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A vida na Terra

Gabriela Marcomini de Lima

Henrique Suriani de Oliveira

Tiago Zanquêta de Souza

Andréia Marega Luz

Ricardo Baratella
© 2012 by Universidade de Uberaba

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Edição:
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE

V667 A vida na Terra / Gabriela Marcomini de Lima ... [et al.]. – Uberaba :
Universidade de Uberaba, 2012.
332 p. : il.

ISBN 978-85-7777-398-5

1. Biologia. 2. Geologia. 3. Paleontologia. I. Lima, Gabriela Marcomini


de. II. Oliveira, Henrique Suriani de. III. Souza, Tiago Zanquêta de. IV. Luz, Andréia
Marega. V. Baratella, Ricardo. VI. Universidade de Uberaba.

CDD: 570
Sobre os autores
Gabriela Marcomini de Lima
Especialista em Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria pela Universidade
Federal de Lavras (UFLA). Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas
pela Universidade de Uberaba (Uniube). Docente do curso de Ciências
Biológicas, na modalidade EAD, na Universidade de Uberaba.

Henrique Suriani de Oliveira


Especialista em Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria pela Universidade
Federal de Lavras (UFLA). Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas
pela Universidade de Uberaba (Uniube). Docente do curso de Ciências
Biológicas, na modalidade EAD, na Universidade de Uberaba. Docente no
Ensino Médio, na rede particular de ensino em Uberaba e em Igarapava-SP.

Tiago Zanquêta de Souza


Especialista em Docência do Ensino Superior e em Gestão Ambiental pelas
Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ). Graduado em Licenciatura em
Ciências Biológicas pela Universidade de Uberaba (Uniube). Professor dos
cursos de Engenharia Ambiental (presencial/EAD), Engenharia Civil, Engenharia
de Produção e Engenharia Elétrica (EAD). Professor tutor dos Cursos de
Licenciatura em Ciências Biológicas, Geografia, História, Letras, Matemática
e Química (EAD), desta universidade. Professor de Biologia no Ensino Médio
e de Curso Preparatório para Vestibular, da rede particular de ensino.

Andréia Marega Luz


Especialista em Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria pela Universidade
Federal de Lavras (UFLA). Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas
pela Universidade de Uberaba (Uniube). Docente do curso de Ciências
Biológicas, na modalidade EAD, na Universidade de Uberaba.
Ricardo Baratella
Especialista em Biologia Evolutiva pela Universidade de Franca (Unifran) – SP.
Especialista em Educação a Distância, em Gestão Escolar e em Docência
do Ensino Superior pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ) − RJ.
Graduado em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras Barão de Mauá, em Ribeirão Preto − SP. Graduado em Pedagogia pela
Universidade de Uberaba (Uniube). Docente nesta universidade, atuando nos
cursos de licenciatura em Ciências Biológicas e Pedagogia. Gestor do curso
de Ciências Biológicas desta instituição.
Sumário
Apresentação.....................................................................................IX

Capítulo 1 Estruturando um planeta e explorando seu interior........... 1


1.1 O método científico e os estudos de geologia.......................................................3
1.1.1 As práticas modernas e as teorias geológicas.............................................6
1.2 Explicando as origens do sistema planetário........................................................8
1.2.1 A hipótese da nebulosa.................................................................................9
1.2.2 A formação de um planeta em camadas.................................................... 11
1.3 Terra: um sistema de componentes interativos...................................................21
1.4 Explorando o interior do planeta Terra.................................................................25
1.4.1 Os tipos de ondas e os estudos sismológicos............................................26
1.5 Processos geodinâmicos internos.......................................................................33
1.5.1 Teoria das correntes de convecção............................................................34
1.5.2 O campo gravitacional e magnético da Terra.............................................37

Capítulo 2 Da deriva dos continentes à tectônica de placas:


a teoria unificadora........................................................... 43
2.1 Os caminhos até a teoria unificadora..................................................................46
2.1.1 Teoria da deriva continental: o ponto chave de uma revolução nas
ciências geológicas.....................................................................................47
2.2 Teoria da tectônica de placas........................................................................55
2.2.1 América do Sul e África: indícios de uma união pretérita...........................57
2.2.2 As placas tectônicas...................................................................................59
2.2.3 A natureza das placas tectônicas e os tipos de limites entre elas..............61
2.3 A formação das cordilheiras continentais............................................................64
2.3.1 A origem das montanhas............................................................................68
2.4 A distribuição da vida no passado e no presente................................................71

Capítulo 3 Minerais e rochas: os componentes consolidados da


crosta terrestre................................................................. 79
3.1 Minerais................................................................................................................82
3.1.1 De onde surgem os minerais?....................................................................84
3.1.2 Propriedades físicas dos minerais..............................................................85
3.1.3 Propriedades ópticas dos minerais.............................................................87
3.1.4 Principais usos e a importância de alguns minerais...................................88
3.1.5 Gemologia...................................................................................................92
3.2 Rochas.................................................................................................................94
3.2.1 Rochas ígneas ou magmáticas..................................................................95
3.2.2 Rochas sedimentares.................................................................................98
3.2.3 Rochas metamórficas...............................................................................103
3.2.4 O ciclo das rochas....................................................................................105
3.3 Recursos minerais do Brasil..............................................................................107
3.3.1 Outros minerais encontrados no Brasil..................................................... 111
3.3.2 As consequências da exploração dos recursos minerais......................... 111

Capítulo 4 Paleontologia: desvendando o passado biológico


da Terra.......................................................................... 117
4.1 Importância do estudo dos fósseis....................................................................121
4.2 Formação dos fósseis........................................................................................125
4.2.1 Morte.........................................................................................................126
4.2.2 Decomposição e desarticulação...............................................................127
4.2.3 Transporte.................................................................................................129
4.2.4 Intemperismo............................................................................................130
4.2.5 Diagênese.................................................................................................130
4.2.6 Fatores que atuam no processo de fossilização......................................132
4.3 Tipos de fósseis.................................................................................................133
4.3.1 Restos.......................................................................................................134
4.3.2 Vestígios....................................................................................................136
4.3.3 Pseudofósseis...........................................................................................137
4.3.4 Fósseis vivos.............................................................................................137
4.4 Profissão paleontólogo......................................................................................139
4.5 Princípios de estratigrafia..................................................................................141
4.5.1 Utilização dos fósseis como ferramenta para datação.............................143
4.6 Microfósseis.......................................................................................................146

Capítulo 5 Paleontologia: a Terra em constante transformação


e a evolução da vida ao longo do tempo....................... 151
5.1 Aprofundando o estudo da Paleontologia..........................................................153
5.1.1 Fósseis, evolução e registro fóssil............................................................154
5.1.2 Tectônica de placas e deriva continental..................................................162
5.2 Tempo geológico................................................................................................166
5.2.1 A evolução da vida ao longo do tempo geológico....................................168
5.2.2 Éon Hadeano............................................................................................169
5.2.3 Éon Arqueano...........................................................................................169
5.2.4 Éon Proterozoico......................................................................................170
5.2.5 Éon Fanerozoico....................................................................................171
5.3 Fósseis no Brasil................................................................................................181
5.4 A Paleontologia no livro didático e a democratização da ciência......................187
5.5 Turismo paleontológico......................................................................................189

Capítulo 6 A distribuição dos seres vivos no tempo e no espaço... 197


6.1 A Geografia da vida: a distribuição dos seres vivos..........................................199
6.2 A história da Terra .............................................................................................201
6.3 O clima da Terra.................................................................................................202
6.4 As modificações da posição dos continentes....................................................205
6.5 Novos ambientes precisam de novas adaptações ...........................................208
6.6 A fragmentação dos continentes e o surgimento de novas espécies...............210
6.6.1 A especiação possibilita o surgimento de espécies endêmicas...............215
6.6.2 Regiões fitogeográficas............................................................................222
6.7 A compreensão do padrão de distribuição dos seres vivos..............................223
6.8 Introdução aos métodos biogeográficos............................................................225
6.9 A influência do homem na distribuição das espécies........................................226

Capítulo 7 O papel dos fatores e elementos ambientais na


distribuição dos seres vivos........................................... 231
7.1 A importância dos fatores e elementos ambientais...........................................233
7.2 O clima...............................................................................................................235
7.2.1 O clima varia com a latitude......................................................................237
7.2.2 Tipos de clima...........................................................................................241
7.2.3 Influência da topografia sobre o clima......................................................243
7.2.4 O clima tem papel significativo na formação dos solos............................244
7.3 A pluviosidade ...................................................................................................247
7.3.1 Formação das chuvas...............................................................................248
7.3.2 Tipos de nuvens........................................................................................250
7.3.3 Tipos de chuvas........................................................................................252
7.3.4 Medição das chuvas.................................................................................253
7.4 Frentes frias e frentes quentes..........................................................................255
7.5 Eventos climáticos extremos.............................................................................257
7.6 As estações do ano............................................................................................258
7.7 Os ambientes aquáticos....................................................................................261
7.7.1 Lagos........................................................................................................262
7.7.2 Águas correntes........................................................................................262
7.7.3 Estuários...................................................................................................263
7.7.4 Oceanos....................................................................................................263
Capítulo 8 As chaves da vida........................................................... 269
8.1 Origem da ideia de evolução.............................................................................281
8.2 Adaptação e ambiente.......................................................................................286
8.3 Darwin e o mecanismo evolutivo.......................................................................289
8.4 O registro geológico e fossilífero.......................................................................308
Apresentação
Caro(a) aluno(a).

A humanidade busca saber como, quando e onde a vida se originou e de


que modo surgiram as numerosas espécies de animais e vegetais. Em
todas as partes, nos mais distintos recantos do planeta, encontraremos
seres vivos diferentes.

Hoje em dia, acreditamos que essa diversidade seja fruto de um processo


lento, que vem ocorrendo há milhares de milhões de anos, desde a
origem da vida, há cerca de 3,5 bilhões de anos.

Vivemos em um universo em constantes mudanças. O relevo e o clima


mudam, florestas se transformam em desertos, fundos de mares se
transformam em montanhas. Desse modo, podemos dizer que os
seres vivos só estão momentaneamente adaptados a um determinado
ambiente, pois, quando esse ambiente muda, o ser vivo deixa de estar
adaptado.

Por outro lado, ambientes que permanecem inalterados por milhões


de anos possuem fauna e flora extremamente adaptadas que pouco
mudaram ao longo desse tempo. Os animais que vivem, hoje, constituem
apenas parte da grande e contínua população que tem habitado a Terra
por milhões de anos. Os fósseis comprovam a existência de animais
e plantas antigos, e qualquer mudança nas características físicas ou
biológicas de um ambiente influencia, de modo diverso, as espécies de
animais e plantas que ali vivem.
X UNIUBE

As forças naturais que agem sobre as populações de seres vivos têm-se


somado à influência do homem, com intensidade, em muitos lugares
nos séculos e décadas recentes.

Nessa perspectiva, a seguir, veremos a que se destina cada um dos


capítulos, deste livro.

No capítulo 1: “Estruturando um planeta e explorando seu interior”, você


iniciará seus estudos sobre a Geologia, a ciência que estuda a Terra,
sua composição, estrutura, propriedades físicas, história e os processos
que lhe dão forma.

No capítulo 2: “Da deriva dos continentes à tectônica de placas: a


teoria unificadora”, você irá diferenciar e relacionar a teoria da deriva
continental à das placas tectônicas; assim como irá estudar as relações
do tectonismo com a união dos continentes.

O capítulo 3: “Minerais e rochas: os componentes consolidados da


crosta terrestre”, descreve os processos pelos quais são formados e
os principais usos e aplicações das rochas e dos minerais.

O capítulo 4: “Paleontologia: desvendando o passado biológico da Terra”,


aponta as diferentes utilidades e importância dos fósseis no estudo da
Paleontologia, enumera, descreve e interpreta os diferentes e sucessivos
passos na formação dos fósseis.

No capítulo 5: “Paleontologia: a Terra em constante transformação e a


evolução da vida ao longo do tempo”, irá propiciar a você o entendimento
referente ao objeto de estudo da Paleontologia, a como essa ciência se
relaciona com a Biologia, e sua importância para a população.
UNIUBE XI

No capítulo 6: “A distribuição dos seres vivos no tempo e no espaço”,


serão apresentados alguns conceitos iniciais de Biogeografia e como os
principais acontecimentos da história geológica da Terra influenciaram
na distribuição geográfica dos seres vivos.

O capítulo 7: “O papel dos fatores e elementos ambientais na distribuição


dos seres vivos”, explica a existência de fatores ambientais envolvidos
na distribuição dos seres vivos, e identifica os principais elementos
ambientais que interferem na distribuição das espécies.

No capítulo 8: “As chaves da vida”, você irá estudar os mecanismos


que propiciaram a imensa variedade de seres vivos; distinguir os
aspectos básicos das ideias de Lamarck e Darwin e sua importância
para o desenvolvimento do conhecimento humano; o que o levará
a compreender as bases da teoria evolutiva atual e reconhecer a
diversidade dos mecanismos de isolamento reprodutivo entre espécies
diferentes, completando, assim, o processo permanente de ação –
reflexão – ação sobre a realidade atual.

Esperamos que os conhecimentos construídos a partir deste livro possam


ser significativos para sua formação profissional e atuação no mercado
de trabalho.

Bons estudos!
Estruturando um planeta
Capítulo
e explorando seu interior
1

Tiago Zanquêta de Souza

Introdução

O planeta Terra é um lugar único, um abrigo de milhares de seres


vivos, inclusive do ser humano. Até hoje, não foi descoberto
nenhum outro lugar que tenha um equilíbrio dinâmico e capaz
de oferecer condições à vida.

A geologia é a ciência que estuda a Terra (geo = terra; logia =


estudo), explicando a forma como ela surgiu, a forma como evoluiu
e vem evoluindo, os mecanismos de funcionamento, além de
ajudar-nos a entender a necessidade de preservar e conservar
os recursos naturais e os habitats que promovem a sustentação
da vida.

Este capítulo dará a você condições para entender como os


geólogos pensam, começando pelo método científico, ou seja, pela
abordagem objetiva do universo físico na qual toda investigação
científica é baseada. Em seguida, apresentaremos as principais
teorias que explicam a origem da Terra, para depois entendermos
sua composição e estrutura interna.

A Terra é um planeta dinâmico, em constante transformação e


movimento. Para entendermos as partes do planeta, estudaremos
seus sistemas e subsistemas.
2 UNIUBE

É preciso entender também que a Terra evoluiu ao longo do


tempo. Estima-se que a Terra tenha cerca de 4,5 bilhões de anos,
enquanto que a vida teria surgido há 3 bilhões pretéritos. A espécie
humana, como a conhecemos, acredita-se ter surgido há cerca
de poucos milênios (PRESS et al., 2006).

Antigos pensadores acreditavam no universo fragmentado em


apenas duas partes: o céu e o inferno. Um céu de luz, acima, cheio
de estrelas vagantes e iluminado. O inferno embaixo, um mundo
inferior, escuro, impossível de ser visto pelos olhos humanos
(PRESS et al., 2006).

Enfim, neste capítulo, exploraremos o interior terrestre, fazendo


referência às técnicas de sismologia e investigando também as
altas temperaturas do interior do planeta, para assim entendermos
o funcionamento que determina a Terra como ela é.

Bons estudos!

Objetivos

Ao final de seus estudos, esperamos que você esteja apto(a) a:

• defender o método científico como alternativa para entender


a geologia;

• identificar e analisar a gênese, estrutura, composição e


evolução da Terra;

• demonstrar a origem dos oceanos e da atmosfera;

• identificar que a tectônica de placas permitiu a formulação


de um modelo geral para a deriva continental, baseado na
periodização da história geológica da Terra;
UNIUBE 3

• reconhecer que vivemos sobre um território dinâmico,


palco de enfrentamento de forças geológicas de diferentes
origens, acionadas pela geodinâmica interna e por toda
gama de fenômenos relacionados.

Esquema

1º momento - O método científico e os estudos de geologia

2º momento - Explicando as origens do sistema planetário

3º momento -Terra: um sistema de componentes interativos

4º momento - Explorando o interior do planeta Terra

5º momento - Processos geodinâmicos internos

1.1 O método científico e os estudos de geologia

Toda a ciência tem o objetivo de explicar como o universo funciona. Para


isso, o método científico é utilizado, por meio da pesquisa baseada em
observações metodológicas e experimentais. Para alguns cientistas, os
eventos físicos têm explicações físicas, mesmo quando estas estejam
longe de serem entendidas pelo ser humano (PRESS et al., 2006).

Observe o esquema sobre o método científico nos estudos de geologia:


4 UNIUBE

A partir desse esquema é possível entender que:

• hipótese: é a tentativa de explicar algo baseado em dados cole-


tados por meio de experimentações e observações. A hipótese,
quando confirmada por outros cientistas, adquire mais credibili-
dade (PRESS et al., 2006);
UNIUBE 5

• teoria: é a hipótese que sobreviveu a mudanças repetidas e


obteve um significado expressivo para a ciência. Vale lembrar
que uma teoria jamais pode ser considerada definitivamente
provada. Se evidências novas e convincentes indicam que
uma teoria está incorreta, os cientistas deverão modificá-la ou
descartá-la (PRESS et al., 2006);

• modelo científico: é a representação de algum aspecto da


natureza com base em um conjunto de hipóteses, incluindo teorias
bem estabelecidas. Para testar as hipóteses, é necessário fazer
a comparação entre as predições do modelo e as observações
realizadas. Hoje, os modelos costumam ser computadorizados
(PRESS et al. 2006).

Para dar razão às ideias, os cientistas compartilham-nas com seus colegas,


por meio de publicações em revistas, encontros em congressos, fóruns ou
seminários. Pelo livre intercâmbio intelectual, criou-se um código de ética
para ser utilizado pelos cientistas, que prevê
Teoria da Grande Explosão
a fidelidade de informações e a responsa- ou Big Bang
bilidade de instruir a geração de futuros
Em 1948 foi divulgada a
pesquisadores à conduta adequada para teoria da Grande Explosão
ou Big Bang por dois
pesquisa. Como disse Albert Einstein: “Na grandes cientistas: George
Gamow (1904-1968), russo,
ciência (...) o trabalho científico do indivíduo naturalizado americano,
e pelo padre e astrônomo
está tão inseparavelmente conectado ao de Georges Lemaître (1894-
seus antecessores e contemporâneos, que 1966), nascido na Bélgica.
De acordo com esses
parece ser quase um produto impessoal de pesquisadores, o universo
se originou após uma grande
sua geração” (PRESS, et al., 2006). explosão do cosmo, há cerca
de 10 e 20 bilhões de anos. O
termo explosão faz referência
a uma grande liberação de
Para a geologia, o método científico é energia que teria ocorrido, o
imprescindível, uma vez que a origem do que deu origem ao espaço-
tempo. Se você quiser saber
Universo, bem como a origem da Terra, mais a respeito, acesse
ao endereço: <http://www.
são explicadas por uma teoria, a conheci- brasilescola.com/geografia/
big-bang.htm>.
da como Teoria da Grande Explosão ou
Big Bang.
6 UNIUBE

1.1.1 As práticas modernas e as teorias geológicas

Segundo Press et al., (2006, p.26):

Registro geológico
a geologia é uma ciência fundamentada nas
observações e experimentos orientados no local
É a informação do objeto de estudo. Várias comparações são
preservada nas
rochas,originadas feitas por geólogos, entre as observações diretas
em vários tempos da do passado e aquelas que inferem informações
longa história da Terra
(PRESS et al., 2006).
a partir do registro geológico.

É evidente que, pela idade das rochas, é possível também determinar


a idade dos fósseis que nelas são encontradas.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

“O presente é a chave do passado”. Essa frase do escocês James Hutton


tornou-se conhecida como o princípio do uniformitarismo, o qual
considera que os processos geológicos de hoje também aconteceram de
modo muito semelhante ao longo da história e do tempo geológico.

SAIBA MAIS

O princípio do uniformitarismo não significa que todo fenômeno geológico


ocorre de forma lenta. Alguns podem ocorrer subitamente (PRESS et al.,
2006).

Press et al. (2006, p.27) afirmam ainda que:


um bólido quando cai sobre a Terra, pode
escavar uma cratera (Figura 1) em questão de
Bólido
segundos. Um vulcão pode entrar em erupção,
Bólido é o termo rachar o solo e liberar o magma, também muito
sinônimo a rapidamente. Mas, vários milhões de anos são
meteoroide grande.
gastos para que uma rocha seja erodida ou
soerguida. Isso mostra que os eventos geológi-
cos acontecem em variadas escalas, tanto no
tempo como no espaço (Figura 2).
UNIUBE 7

Prova disso é que, recentemente, vários vulcões têm entrado em erupção,


como no Chile (América do Sul), na Indonésia (Ásia) e na Europa.

Veja a Figura 1, a seguir:

Figura 1: Cratera provocada pela queda de um bólido.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Observe que essa figura representa a cratera deixada por um bólido,


quando em impacto na superfície da Terra.

Os fenômenos geológicos podem estender-se por milhares de anos, e,


até mesmo, ocorrer em velocidades surpreendentes. Veja a Figura 2:

Figura 2: Fenômenos geológicos.


Foto: Ricardo Baratella.
8 UNIUBE

Essa figura retrata uma paisagem proveniente das várias movimentações


de Terra e/ou rocha, que aconteceram há milhares de anos e que, com
certeza, está, lentamente, passando por movimentos e modificações
até hoje.

Não existe nenhum registro histórico, pelo menos até agora, de que
um homem pôde presenciar a queda de um bólido sobre a superfície
da Terra. No passado, tem-se a certeza de ter ocorrido essas quedas,
que voltarão a acontecer novamente, apenas não se estima quando.
A evolução da Terra é gradativa e lenta, mas marcada por eventos
extremados, mesmo que irregulares, envolvendo mudanças bruscas e
extraordinárias no sistema terrestre (PRESS et al., 2006).

1.2 Explicando as origens do sistema planetário

Para explicar como surgiu o universo e até mesmo a própria vida, o ser
humano busca diferentes linhas de pesquisa e entendimento. Uns se
fundamentam na religião, outros na ciência e outros na estagnação,
procurando ainda uma explicação plausível e que de fato os convença.

A teoria mais aceita e a que melhor explica a origem do universo com


todos os seus planetas, satélites e estrelas, é a do Big Bang, que teria
acontecido entre 13 e 14 bilhões de anos atrás, a partir da explosão
cósmica. Até então, toda a matéria estava concentrada num único ponto
de densidade inconcebível (PRESS et al., 2006).

Os geólogos acreditam que a Terra, junto ao sistema solar, surgiu há mais


ou menos 4,5 bilhões de anos, período que vem sendo estudado pelos
cientistas com a finalidade de entender melhor a formação do sistema
solar (inclusive do Sol) para, depois, entender a formação da Terra.
UNIUBE 9

As possíveis explicações para a origem do sistema solar, para a origem


do Sol e para a formação dos planetas são encontradas na hipótese
da nebulosa, formulada pelo filósofo alemão Immanuel Kant.

1.2.1 A hipótese da nebulosa

Em 1755, o filósofo alemão Immanuel Kant supôs que a origem do


sistema solar se dera por meio da rotação de uma nuvem de gás e
poeira fina. Mais tarde, com o uso de equipamentos mais sofisticados,
como o telescópio, os cientistas chamaram essas mesmas nuvens
gasosas de nebulosas. De acordo com as pesquisas, as nebulosas
são formadas, predominantemente, pelos gases hélio e hidrogênio, que
também compõem o Sol (PRESS et al., 2006).

SAIBA MAIS

Vejamos a hipótese da nebulosa:

a) existia uma nebulosa difusa, grosseiramente esférica, e em rotação


contrativa;
b) como resultado da contração, há a formação de um disco achatado,
que gira rapidamente, transformando-se no protossol;
c) têm-se os planetesimais, formados pela colisão de grãos, junto
aos gases presentes;
d) os planetas terrestres estruturam-se a partir de múltiplas colisões
e adição de planetesimais, condicionados pela ação gravitacional;
e) há a formação do Sol e a formação da crosta incandescente, de
um planeta terrestre.

De acordo com Press et al. (2006), a gravidade gerada pela massa dos
corpos fez contrair a nuvem difusa, acelerando a rotação das partículas,
e essa rotação mais rápida achatou a nuvem, que passou a ter a forma
discoidal.
10 UNIUBE

1.2.1.1 Como se formou o Sol?

A ação da gravidade foi crucial para a formação do Sol. A matéria,


por essa ação, começou a se concentrar e a se aquecer, tornando-se
mais densa. A temperatura interna chegou a milhares de graus Celsius,
provocando fusão nuclear. Até hoje essa fusão continua, pois os átomos
de hidrogênio que estão sobre intensa pressão e em alta temperatura
combinam-se e fundem-se para formar o gás hélio. Então, entende-se
que parte da massa transforma-se em energia, que é refletida como luz,
por meio de explosões (PRESS et al., 2006).

PESQUISANDO NA WEB

Para entender melhor a fusão nuclear, acesse o link:

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fissao-e-fusao-nuclear/fissao-
e-fusao-nuclear.php>.

Nele, você encontrará um artigo que explica, de forma bem didática,


sobre esse assunto tão importante para sua formação.

Boa leitura!

O gás hélio, que compõe o Sol, é conhecido como gás nobre. Pesquise
as características desse gás, onde ele pode ser encontrado, além do
Sol, e qual(is) sua(s) utilidade(s).

1.2.1.2 Planetas em formação

Mesmo com a concentração da maior parte da massa atmosférica que


formou o Sol, uma pequena porção gasosa ainda se fazia presente,
em rotação, externamente, e, por esse motivo, mais fria, permitindo a
condensação dos gases. Mais uma vez, a ação da gravidade promoveu a
agregação de poeira e material condensado por meio de colisões sucessi-
vas, formando corpos maiores, aproximados ao tamanho lunar. Nossos
oito planetas, com suas órbitas, teriam se formado dessa maneira.
UNIUBE 11

PESQUISANDO NA WEB

Caso você queira conhecer lindas imagens e fotos de nosso sistema solar
e de cada planeta separadamente, sugerimos que acesse o site da Nasa:
<http://solarsystem.nasa.gov/index.cfm>.

Você irá se impressionar!

Nosso sistema solar é composto atualmente por oito planetas, pois


Plutão não faz mais parte do “grupo dos nove”. Por isso, agora são oito.
O Sol é a estrela que aquece e mantém a vida do sistema. Alguns dos
oito planetas do sistema solar possuem um ou mais satélites naturais.
No caso do nosso planeta, o satélite natural é a Lua.

AGORA É A SUA VEZ

Com base nessa informação, busque em livros, ou até mesmo em sites,


respostas para as perguntas a seguir:
• Quais as diferenças entre satélites, planetas e estrelas?
• Por que Plutão não é mais considerado um planeta do nosso
sistema solar?
• Por que alguns dos planetas do sistema solar possuem
anéis exteriores?
• O que é e qual a composição de um planeta exterior e de um
planeta interior?
• Qual a importância da força gravitacional?
• O que é órbita?

Aproveite as suas pesquisas para registrar suas respostas em seu


TCA!

1.2.2 A formação de um planeta em camadas

Vamos começar essa discussão levantando o seguinte questionamento:

Como é que a Terra evoluiu até um planeta vivo, com continentes,


oceanos e atmosfera?
12 UNIUBE

De acordo com Press et al (2006), a resposta


Diferenciação
reside na diferenciação. Acredita-se que um
Para Press et al.
(2006), diferenciação planetesimal colidiu com a Terra numa velocidade
é a transformação de
blocos aleatórios de equivalente de 15 a 20 km/s, liberando, por isso,
matéria primordial num
corpo cujo interior é
uma energia 100 vezes maior que seu peso. Essa
dividido em camadas energia liberada foi convertida em calor. Isso quer
concêntricas, que
diferem umas das dizer que foram ejetados no espaço uma grande
outras, tanto física
como quimicamente. quantidade de detritos, e gerou, além de tudo,
É um processo que
deve ter ocorrido nos calor suficiente para fundir a maior parte do que
primeiros momentos
da história terrestre,
restou da Terra.
quando o calor permitiu
a fusão dos materiais.
Os detritos que obviamente ficaram dispersos ao
redor da Terra foram se agregando, até formar o
satélite natural terrestre, que é a Lua. O impacto
sofrido pela Terra teria acelerado o processo
rotacional e mudado também seu eixo, atingindo
uma inclinação de 23 graus (PRESS et al., 2006,
p. 31).

SAIBA MAIS

De acordo com a hipótese de formação da Lua, entendemos:

a) no primeiro estágio, um corpo, aproximadamente do tamanho de


Marte, colidiu com a Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos;

b) o grande impacto ejetou, para o espaço, detritos tanto do corpo


que impactou a Terra, como dela própria;

c) esse impacto, além de acelerar a rotação do planeta, condicionou


a inclinação de seu eixo para 23º;

d) a Terra, posteriormente, reconstituiu-se como planeta e a Lua


agregou-se a partir dos detritos expulsos para a atmosfera.
UNIUBE 13

É muito importante lembrar que toda a formação da Terra aconteceu


há cerca de 4,5 bilhões de anos, entre o período de acrescimento da
Terra (4,56 bilhões de anos) e a idade das rochas mais antigas da Lua,
que é de 4,47 bilhões de anos. A informação da idade da Lua foi trazida
pelos astronautas da nave espacial Apollo (PRESS et al., 2006, p. 31).

1.2.2.1 A diferenciação e a formação da Terra em camadas

Existem alguns trabalhos que apontam evidências de que cerca de


30 a 65% da Terra fundiu-se, dando origem a uma camada externa de
centenas de quilômetros de espessura, a qual é chamada de oceano
de lava, ou rocha derretida.

Do mesmo modo, o interior esquentou-se até um estado menos denso, no


qual seus componentes eram móveis. O material mais pesado mergulhou
para o interior, tornando-se o núcleo, enquanto o mais leve flutuou,
formando a crosta.

O que permitiu o resfriamento da Terra?

Como afirmam Press et al. (2006), o material mais leve que emergiu do
interior terrestre carregou consigo energia na forma de calor, irradiando-o,
dessa maneira, para o espaço. Assim, a Terra resfriou-se e transformou-
-se em um planeta diferenciado ou zoneado em três camadas principais
(Figura 3).
14 UNIUBE

Figura 3: Estrutura do planeta Terra.

Veja, a seguir, a composição de cada uma dessas camadas:

• CROSTA
Os materiais líquidos e obviamente menos densos separaram-se
das substâncias geradoras, flutuando em direção à superfície do
oceano magmático. Uma vez resfriados, formou-se a crosta sólida
da Terra, uma fina camada externa com apenas 40 km de espessura.
Os minerais que a constituem são: silício, alumínio, ferro, cálcio,
magnésio, sódio e potássio, combinados com o oxigênio. Todos,
com exceção do ferro, constituem-se em elementos sólidos leves
(PRESS et al., 2006).

De acordo com Teixeira et al. (2003), a crosta é dividida em: crosta


superior (SIAL) e crosta inferior (SIMA). A primeira é composta por
minerais mais leves como silício e alumínio, e é também chamada
de crosta continental. Sua espessura varia de 25 a 90 km. Na
segunda, também chamada de crosta oceânica, predominam os
elementos silício e magnésio. Sua espessura nas áreas oceânicas
é de apenas 5 a 10 km.
UNIUBE 15

• MANTO
Camada situada entre o núcleo e a crosta, uma região que
forma a maior parte da Terra. Abrange profundidades que vão
de 40 até 2.900 km. A densidade das rochas que o compõem
é intermediária. O manto é composto basicamente de oxigênio
com magnésio, ferro e silício (PRESS et al., 2006).

O manto pode ser dividido em: manto externo ou astenosfera; e


manto interno. É responsável pelas perturbações na crosta como
dobramentos, falhamentos e terremotos, que você estudará em
maior detalhe nos próximos capítulos (TEIXEIRA et al., 2003).

• NÚCLEO (NIFE)
A temperatura do núcleo pode variar na parte mais externa, com
4000°C, até na parte mais interna, com 6000°C. Constitui-se de
níquel e ferro (TEIXEIRA et al., 2003).

Os cientistas consideram que o núcleo começa a uma


profundidade de 2.900 km, líquido em sua parte externa, mas
sólido numa região chamada de núcleo central, que atinge
cerca de 5.200 km até o centro da Terra, acerca de 6.400 km. O
núcleo interno é sólido porque a pressão central é muito alta, o
que leva o ferro a fundir-se (PRESS et al., 2006).

Um resumo dos períodos de tempo que descrevem a origem da


Terra e sua evolução num planeta diferenciado é mostrado na Tabela
1, a seguir.
16 UNIUBE

Tabela 1: O tempo geológico

Por meio da tabela do tempo geológico, é possível inferir, evolutivamente,


quais organismos foram ocupando os múltiplos ambientes terrestres.
Vale ainda lembrar que a evolução é lenta, processual e gradativa, e
que, por isso, não pode ser sentida instantaneamente, afinal, nada é
instantâneo na natureza, como nos ensina o maior evolucionista dos
últimos tempos, Charles Darwin.
UNIUBE 17

1.2.2.2 A formação dos oceanos, dos continentes e da atmosfera terrestres

Até hoje, o processo de resfriamento da Terra continua acontecendo, por


meio de atividades vulcânicas, que expulsam o magma quente do interior
da Terra e, por isso, colaborando para diminuição de sua temperatura.

Diante da alta temperatura da superfície da Terra, durante sua formação,


há milhares de anos, uma gota d'água que caía da atmosfera sobre a
superfície, evaporava-se imediatamente. A água evaporada, quando
encontrava as camadas mais frias da atmosfera, transformava-se em
chuvas torrenciais, ajudando a diminuir a temperatura da superfície do
planeta. Com o resfriamento da superfície da Terra, deu-se origem à
formação de uma camada fina de material sólido que, por sua vez, deu
origem à crosta terrestre.

Com o passar do tempo, a água das chuvas não


Pangea ou Pangeia retornava mais à atmosfera em forma de vapor,
Grande bloco de pois a crosta já vinha diminuindo sua tempera-
terra emersa que, no
dizer de A. Wagener, tura em função do ciclo hidrológico. Parte dessa
constituía o único
continente que existia água escorria pelas elevações formando os rios.
até o período Cretáceo.
Uma outra parte acumulava-se nas depressões
da crosta terrestre originando os lagos, os mares
Pantalassa
e os oceanos. Dessa forma, formou-se a hidros-
Denominação dada por
Suess para o grande fera primitiva, de constituição diferente da atual.
mar universal, isto
é, a camada líquida Com a composição do globo terrestre, criou-se um
ou hidrosfera, que
atualmente constitui
imenso bloco continental denominado Pangea,
71% da superfície do também chamado de Pangeia (o Super Continen-
globo terrestre.
te), circundado por um imenso Oceano, denomi-
nado Pantalassa. Veja a Figura 4:
18 UNIUBE

Figura 4: Pangea e Pantalassa.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Os continentes começaram a crescer logo após a diferenciação, e esse


crescimento continuou ao longo do tempo geológico. É possível supor que
o magma partiu do interior derretido da Terra e atingiu a superfície, onde
esfriou e solidificou para formar a crosta terrestre rochosa, que, como
já apontado anteriormente, é chamada Pangea (PRESS et al., 2006).

E os oceanos e a atmosfera, como se formaram?

Sabemos que o planeta Terra é o único a manter água líquida em sua superfície.
A teoria mais aceita sobre a formação dos oceanos relata que a emissão
de gás das rochas na formação do planeta liberou gases em quantidade
suficiente para o surgimento de um efeito estufa. Parte destes gases
era vapor d’água que se condensava a partir de certa altitude e voltava
a cair sobre a superfície como chuva.
UNIUBE 19

PESQUISANDO

Você acabou de ler que aconteceu a formação de um efeito estufa,


caracterizando a atmosfera primitiva. Esse efeito, como todos sabem,
acontece até hoje, e é de fundamental importância para que a vida na
Terra continue se perpetuando.

Tendo como base essa informação, pesquise:


• o que é o efeito estufa?
• por que esse efeito é crucial para a manutenção da vida na
Terra?
• qual a relação entre o efeito estufa com o que chamamos de
aquecimento global?
• o que tem provocado o aumento do efeito estufa?

Reflita sobre essas questões!

De acordo com Press et al. (2006), a água estava aprisionada em certos


minerais trazidos pela agregação dos planetesimais. Da mesma forma,
o nitrogênio e o carbono estavam ligados a outros minerais. Quando a
Terra esquentou e aconteceu a fusão parcial de seus componentes, o
vapor d’água e outros gases foram liberados e levados para a superfície
pelos magmas, sendo lançados na atmosfera pela atividade vulcânica.

No entanto, o calor extremo do solo ainda semiderretido, fazia com que a


água evaporasse antes mesmo de tocar o solo, voltando a se condensar,
transformando-se em chuvas. Este processo não era contínuo, porém,
durou aproximadamente 100 milhões de anos, ocasionando, em função
da constante precipitação e evaporação da
Ponto de ebulição água, o abaixamento da temperatura superficial.
O ponto de ebulição da
água é de 100o C ao Assim que a temperatura do solo atingiu um
nível do mar. É o ponto
que marca a transição ponto abaixo do ponto de ebulição da água,
completa da água
do estado líquido ao foi possível que ela começasse a se acumular
estado de vapor.
nos pontos mais baixos da superfície do globo.
20 UNIUBE

Com o forte escoamento das partes mais altas da superfície, provocando


consequentemente erosão, ocasionou o arraste de grandes quantidades
de sais para os oceanos recém-formados, tornando-os salgados.

Porém, ao se formarem os oceanos, outros componentes, além


dos sais arrastados da superfície, foram acrescentados a eles. As
chuvas torrenciais dissolviam, em suas gotas, parte do gás carbônico
atmosférico (CO2), transformando-o em ácido carbônico (H2CO3). O ácido
carbônico que reagia com os silicatos das rochas, transformava-se em
carbonato de cálcio (CaCO3), que era arrastado aos mares onde se
acumulou. Este processo diminuiu o efeito estufa, consequentemente
amenizando a temperatura do planeta, além de permitir que a atmosfera
se tornasse mais transparente à radiação solar.

PESQUISANDO NA WEB

Você sabe dizer por que a água do mar é salgada?

Caso não saiba e queira entender sobre isso, acesse o site Ambiente Brasil,
e leia o texto Por que a água do mar é salgada?, no endereço:

<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_salgada/
por_que_a_agua_do_mar_e_salgada%3F.html>.

Boa leitura!

O planeta Terra foi abatido por bólidos ao decorrer de milhares de anos.


Um dos impactos mais importantes aconteceu há 65 milhões de anos,
quando ocorreu a extinção dos dinossauros. Esse fato possibilitou o
surgimento dos mamíferos, espécies dominantes sobre o planeta e
precursora da vida humana na Terra.
UNIUBE 21

PARADA PARA REFLEXÃO

Pensando nisso, o poeta Robert Frost (apud PRESS et al., 2006, p. 36)
pensou, talvez, na vulnerabilidade da vida na Terra quando produziu
as seguintes palavras:

Alguns dizem que o mundo terminaria em labareda quente,


outros dizem que em frio enregelado.
Do que eu provei do desejo ardente,
Eu concordo com os que torcem pelo fogo inclemente.
Mas se eu tiver de perecer dobrado,
eu acho que conheço bem o querer mal
Para dizer que a destruição do gelo desapiedado
é também colossal
e suficiente pro mundo ser acabado.

Reflita sobre as palavras desse poeta. Você concorda com ele?

Em relação à formação das águas dos oceanos, existem duas


possibilidades:

• a primeira: faz referência às altas temperaturas da Terra, na


qual a água estaria presente na forma gasosa, envolvendo-a.
Após o resfriamento e solidificação da crosta, os oceanos teriam
se formado por condensação. Dessa forma, desde os primór-
dios, o oceano teria um volume de água semelhante ao atual;
• a segunda: está relacionada a um corpo frio de água, retido nos
minerais hidratados. Graças ao aquecimento gradual e à fusão
parcial, em decorrência do calor provindo da desintegração ra-
dioativa, a água teria vindo até a superfície englobada em líqui-
dos vulcânicos e gases. Nesse caso, o volume de água seria
acrescido continuamente por adições a partir do interior da Terra.

1.3 Terra: um sistema de componentes interativos

A Terra apresenta a forma de elipsoide, com diâmetro equatorial de


12.756.776 metros e diâmetro polar de 12.713.824 metros. Sua área é
22 UNIUBE

de 510.100.934 km², com circunferência de 40.076.59 km². A densidade


das rochas que ocorrem com maior frequência na crosta apresenta um
valor médio de 2,76 g/cm³, porém, se medirmos sua densidade global,
teremos, aproximadamente, 5,52 g/cm³.

Muito embora a Terra tenha se resfriado desde seu início, podemos


caracterizá-la como um sistema dinâmico, devido às atividades
geológicas, tais como os terremotos, vulcões e glaciações que acontecem
até hoje. Essas atividades, como coloca Press et al. (2006), são
governadas por dois mecanismos térmicos: um externo e outro interno.

• O mecanismo externo é controlado pela energia do Sol, pois


seu calor tem a capacidade de energizar a atmosfera e os
oceanos, sendo responsável, então, pelo clima e tempo. O
vento, a chuva e o gelo provocam a erosão de montanhas,
modelando a paisagem e dando forma à superfície, alterando,
em consequência, o clima.
• O mecanismo interno é gerenciado pela energia térmica
aprisionada durante a origem da Terra; energia essa originada
pela radioatividade em seus níveis mais profundos. O calor
interno da Terra controla os movimentos do manto e do
núcleo, provocando por isso, movimentos da crosta, movendo
continentes e soerguendo montanhas.

Como já visto, estudos afirmam que a crosta é menos densa nas massas
montanhosas do que sob as planícies e menos densa também sob as
planícies do que sob os oceanos. A litosfera, por ter menor densidade,
flutua sobre a astenosfera, à semelhança de um iceberg no oceano.
Isso acontece, por meio da isostasia, que é o estado de equilíbrio entre
os blocos continentais mais leves que flutuam no substrato mais denso
do manto.

Quando a litosfera tem seu peso aumentado, seja por depósito de


espessas capas de gelo, seja por grandes depósitos de material
sedimentar, ou pela formação de cordilheiras, ocorre uma subsidência até
UNIUBE 23

se encontrar um novo equilíbrio isostático. Ocorrendo o contrário, isto é,


uma diminuição do peso da litosfera, ocorre um soerguimento. Os casos
mais comuns em que ocorre a diminuição do peso são os derretimentos
das capas glaciais e a denudação de uma área ou cordilheira por meio
da erosão. Veja a Figura 5, a seguir:

Figura 5: Iceberg, barco e montanha.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

De igual forma, o volume relativamente leve da crosta continental,


projetado no manto,  permite a “flutuação”.  Podemos comparar esse
fenômeno ao do iceberg e do navio que flutuam, porque o volume
submerso é mais leve que o volume de água deslocado.

PARADA PARA REFLEXÃO

Vamos refletir/pensar sobre algumas características básicas do planeta


Terra.

Você sabe que a Terra é um sistema aberto, no sentido de que troca massa
e energia com o restante do cosmos.

