ' h i s t o i r e de 1 'imaginai re. In :

Le Goff (o rg ) La Nouvelle H i s t o i r e . C h a r t i e r e Rev el.

Paris. R e tz ‫ ־‬CEPL,1978.

(10) P e r r o t , M i c h e l l e . Os excluidos da H i s t o i M a .R io de

Janeiro: Paz e Te rra. 1988.

(11) Geremek, B r o n i s l a w . Lcs marginaux p a r i s i e n s aux XIV

gt XV s i e c l e . Paris: Flammariom, 1976.


0‫ ו‬8

(;1‫ ו‬2 ( $01 ‫ טנו‬t t , Jean-Cl aude, L ' h i s t o t r e des raarginaux. I n : Le

Goff ( or g) La Nouvelle H l s t o i r e . C h a r t i e r e Re ve l. ?0

ris. Retz-CEPL, 1978.

(13} F o u c a u l t , Mi ch el. Kt$t6r1a da Lo u c ur a. Sao P aul o. Per^

pectTva, 1987; e V i g t a r e P u n i r . P e t r S p o l i s ; Vozes.1987.

(14) Ginzburg, C. 0 q u e ij o e os vermes. São P aul o. Cia. das

Letras, 1978. p . 24

(15) Le Goff J . 0 roaravilhoso e 0 quoti dia no no oc ide nt e me-

d i e v a l . 0 p . c i t . p .175 .

(16) Vainfas, Ronaldo. Trópico dos Pec ad os. Moral, s e x u a li -

dade e I n q u i s i ç ã o no B r a s i l . Rio de J a n e i r o , Campus,1989

(17) Moreno, Humberto Baquero. E x i l a d o s , marginais e c o n t e s »

tatãrios na sociedade portuguesa m e d i e v a l . L i sboa E d it o

rial P r e s e n ç a .199 0.p .62


0‫ ו‬9

2. PARTE I : O DEGREDO

2.1. A antiga p r á t i c a da exclusão s o c i a l

Aqueto. que pdKtu^ba a t^anquÁ¿Á.dadc p ú b lic a , qua não


obzddCQ. cu to.¿¿, que v i o l a a¿ condlçõcó ¿ob a0 quaió
OÁ homanó 60. ¿uótentam c ¿e defendem mutuamente,
deve 6eK excluido da óocledade, l ¿ t o é, b a n ¿ d o . [l)

E x c l u i r os elementos i n d e s e j á v e i s do ámbito

comunitario, com as penas de morte, p ri s ã o e degredo, sem

pre e x i s t i u nas sociedades humanas. Para a defesa e conser

vação da ordem, as sociedades a n t i g a s adotaram, entre mu^

tas outras medidas l e g a i s , o afastamento puro e simples do

convivio so c ia l de todos aqueles i n d i v i d u o s que i n f r i n g i s -

sem as normas de conduta e s t a b e l e c i d a s pelo aparelho jurT

d i co.

Gregos e romanos conheceram e pr at ic ara m am

piamente a ex patriaç ão penal através do degredo. Nas repú

blicas gregas, como Atenas, Ciracusa, Megaza, Argos e Mole

to, 0 e x i l i o e 0 ostrüi i!>mo oram penas poderosas que re^

tringiam os casos da [)cnn c a p i t a l , a única que a severTss^

ma l e g i s l a ç ã o de Dracon ad mi ti a.

0 e x T li o r r a r e v e s t i d o de duas modalidades e

c o n s t i t u i a uma ve rd adeir a pena imposta pela l e g i s l a ç ã o gre

ga: era perpétuo, sa lv o quando 0 pr ó p ri o magistrado que a

tinha a p l i c a d o , pedia e obtinha uma r e a b i l i t a ç ã o popular ;

possuía c a r á t e r infamante c a c a r r e t a v a a c o n f i s c a ç ã o dos


020

bens. Na sua outra modalidade, era 0 e x T li o uma faculdade

concedida pela l e g i s l a ç ã o . Todo acusado de homicídio pre

meditado qüe temia 0 julgamento, podia condenar-se ao exT

lio e retirar-se pacificamente, com a co ndição, porem, de

nunca mais r e t o r n a r ao t e r r i t ó r i o patrio.

0 o st ra c is m o , di fe ren tem ent e do e x T i i o , ca

r a c t e r i zava-se pelo afastamento temporário da p á t r i a , po^

dendo durar ate dez anos e era pena de t e o r p o l T t i c o . Quan

do 0 cidadão se d i s t i n g u i a pelas suas ações, quando atraia

a atenção p ú b l i c a , quando, pela sua i n f l u ê n c i a , inspirava

grandes re ce io s aos amigos da l i b e r d a d e , ou pela posição

elevada em que se t in h a colocado, tornando-se, de algum

modo s u s p e it o , provocava-se en tã o, contra e l e , 0 ostraci^

mo. Era 0 "c ulpado" condenado não pelo poder j u d i c i a l , m a s

pela assembléia do povo. 0 ostracismo não era mais que uma

precaução p o l í t i c a e, muitas vezes, honrosa para aquele

contra quem se empregava (2).

E n tr e os romanos, 0 degredo f o i também con

sider ave lmen te u t i l i z a d o . Reduzia a condenação da pena de

morte, pois ti n h a 0 réu 0 d i r e i t o de e x i l a r - s e enquanto

c o r r i a 0 processo int e n ta d o co ntra e le e assim f u g i r da

sentença que 0 de via condenar.

No d i r e i t o romano, aparece a " i n t e r d i c t i o

aquae et i g n i s '' pena ri g o r o s a que determinava a morte c^

vil e despojava 0 p r o s c r i t o da sua d ig n id ad e, impedindo-o

de permanecer no t e r r i t ó r i o compreendido pela i n t e r d i ç ã o .

Outra p r o s c r i ç ã o muito usada, "a das c a b e ç a s " , de c re t a v a

a morte do p r o s c r i t o em toda a pa rte onde fosse encontra-


02 ‫ו‬

do, sendo prometida uma recompensa para aquele que o mata^

se.

Foi o imperador Augusto que estabeleceu a

"deportatio" e a " r e le g a t io " . A deportação ( d e p o r t a t i o ) ,

que sucedeu i i n t e r d i ç ã o de "agua e fogo" ( interdictio

aquae et i g n i s ) , era urna pena perpetua, implicava na morte

c iv il, na perda da honra, dos d i r e i t o s de cidade e, ordin^

riamente, na co nf is ca çã o dos bens. Os condenados eram en

viados para as i l h a s do mar Egeu, Sardenha ou para as re

gioes ár id as da A f r i c a e A sia. A relegação ( re 1egati o ) , per

pétua ou temporaria, não a p l i c a v a a c o n fi sc aç ão dos bens

nem a perda dos d i r e i t o s de cidadão. 0 relegado era obrig^

do a e s t a r r e t i r a d o em um lugar previamente estabelecido

para este fim e determinado na sentença condenatõria. Tam

hém esta pena f o i frequentemente empregada com objetivos

políticos (3 ).

Durante a Idade Media, a exclusão dos ele

mentos perturbadores do âmbito comunitário continuou, so

bretudo at rav és da nomeação de lugares que legal monte pode

riam acoutar os criminosos, *bestes coutos, os réus nao p0

dia 111 sot* perseguidos.

Mas f o i com 0 sistema 1 01 on ia 1 da época mo

derna que 0 degredo qanhou novo s i g n i f i c a d o . Tuncionondo

como um dos mecanismos de p u r i f i c a ç a o das mazelas mctropo

l i t a n as, despejou na c o lô n i a seus cj‫־‬iminosos e d e l in (]u rn le

No entender de Michaud, no seu Etude sur la

question des peines (5 ), foi a In g la te rra a nação que com


022

mais perseverança ‫׳‬e p r o v e i t o p r a t i c o u 0 degredo. Nos re in a

dos de Isabel (1 558-1603) e de Jaime (1 603-1625) ,encontram

se diplomas r e l a t i v o s ao degredo. Mas ê somente a partir

de 1718 que a deportação c rio u foros institu cion ais com

f o r t e cunho pe nal , passando a ser u t i l i z a d o cora grande re

g u la r id ad e. Foi a America do N o rt e , 0 l o c a l e s co lh id o para

a execução do degredo e, para l ã , deternjínou-se que seriam

enviados todos os condenados a mais de 3 anos de p r i s ã o . 0

processo era 0 mais rudimentar possTvel , uma e sp é ci e de e^

cr a va tu ra temporaria; os degredados eram entregues sem

grandes formalidades aos armadores e c a p i t ã e s de navios en

carregados do seu t r a n s p o r t e . Para pagarem a vi agem ,quando

chegavam na America, eram e le s cedidos aos h a b i t a n t e s da

Jamaica, Barbade e, sobretudo, de Maryland era tr o c a de uraa

determinada q u an tia. Verdadeiro t r ã f i c o de brancos ao qual

somente os homens de posse escapavam, pois podiam e le s

c us te a r a passagem ( 6 ) . Esta p ra tic a tornou-se em pouco

tempo odiosa e s u s c it o u inúmeros p ro te s to s dos colonos.ApÕs

a inpependência dos Estados Unidos da Araérica, a I n g l a t e r -

ra,sob 0 coraando de P h i l l i p , lançou uma armada de onze n^

vios r e p l e t o s de condenados que desembarcarara na A u s t r a l i a

em Botany Bay, no ano de 1788. Deu-se, assira, i n T c i o a

"mais notavel de todas as e x p e r i e n c i a s que se tem f e i t o do

degredo e da co lo ni za ç ão penal" (7).

Na F ran ça, nos tempos da expansão e u r o p é i a ,

o degredo não e st av a ainda s u j e i t o a um regime d e f i n i d o e

sua a p l i c a ç ã o não era r e g u l a r e co n t ín u a . Jacques C a r t i e r ,

ao e x p l o r a r 0 Canada, recebeu de F r a n c i s c o I (1515-1547) ,


023

50 condenados e Villegagnon recebeu de Henrique I I (1547-

1559) alguns criminosos para fundar uma colô nia no B r a s i l

(8). M aistarde, em 1720, empreendeu‫ ־‬se a colonização do

M i s s i s s i p e e da Nova Orleans por vagabundos, lad rõe s e

p r o s t i t u t a s , mas sem grandes ê x i to s (9). Em 1763, milh^

res de degredados lançados na Guiana Francesa morreram de

febre e de fome (10). Nos primeiros tempos, os degredados

foram enviados para a Guiana Franc esa ; a i n s a l u b r i d a d e de^

ta colônia fez d e si gn a r, a p a r t i r de 1863 e p r i n c i p a l men-

te depois de 1867, a Nova Caledónia para t a l fim. Mas de

pois reconheceu-se que a pena de degredo perdeu 0 seu ca

r ã t e r i n t i m i d a t i v o , em v i r t u d e do bom clima e da f e r t i l i -

dade desse p a i s ; e, a p a r t i r de 1897, voltaram a d i r i g i r -

se para a Guiana todos os degredados franceses (11). Esta

si tuação desagradou profundamente os colonos l i v r e s da

Guiana que continuamente protestaram com atos de repu lsa

contra os degredados, aquela multidão imensa que Cayenne

detestava c que P a r i s receava.

A Rússia tr a ns p or ta v a em larga e s c a l a os

seus criminosos de d i r e i t o comum e p o l í t i c o s para as re

giòcs mais afastadas e i n ó s p i t a s dc seu vastTssimo t e r r i -

t o r i o , a primeira d is p os iç ã o legal que ap lic ou 0 degredo

foi um "ukaso" de 1852, enviando degredados para perto

de N i j n i -Novgorod e , depois, os condonados sofreram 0 de

gredo para a S i b é r i a e regiões mais a f a s t a d a s , sobretudo

nas i l h a s de S a c a l i ñ a .

A fspanha empregou, a p a r t i r do século XVII

0 desterro para toda a América espanhola. Segundo F a r i a


024

Blanc J u n i o r , 0 governo espanhol contentou-se, a p a r t i r do

século X V I I I , em e s t a b e l e c e r , nas c o l ô n i a s , p r e s í d i o s iguais

aos da metrópole, com 0 Gnico fim de a l i v i a r os c ár c er e s do

elevado número de cr iminosos. Os l o c a i s foram Marrocos,Oran,

Ceuta e, pos te rio rm ent e, as i l h a s Ca n á ri a s, Chafarinas e

Gui né (12).

A legislação italian a não consagrou a pena

de degredo, embora banisse alguns de seus criminosos para

a Etiópia (13 ).

Por f a l t a de c o lô n i a s ou lugares adequados

para 0 degredoj a P r ú s s i a c e l e b ro u , em 1798, um tra ta do com

a Rússia para que fosse permitido mandar para a S i b é r i a a2

guns de seus criminosos. Eram e le s condenados perpetuamen-

te (14).

De modo g e r a l , na Europa, entre os séculos

X III e X V III, as punições para os crim in os os , delinquentes

e vadios eram extremamente r i g o r o s a s . As p r i n c i p a i s penas

geralmente aco lh id as nas v á r i a s l e g i s l a ç õ e s foram a morte,

pela f o g u e i r a , para f e i t i c e i r o s , sodomitas e hereges; pela

espada, para os f i d a l g o s ; pela f o r c a , baraço ou es tr a n g u l^

mento, m u ti la ç õ e s , tr a ba lh os forçados e 0 banimento (1 5) .

Foi grande a u t i l i z a ç ã o das g a l e r a s , pri n cip a lm en te no Me

diterrânco. Pena a n t i q u í s s i m a , ap licável, a princípio, so-

mente aos mendigos e vagabundos, passando mais tarde aos

condenados ã morte que, assim, viam comutada a sua pena ca

p itai. Com 0 desaparecimento das galés ou g a l e r a s , em vir

tudc do progresso da navegação a v e l a , os réus condenados

a esta pena passaram a ser punidos rom tr a ba lh os em obras


025

pú b l i c a s . Mas mesmo assim, estes forçados continuaram, ain

da, a serem denominados g a l é s , lembrando a origem e nature

za da pena p r i m i t i v a (16 ).

Nos últimos anos do Antigo Regime, 0 direi^

to f r a n c i s adotava, com f r e q u ê n c i a , 0 banimento perpétuo ou

temporário, a c o i t e s , f e r r e t e ou marca, p e lo u r i n h o , retrata

ção p ú b l i c a , censura, multa, além de muitas penas acessõr2

as, tais como c o n f i s c a ç ã o , perdão de j o e l h o s , esmola e re

preensão. Desta forma, 0 Antigo Regime se armou com todos

os mecanismos de punições a p l i c á v e i s aos tr a n s g r e s s o r e s da

ordem s o c i a l .
026

NOTAS

(1) B e c c a r i a , C. Dos D e l i t o s e das P e n a s . Rio de J a n e i r o :

Tecnoprint, s.d. p . 105.

(2) Abreu, Luiz F. de. "Se ê ju s t o e conveniente adotar a

deportação para pena: no caso a f i r m a t i v o , em que ter-

mos", In : Nelo, V.M. de Almeida. Separata do Bo letim

dos I n s t i t u t o s de C r i m i n o l o g i a . Compos to e impresso na

cadeia p e n i t e n c i á r i a de L is b oa, s.d. p . 10.

(3) Boletim do I n s t i t u t o de C r i m i n o l o g i a , V o l . I I , p . 13 ,

Luiz F i l i p e de Abreu, o p . c i t . p . 38 e P e r e i r a e Sousa,

" P rim ei ra s Linhas sobre 0 processo c r i m i n a l " , nota 532

In: Melo, V.M. de Almeida, p . c i t . p . 11.

(4) Souza, Laura de M. e. In q u i s i ç ã o e degredo. L i s b o a ,

1"987 , p . 3 ( mTmeo ).

(6) Michaud, "Etude sur la question des p e i n e s " , p.29 e

segs. In: Melo, V. M. de Almeida, o p . c i t . p.l3.

(b) Belesa dos Santos, "l>01etim da Faculdade de D i r e i t o de

Coimbra". In: Melo, V.M. de Almeida, op.cit. p . 14.

(7) Michaud r e l a t a minuciosamente 0 degredo dos i n g l e s e s

na A u s t r á l i a no seu "Ltude sur la question des peines"

In: Melo, V.M. do Almeida, o p . c i t . 14 , ‫ין‬.

(5‫ ) י‬Fa ri a Blanc J u n i o r . "0 deposito de degredados em Ango

l a " , p . 39 e scgs. In: Melo, V.M. de Almeida, o p . c i t .

p. 16.

(9) Michaud, o p . c i t . p . 30, in: Kelo, V.M. de Almeida, o p . c i t

p . 16.
027

(10) Idem, p . 30

(11) Melo, Vasco Marinho de Alroeida HomeTU de, o p . c i t . p . 1 7

(12) Tdem , p.19

(13) Nogueira, A. Pena sem p r i s ã o . São P au lo , S a r a i v a ,1 956,

p.98.

(14) S i l v a de Carvalho. Notas sobre a p e n a l id a d e , in stitu ^

ção e regime p r i s i o n a l , p . 131 e segs. In: Melo, V.M.

de Almeida, o p . c i t . p. 20.

(15) Nogueira, A. op. cit. p . 23

(16) Tdem p . 23.


028

2.2 Brasil-Colonia: t e r r a de coutos para os criminosos do


Reino

A pe.Kmanzncia no¿ coatoó do, homlz¿ado& dependía 6 0 bA.etud0


do g^au. e da natuAe.za do¿ d z l i t o ¿ p ^ a t¿ c a d o ¿ . A¿¿¿m o¿
quo. houve¿¿em cometido hom icidio ou a d u ítín X o , p a ¿ ¿ Z v z l de
pena de mo^tz, apena¿ obtafilam o peA.dao apo¿ 20 ano¿ de
(¿¿tada n a ¿ ¿ t ¿ ¿ o c a ¿ ¿ . Aqae£e4 qaz tambzm meAece¿¿em a pe
na c a p i t a l devtdo a ¿uA.to, Koiibo ou ¿oAça¿, 4e.Axam po,Kdoa
do¿ ao ^¿m da ‘i t ano¿. O¿ outA.0¿ cA^rm¿ ¿u.¿captZvz¿¿ de
d2.gKzdo pzKpítu.0 , ca¿tÁ,go de a ç o i t a ¿ ou. pagamento de mu¿
t a , ¿eA,iam A.c¿evado¿ apÓ¿ 5 ano¿. Em qua¿qucA do¿ c a ¿ 0¿
mnhum ma¿ p ó d e l a advin. ao¿ homicida¿ que vive¿¿em a ¿om
b/ia do¿ couto¿ . [J )

A h istoria do degredo em Portugal e st á par

t ic ul ar m en te vi n c u l a d a i h istoria dos descobrimentos e

das conq uis ta s. Entre os portugueses que pisaram pela pr^

meira vez em t e r r i t o r i o inimigo conquistado ou em alguma

região antes desconhecida, havia sempre lu g a r reservadoaos

deportados. Cabral deixou "os degredados que aqui hão ‫ ״‬de

f i c a r “ com 0 o b j e t i v o de conviverem com 0 gentio e "aprende

rem bem a sua f a l a e os entenderem", assim, r e l a t o u Pero

Vaz de Caminha: "não duvid o, segundo a santa tenção de

Vossa A l t e z a , fazerem-se c r i s t ã o s e crerem na nossa santa

fé" (2). Os dois degredados que fi c a r a m foram Afonso R2

beiro, c r ia d o de João de Telo e 0 o u t r o , João de Thomar

( 3 ). Em um poemeto h i s t ó r i c o in titu lad o "A f l o r de manacã"

reci ta do no Po lit e am a Bahiano aos 3 de maio de 1900, em

espetáculo de g a l a , f e s t a promovida pelo I n s t i t u t o Geogrã


029

e H i s t ó r i c o da B a h i a , em comemoração ao quarto c ent ená rio

do descobrimento do B r a s i l , f ig u r a v a - s e que Afonso Ri bei-

r o , ao ver p a r t i r para a I n d i a seus companheiro de viagem

exclamara choroso: V00 id e ¿ ao p o é tic o òublimc. da


^ama, que concede. eòpZênd^ do t^o¿éu. Enquanto vou pagaK 0
meu òupoòto cn.¿me ante 0 deòeKto ante 0 de¿en.to céul
14} .

Ura documento encontrado em um convento de

freiras de P o r t u g a l , prova que Afonso R i b e i r o fora conde-

nado injustamente ao degredo: Ano de J572, teA cci^o da


noòsa fundação. Um d ia depoiò do Ñata¿ feneceu de tangos
E{cna Coiiça^veó, natu^.at de Lióboa, ^¿íha de Tomé Conça¿-
VC6, incót^e de nau, j ã ¿alec-ido, que na¿te convento da Ma
dic de Veuò de Enxobàegaò jjcz voto¿ de Ae-Cigi 0 6a poA. te.
icm poòto culpa de moAte a um cAiado de João Tcío , com
quem còtcvc pnAa ca0 an e que (^01 condenado a degredo paAa
a ín d ia , òcndo e íe a nocente da ¿ama que i'lie puic'iam. Fo<
c c^muneceu em ■t‘ic 0 d ia s , 6vm ãa ac L’c i t c f .\ezan
dc (.‫ ׳‬acaban dc ( 5) .

R e f e r i n d c ‫ ־‬sc aos dois degredados conden^

dos, diz Visconde de Porto Seguro que " f i c a r a m na pra ia ,

chorando sua i n f e l i z so rt e c acompanhando com os olhos as

quilhas p a t r i a s , até que elns se haviam dr todo sumido no

horizo nte...". Gonçalves Dias, completa quo "enquanto par

tia a f r o t a , estes homens ( "o s selvagens") reputados in

sensTveis e ferozes alem da ultima expressão, os rodearam

c consolavam, compadecidos do sua s o r t e " . (0)


030

Por mercê r e a l , o degredo conservava a vida

dos condenados, mas d e i x a v a ‫ ־‬se‫ ־‬lhes a t a r e f a de defenderem

as novas t é r r a s e assimilarem a iTngua e os costumes dos

nativos. Alguns, por seus f e i t o s g l o r i o s o s , souberam mo_s

t r a r ‫ ־‬se dignos do " a l t í s s i m o favor" de que fruTram, pois

arriscavam constantemente a vid a em p r o v e i t o de Po rtugal e

do rei que Ihes concedera a graça de v i v e r . Opção difere^

te não havia para estes condenados; melhor v i v o s na terra

desconhecida, que mortos na Metropole. Foi assim durante

a 1guns séculos.

Ceuta foi a p r i m e i r a conquista lusitana e

também foi o prime iro lu ga r para onde se d i r i g i r a m os de

gradados portugueses. í de 10 de a b r i l de 1434, uma orde

nança dada ao c ap it ão de Ceuta que " h a j a de t e r com os áe

gredados e homiziados" (7) e ainda uma ordenação que El

Rei D. João fez acerca dos que foram na Armada de Ceuta e

ali ficaram por seu mando, cuja décima quarta d i s p o s i ç ã o

diz: "... e geralmente em todos os usos, em os quais have

riam pena de morte n a t u r a l , que estando em nossa cidade de

Ceuta por 2 anos continuadamente, que sejam p e r d o a d o s . .. "

( 8 ).

Em 20 de novembro de 1459, D. Afonso V orde

nou suspender a execução do a l v a r á de D. Duarte, de 25 de

setembro de 1431, que re d u z ir a o degredo de Ceuta para a

metade do que era no Reino (9). D. Afonso V continuou as

conquistas no norte da A f r i c a iniciadas por seu avo e o

dominio luso estendeu-se a A r z i l a e Tanger, para onde fo

ram mandados os degredados por l e i de 1474. Es t as d i s p o s i ‫״‬


03 ‫ו‬

çoes l e g a i s estão incorporadas nas Ordenações Afonsinas de

1446.
Antes da tomada de posse das c ol ô ni as u l t r a

marinas, Portugal e x c l u í a seus elementos i n d e s e j á v e i s e

considerados nocivos ã sociedade, condenando-os ao degredo

nos coutos de homizios. 05 coutos e as honras eram terras

imunes onde 0 rei renunciava a cobrar t r i b u t o s . Não tendo

0 direito a faze r v a l e r dentro dessas t e r r a s , os agentes

régios não podiam e n t r a r n e l a s , pois eram-lhes negado 0

"in tró ito ". A autoridade j u d i c i a l , em muitas o c a s i õ e s , era

concedida ao v i g á r i o que ganhava,por vezes, a denominação,

de ju i z 1o c a l .

0 couto era p r i v i l e g i a d o por c ar ta que del2

mitava a t e r r a abrangida e que, a s e g u i r , era demarcada p£

10 interessado mediante colocação de marcos ou padrões tam

bém chamados coutos. Os mais importantes foram os coutos

eclesiástico s, concedidos a t rav é s de doaçoes r é g i a s . Maree

10 Caetano, na sua detalhada H i s t ó r i a do D i r e i t o Portuguésj

e xpl ica que "cautum era a designação genérica da t e r r a pr2

vilcgiada, que gozava dc e s t a t u t o e s p e c i a l , mesmo que fo^

se por f o r a l de concelho: assim, nos f o r a i s de L i s b o a , Coim

bra e Santarém, a expressão r x t r a cautum s i g n i f i c a fora da

vila c e r c a d a " . (10)

As honras tinham esse nome desde a época em

que cons tituíam prestamos concedidos a nobres para renume

rar s e r v iç o s prestados ao r e i . Com 0 tempo, houve presta -

mos que fica ram na posse h e r e d i t á r i a das f a m í l i a s fidalgas

e genera 1i20U-SC a i d e i a de que a nobreza r r a , por d e f i n i ­


032

ção, uma funç io p ú b l i c a e por is so os domínios t e r r i t o r i a i s

dos nobres deviam ser traunes pelo simples f a t o de lhes per

tencerem. A autoridade maxima no couto e honra era '0 senhor

nobre ou e c l e s i á s t i c o , os quais diretamente dispunham dos

homens e cobravam as pre stações de bens e de s e r v i ç o s .

Muitos c ri m in o s o s , fungindo as perseguições

das f a m í l i a s de suas v í t i m a s , buscavam proteção nos coutos

0 ali homiziavam-se. Esta designação se e x p l i c a pelo vocãbu

10 l a t i n o que designa 0 ti p o mais c a r a c t e r T s t i c o do crime ,

i s t o é, a morte de um homem: homici di um, homizio, chamando-

se ao homicida de homizeiro.

Os termos homi ci di um e homizio generalizarara

se aos d e l i t o s graves que produziam as ofensas a honra como

a v io la ç ã o e 0 rapto e ainda as ofensas pessoais que produ

zissem f e r i d a s . Se 0 acusado era considerado homicida^passa

va a inimigo manifesto ou conhecido e seguia as consequênci^

as que eram pr i n c i p a lm e n te três: 1- pagar a c a l u n i a ou muj^

ta cr imina l devida ao r e i ou ao senhor da t e r r a e, às vezes/

aos próprios o fe nd id os; 2- dentro de determinado prazo, de

v e r i a abandonar a t e r r a onde v i v i a e os bens que l ã possuT^

se, não podendo v o l t a r enquanto durasse a in i m i z a d e , sendo

proibido a todos os viz in h o s dar-l he proteção ou a l i m e n t o s ;

3- uma vez f o r a da t e r r a , podia s e r morto pelos parentes da

pessoa ofendida. Tudo i s t o assegurava a paz da po voa ção ,v i £

to que a perseguição e a morte sõ poderiam t e r l u g a r fora

do âmbito co mu nit ár io.


033

Uma forma agravada de homizio era a a l e i v o -

sia ou t r a i ç ã o . 0 a l e i v o s o era um inimigo de todo 0 conce

lho, tr a d i to r da v i l a , t r a d i t o r do concelho, era um inim2

go público. Expulso perpetuamente da l o c a l i d a d e , e ra- lh e

destruida a casa para que não t i v e s s e mais os d i r e i t o s de

vizinho e perdia todos os bens que ficavam confiscados p^

ra o concelho. Nos crimes mais gra ves , a ira re gi a perse

guia o seu inimigo por todo o Reino, forçando-o a expatr^

a r ‫ ־‬se, era ''deitado fora da t e r r a " , pois ninguém o podia

alberga r nem a l i m e n ta r ( 1 1 ). 0 crime de t r a i ç ã o continuou

a ser severamente condenado nas Ordenações Afonsinas,Manue

l in as e F i l i p i n a s . As penas podiam l e v a r 0 réu ã morte ou

ao degredo.

0 couto de Noudar, fundado por D. Dinis em

16 de j a n e i r o de 1308, ao que tudo i n d i c a , foi 0 primeiro

a scr i n s t i t u i d o pela Coroa portuguesa. E s t a b e l e c i a que to

dos os delinquentes que viessem morar nesta l o c a l i d a d e pe

10 espaço de cinco anos, obteriam a n e c e s s á r i a segurança

e ficavam excetuados da di sp os içã o ré gia do monarca, todos

os acusados de a l o v o s i a e t r a i ç ã o (1?). Muitos outros cou

tos foram fundados depois da c r ia ç ã o do couto de Noudar.

A permanência nos coutos de homiziados de

pendia sobretudo do grau e da natureza dos d e l i t o s pratic^

dos. Os criminosos que houvessem cometido homicídio ou

adultério, passível de pena de morte, apenas obteriam 0

perdão apôs 20 anos de permanência em um couto; os acusados

de furto seriam perdoados ao fim dc 12 anos. Os outros crj^

mes, s u s c e p t í v e i s dc degredo perpetuo, c a s t ig o de a ç o i t e s .


034

ou pagamento de multa seriam rele vad os apos 5 anos. Em qual_

quer dos casos, nenhum mal poderia ser cometido aos homici^

das que vivessem protegidos nos coutos. Castro-Marim, no

garve, foi ura couto onde foram mandados muitos criminosos

punidos com 0 degredo ou que, senten ciados para t e r r a s ul_

tr a m a ri n a s , conseguiram a comutação de seus degredos. Foi

Castro-Marim, c o n s t i t u í d o couto, no reinado de D. J o i o I ,

por c a r t a de 11 de a b r i l de 1421 e podia a c o l h e r , na época

de sua fundação, cerca de 40 homiziados que não houvessem ij1

corr ido em a l e i v o s i a ou t r a i ç ã o , desde que não houvessem

pra ticad o m a l e f í c i o s num r a i o de 20 quilômetros (1 3 ).

D. João I I confirmou, em 21 de dezembro de

1485, a c a r t a de c r i a ç ã o do couto de Castro-Marim, por D.

João I ; a c re sc en to u , porém, novas r e s t r i ç õ e s : 0 couto não

s e r i a v a l i d o para os hereges, sodomitas e moedeiros f a l s o s .

Estes instrumentos foram r a t i f i c a d o s por D. Manuel em 1497

(14) e por D. João I I I em 1526 ( 15 ).

A c r i a ç ã o dos coutos f o i ju stificad a pela

preocupação dominante da defesa da f r o n t e i r a portuguesa e,

por l e i de D. Pedro I I de P o r t u g a l , em 10 de setembro de

1692, foram e le s a b o l id o s . Mas estas d i sp os iç õe s foram par

cialmente a l t e r a d a s por ou tr a l e i , em 20 de agosto de 1703,

promulgada pelo mesmo soberano, dando cont inu idad e a e x i s t i ^

cia dos coutos, que deixaram de e x i s t i r d e f i n i t i v a m e n t e so

mente em 1790 ( 1 6 ) .

0 couto de Castro-Marim recebeu muitos reus

condenados a degredo pelas I n q u i s i ç õ e s portuguesas. Vari os

deles foram se ntenc iado s para 0 B r a s t l e conseguiram, atr^


035

ves de verd adeiro s r i t u a i s de lamentações, a comutação para

um dos lugares do Reino. Ser degredado para o B r a s i l sign2

ficava, para muitos, o afastamento d e f i n i t i v o da Metrópole

e dos v í n c u l o s f a m i l i a r e s , além de todos os r i s c o s de vida

que o v i v e r na Colonia im plicaria. Por i s s o , valia a pena

te nt ar de todas as formas a comutação. Muitos réus senteji

ciados com o degredo conseguiram e v i t a r tal punição e contj[

nuaram, embora condenados, a v i v e r na Metr5pole, em um dos

muitos coutos e x i s t e n t e s .

Por corromper alguns o f i c i a i s da I n q u i s i ç ã o ,

oferecendo-lhes "rogos e p e i t a s " para que levassem recados

a um preso nos c a rc er e s do Santo O f i c i o , Miguel Luis foi

preso e condenado, em 23 de j a n e i r o de 1583, a 3 anos de de

gredo para o B r a s i l . Sua pena f oi comutada p o is , a t r a v é s de

p e ti ç ã o , Miguel preferiu ser degredado por 4 anos em Castro

Marim. Para e l e , muito melhor c seguro te r um ano inteiro

acrescido no seu degredo mas c(‫ח י‬t i 11 uar dentro do Reino que

p a r t i r para uma co lô ni a desconhecida e i n ó s p it a (1 7 ).

Maria Mendes saiu no Auto da Fé r e a l i z a d o em

Coimbra no dia 17 de junho de 163 7. Sru marido, F r a n c is c o

Guedes, tinha sido condenado para as galés e nunca mais re

tor nara. Andava toda a gontr afii'iiiando que e le tinha morri

do c Maria Mcndrs, a "Cabrinha" de alcunha, casou-se entao

pela segunda ver com outro homrm conhecido por Panuel Dias.

Mas F ra n c is c o Guedes não estava morto e, acusada de bigamia,

a "Cabrinha" f o i presa e condenada ao degredo por 5 anos pa

ra 0 B r a s i l . Maria Mendes, que a c r e d i t a r a que seu pr im ei ro

marido tin h a f a l e c i d o nas g a l e s , não se conformou com a pe


036

na e, at ra vé s de p e t i ç ã o , alegou t e r 4 f i l h o s pequenos, sen

do 0 mais velho de 9 anos de idade e que e le s não tinham

amparo de ninguém e por isso estavam todos com ela na prj_

são onde padeciam " g r a v ís s im a s n e c e s s id a d e s " . Mencionou ain

da ser mulher muito jovem e " c o r r e 0 r i s c o sua honra haven

do‫ ־‬se de embarcar". Depois de muita lamúria e p ro to c o lo ,p e

diu para ser perdoado 0 degredo em nome das " c i n c o chagas

de Nosso Senhor Jesus Cristo". 0 Santo O f i c i o comutou-lhe

os 5 anos de B r a s i l para os mesmos 5 anos em Castro- Marim

(18).

A feiticeira Ca ta r in a Craesbeck,de 60 anos,

procurou de todas as formas a comutação e 0 p o s s ív e l per

dão de seu degredo. Tinha sido condenada pela I n q u i s i ç ã o de

Lisboa, onde saiu em Auto da Fé no dia 21 de junho de 1671.

Acusada de usar s u p e r s t i ç õ e s e f e i t i ç a r i a para o b r i g a r a

vontade de c e r t a s pessoas, invocando 0 diabo e usando or£

çÕes apócrif'as reprovadas pela Ig reja , tin h a sido senten

ciada a 5 anos de degredo para 0 B r a s i l . Por ser nobre, Ij[

vrou‫ ־‬se dos a ç o i t e s e, aos 13 de j u l h o de 1671, seu degre

do fo i comutado para Castro-Marim. Quase 2 meses depois,no

tificou aos m i n i s t r o s do Santo O f i c i o que, por ser mulher

" a l e i j a d a e cega" e por não poder i r s5 para seu degredo em

razão de sua saúde, estava esperando uma outra mulher que

ia também degredada para Castro-Marim e, porque sua amiga

se encontrava "doente de uma p e rn a ", pediu ao Santo O f i c i o

para esperar "a d i t a companheira chamada Maria Ro iz , culpa

da por uma morte". A morosidade de C a t a r in a Craesbeck, pro

curando sempre a d i a r seu degredo, irrito u profundamente os

m i n is t r o s in q u isito ria is pois havia- se passado 7 meses e a


037

ré não tinha ainda pa rti do para cumprir sua pena. Nesta oca

s i ã o , aos 6 de a b r i l de 1672, Ca ta r in a ousou ainda pedir

perdão de seu degredo, mas a Mesa foi taxativa: concedeu

lhe 8 dias para i r embora "e não fazendo com e f e i t o a mande

prender" (19).

Desde a c r i a ç ã o do couto de Noudar, v a r i o s mo

narcas deram novos impulsos para imcrementar a fundação de

novos p r i v i l é g i o s para homiziarem os crim in os os . Coube a D.

Manuel proceder, nas suas Ordenações, a adoção da Legisl^

ção Afonsina r e l a t i v a aos coutos de homiziados, int ro d u zi n

do algumas leves modi fic açõ es . Os coutos não poderiam a l b e r

gar os t r a i d o r e s , sodomitas, moedeiros f a l s o s , falsificado-

res de e s c r i t u r a s , ad ú l te r o s e autores de ofensas c or por ai s

nas pessoas dos o f i c i a i s de j u s t i ç a (2 0 ).

As Ordenações F i l i p i n a s continuaram a t r a t a r

do assunto, proibindo a abertura de novos coutos que aco

l h e s s e m m a lf e i t o r e s e degredados. Aos que formarem novos

coutos a penalidade i m p l i c a r i a na perda da " j u r i s d i ç ã o que

tais lugares tiverem" e, no caso de não t e r j u r i s d i ç ã o , "se

râo degredados dois anos para a A f r i c a e pagar cada um d^

7en tos cruzados" (21 ).

Nos coutos jn e x i s t e n t e s , a L e g i s la ç ã o esta-

b e l e c ia que os homiziados pudessem seguramente i r povoar e

morar em cada um dos " d i t o s lugares e coutos ordenados". Ao

chegarem ao local do couto, os homiziados deveriam se apre-

sentar aos ju i z e s que os re g is tr a v a m no " L i v r o dos homizia-

dos que a l i foram morar". As j u s t i ç a s não poderiam prende -

los nos l o c a i s onde es tiv e ss e m acoutados, exceto os que f 0£


038

sem culpados de h e r e s ia , traição, a le iv e , sodomia, morte de

propo si to, moeda f a l s a ou f a l s i f i c a d o r e s de e s c r i t u r a s ou

sinais r e a i s e ainda os que "raptarem ou desencaminharem mu

lheres de seus maridos e as terem consigo no c o ut o" . Presos

seriam também os que ferissem algum o f i c i a l da J u s t i ç a . 0

mesmo tT t u l o das Ordenações e s t a b e l e c i a que, além dos co^

tos e x i s t e n t e s no Reino, "mandamos que haja lu g a r nos que

se acoutarem a cada um dos lugares de A f r i c a ou c a p i t a n i a s

e terras do B r a s i l “ ( 22 ).

A intenção é c l a r a : aumentar a população de^

tes lugares p o s s i b i l i t a n d o , ao mesmo tempo, a exclusão dos

elementos i n d e s e j á v e i s do âmbito m e tr o p o l it a n o ; uma espécie

de limpeza do Reino, expulsando os " t i p o s abomináveis e sÕr

didos". No caso do B r a s i l , essa intenção foi oficializad a

pelo rei D. João I I I , 0 qual ordenou em 1[ 5 3‫ י‬que 0 degredo

de São Tomé se mudasse para 0 B r a s i l e, em 1549, que também

para 0 B r a s i l se t r a n s f e r i s s e 0 degredo da I l h a do P r í n c i p e

(23).

0 rei D. Jo ão, em 1534, atravé s de uma c a r t a

de p r i v i l é g i o s aos homiziados, estabe lece u que qualquer pe^

soa "de qualquer qualidade e condição que sejam que andarem

homiziados ou ausentes por quaisquer d e l i t o s que tenham co

metido não sendo por cada um destes quatro casos seguintes

a saber: heresia, traição, sodomia e moeda f a l s a que es tes

ta i s indo-se para 0 d i t o B r a s i l " não possam l ã s c r presos ,

acusados, nem demandados, cons trang idos, nem e xecutados ,por

nenhuma v i a . Os homiziados que na Colônia b r a s i l e i r a resi^

dissem por espaço dc 4 anos "cumpridos e acabados'' se qui^


039

zessem i r ao Reino "a negociar suas c o i s a s " poderiam fazê-

10, levando cer tid ão dos c a p it ã e s do n a tá ri o s . Esta c a r t a de

p r i v i l é g i o foi d i r i g i d a em 5 de outubro de 1534 para as ca

p i ta n i a s de Pedro Lopes de Sousa e para a c a p i t a n i a de Mar

t in Afonso de Sousa (24) e ainda , em 19 de março de 1536 ,

ao capitão Pero de Gois, da c a p i t a n i a de São Tomé que mais

tarde chamou-se Para íba do Sul (25).

0 rei D. S e b a s t i ã o , em 1577 , e st ab ele ceu ‫״‬tíue

as c a p it a n ia s do B r a s i l valessem como coutos aos homiziados

deste Reino" (26). Impôs, de r e s t o , 0 a l v a r á de 11 de dezem

bro de 1648, penas aos réus que se refugiassem em casas de

ministros e s t r a n g e i r o s , assim como aos que a es tes re co rr e ^

sem s o l i c i t a n d o be nep lác it o para a entrega dos criminosos a

colhidos. As Ordenações F i l i p i n a s ditam ainda que conquanto

alouns m a l f e i t o r e s , notoriamente culpados, andassem pelos

Reinos e, por serem chegados a alguns poderosos, as j u s t i ç a s

fizessem toda a d i l i g ê n c i a po ssíve l para saber os lugares

onde se achavam acoutados e 0 fizessem de maneira a prendi-

los. Para este e f e i t o , tendo informação bastante a Ju stiça

de achar-se algum delinquente "cm casa de alguma pessoa, de

qualquer qualidade e preeminência que s e j a , ora se ja Duque,

f'arquós. Conde. Arcebispo, B is p o, Prelado, Dom Abade, ou

P r i o r do mosteiro. Senhor de t e r r a s , ou f i d a l g o p r i n c i p a l " ,

poderia e n t r a r livremente em tal casa para buscar e prender

0 criminoso. Atendendo a que, por d e l i t o s cometidos, muitas

pessoas andavam f o r a g i d a s , ausentando-se para Reinos estraji

a e i r o s ; sendo de grande c on v e n i ê n c ia , e n t r e t a n t o , que f i c a ^

sem antes no Rrino e S e n ho r io , v sobretudo que se passassem


040

para as c a p i t a n i a s do B r a s i l , houve el Rei por bem d e c la r a -

la couto de homizio para todos os criminosos que nelas qui^

sessem v i r morar, ainda que j ã condenados por sentença at é

pena de morte, excetuados somente os nossos famosos e cit^

dos criminosos por h e r e s i a , traiçao , sodomia e moeda f a l s a .

No B r a s i l não seriam os homiziados inq ui et ad os por quai£

quer crimes; e passados quatro anos de r e s i d e n c i a na c a p i t a

nia, poderiam até i r ao Reino a t r a t a r seus n egoc io s, c 0£

tanto que levassem guia do Capitão e sob a condição de não

poderem i r nem a Co rt e, nem ao lu g a r onde houvessem cometi-

do 0 m a l e f í c i o , alem do mais, não poderiam demorar no Reino

mais de seis meses, sob pena de lhes não v a l e r 0 seguro.Vol_

tando ao B r a s i l e passados mais quatro anos, poderiam i r ou

t r a vez ao Reino, e assim su cessivamente, sempre com as me£

mas c ond içõ es (2 7).


04 ‫ו‬

NOTAS:

( ‫ ) ן‬Ordenações do Senhor Rei D. Afonso V, p . 244-246 e More

no. H.B. Elementos para 0 estudo dos coutos de homizia

dos i n s t i t u í d o s pela Co ro a. In : Portugaliae H i s t ó r i c a .

V o l . 11, Li sboa, 1974 , p . 18.

(2) Carta crô nic a do descobrimento do B r a s i l , escrita ao

rei D. Manuel, por Pero Vaz de Caminha, e s c r i v ã o da ar

mada de Pero Alv a re s Cabral. In: V ieira, D. Memori as

h istóricas b ra sileiras (1500-1837). Bahia^ O f f i c i n a s

dos Dois Mundos, 1903.

(3) Vi ei ra , D. op. cot. p . 66

(4) Idem, Id. loe. cit.

(5) Vasconcelos, M. de. A descoberta do B r a s i l , drama

(Bahia, 1900) p . 161. In; V ieira, D. op. c it. p . 65.

( 6 ) ‫ ז‬d e n1

(7) Homem de Melo, Vasco M. de A. 0 Degredo. Separata do

Boletim dos I n s t i t u t o s de c r i m i n o l o g i a. Impresso na

cadeia p e n i t e n c i á r i a de Li sb oa, 1940, p. 23.

(S) Bol et im do Conselho Ultrama rino. Lo g isl açà o Antiga.

Vol 1, págs. 3 e 5. In: Homem dr Moio, o p . c i t . p . 24

(9) Idem.

(10) Caetano, M. H i s t o r i a do D i r e i t o Português (1140-1495)

Li s h o a , E d i t o r a Verbo, 19P,5,p.?27.

(11) Idem, p.2 51 -2.

(12) ANTT. Ch ancelaria de D. D i n i s , livro 3, folha 61 verso

In: Mo re n0 , H.B. o p .cit. p.2 3.

(13) ANTT. Chanc ela ria de D. João I , l i v r o 4, f o l h a 19 ver-


SC.
042

(14) ANTT. Ch anc el ari a de D. Manuel, l i v r a 30, fo l h a 101.

(15) ANTT. Ch a n ce la r ia de D. J o i o III, livro 30, f o l h a 202,

ve r s o .

(16) F i g u e ir e d o , Jo sê A. de. Menjõria para dar uma i d e i a ju^

ta que eram as B e h e t r i a s , e em que d i f e r i a m dos coutos

e honras. In: Memorias da L i t e r a t u r a Portuguesa p u b l i »

cadas pela Academia Real das S c i e n c i a s de L i s b o a , Vol.

I , Li sboa , 1792 , p .65 .

(17) ANTT. In q u i s i ç ã o de Coimbra, processo 64.

(18) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra, processo 4732.

(19) ANTT. In q u i s i ç ã o de L i s b o a , processo 3475.

(20) Ordenações do Senhor Rei D. Manuel, L i v r o V. Coimbra,

1797, pãgs. 173-174.

(21) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, op. cit. Título CIV:

"Que os prelados e f i d a l g o s não acoutem m a l f e i t o r e s em

seus coutos, honras, b a i r r o s ou casas e os devedores

se acolhem a e l a s " .

(22) Idem, L i v r o V, T í t u l o C C X X I I I .

(23) A lv a r ã de 31 . 5 . 1535 e A lv a r a de 5.10.1 549. In: Documen-

tos para a H i s t ó r i a do A ç ú c a r , o p . c i t . p . 25 e 95 respec

t i vãmente.

(24) ANTT. Ch an ce la ri a de D. João I I I . Doações. In: P a u l i ceae

L u si tan a Monumenta H i s t ó r i c a . Vol.I (1494-1600), P a r t e s .

V‫ ־‬V I I I . Organizado e p r e f a c i a d o por Jaime Cortesão, lis

boa. P ub li c a ç õ e s do Real Gabinete Português de L e i t u r a

do Rio de J a n e i r o , 1956. p . 311-313.

(25) ANTT. C h an ce la ria de D. João I I I . L i v r o 22, p . 142.


043

(26) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o 5, T í t u l o C X X I I I .

(27) F e r r e i r a , W. As Ca pi ta ni as C o l o n ia is de ju ro e herdade

São P au lo , E d i t o r a S a r a i v a , 1962. p . 120-22.


044

2.3 O degredo no prtnjetro re cu lo da co lontzaçSo

A dldado, dz p a l k o ç a s , que aoó pouco¿ S í tKanó^oAjnava,


tA.an¿b0A.dand0 de ma/io¿, moKKo abcUxo e ao tongo
dos caminhos paKo. o JintzhJioH . nao d i s t a n t e , com s e K p£
voação g l a n d e e ^o^t e, m ostrava, oa a n t e s , não enc£
bnJ.a o ¿ e i o aspecto de am ¿ a g a A de deg^.edo, que de ¿a
to o en.a, tão avultado na s a a p o p u l a ç ã o o contingente
dos s e n t e n c i a d o s , [ 1‫ל‬

Quando os portugueses tinham duvida sobre a

h o s p i t a li d a d e dos h a b i t a n t e s de alguma t e r r a desconhecida,

faziam primeiro desembarcar um degredado; caso fosse e le

bem re cebido, otimo, s e r i a e ste um grande passo a frente

no conhecimento, amizade e conquista dos n a t i v o s . Caso f 0£

se "assado em fogo lento'i ou morto a f l e x a d a s , pa c iê nc ia ,u m

criminoso a menos.' Assim 0 fez Pedro A l v a r e s Cabral em

1500, ao de ix ar dois degredados na t e r r a de Santa Cruz, a£

tes de p a r t i r em di re çã o as I n d i a s .

Náufragos também deram a c ost a da imensa ter

ra onde Portugal f i n c a r a a c r u z , símbolo da tomada de p0£

se e da int e n cio na da conquista e s p i r i t u a l dos n a t i v o s , e

nela souberam se adaptar em co ntato com os indígenas tor

nando‫ ־‬se ú t e i s e estimados pelo r e i de P o r t u g a l . í 0 caso

de Diogo A l v a r e s , 0 "Caramuru", que na Bah ia tanto s e r v i ç o

prestou ao d o na ta rio F r a n c is c o P e r e i r a Coutinho e que, a

pedido do prÕprio r e i D. J o i o III, muito a u x i l i o u na i n s t ^

lação do governo de Toroe de Souza em 1549 ( 2 ) ,


C45

Quen nunca ouviu f a l a r do conhecidTssimo Joio

Ramalho que a h i s t o r i o g r a f i a colonial tanto d i s c u t i u se foi

ele um náufrago ou degredado? E 0 c e l e b re bacharel de Cana-

n éia , que "h av ia 30 anos que estava degredado nesta t e r r a " ,

quando Martinho Afonso 0 encontrou Junto a I l h a do Bom Abri^

go, a Cananéia de Pero Lopes, em 1531? ( 3 ) . São todos e le s

personagens circundados de mil fatos, ver d ad ei ro s ou lendã-

rios, i s t o nio importa, pois não i n v a l i d a absolutamente a

existência desses primeiros degredados ou náufragos is olada

mente chegados no B r a s i l , ou desses de se rto re s ou aventurej[

ros que aqui geraram os pri meiro s mamelucos da t e r r a : 0 f^

lho do p i l o t o João Lopes de Ca rvalho, por e l e levado na ex

pedição de Fernão de Magalhães, em 1519; as f i l h a s do Cara-

muru, casadas por Martim Afonso de Sousa, em 1534; a deseen

dência numerosa de João Ramalho, aproximada dos j e s u í t a s por

ocasião da fundação de São Paulo e, ainda, a f a m i l i a mesti-

ça de Jerónimo de Albuquerque que, pela sua capacidade pro

genitora, foi chamado de o "Adão pernambucano".

Dessa gcnt c, dedicamos e s p e ci a l atenção aos

degredados que Portugal enviou ao B r a s i l para expurgar a Me

t)'5pole de seus elemrnlos i n d e s e j á v e i s e c o n t r ib u i n d o , ao

mesmo tempo, para povoar n recem-descoberla t e r r a , imensa e

mi s t e )' i 0 s a .

Não é p('10 número elevado do degredados que

se torna necessário este estudo, mas 0 f a t o de que 0 Reino

escolheu 0 B r a s i l , juntamente com outras possessões ultram^

rinas, como l o c a l p r i v i l e g i a d o para f u n c io n a r como deposito

rios criminosos do Reino, mrsmo se i sabido que as ordenações^


046

em v i g o r 3‫ ח‬época da c olo niz ação da Nova L u s í t a n t a , c a s t i -

gavam com 0 degredo crimes v a r i o s , muitos dos quais não

têm, nos mo'dernos códigos pe n a i s, nenhuma pena q u a l i f i c a d a .

Muito se f a l a dos degredados como salsugem

e ralé social vindos do Reino para c o n t r i b u i r para 0 povoa

mento da nova c o l ô n i a ; nossa h i s t o r i o g r a f i a e s tã impregna-

da de a n á l i s e s d e t e r m i n i s t a s e equivocadas que procuram ex

p l i c a r uma i n f e l i z trajetó ria nac ional pelo f a t o de t e r con

vergido para 0 B r a s i l , segundo Paulo Prado, "toda escuma

turva das velh as c i v i l i z a ç õ e s . . . povo gafado do germe da

decadênc i a . . ." (4).

Fal a- se em 400 que de uma sõ vez vieram com

Tomé de Souza em 1549 ( 5 ) , multidão em que estavam conti_

dos seguramente muitos elementos i r r e g e n e r ã v e i s , mas que,

sem dúvida, e i s t o devemos lem brar, aqui chegaram condena-

dos a degredo por culpas l e v e s , por motivos banais que

não atingiam a i n t e g r i d a d e moral dos condenados e nem lhes

tolhiam suas qu al id a de s. Eram se ntenciados sobretudo por

crimes contra a moral e cont ra os p r i n c í p i o s religiosos es

t a be le c id os pela I g r e j a c a t ó l i c a , sem esquecer aqueles cri_

mes contra a i n t e g r i d a d e da pessoa, da verdade e s t a b e l e c i -

da na época e da r e s i s t ê n c i a a ação da J u s t i ç a .

Os degredados eram embarcados no Reino nas

c a r a v e l a s que vinham ao B r a s i l , as vezes em numero que ex

cedia 0 da t r i p u l a ç ã o , podendo, quem sabe, em alguma opor-

tunidade, dominarem os t r i p u l a n t e s e apossarem-se do bar

CO. Por i s s o , Duarte Coelho em 1546, pre oc upa d! s s imo, es^

creveu a El Re i informando-lhe que "achamos menos do is na


047

v io s , que por trazerem muitos degredados estão desapareci-

dos" (6).^
Ser degredado para 0 B r a s i l não e q u i v a l i a ne

c e s s a r i ámente a ser criminoso no sentido das i d é i a s moder

nas. Punia-se com a deportação d e l i t o s não infamantes e até

simples ofensas cometidas por gente considerada até então

de boa reputação ( 7 ) . Não hã fundamentos nem motivos para

duvidar de que alguns degredados fossem gente sã, "degreda-

dos pelas r i d i c u l a r i a s por que então se exilavam súdi tos ,

dos melhores, do Reino para os ermos" (8).

Os d e l i t o s eram os mais v a r i a d o s : por usar

de f e i t i ç a r i a para querer bem ou mal; por a l c o v i t i c e , mol ‫־ ו‬

cie e sodomia; por ser c r i s t ã o novo; por muitos crimes mT^

t i c o s ou imaginãrios como 0 de sc re r de Deus ou t e r v is õ e s

sobr ena tura is. As Ordenações do Reino a p l i c á v e i s ao Brasil

eram de tal modo r í g i d a s e muitas vezes absurdas que nin

gucm lhes escapava; pequenas f a l t a s eram a l i lidas por cr2

mes graves e a f ra s e "morra por e l l o " era a sentença comum

dc muitos d e l i t o s (9).

Não e x i s t i a » n a legislação crim inal, cõdigo

tao srvíM‫־‬o comparável ao L i v r o 6 das Ordenações Manuelinas;

cerca de 200 d e l i t o s eram nele pun íve is com 0 degredo, 0

que levou 0 Barão Homem de Melo a comentar "0 que nos deve

a justo t i t u l o admirar e que a nação i n t e i r a não fosse de

gredada cm massa" ( 10 ).

Aprender a ITngua dos n a t i v o s , a fim de se

rem aproveitados como i n t é r p r e t e s , f o i a missão p r i m e i r a que

coube ftos primeiros povoadores forçados no B r a s i l e isto


048

cumpriranj-na desde os que "deixou Pedro A lv a r e s a l T . . . um

dos quais ve io depois a este Reino e s e r v i a de iTngua na

quelas p a r te s" (11). Assim, da fr e q u ê n c i a da navegação,re

sultaram os primeiros deste rrad os e náufragos que Martim

Afonso e Pero Lopes encontraram j ã em franco c o n v í v i o com

os a b o r i g i n e s . As armadas da Asta que t r a n s i t a r a m por ma

res americanos h a v e r i a também abandonado no l i t o r a l al_

guns d e s te r r a d o s , a semelhança do que acontecera com a de

Cabral. Id en ti c am e nt e, teria acontecido com a Armada de

1501 e a expedição comercial de 1503 ( 1 2 ) .

Para as c a p i t a n i a s h ereditárias, afluTram

degredados de toda e s p é c i e . F i d a lg o s como D. Jo rg e de Me-

neses e D. Simão de Castelo Branco, homens de "mor q u a l i -

dade" que, na companhia de Vasco Fernandes, vieram de P 0£

tugal para 0 E s p í r i t o Santo, onde morreram em combate com

os indígenas (15), ou pessoas de "mi q u a l i d a d e " , como a

que proporcionou os ené rgi co s pr o te s to s do d o n a t a r i o Duar

te Coelho, 0 qual queixou-se demoradamente deles na c a r t a

a El Rei, de 20 de dezembro de 1546, detalhando que os de

gredados que "de t r ê s anos para ca me mandam" não eram co

lonos e s t i v e i s , mas m a l f e i t o r e s "que nenhum f r u t o nem bem

fazem na t e r r a , mas muito mal e dano", p a r t i c u l a r m e n t e nas

rela çõe s com os in d íg e n a s. Não eram os colonos que se de

v ia d e s e j a r , pois "nao são para nenhum t r a b a lh o e vem po

bres e nus" e que v iv i a m a imaginar "suas manhas" e proje

t a r suas fugas. Duarte Coelho, apesar da dureza de seu

comportamento, não conseguia recuperã-^1 os "porque 0 que

Deus nem a natureza remedtou, como eu 0 posso r e m e d i a r ? " .


C49

O donatario não duvidava em pe d ir e s u p l i c a r ao re i que “ pe

10 amor deDeus, que tal peçonha por aqui não me mande" ,

pois causavam antes m a l e f í c i o s 'a boa obra i n i c i a d a da colo-

nização do que lhes s e r v i a de c o r r e t i v o 0 degredo ( 14 ).

Numa época em que Il h é u s e Porto Seguro não

tinham mais que 300 h a b i ta n t e s (15), tão r e p r e s e n t a t i v a che

gou a ser a proporção de degredados nas c a p i t a n i a s h e r e d i tã

r i a s que, em 1549, em sua viagem de inspeção ao s u l , teve

0 Ouvidor Geral Pero Borges que d e te rm in a r, em Porto Seguro^

E s p í r i t o Santo e São V i c e n t e , que nenhum degredado pudesse

s e r v i r nos ofTc ios da pró pr ia J u s t i ç a ( 1 6 ).

Com a c r i a ç ã o do Governo Geral também em 1549,

tornaram-se re gu la re s essas remessas de degredados para 0

Brasil. Gabriel Soares de Sousa, no seu Tratado d e s c r i t i v o

do Bras i ‫ ו‬de 1587 , dirã que "Sua Alteza mandava cada ano

em socorro desta cidade (Bahia) uma armada com degredados ,

moças órfãs e muita fa 2 0 nda . .. " (17 ) .

Jã nos referimos ao quatrocentos que vieram

com Tomé de Sousa, provavelmente a maior leva r e g is tr a d a . E ra

composta certamente pelos a r t í f i c e s e mecânicos de que ta n ‫־‬

10 n ec es sit ava a nova t e r r a nos seus pri meiro s anos de colo

nização.

Mesmo sendo degredados não eram os colonos

impedidos de serem ap rov eit ad os para os s e r v i ç o s da admini^

tração ou para outras u t i l i d a d e s emergentes. Nõbrcga faz

alusão a ‫ ״‬um mancebo gramático de Coimbra que cã veio degre

dado" (18).
C50

Duarte da Costa, ao c o n t r a r i o de Duarte C0£

lho , mostrava-se mais pa c ie n t e com r e l a ç S o aos d e s te rr a d o s .

Sua correspondência de 1555 e v i d e n c i a sua t o l e r â n c i a com

r e la ç ã o a e l e s , "porque t e r r a tão nova como esta e tão min

guada de co is as n e c e s s ã r i a s e digna de muitos perdões e

mercês". E verdade, e n t r e t a n t o , que nem todos os governado

res manifestaram essa condescendência com os degredados que

Portugal odiava e que a Co l ô n ia , por sua vez, rejeitava.

Mem de S i , por exemplo, em 1560 escrevendo do Rio de Janei_

ro a D. S e b a s t i ã o , a d v e r t i u ao Rei que "deve-se Vossa A lt e

2 a lembrar que povoa esta t e r r a de degredados e m a l f e i t o -

res que os mais deles merecem a morte, e não tem outro ofT

cio senão u r d i r males" (20). 0 padre NÕbrega, emc a r t a es

crita ao padre Simão Rod rigues, datada da Bahia em 09 de

agosto de 1549, pediu que " t r a b a l h e Vossa Reverendíssima

por virem a es ta t e r r a pessoas casadas, porque c e r t o ê mal

empregada es ta t e r r a de degredados, porque cã fazem muito

mal, e j a que cã viessem havia de ser para andarem a f e r r o -

lhados nas obras de sua a l t e z a " (21). Em ou tra c a r t a , d e s t a

vez ao padre L o i o l a , r e l a t o u que "a causa porque nestes Tn

dios, de toda e st a costa onde habitam portugueses, se f a r ã

pouco f r u t o ao p r e s e n t e , é porque estão indómitos e a esta

t e r r a não vieram atê agora senão de st e rr a do s da mais v i l e

perver sa gente do Reino" (22).

Pelo v i s t o , não gozavam de boa reputação es

ses nossos degredados. Em 1761, a uroa d i s t a n c i a de dois se

culos de NÕbrega, Jaboatao r e f e r i u - s e a e l e s como " boa dro

ga, ou semente para n o v a í fundaçõe$, e de que nasceram nes


05 ‫ו‬

tas conquistas os p r i n c i p a i s e maiores abortos de v T c i o s , e ^

cándalos e desordens" (2 3) .

í e vi d e n te que, entre os degredados que no

B rasil aportararo, podiam-se en co nt rar elementos de natureza

in co rrig íve l, temTyeis criminosos e m a l f e i t o r e s do Reino que

aqui encontraram espaço para co nt in ua r e a p e r f e i ç o a r suas

p r a t i c a s d e l i n q u e n t e s ; mas e evide nt e tambem que nem todos

os d e l i t o s eram a g ra va n te s, podendo muitos deles serem expul^

sos da Metrõpole por razões i n s i g n i f i c a n t e s e que aqui,quem

sabe, tornaram-se homens c o n s tr u t o re s da nova Colôn ia. Brari

dônio f a l a dos degredados que se tornaram r i c o s e cujos fi^

lhos despiram a pele v e l h a : ‫ ־‬B^andÔnZo: H a v e ¿ ¿ de. Aabe^ que


0 Bf iaò iZ c p ^aça do mundo, 0 c não ¿azemo¿ agàavo a algum
A.c¿no ou cÁdade em l h e daA.mo¿ t a l nome; e, juótam ente, aca
dcmia p ã b i Á c a , aonde ¿ e aprende com mu^ta ¿ a c ¿ ¿ ¿ dade t o d a a
pel'Teia, bem modo de {^aían, honrado¿ te\m06 dc c o ^ t e 0 ¿ a , 0a
bc*1 ní'ç\ocian c oaifioò a t 1( bu tos dcòta quaí'¿dade. - A lv ¿ a
no: ^òòo d e v i a de òcK pe Cv cun t\á f1¿ 0, poió òabemoò que.
o 0 C povoou pnÃmc ■xamcntv pon degKvdadoó e gente de
mau vivc*1, e, peío ccmó cíjím ii í 1‫ ׳‬, poucu p o i'¿ ^ 4.c a; po¿¿ baóta-
va canccc\cm de n o b l e z a pana i'hcó {^attax a p o l í c i a . - Efian-
d 7' n i o : N1Á00 não hã d ã v 4.da. dcvc .¿6 de ¿a b en que eòòeò
povoadonc !i, que p n i m e i n a m v n i c v i e i a m a pav ea n o Bna¿<£, a
poucos iançuò, pela l a n g u r za da (en na, dcnam cm 0 cn nic0ó,e
com a n iq u cz a ¿onam Mangando de s i a nulm nat ¡me z a ,de que
a 0 nc CC.0 S Í dadcó e p o b n c z a 5 que padec¿am »10 nein o o¿ ¿az¿a
ui^an. E os ¿i(lio¿ do 6 i a i b , jã entronizados com a mc6 ma n.¿
queza c tii’ v'CMiio da t v n n a , de0pi\am a p e l e v el ’ha, como cobn.a
usando cm tudo de lio n na d Js si m o s (enmos, com se a j u n t a n a
i s to c havcnem v in d o dcpois a es te E s t a d o mui toó outnoó Iw
mens n o h i l X ò s i m o ¿ c fid a lg o s, cs q u a ¿ ¿ casanam n e l e c ¿e
Cianam cw panc11te¿co com os da t e í n a , cm $cnma que ¿ e hã
^c¿ to cntn.c t o d o¿ urna m ¿ ¿ t u n a de sangtic a s s a r no b^e , . . I 2 4 ) .
052

JH nos referimos a uro manuscrito de 1610, o


qual chama João P a i s , o mais r i c o senhor de engenho da epo
ca, "degredado de P o r t u g a l ” ( 2 5 ) . Master Thomas Turner ,
” Who l i v e d the best part of two yee rs in B r a z i l ” , r e g i s t r a
a e x i s t e n c i a aqui de um potentado com dez mil escravos e
dezoito engenhos; " h i s name i s John P a i s , e)tiled out of
P o r t u g a l , and here prospering to t h i s i n c r e d i b i 1i t i e of
wealth (26).

"kc.Kc.0 c.ia, ain da, 0 ^ato dc te.K ¿¿do 0 Zfiaòlt dzclaA.ado l u


gaA. dz dzgfiido, e do pioK g^au, paKa cKiminotoó do K z in o ",
[27] .

0 Regimento do Governador Geral do B r a s i l ,


Tomé de Sousa, de 17 de dezembro de 1548, e s t a b e le c e u , en
t r e outras d e c is õ e s, que as pessoas ‫ ״‬não poderão passar de
uma c a p i t a n i a à outra sem l i c e n ç a dos c a p i t ã e s d o n a tá ri o s ",
Tais l ic e n ç a s eram exclusas para os degredados pois ” estes
estarão sempre nas c a p i t a n i a s donde forem desembarcar quan
do destes Reinos forem levados sem poderem passar daT para
outras c a p i t a n i a s " (28). Admite E l ‫ ־‬R e i , neste documento ,
a c e i t a r alguns degredados que "nas d i t a s partes do B r a s i l
me servirem em navios da Armada ou na t e r r a em qualquer ou
t r a coisa de meu s e r v i ç o " e podiam ser os delinquentes h^
bilitados para trabalharem nos o f í c i o s da j u s t i ç a e fazen-
da, desde que não tenham sido degredados por f u r t o s ou fal^
sidades (29).
A lei de 3 de novembro de 1571 sobre as re
gras da navegação do Reino, punia, com penas p e c un iá ria s e
degredo para 0 B r a s i l , todos os mestres de qualquer navio
que partissem do Reino sem l e v a r despachos e c e r t i d õ e s pa
ra serem apresentados nos portos para onde houvessem de
chegar ( 3 0 ) ; e, de acordo com 0 Regimento dc 8 de março de
1589, muitos eram os degredados do Reino que iam para 0
Brasil e por i ss o cabia ao Governador Geral e s t a b e l e c e r os
lugares de degredo nas p a r te s da Colônia onde melhor fo^
sem empregados para 0 s e r v i ç o do Rei e, se os rêus traba ‫״‬
lhassem ao ponto de merecer 0 perdão r e a l , poderiam ser
053

a c e i t o s nos o f i c i o s da adn)ini s t r a ç a o , desde que não fossem

sentenciados por motivos de f a l s i d a d e "ou d e l i t o s de ruim

exempl 0 " ( 3 1 ) . Muito antes desta decisão r e g i a , Pedro Bor

ges, at ra v é s de uma c a r t a e s c r i t a a E l - R e i , no dia 7 de fe

v e r e i r o de 1550, reclama que, em Porto Seguro, por nao ha

ver homens para serem juTzes o r d i n a r i o s nem v e r e a d o r e s , "ne^

tes o f i c i o s metiam degredados por culpas de muita infamia

e desorelhados e faziam outras co isas muito fora de vosso

s e r v i ç o e de ra zã o". S u p l i c a ã corte que "ponham por ouvi-

dores, homens entendidos e se coíba o abuso de nomear de

gradados para v er e a d o re s" . Pedro de Borges havia sido man

dado com Pero de Gois em socorro dos I l h e u s , onde F r a n c is -

co Romero estava de c ap it ão e o u vid or ; na sua c a r t a , afir

ma que não consente "que nenhum degredado s i r v a nenhum ofT

cio e mando que não haja j u i z dos 5rfãos nem e s c r i v ã e s " ,

porque as c a p i t a n i a s de Il h éu s e Porto Seguro não tinham 0

d ireito a um juTz dos órfãos por nao chegarem a trez ent os

os h ab it a nt es das duas v i l a s (32).

0 a l v a r ã de 30 de junho de 1567, 0 qual

p r o i b i a aos c r i s t ã o s novos saírem do Reino pelo mar, punia

aos i n f r a t o r e s com a perda t o t a l de seus bens, ficand o " a

metade para a Câmara do d i t o senhor, e outra metade para

quem 0 acu sasse, e fosse degredado por 5 anos para 0 Bra

s i l " ( 3 3 ).

Os r e i n o e s , que na co lô ni a v i v i a m , podiam

s e r degredados para f o ra do t e r r i t o r i o b rasile iro , desde

que não cumprissem as ordens e s t a b e l e c i d a s pelos f o r a i s ,

c a r t a s de doações e regimentos concedidos aos governadores


C54

gerais. Criminosos ‫ ״‬de qualquer qualidade terao alç ada de

0‫ו‬ anos de degredo e ate cera cruzados de pena sem apelação

nem agravo" (34) e perda de todos os bens, alem de degredo

perpetuo para a i l h a de São Tome, para aqueles que comer

ciarem 0 pau b r a s i l que "p er te n ce ra a mim e serã tudo sem

pre meu" - determina 0 re i D. João na c a r t a de f o r a l de 24

de jul h o de 1534 da c a p i t a n i a de Pernambuco (35) e 0 f o r a l

da c a p i t a n i a de Pero Lopes de Sousa, de 6 de outubro de

1534 (36 ).

As penalidades de degredo para 0 B r a s i l con

tinuam nos v á r i o s documentos l e g i s l a t i v o s do sêculo XVI.

Era n ec es sá r io co nstranger os l u s i t a n o s a viverem na colô-

n i a , mas 0 Governador Geral do B r a s i l , Mem de SS, não pare

ci a lã muito entusiasmado com a e x p e r iê n c i a pois do Rio de

Janeiro, em 31 de março de 1660, escreveu a E l- R e i dando

conta do que se passava nas c a p i t a n i a s da B a h ia , Ilhéus,E^

pT ri to Santo e São V ic e n t e . Declarou a in c o n v e n i ê n c ia da

vinda dos degredados e, apõs r e l a t a r que mandou c o n s t r u i r ,

em cada v i l a um pelourinho com tronco para "mostrar que

tem tudo 0 que os c r i s t ã o s tem e para 0 meirinho meter os

moços no tronco quando fogem da escola e para outros casos

leves", lamentou que no B r a s i l muitos dos colonos eram "de

gredados m a l f e i t o r e s " que nao faziam senão s u s c i t a r 0 mal

( 37).

Alem do numero r e s t r i t o dos h ab it a n t es que

na Colônia v i v i a m , muitos de les eram degredados, os quais

necessariamente os administ rad or es deveriam co n t ar para os

serviços r e a is . Da c a r t a que escreveu Pedro de Goes a El -


C55

Rei, informando-o de como p e l e j a r a com um galeão fr an c ês e

quanto d i f í c i l f o i por causa da f a l t a de gente para comb^

ter, p o i s ’ c a r e c i a de " b‫זט‬nbardei ros para fazerem t i r o s nes

ta p e l e j a na baTa de Cabo F r i o " , r e l a t a que, na sua armada,

não havia mais que t r ê s bombardeiros em cada c a r a v e l a e

dois no bergantim, alem de alguns "apr end ize s que não sa

biam nada, nem nunca entraram no mar" e que tão poucas eram

as pessoas, que não t in h a quem pudesse remar e "ainda que

0 governador da baía me quisesse d a r, não a tinha porque

e le f i c a r a sõ entr e degredados sem t e r ninguém consigo se

não os de sua casa" ( 3 8 ). A única solução s e r i a ob ter per

dão para os degredados; e foi 0 que pro videnciou Duarte da

Costa no dia 3 de a b r i l de 1555, quando, a t r a v é s de uma

carta, pediu ao Rei que mandasse " p r o v is ã o aos Governadores

para poderem vender degredos aos homens que aqui forem de

gredados de uma c a p i t a n i a para outra ou para as obras ou

para os b e r g a n t i n s “ e que 0 Rei acolha 0 pedido de comutar

os degredos e perdoar algumas pessoas a não irem cumprir

suas penas, pagando em d i n h e i r o ao h o s p i t a l de Nossa Senho

ra das Candeas da cidade da B a h i a , "porque e muito pobre e

tem muitas n ec e s si d a d e s, porque se curam nele todos os en

fermos assim os que adoecem na t e r r a como os que vem nos

n a v io s " (39).

Na B a h i a , em 1555, foi preso um homem chama

do S e b a s t i ã o d ' E l v a s por t e r f e i t o um f u r t o a um despencei^

ro de Tome de Sousa, S e b as ti ã o j ã v i e r a degredado do Reino

por t e r cometido em Portugal um outro roubo e, no B r a s i l ,

0 Ouvidor Geral 0 condenou a açoutes e a se r desorelhado ,


056

mas o réu fugiu da cadeia e acoutou-se no c o l e g i o dos padres

jesuítas. De I S , mandou d i z e r a Duarte da Costa que queria

casar-se com "uma moça õ r f a , c r ia d a das o r f a s " que vieram na

companhia de Duarte da Costa. 0 Governador deu-lhe a u t o r i z a -

ção para 0 casamento e escreveu ao Rei pedindo perdão do de

gredo de S e b a s ti ã o d ' E l v a s (4 0 ). Nesta mesma c a r t a , 0 Gover-

nador Duarte da Costa pediu ainda m i s e r i c ó r d i a para outros

dois degredados; um de nome Jacome P i n h e i r o , que tin h a sido

morador em São Vice nt e e f o ra condenado em degredo perpétuo

para os be rga nt ins por t e r matado sua mulher, "uma moça mame

luca". Cumprindo seu degredo, Jacome fugiu da embarcação e

for a buscar proteção na i g r e j a de Jesus "e os padres da Com

panhia 0 casaram com uma moça f i l h a de um Tndio da t e r r a "

Por " e s t a obra de m i s e r i c ó r d i a " , supl icaram ao Governador

"que pedisse a Vossa Alt eza que lhe perdoasse 0 d i t o degredo"^

pois em " t e r r a tão nova como esta e tão minguada de co isas

n e c e s s á r i a s " era in d is p e n sá ve l c o n t ar com 0 tr a b a lh o dos de

gredados (41). 0 outro degredado era 0 p e d rei ro Nuno Garcia

que v i e r a para a Bahia por t e r matado um homem. Seu degredo

foi e s t i p u l a d o em 11 anos e tendo j á se rv id o 0 primeir o ano,

os padres j e s u í t a s fizer am um acordo com 0 condenado: este

s e rviria sem soldo durante 5 anos nas obras da Companhia de

Jesu s e, era t r o c a , r e c e b e r i a 0 perdão dos outros 5 anos (4 2 ).

Apesar do descontentamento dos governadores, os degredados

eram n e c e s s á r i o s para 0 povoamento da c o l o n i a ; em uma carta

dos o f i c i a i s da Camara de SSo Paulo d i r i g i d a a Dona Ca ta r i na,

datada de 2Q de maio de 1561, dava-se conta da guerra entr e

os povos da c a p i t a n i a e os ?ndros v i z i n h o s ajudados pelos


057

franceses. Os o f i c i a i s pediram a Rainha que mandasse para a

vila de Sao Paulo de P i r a t i n i n g a na c a p i t a n i a de São Vicen-

te, "os degredados que não sejam l a d r õ e s ' ' , para que possam

ser " t r a z i d o s a esta v i l a para ajudarem a povoar, porque

hi aqui muitas mulheres da t e r r a m e s t i ç a s , com quem casarão

e povoarão a t e r r a " (43).

Havia sempre necessidade de mão-de-obra e ê

i s t o que 0 a l v a r ã de 13 de dezembro de 1590 o b j e t i v a v a ao

determinar que se entreguem a Gabriel Soares de Sousa, cap2

t ã o ‫ ־‬mor e governador daConquista e descobrimento do Rio

São F r a n c i s c o , que embarquem de Po rtugal todos os galeões

que sejam m i n e i ro s , fu n di do re s, a r t i l h e i r o s , polvoristas e

de todos os outros o f í c i o s mecânicos. El-Rei, neste a l v a r ã ,

pede para "saber entre os degredados portugueses que hã nas

galés, os o f i c i a i s que nelas hã, assim mecânicos de toda a

sorte de o f i c i o s como a r t í f i c e s e o ficiais das a r t e s e ofT

cios acima r e f e r i d o s e todos os f a r e i s embarcar e e n t r e g a r ,

ao d i t o Gabriel Soares ou a pessoa que e l e ordenar para irem

s e r v i r seus degredos na d i t a Conquista" (44). Neste mesmo

dia ê emitido outro a l v a r ã que concedia perdão a ... quaC_

p c ò s c a qiw ( 0 ‫ ׳‬í <v ‫!•'(־‬ condenada cm dcc]\cdo p a i a aCqunta ou

t *la pa*1tc c poòòa < *‫ז‬ na di ta Ccnqu- i òt a (‫״‬ cem cc'1ti_

dãc dc d i t o G a b i i c i Soa*tci dc S o t u a ou dc‫־‬ quem ^Miccdc^ cm

scti i’ l i g a i dc que como a faC pcs òoa òcwàu na d i t a J c \ n a d a 0

( cmpp que t i n h a dc í/r<


1* ‫ן‬ (he òe *1ã l e v a d o em c e n i a c (he

mandaiei d cíc aívana de pendão ... ( 43).


058

NOTAS

(1) Sampaio. T. H i s t S r i a da fundação da cidade do Salva do r

Bah ia, 1949,p . 215

(2) Sousa, Pero Lopes de. D i S r i o de Navegação 1530-1532.

Primeira edição comentada pelo comandante Eugenio de

Castro. Vol. I, p . 153 Visconde do Porto Seguro. His-

toria Geral do B r a s i l . Vol. !,q uarta edição,p. 249 e 297 .

Frei Vicente do S a l v a d o r . H i s t o r i a do B r a s i l (1.500‫־‬

1627) São Paulo; edição 1918, p . 150.

(3) D i a r i o de Navegação de Pero Lopes de Sousa de 17.08.1 531 ,

op. c i t . p.391

(4) Prado, P. Retrato do B r a s i 1 . S. Paul 0 : 1brasa , 1981,p . 25.

Souza, Laura de M e. 0 diabo e a t e r r a de Santa Cruz

São Paulo. Companhia das L e t r a s , 1986. p . 81.

(5) /íbreu, C. de. Ca pít ulo s de H i s t ó r i a C01 oni al . Li v r a r i a

Bri gui e t , 1954 , p .105 .

Calman, P. M i s t S r i a da Fundação da B a h i a . Sal vado r ; p 1^

b l ic a ç ão do Museu do Estado, n . 9,1949, p . 130.

Sampaio, T. o p . c i t . p . 172.

(6 ) Mello, J . A , Albuquerque e X a v i e r C. de. Cartas de Duar-

te Coeiho a E l - R e i . R e c i f e , Universidade Federal de

Pernambuco/Imprensa U n i v e r s i t á r i a , 1967, p . 19.

(7) Viana, 0. 0 movimento da Ind epen dê ncia, 0 imperio bra-

sile iro (1821-1889). São P aulo, Melhoramentos,p.29.

(8 ) F r e y r e , G. Casa grande e senzala 25a. edi ção . Rio de

Janeiro, Oosê Olympic, 1987, p. 19 e 20.

(9 ) Viana, H. Estudos de H i s t o r i a c o l o n i a l . São Paulo,

Companhia Editorial Nacional, 1948 p.45.


059

(10) Idem, p . 46

(11) B a r r o s , J. A s t a , Dec. I, L i v r o V, cap. II, apud Rodol^

fo Garcia em nota a H i s t 8 r ‫־‬ia Gera! do B r a s i l , Vol . I,

pig. 78 e Dan)iao de Gois. Crónica a El R e i , parte pri_

meira. cap. 5, apud Carlos Ma lhe iro Dia s, v o l . I I , pag

XVII. Arabos c it a d o s por H e l io V ia n a , op. cit. p . 47.

(12) Dias. C.M. H i s t o r i a da Colonização portuguesa do

B r a s i 1 , Vol. III. Porto; L i t o g r a f ia Nacional, 1923.

p. X V III.

(13) Varnhagem, F.A. H istoria Geral do B r a s i l , V o l . I ,

São P a u lo , Ita tia ia , 1981. p . 207.

(14) Mello, J.A . Albuquerque e X a v i e r C . , o p . c i t . p . 86.

(15) Carta de Pedro Borges e s c r i t a de Porto Seguro a D.

João I I I em 7.2.1550. In : Dias, C.M. H i s t o r i a da Co

Io ni za ç ão Po rtuguesa, o p . c i t . p . 267

(16) Vi ana, H. o p . c i t . p . 47

(17) Sousa, G.S. de. Tratado d e s c r i t i v o do B r a s i l em 1587

São P a u lo , Companhia E d i t o r i a l Nacional, 1938, p . 130.

(18) Le ite, S. H istoria da Companhia de Je su s no B r a s i l ,

V o l. I , Lisboa; 1938. p . 86 e 253.

(19) Dias,C.M. H i s t o r i a da Colonização Portuguesa no Bra

s i l , o p .cit. Vol. Ill, p . 372.

(20) Anais da B i b l i o t e c a N a c i o n a l , Rio de J a n e i r o , Vol.

X X X V I I , 1905, p. 229.

(21) Leite, S. Cartas do B r a s i l e mais e s c r i t o s de padre

Manuel da Nobrega. Acta U n i v e r s i t a t i s Conimbrigenses.

Coimbra; Un i ve rs i d a d e de Coimbra, 1955, p . 29, c a r t a

de 09[.08. 1549.
060

(22) Idem, p . 192

(23) Carneiro. E. A Cidade do Sa lv a do r - 1549; uma re co n sti

tuição h i s t ó r i c a . Rio de J a n e i r o , C ivilização B ra sile s

r a , 1980, p.79.

(24) Brandão, A.F. Diálogos da grandeza do B r a s i l . Imprensa

Universitaria, Recife, 1962, p.512.

(25) Documentos para a H i s t 5 r i a do A ç ú c a r, o p . c i t . p.XV.

(26) Mello, J . A . Albuquerque X a v i e r C. , o p . c i t . p.26

(27) Tapajós, V. Hi s t 5 r i a do B r a s i l . São Paulo, Companhia

Ed itora N ac io n a l , 1953, p.67.

(28) Regimento de 16.12.1548 do governador geral do B r a s i l

Tomé de Sousa. In: Documentos para a H i s t o r i a do Açú

c a r , op. ci t . p . 59.

(29) Idem, p.60.

(30).Lei de 3.11.1572 sobre navegação. In: Documentos p a r a •

a Historia do A ç ú c a r , o p . c i t . p.234.

(31) Regimento de 8.3.1588. In: Documentos para a H i s t ó r i a

do A çú c ar , op. cit. p. 362 e 374.

(32) Di as, C.M. H istória da Colonização portuguesa no Brasil

op.cit. p. 267.

(33) Alvará de 30.06.1567 sobre c r i s t ã o s novos. In : Documen

tos para a H i s t ó r i a do A ç ú c a r , o p . c i t . p . 197-8.

(34) Carta de doação de 10.3.1534. Ca pi ta ni a de Pernambuco.

In: Documentos para a H i s t o r i a do A çú c a r, o p . c i t . p . 9 .

(35) Dias, C.M. H i s t o r i a da Colonização Portuguesa no B r a s i l

op .cit. p . 312-13.
06 ‫ו‬

(36) Paulicea L u s i ta n a Monumenta H i s t ó r i c a . Vol I (1494‫־‬

160Q). Lisb oa . P u b li c a ç õ e s do Real Gabinete Portu-

gues ‘de L e i t u r a do Rio de J a n e i r o , 1956, p . 314,

(37) ídem, p . 283

(38) Idem, p . 329.

(39) Idem, p . 339

(40) Tdem, p . 340

(41) íáem, p . 340

(42) Tdem, p . 341

(43) Tdem, p . 351

(44) Tdem, p .411

(45) T d e m , p .412
062

2.4 O direito criminal e a pena de degredo

A H iò to /iia do VÍKe.ito comp-1 ‫׳‬eewde o c,onhzc¿mznto da zòtKa


tafia, ¿xoclat e da ofiganizaçao p o tZ tlc a e economZca de. ca
da tpoca KQ,tatlvamQ.nto. a qua¿ ¿z pA-Ocu/ie Aecon¿tÁ.tu¿A o
¿¿¿te m a ju fiZ d ic o , v ¿ ¿ to que o V¿f10,¿to e.¿ta togado ã v¿d a
da ¿o c^zdade que o pfiodaz e qae poK ele. ¿e. Kege., Ao e.¿tu
dafL o V ifie ito qae vÁ.go/1ava em cz^Uo periodo do pa¿¿ado
de deteAminado p a l¿ e, p o ¿ ¿ , ¿nd¿¿pe.n¿ave,l conhzceA. a¿
condZçõe¿ ¿ o c ia ¿ ¿ , p o tZ tic a ¿ e economica¿ do paZ¿ ne.¿¿z
periodo e até o¿ pKÁ.Y[c.lpal¿ ¿a to ¿ qae e.ntao ¿z pKodazZ
n.am na v id a do povo. C...1 o V ÍK e ¿to e. di¿c.Zp¿Zna da vZ
da ¿ o c l a l . So pode ¿azeA.~¿e bzm a ¿u a hZ¿tÓAZa quando ¿e
conheça a hZ¿t5fU a da ¿o cied ad e [modo¿ de vZveA, g o ¿ to ¿ ,
h á b ito ¿ , co¿tum e¿, c ie n c ia , aA te, i d e a i ¿ , concepçõe¿ ¿i
l o ¿ 0 ¿ i c a ¿ , K e lÍQ Ía o , e‫<־‬c. 1, i ¿ t o é, a H i¿ t 0 K Ía ¿ o c i a l .
( ‫ ) ל‬.

2.4.1 As Ordenações do Reino

Em P o r t u g a l , no século XV, começa a s e n t i r -

se b e m ' v iv a , a necessidade de urna compilação que f i z e s s e e

s i s t e m a t i z a s s e , devidamente, as v a r i a s fo n tes de direito

em p r i n c i p i o a p l i c á v e i s . Importava determinar 0 exato cam

po de a p l i c a ç ã o dos d i r e i t o s canônicos e romanos, alem de

d e f i n i r as suas relações com 0 d i r e i t o nacional.

2. 4 .1 .1 As Ordenações Afonsinas

Durante 0 reinado de D. Ooao I , perante as

queixas formuladas em Cortes quanto ao estado de confusão


063

das l e i s , foi encarregado 0 corregedor da Cort e, João Mendes,

de proceder a desejada reforma das l e i s . Morto D. Jo ão , sem

que a cometida t a r e f a e s t i v e s s e c o n c l u í d a , determinou D.Duar

te que prosseguisse a obra. Mas João Mendes f a l e c e u pouco de

pois e a compilação f o i confiada ao Doutor Rui Fernandes ,que

fazia parte do Conselho do Re i. 0 c ur to prazo do reinado de

D. Duarte não consentiu que nele acabasse Rui Fernandes 0

seu d i f T c i l trabalho. Mas D. Pedro, assim que f e i t o regente

"mandou 0 d i t o Doutor, que pro sseguisse a d i t a obra quanto

bem pudesse, e al c a n ç a s s e d e l i a maao, ataaa que com a graça

de Deos posesse em boa p e r fe iç om ". Efetivamente, Rui Fernán

des v e i o a c o n c l u i r a t a r e f a em j u l h o de 1446, após 0 que D.

Pedro determinou q u e . . . a¿ d ita 0 HoAdenaçõe¿ e comp^Cíaçom ¿0^

-óem ^ . ( L v iò t O L ò f e examinada pzn. (¿1 1 0 . d ito doutoA. e peA. 0 Vou

ton. Lopo {/aaòqu^ò Co AA.¿g ^doA. do Ve6embaA.go do d tto Senhon. Ret/

a¿ quaee¿ peA. q.íIzò ^o/Lom v iò ta ò , e examinada¿, e em algama¿

pa^tzò A.^^0A.mada0 ( 2 ).

Na f a l t a de um d i r e i t o nacional, a compilação

das Ordenações Afonsinas remetia-se para os d i r e i t o s romano

e canônico. A p l i c a r ‫ ־‬se ‫ ־‬ia 0 d i r e i t o romano em ma téria tempo

ra l, sempre que a sua observ ância não f i z e s s e i n c o r r e r em pe

cado; 0 d i r e i t o canônico s e r i a de a p l i c a r nas c o is as espir2

t u a i s e também nas temporais, quando 0 d i r e i t o romano não se

pronunciasse ou quando a sua observ ânc ia trouxesse pecado.

Recorria-se, a i n d a , as compilações a n t e r i o r e s da Glosa de

A c ú r s i o , quando não houvesse norma a p l i c á v e l de d i r e i t o roma


064

no ou canônico (3) e a opiniã o de B a r t o l o , quando 0 d i r e i t o

romano, 0 d i r e i t o canônico e a Glosa de Acúrsi o não se pro

nunciassem sobre 0 caso (4) e, f i n a l m e n t e , se r e c o r r i a ai£

da à re solução do R e i , na f a l t a de qualquer das anteriores

fontes.

2. 4 .1 .2 As Ordenações Manuelinas

As Ordenações Afonsinas tinham r e s o l v i d o a

emergente necessidade de s i s t e m a t i z a ç ã o que 0 d i r e i t o por

tugues r e q u e r i a ; mas 0 modo de assegurar 0 seu e f e t i v o co

nhecimento e v i g ê n c i a , em todo 0 p a i s , ainda f i c a r a para

ser solucionado. Os cinco volumes que as compuseram torna

va demorada e onerosa a sua c õ p i a , Óbices que impediam a

sua di fu sã o no Reino. Talvez para remediar esse inconvenien

te, D. João I I encarregou 0 l i c e n c i a d o Lourenço da Fonseca

de a b r e v i a r as Ordenações Afonsinas num sõ l i v r o , E s s e abre

viamento deve t e r c o n s i s t i d o na elaboração de um r e p e r t ó r i o

ou Tndice a l f a b é t i c o (5).

Vai ser no reinado de D. Manuel que, novamen

te, se d e f r o n t a r á com 0 problema de di v u l g a ç ã o das Orden^

ções pelo Reino. A solução desse problema f o i facilita d a pe

la invenção da imprensa que, em Po rtugal fiz era sua aparj_

ção em 1487. 0 prÕprio D. Manuel, em c a r t a r é g i a de 20 de

f e v e r e i r o de 1508, p r i v i l e g i a n d o Jacob Cromberger, e n f a t i z a

ra "quão n e c e s s á r i a é a nobre a r t e da i m p r e n s a . . . para 0

bom governo, porque com mais f a c i l i d a d e e menos despesa, os

m i n i s t r o s da j u s t i ç a possam usar de nossas l e i s e ordena

ções e os sacerdotes possam administrar os sacramen


C65

tos da madre santa i g r e j a " (6). A nova t a r e f a , agora, e r a ,

c o l o c a r em l e t r a de forma as Ordenações. Mais de 50 anos

haviam passado desde a compilação Af onsi na; tornava-se ur

gente um tr abalho de r e v i s ã o e a t u a l i z a ç ã o do seu texto ,

tendo em atenção a l e g i s l a ç ã o ext ravagante publicada. O

Chancele r ‫ ־‬Mor, Rui Boto, f o i encarregado dessa r e vi sã o e,

em 1512, no mes de dezembro, saiu o L i v r o I das novas Orde

nações, chamadas de Manuelinas. Em novembro de 1513,surgiu

o Livro I I e, pos te rio rm ent e, de março a dezembro de 1514,

f e z ‫ ־‬se urna impressão completa dos cinco l i v r o s das Ordenações

Manuel i nas (7 ).

No prologo, o Monarca, j u s t i f i c a n d o a comp2

l a ç ã o , de c la ra v a "a confusão e repugnância de algumas orde

nações por Reis nossos antecessores f e i t a s , assim das que

estavam encorporadas como das e xt ra v a g a n te s , donde recres-

ciam aos j u lg a d or e s muitas dúvidas e debates, e as partes

seguia grande perda "; e para remediar esses inc onvenientes

determinara "reformar estas ordenações e f a z e r nova compi-

lação, ti ran d o todo 0 sobejo e s u p é r f l u o , e adendo no min

guado, suprimindo os d e f e i t o s , concordando as c o n t r a ri e d a -

des, declarando 0 escuro e d i f T c i l de maneira que assim dos

l e t r a d o s como de todos se possa bem e perfeitamente enten-

der" (8). No enta nto, ainda em vida de D. Manuel, pu bl ica r-

se ‫ ־‬a nova edição das Ordenações. A promulgação da l e g i s l a -

ção extrava gan te em que avultam, pela sua imp o rtâ n cia , 0

Regimento dos Contadores das Comarcas (1514) e 0 Regimento

e Ordenações da Fazenda (1516), levou a reforma d e f i n i t i v a

das Ordenações Manuelinas, que data de 1521. F i c o u , no en


066

ta n t o , D. Manuel com r e c e io de que a proximidade de edições

das Ordenações pudesse provocar confusão e dai que, por car

ta de 15 de março de 1521, determinou que"dentro de tr ê s

meses qualquer pessoa que t i v e r as Ordenações da imprensa ve

Iha a rompa e desfaça de maneíra que não se possa 1er sob

pena de pagar qualquer pessoa a quem foram achadas passado

0 dito tempo e as t i v e r , cem cruzados (...) e mais ser de

gredado por dois anos para alem"; mandava-se ainda que, den

tro do mesmo prazo de t r ê s meses, adquirissem os conselhos

as novas ordenações ( 9 ) .

No que diz r e s p e i t o ao siste ma, ê e l e , 0 me^

mo das Ordenações A fo ns in as. São também cinco l i v r o s d i v i d ^

dos era t í t u l o s e es te s em p a rá g r a fo s . A maté ria versada nos

l i v r o s continua agrupada nos moldes a n t e r i o r e s . Desapareceu

a legislação relativa aos judeus devido a sua expulsão do

Reino, em 1496; do mesmo modo, na edição de 1521, desapare-

ceram as normas r e l a t i v a s ã fazenda r e a l , que passaram a

formar as autônomas Ordenações da Fazenda. Houve também al^

te ra çã o quanto ao e s t i l o de redação u t i l i z a d o . Ao c o n t r á r i o

das A f o n s i n a s , não constituem as Manuelinas uma mera compi-

lação de l e i s anteriores transcritas, na sua maior par te ,

com 0 t e o r o r i g i n a l e in d ic a ç ã o do monarca que as promulga-

ra. De um modo g e r a l , todas as l e i s são r e d i g i d a s em e s t i l o

decretõrio, como se t r a t a s s e de l e i s novas, embora, muitas

vezes, s e j a apenas nova forma de l e i já existente (10).


067

2. 4. 3.‫ו‬ As L e is Extr av aga nt es de Duarte Nunes do Leão

Por l e i s e x t r a v a g a n t e s , de acordo com a pró

p r i a e ti m o l o g ia da expressão, designam l e i s que, ocupando-

se de matéria que foi objeto de compilação ou c o d i f i c a ç ã o

o ficial, não vêm a ser in c o rp o ra d a s, ficand o a v i g o r a r "por

fora". Havia um estado de confusão gerada pela volumosaquan

tidade de l e i s e xt ra va ga n te s não compiladas e em v i s t a de

s o l u c i o n a r este estado de c o i s a s , um j u r i s t a , 0 licenciado

Duarte Nunes do Leão, procurador da Casa da S u p l i c a ç ã o , f o i

encarregado de r e u n i r "todas as d i t a s leis ext ra va ga n te s e

determinações que ao presente estavam em uso e se praticam

e f i z e s s e um r e l a t õ r i o da subst ância de cada uma das d i t a s

leis, ordenações e det erminações, por t í t u l o s e em t a l or

dem, que na re la ç ã o de cada uma se compreendesse tudo 0

que se continha na o r i g i n a l " . Para se desempenhar do encar

go, compilou Duarte Nunes as l e i s que se encontravam nas

casas da S u p l i c a ç ã o e do CTvel , na Chancelaria-Mor e ainda

outras que se encontravam nos l i v r o s da Fazenda, dos Contos

do Reino, Concelho de Lisboa e da Torre do Tombo, alem de

algumas que tinham sido impressas e de c a p í t u l o s da Corte.

A compilação de Duarte Nunes do Leão f o i aprovada por al v a

rã de 14 de f e v e r e i r o de 1569. São duas as p r i n c i p a i s ca

r a c t e r ‫ ו‬s t i cas dessas l e i s : a p r i m e i r a ê que, ao c o n t r á r i o

do que é normal, não se copia integralmente, "de verbo a

verbo", como se d i z i a en ta o, 0 texto das l e i s , fazendo-se

ao i n v ê s , um seu resumo, uma sT nt es e, um r e l a t õ r i o da sub^

t ã n c i a ; a segunda c a r a c t e r í s t i c a § a de que, embora f r u t o


068

da a t i v i d a d e de ura p a r t i c u l a r , e esta urna compilação o f i -

cia l, tendo v a l o r de fonte de d i r e i t o , v a l o r que Ihe e da

do pelo a l v a r a de 1569, em que se e s ta b e le c e ... que a

da¿ a0 d it a ¿ ext/iavagante.¿ e dítífim inaçõe.¿ Q.0 c.h,ita0 no d¿

to llv A o , ¿c dê. aquela ¿e e c K z d ito , e tenham a me0ma au

toAidade que tem a¿ pñ.opKÍa¿ l e i ò , dete^minaçõeò e pKov¿-

òBeò o ^ tg tn a t¿ a que ¿e Ke^eKem, como ¿e de ve/ibo a ve^bo

^0¿¿em eÁCAita¿ no d ito ¿iv n .0 : poK quanto 6e achou que na

Aclação que n ele ¿e ^az da¿ d it a ¿ l e i ¿ e deteAminaçoe¿ ,

não ¿ a lt a v a cou¿a alguma do que to c a a d e ci¿ao e ¿ub¿tan-

c ia d e la ¿ [li).

São v a r i o s os a l v a r ã s que regulamentam 0

degredo 0‫ ח‬B r a s i l , os quais foram compilados nas "ex tra va

gantes de Duarte Nunes do Leão‫ ״‬, em 1569. No a l v a r ã de 31

de maio de 1535, ” ordenou 0 d i t o Senhor, que daí em dian-

te as pessoas que por seus m a l e f í c i o s , segundo as Ordena-

ç õ e s , houvessem de ser degredadas para a i l h a de São Tomé,

pelo mesmo tempo fossem degredadas para 0 B r a s i l " (12).

A decisão de não d e i x a r p a r t i r "nenhum n^

vio de Lisboa para 0 B r a s i l , sem 0 fazerem saber ao Gover

nador da casa do C i v e l , para lhe ordenar os degredados que

cada navio devia l e v a r " , foi tomada pelo a l v a r ã de 7 de

agosto de 1547. As penalidades para 0 " s e nh or io , c a p i t ã o ,

mestre, ou p i l o t o dos d i t o s n a v i o s , que partissem para as

ditas terras sem lho fazerem sa b e r, encorreriam em pena

de 50 cruzados, a metade para quem os acusasse, e a outra

metade para os presos p o br e s" . Aos c a p i t ã e s dos na vio s, 0

governador d® casa do CTvel s5 d a r i a c e r t i d ã o autorizando


069

a p a r t i d a , somente quando fossem r e la c i o n a d o s "os presos que

houvessem de l e v a r " . Nestas c e r t i d õ e s i r ia m declarados os no

mes dos degredados (1 3).

Quatorze anos depois da comutação do degredo

da i l h a de São Tome para 0 B r a s i l , um novo a l v a r ã determinou

que a p a r t i r do dia 5 de outubro de 1549 "em di an te se não

condenasse pessoa alguma da casa da Su p l i ca ç ã o em degredo p^

ra a i l h a do P r í n c i p e . E que aqueles que por suas c u l p a s , se

gundo as ordenações, haviam de ser condenados em degredo

ra a d i ta i 1ha , fossem degredadospa ra 0 B r a s i l " (14 ).

Havendo E l ‫ ־‬R e i , necessidade de braços para

seus se r v iç o s nas g a lé s , "ordenou 0 d i t o Senhor" que os ho

mens "de idade de dezoito ate cinquenta e cinco anos, não

sendo e s cu de ir os , ou daT para cima, e por suas culpas merece^

sem ser degredados para 0 B r a s i l , fossem condenados para ser

virem nas galés daquele tempo, que os j u l g a d o re s parecesse

que mereciam, tendo r e s p e i t o na condenação que aquel es, que

merecessem ser condenados em dous anos de degredo para 0 Bra

s il, fossem condenados em um ano para 0 s e r v i ç o das d i t a s g£

lés. E os que merecessem ser condenados para sempre para 0

B rasil, fossem em dez anos para as g a l é s " (15 ).

Lisboa, nesta época, procurava de todas as ma

n ei r as "a lim pa r a t e r r a " de todos "os moços vadios que andam

na r i b e i r a a f u r t a r bo ls a s , e f a z e r outros d e l i t o s " . 0 alva-

rã de 6 de maio de 1536 condenava os vadios l i s b o e t a s , "a

primeira vez que fossem pr es os , se depois de s o l t o s tornasse

outra vez ser presos pelos semelhantes casos , que qualquer

degredo que lhes houvesse de s e r fosse para 0 B r a s i l . 0 ‫׳‬qual


070

degredo e le s i r ia m cunjprtr presos, sem serem s o l t o s " (16).

Os rêus condenados em degredos, pela j u s t i ç a

e le sia stica do Arcebispo de L i s b o a , eram entregues aos p i l o

tos dos n a v i o s , os quais eram "obrigados t r a z e r c e r t i d õ e s au

tin ticas dos c a p i t ã e s ou o f i c i a i s da j u s t i ç a dos luga res do

degredo, como foram entregues e como fic a ra m servindo seus

degredos" ( 17 ).

E s c o l á s t i c a de São Bento e sua mãe, Maria Cor

deira, ambas acusadas de judaísmo e condenadas a usarem per

pertuamente 0 hábito p e n i t e n c i a l e degredadas, chegaram ao

Brasil e foram imediatamente entregues ao co mi ssá rio da In

q u i s i ç ã o na B a h ia , João C a lm on, n o dia 3 de j u l h o de 1719 .

Mae e f i l h a , "do Tribunal do Santo Ofico da I n q u i s i ç ã o de

Coimbra, vieram remetidas para esta cidade da B a h i a , pelos

navios do Porto que aqui portaram". Eram e l a s , "Escolástica

de São Bento, filh a de F r a n c is c o Rodrigues, t e c e l ã o n atu ral

de Aviz e moradora na cidade de Coimbra, com t r ê s anos de

degredo para 0 B r a s i l " e "Maria C o r d e i r a , viu va de F r a n c is -

CO Rodrigues, 0 Sape de a l c u n h a " . A mãe era também n at u ra l

de Aviz e moradora em Coimbra, foi condenada "com outros três

anos de degredo para 0 B r a s i l , as quais duas mulheres vie

ram embarcadas no navio Nossa Senhora do Vale e São Louren-

ço de que ê c a p it ã o Manuel Cardoso M e i r e l e s " . Antes de ser

degredada, os bens da jovem j u d i a foram c on fi sc ad os pelo f i^

CO da Cãmara:"uma lembrança de ouro, umas f i v e l a s de prata

e uma l u v a s de renda preta com sua frangtnha de p r a t a " ; nem

mesmo suas " p é r o l a s de pescoço f a l s a s e duas a g ul he ta s de

prata", EscolSs-ttca pode l e v a r consigo ( 1 8 ! .


07 ‫ו‬

Para que os condenados 6‫ מו‬degredo, presos

ñas v a r i a s cadeias do Reino, pudessem ser tr a z i d o s com

segurança para a pri sã o de Li sb o a , a famosa cadeia do L2

moeiro, e daT levados a cumprirem seus degredos, a lei

mandava "que os corregedores das comarcas e o u v id o r e s , a ^

sim dos mestrados, como dos senhores de t e r r a s , onde os

corregedores não entram", enviassem aos j u T z e s , todos os

degredados "presos em f e r r o s " e 0 d i to j u i z levaria ao

corregedor e o u v id o r , a " c e r t i d ã o dos presos degredados,

que leva com de c la ra ç ã o dos nomes e ida de s, e sinais,que

tem, para que l u g a r , e por quanto tempo são degredados,e

quem deu as se n t e n ç a s ". Aqueles que tivessem degredos p0

ra as g a l é s , para 0 B r a s i l e A frica, não poderiam ser

soltos com f i a n ç a . Os condenados eram r e g i s t r a d o s pelo

e s c r i v ã o dos degredados em um " l i v r o numerado e assinado

pelo c o rreg ed or , que s e r v i a de j u i z dos degredados". Ne^

te l i v r o , eram anotadas as sentenças de cada réu, de mo

do que 0 juTz dos degredados indo cada mês na cadeia p£

desse saber "os que nela hã, e os mandara embarcar pelo

meirinho e e s c r i v ã o nos primeiro s navios que p a rt ir em p£

ra os lug ares por onde houverem de i r " ; os navios não

p a r t i r i a m "sem levarem os d i t o s degredados" (19).

0 e s c r i v ã o dos degredados t i n h a também um

outro l i v r o com . . . t Z t u í o ò a p a ^ t a d o ò , um da¿ g a l í ò , ou


tKo BA.a0 i l , out^o e em cada t Z t u l o {^an.a a ò ò ín to
d06 deg^¿dad06 quz vão em cada n av io ao cap¿
t ã o , mzó'tKd ou p i l o t o , com declaA.ação d00 ¿ugax zò ondo.

m0Kad0Ke.0, e 0e/1a aòòinado p z l o ¿ d it o ó zscA^ivão, mzi


072

^inho, c a p itã o , ou a quz ^oAzm entA.egue¿, com ¿ua

cãAta d¿ guia ¿ e it a peio d ito 0.0 c K Ív ã o , e atò in a d a pzto

d ito C0^KQ,Qtd0K, d ifiig id a a¿ Ju ó t iç a ¿ do¿ luga^dò pa^a

onde 06 d^g^zdado¿ com a0 d c c l a K a ç õ a c i m a conte.ú

da¿; a qual caKta de g u ia 0 d ito c a p itã o , me4 t ^ e ou pilo^

to ¿c-àã obrigado a ap^.e.¿o.ntaK ã¿ ju ¿ti(^ a ¿ do¿ tugafiz¿ de.

degredo, e tKazzKzm ce,Ktidão de como the,¿ entAegaA.am a

caà ta de g u ia, e. o¿ de,g^edado¿ neta conteúdo¿; pota quat

ceKtidão não teva^ão cou¿a atguma, e apA.e¿entaA.áo dentro

de. um ano ao d ito co^^egcdon, ¿endo o¿ degredo pa/ia 0 B^a

¿ it , e ¿endo pa^a Â^Kica, dentro dc. quatro m z ¿e ¿... e ca

da ¿ e i ¿ me¿e¿ pA0ve-1‫׳‬ã 0 juZz do¿ degredado¿ 0 tiv K o da¿

emba.\caçÕc¿ e e n tm g a ¿ , e. ¿abe^ã ¿e. o¿ degf1e.dado¿ ^o^am

entAcgue¿ no¿ d ito ¿ tempo¿ no¿ tu g a re ¿, paAa onde iam, c

p^crccdc'iá na ^cAma acima d ita (2 0 ).

2.4.1.4 As Ordenações F i l i p i n a s

Ao aproximar-se do fim do século XVI, 0 e le

vado número de l e i s , p o s t e r i o r e s às Ordenações Manuelinas,

e à Coleção de Leis Ex tra vag an tes de Duarte Nunes do Leão,

começava a tornar-se antiquad o, numa época em que a c u l tu

ra j u r í d i c a se encontrava em c r i s c , devido ã i n v e s t i d a hu

manistica contra 0 d i r e i t o romano. Com a decisão de F i l i p e

II, di-se i n i c i o â nova t a r e f a de compilação das l e i s . S a b e

se. porém, que as Ordenações F i l i p i n a s j ã estavam concluT

das em 1S95; no dia 5 de junho deste ano, foram ela s apro

vadâs pelo próprio r e i . T od av ia , nao chegaram a ter 0


073

n e c es sá rio seguimento e somente mais t a r d e , por f o rç a de

nova l e i de 11 de j a n e i r o de 1603, entraram em v i g o r . As

Filip in a s nào eram inovadoras: sua maior preocupação f oi

r e u n i r em um s5 texto as Ordenações Manuelinas, a Coleção

de Duarte Nunes do Leão e as novas l e i s surgidas p o s t e r i o r

mente. Mantêm 0 velho esquema t r a d i c i o n a l com 0 sistema de

d i v i s ã o em 5 l i v r o s e, e s t e s , em t í t u l o s com pa rág r af o s.

T ra ta - s e , desse modo, de uma a t u a l i z a ç ã o das ordenações pre_

cedentes e não uma l e g i s l a ç ã o "castelhanizante" como se po

deria supor, devido ã n a c io n al id a de dos novos r e i s . 0 pró

p ri o F i l i p e II preocupou-se em não f e r i r as susceptibil2

dades dos novos s ú d i t o s , levando-o a não to c a r na e st ru ti j

ra e conteúdo das Ordenações; t á t i c a p o lítica para demon^

t r a r 0 seu r e s p e it o pelas i n s t i t u i ç õ e s portuguesas.

Mesmo com a revolução de 1640 que colocou

fim ao domínio do Castela em P o r t u g a l , a vigência das Orde

nações F i l i p i n a s continuou e 0 pró prio D. João IV confir

mou, de modo g e r a l , todas as l e i s que haviam sido promul

gadas pela d i n a s t i a castelhaha. Em 29 de j a n e i r o de 1643 ,

determinou 0 rei "revalid ar, c o n fi r m a r , promulgar e de no

vo ordenar e mandar com os di to s cinco l i v r o s das Orden^

çõcs e L e i s , que nelas andam, se cumpram e guardem, como se

por mim novamente foram f e i t a s e ordenadas, promulgadas e

e s t a b e l e c i das " (21 ) .

Foram v á r i a s as t e n t a t i v a s , não bem suced2

das, de reforma das Ordenações F i l i p i n a s que vigoraram em


074

Portugal a t i a elaboração do Código C i v i l de 1867, sendo

e la s o monumento l e g i s l a t i v o que maior tempo de vida alean

Ç0U em P o r t u g a l . No B r a s i l , essa v i g e n c i a prolongou-se até

o Código C i v i l de 1917, "na verdade, se em 1850, o Brasil

teve um Código Penal que s u b s t i t u i u o obsoleto l i v r o V das

Ordenações, a promessa p a r a l e l a da rápida elaboração de um

Código C i v i l , avançada pelo l e g i s l a d o r c o n s t i t u i n t e , prote

10u‫ ־‬se até 1916. Entretanto, vigoraram os p r e c e i t o s f i l i p ^

nos, com a l t e r a ç õ e s profundas devidas a numerosos diplomas

a v u l s o s , mais ou menos dispersos 22) ‫)יי‬.


075

NOTAS:

(1) Caetano, M. H i s t o r i a do D i r e i t o Português (1140-1495).

Lisboa/São P au lo , verbo, 1985, p . 17 e 23.

(2) Ordenações A fo ns in as , L i v r o I - Proemio. In: Silva, N_u

no J . E . G . da. H i s t o r i a do D i r e i t o P o r t u g u ê s , fontes de

D ireito. Vol. I, Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian,

p . 191.

(3) A c ú r s i o , au to r da Magna Glosa ou Glosa de A c u r s i o , es-

c r i t a entr e 1220 e 1234, e x t r a o r d i n á r i a obra de compil^

çio em que foram examinadas cerca de noventa e s e is mil

g l o s a s ; a obra de A c ú r s i o , que exerceu enorme i n f l u ê n c i a

em toda a Europa, vei o i n c l u s i v e a ser considerada subsi^

d i á r i o em P o r t u g a l . In: Silva, Nuno J . E . G . da., o p .c it.

p, 143.

(4) E Ciro de P i s t o i a (1270-1336) que será considerado 0

primeiro grande j u r i s t a do novo método, na península tran£

alpina; mas os chefes da escola serio Bártolo (1313-1354)

e Baldo (1327-1400). A influência de B á r t o l o f o i de ta l

modo importante que os comentadores v i r i a m a ser chamados

b a r t o l i s t a s e que a semelhança do que se passou com Acúr-

sio, igualmente c o n s t i t u i u a sua o p i n i ã o , direito subsi-

d i á r i o em P o r t u g a l , In: S i l v a , Nuno J . E . G . da. o p .cit.

p. 145.

(5) Silva, Nuno J . E . G . da . , op. c i t . p. 206.

(6) Idem, p.207

(7) Idem, p. 207

(8) Idem, p.208


076

(9) Tdem, p . 209

(10) Idem. p. 209-10

(11) Idem; p . 215 e se g u in te s .

(12) A lv a r ã de 31 de maio de 1535. "Que o degredo para S.To

mé se mude para o B r a s i l " . Duarte Nunes do Leão. Lei s

E x t ravagantes c o l l e g i d a s e r e l a t a d a s pelo l i c e n c i a d o . . .

per mandado do . . . Rei Dom S e b a s ti ã o (la . edição, Li£

boa, 1569 ). Coimbra, Imp. da U n i v e r s i d a d e , 1796 , p . 615,

I n ; Documentos para a H i s t o r i a do Açúcar o p . c i t . p . 25.

(13) A lv a r ã de 7 de agosto de 1547: "Que não partam navios

para 0 B r a s i l sem 0 saber 0 Governador da casa do CT-

vel". Le is E x tr a v a g a n te s . In: Documentos para a H i s t õ ‫־‬

ria do A ç ú c a r , op. cit. p. 43.

(14) A lv a r ã de 5 de outubro de 1549: "Que se não degrede pa

ra a I l h a do P r T n c i p e " . Leis E x t r a v a g a n t e s . In: Documen

tos para a H i s t o r i a do Açúcar, op. c it. p . 95.

(15) A lv a r ã de 5 de f e v e r e i r o de 1551. "Que degredados i r ã o

para as g a l é s " . L e is E x t r a v a g a n t e s . In. Documentos para

a H i s t ó r i a do Açúcar, o p . c i t . p . 103.

(16) A lv a r ã de 6 de maio de 1536:"Que os vadios de Lisboa

vão presos ao degredo". Le is Ex t r a v a g a n t e s . Documentos

para a H i s t ó r i a do Açúcar, op. cit. p . 31.

(17) A l v a r ã de 28 de j u l h o de 1541: "Que os mestres e p i l o t o s

a que são entregues degredados pelo Arcebispo de Li sb o a ,

tragam c e r t i d õ e s dos c a p i t ã e s dos luga res do degredo".

Le is E x t r a v a g a n t e s . In : Documentos para a H i s t ó r i a do

Açúcar, o p . c it . p . 39.

(18) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 1725.


077

(19) Ordenações F i l i p i n a s , op. c i t . L i v r o V, t í t u l o CXLII:

" P e r que maneira se t r a r ã o os degredados das cadêas do

Reino a cadia de L i s b o a ” , p . 1320.

(20) Idem.

(21) S i l v a , Nuno J . E . G . da. op. cit. p . 221-224.

(22) Ordenações F i l i p i n a s , op. cit. Livro I. Nota de apresen

tação de Mario J u l i o de Almeida Costa, p. 10.


078

2.4.2 O Degredo no D i r e i t o Crtroínal e Processual

Na época das Ordenações A fo n s i n a s , Manuel i-

ñas e F i l i p i n a s (1 446-1 867), em m at er ia c r i m i n a l , os cri^

mes ou i n f r a ç õ e s eram muitas vezes designados e considera-

dos graves pecados. Os l e g i s l a d o r e s inspíram-se no D i r e i t o

Im perial, quer nas l e i s do Código de J u s t i n i a n o ou em ou

tros textos integra dos no "Corpus J u r i s C iv ilis " e no D^

reito Canônico, onde ê patente sua i n f l u ê n c i a em muitos a^

pe ctos, j ã que a v i o l a ç ã o da l e i surge em muitos casos co

mo pecado, fat o que vai também contra a l e i de Deus ou da

Igreja tocando a c o n s c i ê n c ia do d e l in q u e n t e . Embora as pe

nas sejam durTssimas, com a cominação frequente da pena de

morte, mantêm-se porem, a d i s c r i m in a ç ã o das pessoas com pe

nas d i f e r e n t e s para o mesmo fa t o conforme fosse o autor"pe£

soa v i l ', ' ou homem honrado e f i d a l g o .

Aos nobres não podiam ser a p l ic a d o s a ç o i t e s

e muitas vezes estavam e l e s também i s e n to s de tormentos. A

condenação a degredo ou em multa f a z i a com que 0 condena-

do f i c a s s e infamado, ou s e j a , in abilitado para desempenhar

cargos p ú bl ic os ou usar " h o n r a s " , ate que fosse r e a l i b i l i -

tado pelo r e i (1) .

Nas t r ê s O rd e n a ç õ e s (A fo n s in a s , Manuelinas e

F ilip in a s), 0 L i v r o V e dedicado ao d i r e i t o e processo pe

nal. AT estão contempladas as penas a p l i c a d a s aos reus de

acordo com 0 grau de seus d e l i t o s . A penalidade ê severa }

a pena de morte ê abundante " e menos s e r i a a p l i c a d a se 0

'morra por e l l o ' foss-e sempre entendido - segundo opinara


079

o Dr. Paulo Rebello - coroo roorte c i v i l e nS'o n a t u r a l " (2).

A expressão "morra por i s s o " nao s i g n i f i c a v a somente morte

natural e não tem d i f e r e n ç a da expressão "morra por e l l o " ,

ambas podiam, muitas ve z es , s i g n i f i c a r , morte c i v i l , atra-

vês do degredo (3).

Nas F i l i p i n a s , a m u t i l a ç ã o , a marca de fer

ro, 0 fogo e as penas atrozes a arb ítrio , tornaram-se mais

r a r a s , mas os tormentos ou t o r t u r a s continuaram a ser am

piamente a p l i c a d o s , herança do d i r e i t o romano. A a p l ic a ç ã o

da pena de açoutes aparece em quase todas as condenações ,

sendo imposto, porem, somente para os "peões". A nobreza

de d i f e r e n t e s c la s s e s gozava de c er to s p r i v i l é g i o s não in

famantes e, nos mi lh a re s de processos i n q u i s i t o r i a i s exis-

tentes na Torre do Tombo, é nTtida a constatação da desj^

gualdade s o c i a l , dando a nobreza "uma posição extremamente

invejável que ajuda a e x p l i c a r 0 desejo de n o b i l i t a ç ã o do

português s e i s c e n t i s t a e setecentista, característica acen

tuada pela l i t e r a t u r a e por todos os c r o n i s t a s do tempo.

Por isso d i z i a Gil Vice nte na Farsa dos Almocreves: "cedo

não hã de haver v i l ã o . T o d o s d e l ‫ ־‬r e i , todos d e l ‫ ־‬r e i " (4)

Nas Ordenações de 1603, centenas de p r i v i l é g i o s foram c 0£

cedidos aos "homens de q u al id a d e " desde a "pessoa que der

consentimento a sua f i l h a , que tenha parte com algum ho

mem para com e le dormir, posto que não seja virgem, seja

açoutado com baraço e pregão pela v i l a , e degredado para

sempre para 0 B r a s i l , e perca seus bens. E sendo de qu ali-

dade, em que não caiba aç o u te s , h a v e r i somente a d i t a pena

do f i r a s i l " (5). Nas mesmas Ordenações, no t i t u l o "Das pes


080

soas que são escusas de haver pena v i l " , espe cificam- se as

p r o f is s õ e s que "devem ser r e le v a d a s de haver pena de açou-

tes, ou degredo com baraço e pregão, por razão de p r i v i l e -

gios ou linhagem" (5). São e l a s , os es cud ei ros dos prelados

e dos f i d a l g o s , os moços da e s t r i b e i r a do r e i ou da r a i n h a ,

p r T n c i p e s , i n f a n t e s , duques, mestres, marqueses, prelados ,

condes ou qualquer pessoa do Conselho r e a l , os pagens de

fidalgos "que por t a i s e st iv e re m assentados em nossos 1^

vros", além dos j u T z e s , p r o c u r a d o r e s , p i l o t o s de navio e

tantos outros (7).

Nas i n q u i s i ç õ e s de L i s b o a , Coimbra e E vo ra ,

podem-se e n c o n t ra r centenas de p r i v i l é g i o s de comutação das

penas para os réus de " q u a l i d a d e " . Conseguem e l e s livrar-se

dos açoutes e algumas vezes do degredo e g a l é s , mas jamais

conseguiram l i v r a r - s e do estigma de serem v i s t o s como conde

nados da I n q u i s i ç ã o . A m í s t i c a Suzana Andrade, v iú v a de Gas^

par Lobato de Almeida, costumava constantemente t e r vis õe s

e re v e l a ç õ e s sobrenaturais, "em uma oc asião em que e st ava

pedindo ao Senhor a s a 1v a ç ã o para sua alma, vira s a i r das ch^

gas do C r i s t o Crucificado uma luzes em forma de e n te rr o e

a tris delas um caixão de c r i s t a l guarnecido de ouro, com

umasletras que diziam: Aqui esta*^ Suzana de minhas chagas" .

D iz ia se r uma p r i v i l e g i a d a de Deus e que " c e r t a vez depois

de t e r comungado, pedindo a Nosso Senhor instantemente lhe

desse a entender 0 que s e r i a f e i t o de c e r t a pessoa sua coji

junta, que t i n h a au se nte, o u v i r a uma voz que lhe p a r e c i a

s a i r da sua mesma garganta e d i s s e r a que a t a l pessoa era

morta, 0 que depoiS' 1Ke constav!a ce rt a m e n te " . Além de con


08‫ו‬

v e r s a r com Deus, em c er t a ocasião pode ela "em companhia de

duas Santas suas f i a d o r a s " . Santa Luzia e Santa C a t a r i n a , i r

is portas do " i n f e r n o a impedir a perdição de uma alma, p£

ra a qual se estava abrindo uma cova no mesmo i n f e r n o , e

que conseguira 0 i n t e n t o , porque a alma se s a l v a r a " . Nossa

Senhora lhe aparecera por v á r i a s vezes e "que uma ocasião ,

tardando ela r i em v i r para a oração, a mesma Senhora a ch^

mara, não pelo seu nome, senão pelo de K a r i a " , e que "em ou

t r a oc asi ão , lhe aparecera em r e ve la ç ão a mesma Senhora juji

to a um tanque, de dentro do qual lhe mandava que t i r a s s e e

perguntando1‫ ־‬he a ré , que h ave ri a de t i r a r ? A Senhora a obr^

gara que metesse a mão no tanque e com e f e i t o t i r a r a dele

uma alma que lhe parecera a de c er t a pessoa sua conjunta" .

Suzana fo i presa no dia 28 de ju lh o de 1682 e, um ano depois,

saiu no Auto público da fé na cidade de Lisboa.Os m i n is t ro s

in q u isilaria is acharam suas reve laç õe s "vãs e f i n g i d a s e

que todas nasciam da ambição, v a n g l o r i a e h i p o c r i s i a da ré ,

por fal ta re m nela as v i r t u d e s em grau h er óic o, que se reque

reni para ser capaz de tão a l t o s f a v o r e s " , e a condenaram em

pena de açoutes "pel as ruas pública s desta c i d a d e , c i t r a sar^

gu in is effusionem", e a degredaram "por tempo de 5 anos p^

ra 0 Cstado do B r a s i l " . Uma semana depois, estando Suzana

na p r i s ã o , pediu ao Tribunal para ser ab solvida dos açoutes.

Alegou a s u p l i c a n t e , ser f i l h a do Capitão C ris tó v ã o Andrade

de S i q u e i r a , homem nobre e além do mais, " c r i o u de l e i t e a

Senhora Dona Inês F r a n c is c a de Tãvora, f i l h a de Dom Diogo de

Menezes", portanto estav a c i a per feita men te dentro das nor

mas l e g a i s que dispensavam os açoutes as pessoas de qualidade.A


082

Mesa da I n q u i s i ç ã o de Lisboa a c e it o u o pedido, mas comutou

os açoutes em um ano a mais de degredo para o B r a s i l ( 0 8 ).

O mercador da cidade de A l j u b a r r o t a , Simao

A lvares, foi preso pela I n q u i s i ç ã o de Evora e saiu no Auto

da f i em 19 de maio de 1619. Seu crime f o i " f a z e r ‫ ־‬se passar

por f a m i l i a r do Santo O f i c i o e por meio de f a l s a s ameaças,

e x t o r q u i r d i n h e ir o a c r i s t ã o s novos". Foi condenado a aç02

tes e degredo nas galés para s e r v i r nos remos. Mas pelo

p r e s t i g i o de seus antepassados, l i v r o u - s e dos açoutes e

partiu para seu degredo. Depois de alguns meses, Simão não

re sistiu ao duro tra ba lh o e morreu nas galés de Sua Majes-

tade ( 9 ) .

Melhor sorte teve 0 jovem estudante de la

tim, Manuel Tr ave sso s, 0 qual foi preso pela I n q u i s i ç ã o de

Coimbra e saiu no Auto da fé do dia 18 de j u l h o de 1656.Ha

v ia cometido 0 " h o r r í v e l e abominável pecado nefando" quan_

do estudava no seminário do Porto e t r a j a v a como era costu

me, "0 v e s t i d o dos e s tu d a n te s , comprido e neg ro". Sua con

denação f o i 5 anos de g a l é s , mas 0 estudante alegou ser

" c r i s t ã o velho de pai e mãe e avÕs e seus pais são pessoas

nobres e tem parentes muito honrados"; pediu comutação de

sua pena para um dos lugares fo ra do Reino, "onde f 5 r orde

nado", alegou t e r cometido seu sodômico crime "sendo indu

zido e tendo pouca idade e que não. t i n h a p e r f e i t o juTzo pa^

ra conhecer a gra vidade e infâmia deste c r i m e " . Concluiu

sua p e t i ç ã o dizendo e s t a r muito ar re p en di do . P ela sua con

dição de nobre, conseguiu comutar as galés pelo degredo no

Brasil ( 1 0 ).
083

O degredo c o n s t i t u i a penalidade c o n c l u s i v a

na condenação de uiq reu, sendo e f e t i v a d o depois da p ri sã o;

tormentos e Auto da f e , para os condenados pelo Santo OfT

cío. a pena de degredo e t r a t a d a ñas t r ê s Ordenações; as

Afonsinas estabeleceram-no para a A f r i c a , Ceuta, A r z i l a e

Tanger. As Manuelinas, embora aprovadas depois da deseo -

berta do B r a s i l , não estipulavam nenhum degredo para as

t e r r a s b r a s i l e i r a s , embora 0 estendessem a outras p a r t e s ,

além de Ceuta ou lugares da A f r i c a , degredava-se para as

I l h a s de São Tome e P r í n c i p e ou "um dos lugares d'Alem" .

São as Ordenações F i l i p i n a s no seu famoso L i v r o V, aquele

do ‫ ״‬código penal e processo das causas c r im e s " , que c 0£

têm a re la çã o das centenas de d e l i t o s punTveis com 0 de

gredo no B r a s i l , A frica, I l h a s A t l â n t i c a s e nos coutos me

tropol ‫ ו‬tanos . Nestas Ordenações . . . ha ccA.ca dc. SO caòoò on

dc de. mane.ÍAa cxplTc-i ta ác in d ic a tòòa p e n alid ad e. Sem ¿a

(a \ daquete¿ cwi que a pena de moKte p A evió ta acabaña ¿en-

dc comutada em dcQ\edo ou daquele.¿ em que. uma ¿ a lt a apan.en

temente de pequena im p o A tân cia, poden^ia ¿en. agnavada con~

^cnme as c in c u n ¿ (â n c ia 0 c con¿idenada cnime pa6¿Zvel de in

ccnnen naquela puniçho. T¿ ¿ 0 ponqué o deç\ntdo pana o Bna

¿ il ena urna da¿ p en alid ad e¿ mai¿ ¿ e n ia ¿ pana a época. Apa

ncce ¿empnc lego apa¿ a de monte e g a le ¿ , em c a ¿ 0¿ onde

íiú. alguma atenuante c é ¿empne apCicado na¿ ¿itu a ç Õ c ¿ agna

vante¿ dc cnime¿ cu ja ¿ pena¿ nonmalmente detenminaniam de

gnedo pana a Á^nicn ( n ) .


084

NOTAS;

(01) Caetano, M. op. c i t . p .533-4

(02) Ornadeções F i l i p i n a s , L i v r o I , Notas de apresentação,

o p .cit..p .X X V I.

(3) Ordenações F i l i p i n a s , op. c i t . , L i v r o V, TTtulo XIV; ‫״‬Do

infiel que dorme com alguma c r i s t ã e c r i è t a o que dorme

com i n f i e l ” , p . 1165.

(4) Costa. E. V.da. Os prim ei ros povoadores do B r a s i l . In :

R ev ist a de H i s t o r i a , ano V I I , Vol. X I I I , 1956, São Paulo

p . 18.

(5) Ordenações Filip in a s, o p .cit. L i v r o V, T í t u l o X X X I I :

"Dos a l c o v i t e i r o s e dos que em suas casas consentem a

mulheres fazerem mal de seus c o rp o s ", p . 1182.

(6) Ordenações F i l i p i n a s , o p . c i t . L i v r o V, TTtulo CXXXVIII

"Das pessoas que são escusas de haver pena v i l " , p . 1315.

(7) Idem

(8) ANTT. In q u i s iç ã o de Li sb oa . Processo 4802.

(9) ANTT. In q u i s iç ã o de f v o r a . Processo 1564.

(10) ANTT. I n q u i s iç ã o de Coimbra. Processo 6485.

(11) Costa. E. V. o p . c i t . , p . 8-9.


085

2. 4.3 Degredar é P r e c i s o

2 . 4 . 3 . ‫ ו‬Os Crimes Contra a R e l i g i ã o

Numa êpoca em que a r e l i g i ã o f i n c a r a profun-

das r a iz e s em Portugal e em toda a P e n ín su la Ib érica, os de

lito s co nt ra a c a t o l i c i d a d e apõstolica romana não podiam dei^

xar de ser punidos. A religião c a t ó l i c a a s s o c i a r a - s e ao tro

no real na l u t a cont ra as ameaças s o c i a i s , p o líticas e rel^

giosas da época. Todo rei e p r í n c i p e , en tre todas as c o i s a s ,

tinha a missão de "amar e guardar j u s t i ç a , deve-se guardar

e manter em e s p e c i a l acerca dos pecados e maldades tangentes

ao Senhor Deus de c uj a mão tem 0 regimento e seu real esta-

do. .. 1) ‫)״‬.

Nos d e l i t o s co ntra a I g r e j a cató lica, havia

d i f e r e n c i a ç õ e s de j u r i s d i ç õ e s ; em g e r a l , p e r t e n c i a aos juT

zes e c l e s i á s t i c o s i n q u i r i r e j u l g a r os f e i t o s em que est^

vesse em causa matéria re lig io sa. "0 conhecimento do crime

de h e r e s ia p e r t e n c i a p ri n c i p a lm e n t e aos j u i z e s e c T e s i a s t i 00 ]‫י‬

é e s ta a p r i m e i r a f r a s e do p ri m e ir o t í t u l o do L i v r o V das

Ordenações F i l i p i n a s : "Dos hereges e a p o s t a t a s " . Somente es

tes podiam d i s t i n g u i r as v ar ie d a d e s d o u t r i n a i s , d i f e r e n c i a n

do 0 v e rd a d e i ro c r e n t e do herege ( 2 ) . H a v i a , porém, alguns

destes d e l i t o s que eram de competência dos j u i z e s leigos.Se

0 conhecimento p e r t e n c i a aos j u í z e s e c l e s i á s t i c o s , ainda se

d e v e r i a d i s t i n g u i r e n tr e as sentenças cuja execução fosse


086

"de sangue", que I m p l i c a r i a morte ou m u t i l a ç ã o , e as senten

ças que não exigissem t a l execução. 0 títu lo I do L i v r o V

das Afonsinas de fi ne vagamente 0 crime de h e r e s i a : e 0 ato

de d i z e r , c r e r e a f i r m a r "cousas que são cont ra 0 Nosso Se

nhor Deus e a Santa Madre I g r e j a " . Chama-se herege ã pe^

soa que c r i ou sustenta com tenacidade um sentimento decla-

rado por errÔneo, cont ra a I g r e j a . Herege, nas Ordenações

F ilip in a s, é sinônimo de heterodoxo (3); e todo aquele que

a f a s t a da ortodoxia por parte de quem s e j a batizado e se d^

ga membro da I g r e j a .

Nas sentenças p r o f e r i d a s com execução de san

gue , a I g r e j a não poderia proceder a e l a , pois "Ecclesia

ab h o rre t sanguinem" e t i n h a que r e c o r r e r ao braço s e c u l a r ,

s o l i c i t a n d o as j u s t i ç a s o r d i n ã r i a s a n e c e s s ã r i a co labo raç ão.

Nestes casos, 0 t r i b u n a l eclesiástico e n vi av a 0 condenado

com 0 seu processo e sentença ao r e i , 0 qual mandava r e v e r

os autos pelos seus "desembargadores da j u s t i ç a " para que

cumprissem as condenações e as executassem "como acharem por

D ire ito ". SÕ depois de v e r i f i c a d a a sua conformidade com 0

D i r e i t o do Reino era au to ri z a d a a execução. A obrigação dos

r e i s ajudarem a j u s t i ç a e c l e s i á s t i c a vem mais precisamente

d e f i n i d a numa l e i de D. Fernando, transcrita e confirmada

no t i t u l o 27, parág raf o 32 do L i v r o V das A fo ns in as : P0A.que

a todo Re-¿ c a t Õ t ic o , como bA.aç.0 da. S a n ta Jg ^ e ja , pe/i^ence

¿a z íA e mandaA. cumpAÁK e gaaKda^ a¿ òua¿ áe.ntença0 qae d¿

n,zÁ:tame,ntz 6ao dada¿ e <aze^ que. 06 4et14 £ a je .lt06 ¿zjam obe

dZ^ntCÁ a e la ¿ n06 ca¿ 0 6 que 4ão da òua juL^òdZção, paKa


087

òdAím a ltó gua^dadoò da ¿anha do. Pea¿ e d06 m ulto¿ daño¿ e

pcAlgo¿^ cm que cazm poá z0 0 a0 ¿e n te n ç a ¿, o.¿pe.c la im a n t2. poA.

¿c n tc n ç a de excomunhão de que a S a n ta Jg A e ja toma eópada e¿

p i^ it u a l e coKta a alma que e a melhoA e mal¿ nob/ie pafite

do coKpo [ 4] , Neste t r e c h o , tra nsp are ce a i n f l u e n c i a da do^

t r i n a medieval sobre as r e la ç õ e s e ntre os poderes e s p i r i t u -

al e temporal no mundo c a t ó l i c o . A Igreja tera, p o r t a n t o , dois

braços: o e sp iritu a l, representado pelo sa c e rd o c i o , e o se

cular, a cargo da autori dade c i v i l . Os poderes por e le s exer

cidos sao simbolizados pelos dois gl ád io s ou espadas. O glá

dio e s p i r i t u a l " c o r t a a alma‫ ״‬e o temporal, que f e r e os cor

pos ( 5 ) .

Houve, porém, d e l i t o s contra a r e l i g i ã o que

foram processados e sentenciados por juTzes l e i g o s . D. Diniz

por l_ei do ano de 1315, determinou que d es cr er de Deus e de

sua Mae, Santa Maria, ou doestá-Los, por quem quer que f 0£

se, c o n s t i t u í s s e crime. A pena era c r u d e l ‫ ו‬ssima: "o crimino

so s e r i a queimado depois de se Ihe t i r a r a lin gu a pelo pe£

C0Ç0" (6).

O crime de h e r e s i a , por t r a t a r de competen ‫־‬

cia dos juTzes e c l e s i á s t i c o s , os quais tinham um Tribunal

somente para esses f e i t o s , não c o n s t i t u i , nas Ordenações

reais, numerosos casos de punições com 0 degredo no B r a s i l .

Serão os Regimentos da I n q u i s i ç ã o que mais profundamente se

i n t e r e s s a r ã o pelas v a r i a s modalidades de atentados e crimes

cont ra a I g r e j a . Mesmo assim, nas Ordenações, encontram-se

punições para os hereges, a p o s t a t a s , benzedores, para "os

que arrenegam ou blasfemam de Deus ou dos San tos” e finalmeji


088

te os f e i t i c e i r o s , os quais eran) punidos con) a roorte e tinham

como p e n al id ad e, nos casos a te n ua nt es , o degredo para o Br^

sil e A frica.

Ñas Ordenações A fo n s i n a s , recebiam os f e i t i c e i ^

ros a pena de morte e sendo menos agravante a acusação podiam

ser degredados por 3 anos para C e u t a ( 7 ) . Ñas Manuelinas, eram

e le s degredados para o Além-Mar, em algum l u g a r da A f r i c a ou

para a I l h a de São Tomé. Nas Ordenações F i l i p i n a s , morte para

"toda pessoa de qualquer qualidade e condição que s e j a , quem

de lu g a r sagrado ou não sagrado tomar pedra d ' a r a ou corpora-

is, ou parte de cada uma destas co is as ou qualquer cousa s^

grada, para f a z e r com e la s alguma f e i t i ç a r i a " (8). A não ut^

l i z a ç ã o de ob jet os sagrados nas p r a t i c a s magicas, tais como

advinhações u t i l i z a n d o agua, c rista l, espadas ou s o r t i l é g i o s

para que uma pessoa que ira bem a outr a e qaalquzx, que a0 d l

tdò coLLóaó, ou cada uma deZa¿ ¿¿zeA., ò z ja pubZlcam eniz aço u ta

do com bagaço e p/iegão pe£a v i l a ou ZugaA,, onde t a ¿ cK¿me acon

te c e u , e ma¿¿ 0 e ja degredado paAa ¿empAe paAa 0 B ko á¿¿ e paga

Ka tKeò mtt A.e¿¿ paA.a quem acuòaA. (9).

Varios casos de f e i t i ç a r i a , punidos pela inqui^

si ção portuguesa com 0 degredo para 0 B r a s i l , podem s e r cons-i-

tatados pelos inúmeros processos e x i s t e n t e s no Arquivo Nacio-

nal da Torre do Tombo. Muitos referem-se às mulheres, as quais

são acusadas de manipuladoras da vida a f e t i v a e amorosa, de

fazerem p r e v i s õ e s do f u t u ro e d i r i g i r e m orações de conjuro aos

demônios ou rezas que invocavam ao mesmo tempo, santos e espT

ritos do mal. Eram na m a io ria au to - di da ta s que se gabavam de

f a z e r 0 bem ou 0 mal, de pr ovoc ar 0 odio ou 0 amor, de p o s s u i r


0C9

a seu s e r v iç o diabos obedientes e "de todos os portentos de

bruxas eu ro p éia s, tinha chegado aqui 0 rumor a c e rt a s mulhe

res audazes que a si mesraas a t rib u ía m poderes demoníacos"(10)

Todos esses processos de f e i t i ç a r i a deixam

nitidamente t r a n s p a r e c e r a movimentada vida s o c i a l , as cre£

ças, a vida moral e 0 grau de c u l t u r a das populações portu-

guesas que vieram degredadas para 0 B r a s i l . A In q u i s i ç ã o se

ocupou destes casos por serem c l a s s i f i c a d o s de assuntos que

cheiravam a h e r e s i a , sobretudo quando se supunha haver pac-

to com 0 demÔni 0 ( 11 ).