Dessa forma, a energia do Sol assume funções.

a) Quais seriam elas?


b) O que podemos entender por tempo? E clima?
c) Que relação tem o clima com o sistema Terra?

Pense em torno desses questionamentos, reflita e disponibilize sua reflexão


em seu TCA.
24 UNIUBE

Todas as interações entre as partes de nosso planeta constituem o


sistema Terra. Os principais componentes do sistema Terra estão
colocados no Quadro 1. Você perceberá que alguns deles já foram
descritos e estudados anteriormente.

Quadro 1: Os principais elementos do sistema Terra

A energia do Sol energiza os componentes


Camada gasosa que se estende da superfície da Terra até
Atmosfera
uma altitude de aproximadamente 100 km.
Parte líquida que compreende todos os oceanos, lagos, rios
Hidrosfera
e água subterrânea.
Toda a matéria orgânica que condiciona a vida, próxima à
Biosfera
superfície da Terra.
O calor do interior da Terra energiza os componentes
Camada rochosa espessa externa da Terra sólida,
constituída pela crosta e parte do manto superior, até uma
Litosfera
profundidade de aproximadamente 100 km, formando as
placas tectônicas.

É uma fina camada dúctil do manto, situada sob a litosfera,


Astenosfera
diretamente ligada ao movimento das placas tectônicas.

Manto Localizado sob a astenosfera, chega a aproximadamente


inferior 2.900 km de profundidade.

Camada líquida constituída predominantemente por ferro,


Núcleo
estendendo-se de aproximadamente 2.900 km, chegando
externo
até 5.100 km de profundidade.
É a esfera mais interna que constitui o planeta. É
Núcleo formada principalmente de ferro sólido, estendendo-se
interno de aproximadamente 5.100 km até cerca de 6.400 km de
profundidade.

Fonte: Adaptado de Teixeira et al.(2003).

Vejamos cada um dos sistemas:

• o sistema do clima é constituído pela atmosfera e hidrosfera,


que constituem a biosfera, ou seja, a parte que permite a vida
no planeta;
UNIUBE 25

• o sistema de placas tectônicas é formado pela litosfera,


astenosfera e manto inferior (parte anterior da mesosfera);

• o sistema do geodínamo é formado pelo núcleo externo e nú-


cleo interno. Vale lembrar aqui que esses sistemas se comu-
nicam, pois a litosfera move-se sobre porções do manto mais
liquefeito, e pode afundar, sendo arrastada pela astenosfera,
onde é movida para o manto inferior, que emerge novamente,
num ciclo convectivo. Os dois núcleos interagem entre si e são
responsáveis, por isso, pela criação do campo magnético da
Terra.

1.4 Explorando o interior do planeta Terra

A luz, o som e a sísmica constituem os diferentes tipos de ondas, que


têm uma única característica em comum: a velocidade com que viajam
depende do material que atravessam.

O interior e a crosta terrestre apresentam uma


constituição diferente. Isto é demonstrado nas Sismologia

observações da densidade e da gravidade do Do grego seismos,


abalo + logos, tratado.
globo terrestre. Grande parte do conhecimento Estuda os movimentos
que ocorrem na
do interior do planeta é fornecido por meio de superfície terrestre.
estudos geofísicos, principalmente com o auxílio
da Sismologia.

A partir da sismologia, constatou-se a astenosfera. A astenosfera é


uma região do manto superior, entre 100 e 350 km de profundidade,
com características plásticas minerais e capaz de fluir. Sua existência
viabilizou a teoria da deriva continental e, por extensão, a da tectônica
de placas, que você estudará nos próximos capítulos.
26 UNIUBE

A estrutura interna da Terra foi formada a partir da propagação de ondas


sísmicas, originadas de grandes terremotos ou mesmo de explosões
atômicas. Sendo os principais tipos de onda: P - Longitudinais (sólidos
e líquidos); S - Transversais (sólidos); L – Superfície.

1.4.1 Os tipos de ondas e os estudos sismológicos

Para Press et al. (2006), as ondas sonoras desempenham um movimento


de puxa-empurra sobre o sólido, movimento esse chamado de onda
compressional (ondas P), para diferenciar do movimento lado a lado
das ondas cisalhantes (ondas S):

• as ondas P são as primeiras a chegar, e são sempre


compressionais. Propagam-se em materiais sólidos, líquidos e
gasosos em sucessivas compressões e expansões;
• as ondas S, secundárias, são cisalhantes, de velocidade nula,
pois os gases e os líquidos não têm resistência ao cisalhamento.
Elas não se propagam por meio de qualquer fluido, como ar,
água ou ferro líquido. São chamadas ondas de cisalhamento,
porque deslocam o material em ângulos perpendiculares à sua
trajetória de propagação;
• as ondas L (de superfície) propagam-se sobre a crosta terrestre,
mais rapidamente no início e, depois de algum tempo, mais
lentamente.

Vejamos a Figura 6, a seguir:


UNIUBE 27

ONDA PRIMÁRIA

ONDA SECUNDÁRIA

ONDA LOVE

ONDA RAYLEIGH

D
Figura 6: Tipos de ondas e seus movimentos.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Os movimentos seguem o processo:

• em (A), está representada uma onda primária, caracterizando


movimento de onda P, pois são ondas compressionais, como
ondas sonoras, que se propagam rapidamente nas rochas,
na forma de contrações e expansões, empurrando e puxando
partículas na direção da trajetória percorrida;
28 UNIUBE

• em (B), está representada uma onda secundária, caracteri-


zando movimento de onda S, propagando-se em velocidade
próxima à metade da velocidade das ondas P. Essas ondas
S são de cisalhamento, que empurram o material em ângulos
perpendiculares à sua direção de propagação;
• em (C), está representada uma onda Love, um segundo tipo
de ondas de superfície, em que o chão é movimentado lateral-
mente, sem movimento vertical;
• em (D), está representada uma onda Rayleigh, em que a su-
perfície do chão move-se verticalmente num movimento elíp-
tico ondulante, que se extingue na medida em que a profundi-
dade aumenta.

EXEMPLIFICANDO!

As ondas P e S viajam aproximadamente 17% mais rápido por meio de


rochas da crosta oceânica, como o gabro, do que por meio das rochas da
crosta superior, como o granito, e, além disso, viajam aproximadamente 33%
mais rápido por meio do manto superior (peridotito) (PRESS et al., 2006).

Assim, o modelo que os sismólogos têm concebido é mostrado na Figura


7. Nela, pode-se perceber como as velocidades de ambas as ondas
compressionais e de cisalhamento mudam com a profundidade e como
essas alterações estão relacionadas com as principais camadas da Terra.

Figura 7: Modelo de propagação de ondas.


UNIUBE 29

Esse modelo de propagação de ondas é proposto pelos sismólogos


da atualidade. Note que a velocidade varia conforme a profundidade.

Por meio da Sismologia, estabeleceu-se, também, um novo conceito de


litosfera, que é a região rígida acima da astenosfera, e, portanto, incluindo
a crista e porção externa do manto superior (TEIXEIRA et al., 2003).
• A crista: não é homogênea, variando em composição e
espessura, tendo nos continentes, composição granítica de 50
km, em média, de espessura. Nos oceanos, tem composição
basáltica e, aproximadamente, 8 km de espessura.
• As placas litosféricas: este termo representa uma camada
rígida capaz de se movimentar sobre a astenosfera plástica e
geradora de fusões magmáticas.
• O manto: representa 82% do volume e 68% da massa da
Terra, e admite-se ser composto, principalmente, por silicatos
de ferro e magnésio.

Os estudos sismológicos concluem, então, que a Terra é dividida em


três camadas concêntricas, separadas por zonas conhecidas como
descontinuidades, e que apresentam a seguinte sequência:

• Crosta
Sua camada externa tem espessura variável entre 10 e 70 km de
profundidade. É dividida em siálica (Si, Al) e simática (Si, Mg), que
são separadas pela descontinuidade de Conrad. Na base da crosta,
as ondas sofrem um aumento de velocidade, rápida no início, até
mais ou menos 1000 km de profundidade, e, depois, mais lenta.
Esse aumento se dá graças às rochas mais densas que constituem
o manto. O limite crosta-manto é marcado pela descontinuidade de
Mohorovicic ou molho. A crosta externa é a sede dos fenômenos
geológicos observáveis originados na crosta inferior ou manto.
30 UNIUBE

• Manto
De acordo com Press et al. (2006), o principal tipo de rocha do
manto superior é o peridodito, constituído de dois silicatos à base
de magnésio e ferro. A mudança dessa rocha se dá por meio da
diminuição ou aumento das ondas S, nas profundezas da Terra.

Alguns dados indicam, de acordo com Press et al. (2006) que as


temperaturas próximas à base litosférica variam de 1.300 a 1.400° C.

O manto, como já dito anteriormente, é subdividido em superior e


inferior. O superior atinge os 700 km de profundidade e o inferior vai
até o núcleo a 2.900 km de profundidade. Ele é sólido, mas tem certa
plasticidade, permitindo ajustes com a crosta e a subida de material
até próximo à superfície, isso graças à sua grande temperatura.
Assim, o manto é a sede de vários eventos e movimentos percebidos
na crosta (TEIXEIRA et al., 2003).

• Núcleo
É dividido em núcleo externo e núcleo interno. O núcleo é líquido em
sua parte externa, o que pode ser comprovado por não transmitir as
ondas S. Seu contato com o manto é separado pela descontinuidade
de Gutenberg, em que as ondas P sofrem redução brusca de
velocidade. O núcleo interno é sólido e vai de 5150 km a 6371 km
de profundidade (TEIXEIRA et al., 2003).

No núcleo externo, a temperatura pode chegar a 3.000° C. Já no


núcleo interno, onde as pressões são ainda mais fortes, da ordem
de 4 milhões de vezes a pressão atmosférica na superfície terrestre,
a temperatura pode variar de 6000 a 8000° C (PRESS et al., 2006,
p. 535-537).
UNIUBE 31

Veja a Figura 8:

Figura 8: Principais componentes do sistema Terra.

De acordo com Teixeira et al. (2003), existem limites que separam as


partes do planeta Terra, a saber (Figura 9):

• descontinuidade de Gutenberg: descontinuidade sísmica que


se encontra a uma profundidade de 2900 km de profundidade,
local onde a velocidade das ondas longitudinais (ondas L)
diminui bruscamente de 14 km/s para 8 km/s, enquanto as
ondas transversais tornam-se fraquíssimas, não conseguindo
atravessar a camada que ali se inicia.
Representa o limite entre o manto inferior e
Cinturões orogênicos
o núcleo externo;
Orogênese é o
conjunto de processos • descontinuidade de Conrad: limite entre a
que levam à formação crosta continental superior e a crosta con-
ou rejuvenescimento
de montanhas ou tinental inferior, onde a velocidade das on-
cadeias de montanhas das longitudinais aumenta de 6 km/s para
(cinturiões), produzido
principalmente 6,4 km/s. Sua profundidade varia de 10-25
pelo diastrofismo km nos continentes, podendo alcançar 50
(dobramentos, falhas
ou a combinação km sob os cinturões orogênicos;
dos dois), ou seja,
pela deformação • descontinuidade de Mohorovicic: desconti-
compressiva da nuidade sísmica na base da crosta (conti-
litosfera continental,
formando cadeias, nental e oceânica), onde as ondas longitu-
aqui chamadas de dinais (ondas L) diminuem sua velocidade
cinturões.
de 7,8 km/s para 6,3 km/s e as ondas trans-
32 UNIUBE

versais, de 4,4 km/s para 3,7 km/s. Sua pro-


Dorsais
fundidade é de 30 a 40 km no continente, de
É o nome dado à até 75 km sob os cinturões orogênicos, de
cadeia montanhosa
submersa nas águas 10 a 12 km nos oceanos, e de 25 a 30 km
oceânicas. nas dorsais;

Na Figura 9, temos a divisão do interior da Terra em três camadas


concêntricas:

Figura 9: Divisão do interior da Terra em três camadas concêntricas, mostrando


as descontinuidades de, Conrad.

Observe a descontinuidade de Mohorovicic, que delimita a crosta (sólida)


da astenosfera. Note também a descontinuidade de Gutenberg, que
delimita a mesosfera (manto inferior) do núcleo externo.

A crosta externa é constituída por rochas ígneas, sedimentares e


metamórficas.

• 95% do volume da crosta externa é constituído por rochas


ígneas ou metaígneas, as quais ocupam uma área de apenas
25% da crosta terrestre;
• 5% do volume da crosta são constituídos por rochas sedimen-
tares e metassedimentares, as quais ocupam 75% de sua
área. Os outros 95% constituem-se de rochas magmáticas in-
trusivas. Essas rochas são encontradas nos continentes com
a composição granítica e granodiorítica, sendo que 95% das
rochas magmáticas extrusivas oceânicas são basálticas.
UNIUBE 33

Quanto à constituição química da crosta, há o oxigênio, que ocupa mais


de 90% do espaço, deixando o restante para os outros componentes.
Os outros oito elementos perfazem 98,5% do peso da crosta, sendo
eles: oxigênio (O), silício (Si), alumínio (Al), ferro (Fe), cálcio (Ca), sódio
(Na), potássio (K) e magnésio (Mg).

A crosta é formada basicamente por rochas que, na maioria, são


constituídas de mineraloides, como: vidro vulcânico, carvão e outros
compostos orgânicos.

IMPORTANTE!

Você estudará, nos próximos capítulos, os vários tipos de rochas e minerais.


Aqui, fizemos uma pequena abordagem do assunto para que você possa
compreender melhor a formação e constituição da crosta terrestre.

1.5 Processos geodinâmicos internos

Os processos geológicos que agem no interior da Terra são denominados


processos endogenéticos ou geodinâmicos internos, que dependem da
energia do seu interior para o desenvolvimento.

A movimentação da matéria, do interior para o exterior do planeta, e


vice-versa, é contínua, e constitui o ciclo das rochas. Neste sentido,
as massas rochosas, impulsionadas para a superfície, determinam o
relevo e impedem um aplainamento. Os processos geodinâmicos internos
envolvem movimentos e transformações químicas e físicas da matéria
existente dentro do planeta.

Relacionam-se, então, à geodinâmica interna, as erupções vulcânicas e


plutônicas, os terremotos, os dobramentos, os falhamentos, a orogênese,
a epirogênese, a deriva continental e a tectônica de placas. Porém, todos
esses processos originam-se de uma dinâmica interna denominada
correntes de convecção.
34 UNIUBE

1.5.1 Teoria das correntes de convecção

Para Press et al. (2006), a Terra é quimicamente zoneada por sua crosta,
manto e núcleo, que constituem em camadas quimicamente distintas
que se agregaram durante a diferenciação primordial.

De acordo ainda com o autor, a Terra é zoneada


Reologia
pela Reologia. Por sua vez, a deformação do
São os diferentes tipos
de comportamento material depende da composição química e da
que apresentam os temperatura. Como se sabe, a parte externa
materiais ao resistir à
deformação (PRESS et da Terra é sólida, e comporta-se como uma
al., 2006).
bola de cera quente (cera fria é frágil; cera
quente, dúctil). Portanto, com o resfriamento
da superfície, a litosfera fica fragilizada e, ao mesmo tempo, sendo
envolvida pela quente e dúctil astenosfera.

EXPLICANDO MELHOR

A crosta e o topo do manto, juntos, formam a litosfera, que atinge uma


profundidade média de 100 km. Quando a litosfera é acondicionada a uma
forma, tende-se a comportar como uma casca rígida e frágil, enquanto que
a astenosfera, logo abaixo, se comportará como um sólido moldável ou
dúctil, adquirindo certo movimento.

Várias ideias procuram explicar os fenômenos orogenéticos pelas


supostas correntes de convecção do substrato da crosta terrestre.
Tais ideias têm em comum: os movimentos verticais e horizontais da
litosfera são originados por correntes e deslocamentos de massas que se
substituem mutuamente nas profundidades, situadas abaixo da delgada
crosta terrestre.

Blocos siálicos Os blocos siálicos seriam afetados por estas


Zona da crosta
correntes, podendo ser arrastados pelo fluxo
terrestre que se horizontal, que se deslizam por baixo, ou
manteve relativamente
estável durante longo mesmo soerguidos ou abatidos, conforme a
período de tempo.
direção dessas correntezas. Muitos autores
UNIUBE 35

acreditam que são correntes conveccionais térmicas, provenientes


do calor produzido pela radioatividade e pela conversão da energia
gravitacional em térmica, com a formação do núcleo, há mais de 4
bilhões de anos.
Isótopos

Alguma energia calorífica, derivada dos Nomenclatura química


dada aos átomos que
processos iniciais de formação da Terra, apresentam mesmo
restou, em parte, porque as temperaturas número de prótons
(carga positiva, presente
internas são mantidas pelas transformações no núcleo atômico),
entretanto, diferentes
radioativas de isótopos instáveis. números de massas.

A teoria da tectônica de placas infere que a litosfera não é uma casca


contínua, mas sim quebrada em cerca de 12 “placas” que se movem
sobre a superfície, com velocidade de alguns cm/ano (centímetros por
ano). Pode-se dizer que cada placa é uma unidade rígida diferente
que se move sobre a astenosfera, a qual também está em movimento
(PRESS et al., 2006).

A litosfera, ao formar uma placa, pode ter espessura de poucos quilôme-


tros nas áreas onde exista atividade vulcânica e, provavelmente, pode
estender-se até 200 km ou mais nas regiões mais antigas e frias dos
continentes. A descoberta das placas tectônicas em 1960 deu condições
aos cientistas de elaborarem a primeira teoria unificada para explicar a
distribuição mundial dos terremotos e vulcões, que é a Teoria das derivas
dos continentes ou deriva continental, que explica o soerguimento de
montanhas e muitos outros fenômenos geológicos (PRESS et al., 2006).

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Os radioelementos de vida curta, presentes nos primórdios da história do


planeta, não são considerados emissários de calor interno, uma vez que tal
emissão é muito menor em relação ao calor produzido pela desintegração
do urânio 238 e 235, do tório 232 e do potássio 40, que, por apresentarem
vida longa, ou seja, um tempo de desintegração maior, liberam uma grande
quantidade de calor quando quebrados, o que mantém a dinâmica interna
da Terra até os presentes dias.
36 UNIUBE

A radioatividade libera calor que, por sua vez, se transforma em trabalho,


gerando forças que movimentam placas litosféricas e erguem imensas
cordilheiras.

SAIBA MAIS

Radioelementos
Elementos químicos radioativos encontrados no interior da Terra que
emitem calor das profundezas até os dias atuais.

Mas, por que as placas tectônicas se movimentam na superfície


terrestre, ao invés de se manterem fixas completamente numa
casca rígida?

Porque existem forças que empurram e arrastam as placas ao redor da


superfície originando-se do manto sólido, provocando convecção. Por
isso, pode-se entender por convecção o mecanismo de transferência
de energia e de massa no qual o material aquecido sobe para a crosta
e o resfriado afunda (PRESS et al., 2006).

EXEMPLIFICANDO!

Podemos ilustrar a convecção num processo, envolvendo fluidos e gases,


como acontece nas correntes de circulação de água fervendo numa panela,
na fumaça que sai de uma chaminé ou, até mesmo, no ar aquecido que
sai do seu corpo e precipita no ambiente quando está frio.

Mas, a convecção também pode acontecer em sólidos que estão submeti-


dos a altas temperaturas, tornando-os frágeis e consequentemente dúcteis.
Nesse caso, o fluxo será mais lento, pois os sólidos frágeis (como o tijolo, a
cera, o caramelo) são mais resistentes à deformação que os fluidos comuns
(como o mercúrio, a água, as barras de sabão) (PRESS et al., 2006).

A convecção acontecerá então quando um sólido dúctil for aquecido


em sua base e quando for resfriado no topo. A matéria quente torna-se
menos densa, tendendo, por isso, subir para a superfície. Quando na
superfície chega, perde calor, e se torna mais densa. Quando fica mais
densa, ela afunda sobre a ação da gravidade.
UNIUBE 37

O movimento das placas é resultado da convecção do manto, controlado


pelo calor interno do planeta. O que acontece de fato é a subida do
material quente do manto onde as placas se separam, e então começa
endurecer a litosfera. Na medida em que se move para longe do limite
divergente, a litosfera vai se enrijecendo por ficar cada vez mais fria.
Mas, ela pode afundar sobre a astenosfera, e com ela arrastar material
de volta para o manto, nos bordos onde as placas são convergentes
(PRESS et al., 2006).

Veja na Figura 10, a seguir, temos uma visão simplificada das correntes
de convecção no interior da Terra:

Núcleo externo

Núcleo interno

Figura 10: O movimento de placas tectônicas.

Para os estudos de geologia, as placas tectônicas representam os mais


importantes componentes e interações do planeta. Por isso, os cientistas
estão sempre revisando modelos cujas implicações desacordam com
os dados reais.

1.5.2 O campo gravitacional e magnético da Terra

Para abordarmos esse assunto, vamos responder a três questionamentos


fundamentais.
38 UNIUBE

O que o campo de gravidade da Terra aponta sobre seu interior?

As variações da ação da gravidade na superfície da Terra e as corres-


pondentes distorções em sua forma podem ser mensuráveis via satéli-
te. Essas variações acontecem principalmente devido às variações de
temperaturas, provocadas pela convecção do manto, os quais afetam
diretamente a densidade das rochas. O campo gravitacional em observa-
ção está de acordo com o padrão da convecção do manto inferido a
partir de tomografia sísmica.
O que o campo magnético da Terra aponta sobre o fluido do núcleo
externo?

Estudos de geólogos mostram que o núcleo externo


Geodínamo
também possui movimentos convectivos, que agitam
É um forte campo
magnético criado por o fluido rico em ferro e condutor elétrico, formando
movimentos rápidos
do fluido do núcleo um geodínamo, que produz o campo magnético. O
externo, constituído magnetismo na crosta (superfície) é principalmente
principalmente por
ferro, um ótimo dipolar, mas tem uma parte não dipolar. Estudos
condutor elétrico.
Essas correntes recentes mostram que o campo magnético da Terra
elétricas geradas é
que criam esse forte tem mudado nos últimos séculos, o que nos permite
magnetismo. concluir que os movimentos do fluido do núcleo
externo controlam o geodínamo (Figura 11).

Figura 11: Campo magnético da Terra.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 39

As linhas do campo geomagnético apontam para fora do solo no polo


norte magnético e para dentro no polo sul magnético. Por isso, dizemos
que as linhas de força comportam-se como um campo magnético
dipolar. Observe que os polos norte e sul magnéticos são diferentes
em localização, quanto aos polos norte e sul geográficos, fato explicado
também pelo comportamento das linhas de força.

O que é paleomagnetismo? Qual sua importância?

As rochas podem se tornar magnetizadas na direção do campo


magnético, no momento em que se formam. Essa magnetização fica
gravada nas rochas por milhares de anos. O paleomagnetismo explica-
-nos que o campo geomagnético reverte-se, variando de um lado a
outro, ao longo de todo o tempo geológico. A cronologia (período de
ocorrência) da inversão tem sido muito estudada, de modo que a direção
da magnetização remanescente de uma rocha é um bom indicador de
sua idade estratigráfica.

Resumo

A Geologia, como colocada na introdução deste capítulo, é a ciência


que estuda a Terra, sua composição, estrutura, propriedades físicas,
história e os processos que lhe dão forma. Na verdade, é uma das
ciências da Terra.

A Geologia foi essencial para determinar a idade da Terra, estimada


em aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Essa ciência deu condições
ao desenvolvimento da teoria que afirma que a litosfera terrestre se
encontra fragmentada em várias placas tectônicas, que se deslocam
sobre o manto superior fluido e viscoso (astenosfera) de acordo com
um conjunto de processos denominado tectônica de placas.
40 UNIUBE

A Geologia relaciona-se diretamente com muitas outras ciências, em


especial com a Geografia e Astronomia. Por outro lado, serve-se de
ferramentas fornecidas pela Química, Física e Matemática, entre outras,
enquanto que a Biologia e a Antropologia servem-se da Geologia para
dar suporte a muitos dos seus estudos.

Atividades

Atividade 1

Leia a citação, a seguir.


A crosta está em contínuo movimento, empurra-
da, comprimida, distendida, rompida, dobrada pela
movimentação do manto superior. A crosta não é
rígida e imutável, mas pode parecer, à primeira vista.
Tensões de origem interna transmitem-se à crosta
externa, provocando enormes sulcos alongados ou,
então, elevações montanhosas que fazem mudar
a configuração dos mares e continentes. (LEINZ &
AMARAL, 2001, p. 237).

A partir de seus estudos sobre crosta terrestre, justifique a citação.

Atividade 2

Analise a seguinte questão:

É possível imaginar como será a crosta terrestre e o interior do nosso


planeta daqui alguns bilhões de anos?

Formule uma hipótese para essa problemática.


UNIUBE 41

Atividade 3

Responda:

a) O que é o princípio de isostasia? Qual sua importância?

b) Como se deu a origem dos oceanos?

Referências
LEINZ, Viktor e AMARAL, Sérgio Estanislau do. Geologia geral. São Paulo:
Editora Nacional, 1989.

PRESS, Frank et al. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman,
2006, p. 656.

TEIXEIRA, Wilson et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003.
Capítulo
Da deriva dos continentes
à tectônica de placas:
2
a teoria unificadora

Tiago Zanquêta de Souza

Introdução

Este capítulo tem como tema a teoria da tectônica de placas e


lhe dará condições de entender e examinar, mais profundamente,
como as forças que controlam o movimento das placas estão
diretamente relacionadas com o sistema de convecção do manto.

A litosfera da Terra, ou seja, a parte rochosa, mais externa, rígida


e resistente, é quebrada (fragmentada) em torno de 12 placas,
que deslizam, divergem (separam-se) ou convergem (unem-se
e consomem-se) em relação umas às outras, na medida em que
se movem sobre a astenosfera, que, como você já estudou, é
menos resistente e dúctil.

As placas são criadas onde se fragmentam, ou seja, onde se


convergem, sendo também, por isso, recicladas, em um processo
contínuo de criação e destruição. Os continentes, como os
conhecemos, migram junto com as placas em movimento, pois
estão encravados na litosfera.

A teoria da tectônica de placas é extremamente útil por explicar a


distribuição de muitos retratos geológicos de grandes dimensões
que resultam do movimento ao longo dos limites de placa, como:
associações de rochas, vulcões, cadeias de montanhas, estruturas
44 UNIUBE

do fundo marinho e também terremotos. Além disso, a teoria


unificadora descreve o movimento das placas e as forças que
atuam entre elas. Ela constitui uma base conceitual para grande
parte deste capítulo.

Ainda neste capítulo, analisaremos como os geólogos coletam


e interpretam observações de campo para construir a história
geológica de uma determinada região.

Por meio de estudos da Geologia moderna, foi possível concluir


que a maioria das rochas sedimentares é originalmente depositada
no fundo do mar, como uma camada horizontal no início mole
e, após algum tempo, resfriada e enrijecida, pelo contato direto
com a água. No entanto, essas rochas endurecidas ou estavam
encurvadas, ou inclinadas ou fraturadas.

Dessa forma, um questionamento pode ser levantado: que tipo ou


que forças são capazes de deformar rochas duras e rijas dessa
maneira? O que os geólogos da atualidade fazem é, na verdade,
uma reconstrução da história das rochas a partir de padrões de
deformação encontrados no campo. Mas, outros questionamentos
poderiam ser feitos, como: qual a relação entre a tectônica de
placas e a deformação das rochas? Como eram essas rochas em
sua originalidade? O que, de fato, aconteceu com elas?

Para responder a esses questionamentos, vamos abordar


conceitos como o de dobramento e falhamento que, de uma forma
geral, são as formas de deformação mais comuns em rochas
ígneas, metamórficas e sedimentares, que formam a crosta do
planeta Terra.

Poderíamos comparar, segundo Press et al. (2006), as dobras


das rochas com as dobras das roupas. Do mesmo modo que a
UNIUBE 45

roupa fica enrugada quando suas extremidades são empurradas


uma contra a outra, também as camadas de rocha dobram-se,
quando são vagarosamente comprimidas por forças da crosta.

Portanto, os geólogos acreditam que as forças que movem as


placas tectônicas também são as grandes responsáveis pelas
deformações encontradas em muitos locais (PRESS et al., 2006,
p. 272).

Mas, por que dizemos que a teoria da tectônica de placas


é uma teoria unificadora?

Para saber a responder a esta pergunta, você deverá fazer a


leitura deste capítulo em sua íntegra. Ao longo do texto a ser
apresentado, você encontrará subsídios que o(a) ajudarão a
formular uma resposta satisfatória.

Bons estudos!

Objetivos

Ao final do estudo desse capítulo, esperamos que você esteja


apto a:

• diferenciar e relacionar a teoria da deriva continental à das


placas tectônicas;
• identificar e explicar as relações do tectonismo com a união
dos continentes;
• distinguir a natureza das placas tectônicas;
• demonstrar a estrutura e o comportamento das placas
tectônicas;
• distinguir e enumerar os tipos de limites de placas;
• demonstrar e explicar a distribuição de espécies segundo
as teorias apresentadas neste capítulo.
46 UNIUBE

Esquema

1º momento - Os caminhos até a teoria unificadora

2º momento - Teoria da tectônica de placas

3º momento - A formação das cordilheiras continentais

4º momento - A distribuição da vida no passado e no


presente

2.1 Os caminhos até a teoria unificadora

Por mais de 200 anos, os geólogos desenvolveram diversas teorias


tectônicas (do grego tekton = “construtor”), mas apenas em 1960 que o
termo geral que eles usaram para descrever a formação das montanhas,
o vulcanismo e outros processos geológicos que formam os retratos
(feições) na crosta terrestre, foi solidificado (PRESS et al., 2006).

Até então, nenhuma teoria conseguia, separadamente, explicar


satisfatoriamente a variedade de processos geológicos. A teoria da
tectônica de placas não é apenas abrangente, é também expansiva, pois
explica várias observações bastando-se de poucos princípios simples.

Portanto, as ideias fundamentais da tectônica de placas foram reunidas


como uma teoria unificada há menos de 40 anos.
UNIUBE 47

PONTO CHAVE

A constatação da existência das placas tectônicas deu uma nova roupagem


às antigas ideias da deriva dos continentes ou deriva continental, explicando
clara e satisfatoriamente, os movimentos internos da Terra, que geram
feições externas, alterando a litosfera do planeta. A tectônica global ou
tectônica de placas é a chave para a compreensão da história geológica
da Terra e de como será o futuro do planeta onde vivemos (TEIXEIRA et
al., 2003).

2.1.1 Teoria da deriva continental: o ponto chave de uma revolução


nas ciências geológicas

Vamos começar nossos estudos com relação à teoria da deriva


continental a partir do que pensa Franklin (1972, apud PRESS, et al.,
2003, p. 48).
Tais mudanças nas partes superficiais do globo
pareciam, para mim, improváveis de acontecer se a
Terra fosse sólida até o centro. Desse modo, imaginei
que as partes internas poderiam ser um fluido mais
denso e de densidade específica maior que qualquer
outro sólido que conhecemos que assim poderia nadar
no ou sobre aquele fluido. Desse modo, a superfície
da Terra seria uma casca capaz de ser quebrada e
desordenada pelos movimentos violentos do fluido
sobre o qual repousa.

É sabido que a Terra vive em constante movimento, conforme estudamos


em capítulo anterior. Por isso, Franklin, em 1972, escreveu que a Terra
seria como uma casca, que se quebra, por estar submetida a movimentos
constantes, e, por isso, em modificação (diríamos paisagística)
permanente.
48 UNIUBE

IMPORTANTE!

Um breve histórico

Em 1620, o filósofo inglês Francis Bacon


Primeiros mapas observou a semelhança entre as costas da
Registros mostram África e da América do Sul, por meio das
que os babilônicos, análises dos primeiros mapas elaborados,
por volta de
2.300 a.C. foram
que mostravam uma semelhança entre os
os primeiros a contornos dos continentes, condicionando os
representarem o pesquisadores à hipótese de uma possível
mapa Mundi em
argila. união intercontinental. Mas, somente no
século XX, os cientistas concordaram que os
Alfred Lothar
continentes estiveram à deriva pela Terra.
Wegener
Já o meteorologista alemão Alfred Lothar
Cientista alemão
que passou grandes Wegener (1880-1930) observou a semelhança
períodos de sua vida da costa dos continentes, principalmente entre
nas regiões geladas
da Groenlândia,
a África e América do Sul, especialmente depois
fazendo observações de ter lido um artigo científico sobre fósseis de
meteorológicas animais e plantas idênticos, encontrados em
e misturando,
frequentemente, lados opostos do Atlântico.
atividades de
pesquisa com
aventuras.
Em 1912, este mesmo autor defendeu a
tese que propôs a existência de uma massa
continental única, que foi chamada de Pangea.
Sua ideia, tendo como base suas observações
no mapa Mundi, no qual as linhas de costa atlântica atuais da América
do Sul e África se encaixariam como um quebra-cabeças gigante, de
que todos os continentes poderiam se agrupar, formando um único
e supercontinente (TEIXEIRA et al., 2003, p. 98). Segundo Wegener,
no início do período Cretáceo, os continentes (ao norte) denominados
Laurásia (Europa, Ásia e América do Norte), separaram-se dos continentes
(ao Sul) conhecidos por Gondwana.

A teoria de Wegener fundamentou-se em dados paleontológicos,


cartográficos, geológicos e morfológicos, além dos paleoclimáticos.
Wegener demonstrou que o clima e os tipos de rocha coincidiam mesmo
separados pelo oceano. Após encontrar vestígios de samambaias
UNIUBE 49

tropicais na ilha ártica de Spitsbergen, ocorreu-lhe a ideia de que a


presença dos fósseis indicava que a ilha havia se deslocado, ou seja,
de que anteriormente ela não estava nessa posição geográfica. Além da
semelhança na localização, também é grande a semelhança geológica,
paleontológica e paleoclimática entre as porções de terra continentais.
O movimento de deslocamento continental proposto pela teoria tem
implicações de extrema importância para os sistemas ecológicos, pois
a posição dos continentes e dos oceanos influencia diretamente os
padrões de clima e as biotas de diferentes regiões da Terra.

Alfred Wegener, que postulou a teoria da deriva continental, após sua


morte em 1930, tornou-se esquecido, pois não demonstrara qual a causa
da deriva, ou seja, não representou e nem explicou qual força seria capaz
de impulsionar e movimentar imensos blocos de rochas. A resposta só
foi possível por meio de outra teoria – a tectônica de placas – delineada
por vários cientistas, destacando-se Harry Hess.

A ciência só conseguiu de fato comprovar suas hipóteses quando se


descobriu que as rochas magnéticas de idades diferentes apontavam
para diversas direções e não apenas para o polo norte magnético da
Terra, como você viu no primeiro capítulo deste livro. Tais estudos foram
aprimorados, a partir de 1960, com fins geopolíticos e econômicos,
feitos em áreas oceânicas, por meio de equipamentos mais avançados.

Texto baseado na obra de Teixeira et al. (2003).

CURIOSIDADE

Há evidências de ter ocorrido glaciação há cerca de 300 milhões de


anos na região Sudeste do Brasil, Sul da África, Índia, Oeste da Austrália
e Antártica. Supõe-se que, naquela época, grandes porções de Terra
situadas no hemisfério sul estariam cobertas por gelo, como as que
ocorrem hoje nas regiões polares e, por isso, o planeta estaria submetido
a um clima glacial. Mas, se isso fosse verdade, como é que se explica
então a presença de grandes florestas tropicais na América do Norte,
que mais tarde, dariam origem aos depósitos de carvão?

Esses questionamentos nos permitem concluir que os continentes estavam


juntos há 300 milhões de anos, pois, neste caso, a distribuição das geleiras
estaria restrita a uma calota polar no Sul do planeta, da forma como é
hoje (TEIXEIRA et al., 2003).
50 UNIUBE

Veja a Figura 1:
A)

B)

Figura 1: Movimentos continentais.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Em A, está representada uma simulação de como seria a distribuição


das geleiras com os continentes juntos, evidenciando que estariam
localizadas apenas numa calota polar no hemisfério Sul.

Em B, está representada a distribuição atual das evidências geológicas


de existência de geleiras há 300 milhões de anos.

Para trabalhar esse assunto na sala de aula, enquanto professor, você


pode utilizar massa de modelar, fazendo as formas dos continentes e
explicando como ocorreram as separações ao longo do tempo geológico.

Há também outra atividade, como o quebra-cabeça geológico, que pode


ser construído junto aos alunos e depois, distribuído entre eles para
jogar. É um ótimo exercício de fixação e construção da aprendizagem.
UNIUBE 51

2.1.1.1 Movimentação das massas continentais: ressurgimento da teoria


da deriva continental

Como você estudou, Wegener formulou a tese de que todos os


continentes formavam, no passado, uma só massa de terra, a qual
ele chamou de Pangea. Em seguida, surgiu a ideia de que esse
supercontinente ancestral tinha começado a se partir há cerca de 200
milhões de anos, dividindo-se numa porção norte, que ele chamou de
Laurásia, e uma porção sul, batizada de Gondwana, pelo geólogo
austríaco Eduard Suess (LEINS; AMARAL, 1989). Essa distribuição
data de, aproximadamente, 200 milhões de anos, equivalente ao período
Triássico, dentro da evolução geológica.

Para Wegener, o movimento das massas continentais acontece por


duas formas principais (LEINS; AMARAL, 1989):

• decorrentes da rotação da Terra;


• pelas forças gravitacionais que fazem com que aconteça
o deslizamento entre os continentes mais leves; a fuga dos
polos, onde as massas flutuantes, por serem menos densas e
consequentemente mais leves, fogem da região mais densa e
comprimida, que é a dos polos, para a região distensa, que é
a equatorial.
52 UNIUBE

Esses estudos levaram à formulação da teoria da expansão do assoalho


oceânico e, também, à proposta de um modelo geral para a origem de
toda a crosta oceânica que, consequentemente, serviu de base para o
desenvolvimento da teoria da tectônica de placas (LEINS; AMARAL, 1989).

Oceano basáltico Segundo a teoria da deriva continental, a litosfe-


Por se tratar da ra rígida “flutua” sobre uma massa plástica e
formação de rochas
extrusivas plutônicas,
quente, a astenosfera. A litosfera é segmenta-
após o resfriamento da por falhas geológicas ou fraturas, formando
do magma eliminado
no fundo do oceano, o um mosaico de placas que deslizam horizontal-
assoalho vai assumindo
caráter basáltico, o mente, arrastando os continentes por cima da
basalto constitui as
novas rochas formadas.
astenosfera. Por outro lado, as placas crescem
a partir das dorsais oceânicas, com a formação
Fossas oceânicas
do assoalho oceânico basáltico. O extremo
As fossas
correspondem às oposto dessas placas submerge nas fossas
porções mais profundas
dos oceanos e são
oceânicas, chamadas, por isso, de zonas de
criadas por subducção subducção, onde mergulham no manto. Nessas
(sobreposição de uma
placa tectônica sobre zonas, somente partes das placas oceânicas
a outra) de crostas
nos limites de placas são “digeridas”, e os continentes mais leves, por
convergentes (que se
movimentam numa
serem menos densos que aqueles que afunda-
mesma direção, indo ram, ficam por cima dessas últimas (LEINS;
uma de encontro à
outra). AMARAL, 1989).

Quais as implicações do fato de a crosta oceânica subpor-se à


crosta continental?

• No local onde uma placa tectônica oceânica se subpõe à crosta


continental, o novo magma produzido causa erupção dos vulcões
situados ao longo de cadeias montanhosas lineares, que formam
cordilheiras;
• a zona afetada, geralmente, situa-se ao longo de uma fossa
submarina, a certa distância do continente;
UNIUBE 53

• além de criar e alimentar vulcões continentais, a fusão da cros-


ta oceânica subposta é responsável pela formação de alguns
tipos de depósitos de minerais metálicos valiosos.

Teoria da expansão do assoalho oceânico

Ao contrário do que muitos cientistas pensavam, a explicação para a


dinâmica da Terra não estava nas rochas que compunham o continente,
mas no fundo dos oceanos. Após a década de 40, no século XX, durante
a Segunda Guerra Mundial, foram desenvolvidos equipamentos para
traçar mapas detalhados do relevo do fundo oceânico, na tentativa de
atender às necessidades de localização de submarinos militares no
fundo dos mares (TEIXEIRA et al., 2003).

Por meio desses equipamentos, pôde-se constatar a existência de fossas


ou trincheiras muito profundas, no fundo oceânico, evidenciando um
ambiente geologicamente diferente e mais ativo do que se pudesse
imaginar (TEIXEIRA et al., 2003).

Já na década de 50, foi possível mapear o


“Rift valley”
cartografar uma enorme cadeia de montanhas
Termo geológico em
submarinas, denominadas de Dorsal ou Cadeia inglês que significa
Meso-oceânica, que se estendia, continuamente, "vale de fendas de
grande extensão". O
por aproximadamente 84.000 km, com largura exemplo atual de um
continente nesta fase
por volta de 1.000 km. No ponto de formação das de fragmentação é o
“Rift Valley” Africano,
montanhas, constatou-se a presença de vales de na África Oriental
1 a 3 km, associada a “rift valley”, que indicava (Etiópia, Uganda,
Quênia, República
presença de um regime tensional (TEIXEIRA et do Congo, Tanzânia,
Malui e Moçambique).
al., 2003).

Mas, de que forma o assoalho oceânico tem se expandido?


Essa expansão resulta também no afastamento de continentes?
54 UNIUBE

O assoalho do Oceano Atlântico tem crescido, em área, devido ao


aumento de faixas paralelas constituídas de rochas magmáticas provindas
das profundidades oceânicas e que possuem origem nas correntes de
convecção do manto superior (Figura 2). O reconhecimento destas
faixas ocorre pelas suas anomalias paleomagnéticas, que se acham
dispostas de maneira simétrica em relação às dorsais suboceânicas, por
onde se admite que o manto ascenda, forçando lateralmente, de lado a
lado, o assoalho devidamente acrescido de rochas básicas, provindas
das partes profundas do manto superior, dando origem à formação de
uma cadeia de montanhas no fundo do Oceano Atlântico, denominada
Cordilheira Meso-oceânica (TEIXEIRA et al., 2003).

Figura 2: Esquema das correntes de convecção que


atuam na dorsal meso-oceânica.

Dessa forma, em função da expansão dos fundos oceânicos, os


continentes viajariam como passageiros, fixos em uma placa, como se
estivessem em uma esteira rolante. Por isso, com a continuidade do
processo de formação da oceânica, em algum lugar, deveria acontecer o
consumo ou destruição desta crosta, caso contrário, a Terra se expandiria
(TEIXEIRA et al., 2003).

SAIBA MAIS

Tectônica é o ramo da geologia que estuda a movimentação das


camadas da crosta, por efeito das forças do interior da Terra (endógenas).
Dedica-se, também, a estudar o dinamismo das forças que interferem
na movimentação das camadas da crosta terrestre. Geralmente, como
UNIUBE 55

resultado dessas forças, dá-se o aparecimento das placas tectônicas,


dobras, falhas, fraturas ou lençóis de arrastamento (LEINS; AMARAL,
1989).