Na B a h ia , as " Denunciações do Santo O f í c i o •

de 1591" re gi s tra ra m que um e c l e s i á s t i c o reconheceu em t r ê s

patas que andavam pelos caminhos suburbanos de S a l va d o r ,

tr ê s senhoras da melhor sociedade baiana. No Recife,uma d^

ma i d^en t i f i cou, numa borboleta que a pers e gu ia , uma f e i t i ç e j ^

ra de suas re la çõ e s. 0 clima da cidade c o l o n i a l pedia br^

xas de verdade, aquelas de vassouras a j a t o , que diziam t e r

ido e vo l ta d o , numa n o i t e , do B r a s i l a Portugal ( 12 ). Desta

forma se v an g l o ri a v a Is abe l Maria de O l i v e i r a , n at u ra l da

V i l a de Cantanhede, no Bispado de Coimbra e moradora na ci-

dade de Belém do Grão-Parã, onde d i z i a que podia l e v a r pe£

soas a Lisboa, u t i l i z a n d o os poderes mágicos de certos anêis

de vid ro que comprara no T e r r e i r o do Paço ( 1 3 ) .

Na C o lô n ia , nas p r á t i c a s destes bruxos e bru

xas degredados, "nota-se a presença de matriz européia mais

abrangente, de matriz européia mais e sp e ci fic a m e nt e portu -

guesa" que paulatinamente se alteram e ganham novos traços


090

de co loração tip ic am en te amerindia e a f r i c ana ( 14).

2 . 4 . 3 . 2 Os Crimes Contra 0 Rei e os D i r e i t o s Régios

A matéria r e f e r e n t e aos crimes r e s u l t a n t e s de

l ealdad e e r e s p e i t o ao monarca c o n s t i t u í a lei ja existente

desde a Idade Antiga e Média. As Ordenações Afonsinas apro-

fundaram esta le i, fundamentando-se nos textos ja e x i s t e n t e s

dos glosadores e comentadores do D i r e i t o imperial romano. 0

títu lo 2 do L i v r o V desenvolveu minuciosamente a d e f i n i ç ã o dos

crimes contra 0 Rei. A lei d e f i n e " l e s a majestade" como "er-

ro de t r a i ç ã o que 0 homem faz contra a pessoa do r e i " (15) .

Essa t r a i ç ã o i m p li ca va tr ês v í c i o s contrários a devida l e a l ‫־‬

dade: torto, vileza e mentira.

Este "grave e abominável crime" (16) foi com

parado, pelos an ti go s sabedores (17), ã lepra,pois "assim co

mo esta enfermidade enche todo 0 corpo, sem nunca mais poder

c u r a r e empece ainda aos descendentes de quem ã te m . . . assim

0 er ro da t r a i ç ã o condena quem a comete e empece e infama os

que de sua l i n h a d e s c e n d e . .. "(18).

Existem dois graus de crimes de l e s a majesta-

de, chamados de p ri m e i ra e segunda cabeça. Os crimes de pri_

meira cabeça são aqueles em que se ofendia a pr opri a pessoa

do Rei por meio da t r a i ç ã o . Tais crimes são punidos com 0

c o n f i s c o de todos os bens e "morte c r u e l " . E n t r a , nesta cate

goria, todo aquele que " t r a t a r a morte do r e i , da rainha sua

mulher ou de algum descendente ou ascendente, por l i n h a reta


09 ‫ו‬

do monarca, irmão deste, tio, primo co‫ ־‬irmio ou sobrinho,

f i l h o de irmão do r e i " . Aquele que "matar ou f e r i r de pro^

p 5 s it o , na presença do r e i , algum homem ou mulher que e£

t i v e s s e na companhia d e l e " ; " t r a t a r a morte de conc elh ei-

ros do r e i " ; "bandear-se com 0 in i m i g o , em tempo de guer- ,

ra , para combater contra 0 R e i n o " ; "corresponder-se com

0 inimigo do rei ou do seu real Estado", "rebelar-se em

c a s t e l o ou f o r t a l e z a aquele que tenha dele f e i t o menagem

ao rei', recusando a entrega ao monarca ou a quem em seu

nome e x i g i r " ; " c o n s p i r a r com outros co ntra 0 re i ou seu

real E st ad o", e ainda esta i n c l u i d o nesta ordem de crimes

de primeira cabeça, aquele que "q uebrar ou d e r r i b a r , com

intenção de desprezo, imagem do re i posta nalgum l u g a r "

(19).

Aqueles crimes considerados menos graves , .

mas que implicavam em d e s r e s p e i to à pessoa do R e i, são os

delitos de lesa majestade de segunda cabeça. Tais crimes

não são punidos com a pena de morte, mas com c a s t ig o s cor

p o r a i s , os quais levavam em consideração "a condição das

pessoas, a qualidade do f e i t o e 0 que acharmos por D i r e i -

to" (20).

Varios eram os crimes de les a majestade de

segunda cabeça: " t i r a r pela f o r ç a do poder da j u s t i ç a um

condenado por sentença quando fosse levado a j u s t i ç a r " ;

"quebrar ou v i o l a r de qualquer modo a segurança r e a l " ; "ma

tar, f e r i r ou ofender reféns em poder do r e i , sabendo que

0 eram, e sem j u s t a razão, ou ajuda -los a f u g i r desse po

d e r " ; " a j u d a r preso acusado de t r a i ç ã o ou dar-lhe fuga" ;


092

" t i r a r do cárc ere algum preso condenado ou confesso, para

e v i t a r que se f i z e s s e j u s t i ç a " , "matar ou f e r i r , por v i n d i c

ta, inimigo que j a e s t e j a preso em pri são re g ia para se de

le fa z e r cumprimento de j u s t i ç a " ; "matar ou f e r i r juTz ou

oficial de j u s t i ç a por fat o r e l a t i v o ao e x e r c í c i o das suas

funções"; " f a l s i f i c a r ou mandar f a l s i f i c a r 0 s i n a l de al^

gum desembargador, ouv idor, corregedor ou qualquer outro

julgador, ou algum selo a u tê n t ic o que faça f ê , com 0 propõ

s i t o e intenção de causar dano ou de c o lh e r p r o v e i t o " . T o d o s

estes crimes têm pena f i x a d a : degredo para Ceuta ( 2 1 ) , São

Tomê (22) ou "s e rã degredado para 0 B r a s i l para sempre> e

perderá seus bens" ( 2 3 ). Degredo para 0 B r a s i l , tambera, pa

ra aqueles "que res ist am ou desobedecem aos o f i c i a i s da ju£

tiça, ou lhe dizem pa la vra s i n j u r i o s a s 24) ‫)״‬.

Os fazedores de moeda f a l s a estão enquadra ‫־‬

dos no crime de lesa majestade. Tal crime ê d e f i n i d o como

sendo ‫'י‬toda moeda que não ê f e i t a por nosso mandado (do r e i )

em qualquer lugar que seja f e i t a , ainda que seja f e i t a d£

quela forma e matéria de que ê f e i t a a nossa v e rd a d e i ra moe

da que se faz por nosso mandado no lugar para e l l o deputado^

porque segundo d i r e i t o e razão ao Rei ou P r i n c i p e da terra

ê somente outorgado f a z e r moeda e não a algum outro de quaj^

quer dignidade e preeminência que s e j a " ( 2 5 ) . Portanto ê

falsa a moeda posta em c i r c u l a ç ã o por quem não haja re ce bi -

do para i ss o 0 mandado do r e i . A pena para 0 f a l s i f i c a d o r ,

contida nas A f on si n as , e a morte "de fogo" e c o n f i s c o de

todos os seus bens para a Coroa do Reino ( 2 6 ). Nas Manueli-


093

nas, além da morte ''de f o g o " , podta-se também degredar para

sempre para a i l h a de São Tome, ou 10 anos para um dos "n 0 £

sos lugares d ' A f r i c a " (27) e, nas Ordenações F i l i p i n a s , foi

a c r e s c id o 0 degredo "para sempre para 0 B r a s i l e todos seus

bens serão c o n f i s c a d o s , dos quais haverã a metade para quem

0 acusar". Cercear moedas de ouro e p r a t a , i s t o e, ra spa r

as bordas das moedas, a fim de obt er metal pr ec ios o em põ ,

diminuindo 0 peso que dava 0 v a l o r a moeda, além dos famosos

açoites para os homens vTs, levava 0 criminoso ao degredo

"por 2 anos para for a do Reino" (28). As Ordenações F i l i p i n a s

condenam 0 cerceamento de moeda com 0 degredo para sempre

para 0 B r a s i l e c o n f i s c a ç ã o dos bens, os quais eram reparti^

dos "a metade para a Câmara, e a outra metade para quem ac^

sar" (29). 0 d e s r e s p e i t o da pena de degredo é t i d a também

como crime de les a majestade, pois i m p l i c a d e s r e s p e i t o as

ordens r é g i a s . 0 re i Dom Afonso V pre viu e puniu 0 não aca-

tamento das sentenças co nde nat ori as da pena de degredo: 0

degredado, por tempo c e rt o mas i n f e r i o r a 10 anos, que não

começou a cumprir seu d e s t e r r o , teria a pena dobrada.Se foi

para 0 lu g a r f i x a d o , mas dele saiu antes do tempo, sõ t e r i a

que cumprir 0 dobro do que lhe f a l t a s s e . Tendo sido degred^

do por 10 anos ou mais e "quebrantou" 0 degredo, este passa

r i a a s e r perpétuo. Caso a condenação t i v e s s e sido em degre

do perpétuo, a i n f r a ç ã o era punida com pena de morte (30) .

As F i l i p i n a s , no t i t u l o 143 do L t vr o V, acrescentaram que

"se algum degredado f o r achado f o ra do l u g a r para onde foi

degredado, sem mostrar c e r t i d ã o p u b l t c a , per que se possa sà


094

be r, que tem cumprido 0 degredo, s e ja logo preso, e 0 tempo

que ainda lhe f i c a r por s e r v i r , posto que para sempre fosse

degredado, se era degredado para 0 Couto de Castro-Marim,se

j a mudado, e 0 vã cumprir e s e r v i r a A f r i c a . E se era para

a A frica, vão cumprir ao B r a s i l , e se era degredado para 0

B ra sil, se por tempo, dobre-se 0 degredo que t i v e r por cum

prir. E se era para sempre, morra por i s s o , não cumprindo 0

d i t o degredo. E fugindo do navio em que e s t i v e r embarcado^

para ser levado para 0 B r a s i l para sempre, morra por i s s o "

(31). Percebe-se, a q ui , que ser degredado para 0 B r a s i l , r£

presenta um grau elevado de punição; é a última p o s s i b i l i d ^

de antes da pena de morte.

?.4.3.3.08 Crimes Contra a Moralidade

Mesmo nos segmentos de l e i s dos reinados an

terio res as Ordenações Afonsinas em 1446, geralmente i n s p i-

rados nos " D i r e i t o s Im periais", os crimes contra a moralid^

de foram sempre punidos com grande a u st e ri d a d e .

Varios são os t í t u l o s do L i v r o V das Ordena-

çoes Afonsinas que tra ta ram da questão. Todo aquele que"for

çadamente ou por forç a dormisse com mulher casada, ou r e l i -

g io sa , moça virgem, e viúva que honestamente v i v e s s e " , in

c o r r e r i a em pena de morte; a mesma pena era a p l ic a d a a quem

"para a d i t a forç a se r f e i t a " , desse ajuda ou conselho. Nes

te caso a pena não i s e n t a r i a sua a p l i c a ç ã o ao estado, cond^

ção ou p r i v i l e g i o pessoal do delinquente e nem mesmo 0 pos


095

t e r l o r casamento com a “ mulher for çad a" ou o seu perdão, li

v r a r ia .o "forçador" da pena de morte que s5 poderia ser evi

tada por e s p e c i a l graça do r e i (32). As Manuelinas e F i l i p i _

nas puniram, com 0 degredo para a A f r i c a , 0 homem que dor

misse ‫ ״‬por forç a com qualquer mulher" (33).

Uma l e i de Afonso I V , 0 l e g i s l a d o r das Afon-

s i n a s , no t i t u l o 9 do L i v r o Y, ocupou-se do crime de sedu

ção da mulher virgem mediante afagos, induzimentos ou did2

vas. 0 sedutor, neste caso, s e r i a preso, mas podia cau cio n ar

em ju i z o com quantia que "razoavelmente possa b a s t a r , seguji

do a qualidade das pessoas, a d i t a v i r g i n d a d e " e aguardar 0

julgamento em l i b e r d a d e . Dormir "com moça virgem ou viúva

honesta por sua vontade ou e n t r a r em casa doutrem para com

e la s do rmir ", i n c o r r e r á ao culpado, em degredo para a A f r i -

ca, Sio Tomé ou algum "dos nossos lugares d'Além" (34).

Com relaçã o ao crime de a d u l t é r i o da mulher,

era l i c i t o ao marido matar a a d ú l te ra e 0 homem que com ela

fosse encontrado, salv o se este fosse c a v a l e i r o ou f i d a l g o

de s o l a r , "por re v e r ê n c ia e honra de sua pessoa e estado de

c a v a l a r i a ou f i d a l g u i a " . As A fo ns in as , no t í t u l o 18, sempre

do Li v ro V, al te r a ra m em parte esta norma; se 0 marido uj^

tr a ja d o encontrasse em f l a g r a n t e sua mulher em "pecado de

adultério" com alguma pessoa nobre e 0 matasse, nio s e r i a

condenado a morte, mas "sendo v i l ã o e homem de pequeno est£

do" s e r i a aço itado e degredado por um ano com baraço. Caso

fosse " v a s s a l o ou de semelhante c o n d i ç ã o " , 0 degredo seria

mantido, mas e xc lu íd o 0 baraço, porem não se l i v r a r i a do


096

pregão na a u d i ê n c i a . E aqui entra 0 grande p r i v i 1é g i 0 : se 0

marido t i v e s s e tambim 0 foro de c a v a l e i r o ou f i d a l g o de so

lar, não s e r i a de forma alguma punido ( 3 5 ). Os casos de

ad ultirio eram geralmente punidos com a morte, mas no fato

do "marido perdoar a mulher e acusar 0 a d ú l t e r o , ele não

morra morte n a t u r a l , mas seja degredado para sempre para 0

B ra sil"; ainda mais, se 0 marido perdoasse tambim 0 adúlte-

ro, este t e r i a uma pena menos r i g o r o s a : sete anos de degredo

para a A f r i c a . E se fosse provado "que algum homem consentiu

a sua mulher que lhe f i z e s s e a d u l t i r i o , serão e l e e ela aço^

tados com senhas capela de c o r n o s " , isto i , cada um com uma

g r i n a l d a de cornos, além de degredados para 0 B r a s i l . 0 aman

te " s e rã degredado para sempre para A f r i c a " (36).0 a d u l t i r i o

era sempre punido, mesmo no caso da mulher ser "casada de

feito e não de d i r e i t o " (casamento p u t a t i v o ) , 0 adúltero ,

como a mulher "s e r ão degredados por 10 anos para 0 B r a s i l ,

para d i f e r e n t e s capitanias" ( 3 7 ).

Na Co rt e, 0 homem que t r a z i a " b a r r e g ã s " ,nome

atrib uido , na i p o c a , ãs amantes, s e r i a degredado d e l a , com

pregão na a u d i ê n c i a , e a mesma sentença t e r i a a sua barregã

( 3 8 ) . Se os b a r re g u e ir o s fossem casados,além das penas pecu-

niãrias, seriam degredados por 3 anos em algum lugar d'Alim(39)

Muito grave e p e r s i s t e n t e , foi a l u t a contra

as barregãs dos c l é r i g o s . Em 1401,D. João I , promulgou a

lei que consta nas Afonsinas "que muitos c l é r i g o s e r e l i g i o

sos tinham barregãs em suas casas a olhos e fac e s dos p r e l a

dos e de todo 0 povo, e as trazem v e s t i d a s e guarnidas tão

bem e melhor que os l e i g o s trazem as suas mulheres, pela


097

qual razio muitas mulheres dei;(aro de tornar maridos l í d i m o s . . .

e juntam-se com c l é r i g o s e com f r a d e s . . . e vivem com e le s por

suas barregãs em pecado m o rt a l " (40).

No i n í c i o do seculo X V I , muitas penas de exco-

munhões e suspensões foram dadas aos c l i r i g o s ba rre gue iro s ,

mas os prelados responderam ao Rei que com essas sanções nada

conseguiriam po is, "por quantas penas pusessem aos clérigos

e religiosos para que não tivessem ba r re g ã s, que as não deixa

riam de t e r " , se 0 monarca não impusesse penas temporais tam

bem para as mulheres ( 4 1 ).

As punições chegaram então a essas mulheres que

foram pro ibidas de viverem^por barregãs'* com os c l é r i g o s e f r ^

des; teriam e la s pena de p r i s ã o , multa e degredo. F oi -l he s 0£

denado ” que pela pri mei ra vez, que no d i t o pecado f o r conven-

cid a... pague dois mil r é i s e s e ja degredada por um ano fora

da cidade, ou v i l a e seus termos, onde e st e ve por manceba".Pe

la segunda vez, "pague a d i t a pena em d i n h e i r o e s e ja degred^

da fora de todo 0 bispado, um ano. P el a t e r c e i r a vez, s e j a pjJ

blicamente açoutada e degredada fora do bispado até nossa mer

cê". A punição máxima, neste caso, era 0 temTvel degredo " p£

ra sempre para 0 B r a s i l , caso fosse e la surpreendida pe laq uar

ta vez" (4 2 ). Quanto ao " f r a d e que f o r achado com alguma m^

lher", a punição s e r i a bem mais branda, e l a não s e r i a preso ,

‫ ״‬s a lv o - lh e requerido pelo p r e l a d o , ou v i g á r i o ou seus superio

r e s " ; os frades "que forem achados fora do mosteiro com algu-

ma mulher, mandamos que os tomem e tornem logo ao mo ste iro , e

os entreguem a seus s u p e r i o r e s , sem mais irem a c ad eia " ( 43).


098

A mulher so poderia ser perseguida como "b ar re gã " se fosse

surpreendida em companhia do c l i r i g o em lugar s u s p e it o , ou

se contra ela houvesse querela jurada perante 0 juTz com

testemunhas nomeadas* Os c l é r i g o s de mais de 60 anos,podiam

t e r em suas casas ,muiheres honestas de mais de 50 anos, mas

somente "para os continuadamente servirem e lhes prover em

suas dores e enfermidades, sem temor de pena alguma" (4 4 ).

A punição para a rufiagem era p r e v i s t a nas

tr ês Ordenações do Reino. As Afonsinas conceituam claramen-

te 0 s i g n i f i c a d o do termo: r u f i ã o era 0 sedutor que lançava

as mulheres seduzidas e t i r a d a s ãs f a m í l i a s "na mancebia ,

pondo-as em estalagens para publicamente dormirem com os h^

mens passageiros e havendo ele s em si tudo 0 que e la s assim

ganham em 0 dito pecado" ou as levam "às v i l a s e cidades de

que ouvem maior fama, por 8‫ ו‬mais ganharem e alT as põem em

mancebias públicas para haverem como de f e i t o hão, todo seu

torpe ganho". Açoutes públicos ao r u f i ã o e a sua manceba;am

bos seriam degredados perpetuamente do Rei no( 4 5 ) . As F i l ipinas

es pe cif ica m: ‫'״‬e l e serã degredado para a A f r i c a e ela para 0

couto de Castro-Marim" (46).

Degredados para 0 B r a s i l senômainda os " que

dormem com suas parentas" ,sendo ‫'״‬sua t i a , irmã de seu pai

ou mãe; ou com sua prima co-irmã, ou com outra sua parenta

no segundo grau. contando de acordo com 0 D i r e i t o canônico,

seja degredado 10 anos para a A f r i c a c cia 5 anos para 0

Brasil" e se fo r sua "cunhada no pri mei ro g r a u " , 0 degredo se

rã para ambos, de "10 anos para 0 B r a s i l , para d i f e r e n t e s c ^

pilan ias" (47). Degredo perpétuo tambcm para 0 B r a s i l , os


099

"que dormem com mulheres 5 r f ã s , ou menores, que estão a seu

cargo" (48), e ainda "por toda a v i d a " para 0 B r a s i l , ia

aquele que se " c a s a , ou dorme com parenta c r i a d a , ou escra

va branca daquele, com quem v i v e " ( 4 9 ).

Ao homem que e n t r a r no "mosteiro ou t i r a fre2

r a , ou dorme com e l a , ou a re colhe em c a s a " , se fosse peao,

teria pena de morte, mas se fosse de "mor q u a l i d a d e " , seria

degredado perpetuamente para 0 B r a s i l ( 5 0 ).

Fin a lm en te , seriam sentenciados com 0 degre

do nas t e r r a s b ra sile ira s, "qualquer pessoa, assim homem,co

mo m ul her ", que a l c o v i t a r mulheres para "fazerem mal de seus

corpos"; 0 degredo era perpétuo nos casos de ser a pessoa al^

c o v it a d a alguma " f r e i r a p r o f e s s a , moça virgem, viú va honesta

ou a f i l h a do a l c o i o t e " ( 5 1 ).

Duríssima era a pena para a sodomia, conside

rado "sobre todos os pecados, 0 mais to r p e , sujo e desone^

to" e por isso "todo 0 homem que t a l pecado f i z e r , por qual

quer guisa que ser possa, seja queimado e f e i t o pelo fogo em

p5, por t a l que ja nunca de seu corpo e se p u lt u r a possa ser

ouvida memória" (52). Caso "as pessoas, que com outras do

mesmo sexo cometerem 0 pecado de m o l i c i e , serão c as ti ga dos

gravemente com 0 degredo de gales e outras penas e s tr a o r d 2

nãrias, segundo 0 modo e perseverança do pecado". Degredado

para fo r a do Reino, "para sempre", aquele que soubesse de

algum culpado neste pecado e não d i s s e s s e aos corregedores

da J u s t i ç a (53).

2 . 4 . 3 . 4 Os Crimes Contra a Pessoa, Sua Honra e Reputação.


‫ ו‬00

As Ordenações Afonsinas cominaro pena de mor

te par 2^ 0 homicídio "sem r a z ã o " , qualquer que se ja 0 esta

do e condição do de lin qu en te , porem ameniza a pena quanto

aos fer im en to s, mandando pu n ir , não com pena de morte como

na l e i d i o n i s i a n a , mas "que f o r achada por D i r i e t o que me-

re ce, segundo a qualidade do f e i t o " (54).

A pena s e r i a a c re s c id a de pris ão e multa,

caso 0 homicidio ou ferimento fosse na "Co rte ou nos arre-

dores" ( 5 5 ). Nas Ordenações Manuelinas, a pessoa que mata

ou f e r e na Corte ou qualquer parte do Reino, ou mesmo pelo

f a t o de t i r a r arma na Cort e, podia se r punido com morte r\a

t u r a l , mas conforme a qualidade e c i r c u n s t â n c i a do *'dito

morto"; a punição ap l ic a d a podia se r 0 degredo por 10 anos

para a i l h a de São Tomé, ou os mesmos 10 anos, com baraço

e pregão, para um dos lugares d ' A f r i c a (56).

Degredado para 0 B r a s i l , 0 homem que "arran^

c ar " armas "em i g r e j a ou p r o c i s s ã o " ; não importa a qual ida

de e condição da pessoa, se "dentro em i g r e j a , ou mosteiro

a r r a n c a r espada, ou punhal para f e r i r outrem, ou em proci^

são, ou outro l u g a r , onde 0 Corpo do Senhor f ô r , ou e s t i ‫־‬

ver", se ja e le "degredado para sempre para 0 B r a s i l " . A pu

nição t o r n a v a ‫ ־‬sc menos severa se "fazendo 0 d i t o arrenca -

mento em p r o c i s s ã o , onde não vã 0 Corpo do Senhor, s e ja de

gredado 10 anos para 0 B r a s i l " (57).

Se 0 escravo ou f i l h o a r r a n c a r arma contra

seu senhor ou p a i , se t a l ato cominar em morte, 0 delinquen

te t e rã as duas mãos decepadas e morte n a t u r a l na f o r c a . C a


‫וסו‬

so, não haja f e r i m e n t o , " s e j a açoutado publicamente com bara

ço e pregão pela v i ‫ ו‬a e s e j a - ‫ ו‬he decepada uma mão" ( 5 8 ) .

A in ju ria e difamação c o n s ti t u í a m s e r i o s cr^

mes contra a pessoa e sua honra. As Ordenações Afonsinas con

tinuaram a empregar 0 termo " i n j ú r i a " , no se ntido de ação

c o n t r á r i a ao D i r e i t o , podendo 0 de‫ ו‬i t o cont ra a pessoa ser

cometido por p a l a v r a s ou por f a t o s . Este crime condenava 0

réu em indenização ou pena c o r p o r a 5 9 ) ‫)ו‬.

As Ordenações F i ‫ ו‬i p i n a s abriram 0 ‫ ו‬eque das

punições para os i n j u r i o s o s ; 0 t ‫ ו‬t u ‫ ו‬o 49 do famoso L i v r o V:

"Dos que r e s i s t e m , ou desobedecem aos o f i c i a i s de j u s t i ç a ,

ou lhes dizem p a l a v r a s in ju rio sa s", poderia l e v a r 0 i n j u r i o

so a s o f r e r morte n at u ra l ou degredo perpétuo ou temporário

para 0 B r a s i l ou A f r i c a (6 0 ).

Dizer testemunho f a l s o l e v a va 0 i n f r a t o r ao

açoute púb lico e "cortem-lhe a l in g u a na pra ça, junto com 0

pelourinho", era a punição dada pelas Afonsinas ( 6 1 ). Mas

poderia também, conforme as Manuelinas, conduzir ao degredo

para São Tomé e A f r i c a (62) e ainda para 0 B r a s i l , de acor-

do com as F i l i p i n a s (6 3 ).

A mulher "que se f i n g i r ser prenhe sem 0 s e r ,

se ja degredada para sempre para 0 B r a s i l e perca todos os

seus bens para nosso c o r o a " ( 6 4 ) ; era e st a a forma de ap0 £

s a r da herança de alguém, culpando-o uma suposta pa te rni da -

de.

Muitos outros crimes cont ra a pessoa, sua

honra e reputação condenaram com degredo para 0 B r a s i l ; fe

r i r em r i x a com t i r o s , "posto que não mate, se f o r escudei_


‫ ו‬02

ro, e daí para cima, seja degredado 10 anos para 0 B r a s i l ‫״‬

e se f o r pe io , " s e j a publicamente açoutado com baraço e

pregão pela v i l a e por 10 anos para 0 B r a s i l " (65). Fazer

desafios e l e v a r e s c r i t o s ou recados de d e s a f i o s , in c o r re -

rão os culpados em "pena de 10 anos de degredo para 0 Bra-

sil" ( 6 6 ). E n t r a r em alguma cas a, quebrando as p o r t a s , "ou

i n j u r i a r alguma pessoa que dentro da casa e s t i v e r " , 0 de

gredo s e r i a também perpetuo para 0 B r a s i l (6 7 ).

2 . 4 .3 .5 Os Crimes Contra 0 Patrimônio

r novo 0 t i t u l o das Ordenações Afonsinas que

se denomina "aos que arrancam os marcos sem consentimento

das partes nem autoridade da j u s t i ç a " . A punição para este

deliti) tinha que ser c a r a c t e r i z a d a por arrancamento p r a t i - •

cada com intenção m a lé fi ca e para de fra u da r os p r o p r i e t a r y

os das t e r r a s demarcadas. Na parte d i s p o s i t i v a do mesmo t í

tulo , punia‫ ־‬se aquele "de qualquer estado e condição que

seja", que sem autoridade da J u s t i ç a , ar ra n ca sse marco p0£

to entre " v i n h a s , o liva is, pomares, marinhas, herdades de

pão ou qualquer outra coisa de senhorio d i s t i n t o " . A pena,

se 0 delinquente fosse homem de pequena condição, seria de

açoutes públicos pela v i l a ou lu g a r onde 0 f e i t o tenha ocor

r i d o , seguido de degredo de 2 anos para Ceuta; e, se fosse

vas sa lo ou daT para cima, degredo por 4 anos para a mesma

cidade ( 6 8 ) . Para 0 criminoso deste mesmo d e l i t o , as Ordena-

ções F i l i p i n a s estenderam 0 degredo para a Africa ( 6 9 ).


‫ ו‬03

Degredo para o B r a s i l era a punição para quera

e n tr a ss e na casa al h e i a "cora animo de f u r t a r ” e ‫ ״‬Ihe não

prove, que fu rt ou cousa a}guma da d i t a casa" ( 7 0 ). Dar aju-

da "aos escravos c at iv os para fugire m, ou os encobrirem"

(7 ‫ ) ו‬e vender propriedade a l h e i a , também eram crimes que de

gredavam para 0 B r a s i l (7 2) .

0 degredo na co lô ni a b ra sile ira correspondia

a punição para os d e l i t o s que ocasionavam maior p r e j u í z o e

danos contra a propriedade a l h e i a , tal como c o r t a r ar vores

de f r u t o , era qualquer parte que e s t i v e r ; neste caso, 0 con-

denado pagaria a estimação da ár vor e a seu dono era tresdo -

bro e s e r i a degredado para a A f r i c a se a v a l i a fosse até

4 mil réis, mas se “ fo r v a l i a de 30 cruzados e d a í para cj^

ma, será degredado para 0 B r a s i l “ ( 7 3 ) , ou então matar be^

ta de outra pessoa, de qualquer sort e que s e j a , além do p^

gamento em tresdobro, e se a quantia do p r e j u í z o superasse

30 cruzados, 0 degredo s e r i a elevado para 0 B r a s i l (7 4 ).

Além dos casos r e la t a d o s dos d e l i t o s cometi-

dos contra a r e l i g i ã o , contra 0 rei e os d i r e i t o s r é g i o s , con

tra a moralidade, honra e reputação das pessoas e do patrimô

n io , muitos outros c on tr ib uí ra m para am pliar ainda mais 0 nú

mero de degredados para 0 B r a s i l , é 0 caso "dos que fazem a£

suada" (75); dos mercadores que quebravam t r a t o s e os que

roubavam a fazenda a l h e i a ( 7 6 ) , neste caso eram e le s conside

rados " p ú b l i c o s ladrões" e portanto cas ti ga do s com as mesmas

penas que nas Ordenações e D i r e i t o C ivil eram c as ti ga dos os

ladrões p ú b l i c o s . Degredo também para os " o f i c i a i s do Rei que

lhe furtavam ou deixavam perder sua fazenda por m a l T c i a " ( 7 7 ) ;


‫ ו‬04

os que faziam e s c r i t u r a s f a l s a s ou usassem dela ( 7 8 ) ; os que

" f a l s i f i c a m mercadorias" (79); os "que medem, ou pesam com

medidas ou pesos f a l s o s " (80); os "que molham, ou lançam t e r

ra no pao ( t r i g o ) que trazem, ou vendem, se f o r de 10 mil

r é i s para baixo, s e ja degredado para sempre para o B r a s i l "

(81). Os " o f i c i a i s del-rei, que recebem s e r v i ç o s , ou p e i t a s ,

e das partes que Iha dão, ou prometem" ( 8 2 ) , e "se a p e it a

passar de cruzado, ou sua v a l i a " , o degredo sera para sempre

para o B r a s i l " ( 8 3 ). Os p i l o t o s , mestres e m a r i n h e i r o s , na tu

rais do Reino que aceitassem navegação fora dele ( 8 4 ) ; o s que

sem l i c e n ç a do Rei fossem ou mandassem alguém a í n d i a , Mina ,

Guiné, ou os que embora possuindo a u t o r i z a ç ã o para i s s o , não

obedecessem aos seus Regimentos ( 8 5 ). Igual so rt e t e r i a os

que vendessem aos mouros co is as p ro ib id a s t a i s como armas ,

materiais de construção de navios "ou qualquer outro elemen-

to que os i n f i é i s pudessem a p r o v e i t a r em ato de g u e r r a “ ( 8 6 ) ;

ou aqueles que fossem à t e r r a de mouros sem l i c e n ç a do rei ,

ou levassem para fora do Reino sem a devida l i c e n ç a real ,trj_

go, cevada, farinha, ou qualquer c e r e a l , além de couros,

cuns, peles de cabra e ou tra pele (8 7 ). Quando 0 dano materi_

al fosse muito grande, era quase sempre decretada a pena de

morte, que poderia se r comutada em degredo para 0 B r a s i l , se

as proporções do ato fossem reduzidas (88).

Com todas e s ta s p o s s i b i l i d a d e s , a Ju stiça da época deve ter

a p ro ve ita do amplamente dessa margem legalmente concedida, pa

ra m u l t i p l i c a r 0 degredo, sobretudo por s e r de i n t e r e s s e da

Coroa 0 e f e t i v o povoamento das novas t e r r a s e por s e r a mane^


‫ ו‬05

ra mais simples de 0 f a z e r ( 8 9 ) .

Quanto ao jogo com dados f a l s o s ou chumbados

que uma l e i de D. D in is punia com a morte, as Afonsinas ,

considerando t a l pena "muito a s p e r a " , subs t i t u e m ‫ ־‬na por

açoutes públi cos e degredo para as i l h a s , alem da multa em

tresdobro da quantia que "com t a i s dados t i v e r ganho". E

se fosse pessoa que não poderia re ceber aço u te s, devido a

sua n o b i l i d a d e , seria degredada para Ceuta por tempo inde-

terminado ( 9 0 ). As F i l i p i n a s ampliaram 0 degredo para os

jogadores de dados; eram e le s degredados por um ano para a

A frica e, se a c i r c u n s t â n c i a e x i g i s s e maior punição, 0 de

gredo era mesmo para 0 B r a s i l , perpétuo ou por 10 a n o s , con

forme a qualidade da pessoa que f a l s i f i c a s s e os dados ou

ca rt a s (91 ).

Todos os d e l i n q u e n t e s , de qualquer crime,que

por suas culpas houvessem de se r degredados para lugares

certos, eram enviados para 0 B r a s i l , A frica, Castro-Marim,

ou ainda para as parte s da I n d i a . Ha d i v e r s a s e spé cie s de

degredo conforme a gravidade do d e l i t o ; podia s e r perpetuo

ou " a t é mercê do P r í n c i p e " , qu e via de regra era também "po r

toda a v i d a " , pois quando a sentença não designava 0 tempo

certo, ent endia-se s e r 0 degredo perpétuo; para as galés ;

para l u g a r determinado por tempo c e r t o , e ainda para for a

da v i l a e termo.

Sendo 0 degredo para dentro das t e r r a s do Re^

no, conjo Castro-Martwi, Alc ob aç a, Miranda, os réus seriara so]_

tos apÕs assuiDi reiD 0 conjprorai sso de irem cumprir setjs degre
‫ ו‬06

dos ( 9 2 ) , para i ss o eram-lhes concedidos o tejnpo de 30 d i a s ,

que as.ve zes podia ser prorrogado ate 2 meses. Os delinquen-

tes condenados para o B r a s i l nao “ s e r i o por menos tempo que

5 anos" ( 9 3 ) , e quando as culpas fossem de qualidade menos

agravante que nao merecesse tanto tempo de degredo para a co

lónia b r a s i l e i r a , e le era nomeado para a A f r i c a , Castro- Ma

rim ou outro lu g a r fo r a do Reino, da V i l a e Termo, segundo

as culpas. Embora as Ordenações F i l i p i n a s tenham e s t i p u l a d o

esta c l á u s u l a , na r e a l id a d e pode-se c o n s t a t a r v a r i o s degredos

para o B r a s i l pelo tempo de 3 anos.

Quando os criminosos fossem condenados para as

galés ealegassem serem e le s e s c u d e i r o s , "ou d a í para cima ,

ou de menos idade, que 16 anos, ou mais de 55, ou que tem

tal enfermidade" que os impeçam de irem s e r v i r nas g a l é s , s e n

do provado aos Desembargadores, 0 degredo poderia ser comuta^

do para 0 B r a s i l . Neste caso "um ano de galés se comute em 2

para 0 B r a s i l " (9 4 ). Todos os navios que partiam de Lisboa

para 0 B r a s i l , eram obrigados a comunicar ao Regedor da Casa

da S u p l i c a ç ã o , "para ordenar os degredados que cada navio ha

de l e v a r " . Caso os mestres, capitães, pilotos e senhorios

dos n a v io s , desobedecessem esta norma, seriam punidos "em pe

na de 50 cruzados, a metade para quem os ac u sa r, e a outra

para os presos pobres" ( 95 ).

Os degredados nobres tinham privilég io s também

namaneira de serem tra n sp o rta d o s , "serão e le s levados aos

n a v io s , quando forem cumprir seus degredos, com cadeia no

pé e não com c o l a r e s ao pescoço, como os o u t r o s , que não tem


‫ ו‬07

a d i t a q u a l i d a d e ” . Os "peões” traziam o c o l a r no pescoço(96).

Segundo os v a r i o s processos dos reus condenados

pelo Santo O f i c i o , muitos deles vieram degredados pelo tempo

de 3 anos; a maioria por 5 anose quando a pena era muito ele-

vada e merecessem degredo, a t i n g i a no máximo 10 anos; superi-

or a i s t o era a condenação que t r a z i a 0 selo da perpetuidade.

Acontecia também que 0 réu, uma vez na c o l o n i a ,

r e i n c i d i a - s e nas suas velhas p r a t i c a s , aquelas mesmas que na

metrõpole foram condenadas. Muitas vezes pela necessidade m^

terial e pura questão de s o b r e v i v ê n c i a .

Acusado de fa ze r mesinhas para curar enfermida-

des e l o c a l i z a r , utilizando superstições, objetos de ouro e

prata, 0 ''clérigo de missa'', padre Antonio de Gouveia, senteji

ciado em 1561 pela In q u i s i ç ã o de Li sb o a , fo i condenado em car

c e re ^perpétuo e suspenso das ordens r e l i g i o s a s . Deveria cum -

p r i r sua pena r e t i r a d o no c o lé g io da Sé, mas de lã fugiu e

fo i preso novamente, mas desta vez, por tão grande "atrevimeri

to de sua alma'', foi condenado para as ga lés .Ao s 13 de novem-

bro de 1564, não suportando tantos sofrimentos e enfermidades

por l e r ” 0 sol lhe mudado a pele do braço d i r e i t o " , implorou

perdão, pedindo aos i n q u i s id o r e s que levassem em consideração

seus sofri ment os. Provavelmente seu perdão fo i recusado, ou 0

i n q u i e t o padre não teve p a c iê nc ia s u f i c i e n t e para aguardaruma

resposta do Santo Of Tc io, 0 qual normalmente agia com grande

morosidade. 0 que se sabe é que 0 nosso padre fugiu das galés

"por SG ve r em perigo de desesperação''; foi para a I t a l i a , Fran

ça e depois para a Alemanha. Não podendo ' ' v i v e r como 0 seu


‫ ו‬08

ofício era obrigado e vendo-se a r d e r en tre d i v e r s a s heresi^

as com dor de sua alma e prop osito firme de nao s e g u i r ne

nhuma", vo lt ou ao Santo OfTcio da I n q u i s i ç ã o de Lisboa e

pela " v i r g i n d a d e da SagradTssíma Mãe‫ ״‬, pediu perdão de suas

faltas e permissão para i r a I l h a T e r c e i r a , de onde era na

tural. Os I n q u i s i d o r e s de deputados do Santo T r i b u n a l , pe

la qualidade da culpa e desobediencia que o réu cometeu e

por t e r f e i t o "isto com muito at rev im ent o e com pouco te

mor de Deus e do Santo O f T c i o " , condenaram o padre Gouveia

em degredo de 2 anos para o B r a s i l . Acs 17 de outubro de

1567, foi e le entregue com outra g u ia , ao mestre da ñau São

Mateus, f oi a d v e r t i d o de que nunca mais d e v e r i a e n t r a r em

Lisboa sem l i c e n ç a dos i n q u i s i d o r e s e sob pena de s e r no

vamente degredado para as gales pelo tempo que bem pa re ce r

ao T r i b u n a l . Aqui chegando se deixou f i c a r . Longe da metro

pole e a t r a í d o pela vida desregrada e pouco f i s c a l i z a d a da

imensa c o l o n i a , o nosso c l é r i g o esqueceu-se completamente

do motivo de sua p r i s ã o e r e i n c i d i u nas suas velh as p r ã t i -

cas, condenadas pelo Santo OfTcio ( 9 7 ).

Em 1571, 0 bispo Dom Pedro L e i t ã o v i s i t o u a

capitania de Pernambuco e encontrou, naquelas bandas, 0

c l é r i g o d e s te rr a d o . A vida c o l o n i a l a b r i r a novos hor izo nte s

ao seu i n q u i e t o e a v e n t u r e i r o e s p i r i t o . Conhecedor de alquj^

mia, "que desordenadamente a d q u i r i r a na l i ç ã o dos autores

e no t r a t o pessoal coro os sabios e s t r a n g e i r o s , aliardo ao

d e s e q u i l í b r i o mental de que era do tad o", foi Antonio Gouve

ia cercado de notãvel p r e s t í g i o por s e r considerado grande

mineiro, "achador de ouro e p r a t a " e, exatamente por tais


‫ ו‬09

qualidades,, recebeu a alcunha de "padre do ou ro". Duarte Coe

lho de Albuquerque cultivou tal a f e i ç ã o ao padre que 0 en

carregou de i r ao s e r t ã o , entregando-lhe para esse fim, trin

ta homens brancos e duzentos Tndios. Fre i V ic e n t e do S a l v a d o r

afirma que 0 "padre do ouro" recusou l e v a r mais gente, por

lhe ser d e s n e c e s s á r i a , p o i s : , ..em chegando a qualqueA a ld z la

do g e n tio , poK gKando. que ¿ 0 0 0 e, ¿ 0 A.te e bem povoada, depena

va um ¿A.angào, ou de0 ¿o lh a va um A.amo, e quantaò penaò ou ¿0^

¿ha0 la n ç a v a paAa 0 aK, tantoò demÔnioò neg^oò venham do in

{^e^no lançando labaA.eda4 p e la boca, com c u ja v lò t a óomen^e

¿¿cavam 00 pob^eò ZndJ.0à , macho¿ e ¿êm ea¿, tremendo de pé¿ e

mãoó, e 6e acolhiam a00 branco¿ que 0 padKe le v a v a con¿¿go ,

06 qua¿¿ não ¿azíam ma¿¿ que ama/LA.ã-10 ò e l e v ã - l o ¿ ao¿ b aA. cc¿

e aq ueleò ¿do¿, out A. 0 ¿ v¿ndo¿ ¿ em Vua^te de A lbuquerque, pon.

ma¿¿ Kepreend¿do qu e de ¿eu t ¿0 e de ¿eu ¿ Amã o de A lbuquerquef

do Ae¿no, querer nunca a ta lh a r tão grande t¿ran¿a, não ¿e¿

0e pelo qu e ¿ n te r e ¿ ¿ ava na¿ peça¿ que ¿e vend¿am, ¿e porque

0 padre 0 t¿nha en¿e¿t¿çado 198} .

Estav a 0 "padre do ouro" em casa do juTz ordinã

r i o de O li n d a , Henrique Afonso, quando foi novamente preso

por parte da I n q u i s i ç ã o , pelo padre Manoel Fernandes C o r t i ç £

do, aos 25 de a b r i l de 1571. Entregue ao mestre da nau São

Jo ão, volt ou aos c á rc e re s da I n q u i s i ç ã o de Li sboa. Mas tão

e vi d e n te era a f a l t a de base na acusação que, ouvido 0 promo

tor, e s t e , depois de p e d ir i n s t r u ç õ e s , dec larou que não en

co ntrava nos a u to s , nenhuma culpa co nt ra 0 padre. M'israo as

sim, os i n q u i s i d o r e s somente no f i n a l do mis de a b r i l de

1575, remeteram 0 processo ao Concelho Geral do Santo OfTcio


no

e dai perdem-se as n o t i c i a s do nosso degredado, o ''padre do

ouro". (99).

As p o s s i b i l i d a d e s de degredo eram amplas; so

mente as Ordenações F i l i p i n a s de 1603, no seu famoso Livro

V, apresentavam 87 tipos de crimes castigados com 0 degredo

no B r a s i l , l oc a l e s co lh id o para as punições mais graves e

as culpas de qualidades. E f e ti va m e n t e , centenas foram as

pessoas enviadas ao degredo para 0 B r a s i l durante os tr ê s

séculos de co lonização. Sem dúvida, 0 aproveitamento dos

d e s c l a s s i f i c a d o s s o c i a i s para os tr a ba lh os forçados f o i uma

po lítica p r e v i s t a para a co lonização do Novo Mundo.

Toda essa gente, considerada delinquente e

in ú til, a c a rr e t a v a uma enorme despesa para os c of re s da a^

m i n is t ra ç ã o m e t r o p o l it a n a ; nada mais ú t i l que a p r o v e i t a r e^

te contingente dispendioso e tra nsforma-lo em agentes de co

Io nização e povoamento das t e r r a s u l t r a m a r i n a s .

C c r i s t a l i n a m e n t e notável nas L e gi sl a ç õe s e

Regimentos que, com 0 degredo, vinham para as c o l ô n i a s , mu2

tos elementos que ameaçavam os p i l a r e s de sustentação da or

dem moral e r e l i g i o s a e s t a b e l e c i d a na Europa t r i d e n t i n a ; he

reges, feiticeiro s, blasfemos, v i s i o n á r i o s , sodomitas, biga

mos, c l é r i g o s so licitad ores, iconoclastas, pretensos mini^

tr os do Santo O f i c i o c f a l s o s sa cerdotes.

Uma vez no B r a s i l , toda esta gente reproduz^

ria, no quotidiano c o l o n i a l , 0 uni ver so metrop olitan o des

v i r t u a d o , que aqui se c o l o r i u com novos matizes ao m i s t u r a r -

se com outros mundos, notadamente 0 indígena e 0 a f r i c a n o ,

fundindo-se em novas sínteses capazes de originar formas tipicamente colo


‫ווו‬

ni ai s ( 0 0 ‫)ו‬.

Era a c o 5 ‫ ו‬nia b r a s i ‫ ו‬e i r a , no o‫ ו‬har 2‫ש‬61‫מ‬0‫ק‬0 ‫ו‬

taño, o mundo ao avesso, a n t í t e s e da Europa c i v i ‫ ו‬i 2 ada.


‫וו‬2

NOTAS:

(1) Ordenações A f o n s i n a s . Nota de apresentação de Mario Jú

lio de Almeida Costa e nota t e x t o l Õ g i c a de Eduardo Bor

ges Nunes. Edição " f a c - s i m i l e " da edição f e i t a na Real

Imprensa da U n ive rsi da de de Coimbra, no ano de 1792. E

ditora da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Título

I.

(2) Ordenações F i l i p i n a s . Nota de apresentação de Mario de

Almeida Costa, Edição " fac-simi 1e " , da edição f e i t a por

Candido Mendes de Almeida, Rio de J a n e i r o , 1870. E d it o

ra Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Títu lo I, no-

ta 1 .

(3) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V, t í t u l o I , nota 2.

(4 ) Ordenações A f o n s i n a s , L i v r o V, T í t u l o X X V I I.

(5) Caetano, M. , o p . c i t . 555-556.

( 6 ) L i v r o das L e is de P o s t u r a s , p . 82, In : Caetano, M. op.

cit. p . 360.

(7 ) Ordenações A f o n s i n a s , L i v r o V, t í t u l o X XXX II .

(8) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V, t í t u l o I I I .

(9) ídem

(10) Omegna, N. A Cidade Col on ial , Rio de J a n e i r o , Jo s é

Olympi 0 , 1961 , p. 159.

(11) Pereira, da R. Processos de f e i t i ç a r i a e de br u xar ia

na I n q u i s i ç ã o de P o r t u g a l . In : Academia portuguesa de

His t o r i a , I I Série, A n a is , Volume 24, Tomo I I , Lisboa,

MCMLXXVII, p. 87.

(12) Omegna, N. op, c it. p . 159.


‫וו‬3

(13) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Li sb oa . Processo 5180, e Souza,

L. de M. e. 0 diabo e a t e r r a de Santa Cru z, São Pa^

1 0 ; Cia. das L e t r a s , 1986. p. 188.

(14) Souza, L. de M. e. I n q u i s i ç ã o e degredo. MTmeo p . 4.

(15) Ordenações A fo n s i n a s , Livro V, T í t u l o II.

(16) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t í t u l o VI.

(17) Nota 3 do t i t u l o VI do L i v r o V das Ordenações F i li p i ^

nas: sabedores‫ ־‬s á b i o s , prudentes, "parece que 0 le-

g i s l a d o r r e f e r i a - s e aqui a um dos sete sábios da Gré

cia, provavelmente a P e r i a n d r o , de C o r i n t o " .

(18) Ordenações F ili p i n a s , Livro V, t í t u l o VI.

(19) Ordenações Af ons in as. L i v r o V, t i t u l o I I .

(20) Ordenações A fo n s i n a s , L i v r o V, t í t u l o I I .

(21) Idem

(22) Ordenações M a n u e li n a s . Nota de apresentação de Mário

Jú lio de Almeida Costa. Edição " f a c - s i m i l e " da edição

feita na real Imprensa da U n iv e rsi da de de Coimbra, no

ano de 1792. E d i t o r a da Fundação Calouste Gulbenkian,

Lisboa, Livro V, t í t u l o V II.

(23) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r b V, t í t u l o L I I I

(24) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t í t u l o XLIX.

(25) Ordenações A fo n s i n a s , L i v r o V, t í t u l o 5.

(26) Idem

(27) Ordenações Ma nue linas , L i v r o V, t í t u l o V I.

(28) Ordenações A f o n s i n a s , L i v r o V, t í t u l o LXX XII

(29) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, títu lo X II.

(30) Ordenações A fo n s i n a s , L i v r o V, t í t u l o LXVII.


‫וו‬4

(31) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t i t u l o C X L I I I

(32) Ordenações Afonsinas, L i v r o V, t í t u l o VI.

(33) Ordenações Manuelinas, L i v r o V, t í t u l o X III e Ordena

ções F i l i p i n a s , L i v r o V, t í t u l o X V III.

(34) Ordenações Manuelinas, L i v r o V, t í t u l o X XIII.

(35) Ordenações Afonsinas, L i v r o V, t í t u l o X V I I I .

(36) Ordenações F ilip in a s , Livro V, t í t u l o XXV.

(37) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V, t í t u l o XXVI.

(38) Ordenações Afonsinas, L i v r o V, t í t u l o V I I I .

(39) Ordenações Manuelinas, L i v r o V, t í t u l o XXIV.

(40) Ordenações Af onsinas, L i v r o V, t í t u l o X VIII e Livro

II , títu lo XXII.

(41) Caetano, M. op. cit. p . 565.

(42) Ordenações F i li p i n a s , Livro V, t í t u l o XXX.

(43) Ordenações F ilip in a s , Livro V, t í t u l o XXXI.

(44) Ordenações Afonsinas, L i v r o V, t í t u l o X V I I I

(45) Ordenações Afonsinas, L i v r o V, t í t u l o XXII e Ordena-

ções F i l i p i n a s , L i v r o V, t í t u l o XXX.

(46) (írdenaçÕes F i l i p i n a s , L i v r o V, títu lo XXXIII.

(47) Ordenações F ilip in a s , Livro V, t í t u l o X V I I .

(48) Ordenações F ilip in a s , Livro V, t í t u l o XXI.

(49) Ordenações F ilip in a s , Livro V, t í t u l o XXIV.

(50) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V, t í t u l o XV.

(51) Ordenações F ilip in a s , Livro V, t í t u l o X X X II .

(52) Ordenações Afonsinas, L i v r o V, t í t u l o XVII e Ordena-

ções Manuelinas, L i v r o V, t í t u l o X II.

(53) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t í t u l o X III.


‫וו‬5

54) Ordenações Afonsi n a s , Li yro V. t T t u l 0 X X X I I .

55) Ordenações Afonsi n a s , L i v r o V. t T t u l 0 X X X I I I .

56) Ordenações Manueli nas , L i v r o V , t T t u l c ) X.

57) Ordenações F i l i p i n a s , Li vro V. t T t u l 0 XL.

58) Ordenações F l l i p i n a s , L i v r o V. t i tu l 0 XLI

59) Ordenações Afons i n a s , Li vro V, t T t u l 0 L I I

60) Ordenações F i ‫ ו‬i pi nas , L i v r o V, tT tu 10 XLIX

6 ‫ ( ו‬Ordenações Afonsi n a s , Li vro V, t T t u l 0 XXXVIIV

62) Ordenações Manueli nas , L i v r o V, t T t u l c > V I I I

63) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V. t T t u 1 0 LIV

64) Ordenações F i 1i pi nas , L i v r o V, t T t u 1 0 LV

65) Ordenações F i 1ip in a s , L i v r o V, t T t u l 0 XXXV

6 6 ) Ordenações F i 1i pinas , Li vro V, t T t u l 0 X L I I I

67) Ordenações F i 1i pi nas , L i v r o V, t T t u l 0 XLV

6 8 ) Caetano, M. Op, ci t . p . 570

69) Ordenações F i l i p i n a s , Li vro V, t i t u l o LXVII

70) Ordena çÕes F i l i p i n a s , Livro V, tTtu 1 0 LX

7‫ ( ו‬Ordenações F i 1i pi nas , L i V ro V, t T t u l o L X l I I
72) Ordenações F i l i p i n a s , L i vro V, tT tu l 0 LXV

73) Ordenações F i l i p i n a s , Li vro V, tT tu 1 0 LXXV

74 ) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V. tT tu 1 0 L X X V I I I

75) Ordenações F i l i p i n a s , L i V ro V, tTtu 1 0 XLV

76) Ordenações F i l i p i n a s , Li vro V, tTtu 1 0 LXVI

‫ ( י י‬Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t T t u l 0 LXXI V
78) Ordenações F i 1ipi na s , L i vro V. tTtu 10 L I I I

79) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t T t u l 0 L V I l

80) Ordenações F i 1i p i n a s , L i v r o V, t T t u l o LV III

8 ‫ ( ו‬Ordenações F i ‫ ו‬i pi nas , L i v ro V. t T t u l 0 LIX


‫וו‬6

(82) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V, t i t u l o LXXI

(83) Idem

(84) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, tTtulo XCVIII

(85) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t T t u l o CYII

( 86) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t T t u l o CIX

(87) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, tTtulo C V III e CXII

( 8 8 ) Costa, E. V. da. op. c i t . , p.l5.

(89) Tdem, p. 10.

(90) Ordenações A f o n s i n a s , Livro V, t T t u l o XXXX

(91) Ordenações F l i p i n a s , L i v r o Y, t T t u l o LXXXII

(92) Ordenações F l i p i n a s , L i v r o V, t T t u l o CX XXI II

(93) Ordenações F l i p i n a s , L i v r o Y, t T t u l o CXL

(94) Ordenações F l i p i n a s , L i v r o Y, t T t u l o CXL

(95) Ordenações F l i p i n a s , L i v r o Y, tTtulo CXL

(96) Ordenações F i l i p i n a s , Livro V, t T t u l o CXL,parágrafo 89,

O g r i l h ã o era também chamado de braga, que era uma argo

la de cadeia de f e r r o em que se prendia o condenado pe-

la perna, andando a cadeia atada a c i n t u r a ou a uma ar

gola que prendia a uma outra pessoa.

(97) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Lisb oa. Processo 5158.

(98) Fre i Y ic e n t e do S a l v a d o r . Hi s t o r i a do B r a s i 1 . Nova ed_i^

ção r e v i s a d a por Ca pis tra no de Abreu, p.202. In : Filho,

S.L. Os judeus no B r a s i 1 , Rio de J a n e i r o , 1923 , p . 83.

(99) Filh o , S.L.op. cit. p. 83.

(100) Souza, L. de Mello e. I n q u i s i ç ã o e degredo, op. c i t .

P .7 .
‫וו‬7

2.5 O Degredo nos Regimentos da I n q u i s i ç ã o

04 c0dX.g06 e pn.oje.to0 ¿ n q u i 0 ¿ t 0 A . ¿ a ¿ 6 , com ¿ ua


do cume.ntaç.ã.0 compZermntciA., &0tão hã mul t o ha. pQ.d¿^ o z ó t u d o
atunto do. j a ^ ó t a , que. 00 d l &ó e q u e e ancillóe. e Ike^ó manque
a d¿¿td.nc¿CL a quz i am ¿ ¿ c a n d o da EuA.0pa c u l t a . (...) Ma0 a
evotuc^ao do d¿f1e,lto ¿ n q u i ó i t o A Á a ¿ , 4 e 0 e pode (^atafi dz di
Kzltoò ondz o a ^ b Z t ^ o comanda, pA.e.ci 6 a de. quzm a z ó t u d z e
no¿ d i o 0 ea cami nho e a {^o^ma como {^oi a p l i c a d a a l e . g i 0 l a -
ç ã o . A{^a0tado¿ da E u r o p a eò t ã va moò , 0em d ú v i d a . . . [ 1).

C^zmoò que o S an t o O^ Zc i o deve ¿ e ^ l i d o à luz


da m e n t a l i d a d ¿ da E p o c a que, p K o p o K c i o n o u e, a c e i t o u a ¿ua
¿ n t A a d a e a t u a ç ã o e não a l u z do e ó p Z ^ i t o de. h o j e , p o i 6 ne 4
t e caóo e e v i d e n t e que e l e {^oi a n t i - c x i ò t ã o e anti-kumano .
Ma¿ a funç ão do k i ó t o n Á . a d o não é j u l g a i o p a ò ò a d o , ma0 e¿~
tudâ-lo e c o m p r e e n d e - l o . A¿ ¿ i m, penòamoò ¿en. i m p o ó ó Z v e l en
t e n d ê - l o ¿em urna a n á l i & e da c o n j u n t u r a p o i Z t i c o - r e l i g i o s a e
■ óoc i al i n t e r n a e p e n i n s u l a r que p r e p a r o u a n Z v e í i d e o l ó g i c o
a óua a c e i t a ç ã o f nem tão p ou c o 0em o e ò t u d o da m e n t a l i d a d e
p r é - t r i d e n t i n a que 6e a f i r m a v a na c r i s t a n d a d e , ant e o avanço
do l u t e r a n i s m o e das c r Z t i c a s a Igreja romana ( 2 ) .

2.5.1 E Depois de T u do ... o Degredo

Em nome e "para s e r v i ç o de nosso S e n h o r" , foi

elaborado 0 p ri m e ir o Regimento da I n q u i s i ç ã o portuguesa em

3 de agosto de 1552, duas décadas depois de e s t a b e l e c i d o 0

tribunal em P or tugal pelo Papa Clemente V I I I e posteriormen

te confirmado com a bula do Papa Paulo I I I de 23 de maio de

1536. 0 Regimento foi dado ãs mesas s u b a lt e r n a s do t r i b u n a l

da I n q u i s i ç ã o do Santo O f i c i o pelo Cardeal D. Henrique, in

q u i s i d o r geral do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o portuguesa de

1539 a 1578.
‫וו‬8

o pr o je to f o i apresentado e d i s c u t i d o cora as

grandes autoridades e c l e s i á s t i c a s portuguesas da epoca. Fo

ram ouvidos 0 Arcebispo de Braga, D. B a l t a s a r Limpo; 0 B i^

po de Angra e governador da Casa do C T v e l , D. Rodriguo Go-

mes P i n h e i r o ; 0 Bispo do A l g a r v e , D. João de Mello e ainda

dois i n q u i s i d o r e s de Cvora: 0 l i c e n c i a d o Pedro A lv a r es Pa

rede e 0 Dr. João Alv a re s da S i l v e i r a . C o n s ti tu iu desta m£

n e i r a uma comissão de l e tr a d o s que "dei taram certamente 0

baixo 0 D i r e i t o Canônico, desde 0 Corpus J u r i s Canonici até

as Decretaes de B o n i f a c i o V I I e as bulas i n s t i t u i d o r a s do

terrive l Tribunal" (3).

Além das r e f e r i d a s f o n t e s , foram ainda u t i l ^

zadas as decisões regias a n t e r i o r e s , o pro prio d i r e i t o c_[

vil e ordenações, além do Regimento da In q u i s i ç ã o espanho

la que precedera de muitos anos o primeiro Regimento por

tugues ( 4 ) .

Para e v i t a r qualquer dúvida sobre qual lei

cumprir em matéria que competia ao Santo T r i b u n a l , 0 pr^

meiro código organizado determinava que a "e s t e regimento

se guarde, havemos por revogados quaisquer outros de que se

até aqui usasse; e mandamos que este somente se cumpra e

guarde como nele se contém" ( 5 ) .

0 código i n q u i s i t o r i a l de 1562 e st ã d i v i d i d o

em 142 c a p í t u l o s , agrupados em t í t u l o s : Do promotor; dos

notários; do meirinho; do a l c a i d e de c á r c e r e ; dos s o l i c i t a

dores; do p o r t e i r o da Casa do despacho e dos P r o c u r a d o r e s .

Não t r a t a e sp e ci f i ca m e n te "das penas que hão de haver os


‫וו‬9

culpados nos crimes de que se conhece no Santo O f i c i o " .

rante seus 18 anos de v i g i n c i a , foraro-lhe in t r o d u z id a s ví

r i a s m o d ifi c aç õe s, sendo e s p e c i f i c a d a a função de cada or

ganismo; a mais larga a l t e r a ç ã o foi em 7 de agosto de 1564

em que nada menos de 23 c a p í t u l o s sofreram mo dificações ou

ganharam algum complemento ( 6 ).

0 Cardeal Inquisidor, D. Henrique, fez outro

Regimento em 19 de março de 1570, 0 qual f o i aprovado por

E l ‫ ־‬Rei D. Se b as tiã o por a l v a r a datado de fv o r a em 15 de

março do mesmo ano. Também este segundo Código não se preo

cupou em e s t a b e l e c e r as penas a p lic ad as aos culpados. 0 c£

pTtulo 23 acena algumas poucas pe n al id ad es , porém largamen

te g e n é r i c a s : ... 0 con0 e.lho podz^ã d i0 pc.n0 a^., comatafi ou

pc.Kdoa\ a¿ pena¿ e pcnÁ.^ê.nc^a¿ p06t a 0 pe.106 X.nqu¿¿¿d0Ae6 a¿

A<m de hãbitoò como de cã^ceneò, degredo ou dinheX^LO e

quaiòqueA ouXnaò, dando diòòo conta ao In q u iò ld o K GeKat e

com ^n^o^.mação duó i nquiòido ^e0, òendo a0 t a i ¿ p e n itê n c ia ¿

p c ip e tu a ¿, ou de tenjpo ccAto, porque na¿ aKbitKãhÂ.a¿ di¿pen

¿a ião o¿ in q u i¿id 0 K c ¿ como c de co¿tume a¿ q u ai¿ d i¿p e n ¿a -

ÇCC¿ ¿c nao ¿aAao ¿cnao con! glande co n ¿i delação (7).

As penas não estavam e s t i p u l a d a s , porém o

c e r t o é que as punições e x i s t i r a m e foram se ver a s. Ao lado

das g a l é s , o degredo c o n s t i t u i u penalidade amplamente uti^

l iz a d a neste Regimento e podemos c o n s t a t a r o f a t o a t r a v é s

da l e i t u r a dos Autos da fé das v a r i a s i n q u i s i ç õ e s portugue

sas que elencam centenas de réus condenados com a expulsão

temporaria ou d e f i n i t i v a do Reino.
‫ ו‬20

Durante a v i g e n c i a deste Regimento, no dia 21

de maio de 1592, o guarda dos c a r c e re s da I n q u i s i ç ã o de fvo

r a , André Coutinho, de 32 anos "pouco mais ou menos‫ ״‬, foi

preso por u s u f r u i r do seu posto de guarda da p r i s a o , come

tendo abusos no desempenho das suas funções e levando reca

dos de mulheres presas para ou tras pessoas de f o r a , recebeji

do por i s s o , dinheiro, objetos e comida. Por t e r acesso aos

carcerários, "teve por vezes tocamentos desonestos com algu

mas mulheres presas no mesmo c á r c e r e com pr op ósi to de os e

f e t u a r se t i v e r a oc asião para i s s o " . Vários foram os seus

crimes e por i s s o foi condenado a degredo por 1 0 anos no

B rasil ( 8 ).

Sem saber n o t í c i a s de sua mãe, Maria da Fonse

ca, presa nos c á rc e re s da I n q u i s i ç ã o eborense, por culpas de

judaísmo, 0 mercador Simão da Fonseca, so lteiro e n at u ra l

de Trancoso, corrompeu alguns o f i c i a i s da I n q u i s i ç ã o para

que levassem recados e c a r t a s para e l a e lhe trouxessem res

postas sobre 0 seu estado de saúde. Por t a l "crim e", Simão

foi acusado de c on i v ê n c ia no judaísmo e h e r e s i a . Sai u no Au

to da fé do dia 21 de setembro de 1578 e foi condenado em

4 anos de degredo no B r a s i l (9).

Diogo A l f a i a , pedreiro, casado com C a ta r in a

Fernandes e morador em A lp a l h ã o , embora sendo c r i s t ã o b a ti -

zado, era um ve rd a d e i ro a p o s t a t a . Tinha sido preso por fur

to na cidade de P o r t a l e g r e e f o i t r a z i d o para os c á r c e r e s

do Santo O f í c i o , por te r - s e "sabido que na I g r e j a da a l d e i a

do Mato, terjTjo de P o r t a l e g r e , não so t i n h a e l e roubado uma

hosttia consagrada, que mais ta rde era sua casa p i s a r a aos pes^
‫ ו‬2‫ו‬

roas tamben) os santos oleos para os usar profanamente". Pr of^

nador e delinquente i n v e te r a d o , seu comportamento nos carce

res nao foi la grande c o i s a , por duas vezes m a l t r a t a r a seus

companheiros e os guardas da p r i s ã o . Acusado de h er e si a e

apostasia, Diogo A l f a i a , saiu no Auto da fé de Cvora em 11

de novembro de 1571, foi levado com mordaça na boca i Sé Ca-

tedral , d e sc al ç o, em corpo, com v e l a acesa na mão e cingido

por uma corda. Abjurou, foi açoutado publicamente e "degred^

do toda a vida para as g a lé s , onde s e r v e r i a ao remo" ( 1 0 ).

Também nesta mesma época, na qual vi g o ra v a o Regimento de

1570, Rodrigo A l v a r e s , de 75 anos, casado, n a tu r a l de Borba

e morador no termo da v i l a de Monforte, foi condenado a açou^

tes públicos e degredado perpetuamente para o B r a s i l (11).

O Regimento de 1570 se manteve até o ano de

1613, quando o I n q u i s i d o r G e r a l , D. Pedro de C a s t i l h o , ass i-

nou o t e r c e i r o Regimento do Santo O f i c i o português ( 1 2 ).

Este novo Código, como os a n t e r i o r e s , não es-

pecificava as penas que hão de haver os culpados. Deixa em

aberto "como parecer aos I n q u i s i d o r e s e a condenação em 0^

t r a s penas e p e n it e n c i a s que Ihes pa re ce r: regulando-as con-

forme a qualidade da pessoa do réu, culpas e i n d i c i o s que

contra e l e houver segundo a di sp os içã o do d i r e i t o " ( 1 3 ).

In t e r e s s a n t e notar a aproximação do Regimento

com as Ordenações vig ent es na época; as condenações estão e£

t i puladas nas l e i s do Reino e os Regimentos buscam sua comple

mentação na "d is p o s i ç ã o do d i r e i t o " . Exemplo disso encontra-

mos no T í t u l o V do Ca pi tu lo V I I I : De como os i n q u i s i d o r e s pro

cederão contra os que s o l i c i t a m as p e n i t e n t e s , ou os peniten


‫ ו‬22

no ato da confis. 5 ão; "... poderio condenar as penas que lhes

pa re ce r conforme a qualidade das culpas que cometeram e da

pessoa‘ do de lin qu en te e mais c i r c u n s t a n c i a s que no caso hou

ver, conformando-se no d i r e i t o " . No c a p í t u l o r e f e r e n t e ao

crime de sodomia, alem de entregues ã j u s t i ç a s e c u l a r , serão

condenados "nas penas que Ihes pa recer (os i n q u i s i d o r e s ) e

ainda ñas que pela Ordenação deste Reino e s t i o contra os se

melhantes e s t a b e l e c i dos. . . " ( 1 4 ) .

A lei humana e o pró prio Deus, tinham os inqu^

sidores dia nte de s i : "julguem e decidam todos os casos que

ocorrem, e nos que nao forem nele expressos, sigam a dispôs^

ção de d i r e i t o , conforme bula da Santa I n q u i s i ç ã o , tendo sem

pre Deus d ia nt e dos o l h o s . . . " ( 15 ).

S u b s t i t u i n d o 0 Regimento de 1613, 0 Regimento

de 22 de dezembro de 1640, ordenado por mandado do Bispo D.