2.2 Teoria da tectônica de placas

Conhecida também como teoria das placas


Sismos
continentais, baseia-se na observação de
Tremores súbitos da
que a camada sólida está dividida em placas crosta terrestre, que
podem ser de forte
semirrígidas. As fronteiras entre estas placas intensidade, e sentidos
são zonas com atividade tectônica, onde pelo homem, ou fraca
intensidade e registrados
ocorrem mais sismos e erupções vulcânicas. apenas pelos aparelhos.
A fonte de onde partem
as ondas vibratórias
é denominada de
Embora os estudos feitos por Wegener hipocentro ou foco, e
fossem de valiosa importância para a ciência, o ponto da superfície
localizado diretamente
ele não conseguiu explicar, em sua teoria, sobre o foco, de
epicentro.
como os continentes podiam deslocar-se.
Esta explicação começou a tornar-se mais
clara quando a geofísica, por meio de técnicas modernas de pesquisa,
pôde comprovar que os continentes se movimentavam sobre o magma,
conforme a teoria da tectônica de placas (TEIXEIRA et al., 2003).

Após vários estudos, o pesquisador geofísico norte-americano Harry


Hess (1906-1969), propôs esta teoria como a teoria da expansão do
leito oceânico, que aponta deformações estruturais geológicas da Terra,
tornando-se um paradigma na geologia moderna, para o esclarecimento
da estrutura, história e dinâmica da crosta terrestre (TEIXEIRA et al.,
2003).

Podemos chamar esta teoria de placas rígidas, definida por Hess, como
sendo bases puramente geológicas, reforçadas pelos fundamentos
geomagnéticos das faixas de rochas magmáticas, em função da
inexistência de rochas mais antigas (LEINS; AMARAL, 1989).
56 UNIUBE

Hess, verificando a espessura, relativamente pequena, de sedimentos


oceânicos depositados em um tempo geológico tão grande, imaginou
que os sedimentos mais antigos foram empurrados por debaixo dos
continentes. Além destes argumentos, menciona-se, também, a variação
das espessuras dos sedimentos, em que o acréscimo foi dado em tempo
geologicamente mais recente, e gradativamente maior, à medida que
aumenta a distância das mencionadas dorsais (LEINS; AMARAL, 1989).

A proposta de um modelo geral para origem de toda a crosta oceânica


e, consequentemente, a base para o desenvolvimento da teoria da
tectônica de placas, originou-se após estudos que levaram à formulação
da teoria da expansão do assoalho oceânico. Observe, na Figura 3, que
quanto mais próximas aos continentes, mais antigas são as rochas, e
quanto mais próximas da dorsal, mais recentes são elas.

Figura 3: Idade geocronológica das rochas do fundo oceânico.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Essa teoria indica que a litosfera seria composta de diversas placas


rígidas, de espessura variável entre 50 e 200 km e sua movimentação,
provocada pelas correntes de convecção ascendentes do manto,
determinaria o afastamento entre as placas, que, do lado oposto,
mergulhariam pelo substrato adentro (TEIXEIRA et al., 2003).
UNIUBE 57

Sabendo que a energia do interior da Terra faz surgir diferentes


tipos e ordens de esforços sobre o material rochoso da litosfera,
grandes deformações e movimentos são produzidos em larga escala,
estabelecendo, dessa forma, a configuração arquitetônica do exterior da
Terra. Após estes estudos sobre a tectônica de placas, o falhamento e o
dobramento revestem-se da maior importância, bem como a orogênese
e a epirogênese.

2.2.1 América do Sul e África: indícios de uma união pretérita

Em 1911, Alfred Wegener teve acesso a uma publicação que expunha


uma lista de animais e vegetais fósseis encontrados na África e no
Brasil, entre os quais se destaca um vegetal o Glossopteris (tipo de
gimnosperma primitiva) e um pequeno réptil o Mesosaurus (TEIXEIRA
et al., 2003).

As Glossopterídeas se desenvolveram durante o Permiano, no grande


continente de Gondwana. Estas plantas apresentam sementes grandes
e podem ser encontradas na Índia, na África, na América do Sul, na
Austrália e na Antártida. Os fósseis encontrados decorrentes de vários
estudos comprovam que somente pela ligação dos continentes seria
possível a sua distribuição (TEIXEIRA et al., 2003).

PESQUISANDO NA WEB

Para ver algumas fotos de fósseis de Glossopterídeas, visite o site <http:


www.cprm.gov.br/coluna/floraglosspt.html>

Agora, se deseja ver uma foto de um fóssil de Mesosaurus brasilienses,


visite o site
<http://www.ufrgs.br/geociencias/paleo/mesossauro.html>.

Já os fósseis do Mesosaurus podem ser encontrados no Brasil, Uruguai,


Paraguai e África do Sul. No Brasil, seus fósseis foram achados na
58 UNIUBE

Bacia do Paraná, formação Irati. Em 1908, estudiosos observaram as


semelhanças entre os fósseis brasileiros e os africanos da Bacia do
Karroo (Figura 4) (LEINS; AMARAL, 1989).

Figura 4: Distribuição do Mesosaurus na África, no Brasil e em outros países da


América do Sul.
Fonte: Desenho de Vanessa das Dores Duarte Teruel.

Atualmente, os continentes apresentam uma configuração que foi


iniciada no princípio da era Mesozoica, com a separação dos blocos
continentais. A estratigrafia da América do Sul e África eram muito
similares no Mesozoico.

A morfologia semelhante dos continentes sul-americano e africano reforça


a evidência de uma união pretérita. Uma dessas semelhanças consiste
nos dobramentos orogenéticos paleozoicos existentes na cidade do
Cabo, na África, coincidindo com dobramentos similares na Argentina,
na Serra de La Ventana, localizada no sul do distrito de Buenos Aires,
que possuem a mesma orientação, a mesma idade geológica e a mesma
Litologia. Segundo Leinz; Amaral (1989), as analogias não estão apenas
nos contornos dos continentes, as semelhanças são também geológicas,
paleontológicas e paleoclimáticas.
UNIUBE 59

SAIBA MAIS

Dobramentos orogenéticos

É um movimento tectônico que ocorre de forma horizontal, podendo ser:


a) convergente, quando duas placas se chocam provocando o
surgimento de dobramentos e cordilheiras;
b) divergente, quando duas placas se afastam, responsável pela
formação das dorsais (cordilheiras submarinas).

Litologia
Refere-se ao estudo dos processos referentes à formação rochosa, ou
seja, a conversão de sedimentos em rochas.

2.2.2 As placas tectônicas

Como foi visto, a parte superior da litosfera é chamada de crosta e a


parte inferior, interna, é composta por rochas do manto superior. A
crosta terrestre é dividida em continental, que inclui predominantemente
rochas de composição granítica e pela crosta oceânica, que contém
rochas basálticas (TEIXEIRA et al., 2003).

A litosfera tem espessuras variadas, com uma média próxima a 100 km. É
compartimentada por falhas e fraturas profundas em Placas Tectônicas.
A distribuição dessas placas é ilustrada na Figura 5.

Figura 5: Placas tectônicas.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
60 UNIUBE

As principais placas tectônicas ou litosféricas são:

• Africana;
• Norte-americana;
• Sul-americana
• Eurasiana;
• Pacífica;
• Indo-australiana;
• Antártica;
• Nazca.

Essas placas movem-se com velocidade que variam de 1,3 a 18,3 cm/
ano. A velocidade absoluta da placa sul-americana é de 4 cm/ano para
oeste, aproximadamente. Vale ainda ressaltar que a única placa tectônica
submersa, ou seja, coberta completamente por água é a placa do Nazca.

Geralmente, as diferenças de velocidade estão relacionadas à proporção


de crosta continental presentes nas placas. Além disso, a velocidade
das placas depende também da geometria do movimento da placa em
uma superfície esférica.

A Figura 6 mostra as placas tectônicas e os movimentos que realizam.


Os diferentes movimentos estão representados pelas setas. Você
pode observar, ainda, as grandes cadeias montanhosas, dentre elas
a Cordilheira dos Andes, nas Américas, e a Cordilheira do Himalaia,
na Ásia.

Os movimentos das placas tectônicas serão estudados no item a seguir.


UNIUBE 61

2.2.3 A natureza das placas tectônicas e os tipos de limites entre


elas

As placas tectônicas limitam-se umas com as outras por meio de falhas.


Os limites entre placas são zonas de instabilidade tectônica e podem
apresentar características diferentes.

Podemos distinguir quatro tipos principais de limites de placas: veja na


Figura 6:

Figura 6: Principais placas e seus movimentos.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Divergente ou construtivo

Esse tipo de limite entre placas ocorre quando duas placas movem-se
em sentido contrário (a partir da cadeia mesoceânica), separadas uma
da outra. O material magmático extravasa pelas fendas do revestimento
externo da Terra, formando-se um novo assoalho oceânico.

A crosta oceânica forma-se junto às dorsais oceânicas. Denominam-se


dorsais oceânicas as grandes cadeias de montanhas submersas no
oceano, que se originam do afastamento das placas tectônicas.
62 UNIUBE

Veja, na Figura 7, a Cordilheira Mesoatlântica (cinza) dividindo a Islândia


e separando as placas Norte-americana (esquerda) e Eurasiana (direita).

Figura 7: Cordilheira Mesoatlântica.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Convergente ou destrutivo

Ocorre o contrário do limite divergente. Este tipo de limite acontece


quando duas placas estão se movimentando uma em direção à outra. As
placas convergem e colidem, ocasionando as fossas oceânicas (colisão)
e as zonas de subducção (quando uma placa mergulha sob outra). Um
exemplo é a Placa de Nazca, subductando sob a placa sul-americana
no Pacífico.

Veja a Figura 8, a seguir. Refere-se a um diagrama que ilustra o limite


convergente, envolvendo convergência entre uma placa oceânica e uma
placa continental. É o que acontece e forma a Cordilheira dos Andes.

Figura 8: Diagrama da Cordilheira dos Andes.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 63

A Figura 9, a seguir, é um diagrama ilustrando o limite convergente


envolvendo convergência entre duas placas oceânicas. Como exemplo
deste tipo de limites de placas, pode ser citado o arco de ilhas que
formam as Filipinas e a Indonésia.

Figura 9: Diagrama do arco de ilhas que formam as Filipinas


e a Indonésia.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Colisional ou de suturas

Ocorrem em áreas de convergência, entretanto não acontece consumo de


placas. Na Figura 10, vemos um diagrama ilustrando o limite convergente,
envolvendo convergência entre duas placas continentais.

Figura 10: Diagrama dos Himalaias.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Se ambas as placas convergentes contêm crosta continental, nenhuma


delas irá subduzir para o manto. Ambas as massas continentais são
comprimidas, e os continentes são unidos em um único bloco continental,
com um cinturão montanhoso marcando a linha da sutura. Os Himalaias
são o melhor exemplo deste tipo de orogênese colisional.
64 UNIUBE

Conservativo

Ocorrem ao longo de uma falha transformante, não havendo


convergência. O movimento da placa é paralelo e horizontal ao seu limite.
Elas apenas resvalam-se. Neste tipo de movimento não há destruição
ou geração de crostas.

Um exemplo é a Falha de Santo André, na Califórnia, Estados Unidos


(Figura 11).

Figura 11: Movimento de deslizamento


entre placas tectônicas.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Os movimentos das placas tectônicas acompanham os movimentos


convectivos do manto. Os limites de divergência por atividades
vulcânicas vão formando uma nova crosta, as zonas convergentes
com subducção vão digerindo placas, recompondo novamente o
manto. Esses movimentos constituem basicamente o ciclo das rochas.
É importante ainda ressaltar que os limites colisionais dão origem a
cadeias montanhosas, por sucessivos dobramentos, movimentos que
você estudará posteriormente.

2.3 A formação das cordilheiras continentais

Um dos processos responsáveis pela formação


Margens
continentais ativas das cordilheiras continentais é a orogênese,
Locais onde
processo que acontece quando as placas tectôni-
ocorrem zonas de cas se deslocam em movimentos horizontais e se
subducção e falhas
transformantes. chocam. Nesse sentido, os processos orogenéticos
resultam da interação entre a placa descendente
e as margens continentais ativas (TEIXEIRA et
al., 2003).
UNIUBE 65

Na orogênese, uma placa tectônica pode entrar por baixo da outra


ou, então, ficar submersa no substrato magmático, ocasionando o
dobramento de imensos blocos rochosos. Como consequência desse
processo, têm-se extensas regiões da crosta modificadas e elevadas,
formando os grandes cinturões montanhosos, tais como os Andes, os
Alpes, o Himalaia e outros (TEIXEIRA et al., 2003).

Orogênese é um termo antigo, usado antes do conhecimento da


tectônica de placas, em que o dobramento representava uma das
principais características, cujas causas eram
desconhecidas. O termo também refere-se, até
Forças endógenas
hoje, aos processos de construção de montanhas
Forças internas
continentais e envolve outras atividades que provocam
associadas, tais como dobramento e falhamento modificações na
superfície do globo
das rochas, terremotos, erupções vulcânicas, terrestre.

intrusões de plútons e metamorfismo, porque


reflete diferentes formas das forças endógenas
(LEINS; AMARAL, 1989).

Um orógeno ou faixa orogênica pode corresponder a cadeias


montanhosas existentes no presente, podendo ser uma região longa
ou relativamente estreita, próxima a uma margem continental ativa,
onde existem muitos ou todos os processos formadores de montanhas.
Ainda podemos entender por orogênese como uma região alongada
da crosta, intensamente dobrada e falhada durante os processos de
formação de montanhas (TEIXEIRA et al., 2003). As orogenias diferem
em idade, história, tamanho e origem, entretanto, todas foram, uma vez,
terremotos montanhosos.
66 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Os Apalaches foram, no Paleozoico, uma grande cordilheira, como o


Himalaia ou os Alpes de hoje. Essas cadeias montanhosas foram destituídas
do esplendor das grandes cadeias montanhosas, que se originaram dos
movimentos de placas tectônicas, formadas por grandes dobramentos.
Portanto, o tipo de esforço tectônico que originou a Cordilheira dos Andes
e as Montanhas Rochosas foi o entrechoque de placas que faz com que
a borda de uma delas “mergulhe” no substrato magmático, dobrando-se
e formando uma cadeia montanhosa.

Por ser um episódio recente de acomodação tectônica, as cordilheiras


e as montanhas são importantes, pois demarcam as zonas de encontro
de placas.

Outro movimento extremamente importante é a epirogênese. Os


movimentos epirogênicos acontecem devido aos movimentos verticais
de placas tectônicas. Este processo resulta do soerguimento ou
rebaixamento de porções da litosfera, em movimentos lentos, de
longa duração, que incluem grandes extensões e, pelos quais, se dá
o reajustamento e igual equilíbrio de áreas (LEINS; AMARAL, 1989).

Vejamos algumas consequências da movimentação epirogenética:

• variação do nível de base de erosão;


• aparecimento de planos de erosão em vários níveis;
• terraceamento dos vales fluviais;
• variação do nível do mar;
• avanço do mar sobre porções continentais;
• mudanças na configuração da drenagem.

Um produto típico de movimento descendente ou epirogenético negativo


é a bacia, uma depressão geralmente de porção regional, preenchida
por sedimentos, que, muitas vezes, totalizam vários quilômetros de
espessura, como a bacia de Michigan, nos Estados Unidos, ou a do
Parnaíba, no Brasil.
UNIUBE 67
Nos movimentos ascendentes, encontramos soerguimentos continentais,
como do Colorado nos Estados Unidos e a Serra do Mar de Santos,
representante expressivo do relevo brasileiro.

Já os dobramentos, eles aconteceram e vêm acontecendo ao longo das


eras geológicas, por forças que atuaram e atuam sobre o material rochoso
sedimentar, provocando grandes dobramentos na superfície terrestre.

O dobramento é o resultado de forças laterais ou horizontais que ocorrem


numa estrutura rochosa sedimentar que possua certa plasticidade, ou
seja, um material com a capacidade de ser moldado e se romper.

As dobras são visíveis, principalmente, num corte de terreno, quando


não existe cobertura vegetal e solo encobrindo-as. Esse fenômeno é o
que explica a presença de fósseis no alto da Cadeia dos Andes.

Os falhamentos (Figura 12) constituem outro tipo de deformação


estrutural sofrida pelas rochas, durante as eras geológicas, pela ação
de forças internas verticais ou inclinadas.

Figura 12: Falhamentos.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
68 UNIUBE

Os falhamentos são movimentos que surgem a partir de pressões


verticais ou inclinadas; geralmente, ocorrem em áreas de rochas rígidas,
de origem cristalina. A colisão entre rochas com essas características
provoca rupturas nas mesmas, formando, assim, falhas. Depois que
as rochas sofreram fraturas em decorrência do movimento de placas,
o que acontece é o deslizamento vertical ou inclinado, das três formas
representadas na Figura 12.

As falhas ocorrem porque o material rochoso que sofre esta ação não
possui plasticidade suficiente, ou seja, ao sofrer pressão vertical que
supera seu limite de resistência, ele se rompe, formando-as. Neste
sentido, as camadas deslocam-se e ficam em posições diferentes.

2.3.1 A origem das montanhas

As montanhas são formadas pelo envolvimento de uma série de agentes


internos. Por isso, quase sempre se apresentam como cadeias ou
cordilheiras.

As forças que as criaram operavam por vastas regiões da crosta terrestre,


associadas a fenômenos de grande transcendência geodinâmica interna,
sejam montanhas vulcânicas, de blocos falhados, ou de dobramento e
empurrão, como os Alpes e o Himalaia.

A maioria da atividade tectônica terrestre ocorre no limite de placas


litosféricas, em contraste com o interior delas, normalmente inativo
tectonicamente. Como resultado, praticamente todas as montanhas e
as cadeias montanhosas, na Terra, são formadas nos limites de placas.
Os esforços compreensivos, gerados nas zonas de colisão de placas
convergentes, associados ao intenso magmatismo que introduz corpos
ígneos no material crustal afetado, edificam vulcões na superfície e criam
as condições necessárias para o enrugamento da “pele” do planeta
por vastas áreas em determinados períodos de tempo (TEIXEIRA et
al., 2003).
UNIUBE 69
a) Montanhas de origem vulcânica
As elevações vulcânicas são formadas pelo acúmulo de material
que as partes profundas da crosta terrestre expulsam. Às vezes,
predominam lavas, como nos vulcões havaianos, outras vezes,
predominam o material piroclástico, como é o caso do Paricutin,
célebre por ter se formado em nossos dias. Quando lava e tufo estão
associados, forma-se o que se conhece por estrato-vulcão, tem-se
como exemplo clássico o vulcão Vesúvio.

O Chimborazo e o Aconcágua, situados na cordilheira dos Andes, são


notórios pelas suas grandes altitudes. Acham-se, contudo, situados
em regiões soerguidas, graças ao tectonismo recente.

b) Montanhas produzidas por dissecação erosiva de planalto


O entulhamento de lagos ou mares fechados formam as regiões aplai-
nadas, ou mesmo originalmente planas. Essas regiões podem sofrer
a ação de forças epirogenéticas que determinem o seu levantamento
sem deformações tectônicas. A consequência imediata do desnível
resultante é a erosão estimulada com maior ou menor intensidade.

Como exemplos de montanhas resultantes de processos erosivos


no Brasil, podem ser citadas a Serra Geral, do Rio Grande do Sul, e
parte de Santa Catarina.

c) Montanhas produzidas por falhamentos


As montanhas de falhamento são caracterizadas pelo deslocamento
principal no sentido vertical. Em certos lugares, ocorrem desloca-
mentos quase horizontais como falhas de empurrão, podendo, gra-
dativamente, passar para regiões dobradas.

São várias as possibilidades de formação de elevações e montanhas


motivadas por falhas. Pode-se verificar a elevação de blocos numa
região baixa, ou abatimento em áreas elevadas, formando as fossas
70 UNIUBE

tectônicas, ou, ainda, pode dar-se o levantamento geral dos blocos,


uns mais do que os outros, como, também, um abaixamento irregular.

As montanhas formadas por falhamento podem associar-se às


cadeias de dobramento, tanto do ponto de vista geográfico como do
sincronismo, significando a ação conjunta dos vários e complexos
esforços tectônicos orogenéticos.

Algumas regiões, como a Serra do Mar, que há muito tempo é fixa


e parcialmente estável, devido à movimentação de massas antigas,
podem sofrer um rejuvenescimento tectônico.

d) Montanhas produzidas por dobramentos


As montanhas surgidas pelos dobramentos, geralmente, possuem
características em comum. Assim, grandes massas sedimentares
marinhas, às vezes com intercalações magmáticas, ocupam hoje uma
área cuja extensão é consideravelmente menor do que originalmente.
Isso é decorrente do fato de se associarem frequentemente às falhas,
onde se dá o deslizamento de massas rochosas, por vezes, até de
quilômetros de extensão, distante de suas raízes.

Como exemplos clássicos desse tipo de estrutura, podem ser


citados os Alpes, juntamente com Apeninos, Cárpatos, Cáucaso e
o Himalaia.

Como ocorrem esses dobramentos?


Os dobramentos realizam-se em duas direções opostas, mas
não necessariamente simétricas na intensidade do grau de
dobramento, manifestando, inclusive, grande assimetria.

As mais famosas cadeias de montanhas do mundo, pelas suas


dimensões, não somente em área, como também pelas altitudes, são
encontradas em áreas sujeitas às mais complexas perturbações, entre
as quais, grandes e complicados dobramentos.
UNIUBE 71

Esses dobramentos seguem, em várias fases no tempo, acompanhados


de intensa atividade vulcânica nos processos de formação destas
cadeias. Essas cordilheiras ainda formam, normalmente, arcos suaves
e sucessivos, apresentando formas suaves.

No continente americano, têm-se os Andes e as Montanhas Rochosas


fazendo parte da área perturbada pelo tectonismo Cenozoico, que, por
sinal, perdura até os nossos dias, sendo, às vezes, altamente desastroso
pelos abalos sísmicos consequentes.

O aspecto peculiar a estas cadeias orogenéticas é o da sua construção


bilateral. A zona central, de onde divergem as dobras, é mais sujeita à
ação magmática, motivo pelo qual, frequentemente, se encontra afetada
por intenso metamorfismo e intrusões magmáticas.

Devido à estabilidade tectônica do nosso país, não temos exemplos de


elevações produzidas por dobramentos recentes. A Serra do Espinhaço,
no leste do Brasil, constituída de rochas metamórficas perturbadas
e de estrutura bastante complexa e ativa, tem certa relação com o
fenômeno do dobramento, pois encontra-se erodida quase até a base.
Tais dobramentos, levantados e expostos à erosão, mostram a estrutura
já delineada, como acontece com as montanhas dos Apalaches.

2.4 A distribuição da vida no passado e no presente

Vários trabalhos da atualidade demonstram que a deriva dos continen-


tes, como a tectônica de placas, foram de grande importância para a
distribuição e evolução de organismos. Os estudos indicam que, ao final
do Paleozoico, existia um único continente - Pangea. Primeiramente, a
massa continental ao norte (Europa, Ásia e América do Norte) separou-
-se, no Mesozoico, da massa localizada ao Sul. A distribuição de alguns
organismos evidencia as teorias aqui mencionadas (Figura 13).
72 UNIUBE

Figura 13: Distribuição de alguns organismos em


determinadas regiões do grande continente – Pangea.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Diversas migrações animais podem ter ocorri-


Estreito de Bering
do pelo Estreito de Bering (Figura 14), o que é
É um estreito entre
o Cabo Dezhnev, o comprovado pela presença de animais, comuns
ponto extremo Oriental
do continente asiático em ambos os hemisférios.
e o Cabo Prince of
Wales, o extremo
ocidental do continente
americano, com cerca
de 85 km de largura e
uma profundidade de
30–50 m. O estreito
liga o Mar Chukchi
(parte do Oceano
Ártico), no norte, com
o Mar de Bering (parte
do Oceano Pacífico),
no sul. Tem o nome
do explorador Vitus
Jonassen Bering,
nascido na Dinamarca
e de nacionalidade
russa, que atravessou
o estreito em 1728).

Figura 14: O Estreito de Bering e as possíveis rotas de


migrações de animais da Ásia para a América e vice-versa.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 73

Este estreito está localizado no extremo oriental do continente asiático e


no extremo ocidental do continente americano. No último período glacial,
no final de Pleistoceno e com o abaixamento do nível dos oceanos, o
continente asiático e o americano ficaram unidos por uma faixa gelada
de terra, possibilitando o deslocamento de animais e, possivelmente,
do próprio homem.

A distribuição da vida comprova os efeitos do tectonismo. A


separação da Gondwana da Laurásia resultou em distribuições
vicariantes. A vicariância permite que membros de uma biota
possam evoluir, independentemente, quando separados. Assim,
a vicariância pode ocorrer pela divisão de um bloco de terras
ou de um corpo d’água em dois novos blocos.

A análise de fósseis auxilia na elucidação de estudos de que alguns


organismos evoluíram, mesmo decorrentes de uma distribuição separada.
Entre os exemplos, temos:

• os sapos pipídeos da América do Sul e da África (Cretáceo


Superior e o Terciário Inferior);
• as tartarugas do gênero Podocnemis;
• os lagartos iguanídeos;
• as famílias vegetais Podocarpaceae e Proteaceae.

Na Bacia do Paraná, a sequência de camadas paleozoicas superiores é


encontrada com restos de vegetais iguais aos encontrados na Antártida,
sul da África, Austrália e Índia.

As migrações também foram possíveis pelo Estreito do Panamá e,


com o seu surgimento, as populações de espécies do Caribe ficaram
isoladas das do Pacífico, diferenciando-se umas das outras. O istmo
do Panamá ou istmo centro-americano é uma estreita porção de terra
que liga a América do Norte e a América do Sul e foi formado há cerca
de 3 milhões de anos, durante o Plioceno (Figura 15).
74 UNIUBE

Figura 15: O istmo do Panamá ou istmo centro-americano.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

A tectônica, em seu movimento, foi de grande importância para elucidar


a incidência de vários grupos de organismos. Todavia, explica-se, por
meio dela, apenas a distribuição de táxons que já existiam quando
ocorreu a separação dos continentes. Para exemplificar, podemos citar
os Elephantidae que se acredita serem originários da África durante o
Plioceno e que se dispersaram para a Eurásia, e pelo Estreito de Bering,
para a América do Norte, onde existem registros fósseis de mamutes.

Resumo
Neste capítulo, vimos que a tectônica de placas é uma teoria da geologia
que descreve os movimentos de grande escala que ocorrem na litosfera
terrestre.

Na teoria da tectônica de placas, a parte mais exterior da Terra está


composta de duas camadas: a litosfera, que inclui a crusta e a zona
solidificada na parte mais externa do manto, e a astenosfera, que inclui a
parte mais interior e viscosa do manto. Numa escala temporal de milhões
de anos, o manto parece comportar-se como um líquido superaquecido
e extremamente viscoso, mas em resposta a forças repentinas, como
os terremotos, comporta-se como um sólido rígido.
UNIUBE 75

A litosfera encontra-se fragmentada em várias placas tectônicas e estas


deslocam-se sobre a astenosfera.

Esta teoria surgiu a partir da observação de dois fenômenos geológicos


distintos: a deriva continental, identificada no início do século XX por Alfred
Wegener, e a expansão dos fundos oceânicos, detectada pela primeira
vez na década de 1960. A teoria propriamente dita foi desenvolvida no
final dos anos 60 e, desde então, tem sido universalmente aceita pelos
cientistas, tendo revolucionado as ciências da Terra.

Atividades

Atividade 1

A figura, a seguir, demonstra as movimentações das placas litosféricas


ao longo de milhares de anos, culminando na forma como vemos e
estudamos as placas e os continentes na atualidade. Com base nos
conhecimentos adquiridos em seus estudos, observe a figura e descreva
os acontecimentos mais importantes em relação a cada uma delas.
A) B)

C) D)

E)
76 UNIUBE

Atividade 2

Leia o fragmento, a seguir:


“Tudo começou a sacudir, as pessoas estavam
gritando, as casas começaram a cair [...] é o caos
total", disse um repórter da agência Reuters. "Vi
pessoas sob os escombros, e pessoas mortas",
acrescentou.

De acordo com medição preliminar do Serviço


Geológico dos Estados Unidos, o terremoto teve 7
graus de magnitude e aconteceu a cerca de 10 km
de profundidade, a 22 km da capital haitiana, que
tem mais de 1 milhão de habitantes.

A agência Associated Presse informou que um hospital


desmoronou em Petionville, perto da capital, e que
pessoas estavam gritando por socorro. Outros prédios
também foram danificados.

Meios de comunicação locais, citados pela agência


France Presse, informaram que o palácio Presidencial
desabou. O embaixador haitiano nos EUA, Raymond
Alcide Joseph, disse à rede CNN que o prédio foi
afetado.

"Meu país está enfrentando uma grande catástrofe",


disse o diplomata haitiano.

(Folha Online, 12 jan. 2010)

O trecho da matéria da Folha de São Paulo relaciona-se ao terremoto


de 7 graus que atingiu o Haiti e deixou mais de 200 mil mortos, em 12
de janeiro de 2010.

Baseando-se nessas informações e em seus estudos, veja a figura, a


seguir.
UNIUBE 77

Faça uma pesquisa, observe a imagem, e relate como ocorre um terremo-


to, tendo como referencial o tremor do Haiti.

Atividade 3

Analise as afirmações a seguir, com relação à teoria da Tectônica de


Placas.

I) O Brasil se encontra localizado na placa tectônica Sul-Americana.


II) Todos os continentes estavam unidos há 200 milhões de anos,
formando o supercontinente Pangea.
III) O Oceano Atlântico se alarga em torno de 1,5 cm a cada ano.
IV) A Cordilheira dos Andes, Himalaia, Rochosas não estão diretamente
relacionadas a abalos sísmicos, atividade vulcânica e áreas de
dobramentos.
V) O Continente do Gondwana era formado por África, América do
Sul, Índia e Antártida.
78 UNIUBE

São corretas as assertivas:

a) I, II e III, apenas
b) I, II, III e IV, apenas
c) II, III e V, apenas
d) I, II, III e V, apenas
e) III, IV e V, apenas

Referências

LEINZ, Viktor e AMARAL, Sérgio Estanislau do. Geologia geral. São Paulo:
Editora Nacional, 1989.

PRESS, Frank et al. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

TEIXEIRA, Wilson et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003.

WIKIPEDIA. Alfred Lothar Wegener (1880 - 1930). Disponível em:


<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/07/Alfred_Wegener.jpg>.
Acesso em: 29 mar. 2010.
Capítulo
Minerais e rochas:
os componentes
3
consolidados da
crosta terrestre
Henrique Suriani de Oliveira

Introdução

Não é uma novidade que a observação da natureza desperta curiosi-


dade e admiração à espécie humana. Também, não é novidade no
que se diz respeito à observação da dinâmica de acontecimentos
relacionados aos processos geológicos.

A Geologia é uma ciência que estuda a história geral da Terra,


desde a sua formação, até o presente momento. Há muito tempo,
civilizações antigas já vinham se preocupando com a dinâmica do
planeta, observando e tentando decifrar processos como terremo-
tos, vulcões, formação de cadeias de montanhas e oceanos. Mas,
como naquela época não existia o método científico, as explicações
para os eventos eram baseadas em mitos.

Mesmo com o auxílio de ferramentas tecnológicas e o avanço da


ciência, ainda fica difícil solucionar alguns problemas como, por
exemplo, a explicação para a origem da Terra e do Universo.

À medida que a civilização humana se desenvolve, a demanda por


recursos naturais, como combustíveis fósseis, água etc , segue o
mesmo ritmo de crescimento. Para que se tenha uma otimização
da utilização dos recursos naturais, é necessário o conhecimento
dos processos de sua formação, o que são, e em que quantidade
podem ser encontrados.
80 UNIUBE

Não menos importante, é a utilização da Geologia no campo da


Engenharia, seja na construção de uma barragem, de um edifício,
no estudo da construção de um hotel à beira de uma encosta,
sendo o conhecimento geológico fundamental para que se evitem
perdas materiais e, principalmente, perdas humanas.

Para você, estudante de Ciências Biológicas, o estudo da dinâmica


do planeta é fundamental para o conhecimento do surgimento,
distribuição e evolução das espécies de seres vivos. A formação
vegetal, por exemplo, está diretamente relacionada ao tipo de
solo e rocha encontrados no local. Já o estudo da evolução dos
seres vivos é baseado também em evidências evolutivas, como os
fósseis, que deixaram a “lembrança” de um ser vivo antepassado
desenhado nas rochas.

Viram como a Geologia faz parte das nossas vidas? Sendo assim,
vamos estudar um pouco sobre a constituição sólida da Terra, na
forma de minerais e rochas.

Estes constituintes, tratados aqui em seu estado consolidado,


formam a maior parte da crosta terrestre, sendo importantíssimos
na elucidação da história do planeta Terra. O conteúdo será uma
síntese do vasto campo de estudo que é o destes materiais, exigin-
do que você, aluno do curso de Ciências Biológicas, busque leituras
complementares apoiando a construção de sua aprendizagem.

Bons estudos!

Objetivos

Ao terminar de ler este capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• definir o que são rochas e minerais;


• descrever os processos pelos quais são formados as
rochas e os minerais;
UNIUBE 81

• examinar e comparar as diferentes propriedades físicas


e ópticas dos minerais;
• reconhecer os principais usos e aplicações das rochas
e dos minerais;
• apontar e diferenciar as principais gemas (pedras
preciosas) que podem ser encontradas no planeta;
• definir e diferenciar rochas ígneas vulcânicas de rochas
ígneas plutônicas;
• reconhecer os processos de formação das rochas
sedimentares;
• diferenciar as rochas sedimentares dos outros tipos de
rochas formadas;
• identificar rochas metamórficas e seus processos de
gênese;
• localizar os principais recursos e as principais jazidas
minerais encontradas no Brasil;
• analisar a importância dos recursos minerais e o seu uso
sustentável;
• argumentar e debater sobre os principais danos
ambientais causados pela exploração descontrolada
das reservas naturais de minerais no Brasil.

Esquema

1º momento - Minerais

2º momento - Rochas

3º momento - Recursos minerais do Brasil


82 UNIUBE

3.1 Minerais

A fina camada que forma o revestimento sólido no qual estamos


“pisando”, a crosta terrestre, é formada basicamente de rochas e seus
constituintes, os minerais. Mas, o que são os minerais e as rochas?

O mineral é todo elemento ou composto químico, de origem inorgânica


com composição química bem definida. Geralmente, em condições
normais de temperatura e pressão, são encontrados na forma sólida
na crosta terrestre.

A rocha é um termo geológico usado para designar um agregado natural


de minerais. A agregação dos minerais para formar uma rocha depende
das condições físicas, químicas ou físico-químicas do ambiente de
formação.

Alguns minerais têm sua composição química muito simples, podendo


ser formados por apenas um tipo de elemento químico, como o diamante
(átomos de carbono). Outros já apresentam uma composição química
variada, formados por compostos químicos de diferentes elementos
químicos, como o quartzo (SiO2) onde, um átomo de silício se combina
com dois átomos de oxigênio.

Todo mineral tem uma estrutura atômica tridimensional organizada. Sendo


que seus constituintes, distribuídos uniformemente, formam uma rede
chamada retículo cristalino, em que os átomos seguem uma repetição
ordenada e de características físico-químicas únicas.

CURIOSIDADE

Você sabia que todo mineral ou rocha com alguma importância


econômica, é chamado de minério?

Vemos notícias, todos os dias, seja no jornal ou em uma revista,


relacionadas, por exemplo, ao minério de ferro, mas, muitas vezes,
não sabemos do que se trata. Fique atento!
UNIUBE 83

O mercúrio é o único metal líquido considerado espécie mineral. Já


o gelo, formado naturalmente nas calotas polares, por exemplo, é
considerado um mineral, mas a água líquida, não.

Veja, a seguir, a Figura 1, formada pelo gráfico da distribuição de minerais


no planeta Terra:

Figura 1: Gráfico da distribuição de minerais no planeta Terra.

Outra característica básica dos minerais, é que eles são formados


espontaneamente na natureza, sem nenhum tipo de interferência
biológica e/ou humana (sintética).

É necessário pontuar que existe a fabricação de minerais sintéticos.


Mas, para que se fabricar um mineral sintético? A síntese de um
mineral sintético esclarece dúvidas sobre a formação do mineral e suas
propriedades naturais, sendo, também, sua reprodução utilizada para
minerais de rara ocorrência na natureza.
84 UNIUBE

3.1.1 De onde surgem os minerais?

Os minerais se formam a partir de determinadas características físico-


químicas específicas de seus componentes e do ambiente em que é
formado. Tanto é que, devido às características dos diferentes ambientes,
os minerais formados no interior da Terra são diferentes daqueles
minerais formados na superfície terrestre.

Um tipo mineral pode ser formado, por exemplo, a partir de um material


em estado de fusão, começando seu processo de cristalização a partir
da formação de um pequeno núcleo e posterior agregação de mais
material a este núcleo formado.

A formação de um novo tipo mineral pode também acontecer a partir de


um mineral já formado, devido a modificações nas condições de pressão
e temperatura. Por exemplo, iniciando-se uma recristalização com
formação de um novo mineral a partir de um preexistente. Isso geralmente
acontece na formação de rochas metamórficas, que estudaremos com
mais detalhes, posteriormente.

Os elementos químicos que constituem os minerais podem


unir-se por meio de diferentes tipos de ligações, sendo as mais
comuns: as ligações iônicas, covalentes, metálicas e interações
de Van der Waals. Um exemplo característico de ligações
químicas é o que ocorre entre os átomos de carbono. Quando
átomos de carbono são unidos por meio de interações de Van der
Waals, formam o mineral grafita, de baixa resistência e dureza.
Já quando os átomos de carbono estão unidos entre si por
ligações covalentes, formam o mineral diamante. Sendo assim,
podemos afirmar que a grafita e o diamante são polimorfos do
carbono, ou seja, apresentam a mesma composição química,
mas suas estruturas cristalinas são diferentes – devido às
diferentes ligações – refletindo nas suas características físicas
e morfológicas.
UNIUBE 85

3.1.2 Propriedades físicas dos minerais

3.1.2.1 Estrutura

Praticamente todos os cristais na natureza apresentam uma estrutura fixa,


diferenciando-se dos demais minerais. Esta estrutura está relacionada à
disposição regular e constante dos átomos, uns em relação aos outros,
sendo que esta estrutura pode ser denominada de estado cristalino.

3.1.2.2 Forma

As diferentes formas dos minerais são produzidas de acordo com as


distâncias entre os átomos e os ângulos formados em sua estrutura,
podendo ser divididos em sete padrões distintos de cristalização: trigonal,
tetragonal, hexagonal, cúbico, rômbico, monoclínico e triclínico.

3.1.2.3 Clivagem

É a capacidade que um tipo mineral tem em partir-se em planos paralelos


e regulares, devido à sua estrutura mineral em particular (Figura 2).
Alguns minerais podem sofrer clivagem, seguindo uma ou mais direções.

Figura 2: Biotita representando


a clivagem.
86 UNIUBE

3.1.2.4 Fratura

Quando um mineral não é capaz de se dividir em planos paralelos, deixando


sua superfície irregular e curva, dizemos que ele sofreu uma fratura.

3.1.2.5 Dureza

Dureza é a capacidade de resistência que um sólido tem ao ser riscado.


Para saber e classificar a dureza dos diferentes minerais, utiliza-se uma
escala denominada Escala de Mohs. Esse nome é uma homenagem
ao mineralogista que elaborou esta escala utilizando padrões, em ordem
crescente de dureza, variando de 1 a 10. Segue-se a escala:
Mineral Padrão Dureza
Talco 1
Gipsita 2
Calcita 3
Fluorita 4
Apatita 5
Ortoclásio 6
Quartzo 7
Topázio 8
Corindon 9
Diamante 10

O diamante, por ser o mineral mais duro da natureza, é amplamente


utilizado em lixas, brocas de perfuração, corte de vidro etc. As principais
características que tornam o diamante um mineral de grande valor
econômico são: a dureza elevada, brilho intenso e sua raridade.

Ressaltamos que minerais de mesma dureza riscam-se


mutuamente, porém, de forma fraca. Então, o único mineral
capaz de riscar o diamante é o próprio diamante!

A escala de Mohs, apenas ordena a dureza dos minerais, não


especificando a proporção de dureza entre diferentes minerais.
Ex.: o diamante (dureza 10) é 140 vezes mais duro que o
coríndon (dureza 9).
UNIUBE 87

3.1.2.6 Densidade relativa/Peso específico

É o número que especifica quantas vezes o volume de certo mineral é


mais pesado que o mesmo volume de água destilada a uma temperatura
de 4ºC. Sendo assim, o peso/densidade relativa é expresso em gramas
num volume de 1cm3 do mineral. A maioria dos minerais que formam as
rochas tem uma densidade relativa entre 2,5 a 4,0 g/cm3.

3.1.3 Propriedades ópticas dos minerais

3.1.3.1 Brilho

Refere-se à quantidade de luz refletida pela superfície de um mineral.


Minerais que refletem mais de 75% da luz incidente apresentam o
denominado brilho metálico. A maioria dos minerais opacos apresenta
este tipo de brilho. Aqueles minerais que não apresentam o brilho
metálico, não atingindo a reflexão necessária para isto, apresentam
um brilho não metálico (característico de minerais transparentes e
translúcidos).

3.1.3.2 Cor

Diferentemente do brilho, que depende da reflexão da luz, a cor


depende de uma absorção seletiva de certos comprimentos de ondas.
Ao atravessar o mineral, certos comprimentos de onda são absorvidos.
Porém, os comprimentos de onda que não são absorvidos emergem
do mineral, sendo que a combinação desses comprimentos é que são
percebidos como cor.

A cor não é uma característica específica de todos os minerais,


visto que alguns podem ter várias cores diferentes como, por
exemplo, a turmalina e o quartzo, que apresentam diferentes
variedades coloridas.
88 UNIUBE

3.1.4 Principais usos e a importância de alguns minerais

A Terra é um imenso planeta formado por uma gama gigantesca de


minerais; cada um, com sua respectiva identidade. Alguns destes
minerais têm grande importância para a vida do ser humano, seja na
construção civil, na ornamentação com pedras preciosas, como fonte
de energia ou uso de fertilizantes. Outros já não têm grande utilidade,
mas podemos afirmar, convictamente, que tudo o que temos ou que
fazemos, tem alguma relação direta ou indireta com os minerais, ou
seja, sempre vamos depender deles para alguma coisa.

Começaremos o estudo de alguns minerais que têm importância


fundamental para nossas vidas.