Fra n c is c o de C a s tr o , i n q u i s i d o r geral dos Conselhos de Esta-

do de sua Majestade, foi impresso no P a l á c i o dos Estaos , no

largo do Rocio da cidade de Li sb o a , l o c a l que s e r v i u de sede

da I n q u i s i ç ã o durante muitos anos. Este Regimento tem no f r 0£

t e s p i c i o as armas da I n q u i s i ç ã o : uma cruz, tendo a sua direi^

ta um ramo de o l i v e i r a e ã esquerda uma espada leva nta da . Ar

gumento do " c r e r ou m o r r e r " , mas que 0 doutor Franc isco Tor-

res, no sermão por e le pregado no auto da f e , celebrado em

Coimbra no T e r r e i r o de São Migu el, aos 7 de j u l h o de 1720 ,

deu a seguin te e x p l i c a ç ã o : "a espada representa a j u s t i ç a e

na o l i v e i r a se si mboliza a piedade". Comentou Carvalho Martins

"ora a piedade do piedoso t r i b u n a l manifestava-se bem nas fo

queiras em que queimava os i n f e l i z e s que lhe caiam nas gar ‫־‬

ras•• ( 1 6 ) .
‫ ו‬23

Talvez o doutor F r a n c is c o T o r r e s , quando r e l a

cionava o ramo de o l i v e i r a com a ptedade, e st av a se r e f e r i n

do às centenas de casos em que o Tribunal usando de ‫״‬miser 2

cordia", comutava a pena de degredo da A f r i c a e B r a s i l , pa

ra um dos l o c a i s dentro do Reino, amenizando, às vezes , o

sofrimento de alguns que forçadamente deveriam abandonar a

terra patria.

2.5.1 Comutação das Penas

Muitos ré u s , alegando doenças, pobreza, misé-

r i a e v ín c u l o s fam iliares, diminuíram suas penas obtendo a

comutação de seus degredos u lt r a m a r in o s para um l o c a l dentro

do pró pri o Reino. Caso muito tTpico e comum fo i 0 de Vio lan

te Rod rigues, mulher de 32 anos, n a t u r a l e moradora da v i l a

de Vinha is no bispado de Miranda, casada com 0 s a p a t e i r o e

cristão novo, Pedro Henriques. Declarada herege, apostata

com sentença de excomunhão maior e em c o n fi s c a ç ã o de todos

os bens, a p l ic a d o s ao F is co e Câmara R e a l , mas " v i s t o que a

ré usou de saudável conselho e confessou suas culpas na Me-

sa do Santo O f í c i o com mostras e s i n a i s de arrependimentos

e não f i n g i d o coração... usando com e l a de m i s e r i c o r d i a e

deixando 0 r i g o r de d i r e i t o , que suas culpas merecia" (a fo

gueira), foi V iolante, condenada a c ã r c e r e e hãbito peniten

ciai perpétuo sem remissão e também degredo de 6 anos para

0 B rasil. V i o l a n t e Rodrigues alegou que seu marido, de 42

anos, havta tanjbém sido condenado pelo Santo O f i c i o e que


124

ela t in h a 5 f i l h o s pequenos, que na oc asião de sua p r i s ã o ,

haviam e l e s , as se guintes idades; Henrique^?; Francisc0y6 ;

Felipa, 4; Ma ri aj2 e meio e João^l ano e meio. Lamentou ain

da que e la " s u p l i c a n t e " encontrava-se "com grandes achaques

e cheia de m i s é r ia e extrema necessidade e totalmente im

p o ssib ilitada de v i a j a r deixando seus f i l h o s desamparados",

além do perigo ev id e n te "que corr e de mar em f o r a " . Pede pie

dade para e l a e para seus 5 f i l h o s ; implora comutação de seu

degredo b r a s i l e i r o para dentro do Reino. Poucos dias de pois,

sua pena foi realmente comutada para a cidade de Bragança .

Cinco anos apôs 0 in T c i o do seu c a s t i g o , foi-lhe tirado 0

hábito, levantado 0 c á r c e r e que lhe foi s u b s t i t u í d o em penas

e sp iritu a is. Mas j á era muito t a r d e ; dois meses d e p oi s, che

gou este a vi so ao Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Coimbra:"Es

ta mulher é defunta conforme avis o que mandou João P e r e i r a ,

confirmado na V i l a de Vin ha is por c a r t a de 4 de maio de

1655". Estas foram as ú lti m a s p a l a v r a s do processo de Vio la n

te Rodrigues, a ré que se l i v r o u do degredo para 0 B r a s i l ,

mas não teve tempo de v i v e r no Reino português ( 1 7 ).

Como V i o l a n t e , alguns com 0 d e st in o menos e

outros mais t r á g i c o s , muitos réus obtiveram comutação de

seus degredos d'além mar para dentro de Po rtugal (18). O l\

cenciado F i l i p e Rodrigues, médico n a t u r a l de E l v a s , fora pre

so por judaismo, h e r e s i a e a p o s t a s i a . Seus 5 anos de degre-

do para o B r a s i l , pena pela qual havta sido condenado, fo

ram comutados para a ci.dade de E l v a s (19). A feiticeira Mar

garida Pimenta, ftlha de Lopo Goroes e V i o l a n t e Afonso, sol-


‫ ו‬25

teira, n at u r a l da v i l a de Moura e moradora em B e j a , saiu era

Auto da fé era 1555, "com carocha e mordaça, os pesdescalços

e sem manto". Poi condenada a 3 anos para 0 B r a s i l ; sua pe-

na foi comutada para p e n i t i n c i a s e s p i r i t u a i s , "rezando dia-

riamente por espaço de um ano, 0 r o s a r i o a Nossa S e n h o r a , i r

a romaria de Nossa Senhora da Luz" e outras pequenas puni -

ções de c a r ã t e r e s p i r i t u a l ( 2 0 ). A bígama. Catarina Vaz, 28

anos, f i l h a do t e c e l ã o Antonio Fernandes, 0 "Abóbora", foi

presa em 1667; depois de um ano e meio de c á r c e r e . Ca tar ina

foi condenada a 5 anos de degredo para 0 B r a s i l , mas sua pe

na foi comutada para B e i r a ( 2 1 ). Seb asti ana C o r r e i a , presa

por afirmar-se v i s i o n a r i a e t e r "r e v e l a ç õ e s f i n g i d a s " , foi

condenada a a ç o i te s público s " c i t r a sanguinis efusionem" e

3 anos de B r a s i l . Seu degredo f o i comutado para Tras-os-Mon

tes (2 2). Manuel Carvalhal, condenado para as g a le s , teve

seu degredo comutado para a cidade de Miranda (2 3 ). Os se is

anos para 0 B r a s i l de Maria Tovar, s o l t e i r a , natural de Mo^

ra, acusada de a p o s t a s i a e f a l s i d a d e , foram comutados tam

bém para Miranda (24) e para Penamaior, foi mudado 0 degre-

do de Inês Nunes, v i ú v a , n at u ra l de A r r a i o l o s , condenada a

t r ê s anos de deportação para 0 B r a s i l (25).

2. 5 .1 .2 A Confiscação dos Bens

0 novo Regimento de 1640 não alude a confirm^

ção r e a l , como 0 fez 0 seu a n t e c e s s o r , 0 Regimento de 1613,

quando 0 i n q u i s i d o r g e r a l , D. Pedro de C a s t i l h o , era tambera

Vice-Rei de P o r t u g a l . Nesta epoca, tendia a I n q u i s i ç ã o a


‫ ו‬26

a lh ea r-s e da t u t e l a rêgta {26\,

Este codigo ? uraa grande aiupltação do seu an

tecessor; suas bases fundamentais são as mesmas e a severi^

dade t i r â n i c a domtna todas as punições contra os presos

Quando os réus eram levados para os c á r c e r e s , 0 primeiro

cuidados que os i n q u i s i d o r e s tinham, era f a z e r 0 arrolamen

to e sequestro dos bens. Sob juramento, 0 réu d e c la r a v a seus

bens de r a i z e mõveis, 0 d i r e i t o de ações contra outras pe^

soas, ou e la s contra e le ;q u e d i v i d a s lhe devi am, ou e st av a

devendo; que conhecimento, l e t r a s e papéis tinha em seu

poder, e t c . Copia deste i n v e n t á r i o , muitas vezes longuTssj^

mos, se se t r a t a v a de um r i c o c r i s t á o novo, e ou tra s vezes

parcos e t í m i d o s , quando não eram encontrados bens, era en

tregüe ao j u i z do f i s c o . Assim que 0 meirinho do Santo OfT

cio e f e t u a s s e a p r i s ã o , de via mandar recado ao juTz do f i £

co para que fosse f a z e r 0 i n v e n t á r i o dos bens dos presos .

0 sequestro era f e i t o com a maior exatidã o e minuciosidade.

Atra vés desses i n v e n t á r i o s , tor na-se p o s s ív e l conhecer as

condições econômicas dos réus e as condições da vida dome^

tica. No ato da detenção, os e s b i r r o s do f i s c o invadiam a

casa, tomavam as s a í d a s , expeliam os h a b i t a n t e s , selavam

mõveis e po rta d as , até se proceder ao vagaroso arrolamento.

Com tanto cuidado, podemos d i z e r que 0 declarado pelos réus

não d i f e r i a considera velm ente da verdade, v i s t o que as pos-

s i b i l idades de oinisseío eram I n e x i s t e n t e s .

Maria D ia s, f t l h a de B a l t a s a r P i n t o e de Cata

r i n a Dia s, yivia na v i l a de Borba e cuidava dos bens que seu


127

marido Ma‫ח‬oe‫ ו‬Dias Bárdalo havia Ihe deixado. Foi presa no

dia 19 de a b r i l de 1672, quando tinha 40 anos, sendo acusa-

da de judaísmo, h e r e s ia e a p o s t a s i a . Seus bens foram imedia

tamente c o n f i s c a d o s : "uma morada de casas na Rua de S. Bar-

tolomeu na V i l a de Borba, uma vinha no s T t i o da Carrasc osa ,

uma vinha no caminho de Estremoz; uma vinha no s i t i o das

Portas, uma vinha no s i t i o das Cotas, uma vinha no s T t i o dos

C arvalhais; uma vinha no s T t io do Vale de Pero Galego; duas

t a lh a s com 60 almudes de vinho branco; duas c a d e i r a s , um es

trado de pinho e algumas d í v i d a s " . Entre os 12 denunciantes

da r é , tambem detido s nos c á r c e r e s , constam seu irmão Gregõ

rio Pinto, que v i v i a de sua fazenda e fora soldado de cava

laria da companhia do general D inis de Melo; João Mendes Pin

to e Inês A l v a r e s ; alem de suas f i l h a s . Ca ta ri n a Dias e Ma

ria da S i l v e i r a . A ré f i c o u 11 anos nos c á r c e r e s e f o i ator

mentada no e s c a b e l o , "sendo atada com a c o r r e i a ao mesmo

tempo que implorava 0 a u x í l i o de J e s u s " . Depois de atada com

cordel, com que levou as v o l t a s h a b i t u a i s até f i c a r p e r f e i t a

mente l i g a d a , foi começada a l e v a n t a r ate 0 lu g a r do l i b e l o

e da r o ld a n a , sendo descida outra vez lentamente, levou um

trato corrido, em seguida a ergueram novamente até 0 lug ar

do l i b e l o . Saiu no Auto da fé no dia 28 de março de 1683 ,

além de t e r todos os bens c o n f i s c a d o s , fez abjuração públi-

ca dos " h e r é t i c o s e r r o s " ; teve c á r c e r e e habito p e n i t e n c i a l

perpétuo sejij remissão e degredo por 3 anos para 0 B r a s i l ,

além, evi dentemente, coroo todos os reua, foi instruída nas

c o i s a s da f ê ( 2 7 ) .
‫ ו‬28

Dioqo Dias Neto era uro hornera r i c o . Acusado de

judaismo, h e r e s i a , apostasia, f a l s i d a d e , siraulaçao, Impeni‫״‬

tência, foi condenado ao degredo de 5 anos para 0 B r a s i l

Diogo era n a tu ra l da V i l a de Serpa,casado com Leonor de Moura

e ti nha um f i l h o e um genro médicos. Seus bens eram valiosos

e constavam de 2 m i l h e ir o s e meio de vinhas no s T t io do Va

le dos Paus, na V i l a de Serpa; um m i l h e i r o e meio de vinhas,

junto ao r i b e i r o do Cocho; um m i l h e i r o de v i n h a s , junto a

horta do C a r r a s c a l ; v á r i a s casas; um pote de t r i g o ; um moio

de cevada; 50 almudes de vinho; peças para c u r t i r couro de

vaca ; couros de vaca c u r t i d o s ; arrobas de c e r a ; tachos de

cobre; c a d e i r a s ; arcas e v á ri o s outros moveis menores. 0

réu veio para 0 B r a s i l cumprir 0 seu degredo e depois de 2

anos pediu perdão do tempo que lhe re st a va para te rm in a r sua

pena^ Em 1673 , foi comutado 0 re s ta n te do seu degredo por.

penas p e n i t e n c i a i s na V il a de Serp a; f o i - l h e levantado 0

cá rc er e e t i r a d o 0 hábito (28 ).

Dona V io la n te de Mesas, f i l h a de Diogo Fernán

des e Joana Rodrigues, natural e moradora de E i v a s , era uma

r i c a G nobre senhora de 39 anos,casada com Luiz Abreu de Me

1 0 . Foi presa no dia 27 de dezembro de 1660 e, uma semana

depois, seus bens foram in v e n ta r ia d o s pelo Santo OfTcio da

I n q u i s i ç ã o de Cvora. Possuía v á r i a s casas de moradas, herda

des, terras, além de v a l i o s o s moveis, louças da China, p0 £

celanas da I n d i a , vidros de Veneza e inúmeras peças de pau

santo e moscoyia, seus bens foram sequestrados e entregues

ao, fiSCO :e Camara Real e Dona V i o l a n t e de Mesas, acusada de

judaísmo, foi condenada em degredo durante 6 anos no B r a s i l (29)


‫ ו‬29

Branca Dias S o a r e s , de 6 Q anos e sua irma B r i

tes So ar e s, njorayam na cidade de E l y a s , def ron te da Sé e am

bas v iv i a m "a f a z e r doces para v en de r" . Acusada de judaísmo

Branca Dias foi presa ero 1660 e seus bens c o n f i s c a d o s . Era

"mulher muito pobre, doente e s o f r i a f a l t a de v i s t a " . N o seu

i n v e n t a r i o constava de algumas poucas peças do m o b i l i a r i o ,

l o u ç a, miudezas e doces ( 3 0 ) .

Embora muitos fossem os r i c o s , a maioria dos

presos era mesmo de pobres que não possuíam nenhum bem para

ser c o n f i s c a d o , além de suas pequenas peças domésticas e

pouquíssimo v e s t i a r i o . A vision aria Maria da Cruz, condena-

da a 5 anos de degredo no B r a s i l em 1660, quando pr e s a , le

vou consigo apenas uma imagem de C r i s t o e uma bolsa com uns

relicario s que foram entregues ao n o t á r i o Manoel da Costa

B ri to ( 31 ).

Além do Regimento de 1640, 0 Rei D. F e l i p e de

C a st e la havia aprovado,aos 10 de j u l h o de 1620, 0 Regimento

do J u í z o das c o n fi s c a ç õ e s pelo crime de h e r e s i a e a p o s t a s i a .

Este Regimento a f e t a v a os r i c o s c r i s t ã o s novos que seriam

aliviados dos bens te rren os para melhor poderem s a l v a r as

suas almas. Os sequestros dos bens eram sempre f a t a i s aos

preso s, mesmo se por acaso viessem a s a i r ab so lv id os e se

lhes r e s t i t u í s s e m os seus bens. 0 dinheiro, jõias e outros

o bj eto s eram depositados sem nada renderem; t in h a ainda 0

preso de pagar as despesas de sua alimentação durante todo

0 tempo em que e s t i v e s s e nos c á r c e r e s .

Mas nem todos possuíam bens ou d i n h e i r o para


‫ ו‬30

c u s t e a r sua pri sa o e deveri.ain, por i s s o , r e c o r r e r à ajuda

da Mis e r i c Õ r d t a .

F r a n c i s c a das Neves, n a t u r a l de M a n iq u e ,t er

mo de Cascais e moradora em L i s b o a , era casada com Domin-

gos Monteiro com o qual teve uma f i l h a . Por t e r casado se

gunda vez com Manoel da Costa, utilizando para i s t o pro

vas f a l s a s da morte do seu prime ir o marido, foi condenada

pela I n q u i s i ç ã o de Lisboa e sent enc iad a com degredo para

0 B rasil. Era mulher paupérrima, desamparada, de idade

avançada e " a l e i j a d a de um b r a ç o " , alem do mais, por ser

tão m i s e r á v e l , dormia no chio da p ris ã o e v i v i a " somente

com uma l i m i t a d a esmola que lhe dava a Santa M i s e r i c o r d i a

da Piedade" (32).

2.5.1.3 A In vio lab ilid ad e dos Segredos

Se algum m i n i s t r o ou o f i c i a l do Santo O f í c i o

"por m a l í c i a , rogos ou p e i t a s " j revel asse 0 segredo da In

q u i s i ç ã o ou f i z e s s e qualquer outra co is a em p r e j u í z o do seu

m in istério , impedindo-o, pertu rbando‫ ־‬o e se a culpa que hou

vesse cometido fosse considerada maté ria g r a v e , sendo ele

algum m i n i s t r o e c l e s i á s t i c o , s e r i a privado do seu cargo e

e xc l u í d o do s e r v i ç o do Santo O f í c i o , além de ser condenado

"nas mais penas a r b i t r a r i a s que coubessem na quali dade da

sua pessoa". Sendo o f i c t a l , alem de perder 0 encargo que

e x e r c i a na I n q u i s i ç ã o , era condenado era penas de açoutes e

degredo ( 3 3 ! .
‫ ו‬3‫ו‬

grande cuidado tinha o Tribunal para que fos

se s i g i l a d o , inviolSvel segredo de suas a t i v i d a d e s , condi-

çio que e n vo lv ia a I n s t i t u i ç ã o de profundo m i s t e r i o e te

mor. Determinava o Regimento de 1640 que ‫ ״‬porquanto o se

gredo é uma das cousas de maior importancia ao Santo OfT

c í o , mandamos que todos o guardem com p a r t i c u l a r cuidado ,

não so ñas materias de que poderia r e s u l t a r prejuTzo, se

fossem descobertos, mas naquelas que lhes parecerem de me

nos consideração porque no Santo O f íc i o não hã cousa que o

segredo não seja n e c e s s ã r i o “ (34 ).

Quando os reus eram presos e entravam no pre

dio da I n q u i s i ç ã o , mesmo antes de serem encaminhados para

os c ã r c e r e s , eram-lhes f e i t a s v á r i a s admoestações e rituaj^

mente eram advertidos que, dentro do c ã r c e r e , não falassem

em a l t a voz para que não pudessem ser ouvidos fora dele e.

que não quisessem saber 0 que acontecia nas celas v i z i n h a s ,

pois assim fazendo seriam "castigados como 0 caso mereces-

se ". Tornavam-se os réus obrigatoriamente espiões uns dos

outros, pois sabendo 0 p r i s i o n e i r o , n o t í c i a s que algum vi

zinho de cãrcere d e sr es pe it ass e t a i s recomendações,deveria

"sem d il aç ão di ze r na Mesa". Mas os verdadeiros espiões eram

mesmo os guardas dos cárceres que diariamente vigiavam e

delatavam os i n f r a t o r e s . Sobre a função destes f un c io n ãr i-

os, impunha-lhes 0 Regimento, de v i g i a r 0 caAccAc com to-l

cuidado, que. poòòam bem nota*1 todaò a0 cou^a¿ que. oá

ia s ^ i z c A c m c di.¿ÁCAcm, advcAt^A^ío ác q u ieto ¿, ou

tem d i ^c^.ença¿) c bfL<ga 0 c n t n e ¿ i , cu ¿ e j o ^ a m , cu le e m poA


‫ ו‬32

atgunó tlvK O ò , ou u4am de nome¿ c U f íA e n t í¿ , ou 4e comun¿

cam dz um paAa out/io c5A.ce-1‫׳‬e, bcUendo, ¿atando, ou &¿,cA.even

do; e 0e ¿alam baXxo naquele onde e6 tào ; e 4e na¿ couáoó que

vem de ¿oAa, ou no comeA que da¿ cozinha¿ ¿e manda, ou vê

algum a v ¿ ¿ 0 , e ¿e comem a¿ A,aç.õe¿ 0KdÁ.nE/Ua¿ que lh e ¿ dão ,

ou ¿e deixam de a¿ comeA., e em que dJ.a¿fe ¿e ab¿tem de co

meA algún¿ com ete¿, e de tudo o que nota^em, da^ao conta ao

a lc a id e . Era ainda urna forn)a de denunciarem os c r i s t ã o s no

vos que, seguindo os p r e c e i t o s da Lei de Moisés, faziam seus

j e j u n s nos dias determinados pela l e i judaica. Era função do

a l c a i d e dos c a r c e r e s tomar dos presos tudo o que fosse en

contrado com e l e s : dinheiro, peças de ouro e p r a t a , armas ,

livros ou papéis. Era também 0 a l c a i d e que t r a z i a sempre con

sigo as chaves das portas da casa por onde se s e r v i a para

os c á r c e r e s , para que "a gente de sua casa não pudesse v e r,

nem o u v i r 0 que no c á r c e r e se f a z i a " . A r i g i d e z do segredo

era exi gi do também do meirinho da I n q u i s i ç ã o quando este ia

prender alguém em sua cas a; nenhuma pessoa da f a m í l i a pode

ria saber os motivos da p r i s ã o e não t e r nenhuma comunica ‫־‬

ção com 0 p r i s i o n e i r o . Aos padres c o n f e s s o r e s , era determi-

nado r e v e l a r tudo a q u i l o que 0 reu lhes d i s s e s s e ou r e v e l a ^

se fo r a do ato sacramental da c o n f i s s ã o . Sob pena de serem

rigorosamente c a s t i g a d o s , os guardas eram proibidos de l e v a r

e t r a z e r recados dos pre sos , "a in d a que parecesse a maté ria

muito j u s t a " . Não deyerlan) absolutamente dar n o t í c i a s de

co is a alguma e se e l e s notassem que 0 a l c a i d e f a z i a algo

que pudesse p r e j u d i c a r ao segredo e resguardo do Santo OfT

cio, 0 farta saber em Mesa para que "na m a té ria se desse 0


‫ ו‬33

remedio que convinha” (35).

Amargo foi o remedio do no tar io do Santo Of‫ו‬

cio de Lisboa, o padre Pedro de Lupina F r e i r e ; por ser fun

c i o n a r i o da Inqu is içã o e conhecendo os seus segredos, os re

velou a outras pessoas e por isso fo i condenado a 5 anos de

degredo para o Estado do B r a s i l . "Pelo grande inconveniente

que se seguirá ao Santo O f i c i o se o castigo de p u b l i c a r es

ta culpa, ficando o povo tendo para si que sempre na Inqui-

sição se achara quem descubra seus segredos, de que re s u l ta

grave descrédito a seus m i n i s t r o s ” , foi sua sentença lida

secretamente diante dos senhores inq ui si d or e s na sala da In

qu is içã o l is b o e ta em 28 de f e v e r e i r o de 1656. Antes de par

tir para o B r a s i l , o padre Lupina pediu suas cartas de or

dens que constavam de autorização para o e x e r c í c i o das fun

ções r e l i g i o s a s ; pediu ainda os despachos que constavam que

ele não tinha sido suspenso do e x e r c í c i o de suas ordens^

pois assim, chegando ao B r a s i l , pudesse provar e exercer a

sua pr of issão e c l e s i á s t i c a . Alguns meses mais tar de , aos 25

de a b r i l de 1657, 0 padre e ex‫ ־‬n ot ãr io do Santo O fíc io se

apresentou com sua carta de guia na Câmara da Bahia e em

São Sal vador ficou até 0 dia 17 de f e v e r e i r o de 1660,quando

lhe foi perdoado 0 tempo res ta nt e do degredo. Mas 0 nosso p^

dre continuou a incomodar 0 Santo O f í c i o , pois alguns anos

mais tarde foi por duas vezes chamado a Mesa e, admoestado,

correndo 0 ri sc o de ser "processado e gravemente cast iga do"

( 36 ).

Não eram somente os func ioná rio s do Santo Ofí


‫ ו‬34

cio que eran) perseguidos e condenados por re ve l a ç õ e s de se-

gredos. Madalena da Cruz, pediu ao seu marido Agostinho Nu

nes que, na o c a s i ã o , era a l c a i d e dos c a rc e re s se c re to s da

I n q u i s i ç ã o de L i s b o a , para l e v a r algumas c a r t a s ã c e r t a s pes

soas que se encontravam presas. Tudo t e r i a dado c er t o se

Ju liana Pereira, mulher de Fr a n c is c o de Mattos, cirurgião

de Li sb o a , não t i v e s s e sido presa por "presunção de l e v a r e

t r a z e r av is os e recados dos presos dos c a r c e r e s " . Ju liana

confessou que as c a r t a s e recados eram passados por intermé

dio do a l c a i d e Agostinho Nunes e que sua mulher Madalena da

Cruz e stava também e n v o l v id a "no d it o c r i m e " , recebendo"por

essa causa d i n h e i r o , peças de ouro e outras d a d i v a s " . Mada-

lena tin h a 38 anos quando fo i presa no dia 12 de outubro de

1647 e foi jul ga da somente 8 anos de pois, no Auto da fé do

dia 10 de maio de 1682. Após o u v i r sua sent enç a, fo i para a

cadeia do Limoeiro e em março de 1683 p a r t i u para a Bahia .

Após quase 3 anos de degredo no B r a s i l , a ré pediu ao Santo

O f i c i o que c ons ide ra sse também como degredo, todo o tempo

em que ela f i c o u na cadeia antes de embarcar para o dester-

ro e "espera que a clemencia do Santo O f i c i o atenda a sua

m i s é r i a e neces sida de s" que na Bahia "esta padecendo as do

enças que continuamente a tem em uma cama, sem t e r de quem

se val ha seu a l T v i o " . Pediu l i c e n ç a para que "na p rim e ir a fro

ta que v i e r daquele E s t a d o " , possa e l a v i r para 0 Reino "pe_r

doando-lhe 0 tempo que lhe f a l t a para cumprir seu degredo".

Seu i n t u i t o foi. alcançado e no dia 29 de novembro de 1685 ,

e n v e lh e c i d a e f r a c a , passou-se-lhe ordem para s a i r do degre

do, sendo perdoado 0 tempo que f a l t a v a (37).


‫ ו‬35

Revelar os segredos da I n q u i s iç ã o s i g n i f i c a -

va " p e rt u rb a r ou impedir por outro modo, o reto e l i v r e pro

cedimento do Santo O f í c i o " , crime gravíssimo para um cris

tão "obrigado a fa vo re c er e ajudar em tudo 0 m i n i s t é r i o "

da Santa I n s t i t u i ç ã o "e guardar i n vi 01 avelmete 0 segredo

nas coisas que lhe t o c a m . .. "

Antonia Cardosa, "ousadamente com pouco te

mor de Deus e castigo da I n q u i s i ç ã o " , por ser fu n c io n a ri a

do Santo O f i c i o , entrou nos cárceres e levou recados para

pessoas presas. Por esta "grave culpa que a re cometeu em

descobrir 0 segredo que tão precisamente e necessário ao

Santo OfTcio e ela era obrigada guardar, e 0 dano e pertu£

bação grande que 0 dit o M i n i s t é r i o re su lt a da de semelhante

c u l p a s " , foi Antonia, 33 anos, condenada a açoutes pelas

ruas públicas e degredada por 5 anos para 0 B r a s i l . A per

turbadora "do reto e l i v r e procedimento do Santo O f i c i o "

jamais chegou ao B r a s i l ; morreu na prisão alguns meses de

pois de presa. Para os i n q u i s id o r e s , chegou apenas um " pa

pelito" com os dize res : ‫'י‬fa le c eu Antonia Cardosa presa a

ordem do Tribunal da Santa In q u i s i ç ã o , a qual presa era na

tu ra l da cidade de Coimbra. Mande pessoa a quem tocar fa

2 c r este auto e exame para ser logo e nt er rad a" (38).

Outro caso;não de i n v i o l a b i l i d a d e mas que

perturbou muito "0 reto procedimento do Santo O f i c i o " foi

0 do l av rad or Salvador Fernandes, 32 anos, natural e mora-

dor no termo da v i l a de F e i r a , no bispado do Porto. E i s sua

triste histõria: um d i a , 0 f a m i l i a r do Santo O f i c i o , Domin


‫ ו‬36

gos Fernandes da Rocha, l e v a va t r e s presos para a cadeia do

P o r t o ; no carainho deparou-se cora S a l v a d o r Fernandes, 0 qual

"inju rio u cora algumas p a l a v ra s e noraes a f r o n t o s o s " os réus

que estavara sendo conduzidos a p r i s ã o . Ura dos horaens que

acompanhavara os presos e 0 f a m i l i a r , tomou a defesa dos pr 2

s i o n e i r o s e d i ss e para S a l v a d o r que e le s "iam em serviço

do Santo O f í c i o " , mas 0 l a v r a d o r e nf u rec id o deu-lhe "algumas

pancadas", a b ri n d o - l h e uma f e r i d a na cabeça. Apavorado, 0

f a m i l i a r fug iu à galope na egua que 0 t r a n s p o r t a v a . Os in

q u i s i d o r e s co ncluíram que "0 réu gravemente d e l i n q u i ó , mos

trando s e n t i r mal das cois as de nossa santa fé c a t ó l i c a e

em p a r t i c u l a r do reto e l i v r e procedimento do Santo O f í c i o

e do grande r e s p e i t o com que devem se r tr a ta d o s os o f i c i a i s

e presos d e l e s " . S a l v a d o r Fernandes, que t a l v e z e s t i v e s s e

embriagado naquela f a t í d i c a ocasião, foi degredado para 0

Brasil por um período de 5 an os( 39) .

2.5.1.4 A Casa dos Tormentos

Segredo absoluto era também imposto aos medi-

cos, c i r u r g i õ e s e aos b a r b e i r o s , os quais sÕ poderiam en_

t r a r nos c á r c e r e s acompanhados do a l c a i d e . 0 médico e 0 ci^

ru rg iã o a s s i s t i a m ao tormento dos réus para nele declararem,

a t r a v é s de juramento, se os condenados seriam capazes de so

f r e r 0 tormento e até que ponto poderiam s u p o r t a r 0 m a rtí -

rto.

Paula de Houra, por não f a x e r " i n t e i r a e verd£

deira confissão" f o t "mandada para b a t x o " , na casa dos tor.


‫ ו‬37

mentos. Perguntada se queria acabar de confessar suas cul-

pas "para desencargo de sua c o n s c i i n c i a , salvação de sua

alma e seu bom despacho", disse que não tin h a mais culpas.

Foi-lhe dito que pela casa em que estava e instrumentos que

nela v i a . "entenderia quão trabalhosa e perigosa era a d_i^

l i g ê n c i a que com ela se haveria de f a z e r , da qual escapa -

ri a se acabasse de confessar suas c u l p a s " , mas Paula de

Moura, mulher de 60 anos, não sabia mais 0 que di z e r e re£

pondeu que não tinha mais nada 0 que d e c l a r a r . Logo foram

chamados a Mesa, 0 medico e 0 c i r u r g i ã o , além dos demais

"m in is tr os da execução" e a todos foi dado juramento dos

"Santos Evangelhos" para bem e fielmente fazerem seus ofi

cio s. A ré, despojada dos v e s t i d o s , foi assentada no esca-

belo e começada a a t a r ; f o i - l h e dito que se ela morresse

ali, quebrasse algum membro ou perdesse 0 s e n t id o , a culpa

s e r i a totalmente sua, pois era ela quem estava fazendo re

s i s t c n c i a a plena confissão de suas culpas. Apõs ser per

feitamente atada, "disseram 0 médico e 0 c i r u r g i ã o que a

ré não era capaz de mais tormento e por isso foi desatada

e levada a seu c á rc e re ". Durante todo 0 m a r t i r i o , Paula cha

mava pelo nome de Jesus e repetia continuamente que não ti^

nha mais culpas a confessar. Saiu no Auto da fé de Lisboa,

no dia 17 de dezembro de 1673, foi condenada a 3 anos de

degredo para 0 B r a s i l (^0).

Também diante do médico, c i r u r g i ã o e ministros

do Santo OfTcio, que Juraram t o t a l segredo a Mesa I n q u i s i t o

rial, foi trazid o 0 jovem estudante de gramática, Manoel de

Almeida, 21 anos, morador em Lisboa na casa de sua mãe, An


‫ ו‬38

to n ia dos Anjos, que era "m e d id e i ra do t e r r e i r o " . Por ser

filh o bastardo de Manuel de Alroeida, "homem nobre j a f a l e

cido", o nosso estudante tinha a alcunha de " F id a lg u in h o "

e fora preso em 1694, acusado de cometer 0 "pecado nefan-

do" e por t a l crime fo i condenado a 5 anos de degredo pa

ra 0 B r a s i l . Admoestado para c on fe ss a r e d i z e r a verdade

e como 0 que d i z i a não esta va tot almente de acordo com 0

r e l a t o das testemunhas, foi mandado para a "casa do tormén

to", em 14 de a b r i l de 1695. Foi despojado de suas roupas

"que l he podiam impedir a execução" e logo em seguida sen

tado no banco e começado a ser atado com a p ri m e ir a cor-

reia. Foi admoestado e, por d i z e r que não tin h a mais cul_

pas, foi atado p e rfe it a m e nt e e começado a l e v a n t a r . Duran_

te 0 tormento que durou um quarto de hora, 0 " F i d a lg u in h o "

gritava sem par ar chamando por Je su s e pela Virgem Maria.

Após 0 Auto da f é , foi para 0 Limoeiro e na p r i s ã o aguar-

dou a embarcação que 0 l e v a r i a para 0 B r a s i l ( 4 1 ).

0 preso que, por s i , ou com f o r ç a e ajuda de

pessoas de f o r a , f u g is s e dos c á r c e r e s do Santo O f í c i o , e r a

punido gravemente, a a r b i t r i o dos i n q u i s i d o r e s e , sen-

do pessoa v i l e plebéia, era açoutado publicamente e aque^

le que f u g i s s e do l u g a r que lhe fo ra assinado por c i r c e -

re para cumprir as p e n i t ê n c i a s impostas era sua r e c o n c i l i ^

ção, pela p r i m e i r a vez era pre so, e, pedindo mi s e r i cÕri da^

era condenado ao Auto da f e , onde o u v i r i a a sua sentença ,

agravando-lhe 0 c S r c e r e e h Sbi to p e n i t e n c i a l roais uro grau

daquele com que fo r a r e c o n c i l i a d o ; e , se f u g i s s e do lu g a r

que lhe fo ra assinado por c á r c e r e , depois de s e r ca st ig a do


‫ ו‬39

por não cumprir as sentenças na forma que d e v e r i a , e pare-

cendo. i n c o r r i g T v e l , alem das d it a s penas, era degredado pa

ra fora do re in o , pelo tempo que parecesse aos in q u i s id o re s

assim como nas penas e s p i r i t u a i s a a r b í t r i o . Antes, porem,

de i r para 0 degredo, era preso na cadeia publica do lugar

que lhe estava assinado por c á r c e r e , e d a l i era levado pjj

blicamente à sua fr eg ues ia para o u v ir a missa da t e r ç a , pa

ra s a t i s f a ç ã o do escândalo que dera com suas culpas.

Se os réus que andavam cumprindo suas peni^

t ê n c i a s , fossem achados sem 0 habito p e n ite n ci al nas cida-

des onde a s s i s t i a 0 Santo O f í c i o , eram pela primeira vez

repreendidos na Mesa; e sendo fora do lugar em que r e s i d i ^

se 0 Santo Tri b u n a l, se mandava fazer 0 mesmo pelos comis-

sãrios, prendendo‫ ־‬os por alguns dias no cárcere da penitêji

c i a , ou na cadeia pública.

Sendo achados sem hábito p e n i t e n c i a l fora do

lugar que lhes estavam assinados por c á r c e r e , tinham ao me

nos quinze dias de prisão na cadeia p ú b l i c a ; e dalT eram le

vados publicamente para o u v ir missa, diante dos olhos de

toda a comunidade. Caso fossem supreendidos segunda vez na

mesma culpa, tinham um mês de prisão na mesma forma, e as

mais penas a r b i t r a r i a s que parecessem aos i n q u i s i d o r e s ; e,

se depois de cast iga dos , não cumprissem suas p e n it ê n ci as ,

eram presos nos cárceres do Santo OfTcio e, uma vez nas

prisòes da I n q u i s i ç ã o , sabe-se lá quantos anos f i c a r i a m an

tes de serem novamente julgados (42).


‫ ו‬40

2 . 5 . 5 .‫ו‬ Defuntos, Loucos e S u i c i d a s

Os presos erara obrigados a adivinharem aq u i l o

que os i n q u i s i d o r e s pretendiam a r g u i r . Não eram nem mesmo

informados sobre 0 motivo da p ri s ã o e quem os havia denunci^

ado. Era •-lhes ocultado cuidadosamente 0 crime pelo qual

eram acusados. Quando 0 réu comparecia pela p ri m e i ra vez

di a n te do Tri bu na l da I n q u i s i ç ã o , era minuciosamente i n t e r -

rogado sobre v a r i o s a s pe ct os ; 0 Regimento de 1640 especifi^

ca que ... òzxa maiò pz^gantado, ¿e 6abz, oa a

cauód, poA que {^01 pKüòo, e tK az id o 0.06 do Santo

0 ¿Z c ¿o , e dizendo que não, e que anteó pAeòume,que 0 pAen-

de^am poA, algum teòtemunko ¿ a lò o , le v a n ta d o poK Inlm lg oò ,

0e lh e iaKa a pAlmelKa admoeótação na ¿ 0A.ma do e s t i l o do

Santo 0 ¿Z c¿o , na qual lh e não òexã declamada a q u alid ad e

da0 culpaò, poKque ^oi pA.e0 0 , e ¿órnente lh e ¿e^ã d it o , que

eò tã pKeòo poA c u lp a ¿ , cujo conhecimento p e rte n c e ao Santo

0{¡Zcio; e no ¿im da 0e00ão t 0A.na^a 0 inquiòidoA. a admoeòtax

0 pxeòo, que cuide de ¿u a 0 c u lp a ¿ , e tfia ta de a0 con^eòòafi,

de que 0 n o ta rio datã .. 143},.

Era prati cam en te impossível a sua l i b e r t a ç ã o .

Os acusados eram rogados, in st ad os e, por fim , forçados com

os tormentos, a c o n f e ss a r as suas cu l p a s. Se por acaso es-

tavam inoc ent es e nada diziam, eram condenados como negati_

vos. Se diziam alguma c o i s a , mas não em conformidade com

aq u i l o que os I n q u i s i d o r e s sabtam, ou não denunciavam todos

os c úm pl ic e s, eram condenados como diminutos. Se confessa -

vam 0 que não tínfiam f e t t o para 1 ivrarem-^se dos algozes e


‫ ו‬4‫ו‬

caso não esti.yessein de acordo cojn 0 depoimento das testemu

nhas, eram condenados como f i c t o s e simulados. Ainda mais,

se durante 0 tormento, confessassem crimes imaginários e ,

depois de l i v r e s das dores do m a r t í r i o , anulavam a sua

forçada declaração, eram condenados como revogantes; se

confessavam tudo, ainda assim eram condenados como c o n f i t e ^

te s. Pobres réus, uma vez presos na rede i n q u i s i t o r i al , seus

destinos eram um s5: a condenaçãojseja ela qual f o r .

Muitos réus morriam nos cár ceres mas, mesmo

defuntos, 0 processo continuava até 0 julgamento. Muitos

destes presos-defuntos foram condenados a j u s t i ç a secular

e queimados "em e s t á t u a ‫ ״‬.

0 ourives j u d a i z a n te , Luiz A l v a r e s , era viu-

vo e natural da cidade de P o r t a le g r e . Acusado de judaísmo^

foi preso no dia 31 de maio de 1619. Depois de quase 3

anos de p r is ã o, onde 0 reu aguardava seu julgamento, por

ser homem idoso de mais de 80 anos, Luiz fa l e ce u nos cár-

ceres "de v e l h i c e ‫ ״‬e foi enterrado. No Auto da fé do dia

14 de jul h o de 1624, a memória do nosso velhinho fo i ressu^

citada, pois chegara também para e l e , embora morto e sepul^

tado, 0 dia do seu julgamento. Foi sentenciado "a excomu ‫־‬

nhão maior e condenação da memória e fama"; seus ossos f o ‫־‬

ram desenterrados e entregues com sua e státu a ã J u s t i ç a se

cular. Através de carta c i t a t o r i a do dia 22 de f e v e r e i r o

de 1623, foram citados os herdeiros do réu a defenderem sua

fama, memoria e fazenda. Ninguém apareceu (44 ).

Também Guiomar Caval eir a teve seus ossos de-

senterrados e entregues 0 J u s t i ç a s e c u l a r . Foi sentenciada


‫ ו‬42

um ano depois de f a l e c i d a nps cãrceres da In qu is iç ão de Cvo

ra, onde morreu "por doença", no dia 3 de dezembro de 1562.

Guiomar tinha 55 anos, era sahoeira e vlDva de pernio Dias,

tendeiro cardador, que também e s t i v e r a preso nos carceres

do Santo O f i c i o (45).

Se os mortos não escapavam dos i n q ui si d ore s ,

o que d i z e r dos que enlouqueciam nos carceres do Santo OfT-

ció? O Regimento de 1640 pro ib ia os castigos f í s i c o s para

os loucos. " Não se dará ‫ ־‬rezava o Regimento ‫ ־‬pena corpo-

r a l , pois o f ur io so não é capaz déla" (46 ). Porém, o mesmo

Regimento acrescentava "que f i c a r ã o os seus bens em seques-

t r o , para que tornando o seu j u i z o , ou falecendo naquele

estado, se proceda contra e l e , ou contra sua memoria e fama

e tendo prova l e g í t i m a , sera condenado em confiscação dos

bens e danada sua fama e memória" ( 4 7 ) .

Joana de Gusmão tinha 22 anos quando foi pre

sa pela In q u i s iç ã o de Lisboa em 1657. Foi condenada e reía-

xada a ser entregue ã J u s t i ç a s e c u l a r , por crime de heresia

e a p o s t a s i a , mas por t e r confessado e denunciado sua mãe,i r

mió, t i o e primos, foi a c e i t a ao Gremio e União da Santa

dre I g r e j a e condenada ao carcere e hábito p e n it e n c i a l per

pctuo, levando i n s i g n i a s de fogo, para d i f e r e n c i a r dos de

mais. Cuminando sua punição foi sentenciada ainda com degre

do de 5 anos para o B r a s i l . Os trámites de seu processo fo

ram interrompidos pois no dia 20 de setembro de 1662, tris

dias depois do Auto da f e , Ooana foi levada ao Hospital Real

de Todos os Santos da cidade de Li sboa, "por s o b r e v i r um

acidente de f u r o r e se entender que e s t a r i a douda f u r i o s a " .


‫ ו‬43

Joana de Gusmão, n at u ra l de E l v a s e r e s i d e n t e em L i s b o a , e r a

casada com Lourenço Lobo da Gama e t i n h a dois f i l h o s : Diogo

e Luzia, que faleceram de pouca idade. Não sabemos o que

aconteceu dep oisj seu processo enc err a- se com seu i n t e r n a -

mento no h o s p i t a l (4 8 ).

Se algum reu se s u i c i d a s s e nos c a r c e r e s do

Santo O f i c i o , o processo che gar ia também ao julgamento e se

fosse culpado no crime de h e r e s ia ou a p o s t a s i a , era relaxa-

do à J u s t i ç a s e c u l a r em Auto p ú b l i c o , além de t e r os bens

confiscados (4 9 ). Foi 0 que aconteceu com João Gomes, f i l h o

de F r a n c is c o Gomes e Isab el Pere s. 0 reu era a l f a i a t e em

Campo Maior, casado com V i o l a n t e A lv a r e s e t i n h a 45 anos quan

do se apresentou em 23 de março de 1585, andando nessa a l t u

ra cumprindo pena de degredo em C a s t r o ‫ ־‬Marim, por morte de

um homem. En tre os denunciantes também detidos nos c á r c e r e s

estavam sua t i a Ana Dias e seu sobrinho João V i c e n t e ; suas

irm ãsjisabel Peres e C a t a r in a M a r t i n s , a qual for a relaxada

à Ju stiça secular, sendo queimada em praça p ú b l i c a . João Go

mes se enforcou nos c á rc e re s no dia 08 de dezembro de 1585,

utilizando uma escápula de f e r r o metida na grade e um cinto^

0 qual estava atado ao cordão de retrÕs do chapéu que lhe

serviu para f a z e r um no c o r r i d o em v o l t a do pescoço. Aos 2

de f e v e r e i r o de 1586, foram c it a d o s sua irmã Is ab e l Peres e

seus f i l h o s e h e r d e ir o s para defenderem sua fama, honra e

fazenda mas, temendo ser npvaroente p re sa , sua irmã recusou-

se a f a z é - 1 0 e 05 r e s t a n t e s dos parentes não apareceram.Foi


‫ ו‬44

então noroeado seu procurador e de fe n so r, 0 l i c e n c i a d o Lança

rote L e i t ã o , juiz dos Órfãos na cidade de Cvora. Diante do

corpo enforcad o, foi encontrado uro b i l h e t e e s c r i t o com car

vão,o qual se consegue l e r : SznhoKz¿ ZnquÂ:0 ^d0A.e6 [. . . ]

i^oòòaò MeA.ce4 hão de ¿abcA quz eu ¡J.¿z um jeju m e iogo daZ

a pouco¿ diaò me aKKdpQ-ndi ( . . . ) na minha vontade não eAa

óeA. ju d eu (...) e não me con{¡e¿6e¿ d e le poA. não 6eK pKeòo

(. . . J Jo ã o {/¿cznte me a t e v a n t o u um g la n d e ¿aZóo te¿temunho

(. . . j juA .0 que t a l ò p a la v K a ¿ nunca d i6 s e (...) EòpeKa de mim

que eu d ig a 0 que eu não ¿ i z . E e ¿ t a A a q u i 3 ou 4 ano¿ que

me q u l¿ compoK com Veu¿ e {^azefi 0 ¿ e i t o que vem ( . . . ) me

encomendo a Si0 ¿ ¿ 0 SenhoK J e ¿ u ¿ que e ¿p e K 0 n e le que me ha de

peKdoaA. ¿ e mo/iKo d e ¿ t a m aneiA,a [ . . . ) . ( 5 0 ) .

2 . 5 . 1 . 6 Os Menores de Idade

Com r e la ç ã o aos presos de menor idade, deter-

minava 0 Regimento que " s e r a ord ina ri am ent e dado por curador

aos presos menores, 0 a l c a i d e dos c á r c e r e s , e aos apresenta

dos, 0 p o r t e i r o da c as a , ou algum outro o f i c i a l do Santo OfT

cio, i s t o porque os procuradores dos presos deviam s e r de

co n fi a n ç a da I n q u i s i ç ã o , p o s s i b i l i t a n d o desta forma conivên

c i a dos f u n c i o n á r i o s para a se nt en ci aç ã o dos réus. 0 alcai-

de da I n q u i s i ç ã o de í v o r a , Diogo de O l i v e i r a , foi 0 procura

dor de Manuel Catela, preso no dia 28 de noveiijbro de 1664 ,

quanto t t n K a , segundo g e n e a l o g í a , de " 1 0 a 1 1 anos"

Manuel era f t l h .0 de Díogo C a t e la e María Rodrigues e r e s i -

dia com seus pats na cidade de E i v a s . Fof acusado pelos t i o s


‫ ו‬45

e primos, taiubéro presos nos c S r c e r e s , acusados de judaísmo,

heresia e apostasia. Aos 27 de junho de 1666, 0 menino foi

posto em liberdade sob condição de não s a i r do Reino sem a

l i c e n ç a do Santo OfTcio, mas f o i condenado a penas e s p i r i ‫־‬

t u a i s , além de, como era praxe pagar as custas do processo

(51).

B r i t e s Couta, s o l t e i r a , f i l h a de Brãs Couto e

Ana Delgado, tinha 12 anos quando foi presa na V i l a de Ar-

raiolos. Acusada de judaísmo, ouviu sua sentença no Auto da

fé aos 4 de novembro de 1640. Foi condenada ao cãr cere e hã

bito p e n it e n c i a l perpétuo, além das penas e s p i r i t u a i s . Bri-

tes foi mandada de í vo r a para a v i l a de A r r a i o l o s para cum

p r i r a penitência e, depois de pouco mais de um ano, f o i - l h e

levantada a prisão e t i r a d o 0 habito p e n i t e n c i a l (52).

Acusada também de judaismo, Maria C o r r e i a , me

nina da Vil a de F r o n t e i r a e moradora em Av iz, tinha 10 anos

quando se apresentou a d e c l a r a r suas cu l p a s, como se v e r i f y

ca na "genealogia" e na "p r i m e i r a sessão"^embora conste em

outra parte do seu processo, que sua idade era de 15 anos .

Suas culpas foram e x t ra í d a s dos processos de sua mãe, irmã,

e tio. Pela sua pouca idade, Maria Correia ouviu sua senten

ça na Mesa, onde a l i mesmo abjurou. Recebeu penas e s p i r i t u -

ais e instruções na fe. Em 15 de ju lh o de 1651, foi "manda-

da em paz" (53).

Margarida Amada, natural de Montemor-o‫ ־‬Novo ,

tinha somente 15 anos quando f o i presa, no dia 18 de agosto

de 1629, também pela In q u i s i ç ã o eborense. No Auto da fé de

30 de junho de 1630, fez « b j u r a ç i o pu blica e foi "instruída


‫ ו‬46

nas coisas da f e " , picou na pri sã o duas senjanas e foi manda

da em paz. Muito mais t a r d e , no ano de 1667, casada com 0

v i n h a t e i r o Manoel Lopes, foi novamente acusada de judaTsmo

e por h er e si a e ap os ta si a fo i presa. Suas culpas foram ex

traídas do processo do seu f i l h o Martinho Lopes e por não

co nf e ss a r toda a verdade, foi sent enc iad a ã tormento no dia

20 de junho de 1670. Sua sentença f i n a l foi publicada no

Auto da fé de 29 de setembro do mesmo ano, sendo condenada

à cá rc er e a arb ítrio dos i n q u i s i d o r e s , penas e s p i r i t u a i s e

degredo de 3 anos no B r a s i l (5 4 ).

Normalmente, os menores quando acusados de ju

daismo, t a l v e z sem sequer saber 0 s i g n i f i c a d o do termo, ab-

juravam-se d i a n te dos i n q u i s i d o r e s e recebiam apenas a "in_s

trução nas co is as da f é " , sendo em seguida mandados "em paz"

Paz efêmera, é claro, pois seriam perseguidos e presos quan

do tivessem idade s u f i c i e n t e para serem denunciados.


‫ ו‬47

NOTAS

(01) Rego, R. Os Regimentos da I n q u i s i ç ã o . In: 0 ultimo Regi-

mento da I n q u i s i ç ã o Portuguesa- L i s b o a , Edições E x c e l s i

or, ‫ ו‬97 ‫ ו‬. p . 20.

(02) Tava re s, Maria j o s e Pimenta F e r r o . Inquisição: seu esta

belecimento e atuação (1536/1550). In : A Inquisição em

Po rtugal (1536/1821), L i s b o a , M i n i s t é r i o da Educação e

Cultura, B ib li o t e c a Nacional, 1987, p . 43.

(03) B a i ã o , Antonio. Como se fizeram os prim ei ros Regimentos

da I n q u i s i ç ã o . Serões, B.N.L. Seção dos P e r i õ d i c o s . n9 70

abril de 1911.

(04) Rego, R. op. c i t . p. 12.

(05) Regimento da Santa I n q u i s i ç ã o de 1552, Cardeal D. Henr^

que. In: Arch ivo H i s t ó r i c o P o r t u g u ê s . Vol. V, nÇs. 1 e

2, j a n e i r o / f e v e r e i r o 1907, O f f i c i n a T y p o g r a f i c a Calçada

da Cabra, 7, p. 272-306.

(06) Rego, R. op. c i t . p . 13.

(07) Regimento do Conselho Geral do Santo O f í c i o da I n q u i s i -

ção destes Reinos e Senhorios de P o r t u g a l . Lisboa, 19

de março de 1570. In : Arch ivo H i s t ó r i c o P o r t u g u ê s , Vol.

IV, nÇs 1 e 2, j a n e i r o / f e v e r e i r o de 1906, p . 412-17.

(08) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Cvora. Processo 3370.

(09) ANTT. I n q u i s i ç ã o de ívora. Processo 3272.

(10) ANTT. I n q u i s i ç ã o de ívora. Processo 11677.

(11) ANTT. I n q u i s i ç ã o de fyora. Processo 10078.

(12) E st e Regimento e mutto r a r o . U t ili z am o s 0 m i c ro - fi lm e da

seção dos reser va dos da BNL,


‫ ו‬49

sendo conjutada $ua pena para uro dos lugares do Algarve.

(31) ANTT. Inq ui siç ão de Lisboa. Processo 4372.

(32) ANTT. Inq u is içã o de Lisboa. Processo 5432. O degredo de

Francisca das Neves foi coiDutado 2 vezes; a p r i m e i r a , era

23 de março de 1638, para o couto de Castro-Marim e a se

gunda vez em junho do mesroo ano f o i transformado em pe

ñas e s p i r i t u a i s .

(33) Regimento do Santo O f i c i o do ano de 1640. op. cit. tTtu

10 XXI.

(34) Carvalho, Joaquim Mar tins . BNL. Seção dos P e r i ó d i c o s .

Os Regimentos da I n q u i s iç ã o Portuguesa. In: O Conimbri-

cence, de 9-10 a 5-1 1-1 869.

(36) Idem.

(36) ANTT.In qu is içã o de Lisboa. Processo 4411.

( 3 7 ) ‫ ־‬ANTT. Inqu is içã o de Lisboa. Processo 7093.

(38) ANTT.Inqu is içã o de Coimbra. Processo 52.

(39) ANTT.In qu is içã o de Coimbra. Processo 2776.

(40) ANTT. In qu is iç ão de Lisboa. Processo 5723. Paula de Mo^

r a , estando presa aguardando sua pa rti da para o degredo,

comunicou ao Santo O f i c i o que estava na prisão ‫״‬entrava-

da e cega, passando m i s e r i a s , sem t e r com que as poder

remediar** e que ti nha ela "idade muito d i l a t a d a e por t e r

um mancebo a quem cr iou que mora em Montemor-o-Novo. . . ”

suplicou em nome das chagas de C r i s t o e obteve a comuta

ção do seu degredo do B r a s i l para 0 Algarve.

(41) ANTT. In q u is iç ão de Lisboa. Processo 3961.

(42) Regimento do Santo OfTcio de Portugal do ano de 1640,op.

cit.Livro III, titu lo X X IIl,


‫ ו‬50

"Dos que fogem dos c Sr c e re s e dos que nao cumprero as

p e n i t ê n c i a s que 1 hes foram impostas” .

(43) Regimento do Santo O f i c i o de P o r t u g a l , do ano de 1640.

In: Joaquim Martins Carvalho. O Conlmbric e n c e , de 09

10 a 5.11.1869. BNL. Seção dos P e r i ó d i c o s .

(44) ANTT. I n q u i s i ç ã o de í v o r a . Processo 7455.

(45) ANTT. I n q u i s i ç ã o de í v o r a . Processo 11355.

(46) Regimento do Santo O f i c i o de P o r t u g a l , do ano de 1640,

op. c it. T ítu lo. XXVI. Dos au se nt es , e de fu n to s , que

morreram ant es , ou depois de presos, e dos que se mat^

ram, ou endoudeceram nos c a r c e r e s .

(47) Regimento do Santo OfTcio de P o r t u g a l , do ano de 1640,

op. ci t . t T t . X X V I.

(48) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Lisb oa . Processo 8620.

(49) Regimento do Santo OfTcio de P o r t u g a l , do ano de 1640,

op. cit. tTt. XXVI .

(50) ANTT. I n q u i s i ç ã o de í v o r a . Processo 8509. O b i l h e t e ma

n u s c r i t o em carvão esta anexado ao processo. Se não fos^

se a t r a n s c r i ç ã o feita pelos i n q u i s i d o r e s seria impossT

vel decifrar o e scrito , consumado e apagado pelo tempo

e pelo pr ó p ri o m a te r ia l u tilizad o.

(51) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Evor a. Processo 9784.

(52) ANTT. I n q u i s i ç ã o de í v o r a . Processo 4404.

(53) ANTT. I n q u i s i ç ã o de í v o r a . Processo 7045.

(54) ANTT. I n q u i s i ç ã o de í v o r a . Processo 8937.


‫ ו‬5‫ו‬

2.5.2 As penas para os Culpados

ContAa OA e ap S 6 ta ta ¿ qaz, poK ^ato¿

ou poK p a lavK aá , 6e. apaKtaKom com contum acia da noóóa San

ta Fé e poK ta¿0 ju lg a d o ¿ e 6 ^nte.nc¿ad0 6 , ^6tao dactafiadaó

p a la Jg ^ z ja 04 pena¿ de excomunhão, ÍKA,zgulaJUdade. e In a b l

lid a d z paKa hon/ia¿ e bzm ^Zc¿ 0 6 acidó l a ¿ t ic o 0 . E p e la ¿ 1(láj>

dzòtzò KQ,¿no¿, a¿¿¿m a n tig a ¿ como moderna¿, a¿ da tn ¿am ¿a,

pAÃvação da honKa¿ a o ^ Z d o ¿ , con^¿¿caq.ao da ban¿ a pana

ú ltim a da ¿ogo, Havando, alám d a ¿ta ¿ pana¿, qua ¿ao a¿ 0_^

dinam ia¿ do¿ Ka^aKldo¿ d a li to ¿ , out^a¿ axtKao K d in ã fiia ¿ a

mano¿ gA.ava¿ qua o¿ SanhoA^a¿ R a i¿ d a ¿ta ¿ Haino¿ comata^am

ao n0 ¿ ¿ 0 aK bZt/iio, como ¿ao a¿ da dagAado, a ç o i t a ¿ , K aclu ‫־‬

¿d a¿, caA,can.a¿, h ab ito p a n it a n c ia l a condanaçõa¿ pacunianX

a¿, pañ.a ¿a impoKam ¿agundo a di^a^ança do¿ exim a¿, a¿tado

da¿ c a u ¿a ¿, q u alid a d a da¿ cu lp a ¿ a da¿ p a ¿¿o a¿ qua a¿ coma

taAam. ( 1)

O Livro III, do Regimento de 1640, e s p e c i f i -

ca detalhadamente as "penas que hão de haver os culpados

nos crimes de que se conhece no Santo O f i c i o " (2). Estão

alT elencados todos os crimes condenados pelos juTzes inqui

sito riais com suas r e s p e c t i v a s punições, i n c l u s i v e aqueles

p u n ív e is com o degredo para o B r a s i l . Sobressaem os d e l i t o s

cometidos c o n t ra a r e l i g i ã o e a mo ralidad e, O Santo O f i c i o

tem uma j u r i s d i ç ã o praticamente e x c l u s i v a sobre os d e l i t o s

de h er e st a e o Tribu nal fot In tr o d u z i d o ero P or tu gal com a

f i n a l i d a d e de f i s c a l i z a r e p a n l r os descendentes dos judeus

c o n v e r t i d o s a f o r ç a ao c a t o l t c t s ‫־‬mo e s u s p e it o s de p r a t i c a r
‫ ו‬52

a re lig ião judaica. O delito da h e r e s ia se e st e n d ia também

ao pr o tes tan ti sm o e maometismo, porém q u a n t i t a t i va m e n t e in

ferior. Da grande h e r e s i a , se a l a r g a rapidamente às prãti^

cas consideradas menores ‫ ־‬proposições h e r é t i c a s , blasfem^

as, fe itiçaria, astrologia, sodomia, bigamia e s o l i c i t a ç ã o ;

em suma, a sua vocação r e l i g i o s a é a defesa da ortodoxia

cató lica.

Aquele que negasse t e r cometido a h e re s ia e

continuasse p e r s i s t e n t e na negação, de modo a ser conside-

rado " c o n v i c t o no c r i m e " , era sentenciado no Auto público da

fé, levando "h á b it o com fogos na forma costumada"; seus

bens eram conf is cad os e em seguida era relaxado ã Ju stiça

s e c u l a r para ser queimado v iv o . Os hábitos que vestiam os

" n e g a t i v o s " ou qualquer outro "convicto" condenado ã morte

eram colocados com seus r e s p e c t i v o s nomes e p á t r i a s , nas

freguesias de onde eram os réus n a t u r a i s e moradores, para ‫ן‬

que pudesse se r v i s t o s por todos.

Se fossem os " n e g a t i v o s " considerados "here-

siarcas ou d o g m a t i s t a s " , levavam, no Auto da f é , uma caro-

cha com os di z e r e s "Heresiarca" ou "Dogmatista" e os 10

cais que serviam de sinagogas para seus c u l t o s ju d a i c o s eram

completamente d e s t r u í d o s , "postos por t e r r a " e salgados;na

quele "chão in d ig n o" se le v a n t a v a um padrão de pedra com

um l e t r e i r o onde e st a v a e s c r i t o 0 porqué se havia mandado

arrasar e salgar a t e r r a .

Havendo de se r relaxada a J u s t t ç a s e c u l a r al^

guma pessoa que t i y e s s e ordens s a c r a s , tais como os padres

ou f r e i r a s , la e l a ao Auto da fé em corpo, v e s t i d a com 0 seu


‫ ו‬53

hábito c l e r i c a l e, durante a l e i t u r a e publica ção de sua

r e la x a ç ã o , era despojada das suas ordens sagradas por um

bi sp o, conforroe 0 d i r e i t o e cerimonial romano. Vestia-se•

lhe 0 habito de relaxado cora 0 qual era entregue a Jus

tiça s e c u l a r para a execução f i nal .Caèo fosse de alguma 0£

dem r e l i g i o s a aprovada, ia ve s ti d o não com 0 habito do

fundador, mas com 0 habito c l e r i c a l ; as r e l i g i o s a s iam

com 0 habito s e c u l a r . Quando l i d a a sentença, não se

zia 0 nome da ordem, mas apenas aquele rêu era " r e l i g i o -

so de c e r t a religião ".

Os acusados de h e r e s i a , que depois de S(B

rem delatados ã In q u i s i ç ã o e confessassem ã Mesa, "com

mostras e s i n a i s de ver d ad ei ra co nv e rs ão ” , s a ti s fa z e n d o

a prova da J u s t i ç a , eram recebidos ao Grémio e União da

Santa Madre I g r e j a , i ria m e le s ao Auto da fé com ve l a ace

sa na mão e hábito p e n i t e n c i a i ; a l T , de pé, ouviam suas

sentenças com a cabeça descoberta e faziam abjuração em

forma. Seus bens eram confiscados "desde 0 tempo em que

cometeram 0 d e l i t o " , além de tudo i s s o , incluTam‫ ־‬se as

penitências e s p i r i t u a i s , cã rc er e e h a b i t o , sempre ao li^

vre a r b í t r i o dos i n q u i s i d o r e s , conforme "a qualidade das

suas culpas e estado em que as confessarem". 0 importan‫־‬

te era manté-los f i e i s ã ortodoxia c a t ó l i c a para a salv a

ção de suas almas e para isso eram recebidos ao Grêmio da

Santa I g r e j a , porém com a condição de f ic a re m sem os bens

e de sofrerem a pena do cãrc ere "como parecerem aos inqui^

s ‫ ו‬dor es” .
‫ ו‬54

Para que os presos " c o n f i t e n t e s ‫ ״‬no crime de

heresia, recebidos ao Gremio, cumprissem humildemente suas

p e n i t e n c i a s e mostrassem com "coraçSo s i n c e r o " , 0 arrepen-

dimento, depois da abjuração em p u b l i c o , os i n q u i s i d o r e s ,

determinavam que não tivessem nem pudessem t e r of T c io s pu

blicos, tais como pro curado res, advogados, médicos, c i r u r -

gi õe s , bo ticários, sangradores, pilotos, bombeiros, ou mes

t r e s de n a v i o s , e que, em suas p^ssoas e roupas, não pude£

sem t r a z e r ouro, prata nem p e d r a r i a s , ou v e s t id o s de seda,

nem andar ã c a v a l o , e não podiam " t r a z e r armas o f e n s i v a s ,

no caso que fossem obrigados a t i - l a s " (3).

Pel as culpas dos p a i s , haviam de pagar tam

bém os f i l h o s . 0 Regimento determinava que a descendência

de um herege não e x e r c e r i a os cargos de " j u T z e s , m e ir in ho s ,

a l c a i des , n o t á r i o s , e s c r i v ã o s , procuradores" e nem outras mui

tas p r o f i s s õ e s nobres.

Os hereges a f i r m a t i v o s que pronunciassem al^

guma c o is a c o n t r á r i a a f é , i r ia m ao Auto, levando mordaça

na boca. Foi 0 caso de Pedro Afonso, acusado de defender a

d o ut rin a de Maomé e de p r o f e r i r b l a s f ê m i a , negando a vida

e te rn a e a r e s s u r r e i ç ã o da ca rn e, afirmando que "sÕ havia

nasc er e m o r r e r " . Pedro Afonso, de 60 anos "pouco mais ou

menos", era n a t u r a l de Almodovar e fo i preso pela I n q u i s i -

ção de í v o r a em 22 de j u l h o de 1551. Sai u no Auto da fe

“em corpo, descalço e sem b a r r e t e " , levou uma v e l a acesa na

mão e por t e r stdo a u to r de tão indigna b l a s f ê m i a , levou

mordaça na boca e recebeu 0 degredo de 4 anos para as ga

lês. Na sua acusação cons^tava também que 0 réu era polTga-

mo ( 5 ) .
‫ ו‬55

Con) jnordaça na boca, caminhou para o Auto da

fe no dia 30 de junho de 1555, a f e i t i c e i r a de B e j a , Marga-

rida Pimenta, poi também condenada com carocha, " d es c a lç a e

sem manto", alem de 50 açoutes e degredo de 3 anos para o

Brasil ( 6 ).

Os blasfemos e aqueles que proferissem "propo

siçÕes h e r é t i c a s , temerarias ou e s c a n d a l o s a s ", seriam pre

sos e punidos pelo Santo OfTcio e se o réu fosse "pessoa co^

turnada a d i z e r muitas vezes blasfemias h e r é t i c a s , atrozes ,

com qualquer leve movimento e perturbação que lhe suceda ,

i r á ao Auto público da f e , aonde f a r á abjuração de veemente

suspeito e l eva ra mordaça na boca e será condenada em pena

de açoutes e degredo". Foi exatamente o que aconteceu com

S i l v e s t r e da S i l v a , o qual tratava bruscamente seus empreg^

dos e v i z i n h o s , pro fer ind o "t e m e r a r ia s proposições h e r é t i ‫ל‬

cas". Em urna ocasi ão , "pedindo‫ ־‬lhe c ert a pessoa que Ihe fi

zesse urna cousa pelo amor de Deus, e le réu, Ihe respondeu

que o Diabo a l e v a s s e , e mais o amor de Deus e dizendo que

os bens que possuia não lhe dera Deus, mas o Diabo, com o

qual e le se queria f a r t a r e não com Deus". Afirmara nesta

oc as iã o, o que era gravTssimo para o Santo OfTcio, que sua

alma pe rte nc ia ao Diabo. Outra pessoa pedindo-lhe alguma co^

sa cm nome de Santa C a t a r i n a , e le d i ss e que o Diabo a lev a ^

se e que ele "não tinha nada com a d i t a santa". Outra vez ,

"tocando a Ave-Maria e dizendo-lhe c e r t a s pessoas que as re

zasse e se encomendasse a Deus, d i ss e o réu que arrenegava

da fe c a t ó l i c a e di sse c e r t a s p a l a v r a s que por não ofender

os c a t ó l i c o s se nao re fe re m ". Por ta nt as bl a s fe m ia s , os in


‫ ו‬56

q u i s id o r e s mandaram que S i l v e s t r e da S i l v a , fosse ao Auto da

f i da cidade de Coimbra no dia 25 de j u l h o de 1706, la ele

ouviu sua sentença: açoutes e degredo de 5 anos para 0 Br^

sil ( 8 ).

Antonio Luiz de Meneses, "judeu de nação e con

v e r t i d o à fe c a t ó l i c a “ , natural de Argel e morador em lis

boa, f o i preso pela I n q u i s i ç ã o de Lisboa e saiu no Auto da

fé do dia 10de dezembro de 1673. Disse 0 reu que renegava a

fé de C r i s t o e que queria morrer pela l e i de Moisés. Afirma-

ra ainda que aqueles que viviam de acordo com a l e i de Cri ^

to, eram infames "como a lama da r u a " . Por t a i s blasfémias ,

foi 0 réu degredado por 3 anos para 0 B r a s i l . No dia 19 de

j a n e i r o de 1674, "Andrea das Neves, mulher de Antonio de Me

neses que saiu neste Auto próximo passado por f a l a r algumas

pa l a vr a s contra a Santa fé c a t ó l i c a , 0 qual estã sentenciado

a i r degredado para 0 B r a s i l e por i s t o estã no Limoeiro" ,

d i ss e ao Tribunal que queria ela anu lar 0 casamento ou pelo

menos não " f a z e r vida com e l e " , por ser "muito t r i b u l e n t o e

sugador", e que seu marido lhe f a z i a constantes ameaças de

pedir l i c e n ç a ao Santo O f i c i o para i r em casa e nesta oca

sião e le a mataria e lhe tomaria seus bens. Andrea das Ne

ves s u p l ic a v a "p el o amor de Deus" a permissão para serparar-

se do seu marido Antonio L u i s , e que 0 Santo O f i c i o lhe de2

xasse os bens "para poder s u s te n t a r a ela e seu f i l h o " (9).

Aqueles que sendo colocados a tormento e fora

dele revogassem as c on fi s s õ e s f e i t a s , eram sentenciados em

penas de aç ou te s, degredo para as galés e 0 que parecesse aos


‫ ו‬57

inquisidores. Toda pessoa que revogasse a sua t o t a l i d a d e ou

parc ial men te a sua c o n f i s s ã o , "posto que depois assentasse

nela e fosse recebido ao Grêmio e União da Santa Madre Igre

ja", tinha c á r c e r e e hábito perpetuo sem remissão, e asmais

penas a r b i t r a r i a s .