3.1.4.1 Ferro

Este mineral é um metal que pode ser encontra-


Ferro
do em grande quantidade na crosta terrestre.
Mineral que, quando Primeiramente, o minério de ferro é extraído
misturado com
outras substâncias, é das jazidas, frequentemente sob as formas
transformado em aço, de óxidos, como hematita (Fe2O3) e magneti-
que também é muito
utilizado em construções ta (Fe3O4), ou na forma de carbonato, como a
civis, veículos,
instrumentos e no siderita (FeCO3). Depois, ele é levado até as
cotidiano do homem. siderúrgicas onde, em fornos especiais, em
altas temperaturas, é derretido e transformado
em placas de ferro, ou seja, é nas siderurgias que o ferro é processa-
do, tornando-se pronto para uso. Depois destes processos, o ferro é
transformado em vários objetos de uso, como podemos citar: grades,
portões, janelas etc.

3.1.4.2 Alumínio

O alumínio é o elemento mineral mais abundante da crosta terrestre.


Apresenta grande leveza, grande capacidade de condutividade elétrica,
resistência à corrosão e é muito maleável, sendo um mineral de grande
utilidade e com várias aplicações. A bauxita é a principal fonte de matéria
prima do alumínio.
UNIUBE 89

Apesar de tantas vantagens, o custo para o beneficiamento do alumínio é


altíssimo, principalmente quanto à energia despendida para sua produção.

Hoje em dia, é bastante utilizado o processo de reciclagem deste material,


característica esta observada nas ruas das cidades, com a coleta de
materiais contendo alumínio, como latinhas de cerveja e refrigerantes.
Isso não só gera uma fonte de renda para famílias pobres, como também
ajuda a manter os centros urbanos mais limpos.

A reciclagem do alumínio é, também, uma atividade importante para a


indústria, pois de toda energia consumida em seu processo de extração
e beneficiamento, apenas 5% é utilizada no processo de reciclagem.

3.1.4.3 Chumbo

O chumbo é um mineral de origem metálica,


Chumbo
bastante pesado, tóxico e maleável, sendo esta
O minério de
última característica, importantíssima em sua chumbo denomina-
utilização na fabricação de munição para armas se galena.

de fogo e também na fabricação de “chumbadas”.


O chumbo também é bastante utilizado na proteção
contra elementos radiativos.

Apesar de suas várias utilidades, o chumbo também pode ser tóxico


aos seres vivos. Devido a isso, o chumbo foi retirado da constituição
química da gasolina e da tinta, sendo substituído por materiais inertes
à nossa saúde.

3.1.4.4 Ouro

O minério do ouro é um metal brilhante, com grande capacidade de


distensão (dúctil) e muito maleável, sendo inerte, ou seja, não reage com
a maioria das substâncias químicas. Geralmente, o ouro é encontrado
em sua forma pura, em jazidas ou em depósitos de aluvião.
90 UNIUBE

Por ser um metal inerte, não causando ou participando espontaneamente


de muitas reações químicas, serve também na fabricação de próteses
como dentes artificiais. Além disso, devido à sua grande capacidade
de condutividade elétrica, o ouro é também utilizado na fabricação de
aparelhos eletrônicos, desde simples celulares, até satélites espaciais.

CURIOSIDADE

Devido à sua enorme beleza e valor, os alquimistas tinham como sua


proposta principal, produzir ouro a partir de outras substâncias, como
o chumbo. A transmutação de chumbo em ouro, na alquimia, refere-se
a ter uma vida de pecados (chumbo) ou nos transformar em pessoas
justas (ouro).

Como um grande objeto de admiração e valor, o ouro é também utilizado


em premiações de jogos, sendo presenteado, com o ouro, o(a) atleta
que obtiver o melhor desempenho.

3.1.4.5 Cobre

O cobre também é um metal de grande valor,


Ligas metálicas
sendo um dos mais importantes na indústria,
Misturas
homogêneas entre devido à sua alta ductilidade, maleabilidade e
diferentes metais como um excelente condutor de corrente elétrica,
como, por exemplo,
o bronze (estanho sendo este o destino de, aproximadamente, 45%
e cobre) e o ouro
18 quilates (75% de da produção de cobre. Também é utilizado na
ouro e 25% de prata
e cobre). fabricação de ligas metálicas como, por exemplo,
o bronze, uma mistura de cobre e estanho.

3.1.4.6 Carvão mineral

É um combustível fóssil de origem mineral, originado há cerca de 400


milhões de anos e formado a partir do soterramento e compactação de
depósitos vegetais. Apresenta uma maior quantidade de carbono do que
a madeira, sendo o seu principal uso na produção de energia elétrica,
a partir de termoelétricas.
UNIUBE 91

Uma das consequências de seu uso é que, ao ser queimado, libera


grande quantidade de gases poluentes na atmosfera, como gás carbônico
e outros poluentes como os sulfetos que, ao reagirem com a água da
chuva, podem produzir a chuva ácida.

3.1.4.7 Petróleo

Hidrocarbonetos
O petróleo é uma substância oleosa, viscosa,
menos densa que a água e, ainda, inflamável, Conjunto de compostos
orgânicos formados
sendo esta sua principal característica relaciona- somente de carbono
e hidrogênio, variando
da ao seu uso como combustível fóssil. É consti- somente no número de
carbono e hidrogênio
tuído, principalmente, por hidrocarbonetos. de cada um.

Sua origem é baseada na decomposição de


seres que compõem o plâncton, causada pela Plâncton

ação de bactérias e pela pouca oxigenação. Conjunto de


organismos que vivem
Ao longo de milhares de anos, esses seres em suspensão na água
salgada ou doce, e que
decompostos foram se acumulando no fundo formam a base das
de lagos e mares, sendo compactados pelos cadeias alimentares
aquáticas.
movimentos da crosta terrestre, formando o que
hoje conhecemos como petróleo.

O petróleo é uma mistura de centenas de substâncias diferentes,


tendo pouca aplicação em sua forma in natura. Para se tornar um dos
materiais mais utilizados pela humanidade, como fonte de energia,
matéria-prima na indústria de fertilizantes e plásticos, o petróleo passa
por um processo de separação de seus componentes. Essa separação
é feita por destilação. Devido à sua grande quantidade de substâncias,
o equipamento que separa as substâncias é organizado em torres de
fracionamento. Nessas torres, ao aquecer o petróleo bruto, ocorre a
vaporização dos seus componentes e, posteriormente, a condensação
de cada componente acontece em alturas diferentes, dependendo da
temperatura de ebulição dos mesmos.
92 UNIUBE

3.1.4.8 Mercúrio

O mercúrio também é um mineral metálico, porém, é o único que em


temperatura ambiente, encontra-se no estado líquido. Apresenta uma
cor prateada e é um mineral que dissolve minerais metálicos, como o
ouro e a prata, sendo amplamente usado na mineração, para separação
destes metais. Na forma que tem sido usado, polui o ambiente.

O mercúrio, também, é muito utilizado para confecção de termômetros


para medição da temperatura do corpo, da água e do ar, e, ainda, na
fabricação de barômetros, que são aparelhos que medem a pressão
atmosférica.

3.1.4.9 Outros minerais

Outros minerais, como calcário, granito, basalto, gnaisse, ardósia,


cascalho, mármore e areia, são minerais não metálicos de grande
importância na utilização de construções.

Já os minerais, nitrato, potássio e o fosfato, que também são minerais


não metálicos, têm fundamental importância para as plantações, pois
são utilizados como fertilizantes.

3.1.5 Gemologia

Gemologia é uma especialidade dentro da Geologia, que se ocupa do


estudo das gemas, mais comumente conhecidas como pedras preciosas.
A gemologia estuda a origem, composição, estrutura, propriedades
químicas, físicas e ópticas dos materiais gemológicos.

Independentemente de sua origem, inorgânica ou orgânica, para que


algo seja definido como material gemológico é necessário que o objeto
apresente beleza, raridade e durabilidade, simultaneamente.
UNIUBE 93

3.1.5.1 Diamante

Sem dúvida, o diamante é a mais notável das pedras preciosas. Com um


brilho e beleza únicos, esta gema, chama a atenção de todos. Quanto
maior seu brilho e a ausência de impurezas, maior é o valor econômico
do diamante. Após passar pelo processo de lapidação, o diamante recebe
o nome de brilhante.

Apesar de toda beleza, o diamante é formado apenas de carbono.


Mas, seu segredo está no modo como se originou, por intermédio de
uma cristalização cúbica com cristais geralmente de forma octaédrica e
ligações químicas covalentes, diferenciando-o enormemente do grafite,
que também é formado apenas de carbono.

Além da sua beleza, o diamante é o mineral mais duro do planeta,


podendo riscar qualquer outro material. Esta característica faz do
diamante um objeto não só ornamental, mas também sendo utilizado
como abrasivo em várias indústrias e em tecnologia avançada.

3.1.5.2 Rubi e safira

O rubi e a safira são variedades nobres do mineral coríndon. Depois do


diamante, são as pedras preciosas de maior dureza na natureza (dureza
9), sendo ambos formados à base de óxido de alumínio. O que dá valor
a esses minerais é a sua beleza, devido às suas cores características
(rubi: vermelho, devido ao ferro e cromo; safira: azul, devido ao ferro e
ao titânio) e ao seu famoso brilho.

3.1.5.3 Esmeralda

De todas as pedras preciosas, a esmeralda é considerada a que tem


um dos maiores valores comerciais. Esta gema é derivada do mineral
berilo (Be3Al2(SiO3)6), a mais nobre deste grupo. Também fazendo parte
deste grupo, estão a água-marinha e o próprio berilo.
94 UNIUBE

CURIOSIDADE

A esmeralda está ligada aos sentimentos mais íntimos e nobres da


humanidade: o amor, a paz e a amizade. Cleópatra elegeu a esmeralda
como pedra do amor, enfeitando-se com as belíssimas esmeraldas extraídas
das famosas minas do Alto Egito, hoje já esgotadas.

3.2 Rochas

Rocha é um agregado natural formado por um ou mais tipos minerais


que vão compor, basicamente, toda a crosta terrestre. A Petrologia ou
Petrografia é o ramo da Geologia dedicado ao estudo das rochas, sendo
sua constituição, origem e classificação, seus principais objetos de estudo.

As rochas apresentam algumas características gerais que auxiliam o


estudo delas. A estrutura é uma dessas características, representando
o aspecto externo geral, podendo ser maciço, com cavidades e, com ou
sem orientação. Além da estrutura, as rochas apresentam uma textura,
que é a relação entre os cristais ou grãos constituintes da rocha, de
acordo com seu tamanho e forma.

A determinação dos minerais constituintes também é importante no


reconhecimento das rochas. Nelas, podem ser encontrados minerais que
sempre estarão presentes em sua constituição – os minerais essenciais
– formando a maior parte da rocha. E, também, podem fazer parte de sua
constituição os minerais acessórios, que nem sempre estão presentes,
e, também, não alteram a classificação da rocha. Geralmente, é dado o
nome a uma rocha, de acordo com o mineral mais abundante em sua
constituição.

De acordo com a sua formação na natureza, as rochas podem ser


classificadas em três grandes grupos: rochas ígneas ou magmáticas,
rochas sedimentares e rochas metamórficas.
UNIUBE 95

3.2.1 Rochas ígneas ou magmáticas

O termo ígneo dado a estas rochas possui origem do latim (ignis) e refere-
-se a fogo. Sendo assim, as rochas ígneas são aquelas cuja formação
ocorreu a altas temperaturas, a partir de material mineral fundido em
profundas distâncias em relação à superfície terrestre. O material fundido
é denominado magma, que, ao consolidar-se, constitui as rochas ígneas.

O magma, extravasado na superfície, recebe o nome de lava, devido


a modificações físico-químicas que o diferenciam do magma localizado
em profundidade.

A fusão das rochas que originam os magmas pode ser provocada pelo
aumento da temperatura, por variações na pressão, por variações no
teor de fluidos, ou, mais comumente, pela combinação destes fatores.

Uma vez formado, o magma tende a deslocar-se no sentido da superfície


terrestre, devido à sua menor densidade em relação às rochas superiores.
Geralmente, o magma ascende por falhas ou por fraturas na rocha.

As características físicas dos magmas, como temperatura e viscosidade,


estão relacionadas à composição dos mesmos. Magmas de origem
basáltica apresentam viscosidade menor e temperatura maior (de 1.000
a 1.200ºC) em relação a magmas graníticos, com temperaturas menores
(700 a 800 ºC) e mais viscosos.

A grande variedade na composição dos magmas está relacionada à


diversidade de rochas, à taxa de fusão que produziu esta rocha, e
também à profundidade em que ocorre essa fusão. A formação do magma
envolve também processos modificadores que podem ocorrer durante
a sua cristalização.
96 UNIUBE

Relacionada a esta variedade composicional dos


Consolidação
magmas, está também a grande diversidade de
Resfriamento e
rochas, formadas a partir da consolidação dos
solidificação de
material rochoso magmas. Esse tipo de rocha é de origem primária,
fundido.
podendo originar outros tipos de rochas, como as
sedimentares e as metamórficas.

As rochas podem revelar as condições geológicas em que foram


formadas, por meio da observação de sua textura. Sendo assim, as
rochas ígneas se consolidam de duas formas diferentes, de acordo com
o seu ambiente de formação em: rochas ígneas intrusivas ou plutônicas
e rochas extrusivas ou vulcânicas.

3.2.1.1 Rochas ígneas intrusivas ou plutônicas

Nelas, o resfriamento do magma ocorre no interior da crosta terrestre,


de forma lenta, possibilitando a formação sucessiva dos cristais,
apresentando-se visualmente de tamanho grande, de milímetros a
centímetros. O granito é um exemplo de rocha ígnea plutônica.

3.2.1.2 Rochas ígneas extrusivas ou vulcânicas

Na formação deste tipo de rocha, o magma alcança a superfície e


consolida-se passando rapidamente do estado líquido/pastoso para o
estado sólido, não havendo tempo suficiente para a cristalização.

Em certos, casos dá-se o desprendimento de gases contidos na lava,


sob a forma de bolhas que podem ser retidas com a consolidação da
lava, resultando a chamada textura vesicular ou esponjosa (LEINZ,
2001). Veja Figura 3:
UNIUBE 97

Figura 3: Basalto com textura vesicular.

A fim de designarem as proporções aproximadas dos minerais que


entram na constituição de uma rocha, aplicam-se os termos leucocrático,
melanocrático e mesocrático. Diz-se que uma rocha é leucocrática
(do grego leukos, branco e kratein, dominar) quando é rica em minerais
claros, como feldspato, quartzo ou muscovita. É melanocrática (do
grego melanos, preto) se predominarem (mais que 60%) os minerais
escuros, como biotita, anfibólio, piroxênio ou olivina. Mesocrática é a
rocha intermediária, possuindo entre 30 e 60% de minerais escuros
(LEINZ, 2001).

Você sabia que as rochas magmáticas podem ser classificadas


de acordo com sua composição química em rochas ácidas,
neutras e básicas?

Pois é, esta classificação é baseada no teor de SiO2 da rocha (nem


sempre o quartzo está presente na rocha, ele pode sofrer uma
combinação de elementos formando silicatos, presente em praticamente
todas as rochas magmáticas).

As rochas são ácidas quando apresentarem o teor de SiO2 acima de


65%; neutras, quando o teor de SiO2 estiver entre 65 e 52% e básicas,
quando o teor de SiO2 estiver na proporção de 52 a 45%.
98 UNIUBE

Mas, os termos ácido, neutro e básico têm alguma coisa a ver


com a concentração hidrogeniônica (pH) das rochas?

Não! Esses termos são usados tradicionalmente na Petrologia, não


havendo nenhuma relação com os caracteres químicos.

3.2.2 Rochas sedimentares

As rochas sedimentares são formadas por


Intemperismo
material produzido pelas ações dos agentes do
Conjunto de
alterações químicas intemperismo, sobre uma rocha preexistente.
ou físicas que levam Este material deverá ser transportado pela ação
à degradação das
rochas. dos ventos, das águas ou do gelo, e depositado
em ambientes de sedimentação.

Geralmente esse tipo de rocha encontra-se estratificada (dispostas em


camadas), evidenciando períodos diferentes de sedimentação. Na Figura
4, a seguir, temos um afloramento de rocha sedimentar próximo ao
município de Uberaba. Nesta foto, a seguir, pode-se observar claramente
as diferentes camadas de rochas, evidenciando sua origem de deposição
sedimentar.

Figura 4: Afloramento de rocha sedimentar.


UNIUBE 99
Para que se forme uma rocha sedimentar, é necessário que exista
uma rocha anterior, que pode ser ígnea, metamórfica e mesmo outra
sedimentar, fornecendo, pelo intemperismo, sedimentos (partículas e/ou
compostos químicos dissolvidos) que serão as matérias-primas usadas na
formação da futura rocha sedimentar. Os compostos químicos dissolvidos
representam a matéria-prima para os sedimentos químicos. Os sedimen-
tos sempre se depositam em camadas sobre a superfície terrestre.

Você já deve ter ouvido falar de fósseis. Pois é, a grande maioria dos
fósseis é encontrada nas rochas sedimentares. Eles são partes do grande
“livro das rochas”, sendo que cada camada ou estrato representa uma
página diferente deste livro, sendo os fósseis, evidências importantíssimas
da evolução e do passado da Terra.

3.2.2.1 Formação do sedimento

Entende-se por sedimento, todo material sólido que se deposita, que


se depositou ou que é passível de se depositar. Deposição refere-se
à formação de sedimento por algum tipo de transporte, seja ele físico
(mecânico) ou químico.

Na sedimentologia, o termo grão é referente ao transporte mecânico. O


grão de areia da praia, por exemplo, sofreu transporte mecânico desde
sua origem (rocha-mãe localizada em uma área elevada adjacente à
praia), por meio de processos de desintegração física e decomposição
química, relacionados ao intemperismo até o ambiente em que foi
depositado, nesse caso, a praia.

Mas, o que transporta este grão de areia? Geralmente, os grãos são


movimentados por torrentes pluviais e/ou movimentos gravitacionais nas
encostas. Durante este movimento, o grão pode passar por mudanças
químicas (mineralógicas) ou físicas (texturais), indicando o grau de
maturação do material. Porém, a sua maturação também é influenciada
pelo grau de sensibilidade do mineral constituinte.
100 UNIUBE

O processo de transporte, relacionado à sua duração e intensidade,


depende do tipo de relevo e das condições climáticas. A principal
influência do relevo está no desgaste físico e no tempo de exposição
aos agentes do intemperismo. Relevos acidentados e com alto grau de
inclinação favorecem um transporte de curtas distâncias e soterramento
rápido. Entretanto, relevos suaves favorecem um longo período de
exposição dos grãos aos agentes do intemperismo.

Quanto ao clima, regiões de climas quentes e úmidos favorecem uma


aceleração dos processos de desintegração e decomposição das rochas.

Os sedimentos podem ser formados também pelo transporte químico (ou


iônico). Além de grãos como os de quartzo, que compõem a areia, íons
também podem ser transportados, porém em solução. A sua origem é
bastante parecida com a dos sedimentos sólidos, porém, seu transporte
é químico.

A transformação do soluto em sedimento se dá por três modos diferentes:

• pela precipitação química, devido a uma alta taxa de evaporação;

• pela ação de organismos como, por exemplo, na construção


da carapaça de um molusco ou na formação de recifes;

• ou, ainda, pela precipitação química, acelerada pelo metabo-


lismo dos seres vivos que faz com que o carbonato seja pre-
cipitado, devido à redução na concentração de CO2 na água
(absorvido pelos seres fotossintetizantes).

São vários os tipos de sedimentos, sendo necessária uma classificação


que possa diferenciá-los, baseada em seus processos formadores. Para
podermos classificar os materiais sedimentares, é fundamental que se
façam algumas perguntas. A primeira delas, é quanto à sua origem.
UNIUBE 101

A origem final (última) do sedimento é química, física ou bio-


lógica?

Quanto à origem do sedimento, podemos afirmar que: o fragmento de


uma concha deve ser considerado de origem física e não biológica,
pois, embora formado originalmente por um ser vivo, o último processo
sedimentar de sua história foi seu transporte físico pelas correntes e
ondas litorâneas.

Baseado nisso, entendemos que os sedimentos podem ser classificados


em alóctones (do grego allos = outro, diferente) e autóctones (do grego
autos = si próprio, si mesmo). Então, temos:

• alóctone é o sedimento originado de local diferente de onde


ele se depositou; sofreu, portanto, transporte mecânico;
• autóctone é o sedimento que se formou exatamente onde foi
depositado, não sofrendo praticamente nenhum transporte,
possuindo origem química e/ou biológica.

O conceito alóctone serve de fundamento para a pergunta seguinte.

O sedimento foi transportado por forças provenientes da


dinâmica externa da Terra, como ventos, geleiras ou correntes,
ou foi originado sob forças da dinâmica interna da Terra, como
em uma explosão vulcânica?

No primeiro caso, os sedimentos alóctones são classificados em


epiclásticos (do grego epi = superfície, posição externa) ou em
piroclásticos (do grego pyros = fogo).

Epiclásticos são fragmentos de rochas vulcânicas, produzidos pelo


intemperismo ou erosão de rochas vulcânicas (de uma maneira informal,
seriam fragmentos que se desprenderam de uma rocha vulcânica
preexistente). Já, piroclásticos são fragmentos de rocha vulcânica,
originados por explosão vulcânica, ou seja, a partir de um vulcão ativo.
102 UNIUBE

Quanto à distância que os sedimentos epiclásticos podem percorrer,


eles são classificados ainda em extraclásticos, que têm origem externa
à bacia sedimentar onde é encontrado, ou em intraclásticos, que têm
origem dentro da bacia sedimentar.

EXPLICANDO MELHOR

O termo clasto deriva do grego klastos, que significa quebra ou fragmento


por ela produzido. Porém, o termo extrapola sua etimologia, podendo
ser entendido também como qualquer sedimento que sofreu transporte
mecânico, mesmo que tenha sofrido quebra ou não.

A história do sedimento não termina em sua deposição. Após a deposição,


o sedimento passa por um conjunto de transformações, chamado
de diagênese. Estas condições estão relacionadas ao processo de
soterramento e envolvem mudanças físicas (pressão, temperatura) e
químicas (pH, pressão da água).

A diagênese perdura por tempo indeterminado, mesmo após a


consolidação e formação da rocha e é caracterizada por um conjunto de
processos e pelos seus produtos formados. Ela conduz à transformação
do material depositado em rocha, por um processo conhecido como
litificação. Os processos mais conhecidos são:

• compactação: pode ser mecânica ou química (envolve a


dissolução de minerais);
• dissolução: os minerais presentes no sedimento podem
ser dissolvidos por soluções pós-deposicionais. Pode haver
dissolução também sob pressão (compactação química),
alterando a morfologia dos grãos, da forma arredondada para
formas planas ou côncavo-convexas;
• cimentação: envolve a precipitação química de minerais por
íons presentes na água percolante;
• recristalização diagenética: os minerais têm sua composição
química e textura cristalina, modificadas pela ação de soluções
percolantes sob condições de soterramento.
UNIUBE 103

3.2.3 Rochas metamórficas

Rochas metamórficas são resultantes de uma transformação que


ocorre nas rochas preexistentes (ígneas, sedimentares ou, até mesmo,
rochas metamórficas). Essa transformação é proveniente da ação
de altíssimas temperaturas e pressões, que causam a instabilidade
dos minerais das rochas, podendo ocorrer recristalização de seus
minerais constituintes ou até mesmo a formação de novos minerais.

As rochas preexistentes que dão origem às rochas metamórficas são


denominadas protolitos, e são de grande importância nos estudos
geológicos.

Em geral, os processos metamórficos acontecem associados aos


processos geológicos. Locais como o limite entre duas placas
tectônicas são onde, geralmente, ocorre o metamorfismo provocado
por modificações nas condições físico-químicas às quais os protolitos
são subordinados. Estas modificações podem alterar a composição
mineralógica promovendo uma reorganização estrutural e textural.

Apesar da formação de um novo tipo de rocha, o metamorfismo pode


ainda preservar algumas características originais dos protolitos, sendo
possível sua identificação. Tais características como composição química
e estrutura primária podem preservar uma memória, reconstituindo o
processo histórico e evolutivo dessas rochas.

3.2.3.1 Fatores condicionantes do metamorfismo

• temperatura: o calor necessário para o metamorfismo provém


do interior da Terra, principalmente por movimentos de convec-
ção, trazendo para a superfície material rochoso fundido;
• pressão: a pressão, que é a relação da força exercida sobre
uma determinada área, produz tensão e deformação nas ro-
chas, originando novas texturas e estruturas orientadas;
104 UNIUBE

• fluidos: apesar das transformações mineralógicas que ocorrem


durante o metamorfismo desenvolverem-se no estado sólido,
pode ocorrer também uma fase fluida dos minerais. A pressão
dos fluidos pode interferir na resistência mecânica da rocha,
ocorrendo fraturamento e perda destes fluidos por meio destas
fraturas. Além disso, a presença dos fluidos pode catalisar as
reações metamórficas, acelerando a migração dos elementos.

3.2.3.2 Tipos de metamorfismo

O metamorfismo pode se desenvolver em diferentes cenários da crosta


terrestre, seguindo alguns fatores essenciais como: a) tipos de rochas
metamórficas que são formadas; b) a sua localização e extensão e, c)
principais parâmetros físicos envolvidos.

Baseado nisso, são identificados os seguintes tipos de metamorfismos:

• metamorfismo regional: ocorre em extensas regiões e atinge


grande profundidade na crosta terrestre. Geralmente, ocorre no
limite de placas tectônicas convergentes, originando a grande
maioria das rochas metamórficas da crosta terrestre como, por
exemplo, gnaisse, ardósia, filitos etc.;
• metamorfismo de contato: geralmente, forma-se quando há
um derramamento vulcânico e a lava (com alta temperatura e
elevada pressão exercida na superfície), entra em contato com
uma rocha preexistente, alterando a região de contato, formando
uma rocha metamórfica;
• metamorfismo dinâmico: este tipo de metamorfismo desen-
volve-se em áreas de falhas ou zonas de cisalhamento, onde há
movimentação e ruptura na crosta terrestre. A energia mecâni-
ca, no local, provoca transformações estruturais e texturais nos
minerais;
UNIUBE 105

• metamorfismo de soterramento: refere-se ao tipo de meta-


morfismo que ocorre em bacias de subsidência, ou seja, aque-
las bacias que estão em região e em processo de abaixamen-
to, devido ao peso de sedimentos acumulados. Elas resultam
do soterramento de grandes camadas de rochas sedimentares
onde a temperatura pode chegar a 300ºC ou mais. Devido a
estas condições, ocorrem transformações metamórficas desen-
volvendo-se a cristalização de novos minerais;
• metamorfismo hidrotermal: ocorre devido à percolação de
águas quentes ao longo de fraturas de rochas. Neste processo,
há uma troca iônica entre a água percolante e as paredes das
fraturas onde os minerais recristalizam-se em novas assembleias
mineralógicas;
• metamorfismo de fundo oceânico: ocorre geralmente nas
regiões de cadeias meso-oceânicas onde a crosta recém
formada interage com a água marinha. Esta água, ao entrar
em contato com rochas, provoca mudanças químicas e origina
novos minerais;
• metamorfismo de impacto: este tipo de metamorfismo está
restrito à uma área bem reduzida, devido à sua singularidade
no que diz respeito à causa. São, geralmente, ocasionados por
impacto de meteoritos, em que a energia do impacto aumenta
o calor e a pressão da região, fazendo com que haja uma fusão
das rochas e a formação de novos minerais.

3.2.4 O ciclo das rochas

O ciclo das rochas representa a movimentação dos seus constituintes


pela crosta terrestre. Sendo assim, as rochas fazem parte de um processo
dinâmico, representado por variações de temperatura e pressão,
movimentos tectônicos e, em sua consequência, ocasiona tremores e
atividades vulcânicas. Baseados nesses eventos, podemos traçar alguns
caminhos que as rochas percorrem, principalmente aqueles nos quais
um tipo de rocha se transforma em outro. Veja a Figura 5:
106 UNIUBE

(C) Rocha
Metamórfica

(C) Rocha
Sedimentar

Figura 5: Ciclo das rochas.

No esquema, é possível visualizar estes caminhos, onde se pode


iniciar (A) com o processo em que as rochas ígneas são modificadas
pelas ações do intemperismo, alterando suas características físicas e
químicas, sendo lentamente reduzidas a fragmentos (B). Consequen-
temente, os agentes de transporte redistribuem o material sobre a
superfície, depositando-os como sedimentos e formando, posteriormen-
te as rochas sedimentares (C). Estas rochas, por modificações em sua
estrutura devido a fatores como altas temperaturas e pressões, originam
as rochas metamórficas (D). Se continuar ocorrendo o aumento da
temperatura e pressão, essa rocha pode fundir-se (E), possibilitando
a formação de uma rocha ígnea, dando-se início a um novo ciclo.
UNIUBE 107

3.3 Recursos minerais do Brasil

O Brasil é um país muito rico em recursos minerais. Além de uma grande


diversidade de minerais explorados no país, o Brasil possui algumas
das maiores reservas do mundo. O Brasil é citado sempre como um
dos grandes produtores de minério. Possui muitas jazidas, as quais são
exploradas para o desenvolvimento econômico-social do país. A Figura
6 nos mostra a localização de jazidas existentes no Brasil.

Figura 6: Recursos minerais do Brasil.


Fonte: Acervo EAD - Uniube.
108 UNIUBE

Observa-se no mapa que, em praticamente todos os estados da federa-


ção, encontramos riquezas minerais, principalmente na região centro-sul.
As jazidas de ferro ocorrem, principalmente, nos estados de Minas Gerais,
Pará, Bahia e Mato Grosso do Sul. A principal
Quadrilátero
ferrífero está localizada próximo à região metropolitana
No Quadrilátero
da cidade mineira de Belo Horizonte, conheci-
ferrífero, localizam- da como Quadrilátero ferrífero, englobando
se jazidas de ouro,
de manganês e de ainda as cidades de Mariana, Santa Bárbara e
bauxita (alumínio).
Congonhas.

A maior exploradora do minério é a Cia. Vale do Rio Doce, localizada


na cidade de Itabira, privatizada nos anos 1990. Ela é uma das maiores
empresas de mineração do mundo. Assim, o ferro é um dos principais
produtos de exportação do Brasil. No estado do Pará, há uma importante
jazida de bauxita, situada no Vale do Rio Trombetas. O ouro é um minério
muito explorado em várias regiões do país, seu ciclo foi fundamental
para o desenvolvimento do estado de Minas Gerais e do Brasil, desde o
período colonial. Na Amazônia, as principais áreas de mineração estão
próximas ao rio Tapajós e Serra dos Carajás – Pará, rio Tocantins-
Tocantins, rio Madeira – Rondônia.

O Nordeste é o maior produtor e exportador de sal marinho (sal de


cozinha); é um mineral muito explorado no litoral do Rio Grande do
Norte. As salinas deste estado são responsáveis por mais de 60% da
produção brasileira de sal. Portanto, as cidades de Macau, Mossoró,
Areia Branca e Açu, todas no Rio Grande do Norte, são áreas produtoras
de maior destaque do país. Alguns minerais importantes como chumbo,
tungstênio, magnesita, gipsita, cobre, xisto betuminoso e urânio também
são encontrados no Nordeste, sendo que xisto betuminoso e urânio são
utilizados também como fonte de energia.

O Brasil está no topo da lista entre os países detentores de reservas de


nióbio, mantendo esta posição, há alguns anos, no cenário mundial. O
principal depósito está localizado em Minas Gerais, na cidade de Araxá,
sendo também o responsável pela maior produção.
UNIUBE 109

Em 1998, foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), pelo governo


brasileiro. É um órgão responsável pela regulamentação, contratação
e fiscalização das atividades no setor petrolífero no país. Desta forma,
qualquer empresa, seja nacional ou estrangeira, que queira explorar
petróleo no Brasil, deverá obter licença da ANP. Os estados de Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Amazonas, Manaus, Sergipe, Alagoas,
Rio Grande do Norte, Ceará, contribuem para a produção nacional de
petróleo, sendo o estado do Rio de Janeiro o maior produtor. As áreas
de produção encontram-se na plataforma continental (bacia de Campos).
Veja como é o esquema de um campo petrolífero (Figura 7):

Figura 7: Esquema de um campo petrolífero.


Fonte: Acervo EAD - Uniube.

No início do mês de novembro de 2007, foi identificada, por prospecção,


outra jazida de petróleo, ou seja, segundo a Petrobrás, responsável pela
descoberta, é a maior do país. E que, consequentemente, ajudará o
Brasil a fazer parte do grupo dos nove maiores produtores de petróleo
do mundo. A área conhecida como Tupi, deverá ser explorada somente
a partir de 2013. Além da jazida encontrada, a Petrobrás confirma que
pode haver mais indícios de existência de jazidas enormes em outras
áreas mais profundas na mesma região. A Bacia de Santos localiza-se
numa área extensa, que se estende pelo litoral sul do Estado do Rio
de Janeiro, toda a costa de São Paulo e do Paraná, e pela parte norte
do litoral de Santa Catarina.
110 UNIUBE

A quantidade de produtos de origem mineral é fundamental para o


suprimento das necessidades internas e para a geração de capital com a
exportação destes bens. Geralmente, a razão produção/consumo permite
qualificar os recursos minerais como suficiente, insuficiente ou exceden-
te. No Brasil, exemplos de bens minerais que podem ser considerados
excedentes, gerando uma maior rentabilidade ao país com o aumento
na exportação são: nióbio, ferro, bauxita, grafita, manganês, vermiculi-
ta, caulim e níquel, entre outros. Ao passo que minerais como fosfato,
enxofre e potássio são considerados insuficientes à demanda brasileira.

SAIBA MAIS
A extração dos metais das rochas

O uso de alguns metais é muito antigo na história da humanidade. Há


quase dez mil anos, o homem já usava o cobre no Oriente Médio. Foi
um dos primeiros metais utilizados para a confecção de objetos, armas
e ferramentas. Imagina-se que o uso do cobre se iniciou quando ele foi
encontrado em sua forma metálica, pura ou nativa, na superfície da Terra.

Mas, não é sempre que isso acontece. A maior parte do cobre é encontra-
da na forma de minérios, fazendo parte de outras substâncias minerais.
Para extraí-lo e ampliar o seu uso, o homem precisou desenvolver
processos cada vez mais eficientes. Por isso, os registros mostram que,
apesar de conhecido há mais de dez mil anos, o cobre só passou a ser
utilizado em maior quantidade há cerca de oito mil anos.

Uma hipótese é que o homem tenha aprendido a extrair o cobre a


partir de uma observação: ele deve ter reparado que certas rochas
verdes derretiam e liberavam um metal avermelhado quando colocadas
diretamente no fogo. Essas pedras, na realidade, são compostas de um
mineral de cobre chamado malaquita e, quando aquecidas, liberam
cobre. Descoberto o segredo, a extração do cobre, a partir da malaquita
e outros minerais, tornou-se comum.

Nem todos os metais, porém, têm extração fácil assim. O ferro, por
exemplo, é encontrado em minerais, como a magnetita e a hematita,
combinado com outros elementos, principalmente com o oxigênio. Para
extraí-lo, não basta aquecê-lo. É necessário aquecê-lo em contato com o
carvão, produzindo, dessa forma, uma liga de ferro e carbono. Por isso,
o uso do ferro só se tornou comum muito depois do cobre, há apenas
3.500 anos. Nessa época, nos arredores do Mar Negro, descobriu-se
que era necessário aquecer uma mistura de ferro e carvão para obter
uma liga mais resistente do que as de cobre.
UNIUBE 111

Atualmente, para se obter ferro, empregam-se fornos especiais (altos-


-fornos), nos quais as temperaturas são muito altas. O minério de ferro é
moído e aquecido em altas temperaturas formando um líquido vermelho
e incandescente, chamado ferro-gusa. O ferro-gusa é formado de ferro
e carbono. Quando o excesso de carbono é eliminado do ferro-gusa,
forma-se o aço, tão utilizado na fabricação de máquinas, automóveis,
ferramentas, utensílios domésticos, na construção civil, e em mais uma
infinidade de processos.

Fonte: Casa da Ciência (UFRJ, 2007).

3.3.1 Outros minerais encontrados no Brasil

Vejamos os outros minerais encontrados no Brasil:

• ferro e, principalmente, o manganês ─ são encontrados em


grande quantidade no maciço do Urucum (MS);
• cobre ─ na serra do Carajás (PA);
• níquel ─ a maior reserva de níquel do Brasil está em Niquelândia
(GO); o níquel é utilizado para fabricar aços especiais e moedas;
• urânio ─ as maiores reservas de urânio concentram-se nos
estados do Ceará e da Bahia;
• jazidas de cassiterita (minério de estanho) ─ são encontrados
nos estados de Rondônia e Amazonas.

3.3.2 As consequências da exploração dos recursos minerais

O estilo de vida de algumas gerações passadas, nosso estilo de vida


e, com grande certeza, o das gerações futuras são dependentes do
uso de bens materiais. Basta olharmos à nossa volta para vermos o
quanto precisamos dos recursos minerais. Em nossa casa, no trabalho,
na escola, praticamente em todo local criado ou que será criado pelo
homem, foi utilizado e utiliza-se de bens minerais em sua construção,
sejam eles de origem metálica, não metálica, combustíveis fósseis,
pedras preciosas etc.
112 UNIUBE

A indústria, seja ela metalúrgica, química, de fertilizantes ou elétrica, usa


e produz objetos manufaturados a partir dos recursos minerais. Esses
objetos, de certa forma, dão-nos conforto e nos tornam dependentes,
fazendo destes recursos, algo permanentemente presente em nossas
vidas.

PARADA PARA REFLEXÃO

Você já parou para pensar que a maioria destes recursos, que produzem
bens para auxiliar em nossas atividades diárias, são recursos não
renováveis?

E que, na medida em que a população aumenta seu tamanho, a


necessidade de exploração destes recursos também aumenta?

A velocidade e a quantidade com que estes bens são extraídos da


natureza são maiores que a capacidade de sua formação (milhares
ou milhões de anos para serem formados), ou seja, um dia eles irão
acabar! Uma maneira de estimar a duração da reserva de certo mineral
é por meio da razão da quantidade do mineral pela sua produção atual.

O consumo destes bens materiais não segue uma relação harmoniosa


pelo planeta, sendo que sua distribuição acontece de forma
desequilibrada, assim, podemos evidenciar que a maior parte destes
recursos é usufruída pelos países industrializados, enquanto o menor
consumo é relacionado aos países em desenvolvimento.

Pode-se observar que, na medida em que um país se desenvolve,


sua demanda per capita por recursos minerais também aumenta
e, mais agravante ainda, é o fato de que apesar da expansão
demográfica mundial como um todo venha diminuindo, o
consumo de certos recursos, como o petróleo, vem aumentando.
UNIUBE 113

Cabe aos geólogos a missão de procurar e identificar novos depósitos


minerais. Mas, será que é possível descobrir novos depósitos?
Praticamente todo o globo terrestre já foi mapeado e observado com
o olhar clínico da ciência, porém, como aconteceu recentemente no
Brasil, foi descoberta uma enorme jazida de petróleo, chamada de
Pré-sal. Entretanto, como a Terra é um planeta finito, a tendência é
que esses recursos se esgotem com o tempo. Por isso, cabe a nós,
sabermos utilizá-los de forma consciente, para que possamos suprir
não só nossa geração, mas também as futuras gerações, assumindo
assim um consumo sustentável.

Sabemos, então, que os recursos minerais são exauríveis e que devemos


consumi-los de maneira que possamos suprir nossas necessidades e
também as necessidades das futuras gerações. Mas, a exploração, a
produção e uso destes recursos, usados de forma inadequada, podem
levar ao aumento da degradação ambiental, provocando, ora efeitos
locais, ora impactos amplos como aquecimento global, deterioração da
camada de ozônio, chuva ácida, poluição dos reservatórios de água,
poluição do solo etc.

Viram, então, o tamanho do problema? Preocupa-nos não só a escassez


destes bens, mas também as consequências nocivas e desastrosas,
resultantes de sua exploração e produção.

Cabe a nós a iniciativa de utilizarmos os recursos ainda existentes


de forma sustentável e desenvolver artifícios para melhorarmos o
aproveitamento dos recursos, incrementando, também, em nossas
atividades o hábito de reciclar produtos já manufaturados.
114 UNIUBE

Resumo

Neste capítulo, vimos que a Geologia, ciência que estuda a origem, a


constituição e a dinâmica do planeta Terra é objeto fundamental também
no estudo da Biologia. A origem, ocupação, distribuição e extinção dos
seres vivos estão estreitamente relacionadas ao estudo da Geologia.

O estudo dos minerais e das rochas proporciona um entendimento


maior sobre a dinâmica dos materiais no planeta, influenciando
enormemente no desenvolvimento e na ocupação da sociedade humana
em seu ambiente. Os conceitos aqui tratados servirão de base para
o entendimento da constituição, principalmente da crosta terrestre,
onde a vida se desenvolve. Não se trata apenas de memorização, mas
também da compreensão e aplicação deste conteúdo básico no ensino
das Ciências Biológicas.

Rochas e minerais são os dois constituintes básicos da crosta terrestre,


sendo a compreensão dos seus conceitos, da sua constituição, das suas
subdivisões e da sua aplicabilidade, fundamental em sua formação.

Atividades

Atividade 1

Ao viajar por uma região que tenha um relevo rochoso, é comum dizer:
olha o tamanho daquela pedra! Mas, na verdade, o que dizemos ser
pedra, refere-se a um fragmento de rocha. A pedra brita, por exemplo, é
fragmento de uma rocha de cor escura, o basalto. Classifique o basalto
de acordo com o tipo de rocha de que se trata e, em seguida, explique
a sua origem.
UNIUBE 115

Atividade 2

Você leu, no capítulo, que existem três tipos de rochas: as ígneas, as


sedimentares e as metamórficas. Pode uma rocha ígnea (vulcânica) se
transformar em uma rocha sedimentar? Justifique sua resposta.

Atividade 3

As rochas não são estáticas! Ao comparar o tempo de uma rocha com


a idade geológica, pode-se perceber que ela pode sofrer algumas
alterações. As rochas sedimentares, por exemplo, podem ser formadas
a partir de outras rochas preexistentes. Além desta dinâmica, as rochas
sedimentares são o principal objeto de estudo da Paleontologia.
Considerando esta afirmação como referência, qual a importância das
rochas sedimentares para a Paleontologia?

Referências

CASA da Ciência; UFRJ. Fósseis? Rochas? Minerais?. Rio de Janeiro RJ; 2007.
Disponível em: <http://www.casadaciencia.ufrj.br/exposicao/caminhos/files/manual.
pdf>. Acesso em: 23 mai. 2012.

LEINZ, Viktor; AMARAL, Sérgio Estanislau do. Geologia Geral. 14. ed. Revisada.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.

TEIXEIRA, W; TOLEDO, M. C. M; FAIRCHILD, T. R. e TAIOLI, F. Decifrando


a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. 2. Reimpressão, 2003.
Capítulo
Paleontologia:
desvendando o passado
4
biológico da Terra

Henrique Suriani de Oliveira

Introdução

A Paleontologia (do grego palaios = antigo + ontos = ser + logos


= estudo), em sua referência mais ampla, pode ser designada
como a ciência que estuda os fósseis, ou seja, em seu significado
mais estrito, são restos ou vestígios de organismos que viveram
há mais de 11 mil anos.