Os réus que, depois de serem r e c o n c i l i a d o s pe

1 0 Santo O f i c i o , dissessem em publico que não tinham cometj^

do a here sia ou 0 d e l i t o que haviam confessado anteriormen-

te, eram de novo r e c o n c i l i a d o s nos c á r c e re s e se não t i ves-

sem ainda cumprido as p e n i t i n c i a s que haviam sido impostas

em suas sent ença s, eram condenados ao c á r c e r e e hábito peni^

tencial perpetuo sem remissão, açoutes e degredo para as ga

116$‫ י‬de 5 a t i 8 anos. Sendo mulheres, 0 degredo se a p l i c a r i a

no B r a s i l ou Angola. Caso tivessem cometido este crime de

pois de haverem cumprido as p e n i t ê n c i a s que em suas senten-

ças lhes haviam sido mencionadas, eram c as ti ga dos como "te-

m e rá rio s" e recebiam penas de degredo e açoutes ( 1 0 ).

André A l v a r e s , natu ral da cidade de Ei v a s e

morador em B e j a , t in h a sido r e c o n c i l i a d o em Mesa no dia 19

de maio de 1619, mas vol tou a ser preso por t e r chegado ao

Santo OfTcio a denúncia de que 0 réu d i z i a que nunca fora

judeu, que p r e s t a r a de c la ra ç õ e s f a l s a s por medo das " molé^

tias dos c á r c e r e s e r e v e l a v a 0 que se passava nos d i t o s cãr

cere s não obstante 0 juramento de segredo". Saiu, desta se

gunda vez, no Auto da fé do dia 28 de novembro de 1621 e

foi condenado a degredo de 5 anos no B r a s i l (11),

Dutra r e i n c i d e n t e degredada para 0 B r a s i l foi

Ana de A v i l a , filh a do mercador Antonio Gomes e de Maria Hen


‫ ו‬58

riques. Tinha 35 anos, so lte ira , n at u ra l de Almeida e mora-

dora em Estremoz. Foi r e i n c i d e n t e no "crime" de judaismo, he

resia e apostasia, pelos quais "crimes" j a tinha sido presa

e condenada pela I n q u i s i ç ã o de Lisboa em 31 de março de 1669.

Denunciada por seus irmàos presos na I n q u i s i ç ã o de S e v i l h a ,

foi posta "a tormento com 2 t r a t o s e s p e r t o s " . Ana de A v i l a

guardava os sábados, comia pão ãzimo, f a z i a j e j u n s de setem

bro e da Rainha E s t e r , alem de a b s t i n ê n c i a de determinados

alimentos pro ib id os pela l e i de Moisés ( 1 2 ) .

Manuel Guerra, meirinho da v i l a de Trancoso ,

no bispado de Vizeu, foi preso em outubro de 1663 por ter

" p a r t e de c r i s t ã o novo". Acusado de judaísmo, 0 réu negou

a acusação e d i s s e que " f o r a sempre f i e l catõ lico c r is tã o ".

Condenado como " n e g a t i v o " , foi constrangido a c o n fe ss a r

"suas culpas dizendo que persuadido com 0 ensino de c e r t a pes

soa de sua nação se apartou de nossa santa fé c a t ó l i c a e

passou ã crença da l e i de Mo isé s". Arrependido, logo em se

guida pediu a u d iê n c ia e revogou novamente, afimando outra

vez que sempre fo r a c a t õ l i c o . Para 0 Santo T r i b u n a l , era ina

dimissTvel ta n t a s revogações e por is so f o i admoestado e em

nova au d i ê n c ia afirmou "que as revogara por não saber 0 que

fazia". Muito confuso e apavorado, d i s s e novamente que se

guia a l e i de Moisés. Foi então 0 réu recebido ao Grêmio e

União da I g r e j a e degredado por 5 anos para 0 B r a s i l , Saiu

no Auto da fé do dia 26 de maio de 1669 e, 2 meses dep oi s,

0 e s c r i v ã o dos degredados do Reino c e r t i f i c o u que em seu po

der estav a os réus que ir iam logo cumrpir seus degredos.

Eram e l e s : Antonio Rodrigues Fu r ta d o j Antonio Lopes, c r i s t ã o


‫ ו‬59

novo, 49 anos, " t ro c e d o r de seda s"; F ra n c is c o Lopes, 61 anos,

lavrador. Todos com degredo de 3 anos para o B r a s i l . Junto

com e l e s , estava o nosso Manuel Guerra, 45 anos, condenado a

5 anos para o B r a s i l (1 3 ).

Se algum preso por crime de heresia fosse acu-

sado de " r e l a p s i a " , não podia ser r e c o n c i l i a d o e recebido ao

Gremio da I g r e j a cató lica, salvo se mostrasse s i n a i s de pen^

tincia e v er d ad ei ra conversão; caso c o n t r a r i o , era logo r e í a -

xado e entregue ã J u s t i ç a secular, perdendo todos os seus

bens que passavam a pe rte nc e r ao Fis co R e a l , desde o tempo em

que tinha tornado a cometer o d e l i t o ( 1 4 ). Notamos aqui que

o Santo O f i c i o é bastante dependente do poder r e g i o , que de

tém a capacidade de nomear o i n q u i s i d o r geral e receber o

produto das c o n f i sc a ç ã o de bens.

Se alguém era preso, acusado de t e r ido em t e r

ras de mouros e a l i renegado a fe c a t ó l i c a , e no Santo OfT ‫־‬

cío negasse esta acusação, era posto a tormento, pela ‘'pre

sunção quescontra ele r e s u l t a v a de não s e n t i r bem da fé cató

lica por se haver passado aos mouros". Se mesmo com os tormén

tos p e r s i s t i s s e em sua negação, f a r i a abjuração no lugar

xado pelos i n q u i s i d o r e s de acardo "com a qualidade das pe^

soas e da gravidade da c u l p a " . Determinava 0 Regimento que,

se fossem peasoas su sp e it as c confessassem depois de presas

que, por v i o l ê n c i a , medo ou mau tratamento tinham renegado a

fê c a t ó l i c a e n tr e os mouros, fossem ele s postos a tormento ,

"p el a presunção que contra ele s r e s u l t a v a , da culpa e de se

não irem ap re se n ta r e co n fe ss ã - la na mesa do Santo O f i c i o " .

F e i t a a acusação do tormento, ab jurariam publicamente.


‫ ו‬60

o francés, n atu ral de Marselha, Joao Buenaut,

tinha •24 anos quando se apresentou a Mesa da In q u i s i ç ã o de

Evora e declarou suas cu 1pas . Contou que estava c a t i v o na cj^

dade de Argel e la declarou-se mouro, com o nome de " H e j u s ‫־‬

sa ‫ ״‬, com r e c e i o de ser a l i morto. Ouviu sua sentença na Me

sa do Santo O f i c i o : a b ju ra ç ã o , p e n it e n c i a s e s p i r i t u a i s e

fo i doutrinado "nas co is as da f e " . Dez dias depois de preso

fo i "mandado em paz" ( 1 5 ).

Tomé de Carvalho era marinheiro e v i a j a v a pe

los portos do mundo. Quando tinha 12 anos, f oi ap ri sio n ad o

juntamente com seu pai e outros companheiros, quando regres

savam de uma viagem ao B r a s i l . Foram todos levados para

lé e lã vendidos como e sc ra vo s. Sendo muito m a lt ra t a d o , 0

menino Tomé renegou a fé cristã e passou a usar 0 nome de

Solimão, seguindo a l e i de Maomé. Embarcou em Argel com ou

tr os c a t i v o s para a guerra do corso e, nas proximidades da

costa do A lg a r v e , a t r i p u l a ç ã o r e v o l t o u - s e , mataram alguns

turcos e conseguiram a p r i s i o n a r os r e s t a n t e s 14 que trouxe-

ram para T a v i r a , no A lg a rv e . Tomé Carvalho era f i l h o de M£

noel Ca rva lho , também marinh eiro e de Maria A l v a r e s . Quando

foi preso pela Inquisição, Tomé j ã era um rapaz a d u l t o ; ou

viu sua sentença na mesa do Santo OfTcio e levou ve la acesa

na mão quando fez abjuração no dia 6 de setembro de 1632 e

recebeu penas e s p i r i t u a i s ( 1 6 ).

Os i n f i é i s que de fo ra viessem ao Reino e n^

l e delinquissem contra a r e l i g i ã o c a t ó l i c a , eram condenados

em pena de açoutes e degredo para as gales e nas mais a r b i -

t r a r i a s que parecessem aos i n q u i s i d o r e s , sa lv o se a culpa


‫ ו‬6‫ו‬

fosse de q u a l i d a d e , que por ela se houvesse de dar pena ord_i


n i r i a ( 17).

Aqueles que, por qualquer motivo, impedisse o

c a s t i g o e execução da J u s t i ç a contra os hereges e os recebe^

sem ou ocultassem em suas cas a s, ou em outras p a r t e s , "ou fj_

zesse qualquer ato , porque se mostrasse serem defensores dos

h er e ge s ", eram condenados a a b j u r a r publicamente e seriam

açoutados e degredados para as gales ( 18 ).

O Regimento de 1640 vigorou até a época do Mar

quésde Pombal em 1774, quando fo i elaborado o último Regimen

to do Santo O f i c i o . Modif ica çõ es aparentes foram f e i t a s , ca

muflando 0 c a r á t e r a r b i t r á r i o da i n s t i t u i ç ã o . Seu pr o je to

abolia os c á r c e r e s perpétuos, tornava pú bl ica as p r i s õ e s , p e r

mitindo a v i s i t a aos encarcerados e a b o l i a a cerimonia dos

Autos da f é . Nesta época, 0 Inquisidor Geral era 0 Cardeal Cu

nha; mas sabe-se que 0 Regimento f o i r e d i g id o pelo prõprio

Marquês de Pombal, 0 qual sujeitara 0 Santo O f i c i o ao poder

r e al como nunca antes 0 e s t i v e r a , tornando-o um instrumento

de sua p o l í t i c a . A pena de degredo continuou a ser amplamen-

te u t i l i z a d a neste Regimento e para 0 B r a s i l manteve-se pre

vista a deportação dos hereges, bígamos e f a l s á r i o s (19).


‫ ו‬62

NOTAS

(01) Regimento do Santo OfTcio da I n q u i s i ç ã o de Goa. Ordena

do com Autoridade Real e Regio B e n e p l á c i t o da Rainha

F i d e l í s s i m a Nossa Senhora, pelo Reverendíssimo Senhor

Cardeal da Cunha, dos Conselhos de Estado e gabinete

de Sua Majestade e I n q u i s i d o r Geral neste 5 Reinos e Por

tugal e em todos seus domínios, no ano de 1778, Livro

III: "Das penas que hão de haver os culpados nos cr^

mes de que se conhece no Santo O f i c i o " . In ; Q Oltimo

Regimento e 0 Regimento da Economia da I n q u i s i ç ã o de

Goa. L e i t u r a e P r e f a c i o de Raul Rêgo. S é r i e documental.

Bib lioteca Nacional, L i s b o a ,' 1983 , p . 85.

(02) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o dos Reinos de

Por tuga 1 . Ordenado por mandado do IlmjQ e Rnio Senhor B i^

po Dom F r a n c i s c o de Ca st ro , I n q u i s i d o r Geral do Conse

lho de Estado de S. Majestade. Em L i s b o a , nos Estaos ,

Por Manoel da S i l v a , 1640. Livro III: Das penas que hão

de haver os culpados nos c ri m e s , de que se conhece no

Santo O f i c i o .

(03) Regimento de 1640, o p . c i t . titu lo III, parãg raf os 8 e 11.

(04) Tdem, t T t u l o X I I .

(05) ANTT. I n q u i s i ç ã o de E v o r a . Processo 5649.

(06) ANTT. I n q u i s i ç ã o de E v o r a . Processo 6492,

(07) Regimento de 1640. Op. c i t . Livro III. titu lo X II.

(08) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra, Processo 1716.

(09) ANTT. I n q u i s i ç ã o de L is b oa , Processo 5703.


‫ ו‬63

(10) Regimento de 1640, Op, c i t , . Livro I I I , titu lo V e

BNL - Seção de p e r i S d i c o s . Carvalho, J, M , Op, c i t ,

a r t i g o numero 5.

(11) ANTT. In q u i s iç ã o de t v o r a . Processo 5681 e 5681-A

(12) ANTT. In q u is iç ão de Evora. Processo 11077,

(13) ANTT. In q u is iç ão de Coimbra. Processo 333.

(14) Regimento de 1640. Op. c i t . Livro I I I . titu lo VI

(15) ANTT. In q u i s iç ã o de Evora. Processo 7065.

(16) ANTT. In q u i s iç ã o de E v o r a . Processo 2237

(17) Regimento de 1640. Op. c i t . Livro I I I , títu lo s VII e

V III .

(18) Ca rvalho, J . M . , op. c i t . BNL. Seção de P e r i ó d i c o s .

(19) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s iç ã o dos Reinos de

P o r t u g a l , ordenado com o real beneplacido e re gio au-

x ilio pelo eminentíssimo e reverendíssimo senhor Car

deal da Cunha, dos conselhos de estado e gabinete de

Sua Majestade e I n q u i s i d o r geral nestes Reinos e em

todos os seus domínios. In: Documentos da H i s t o r i a

2. 0 Oltimo Regimento da In q u i s iç ã o portuguesa. In tro

dução e a t u a li z a ç ã o de Raul Rego. EdiçÔes E x c e l s i o r ,

L i sboa , 1971.
‫ ו‬64

3. PARTE I I : OS DEGREDADOS

3.1 Os Delinquentes: seus d e l i t o s ... seus degredos.

A gàandeza do pecado ou da 0 {^cn¿a pa^a com Vau¿ depende da


maldade do coAaçào; e pa^a que o¿ homenò pudeòòem òonda^ e&
¿e abiòmo, 6 eK -íh e-ia pfieciòo 0 ò oco kko da r e v e la ç ã o , Como
poderiam e le ¿ dete^mlnaK a0 pena¿ do¿ d i^ e^ en te¿ cA.im e¿,¿0^
bAe pA incZpio¿ c u ja ba¿e ¿he¿ ê de¿conhec¿da? SeA¿a aA.A.¿¿~
cado pun¿^ quando Veu¿ peAdoa e pe^doaA. quando Veu¿ pune,
in
o £ e g i ¿ Z a d 0 á d e v e ¿ e ^ um a n q u l t e t o hábil, q u e ¿ a i b a ao me¿
mo tempo cmpnegaA t o d a ¿ a¿ {¡oAça¿ que podem c o n t A . i b u Í A pa
Aa c o n ¿ o l i d a n o ed ificio e e n ^ à a q u e c e à t o d a ¿ a¿ que po¿¿am
aAAu^ná-io. (2 )

Desde os séculos passados, a H i s t o r i a da le

gislaç30‫ ׳‬penal, com todos os seus aparelhos c o e r c i t i v o s , re

g i s t r o u a adoção de inúmeros métodos re pr e ss or e s como for

ma de c o n t r o le da delin quência e a sociedade humana com

suas autoridades pública s sempre se depararam e tiveram que

combater o mundo da c r i m i n a l i d a d e . Como panaceia das maze

las s o c i a i s , desde tempos remotos, e de acordo com a ex2

géncia i d e o ló g ic a de cada época, or ga niz ou ‫ ־‬se um poderoso

sistema j u d i c i á r i o c o e r c i t i v o que, considerado pelos seus

demiurgos essencialmente n ec es sá rio e adequado para a manu

tenção da defesa dos d i r e i t o s privados e p ú b l i c o s , puniu

de v a ri a d a s maneiras e com r i g o r os elementos que fossem

considerados tr a ns g re ss ore s desta ordem e s t a b e l e c i d a : são

ele s os membros insanos do corpo s o c i a l , os assim chamados


‫ ו‬65

d e l in q u e n t e s . "A proporçSo e n tr e a pena e a qualidade do de

lito e determinada pela i n f l u e n c i a que o pacto v i o l a d o tem

sobre à ordem s o c i a l " (3) e cada ?poca c r io u suas prSprias

leis pe n ai s, i n s t i t u i n d o e usando os mais v a r i a d o s proce^

sos p u n i t i v o s : c o n f i s c a ç ã o de bens, v i o l e n c i a f í s i c a com o

s u p H c i o do corpo, exclusão s o c i a l a t r a v é s do degredo e mui^

tas vezes , a temTvel e macabra pena de morte.

Numa época na qual em nome de Deus se a g i a , a

p r i m e i ramotivação leg al que j u s t i f i c a v a as punições aos

tr a n s g r e s s o r e s da l e i humana e d i v i n a , era a sa lv a çã o da

sua alma, mesmo se para isso fosse n e c e s s á r i o e x c l u i - l o do

corpo s o c i a l , da mesma forma que 0 t r i g o e separado do joio,

A boa semente permanece no te rr en o f é r t i l para c r e s c e r e

dar f r u t o s e a erva daninha i arrancada e jogada no fogo.

E x c l u i r os condenados e pecadores, os quais

eram também considerados c r im in o s o s , não s i g n i f i c a v a tanto

re cu pe rá- lo s depois e i n t e g r ã - l o s dõceis e ú t e i s a comunida

de mas, a n t e s , dar ã sociedade uma f e i ç ã o s a ud áv e l, onde a

relig ião possa ap re se n ta r- se sem nenhuma het er od ox ia.

Parece que os i n q u i s i d o r e s entenderam muito

bem a f r a s e d e s c r i t a por Mateus no seu Evangelho: "se a tua

mão ou 0 teu pé te escandalizam, corta -os e a t i r a - o s para

longe de t i . . . " ( 4), mas deixaram de ob servar 0 tratamento

que P au lo , 0 apõstolo de J e s u s , dispensou aos membros do

corpo: "o¿ rmmbA.06 do coKpo quz paK^czm ma¿¿ ¿/lacoò òão 06

maiò n e ce ¿¿a ^ ¿0 4 , e aquzlzò quz paKzczm men04 dignoò de

konfia do co/ipo òôio o¿ que cz^camo¿ de ma¿ox hon^a, e n04

¿0 6 membA.0¿ que òâo meno-6 decen^e'4, nd6 06 tH,atCLmo0 com


‫ ו‬66

mai ò d í c z n c i a ; 00 qaz òão d e c e n t e ¿ não pA.ec¿0am de t a ¿ ¿ cu>i

dadoó. Ma4 V í a 0 d i ò p d ò o c o Kpo de modo a c o n c z d z K maioA. hon

n.a ao ' q u z e m^n 0 ò n o b A z , a de qu^ não h a j a d i v i ò ã o no

coApo, ma 4 00 mzmbAoó t e n h a m ¿quol¿ ó o í i c i t u d z un0 com o¿ cu

t AOó. Se um membAo ¿ o ^ A e , todo¿ o¿ membAoó c o m p a A t i l h a m o

¿ e u 00 { ¡ Aumento; ■6 e am memòA.0 e h o n Aa d o , todo¿ 06 membAoó poA

tilh am a óua aiz g A ia ( 5) .


‫ ו‬67

3. 0 5 ‫ ו‬. ‫ ו‬J uda i z a n t e s

A ‫ך‬nqui6Â.ção {xtillzoü. a 0 do ¿eu tempo ,

de que 0 medo ¿ 0Á. uma d e la ¿ , paAa a p retend ida in te g ra ç ã o 60^

d a l da m inoria c ri0 tâ ~ n o v a , na m a io ria c r i ò t ã ^ v e l k a , Vure

za e m iò e r ic õ r d ia ; v i g i l â n c i a , ca6tigo e c a te q u iz a ç ã o : era

e ¿te 0 com pliere i n t r a r e i n q u i ò i t o r i a l ( 6 ).

Odiosamente expulsos do Reino, muitíssimos cri^

tâos-novos vieram para as t e r r a s b r a s í l i c a s . Os v a r i o s Codj^

gos l e g i s l a t i v o s e os Regimentos I n q u i s i t o r i a i s portugueses,

desde 0 i n i c i o , ob jet iv ara m a perseguição e extinção dos ju

daizantes e outros heterodoxos que maculavam a pureza da

" v e r d a d e ir a r e l i g i ã o " . Para a descoberta destes crimes, e^

tabel_eceu‫ ־‬se a denúncia como norma g e r a l : ordenou-se a to

das as pessoas que soubessem de outras incurs as no crime de

heresia e a p o s t a s i a , que as fossem denunciar no prazo de

trinta dias. Detalhadamente eram indicados todos quantos, e

de que forma, podiam d e l i n q u i r . Denunciados podiam ser to

dos aqueles *'que jejuam 0 jejum maio^, que ca^ no dv 0c_

tcmb*1 0 , não comendo per iodo 0 d-la atê ã n o it e , que òa^cw

a0 e ò in e la ò , c eòtando então de ò caíço ò , e comendo nc00 a noi

tc caAne, e tig e la d a ¿, pedindo pendão un¿ ao¿ o u tro ¿. Sem

ccmo o¿ que jejuam 0 jejum da í^a-inha E¿ten e outro¿ j c j u n ¿ ,

que o¿ judeu¿ ¿oiam ¿aze^, ccmo o¿ da¿ ¿egunda¿ c q u in ta ¿

{^ei^a¿ dç cada ¿emana, não ccmcndo todo 0 dia ate ã Wcu'^e” ;

‫ ¿י)״‬que degolam a carne*'^ ( . . . ) "c a v e ¿ , que hão de comc^ ,


‫ ו‬68

a tà a v e A 6 ando-ihíÁ a gaAganta^ pMovando e tentando

0 catato na u nh a do d a do da mão , e cobA¿ndo o ¿a n g u e com

teA. A. a" ; "o¿ qu e não comem t o u c i n h o , nem l e b A e , nem c o e l h o ,

nem a v e ¿ afogada¿, nem i n g u i a , po lvo , nem c o n g A o , nem a ^ n a

ia , nem p e ó c a d o , que não t e n h a e¿cama, nem o u t ^ a ¿ cou0a0

p ro ib id a ¿ ao¿ Judeu¿ na Lei V elh a"j "o¿ que ¿olenizam a

Pa¿coa do pão a¿mo, e da¿ cabana¿^e a Pá¿coa do C0A.no, co_

mendo em b a c i a ¿ e e¿cu d e la¿ nova¿, àezando o^açõe¿ ju d aica

como o¿ ¿alm o¿ p e n ite n cia i¿, ¿em G lo ria et filio et S p iK i-

tu i Sancto, fazendo oração contra a parede ¿ab ad e ja n d o , a

baixando a cabeça e alevan tand o-a pondo ne¿ta o ca¿iã o o¿

a ta p h a lii¿ que ¿ a o uma¿ coAAea¿ atada¿ no¿ bA.aço¿, ou po^

ta¿ ¿obAe a cabeça"; "o¿ qu e poA m o A t e dalguém comem em me

¿a¿ baixa¿ pe¿cado, ovo¿ e a z e ito n a ¿, poA amaAguAa, e e^

tão dciAaó da prA^a poA do, e banham o¿ dc^unto¿ e Ih e¿ ca^

çam caCçõa¿ de Icn çc, a m o A t a l h a n d o - o¿ com c a m i ¿ a compAida,

pendo-{hc.¿ cm c<mn uma m c A t a l h a dcbAada a maneiAa de capa,

cn tcA A an do -0¿ cm t c A A a viAgcm e c »1 c 0 i‫׳‬fl0 m uito ¿unda¿, ch o

Aando-c¿ com ¿ u a ò L '< t CM Aa ¿, cantando, c pondo-lhe¿ na boca

um gAa o dc aljc^a^i im d^nhciAo d'ouA o, cu pAata, d i z e nd o que

c paAa pagaA a pnimcÃAa pvu¿ada, coAiandc a¿ unha¿, c gua^^

dando-a¿, dcAAamandc c mandando d c A \ am a A a água do¿ cania-

AC¿ c pote¿, dÃzcndc que a¿ aíw a i doò dc^undo¿ ¿e vem a(i

banhai, ou que 0 anjo p cA cu tien tc lavcu a c¿pada na água";

"o¿ que lançam na0 n ciX e¿ dc S, Jo ão c N atal, na ãgua do¿

cãnta-iO¿ e pote¿, ¿CAnc¿, ou p ã o , ou Kunho, dizendo que

ne¿¿a¿ n o ite ¿ ¿c toAna a ãgua cm ¿ a n g u c " ; "o¿ que d eitam a

benção ao¿ ¿ilh o ¿ p cn d c-lh c¿ a¿ mão¿ ¿ o b A c a c a b e ç a , ab ai-


‫ ו‬69

x a n d o - lh z ¿ a mão pe.10 fioòto abaÁ.xo, ¿em o 6¿n0LÍ da

cAuz!'; "o¿ que c¿A.cunc¿dam o¿ ¿ ¿ ¿ h o ¿ e ¿ecA e ta m an tc ¿he¿

põem nome¿ j u d a Z c o ¿ " ; "o¿ que batÁ^zam o¿ ¿ ¿ ¿ h 06 e d e p o ¿ ¿

ih e ¿ Aapam o o te o e a cAióm a" ( 7).

No Arquivo Nacional da Torre do Tombo, ñas

I n q u i s iç õ e s de Li sboa, Coimbra e Evora , existem centenas de

processos de r i u s degradados para o B r a s i l , que foram ac^

sados de praticarem os p r e c e i t o s j u d a i c o s . Somente no Auto

da fé do dia 6 de setembro de 1705, r e a l i z a d o em Lisboa ,

dos 15 r i u s condenados com o degredo, sendo 3 para Angola,

2 para as g a l é s , 1 para Sao Tomé e 9 para o B r a s i l , os

quais foram todos perseguidos, presos e julgados por serem

c r i s t a o s - n o v o s ; eram e l e s : Antonio Navarro Orõbio, mercador

de 55 anos, natural de S e v i l h a , no Reino de C a st e la e mor^

dor e/p Guarda. Tinha sido r e c o n c i l i a d o na I n q u i s i ç ã o de .

dri no ano de 1680, quando tinha 28 anos. Preso pela según

da vez, por r e l a p s i a na culpa de judaismo, f o i condenado a

3 anos de degredo para o B r a s i l . Luiz Marques Cardoso, sem

o ficio, 78 anos; natural da Torre de Moncorvo, no a r c e b i s ‫־‬

po de Braga e morador em Lisboa. Preso por r e l a p s i a e tam

bém condenado a 3 anos para o B r a s i l . Manoel Pinhão Frago-

so, que tinha parte de c r i st ã o - novo, era natu ral e morador

de Lisboa. Preso pela segunda vez quando tinha 67 anos e

fora acusado de r e l a p s i a , sentenciado a 3 anos de degredo

para o B r a s i l . Gab ri el Paes, “ trocedor de seda ", 52 anos ,

morador de Li sb o a , 3 anos para o B r a s i l . Pedro Madonado de

Medina, 63 anos, sem o f i c i o , natu ral de Bragança e morador


‫ ו‬70

em L i s b o a , também 3 anos de degredo. Manoel Lopes, rendei-

r o , n at u ra l da cidade de Guarda e morador na V i l a Sabugal,

66 anos. Pedro Fu rta d o, 33 anos, homem de negocios, natu-

ral de Cabaços no bispado de Lamego e morador em Lisboa.PiJ

nido com hábito perpetuo sem remissão e degredo de 5 anos

no B r a s i l . Bento Couto P i n h e i r o , c a i x e i r o de uma l o j a na

rua Nova, 28 anos, so lte iro , f i l h o de Diogo Rodrigues Pi_

nheiro, n at u ra l da V i l a Viçosa no arcebispado de Cvora e

morador em Li sb o a , seu degredo f o i de 5 anos. Dona B r i t e s

Pereira do Anjo, 55 anos, casada com Dom Pedro M e d in a, "que

vai na l i s t a " ; acusada de judaismo e degredada em 3 anos

para 0 B r a s i 1 ( 8 ).

0 século XVII foi 0 período em que 0 Brasil

mais recebeu os c r i s t ã o s novos, i s t o é, os judeus converti^

dos ao c r i s t i a n i s m o e su sp e itos de secretamente exercerem

as p r á t i c a s j u d a i c a s . Expulsos do Reino pela i n t o l e r â n c i a

relig io sa, muitos escolheram v o l u n ta ri a m e n te a Colônia p^

ra f u g i r das ga rras i nqui si t o r i a i s , outros j á presos e seji

te nciados pela Santa I n q u i s i ç ã o , vieram for çad am ent e, j u ]1

to com outras centenas de condenados igualmente punidos com

0 degredo. Aqui na Colônia d i s t a n t e e em pleno processo de

edificação, ... 0 cKÃ.&tão-novo e.xpz^lme.ntoa de tudo 1

dzòb^avadoK do la\)fiadon., mecân-cco, mzòtfio. de açã

caA., to ld a d o , e ato. ¿ZdaZgo, ¿enhoA. de zngznho e

cap^tào-moA.. 0 ambizntz 'zò tK an ho, a ò o lid a o do vaòto c o n t¿

m n tz , a dZótâncZa da p a t e la e doò cZ^icaloó ^am illaKZò, e

pKlnaipalrmnte, 0 ¿mpzKativo da nece-6-6-cda.de de coopzfiação


‫ ו‬7‫ו‬

paKa a p^õpKia 6 0 bA.ev¿vé.nc¿a, ta n to m atz^ tal como ¿ o c t a l ,

ap^oxtmou c^t4>tà00 vzíhoò e cKtòtâoò novoò e amoKtzcam a0

baKKzlKaò dtòcutm tnatÕ ^taò. A0 conòzquzncta¿ tmzdtataò {^0_

Kam naturalmente 0 aumento extA.a0A,dtnaAt0 do¿ caóamento¿ m^

to ¿ e, poA con¿egutnte, o aumento do número de cá.t¿tao¿ no_

vo¿ no B r a ¿ t l (9 ).

3.1.2 Os Fei t i c e i ros

Parede-meta com a¿ h e r e ¿ t a ¿ , no te rre n o me¿mo

do ¿agrado, {^crmigavam toda¿ a¿ ^orma¿ de ( ¡ e t t t ç a r t a , na c i

dade c o l o n i a l {10).

O¿ réu¿ acu¿ado¿ de ^azer { ¡ e i t t ç a r t a , ¿ o rttlí

g io ¿ ou adtvtnhaçÕ e ¿ , ttnham ¿eu¿ ben¿ ¿e q u e ¿tra d o ¿ e negan

do a aca¿aq.ao na Me¿a do Santo O^Zcto, eram re la x a d o ¿ à ju^

t i ç a ¿e c u la r, ¿am ao Auto da com hãbtto de relax ad o e ca

rocha na cabeça com r ó t u lo de i e t t t c e i r o , Ca¿ 0 co n ie ¿¿a ¿¿e m

¿ua¿ c u lp a ¿ , te ria m o me¿mo ¿ e q u e ¿ tro do¿ ben¿, ma¿ ao in

v i¿ da pena c a p i t a l , ¿eriam degredado¿. Tanto o¿ homen¿ quan

to a¿ mulhere¿ tinham pena¿ de açoute¿ e eram p r o ib id o ¿ de

e n t r a r no lu g a r em que haviam cometido o d e l i t o . Q^uanto a

pe¿¿oa condenada pelo crime de f e i t i ç a r i a , {^0¿ ¿ e nobre ou

de q u a lid a d e , por não merecer a¿ pena¿ de aço u te¿ e degredo

para a¿ g a le ¿ , era então degredada para Angola, São Tome,

''ou p a r te ¿ do B r a ¿ i l " (11).


‫ ו‬72

Leonor Gonçalves, so lteira, n atu ral da V i l a de

Frades, acusada de f e i t i ç a r i a , s u p e r s t i ç ã o e pacto com 0 de

mÔnio, f o i presa pela I n q u i s i ç ã o de Evora aos 15 de f e v e r e i -

ro de 1675. Leonor, "a Lança" dealcunha, t i r o u do altar da.

I g r e j a da M i s e r i c ó r d i a da V i l a de Frades, um pedaço de ara

para com ela f a z e r c e r t o s f e i t i ç o s com i n t u i t o de curar os

doentes. Fazia nove fervedouros para os quais t r a z i a lenha de

sete l u g a re s , agua de sete fontes e vinho de sete t a b e r n a s . Co

mo 0 f e i t i ç o era devido a c e r t a s mulheres, levava uma coisa

de cada uma d e l a s , pondo-as a f e r v e r dentro de uma panela ,

sob a qual colocava uma cruz de pau, enquanto rezava de con

tas na mão. A " L a n ç a " , quando estava sõ, f a l a v a como se dia-

logasse com outras duas pessoas; uma era 0 seu anjo da guar-

da que a ré chamava de " S e n h o r i a " e 0 outro era seu marido

defunto, 0 qual Leonor t r a t a v a de "V 5s ", para quem lançava,

pedaços de pão dizendo: ‫'י‬Vedes a 1 0 vosso quinhão, vedes aT

para vossa mãe, vedes a 1 para vossa t i a " . Explicou cert a vez

que Nossa Senhora do Rosário era a mãe do Diabo e Nossa Se

nhora dos Remédios era a t i a do diabo e que lhe entregara a

sua alma e 0 seu coração por não t e r coisa melhor que lhe dar.

Leonor não sabia a sua idade, mas era f i l h a de João Gonçalves

e Maria Gonçalves, f i c o u o i t o anos presa antes de s a i r em l\u

to da fé no dia 28 de março de 1683. Foi degredada para 0

Brasil ( 12 ).

Estevão L u i z , "0 Cobra" de alcunha, era so l te 2

ro e natural da V i l a do F e r r e i r a , na comarca de B e j a . Foi

acusado de f e i t i ç a r i a , pacto com 0 diabo e sodomia. Condena-


‫ ו‬73

do em 1690, recebeu açou tes, c á r c e r e a a r b i t r i o , in st ru çõ e s

nas c o is a s da f ê , p e n it ê n c i a s e s p i r i t u a i s e como acumulava

dois grandes crimes, considerados, na época, infames contra

a r e l i g i ã o e a moralidade, foi condenado a 6 anos de degre

do para 0 B r a s i l . 0 “ Cobra" era mulato l i v r e de 78 anos que

vivia de pedir esmolas. Seu pai fo ra escravo de Vasco Figue 2

ra, "0 V e l h o ", e sua mãe era escrava lib erta. Acusado de

fe itiça ria , 0 reu apresentou a r t i g o s de defesa e veio com

i n t e r r o g a t ó r i o por duas vezes, tendo sido seu procurador 0

l ic en c ia do C r i s p i n Luiz. Foi colocado a tormento, sendo de^

pojado de suas v e s te s , "sentado no potro e atado pelos pe2

tos com a c o r r e i a da argola presa na parede; depois foi

atado completamente com 4 v o l t a s nos braços e recebeu 2

tratos espertos". Entre suas v á r i a s orações s u p e r s t i c i o s a s ,

destaca-se aquela que pretendia c ura r 0 mau olhado: Vcu¿

que Xe i^ez c V cuó que te c k ío u , Veuò peàdoc a quem te ma¿

o^hcu, do^¿ te ol haram mal', ■te o l h a r ã o method, que ê

Veuò PadKe, Vt u¿ Fá-CIic, Veuó E ò p Z ^ i t o S a n t o , tfiêò pe 0 ¿ o a 0 m

um òS Veu¿ vcAdade^Ao. S a n t a Ana p a n i u a V i \ g e m , a VÃ.^gem pa

\<u Je ¿u 6 C^iòto, S ant a J ó a be t paA<u São João S a t à ò t a ; aòòim

como i ò t o é ve ndade i h o , võ0 Vi ngem, ti^ia-i e 0 te mai: deòte con

pc; 0e e na c a b e ç a , 0 t^he a bem a \ ‫׳‬e n t u \ a d a S a n t a Hel ena, ■ 5 c

c ijo¿ bnaçoó, 0 4 i he 0 bem aventu-^adr São Ma^ccó, c ác ê na

c-<ntuAa 0 t ^ à e a Iftigcm Puna, 6c c na b a n \ t g a , 0 tt*1e a bem

a v e n t u r a d a S a n t a H a i g a i t d a e ¿e e 0 n c 6 p c 6 , 0 t < \ v 0 bem

a v e n t u r a d o Sando André• T t r c - o Veuò c lUrgem M a r t a , methor

do quo. eu 0 p060c t i r a r , ccm um Vadr c N0000 e uma Av ‫״)׳‬


‫ ו‬74

Depuseram contra o r i u , 54 testemunhas. Acusa

do também de sodomia e como se d e s c o n fi a s s e ser e l e um her

ma frodi ta , foi-lhe fe ita uma minuciosa inspeção medica em

10 de setembro de 1686, v e r i f i c a n d o - s e a não e x i s t i n c i a de

õrgãos femininos. Seus cúmplices no “ pecado nefando" foram

tambim perseguidos pelo Santo O f i c i o e eram: Manoel da Costa

Pinto, cardador n a tu ra l da V i l a de A l v i t o e morador em V i l a

Nova, preso nos c á r c e r e s por sodomia e b l a s f i m i a ; Manuel 02

as Sena, o f i c i a l de ba rb e ir o na V i l a de B e r i n g e l ; Domingos

Fernandes, 0‫ ״‬Te ren a” , ou "0 C o b r e t a ", moleiro n a tu ra l da

V i l a Terena e morador em V i l h a l v a e, po st e ri o rm en te , no Mon

te da R i b e i r a do Sado; F r a n c is c o Rodrigues, pa sto r de ove

l h a s , morador na A ld e i a de Grana, termo da V i l a do Torrão ;

Manuel M a r t i n s , l a v r a d o r da A ld e i a de Graja da V i l a de Moi¿

rão; Simão M o r e i r a , de Messejana e A ugu sti to Roque, carpin-

teiro n at u ra l da B e i r a e morador em Grãndola. 0 reu f o i 0^

vido pelo crime de sodomia quando t i n h a 81 anos de idade(13).

Margarida Gonçalves, "andou apartada da nossa

santa fé c a t ó l i c a , tendo pacto com 0 Diabo, 0 qual a primej^

ra vez lhe apareceu de n o i t e , em c er t o lu ga r dese rto em f o r

ma humana de homem mancebo v e s t i d o de p r e t o " . 0 Diabo lhe

perguntou, se ela q u i s e s s e , e l e poderia f a z ê - l a rica e saj^

var sua alma, mas com a condição que e l a 0 a d o r a s s e . Margar 2

da, "Com i n s t i n t o d i a b ó l i c o , esquecida do temor de Deus e

de sua s a l v a ç ã o , a c e i t o u a d i t a condição apartando-se de

nossa santa fé c a t ó l i c a e com as maos le v a nt a da s se p5s de

j o e l h o s adorando 0 Diabo, dizendo que sÕ e l e t i n h a poderes

divinos". Além d i s s o , a re s a i a de n o i t e em companhia de


‫ ו‬75

outras pessoas que também acreditavam no demônio, "todas es

cabelhadas com espetos de f e r r o nas mãos e a um ce rt o lugar

lhes apareciam diabos em formas de mancebos e comele s t2

nham ajuntamento c a r n a l " . Margarida Gonçalves, f o i asperameji

te repreendida e "por pe dir perdão e m i s e r i c ó r d i a como pe

diu com lágrimas, mostrando s i n a i s de arrependimento, foi

recebido ao Grêmio e União da Santa Madre I g r e j a " . Saiu em

Auto da fé em 4 de maio de 1624, com hábito p e n i t e n c i a l per

pétuo e degredo de 3 anos para 0 B r a s i l , sendo pr oi bid a de

v o l t a r à sua cidade (1 4 ).

Maria da S i l v a , mulher de João E s t e v e s , mari-

nheiro que p a r t i r a para a índ ia e nunca mais v o l t a r a , foi

presa pela I n q u i s iç ã o de L is b oa , em 1664. Perguntada a cau

sa porque estava presa, a ré não hesitou em d i z e r que era

por testemunhos f a l s o s de inimigos que queriam vê- la preju-

dicad â. Mas 0 Santo OfTcio bem sabia 0 motivo, pois Maria da

Silva, mulher a n a lf ab e ta de 40 anos, tinha j á sido denuncia

da por Madalena Cosme, de 50 anos; Máxima M o re i ra , de 19

anos e Maria Lourença, de 43 anos, todas mulheres enciumadas

de seus f e i t i ç o s provocadores de "amizades ilíc ita s ". Maria

era uma f e i t i c e i r a muito procurada para " o b r i g a r a vontade

de c e r t a s pessoas para se efetuarem casamentos" e "encontros

lib id inosos". Com uma pequena pedra d ‫ י‬ara batizada em trê s

pias de água benta, dava de beber a pessoa cuja vontade se

prete ndia o b r i g a r ; pondo para 0 mesmo e f e i t o , um a l g u id a r

cercado de vel as verdes acesas tendo d i a n t e um papel em que

estav a pintado a f i g u r a do demônio e despida 0 invocava com

p a l a v r a s , usando de "f e rv ed o u ro s de v in a g re em que lançava


‫ ו‬76

pão de forc a e seix inh os do pé d e l a , pedrinhas da padaria e

outras da c u t e l a r i a e do açougue e quando tudo estava a f e r

ver, invocava os diabos chamando pelo diabo coxo". Durante

toda a tr a m it a çã o do processo, Maria da S i l v a negou todas

as acusações e por isso foi levada a tormento um ano e meio

depois de e s t a r presa. Mesmo nas dores do s u p l i c i o , d i ss e

que a acusaram em f a l s o e não tin h a nenhuma culpa a confes-

sar; despojada dos v e s t i d o s , foi assentada no banco e amar-

rada enquanto g r i t a v a pela Virgém das Necessidades e pedia

mi s e r i c ó r d i a . Foi sentenciada a açoutes e degredo de 5 anos

para 0 B r a s i l e depois de i n s t r u í d a nos mistérios da f é , con

fes sou , comungou e f o i levada para cumprir 0 seu degredo

(15).

0 negro f o r r o Miguel de Macedo, não ti

nhum o f i c i o e era n at u ral de Cepões, termo de Lamego. Vari

gloriava‫ ־‬se ¿g ser um grande f e i t i c e i r o e como t a l sabia f^

zer e de s f a z e r f e i t i ç o s , a d i v i n h a r c o is a s o c u l t a s e "dar re

médio para o b r i g a r as vontades de pessoas a f i n s pecamino

sos" . Dizi a com toda segurança que sabia f a z e r t a i s co is as

em v i r t u d e de um e s p i r i t o f a m i l i a r que t r a z i a em sua comp^

n h ia , dentro de um a n e l. Preso pelo Santo O f i c i o da I n q u i s 2

ção de Coimbra, em 1655, foi admoestado e v a r i a s vezes ne

gou 0 que tin h a confessado a n t e r io r m e n t e , dizendo que tudo

que d i s s e r a era f a l s o . Por p e rsistir em sua revogação, 0

promotor da j u s t i ç a entrou coml i b e l o contra 0 réu, 0 que

significava a insatisfação dos i n q u i s i d o r e s com suas confis^

sões. Depois d i s s o , Miguel f o i à Mesa e confessou suas cuj_

pas, acrescentando novos dados. Declarou que "para e f e i t o de


‫ ו‬77

c u ra r c e r t a pessoa enferma desconfiada dos médicos, saira a

um q u i n ta l da d i t a pessoa no qual entr e uns l o u r e i r o s invo-

cara por duas ou t r i s vezes o demônio com os nomes de Sata

nis , 0 qual Ihe aparecera logo no mesmo posto em f i g u r a de

menino de cinco ou s e i s anos e Ihe f a l a r a d e c la r an do - 1 he um

sinal por onde havia de saber se v i v e r i a a dita pessoa e o

modo com que a devia c ur a r para t e r saúde". Voltando i ce

la da p r i s ã o , tornou a d i z e r que "não f a l a r a com 0 demônio,

nem 0 v i r a em tempo algum, nem os v u l t o s e f i g u r a s que

v ia d e c la r a d o , a n te s , tudo in v e n t a r a e d i s s e r a falsamente ,

por entender que f a z i a melhor a sua c a u s a " . Neste i n t e r r o g a

tõrio cheios de c o n t ra d iç õ e s e revogações, continuou 0 n0£

30 f e i t i c e i r o sendo admoestado por v á r i a s vezes. Mas 0 Tr^

bunal reso lveu c o n c l u i r 0 processo e "por s e n t i r mal das

c ois as de nossa santa f i , e t e r pacto com 0 demônio e v i s t o

outrossim 0 escândalo e dano que r e s u l t a aos f i e i s de seme-

l han tes maldades. Mandam que 0 réu Miguel de Macedo em pena

de p e n i t ê n c i a de sua c u l p a , vã ao Auto da f i na formaacos-

tumada e nele ouça sua sentença e faç a ab juração de l ev e

su sp e it a na fé e por t a l 0 declaramos, e 0 condenamos em 3

anos de degredo para 0 estado do B r a s i l e se ja açoutado pe

las ruas p ú b l i c a s de Coimbra e t e r a c á r c e r e e hábito a arbT

t r i o dos i n q u i s i d o r e s " . Miguel fo i, logo depois do Auto da

fé, entregue ao c a r c e r e i r o da cadeia de L i s b o a , para d a l ‫־‬í

ser mandado cumprir 0 degredo a que f o ra condenado ( 1 6 ) .

M ar ga rid a, a feiticeira dos diabos mancebos;o

"C o b ra ", 0 f e i t i c e i r o sodomita; a " L a n ç a " , a bruxa que f a l a

va com seu anjo da guarda; M a r i a , a a l c o v i t e i r a e centenas


‫ ו‬78

de outros réus foram acusados, presos, to rt ur a do s e degreda

dos para 0 B n a s il ou outras p r o v í n c i a s u1t r a m a r i n a s . Muitos

deles concluTram seus processos entregues a J u s t i ç a secular

para serem queimados em f o g u e i ra s p ú b l i c a s .

3.1.3 As Beatas V i s i o n á r i a s

...Com Qfiandz ¿o^ça do z ò p l^ ito ao qua¿ não

pod¿a ¿e aA./Líbatava e co«1u*1^cava cowi P e a ¿ (...)

ab^indo-ÁZ-lkz a0 pcKta¿ do c e a , mu^to e.0tA.e.¿ta0 , en-t-1‫׳‬aua

dentro dzlo. e ne-¿e vIkol c.¿dade.0 mu¿ ¿ 0A.m0¿ a ¿ e c.apz¿a0 mu¿

A.¿ca6 e outKo¿ mu¿t06 ¿uga^zó de {^o^moóu^a ( . . . ) . Out^a uez

aAAzbatada em am ¿ugan. mu¿ te.KKlvz¿ e ¿ópantoóo com mu¿ta6

iZngua¿ de ¿ogo o qual ¿he. paKzc.e.u ¿z'a. o íugaK onde. a 4 al

ma0 vão pa-1‫׳‬ga-‫׳‬L a zòcÕKea da¿ culpa¿ que no mundo cometeram

...(1 7 ).

Maria Antunes, t e r c e i r a da Ordem de São Fran-

c i s c o , afirmava que era uma p r e d i l e t a de Deus pois este a

es co lh er a na t e r r a para t r a n s m i t i r v is õ e s e re ve l a ç õ e s divi^

nas. A visio n ária, filh a de Jo rg e Antunes que era o l e i r o de

profissão, ti nha um irmão frad e de nome Jerónimo que era

"tangedor de harpa“ e um o u tr o , o l e i r o , como 0 p a i , que mo

rava no mesmo lug ar de Merceana, termo da V i l a Galega.

Maria Antunes, quando ouvia missa ou estava

em ora ção, f a z i a abalos descompostos com 0 corpo, chegando,

muitas vezes atê 0 chão. Perguntada por que agia daquela f 0£


‫ ו‬79

ma, respondeu que tudo aq u i l o era fo rç a do e s p i r i t o e da ora

ção, e por t a l v i r t u d e sabia quem estava em gra ça, quem h£

v ia de s a l v a r - s e ou perder-se e ainda "com quem Deus estava

de bem, ou com quem estava de mal". Em c e r t a o c a s i ã o , morren

do uma pessoa, a ré d i s s e que lhe fizessem logo os s u frá g i o s

porque t a l alma estava em grandes apuros no pu rga t5r io e que

ela, em v i r t u d e de sua potente oração, podia t i r a r algumas

almas do fogo p u r i f i c a d o r e mandar para 0 céu, 0 lugar be^

t T f i c o onde também ela c h e g a r i a . Dizia poder f a l a r com Deus^

ver os santos e o u v i r as músicas do céu. Afirmava que Deus

lhe f a l a r a v á r i a s vezes e que ela era santa porque Deus a fj[

zera assim. Algumas vezes f a l a v a "formando a voz de c r ia n ç a

pequena, dizendo que pela oração a punha Deus no estado da

inocência" e persuadia a c e r t a s pessoas que fossem pelo mun

do fa z e r vida sa n ta , porque Deus assim lhe mandava. Seu re

1 acionamento era d i r e t o com Deus, a l i á s era ela a es co lh id a

por Deus para t r a n s m i t i r na t e r r a , os conselhos d i v i n o s ; so

mente a e la pr es ta va conta de sua v i d a . Perguntada quem era

0 seu confesso r ou padre e s p i r i t u a l , respondeu que era 0 p^

dre dos padres. Uma vez, ao ver-se no espelho, o u vir a uma

voz que lhe d i s s e r a : “ Não te v e j a s em espelho da t e r r a , por

que quem se hã de ver em mim, não tem necessidade de se ver

em espelho dei a “ . Entendendo que t a i s p a l a v r a s "procediam de

Deus Nosso Senhor , se exultou de a l e g r i a e lançou fora 0 d_i^

to e s p e lh o ".

Maria Antunes f o i presa aos 6 de outubro de

1657 e saiu no Auto da f é um ano depois. Foi acusada de fiji

g i r s a n ti d a d e , si mu lar v is õ e s e r e v e l a ç õ e s que eram " f a v o r e s


‫ ו‬80

concedidos somente aos s a n t o s " ; foi condenada a pena de

açoutes e degredo de 6 anos para 0 B r a s i l ( 1 8 ).

Também Maria Dias era popularmente consider^

da santa. So lteira, moradora no Burgo das C e la s , junt o de

Coimbra, tinha vi s õ e s d i v i n a s e r e v e l a ç õ e s de c o is as ocuj^

tas "que por meios humanos não podia s a b e r " . Depois de re

ceber 0 santíssimo sacramento da E u c a r i s t i a , ti nha a r r e b a ‫־‬

tamentos e i x t a s e s , mostrando que, por ser s a nt a . Deus lhe

concedia grandes mercês. Dizi a que os santos lhe apareciam

e que ela tinha re spostas d i v i n a s para as c o is a s f u t u r a s . A

beata f o i presa pelo Santo O f i c i o c o n i m b ri c e n c e , sendo cha

mada i Mesa e admoestada declarando a verdade de todas as

c o is as reveladas; d i s s e que, por espaço de 25 anos, sempre

t r a t a v a de fa z e r p e n i t e n c i a s e que por algumas vezes, com

grande fo rç a de e s p i r i t o , ao qual não podia r e s i s t i r , se

ar re b a t a v a e comunicava com Deus. Uma c e r t a vez , Deus se

lhe ap re se n ta ra em sonho, " ab ri n d o - se - 1 he as portas dos

c éu s" . Em outra o c a s i ã o , acordando de madrugada, pusera‫ ־‬se

em oração e C r i s t o Nosso Senhor lhe aparecera mostrando-lhe

suas chagas, dizendo que a q u i l o era 0 que padecera pelos ho

mens e que estava queixoso deles vendo quão mal respondiam.

Certa vez, foi ela tr a ns p orta da para um lug ar tenebroso, 0

q u al , devido seu aspecto t e r r i f i c a n t e , pensou a re ser 0

in fe r n o ou 0 p u r g a t ó r i o e por is so f i c a r a com grande medo

e temor. Disse ainda muito mais: que na q u i n t a - f e i r a da

quaresma, depois de comungar e e n t r a r em ê xt a s e , e s c u ta r a

um c â n t i c o muito suave e perguntando que música era aquela

e a quem se dava, f o i - l h e respondido em e s p i r i t o que era


‫ ו‬8‫ו‬

um padre r e l i g i o s o do d i t o mosteiro onde comungara, que sa ia

do p u r g a to ri o e ia para o céu.

V i r i o s foram os i n t e r r o g a t ó r i o s e v a r i a s foram

as c o n t rad iç õ e s de Maria Dias. Admoestada, cansada, confusa

e temerosa, a re confirmou que os r a p t o s , v is õ e s e re v e l a ç õ e s

eram f i n g i d o s , s a t i s f a z e n d o assim a intenção dos i n q u i s i d o r e s .

Foi condenada no Auto da fé do dia 19 de maio de 1591; rece-

beu 50 açoutes e 10 anos de degredo para o B r a s i l . Para evj^

tar ocasiões dos i x t a s e s que eram provocados logo apõs o re

cebimento da E u c a r i s t i a , a r e l i g i o s a f o i au to r i z a d a a comu£

gar somente na P i s c o a , no J u b i l e u geral ou ''estando d i a n t e

da mo rte ", mas podia c on f e ss a r todas as vezes que quisesse

para consolação de sua alma.

Muitas pessoas a tinham por santa e por isso

todos aqueles que recebessem alguma peça de seu uso, t i d o co

mo r e l í q u i a , deveriam t r a z e r ao Santo O f í c i o para ser entre-

gue aos p r e l a d o s , os quais e v i t a r i a m a d i fu s ã o de sua santj^

dade não aprovada pela I g r e j a (19).

Também r e l i g i o s a era Magdalena de São Jo s é que

dizia ser uma v i s i o n á r i a . Afirmou perante v á r i a s pessoas que

Deus a amava muito e sabia que e la era santa pois r e c e b i a mais

f a v o r e s d i v i n o s que 0 pró pri o São Pedro M á r t i r . Confessou que

nunca pecara mortalmente, "nem ainda f i z e r a pecados v e n i a i s "

e lançava os demonios f o r a de c e r t a s pessoas, dando a enten

der que 0 havia f e i t o miraculosamente. Contou que desejando

aprender a l e r , v i e r a e n s i n a r - l h e , nada mais, nada menos,que

a grande doutora da I g r e j a , Santa Te re sa , a qual v i r a ir pa-

ra 0 céu em grande espl end or . C r i s t o lhe f a l a r a na h o s t i a con


‫ ו‬82

sagrada em f i g u r a de menino ou c r u c i f i c a d o . Em uma quinta -

feira, v i s i t a n d o 25 i g r e j a s , 0 próprio C r i s t o , Senhor Nosso,

lhe f a l a r a corporalmente e e la 0 v i a ''com os 01 hos corporais".

Estando em c e r t a igreja, posta de joe lh os e muito desconso

lada por um testemunho f a l s o que lhe tinham lev anta do, lhe

aparecera uma mulher "grande e formosa", com cabelos louros

estendidos pelos ombros; v e s t i a um manto roxo e estava de^

calça. A bela mulher lhe perguntou: "por que te desconsolas?

Os santos que estão nesta i g r e j a não foram para 0 céu por

l ou vor e s, mas por i n j ú r i a s e afrontas. Diz quem deve mais a

Deus, tu que estás i n oc e nte , ou a pessoa que te levantou 0

f a l s o testemunho?" Ouvindo t a i s pa1a v ras ,Magda 1ena de São

José, pensando que a bela mulher fosse a rainha Santa Isabel,

quis lança r-s e aos seus pés, mas esta desapareceu deixando a

visio n ária "consolada e sem f i c a r contra a pessoa que tinha

levantado 0 d i t o testemunho".

0 Santo O f i c i o não a c re d i to u nas ta ntas hi^

tõrias e vi sõ es de Magdalena e " v i s t o com 0 mais que dos a^j

tos consta e as graves e veementes presunçÕes que resultam

de serem f a l s a s , fingidas e inventadas pela ré ( . . . ) pela cul^

pa que comete e escándalo que dão ao povo c r i stão ,cons iderari

do os abusos que nele se introduzem com semelhantes ocasiões

em p r e j u íz o da pureza de nossa santa f é , mandam que a ré Ma£

dalena de São J o s e , vã ao Auto da fé na forma costumada e ne

le ouça sua sentença e vã degredada para 0 Estado do Brasil

por tempo de 3 anos e mais penas e p e n i t ê n c i a s " . Logo em se

guid a, Magdalena f o i entregue na cadeia de Lisboa para dali

i r cumprir 0 seu degredo nas t e r r a s b rasileiras ( 2 0 ).


‫ ו‬83

Visões das almas do p u r g a t o r i o , musicas e so-

nhos c e l e s t i a i s , arrebatamentos e êxt as e s, foram reprovados

e condenados pela Inquisição. A documentação comprova a exi^

tê n c i a de uma maior perseguição aos “ casos demoníacos" ,aque

les considerados obsessão das bruxas e f e i t i ç e i r a s . Em am

bos os casos, “ demoni'acos" ou " s a n t o s " , 0 v i v e r c o t i d i a n o

se confunde com 0 i m a g in ã ri o , gerando comportamentos r e l i ‫־‬

gi os os , tipicamente popular, marcantes na formação c u l t u r a l

do colono b r a s i l e i r o .

3.1.4 Os Curandeiros S u p e r s t i c i o s o s

Sem ¿abe/L Zcà nem c¿cAcveA, ¿az^a cuKa¿ à0

p e s ò oa ó cn{^càma0 dc a c h a q u e ¿ vã^Ãoò. Com c e r i m o n i a ¿ 0upen0~

XxcÁoòaò c a p l i c a q v d ò , b e nç ao¿ e Acza0, ¿>en1 apZX.caA ncmcd^o

que ^oóòc natura■(', anXc ¿ , com a ç r c ò òuòpcitaò c totalmente

Á.nadequada0 pa^a 00 {^in¿ que p r e t e n d i a , usando c e M o númeno

de e^vaó, água de ¿ ont e que nunca ó e c a v a e armava uma me0a

com vcí.a0 ace0a0 e o u t ^ a ¿ c o i 6 a 0 maxó e ^ a z i a l avatÕàÁ.0¿ poh

modo de bati òmo com água b e n t a , e s c a n d a l i z a n d o a¿ p e0 00 a 0

prudente¿ e expendo c»1 g l a n d e ^iáòco e0p< *i^ítuat à¿ ne ce0A< ta

da 0 e 4. gn 0 h a n t e 0 , d a n d o - l h e ¿ 0ca¿Á.hc de i nvocaAem ao dcmô -

lu'o I ? I ) .

Muitas pessoas reco rriam ao l a v r a d o r Domingos

Afonso, 62 anos, para serem curadas de seus achaques. Circu

la va na região de Bragança, a opinião que e le era um grande


‫ ו‬84

feiticeiro e t in h a 0 poder de c u ra r doenças de todos os gêne

ros.

Domingos Afonso a p l i c a v a nos doentes, cera e

incenso do c f r i o pascoal , c is c o do lugar onde juntassem t r ê s

r i b e i r o s e "o u tr a s c o is as menos adequadas para 0 e f e i t o que

se p r e t e n d i a " . Empregava "as d i t a s c o is as em nove dias e

usando nas d i t a s curas de bênçãos, p a l a v r a s e orações supers^

ticio sas". Persuad ia as mulheres doentes que 0 consultavam

de que 0 remédio mais e f i c a z e conveniente para se salvarem

era t e r com ele "a tos lacivos e torpes", afirmando que não

era pecado e que e la s não tinham' obrigação de confe ssa r- se

disto, "antes 0 cometiam mais grave (p e ca d o ) , se assim 0 f^

zessem". Domingos Afonso enganava as pobres e i gn ora ntes mu

lh e r e s a t r a v é s de suas curas l i b i d i n o s a s , até que um dia f o i

preso pelo Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Coimbra e saiu j u l -

gado a 7 anos de degredo para 0 B r a s i l , no Auto da fé do dia

23 de maio de 1660.

Além de c u r a n d e i r o . Domingos mostrava saber das

c o is a s o c u l t a s e p e r d id a s , dizendo ãs pessoas que 0 c o n s u l t^

vam para e ste e f e i t o "que olhassem para onde as e s t r e l a s cor

riam que para essa pa rte estava as d i t a s co is as p e rd id as " e

d e c la r a v a a outras pessoas os lugares onde se podiam encon ‫־‬

t r a r os obj eto s roubados, nomeando i n d iv i d u a l m e n t e as pe^

soas que as tinham f u rt a d o ( 2 2 ).

Gaspar Preto era um outro c u ra n d ei ro que tam

bém não sabia nenhuma c i ê n c i a , mas curava todo 0 gênero de

enfermidades . Era n a tu r a l de S a n t i a g o , de um l u g a r e j o chamado

V ila Gracia, perte nc e nt e ao ar cebispado de Braga. Usava nas


‫ ו‬85

suas curas de f e i t i ç o s , agua benta e t e r r a de lugares sagra

dos. Gaspar não seguia nenhum p r e c e i t o da I g r e j a c a t ó l i c a e

d i z i a a todos que nao era pecado comer carne nos dias proi-

bidos; afirmava que todos podiam comer e que não iriam para

0 inferno. Foi preso e confessou que. sendo c a t i v o em Marro

cos, d i s s e aos muçulmanos que queria ser mouro, f a t o este

considerado pela Igreja como h e r e s i a . Disse ainda que tinha

poderes para l a n ç a r demônios dos corpos humanos usando para

este fim " p a l a v r a s e c o is a s supersticiosas". Por t e r feito

um pacto com 0 demônio, foi condenado em Coimbra no ano de

1629 a s e i s anos de degredo no B r a s i l . Antes de ser mandado

para a pri sã o dos degredados, foi s o l t o para i r cumprir as

penas e s p i r i t u a i s , mas por ser muito conhecido, foi novameji

te procurado por c e r t a s pessoas que imploravam sua ajuda p^

ra serem cura da s; 0 réu continuou a e x e r c i t a r suas p r a t i c a s

mágicas e por isso f o i preso novamente para ser mandado p£

ra 0 B r a s i l (23 ) .

Na m a io ria dos casos, os cur a nd ei ro s u t i l i z a -

vam p a l a v r a s e gestos sagrados da I g r e j a c a t ó l i c a , inventan

do c e r i m o n i a i s ,misto de dogmas e s u p e r s t i ç õ e s e assim 0 fa

zia muito bem, Manuel Marques F e r r e i r a , que f o i preso no dia

prime iro de junho de 1713. Fazia curas a t r a v é s de cerimÔni-

as es tra nha s e u t i l i z a v a de a p l i c a ç õ e s , bênçãos e orações.

Usava ervas e ãgua de v a r i a s fon te s e armava uma mesa com

v e l a s ac e sa s , uma f a c a , moedas de prata e outras c o is a s mais.

Benzia a todos lançando agua benta e rezando em voz baixa

por um l i v r o que t r a z i a co nsigo, requerendo e n o t i f i c a n d o que

da pa rte da S a n tí s s im a Trindade viessem a l i todos os diabos


‫ ו‬06

e que a pessoa enferma r e p e t i s s e 0 mesmo. 0 seu r i t u a l era

complexo; t i r a v a uns põs brancos que t r a z i a cons igo, dizen-

do que eram de Sua Santidade e os lançava em uma brasas p^

ra que com a fumaça pudesse inc ensar a pessoa doente.Nas pe^

soas que estavam assombradas ou e n f e i t i ç a d a s lhes lançava

ao pescolo uma b o ls i n h a , chamando pela Sa n tís sim a Trindade

e outros santos. Tudo f a z i a e f a l a v a olhando sempre 0 seu

livro que, segundo e l e , podia lhe mostrar a qualidade da

doença. Estando 0 réu nos c ár c er e s e admoestado a c on fe s s a r

suas c u l p a s , di s s e ainda que f a z i a l a b o r a t ó r i o s de mostarda^

vin ag re e água benta, misturando tudo com p5s de sapo e que

fazia tudo de boa f é , sem saber que eram p r o ib id a s e repe -

tia aos i n q u i s id o r e s que e le não era um bruxo, que nunca se

a p a r t a r a da fé c a t ó l i c a e nunca f i z e r a nenhum pacto com 0

diabo. Assustado, mostrava-se arrepe ndi do, pedia perdão e

m i s e r i c ó r d i a , mas para 0 Santo O f i c i o havia i n d í c i o s de que

0 réu tinha se apartado da fé c a t ó l i c a e que eram inadimis-

siveis tais praticas. Foi v á r i a s vezes admoestado e confes-

sou que recebera 0 1 i v r o "mãgico"da mão de um homem que não

conhecia e, estando muito confuso, diss e que t a l homem lhe

afigurou ser 0 diabo, pois este_,ao o f e r t a r - l h e 0 l i v r o , óis

se-lhe que se quisesse cu ra r todas as enfermidades 0 ab r i s-

se e ologo havia de v i r à memória 0 remédio para t a l doença.

Manuel Marques f o i condenado em degredo para

Castro-Marim, mas não f o i cumprir sua sentença. Reincidiu

nas mesmas p r á t i c a s s u p e r s t i c i o s a s , voltando a f a z e r suas

cu ra s. Por "tão grande a t r e v i m e n t o " , 0 réu f o i preso pela

segunda vez e confessou que não cumprira não sõ 0 seu degre


‫ ו‬87

gredo, mas todas as penas as quais ti nha sido condenado. Veio

um novo l i b e l o c r im in a l a c u s a t o r i o e Manuel Marques confe^

sou sua m a t e r i a , mas desta vez os i n q u i s i d o r e s foram mais

ri gor oso s com e l e , afinal era um caso j á conhecido. Foi con

denado a degredo para o B r a s i l . Em 14 de agosto de 1716, f o i

e le conduzido para a cadeia do Porto juntamente com mais

5 presos; todos entregues pelo f a m i l i a r F r a n c is c o da Costa

Guimarães (24 ) .

Quase sempre os c ur a nd ei ro s eram considerados

também f e i t i c e i r o s e suas curas estavam^na ma io ria das vezeS;

en v o l v id a s em m i s t e r i o s a s p r á t i c a s mágicas e poderes sobren^

turáis que mesclavam o b j e t o s , palavras e rituais sagrados pe

la Igreja cató lica com uma expressão r e l i g i o s a popular e s^

persticio sa, ti p i c a m e n te a t r i b u í d a s as populações camponesas.

3. 1.5 Os Profanadores das Imagens Sagradas

...-òe alguma pzòòoa tão ouòada que,, em dzò

p-1 ‫׳‬ezo do SantZòòimo Sac^amznto do k tta K , quebA.aA, dz^KubaK

ou {,¿zzà algum outKo daòacato à k õ ò tia conòagKada ou ao c.a

¿¿K conòagxado ou aalguma ¿mago.m de CA^óto Se,nh0K N0000 e

de òua ¿agrada c k u z ou da \/¿/Lge,m MaKia Sznh0A.a N000a,

examinada p e la d i t a culpa e pKZòunçào que, de.la KZòultaK de

òe n tifi mal da noòòa San ta Fé, ¿e p>‫׳‬LecedeA,ã contA.a e la como

heKege ¿oAmal, e, alem da¿ pena¿ im p o ¿ t a ¿ , ¿e o d e l i t o {¡oA.

p u b lic o e pediK p ú b lic a ¿ a t i ¿ ¿ a ç ã o , ¿e^ã condenada em a ç o i t e ¿

e em degredo maio^ , ou menoA., ¿egundo a¿ c iK c u n ¿ t ã n c ia ¿ da

c u l p a . .. (25).
‫ ו‬88

Aqueles que desacatavam ou faziam i n r e v e r ê n c i a

ao Santíssimo Sacramento, ou às imagens s a g r a d a s , p o d e r i am ser

degredados para as galés ou para um dos luga res de A f r i c a ou

Cast r O ' M a r im, conforme as c i r c u n s t â n c i a s da culpa (2 6 ).

Muitos réus que faziam desacatos e i r r e v e r é n c 2

as as imagens s a c r a s , foram considerados hereges, blasfemos,

e sacrílegos, e por isso condenados a degredo para 0 B r a s i l .

Antonio P i r e s , natural de A r r a i o l o s e morador

em Moura, era almocreve de p r o f i s s ã o e fora preso em 1630; a

cusado de s a c r i l é g i o e h e r e s i a , pois em presença de testemu-

nhas, "arremeçou no chão algumas contas que ti n h a na mão e

d i s s e que 0 mesmo f a z i a com a imagem de C r i s t o que estava no

mesmo lugar onde jogou 0 t e r ç o " , e que arrenegava da Virgem

Maria Nossa Senhora e dos apóstolos São Pedro e São Paulo e

dos mais santos da "Corte do Céu". Saiu em Auto de fé em cor

po, com v e l a acesa na mão, cabeça descoberta e mordaça na bo

ca. Tinha 30 anos quando fo i entregue na cadeia para d a l i ir

cumprir 0 seu degredo de 3 anos no B r a s i l (27).

Luiz Cabral era também um blasfemo de "açÕes e

d i t o s e s c a n d a l o s o s "; linha 22 anos quando f o i preso e leva-

do para a cadeia pública de Estremoz. 0 réu fora acusado de

renegar a pessoa de Jesus C r i s t o , de fa z e r desacatos a sua

imagem, de comer carne na s e x t a - f e i r a e de quebrar uma con

tas sagradas e d i z e r inúmeras b l a s f é m ia s , afirmando que "an

tes se queria encomendar ao Diabo que a Deus", que havia de

"atingir C r i s t o Nosso Senhor com dois pelouros de e s p i n g a rd a ".

0 réu já e s t i v e r a na Bahia e fora degredado para a A f r i c a (28)


‫ ו‬89

Diogo Pacheco de Mendonça era a lm o x ar if e e

juTz dos D i r e i t o s reais, ti nha 35 anos e fo ra preso pela

I n q u i s i ç ã o de Coimbra por desacato e i r r e v e r i n c i a às ima

gens sagradas das cruzes dos Santos Passos. 0 re u , pa ra v in

g a r ‫ ־‬se de c er t o ini m ig o, mandou um seu empregado que com

todo segredo e c a u t e l a " s u j a s s e com excremento de boi alg^

mas cruzes e pendurasse uma delas na f e i ç ã o de um homem en

forcado e a pusesse a porta do p á t i o das casas em que e le

r i u morava, porque com isso f a r i a menos cr Tvel ser e le 0

autor das d i t a s irreverências e desacatos e se a t r i b u í r e m

mais seguramente as d i t a s pessoas suas i n i m i g a s " . 0 fato

gerou "grande escândalo g e r a l , mágoas e desconsolação" dos

fié is cató lico s. Fingindo 0 réu que não ti nha n o t i c i a alg^

ma de " tá ’o lamentável sucesso e comp a l a v r a s simuladas e

f i n g i d a s como zelando a adoração e r e s p e i t o devido as pró

p r i a s cr u z e s, denunciou 0 caso para ser averiguado os cul^

pados, expondo as d i t a s pessoas de quem era inimigo". Mas 0

Santo O f i c i o descobriu as intenções do nobre juTz e 0 " f e 2

t i ç o v ir o u contra 0 f e i t i c e i r o " . Diogo Pacheco f o i preso e

condenado a 7 anos de degredo para 0 B r a s i l . 0 e s c r i v ã o dos

degredados do Reino, Luiz Paulo de C a st ro , certifico u que

0 réu e st ava em seu poder e que f o i para os c á r c e r e s de

Lisboa para i r cumprir 0 seu degredo, juntamente com Fran-

c i s c o F e r r e i r a , Manuel D in is , Manuel F r a n c is c o e João da

Fonseca S e i x a s , todos degredados para 0 B r a s i l (29).

F r a n c i s c o de Almeida Negrão, homem do mar,na

tural e morador da V i l a de P e d e r n e i r a , f o i condenado por

c r i t i c a r alguns dogmas da I g r e j a Católica. Disse que ‫ ״‬C r i £


‫ ו‬90

to, Senhor Nosso" não morreu na cruz por todos os homens

Sendo, ad ve rt id o e repreendido se defendeu explicando que

as palav ras da consagração do c á l i c e : "qui pro v o b i s , et

pro m u l t i s " , não s i g n i f i c a v a "morrer por t o d o s ", porque se

assim f o s s e , tais pa l a vra s seriam "pro omnibus". F ra n c is c o

Negrão, era um homem do mar, mas conhecedor do l a t i m . Por

ta l heresia, f ico u nove anos na p r i s ã o , onde padecera vã

r i o s achaques. . . "a v i s t a perdida e t r ê s fonte s abertas com

uma inchação no braço esquerdo". Foi condenado a degredo de

3 anos para 0 B r a s i l , mas conseguiu a comutação da pena p^

ra a V i l a de Alcobaça, pois além das doenças, era casado e

tinha 8 f i l h o s , sendo "5 mulheres d o n z e la s " ; padecia toda

a f a m í l i a 0 desamparo, pois sendo homem do mar, sustentava

os f i l h o s e esposa com 0 pouco que ganhava. Tinha 55 anos

quandp saiu no Auto da Fé de L i s b o a , em 10 de maio de 1682.

(30).

Fr e i Diogo Cruz, relig ioso professo da Ordem

de são Fr an c is c o da P r o v í n c i a dos A l g a r v e s , foi também con

denado por p r o f e r i r pa l a v ra s blasfemas. Suspenso das ordens

sacras e privado de voz a t i v a e passiva f o i degredado para

0 Convento do Castelo de Vide por 3 anos. Como era um sacer

dote pregador, fo i obrigado a d e sd iz e r publicamente suas

afirmações h e r é t i c a s no p ú l p i t o da I g r e j a matriz de M é r l o l a .

Frei Diogo foi sentenciado cm 1674 e 3 anos depois f o i levan

tada a pena de re cl us ão no Convento de Cas telo de Vide. Fm

1679, f o i - l h e suspensa a pr iv aç ã o de voz a t i v a e f i n a l m e n t e ,

cm 168?, f o i - l h e concedida l i c e n ç a para t o r n a r a pregar nos

p ú l p i t o s das I g r e j a s (31).
‫ ו‬9‫ו‬

Não so os desacatos as imagens levavam os de-

linquentes ao degredo, mas também àqueles que recebiam "o

Santíssimo Sacramento não estando em j ej u m " . A primeira vez

eram chamados ã Mesa e repreendidos "pel a ousadia e grav id^

de daquele f a t o " e j p e l a segunda ve z ,e ra "examinada e c a s t i -

gada com algum degredo" ( 3 2 ).

3.1.6 Os Que Diziam Missa Sem Serem Sacerdotes

0 cA-ime do¿ quz diztm mÁ.00 a, não ¿ando ¿ace.A-

doXe¿, peA-ícMCc à i d o l a t r i a , pofi (^azzKc.m o¿ Que 0 comttem

que. adobem o¿ cA^ótão¿ 0 pão da hÕ6tia e 0 vZnho do

cã-f-icc como òç ¿o/iam 0 veAdade^Ao coApo e ¿angue. de Cá¿¿to

Scnhci SJoÁòo conòag^ado¿ naquela¿ e¿pccÁ.e¿. E o¿ que con^e^

¿ain 0~cn1 ¿cAent ¿acc^doteò ¿'¿cam u¿ando mal do ¿acàamento da

pQ uÀ. t c n c i a , com no^ãvel defA'imen^o do p*ióx<mo que cuida

ca ¿ac^amentalmc ni e a b ¿ c lv id o do¿ ¿eu0 pecado¿. U»1¿ e out^o¿

¿ao ¿ u ¿ p e i t o ¿ na fe como l a ¿ ¿ ¿ u j e i i o ¿ ao juZzo do Santo0¿Z

CÁ. 0 , pana ne(e ¿c*1cm c a ¿ tig a d o ¿ (33).

Foi o Papa Clemente V l l l quem declarou que o

crime dos que dizem missa não sendo s a ce rdo te s , pertence ao

foro da i d o l a t r i a . Es te d e l i t o constitui f a l t a muito grave

pois o f a l s o sacerdote faz com que os f i é i s adorem o não ver

dadeiro corpo de C r i s t o . Materia da mesma gravidade e enga-

nar os f i é i s ouvindo-os em c o n f i s s ã o sacra men tal, nao sendo

sacerdote. Ambos os c rim es , os Sumos P o n t í f i c e s Paulo IV ,


‫ ו‬92

Greg5rio X I I I , S i x t o V e Clemente V I I I declararam por sus-

peitos na fé e submeteram os i n f r a t o r e s ao juTzo do Santo O

ficio , onde seriam gravemente c as t ig a do s todos os delinquen

te s. As penas vão desde as simples a d v e r t e n c i a s , a suspensão

das ordens sacras até ao degredo para as galés ou para a]_

gjm dos lugares das conquistas portuguesas ( 3 4 ).

Pedro Antonio, f i l h o de João R i b e i r o e Is abe l

do R o s a r i o , era n atu ral da V i l a de Castelo de Vide, no bi£

pado de P o r t a l e g r e . S e m i n a r i s ta estudante de g ra m á ti c a , f o i

o réu acusado de h e r e s i a , de d i z e r missas sem ser sacerdote

e ainda de "descrença na fé e na do utr in a da I g r e j a Catõli-

ca Romana". Saiu em um dos Autos da fé do ano de 1767 na cj_

dade de Evora e f o i condenado ã perda de h a b i l i t a ç ã o para

ser promovido às ordens s a c e r d o t a i s , açoites pú bli cos e de

gredo de 8 anos para as g a l é s , serv indo ao remo sem s o l d o . 0

réu^preso na cadeia da V i l a de A l c á c e r , foi transferido pa

ra os c á r c e r e s da In q u i s i ç ã o de Evora. Era graduado em prj_

meira to n su ra , a qual tomou no bispado de P o r t a l e g r e e por

tanto não era ainda c l é r i g o nem f r a d e . Fora preso v e s t i d o

como sacerdote e como t a l ap re sentava uma coroa ab erta na

cabeça. No convento de São F r a n c i s c o de A l c á c e r do S a l , re

zou v á r i a s missas e r e p e t i u a façanha nas V i l a s da Moita ,

A ld ei a Galega e B a r r e i r o . 0 falso sacerdote não t i n h a domi-

c ilio cert o e seu pai era soldado em P o r t a l e g r e . Em 7 de

j u l h o de 1767, 0 réu saiu dos c á r c e r e s para i r cumprir sua

pena de degredo, dando entrada nas galés dos armazéns da

Guiné e í n d i a . Mais t a r d e , pediu para lhe li m it a re m 0 degre

do por não t e r f o r ç a s e ser de compleição f r a c a , 0 que lhe


‫ ו‬93

foi recusado, mas voltou a i n s i s t i r e implorar m i s e r i c ó r d i a

alegando e s t a r gravemente doente, pedindo comutação das g^

lês para 0 degredo em qualquer parte do mundo. Desesperado,

encontrava-se 0 nosso s e m i n a r i s t a , mas com razão pois 0 de

gredo nas galés s i g n i f i c a v a uma l e n ta condenação a morte ;

poucos eram aqueles que conseguiam s o b r e v i v e r longamente nas

t e r r T v e i s galeras (35 ).

Também condenados para as galés pela I n q u i s i -

ção eborense, foram Vicente Borges e F r a n c is c o de Paula B r i

to Pedrosa. 0 primeiro era f i l h o de Sa lv a do r Borges e Jo^

na Gomes, natural de Lisboa. Era e le um fra d e com ordens me

ñores de São Francisco e não tinha ainda sido ordenado "s^

cerdote de missa". Por exercer i le ga lm e n te funções e c l e s i ã ^

t i c 3 j c e l ebrando missa sem t e r investidura para t a l ordem e

usando 0 nome de Frei Antonio da Cunha, f o i expulso do con

vento de São Francisco em Viana e saiu num dos Autos da fé

do ano de 1605 em Evora; f o i suspenso de suas ordens e de

gredado por 7 anos para as galés (36). 0 outro era estudan-

te de 28 anos, natural de Santarém e f o i preso em Ta ve ir o

em 1789 , por t e r usado abusivamente dos sacramentos da peni^

t ê nc ia e comunhão. Fr a n c is c o de Paula era considerado idõl £

tra e foi também impedido de ser sa cer do te. Depois de açou-

tado, f o i degredado por 10 anos para as galés de El.‫ ־‬R e i , v e r

dadeira pena de morte ( 37).

A maioria dos que diziam missa, não sendo ap

tos para i s s o , eram de se m i n a r is t a s que se preparvam para

0 e x e r c í c i o do sacerdócio e não foram p a c ie n t es suficiente-

mente para esperarem a plena i n v e s t i d u r a das ordens. Se t2


‫ ו‬94

vessem somente "ordens de E p i s t o l a " eram degredados para as

galés por tempo de 5 a 10 anos. Caso fossem pessoas regular^

0 degredo s e r i a por tempo de 7 até 10 anos para Angola " ou

para qualquer outro lug ar das conq uist as do Reino onde h0£

ver convento de sua r e l i g i ã o " e no c á r c e r e " t e r á um ou dois

anos de re clusã o com j a j u n s de pão e i g u a " .

0 Regimento de 1640 não e s p e c i f i c a diretamen-

te 0 B r a s i l como l o c a l de degredo para os culpados deste

crime; deixa 0 anonimato, rep et ind o v á r i a s vezes que 0 de

gredo será "para um dos lugares das c o n q u i s t a s " . Quando 0

réu conseguia escapar das g a l é s , era e le degredado para um

dos lugares onde havia um convento da sua ordem r e l i g i o s a e

ali f i c a v a degredado ( 3 8 ) .

3.1.7‫־‬ Os Falsos Testemunhos

Quanto c ma^oA 0 dai p c ¿¿v a ¿ que juàam

¿aCóc no ju<zo do Santo Oil.cÀo, tanXo convcni que 0 caòtigo

òcja nciaò ma-iò *lÁgoioòOò (59).

Severas, de f a t o ie r a m as penas aplic ad as aos

réus que diziam f a l s o testemunho na Mesa do Santo O f i c i o . 0

Regimento de 1640 previu para t a i s crimes, além dos costume2

ros açou tes, o temível degredo para as galés ou para algum

lugar das conquistas u l t r a m a r i n a s , que podia ser a ilha de

São Tomé, Angola ou 0 B r a s i l , "se a qualidade da prova e

c i r c u n s t â n c i a da culpa 0 pedirem" (4 0 ).

Acusado de j u r a r e testemunhar em f a l s o , 0 s¿
‫ ו‬95

p a te ir o da V i l a de Lo u ie , Rui Gomes, casado com Maria RodH

gues, f o i preso em 1644 pela I n q u i s i ç ã o de Ev o ra ; f o i lev^

do para "a casa dos tormentos", onde se encontravam o potro

e a po li, instrumentos de t o r t u r a u t i l i z a d o s pela In q u i s i ‫־‬

ção portuguesa. O réu j ã havia sido preso em 1638 quando t^

nha 45 anos e, nesta o c a s i i o , foi acusado de judaismo, here

sia e a p o s t a s i a , sendo condenado somente com penas e s p i r i t u

ais. Nesta segunda p r i s i o , "a qualidade da prova e cir cuns-

t i n c i a da culpa" se agravara p o is , desta vez, Rui Gomes,além

das acusações p r e c e d e n t e s , f o i tambim acusado do "gravís si mo

crime" de f a l s i d a d e e por isso f o i condenado com degredo de

5 anos para o B r a s i l . Saiu no Auto da f é , em 18 de novembro

de 1646 ( 41 ).

Isabel Gonçalves e seu marido, o pastor de

ovelh^s, João M a rti n s , para vingarem‫ ־‬se do padre Domingos •

F ra n c is c o Valen te , cura da I g r e j a de Carniça i s , termo da V2

la de MÕS, no arcebispado de Braga, planejaram denunciã 10 ‫־‬

com f a l s o s testemunhos. I s a b e l , mulher de 30 anos, veio à

Mesa do Santo O f i c i o de Coimbra, dizendo "que de ce rt o tem-

po a esta p a r t e " , o padre Domingos a havia s o l i c i t a d o algu

mas vezes " no ato e lugar da c o n fi ss ã o sa cr a m e n t a l ", para

"atos torpes e desonestos". A fa r s a do casal f o i descoberta

e "re su lt a nd o de seu depoimento e informação da j u s t i ç a mui

graves i n d i c i o s de haver deposto falsa m e nte , foi examinada

com toda a circunspeção na Mesa do Santo O f i c i o sobre a ma

t é r i a de sua denunciação e constou nao ser v e r d a d e i r a " . Por

tamanho atrev ime nt o, a ré f o i presa nos c á r c e r e s da Inquisj^

ção e admoestada confessou "que por 5dio e mi vontade acumu


‫ ו‬96

lada com certa s pessoas que nomeou, também inimigas do d i t o

sacerdote e que procuravam a sua r u i n a ” , induzida pelo marj^

do, jurou falsamente na Mesa, " a ss in a la nd o tempo e lugar em

que 0 d it o sacerdote a tinha s o l i c i t a d o repetidamente, sen-

do falso e contra a verdade somente para que 0 d it o sacerdo

te fosse punido e castiga do e assim v i n g a r ‫ ־‬se d e l e " . Os mo-

t i v o s da inimizade e ódio giravam em torno de algumas dTv^

das que 0 padre tin h a com seu marido João Ma rti ns . 0 confe^

sor saiu i l e s o desta acusação e quem acabou levando a pior

fo i 0 casal. Ambos sairam no Auto da fé de Coimbra, no dia

19 de junho de 1691 e foram condenados com a mesma pena: 5

anos de degredo para 0 B r a s i l ( 4 2 ).

Desavenças pessoais e vinganças eram 0 que não

faltava na velha Coimbra; Maria do E s p i r i t o Santo parecia

enfurecida com sua v iz in h a Mariana, "moça s o l t e i r a e engeita

d a ", a qual Maria do E s p i r i t o Santo queria ver longe, "d^

gredada de cert o lu ga r" e, para r e a l i z a r seu desejo, contou

com a ajuda de Agueda de São F r an c is c o e f o i denunciar fal^

sámente sua odiada v i z i n h a , acusando-a de blasfema. Mas de

acusadora, Maria passou a acusada, pois "por pe rturba r 0 re

to m i n i s t é r i o e l i v r e procedimento 0 c r é d i t o c reputação de

seus m in ist ro s para castigarem inocentes com penas gravissj^

mas e a ré não d e c l a r a r toda a verdade de suas cu l p a s, foi

admoestada com l i b e l o " . Saiu no Auto da f é , do dia 18 de de

zembro de 1701, ouviu sua sentença com carocha de f a l s á r i a ,

recebeu açoutes e degredo de 5 anos para 0 B r a s i l (4 3). Sua

aj u da nt e, Agueda de São F r a n c i s c o , f o i presa e também con

denada a degredo para o B r a s i l . Ambas supl ica ram , na mesma


‫ ו‬97

p e t i ç ã o , a comutação do degredo; alegaram serem e la s "moças

donzelas e muito honestas e por correrem r i s c o de suas hoji

ras entre marinheiros e d i v e r s a s pessoas que na t e r r a e no

mar são pouco tementes de Deus e porque os pais são lavrado-

res muito pobres e ela s de pouca i d a d e . . . " ; por isso e muito

mais, seus degredos foram comutados. Maria do E s p i r i t o Santo

foi para Vizeu no mês de agosto de 1702 e Agueda de São Fran

c i s c o teve seu degredo comutado t r e s vezes: em a b r i l de 1702

para 0 A lg a rv e ; em agosto do mesmo ano, para Miranda; e f_^

nalmente, em setembro de 1704, para algum lu ga r fora do bi^

pado do Porto. Ao que tudo i n d i c a , Maria e Agueda eram irmãs

(44).

0 r i u acusado de f a l s o testemunho caminhava p^

ra 0 Auto da f e , levando carocha com r5 tu l o de f a l s á r i o e,c£

so fosse "pessoa e c l e s i á s t i c a ou r e l i g i o s a " , não t r a z i a caro

cha, mas era "suspenso para sempre das ordens" e " i n a b i l i t a -

do" para exercer seu sa ce rd ó ci o; além de ser privado perpe ‫־‬

tuamente de "voz a t i v a e p a s s i v a " . Sem sa íd a , estavam os que

negassem a acusação e não apresentassem provas legTtimas p^

ra a defesa; eram "postos a tormento" e havendo p e r s i s t ê n c i a j

seriam "degredados para São Tomé, Angola ou B r a s i l " ( 4 5 ).

3.1.8 Os Pretensos M i n is t r o s do Santo O f i c i o

C01 u»c»1 tanto c c 11òc^vaà~òe a a u to rid ad e do Santo

O^Ic^o como p^occdc-K-¿C po\ pantc dcte. com toda a puhçza c

VQ\dadc naò que llic tccam. P o r t a n t e , ¿e atpuma¿ pc^


‫ ו‬98

òoaò ¿oAem tao ouòadaò que ¿ e ¿¿njam e o fic ia ¿¿ do

Santo 0¿Zc¿o, pa^a com zòte ^¿ng^rmnto enganarem a oatfiaò e

íhzò tinaK^m d ln h 2.¿f10 ou outàa qualquíK colòd, ou ¿¿ng^Aem

que tQm on.dzm do Santo 0¿Zc^o paAa ¿azeA.em atguma d^tigend^a^

0Q.ndo comp/1 eand¿daÁ m ó ta ¿ ou ¿cme£hante¿ c u lp a ¿ , não {^an.ão

ab ju ra ç ã o , ma¿ ¿eA.ão condenada¿ em d e g re d o .,. {46)

Se alguém fihgisse ser m i n i s t r o do Santo O f i c i o

para com isso enganar e e x t o r q u i r outras pessoas, ou fingisse

que tinha ordem do Tribunal para fa z e r inspeções ou saber al_

gum segredo da i n s t i t u i ç ã o , por “ tamanha o u s a d ia ” era presoj

açoutado e degredado para os lugares nomeados pelos inquisj^

dores ( 4 7 ). Assim, agiu 0 f e r r e i r o Manuel Fernandes ao ser

informado de que dois cris tã os -n ov os chamados Gaspar Franco

f i l h o de João Franco,e Antonio, f i l h o de Henrique Rodrigues,

caminhavam por ce rt o l u g a r ; simulou, então 0 f e r r e i r o , ser

um o f i c i a l do Santo O f i c i o e os prendeu em nome da I n q u i s i -

ção sem t e r nenhuma a u to riz a çã o para i s t o . Ped iu-lh es 0 dj

nheiro que os "mancebos cr i stãos-novos ‫ יי‬levavam consigo e

os prendeu na casa de João Gonçalves, morador no l o c a l onde

passavam os dois moços.

Por d e s r e s p e i t a r 0 nome da Santa Inquisição e

infamando os presos "com t a l prisão f i n g i d a por querer le

var algum d i n h e ir o ou alguma outra cousa, no que 0 réu de

l i n q u i u gravemente ar r is c a n d o com semelhantes invenções e

falsidades, 0 c r é d i t o e verdade do procedimento do Santo Ofi

cio ", p pretenso m i n i s t r o , n at u ra l da V i l a de Tavares no

Bispado de Vizeu e morador na regiã o de Bragança, f o i preso


‫ ו‬99

na véspera do Natal do ano de 1660 e saiu no Auto da fe na

cidade de Coimbra e condenado a 5 anos de degredo para o

B rasil. Junto com Manuel Fernandes, foram entregues na c^

deia da c id ad e, por ordem dos i n q u i s i d o r e s , 5 mulheres, to

das c r i s t a s - n o v a s , condenadas a degredo ( 4 8 ).

Um outro Manuel, tambim Fernandes, solteiro ,

h o rte lã o de 20 anos, f i l h o de João Fernandes e C a ta r in a

queira, denunciado por Manuel de Barros por f a l s a investid^

ra de f a m i l i a r do Santo O f i c i o , foi preso no dia 15 de no^

vembro de 1668 pela I n q u i s i ç ã o de Evora. Na Mesa, reconheceu

ser verdade a acusação e admitiu t e r ‫ ־‬se passado por funcio-

n irio do Tribunal com intenção de q u a l i f i c a r as curas que

fazia, pois desta forma, em nome da i n s t i t u i ç ã o , as pessoas

reconheceriam seus pr od ígio s m i la gr os os . Foi sentenciado a

tormento e sofreu "um t r a t o c o r r i d o ' ' , i s t o é, uma v o l t a no

t o r n i q u e t e que re gulava 0 aperto das c o r r e i a s , e '‫ י‬por duas

vezes f o i levantado ate ao l i b e l o " . Além da f a l s a investidi¿

r a , 0 jovem h o r t e lã o de Evor a, foi acusado de r e a l i z a r C£

ras s u p e r s t i c i o s a s ; foi degredado por 4 anos no B r a s i l (49).

0 padre João Lopes C o r r e i a , sem t e r nenhumaau

to r i d a d e para a g i r em nome do Santo O f i c i o , re so lv e u prender

os c r is t ã o s - n o v o s Diogo D ia s, Ana Mendes e Antonio Rodrigues,

Sua intenção era f o r ç a r Ana Mendes a t e r r e l a ç õ e s com e l e e

de f a t o , naquela n o i t e , 0 padrre João levou a mulher em sua

casa dizendo-lhe se e la c o n s e n t i s s e , ele a s o l t a r i a juntameji

te com seu marido Diogo e seu irmão Antonio. Por tão grande

at rev im ent o e d e s r e s p e i t o ãs funções dos m i n i s t r o s inquisi-

to ria is, envolvendo pessoas i n o c e n t e s , 0 reu f o i preso e


200

condenado a p a r t i r degredado para 0 B r a s i l ( 50).

Numo P i t t a , estando em companhia de outras pe^

soas em sua venda, jun to da i g r e j a de Nossa Senhora da Lapa,

em Coimbra, pôs-se de acordo com os seus amigos de se faze-

rem o f i c i a i s do Santo OfTcio e irem em Grades e G a r a i a l , vi -

l a r e j o s do bispado de Lamego e lã prenderem alguns c r i s t ã o s

novos, "fazendo-se 0 réu o f i c i a l do Santo OfTcio, sem 0 se r"

e os demais "usando de provisões f a l s a s , dizendo que eram

inquisidores" da cidade de Coimbra. Seu plano era um s5: con

se gui r d i n h e ir o e depois s o l t a r os p r i s i o n e i r o s . Foi preso e

saiu no Auto da fé no dia 19 de maio de 1591; caminhou com

ve la na mão e f o i condenado a 1 0 anos de degredo para as par

tes do B r a s i l (5 1) .

0 Santo O f i c i o c o n s t i t u í a i n s t i t u i ç ã o s é r i a que

impurha r e s p e i t o e grande temor; por i s s o , nem de longe s e r i a

admitido a qualquer português dono de t a b e r n a 50 u f e r r e i r o , o u

mesmo padre f i n g i r ser um m i n is t ro da I n q u i s i ç ã o . Casos como

estes podiam ser um mau exemplo e l e v a r ã desmoralização 0

Santo Tribunal e, como t a l , eram castigados com r i g o r todos

os a p ro v e it a d o re s que usavam do nome da I g r e j a para "pedirem

ou extorquirem din hei ros" (52).

3. 1.9 Os Padres S o l i c i t a d o r e s

Vann o çm icnna Iciiginqua como o BaaaxX',

viven nudc, »10 mcÁc de dvg\çdado0 c á 1\divZdu00 6cm eòcnãputo^

lima a(ma angc^A c a , a um Xen-.po c e1:é á g ¿ca , a\dcndo

pon. Um ^deat cJ^cvado, quat o da 00.lvaçào e bcm cíe tod o¿, po~
20‫ו‬

dia., a^Koòtoindo po.KÍQ00 e malquerença¿ o^eAeceA. Ke0 i 0 t í n c i a

ao¿ abuòoò, ao¿ c rim e¿, íutando p e la ju ¿ tiq .a e apertando com

mão ^irme o¿ la ç o ¿ da ¿ o t id a r ie d a d e ¿ o c i a ¿ . Não eram, porém,

de¿¿a têmpera, em ¿ua m a io ria , o¿ c l é r i g o ¿ d o m ic ilia d o ¿ na

c o ld nia (53).

... cã kã c l é r i g o ¿ , ma¿ é a e ¿ c ó r i a que de l ã \jem ( 54) .

Se algum confesso, durante 0 ato da c o n f i ss ã o

sacr amental, antes ou imediatamente depois d e l e , ou com oca

sião e pretexto de o u v i r c o n fi s s ã o e s o l i c i t a r "ou de qual-

quer maneira provocar a atos ilícito s ou desonestos, com pa

lavras, ou com tocamentos desonestos, para s i , ou para 0^

trem, as pessoas que a e l e se forem c o n fe ss a r assim mulhe ‫־‬

res, como homens", e sendo provado a t r a v é s de testemunhas

este "i ndig no a t o , 0 sacerdote era punido com a suspensão

perpétua do poder de c on fe ss a r e seu e x e r c í c i o das ordens

era suspenso por 8 e até 10 anos. Culminando sua punição era

degredado conforme a gravidade do crime, podendo ser 0 de

gredo para um dos lugares das conq uist as do Reino ou para

um dos mosteiros mais apartados de sua ordem r e l i g i o s a , com

"r e c l u s ã o de um ou dois anos no c ã r c e r e d e l e ; e não poderá

jamais t o r n a r ao lugar do d e l i t o , e se lhes darão j e j u n s de

pão e água e mais p e n i t ê n c i a s esp irituais que conforme sua

culpa merecer" (55 ).

No dia 4 de j a n e i r o de 1656, 0 prelado Antonio

de Ma ri z, a d m i n i s t ra d o r da j u r i s d i ç ã o e c l e s i á s t i c a do Rio de

J a n e i r o que acabava de v i s i t a r todo 0 d i s t r i t o que compreeji


202

dia o E s p T r i t o Santo, Rio das C a r a v e la s , Porto Seguro e São

Paulo, escreveu a E l ‫ ־‬R e i , lamentando que nesta t e r r a muitos

clérigos "que vem desterrados dessa c o rte são tão indignos

que lhes e s t i v e r a muito melhor, tratarem de outra pr o fis sã o,

em que com menos escândalo, pudessem se gu ir 0 ditame de

suas i n c l i n a ç õ e s . . . " e comenta Alb ert o Lamego que Portugal

continuava a despejar na nascente c ol 5 ni a leva de criminoso

e entre estes vieram alguns padres que, longe de se emenda-

rem, aproveitaram "a largueza da t e r r a , para seguir 0 ó ita

me das suas mis i n c l i n a ç õ e s " (5 6 ).

0 padre Domingos Gonçalves dos Santos, n at u ra l

e morador do lugar de Tr ave sso s, termo da V i l a de Monte Ale

gre , arcebispado de Braga, f o i denunciado ao Santo O f i c i o

da In q u i s i ç ã o de Coimbra, por Custõdia C a r n e i r a , 30 anos,mu

l h e r ‫־‬de João F r a n c i s c o , moradora em Medeiros na mesma fr^

guesia. A testemunha diss e aos i n q u i s i d o r e s que no mês de

maio do ano de 1716, confessando-se com 0 padre Domingos,e^

te lhe perguntara se ela tinha f i l h o s . Respondido que não

os t i n h a , 0 padre perguntou se ela queria dormir com e le

pois "p oderia ser os t i v e s s e " . A confitente, demonstrando

indignação, r e s pondeu- 1 he que aquelas p a la vr as não eram pa-

ra aquele lugar e que 0 seu marido podia v i r a saber. Mas 0

padre não d e s i s t i a f a c i lm e n t e e contra argumentou que 0 ma

rido não 0 sa be ria .

Padre Domingos Gonçalves f o i preso e saiu cor»

denado a degredo de 6 anos para 0 B r a s i l . Foi levado para a

cadeia dos degredados no dia 17 de f e v e r e i r o de 1717 pelo


203

f a m i l i a r Luiz T e i x e i r a . Com e l e , naquele mesmo d i a , vieram

outros réus condenados também com 0 degredo no B r a s i l . E r a m

eles: Antonio Nunes da Costa, E s c o l á s t i c a de São Bento, Ma

ria Cordeira, F r a n c i s c a M a ri a , Antonia Ma ri a, todos aguar-

davam a primeira embarcação que os pudesse conduzir ao de^

terro. Após dois meses de e sp er a, 0 nosso s o l i c i t a d o r foi

co nf iad o ao c a p it ã o do navio Nossa Senhora da Conceição,M^

nuel Saldanha Marinho, 0 qual chegou a Bahia de todos os

Santos no dia 30 de junho de 1719 e 0 entregou ao doutor

João Calmon, chantre da Sé da Bahia e c om is sá rio do Santo

OfTcio da I n q u i s i ç ã o de Lisboa (57).

Is abe l Rodrigues, sabe-se lá por que, onze

anos depois de ser s o l i c i t a d a em c o n f i s s ã o "para atos tor

pes de desonestos" pelo padre Manuel Botelho, sacerdote do

hábito de São Pedro, cura de T a va r e s , no bispado de Vizeu,

res olve u denunciá-lo ã Mesa da I n q u i s i ç ã o de Coimbra. 0 pa

dre f o i preso nos c á r c e r e s s e c r e t o s do Santo OfTcio e admo

estad o, confessou e reconheceu suas c u l p a s , dizendo que so

lic ita v a durante 0 ato da c o n f i s s ã o sa cr a m e nt al , v a r i a s de

suas f i l h a s esp iritua is para com e le re a l iz a r e m "a to s impij

ros" tendo com muitas d e l e s , "tocamentos l i b i d i n o s o s e pa

lavras lascivas". 0 padre f o i suspenso das ordens sacras

durante 0 período de 8 anos e para sempre f o i impedido de

e x e r c e r 0 sacramento da c o n f i s s ã o . Coroando sua punição ,

foi ainda degredado por 5 anos para 0 B r a s i l . Nada sabemos

de sua vid a na C o lô n ia . Uma vez d i s t a n t e do Reino, s e r i a

e l e um daqueles que não se emendavam e aproveitavam da

" l a r g u e z a da t e r r a , para s e g u i r 0 ditame de suas mis inclj^


o
C4

nações"? Ou t e r i a , uma vez af a st a do de suas f i l h a s espiritu

a i s e sofrendo a d i s t â n c i a dos prazeres do Reino, se conver

t i d o e r e a b i l i t a d o na sua função r e l i g i o s a ? Ficou e le no

B rasil? Ou apenas tenha cumprido seu degredo retornou ime

diatamente para a metrópole? Tantas h i s t õ r i a s . Tantas ques-

tões (5 8 ).

Frei João de F r e i t a s Candeias, n at u ra l da Vi^

la de Marvão e morador no convento de Nossa Senhora da

tre la, tinha 62 anos quando f o i preso pela Inquisição de

Evora em 1751. Fora acusado de s o l i c i t a r durante 0 sacramen

to da c o n f i s s ã o , algumas mulheres para com e le r e a l iz a r e m

atos indecorosos. Para não t o r n a r púb lico 0 escândalo caus^

do por "tã o grande atrev ime nto de sua alma ", 0 réu ouviu sua

sentença na sala da I n q u i s i ç ã o , fez ab juração de lev e su^

peita, tornou-se i n a b i l i t a d o para sempre da ordem sacra de

confe sso r e nem mesmo a missa podia mais d i z e r . Talvez dev^

do a sua idade, 0 réu l i v r o u - s e do temível degredo para 0

Brasil e foi condenado a 6 anos de r e cl u s ão no convento da

sua ordem em T a v i r a . Foi pro ibido perpetuamente de e n t r a r na

vila de Marvão de onde era n a t u r a l . Sua sentença f o i lida ,

com grande d i s c r i ç ã o , no c a p i t u l o do convento de São F r a n c i ^

CO, na mesma cidade de Êvora (59).

0 costume dos padres tentarem ou consumarem

relações s e x u a is , tocamentos e "conversações ilíc ita s " com

os c o n f i t e n t e s durante 0 ato da c o n f i s s ã o , constituía para

0 Santo O f i c i o , matéria muito importante. 0 Concilio de

Trento tr a to u do assunto e os Regimentos da I n q u i s i ç ã o dedj^

caram i n t e i r o s capítulos sobre 0 grave crime dos s o l i c i t a d o


2C5

re s. A I g r e j a tinha co ns ci ên c ia de que 0 ato da c o n f i s s ã o

podia ser uma faca de dois gumes. 0 manual dos confessores

e pe nit en tes mostra-se p a r ti c u l a rm e n te sensTvel a de l ic a d e -

za dessas situações que podiam i n d u z i r 0 c o n f e s s o r , emissã-

r i o do perdão d i v i n o , a s a c r i l e g o pecador; e por is so este

‫ ״‬crime pecaminoso" é considerado muito grave pois podia, ãs

vezes, v i r a r do avesso 0 o b j e t i v o da c o n f i s s ã o , "instrumen-

to de s u j e i ç ã o ã Regra, torna-se instrumento do pró prio de-

se jo . Caindo em sua própria arm ad ilh a, 0 c onf es sor acaba se

duzido pelo discurso que ele mesmo i n c i t a e, de c e n s o r , t r a n £

forma-se em agente do pecado" ( 6 0 ).

3.1.10 Os gamos

Todo homem que ¿ando caòado c n t c a b l d o com uma


»l uí / i cA c não òcndo c mat\hnôni o juÁlgado <nváCÁ.do po^ j a Z z o
da I g n c j a , 0c com 0i1t\a c a 0 a \ , e ¿ c Kc c c b c n , mofina poA ¿000
(...) e e-6 -ía mcóma pena haj a toda a muHheM que do¿¿ maA,¿d06

AcccbcA c coDi c í c i caigan peta òobfiedita maneina . . . [ 6 1 ].

De acordo com os Regimentos I n q u i s i t o r i a i s , t o

do homem ou mulher, dc qualquer q u a l i d a d e , ou condição que

seja, queriendo contraído primeiro casamento na forma do

C o n c i l i o de Trento e se casar pela segunda vez sendo ainda

viva a primeira mulher ou marido, era severamente punido.Se

fosse pessoa plebéia era açoutada pelas ruas p ú b l i c a s e de

gredada para as g a l ê s , por tempo de 5 a 7 anos; sendo mu


2C6

lher v i l , teria pena de açoutes e degredo para Angola ou

partes do B r a s i l , segundo par ece r dos i n q u i s i d o r e s que leva

riam em consideração "a qualidade da pessoa, e c i n s c u n s t i n -

c i a s da c u l p a " . Caso fosse pessoa nobre, e escusa de pena

v il, o degredo s e r i a para a A f r i c a ou B r a s i l ( 6 2 ).

Manoel da Costa Sepul ved a, n at u ra l de Santo An

dré, termo da cidade de Braga e morador em P o r t o , casou-se,

com Jerônima A l v e s , na I g r e j a velha da V i l a de Viena em Foz

do Lima e fez " v i d a m a r i t a l com e la de portas adentro por

espaço de dois ou t r ê s meses", até 0 dia em que numa briga

do c a s a l , Manoel "deu algumas fac a da s" na sua mulher JerÔn 2

ma e, deixando-a por morta, fugiu para cidade do Porto.Como

não soube mais n o t i c i a s de sua esposa e pensando que e la t i

nha morrido, Manoel Sepulveda casou-se pela segunda vez na

Sé da d i t a cidade do Porto com Maria Borges, n a tu ra l e mor^

dora da mesma cidade . Apos a r e a l i z a ç ã o do matrimônio na

forma co ntida nos cánones do C o n c i l i o T r i d e n t i n o , o Santo

O f i c i o descobriu que o segundo casamento de Manoel t i n h a si^

do i l e g a l e pecaminoso, pois sua mulher e s t a v a , ainda,viva.

Foi preso e saiu em Auto da fé na I n q u i s i ç ã o de Coimbra com

degredo de 5 anos para o B r a s i l (63). O mesmo aconteceu com

o s a p a t e i r o Antonio Mendes do Amorim, casado com Is a b e l Lo

pes durante 12 anos e que tornou a cas ar-se com S e r a f i n a de

Mo rai s, estando ainda v i v a sua p r im e ir a esposa. 0 réu foi

condenado a 5 anos de degredo para 0 B r a s i l e,em 14 de fe

v e r e i r o de 1682, f o i entregue ã p r i s ã o para cumprir sua pe

na de d e s t e r r o . Ju nt o com e l e , no mesmo d i a , foram d e s t e r r a

dos F r a n c i s c a Fernandes, degredada por 10 anos para Angola;


207

Maria F r a n c i s c a , casada com Kanoel J o r g e , degredada por 5

anos para 0 B r a s i l e Pascoal Conde, s a p a t e i r o , desterrado

por 5 anos também para 0 B r a s i l (64 ).

A In q u i s i ç ã o de Êvor a, em 1599, prendeu Cat£

ri n a Fernandes, moradora no Outeiro da V i l a Nova.Casada com

Nicolau Gonçalves, ao tornar-se v i ú v a , contraiu matrimônio

com Bartolomeu Lourenço e, sem que este morresse, tornou a

casar-se pela t e r c e i r a vez comAlvaro Dias. Foi entregue ao

meirinho Antonio P e r e i r a , "que a meteu na cadeia da praça ,

para daT ser levada para 0 degredo no B r a s i l ao qual tinha

si do condenada no Auto da fé de 08 de agosto de 1599 (5 5 ).

C at ar ina F e r r e i r a , a j o e i r a d e i r a do terreiro

de Li sb o a , casou-se na I g r e j a da Sé com 0 marceneiro Manoel

da S i l v a Botelho e tiveram 2 f i l h o s : F r a n c is c o e Simoa. Pa^

sados alguns anos, Manoel Botelho se ausentou para 0 Reino

de Ca-st^la e não deu mais nenhum s i n a l de v i d a . Ca ta r i na c£

sou-se então :com F r a n c is c o Gonçalves Ca sc a ve l , na i g r e j a de

São Martinho, justifican do comtestemunhas f a l s a s que 0 pr_i^

meiro marido tinha f a l e c i d o . Mas a n o t i c i a correu e chegou

até aos ouvidos do Santo O f i c i o que, cm 18 de ju l h o de 1710,

prendeu a bígama, que nesta ocasião tinha 42 anos, um f i l h o

de 2 anos e meio, Pedro, f r u t o da segunda núpcia.A joeiradej[

ra do t e r r e i r o foi degredada para 0 B r a s i l ( 6 6 ).

Diogo Fernandes casou-se com Leonor Nunes na

I g r e j a Matriz de Santa Maria de A l t e r do Chão.Depois de 3 me

ses de casamento, encontrou sua mulher cm f l a g r a n t e delito

de a d u l t é r i o com um moço chamado Fernando Lopes. Diogo,


20s

ao ver sua mulher com um o u tro , perdeu a cabeça e assassinou

0 amante e deixou gravemente f e r i d a sua mulher Leonor. Com

medo da J u s t i ç a , fugiu para a V i l a de Santarém e casou-se com

Ana Gomes na i g r e j a matriz de Santa Iria. Diogo Fernandes foi

preso pela I n q u i s i ç ã o de Evora e, em 1570, acusado de biga ‫־‬

mia, f o i condenado a de ix ar sua t e r r a , indo degredado para 0

Brasil (67).

As denúncias contra os bígamos foram numerosas^

tanto 0 Código F i l i p i n o quanto 0 Regimento da I n q u i s i ç ã o de

1640 determinaram r i g o ro s a s penas, que iam dos açoutes e de

gredo até a morte, para todo homem ou mulher que se casava

pela segunda vez, estando v iv o 0 seu primeiro cônjuge. Numa

época na qual os portugueses frequentemente se aventuravam ‫׳‬

nas c o lô n ia s u l t r a m a r i n a s , ausentando-se de seus l a r e s duraji

te lofiguissimos anos, deixando suas mulheres e f i l h o s cansa-

dos de esperã-los durante anos a f i o , sem sequer saber se es

tavam ele s viv os ou mortos, casavam‫ ־‬se ela s novamente, segu-

r a s , muitas vezes, da morte dos maridos. A grande preocupa -

ção do Santo O f i c i o não era tanto a condenação do casado que

vivia i rr eg u larm en te não o f i c i a l i z a n d o sua união dia nte da

I g r e j a ; muito mais preocupados estavam os i n q u i s i d o r e s com 0

de sr e sp e i to dos casados que tiveram a presunção " de não sen

tir bem das cousas de nossa santa fé c a t ó l i c a e em p a r t i c u l a r

do santíssimo sacramento do matrimónio" ( 6 8 ).


209

3. ‫ ו‬. ‫ו ו‬ Os Sodom!t i gos

Induzido pelo demonio, cometeu e conóumou o

abominável pecado de óodomia c o n tra natu^am ( . . . ) o que ten

do v ió to com o maió que doó auto¿ conóta, a q u alidade da0

culpaò do n.éu em cometen t a l hoAAendo e abominável c^ime ,

poK cujo Aeòpeito a iK a de Veuò abA.a0 0 u a0 cidade¿ in{¡ame0

de Sodoma e GomoAAa (69).

Os i n q u i s i d o r e s procediam rigorosamente contra

os culpados no pecado nefando de sodomia de qualquer estado,

grau, qu a l i d a d e , preeminência e condição que f o s s e . 0 Santo

Oficio u tiliz o u as penas cont idas no D i r e i t o C i v i l e nas Or

denações do Reino que impunham aos que cometiam este crim e,a

pena de morte. Mas grande número dos culpados do "abominável

pecado" receberam a pena de exclusão s o c i a l e foram degreda-

dos do âmbito co munitário para as galés ou para alguma pro

vincia ultramarina (7 0 ).

Dos degredados sodomitigos, v á r i o s foram aque

les que vieram para 0 B r a s i l : F r a n c i s c o de B a r r o s , João

to s . Bento F e r r a z , Gregõrio P a l á c i o s , Rodriguo A l v a r e s , João

de No va is , Estevão Neto, Henrique T a va re s, e tc.; pertenceram

eles, às I n q u i s i ç õ e s de Coimbra, Lisboa e E v o ra , sendo, a

grande m a i o r i a , rapazes com menos de 25 anos de idade, embo-

ra existam casos de i n v e te ra d o s sodomitas de 80 anos.

F r a n c is c o de Barros era c r ia d o de Dom Henrique

da S i l v e i r a , que v i v i a " f o r a das portas da Santa Casa em uma

tr a v e s s a que há def ron te da casa do conde Castanheda". Tinha

e le 25 anos e era um "moço baixo de corpo, de barba l o i r a " .


2‫ ו‬0

Foi denunciado por Dom A lva ro Manuel de Noronha, moço nobre

de 23 anos, irmão do defunto conde de A t a l a i a . O nobre rà

paz r e l a t o u na I n q u i s i ç ã o de Lisboa que estahdo na casa de

Dom Henrique da S i l v e i r a , "cometeu e consumou o abominável

pecado de sodomia contra naturam" com o pagem F r a n c i s c o de

B a rro s . Antes de s a i r no Auto da fé do dia 27 de maio de

1645 que o condenou a 3 anos de degredo para o B r a s i l , o

c r ia d o de Dom Henrique f o i t o r t u r a d o por t e r revogado suas

c o n fi s s õ e s d i a n t e da Mesa I n q u i s i t o r i a l (7 1 ).

Joio de Matos tin h a 17 anos e era aprendiz de

alfaiate. Foi denunciado por Manuel R i b e i r o de 18 anos que

atleclarou t e r cometido o nefando cerca de 8 vezes com João

de Matos, afirmando que o aprendiz de a l f a i a t e cometia o

mesmo pecado com ou tra s pessoas. O réu saiu em um dos Autos

da fé do ano de 1647; sua sentença f o i e x p lícita: convicto,

confesso e p a c ie n t e . Foi condenado a 8 anos de degredo para

0 Maranhão mas, antes de p a r t i r , pediu comutação para quaj^

quer outra pa rte do B r a s i l "onde hã embarcações mais amiúde",

0 pobre moço, talvez j i arquitetava na sua mente uma forma

de r e t o r n a r ao Reino e para i s t o a p ri m e ir a necessidade se

ria habitar emum l o c a l onde as embarcações para Lisboa par

tissem mais regularmente. T e r i a vindo 0 nosso menino para

0 porto da cidade de S a l v a d o r da Bahia de Todos os Santos ?

A fin al, naquela época, era a l i 0 lu g a r onde havia "embarca-

ções mais amiúde" (72).

Bento F e rr az era " c l é r i g o m i n o r i b u s " , n at u ra l

e morador da cidade do P o r to . Foi preso quando era estudan-

te da p r i m e i r a c l a s s e de l a t i m e t i n h a de 18 para 19 anos
2‫וו‬

quando confessou que f o i induzido pelo demônio e cometeu 0

"horrendo e 0 abominável crime" com Fr a n c is c o Mota Rabelo

de 17 anos e com di ve rs as outras pessoas; contou que, em

tais atos que mereciam a "ira de Deus", f o i e l e agente e

p a c ie n t e . No Auto da Fé de 18 de a b r i l de 1655, f o i 0 sodo

miti go considerado infame: seus bens foram confiscados e

sua pena maior f o i 0 degredo de 5 anos para 0 B r a s i l ( 7 3 ).

0 nobre Antonio L e i t e do Amaral, 0 "Sarambe

que" de al cun ha, pelo crime de sodomia foi condenado a de

gredo durante 5 anos para 0 B r a s i l . Depois de l i d a a sente_n

ça no Auto da Fé de Coimbra em 18 de março de 1655, 0 réu

foi entregue 0 prisão dos degredados, a famosa cadeia do M

moeiro de L i s b o a , pelo f a m i l i a r Agostinho da Costa. Tudo p^

recia se g u i r seu trâ mite normal, mas 0 Saranbeque não acej

tou conformado a denúncia de t e r sido ele acusado de um c r i

me tão infame e muito menos queria ser degredado para 0 Br^

sil, terra longínqua para onde eram enviados os criminosos

do Reino. Através de p e t i ç ã o , Antonio L e i t e d i ss e que come

teu 0 nefando quando tinha apenas 14 anos e 0 fez apenas uma

vez e por "s i m p l i c i d a d e e mais não entender ‫ יי‬a gravidade do

crimc. Afirmou que depois nunca mais cometera "0 d i to peca-

do e sendo menor de idade c condenado em 5 anos de degredo

para 0 B r a s i l e era perdimcnto dos bens como consta da seji

tença e cometeu 0 d i t o pecado por não entender a gravidade

dele e no B r a s i l estando pessoas que 0 conhecem", pediu 0

s u p l i c a n t e que queria v i v e r onde não fosse conhecido e não

scr desta forma estigmatizado como sodomita e degredado. C^

so i n a u d i t o : seu degredo f o i comutado nada mais nada menos


212

que para a França. Pagou a f i a n ç a e p a r t i u em junho de 1655,

tr ê s meses depois de sua condenação. Antes de chegar a Fra^i

ça, passou em Roma para pedir dispensa da d i t a infamia e po

der ordenar-se sacerdote. Se i s anos dep ois , em 1661, na

tima página de seu processo consta que "0 d i t o degredo foi

cumprido", não na c o lô ni a u lt r a m a rin a mas no Reino absolu ‫־‬

tista de Luiz XIV. 0 Sarambeque era um rapaz r i c o , de fami-

lia nobre "uma das pr imeiras do P o r t o " ; seu pai Antonio Am£

ra l de Albuquerque era f u n c i o n a r i o do Santo O f i c i o , e x e rc ia

a função de " f a m i l i a r " da In q u i s i ç ã o de Coimbra e sua mãe

Dona Maria P e r e i r a provinha de e s t i r p e s nobre do norte de

Portugal ( 74).

Assim, as h i s t ó r i a s se repetem, cada uma com

sua p e c u l i a r i d a d e . Toda t e n t a t i v a ou consumação de sodomia

era rigidamente observada e denunciada aos i n q u i s i d o r e s . Re.

presentava pecado gravTssimo "c on tra naturam" e por isso a

lei régia e i n q u i s i t o r i a l era extremamente r i g o r o s a com os

sodomitas ao ponto de ordenar aos culpados que fossem "que 2

mados e f e i t o s por fogo em põ" e seus f i l h o s considerados j

nãbe i s e i nf ames ( 75 ).

Muitos tinham c o n s c i ê n c ia do d e l i t o , mas mui

tas vezes os réus ignoravam completamente a gravidade da

acusação. A quase t o t a l i d a d e dos casos denunciados se d i r i -

gia a re laç õe s entre homens, variando desde os "tocamentos

desonestos" aos atos consumados.

Pagens, a l f a i a t e s , clérig o s, nobre e pobres:

não importa quem nem a idade; todos foram perseguidos e os

que cairam na rede denunciadora foram no mínimo expulsos de


2‫ ו‬3

sua p a t r i a , confinados nas longínquas c o lô n i a s que recebiam

todos os i n d e s e j á v e i s m e tr o p o lit a n o s. 0 sodomTtigo era du

piamente de linquente: cr iminoso, por t r a n s g r e d i r as l e i s hu

manas e pecador, por ser v i o l a d o r das l e i s d i v i n a s .


2‫ ו‬4

NOTAS

(01) Beccaria, C. Dos D e l i t o s e das;• P e n a s, Rio de J a n e i r o ,

T e c n o p ri n t, s/d. p.l30.

(02) Idem, parágrafo X X I I I ; Que as penas devem ser propor

c l o n á i s aos d e l i t o s , p. 127.

(03) Ch. Lucas, De la reforme des p r i s i o n s , v o l . I I , 1838 ,

p. 313-14.In: Foucault, M ic h e l. V i g i a r e p u n i r . Petro

po lis, Vozes, 1987, p.85.

(04) Evangelho de São Mateus. 18.8.9. In: A Bib lia de Jeru

salém. São Paulo. Edições P a u l i n a s , 1985.

(05) P r im e i r a epístola aos c o r i n t i o s . 12. 22-26. In: A BT

blia de Je r u s a l é m , op. c it.

(06) T a var es , Maria Jo s é Pimenta F e r r o . Judaismo e I n q u i s i -

ção, estudos. Lisboa, Ed itorial P r ese nça , 1986 , p . 186.

(07) Remedios, Mendes do. Os Judeus portugueses perante a

legislação in q u isito ria l. In: Bi bl o s , Bole ti m da Bi ‫־‬

b l i o t e c a da Faculdade de L e t r a s da Un i ve rsi d a d e de

Coimbra, Vol. I, 1925 , ou tubro-novembro, número 10 e

11, p. 523. BNL. S a l a dos p e r i ó d i c o s .

(08) ANTT. Conselho Geral do Santo O f i c i o . L i v r o 435.

(09) Novinsky, Anita. Cristãos novos na B a h ia . São Paulo.

E d i t o r a da U n iv e rs id a d e de São P au lo , Perspectiva, 1972

p . 65.

(10) Omegna, N. o p . c i t . p. 159.

(11) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o portuguesa de

1640.op. c it. titu lo XIV.

(12) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Cvora. Processo 4527.


215

(13) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Êvor a. Processo 4745.

(14) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra^ Processo 6808.

(15) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Li sb oa . Processo 7020.

(16) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 7313

(17) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 321.

(18) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Li sb oa . Processo 4372.

(19) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 321

(20) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 5717.

(21) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo de Manuel Marques

Ferreira, número 8503. 0 réu f o i preso em 1.6.1713 e

saiu no Auto da fé de 17.5.1716. Foi condenado pelo

tempo de 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

(22) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 2255.

(23) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 3944.

(24) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 8503.

(25) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Goa, o p .cit.

Titu lo IX, p. 98.

(26) Regimento do Santo O f i c i o do ano de 1640, o p . c i t . Tit^

10 X I I I .

(27) ANTT. I n q u i s i ç ã o de E v o r a . Processo 2004.

(28) ANTT. I n q u i s i ç ã o de E v o r a . Processo 4537.

(29) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 6963. 0 reu saiu

em Auto da Fé em 13 de f e v e r e i r o de 1667.

(30) ANTT. I n q u i s i ç ã o de L is b oa . Processo 746.

(31) ANTT. I n q u i s i ç ã o de E v o ra . Processo 2462.

(32) Regimento do Santo O f i c i o de Goa. T i t u l o IX, o p .c it .

p. 98.
2‫ ו‬6

(33) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Goa, o p . c i t .

. titu lo X III, p . 105.

(34) Regimento do Santo O f i c i o do ano de 1640, o p . c i t . titu lo

XVII.

(35) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Evora. Processo 2038. Antonio ou j £

sé Antonio, preso em 8.8.1766 e sau no Auto da fé em

31.5.1767.

(36) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Evora. Processo 2196.

(37) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Êvora. Processo 4660.

(38) Regimento do Santo O f i c i o do ano de 1640. op. c i t . , 1 1 tul 0

X V II.

(39) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o portuguesa, de

1640, op. c it. titu lo XXIV.

(40) Idem.

(41)-ANTT. I n q u i s i ç ã o de Evora . Processo 10495 .

(42) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 7142 de Isabel

Gonçalves e 7897 de João M a rti ns .

(43) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 8345.

(44) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 8345. de Maria

do E s p i r i t o Santo e 8371, de Agueda de São Fra n c is c o

Xa V i e r .

(45) Regimento do Santo O f i c i o da In q u i s i ç ã o portuguesa

de 1640, op. c it. titu lo XXIV.

(46) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Goa, o p . c i t .

titu lo XVIII . p . n i .

(47) Regimento do Santo O f i c i o do ano de 1640, o p . c i t . tit^

10 X X I I .

(48) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 1376.


2‫ ו‬7

(49 ANTT. In q u i s i ç ã o de Evora. Processo 6231.

(50 .ANTT. Inquisição deCoimbra. Processo 7581.

(51 ANTT. I n q u i s iç ã o deCoimbra. Processo 563.

(52 Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Goa, o p . c i t

L iv ro I I I , titu lo X V I I I , p . l 11.

(53 Sampaio, T. o p . c i t . p . 221

(54 Carta do Padre Nõbrega ao P r o v i n c i a l Simão Rodrigues

In: Sampaio, T. o p . c i t . p . 221.

(55 Regimento de 1640, o p . c i t . titu lo XV III

(56 Lamego, A lb e r t o . Terra G o i t a c a , Livro I, c a p i t u l o V,

edição de 1913, p . 89-9.

(57 ANTT. In q u i s i ç ã o deCoimbra. Processo 8284.

(58 ANTT. In q u i s i ç ã o deCoimbra. Processo 6728.

(59 ANTT. I n q u i s iç ã o de Evora . Processo 6322.

(60 -Lima, Lana Lage da Gama. Aprisionando 0 desejo. In:

V a in fa s, R. (or g) Historia e Sexualidade no B r a s i l .

Rio de J a n e i r o , G r a a l , 1986, p . 86-8.

(61 Ordenações F i l i p i n a s , o p .cit. Livro V, t i t u l o XIX.

(62 Regimento de 1640, o p . c i t . T i t u l o XV.

(63 ANTT. 1nqui si ção de Coimbra. Processo 2716.

(64 ANTT. Inqu i s i ção de Coimbra. Processo 4001.

(65 ANTT. Inqui s i ção de E v o r a . Processo 11011.

(66 ANTT. Inqu i s i ção de Li sboa. Processo 6508.

(67 ANTT. Inqu i s i ção de Ev ora. Processo 9386.

(68 ANTT. I n q u i s i ç ã o de Lisb oa. Processo 73.

(69 ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 4058. Antonio No

guei ra saiu no Auto da fé de Coimbra em 18 de j u l h o de


;‫ו‬8

1656. Foi condenado a açoutes e degredo por tempo de 5

anos para 0 B r a s i l . Levado ao c ã r c e r e da cidade de l i s

boa, pelo meirinho do Santo O f i c i o Joao Mendes, aguar-

dou 0 embarque juntamente com 4 outros presos que foram

na mesma época condenados ao degredo, en tre os quais ,

dois também para 0 B r a s i l .

(70) Regimento do Santo OfTcio do ano de 1640, o p . c i t . ti-

t u lo XXV.

(71) ANTT. I n q u i s iç ã o de Lisboa. Processo 8835.

(72) ANTT. In q u i s i ç ã o de Lisboa. Processo 4570.

(73) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 5933.

(74) ANTT. In q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 5714.

(75) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V, t T t u l o II.


2‫ ו‬9

3.2 D e t e s t á v e is na Metrópole e Receados na Colônia

l/‫¿׳‬uc na cidade, c o lo n ia ¿ uma v a lto ò a ma0 ¿a de

gente ¿em c ¿ a ¿ ¿ e ou pAo ¿ i ¿ ¿ a o , adecente de00Kde.i^a de todo¿

OÁ p ^ o t e ¿ t o ¿ , pronta paAa empAeótaA ao¿ m ovim ento¿ A e ivin d i

cato A io ¿ a ¿eição de tuába, ¿em m e d i d a na ação, ¿e.m c o n ¿ t a n

cia no¿ p A 0 p ó¿it0 ¿ e ¿cm claAeza no¿ pAogAama¿. O¿ Ae.gi¿tA0¿

do¿ id o ¿ co to n ia i¿ deixam cZaAo a ex i¿té.n cia de gAande. núme

AO de i n d i v i d u o ¿ ex clu id o ¿ do¿ e¿quema¿ de t A a b a l k o , pA0 {¡i¿

¿ao ou c la ¿¿e da ¿ o c i c d a d e de então, São Zndio¿ ¿em o^Zcioá

de¿gaAAado¿ da¿ a ld e ia ¿, negAo¿ ¿oAagido¿ do e ito , m e ,¿ti(;.o ¿

d e ¿aju ¿tad o ¿, bAanco¿ pobAe¿ ¿em acomodação no¿ quadAo¿ de.

tA abalho que a co lo n ia o^eAcce, cig an o¿ va d io ¿, p A 0 ¿titu ta ¿,

m aA inheiA o¿ e ¿o ld ad o¿ de¿eAt0Ae¿, degAedado¿ que habitam

C0 mocambo¿ no¿ ¿ubú\b.io¿ da¿ cid ad e¿, v e ¿ tem-¿ c de ^aAAapor, j

m a n t ê m - ¿ e de ¿uaXo¿ cu c¿m o la¿, co n ¿titu in d o urna p o p u l a ç ã o

m aA gin al, c¿távcl cni ¿ c u volume c p e Am a n c n / cinc n t c d e ¿ o c u p a ~

da. i urna p o p u l a ç ã o ¿an.(a¿ma que a¿¿ombAa a¿ CãmaAa¿ e a ^ li

gcm o¿ m antenedoAc¿ da cAdem |I).

3.2.1 Os Ciganos da "Buena Dicha"

Avolumada pela imaginação c o l e t i v a da Europa

seiscentista, quando as bruxas metamorfoseadas de bo rboletas

ainda continuavam a voar em suas vassouras para p a r t i c i p a ‫־‬

rem do s a b b a t , 0 ciga no , nesta época, devido ã s u p e r s t i c i o -

sa mentalidade pop ula r, era continuamente acusado de canib^

lismo e raptos de c r i a n c i n h a s . I bem verdade que as mulheres


220

ciganas liam a s i n a , praticavam bruxedos e cura nd ices ou con

tavam, com espantosa f a n t a s i a e n a t u r a l i d a d e , os mais v a r i a -

dos cçntos do v i g á r i o ; mas a perseguição ao cigano f o i , com

certeza, influenciada também pela op in iã o p ú b li ca que lhe

atribuiu c a r a c t e r T s t i cas r e a i s e, sobretudo, ta n t a s outras

mag i nãri a s .

Em P o r t u g a l , ao que tudo i n d i c a , uma das pr2

meiras medidas tomadas, com 0 i n t u i t o de r e so lu ç ão do incõmo

do s o c i a l causado pelos c ig a no s, f o i decretada por D. João

III no ano de 1535. Devido as reclamações f e i t a s pelos repre

sentantes dos Concelhos nas c o r te s de E v o r a , os ciganos es

t r a n g e i r o s foram exp ulsos, os n a c io n a i s p ro ib id os de tr a j a re m

a seu uso e de se dedicarem 0 oc io s id a d e e vagabundagem. As

co r t e s de Evora "ordenam que os façam t r a b a l h a r e aprender 0

fTcios" (2).

Antes, 0 a l v a r á de 13 de março de 1526 p r o i b i a

0 ingresso de estranhos no p a i s , mandando s a i r os estrangei^

ro s , em v i r t u d e da reclamação dos povos nas c o r t e s de Torre

Novas, cel eb ra d as no ano antecedente. A população s o f r i a

" m ui ta perda e fa d ig a de muitos f u r t o s e muitas f e i t i ç a r i a s

que fingem saber" (3). Os d e l in q u e n te s seriam presos " e pu

blicamente açoutados com baraço e pr eg ão ", a pena s e r i a agra

vada com 0 c o n f i s c o dos bens moveis, sendo a metade para quem

o^acusasse e a outra metade para a M i s e r i c ó r d i a do lu ga r on

de f o r 0 cigano preso. Aos n a t u r a i s era ordenado 0 degredo

de " 2 anos para a A f r i c a alim das s o b r e d i t a s penas" (4). Em

1557, acresceu a pen alidade ate as gales " c u j a execução se

proce de rá, como f õ r de j u s t i ç a , dando apelação e agravo" (5).


22 ‫ו‬

No tempo de D. S e b a s t i ã o , repetiram-se as me^

mas medidas. Ordenou 0 r e i "que em todos os lugares de meus

Reinos se lancem logo pregões e baraço p ú b l i c o s , nas praças

e lugares costumados, que os ciganos e ciganas e quaisquer ou

tr a s pessoas que em sua companhia andarem se saiam dos d i t o s

meus Reinos dentro de 30 d i a s . . . 6 ) ‫) ״‬.

Também no tempo dos F i l i p e s , durante a União

Ib érica entre 1580 e 1640, a expulsão dos " d i t o s vagabundos"

fo i agravada em 1592 com a pena de morte para os contr ave nto

res (7). Apesar de todas estas ameaças, os h a b i t a n t e s de El_

vas, em 1597, andavam alvora çad os com os " f u r t o s de bestas e

muitas outras c o is a s que foram cometidas desde que um grupo

de ciganos acampara ju n to às muralhas e andava a gente da

cidade tão es ca nd al iz ad a que se temia um motim contra e l e s " .

Teriam sido os ciganos os autores de todos os f u r t o s ? Tais

fatos poderiam t e r sido imputados fa l sa m e n te ? A prÕpria Cãma

ra Municipal de E i v a s q u e st io na v a. Mas f o i n a tu ra l para os

h a b i ta n t e s da c id ad e, atrib u ir a culpa aos c ig a n o s, "maior ‫־‬

mente depois que houve alguns f u r t o s que conhecidamente se

soube serem f e i t o s por e l e s " . Para e v i t a r maiores desordens

e descontentamento da população formada por "gente b e l i c o s a

e de r a i a " , foram os ciganos " n o t i f i c a d o s que dentro de 3

dias se saíssem desta cid ade" e caso fossem "achados passa -

dos 0 d i t o termo se procedera contra e le s com todo 0 r i g o r "

( 8 ).

As Ordenações F i l i p i n a s , publ ic a da s em 1603 ,

prescrevem que os ciganos de qualquer nação não poderiam ej2

t r a r no Reino sob a ameaça de pena de. açoutes com baraço e


222

pregão, culminando a punição com degredo de 2 anos para a

Africa. Se f o r encontrada, no Reino, qualquer pessoa com

trajes e iTngua dos Armênios, gregos, árabes e persas "ou de

outras nações s u j e i t a s ao t u r c o , o s quais t r a z i am continuos

sustos ãs nações c r i s t ã s " , s e r i a presa até co ns ta r de suas

pessoas e da causa de sua vinda e "negocio que vem t r a t a r e

por quanto tempo";desta forma, eram i d e n t i f i c a d o s os vadios

e os e s p i õ e s . Conforme 0 ti p o de negócio destes e s t r a n g e i r o s ,

eram-lhes concedidos prazos para a permanência. Ca so fossem

encontrados dentro do Reino após a v i g ê n c i a dos v i s t o s , "se

rão presos e degredados para as galês pelo tempo que houver

mos por bem" ( 9 ) .

Para a A f r i c a , era também degredado "qualquer

homem que não v i v e r com senhor, ou como amo,nem t i v e r 0f 2

cio, nem outro mester em que t r a b a l h e , ou ganhe sua v i d a " ;

antes do degredo, eram os delin qu en te s açoutados publicamen

te e considerados vadios ( 10). Apesar de toda essa se ver id ^

de,a l e i não era obedecida e os ciganos não eram intimidados

por e la . 0 a l v a r á de 7 de j a n e i r o de 1606 estab ele ceu que

os ciganos que foram encontrados no Reino, além da pena de

açoutes, caso fossem presos pela pri meira vez, fossem degre

dados por 3 anos para as g a l é s ; pela segunda vez, 0 degredo

aumentaria para 0 dobro e, f i n a l m e n t e , pela t e r c e i r a vez,au

mentasse 0 tempo de t r a b a lh o forçado nas galé s para 10

anos( 1 1 ).

Por andarem "muitos ciganos no Reino, vagan

do em qu ad ri lh as cometendo muitos excessos e desordens e

quão p r e j u d i c i a i s são os que vivem, residem nas c id a d e s , v2


223

las e lugares d e l e s “ , mandou E l ‫ ־‬Rei que se cumprisse com to

do r i g o r 0 a l v a r á precedente, “ sem d im in ui r as penas que ne

le decla ram "; ainda mais, acrescentou 0 a l v a r á , "que dentro

de 15 dias depois da pu blica ção se vão deste Reino para as

galés e sendo mulheres somente pena de açoutes" ( 12 ). Ainda

durante a União I b é r i c a , D. F e l i p e "por graça de Deus, Rei

de Portugal e dos A lg a r v e s , d'aquem e d'além mar em A f r i c a ,

Senhor de Guiné e da Conquista, navegação, comercio de E t i ^

pia. A r á b ia , P é r s i a e da I n g l a t e r r a , . . . " fez saber, atravé s

de l e i do dia 10 de outubro de 1513, e porque sendo informa

do que "as ordenações que tratam dos d i to s ciganos se não

guardam tão i n t e i r a m e n t e , nem as penas que nelas se decl^

ram são bastantes para e le s se sairem fora do Re in o ", ao

contrário, continuavam a roubar e t r a z e r danos e prejuTzos,

de c id iu então El-Rei que todos os ‫'י‬j u lg a d o re s tenham gran^

de v i g i l â n c i a em cumprir in te ir am e n te a d i t a ordenação do

livro V" (1 3 ).

Em 16^7, D. João IV conf ino u, nas conquistas

portuguesas, os ciganos disp ers os pelo Reino para manté-los

afastados da Corte e da f r o n t e i r a . Para os que f ic a ra m , fo

ram marcadas como r e s i d ê n c i a s as cidades de Torres Vedras ,

Leiria , Ourém, Tomar, Alenquer, Montemor ‫ ־‬0 ‫ ־‬Ve 1ho e Coimbra.

P r o i b i a f a l a r a sua gTria ou "geringonça p e c u l i a r " e ensiná-

la a seus f i l h o s , i s t o com c er te za para e v i t a r combinações

se c r e t a s nas trapaças em negócios e f e i r a s ; compelia‫ ־‬os p^

ra 0 t r a b a l h o , permitindo apenas aos doentes e i n v á l i d o s pe

d i r esmola, porém somente nos l o c a i s do próprio domicTlio

(14). Severas eram as penas cont ra os embustes» as "buenas dj


224

cha s‫ ״‬nas compras e vendas, bem como pelo e x e r c í c i o da magia.

Eran condenados em açoutes e degredo perpetuo para as galés e

sendo mulher o degredo s e r i a para Angola ou Cabo Verde "por

toda a v i d a , sem l e v a r consigo f i l h o ou f i l h a " , além de nao

ser "admitida petição para perdão" e os " j u i z e s não consenti-

rão que os ciganos criem seus f i l h o s ou f i l h a s passando dos

nove anos de idade e sendo capazes de s e r v i r , os porão a sol-

dada na forma que se usa com os ó r f ã o s " (15).

0 Desembargo do Paço acrescentou, at rav és de

decreto de 1648, a p r o ib iç ã o de darem ou alugarem casas a

ganos ( 1 6 ). As pessoas que lhes alugarem ou darem casas e os

recolherem , se fossem peões, in c o r r e r ia m em pena de 3 anos de

degredo para Castro-Marim e, se fossem pessoas de maior qualj^

dade, seriam degredadas por 2 anos para a A f r i c a (17 ).