A Paleontologia, como ciência, data do século XIX. Mas, Aristóteles


(384-322 a.C.) já interpretava os fósseis, porém de maneira
adversa, considerando-os como produto que o dilúvio espalhara.
Já Lamarck (1744-1829), considerado o pai da Paleontologia dos
invertebrados, empregou o evolucionismo, como a única doutrina
compatível com a variabilidade do mundo orgânico, demonstrada
pelos fósseis. Porém, o evolucionismo alcançou aceitação apenas
com os trabalhos de Charles Darwin (1801–1876) com o início
das pesquisas paleontológicas com embasamento filogenético.

Assim como outras ciências, a Paleontologia abrange grandes


áreas do conhecimento, como a Geologia e a Biologia,
principalmente. Ao geólogo, cabe auxiliar na datação e
interpretação das camadas, assim como definir os antigos
ambientes de sedimentação, tendo, também, contribuição
frequente na aplicabilidade da pesquisa de combustíveis fósseis
e outras substâncias de valor econômico.
118 UNIUBE

À Biologia, cabe o estudo dos organismos que sofreram o


processo de fossilização e o seu amplo espectro de características
biológicas, principalmente relacionadas ao processo evolutivo.
Baseada em divisões biológicas, a Paleontologia pode ser
separada em três grandes ramos: Paleozoologia, Paleobotânica
e Paleoecologia. A primeira ocupa-se do estudo de animais
fósseis; a segunda com os vegetais fossilizados e a Paleoecologia
investiga os hábitos de vida relacionados ao ambiente em que
os animais e vegetais pré-históricos viviam.

Microfósseis Com o advento da microscopia, surgiu


Microfósseis são fósseis uma gama de novos estudos, distin-
observáveis apenas
com o auxílio de um guindo a Micropaleontologia como
microscópio como, uma nova área da Paleontologia,
por exemplo, esporos,
foraminíferos, fragmentos que estuda os fósseis de diminutas
de colônias formados por
organismos diminutos etc. dimensões, os chamados microfós-
seis.

Observa-se, na Paleontologia, como na Geologia, o princípio


do atualismo, segundo o qual os processos vitais do passado
não teriam diferido essencialmente dos de hoje. O conhecimento
da anatomia e do modo de vida dos organismos atuais permite
estabelecer homologias e analogias no estudo dos fósseis.

Áreas de pesquisa na Paleontologia:


• paleozoologia:  estuda fósseis de animais invertebrados
e vertebrados;
• paleobotânica: estuda organismos vegetais fósseis;
• paleopalinologia: estuda microfósseis;
• paleoicnologia: estuda os vestígios da atividade orgânica
dos organismos;
UNIUBE 119

• paleoecologia: estuda as relações entre os organismos


fósseis e seus respectivos ambientes de vida;
• tafonomia: estuda a história da preservação de um
organismo desde a sua morte até seu soterramento
final.

O assunto da Paleontologia é muito amplo e variado, ampliando o


vasto leque de conhecimentos da ciência e incentivando o estudo
e especialização na área. Além de matéria acadêmica, o estudo
dos fósseis encontra um vasto campo de aplicação, principalmente
no campo de evidências evolutivas e de interesse econômico.

O presente capítulo é uma síntese do vasto campo científico que


é a Paleontologia. O conteúdo abordará uma visão sistêmica
sobre a história da vida no planeta Terra, dando ênfase ao
estudo dos fósseis como objeto de estudo e peça-chave no
grande quebra-cabeça que é a evolução. Consequentemente,
nesse grande quebra-cabeça, faltam algumas peças, sendo a
interpretação desses espaços vagos, objeto de grande discussão
no entendimento dessa história. Nessa perspectiva, fica clara a
grande necessidade do estudo dos fósseis para a interpretação
da história evolutiva dos organismos.

Para isso, é necessário que você, estudante do curso de


Licenciatura em Ciências Biológicas, compreenda alguns concei-
tos básicos de Paleontologia, sendo capaz de interpretar, de
forma contextualizada, dinâmica e crítica todos os aspectos que
envolvem essa aprendizagem.

Bons estudos!
120 UNIUBE

Objetivos

Esperamos que, ao final da leitura deste capítulo, você seja capaz de:

• apontar as diferentes utilidades e importância dos fósseis


no estudo da Paleontologia;
• enumerar, descrever e interpretar os diferentes e suces-
sivos passos na formação dos fósseis;
• identificar e correlacionar os principais fatores que atu-
am no processo de fossilização com o tipo e o grau de
preservação que um fóssil pode ser encontrado;
• diferenciar restos de vestígios fósseis e analisar os pro-
cessos formadores de cada um com seu grau de preser-
vação;
• examinar e interpretar os diferentes processos de pre-
servação das partes duras do esqueleto dos organis-
mos, sem alteração de seu molde original;
• nomear os diferentes objetos utilizados pelos paleontó-
logos no exercício de sua profissão e correlacioná-los ao
tipo de trabalho exercido em campo ou em laboratório;
• correlacionar os diferentes métodos utilizados na datação
e identificação das rochas sedimentares;
• aplicar o estudo dos fósseis como um instrumento na
identificação e datação das rochas;
• empregar o estudo dos fósseis vivos como uma evidência
de adaptação e permanência de um ser vivo por um
longo período de tempo na Terra;
• aplicar o conhecimento do estudo dos microfósseis na da-
tação das rochas e na interpretação dos paleoambientes.
UNIUBE 121

Esquema

1º momento ─ Importância do estudo dos fósseis

2º momento ─ Formação dos fósseis

3º momento ─ Tipos de fósseis

4º momento ─ Profissão paleontólogo

5º momento ─ Princípios de estratigrafia

4.1 Importância do estudo dos fósseis

A grande maioria dos fósseis encontrados é originada de rochas


sedimentares, com raras exceções de ocorrência em rochas metamórficas
ou até magmáticas.

Os achados fósseis têm importância fundamen- Datação


tal para a Estratigrafia, uma ramificação da
Técnica que permite
Geologia, que se ocupa da datação das rochas a determinação do
tempo de existência
e a correlação das camadas sedimentares na de uma rocha.
interpretação de Paleoambientes. Correlação

Determinação da
Veja a reconstrução de um paleoambiente, correspondência
estratigráfica entre
baseado no conteúdo fóssil encontrado no local rochas situadas
em pontos mais ou
(Figura 1): menos afastados.
122 UNIUBE

Figura 1: Reconstrução de um
paleoambiente.

Os seres vivos modificaram-se continuamente no decorrer do tempo e


essas mudanças fornecem sustentação para a datação da idade relativa
das rochas onde são encontrados os fósseis.

De acordo com a idade da rocha, pode-se dizer que houve uma


superposição de camadas sedimentares, sendo a camada mais baixa,
a de idade mais antiga (lei da superposição).

A Paleontologia pode contribuir também na identificação de locais onde


as rochas possam apresentar substâncias minerais e combustíveis, como
o carvão e o petróleo, formando a base da economia de muitos países.

Você sabia que a interpretação dos paleoambientes também é


fundamental, no que diz respeito ao ambiente em que o fóssil
viveu, contribuindo para os estudos da Paleobiogeografia?

Uma vez que cada espécie tem sua própria distribuição geográfica
(Biogeografia), elas são encontradas, em maior ou menor região, na
terra ou na água. Analogamente ao que acontece hoje, as espécies
devem ter passado pelas mesmas imposições ambientais, determinando
também outro tipo de distribuição, a distribuição ecológica.
UNIUBE 123

Todo organismo tem um “modo de vida” dentro do seu habitat. Para se


adaptar a estes ambientes, os organismos tinham que possuir estruturas
e fisiologia adaptadas para tal, assim como seu modo particular de
sobreviver às pressões exercidas pelo meio. De acordo com evidências
paleoambientais (figuras 2 e 3), existiram, no passado, habitats
semelhantes aos encontrados hoje. Com isso, torna-se fundamental a
aprendizagem das bases da Ecologia para o estudo da Paleoecologia.

Figura 2: Crânio do crocodilo Uberabasuchus terrificus.

Figura 3: Reconstrução do paleoambiente em que vivia o


crocodilo Uberabasuchus terrificus.
124 UNIUBE

Não menos importante para o conhecimento básico da Paleontologia, é o


estudo da Paleoclimatologia. Este ramo do conhecimento paleontológico
se ocupa do estudo e descrição da Geografia Física do passado
geológico, tal como a reconstrução histórica do padrão da superfície
terrestre ou de uma dada área, num determinado tempo do passado
geológico, ou o estudo de sucessivas mudanças da superfície durante
o tempo geológico.

A Paleontologia nos forneceu, e, ainda, fornece evidências valiosas no


processo evolutivo das espécies. Vale lembrar-se do precioso trabalho
de coleta e estudo de espécimes fósseis, que Darwin coletou durante
sua viagem ao redor do mundo, a bordo do navio Beagle, e que teve
um valor inestimável na fundamentação do seu trabalho sobre evolução.

O processo evolutivo demonstra que a história dos animais e das


espécies é um processo contínuo de modificação, que ainda opera.
Graças a esse processo, originam-se as espécies atuais. Por meio dos
fósseis, pode-se verificar a semelhança e descendência dos organismos
de hoje em relação às espécies que viveram em épocas anteriores.

Qual a diferença entre Paleontologia X Arqueologia?

A Paleontologia é a ciência que estuda os fósseis, ou seja, restos ou


vestígios de organismos encontrados em rochas mais antigas que 11
mil anos. A Arqueologia trata do estudo de restos de seres humanos,
civilizações antigas, como viviam e etc., normalmente mais recentes
que 10 mil anos. Sendo assim, a Arqueologia trata-se de uma ciência
social. Contudo, os arqueólogos também chamam restos humanos mais
novos que 10 mil anos de fósseis.
UNIUBE 125

4.2 Formação dos fósseis

Você já deve ter se perguntado: como será que os fósseis se


formaram? De onde eles vieram?

Existem várias respostas para essas perguntas, inclusive algumas bem


estranhas! Entre elas, sabemos que os fósseis já foram usados como
adornos pelos povos pré-históricos. Os gregos já os consideraram como
ossos de dragões ou centauros, ou como parte do esqueleto de seus
heróis, pois os imaginavam com uma maior estatura. As pegadas de
dinossauros até já foram confundidas por pescadores portugueses como
pegadas da mula que levara Nossa Senhora e o Menino Jesus ao alto
de uma colina. Esse fato, inclusive, deu origem ao nome do santuário
de Nossa Senhora do Cabo ou de Santa Maria da Pedra da Mula.

Deixando a mitologia de lado e partindo para a explicação científica,


vamos conhecer agora um pouco da formação dos fósseis!

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Existe uma área da Paleontologia preocupada somente em pesquisar


como os fósseis são formados e preservados e como esses processos
afetam as informações contidas nos registros fossilíferos. Esta área é a
Tafonomia!

A análise tafonômica nos dá importantes pistas sobre o longo período


existente, desde a morte até o momento em que os fósseis são
encontrados.

Se um pesquisador, por exemplo, tivesse à sua disposição alguns fósseis


de um animal vertebrado para analisar – baseado nas características
anatômicas do animal – ele poderia nos dizer facilmente qual era aquele
organismo, o tipo de hábito alimentar, bem como o grau de parentesco
com outro vertebrado. Porém, este profissional não saberia nos dizer qual
o ambiente em que aquele animal vivia, quais eram as características
climáticas do local, nem como o que causou a morte daquele organismo.
126 UNIUBE

A Tafonomia nos esclarece algumas questões a respeito das


características Paleoecológicas, permitindo, assim, reconstruir a
história dos fósseis e o ambiente em que viviam (Paleoambiente).

Com exceção dos peixes, que são normalmente encontrados preservados


em ambientes marinhos, a maioria dos vertebrados é continental. Sendo
assim, rochas que preservam antigos ambientes aquáticos, como lagoas
e rios, são excelentes locais para se encontrarem fósseis, pois geralmente
os animais viviam próximos a fontes de água.

O ambiente fluvial é um excelente local para depósitos fósseis, devido à


sua grande capacidade de transporte, erosão e deposição de sedimentos.
Além disso, é um grande agente transformador da paisagem e dos
elementos que se encontram nela como, por exemplo, os restos orgânicos
depositados neste espaço.

Para que um ser vivo seja preservado, é necessário que seus restos ou
vestígios sigam alguns passos, caracterizando sua formação. Falaremos,
agora, um pouco de cada um.

4.2.1 Morte

Já ouviu aquela frase famosa: “Para morrer, basta estar vivo!”? Pois é,
parodiando essa frase, podemos dizer que “para ser fóssil, é preciso
estar morto”. Para que um fóssil seja formado, o primeiro passo é a
morte. Parece meio macabro, mas sem a morte não há registro fóssil.

Basicamente, existem dois tipos de morte na natureza: a seletiva e a


não seletiva:

• a morte seletiva é causada por fatores naturais, como envelhe-


cimento, relações como predação, competição e doenças, atin-
gindo determinadas faixas de idade dos indivíduos. Este tipo
de morte tanto afeta organismos mais jovens, quanto mais ido-
sos. Os últimos ainda têm contra si as suas vulnerabilidades;
UNIUBE 127

• a morte não seletiva acomete grande parte da população, sem


distinção. Este tipo de morte está relacionada a eventos como
enchentes, terremotos, tempestades, grandes secas etc.

4.2.2 Decomposição e desarticulação

Após a morte, o organismo tem sua decomposição iniciada, servindo


de substrato ao crescimento de animais necrófagos como insetos, e
ao desenvolvimento de fungos e bactérias, os quais irão decompor a
matéria orgânica.

Apenas em casos especiais, o animal quando morre não é logo


decomposto. Um exemplo são os mamutes que foram encontrados com
suas estruturas preservadas no gelo, onde um desastre os enterrou,
mantendo suas partes como pelos e tecidos moles preservados.

Geralmente, o animal quando morria não era logo soterrado. Esse


animal perdia sua carcaça, devido à ação dos organismos necrófagos
e decompositores, e isso facilitava a desarticulação do esqueleto. Razão
esta, que já foi comprovada: dificilmente são encontrados fósseis com
mais de 70% do seu esqueleto articulado.

Como definição, a articulação é a união de duas ou mais partes


esqueletais, mantendo sua forma anatômica natural. Normalmente, esta
união é formada por tecidos moles como tendões, músculos, cartilagem
e, como estes tecidos são consumidos durante a decomposição ou
por animais carniceiros, logo perdem sua conformação original, ficando
desarticulados.

Fósseis de esqueletos articulados só são encontrados quando:

1) o tempo entre a morte e o soterramento do animal for muito curto;


128 UNIUBE

2) o evento que provocou a morte do animal for o mesmo que o


soterrou ;

3) quando o esqueleto ficou exposto a condições de baixíssima


atividade de decomposição como, por exemplo, condições de
baixa oxigenação, frio extremo ou aridez.

Mas, qual a importância da desarticulação na Tafonomia?

A desarticulação fornece evidências para o entendimento do período


compreendido entre a pós-morte e o pré-soterramento, sendo a sequência
de desarticulação importantíssima para a história tafonômica.

A sequência básica de desarticulação segue a ordem:

1) desconexão do crânio;
2) desencaixe da mandíbula;
3) desconexão das cinturas pélvica e escapular;
4) desconexão dos membros em ossos isolados;
5) desencaixe das costelas;
6) desarticulação da coluna vertebral.

É importante ressaltar que a análise do grau de desarticulação


nos fornece informação sobre o tempo decorrido entre a morte e o
soterramento. Sendo assim, quanto menor o grau de desarticulação do
esqueleto, menor o tempo entre o período pós-morte e o soterramento,
e quanto maior a desarticulação, maior será o tempo entre a etapa
compreendida entre a morte e o soterramento.
UNIUBE 129

4.2.3 Transporte

Geralmente, quando um animal morre, se ele não for soterrado


rapidamente, seu esqueleto sofre desarticulação. Nesse caso, o local
onde o fóssil é encontrado, pode não ser o mesmo onde ocorreu a
morte. O estudo individual do local onde o fóssil é encontrado não é
suficiente para estabelecer o local onde o animal realmente vivia, por isso
a Tafonomia é de fundamental importância na análise paleoecológica.

O transporte é fundamental para o estudo do paleontólogo, e os fósseis


são classificados também de acordo com seu transporte em autóctone e
alóctone. Fósseis autóctones são aqueles encontrados muito próximos
ou no local em que os organismos viviam, já os alóctones são os fósseis
encontrados em locais diferentes do seu ambiente natural.

PARADA OBRIGATÓRIA

Baixo grau de desarticulação necessariamente não quer dizer que


houve pouco transporte!

Uma carcaça pode flutuar devido aos gases da putrefação. Isto diminui
sua densidade em relação à água e faz com que a carapaça percorra
grandes distâncias antes de afundar, podendo ser encontrada bem distante
do local onde vivia, preservando seu esqueleto articulado. Devido a esse
transporte da carcaça articulada, o paleontólogo poderá interpretar o
fato erroneamente, inferindo aquele local onde o fóssil foi encontrado ao
ambiente em que o animal vivia.

Você acha que todos os elementos ósseos de um animal vão parar


em um mesmo local? Pois bem, não é isso que acontece, geralmente!
Sabemos que existem ossos de vários tamanhos e pesos diferentes,
logo, vão ser transportados por distâncias diferentes, sendo os mais
pesados e maiores, os que menos se deslocam. O paleontólogo tem a
difícil missão de identificar de qual organismo é aquele fóssil, podendo
cada um pertencer a uma espécie diferente.
130 UNIUBE

4.2.4 Intemperismo

Nem todo animal que morre, preserva 100% do seu esqueleto original,
mesmo desarticulado. Devemos lembrar que os elementos ósseos
passam por várias transformações, não só de origem biológica, mas
também de natureza inorgânica. O conjunto de processos físico-químicos,
pelos quais os ossos passam, após a morte do organismo, é chamado
de intemperismo.

Analisando o grau de preservação em que o fóssil é encontrado (intacto,


com rachaduras ou camadas perdidas), pode-se inferir o período pelo
qual o osso ficou exposto ao “tempo” antes de ser soterrado, sendo a
duração máxima de um osso exposto na superfície de, no máximo, 20
anos.

CURIOSIDADE

Num estudo com mamíferos atuais, observou-se que a probabilidade é


de que apenas 1 osso em cada 1000 venha a se tornar um fóssil. Para se
ter uma ideia, cada ser humano tem aproximadamente 210 ossos em seu
corpo e, para encontrarmos apenas 1 osso fossilizado, seria necessário
que os ossos de 5 pessoas passassem pelos processos de necrólise,
desarticulação, transporte, soterramento e diagênese. Portanto, podemos
concluir que quando estamos diante de um fóssil, estamos diante de um
fenômeno extremamente raro.

4.2.5 Diagênese

A diagênese refere-se ao processo genericamente chamado de


fossilização, o qual estuda as alterações químicas e físicas sofridas,
desde o momento em que o animal foi soterrado, até a sua coleta, já
como estruturas fossilizadas.

Este processo indica o grau de preservação em que o fóssil pode ser


encontrado, podendo ser separada em três condições básicas:
UNIUBE 131

(1) preservação total, em que o organismo é


Incrustação
totalmente preservado, inclusive suas partes
moles; Crosta de algum
(2) preservação sem alteração do resto esque- minério ao redor de
um osso.
lético, ocorrendo sem alterar a estrutura es-
quelética, podendo ser por incrustação ou
permineralização; Permineralização
(3) preservação com alteração do resto esqueléti- Preenchimento dos
co, podendo ocorrer a formação de moldes do poros dos ossos
esqueleto original com a adição, substituição por algum tipo de
mineral.
ou total dissolução do material original.

AGORA É A SUA VEZ

Vamos fabricar um fóssil?

Já estudamos o processo de formação dos fósseis. Que tal agora fazermos


isso com as próprias mãos?

A atividade sugerida, a seguir, é uma prática bem fácil de ser feita e que
pode ser realizada em sala de aula com nossos alunos, fazendo com que
despertem ainda mais o interesse pela Paleontologia.

Atividade: “Fabricando um fóssil”

Materiais necessários:

• argila molhada;
• argila seca;
• um recipiente (garrafa pet ou pote de margarina);
• objetos coletados: ossos, folhas, conchas.

Procedimentos:

1. colocar a argila seca dentro do recipiente, de forma que cubra todo


o fundo (em torno de 2 cm);

2. colocar cerca de 4 cm de argila molhada sobre a camada de argila


seca;
132 UNIUBE

3. espalhar, sobre a argila molhada, os objetos coletados (folhas, ossos,


exoesqueleto de insetos etc.);

4. espalhar argila seca sobre os objetos, para que os mesmos fiquem


fixados no local, e separados uns dos outros. A seguir, cobrir os
objetos com 4 cm de argila molhada e deixar secar por 3 dias;

5. após este período, reúna um grupo de estudantes, retire o material


do recipiente e tente separar cuidadosamente as partes.

Baseado neste experimento, responda os seguintes questionamentos:

a) o que você observou ao retirar o material? Foi um fóssil?


b) qual o papel da argila no processo de formação do fóssil?
c) qual a relação desta experiência com o processo de formação dos
fósseis?

4.2.6 Fatores que atuam no processo de fossilização

Durante o processo de fossilização, diversos fatores auxiliam na formação


de fósseis:

• rápido soterramento após a morte: neste caso, o organismo


sendo rapidamente soterrado, facilita a sua deposição no solo e
impede a ação imediata de fatores externos, como a incidência
solar e chuvas, que aceleram o processo de decomposição;
• decomposição bacteriológica baixa ou ausente: organismos
decompositores aceleram o desgaste dos organismos e,
dependendo do local em que o organismo está, como água ou
terra, este processo ocorre de forma diferencial;
• estrutura e composição química do esqueleto: dependendo da
estrutura corporal – ossos e cartilagens – o organismo tende
a permanecer por mais tempo condicionado no solo, sem que
sejam perdidas características físicas do mesmo. Logo, organis-
mo com ossos – vertebrados – tendem a manter mais fielmente
suas estruturas corporais do que aqueles que não possuem os-
sos, como, por exemplo, os insetos;
UNIUBE 133

• modo de vida: o “estilo de vida” do organismo, ou seja, o local em


que o organismo habita, influencia no processo de fossilização,
uma vez que ambientes aquáticos e terrestres podem divergir
no tempo de decomposição;
• condições abióticas do ambiente: fatores físicos e químicos
do meio influenciam no condicionamento dos organismos
no ambiente. Sendo que, variações nas condições de chuva,
umidade e composição de determinadas substâncias, podem
acelerar ou retardar o efeito desta deposição.

Após serem formados, outros fatores podem acelerar a destruição dos


fósseis, como:

• águas percolantes: constantes movimentações da água, por


chuvas ou águas subterrâneas, podem modificar a estrutura
dos fósseis;
• agentes erosivos: fatores abióticos, como incidência solar,
afetam na manutenção de um fóssil;
• vulcanismo: atividades vulcânicas podem destruir fósseis;
• eventos tectônicos: a movimentação das placas, com a
consequente presença de terremotos, pode destruir locais com
fósseis;
• metamorfismo: conjunto de processos geológicos, que levam
à formação das rochas metamórficas, sofridos a partir de
mudanças físicas e químicas pelas rochas, quando submetidas
ao calor e à pressão do interior da Terra.

4.3 Tipos de fósseis

Os fósseis são separados em dois tipos distintos, de acordo com sua


origem e processos de fossilização. São eles:
134 UNIUBE

4.3.1 Restos

São fósseis que apresentam grande potencial de conservação e


geralmente consistem nas partes duras do ser vivo. Exemplos deste tipo
de fóssil são: espículas de esponjas (sílica); exoesqueleto de artrópodes
(quitina); ossos de vertebrados (hidroxiapatita), entre outros. A Figura 4
mostra um exemplar fóssil do fêmur de um titanossaurídeo, encontrado
no município de Uberaba:

Figura 4: Exemplar fóssil do fêmur


de um titanossaurídeo.

Pode ocorrer a preservação total dos restos


Âmbar
esqueléticos quando, por exemplo, o animal
Resina fóssil sólida
proveniente da seiva ficar aprisionado no âmbar que, quando seca,
de um vegetal, que endurece, preservando o organismo em sua
quando escorria,
englobava algum forma natural ou, quando o animal tiver o
animal, mantendo-o
preservado ao longo seu congelamento rápido, impossibilitando
do tempo.
a decomposição de suas partes devido às
baixíssimas temperaturas.

Também ocorre a preservação das partes duras do esqueleto dos


organismos, sem alteração de seu molde original por:
UNIUBE 135

• incrustação: quando transportado pela água, um mineral re-


cobre a superfície do animal formando um envoltório;
• permineralização: quando as partículas que formam o sedi-
mento em volta do organismo o penetram, preenchendo as
suas cavidades (Figura 5);

Na Figura 5, a seguir, veja o processo de permineralização, observado


em um exemplar fóssil do fêmur de um titanossauro. Há formação de
cristais ao centro do osso fossilizado.

Figura 5: Processo de permineralização.


Foto: Andréia Marega Luz.

• concreção: componentes eliminados durante a decomposição


podem atrair algumas substâncias, fazendo com que fiquem
aderidas no organismo, formando nódulos. Por exemplo,
a amônia produzida na decomposição faz com que haja
precipitação do bicarbonato de cálcio dissolvido na água.

Os fósseis podem ser preservados ainda com alteração dos seus restos
esqueléticos como:

• carbonificação: neste processo, a maioria dos constituintes


voláteis escapam durante a decomposição, restando o carbono.
Neste caso, o fóssil é escuro devido à presença do carbono,
preservando a forma do organismo;
136 UNIUBE

• recristalização: quando os minerais originais, que apresentam


uma forma geométrica característica, sofrem um rearranjo
originando outros minerais diferentes;
• substituição: caso em que o mineral original é substituído por
outro tipo mineral.

4.3.2 Vestígios

Quando os restos de um organismo não são preservados, ainda pode


existir uma prova de sua existência por meio de evidências deixadas
por estes organismos. Como exemplo de vestígios, podemos citar:

• pegadas;
• coprólitos (Figura 6): fezes fossilizadas;

Figura 6: Excremento fóssil de dinos-


sauro (coprólito).
Foto: Andréia Marega Luz.

• gastrólitos: rochas de pequenas dimensões presentes em res-


tos estomacais (auxiliava na digestão);
• moldes: impressões da parte interna ou externa de um orga-
nismo;
• marcas de dentadas;
• sinais de túneis e de galerias de habitação.
UNIUBE 137

Podemos citar, ainda, atividades relacionadas à formação de


icnoestruturas, como:

• deslocação: pegadas, pistas, trilhos etc;


• alimentação: marcas de dentadas, gastrólitos, coprólitos etc;
• habitação: galerias, tocas, túneis etc;
• reprodução: ovos, posturas, ninhos etc.

4.3.3 Pseudofósseis

Estruturas presentes nas rochas, semelhantes a organismos, que são


originadas pela passagem da água e precipitação de algum mineral.

CURIOSIDADE

Vários outros termos são encontrados na


literatura, como pseudofósseis, dubiofósseis e Turfeira
subfósseis. O termo pseudofósseis corresponde
a estruturas muito parecidas com fósseis, mas É um tipo de
solo, feito de turfa
que são comprovadamente de origem orgânica. (carvão vegetal),
onde fósseis
Dubiofóssil corresponde a estruturas que são encontrados
apresentam dúvidas quanto à sua origem, frequentemente.
sendo orgânica ou não. Consiste em
materiais orgânicos
Já o termo subfóssil corresponde a vestígios depositados sob o
de organismos que viveram posteriormente ao solo, formando os
período Holoceno, não sendo considerados organossolos ou
solos orgânicos.
fósseis, devido à sua pouca idade. Um exemplo
são os restos de seres humanos e animais
atuais encontrados numa turfeira ou em
depósitos de cavernas.

4.3.4 Fósseis vivos

Você já ouviu falar da existência de fósseis vivos? Pois é, eles existem


mesmo! Fóssil vivo é a denominação dada a organismos que são
encontrados como formas fósseis, preservadas nas rochas e, formas
138 UNIUBE

semelhantes que vivem, atualmente, sem sofrer ou que sofreram poucas


modificações ao longo da escala do tempo.

Veja a Figura 7:

Figura 7: Palmeira do gênero


Podocarpus.

Essa palmeira do gênero Podocarpus é considerada um fóssil vivo.

Qual a explicação mais plausível para que um fóssil vivo não


sofra modificações ao longo de tanto tempo?

Uma das hipóteses que podem responder a essa pergunta é que esses
organismos estão muito bem adaptados às condições do meio, ou
seja, possuem um tipo de sucesso no modo de sobreviver, não sendo
necessário que mude suas características.

Um exemplo de adaptação de sucesso ao meio é o que ocorre com o


Limulus, um artrópode quelicerado que surgiu no planeta há cerca de
300 milhões de anos. Este animal, parente das aranhas e escorpiões,
apresenta uma carapaça que o protege contra o ataque de predadores
e, além disso, suporta grandes variações de temperatura e salinidade,
podendo sobreviver por meses sem alimento.
UNIUBE 139

Outra explicação para isso é o fato de certos organismos manterem


algumas características sem mudanças, devido a um conjunto de
características ambientais que apresentam constância, e que selecionam
as características presentes naquele organismo.

Também, supõe-se, no caso de alguns fósseis vivos, que estes


organismos habitam ambientes isolados, onde não são influenciados
por qualquer tipo de pressão ambiental, seja por competição ou algum
predador em potencial. A tuatara, o único representante de répteis da
ordem Sphenodontia (ou Rhynchocephalia) é um exemplo de animal que
vive sem interferência de pressões ambientais, vivendo isoladamente
em algumas ilhas do continente australiano.

4.4 Profissão paleontólogo

O paleontólogo é o cientista responsável pelo estudo do registro fóssil


de seres vivos, seja em rochas, sedimentos, âmbar ou gelo. Os fósseis
permitem aos paleontólogos entenderem um pouco do significado
da história evolutiva dos seres vivos. Além disso, também permitem
identificar a idade das rochas, usando os fósseis como relógios naturais.
Para se tornar paleontólogo, geralmente o profissional forma-se em
Geologia ou Biologia, ou senão, mais raramente, em Geografia.

Para se tornar paleontólogo, é necessário ser muito curioso, e querer


saber sobre o passado da vida na Terra. Além disso, é preciso ter um
gosto muito grande pela Geologia e pela Biologia, uma vez que para
se investigar a vida da Terra primitiva, é preciso conhecer bem o local
onde os fósseis se encontram e saber sobre a biologia dos organismos
dos quais são originados.

A profissão do paleontólogo está relacionada à imagem dos dinossauros


e, de fato, foram realmente os dinossauros que deram o enorme “status”
que a profissão tem hoje. Mas, estudar estes animais não é tarefa fácil!
140 UNIUBE

O paleontólogo passa dias debaixo de um sol escaldante, com picaretas


na mão para, talvez, achar um pequenino exemplar fóssil. Entretanto,
em um dia de sorte, pode-se achar também um exemplar com seu
esqueleto bem preservado e articulado.

Após o trabalho árduo na escavação, os fósseis são levados para o


laboratório onde são analisados, preparados e também montados para,
posteriormente, produzir um documento científico que poderá ser divulga-
do e publicado para a comunidade científica ou para o público em geral.

O trabalho do paleontólogo, assim como de qualquer outro cientista,


segue uma metodologia rigorosa, recuperando o máximo de informações
possíveis sobre aquele organismo que viveu na Terra num passado
bem distante.

O trabalho em campo, nas escavações, consiste em procurar os fósseis.


Para isso, deve-se retirar o material rochoso por cima, e, também, no
entorno do possível local do achado, com a utilização de ferramentas
como picaretas, martelos e pincéis. Todo o ambiente da escavação
deve ser catalogado, descrevendo o tipo de formação rochosa, a atual
situação ambiental, se está em uma área urbana ou rural e deve ser
fotografado. Além disso, é importantíssimo saber a posição na rocha,
na qual o fóssil foi encontrado.

Se for encontrado um fóssil, o local deve ser visitado periodicamente


após a coleta, pois os fatores ambientais que provocam a erosão podem
expor um novo fóssil e até destruí-lo, se o local for abandonado.

Após a descoberta e retirada do material em volta do fóssil, é hora


de levá-lo ao laboratório para análises mais específicas. Se o fóssil
for demasiadamente grande, é necessário revesti-lo com uma camada
de gesso, protegendo-o contra quedas, quebras ou desarticulação do
esqueleto.
UNIUBE 141

No laboratório (Figura 8), é que se realiza a parte mais longa e específica


do estudo dos fósseis. Com a utilização de ferramentas, elimina-se o
excesso de material que envolve o fóssil, permitindo assim uma melhor
visualização e estudo do material.

Figura 8: Fotografia do laboratório do Centro de


Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price.
Foto: Andréia Marega Luz.

Realizadas as análises, o trabalho é documentado em um relatório ou na


forma de um artigo científico, sendo publicado em revistas relacionadas
à área com o intuito de divulgar a informação científica tanto para o
público leigo, como para a comunidade científica em geral.

Viu que não é fácil ser paleontólogo? Se você quer seguir esta profissão,
tem que gostar muito de Geologia e Biologia. Mas, assim como todo
bom profissional que ama o que faz, o paleontólogo dedica sua vida ao
estudo da informação contida neste “livro” especial, que são as rochas.
Desta forma, elucida um pouco do grande enigma que é a evolução da
vida no planeta, nas diversas “páginas” geológicas.

4.5 Princípios de estratigrafia

A estratigrafia é o ramo da Geologia que estuda a sequência dos estratos


que formam as rochas sedimentares e a sua idade, buscando determinar
os eventos que as formaram.
142 UNIUBE

PARADA PARA REFLEXÃO

Uma rocha encontrada na América do Sul (como, por exemplo, um calcário)


com a mesma altura e localizada acima de uma outra rocha de semelhante
composição (como um arenito) tem a mesma origem e idade que uma
rocha encontrada no sul da África?

Apesar de serem semelhantes na localização e posição, essas rochas


podem ter sido formadas em épocas diferentes, com eventos de deposição
diferentes. Então, como resolver este impasse? É aí que entram os fósseis,
que logo estudaremos por meio das datações.

Na Figura 9, temos a representação esquemática dos diferentes tipos de


organismos predominantes em épocas diferentes da história da vida no
planeta, formando uma ferramenta na datação das rochas sedimentares.

Figura 9: Representação esquemática dos diferentes tipos de organismos


predominantes em épocas diferentes da história da vida no planeta.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 143

Mas, para que estudar Estratigrafia, se o que nos interessa é


a Paleontologia?

A Estratigrafia nos dá a base para aprendermos sobre o ambiente em


que os sedimentos foram depositados e, principalmente, sobre a idade
das rochas, inferindo diretamente na datação dos fósseis, que iremos
aprender logo adiante.

Este ramo da ciência é baseado em três princípios:

• princípio da Superposição: este princípio diz que os estratos


sedimentares, posicionados em regiões mais inferiores, são
mais antigos que os situados acima, sendo sucessivamente
mais jovens no sentido ascendente;
• princípio da Horizontalidade original: esta teoria afirma
que os sedimentos são depositados horizontalmente devido à
acomodação pela gravidade, sendo que a inclinação de algum
estrato deve-se a alguma perturbação posterior;
• princípio da Continuidade lateral: os depósitos sedimentares
se estendem a todas as direções, até sua espessura chegar à
zero, ou até chegar ao seu limite do ambiente de deposição.

4.5.1 Utilização dos fósseis como ferramenta para datação

Somado aos princípios da Estratigrafia, dois novos princípios foram


incluídos, utilizando fósseis como ferramentas no estudo dos estratos.
O primeiro deles é o Princípio da Sucessão Fóssil, primeiramente
relatado por Georges Cuvier. Este francês, paleontólogo e anatomista,
considerado o pai da “anatomia comparada”, percebeu que cada camada
de rochas fossilíferas apresentava conjuntos de fósseis diferentes, e
que na medida em que as camadas ficavam mais inferiores, a coleção
fóssil se tornava mais antiga.
144 UNIUBE

Baseado nessas observações, Cuvier postulou a Teoria do catastro-


fismo. Esta teoria afirma que cada conjunto de fósseis das diferentes
camadas sedimentares passou por extinções em massa, de tempos em
tempos na Terra, dizimando toda a população existente. E, essa fauna
era substituída por novos organismos que vinham de outros lugares,
ocupando o local vago deixado pelos seres extintos.

Mas, quem realmente deixou claro esta teoria foi Willian Smith. Realizan-
do seus trabalhos de agrimensor na Inglaterra, ele percebeu que os
mesmos conjuntos de rochas afloradas em distintas regiões continham
determinados fósseis, não encontrados em outros pacotes de rochas.
Então, ele demonstrou que rochas encontradas em regiões geografica-
mente distintas, contendo jazigos fossilíferos correspondentes, podiam
ser correlacionadas de acordo com seu conteúdo fóssil.

O segundo princípio diz respeito à Correlação fóssil. Este princípio


se utiliza da premissa de que as correlações estratigráficas podem ser
realizadas utilizando fósseis com características especiais (estes fósseis
devem ser cosmopolitas, ter surgido e se extinguido rapidamente, ser
numerosos e facilmente identificáveis), são os chamados fósseis-guia
ou fósseis-índice.

Com o auxílio dos fósseis, pode-se utilizar a Datação relativa, que é um


método utilizado para se fazer uma correlação entre o empilhamento e
a idade das rochas e, ainda, estabelecer as bases para a construção
da coluna do tempo geológico.

Porém, a datação relativa não estabelece a idade absoluta (mais exata


e quantificada em número de anos) sendo necessária a datação com
a utilização de isótopos radiativos.
UNIUBE 145

EXPLICANDO MELHOR

Existem na natureza, elementos químicos que são estáveis como, por


exemplo, o oxigênio. Este elemento possui três isótopos (elementos
químicos com o mesmo número de prótons, mas com número de nêutrons
diferentes). Alguns elementos têm a tendência de se transformarem
em outro elemento mais estável, sendo estes, os chamados isótopos
radiativos. Nesta transformação, chamada de decaimento radiativo
uma quantidade de radiação é emitida, liberando calor. Este processo
que acontece de forma lenta e constante é chamado de meia-vida.

Exemplo disso é o que acontece com o carbono. O carbono existe na


natureza basicamente na forma de dois isótopos, o carbono 14 (6 prótons
e 8 nêutrons), e o carbono 12 (6 prótons e 6 nêutrons), sendo este último,
muito mais abundante. O carbono 14 (C14) é instável, e apresenta uma
meia-vida de 5.730 anos, tendendo a transformar-se em nitrogênio 14
(N14). Isso significa que a cada 5.730 anos, metade do número de C14
vão se transformar em N14.

Porém, devido à meia-vida do C14 ser relativamente curta, ele é utilizado


para datar rochas de até 70.000 anos.

Então, você deve estar se perguntando: existem elementos com a


meia-vida mais longa que o C14? A resposta é sim! Porém, estes elemen-
tos com meia-vida maior não são encontrados na composição química
dos seres vivos, como o urânio e o rubídio.

A Datação absoluta é inconveniente para a datação de rochas


sedimentares e, consequentemente, para o estudo dos fósseis. Isso
se dá devido à reunião, na mesma rocha, de elementos com idades
diferentes, vindos de outras rochas preexistentes, que formaram a rocha
sedimentar. Sendo assim, fica praticamente impossível determinar a idade
daquele sedimento e/ou fóssil, pois como existem diferentes materiais
com diferentes idades reunidos no mesmo local, não é possível fazer
uma única datação exata.
146 UNIUBE

Porém, em muitos lugares onde afloram rochas sedimentares, afloram


também rochas ígneas, cinzas vulcânicas, intrusão de granito etc., que
permitem a datação por meio do método absoluto. Sendo assim, esses
materiais limitam temporamente os intervalos de rochas sedimentares,
podendo ser passíveis de datação.

Para ser mais exato no estudo, o paleontólogo utiliza-se dos dois modos
de datação, o relativo e o absoluto, fazendo uma relação entre os dois
e, assim, quantificando melhor a idade das rochas.

4.6 Microfósseis

Você acha que todos os seres vivos fossilizados eram macroscópi-


cos? Ou seja, passíveis de serem visíveis a olho nu?

Se você respondeu não, você está certo. Uma grande quantidade de


organismos, ou partes deles, possuíam tamanhos diminutos, não sendo
visualizados a olho nu. Alguns destes organismos e suas partes, como
esporos, grãos de pólen, espículas de esponjas, conchas etc., foram
fossilizados, entretanto são distinguidos apenas com o auxílio de um
microscópio.

Apesar do tamanho, os espécimes microscópicos encontrados são


importantíssimos no estudo da Paleontologia, existindo uma vertente
exclusiva para o estudo destes diminutos objetos. O ramo da Paleon-
tologia, especializado no estudo de fósseis microscópicos, é chamado
de Micropaleontologia.

Por apresentarem um tamanho muito pequeno, é difícil encontrar


microfósseis, exigindo dos micropaleontólogos um trabalho minucioso.
Mas, onde encontrar microfósseis? Isso depende muito da idade
das rochas (quando foram depositadas), do ambiente em que foram
depositadas (ambiente deposicional) e dos processos que o sedimento
sofreu, ou seja, as condições de fossilização.
UNIUBE 147

Você viu que já é difícil achar um microfóssil, devido ao seu tamanho.


Além disso, este material ainda passa por diversas condições que
podem destruí-lo até o momento de sua fossilização. Mas, apesar disso,
existe uma abundante ocorrência em quase todas as idades, desde o
Pré-cambriano aos tempos atuais, sendo que sua ampla distribuição
geográfica e a ótima preservação permitem que, numa pequena amostra
de sedimento, encontremos informações suficientes para as mais
minuciosas análises e precisas interpretações.

A maioria dos microfósseis é encontrada em ambientes de sedimentação


marinhos, contendo uma grande quantidade como, por exemplo, em 10
cm3 de areia de recife de corais, pode-se coletar 10.000 espécimes devido
à sua grande biodiversidade. Em contrapartida, em outros ambientes
de sedimentação, em 1 quilograma de sedimento retirado, pode-se
encontrar, em média, apenas 1 microfóssil.

A grande vantagem é que, se houver sorte, em uma pequena amostra de


rocha podemos recuperar muitos microfósseis, graças ao seu pequeno
tamanho. A partir daí, com a identificação desses organismos, pode-se
descobrir várias informações sobre o tempo em que eles viviam e seu
ambiente de vida.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Existe um ramo dentro da Micropaleontologia chamado Palinologia.


Esta ciência estuda a morfologia dos grãos de pólen e de esporos, seus
modos de dispersão e suas aplicações. Para isso, realiza-se a dissolução
dos componentes inorgânicos da rocha por ácido clorídrico (HCl) e ácido
fluorídrico, sendo a parte orgânica restante, chamada de palinomorfos.
A presença de pólen e esporos permite a reconstituição histórica da
evolução das plantas.
148 UNIUBE

Uma grande utilidade dos microfósseis está na datação das rochas. São
excelentes ferramentas para a identificação da idade das rochas. Porém,
sua distribuição tem que ser limitada a um curto período de tempo, ou
seja, tem que surgir, evoluir e se extinguir rapidamente, por volta de
alguns milhares de anos, para que esta datação seja mais precisa.