0 a l v a r á de 5 de f e v e r e i r o de 1649 i n s i s t e .no

grande p r e j u í z o e in q ui et açã o que 0 Reino padece "com uma gen

te vagabunda que com 0 nome de ciganos andam em qu ad ri lh as v2

vendo de roubos, enganos e embustes contra 0 s e r v i ç o de Deus e

meu - d e c la r a El-Rei ‫ ־‬demais das ordenações do Reino, por

muitas l e i s , provisões se procurou e x t i n g u i r este nome e modo

de gente vadia de ciganos com pr is õe s e penas de açou tes, d^

gredos e g a l é s , sea acabar de conseguir; e ultimamente queren

do Eu d e s t e r r a r de todo 0 modo de vida e memoria desta gente

vad ia, sem assento, nem f o r o , nem paróquia, sem v i v ê n c i a pró

pria, sem o f i c i o mais que os l a t r o c í n i o s de que vivem . . . "

(18). No mesmo ano, algumas ciganas que não tinham l i c e n ç a p^

ra usarem " t r a j e , língua ou g i r i n g o n ç a " foram expulsas do Re2

no para " a li m p a r a t e r r a " ( 1 9 ).


225

Por usar "de pa l a v r a s d i v i n a s para c oi s as 2

lic ita s e t e r pacto com o diabo para a d i v i n h a r f u t u r o s " ,

foi presa pelo Tribunal do Santo O f i c i o , a cigana Garc ia de

Mira , mulher de 50 anos, viúva de Antonio S o a re s , que tam

bém fora cigano. Garcia de Mira , n at u ra l de Montemor‫ ־‬o‫ ־‬No

vo e moradora na cidade de Li sb oa , f o i denunciada por M^

nuel A lv a re s da Nõbrega, " o f i c i a l de brincos de c e r a " , na-

tural do lugar do Cabo V i l a , f r e g u e s i a de São S a l va d o r do

Taboado, termo da V i l a de Amarante e tambim morador de L i £

boa. Manuel tinha 30 anos e um d i a , estando em sua casa na

rúa de Quebra Costas, situada de trá s da i g r e j a de Nossa Se

nhora da Palma, chegou i sua porta uma cigana que na 0 C£

siio trajava v e s t i d o de v i ú v a , com s a ia de estamenha par

da e mantilha de baeta negra e pediu‫ ־‬lhe para mostrar sua

mão p^ra d i z e r - l h e a "buena d i c h a " . Encontrava-se no quiji

tal da casa "uma mulher moça" de nome C a ta r in a da S i l v a que

mantinha " i l í c i t a amizade" com Manuel A l v a r e s , que por sua

vez era "homem casado com uma mulher que tinha f u g i d o " . Na

c o n fi s s ã o aos m i n is t r o s da In q u i s i ç ã o de Li sb o a , Garcia de

Mira, admoestada, r e l a t o u “ que no dia seguinte do qual nao

está lembrada ao c e r t a , tornou a casa do d i t o Manuel Alva-

res da Nõbrega, ao qual disse que queria l a n ç a r as sortes

que lhe prometera para saber se a d i t a sua mulher, que e^

tava ausente sem lhe di z e r aonde, era v i v a ou morta, e p^

ra is so a b r i s s e a mão d i r e i t a , 0 que e l e f e z , e pondo-lhe

no a l v o dela uma palhinha de balanço t o r c i d a e seca ao f^

go, e em cada ponta da mesma palhinha uma bo linha de c e r a ,

em cada bolinha pregado um a l f i n e t e com as cabeças para 0


226

pulso , d i zendo ‫ ו ־‬he que c usp is se na mesma mão para que rece

bendo umidade a d i t a palhinha d e st o r ce ss e para a banda dos

dedos e trouxesse v ir a d o s os d i t o s a l f i n e t e s que com e f e i t o

viraram com a p a l h i n h a , e fic a ra m fazendo a forma de uma

forca, havendo-lhe também d i t o que se os d i t o s al f i netes vol_

tassem era s i n a l de ser morta a d i t a sua mulher, e não voj^

tando a ser v i v a , sendo que não t in h a dúvida 0 haver de de^

torcer a dita palhinha, e em quanto fez as s o b r e d i t a s coj_

sas d i z i a as p a l a v r a s s e g u i n t e s : Em nome do Padre, Filho e

Esp irito Santo, que reinou e r e i n a r á para sempre jamais ,

amim. E em prêmio do que lhe deu 0 d i t o Manuel A lv a r e s meia

moeda de ouro, e lhe prometeu f a z e r segunda s o r t e . . . " . De

pois de "admoestada em forma" e mandada a seu c á r c e r e , a]_

guns dias mais ta rde f oi a nossa cigana "r e pr e en di da asper^

mente e a d v e r t i d a que se t o r n a r a c a i r nas culpas porque

foi presa será c a s t ig a d a com todo 0 r i g o r da j u s t i ç a " . A cj_

gana f e i t i c e i r a que l i a a "buena d i c h a " , l i v r o u - s e do degre

do e f o i condenada a penas p e c u n i á r i a s . Foi obrigada a re^

titu ir 0 dinheiro que a c e it o u de algumas pessoas por meio

de seus embustes. Tudo prometeu cumprir "sob carga de jura

mento dos Santos Evangelhos" ( 2 0 ).

Longe de so lu ç ã o, os d e c r e t o s , pr o vis õe s e

alvarás continuaram a ser despachados na t e n t a t i v a de expul_

sarem os d i t o s c ig a n o s , mas e l e s "continuam em seus excessos

de d e l i t o s , sem tomarem gênero de v i d a , nem o f i c i o de que

possam s u s t e n t a r - s e " e "tem mostrado a e x p e r i ê n c i a - decla-

ra uma pr ovi sã o de 1694 - que não s e r v i u até agora de remé

dio b a s t a n t e " , e, i m p a c ie n t e, El-Rei D. Pedro, mandou a to


227

dos os ciganos nascidos no Reino que não tomarem ginero de

vida, sejam despojados do pais ''com pena de morte" ( 2 1 ).Ne^

te í n t e r i m , muitos ciganos foram expulsos de Castela e com

f a c i l i d a d e entraram nos Reinos de P o r t u g a l , encontrando tam

bém nas t e r r a s lusas, fe rren ha perseguição. A provisão de 17

de junho de 1694 d e c la r a "que todos os que tiverem entrado

neste Reino saiam dele em termo de 2 meses, com pena de mor

te, e passados 0 d i t o termo, serão havidos e banidos e se

p r a t i c a r á com ele s a pena de banimento na forma da l e i " ( 2 2 ).

Novas medidas se repetem e, em 1718, porque

aumentava os f u r t o s e outros d e l i t o s g r a v e s , perpetrados p£

la gente da "buena d i c h a " , deu-se ordem de pri sã o contra to

dos os ciga no s, obrigando‫ ־‬os a seguirem para as conquistas

de A f r i c a ouínd ia (23)_, e "f a ç a r e p e t i r com maior aperto

as ordens n e c e s s á r i a s , dando pr ovi dênci a e f i c a z , para que

i n v i 0 1 avelmente se executem as r e f e r i d a s l e i s e não admita

requerimento algum c o n t r á r i o a e l a s " (24).

Mas as l e i s não foram " i n v i 0 1 avelmente" exe-

cutadas e os cigano s, em 1753, davam~se ao contrabando de

t r i g o para C a s t e l a , atuavam nos termos de Sousel e M e r to la ,

com a c o n i v ê n c ia dos la v r a d o r e s (2 5). Em 1756, defrontaram-

se com 0 Marques de Pombal que condenou os "perturbadores

da ordem s o c i a l " a ser vir em nas obras públicas da cidade de

Li sboa, pois não havia nevios que os pudessem t r a n s p o r t a r

para irem cumprir seus degredos (26 ).


228

NOTAS

(01) Omegna, N. o p . c i t . p . 240

(02) A r t i g o 24 das Cortes de Evora de 1535, f e i t a s por D.

João I I I . IniCoelho, F r a n c i s c o Adol fo. Os Ciganos de

P o r t u g a l . Lisb oa : Imprensa N a c i o n a l , 1892.p . 229.

(03) Ca p í tu lo s de c o r t e s e l e i s sobre os c iga no s. In : Coelho,

F.A .o p .cit. p. 230.

(04) ANTT. Maço 5 de C o r t e s , documentos número 6 , f o l h a 67.

"Lei XXII: Que os ciganos não entrem no R e in o ".

(05) Lei de 17.08.1557, "que não entrem os ciganos nestes

reinos, em que alim do que é mandado no c a i t u l o 138,

das Cortes de 1525 e 1535. In: Figueiredo, J . A . de.

Synopsis Cr h n o lõ g ic a. Li sb oa. 1790. Volume I I , pág.

22 .

(06) ANTT. Livro I de L e i s , folha 57 v e r s o . A lv a r á sobre os

ciganos de 11.4.1579.

(07) Lei de 28.08.1592. In : Figueiredo, J.A . de. Op. c i t .

volume I I , pãg. 261.

(08) L i v r o das Vereações da Câmara Municipal de E i v a s , ano

de 1597, f o l h a 54 e 55. In : Coelho, F .A . de. o p .cit.

p. 235.

(09) Ordenações F i l i p i n a s , o p .cit. L i v r o V, t T t u l o LXI X .

(10) Ordenações F i l i p i n a s , o p .cit. L i v r o V, T i t u l o L X V III.

(11) ANTT. L i v r o 2 de L e i s , folha 123.

(12) ANTT. L i v r o 2 de l e i s , f o l h a 230.

(13) Coleção c r o n o l ó g i c a de l e i s extravagantes. Coimbra,

1819, Vol. I, p. 62-64. In. Coelho, F.A . o p .cit. p . 239.


229

(14) Idem, p . 241.

(15) ANTT. L i v r o 4 de l e i s , folha 198 ve rs o.

(16) L i v r o 1 dos Decretos do Desembargo do Paço, fo l h a 215:

"Decreto em que se p o r ib iu darem-se ou alugarem‫ ־‬se ca-

sas a c i g a n o s " . In: Coelho, F . A., op. c i t . p . 243.

(17) ANTT. L i v r o 5 de L e i s , fol ha 1.

(18) ANTT, L i v r o 5 de L e i s , fol ha 1.

(19) Decreto em que se mandam a v i s a r os corregedores do crj_

me da Corte para que fizessem d e sp ej a r os ciganos. Li-

vro X da s u p l i c a ç ã o . In: Coelho, F . A ., op. c i t . p . 245.

(20) ANTT. Processo 1236. I n q u i s i ç ã o de Li sboa.

(21) R e g i s t r o de uma pro vis ão de Sua Majestade pelo Desem-

bargo do Paço ao Corregedor desta Comarca para que os

ciganos nascidos neste Reino tomem gênero de vida ou

0 despejam dentro em dois meses. Tombo I I do R e g i s t r o

dos A l v a r a s , fo l h a 63 ver s o. Arquivo da Camara de í]^

vas. Documento número 24. In: Coelho, F.A., op. c it.

p . 253-4.

(22) Tombo I I do R e g i s t r o dos A l v a r á s , f o l h a 64 v er s o. Doeu

mento número 251. In: Coelho, F.A., o p .cit. p . 254-6

(23) Decreto para que se passe ordem aos governadores das

Armas das F r o n t e i r a s para que mandassem prender todos

os ciganos. Livro XII da S u p l i c a ç ã o , fo l h a 14. Documen^

to número 29. In: Coelho: F.A., op. cit. p . 258.

(24) Livro III dos r e g i s t r o s do Desembargo do Paço, fol ha

131, documento núnero 30. In: Coelho, F.A., op .cit. p.

258.

(25) Tombo I I I do r e g i s t r o da Câmara de E i v a s , f o l h a 203,


230

Doc. número 32. In: Coelho, F . A . , op. c i t . p. 25.

(26) Memorias das p r i n c i p a i s p r o v i d ê n c i a s que se deram no

*terremoto que padeceu a c o r t e de Lisboa no ano de

175, doc. número 33. In : Coelho, F . A . , op. c i t . p . 261.


22‫ו‬

3 .2 .2 Os Ciganos Degredados no B r a s i l

Multo¿ do¿ coiono¿ c^am nãu{^^.ago¿ ou de.gA.c.da

do¿, /iomcn-6 ¿em aiKa nem c homen¿ ¿em Ze¿¿ nem p e la ¿

)‫( ן‬ .

IJào ¿e deve peàde^ de v i ¿ t a que eKa e.¿ta uma

teàAa de degredo, com uma ¿oc^edade t^ a n ¿p ía n ta d a a Aege.ne-

A.aA-¿e (2),

E somente no f i n a l do século XVII que podemos

ver ge ner alizado 0 degredo de ciganos para 0 B r a s i l . Por de

e ret o e provisão de Sua Majestade D. Pedro, rei de Portugal

e dos Algarves constando a "inundação de gente tão ociosa e

prejudicial por sua vida e costumes, andando armados para

melhor cometerem seus a s s a l t o s " , bandos que vinham do Reino

de Ca ste la para P o rtu g a l , dec idiu El- Re i determinar que,além

do degredo para a A f r i c a , seriam os culpados também degreda-

dos para 0 Maranhão: "Tendo re s o lu to que os ciganos e cig^

nas sep ra tiqu e a l e i , assim nesta c o r t e , como nas mais tejr

ras do Reino; com d e c la r a ç a o , que os anos que a mesma Lei

lhes impoem para A f r i c a , sejam para 0 Maranhão, e que os

n i s t r o s que assim 0 não executarem, lhes seja daao en culpa

para serem c as ti ga do s , conforme ao dolo, e omissão, que so

bre este p a r t i c u l a r tiverem" (3). Esta re solução f o i estabe‫־‬

lecida no ano de 1686, porém muito a n t e s , em 1574, durante 0

reinado de D. S e b as tiã o, 0 cigano João de T o r r e s , preso na

c a d e i a do Limoeiro e condenado a b anos de tr a b a lh o s nas g^


232

lês com açoutes, baraço e pregão; estando e l e no Limoeiro ,

padecendo à mingua, " f r a c o e quebrado" e não podendo *ser

v ir em cousa de mar" e sendo muito pobre "que não t i n h a n^

da de se u", pediu s u b s t i t u i ç ã o de sua pena nas galés para 0

degredo no B r a s i l e "para sempre", levando consigo sua m^

l h e r Angelina. Sabe-se lã porque 0 cigano João escolheu 0

B ra sil; t a l v e z aqui t i v e s s e e le outros parentes anteriormeji

te degredados. 0 degredo para 0 B r a s i l , comparado com 0 de

gredo para as g a lé s , significava no mínimo a esperança de

sobrevivência, pois 0 tempo de vida dos g a l e r i a n o s , devido

ã dureza do t r a b a l h o , era reduzido a pouquíssimos anos. 0

pedido de João Torres foi atendido pelo rei^ seus 5 anos de

galés foram comutados " em outros 5 anos para 0 B r a s i l , oji

de l e v a r á sua mulher e f i l h o s " (4).

Uma vez degredados os ciganos para 0 B r a s i l ,

desde a chegada de João Torres com toda a sua f a m í l i a , não

seria talvez, naquele sé cul o, 0 único caso do género. Mui^

to d e p oi s, na segunda metade do século X V I I I , El-Rei pa re ci a

bastante preocupado com a expansão e com os " p r e j u d i c i a s cos^

tumes" dos ciganos "que deste Reino tem sido degredados para

0 Estado do B r a s i l " , pois chegando na Co l ô n ia , informa 0 al^

varã de 20 de setembro de 1760, ... tanto a diòpoò^ção

c/c ■òua vontaciç que uóancio do¿ ¿cu ¿ p-*1 cjudicÃ.a¿ co¿tumc¿ com

totaU 11 çflo da¿ minha¿ ■Cc■¿¿, cau¿am ‫״‬lãvc-C incômodo

ao¿ mo\adonc¿, ccmctci\do continuado¿ {^unto¿ de. cavaJ^o¿ e

c n a v o ¿ , ^az cndo-¿e ¿oAmidãvC'¿¿ po^ andarem ¿cmpAe enc0A.p0A.a-

dc¿ e caAàegado¿ dc aAma¿ de ^ogo p e la ¿ e ¿tA a d a ¿, onde. com

decÁ!aAada vioHenc^a pAaticam ma¿¿ a ¿eu ¿ a lv o o¿ ¿ eu ¿ pcAn¿-


233

cioòZòòimoò pK0 c.zdimznt0 0 ( 5 ).

Henri K o s te r, v i a j a n t e i n g l ê s que percorreu

uma parte do B r a s i l no começo do século X IX , dã‫ ־‬nos notTcj^

as dos ciganos que aqui v iv ia m . Após mencionar as c ar a ct e-

r T s t i c a s dos povos que formaram 0 elemento b r a s i l e i r o ^

ac re sc en ta superficialmente 0 autor, que re st a ainda ''f^

l a r de uma raça de homens; mas os i n d iv í d u o s que a compõem

não são em número bastante grande para que c la s s i f iq u e m o s

entr e a população do B r a s i 1 . . . 6 ) ‫) ״‬.

No B r a s i l , como em P o r t u g a l , os ciganos fo

ram co ns id era do s, pelas au tor id ade s governamentais, p e rtu r

badores da ordem, bandos deles "tinham por costume mostrar-

se noutros tempos, uma vez por ano, na a l d e i a de Pasmado

e noutros lugares da p r o v í n c i a de Pernambuco; mas 0 gover

nador era inimigo deles e como fossem f e i t a s tentativas pa

ra prender alguns, as v i s i t a s acabaram" (7). A mentalidade

comum e x i s t e n t e na época f i z e r a dos ciganos uma raça excen

trica: píntam-noó como homenò aZtoò e bzm {^zitoò, de cok

acaòtanhada com òzmzíkantíò doò bKancoò .\J0LQixz¿am

em bando, homznò, mulheà^ò, cK^ança¿; trocando, comprando,

vzndzndo c a v a lo ¿ , jÕ^aò de oi^io e de pKata. Á4 muthz^e.¿

jOKnadziam a0 0 zntada0 00 Cíò toò , em cavaZoò albarda-

doò: m^t^m oò i l l h o ò noò ce-0 ‫׳‬to¿ miòtuKadoò com a bagage.m.

Oò homznò 4ão exce-den<te¿ c a v a la lK o ò ; quando 00 0 e,u0 cavaloò

de caKga zòtào ajo jado ò òob 0 pzòo, conto.ntam-0 í com 0

ab^andaK 0 pa^òo da0 c ava tg ad u K a ¿, ¿em pen0 ‫־‬aA. em ¿e apea ‫־‬

em e ^e.paKt¿A.zm a0 cafigaò poK todoò


1 ‫<׳‬ 00 an^ma¿¿. VÃ.Z-0Z quz
234

não obóCAvam mnhuma p l á t i c a n.e.t¿g¿00a , quo. não vão nunca ã

m^ÁÁa nem ao con^eAòoà; ac-1 ‫׳‬e0 ‫־‬c e n i a - ¿ e que 0e ca0 am 0 Õ com

peóòoaó de ¿ua ^aça ( S ) .

Uma provisão expedida pelo Conselho Ultrama-

rino, de 11 de a b r i l de 1718, segundo a qual foram degreda-

dos alguns ciganos do Reino para a cidade da B a h ia , ordena

ao governador que ponha cobro e cuidado na p r o ib iç ã o do uso

de sua língua e g í r i a , não permitindo que se ensine a seus

filh o s, a fim de obter-se a sua extinção ( 9 ) . Neste mesmo

documento determinou D. Jo ão , "por graça de Deus", mandar

"para essa praça da B a h ia , v ã r i o s ciganos e c ig a n a s , e seus

filh o s, pelo mal e escandaloso procedimento, com que se tem

portado neste Reino, de que haviam tão re pe ti do s clamores ,

indo r e p a r t i d o s agora pelos di v e r s o s n a v io s , que vão para

esse porto" ( 10 ). Na B a h ia , não tiveram d i f e r e n t e sorte; a

Câmara da cid ad e, a t r a v é s de o f i c i o do dia 5 de j u l h o de

1755, exig iu que eles fossem expulsos da p r o v í n c i a . Requis^

ção igual fez a Câmara da V i l a da Cachoeira, enumerando, eu

t r e os muitos p r e j u íz o s que causavam, 0 a s s a l t o aos com

b o i os ou tropas do m i n e i r o s , fur ta n do -lh es os c a v a l o s . Os

primeiros ciganos que chegaram ã B ah ia , foram por ordem da

Câmara, h a b i t a r uma parte do b a i r r o da Palma, luga r chamado

Mo uraria, mas não havendo espaço s u f i c i e n t e para tanta gen

te, designou-se depois um outro l oca l na f r e g u e s i a de Santo

Antonio além do Carmo ( 11 ).

Melò de Morais F i l h o r e l a t a que . nessa data

chegaram ao Rio de J a n e i r o , os avos e parentes do Sr.

P in to N o i t e s , "e st im á vel e venerando calon ( c a l o ) de 89


235

anos". Eram nove f a m i l i a s que vieram degredadas em razão de

um roubo de quintos de ouro a t r i b u í d o aos cig a no s. Es te s de

gredados que teriam chegado no B r a s i l em 1718, segundo 0 au

tor, " e n t r e g a r - s e ‫ ־‬iam às i n d ú s t r i a s dos me ta is: seriam cal

d eireiros, ferreiro s, latoeiros e ourives; as mulheres rez£

riam de quebranto e le ria m a buena di c h a " ( 1 2 ).

Expulsos da MetrÕpole e perseguidos na Colô-

nia onde eram rad ica lm en te v i s t o s como t r a n s g r e s s o r e s do

"sossego p ú b l i c o " e por serem "gente tão i n ú t i l e mal edu

c a d a ", foi p r e c is o ‫ ־‬continua 0 a l v a r á de 1760 - "obrigÍ-105

pelos termos mais f o r t e s e eficazes a tomar a vida c i v i l " . A

decisão r é g i a f o i categórica e profundamente d i s c r i m i n a t õ ‫־‬

ria, buscando desmantelar os laços f a m i l i a r e s para que os

costumes não pudessem to rn a r- se h e r e d i t a r i o s . Foi ordenado

que os rapazes de pequena idade, filh os dos c ig a n o s , se en

tregassem j u d i c i a l m e n t e a mestres que lhes ensinassem os ofT

c io s e a r t e s mecânicas, e aos adultos se lhes assentassem

praça de soldados e, por algum tempo se re p a r ti s s e m pelos

presídios, "de s o rt e que nunca estejam muitos j un to s em um

mesmo p r e s i d i o , ou se façam t r a b a l h a r nas obras p ú b l i c a s p^

gando-lhes 0 seu j u s t o s a l á r i o ; proibin do- se a todos poderem

comerciar em bestas e escravos e andarem em ranchos; que

não vivam em b a i r r o s separados, nem todos j u n t o s , e lhes

não s e ja pe rmitido trazerem armas, não s5 as que pelas

nhas l e i s são p r o i b i d a s , que de nenhuma maneira se lhes coji

sentirão, nem ainda nas v i a g e n s , mas também a q u e l a s , que

lhes poderiam s e r v i r de adorno". As mulheres c i g a n a s , deve-

riam v i v e r r e c o l h i d a s e se ocuparem "naqueles mesmos exercT


236

cios de que usam as do p a i s " . Encontramos, neste a l v a r á , a

as si m il a ç ã o das normas de exclusão s o c i a l r e in a n t e na Metro

pole, pois "pela mais l e v e t ra ns g re ss ão do que neste a l v a r á

ordeno , 0 que fo r compreendido nele seja degredado por to

da a vida para a i l h a de São Tomé ou do P r í n c i p e " ( 13 ).

Algumas ciganas que no B r a s i l viviam na épo

ca da primeira v i s i t a ç ã o do Santo O f i c i o na Bahia ‫ ־‬uma Vio

l a n t e Fernandes, viúva de um cigano degredado de Portugal por

f u r t o de burros; Maria Fernandes e Apolonia Bustamente - pa

reciam mesmo i r r i t a d a s com as abundantes chuvas que caiam n£

quela época. Usando de blasfêmia e p a l a v ra s indecorosas, re

solveram a t r i b u i r a Deus todas aquelas "chuvas, lamas e eji

xurradas" e por is so foram presas pela In q u i s i ç ã o de lis

boa que naquele ano de 1591 v i s i t a v a 0 Brasil (14 ).

Uma o u t r a , Inez Mendes de Andrade, natural

da Bahia de Todos os Santos e moradora no Porto dos Calvos,

bispado de Pernambuco, era f i l h a dos ciganos F ran cis co de

Andrade e I sabei da Mota. Casada na capela de Santa Catarina

da fr eg ue si a de Cotegipe na B a h ia , apõs 10 meses de vida m^

rita l, ausentou‫ ־‬se para Pernambuco e casou-se com Simão de

Araújo na i g r e j a da Moribeca, fazendo-se apregoar por so]^

te ira , dando para isso testemunhas e decla raç õe s ao pároco

com juramento, porém "sendo tudo f a l s o " . Presa e levada p^

ra os cárceres de L i s b o a , confessou que, quando se casou pe

la primeira vez, tinha 12 anos completos e que " nunca 0 dj[

to marido pode consumar com ela 0 matrimonio" e que ela h^

v i a pedido anulação do casamento, mas não esperara a senten

ça d e f i n i t i v a do j u i z e clesiá stico . Do segundo casamento te


237

ve 3 f i l h o s e trouxera um deles em sua companhia por ser ain

da de l e i t e . Inez Mendes de Andrade saiu no Auto da Fé em 10

de a b r i l de 1691 e fora condenada em degredo para a Bahia,oji

de nunca chegou. Ficou no c á r c e r e do Limoeiro ainda 7 meses

aguardando a l e i t u r a de sua pena. Não sabemos exatamente 0

que se passou l i den tro, mas a nossa baiana de 22 anos, acom

panhada do f i l h o recem-nascido, a qual ” confessou logo tanto

que a pri meira vez veio à mesa*', nao suportou a espera pois,

no dia 7 de novembro de 1691, 0 c a r c e i r e i r o da p r is ã o i n fo r-

mou que "os senhores i n q u i s i d o r e s me mandam f i z e s s e aqui de

claraçao de como Inês Mendes Andrade f a l e c e r a no Limoeiro de£

ta cidade onde estava presa para i r cumpir seu degredo“ ( 1 5 ) .

Deste modo, a Metrópole despejou seus "crim 2

nosos" nas t e r r a s c o l o n i a i s ultramarinas, p a r t i c u l a r m e n t e no

Brasil e A frica. A colônia, por sua vez, degredou seus " e le

mentos n oc iv os " e ‫'י‬gentes inú teis" para as I l h a s de São Tomé

e Principe. Havia sempre um lugar onde s e r i a po s s ív e l depurar

pecados e crimes e assim fu n c io n a r como panaceia das mazelas

sociais.

No B r a s i l , como em P o r t u g a l , apesar do tom

i mperativo e da se veridade das l e i s , as medidas j u d i c i a i s

não conseguiram f az e r desaparecer os ciganos como fora a

sua intenção desde 0 a l v a r á de 1537 ( 16 ). Em 1848, 0 proble

ma i n i c i a d o no scculo XVI, com as normas l e g a i s que t r a t a ‫־‬

vam de exp uls ar os ciganos e s t r a n g e i r o s e proibindo aos n^

c i o n a i s de t ra ja re m a seu uso, estava muito longe de t e r so

lução. Para a f i s c a l i z a ç ã o das entradas de ciganos em Portu

gal, foram e le s obrigados a munir-se de documentos. "Deve ‫־‬


238

se cuidadosamente e x i g i r - s e passaporte dos bandos de ciganos

que transitarem pel o Re in o". Depois de tantos anos de i n s i s t e n

cia ; não cabia mais e s t a b e l e c e r novas punições. Tudo j ã

v i a sido t e n t a t o e resgatam‫ ־‬se. entào, as velhas leis. A por

taria c i r c u l a r de 18 de a b r i l de 1848 nada t r a z i a de novo em

r e la ç ã o as penas contra os tr an sg res so res da l e i . Para aque

l es que não trouxessem passaporte, a correção e repressão or

denadas nesta p o r t a r i a seriam as mesmas da l e i de 20 de se

tembro de 1760, aquela e s ta b e le c i d a 88 anos antes (17).


239

NOTAS

(01) Tapajós, Vicente. Hi s t õ r i a do B r a s i 1. São Paulo. Compa

nhia E d i t o r a N a c io n a l , 1953, p . 90.

(02) Sampaio, T.o p .cit. p . 210.

(03) Decreto em que se mandou comutar 0 degredo de A f r i c a

para 0 Maranhão. In: Coelho, F . A . , op. c i t . p . 253, do-

cumento numero 23.

(04) Coelho, F.A., o p . c i t . p . 232, documento número 5.

(05) ANTT. Maço 6 de l e i s , documento número 29.

(06) K os te r, Hen ri. Voyages dans la partue s e p t e n t r i o n a 1e

du B r e s i l depuis 1809 Jusqu en 1815, t r a d , de 1 ' a n g l a i s

par M. A. Jay. P a r i s , 1818, Vol. II. In: Coelho, F.A.

op. c it. p . 272.

(07) Tdem,

(08) Tdem.

(09) P r o v is ã o do Conselho do Ultramar de 11 de a b r i l de

•1718. In : A ccio li, Ignacio. Memorias H i s t ó r i c a s e Poli

ticas da B a h i a . B a h ia , 1925. V ol . II. p. 155-6.

(1 0) Tdem

(11) Tdem

(12) Filh o , Mello de Morais. Os ci ganos no Bra si 1. I n : Coe

lho, F . A . , o p . ci t . p . 273.

(13) ANTT. maço 6 de l e i s . documento número 29 e tambim ma

Ç0 4 de l e i s , documento número 165.

(14) Souza, L. de M. e. O diabo e a t e r r a de Santa Cruz. , o p .

c it. p.l OB.

(15) ANTT. Processo 10291. I n q u i s i ç ã o de Li sb oa.


240

(16) Figueiredo, J.A . de. Synopsis C h r n o l o g i c a . L i s b o a , 1790.

vol. I, pãg. 321, In; Coelho, F .A . op. c i t . p. 230, do-

‘cumento numero 1 .

(17) B a r r o s , Henrique da Gama. Repertorio Adm inistrativo.

L is b oa , 1860, tomo I , p. 151. In : Coelho, F . A . , op. cit

p. 265, documento numero 37.


24 ‫ו‬

3. 3 No P u r g a t o r i o . . . Mas o Olhar no P a r a í s o

... c diziam qaaòQ. todo¿ que dótaK a ¿ i e/ia

z¿ta^ em o puA.gai0Aio, e na vcAdade eu não tenho v iò to coa

¿ a que. melhoá o AepAeóente [1]

No i n i c i o da época moderna, periodo da de^

coberta do B r a s i l , o i m ag in ar io c r i s t ã o do co lonizador eu

ropeu e r i g i u a nova co l5 ni a como l o c a l p e r f e i t o do P a r a ís o

terrestre. Simultaneamente, ocupando o mesmo espaço no un_i^

verso mental, o Inf er n o foi as si m ila d o a co lo ni a b r a s i l e i -

r a , local medonho onde a natureza humana frequentemente foi

identificada como o proprio diabo.

O di v i n o e o demoniaco convivem lado a 1^

do e, semdúvida alguma, a as so cia çã o da colô nia recém‫ ־‬de£

coberta ao P a r a ís o e ao I n fe rn o sofreu determinante condi-

cionamento das re presentações i c o n o g r á f i c a s concebidas pe

10 c o t i d i a n o r e l i g i o s o do homem europeuio P ar a ís o associa-

do ao d i v i n o , ã felicidade, ã abundância e ao re g o zi jo e

ter no , enquanto 0 Inf ern o lembrajao c o n t r a r i o , 0 sofrimen-

to e a danação perpétua.

Entre a g l o r i a do Céu e 0 fogo ardente do

In f e r n o , surge a i d é i a do P u r g a t o r i o como p o s s i b i l i d a d e in

term ediiria. Lugar dc depuração dos pecados at ra v é s de pe

nas com duração l i m i t a d a , e s t a b e l e c i d a s de acordo com 0

grau e peso da culpa. Local onde "os desvios cometidos na

metropole eram purgados ( . . . ) a t r a v é s do degredo; colonos

desviantes, hereges e f e i t i c e i r o s eram, por sua vez, dupla


242

mente estigma tizad os por viverem em t e r r a particularmente

propicia a propagação do mal" ( 2 ) .

Foi Laura de Mello e Souza quem , i n s p i ran-

do-se na "Visão do P a r a í s o " de S é r g i o Buarque de Holanda,

edificou a Terra de Santa Cruz não somente a t r a v é s da vi^

são edê nica , a qual a autora, com grande e r u d iç ã o , pintou

com novos ma tizes, mas sobretudo c o n s t r u i u 0 contraponto

deste lado p a r a d i s í a c o e r i g i d o pelo im ag in ari o do c ol o ni -

zador. Através do intimo manuseio das f o n t e s , é ap resent^

da a face oposta da c o l ô n i a : 0 mundo i n f e r n a 1i z a n t e . Ul-

trapassando dia 1eticamente 0 P a r a í s o e 0 Inferno^ 0 diabo

e a t e r r a de Santa Cruz abriu novas p e r s p e c t i v a s sobre a

Co l ô n ia , a s so c ia n d o ‫ ־‬a ao P u r g a t ó r i o re cém-ed ificado no

i maginário r e l i g i o s o popular e e r u d i t o do homem europeu ,

0 lugar onde a Metropole portuguesa lançaria toda sua gen^

te i n d e s e j á v e l . 0 B ra sil, C o l ô n i a - p u r g a t õ r i o , funcionou ,

através do degredo, como t e r r a de depuração dos pecados e

foi a panacéia das mazelas do Reino.

M ui tís sim os degredados aqui chegando não

pensavam senão em r e t o r n a r ao Reino. Arquitetavam de todas

as formas seus planos para conseguirem comutação ou per

dão do degredo. Estavam com 0 corpo no P u r g a t õ r i o , mas 0

o lh a r no P a r a í s o . Purgavam seus pecados no fogo temporário

da c o l ô n i a e sabiam que e x i s t i a uma p o s s i b i l i d a d e , efémera

para a grande m a i o r i a , de um dia v o l t a r para a tão sonha-

da Metrópole.

André V i c e n t e , n at u ra l da cidade de Lagos

no A l g a r v e era c l é r i g o diacomo do habito de São Pedro e


243

tesoureiiro da i g r e j a de São Seb as tiã o de Lagos. Tinha 25

anos, moço pobre e de " f r a c o saber" e pela sua mã conduta

fo i impedido pelo bisco D. F r a n c is c o de Menezes de tomar

ordens de missa, por v i v i a ilicitam ente, há muitos anos,

com Ana Fernandes, conhecida como "a mi c a r n e " . André coji

venceu sua companheira que 0 Papa lhe e n v i a r a tr ê s bulas

autorizando-o a casar-se com e l a . No dia de São Pedro e

São Paulo, 29 de junho de 1631, na s a c r i s t i a da i g r e j a de

São S e b a s t i ã o , perante v á r i a s testemunhas, 0 nosso diãco-

no simulou a r e a l i z a ç ã o do seu matrimônio; uniu-os um ve

lho ermitão de Santo Amaro. Era tambim acusado de fazermau

uso das c oi s as sagradas da i g r e j a ; roubava os sanguíneos

e c or p or a is e metia‫ ־‬os ñas a l g i b e i r a s , u t i l i z a n d o - o s como

lenços de assoar e "noutras i m u n d í c i e s " ; usava as a l vas

como-cami s a s ; empregava os véus roxos da Quaresma nas per^

nas, servindo de l i g a s ; empenhava nas e s t a l a g e n s , as a2

vas e as toalhas da comunhão em troca de vinho. Uma vez

f u r t a r a a cruz do s a c r á r i o e , tendo-a quabrado com um cut^

1 0 , empenhara-a a uma e s t a l a j a d e i r a em troca de pão e vi^

nho e roubara uma g a r g a n t i lh a s do pescoço da imagem de

Nossa Senhora de Guadalupe; punha capas e vestimentas a

servirem de cama. Por tudo i s t o , fo i levado preso para a

cidade de Faro, mas logo em seguida foi colocado em l i b e r -

dade sem nenhum c a s t i g o ; sendo depois detido e conduzido

para a cadeia de Lagos, de onde t r a n s i t o u para os c ár c er e s

da I n q u i s i ç ã o . Saiu no Auto da fé de t v o r a , em 28 de mar

ço de 1632. Cabeça descoberta, ve la acesa na mão, a b j u r a ‫־‬

ção de l e v e , in st r uç ão nas c o is as da f é , suspensão do


244

e x e r c í c i o das ordens r e l i g i o s a s durante 3 anos e degredo pa

ra 0 B r a s i l . Chegou a cidade da P a r a í b a , onde permanceu du^


»

ra nte 4 ou 5 dias e d a l i p a r t i u para Pernambuco, vivendo por

muito tempo numa f r o n t e i r a chamada de Cabo de Santo Agosti-

nho. Quando os holandeses atacaram e tomaram a r e g i ã o , A n d r i

Vicent e d i r i g i u - s e , por t e r r a , para a Bahia de Todos os Sa£

tos e la v i v e r a durante 6 anos. Da Bahia f o i para Angola .oji

de esteve por alguns anos, fundo os quais chegou a Lisboa .

0 clirig o pobre, ladrão e blasfemo depois de cumprir 0 degre

do chegou r i c o em P o r t u g a l , "com d i n h e ir o e e sc ra v os " e por

provisão de 21 de f e v e r e i r o de 1642, do Conselho Geral do

Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o , f o i - l h e dado l i c e n ç a para poder

ordenar-se de missa como era seu desejo ( 3 ) .

Manuel de O l i v e i r a , moço de 16 anos, *ae

boa cor e bem a f i g u r a d o " , cometeu 0 nefando quando era mor¿

dor 0‫ ח‬c o l e g i o Santo Antonio e lã ex e rc ia a p r o f is s ã o de

b a rb e i ro . Dez anos depois, quando jã estava casado com Vio

l a n t e Margarida, foi. preso e condenado em 1645 a degredo p£

ra 0 B r a s i l . Chegando ã B a h ia , foi entregue ao governador

juntamente com sua c e r t i d ã o de degredo mandado pelo Santo 0

fic io . Na Bahia foi enviado "pelo d i t o governador ao morro

em companhia de uma leva de soldados aonde esteve 4 meses".

Voltando para se apresentar ao governador, tornara-se pri -

s i o n e i r o dos holandeses durante dez meses, nos "quais pade-

ceu e le muitos trabalhos e n e c e s s id a d e s " . Pres o, foi desta

vez, mandado para a f o r t a l e z a do R e c i f e , em Pernambuco e

"por suceder dar embarcação nas pr a i a s da d i t a fortaleza f2

cou a e l e e aos mais lug ar de poderem f u g i r para 0 cabo de


245

Santo Agostinho, onde fic ou doente de grave doença nascida

das muitas m i s é r i a s , fome e t r a ba 1h o . Nes ta c i r c u n s t â n c i a

0 governador deu a Manuel de O l i v e i r a , licença para i r ao

Reino. Em Lisboa pediu aos i n q u i s i d o r e s " que ponha os

olhos de sua costumada benignidade nos t r ê s f i l h i n h o s que

tem e le s u p l i c a n t e e em sua mulher e uma cunhada cujo remé

dio e amparo depende dele pois não tem outro debaixo de

Deus*'. Mas os i n q u is id o r e s ordenaram que 0 réu fosse preso

e embarcasse na primeira Armada que foss e para 0 B r a s i l e

terminasse 0 seu degredo, mas definhado pela pouca saúde ,

foi levado para tratamento na Santa Casa de Lisboa e de la

insistiu no perdió. Desta vez foi mandado " i r em paz cura r

de sua l ib e r d a d e " (4).

Brites Fernandes, filh a do e s t a l a j a d e i r o

André P ir e s e Catarina Vaz, era casada com Manuel Fernandes

e morava na cidade de P o r t a l e g r e . Seu marido p a r t i u para 0

Brasil e B r i t e s casou-se novamente. Depôs contra e l a , seu

segundo marido e a ré defendeu-se afirmando t e r 0 primeiro

marido morrido, confessou depois 0 seu crime dizendo ter

ar ra n ja do testemunhas f a l s a s pa ra 'p od er casa r-se pela seguri

da vez. Degredada para 0 B r a s i l em 1608, f o i entregue em

Olinda e de l ã , "Leonardo de B a r r o s , cava le iro fidalgo da

Casa del-Rei nosso senhor, e s c r i v ã o da Câmara da V i l a de

O l in da , c a p i t a n i a de Pernambuco de que é c a p it ã o governador

Duarte Albuquerque Coelho, certifico u que no l i v r o dos re

g i s t ros em que se escrevem e r e gis tr am e matriculam os de

gredados que no Reino vem", constava um assento na f o l h a 52.

do dia 23 de j a n e i r o de 1609, 0 qual relatava que B r i t e s F e r


246

nandes tin h a sido entregue a Câmara pelo mestre do navio N0£

sa Senhora de Nazare e junt o com e la veio uma outra mulher e

um homem, ambos condenados em degredo, também para 01 i n d a . De

pois de 4 anos e tr ês meses degredada, B r i t e s Fernandes ale

gou ser mulher muito moça e qu e ria novamente f a z e r vida com

0 seu marido e pela sua pobreza pediu para perdoar os outros

2 anos r e s t a n t e s para completar 0 seu d e s t e r r o (5).

Tereza de O l i v e i r a , moça donzela, filh a de

J o i o Vaz e Mariana de O l i v e i r a , f o i - s e c on fe ss a r com 0 viga-

r i o da i g r e j a de Braga, padre Diogo de B a rr o s . Assim que co

meçou a c o n f i s s ã o , este lhe d i s s e para de ix ar para 0 outro

dia e fosse com e le para a s a c r i s t i a . Teresa, indignada, re

t i r o u ‫ ־‬se do c o n f e s s i o n á r i o e f o i denuncii- 1 0 a I n q u i s i ç ã o co

nimbricence. Preso e se ntenciado pelo "grave crime" de ter

colocado "na fon te da vida e s p i r i t u a l 0 veneno do pecado e

no sacramento da p e n i t ê n c i a ocasi õe s de escândalo e ruTna

fo i sentenciado em 1711 e degredado por 5 anos para 0

B rasil. Chegando a B a h ia ^ fo i entregue i Câmara t i t u l a r e co

meçou a cumprir 0 seu degredo. Em 1714, quase tr ê s anos de

pois de e s t a r na B a h ia , escreveu ao t r i b u n a l da In q u i s i ç ã o

de Coimbra dizendo que estava regularmente cumprindo a sua

pena, mas que padecia muitas m i s é r i a s por nâo t e r de que se

possa a l i m e n t a r e com e f e i t o era tâo pobre que era s o c o rri d o

pelas esmolas que re c e b i a de pessoas c a r i d o s a s . Pediu para

l e v a n t a r - l h e a suspensão do e x e r c í c i o de suas ordens , as

quais tinham-lhe sido p r o ib id a s de e x e r c ê - l a s . Tentou ainda

convencer os i n q u i s i d o r e s que a unica maneira de s o b r e v i v e r

na c o l ô n i a e nâo padecer tanta vergonha s e r i a v o l t a r a ceie


brar missas e demais e x e r c í c i o s das funções e c l e s i á s t i c a s

( 6 ).

Antonio Lopes Saved ra, soldado natural da

a l d e i a de Gavinha da Merceana, “ cometeu e consumou por ve

zes, com d i f e r e n t e s pessoas do sexo masculino, 0 horrendo

e abominável pecado de sodomia" e por i ss o f o i preso em

1652 e condenado a 3 anos de degredo para 0 B r a s i l . 0 reu

náo foi cumprir 0 degredo. Ficou em Lisboa sem t r a t a r do

seu embarque e quando saiu do cárcere, levou consigo, escon

dido na roupa, v á r i o s e s c r i t o s e recados de "pessoas da n^

ção" que fi c a r a m presas nos mesmos c á r c e r e s , para ser en

tregües a outros "ju de us " que estavam s o l t o s , pois tinha ‫־‬

lhe sido prometido que uma daquelas pessoas para quem iam

os recados d a r i a - l h e em prêmio c e r t a coisa de v a l o r . Foi

preso novamente e desta vez condenado a 5 anos de degredo

para 0 B r a s i l . Foi cumprir 0 seu d e s t e r r o no Rio de Ja n e i -

ro e de lá fez peti ção aos i n q u i s i d o r e s , lamentando que

deixara no Reino, sua mulher "moça bem p a re ci d a " e que do

Rio de J a n e i r o f u g i r a para Angola, onde esteve por alguns

d i a s , mas v o l t a r a ao B r a s i l , indo para a B ahi a, "aonde de

presente a s s i s t e dando cumprimento ao tempo de seu degredo".

Diz que está passando grandes necessidades e sua mulher pa

dece as mesmas e por i ss o pede m i s e r i c ó r d i a . Depois de

tr ê s anos no d e s t e r r o , su plicou 0 perdão do tempo que lhe

faltava para " r e c o l h e r em companhia da d i t a sua mulher".

Sem l i c e n ç a do Santo O f i c i o , Antonio Lopes Savedra retornou

ao Reino, mas por nio t e r co nc lu íd o a sua pena, f o i nova -

mente preso e confessou ao Tribunal de Lisboa que, no Br^


248

s il, estava passando " g r a v ís s im a s necessidades por não t e r

of T c io de que se pudesse s u s t e n t a r , nem i n d ú s t r i a para ga

nhar a v i d a " , por is so v o l t a r a ao Reino no navio do mestre

Manoel Lopes. Mas 0 t r i b u n a l manteve-se i n f l e x í v e l e mandou

0 réu r e t o r n a r ao B r a s i l onde t e r m i n a r i a sua pena. Mas An

tonio Savedra não d e s i s t i u e nov^amente pediu perdão do re£

ta n t e do degredo. Desta vez f o i - l h e perdoado e r e a l i z o u 0

desejo que sempre sonhara: permanecer em Por tu gal (7).

Maria da Cruz, acusada de v i s i o n a r i a , fo i

presa em 1660 e levou consigo para os c á r c e r e s , "uma imagem

de C r i s t o e uma bolsa com uns r e i i c i r i o s " ;sendo tudo entre

gue ao n o t a r i o Manoel da Costa B r i t o . Condenada a 5 anos

de degredo para 0 B r a s i l , chegou a Pernambuco e de l i 0 ca

p i t ã o Manoel P e r e i r a de Azevedo, e s c r i v ã o da V i l a de Olin-

da, c e r t i f i c o u que "correndo 0 L i v r o dos degredados da di_

ta Câmara, consta da c a r t a de guia as quais vieram a este

R e c i f e em 8 de setembro de 1661, pelo mestre Manoel Gomes

Ferraz, vindas de Lisboa em seu navio Nossa Senhora do Ro-

sirio e Santo A n t o n i o " . Is a b e l v i e r a degredada por t e r co

metido alguns f u r t o s no Reino, t in h a 35 anos e s i n a i s de

"bexiga no n a r i z " . Ambas f ic a r a m r e g i s t r a d a s no c a r t õ r i o

da câmara de O l in d a , no l i v r o dos degredados na f o l h a de

número 16. Maria da Cruz terminou seu degredo em 20 de

agosto de 1667 e v o lt o u para 0 Reino apresentando-se ‫־‬ ao

Santo O f i c i o de Lisboa com seus papeis e c e r t i d ã o ao inqu^

s i d o r Dom Ver íssimo de L e n c a s t r o , pedindo l i c e n ç a para ir

ao re colhimento de Santa I s a b e l da H ungria, "sito no Mocam

bo desta c i d a d e " . Antes de p a r t i r para seu degredo, Maria


249

da Cruz era regente do " d i t o re co l h-imento" e voltou ao Reino

com o i n t u i t o de terminar as obras a l i iniciad as, pois no

B rasil havia pedido esmolas que Ihe deram os f i é i s para os

traba lhos da pía casa ( 8 ).

Diogo Dias Neto, r i c o judeu da V i l a de Serpa

saiu no Auto da Fé na cidade de í v o r a em 1669. Condenado a

degredo de 5 anos para o B r a s i l , se apresentou i Cámara de

Olinda no dia 2 de dezembro de 1669. Depois de 2 anos, fez

pe ti ção r e lat and o que estava muito arrependido de sua culpa

e por ser "um homem muito velho de mais de 60 anos, com muj^

tos achaques e padecendo muito no d i t o degredo", iniploroupej^

dão e m i s e r i c o r d i a do tempo r e s t a n t e da sua pena. F o i- lh e per

doado e Diogo Dias voltou imediatamente para o Reino. Conse-

guiu d i m i n u i r o tempo do seu pu r g a to ri o (9).

Maria Dias, filh a de Antonio P i r e s , "o cig ^

nete" de alcunha e Ana Rodrigues, f oi presa em 1648 acusada

de h e r e s i a , apostasia e f a l s i d a d e . Era casada com Antonio Ro

drigues, "o Pin hã o" , e seu pai fora almocreve em Sousel e

sua mãe era v iu va. Teve ela 23 denun cia nt es , todos detidos

nos c á r c e re s do Santo O f i c i o da In q u i s i ç ã o de í v o r a ; irmaos,

primos e t i o s . Sentenciada pelas mesmas cu l p a s, Inés Ramalha

foi presa em 1645 e, j u n t a s , vieram degredadas para o B r a s i l .

No L i v r o dos degredados do c a r t 5 r i o da Cámara da B ah ia , no

verso da fol ha 113, havia um assento n o t i f i c a n d o que “aos

onze dias do mês de março de 1650, nesta cidade do Sa l v a d o r

da Bahia de Todos os San tos, apareceu Manuel dos Santos da

cidade de Lisb oa, mestre do navio por nome de São Tiago e en

tregou duas degredadas com duas c a r t a s de g u i a s " . Constava


250

no mesmo documento que Maria D ia s, n at u ra l de S o u s e ! , de 30

anos de idade chegara doente de beixga e I n i s Ramalha, filh a

de Manuel Roiz F i a l h o e de Maria Mendes, n a tu ra l de Sousel ,

de 50 anos vieram degredadas do Reino pelo tempo de 3 anos .

Nesta época era e s c r i v ã o da Cámara da B a h ia , Rui de Carvalho

P i n h e i r o o qual confirmou a chegada das duas r e s . Depois de

cumprir o seu degredo na B a h i a , Maria Dias f o i mandada aos

21 de novembro de 1653 para a V i l a de Sousel em Portugal e

ali fin alizou sua punição, cumprindo p e n i t ê n c i a s e s p i r i t u a i s .

Maria Dias estava de v o l t a â c as a , mas sobre 0 d e s ti n o de

sua companheira Inês Ramalha nada sabemos desde que desembar

cou na B a h ia . T e r ia ela também regressado para P o r t u g a l ? Per

maneceu na Col5nia i n s e rin d o - s e na ordem pro du ti va da tumul-

tuosa Bahia de Todos os Sa n tos ? Nao podemos responder, os do

cumentos nada nos dizem ( 1 0 ) .

Uma co is a porém i c e r t a , todos estes degre-

dados lamentam os sofrimentos e necessidades que passam no

Brasil e não conseguem esconder 0 profundo desejo de r e t o r n a r

ã pátria. In si st e m repetidamente no perdão e acabam, muitos

deles, por c o n s e g u i r , sobretudo quando 0 degredo é de 3 ou

5 anos. Não se adptam ã nova vida e querem v o l t a r para casa,

onde deixaram parentes e amigos. Foi 0 caso de Gaspar Clemen

te B o t e l h o , abade de São Pedro no ar cebispado de Lamego e

também n o t á r i o da I n q u i s i ç ã o de Lisb oa. Por r e v e l a r segredos

do S a n t o O f i c i o , foi preso e condenado a 6 anos para Angola .

Ouviu sua sentença na s a la da I n q u i s i ç ã o no dia 20 de dezem-

bro de 1652, mas não a c e it o u passivamente sua pena e fez pe

t i ç ã o aos m i n i s t r o s do Santo O f i c i o alegando que não tinha


25 ‫ו‬

"dentes mais que alguns d i a n t e i r o s pouco firmes e i n ú t e i s

para 0 mantimento do mar"; s o f r i a v a r i o s achaques e

nha três sobrinhas desamparadas. Por e s t a r j a ha um ano

e meio na p r i s ã o , pediu para ser levantado 0 seu .degredo

de Angola por ser um lugar "tão remoto e áspero" para po

der c ont inu ar na abadia de São Pedro da Queimada onde era

abade e caso seu pedido não pudesse ser aten di do , fosse

e le então para a clausu ra de um dos conventos da ordem de

São Bento. Os i n q u i s i d o r e s , sabe-se l ã por que, atenderam

diferentemente sua s u p l ic a e resolveram "por bem de lhe

comutar 0 d i to degredo para 0 B r a s i l " . No dia primeiro de

de outubro de 1653, 0 padre Gaspar f oi entregue ao capj^

tão da nau Nossa Senhora da Piedade de São F r a n c is c o

vier para ser levado para a Bahia.

0 nosso abade, por t e r sido n o tá

Santo U f i c i o e, portanto, conhecer de sua b u r o c r á t ic a m_i

sericõrdia, sabia muito bem que v a l i a a pena i n s i s t i r no

perdão e, depois de ser entregue ã Câmara da B a h ia , fez

outra pe ti çã o alegando que j á se encontrava há 4 anos no

degredo, contando com 0 tempo que passara na prisão antes

do julgamento e que, no B r a s i l , aleni dos seus conhecidos

achaques, padecia grande mi sé ria "por não t e r outra co is a

de que se v a l e r , mais que a l i m i t a d a esmola de sua m i s s a ".

Os m i n is t r o s da I n q u i s i ç ã o acharam por bem que 0 abade j á

havia purgado s u fic ie n te m en te suas culpas e deram-lhe 0

perdão. 0 padre Gaspar não pensou duas vezes, vo ltou logo

para 0 Reino, onde poderia dar amparo e sustentação às

suas sobrinhas ( 1 1 ).
252

Degredado para o B r a s i l , Manuel Marques

Ferreira, casado com Maria F r a n c i s c a , foi preso em 1713

por' " s e n t i r mal da nossa santa fe c a t ó l i c a e andar apar-

tado déla tendo pacto com o demonio". Conduzido pelo fa

m iliar F r a n c is c o da Costa Guimarães, f o i entregue i ca

deia do P o rt o , juntamente com Antonio da Paz e Pedro Ro

drigues, ambos de Bragança; Domingos G on çalve s, de VianaJ

Bernardo da Fonseca, de Coimbra e Manuel Rodrigues que

era soldado dos Arcos de V a l d e v i s ; todos degredados para

a B a h ia . Bento P e r e i r a , c a p i t ã o do navio que os trans po r

tou para o B r a s i l , afirmou que Ihe f o i conf iad o além dos

presos, urna c a r t a "embalada com f i o de barbante e com se

10 das armas do t r i b u n a l do Santo O f i c i o para ser entre-

gue em companhia dos d i t o s presos" ao c o m is sá ri o do San

to O f i c i o da B a h ia , Antonio P i r e s Gião. Tambem neste c^

so, sabemos que nossos degredados chegaram no B r a s i l e

aqui ou inseriram-se no mundo do tr a b a lh o como muitos o

f iz e r a m , ou seguiram 0 r i t u a l de lamentações e arrependj^

mentos, pedindo perdão para vol tar em ao Reino ( 1 2 ) .

Joaõ de F r e i t a s Trancoso era e s c r i v ã o

das f a b r i c a s de Valas de Savaterra e n at u ra l da V i l a de

Alhandra. Era casado com Magdalena F r e i r e . Condenado pe

1 0 Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o lisboeta, por t e r cometido

"0 abominivel pecado nefando" com Paulo Mendes, b a rb e i ro

de 22 anos e I n á c i o L e i t ã o de 24 anos, casado com Maria

da Fonseca, foi enviado para 0 c á r c e r e em 1645, juntamen

te com Fernão Ro i z , João Lopes, Marta Nogueira, Is ab e l,

de C a s tr o , Jerõnima Henriques e G ra c i a da Cos ta; todos


253

condenados ao degredo. João alegou e s t a r muito doente e que

com 0 embarque para 0 B r a s i l , poderia aumentar seus achaques

pois s e n t ia fo r te s dores no braço e pernas. Mas os i n q u i s i -

dores não acreditaram muito nesta h i s t 5 r i a , afin al, João

era um moço " a l t o de corpo, rosto comprido e barba p r e t a " ,

muito jovem para lamentar tantos s o fr im e nt os . Foi mandado

cumprir seu degredo no primeiro navio que fosse para 0 Br^

sil e ainda se c e r t i f i c a r a m os i n q u i s i d o r e s de que os fun

c i o n ã r i o s do Tribunal "procurassem com todo 0 cuidado que

este preso e os demais degredados que estão no Limoeiro em

barquem a cumprir seus degredos na forma das ordens dadas".

Aos 27 dias do Mes de junho de 1646, em Sa lva do r da Bahia ,

cidade ab e rt a, onde campeava com r e l a t i v a ã vontade a margj_

n a l id a d e , mas casas da Câmara, em presença do e s c r i v ã o Rui

de Carvalho P i n h e i r o , "apareceu Gaspar Luiz Sobrinho de Via

na, mestre do navio Barca de São Pedro, vindo de Lisboa pe

la I l h a da Madeira e fez entrega de um degredado, João de

Freitas Trancoso, f i l h o de Manoel F r e i t a s e de Margarida

Trancosa Soto Maior, natural de Alhandra, de idade de 28

anos, a l t o de corpo, cara comprida, que vem condenado por

seis anos para 0 B r a s i l pelo Santo Of‫ ו‬c i 0 " . Passou 4 anos na

Bahia e voltou para 0 Reino, mas com medo de ser preso no

vãmente pois sua pena era de cinco anos, a d v e r t i u ao Santo

Oficio "que ele foi ao B r a s i l cumprir seu degredo de 5 anos

(...) e porque desde que lhe leram a sentença a t i v i r para

este Reino se passou perto de s e i s anos a saber: quatro anos

e um mês de a s s i s t ê n c i a no B r a s i l como consta da c e r t i d ã o

que apresenta e um ano e s e i s meses no Limoeiro desta c o r t e


254

(...) e porque teme que a j u s t i ç a entenda como e l e , não aten

tando ao tempo em que es te ve preso no Limoeiro por não haver

embarcação para i r para 0 B r a s i l . " , pediu aos m i n i s t r o s 0 que

alegou e que declarassem por despacho 0 cumprimento dos di-

tos 5 anos de degredo. A c e r t i d ã o f o i - l h e dada e João de

Freitas permaneceu no Reino em l i b e r d a d e (13).

Dom F r a n c i s c o Manuel de Melo, f i l ó s o f o .e

poeta l u s i t a n o , nasceu em Lisboa aos 24 de novembro de 1608,

Nobre e estimado por ser uma portentosa i n d i v i d u a l i d a d e da

literatu ra portuguesa, foi e le degredado para 0 B r a s i l . No

sábado, dia 17 de a b r i l de 1655, Dom F r a n c i s c o de Melo dei^

xou Lisboa na armada do general F r a n c i s c o de B r i t o F r e i r e ,

0 qual lhe confiou 0 comando de uma pa rte de seus navios ,

"honra devida a sua capacidade e nobreza" (14). Qual f o i 0

crime do nosso estimado f i d a l g o poeta? Pura questão am or os ai ’

Dom F r a n c is c o era um amante i n v e te ra d o e conta-nos A lb e r t o

Silva que a condessa de Vila-Nova da F i g u e r o , "senhora de

muito bem f a z e r " , quem recebeu, em determinada o c a s i ã o , em

seus aposentos, a F r a n c i s c o Manuel de Melo, 0 qual ao reti_

rar-se, de n o it e a l t a , do velho s o l a r l i s b o e t a , encontrou-se

no meio da escada, com m i s t e r i o s a personagem tambem mascara-

d a . Desembainhadas as espadas, entraram logo os contendores

em r í g i d o duelo com que levou vantagem 0 namorado l e t r a d o , f e

rindo, provavelmente, 0 seu desconhecido a d v e r s á r i o que oi¿

t r o não era senão 0 pr5 prio r e i D. João IV ( 1 5 ) .

Pelos poemas e e s c r i t o s deixados, tudo leva

a c r e r que 0 famoso e s c r i t o r não admirava muito a t e r r a de

seu degredo, "Brasil a que nunca f u i afeiçoado" (16). Da


255

Bahia e s c r e v i a 0 de sterrado: "quase do outro mundo vos escre

vo, posta entre mim e vós, não s5 a A f r i c a inteira e os imen

sos mares, que dividem a Amirica da Europa, interpostos s2

lêncios, anos, e sucessos, que por la rg u ís si m o i n t e r v a l o nos

apartaram". Recorda-se dos desenfados da c o r t e com suas ac^

demias e t e a t r o s : "Tudo melhoA. olhado ago^a do, cã, dz lo n g t

da v¿da, é 4 em ¿ a l t a ocupação e não 02.¿ còcandatoòa ,

comparada com a ¿mp0A.tãnc>ca da¿ veA.dade0 que agoAa noò compz

tem". Lamenta-se de "perturbado no estudo por b a i l e s de bãr

ba ro s" , dos batuques e sambas "que desta negra gente, em fe s

ta ruda enlouquece o l a s c i v o movimento" ( 1 7 ).

Em 1658, Dom F r a n c is c o Manuel de Melo retor

nou ao Reino, masdeixou na Bahia uma f i l h a "enjeitada em Co

tegipe", consequência de sua união com Maria Ca valcante de

Albuquerque, f i l h a de Lourenço Ca valcante de Albuquerque, pr 2

mo de Jeronimo de Albuquerque e de Dona Orsula Feio de Am^

ra l, senhora do Engenho Cotegipe ( 1 8 ).

E verdade que, muitas vezes, a pena, inicial_

mente de c a r á t e r temporário, se perpetuava. Uma vez na C015

n i a , era muito d i f í c i l para 0 degredado, caso não possui^

se algum bem, conseguir a soma n ec e s s á ri a para a viagem de

volta. Quando mandado da Metrõpole, era automaticamente colo^

cado no navio quea p o r t a r i a no B r a s i l ; encarregava 0 Santo

O f i c i o de pagar as despesas da viagem, mas uma vez cumprida

a pena, era 0 réu que de v e ri a i n t e r e s s a r ‫ ־‬se e f i n a n c i a r sua

viagem de v o l t a ( 1 9 ). Mesmo se sonhava com 0 r e t o r n o , porém

i m p o s s i b i l i t a d o , 0 degredado aqui permanecia, s u j e i t o às con

t i n g i n c i a s econômicas, ã d i s t â n c i a e às d i f i c u l d a d e s de
256

tr a n s p o r t e .

Aqueles que não traziam 0 selo da perpetu^

dade em suas g u ia s , purgavam seus pecados no "fogo témpora-

r i o " da Colônia e sabiam que um dia poderiam v o l t a r para a

tão sonhada Metrópole. Muitas vezes, 0 sonho tambem se pej^

petuava e aos poucos foram esses degredados se acostumando

com a id é ia de fa ze r da Colônia sua morada perene.

Sabiam os colonos que aquele degredado ji

havia terminado sua pena? C o n ti n u ar ia e l e , es tigmatizado por

s e r, uma vez degredado, sempre degredado? Queria 0 réu re

to rn a r i Metropole para f u g i r da humilhação do degredo e

e n t r a r com a alma sana no Reino? E d i f í c i l saber quantos vie

ram, quantos voltaram e quantos permaneceram no B r a s i l .

tanda- na Colônia e esquecida a promessa "com as mãos nos'

eva ngelhos", de não " c a i r nos seus erros pecaminosos", r e i -

cidiam muitas vezes nas suas velhas práticas, e, ins erindo-

se no mundo do t r a b a l h o , aos poucos 0 estigma do degredo se

d ilu ia, perdendo-se no nebuloso v i v e r quo tidi a no impregnado

de c o n f l i t o s , r i x a s pessoais e muitas d i f i c u l d a d e s m a t e r i a i s .

Aqueles que conseguiam v o l t a r para Portu ‫־‬

gal, podiam t e r a c o n s ci ên c ia que suas almas estavam p u r i f y

cadas, mas r e i n t e g r a r - s e ã sociedade lusa era um outro di^

curso; i n s e r i r - s e novamente na comunidade era t a r e f a muito

d ifíc il, pois no p e n ite n te e nos ol ha res dos demais, e x i s t i a ,

t a l v e z , uma f e r i d a c i c a t r i z a d a , mas jamais s u f i c i e n t e m e n t e

sanada ao ponto de não d e ix ar nenhum estigma.


257

NOTAS

(01) Carta de Antonio B la s q u e s , de 10 de junho de 1557.

In; Cartas J e s u í t i c a s II. Cartas Av ul sa s . E d i t o r a da

Academia B r a s i l e i r a , Rio de J a n e i r o , 1931, pig. 17.

(02) Souza, L. de M e. 0 diabo e a t e r r a de Santa Cruz .

op . c i t . p i g . 17.

(03) ANTT. I n q u i s i ç ã o de t v o r a . Processo 5585.

(04) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Lisb oa. Processo 10336.

(05) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Êvo ra . Processo 11559.

(06) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 3239.

(07) ANTT. In q u i s i ç ã o de Li sboa. Processo 4005.

(08) ANTT. In q u i s i ç ã o de Lisb oa. Processo 4372.

(09) ANTT. I n q u i s i ç ã o de t v o r a . Processo 2382.

(10) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Evor a. Processos de Maria Dias

5525 e Inês Ramalha 4033.

(11) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Lisb oa. Processo 10793.

(12) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo 8503.

(13) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Li sboa. Processo 4350.

(14) Peixoto, Afrãnio. B r e v i á r i o da B a h i a . Rio de J a n e i r o ,

Agir, 1946 , p . 82.

(15) S i l v a , Alberto. A p rim e ir a c a p i t a l do B r a s i l , S a l v a d o r

Imprensa O f i c i a l da B a h i a , 1963, p. 115.

(16) Peixoto, A. op. c i t . p . 82

(17) Idem, p. 83

(18) S i l v a , A.op. c it. p . 117

(19) Costa, E. V. da. op. cit. p. 10


258

3.4 Os Oltlmos Degredado^ Portugueses no B r a s i l

PoK ja ò t o ò motÁ,vo0 que. me ^oKam pA,z6e,nto,0

60LL ò Z K v^ d a, qae 06 dzgKzdadoò em qae 00 K ‫־‬íu 0 pKZòoò no L ¿

moe¿A.o tznham ò id o co n d en ad o ¿ paKa 0 Pax ã e MaA.anhão òzjam

com utadoò paAa a J l k a de S a n t a CataA.¿na p t l o tzmpo que 0-4

ju Z z z 6 pa-1‫׳‬eceA. j u ¿ t o . , . [ 1 ) .

Como pode-se c o n s t a t a r , no d e c o r r e r deste

estudo, ao menos nos documentos i n q u i s i t o r i a i s , a grande

maioria dos reus condenados com 0 degredo para 0 B r a s i l fo

ra enviada para cumprirem suas penas, durante 0 s i c u l o XVII.

Foi durante este período que a Metrópole mais u t i l i z o u a

c015nia, como l o c a l de degredo para os i n d e s e j á v e i s do Re^

no. Dos 117 casos de reus degredados no B r a s i l pelo Santo

O ficio, c i t a d o s neste t r a b a l h o , apenas 13 foram enviados no

siculo XVI e somente 18 no século X V I I I ; os demais 86 fo

ram degredados no seculo X V I I , c o n s t i t u i n d o 73,5% do t o t a l .

A p a r t i r do seculo X V I I I , embora havendo

v á r i o s casos de punições que cuminaram com 0 degredo no

B rasil, as l i s t a s de Autos da fe e os processos dos réus

existentes nos c a r t o r i o s do Santo O f í c i o do Arquivo Nacio-

nal da Torre do Tombo, em L i s b o a , nomeiam prefe ren cia lme n-

te Angola ( A f r i c a ) , Cabo Verde ( i l h a Atlântica africana) ,

Mazagão ( pr a ça portuguesa no l i t o r a l a t l â n t i c o marroquino),

í n d ia e ainda os coutos m e tr op olit a n os de Castro-Marim, Mi^

randa. Guarda e o u tr o s . As ga lé s continuaram, desde 0 sec^

1 0 X V I, a c o n s t i t u í r e m punições para alguns d e l i t o s .


259

A p a r t i r de 1720, r a r i s s i m o e en co nt rar ,

ñas l i s t a s de Autos da f e , algum reu punido com o degredo

para o B r a s i l . Nao s i g n i f i c a , porem, que o degredo ñas t e r

ras b r a s i l e i r a s tenha se c o n c l u i d o ; outros documentos, fo

ra dos c a r t ó r i o s do Santo O f i c i o , confirmam que^da segunda

metade do século X V I I I ate os prim eiros anos do s i c u l o X I X ^

muitos criminosos m e tro p ol ita n os continuaram, como forma de

punição, a serem enviados para o B r a s i l .