Além da datação, os microfósseis são ótimos para indicar o ambiente


que ali existia. Grande parte do que sabemos hoje sobre estabilidade
e desenvolvimento dos ecossistemas é devido aos estudos dos
microfósseis.

Muitas empresas de petróleo, universidades, museus, mineradoras,


contratam micropaleontólogos para analisar os microfósseis e datar
aquela rocha, a fim de se obter a idade daquele depósito de sedimentação
e/ou o ambiente em que foi formado.

Resumo

Este capítulo faz uma síntese da grande divisão científica que é a


Paleontologia. Buscamos sintetizar os principais conceitos acerca dos
fósseis e tudo que os envolve. Além dos fósseis, também enfatizamos
a importância do estudo das rochas sedimentares, que é o principal
endereço onde podem ser encontrados os restos e vestígios dos
organismos que viveram na Terra há muito tempo.

Ao estudar este capítulo, você ficou a par das principais características e


conceitos que envolvem os fósseis, interpretando não só os organismos
que deixaram pistas de sua vida, mas também características ambientais
antigas, ferramentas fundamentais no estudo da evolução da vida na
Terra. Concomitantemente a isso, o capítulo trouxe uma breve explanação
dos processos de datação das rochas, relacionando a idade das rochas
ao conteúdo fossilífero presente.
UNIUBE 149

Atividades

Atividade 1

Os fósseis são objetos de grande adoração pelo público científico. Cada


vez que um novo fóssil é descoberto, uma nova página da evolução
da vida pode ser decifrada. Você já deve ter percebido que a grande
maioria dos fósseis é encontrada em rochas sedimentares. Explique
sucintamente por que isso acontece.

Atividade 2

Algumas coisas são mesmo muito estranhas, mas muitas delas a ciência
pode explicar. Não é raro achar fósseis de animais aquáticos em lugares
bem altos como em grandes altitudes. Bivalves, artrópodes, crustáceos
e uma gama de outros animais podem ser encontrados no topo de uma
montanha. Escreva por que estes fósseis são encontrados no alto de
uma montanha.

Atividade 3

Uberaba está localizada numa região muito rica de fósseis. O bairro


de Peirópolis é famoso por seu museu paleontológico e seu centro de
pesquisas paleontológicas Llewellyn Ivor Price. Porém, neste local é muito
difícil achar fósseis articulados. Muitos fósseis de organismos diferentes,
tanto em forma quanto em grupo taxonômico, são encontrados juntos.
Por que estes diferentes fósseis são encontrados no mesmo local?
150 UNIUBE

Referências

CARVALHO, Ismar de. Paleontologia. Rio de Janeiro: Interciência, 2000.

Livro Digital de Paleontologia: a paleontologia na sala de aula. 1. ed. Porto


Alegre, RS. Sociedade Brasileira de Paleontologia, 2009. Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/paleodigital>. Acesso em: 16 jan. 2010.
Capítulo
Paleontologia: a Terra em
constante transformação
5
e a evolução da vida
ao longo do tempo
Andréia Marega Luz

Introdução

A Terra tem, aproximadamente, 4,56 bilhões de anos. Durante


todo esse tempo, restos de animais e vegetais ou evidências de
suas atividades ficaram preservados nas rochas. Como você sabe,
esses restos e evidências são denominados fósseis e constituem
o objeto de estudo da Paleontologia.

O presente capítulo tem, como objetivo, propiciar a você aprofundar


o entendimento referente ao objeto de estudo da Paleontologia, a
como essa ciência se relaciona com a Biologia, e sua importância
para a população.

Como, neste capítulo, iremos aprofundar nosso estudo a


respeito da Paleontologia, em alguns momentos, retomaremos
o que foi estudado, para seguirmos uma linha de raciocínio e
complementarmos o assunto. Caso, mesmo assim, você tenha
dúvidas sobre alguns conceitos retomados, orientamos que, ao
longo do estudo, volte e consulte o capítulo 4.

Bons estudos!
152 UNIUBE

Objetivos

Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de:

• definir tempo geológico;


• relacionar o estudo dos fósseis com a evolução dos
seres vivos;
• analisar o estudo da Paleontologia na Educação Básica,
principalmente nos livros didáticos;
• desenvolver metodologias de ensino que possibilitem
o acesso ao conhecimento científico e acadêmico,
trazendo-o para o ambiente escolar.

Esquema

1º momento - Aprofundando o estudo da Paleontologia

2º momento - Tempo geológico

3º momento - Fósseis do Brasil

4º momento - A Paleontologia no livro didático


e a democratização da ciência

5º momento - Turismo paleontológico


UNIUBE 153

5.1 Aprofundando o estudo da Paleontologia

De acordo com o capítulo anterior, você viu que a


Fósseis
Paleontologia estuda a vida do passado da Terra
Restos ou vestígios
e o seu desenvolvimento ao longo do tempo preservados de
animais, plantas ou
geológico, bem como a formação dos fósseis outros seres vivos em
(Figura 1). Elucida não apenas o significado rochas, sedimentos,
gelo ou âmbar.
evolutivo e temporal, mas também a aplicação
na busca de bens minerais e energéticos.

Figura 1: Fósseis de uma tartaruga.

Segundo Cassab (2004, apud Filipe, 2007), a Paleontologia consolidou-


-se como ciência no início do século XIX com o surgimento das primeiras
sociedades científicas paleontológicas que, com a divulgação de pesquisas,
serviram de suporte para o pleno desenvolvimento desta ciência.

RELEMBRANDO

Os fundamentos e a metodologia da Paleontologia fundamentam-se em


duas ciências: a Biologia e a Geologia. Por serem restos de organismos
vivos, o paleontólogo busca subsídios na Biologia. Em contrapartida,
é fornecido aos biólogos a dimensão temporal do estabelecimento dos
ecossistemas atuais e complementos às teorias evolutivas.

É na Geologia que se utilizam os fósseis como ferramentas para datação


e ordenação das sequências sedimentares, interpretando os ambientes
antigos de sedimentação e a identificação das mudanças ocorridas na
superfície da Terra durante o tempo geológico.
154 UNIUBE

Você estudou que os arqueólogos diferenciam-se dos paleontólogos


porque não trabalham com restos de seres vivos - é uma ciência
social. Enquanto a Arqueologia estuda as culturas e os modos de vida
humana do passado a partir da análise de vestígios materiais (Figura
2), a Paleontologia estuda restos ou vestígios de diversas formas de
vida (animal, vegetal etc.) pela análise do que restou delas e da sua
atividade biológica: pisadas, coprólitos, bioturbações, fósseis ósseos etc.

Figura 2: Utensílios encontrados por arqueólogos na Bahia.

No Capítulo 4, sobre os conceitos gerais de Paleontologia, também foi


abordado o conceito de fósseis. Relembrando o que foi estudado, fósseis
são restos ou vestígios de animais, vegetais e de outros microrganismos
(algas, fungos e bactérias) que viveram em tempos pré-históricos e estão
naturalmente preservados nas rochas sedimentares.

5.1.1 Fósseis, evolução e registro fóssil

Os fósseis (Figura 3) podem ser divididos em restos e vestígios.

Figura 3: Costelas de um titanossauro.


UNIUBE 155

Os restos ou somatofósseis são representados pelas seguintes partes:

• pelas partes duras como, por exemplo, os ossos, os dentes (Figura


4 - que são mais favoráveis à fossilização por causa do esmalte, que
os protege), conchas, carapaças e outras;

Figura 4: Dentes de dinossauros carnívoros.

• pelas partes moles como tecidos, que podem ser preservados


no gelo; por meio de decantação de cinza (tufo vulcânico)
que permite a rápida desidratação, não havendo tempo
para decomposição do tecido; e dentro de âmbar, resina
de hidrocarboneto liberada por vegetais superiores que, ao
envolver animais, preserva tecidos moles; e impressões,
marcas de um organismo que ficaram preservadas em um
sedimento muito lamoso (folhelhos).

Veja, na Figura 5, um exemplo de icnofósseis:

Figura 5: Ovo fossilizado de titanossauro.


156 UNIUBE

Os vestígios ou icnofósseis são evidências de


Icnofósseis
que o organismo existiu como, por exemplo,
Vestígios da atividade
orgânica (como ovos de dinossauros (vazios), gastrólitos,
ninhos, coprólitos,
pistas, pegadas, rastros deixados por vermes aquáticos, pegadas
perfurações, de vertebrados e coprólitos.
escavações e marcas
de repouso) dentro ou
sobre um determinado
substrato.
RELEMBRANDO
Gastrólitos

Pedaços de rochas Coprólitos


ingeridos pelos São fezes de dinossauro petrificadas.
animais para ajudar
na maceração do
alimento.

CURIOSIDADE

Veja a reportagem divulgada na revista Ciência Hoje, edição de abril de 2010:

Âmbar africano com 95 milhões de anos


revela fauna do Cretáceo

A descoberta na Etiópia de um depósito de


âmbar com 95 milhões de anos está a ajudar
os cientistas a reconstruírem uma primitiva
floresta tropical. As dezenas de insetos, fungos
e aranhas presos no depósito dão pistas para
se perceber aquele ecossistema partilhado com
os dinossauros, durante o período do Cretáceo.
(Ciência Hoje, edição de abril de 2010, p.01).

Para ler mais sobre essa importante descoberta, acesse a revista Ciência
Hoje, edição de abril de 2010, que está disponível para leitura no link:

<http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=41405&op=all>. Acesso em:


25 jan. 2012.

Não deixe de se informar!


UNIUBE 157

Como estudamos, fóssil vivo designa organismos pertencentes a grupos


biológicos atuais que são os únicos representantes de grupos que foram
bem mais abundantes e diversificados no passado geológico da Terra.
E, por isso, os organismos apelidados de "fósseis vivos" apresentam
aspectos morfológicos muito similares aos dos seus parentes mais
antigos, preservados sob a forma de fósseis no registro geológico.

Veja, na Figura 6, a seguir, um exemplo de fóssil vivo, a Cicadácea.

Figura 6: Fóssil vivo – Cicadácea.

As cicadáceas, do filo Cycadophyta, são plantas semelhantes a palmeiras


e encontradas principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Essas
plantas singulares, que apareceram, pelo menos, há 250 milhões de anos,
durante o período Permiano, eram tão numerosas na era Mesozoica,
juntamente com as Bennettitales que superficialmente se assemelhavam
a elas. Esse período é frequentemente chamado “Era das Cycadophyta
e Dinossauros” (RAVEN, 2001).

Paisagens e seres vivos da Terra primitiva são reconstituídos em histórias


fantásticas de filmes e revistas. Mas, cientificamente, como podemos
saber se existiram mesmo? A descoberta de ossos, dentes ou esquele-
tos inteiros de animais extintos, enterrados no solo ou incrustados em
rochas, é que tornou possível esse conhecimento!
158 UNIUBE

Os representantes da espécie Ginkgo biloba são também considerados


fósseis vivos, uma vez que não têm parentes próximos entre as plantas
da atualidade, mas que pertencem a um grupo biológico (as Ginkgoales)
que foi muito abundante e diversificado desde o Permiano ao Paleoceno.
Veja a Figura 7:

Figura 7: Espécie de um fóssil vivo - Ginkgo biloba.

Ginkgo biloba é a única sobrevivente de um gênero que pouco mudou


em 150 milhões de anos e é o único membro vivo do filo Ginkgophyta.
A espécie atual compartilha características com outras gimnospermas,
que remontam ao início do período Permiano, alguns 27 milhões de
anos atrás. Provavelmente, não há populações naturais de Ginkgo em
nenhuma parte do mundo, mas a árvore foi preservada nos pátios de
templos na China e no Japão. Introduzida em outras partes do mundo,
ela tem se tornado um importante componente de parques e jardins
de regiões temperadas, por aproximadamente 200 anos. Ginkgo é
especialmente resistente à poluição aérea e por isso é comumente
cultivada em parques urbanos e ao longo das ruas (RAVEN, 2001).

Para ampliar seus conhecimentos, pesquise constantemente e não deixe


de reler o Capítulo 4 deste livro. Registre as suas dúvidas a cada leitura
e estabeleça em suas reflexões um estudo evolutivo dos seres vivos.

Você já parou para pensar sobre a origem e a evolução dos


homens? Ou seja: de onde você veio?
UNIUBE 159

Muitas são as descobertas de fósseis de hominídeos, que tentam elucidar


o enigma sobre a origem e evolução dos homens. No entanto, assim
como em registros fósseis de outras espécies, há muitos elos perdidos
entre os fósseis encontrados.

No entanto, em 2010, cientistas que trabalham na África do Sul


apresentaram fósseis de uma espécie humana nova para a ciência,
que recebeu o nome de Australopithecus sediba. O que surpreendeu os
cientistas, com essa nova descoberta, é que os fósseis encontrados ─
um esqueleto feminino adulto e um jovem masculino ─ parecem ser uma
mistura de caracteres primitivos e avançados, acendendo um debate
sobre qual lugar ocupariam na árvore genealógica.

Mas, antes de continuarmos estudando sobre essa recente descoberta,


vamos fazer uma breve introdução a respeito dos primeiros fósseis de
hominídeos encontrados.

O primeiro fóssil reconhecido como um ser humano ancestral foi


descoberto em 1856, na Alemanha, um Neandertal. Desde então,
novos fósseis de ancestrais humanos foram encontrados e incluídos
na árvore genealógica. No entanto, como já mencionado, há muitas
lacunas importantes de como chegamos a ser o que somos hoje.

Um dos pontos cegos é sobre como surgiu o gênero Homo. Alguns


especialistas concordam que o Homo evoluiu de uma espécie de Austra-
lopithecus afarensis ou Australopithecus africanus. No entanto, ligar os
pontos entre uma espécie de Australopithecus com Homo tem sido difícil.

Os cientistas que descreveram os fósseis encontrados recentemente


sugerem que A. africanus deu origem ao A. sediba, que por sua vez deu
origem ao gênero Homo. As conclusões dos cientistas foram baseadas
em características como: o A. sediba apresenta cérebro pequeno, corpo
160 UNIUBE

pequeno, braços longos, que se relacionam com os Australopithecus


africanus. Mas, a nova espécie apresenta também uma série de
características vistas somente em Homo, como a face achatada, pélvis
robusta e longa e pernas capazes de caminhar. No entanto, para alguns
cientistas a alegação de semelhança pós-cranial entre os dois grupos
não é suficiente para fazer tal afirmativa.

Como podemos perceber, é difícil saber exatamente como os esqueletos


se relacionam com as espécies Homo conhecidas, por causa da carência
de restos mais antigos de Homo.

É preciso ainda tentar encontrar restos de DNA passíveis de sequenciar,


além de reconstruir o ambiente onde viveram. Podemos dizer que se
trata de uma longa caminhada para adicionar esta nova descoberta à
família humana!

AGORA É A SUA VEZ

Agora, procure pesquisar mais informações sobre a origem e evolução


dos hominídeos, fazendo comparações entre os hábitos de vida e a forma
do corpo, do crânio etc. Há muitos materiais, como artigos e pesquisas
disponíveis na internet que nos permitem compreender melhor a história
do homem. Vale a pena conferir!

É importante ressaltar que os fósseis, para sua preservação, necessitam


de um conjunto de processos físicos, químicos e biológicos. Todas as
etapas desse processo, desde a morte até a fossilização, são analisadas,
classificadas, agrupadas e estudadas pela Tafonomia, o que torna
possível caracterizar a biosfera do passado geológico.

Lembra-se das condições necessárias para se formar um fóssil?


UNIUBE 161

Para que ocorra fossilização, é necessário que o organismo, logo após


a sua morte, seja soterrado imediatamente, a fim de evitar a ação de
bactérias e fungos decompositores. No entanto, esse organismo pode
passar por uma série de processos – desarticulação, transporte – e, só
depois, ser soterrado.

Após o soterramento, o organismo sofre compactação pelo peso do


sedimento, e cimentação ou mineralização, onde o sedimento depositado
sobre o organismo ou por dentro dele (por meio de processos químicos),
se aglomera e passa a formar uma rocha sedimentar, constituindo,
então, um fóssil.

EXPLICANDO MELHOR

Para explicar melhor, suponhamos um processo de fossilização:

1 – morte do animal;
2 – animal recoberto por uma lâmina de água;
3 – animal soterrado por várias camadas de sedimentação;
4 – após milhares de anos, a movimentação de rochas e processos
erosivos pode expor os fósseis às camadas mais superficiais.

Você sabe o que permite aos paleontólogos, milhões de anos


depois, encontrarem fósseis?

O que permite aos paleontólogos, milhões de anos


Placas
depois, encontrarem os fósseis é o movimento tectônicas
das placas tectônicas, proposta pela Teoria das Segmentos
litosféricos que se
Placas Tectônicas e, depois, complementada pela deslocam sobre a
teoria da Deriva continental. Esse movimento astenosfera.

permite que uma rocha, que antes foi um fundo de


mar, por exemplo, seja erguida acima da superfície
e fique exposta.
162 UNIUBE

É importante ressaltar que são considerados fósseis apenas os registros


com mais de 11.000 anos, devido à última glaciação datada de 11.000
anos atrás, que marca o período recente no tempo geológico. Dessa
forma, convencionou-se que, para que sejam fósseis, os organismos
preservados precisam ter data anterior a essa.

5.1.2 Tectônica de placas e deriva continental

A tectônica de placas afirma que a litosfera


Litosfera
é constituída por placas tectônicas separadas
(do grego "lithos" =
pedra) é a camada e distintas que flutuam sobre a astenosfera.
sólida mais externa
do planeta Terra, Como a astenosfera possui certa fluidez,
constituída por rochas permite que essas placas se movimentem
e solo.
em diferentes direções, afastando-se ou
Astenosfera
aproximando-se. Acredita-se que a fonte
Zona do manto
externo, menos rígida, da energia necessária para produzir estes
com profundidades movimentos seja a dissipação de calor a partir
superiores a 100 km na
zona dos continentes. do manto.

Ao longo do tempo (Figura 8), o movimento das placas, há milhões


de anos, causou a formação e separação de continentes, incluindo
a formação de um supercontinente, denominado Pangea. Este
supercontinente, posteriormente, dividiu-se em dois, Laurásia (que
daria origem à América do Norte e Eurásia) e Gondwana. Esses dois
continentes deram origem aos continentes atuais.

Figura 8: Movimentação dos continentes ao longo dos anos.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 163

Essas teorias foram comprovadas e sustentadas, devido às significativas


evidências fósseis, paleotopográficas e climatológicas, descobertas e
estudadas ao longo dos anos.

Uma prova da união dos continentes há milhões de anos é o fóssil de


um crocodilomorfo encontrado em Peirópolis, Minas Gerais, o fóssil
do Uberabasuchus terrificus. Ele foi encontrado na América do Sul e
também na África.

Os fósseis são ferramentas de estudo tanto Geólogos


para os geólogos, quanto para os biólogos. Os
Profissional que
geólogos identificam o paleoambiente gerador estuda diversos
sistemas terrestres,
das rochas sedimentares bem como sua representados por
oceanos, atmosfera,
idade relativa, o movimento dos continentes, biosfera, terra sólida
e suas geosferas
a variação do clima da Terra etc. A indústria do internas, e interação
petróleo, em todo o mundo, utiliza-se também entre estes sistemas.

das informações oferecidas pelos fósseis para Biólogos

encontrar óleo, gás natural etc. Os biólogos, Profissional que


estuda a vida em suas
por sua vez, procuram entender como surgiu diferentes formas de
expressão.
a grande diversidade de organismos, utilizando
os fósseis nos seus estudos evolutivos.

PESQUISANDO NA WEB

Universidade de Brasília (UnB) possui um Glossário Geológico Ilustrado,


que está disponível no link: <http://e-groups.unb.br/ig/glossario/>. Acesso
em: 25 jan.de 2012.

Este site é interessante para pesquisas a respeito de conceitos e definições


relacionados à Geologia e à Paleontologia.
164 UNIUBE

Entender os processos que controlaram a evolução e a dispersão dos


organismos por toda Terra é útil para a compreensão de temas como o
surgimento da vida, surgimento de novas espécies e extinção de outras,
por exemplo.

De maneira geral, os fósseis são importantes, pois:

• permitem compreender parte das etapas da evolução dos seres


atuais, sendo, portanto, prova concreta da evolução da vida;
• são elementos fundamentais da reconstrução de ambientes
passados;
• são elementos datadores (principalmente microscópicos)
e, para isso, esses fósseis, chamados datadores precisam
ter características básicas como terem vivido em um curto
espaço de tempo, ter uma ampla distribuição geográfica e ser
facilmente reconhecido;
• são importantes na prospecção e pesquisa de recursos
minerais por intermédio de microfósseis, uma vez que esses
organismos darão origem ao petróleo (combustível fóssil).

Os combustíveis fósseis são substâncias de origem mineral, formados


pelos compostos de carbono. São originados pela decomposição de
matéria orgânica, porém este processo leva milhões de anos. Os
combustíveis fósseis mais conhecidos são: petróleo, gás natural e carvão
mineral. A queima destes combustíveis é usada para gerar energia e
movimentar motores de máquinas, veículos e até mesmo gerar energia
elétrica (no caso das usinas termoelétricas). Mas, ela gera altos índices
de poluição atmosférica. Logo, são os grandes responsáveis pelo efeito
estufa e o aquecimento global.

Infelizmente, o Brasil é vítima do tráfico de fósseis. Segundo uma matéria


publicada no jornal O Estado de São Paulo, foi feita uma apreensão em
abril de 2007, no Aeroporto Internacional de São Paulo, de 700 Kg de
fósseis em ótimo estado de conservação. De acordo com especialistas,
trata-se de fósseis da Chapada do Araripe, localizada no nordeste
brasileiro. Essa região é muito rica em espécimes do período Cretáceo,
UNIUBE 165

de cerca de 110 milhões de anos e também alvo frequente da exploração


ilegal do material para alimentar o mercado negro internacional de fósseis.
De acordo com a matéria, os principais destinos dos fósseis retirados
ilegalmente do Brasil são: Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha.

Mas, o que é um registro fóssil? Como o registro fóssil se


relaciona com o estudo da evolução?

O chamado registro fóssil inclui os fósseis já descobertos e descritos,


e os que ainda não foram descobertos, ou seja, que ainda não foram
escavados ou extraídos das rochas. As descobertas paleontológicas
indicam que as evidências mais antigas de vida na Terra têm,
aproximadamente, 4,56 bilhões de anos. Portanto, o registro fóssil
engloba um vasto período de tempo, desde 4,56 bilhões de anos atrás
até, aproximadamente, os vestígios de vida de quando os humanos
desenvolveram a escrita, há cerca de 5.500 anos atrás.

Durante esse vasto período de tempo, novas formas de vida surgiram


devido à evolução, inicialmente nos oceanos a partir de organismos simples,
unicelulares, tais como as bactérias, algas e protozoários. Posteriormente,
surgiram os organismos mais complexos, multicelulares, tais como os fungos,
as plantas e os animais invertebrados e vertebrados. Ao longo desse curso
da evolução, algumas espécies desapareceram, tal como ocorreu com os
dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos.

RELEMBRANDO

Lembra-se de Charles Darwin? E de sua contribuição para a ciência?

Charles Darwin (1809-1882) foi um naturalista britânico que alcançou


fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução
e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção
natural e sexual.

Em sua principal obra, A Origem das Espécies, de 1859, Charles Darwin


propôs a Teoria da Evolução, que dizia que a vida evolui por meio das
mudanças nos organismos devido à seleção dos mais aptos a sobreviverem
no ambiente natural.
166 UNIUBE

É por meio do estudo dos fósseis, comparando-os com os seres atuais,


que os cientistas descobriram que seres vivos foram se modificando
com o passar dos tempos. Enquanto alguns tipos se extinguiram,
outros sofreram transformações, dando origem aos que conhecemos
atualmente. O estudo dos fósseis auxilia na
Carlos Lineu compreensão dessas modificações sofridas
Nasceu, em 23 pelas espécies de seres vivos, sendo, portanto,
de maio de 1707, uma das evidências mais importantes da
em Stenbrohult,
na província de evolução. Esse processo de transformação, pelo
Smalandia na Suécia
e faleceu em 10 de qual passam os seres vivos, incluindo a origem
janeiro de 1778), de novas espécies e a extinção de outras com o
botânico, zoólogo e
médico, criador da decorrer dos tempos, chama-se evolução e vem
nomenclatura binomial
e da classificação acontecendo desde que a vida surgiu na Terra.
científica, sendo assim
considerado o "pai da
taxonomia moderna". Na antiguidade clássica, alguns filósofos gregos
William Smith já haviam reconhecido a verdadeira significação
Geólogo britânico, dos fósseis, interpretando de forma diversa
considerado o as suas origens. Carlos Lineu (1707-1778)
"pai da geologia
inglesa". Nascido restringiu o uso dos fósseis apenas a organismos
em Oxfordshire,
Inglaterra, em petrificados. William Smith (1769-1832) foi o
23 de março de primeiro pesquisador a utilizar os fósseis como
1769, faleceu, em
Northamptonshire, em meio auxiliar na ordenação cronológica das
28 de agosto de 1839.
camadas de rochas sedimentares.

5.2 Tempo geológico

Agora que já estudamos sobre os fósseis, você deve ter percebido que
a evolução dos seres vivos ocorre lentamente.

O que significa tempo geológico? Quem é capaz de mensurar


o tempo geológico? Seriam necessários muitos livros para
que contássemos os detalhes de cada dia que vivemos, não é
mesmo? Como, então, seriam registrados os dias até 65 milhões
de anos atrás após o desaparecimento do último dinossauro?
UNIUBE 167

Os seres humanos são capazes de imaginar o tempo transcorrido durante


a história da humanidade que são alguns séculos, mas a ideia de um
período de tempo que envolve milhões ou bilhões de anos se torna
bastante abstrata para o nosso entendimento!

Chamamos de tempo geológico, esse tempo que foge aos nossos


padrões de referência. Tal escala de tempo pode ser medida por meio
de relógios naturais como soerguimento de montanhas; o aumento e a
diminuição dos níveis dos oceanos entre outros eventos que refletem
o ritmo da Terra. Assim, cada rocha e cada fóssil existente na crosta
terrestre constituem-se em arquivos naturais que guardam os segredos
de muitos eventos do passado e são ferramentas que podem nos ajudar
a reconstituir a história do planeta.

Como já vimos neste capítulo, parte de toda essa história é contada


pelos fósseis. A sucessão de fósseis ao longo dos anos nos ajuda a ter a
percepção relativa do tempo. Um exemplo são as rochas pré-cambrianas,
que não possuem restos de conchas ou carapaças, presentes nos
períodos da Era Paleozoica.

Radioatividade
O que possibilitou a datação das rochas
e dos fósseis foi a descoberta, pelo físico Fenômeno natural
ou artificial, pelo qual
Antoine Henri Becquerel, do fenômeno da algumas substâncias
ou elementos
radioatividade e pelos químicos Marie e Pierre químicos, chamados
radioativos, são
Curie de outros elementos radioativos como o capazes de emitir
polônio e o tório. A desintegração radioativa radiações.

dos elementos químicos contidos nas rochas Radiações

e nos fósseis especificou o tempo em que os Ondas


eletromagnéticas
fenômenos ocorreram. Como exemplo, temos ou partículas que se
o carbono-14, que é utilizado para os materiais propagam com alta
velocidade e energia e
orgânicos mais recentes e o urânio-238, que é que, quando interagem
com a matéria, podem
utilizado para datação de rochas mais antigas. produzir variados
efeitos sobre ela.
168 UNIUBE

O estudo das rochas e dos fósseis permitiu a colocação adequada dos


eventos geológicos em sua ordem correta. As unidades estratigráficas
possuem uma sequência de rochas depositadas com variação no espaço
de tempo geológico; isso determinou a divisão das eras, que foram
subdivididas em períodos.

• éons (Hadeano, Arqueano, Proterozoico e Fanerozoico);


• eras (apenas no Éon Fanerozoico: Paleozoica, Mesozoica e
Cenozoica);
• períodos (para cada uma das eras do Fanerozoico);
• épocas (subdivisões existentes apenas para os períodos do
Cenozoico).

Nesse contexto, a tabela geológica é a forma de representar todas as


transformações sofridas pela Terra de acordo com o tempo geológico.

RELEMBRANDO

No capítulo 4, temos a representação esquemática dos tipos de


organismos predominantes em épocas diferentes da história da vida no
planeta, formando uma ferramenta na datação das rochas sedimentares.
Por meio dessa representação (tabela do tempo geológico), é possível
descrever o surgimento e extinção de várias espécies de seres vivos.

Antes de prosseguir na leitura, é importante voltar a esse capítulo e rever


essa representação!

5.2.1 A evolução da vida ao longo do tempo geológico

O planeta Terra, assim como todos os outros planetas do sistema solar,


formou-se há 4,56 bilhões de anos. No entanto, a explosão da vida só
ocorreu milhares de anos depois.

Vejamos, então, a evolução da vida, de acordo com o tempo geológico.


UNIUBE 169

5.2.2 Éon Hadeano

O Hadeano não é um período geológico verdadeiro. Este período é


caracterizado pela formação do sistema solar, que ocorreu por meio de
uma nuvem de gás e poeira em torno do Sol. O Sol, teria se formado
da mesma maneira e começou a emitir luz e calor.

SAIBA MAIS

Caso queira saber um pouco mais sobre a formação do sistema solar,


acesse o site Portal Sua Pesquisa :
<http://www.suapesquisa.com/sistemasolar/>. Acesso em: 13 fev. 2012.

Nesse portal, você encontrará, também, um completo banco de dados


com informações científicas, artísticas, históricas, tecnológicas, esporti-
vas, educacionais e culturais.

5.2.3 Éon Arqueano

Esse período é caracterizado por uma atmosfera primitiva composta


de metano, amônia e de outros gases que seriam tóxicos à maioria da
vida em nosso planeta, hoje. Nessa época, a crosta terrestre esfriou,
permitindo a formação das rochas e placas continentais.

Foi durante o Arqueano que a vida surgiu, sendo que, os fósseis mais
antigos constituídos de microfósseis e bactérias (Figura 9) com aproxi-
madamente 3,5 bilhões de anos.

Figura 9: Bactérias: seres


unicelulares e procariontes.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.
170 UNIUBE

As bactérias são microrganismos unicelulares e procariontes (ausência


da carioteca ou membrana nuclear). Elas são os mais bem sucedidos
seres vivos do planeta em relação ao número de indivíduos, e podem
ser encontradas na natureza, na forma isolada ou em colônias (Figura 9).

5.2.4 Éon Proterozoico

Esse período da história da Terra foi marcado por muitos eventos. Como
exemplo, podemos citar a estabilização dos continentes, o surgimento,
nesta época, dos primeiros organismos unicelulares é de fundamental
importância para a evolução da vida, a primeira evidência de oxigênio
na atmosfera.

O oxigênio no Arqueano era menos de 1% dos níveis atuais, e, portanto,


os organismos viventes naquela atmosfera desenvolveram mecanismos
para reter o oxigênio; um destes mecanismos foi a respiração aeróbia.
Os seres unicelulares foram formas de vida dominantes em todo o
Proterozoico. A reprodução sexuada também surgiu nessa época, assim
como seres multicelulares simples como algas, esponjas, cnidários etc.

Na Figura 10, a seguir, temos a esponja:

Figura 10: Esponja.


Foto: Ricardo Baratella.
UNIUBE 171

Veja que a superfície da esponja é coberta de minúsculos poros por


meio dos quais uma enorme quantidade de água é permeada com o
auxílio de flagelos.

5.2.5 Éon Fanerozoico

O Éon Fanerozoico teve início há, aproximadamente, 545 milhões de


anos, e dura até os dias de hoje. Muitos especialistas da área o chamam
de Éon da Vida, uma vez que é caracterizada pela diversificação das
formas de vida.

5.2.5.1 Era Paleozoica

Após inúmeras mudanças na atmosfera terrestre, que possibilitaram o


surgimento da vida, inicia-se a era Paleozoica, marcada por uma grande
biodiversidade de seres vivos, desde os minúsculos organismos até os
dinossauros, mamutes e o Homo sapiens sapiens.

Período Cambriano

No Cambriano, a maioria dos grupos de animais surge, o que faz


deste período um marco no registro fóssil. Os animais mostraram uma
diversificação tão grande que este período foi chamado de "a explosão
cambriana". Os animais encontrados em todo o mundo são os anelídeos
(Figura 11), artrópodes, equinodermos, moluscos, esponjas, entre outros.

Figura 11: Minhoca: anelídeo com respiração cutânea.


Foto: Vanessa das Dores Duarte Teruel.
172 UNIUBE

Os metazoários apresentaram um registro e uma diversificação dramática


no período Cambriano. Na história de vida na Terra, os anelídeos ( Figura
11) expandiram-se no Cambriano Superior, em um intervalo de tempo
de aproximadamente cinco milhões de anos.

O clima no Cambriano era suave e não havia nenhuma glaciação. Quanto


à movimentação dos continentes, a maior parte da América do Norte se
colocava nas latitudes tropicais e temperadas do Sul, que suportaram
o crescimento de recifes extensivos.

Período Ordoviciano

O período Ordoviciano é caracterizado pelo surgimento de diversos


invertebrados marinhos como, graptozoários, trilobites e braquiópodes.
Convivendo com estes animais, estavam algas vermelhas e verdes,
peixes primitivos, cefalópodes, corais, crinoides e gastrópodes (como
o caracol).

O clima era suave com temperaturas médias e a atmosfera muito úmida.


No entanto, ocorreram extinções maciças que caracterizam o fim do
Ordoviciano. Cerca de 60% de todos os gêneros e 25% dos invertebrados
marinhos de todas as famílias foram extintos.

A evolução dos protocordados permitiu o desenvolvimento dos primeiros


peixes sem mandíbulas. Na vida vegetal, aparecem os primeiros sinais
de plantas terrestres como plantas primitivas que dariam origem às
plantas vasculares.

Período Siluriano

No Siluriano, houve o derretimento das calotas polares, o que levou a um


aumento nos níveis dos oceanos. Neste período, houve o aparecimento
dos recifes de corais (Figura 12) e o aparecimento dos peixes com
mandíbulas.
UNIUBE 173

Figura 12: Corais.


Foto: Ricardo Baratella.

A busca de alimento e abrigo na úmida vegetação rasteira, pelos


artrópodes, marca o início da colonização do meio terrestre. Também,
neste período, há o aparecimento de plantas vasculares.

Período Devoniano

Neste período, as plantas já apresentam uma evolução incrível, dando


origem às primeiras plantas pequenas. Ocorre o desenvolvimento de
esporos que deram origem aos gametófitos e o processo de fertilização,
possibilitando assim o surgimento de plantas com sementes, e árvores
que possibilitam a formação de florestas.

Além disso, surgem peixes conhecidos como placodermos e os primeiros


peixes ósseos (Figura 13).

Figura 13: Peixe ósseo: exemplo de ser que surgiu


no período Devoniano.
Foto: Ricardo Baratella.
174 UNIUBE

Você sabia que os peixes ósseos são os únicos da superclasse


Pisces que formam cardumes? A cor prateada (Figura 13) da maioria
dos Osteichthyes que fazem cardumes é uma peculiaridade desses
representantes, pois ajuda a detectar os movimentos uns dos outros.
Além dessa característica, os peixes ósseos deslocam-se de forma
sincronizada, como se fossem um só indivíduo.

Ainda nesse período, ocorre um enorme desenvolvimento dos insetos


que continuam a colonizar os ambientes terrestres, atingindo uma enorme
variedade de espécies e tamanhos nunca antes atingidos por organismos
terrestres.

Período Carbonífero

O período Carbonífero foi marcado pela formação do carvão, de


eventos biológicos, geológicos e climáticos. Uma das maiores evoluções
conquistadas pelos animais foi o ovo amniótico, que permitiu a exploração
do meio terrestre por tetrápodes. O ovo amniótico permitiu que os
antepassados dos pássaros, mamíferos e dos répteis se reproduzissem
em terra, impedindo a dessecação do embrião.

As temperaturas suaves deste período foi evidenciado pela diminuição


de insetos grandes e o surgimento das pteridófitas (samambaia – planta
possuidora de esporos).

Além disso, no Carbonífero houve uma colisão da Laurásia (Europa,


Ásia e América do Norte) e a Gondwana (África, Austrália, Antártida
e America do Sul), formando os Apalaches, cadeia de montanhas da
América do Norte e das montanhas hercinianas no Reino Unido. Uma
colisão posterior da Sibéria e Europa criou os montes Urais.
UNIUBE 175

Período Permiano

Este período foi o último da era Paleozoica. A separação entre o


Paleozoico e o Mesozoico, ocorreu no final do Permiano com uma
grande extinção, que afetou diversos grupos de organismos. Foi a maior
registrada na história da vida da Terra.

No Permiano-Triássico ocorreu uma extinção em massa, no final do


Paleozoico, há cerca de 251 milhões de anos. Foi a extinção mais severa
que já ocorreu no planeta Terra, resultando na morte de aproximadamente
96% de todas as espécies marinhas e 70% das espécies vertebradas
terrestres. A extinção provocou uma mudança drástica na fauna marinha,
e marca a fronteira entre o Permiano e o Triássico.

No entanto, as comunidades marinhas foram afetadas com mais intensi-


dade, levando à extinção da maioria dos invertebrados marinhos do
Paleozoico. As florestas de pteridófitas deram espaço às florestas de
gimnospermas em definitivo. Além disso, apareceram as coníferas
modernas. Apareceram os ancestrais dos sapos (espécie que surgiu
provavelmente no período Permiano) e salamandras e os insetos coloni-
zaram os continentes com sucesso. Na vida vegetal, provavelmente,
houve o surgimento das primeiras cicadáceas.

5.2.5.2 Era Mesozoica

Período Triássico

Após a maior extinção de animais e plantas que se conhece, surgiu o


período Triássico. Foi no início desse período que o supercontinente
Pangea existiu, dividindo mares e modificando o clima global,
transformando enormes áreas em desertos.
176 UNIUBE

Os seres que sobreviveram a essa grande extinção como, por exemplo,


os dicinodontes e os glossopteris deram origem a um dos grupos de
seres mais conhecidos por todas as pessoas, os dinossauros (Figura 14).

Figura 14: Dinossauro.


Fonte: HYLAEOSAURUS.JPEG.2008

No começo, os dinossauros eram carnívoros pequenos, depois, por


uma razão desconhecida, surgiram os herbívoros. No entanto, nesse
período não ocorreu apenas o surgimento dos dinossauros, ocorreu
também o aparecimento de pequenos animais, os mamíferos. Surgem
também árvores de grande porte como as coníferas.

Período Jurássico

Neste período, ocorre uma verdadeira corrida evolucionista. A principal


característica é a dominância dos dinossauros, principalmente os
dinossauros carnívoros. No ambiente aéreo, os pterossauros se tornam
abundantes e começam a atingir tamanhos enormes e surgem as aves
primitivas. Os saurópodes se instalaram com facilidade no Jurássico.
Nesse período, também apareceram os crocodilos.

Período Cretáceo

Nesse período, os dinossauros atingiram seu auge, mas também seu


fim. Os continentes começaram a se formar a caminho do que são
UNIUBE 177

hoje, produzindo isolamentos geográficos entre


Evento K-T
animais e plantas. Esse isolamento persistiu por
longos períodos gerando espécies novas e a Extinção em massa,
ocorrida há mais
grande diversidade de espécies que existe hoje. ou menos 65,5
milhões de anos,
que marca o fim do
No final do período Cretáceo, ocorre uma enorme período Cretáceo
extinção em massa (o Evento K-T), a mais (K, abreviação
tradicional) e o início
famosa, pois marca a extinção dos dinossauros, do período Terciário
conforme explicado no quadro a seguir. (T) (Wikipedia, 2011).

CURIOSIDADE

A extinção dos dinossauros


Diversas teorias tentam explicar a extinção dos dinossauros, porém, a mais
provável de todas é a de que um grande asteroide tenha caído na Terra
e levantado poeira suficiente na atmosfera para impedir que a luz do Sol
alcançasse a superfície. Como consequência, muitas espécies vegetais
que necessitam fazer fotossíntese para viver teriam morrido e, por fim, os
dinossauros vegetarianos. Sem os dinossauros vegetarianos para comer,
todos os carnívoros também acabaram morrendo, marcando assim o fim
da era dos dinossauros.

A partir da extinção dos dinossauros, os mamíferos se diversificaram e


alguns se tornaram enormes, as aves também tiveram seu auge depois
da queda dos dinossauros.

Os mamíferos e as aves continuaram evoluindo lentamente e surgiram as


plantas com flores, as quais passam a dominar desse período em diante.

5.2.5.3 Era Cenozoica

Período Terciário

• Época Paleoceno
O Paleoceno é marcado pela dominação dos mamíferos. A vegeta-
ção e o clima tropical são predominantes e alguns mamíferos (como
os golfinhos) já se arriscam no meio aquático, enquanto as aves
começam a atingir tamanhos enormes.
178 UNIUBE

• Época Eoceno
Nesse período, ocorre a diversificação dos mamíferos quanto às
suas formas e tamanhos, o que permitiu dominar quase todos os
ambientes.

• Época Oligoceno
Durante o Oligoceno, os mamíferos continuam a desenvolver-se
com sucesso. O clima continua tropical e começam a aparecer os
campos e pradarias (Figura 15).

Figura 15: Pradaria.


Foto: Vanessa das Dores Duarte Teruel .

As pradarias (Figura 15) apresentam um tipo de cobertura vegetal que


se estabelece em planícies, são encontradas próximas dos desertos,
facilitando, dessa maneira, o processo de desertificação.

• Época Mioceno
O Mioceno foi marcado pela expansão dos campos e cerrados
(Figura 16). Esse evento foi influenciado por um clima mais árido
no interior dos continentes. A placa Africana-Arábica uniu-se à Ásia,
fechando o mar que tinha separado previamente África e a Ásia. As
faunas destes continentes se uniram gerando novas competições,
extinções, espécies animais e vegetais modernas, sendo que
75% das espécies da Ásia, África, Europa, América do Norte e
Oceania sobreviveram, algumas sofrendo poucas adaptações.
UNIUBE 179

Figura 16: Cerrado.


Foto: Vanessa das Dores Duarte Teruel.

O cerrado caracteriza-se fisionomicamente pela presença de


pequenas árvores de caule tortuoso e folhas coriáceas; o solo é
revestido por gramíneas e plantas herbáceas e há grande quantidade
de plantas arbustivas.

• Época Plioceno
Durante o Plioceno, houve uma grande diversificação dos campos
e savanas que haviam se desenvolvido durante o Mioceno. Nesse
período, ocorreram eras glaciais e, ao mesmo tempo, apareceu
uma ponte de terra que uniu as Américas, permitindo migrações de
plantas e de animais. Uma acumulação de gelo nos polos conduziu
à extinção de muitas espécies. O clima mudou de tropical para um
clima mais frio no Plioceno, porém cerca de 75% das espécies
vegetais sobrevivem até a atualidade.

Período Quaternário

• Época Pleistoceno
O Pleistoceno ocorreu entre 1,8 milhão a 11.000 anos atrás. Esta
época foi caracterizada pela presença de mamíferos e de pássaros
gigantes. Entre os mamíferos, podemos citar os mamutes e seus
primos, os mastodontes, búfalos, tigres dente de sabre e muitos outros
que viveram nessa época. No entanto, ao final desse período, todas
estas criaturas foram extintas.
180 UNIUBE

O Pleistoceno é marcado pela evolução e expansão de nossa


própria espécie Homo sapiens, sendo que, já no fim do Pleistoceno,
os seres humanos tinham se espalhado por quase todo o mundo. O
Pleistoceno foi uma época em que os climas e as temperaturas mudaram
drasticamente. Os fósseis pleistocênicos são muito abundantes, bem
preservados e podem ser datados com muita precisão. Alguns fósseis,
como diatomáceas (Figura 17) e foraminíferos, são muito abundantes
e informativos sobre o paleoclima.

Figura 17: Diatomáceas.


Foto: Vanessa das Dores Duarte Teruel.

Você sabia que a rocha diatomito é formada por sílica (SiO2) de carapa-
ças de diatomáceas (Figura 17) que se depositaram no fundo oceânico
há milhões de anos?

SAIBA MAIS

Hoje, há um interesse sobre a mudança futura do clima (por exemplo, se


vai acontecer um aquecimento global) e como nos afetará. Paleontólogos
que trabalham com fósseis pleistocênicos estão fornecendo uma quantidade
crescente de dados sobre o efeito da mudança do clima na Biologia.
UNIUBE 181

• Época Holoceno
O Holoceno compreende aos últimos 11.000 anos da história da
Terra. Este período foi marcado por temperaturas mornas e quentes.
No entanto, em alguns períodos ocorreram pequenas idades do gelo.
O evento mais marcante desse período é a historia da humanidade,
marcada pela ascensão e queda de todas as civilizações.

A humanidade vem alterando muito o meio ambiente desta época.


A destruição dos vários habitats, a poluição e outros fatores estão
causando uma extinção maciça de muitas espécies de plantas e de
animais. Porém, é importante ressaltar que esta época é marcada
pelo enorme desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia,
usados para compreender as mudanças que nós vemos hoje. A
Paleontologia faz parte deste esforço para compreender a mudança
global. A vida animal e a vida vegetal no Holoceno são a atual.

PESQUISANDO NA WEB

O livro digital de Paleontologia: A Paleontologia na sala de aula (Sociedade


Brasileira de Paleontologia) apresenta conceitos e definições a respeito
dos grandes temas da Paleontologia como, por exemplo, fósseis,
processos de fossilização, tempo geológico, entre outros.

Para conhecê-lo e consultá-lo, acesse o site:

<http://www.ufrgs.br/paleodigital/Apresentacao.html>. Acesso em: 15


fev. 2012.

Você vai gostar!

5.3 Fósseis no Brasil

O Brasil é um país rico em achados fósseis? O que acha?


182 UNIUBE

Antes de iniciarmos nosso estudo sobre a presença de fósseis no Brasil,


é preciso conhecer a geologia do território brasileiro.

O território brasileiro apresenta, quanto à estrutura geológica, a seguinte


formação:

• escudos cristalinos: formados por rochas metamórficas e


magmáticas na era pré-cambriana. Constitui cerca de 36% do
território nacional;
• bacias sedimentares: formadas nas eras Paleozoica, Mesozoi-
ca e Cenozoica. Constitui cerca de 64% do território nacional.

Bacias
Como podemos observar, mais da metade do territó- sedimentares

rio nacional é constituído por bacias sedimenta- São depressões


na superfície que,
res. Isso explica a importância paleontológica do com o tempo, foram
sendo preenchidas
Brasil, uma vez que a característica principal para a por sedimentos
formação de fósseis é a deposição de sedimentos (substâncias
depositadas nestas
em restos e vestígios de animais. depressões).

No Brasil, os fósseis mais antigos são oriundos de rochas metamórficas


de idade pré-cambriana. As três grandes bacias sedimentares do Brasil
formaram-se no Siluriano e são: bacia do Amazonas, bacia do Maranhão-
Piauí ou bacia do Parnaíba e a bacia do Paraná.

RELEMBRANDO

As rochas são importantes unidades formadoras da superfície do planeta.


Elas são definidas como agregados rígidos de minerais. Existem três
tipos de rochas: ígneas, metamórficas e sedimentares. As rochas ígneas
são rochas formadas pelo resfriamento e consolidação do material
rochoso fundido, também chamado magma. As rochas metamórficas
formam-se pelo metamorfismo (transformação/metamorfose) de
uma rocha preexistente. Os agentes de metamorfismo são pressão,
temperatura e soluções. A formação das rochas sedimentares também
depende da presença de uma rocha preexistente. A rocha preexistente
UNIUBE 183

funciona, por meio do intemperismo, como fonte de material (sedimento),


que será transportado (erosão), sedimentado (bacia de sedimentação)
e diageneisado (endurecido) em rocha sedimentar.

Caso queira saber mais, busque maiores informações sobre a formação


de rochas, tipos e características de cada uma delas no site do Instituto
de Geociências <http://www.igc.usp.br/> . Acesso em: 16 fev. 2012.

Nesse contexto, o Brasil possui importantes sítios paleontológicos,


sendo que os de maior destaque são o da Chapada do Araripe, no
Ceará e o de Peirópolis, em Minas Gerais. Além desses, há outros sítios
paleontológicos nas seguintes regiões: Sousa (PB); Recife (PE); Alcântara
e São Luís (MA); Tesouro e Morro do Cambambe (MT); Araraquara,
Monte Alto, Presidente Prudente e Álvares Machado (SP); Candelária
e Santa Maria (RS).

O Sítio Paleontológico de Peirópolis pertence à Bacia Bauru (Cretáceo


Superior), que, por sua vez, é constituído pelas formações Adamantina,
Marília e Uberaba. Os sedimentos da Formação Marília são os que
afloram no Triângulo Mineiro.

Na Figura 18, há a réplica de um titanossauro em Peirópolis, do sítio


Paleontológico em Peirópolis (Município de Uberaba – Triângulo Mineiro):

Figura 18: Réplica de um titanossauro em Peirópolis.


184 UNIUBE

Peirópolis é um bairro rural que está localizado a 20 minutos de Uberaba,


e tem se destacado mundialmente como um dos mais importantes sítios
paleontológicos do Brasil. O nome Peirópolis é uma homenagem ao
imigrante espanhol Frederico Peiró, que teve grande importância no
desenvolvimento do local quando instalou duas fábricas para extração
do carbonato de cálcio para fabricação da cal, que naquela época era
exportada por linha férrea para centros importantes, como São Paulo.

Em 1945, durante a construção do trecho de linha férrea mangabeira,


foram encontrados os primeiros fósseis de dinossauro (titanossauro)
(Figura 19) da região. A descoberta atraiu a atenção de muitos, inclusive
do pesquisador Llwellyn Ivor Price, que foi o primeiro a fazer pesquisas
paleontológicas na região e contribuiu amplamente para o estudo dos
fósseis no Brasil. O centro Price, hoje, é notável, pois representa um
dos únicos locais no país que realiza escavações sistemáticas durante
quatro meses no ano, usando mão de obra local.

Figura 19: Reconstituição de ovos de titanossauro.

Todos os fósseis encontrados em Peirópolis datam do Cretáceo, de 80 a


65 milhões de anos (em média 70 milhões de anos) e as escavações são
feitas, portanto, na formação Marília, mais especificamente no Membro
Serra da Galga.
UNIUBE 185

Muitos dos exemplares encontrados em Peirópolis estão expostos


no Museu dos Dinossauros, inaugurado em 1992. O principal fóssil
encontrado no Sítio Paleontológico de Uberaba foi o Uberabasuchus
terrificus (Figura 20), terceiro fóssil de crocodilomorfo encontrado na
região. Estima-se que o animal poderia atingir 2,5 m de comprimento
na maturidade e pesar cerca de 250 kg.

Figura 20: Uberabasuchus terrificus.

A descoberta do Uberabasuchus terrificus foi uma das mais importantes


não só para o Brasil, mas para o mundo todo, pois além de ser uma
espécie única, constitui uma prova do Gondwana, pois parentes do
Uberabasuchus foram encontrados em outros locais como a Argentina
e Madagascar.

Outra importante descoberta foi a do Uberabatitan riberoi, um


titanossauro, com cerca de 18 m de comprimento e dez toneladas de
peso, sendo o maior de todos já encontrados no Brasil até hoje. A espécie
foi apresentada à comunidade científica no segundo semestre de 2008.
Os fósseis foram encontrados às margens da BR-050, entre Uberaba e
Uberlândia. Entre os encontrados fósseis havia vértebras do pescoço, do
dorso e da cauda, costelas, fragmentos das patas dianteiras e traseiras
e do quadril, material suficiente para determinar uma nova espécie.
Segundo o paleontólogo do Museu dos Dinossauros de Peirópolis, Luís
Carlos Ribeiro, no mesmo local, numa área de 10 metros quadrados
foram encontrados outros fósseis de um dinossauro carnívoro e de
186 UNIUBE

tartaruga. As descobertas sobre esse importante dinossauro continuaram


por alguns anos. Em junho de 2011, a equipe de paleontólogos retirou do
local descrito anteriormente, parte do fêmur do Uberabatitan ribeiroi. O
fêmur possui 1,40 m de comprimento. A BR-050 revelou-se um importante
ponto de escavação e pesquisa, visto que, outros 200 fósseis já haviam
sido encontrados desde 2004.

Uma preguiça-gigante, mamífero da espécie Eremotherium laurillardi,


foi encontrada por acaso em 2005 por um morador de Peirópolis. O
interessante nesta descoberta está no fato de que não foi preciso
escavar. Os fósseis estavam na superfície e no interior do córrego
da Saudade. Trata-se de uma importante descoberta, uma vez que,
em 60 anos de escavações, nunca foi encontrado nenhum fóssil de
mamífero na região. Para o paleontólogo Luís Carlos Ribeiro, o local
de descoberta do fóssil faz crer que se trata de um bicho que viveu
em período recente, o que seria um marco para a Paleontologia.

Segundo Evans (2011) o paleontólogo fez alguns questionamentos: “Qual


seria a idade precisa desses grandes animais? Seriam eles realmente
do período Pleistoceno (que viveram na Terra entre 1,8 milhão a 11,5
mil anos atrás), o que normalmente ocorre, ou seriam mais recentes,
do Holoceno (de 11 mil anos atrás até a atualidade)? Teriam convivido
com os primeiros homens pré-históricos do país? Tal achado abre novas
perspectivas para descobertas de fósseis de outras espécies, inclusive
de humanos?”.

Como podemos perceber, a importância científica dos encontrados


fósseis de Peirópolis é inquestionável. Trata-se de uma região bastante
promissora, não só para a ciência, mas também do ponto de vista
econômico e social, devido ao alto potencial turístico da região.
UNIUBE 187

5.4 A Paleontologia no livro didático e a democratização


da ciência

De que forma a Paleontologia está presente na Educação


Básica? Há uma disciplina específica para estudá-la? Como
esse conteúdo é abordado nos livros didáticos? Você, como
futuro educador, acha necessário o estudo da Paleontologia?

Analisando livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, é


possível constatar que a Paleontologia é abordada de forma superficial,
apenas quando se fala sobre a evolução das espécies. Além disso, os
livros abordam somente a questão do surgimento e da extinção dos
dinossauros. Devido a isso, muitos alunos julgam que a Paleontologia
estuda apenas os dinossauros. E de acordo com o que estudamos ao
longo deste capítulo, podemos perceber que a Paleontologia é muito
mais do que isso.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais


(PCNs), a Paleontologia deve contextualizar Parâmetros
Curriculares
a realidade local e nacional do aprendiz de Nacionais (PCNs)
forma a abrir os seus horizontes (Brasil, 1998). Constituem um
Infelizmente, o que os Parâmetros Curriculares referencial de
qualidade, elaborados
Nacionais orientam ainda não faz parte da pelo Governo
Federal, para a
realidade brasileira. Um bom exemplo disso é educação no Ensino
Fundamental e no
que a cidade de Uberaba possui um dos mais Ensino Médio em
importantes sítios paleontológicos do Brasil e todo o país.

muitos moradores, professores e alunos não


sabem disso ou não dão a devida importância!

AGORA É A SUA VEZ

Na região onde você mora, possui algum sítio paleontológico? Se sim,


você o conhece? Qual a importância dele para a paleontologia brasileira?
Faça uma pesquisa em sua região e descubra e, em seguida, registre as
observações mais importantes.
188 UNIUBE

Ainda há alguns professores que, por iniciativa própria, realizam de


forma eficiente o ensino contextualizado de acordo com a realidade local.
Contudo, a grande maioria dos professores sente-se despreparada para
abordar o assunto, tendo como único recurso o livro didático. Com o
auxílio da leitura deste capítulo é possível perceber que a Paleontologia
está em conexão entre as Geociências e as Ciências Biológicas, ou seja,
a Paleontologia é multidisciplinar e de grande complexidade.

Associada às falhas já mencionadas a respeito do ensino da


Paleontologia, há uma grande dificuldade em transformar conhecimento
acadêmico e linguagem científica em linguagem didática relevante ao
dia a dia do aprendiz. Infelizmente, o conhecimento paleontológico ainda
está centrado nos centros de pesquisas e vinculado a museus.

Cabe aos educadores a responsabilidade de facilitar o estudo da


Paleontologia e torná-lo atrativo aos educandos. Cabe ao educador,
também, encontrar alternativas que o auxiliem, facilitando o processo
de aprendizagem e não limitar-se apenas a um único recurso didático.

PESQUISANDO NA WEB

Você conhece a revista Minas faz ciência ?


Ela traz importantes artigos, sobre variados temas. Vale à pena conferir!

Acesse o site <http://revista.fapemig.br>. Preencha o cadastro e receba


gratuitamente, em casa, essa revista, da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Agora, pare um pouco para pensar sobre as tecnologias. Qual o


último avanço científico ou tecnológico que você ficou sabendo?
De que forma ele afetou sua vida? Hoje, ele já está defasado?

A seguir, iremos falar justamente sobre isso. A rapidez dos avanços


científicos e de que forma eles afetam a nossa sociedade.
UNIUBE 189

O progresso da Ciência tornou-se tão rápido que a sociedade tem, cada


vez mais, dificuldade em acompanhá-lo e, principalmente, compreendê-lo.
A maioria dos avanços científicos não chega à casa das pessoas. Por isso,
é maior, a cada dia, a necessidade de se promover a conscientização de
populações sobre os riscos e benefícios que resultam da atual revolução
científica e tecnológica.

Diariamente somos bombardeados pela mídia, pelos noticiários, a


respeito de descobertas científicas e tecnológicas. No entanto, essas
descobertas acabam não fazendo parte do nosso dia a dia. Com a
pesquisa paleontológica não é diferente. Ao contrário, torna-se mais
difícil para a população entender de que forma a descoberta de um
novo fóssil pode interferir em sua vida.

A pesquisa paleontológica repercute em várias áreas do conhecimento


humano e permite ao homem de hoje entender um pouco mais o processo
de evolução da vida.

5.5 Turismo paleontológico

Uma forma de trazer a pesquisa paleontológica para perto da realidade


das pessoas e fazer com que essas pessoas se interessem pelas
pesquisas de uma forma geral, é através do turismo, seja ele, ecológico
ou paleontológico, que é o nosso interesse nesse capítulo.

Você já ouviu falar de turismo paleontológico? Gosta de visitar


museus?

O turismo paleontológico, embora pouco explorado, encontra-se


em desenvolvimento no Brasil. Algumas universidades e centros de
pesquisas têm investido no turismo paleontológico, aliando o turismo
ao conhecimento. Esta ideia teve início em 1818, quando foi criado o
Museu Real, na cidade do Rio de Janeiro, por D. João VI, em 06 de
190 UNIUBE

junho, com a finalidade de estimular a pesquisa científica no Brasil.


Com o Império, o Museu Real passou a se chamar Museu Imperial e
com a Proclamação da República no Brasil, o Museu recebeu o nome
de Museu Nacional.

Segundo o site <http://www.museunacional.ufrj.br>, o Museu Nacional


reúne o maior acervo científico da América Latina, laboratórios de
pesquisa e cursos de pós-graduação. As peças que compõem as
exposições abertas ao público (cerca de três mil, atualmente) são
parte dos 20 milhões de itens das coleções científicas conservadas e
estudadas pelos Departamentos de Antropologia, Botânica, Entomologia,
Invertebrados, Vertebrados, Geologia e Paleontologia.

Outras iniciativas podem ser mencionadas como o Museu Paleontológico


de Monte Alto, inaugurado em 1992, na cidade de Monte Alto-SP, devido
à necessidade de se abrigar os achados fósseis locais. Não poderíamos
deixar de citar novamente o Centro de Pesquisas Paleontológicas
Llewellyn Ivor Price, localizado em Peirópolis, cuja maior parte dos fósseis
encontrados na região está exposta no Museu dos Dinossauros, anexo
ao centro de pesquisas.

Além disso, todo ano acontece a Semana dos Dinossauros, que se


tornou o maior evento de educação de Paleontologia do Brasil, voltado
principalmente para escolas de Educação básica, atendendo escolas não
só do município de Uberaba, mas de várias localidades do país. Durante a
semana, os alunos têm a oportunidade de conhecer um pouco da história
de Peirópolis, os pontos de escavação, como ocorre a preparação dos
fósseis, desde a descoberta até a exposição, além de visitarem o museu
e participarem de outras atividades educativas na área de Paleontologia.

Na Figura 21, a seguir, vemos uma visita monitorada ao Museu dos


Dinossauros, em Peirópolis: uma das atividades da Semana dos
Dinossauros.
UNIUBE 191

Figura 21: Visita monitorada ao Museu dos Dinossauros.

Como podemos perceber, o turismo paleontológico permite que as


pessoas entrem em contato com o conhecimento acadêmico, com
pesquisas e descobertas, aprendendo de forma prazerosa e natural
sobre a importância dos fósseis e a sua utilização para reconstrução
da história do nosso planeta.

DICAS

Locais interessantes a serem visitados:

Estação Ciência
Exposição permanente.
R. Guaicurus, 1274/1394 - Lapa - São Paulo - SP
Horários: de terça à sexta, das 9h às 18h; sábados e domingos, das
13h às 18h.
site: <http://www.eciencia.usp.br/>

Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo


Exposição Evolução do Voo
Av. Nazaré, 481 - Ipiranga - São Paulo - SP
Horários: de terça a domingo, das 10h às 17h.
Tel: (11) 6165-8100
site: <http://www.mz.usp.br/>
192 UNIUBE

Museu Nacional
End. Quinta da Boa Vista s/n - São Cristóvão ‐ Rio de Janeiro - RJ
Horário: de terça a domingo, das 10h às 16h.
Tel: (21) 2568-8262 ramal 210.
site: <http://www.museunacional.ufrj.br/>

Museu dos Dinossauros - Peirópolis


Localiza-se às margens da BR-262, Km 784 a 20 km de Uberaba - MG.
Horário: de segunda à sexta das 7h30 às 17h; sábados, domingos e
feriados das 8h00 às 18h00.
site: <http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,706>

Museu de Paleontologia de Monte Alto


Ao lado da rodovia Jaboticabal
Praça do Centenário s/n - Centro de Artes - Monte Alto, SP
Tel: (16) 3242-7845
site: <http://acd.ufrj.br/geologia/sbp/mt-alto.htm>

Museu de Paleontologia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Instituto de Geociências
Av. Bento Gonçalves, 9500
Campus do Vale - Bairro Agronomia - Prédio 43127
Porto Alegre, RS
site: <http://www.ufrgs.br/geociencias/>

Vale dos Dinossauros


Município de Sousa, Alto Sertão - 420 km de João Pessoa – Sousa - PB
site: <http://www.valedosdinossauros.com.br/imgss/index.html>
Museu de Geociências
Universidade de Brasília
Instituto de Geociências da Universidade de Brasília – Brasília - DF
site: <http://www.unb.br/ig/exte/museu/>

Resumo

Chegamos ao final do capítulo “Paleontologia: a Terra em constante


transformação e a evolução da vida ao longo do tempo”. No capítulo,
foram abordados temas como a definição de Paleontologia e de fósseis,
a relação entre fósseis e a evolução da vida, quais as condições para a
fossilização e como são registrados os bilhões de anos da Terra.
UNIUBE 193

O capítulo também mostrou o impacto dos avanços científicos, em


especial, das pesquisas paleontológicas para a sociedade e de que
forma e como esse conteúdo é abordado na Educação básica. Por fim,
o capítulo fala sobre turismo paleontológico como forma de trazer a
pesquisa paleontológica para perto da realidade das pessoas e fazer com
que essas pessoas se interessem pelas pesquisas de uma forma geral.

Atividades

Atividade 1

O que significa tempo geológico e de que forma os bilhões de anos de


vida na Terra estão organizados?

Atividade 2

Descreva sucintamente a evolução da vida na Terra, desde a sua origem


até os tempos atuais. Utilize para sua resposta uma tabela geológica, que
descreva toda a sucessão de eventos que ocorreram em nosso planeta.

Atividade 3

Devido ao movimento das placas tectônicas, os fósseis soterrados há


milhões de anos, emergem à superfície e são, assim, descobertos e
estudados pelos paleontólogos. Escreva um texto de, no mínimo, 20
linhas, relacionando a distribuição de fósseis pelo mundo com a teoria
da deriva continental.
194 UNIUBE

Referências

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na sala de aula. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/paleodigital/
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pós-moderna. Rio de Janeiro. Edições Graal: 2000.

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WIKIPEDIA. O Sistema Solar. Disponível em: <http//pt.wikipedia.org/wiki/


Imagem:Solar_sys.jpg>. Acesso em: 04 out. 2010. 2010 a. Imagem.
Capítulo
A distribuição dos
seres vivos no tempo
6
e no espaço

Gabriela Marcomini de Lima

Introdução
Para iniciar nossas reflexões neste capítulo, pense na seguinte
situação.

Imagine se alguém lhe dissesse ter visto um urso polar


vivendo na Floresta Amazônica ou um tucano vivendo no
Polo Norte... Você não acreditaria, não é mesmo?

Isso porque as espécies de seres vivos não estão distribuídas


igualmente pelo planeta: existem algumas condições ideais do meio
que proporcionam o aparecimento e sobrevivência de determinadas
espécies em diferentes localidades da superfície terrestre.

A distribuição das espécies pode ser atribuída a eventos


geológicos e elementos ecológicos. Alguns fatores ecológicos,
entre eles o clima e a competição com outras espécies, podem
fixar limites geográficos a uma determinada espécie. A distribuição
dos organismos dentro de uma área geográfica é irregular, pois
existe variação espacial das características físicas do meio, da
disponibilidade de recursos e na relação interespecífica com
competidores, parasitas e espécies predadoras.

Neste capítulo, serão apresentados alguns conceitos iniciais de


Biogeografia e como os principais acontecimentos da história
geológica da Terra influenciaram na distribuição geográfica dos
seres vivos.

Bons estudos!
198 UNIUBE

Objetivos

Após a leitura deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• descrever o que é a Biogeografia e a relação que essa


ciência possui com outros ramos da Biologia;
• relacionar as duas subdivisões da Biogeografia e a área
de atuação de cada uma delas;
• comparar os diferentes métodos biogeográficos utilizados
para explicar o porquê da distribuição atual dos seres vivos;
• identificar os principais eventos históricos ocorridos ao
longo dos estimados 4,5 bilhões de anos da Terra, que
influenciaram a distribuição dos seres vivos no planeta;
• explicar como ocorre a dispersão e a vicariância das
espécies;
• explicar como ocorre a especiação e a atuação dos eventos
geológicos na Terra;
• explicar como ocorre a formação de espécies endêmicas,
bem como os tipos de endemismos;
• enumerar as regiões zoogeográficas e fitogeográficas
e os elementos ambientais e geológicos envolvidos na
classificação das diferentes regiões;
• analisar a influência do homem na distribuição das
espécies.

Esquema
A geografia A fragmentação A compreensão
da vida: a dos continentes e do padrão de
distribuição dos o surgimento das distribuição dos
seres vivos novas espécies seres vivos

Introdução
Novos ambientes
A história da Terra aos métodos
precisam de
biogeográficos
novas adaptações

A influência
As modificações do homem na
O clima da Terra da posição dos distribuição
continentes das espécies
UNIUBE 199

6.1 A Geografia da vida: a distribuição dos seres vivos

A Biogeografia é a ciência que estuda a distribuição dos seres vivos no


planeta e os fatores históricos e ecológicos envolvidos nesse processo.
Ela busca explicar como as diferentes espécies estão distribuídas pela
superfície terrestre e por que a composição taxonômica dos seres
vivos varia de uma região à outra. Essa ciência tem íntima relação
com outros ramos da Biologia, entre eles a Ecologia, a Geologia e a
Biologia Evolutiva.

O conhecimento acerca das modificações climáticas, da geografia


de um local e da relação que os seres vivos estabelecem entre si e
com os fatores abióticos, ajuda na compreensão dos padrões atuais
de distribuição das espécies. Por outro lado, dados geológicos sobre
ligações terrestres entre continentes também podem inferir sobre os
motivos pelos quais as espécies estão distribuídas atualmente.

Assim como a Geologia, os geólogos também se beneficiam com


dados biogeográficos, uma vez que padrões de semelhanças bióticas
observados em diferentes regiões do planeta podem auxiliar na
interpretação de eventos geológicos passados.

EXPLICANDO MELHOR

As aves ratitas (Figura 1) são aquelas que não têm a capacidade do


voo. Entre elas podemos destacar o avestruz, a ema, o emu e o casuar.
O avestruz é uma ave que pode ser encontrada na região africana; o
emu e o casuar vivem na região australiana e as emas são encontradas
na América Central e América do Sul.
200 UNIUBE

Figura 1: Aves ratitas – espécies que vivem em regiões


diferentes descendentes de um mesmo ancestral.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Pelo padrão atual de distribuição geográfica dessas aves, em continen-


tes separados pelo oceano, e por não terem a capacidade de voar,
acredita-se que elas tenham surgido de uma mesma linhagem que
viveu em uma época, na qual os continentes do hemisfério sul do
planeta estavam unidos. Portanto, os padrões de semelhança biótica
observados nas aves ratitas, auxiliam na interpretação de eventos
geológicos passados.

A Biogeografia também apresenta extrema importância no desenvolvi-


mento de teorias evolutivas. Como você já sabe, o naturalista Charles
Darwin, por exemplo, propôs sua teoria evolucionista, a qual denomi-
nou Teoria da Seleção Natural, baseando-se em análises biogeográfi-
cas, quando observou que existiam espécies semelhantes de jabutis
e aves vivendo nas Ilhas Galápagos, e quando comparou diferenças
e semelhanças entre fósseis e exemplares viventes de mamíferos da
América do Sul (FUTUYMA, 2002).

Usualmente, a Biogeografia é dividida em duas vertentes: uma histórica


e outra ecológica. A Biogeografia histórica relaciona a distribuição atual
das espécies com eventos ocorridos no passado, entre esses eventos,
podemos citar a Deriva Continental.
UNIUBE 201

RELEMBRANDO

A teoria da Deriva Continental também conhecida como Teoria da Tectônica


de Placas, diz que a superfície terrestre é dividida em placas sólidas que
flutuam sob o manto e se deslocam. Tal movimento provocou a separação
dos continentes e ainda o faz atualmente, de forma lenta.

A Biogeografia ecológica leva em consideração Interações


fatores contemporâneos, como as interações intraespecíficas

intraespecíficas e interespecíficas e a atuação Interações que


ocorrem entre
de fatores abióticos (água, luz, temperatura, solo, organismos da
mesma espécie.
entre outros), para explicar a distribuição atual das
espécies no globo terrestre (FUTUYMA, 2002). Interações
interespecíficas

Embora pareçam conflitantes, as divisões da Interações que


ocorrem entre
Biogeografia (histórica e ecológica) devem organismos de
ser consideradas para a correta compreensão espécies diferentes.

dos padrões de distribuição dos seres vivos no


planeta.

6.2 A história da Terra

Você consegue imaginar por que existe uma diversidade tão


grande de espécies espalhadas por todo o planeta? Como você
explicaria a presença de seres semelhantes vivendo em lugares
tão longínquos um do outro?

As causas da distribuição geográfica das espécies no planeta podem


ser atribuídas tanto aos elementos históricos quanto a elementos
ecológicos. A própria adaptação dos seres vivos às condições
ambientais, trata-se de um processo histórico que ocorre ao longo de
milhares de gerações. Portanto, não é possível entender completamente
como as espécies se distribuíram e se adaptaram a diferentes
condições ambientais, sem relembrarmos a história de nosso planeta.
202 UNIUBE

Ao longo de seus estimados 4,5 bilhões de anos, a Terra sofreu várias


modificações. As primeiras formas de vida surgiram há cerca de 3,5
bilhões de anos e, desde então, algumas modificações têm determinado
a distribuição espacial dos seres vivos. Dentre elas, citamos as modifi-
cações físicas do ambiente, como no clima, por exemplo; os rearranjos
na posição dos continentes pelo movimento das placas tectônicas; os
impactos de corpos extraterrestres com a superfície terrestre etc.

Em seus primórdios, a Terra era um ambiente


inóspito. Em sua atmosfera, quase não se
Inóspito
encontrava oxigênio, sugerindo que os primeiros
Que não oferece
condições à vida. seres vivos eram anaeróbios. Com o surgimento dos
seres fotossintetizantes, há cerca de 3,2 bilhões de
anos, o oxigênio passou a ser largamente produzido,
o que possibilitou o aparecimento de formas de vida
mais complexas.

6.3 O clima da Terra

O clima do planeta sofreu várias modificações ao longo de sua história


geológica. A maior parte de seus 4,5 bilhões de anos foi marcada por
temperaturas elevadas. Alguns indícios sugerem que períodos mais frios,
de glaciação, ocorreram no Pré-cambriano, Carbonífero, Permiano
e Pleistoceno.

RELEMBRANDO

Pré-cambriano
Era geológica na qual se acredita ter originado os primeiros seres vivos.

Carbonífero
Período da era Paleozoica, compreendido entre 360 e 286 milhões de
anos.
UNIUBE 203

Permiano
Período da era Paleozoica compreendido entre 286 e 245 milhões de
anos. Juntamente com o período Carbonífero, forma a chamada idade
dos anfíbios.

Pleistoceno
Época do período Quaternário, da era Cenozoica, compreendido entre
1,6 milhões e 10.000 anos.

Foi durante o Pleistoceno que ocorreram as mais notáveis glaciações,


sendo vários episódios de pequenas e quatro de grandes glaciações. A
última grande, denominada Wisconsin, ocorreu na América do Norte,
e retraiu há cerca de 10.000 anos atrás.

Durante os episódios de glaciação, acredita-se que o nível dos mares


tenha abaixado cerca de 100 metros em todo o planeta. O congelamento
tornou os climas amenos das regiões polares e subpolares, em locais
extremamente frios, com presença de calotas polares e geleiras.

À medida que a glaciação progredia, a água líquida disponível para


evaporação e precipitação diminuía, tornando os climas nas áreas
tropicais e subtropicais mais secos.

A distribuição de plantas e animais foi afetada. Com o


congelamento das áreas polares e subpolares, os animais e
plantas que ali viviam, deslocaram-se para regiões tropicais.
Muitas espécies se confinaram em refúgios, locais restritos
onde o ambiente é mais favorável à sua sobrevivência.

Com a retração da glaciação, durante os períodos interglaciais quentes,


o nível do mar se elevou, muitas espécies saíram de seus refúgios
e se espalharam pelos continentes, formando novas associações
ecológicas com outros organismos. Muitas espécies migraram para o
norte, habitando locais diferentes de seu habitat atual: no local onde
hoje é a atual Inglaterra, era possível encontrar elefantes, hipopótamos
e leões (FUTUYMA, 2002).
204 UNIUBE

Apesar de todas as oscilações de temperatura ocorridas no Pleistoceno,


parece não terem ocorrido grandes extinções durante esses eventos.
Dados paleontológicos obtidos a partir de registros fósseis, mostram
que espécies de besouros fossilizados, por exemplo, são idênticos
aos representantes atuais e entre os mamíferos, observam-se
apenas pequenas modificações estruturais das espécies recentes em
comparação aos exemplares fossilizados.

O que os dados paleontológicos e biogeográficos sugerem é que esses


eventos climáticos afetaram de forma significativa a distribuição dos
organismos no planeta.

SAIBA MAIS

A imensa floresta tropical da Amazônia já viveu dias difíceis de seca ao


longo da história de nosso planeta. Durante o Pleistoceno, várias oscilações
climáticas ocorreram, numa sucessão repetida de eventos: o clima frio e
seco passou a ser quente e úmido, que por sua vez se tornou quente e seco.

Estima-se que, acerca de 12 a 18 mil anos atrás, a Terra passava por sua
última fase fria e seca. O clima da Amazônia nesse período era semiárido: as
grandes florestas de terra firme estavam fragmentadas e sobrevivendo em
refúgios com maior disponibilidade de água. As fisionomias vegetais dominan-
tes eram cerrados, caatingas e campinaranas, adaptadas a climas secos.

Com a volta do clima quente e úmido, que ocorreu há cerca de 7000 anos
atrás, houve novamente a expansão das florestas, e as vegetações típicas de
cerrado se encontram atualmente em refúgios em meio à mata de terra firme.

Acredita-se que o intenso desmatamento que a Amazônia tem enfrentado,


poderá torná-la novamente um ambiente árido. A retirada de árvores afeta
o regime de chuvas, podendo provocar diminuição da precipitação, tanto
localmente, quanto em outros locais do território brasileiro, uma vez que
grande parte da umidade recebida em muitas regiões do país é originária
da Amazônia.
UNIUBE 205

6.4 As modificações da posição dos continentes

Você já estudou que a posição dos continentes no globo terrestre


nem sempre foi a mesma. Há cerca de 200 milhões de anos atrás, no
Triássico, os continentes estavam unidos em um único bloco de terra
conhecido como Pangea. Os seres vivos compartilhavam um único
continente, podendo transitar de norte a sul.

RELEMBRANDO

No início do Cretáceo, há cerca de 134 milhões de anos atrás, o enor-


me continente se fragmentou em duas partes: Laurásia, ao norte e
Gondwana, ao sul (conforme você verificou na Figura 1, do capítulo
2). Com o passar dos milhões de anos, os continentes continuaram
a se deslocar devido ao movimento das placas tectônicas e ainda o
fazem nos dias de hoje, a movimentos muito lentos. A esse movimento
dos blocos da superfície terrestre, damos o nome de deriva continen-
tal (RICKFLES, 2003).

No capítulo 5, você estudou sobre o movimento das placas e o pro-


cesso de fragmentação dos continentes ocorridos ao longo de milhões
de anos. Caso não se lembre, sugerimos que reveja a Figura 8, desse
capítulo.

A deriva continental afetou o nível dos oceanos, as correntes oceâni-


cas, o clima e a distribuição dos seres vivos no planeta, pois criou e
desfez barreiras geográficas que influenciaram a dispersão dos organis-
mos. Essas barreiras incluem a abertura dos oceanos, a formação de
cadeia de montanhas, originadas a partir do choque entre duas placas
tectônicas e a criação de ligações terrestres entre continentes. Todos
esses fatores isolaram ou possibilitaram o contato entre organismos,
modificando a distribuição dos seres vivos no planeta.

A dispersão e a vicariância são dois termos empregados na tentativa


de explicar, historicamente, a presença de seres vivos nos mais variados
ambientes terrestres.
206 UNIUBE

A hipótese da dispersão afirma que membros de um mesmo táxon


se encontram em diferentes áreas atualmente, devido à dispersão de
um membro ancestral de seu local de origem (centro de origem) para
outras localidades do planeta (FUTUYMA, 2002).

A capacidade de dispersão varia entre diferentes grupos de seres


vivos. Os fungos, por exemplo, podem ter seus esporos, que são
estruturas muito leves, transportados a grandes distâncias pelo vento
e, portanto, apresentam grande dispersão e podem ser encontrados em
diversas localidades do planeta. A dispersão
Dormência
de sementes de plantas varia de espécie para
É um período em que
o desenvolvimento espécie e depende de fatores como o tamanho
de um organismo
é suspenso
da semente, do tempo de dormência e do
temporariamente, mecanismo utilizado para dispersão, que pode
até que ele encontre
condições favoráveis incluir transporte pelo vento (anemocoria), por
para continuar seu
ciclo de vida. animais (zoocoria) ou pela água.

CURIOSIDADE

A Maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana) (Figura 2) é uma planta


arbustiva originária da África, que foi introduzida no Brasil, alcançando
grande abrangência devido a sua eficiente propagação e graças ao clima
propício.

O mecanismo de dispersão dessa planta é um tanto curioso: os frutos


maduros, quando são tocados, pela ação do vento ou da chuva, explodem,
lançando as sementes a longas distâncias. Seu mecanismo de dispersão
a torna uma planta amplamente distribuída geograficamente.

Figura 2: Maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana).


UNIUBE 207

O problema é que a Maria-sem-vergonha é uma planta exótica invasora,


ou seja, é capaz de ocupar de forma desordenada um local fora de sua
área de distribuição geográfica. Essa característica representa um sério
problema às espécies nativas, uma vez que elas competem por água,
luz, nutrientes e espaço e, em muitos casos, a espécie exótica vence
a competição, colocando as espécies nativas em risco de extinção.

Apesar de a dispersão ser um dos fatores que influenciam a


distribuição das espécies por diferentes regiões, ela sozinha
não garante o estabelecimento do organismo no local. Fatores
como a ausência de parceiros para a reprodução, condições
físicas do local, competição com espécies nativas, podem limitar
ou mesmo impedir a sobrevivência e perpetuação da espécie
em determinadas regiões.

A vicariância ocorre quando a dispersão contínua de seres de seu local


de origem a outras localidades da Terra, fragmenta-se devido a algum
fator que pode ser:

• a divisão de um bloco de terra ou corpo d’água;


• surgimento de barreiras geográficas ou
• extinção de espécies intermediárias. Tectonismo

Relativo aos
movimentos que as
Nesses casos, os seres são separados e evoluem placas tectônicas
da crosta terrestre
independentemente. realizam sob o
manto, originando
a formação
Tal fato pode ser mais bem compreendido de cadeias
de montanha,
quando utilizamos como exemplo o movimento vulcanismo,
terremotos.
dos continentes pelo tectonismo.
208 UNIUBE

6.5 Novos ambientes precisam de novas adaptações

A dispersão dos organismos pelo planeta levou a um novo problema:


era preciso se adaptar a novas condições ambientais. As adaptações ao
ambiente físico tiveram como resultado a especialização da anatomia
e fisiologia dos organismos. Essas modificações estruturais ajudam na
compreensão de como os organismos vivos encontram-se distribuídos
atualmente.

Sabemos, por exemplo, que não encontraremos uma exuberante árvore


típica da Amazônia vivendo em um ambiente semiárido do Nordeste
brasileiro, devido ao fato de que as árvores típicas de locais com escassez
hídrica desenvolveram especializações para sobreviverem nestes
ambientes: possuem controle de abertura e fechamento de estômatos
para limitar a perda de água; a presença de pelos e espinhos protege a
planta e aumenta a área superficial para dissipação de calor; apresentam
uma cutícula espessa e serosa envolvendo suas folhas, o que torna a
superfície da planta impermeável, reduzindo dessa forma a perda de
água por transpiração. Esses e outros mecanismos de controle de perda
de água são vitais para os organismos que vivem em regiões áridas.

Além dos recursos hídricos, outros fatores ambientais como a temperatura


e a disponibilidade de nutrientes nos diversos tipos de ambientes,
proporcionaram o aparecimento de adaptações nos seres vivos.

Em locais desérticos, por exemplo, onde as temperaturas são elevadas,


muitas plantas são capazes de orientar suas folhas para locais onde a
radiação solar direta é menor.
UNIUBE 209

PARADA OBRIGATÓRIA

Cactos: a beleza por trás da aridez do deserto

Todo mundo, em algum dia na vida, já viu ou verá um cacto (Figura 3).
Isso porque os cactos estão distribuídos por várias regiões do planeta,
devido ao fato de serem utilizados como plantas ornamentais, tamanha a
beleza de suas flores brilhantes e de cores fortes. Mas quando pensamos
em cacto, logo nos remetemos a um ambiente desértico, com clima
quente e chuvas escassas.

Figura 3: Cacto.

Os cactos são naturalmente espécies típicas de ambientes de clima árido,


apesar da facilidade de se adaptarem aos mais variados ambientes.
Para sobreviverem, eles adquiriram uma série de especializações: suas
folhas modificadas se transformaram em espinhos a fim de proteger a
planta contra a herbivoria e promover o sombreamento do caule, evitando
dessa forma o sobreaquecimento da planta. Essas folhas modificadas
em espinhos minimizam a perda de água por transpiração. A fisionomia
de seu caule promove o armazenamento de água, possibilitando a
sobrevivência da planta em períodos de estiagem.

Certamente, as modificações ocorridas durante milhares de anos tornaram


os cactos espécies bem adaptadas ao ambiente árido. Sua morfologia
única e a exuberante beleza de suas flores enfeitam o árido deserto.
210 UNIUBE

Alguns animais também sofreram modificações fisiológicas para se


adaptarem ao ambiente árido. O rato-canguru, por exemplo, possui
intestino extremamente eficiente na reabsorção de água. Suas fossas
nasais alargadas permitem que o ar, vindo dos pulmões, condense na
superfície de sua cavidade nasal, mantendo o focinho sempre úmido.
Dessa forma, ele controla a temperatura de seu corpo. O rato-canguru,
assim como muitos outros animais habitantes de locais de clima árido,
adaptou-se a alimentar-se somente durante a noite para evitar o calor
diurno.

6.6 A fragmentação dos continentes e o surgimento


de novas espécies

A formação de barreiras geográficas é um dos processos envolvidos na


formação de novas espécies, uma vez que as barreiras físicas reduzem
o fluxo gênico entre as populações. Sendo assim, damos o nome de
especiação a esse processo de formação de novas espécies a partir
de outra espécie preexistente.

O isolamento é fundamental para o processo de especiação. Ele pode


ocorrer a nível temporal, espacial ou em ambos os casos. O isolamento
é temporal quando uma parte da população (ou um único membro
da mesma), devido a um evento de dispersão, por exemplo, migra
de sua população original se isolando durante um longo período de
tempo, suficiente para que modificações morfológicas, fisiológicas
e comportamentais ocorram, promovendo a formação de uma nova
espécie. O isolamento espacial ocorre quando há a separação física
de uma parte da população original, devido à formação de uma barreira
que impede o fluxo gênico. Nesse caso, também ocorre o isolamento
temporal, uma vez que a barreira física separa as populações ao longo
do tempo.
UNIUBE 211

Uma barreira pode ser representada por mudanças geológicas, como


a formação de cadeias de montanha em um local, surgimento de um
curso d’água como consequência da deriva continental.