E do dia 17 de junho de 1761, uma c a rta

de F r a n c is c o X a v i e r de Mendonça Fur tad o, tratando da vinda

de degredados e povoadores para o B r a s i l . Junt o i carta, se

guiam r e l a ç õ e s , feitas na Casa da i n d i a , dos presos e suas

fam ilias embarcados ñas "nius que se acham a p a r t i r para o

Estado do Gra o -P ar a ". Neste junho de 1761, quatro eram as

náus que t r a n s p o r t a r i am os p r i s i o n e i r o s , muitos de les acom-

panhados de suas mulheres e f i l h o s . Eis a relação:

Nau Nossa Senhora de A t a l a i a :

1 ‫ ־‬Jo se Afonso, filh o de João

2 ‫־‬ Manuel Abrundosa, f i l h o de Pedro Fernandes

3 - Manoel Rod rigues, f i l h o de F r a n c i s c o

4 ‫ ־‬José Marques, filh o de João Gomes

5 ‫ ־‬Jo s é Rodrigues, filh o de Lázaro

6 ‫ ־‬Rodrigo de Souza, filh o de F r a n c i s c o Dias

7 - Manoel M a r t i n s , f i l h o de F r a n c i s c o

8 - F i l i p e de C a st ro , f i l h o de Jo se

9 - Jo se de Matos, filh o de Manoel Fernandes Martinho

10‫ ־‬Manoel Fernandes, f i l h o de Luis

11‫ ־‬F r a n c i s c o L u iz , f i l h o de Luis Ribeiro


260

12‫ ־‬J a c i n t o Ledo, f i l h o de Manoel Gonçalves Ledo

13- Antonio Lopes, f i l h o de Manoel

14‫ ־‬Carlos J o s Í , f i l h o de Joao Rodrigues

15- Antonio Rodrigues, f i l h o de Manoel

16‫ ־‬J o i o Rodrigues, f i l h o de Manoel

17‫ ־‬J o s i Gonçalves, f i l h o de Joao

18‫ ־‬Simão dos San tos , filh o de D i o n i s i o G u e r r e ir o

19‫ ־‬Jo s é Rodrigues, f i l h o de outro

20- João de S i q u e i r a , f i l h o de João

21‫ ־‬Antonio F r a n c i s c o , f i l h o de Domingos P e r e i r a

22‫ ־‬João Rodrigues, filh o de Manoel Silva

23‫ ־‬Manoel de Souza, filh o de Custodio

24‫ ־‬Paulo da S i l v a , f i l h o de Nicólau

25- Manoel da S i l v a , f i l h o de Jo se da S i l v a

26- J o s i de Souza, f i l h o de Custodio

27‫ ־‬Pascoal José e sua mulher Luiza da Cruz

Nau Nossa Senhora das Mercês:

1 ‫ ־‬Jos é P i n t o , f i l h o de João

2 ‫ ־‬Luiz M a r t i n s , f i l h o de André

3 - Domingos, f i l h o de João

4 - Marcos, filh o de Pedro

5 ‫ ־‬Manoel Ferreira, f i l h o de F r a n c i s c o Mello

6 - Gonçalo J o s e , f i l h o de João •

7 ‫ ־‬S e b a s t i ã o Lopes, f i l h o de Manoel

8 - Bento Vaz, f i l h o do outro

9 - Manoel Antonio, f i l h .0 de Antonio Antunes

10- Jo s é F e r r e i r a , f i 1ho de Bernardo


261

‫ ו ו‬- Bernardo P i n t o , f i l h o de F r a n c i s c o X a v i e r

12‫ ־‬F r a n c is c o da S i l v a , filh o de Jo sé

13- J a c i n t o Rodrigues, f i l h o de Valentim Gaspar.

14‫ ־‬Tomas Gaspar, f i l h o de Manoel

15‫ ־‬Joaquim Antonio, filh o de João de Moura

16‫ ־‬Antonio J o s i , f i l h o de Miguel Antunes

17‫ ־‬F e l i c i a n o B a t i s t a , filh o de João

18‫ ־‬Manoel Parente, filh o de Luiz

19‫ ־‬J o s i Antonio de P a i v a , filh o de João

20‫ ־‬Jose Barbosa, filh o de G a b ri e l

21‫ ־‬Miguel da S i l v a , f i l h o de Antonio

22‫ ־‬Caetano Fur tado, f i l h o de Matias

Ñau Nossa Senhora do Cabo.'

1 ‫ ־‬João Antonio e sua mulher Eugenia Maria Joaquina e um

filho.

2 ‫ ־‬Domingos Bo te lh o e su a mulher Ventura Rodrigues de Paiva

3 ‫ ־‬Rodeiro Jos e da S i l v a e sua mulher Maria da Assunção

4 ‫ ־‬João Criso'stomo e sua mulher Luiza Inãcia

5 ‫ ־‬Antonio de Almeida e sua mulher Maria de Bessa

6 - Bento Gomes, viuvo de Teresa Pestana

7 ‫ ־‬Gregorio T e i x e i r a e sua mulher Ana Maria P e r e i r a

8 ‫ ־‬Bernardo Duarte e sua mulher Esperança das Neves

■Nau Santa Ana :

1 - Manuel Ferreira e sua mulKer M a rc e l in a Rosa

2 - Manuel Gomes Lança e sua mulher Ana Maria


262

3 ‫ ־‬Antonio Rodrigues e não lhe apareceu a mulher

4 ‫ ־‬Diogo Domingos e sua mulher Maria Luiza Fernandes

5 - Lourenço Dias Castanho e sua mulher Maria Tereza com

tris filh o s e uma f i l h a .

6 ‫ ־‬João F e r r e i r a e sua mulher Domingas F a u s ti n a com dois

filh o s.

7 ‫ ־‬Antonio José de Medonça e sua mulher Elena Maria e

um f i l h o .

8 ‫ ־‬Gonçalo Henriques, 0 qual apresentou-se v o l u n t a r i amen-

te para embarcar ( 2 ) .

Nos primordios anos do sé culo X IX , em 1801,

muitos criminosos do Reniño continuavam a serem degredados

para o B r a s i l . Numa " r e l a ç ã o dos c a s a i s que se ahcam no pre

s i d i o da T r a f a r i a em 14 de junho de 1801", t o r n a ‫ ־‬se possi -

vel i d e n t i f i c a r a seguin te lista de degredados, cujas mulhe

res se ofereceram para acompanhar seus maridos:

India: 9 casais

A n g o la : 2 casais

Santa C a t a r i n a : 2 casais

Benguela: 1 casa l

Moçambique: 6 casais

Pedras de Ancoche: 2 casais

Rio Negro: 1 c a sa l

Para: 2 casais

Rio de Sena: 1 casal

Rio Grande S . Pedro: 2 casais


2G3

Condenados para Santa C a t a r i n a , foram:Con£

ta n t i n o Gomes de Ca rv alh o, n a tu r a l da V i l a de B a r c e l o s ,

lho de Manuel Gomes de Carvalho e de J o s e f a Ter esa , 22 anos,

soldado do Regimento de I n f a n t a r i a de Viana, da companhia de

g r a n a d e ir o s . Sua mulher Maria J o s e f a Pimenta, n a tu r a l do C0£

selho de F i l g u e i r a s , ofereceu-se para acompanhar 0 marido

Constantino f o i condenado a 5 anos de degredo. Também senten .

ciado com 5 anos, Joaquim A l v a r e s , de 42 anos, casado com

Genoveva I g n i c i a de 30 anos, que acompanhou seu marido no de

gredo levando consigo sua f i l h a Joaquina Rosa de 5 anos.

Com d e s ti n o ao P a r i , dois foram os degreda

dos nesta r e l a ç ã o : Bartolomeu e João Antonio. Bartolomeu Gon

çalves, n a tu ra l do Campo de Ourique, t in h a 50 anos e era ca-

sado com Maria Ramos. Foi condenado a 5 anos de degredo, mas

foi perdoado pelo r e i e, mesmo assim, quis v ol un ta ri a m e nte

e s t a b e l e c e r - s e com sua f a m í l i a na I l h a de Joanes na c a p i t a n i a

do Parã . Sabe-se lã por que, 0 réu p r e f e r i u d e i x a r Portugal

e av e n t u ra r- se no B r a s i l que, nesta época, não era mais aque

la c o l ô n i a desconhecida e m i s t e r i o s a do século XVI. Com ele

ve io sua mulher Maria Ramos de 40 anos e t r ê s f i l h o s : Luiza,

14 anos; F r a n c i s c a , 10 anos e Joaquim de 9 anos ( 3 ) .

Em outra lis ta , podem-se i d e n t i f i c a r outros

presos da T r a f a r i a , se nt enc iad os também para a I l h a de Santa

Catarina. Entre e l e s , Jos é Joaquim Pacheco, 26 anos, casado

com Joaquina M a ri a , degredado por toda a v i d a , levando consi^

go sua mulher, "querendo e la i r “ .‫ ־‬Também com 0 se lo perpétuO;

f o i degredado L u i z , ^'0 B o n i t o " , 30 anos, n a t u r a l de Braga ,

casado com F r a n c i s c a Rosa de J e s u s . Oito anos f o i a sentença


264

co ndenatoria de Manoel Gomes, n at u ra l da I l h a do F a i a l , 60

anos, casado com Ana de F r e i t a s . Com 5 anos de degredo,ain

da para Santa C a t a r i n a , foram condenados: Antonio Jos é de

Figueiredo, filh o de Antonio Martins e J o s e f a M a ri a , natu-

ral da Freguesia de São Miguel do O u t e i ro , 40 anos, Manuel

Lourenço, n at u ra l de S i l v e s , 35 anos, casado com Gertrudes

Mar ga rid a; Antonio Nunes da S i l v a , 32 anos, filh o de Manoel

da S i l v a e Rosa Ma ri a; Joaquim Gonçalves P a r e n t e , n at u ra l

de Monsaris, 26 anos, casado com Maria do R o s á r i o , a qual

obteve permissão para acompanhar 0 marido; e, fin a lm e n te ,

Manoel Carlos Barbosa L e i t e , 30 anos, casado com Dona Rufj[

na Rosa Cabral de Quadros ( 4 ) .

Santa C a t a r i n a , Pará e Mato Grosso fo

ram os l o c a i s de maior af lu xo de degredados portugueses

neste i n i c i o de século XIX.

Em outra lista do ano de 1801, encontra-

mos os seguintes degredados: José Pedro Simões da V e i g a , 25

anos, n at u ra l de L e i r i a , " p o r toda a vida para 0 P a r ã " ; F r a n

c i s c o Cardoso de Andrade, 36 anos, casado com J o s e f a de

Santa Ana, perpetuamente para 0 Parã;com 5 anos, também p^

ra 0 P a r i , foram s e n t e n c i a d o s , Antonio Alves Povoa, 32

anos; F r a n c i s c o Nunes, 50 anos; Jo sé E s : e v e s , 33 anos; An

tonio V i e i r a Carneiro, 36 anos; F r a n c i s c o de Sousa Romano,

32 anos; Joaquim de T o r r e s , 43 anos; Joaquim Antonio do

Nascimento, 36 anos. Para 0 Mato Grosso, a r e l a ç ã o do dia

14 de junho do ano de 1801, degredou, "para toda a v i d a " ,

S a l va d o r Herculano e Jo sé Luiz Cascalho. S a l v a d o r levou con

si go para 0 degredo, sua mulher Maria J o s e f a de Jesus e


265

seus f i l h o s . Com pena e s t i p u l a d a em 5 anos, ainda para 0

Mato Grosso, foram condenados Lourenço Oose Amorim Bandei-

r a , 51 anos; Tomás Roiz B a t i s t a , 33 anos e um Joaquim, mo

ço de 21 anos ( 6 ).

Sabemos que 0 degredo para 0 B r a s i l , ne^

te e n t r a r dc século XIX, continuou a ser p r a t i c a d o pelas

autor id ade s portuguesas; os documentos, porém, não nos per

mitem saber a causa-crime e de ta lh e s geneolõgicos e da vid a

cotidiana dos réus. Mas a comutação das penas ainda p e r s i ^

tia, pois Maria Rosa, condenada em degredo para 0 P a r i , c 011

seguiu no dia 20 de junho de 1802, comutar sua pena de de

portação para no B r a s i l para a r e a l F a b r i c a de Cordoaria

de Li sboa. 0 mesmo aconteceu com Jo s é G a r c i a , condenado em

3 anos para a ín d ia e, por de cr et o do dia 12 de j u l h o de

1801, f o i - l h e comutado 0 degredo para tr a b a lh o s na mesma

f i b r i ca ( 7 ) .

Não sabemos exatamente qual fo i a data

do últ im o degredo para 0 B r a s i l . Um documento datado de 10

de a b r i l de 1820 informa-nos que F r a n c i s c o Caetano f o i "p^

ra 0 seu degredo no P a ra " e sua mulher, Luiza dos Santos ,

pediu 0 b e n e p l á c i t o de Sua Majestade e uma esmola ‫״‬para aju

dar 0 *sofrimento da penúria que lhe tem mo tivado". Ao que

tudo i n d i c a , e ste f o i um dos ú lti m o s degredados vindo para

a colônia b r a s i l e i r a . Tudo demonstra, a in da , que 0 degredo

portugués para 0 B r a s i l , terminou por v o l t a da década de

1820. Foi em 1821 que se deu a e x t in ç ã o da I n q u i s i ç ã o em

P or tu gal e a consequente e li m i n a ç ã o do Tr i b u n a l que conde-

nava muitos réus com 0 degredo na Colônia b r a s i l e i r a . Foi,


266

em 822‫ ו‬, a Independência do B r a s i l e, nesta mesma década, 0

surgimento de inúmeras l e i s , ji iniciadas desde 1808, com a

vinda de D. João VI para 0 Rio de J a n e i r o , que davam, ao

B ra sil, c re sc e n te autonomia j u d i c i á r i a . Foi de 1824, a Con^

titu ição Impe ria l que, para g a r a n t i a dos d i r e i t o s individu-

ais, entre v á r i o s princípios, e s t a b e l e c i a que ninguém podia

ser perseguido por motivo de r e l i g i ã o ( 9 ) .

Com a promulgação do CÕdigo do Processo

Criminal de 1832 e seu p re d ec es s or, 0 Cõdigo Criminal de

1830, os quais revogaram na sua quase t o t a l i d a d e 0 L i v r o V

das Ordenações F i l i p i n a s , que determinava os v á r i o s crimes

punTveis com 0 degredo no B r a s i l (10); viu-se logo que era

imensa a d i s t â o c i a deste Cõdigo Criminal para 0 " l i b e r a l i ^

simo re g in e n " do Cõdigo do Processo Criminal b r a s i 1e i r o ( l 1).

A pena de degredo p e r s i s t i u ainda durante

muitos anos em P o r t u g a l . 0 Cõdigo Penal português aprovado

em 1852 mantinha 0 degredo, porim sempre cumprido na A f r i c a ;

sobretudo em Angola. Por de cr eto do ano de 1932, f o i a pena

substituida pelo internamento em c o l ô n i a p e n i t e n c i á r i a de

regime de t r a b a lh o a g r í c o l a ( 1 2 ).

As formas de punição modificaram-se, mas

a exclusão dos elementos i n d e s e j á v e i s do corpo s o c i a l perm^

neceu na sociedade, agora com outros nomes: d e s t e r r o , expul^

são do Reino e suspensão dos d i r e i t o s po liticos (13).


267

NOTAS

(01) BA. Coleção de L e g i s l a ç ã o portuguesa desde a ultima com

p i l a ç ã o das ordenações. Redigida pelo Desembargador An

tonio Delgado d a S i l v a . L e g i s l a ç ã o de 1791 a 1801. Lis ‫־‬

boa, t i p o g r a f i a Maigrense, 1828, fo l h a s 183-184 vers o.

(02) ANTT. Manuscritos do B r a s i l . L i v r o número 51, Copiador

de Cartas Regi as .

(03) ^HU. Documentos a v u l s o s . Maços do Reino numero 2192 (nu

mero novo)

(04) AHU. Idem

(05) AHU. Idem

(06) AHU. Idem

(07) AHU. Idem

(08) AHU. Documentos Avul sos . Maços do Reino número 1992 ( nu^

mero novo).

(09) Almeida J ú n i o r , João Mendes de. 0 Processo Criminal B r a-

si 1ei r 0 . Belo H o r iz o n te , Francisco Alves, 1911, p . 151.

(10) Ordenações F i l i p i n a s , L i v r o V. op. c i t . nota e x p l i c a t i -

va de Cindido Mendes de Almeida, e d . 1870. Nota número

1, p . 1147: "Este L i v r o acha-se quase todo revogado, de

pois que foram promulgados 0 CÕdigo Criminal em 1830 e

0 CÕdigo do Processo Criminal de 1832".

Almeida J u n i o r , J.M. de. op, c i t . p. 160: por Lei de

16 de dezembro de 1830, f o i promulgado 0 CÕdigo Criminal

do Império; e na p. 164: por Lei de 29 de novembro de

1832, f o i promulgado 0 CÕdigo do Processo C r i m i n a l .

(11) Almeida J u n i o r , J. M. de. ,op. c i t . p. 168


268

(12) A r t i g o 60 do Código Penal Portu gué s, antes do de creto

Lei número 39688 de 5 de junho de 1954.

( 1 3 )‘ A r t i g o s 55, 56, 60 e 62 do Código Penal e, a r t i g o s 631

e 632 do Código de Processo Penal portugués.


269

4. CONCLUSÃO

"Fui j ã d e s t e r r o para os Culpados"

O¿ dzgxídado¿, c u ja pA.e0enç.a tão ^ zp z tid a p£

d^Ka cauòaA maioKdò Kz0Q.K\}a0, znt^am aq u i, p o te n c ia lm e n te ,

tanto como etementoó n eg a tivo ¿ ou pe^tuKbadoKeò, que a hi0

tÕ Kia não deve o m itiu , como conòtKutivoò que também 04 hou

ve. Wa ‫׳׳‬lecepção de Liòboa, em 15S1, a E i - R e i V. F e lip e , 0

Bn.a0i¿ {¡oi ■
òimbo ticam en te Kep^eò entado pon. uma ^igun,a ¿emi

nin a, tendo a mão uma cana de açãcan. com uma inò cKição em

que diz '' f u i deòteA.A.0 pa/ia 06 c u l p a d o ¿ " . 0 ¿enhon. de enge

nho B^andônio {¡ala doò degn.edado0 que den.am em òen. Kicoò e

cujoò iilh o ò deòpifiam a p ele v e lh a . Um manuòcKito de 16T 0 ,

in Hakuvt, chama João P a i ò , 0 maiò Kico ¿enhoK de engenho

da época. " E x l i d out o{¡ P o r t u g a l" (I).

Domingo, 13 de f e v e r e i r o de 1667: dos cãrce

res da I n q u i s i ç ã o , acompanhados dos m i n i s t r o s e fam iliares

do Santo O f i c i o , saíram em p r o c i s s ã o solene e pomposa, os

278 réus condenados pelo Tribu nal da I n q u i s i ç ã o do Santo

O f i c i o de Coimbra.

Na v és p e ra , ainda antes da meia n o i t e , foi

entregue ao a l c a i d e , uma l i s t a dos condenados para que os

p e n it e n ci ad os fossem colocados em ordem ( 2 ) . De acordo com

cada uma das acusações, foram os reus preparados desde as

p ri m e i r a s horas da manhã do domingo: alguns vestiam 0 hã

bito p e n ite n c ia l, outros levavam mordaças, carochas e ve


270

l as acesas na mão. Em f i l a deixaram o c á r c e r e , por detrá s

do capelão que l e v a n ta v a o c r u c i f i x o nas mãos e acompanha

dos pelos r e l i g i o s o s que lhe a s s i s t i a , iam os relaxados ^

os q u a i s , durante 0 Auto da f é , seriam condenados ã fo

guei ra (3 ).

Dos acusados, 134 homens e 130 mulheres^

cin co eram j á d e fu n to s , mortos na p r i s ã o durante a trami^

tação dos longos processos que, às vezes, podiam durar

anos a f i o . Nove p e n it e n te s foram entregues ã J u s t i ç a se

c u l a r para serem queimados v i v o s ; a grande maioria foi

condenada ao c á r c e r e e ao hábito p e n i t e n c i a l perpetuo ou

temporário, conforme a r b í t r i o dos i n q u i s i d o r e s . Foi uma

grande cerimonia e do séqu it o que reuniu mi lha res de pe£

soas na praça de Coimbra, sairam 33 r i u s condenados ao de

gredo: se te para as galés r e a i s , quatro para a A f r i c a ,

tr ê s para 0 couto de Castro-Marim, mas dos condenados ao

degredo, a grande m a io ria foi para as t e r r a s do B r a s i l (4 ),

P u n ir d e l in q u e n te s m e t r o p o l i t a n o s , de^

pejando-os no B r a s i l , era pena p r e v i s t a nas l e i s portugue

sas desde as Ordenações F i l i p i n a s de 1603 e re fo rç a da s no

Regimento da I n q u i s i ç ã o de 1640. Os crimes eram tão v a r i a

dos quanto as p r o f i s s õ e s e ao n í v e l social dos réus. Dio

go Pacheco de Mendonça, por exemplo, era almotacel e

juiz dos D i r e i t o s r e a i s , t i n h a 35 anos e f o i condenado a

7 anos de degredo para 0 B r a s i l , ‫ י‬por mandar f a z e r desa-

catos e i r r e v e r ê n c i a as cruzes de C r i s t o com fim de as

imputar as pessoas i ni m ig as e ino ce nte s para que sendo pre


27 ‫ו‬

sas e cas tigadas f i c a s s e vingado" (5).

Maria Jo ão , mulher do pescador Manuel Miquens,

recebeu açoutes e 3 anos de degredo, também para 0 B r a s i l , so

mente "por af ir ma r d ia nt e de algumas pessoas que os m i n i s t r o s

do Santo O f i c i o usavam mal nos c ár cer es das presa s, tr a ta nd o

para is so fossem as mais formosas e pa re ci da s" ( 6 ).

Muitos eram simplesmente c r i s t ã o s - n o v o s , segu2

dores da l e i de Moisés que esperavam s a lv a r - s e n e l a , guardaji

do e vestindo nos sábados, camisas canadas e os melhores ve^

tidos, jejuavam em c e r t o s dias e não comiam carne de p o r c o , l e

bre e peixe de pele.

Neste Auto da f é , para 0 B r a s i l , foi condenada

toda a f a m í l i a do l a v r a d o r Nicolau Denis, do lugar de Sogim ;

sua mulher Ana de Gouveia e seus f i l h o s Manuel Denis, também

lavr^d or e B r i t e s Mendes que além do degredo de 3 anos, rece^

beu hábito p e n i t e n c i a l perpétuo sem remissão. Outros cri£

tãos-novos foram punidos ju n to com a f a m í l i a do l a v r a d o r jiJ

daizante: Fr an cis co I s i d r o , r e n d e i r o ; João da Fonseca, que vj[

v i a de sua fazenda; Domingos Fernandes L u iz ; Manuel F r a n c i s c o ;

Manuel Pinto; Ana Cardosa, que era s o l t e i r a , filh a de Antonio

Cardoso; B r i t e s Cardosa, casada com 0 também mercador André

Lopes, do lugar de Trancoso; B r i t e s Roi s, natu ral da V i l a do

C ovi lhã o, condenada em 5 anos de degredo. Todos eles destina

dos ao longínquo d e s t e r r o do além-mar, nas t e r r a s b ra sile ira s.

Este Auto da fé durou 3 d i a s . Os dois


272

primeiros foram r e a l i z a d o s no ca d af a ls o erguido na praça de

Coimbra sendo pregador 0 Padre Manuel F ran c is c o Domingos de

Freire. No t e r c e i r o d i a , 0 ritual f o i muito mais d i s c r e t o , a

leitura das sentenças celebrou-se na capela-mor de Santa

Cruz da cidade de Coimbra.

Após 0 Auto, os condenados à prisã o e de

gredo, foram presos novamente para que no dia seguinte pij

dessem f a z e r 0 juramento de segredo do que viram e ouviram

nos c á r c e r e s e na Mesa do t r i b u n a l . Aqueles condenados em

açoutes, foram levados pelas ruas costumadas onde f o i exe

cutada a punição; os degredados foram levados a cadeia pú^

b l i c a para d a l i serem conduzidos pelo meirinho a i g r e j a 0£

de se f a r i a 0 ensinamento dos m i s t é r i o s da f i e depois de

i n s t r u í d o s foram mandados para a cadeia da c o rt e com preca-

t õ r i o do j u i z dos degredados onde estava declarado 0 degre

do a que foram condenados ( 7 ) .

Este f o i apenas um dos muitos Autos da f i

que condenou inúmeros réus com 0 degredo para 0 B r a s i l . De£

de a i n s t a l a ç ã o do Santo O f i c i o zm Portugal em 1536 e, mais

e s p e c i f i c a m e n t e , a p a r t i r do primeiro Auto de 1540 ,centenas

de réus foram sentenciados à e xpa tr iaç ão e confinados nas

t e r r a s c o l o n i a i s do B r a s i l .

0 Antigo Regime u t i l i z o u amplamente do

degredo como mecanismo de normatização s o c i a l . Ao lado dos

hospícios, orfanatos, hospitais, trabalhos forç ad os, 0 de

gredo p o s s i b i l i t o u uma maior harmonização da sociedade euro

peia, expulsando da Metrópole os elementos cuja permanência

f o i j ulg ada i n c o n v e n i e n te , t ainda no Antigo Regime que " a


:73

pratica p o lític a levada a cabo pelo estado a b s o l u t i s t a mu2

tas vezes se somava a ação i n q u i s i t o r i a l . No seculo X V II

portugués, nota-se assim a co n fl u e n c i a da ação do Estado e

da In q u i s i ç ã o no sentido de purgar a Metropole de suas ma

zelas, povoando, ao mesmo tempo, a c o lô ni a b r a si 1 e i r a ” ( 8 ).

Importante neste estudo f o i penetrar nos

documentos h i s t ó r i c o s que nos p e r m i t i u , at ra vé s da dinami-

cidade que deles emanam, podir conhecer o v a s tí s s im o movi_

mentó psíq uico e quotidiano do v i v e r doméstico do povo l£

s i t a n o que aqui chegou a p a r t i r do século XVI. Desses v£

r i o s documentos, copiosos e i n s t r u t i v o s são aqueles que

compõem toda a cronologia l e g i s l a t i v a dos séculos de domi-

nio portugués no B r a s i l e os val io si s si m os processos, li_

vros de denuncias, l i s t a s de Autos da f é , r e g i s t r o s de a^

sentos, cadernos de contas e todo o conjunto que forma o

panorama ampio da vida quotidiana na época do descobrimen-

to do B r a s i l até o e n t r a r pelo século XIX.

A b r i r um processo i n q u i s i t o r i a l que cul_

mina com o degredo no B r a s i l , significa revelar^com poten^

te c l a r ã o , a mentalidade do homem comum do século XVI e

desvendar os costumes da época e das pessoas que seriam o

a l i c e r c e de uma nova formação é t n i c a .

As l i s t a s dos Autos da fé e os processos

inqui si t o r i a i s , com seus bigamos, f e i t i c e i r o s , visionarios,

c u ra n d e i r o s , sodomitigos, falsario s e simples j u d a i z a n t e s ,

são os f i o s que quando colocados ju n to s formam uma grande

rede, i s vezes c o n t r a d i t ó r i a e confusa, mas que, sem dúvi-

da, r e v e l a o painel da vida i n f e r i o r borbulhante no sub-so


274

10 da so c ie d a d e .

Procurei, na medida do p o s s í v e l , enfoc ar

os mecanismos mentais do v i v e r doméstico que interromperam

bruscamente a vida desses J o ã o s , Diogos, Pedros e Manueis

que, i s vezes, traziam nomes de f a m í l i a s nobres, t a i s como

Borges da Câmara ou Albuquerque e eram qualificados de

"Dom", cujo a p e l a t i v o demonstrava sua "mor q u a l i d a d e " . Mas

na maioria dos casos, eram mesmo gente simples que possuíam

p i t o r e s c a s alcunhas: "0 c ob r a ", "a c a v a l a " , "0 c i g a n e t e " ,

que não escondiam suas condições de povo rude, desconheci-

dos camponeses, artes ãos e domésticas; ou pias mulheres que

acrescentavam, em seus nomes, aqueles dos santos para asse

gurar a re la çã o e x p H c i t a com 0 sagrado: Luzia de Santo Aii

to n i o . Madalena de São J o s é , Maria do E s p i r i t o Santo.

0 degredo, enquanto exclusão s o c i a l , faz

parte da h i s t ó r i a do homem desde as p r i m i t i v a s sociedades.

Com 0 sistema c o l o n i a l , ganhou novo s i g n i f i c a d o ; podia ame

n i z a r os desa just es s o c i a i s m e t r D p o li ta nos, excluindo 0

contingente populacional indesejável e contribuia efetiv^

mente com 0 povoamento, podendo miiitas vezes, oferecer ao

degredado sua inserç ão na ordem produtiva da Col5nia.

Acusada de judaísmo, her es ia e falsidade^

Isabel Marques, f i l h a de Manuel Fernandes e Maria Gomes ,

foi presa aos 3 de novembro de 1640 quanto tinha apenas 17

anos. Natural da cidade de Faro, rt-gião do A lg ar ve , fora

presa pela I n q u i s iç ã o de t v o r a quando morava na cidade de

Loulé. Sua irmã Susana de Sousa e sau primo F ra n c is c o Go

mes, também presos nos c á rc er e s da I n q u i s i ç ã o , acusados de


275

judaismo, foram constrangidos a d e n u n c i i - l a juntamente com

dezenas de outros p a re n te s . I sabei f i c o u 4 anos na pr is ão

aguardando 0 seu julgamento e, por t e r confessado suas cu^

pas, l i v r o u - s e dos tormentos "com dois t r a t o s e sp e rto s"

com os quais tinha sido sentenciada em 22 de junho de 1644

por testemunhar falsamente contra seus t i o s Antonio Valarj^

nho, Bartolomeu Va la ri n ho , Manuel Ramos e Mécia Esteves

Saiu no Auto público da f e , no mês de agosto de 1644. Além

de t e r todos os bens c o n f i s c a d o s , fo i açoutada pelas ruas

pú bl ica s de í v o r a e caminhou para 0 Auto com carocha e rõ

t u lo de f a l s a r i a . Concluindo sua punição, f o i ainda conde

nada a s o f r e r degredo de 7 anos no B r a s i l (9).

Numa ipoca em que a Europa, centro da c u l t £

ra C r i s t ã , era representada "com vestes de soberana, com

coroa e cetro segurando 0 globo i m p e r i a l " ( 1 0 ), n í t i d a ale

goria de sua superioridade 0 domínio; 0 B r a s i l era uma sim

pies mulher que t r a z i a na mão toda a sua riq u ez a : a cana ‫־‬

de- açúcar com 0 d í s t i c o que re ve l a v a c r i s t a l i n a m e n t e a Co

lô n i a ccmo lo cal de degredo para os condenados.

A nossa Is abe l Marques, menina do Algarve ,

representa uma das ta n t is s i m a s personagens até então e^

quecidas nos arquivos da memoria h i s t ó r i c a mas, ao seu 1^

do, centenas de outras pessoas degredadas para 0 B r a s i l ,

confirma que a i n s c r i ç ã o r e f e r e n t e ã Colônia B r a s i l e i r a 0

presentada ao re i D. F e l i p e , no i n T c i o do domínio espanhol

sobre 0 Reino Luso, não f o i apenas um d e s f i l e de f a n t a s i a s

ou mera a l e g o r i a para d i v e r t i r os c o r t e s ã o s , mas a personj[

f i c a ç ã o rea l da Colônia naquele quase f i n a l de século XVI:

promissora produtora de açúcar e d e s te r r o para os culpados.


276

NOTAS

(01) Documentos para a H i s t o r i a do Açúcar ( L e g i s l a ç ã o 1534•

1596). Ex p lic açã o de G il de Methodio Maranhão. Insti-

tuto do Açúcar e A l c o o l . Serviço especial de documen-

tação h i s t ó r i c a . Volume 1. Rio de J a n e i r o . 1954. pãg.

XV.

(02) Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o dos Reinos de

Portugal, ordenado por randado do Ilmo. e Rmj). Senhor

Bispo Dom F ra n c is c o de C a st ro , I n q u i s i d o r Geral do

Conselho d ' E s t a d o de S. Majestade. Em Li sb oa , nos E£

tados, por Manoel da S i l v a , 1640. T i t u l o XXI I do Li_

vro I I : "De como se hão de di sp or as cousas necessary

as para o auto da f e , e da ordem que nele se hã de

gu ar d ar ''.

(03) !dem.

(04) ANTT. Conselho Geral do S 3 nto O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de

Coimbra. L i v r o 433.

(05) ANTT. Conselho Ge ral do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de

Coimbra. L i v r o 433 e Processo de Diogo Pacheco de Men

donça. Número 6963 da I n q u i s i ç ã o de Coimbra.

(06) ANTT. Conselho Geral do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de

Coimbra. L i v r o 433 e Processo de Maria Jo ã o , número

16724 da I n q u i s i ç ã o de Coimbra.

(07) ANTT. A r e la ç ã o dos r i u s condenados neste Auto da fé

en c on t ra‫ ־‬se no L i v r o 433 do Conselho Geral do Santo

O f i c i o de Coimbra. Na r e l a ç ã o consta que F r a n c is c o de

Paria, n at u ra l de A v e l a r , foi condenado em 3 anos de


277

degredo para o B r a s i l , mas v e r i f i c a n d o o seu processo

de número 8992, c o n s t a t e i que seu degredo f o i para a

A frica. O mesmo se procede com Ca tar ina F r a n c i s c a , Fe

l i p a Rodrigues e F i l i p a , "a dura" de alcunha, todas

segundo a l i s t a , condenadas em degredo para o B r a s i l ,

mas de acordo com os processos não foram degredadas.

(08) Souza, Laura de Mello e. In: I n q u i s i ç ã o e Degredo,

(exemplar mimeografado).

(09) ANTT. I n q u i s i ç ã o de Evora. Processo número 9106.

(10) Le G o f f , J . (ccord.) Memoria: H istoria. In: Romano,

Ruggiero, d i r . E n c i c lo p e d i a Einaude. Vol. I. Po rto .

Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1984. p. 181


278

APENDICE

Relação dos presos que por ordem de sua A lteza R e a l , o Prin

cipe Regente Nosso Senhor, se remeteram ao p r e s i d i o da Tra^

faria para bordo do navio M a ri a l v a para no mesmo serem

transportados a cidade do Rio de J a n e i r o e de la aos degre

dos que a margem aos seus assentos se faz menção, cujo em

barque se fez em o dia 18 de a b r i l de 1802:

10 anos para o p r e s i d i o de Ancoche, Reino de Angola:

Joaquim Jerónimo, a l i a s Joaquim Geraldo, de alcunha o Catj^

ta, f i l h o de Antonio R i b e i r o e de D io n i s ia Caetana, n at u ra l

de Lisb oa, 40 anos.

Toda a vida para Angola:

Manoel Jose da S i l v a , f i l h o de o u tr o , e de Marcelina Duarte

natural de Guimarais, 25 anos.

6 anos para Angola:

João Nunes, viúvo de Rosa Maria, n atu ral da V i l a dos Açores^

25 anos.

5 anos para a Il h a de Santa C a t a r in a :

José Bento Roiz, f i l h o de Bento Roiz e Isabel Roiz, n at u ra l

de Lamas de Pódense, Bispado de Bi^agança, 35 anos.

5 anos para o Rio de São Pedro:

José Martins Leão, casado com Ana P e r e i r a , natural de Campo

Maior, 38 anos.

São cin co . Presidio trafaria. 20.04.1802.

(Fo nte : AHU - Maço do Reino 2192).


279

Relação dos presos que se acham no p r e s i d i o da T r a f a r i a ,

prontos para embarcarem nos navios da Armada Re a l , por

serem m a rin h ei ros :

4 anos para a in d ia :

José das Dores Gomes, f i l h o de Jo s é Gomes e Ana Joaq uin a,

natural de Faro , 26 anos.

4 anos para a in d ia :

Cipriano Theotonio, f i l h o de Joao Vaz Caldas e de Ana Fran

cisca. Natural do P ort o, 21 anos.

10 anos para Angola:

F ran c is c o Antonio M a r t i n s , casado com Maria J o s e f a , natural

de Se tuba 1 , 28 anos.

5 anos para o Para:

Antonio Alvarez Povoa, f i l h o de Manuel Alvarez Povoa e de

Gertrudes Ma ria, natural da cid3de do P o r t o , 32 anos.

10 anos para a fndia:

Carlos José P e r e i r a , filh o de F r a n c i s c o Jo s é e d e A n a Joaqui_

na, n at u ra l de Lisboa, 19 anos.

5 anos para o Rio Negro:

João Roi z, casado com Maria P e d r o ;a , que diz ser Mauricia

Pedrosa, natu ral do Bispado d ' A v e i r o , 30 anos.

São s e i s . P r e s i d i o de T r a f a r i a , 20.05.1801.

(Fonte: AHU ‫ ־‬Maço do Reino 2192).


280

Resumo dos soldados arregimentados e presos de levas e c£

sais que se acham no p r e s i d i o da T r a f a r i a :

Para 0 estado da í n d ia :

soldados arregimentados.......... 5

presos de levas ...........................19 24

Para a Praça de Moçambique:

soldado arregimentado................ 1

presos de l e v a s ............................ 2 3

Para os Rios de Sena:

preso de 1e v a ................................ 1 1

Para 0 Reino de Angola:

soldados arregimentados ........ 2

presos de levas .......................... 1 6

Para as Pedras d'Ancoche:

soldados arregimentados .............2 2

Para 0 p r e s i d i o das Pedras d'Ancoche:

presos de levas ............................. 2 2

Para as Minas de f e r r o de Angola:

presos de 1e v a c ............................... 3 3

Para as galés de Angola:

preso de leva ................................1 1

Para a I l h a de Santa C a t a r i n a :

presos de 1e v a s ............................... 9 9

Para 0 Pará:

soldado arregimentado ................. 1

presos de l « v a S ............................... 9 10
28‫ו‬

Para o Mato Grosso:

presos de 1eva5..............................5

Para o Rio Negro:

presos de levas ............................6

Para a I l h a de Cabo Verde:

preso de leva ................................ 1

Para Cacheu:

preso de leva ................................ 1

Para B issau:

presos de l e v a s ..............................2

76
Ca sa i s :

29 que compreendem 89 pessoas. 89

total 165

Obs erva çõ es :

No dia da data deste, fo i remetido para a cadeia do Limoej^

ro, 0 preso Jos é Valentim F e r r o , sentenciado por 5 anos p^

ra 0 Reino de Angola, por lhe haver S . A . R . perdoado 0 d i t o

degredo. No mesmo dia fo i remetido para a Real F áb r ic a da

Cordoaria da Junqueira , 0 preso Gonçalo J o s i , sentenciado

por toda a vida para 0 Rio Grande de São Pedro, por lhe h^

ver 0 mesmo Senhor, comutado 0 d i t o degredo para 0 tr ab alh o

da r e f e r i d a Real F a b r i c a : ambos p3r Aviso da s e c r e t a r i a d'

Estado dos Negocios da Marinha e Domínio Ul tr a m a r in o , com

data de onze do c o r r e n t e .

P r e s i d i o da T r a f a r i a , 17 de junho dt 1801.

(Fonte: AHU-Maço do Reino 2192).


282

INQUISIÇÃO DE LISBOA

Listas das pessoas condenadas com 0 degredo para 0 B r a s i l

que ouviram as suas sentenças no Auto da fé celebrado no

Terreiro do Paço de Lisboa, en 4 de a b r i l de 1666.

Afonso R i b e i r o , 40 anos, c r i s t ã o - n o v o , que fora mercador de

Ei vas e morador em Lisb oa; r o c o n c i l i a d o no auto da f i que

se c e l e b r a r a nesta cidade em 11 de outubro de 1664, tinha

sido preso segunda vez e ou vir a sentença no Auto de 29 de

outubro de 1656, sendo então condenado a c á rc e re ehabito

penitencial perpetuo sem remissão, e degredado por o i to anos

para as g a l é s , sendo estes comutados para 0 Estado do Bra ‫־‬

s i l ‫ ן‬fora preso uma t e r c e i r a vez por não t e r acabado de

cumprir este degredo.

SENTENÇA: degredado para 0 B r a s i l , pe10 tempo que lhe f a l t ^

va cumprir a sua pena.

Constança Vaz, 31 anos, c r i s t ã - n o v a , mulher de B a l t a z a r Co^

lho, mercador, natural de Extremoz e moradora em Lisboa; re

c o n c i l i a d a em 21 de j a n e i r o de 1664 e presa segunda vez por

culpa de ‫ ״‬r e l a x i a " .

SENTENÇA:2 anos de degredo para 0 B r a s i l .

V i o l a n t e de Azevedo, 35 anos, parte de c r i s t ã - n o v a , s o l t e i -

r a , filh a de Antonio de Codonergua . n a tu r a l e moradora em

Vila Viçosa.

SENTENÇA: 3 anos de degredo para 0 B r a s i l .


283

Gracia de Matos. 53 anos, c r i s t a - n o v a , mulher de Manuel Lo

pes Mo sca te l, c o n t r a t a d o r , natural de Campo Maior e morado

ra em Lisboa.

SENTENÇA: 3 anos de degredo para o B r a s i l .

Branca S o a re s , 43 anos, crista-nova, t e n d e i r a , mulher de

Henrique Lopes que fora a l f a i a t e , n atu ral de Montalvio e

moradora em Lisboa.

SENTENÇA: 3 anos de degredo para o B r a s i l .

Antonio de T o rre s , 20 anos, meio c r i s tão-novo, so lte iro ,

"soldado de c a v a l o " , f i l h o de Claudio T e i x e i r a , tenente de

uma "companhia de c a v a l o s " , n atu ral e morador na V i l a de

Cabeço de Vide.

SENTENÇA: 5 anos de degredo para o B r a s i l .

Maria de C o n t r e i r a s , 23 anos, com parte de c r i sti-nova ,soj^

teira, filh a de Lourenço de C o n tr e ir a s de S e i x a s , que v i v i a

de sua fazenda, n at u ral de V i l a Je Monsarraz e moradora em

Li sboa.

SENTENÇA: 5 anos de degredo para o B r a s i l .

Maria de Andrade, 48 anos, c r i s t a - n o v a , mulher de F r a n c i s c o

de Almeida, n at u ra l de S e v i l h a e moradora emLisboa.

SENTENÇA: 5 anos de degredo para o B r a s i l .

Diogo Rodrigues Pacheco, 34 anos, c r i stão-novo, t r a t a n t e ,

Papio de alcunha, Natural e morador da Guarda.

SENTENÇA: 5 anos de degredo para o B r a s i l .


284

Maria S o a re s , 20 anos, c r i s t ã - n o v a , mulher de Fernio Guter

re s , mercador, n a tu ra l de Lisboa.

SENTENÇA: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Simoa de Febos de Vasco nce los, 39 anos, parte de c r i s t ã ‫ ־‬no

v a , mulher de Rodrigo de Andrade, o "Chilendrao" , v i v i a de

sua fazenda, n at u ral e morador na Guarda.

SENTENÇA: 7 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Fonte: ANTT, L i s t a s de Auto da f é . Conselho Geral do Santo

O ficio, L i v r o 435. I n q u i s i ç ã o de Lisboa.

Observação: Neste Auto da f i , foram sentenciados 34 homens

e 35 mulheres, alem de mais 10 réus relaxados em carne.

Os degredos eram assim d i s t r i b u í d o s :

B r a s i l ............................. 12 ( c i t a d o s no documento acima)

Angola ........................... 1 (Maria de Macedo, 24 anos, v i s i o n a

ria).

Castro-Marim .............. 1 ( C a t a r i n a da S i l v a , 26 anos, f e i t 2

c e i r a ).

Galés ............................. 1 (Manuel Gaspar, 39 anos, bígamo)

Os demais foram condenados ã c á r c e r e e habito , segundo arbi

t r i o dos inqui si dor es .


285

INQUISIÇÃO DE COIMBRA

L i s t a de pessoas condenadas com 0 degredo para 0 B r a s i l que

ouviram suas sentenças no Auto da fé r e a l i z a d o na cidade de

Coimbra, no dia 19 de dezembro de 1599.

Isabel Ferreira, cristã-nova, viúva de Antonio F e r r e i r a de

Bragança, r e c o n c i l i a d a no Auto da fé do dia 8.10.1595, pre-

sa segunda vez, acusada de f a l s á r i a .

SENTENÇA: 4 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Brites Cardosa, c r i s t ã - n o v a , mulher de B a l t a z a r Rodrigues

Ga rc ia, falsá ria .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Catarina Rodrigues, c r i s t ã - n o v a , mulher de F ra n c is c o G a r c i a ,

natural de Bragança.

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Maria Gonçalves, c r i s t ã - n o v a , mulher de Gaspar F e r r e i r a , n a -

t u r a l de Bragança, falsá ria .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Mana Rodrigues, c r i s t ã - n o v a , viüva de F r a n c is c o Gonçalves,

fa lsá ria .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Maria Lopes^ c rist ão- nov a , viúva de Diogo Rodrigues, f a l s a

ria .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 D r a s i l .


286

Catarina G i l , c r i s t i ‫ ־‬nova, mulher de João Rodrigues, mari-

n h e ir o , natu ral de Torre de Moncorvo, fa lsá ria .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

F ran c is c a Rodrigues, cristão-nova, reconciliada no ano de

1595, presa segunda vez, falsá ria .

SENTENÇA: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Florença de Castro, c r i s t ã - n o v a , mulher de Manuel de Leão,

reconciliada no ano de 1595, presa segunda vez, f a l s á r i a .

SENTENÇA: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

F r a n c is c a Gonçalves, c r i s t ã - n o v a , mulher de João Vaz, nat^

ral de Bragança, reconciliada no ano de 1595, presa segun-

da vez, falsária.

SENTENÇA: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Filipa Braga, cristã-nova, n at u ra l de Bragança, reco n cilia

da no ano de 1595, presa segunde vez, falsá ria .

SENTENÇA: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Is ab e l Alvares, c r i s t ã - n o v a , mulher de Dini s Fragoso, f a l -

sá r i a .

SENTENÇA: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Is ab e l do C a r r i ã o , c r i s t ã - n o v a , mulher de Domingos de Sa ,

r e c o n c i l i a d a em 1595, fa lsá ria .

SENTENÇA: 10 anos de degredo para c B r a s i l .


287

Maria de Crasto, c r i s t ã - n o v a , viú va de Tomé A l v a r e s , presa

segunda vez, f a l s á r i a .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Micia de Crasto, c r i s t ã - n o v a , mulher de V a l h a d o l i d , presa

segunda vez, f a l s a r i a .

SENTENÇA: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Fonte: ANTT. L i s t a s de Autos de f i , Conselho Geral do Santo

O ficio, livro 433, I n q u i s i ç ã o de Coimbra.

Observação: Neste Auto ca f é , foram sentenciados 48 homens,

44 mulheres, mais 2 relaxados em carne e 5 em e s t a t u a s .

Os degredos foram assim d i s t r i b u í d o s :

B r a s i l ........................ 15 (citados no documento acima)

Castro-Marim .......... 7

Galés ........................ 20

Os demais foram sentenciados ã c á r c e r e e hábito p e n i t e n c i a l

segundo a r b í t r i o dos i n q u i s i d o r e s .
288

inq uisiçã o de ÍVORA

L i s t a s das pessoas acusadas de bigamia, condenadas pelo San

to O f i c i o da I n q u i s i ç ã o de Evora com o degredo para o B r a s i l

Nome: Clara Afonso

A . f !7 18.04.1660

Sentença: Degredada para o B r a s i l e açoutada pelas rúas pú-

b l i cas .

Nome: Is ab e l A lv a re s

A . F . : 01.04.1629

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l . A re f a l e c e u na

cadeia antes de i r cumprir seu degredo.

Nome,: Ca ta rin a Dias

A.F.: 29.10.1689

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l e f a z e r vida com o

seu prime iro marido.

Nome: Ap015nia F e rn an d es

A.F.: 16.06.166 9

Sentença: Açoutes e degredo de 5 anos para o B r a s ‫ ו‬l .

Nome: B r i t e s Fernandes

A .F.: 22.06.1608

Sentença: 6 anos de degredo para o B r a s i l , onde f a r i a vida

com seu p ri m e ir o marido.


289

Nome: Catarina Fernandes

A . F ‘.: 08.08.1 599

Sentença: degredo de 5 anos para o B r a s i l e f a z e r vida com o

seu leg itimo marido.

Nome: Diogo Fernandes

A.F.: 12.11.1570

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l

Nome: Guiomar Fernandes

A.F. : 30.06.1 630

Sentença: Abjuração de l e v e , a ç o i t e s , degredo de 5 anos para

o Brasil e fa z e r vida com o prime ir o marido.

Nome: Maria Fernandes

A.F. : 28.1 1.1 621

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l

Nome: F ra n c is c a Gomes

A .F.: 16.10.1667

Sentença: Açoites e degredo de 5 anos para o B r a s i l .

Nome: Ana Lopes

A . F . : 22.06.1608

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l e fa z e r vida com

o seu leg itim o marido.


290

Nome: Ana Martins

A .F.: 667‫ ו‬6 . ‫ ו‬0 . ‫ו‬

Sentença: 6 anos de degredo para o B r a s i l .

Nome: Inés Martins

A .F.: 1670

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l , os quais foram

comutados para o Alg arv e.

Nome: Isa be l M a r t i n s , a " B e l o r i n a "

A.F.: 21.09.1 670

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l , comutado poste

riormente para Castro-Marim.

Nome: Inês Mendes

A.F.: 06.05.1657

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Nome: Maria Mendes

A .F.: 15.02.1682

Sentença: 6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Nome: Catarina Nunes

A . F . : 19.10.1625

Sentença: 5 anos de degredo para c B r a s i l .


29‫ו‬

Nome: F i l i p a Nunes

A .F:: 25.03.1635

Sentença: açou tes, 6 anos de degredo para o B r a s i l e viver

com o primeiro marido depois de cumprido o degre

do.

Nome: Isabel P ir e s

A .F.: 12.05.1560

Sentença: 30 a ç o i te s e 3 anos de degredo para o B r a s i l . Em

9.12.1561, f o i mandado s o l t a r a r i para f a z e r vida

com o leg itim o marico.

Nome: Maria R i b e i r a

A .F.: 02.03.1586

Sentença: 6 anos de degredo para o B r a s i l , o qual foi com^

tado para Castro-Marim.

Nome: Antonio Rodrigues

A .F.: 30.06.1555

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l .

Nome: Joana Rodrigues

A .F.: 16.04.1669

Sentença: a c o i t e s e 5 anos de degredo para o B r a s i l .


292

Nome: João Rodrigues

A .F.: ouviu sua sentença na Mesa do Santo O f i c i o em 22.11

1654.

Sentença: 4 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Nome: Maria Rodrigues

A.F.: 14.05.1623

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l

Nome: Maria Rodrigues (ou Fernandes)

A.F.: 09.06.1602

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l

Nome: F ran c is c a Serrão

A .F.: 10.07.1588

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l

Nome: Ana da S i l v a

A .F.: 26.11.1673

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l

Nome: Barbara Va 2

A.F.: 16.06.1669

Sentença: 5 anos de degredo para 0 B r a s i l

Nome: Ca ta rin a Vaz

A.F.: 26.06.1669

Sentença: 5 anos de degredo para 0 S r a s i l , os quais foram

comutados para B e i r a .
293

Nome: Maria Velez

A .F.: 25.04.1717

Sentença: 5 anos de degredo para o B r a s i l , os quais foram

perdoados.

(*) A.F. = Auto da F i

Fcnte: ANTT. L i s t a s das pessoas condenadas pelo Santo OfT

cío da I n q u i s i ç ã o de t v o r a .
294

Sentença no processo de Paulo Lourenço, natural e morador

da f r e g u e s ia de Santa Maria de A g r e la , termo da v i l a de

Caminha, arcebispado de Braga. Fe iticeiro sentenciado com

6 anos de degredo para 0 B r a s i l .

Acordam os i n q u i s i d o r e s . Ordinário e d£

putados da Santa I n q u i s i ç ã o que v i s t o s estes autos e cu2

pas e c o n f is sõ e s de Paulo Lourenço, l a v r a d o r , natural e

morador da f r e g u e s i a de Santa Maria de A gr e la , termo da

V i l a de Caminha, Arcebispado de Braga, réu preso que pre

sente e s ta .

Por que se nostra que sendo c r i s t ã o ba

tizado e como t a l obrigado a t e r e c r e r tudo 0 que tem e

crê e ensina a Santa Madre I g r e j a de Roma e não se apar

t a r do senso comum dos f i e i s católicos, ele 0 fez pelo

c o n t r á r i o e de c e r t o tempo a esta parte esquecido de sua

obrigação, com pouco temor de Üeus Nosso Senhor, curava

com pa l a v r a s e s u p e r s t i ç õ e s afirmando que v ia tudo quanto

um corpo humano tem dentro de si e que tinha um c r u c i f i x o

no ciu da boca, dizendo que todas as curas que f a z i a eram

com l i c e n ç a do Santo O f i c i o e que do mesmo tinha renda p_a

ra e x e r c i t a r ta l a r t e de c u r a r , introduzindo por este mo

do 0 ser chamado 0 Santo de A g r e la , pelas quais culpas foi

0 reu preso nos c á r c e r e s do Santo O f i c i o e na Mesa do me£

mo admoestado com muita c ari da de ¿3 quisesse c on fe ss a r.

Disse e confessou que de c e r t o tempo a

esta parte curava todo 0 gênero de f e r i d a s , cancros, mal

de p e i t o s , outros achaques e enfermidades usando da ora‫־‬


295

ção seguinte:

Jesus, sagrado F i l h o de Deus e ter no , com Deus Padre e Sal-

vador, te t i r e todo‫־‬o mal e toda a dor.

e quando Jesus C r i s t o derramou 0 seu sangue sagrado,

fosses tu sarado,

com a graça de Deas Padre e de Deus F i l h o e de Deus Espirj^

to Santo.

e quando Jesus C r i s t o f o i crucificado

naquele estandarte re al cravado

sej as tu sarado.

Com Deus Padre S a l v a d o r ,

Deus Padre Criador,

com todo seu amor.

Amem Je su s.

E também usava das p a l a v r a s da consagra-

ção corruptamente p r o f e r i d a s , fazendo algumas bênçãos e ob

servando as horas do dia supersticiosamente. E suposto a p l j

cava alguns unguentos, sõ da d i t a ora çã o, pa l a v ra s e vãs

observações esperava 0 bom sucesso que sempre experimentou

nas curas que f a z i a .

Pelas quais culpas ouviu 0 réu sentença

no Auto publico da Fé que nesta cidade se celebrou em de

zo ito do mês de j a n e i r o de mil e seiscentos e oTt enta e

dois anos e fez abjuração de leve s u s p e it o na fé e f o i de

gredado para0 Couto de Castro-Marim por tempo de 3 anos.

E por haver i n f o r r a ç ã o cjue 0 réu não cum


296

p r i r a o d i t o degredo, antes com grande atrevimento e grave


»
daño de sua alma r e i n c i d i r a em semelhantes c u l p a s , e ainda

mais graves, como f o i a c h a r ‫ ־‬se o r i u em um ajuntamento em

uma no ite com muitas pessoas com as quais f i z e r a uma dança

de sc on se rt ad a, andando 0 réu e a maior parte das mesmas

nuas e no meio dela s um cabrão pardo e negro, muito d i s f o r

me e medonho, e t in h a na cabeça duas pontas e em cada uma

quatro garfos agudos, ao qual 0 réu e outras pessoas da di^

ta companhia davam ósculos em parte imunda, e, persuadindo

a uma c er t a pessoa que estava vendo a d i t a dança que tam

bém desse os d i t o s õ s c u lo s , a d i ta pessoa não 0 quis faz er

e invocando 0 nome de Jes us e São Bento tudo desapareceu.

E outrossim curava v á r i a s enfermidades ,

mandando pÔr as pessoas enfermas ao sol e olhando para elas

dando alguns passeios lhes d i z i a os achaques c^ue tinham sem

lhos serem comunicados, e quando a doença procedia de f e i -

tiços, mandava o l h a r as camas e os cabeçais e os que eram

achados os mandava e n t e r r a r em lameiro que nunca secasse ,

e que fosse no mesmo dia em que eram achados, advertindo

que as pessoas que os l e v a s s e não olhasse para t r ã s , nem

re c o l h id a a casa s a í s s e dela senão no dia seguinte depois

de nascer 0 s o l . E as d i t a s pessoas e camas mandava defumar

com doze ramos de t r o v i s c o de palmo cada um cortados com

uma tesou ra, e ao c o r t ã - l o s rezassem a oração do Credo a

cada um, e em memoria dos doze Apóstolos cinco ramos de aTe-

crim também de palmó, rezando cin co Padre Nossos as Chagas

de C r i s t o , três ramos de arruda da mesma medida, rezando ao


297

c or ti -1 0 tr ê s Ave H a r i a s às t r i s pessoas da Santíssima T r i £

dade» e que todos os d i t o s ramos se cortassem antes de na£

cer 0 sol e postos em um t e s t o preto que t i v e s s e brasas de

c ar v a lh o lhe lançassem em cin a t r ê s pedras de s a l , rezando

onde Padre Nossos as Onze mil V ir g e n s , e também lançassem

incenso e alguns grãos de mostarda, e que depois de se defu

marem, as c in z a s , carvões e l e s t o brocado (emborcado) para

baixo 0 lançassem em agua que nunca secasse.

E indo c e r t a s pessoas procurar ao rêu p£

ra lhe dar remedio a um achaque que uma delas p a d e c ia , 01 han

do para esta na forma s o b r e d i t a , dis se que as mulheres eram

piores de ver que os homens, porem que as d i t a s pessoas es

tavam atadas por lhe t i r a r e m da t e r r a em que estavam senta-

das e lha queimaram. Então mandou que antes de nascer 0 sol

de qualquer dia cortassem cinco ramos de t r o v i s c o macho,cin

co de arruda e cinco de a l e c r i m i honra das Cinco Chagas de

Cristo, e que posto i s t o em c r u 2 sobre brasas de carvalho ,

que estivessem postas em um t e s t o se defumassem e depois man

dassem l a n ç a r tudo em um r i ó que nunca secasse, e que quem

0 leva sse quando v o l ve s s e não olhasse para t r ã s ainda que 0

chamassem, observando c e rt o s dias para as d i t a s curas.

Pe l a s quais culpas f o i 0 rêu preso segun‫־‬

da vez nos cárceres do Santo O f i c i o e sendo na Mesa do mes-

mo admoestado com muita c ar id a de bs quisesse confessar para

desencargo de sua c o n s c i ê n c i a , sa lva ção de sua alma e se

usar com e l e de m i s e r i c o r d i a , d i s s e e confessou que depois

da d i t a abjuração curava 0 ar e ou tras enfermidades com as


298

pa la vra s s e gu in te s :

Jesus C r i s t o vei o ao mundo para te 0 mal

tirar, a r , e s p í r i t o s malignos e f e i t ç o s , mar e mor ( d o r ? ) ,

e dar pelo seu d i vi no amor, São Cosme, São Damião, São Pedro

ê São Paulo, e São João B a t i s t a , Sa n tia go , São Bartolomeu,

e São Gonçalo, te t i r e a todc 0 mal e toda a dor, com Deus

Padre, Deus F i l h o , Deus E s p i r i t o Santo.

Negando haver f e i t o outra cousa ou ter

pacto com 0 Demônio, pelo que 0 Promotor F i s c a l do Santo 0

flcio veio com l i b e l o cr im in a l ac u s a t ó r io c o n t r a 0 r i u , que

lhe f o i r e ce bi do , a que não veio com de fesa, e perguntadas

as testemunhas da J u s t i ç a pelos i n t e r r o g a t ó r i o s com que 0

réu veio por seu procurador, e r a t i f i c a d a s , se lhe fez p1£

b l i c a ç ã o de seus ditos na forma do e s t i l o do Santo O f i c i o ,

a que não ve i o com c o n t r a d i t a s , e seu f e i t o se processou até

fin al conc1usão .

0 que tudo v i s t o , com 0 mais que

cons ta, e 0 grande dano e p re ju íz o que de semelhantes abusos

e s u p e r s t i ç õ e s causam ao povo c r i s t ã o , e a veemente presunção

que contra 0 réu r e s u l t a de andar apartado da nossa santa fé

c a t ó l i c a e t e r pacto com 0 Demônio, mandam cue 0 réu Paulo

Lourenço em pena e p e n it ê n c i a de suas culpas vã ao Auto públi_

CO da Fé na forma costumada e nele ouça sua sentença e faça

a b jur aç ão de veemente su sp e it o na fé de por t a l 0 declaram ,

e que seja açoitado pelas ruas publ ica s desta cidade citra

sangu inis effúsionem, e 0 degradam para sempre para f o ra da

d i t a fr e g u e s ia de Santa Maria d e A g r a l a , e por tempo de seis


299

anos para o Estado do B r a s i l , e t e r i c i r c e r e a a r b i t r i o dos

i n q u i s id o r e s em o qual sera i n s t r u i d o ñas cois as da fe ne-

c e s s a r i a s para salv açã o de sua alma, e cumprirá as mais pe

ñas e pe nit en cia e s p i r i t u a i s que Ihe forem impostas, e p£

gue as cust as.

Gonçalo Borges P in to

João Carne iro (?) de Morais

Fonte: ANTT. I n q u i s i ç ã o de Coimbra. Processo numero 4501. 0

réu saiu no Auto da Fé celebrado no Mosteiro de San-

ta Cruz de Coimbra no dia 21 de agosto de 1689. Este

processo e muito volumoso e contém informações impor

t a n t is s i m a s para 0 estudo das necessidades m a t e r i a i s

e aspectos da vida econômica.


300

FONTES E BIBLIOGRAFIA

‫ ו‬- FONTES MANUSCRITAS

‫ו‬.‫ו‬ ‫ ־‬ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO, Lisboa

Processos da I n q u i s i ç ã o de L i s b o a :

73 . 746 , ‫ ו‬236 , 3475,4005,4350,4372,4 41 ‫ ו‬, 4570,4802,5180,5432 ,

5703,6508,7020,7093,8620,8835,10291,10336,107 93.

Processos da I n q u i s i ç ã o de Coimbra:

52, 64,321 ,333,563,1 376, 1696,171 6, 1725,2255,2716,2776,3239,

3944,4 001,4058,4732,5714,5933,6485,6728,6808,6963,7142,7313,

7 581,7897,8284,8345,8371,8503,8992,16724.

Processos da I n q u i s i ç ã o de t v o r a :

1 56 4,2004,2038,21 96 ,2237 ,2382,24 62,2941 , 327 2,3370 ,4 033,

4404, 4419,4 527,4 537,4660,4 74 5,4797,552 5,553 7,5585,5649,

5681,5681 A, 6231,6322,6492, 7 045,7065,74 55,7490,8509,

8937,9106,9377,9386,9784, 10078, 10479,10495,10716,11011,

11066,11077,11355,11559,11677.

L i s t a s de A u t o s - d a - f Í :

-Consèlho Geral do Santo O f i c i o , L i v r o 433 ( I n q u i s i ç ã o de

Coimbra)

- Conselho Geral do Santo OfTciO; L i v r o 435 ( I n q u i s i ç ã o de

Li sboa)

- I n q u i s i ç ã o de Li sb oa . L i v r o 5 (a nti go ‫־‬Novos maços 5-4‫ )־‬.

- I n q u i s i ç ã o de L is b oa, L i v r o 6 ( a n t i g o 144-2-41).
‫־‬30 ‫ו‬

‫־‬ In q u i s i ç ã o de Li sb oa , Livro 1( a n t i g o 149-6-671)

‫־‬ I n q u i s i ç ã o de Lisb oa, Livro 7( a n t i g o 145-6-180 A)

- I n q u i s i ç ã o de Lisboa L i v r o 8 ( antigo 159-6-862)

- I n q u i s i ç ã o de Lisboa L i v r o s 3e 4 ( a n t i g o Novos Maços 6-1)

Legi s1ação:

‫ ־‬Manuscritos do B r a s i l , L i v r o 51, copiador de Cartas Régias

‫־‬ L i v r o 1 de Le is

- L i v r o 2 de Leis

- L i v r o 4 de Leis

‫־‬ L i v r o 5 de Leis

‫ ־‬Máço 5 de Leis

‫ ־‬Maço 10 de Leis

- Maço 6 de Cortes

- C ha nc el ar ia de D. D i n i s , Livro 3

‫ ־‬Ch anc el ari a de D. Manuel, L i v r o 30

- C h an ce la ria de D. João I I I , L i v r o 30

1.2 ‫ ־‬ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO. Lisboa

- Documentos Avulsos: Maço do Reino: número 1992

- Documentos Avulsos: Maço do Reino: número 2192.

2 ‫ ־‬FONTES IMPRESSAS

2.1 ‫ ־‬LEGISLAÇÃO CI VI L
302

- Ordenações Afonsinas (1446)

N o t a ‘de apresentação de Mario J ú l i o de Almeida Costa e nota

t e x t o l 5 g i c a de Eduardo Borges Nunes. Edição " f a c ‫ ־‬s i m i 1e" da

edição f e i t a na Real Imprensa da Universidade de Coimbra,no

ano de 1792. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

-Ordenações Manuelinas (1521)

Nota de apresentação de M i r i o J ú l i o de Almeida Costa, Edi-

ção " f a c - s i m i l e " da edição f e i t a na Real Imprensa da Univer

sidade de Coimbra, no ano de 1792. Lisboa. Fundação Calous-

te Gulbenkian.

‫ ־‬Ordenações F i l i p i n a s (1603)

Nota de apresentação de Mãrio de Almeida Costa, Edição " f a c

sim ile" da edição f e i t a por Cândido Mendes de Almeida. Rio

de J a n e i r o , 1870. Li sboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

- A u x i l i a r J u r í d i c o ‫ ־‬apêndice ãs Ordenações F i l i p i n a s . Ed_i^

ção " f a c - s i m i l e " da edição f e i t a por Cândido Mendes de Al_

meida. Rio de J a n e i r o , 1870. Fundação Calouste Gulbenkian,

‫ ־‬Duarte Nunez do Lião

L e is ext rav ag ante s c o l l e g i d a s e r e l a t a d a s pelo l i c e n c i a d o . . .

per mandado do . . . R e i D. Se b as ti ã o ( primeira e d iç ã o, Lisboa

1569). Impr. da Un i ve rs i d a d e , 1796.

‫ ־‬P a u l i c e a e Lusitana Monumenta H i s t ó r i c a

I Volume (1494-1600), organizado e p re fa c i a d o por Jaime Cor


303

tesão. P u b li ca ç õ e s do Real Gabinete Português de L e i t u r a do

R i o ‘de J a n e i r o . Lisb oa. 1953.

‫ ־‬Documentos para a H i s t o r i a do Açúcar.

L e g i s la ç ã o 1534-1596. Rio de J a n e i r o . S e r v i ç o de Documenta-

ção H i s t ó r i c a . I n s t i t u t o do Açúcar e A l c o o l , Rio de J a n e i r o

1954.

-Collecção da L e g i s l a ç ã o Portuguesa - 1750-1820. L i s b o a , t 2

po gr af ia Maigrense, 1828 (exemplar da B i b l i o t e c a de D i r e i t o

da UFBA, S a l v a d o r ) .

- Coleção de L e g i s l a ç ã o Portuguesa desde a última compilação

das Ordenações, r e d i g i d a pelo desembargador Antonio Delgado

da S i l v a , Legislação 1791-1801. Lisboa, T i p o g r a f i a Maigrense

1828 (exemplar da B i b l i o t e c a da Ajuda, L i s b o a ) .

- Re p e rt ó rio c r o n o ló g i c o das L e i s , pragmáticas, a l v a r á s , car

tas Ré gias, d e c r e t o s . . . , e x t r a T J o de muitas coleções e dj_

versos au to re s. Li sb oa. Oficina p a tria rc a l de Francisco Luiz

Ameno, 1783 (exemplar da B i b l i o t e c a da Ajuda, Lisboa).

- Coleção c r o n o ló g i c a da L e g i s l a ç ã o portuguesa, compilada

e anotada por Jo se J u s t i n o de Andrade e S i l v a . L e gi sl a ç ão

1657-1674 e 1683-1700, L i s b o a , Imprensa N ac io n a l , 1859

^exemplar da B i b l i o t e c a da Uni ver si da de de Coimbraj.


304

‫ ־‬Repe rto rio remissivo de L e g i s la ç ã o da Marinha e do U ltr a -

mar, 1317-1856. Imprensa N a c io n a l , 1856 (exemplar da B i b l i o

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3C5

- Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o dos Reynos de Por

tuga! , recompilado por mandado do i l u s t r í s s i m o e Reveren ‫־‬

dTssimo senhor Dom Pedro de C a s t i l h o , Bispo e I n q u i s i d o r Ge

ra l e Vis ore y dos Reynos de P o r t u g a l . Impresso na In q u i s i ‫־‬

ção de Lisb oa , por Pedro Grasbeeck, Ano da Encarnação do Se

nhorde 1613 (exemplar m ic ro fi lm a d o , da B i b l i o t e c a Nacional

de Lisboa, sa la dos r e s e r v a d o s ) .

‫ ־‬Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o dos Reynos de Por

tugal , ordenado por mandado do limo, e Rmo. Senhor Bispo ,

Dom F ra n c is c o de C a s tr o , I n q u i s i d o r Geral do Conselho d' ís

tado do S. Majestade. Em Li sb o a , nos Estaos , por Manoel da

S y l v a , MDCXL (exempiar da B i b l i o t e c a Nacióna 1 de Lisboa,

sala g e ra 1).

‫ ־‬Regimento do Santo O f i c i o da I n q u i s i ç ã o dos Reinos de P0£

tugal, ordenado com Real B en ep lá ci d o , e Regio a u x i l i o pelo

Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal da Cunha, dos

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306

2.3 - VISITAÇÕES INQUISITORIAIS

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‫ ־‬P r i m e i r a v i s i t a ç ã o do Santo OfTcio as partes do B r a s i l pe

10 L i c e n c i a d o H e i t o r Furtado de Mendonça - Denunciações da

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- P r i m e i r a v i s i t a ç ã o do Santo OfTcio ãs partes do B r a s i l pe

10 L i c e n c i a d o H e i to r Furtado de Mendonça ‫ ־‬Denunciações de

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Confissões de Pernambuco, ed. J . A . Gonçalves de M e llo , Rec^

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- Segunda v i s i t a ç ã o do Santo OfTcio ãs partes do B r a s i l

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- Segunda v i s i t a ç ã o do Santo OfTcio as partes do B r a s i l pe

10 i n q u i s i d o r e v i s i t a d o r , 0 l i c e n c i a d o Marcos T e i x e i r a . L 2

vro das Confissões e r a t i f i c a ç õ e s da Bahia 1618-1620 ‫־‬. In


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