Um processo de especiação pode ter início com o isolamento geográfico


de um grupo de seres de uma população, seja pela formação de barreiras
físicas dividindo a população ou pela dispersão de membros de um grupo.
A este processo de especiação por isolamento geográfico, separando
grupos de seres de uma população, damos o nome de especiação
alopátrica. Existem duas formas de especiação alopátrica: vicariante
e peripátrica.

A especiação é denominada vicariante quando ocorre o surgimento de


barreiras físicas impedindo o fluxo gênico. Geralmente, ocorre quando
uma espécie de ampla distribuição se divide em duas ou mais por
barreiras externas. De forma relativamente lenta, começam a ocorrer
diferenças genéticas nessas populações, em resposta às condições
ambientais do novo local ocupado. Com o tempo, surgem mecanismos
de isolamento reprodutivo. Entende-se por isolamento reprodutivo
quando membros de duas populações são impedidos de cruzarem e
originarem descendentes férteis.

A especiação peripátrica ocorre quando colônias formadas a partir


da população original, se dispersam, num dado tempo, para um local
distante, mas não devido à existência de barreiras. Assim, após várias
gerações, ocorre o isolamento reprodutivo. Nessa perspectiva, se
algum dia essas espécies que se isolaram se encontrarem, existirá
uma incompatibilidade reprodutiva entre elas. Nesse mecanismo de
dispersão, um pequeno grupo de seres ou uma única fêmea grávida de
uma população migra para o novo habitat. Assim, apenas uma pequena
parte da variação genética da população original é transportada com o
grupo, portanto, seus integrantes são menos adaptáveis às modificações
ambientais e estão mais vulneráveis à extinção.
212 UNIUBE

Repare que tanto na especiação vicariante quanto na peripátrica, por


se tratarem de uma especiação do tipo alopátrica, haverá o isolamento
geográfico de indivíduos de uma população. Porém, na especiação
alopátrica vicariante, esse isolamento se dará pela formação de uma
barreira física que impede o fluxo gênico, e na especiação alopátrica
peripátrica, o isolamento ocorre pela dispersão dos indivíduos de
uma população original para localidades distantes, sem que haja a
necessidade da formação de barreiras físicas.

EXPLICANDO MELHOR

Primeiro exemplo

Para explicar melhor a influência da distribuição geográfica na


especiação, utilizaremos um caso hipotético: imagine uma vegetação
campestre, com algumas árvores de grande porte espalhadas em alguns
locais da região. Chamaremos esse local de região A.

Supomos que nessa região “A” viva uma população de lebres que se
relacionam e são capazes de se reproduzir, originando descendentes
férteis. Em determinado momento da história, formou-se uma grande
cadeia de montanhas que cruzou a região “A” de norte a sul, dividindo a
população de lebres em dois grupos, que chamaremos de grupos 1 e 2.

Com a separação, o grupo 1 ficou na porção leste e o grupo 2 no


lado oeste da região. A formação da cadeia de montanhas (isolamento
espacial) proporcionou mudanças ambientais no local: modificou o clima,
que, por sua vez, modificou o solo e a vegetação de forma diferenciada
nas porções leste e oeste. Assim, os grupos de lebres, agora isolados
por uma barreira física, além de não poderem se relacionar, terão que
se adaptar a novas condições físicas do meio. Com o passar do tempo,
as lebres da porção leste e oeste terão acumulado tantas modificações
moleculares e morfológicas que ao se encontrarem novamente, não
serão capazes de cruzarem e produzirem descendentes férteis, ou
seja, terão adquirido características que as classificarão como espécies
diferentes. Esse tipo de especiação é denominada especiação
alopátrica vicariante.

Partindo do mesmo exemplo, vamos imaginar uma outra situação:


suponhamos que não houve a formação de uma cadeia de montanhas
no local, portanto, a população de lebres continua unida, se reproduzindo
e originando descendentes férteis.
UNIUBE 213

Porém, em um dado momento, um pequeno grupo da população, que


chamaremos de grupo 3 resolveu migrar para um local distante, que
chamaremos de região C, se isolando reprodutivamente do restante
da população.

Na região C, o grupo 3 teve que se adaptar ao novo ambiente e adquiriu


características diferentes do restante da população do qual fazia parte,
tornando-se uma espécie diferente. Este processo de especiação é
chamado especiação alopátrica peripátrica.

Segundo exemplo

Os tentilhões, observados por Darwin nas ilhas Galápagos, são um


bom exemplo dos efeitos do isolamento espacial e temporal sobre a
especiação. Os tentilhões pertencem à subfamília Geospizinae, que se
diferenciam em treze espécies habitantes das Ilhas Galápagos.

As ilhas Galápagos são um arquipélago que se situam a mais ou menos


mil quilômetros da costa do Equador (STORER, 2003).

Acredita-se que os tentilhões tenham surgido de uma única espécie


ancestral de tentilhão que, quando chegou ao arquipélago, apresentava
poucos competidores e predadores, o que proporcionou seu
estabelecimento em algumas ilhas.

Com o aumento da competição, muitos tentilhões migraram para


outras ilhas do arquipélago e lá se adaptaram e evoluíram, adquirindo
modificações que os permitiram sobreviver em um novo ambiente.

Essas modificações são visivelmente observa-


das no formato do bico dessas aves, cada um Entomófogos
adaptado a um tipo específico de alimento:
Organismos que
os tentilhões entomófogos apresentam bico se alimentam de
alongado; os granívoros têm bico cônico forte; insetos.
os frugívoros possuem bico parecido com o
de um papagaio.
Granívoros
Podemos dizer, portanto, que o caso dos Organismos que se
tentilhões do arquipélago de Galápagos ilustra alimentam de folhas
um exemplo de especiação peripátrica, uma vez e sementes.
que a migração de alguns membros do grupo
original de tentilhões para outras ilhas levou à
Frugívoros
formação de novas espécies de tentilhões com
modificações visíveis principalmente no formato Organismos que se
do bico (Figura 4). alimentam de frutos.
214 UNIUBE

Figura 4: Tentilhões de Galápagos.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Os tentilhões de galápagos são espécies semelhantes, observadas por


Darwin, vivendo em diferentes Ilhas de Galápagos. O que difere as
espécies é o formato do bico, cada um adaptado a um tipo diferente de
alimentação.

O tempo necessário para que ocorra a especiação varia entre os


organismos. Existem espécies que se encontram isoladas há milhões
de anos, e, apesar disso, houve pouca divergência morfológica e ainda
são compatíveis reprodutivamente.

PESQUISANDO NA WEB

Utilizando um site de busca na internet como, por exemplo, o <http://www.


google.com.br/>, localize, acesse e assista ao documentário “Galápagos
– as ilhas que mudaram o mundo”.

Esse documentário, coproduzido pela BBC/ Discovery Channel aborda a


história das Ilhas Galápagos, a distribuição de sua exuberante e endêmica
biodiversidade, além da contribuição de sua fauna para a formulação da
teoria mais aceita sobre a evolução dos seres vivos: a Teoria da Seleção
Natural, proposta por Charles Darwin.

Certamente você ficará fascinado com a riqueza de imagens e curiosi-


dades apresentadas neste documentário!

Imagine você se, nos primeiros momentos de sua adaptação nas


Ilhas Galápagos, os tentilhões de Darwin tivessem encontrado muitos
competidores e predadores naturais mais bem adaptados que eles.
Provavelmente, eles não conseguiriam vencer a competição e acabariam
entrando em extinção.
UNIUBE 215

Quando uma espécie é submetida a mudanças ambientais como


alterações climáticas, alterações nas relações interespecíficas, ou
presença de patógenos, ela tem duas opções: irá se adaptar a essas
novas condições ou entrará em extinção. As extinções têm ocorrido ao
longo de bilhões de anos: estima-se que mais de 99% das espécies
que já existiram estejam extintas (FUTUYMA, 2002).

Quanto mais amplamente uma espécie estiver distribuída em um espaço


geográfico, maiores serão as chances de sobrevivência da espécie,
caso haja alterações ambientais em determinado local.

A extinção é um processo que pode influenciar profundamente a


distribuição das espécies no globo terrestre. Exemplo disso foi a
irradiação dos mamíferos durante o Terciário, proporcionada pela extinção
dos dinossauros, grandes répteis dominantes que tiveram seu auge no
Jurássico e que coexistiram com os pequenos mamíferos, a partir do
final do Triássico.

6.6.1 A especiação possibilita o surgimento de espécies endêmicas

O isolamento de grupos de seres vivos e posterior especiação


ocasionaram o aparecimento de espécies endêmicas em várias regiões
do mundo. Uma espécie endêmica é aquela que ocorre exclusivamente
em determinado ecossistema.

EXEMPLIFICANDO!

O mico-leão-dourado, por exemplo, é uma espécie endêmica da Mata


Atlântica.

A Tuatara (Sphenodon punctatus) é uma espécie de lagarto endêmico de


pequenas ilhas da Nova Zelândia. Para conhecê-la, acesse o site:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tuatara.jpg>.
216 UNIUBE

O endemismo pode ser paleogênico ou neogênico:

• o endemismo paleogênico ocorre quando um grupo de seres


vivos, que viveram em tempos remotos, disseminaram-se, mas
em um dado momento de sua história evolutiva, restringiram-
-se a uma determinada área;

• o endemismo neogênico é resultado da evolução recente de


uma espécie em uma determinada área, sem que a mesma
tenha tido tempo para se disseminar para outras regiões.

Espécies animais e vegetais endêmicas podem ser encontradas


agrupadas em regiões distintas do globo, em áreas zoogeográficas e
fitogeográficas.

Quando uma determinada espécie é encontrada em várias regiões do


mundo, dizemos que ela possui um grande potencial biótico. Isso quer
dizer que ela possui uma grande capacidade de viver em um determinado
ambiente.

Ao contrário das espécies endêmicas, que habitam uma região específica


do globo, uma espécie que é encontrada em ampla distribuição
geográfica, é dita cosmopolita, e essa característica é reflexo de sua
capacidade de vencer as dificuldades impostas pelo meio em que vive.

6.6.1.1 Regiões zoogeográficas

Você sabia que, por todo o planeta, existem locais onde


espécies animais semelhantes podem ser encontradas, e que
essas áreas estão classificadas em diferentes regiões? Você
tem conhecimento de que existe uma ciência voltada para o
estudo da distribuição desses animais?
UNIUBE 217

A Zoogeografia é uma área da Biogeografia voltada especificamente ao


estudo dos fatores que controlam a distribuição da fauna na superfície
terrestre, e como esses animais estão distribuídos.

RELEMBRANDO

Vimos que alguns fatores externos podem limitar a distribuição das


espécies animais pelo globo. A esses fatores, damos o nome de barreiras.
Essas barreiras podem ser: físicas: elevações, tal como chapadões,
cadeias de montanhas ou mesmo a presença de cursos d’água, que
para os animais terrestres, podem representar barreiras físicas para a
distribuição das espécies; climáticas: temperatura ou umidade na forma
de chuva, neve ou a própria umidade do solo; biológicas: ausência de
alimentos, presença de competidores, predadores ou aparecimento de
doenças.

Grandes regiões do globo terrestre apresentam fauna distinta das


espécies animais das áreas adjacentes. Isso é reflexo da história evolutiva
dos grupos de animais e das modificações da superfície terrestre que
proporcionam a migração desses animais para outras regiões.

O primeiro pesquisador a reconhecer essa diversidade de fauna existente


no planeta e suas características peculiares foi Alfred Russel Wallace, que
a partir de seus estudos, definiu limites para regiões que apresentavam
faunas semelhantes ao qual ele denominou regiões zoogeográficas.

Wallace, juntamente com outros biogeógrafos, observou a existência de


muitos táxons endêmicos distribuídos em regiões congruentes. A América
Central e a América do Sul, por exemplo, possuem fauna semelhante
composta por espécies que só habitam essas regiões, como edentados
(grupo dos tamanduás), famílias de bagres, entre outros (FUTUYMA, 2002).

As regiões zoogeográficas propostas por Wallace são:

Região Australiana: compreende a Austrália, a Tasmânia, Nova


Guiné, Nova Zelândia e Ilhas oceânicas do Pacífico. Entre as espécies
encontradas estão todos os monotremos (mamíferos que botam ovos) e
218 UNIUBE

grande parte dos marsupiais. Entre o grupo dos placentários, encontramos


apenas morcegos e roedores. De todas as regiões, a Australiana foi a
que permaneceu por mais tempo isolada, tempo suficiente para que
algumas espécies, como o ornitorrinco (Figura 5), ou marsupiais, como
cangurus, adquirissem características únicas e se tornassem endêmicos
da região. Na Nova Zelândia, encontram-se o quivi e o Sphenodon.

Figura 5: Ornitorrinco.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

O ornitorrinco é um mamífero monotremado encontrado na Austrália.


Ele possui bico, cauda de castor e é ovíparo.

Região Oriental: compreende a região da Ásia ao sul da cordilheira


do Himalaia, Península Malaia, Índia, Ceilão, Sumatra, Bornéu, Java,
Célebes e Filipinas. As espécies animais que podem ser encontradas
nessa região incluem gibões, társios, orangotangos, rinoceronte indiano,
tigre (Figura 6), elefante, pavão e galo silvestre.

Figura 6: Tigre.
Foto: Gabriela Marcomini de Lima.
UNIUBE 219

Algumas evidências indicam que a Ásia, há tempos remotos, foi o berço


de muitas linhagens de animais que migraram, distribuindo-se de forma
descontínua para diversas áreas. Um exemplo disso são as aves ratitas
(que não podem voar), encontradas em outras localidades: o emu e o
casuar na região Australiana; as emas na região Neotropical e o avestruz
na região Etiópica, todas vindas de uma mesma linhagem.

Região Etiópica: abrange a área da África, incluindo Madagascar e ilhas


adjacentes e o deserto do Saara. As espécies animais que podem ser
encontradas na região são: gorilas, elefantes, chimpanzés, rinocerontes,
leões, hipopótamos, girafas (Figura 7), zebras, antílopes, avestruzes,
ave-secretária, galinha da angola e lêmures, em Madagascar.

Figura 7: Girafa – espécie encontrada na região


Etiópica.

Região Neotropical: abrange a América do Sul e América Central, as


Antilhas e terras baixas do México. Encontram-se nessa região, espécies
de lhamas, preguiças, tatus, alpacas, porcos do mato, tamanduás, preás,
morcegos, emas, mutuns, tucanos, jacus, beija-flores e araras (Figura 8).
220 UNIUBE

Figura 8: Arara.

Região Neártica: compreende a América do Norte, incluindo Groenlândia,


e a região do planalto mexicano às ilhas árticas. Nessa região, podem
ser encontrados: cabra montesa, caribu, rato-almiscarado e antilocapra.

Região Paleártica: abrange a Eurásia até a região sul do Himalaia,


Pérsia, Afeganistão e a África ao norte do Saara. As espécies animais
encontradas são ouriços, javalis, corças e veados.

A Antártica (ou Antártida), quando abordada em alguns livros didáticos,


é tratada por muitos autores como uma região zoogeográfica à parte,
devido às características peculiares de sua fauna, composta por pinguins
e outras aves como albatrozes e petréis.

O pinguim imperador é uma ave habitante da Antártica, mas que pode ser
encontrada em outras regiões do planeta, em decorrência da migração.
Em determinadas épocas do ano, é possível encontrar pinguins de
passagem pelo litoral brasileiro.

Veja, na Figura 9, a Petrel, ave encontrada na Antártica (ou Antártida).


UNIUBE 221

Figura 9: Petrel.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Apesar das regiões zoogeográficas (Figura 10) estarem divididas,


dificilmente é possível estabelecer limites exatos entre duas ou mais
regiões, sendo possível a existência de animais comuns a algumas
regiões vivendo em zonas de transição.

Alguns autores agrupam as regiões Paleártica e Neártica em uma


única região denominada Holártica. Esse agrupamento ocorre devido
a características comuns compartilhadas pela fauna das duas regiões.

Veja, na Figura 10, as regiões Zoogeográficas: I – Paleártica; II – Etiópica;


III – Oriental; IV – Australiana; V – Neártica; VI – Neotropical.

Figura 10: Regiões zoogeográficas.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
222 UNIUBE

6.6.1.2 Faunas insulares

Você já se perguntou como os animais terrestres que vivem em


ilhas marítimas foram parar lá?

Para respondermos a essa questão, precisamos inicialmente


compreender que existem ilhas continentais e ilhas oceânicas, que se
diferem pela localização e pela forma como foram originadas.

As ilhas continentais estão situadas em águas rasas, próximas ao


continente e algumas teorias indicam que elas foram originadas a partir
dos continentes, devido ao movimento de placas tectônicas. Em algum
momento, essas ilhas que estariam unidas ao continente, afastaram-se
e tornaram-se independentes. Isso pode ser explicado pela presença de
animais em comum vivendo nas ilhas e na área continental próxima. É
possível encontrar espécies de pequenos mamíferos, répteis e anfíbios
vivendo em ilhas continentais.

As ilhas oceânicas estão geralmente afastadas do continente e têm


origem vulcânica. A fauna não apresenta anfíbios e entre os mamíferos
encontram-se apenas morcegos e roedores, que acredita-se terem
chegado à ilha transportados por navios.

6.6.2 Regiões fitogeográficas

Assim como as espécies da fauna mundial estão agrupadas em regiões,


as comunidades vegetais também se encontram classificadas em
diferentes regiões. A distribuição das espécies vegetais pelo mundo é
influenciada por fatores ambientais, como clima e o solo, e também por
fatores históricos, entre eles a separação dos continentes.

A fitogeografia é o ramo da biogeografia voltado ao estudo da


distribuição das espécies vegetais pela superfície terrestre e dos fatores
que condicionam essa distribuição.
UNIUBE 223

As regiões fitogeográficas mundiais são:

Região Holártica: inclui toda a América do Norte, Europa e Ásia. Dentro


dessa região, encontram-se os biomas tundra, taiga, deserto, floresta
caducifólia e campos.

Região Paleotropical: compreende parte da Índia, sudeste da Ásia,


Ilhas do Oceano Pacífico e parte da África. Nessa região, encontram-se
as florestas caducifólias e savanas.

Região Neotropical: compreende a América Central e América do Sul


(com exceção de uma parte pequena localizada no extremo sudoeste, que
faz parte da região Antártica). Observa-se que uma grande diversidade
de ambientes compõe essa região, incluindo como uma das principais
formações vegetais, as florestas tropicais.

Região Australiana: compreende além da Austrália, a Tasmânia, Nova


Zelândia, Nova Guiné, além de ilhas adjacentes. Entre as formações
vegetais encontram-se florestas, estepes e desertos.

Região Antártica: por ser uma região coberta por gelo, dificilmente
se desenvolve alguma vida vegetal nessa região. A vegetação, que se
assemelha à tundra, se limita à algumas ilhas subantárticas.

6.7 A compreensão do padrão de distribuição


dos seres vivos

Neste tópico, ressaltaremos a importância dos registros fósseis e da


análise filogenética para a compreensão do padrão de distribuição dos
seres vivos. Um bom indicador para determinar se um grupo surgiu
em uma região por meio da distribuição por dispersão ou vicariância
são os fósseis. Por meio de alguns registros fósseis semelhantes,
encontrados em continentes diferentes, é possível propor teorias de
que esses organismos coexistiram em um mesmo local.
224 UNIUBE

Atualmente, sabe-se que os registros fósseis apresentam uma lacuna.


Nem todas as espécies sofreram condições ideais de fossilização e,
portanto, não é possível, com todos os registros fósseis de que se tem
conhecimento, montar com exatidão a história evolutiva das espécies.

Nesse caso, você já se perguntou como é possível explicar a


relação de parentesco entre as espécies atuais e propor uma teoria
aceitável para a distribuição dessas espécies no planeta Terra?

Para isso, os cientistas utilizam uma importante ferramenta que vem se


desenvolvendo a cada dia com os avanços na área da Genética: a análise
filogenética, que consiste na busca de características morfológicas e
moleculares semelhantes entre os organismos, buscando inferir um
grau de parentesco entre eles.

Voltando ao exemplo das aves ratitas, por meio das análises morfológicas,
e, mais recentemente, de análises genéticas, foi possível estabelecer
que essas aves pertencem a um grupo monofilético.

As árvores genealógicas são construídas a partir de análises filogenéticas,


que representam um dos métodos biogeográficos, utilizados para propor
teorias sobre o padrão de distribuição dos seres vivos.

EXEMPLIFICANDO!

Como vocês já viram, um fóssil encontrado na região de Uberaba − MG,


carrega consigo algumas evidências de que os continentes do hemisfério
sul estiveram unidos.

O fóssil do Uberabasuchus terrificus, um crocodilomorfo terrestre que


viveu há 70 milhões de anos atrás, durante o Cretáceo, auxiliou na
compreensão da evolução dos crocodilos terrestres na América do Sul.
Essa descoberta permitiu um maior conhecimento acerca do ambiente
físico durante o Cretáceo, possibilitando mais uma evidência de que os
continentes do hemisfério sul estiveram unidos, pois fósseis semelhantes
ao do crocodilomorfo foram encontrados em Madagascar (sudeste da
África) e na Patagônia (Argentina).
UNIUBE 225

Essa evidência sugere que essas espécies têm um ancestral comum que
poderia transitar do sudeste da África ao continente sul americano, por
meio de ligação terrestre entre esses continentes.

A seguir, serão apresentados outros métodos de interesse para a


Biogeografia.

6.8 Introdução aos métodos biogeográficos

Você já ouviu falar em métodos biogeográficos? Sabe o que são?

Os métodos biogeográficos buscam maneiras de reconstruir a história dos


organismos vivos. São vários os métodos utilizados pela Biogeografia,
entre eles, o Dispersalismo, a Panbiogeografia, a Biogeografia
cladística e a Biogeografia filogenética.

O Dispersalismo leva em consideração a existência de uma região


ancestral, na qual vivia um ser ancestral que se dispersou para outras
regiões dando origem ou não aos seres vivos atuais.

A Panbiogeografia, método inicialmente


Leon Croizat
desenvolvido por Leon Croizat, utiliza linhas
(denominadas traçado pelo pesquisador) para Botânico italiano que
mapeou a distribuição
conectar áreas geográficas, onde aparecem de muitos organismos
e documentou a
táxons supra específicos. existência de táxons
semelhantes vivendo
em locais que não
A Biogeografia cladística utiliza cladogramas estão conectados
geograficamente.
(Figura 11) para relacionar características filoge- Apresentou trabalhos
importantes para a
néticas e biogeográficas de membros de grupos biogeografia histórica.
monofiléticos, para propor que esses organismos
têm uma história em comum.
226 UNIUBE

Figura 11: Cladograma utilizado em Biogeografia cladística para a


representação gráfica da filogenia de seres vivos.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Na Figura 11, está representada a árvore


filogenética de procariotos (Bacteria e Archaea)
Filogenia
e dos eucariotos (Eucaria).
Características de um
grupo de organismos,
utilizadas para propor A Biogeografia filogenética considera hipóte-
graus de parentesco
entre espécies viventes ses de que a filogenia de um grupo pode inferir
e entre espécies
viventes e grupos sua história biogeográfica. Nesse caso, os
extintos. grupos monofiléticos divergiram de um mesmo
ancestral.

6.9 A influência do homem na distribuição


das espécies

O homem tem sido um grande influenciador na distribuição das espécies


animais e vegetais no planeta. Uma dessas influências se dá por meio da
introdução de espécies em regiões onde não é comum sua ocorrência
natural. Essas espécies introduzidas, chamadas exóticas, podem
não se adaptar ao novo ambiente e morrerem ou podem se adaptar
facilmente, sofrerem uma rápida proliferação e competir com espécies
nativas, podendo até mesmo levá-las à extinção, assim, nesse caso,
são chamadas de espécies exóticas invasoras.
UNIUBE 227

As espécies exóticas invasoras são consideradas por muitos


pesquisadores como a maior causa da perda de biodiversidade. No
Brasil, existem diversas espécies exóticas de plantas e animais, entre
eles o caramujo africano (Achatina fulica) que foi introduzido no Brasil
para criação com o intuito de torná-lo parte da alimentação humana,
porém, o animal acabou se alastrando por quase todo o território nacional,
tornando-se praga agrícola (OLIVEIRA, 2004).

CURIOSIDADE

O caso da perca do Nilo

A perca do Nilo (Lates niloticus) é um peixe originário da Etiópia que


pode alcançar dois metros de comprimento. Durante a década de 1950,
a perca do Nilo foi introduzida na África, em um lago denominado Lago
Vitória, com o objetivo de aumentar as pescas, proporcionando uma
fonte adicional de alimento às pessoas, além de aumentar as espécies
de peixe para exportação.

Antes da introdução da perca do Nilo, o Lago Vitória apresentava uma


grande biodiversidade de peixes, entre eles muitas espécies nativas
endêmicas, cuja pesca trazia sustento às famílias da região.

A introdução da perca levou à aniquilação de populações de peixes


nativos, pois eles passaram a fazer parte de sua dieta e não apresen-
tavam comportamento inato para escaparem da predação. Além disso,
como a predação pela perca do Nilo era mais rápida que a reprodução de
suas presas, ela acabou reduzindo seu próprio suprimento de alimento,
e também entrou em declínio.

Outras consequências secundárias da introdução da perca do Nilo foram


observadas: a preservação da carne desse peixe, que é muito oleosa, é
obtida por defumação e para fazer o fogo essencial ao processo, muitas
florestas foram cortadas para a utilização da madeira.

Esse caso é um bom exemplo de como a introdução de espécies exóticas


afeta a distribuição dos organismos, a biodiversidade e o equilíbrio
ecológico de uma região.

Ao longo do capítulo, você estudou que a distribuição geográfica dos


organismos variou ao longo de bilhões de anos, e eventos biológicos e
climáticos que aconteceram durante esse tempo tiveram grande influência
228 UNIUBE

na distribuição das espécies. Exemplo disso é a mudança na posição


dos continentes e os vários episódios de glaciações e aquecimentos
que marcaram a história da Terra.

É difícil estimar com precisão como ocorreu a distribuição dos organismos


ao longo da evolução, visto que muitas espécies se extinguiram nesse
processo. O estudo dos registros fósseis combinado com os métodos
biogeográficos busca propor teorias aceitáveis sobre a relação de
parentesco entre espécies que viveram no passado e as espécies
recentes, e relacionar esses dados com a distribuição atual dos
organismos.

Vale lembrar também que muitas ações humanas têm modificado a


distribuição das espécies, seja introduzindo espécies exóticas em um
ambiente ou destruindo habitats.

PESQUISANDO

Além da introdução de espécies exóticas, outras ações humanas também


estão envolvidas na influência que o homem exerce sobre a distribuição
das espécies. Você conhece alguma?

Discuta com seus colegas e com o professor sobre como o homem pode
influenciar na distribuição das espécies e quais as consequências dessa
influência para a biodiversidade?

Não deixe de reler o capítulo, anotando suas dúvidas e aprofunde


seus conhecimentos sobre o assunto por meio da leitura de livros e
outros materiais didáticos, sempre buscando fontes complementares
de informações.

Resumo
Neste capítulo, vimos que a biogeografia é a ciência que estuda a
distribuição dos seres vivos no planeta e os fatores históricos e ecológicos
envolvidos nessa distribuição.
UNIUBE 229

A Terra sofreu várias modificações ao longo de sua história: a separação


dos continentes apoiada pela Teoria da Deriva Continental e as várias
mudanças climáticas influenciaram o padrão atual de distribuição dos
seres vivos.

O isolamento geográfico pelo qual vários grupos de seres vivos passaram


em decorrência das mudanças ambientais exigiu que esses organismos
se adaptassem às novas condições ambientais, o que possibilitou
o surgimento de novas espécies, muitas das quais endêmicas de
determinadas regiões.

A presença de grupos de seres vivos semelhantes, vivendo em diferentes


regiões do planeta, originou a criação de regiões zoogeográficas e
fitogeográficas.

Para propor teorias sobre o atual padrão de distribuição dos seres vivos,
são utilizados os métodos biogeográficos, entre eles a análise filogenética
que, juntamente com o estudo dos registros fósseis, procura estabelecer
graus de parentesco entre espécies viventes e extintas.

Atividades

Atividade 1

Ao longo de seus bilhões de anos, a Terra sofreu várias modificações.


Acredita-se que as primeiras formas de vida tenham surgido há cerca
de 3,5 bilhões de anos. Desde então, a distribuição dos seres vivos
no espaço tem sido moldada por diversos fatores; entre eles, pode-se
mencionar acontecimentos históricos importantes ocorridos desde
o surgimento do planeta. Cite dois processos históricos envolvidos
na distribuição dos seres vivos pelo planeta e explique como esses
processos influenciaram essa distribuição.
230 UNIUBE

Atividade 2

Para os biogeógrafos, dois termos são importantes para explicar como


os seres vivos se distribuíram no planeta ao longo da história: dispersão
e vicariância. Explique o significado dessas duas hipóteses e discuta:
você acredita que todos os seres vivos que migram de seu local de
origem para outras regiões do planeta conseguem sobreviver? Justifique
sua resposta.

Atividade 3

A formação de novas espécies é um processo contínuo e muito


importante para a manutenção da biodiversidade do planeta. Explique
o processo de especiação alopátrica, mencionando os agentes envolvi-
dos nesse processo.

Referências

FUTUYMA, D. J. Biologia Evolutiva. 2. ed. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira


de Genética, 2002.

OLIVEIRA, Márcia Divina de. Introdução de espécies: uma das maiores causas
de perda de biodiversidade. Artigo de divulgação de mídia. n 75. Corumbá:
Embrapa Pantanal, 2004. Disponível em: <http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/
online/ADM075.pdf>. Acesso em 18 fev. 2010.

POUGH, F. H.; HEISER, J. B.; McFARLAND, W. N. A vida dos vertebrados.


São Paulo: Atheneu, 1993.

RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2003.

STORER; USINGER; STEBBINS; NYBAKKEN. Zoologia geral. 6. ed. São


Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
Capítulo
O papel dos fatores e
elementos ambientais
7
na distribuição dos
seres vivos
Gabriela Marcomini de Lima

Introdução
Imagine que você está andando em meio à Floresta Amazônica.
Pense na quantidade de formas de vida diferentes que você
pode observar: várias espécies de aves, árvores, fungos, répteis,
sem falar nos insetos. Essa grande diversidade de espécies da
qual estamos falando é apenas uma parte (uma boa parte!) da
biodiversidade que pode ser encontrada na Terra.

Existem, atualmente, no planeta, milhares de espécies de seres


vivos, muitas das quais o homem ainda não tem conhecimento
da existência e é de seu conhecimento que muitas espécies se
extinguiram no passado e algumas se encontram fossilizadas.

Praticamente todas as regiões do planeta Inóspitos

são habitadas, do Ártico à Antártica: Locais onde não


se pode viver;
encontramos formas de vida na terra, no ambientes que não
oferecem condições
ar, no gelo, na água em sua forma líquida à vida.
e em ambientes quase inóspitos.

Os reservatórios de água abrigam as mais diversas formas de vida,


habitando a superfície ou os locais mais profundos. Você sabia
que fontes de águas termais podem ser colonizadas por bactérias
termófilas, que resistem a temperaturas de 110°C? Toda essa
232 UNIUBE

diversidade de vida encontra-se distribuída por toda a superfície


terrestre e as causas dessa distribuição são atribuídas a fatores
históricos (abordados no capítulo “A distribuição dos seres vivos
no tempo e no espaço”) ou ecológicos.

Entre os fatores ecológicos, destaca-


Abióticos
mos os elementos abióticos como as
Fatores ausentes da
presença de seres
condições de pH do solo, quantidade de
vivos; diz respeito nutrientes minerais, teor de oxigênio e
aos elementos de
propriedade química gás carbônico na atmosfera, presença
e física da biosfera
como luz, água, solo, de água e o clima, grande influencia-
temperatura, entre
outros.
dor da distribuição e diversificação das
espécies. Além dos elementos ambien-
tais, envolvidos na distribuição de espécies no ambiente terrestre,
veremos também neste capítulo que a distribuição das espécies
nos ambientes aquáticos é influenciada por outros fatores, tais
como a salinidade e a profundidade do corpo d’água.

Objetivos

Após a leitura deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• explicar a existência de fatores ambientais envolvidos na


distribuição dos seres vivos;
• identificar os principais elementos ambientais envolvidos
na distribuição das espécies;
• descrever como os elementos climáticos (temperatura,
pluviosidade, insolação) influenciam na distribuição dos
organismos;
• explicar como ocorre a dinâmica climática e como a topo-
grafia de uma região pode modificar o clima a nível local;
• definir o princípio da teoria da Biogeografia insular;
• explicar a distribuição dos seres vivos no ambiente aquá-
tico.
UNIUBE 233

Esquema

A importância
dos fatores
O clima A pluviosidade
e elementos
ambientais

Eventos
As estações Frentes frias e
climáticos
do ano frentes quentes
extremos

Ambientes
aquáticos

7.1 A importância dos fatores e elementos ambientais

Além dos fatores históricos mencionados no capítulo “A distribuição


dos seres vivos no tempo e no espaço”, os fatores ecológicos também
devem ser considerados para explicar a distribuição dos seres vivos
no planeta. Esses fatores e elementos ambientais são de três ordens
distintas: biótica ou social, química e física.

Os fatores de ordem biótica ou social dizem respeito à influência que um


ser vivo exerce sobre a distribuição de outros seres vivos. Por exemplo,
na Mata Atlântica, o jatobá (Hymenaea courbarail) precisa que roedores
de médio e grande porte consumam o seu fruto para liberar a semente e,
dessa forma, se dispersar. Nesse caso, a distribuição do jatobá depende
dos roedores.

Os fatores de ordem química envolvem as substâncias químicas


indispensáveis à sobrevivência dos seres vivos e entre elas podemos
citar o oxigênio, que participa das reações de produção de energia
celular; o gás carbônico que é utilizado pelos seres fotossintetizantes;
a água, substância indispensável aos processos celulares, entre outras.
234 UNIUBE

Entre os fatores de ordem física, podemos citar o clima, que exerce


grande influência sobre a cobertura vegetal de uma área e consequente-
mente na distribuição da fauna. Onde há climas semelhantes, desenvol-
vem-se ecossistemas semelhantes. A esses ecossistemas de clima e
fisionomia vegetal semelhantes, damos o nome de Bioma.

Um bioma se desenvolve como adaptação à


Zona climática
zona climática da qual faz parte, e essas zonas
Área diferenciada
do planeta que é climáticas são resultados da forma como se
exposta a diferentes organizam os sistemas mundiais de ventos e
intensidades de
radiação solar. correntes marítimas.

Dentro de um único bioma, há variações regionais de composição


florística e faunística porque sempre há variações locais dos fatores
abióticos dentro de um bioma. Diferentes solos, por exemplo, formados
a partir de diferentes rochas, podem ser encontrados dentro de um
bioma. As características desses solos condicionam, junto com outros
fatores, o aparecimento da vegetação típica de cada local, ocasionando
as diferenças regionais.

PARADA OBRIGATÓRIA

É da aceitação de muitos pesquisadores que um conjunto de condições


físicas, como temperatura e precipitação pluvial, limita o número de
espécies que existem em uma comunidade isolada, seja vivendo em
uma ilha oceânica ou em um território rodeado por montanha.

Tal fato é descrito em uma teoria denominada Teoria da Biogeografia


insular, proposta por Robert Helmer MacArthur e o biólogo Edward
Osborne Wilson. Essa teoria foi proposta para tentar explicar a relação
entre o número de espécies que poderiam vir a habitar uma ilha que acabou
de ser formada. Um dos fundamentos mais importantes da teoria diz que
o número de espécies de determinado local relaciona-se com a área. Isso
quer dizer que a diversidade de espécies aumenta com o aumento da área
da ilha. Em se tratando de ilhas oceânicas, os pesquisadores propuseram
que, quanto mais distante do continente for a ilha, menor a sua diversidade,
uma vez que se diminui a probabilidade de colonização do local por
espécies diferentes. Portanto, além do tamanho da ilha e da distância
entre as ilhas oceânicas e o continente, a taxa de migração das espécies
para as ilhas é outro fator importante, controlado pela taxa de extinção
dos habitantes da ilha, provocada pela competição por recursos naturais.
UNIUBE 235

Dessa forma, nas ilhas, as comunidades se mantêm próximas de um


equilíbrio, que é alcançado por influência da limitação de fatores do
ambiente físico.

Baseando-se nessa teoria, acredita-se que as taxas de extinção são mais


altas em populações menores que vivem isoladas (FUTUYMA, 2002).

Não são apenas os fatores abióticos que estão envolvidos no padrão de


distribuição dos seres vivos. A relação que as espécies estabelecem entre
si, seja de simbiose, competição, predação ou parasitismos, também
influenciam na distribuição e sobrevivência das espécies.

Os seres vivos estão constantemente submetidos aos fatores ambientais,


sejam eles favoráveis ou adversos. Existe um limite de tolerância mínimo
e máximo no qual cada espécie consegue suportar os fatores ambientais
desfavoráveis. Quando um fator excede os limites de tolerância de uma
espécie, os resultados podem ser a migração, a morte ou sobrevivência
dos indivíduos melhor adaptados.

O tamanho da população e a sua área de distribuição geográfica é, portanto,


limitada por fatores ambientais, que podem ser vários ou apenas um.

7.2 O clima

Como estudamos, ao longo de seus bilhões de anos, a Terra sofreu


diversas modificações em seu ambiente físico. O clima sofreu oscilações
drásticas, proporcionando ao planeta momentos de resfriamento e
aquecimento, que moldou o padrão de distribuição dos seres vivos na
superfície terrestre.

Segundo Troppmair (2002), o clima é uma sucessão habitual do tempo em


um determinado local, caracterizado pela ação de um conjunto de fatores,
como insolação, temperatura, umidade, vento, precipitação, evaporação
e teor de CO2, que se interagem, provocando variações no tempo e em
escala mais ampla, influenciando o clima de determinadas regiões.
236 UNIUBE

PESQUISANDO NA WEB

Utilizando um site de busca na internet como, por exemplo, o <http://www.


google.com.br/>, localize, acesse e assista ao documentário “Mudanças no
clima, mudança de vida”, produzido pelo Greenpeace Brasil.

Este documentário mostra como os últimos fenômenos extremos, como o


grande episódio de seca no rio Amazonas, ocorrido no ano de 2005 e os
tornados que atingiram o sul do país, afetaram a vida das espécies e da
população humana que habitam esses locais.
Vale a pena conferir!

A intensidade da radiação solar, a umidade atmosfé-


Topografia
rica, as correntes de água e a redistribuição do calor,
Relativo aos
acidentes criam diversas zonas climáticas na Terra. Fatores
geográficos de uma como a topografia e elementos geológicos propor-
região.
cionam variações regionais no clima.

A presença de ambientes variados no planeta também proporciona


modificações regionais no clima, pois a capacidade de absorção de luz
nesses ambientes varia, provocando diferentes zonas de aquecimento
e resfriamento.

Dentro de um mesmo bioma, por exemplo, pode existir um ecossistema


florestal que apresenta temperaturas mais amenas, e um ecossistema
campestre mais quente. Essa variação na temperatura ocorre porque os
sistemas florestais apresentam vegetação capaz de absorver melhor a
radiação solar, além disso, no processo de transpiração, o vapor d’água
é liberado aumentando a umidade local.

AGORA É A SUA VEZ

Mudanças climáticas são um assunto cada vez mais discutido na mídia.


Está na pauta de encontros governamentais, de debates científicos e
até nas conversas informais entre amigos.
UNIUBE 237

Afinal, quem nunca ouviu falar em aquecimento global?

O aquecimento global é o aumento na temperatura média do planeta.


Acredita-se que ele está ocorrendo em decorrência do aumento da
quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera, entre eles o CO2. Os
gases do efeito estufa absorvem a radiação infravermelha, promovendo
o aquecimento do planeta. Tal fenômeno é conhecido como efeito
estufa, um fenômeno natural e essencial à vida.

O aquecimento global é a intensificação do efeito estufa e tem sido


atribuído às ações humanas. Sabe-se que, ao longo da história do
planeta, houve períodos de aquecimento intenso, mas segundo alguns
cientistas, nada comparado à velocidade com que esse fenômeno tem
acontecido atualmente. Estima-se que, até o ano de 2050, a temperatura
média da Terra aumente entre 1,5 e 3°C, talvez até mais em algumas
regiões. Certamente o aumento na temperatura média do planeta afetará
a distribuição geográfica de muitas espécies.

Procure em livros didáticos e sites quais as principais ações humanas


que têm contribuído para o aquecimento global e como esse fenômeno
tem afetado a distribuição e a biodiversidade do planeta. Converse
com seus colegas e com o professor os resultados de sua pesquisa.

7.2.1 O clima varia com a latitude

Você já deve ter ouvido falar que o clima na Terra é seco e frio em direção
aos polos e quente e úmido no Equador.

Mas, você sabe por que ocorre essa variação?

Via de regra, o clima da Terra na região dos polos tende a ser seco e
frio, enquanto no Equador quente e úmido porque a intensidade de luz
varia com a latitude. A intensidade de luz é maior no Equador porque
o Sol está mais próximo à perpendicular no Equador, e nas latitudes
mais altas, o ângulo formado pela luz que atinge a superfície da Terra
é mais baixo.
238 UNIUBE

Na Figura 1, vemos o esquema de rotação da Terra. O ângulo de


incidência dos raios solares é menor no Equador que nos polos.

Figura 1: Esquema de rotação da Terra.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Apesar de receber uma intensa insolação, maior que em maiores


latitudes, o Equador não é a região do globo que recebe maior insolação.
Este fato deve-se à grande cobertura de nuvens posicionadas sobre a
região do Equador, formadas devido à intensa evaporação que ocorre
nessa região.

As regiões que recebem maiores índices de insolação são as altas


pressões subtropicais, que são centros de dispersão, áreas praticamente
sem nuvens, principalmente quando associadas aos desertos
(TROPPMAIR, 2002).

Agora, você já sabe por que a região equatorial da Terra é mais


quente que os polos. Mas, por que é mais úmida?

A explicação também está no Sol. A radiação solar é responsável pelo


aquecimento do ar, que tem sua capacidade de retenção de água
aumentada. O ar aquecido se expande, tornando-se menos denso e
sobe. Paralelamente a isso, a intensidade da radiação solar também
influencia na evaporação da água. Segundo Ricklefs (2003) a taxa de
evaporação de uma superfície molhada pode dobrar a cada aumento
de 10°C na temperatura.
UNIUBE 239

A radiação do Sol aquece uma massa de ar


Massa de ar
localizada próxima à superfície na região tropical.
Grandes porções
Essa massa de ar aquecida sobe e se desloca na de ar que estão
sob determinadas
região norte e sul do Equador. Ao mesmo tempo, condições de
uma massa de ar vinda da região subtropical se temperatura, umidade
e pressão, são capazes
posiciona próxima à superfície, ocupando o lugar de provocar mudanças
climáticas em uma
da massa de ar tropical que ascendeu. À medida região.
que a massa de ar tropical sobe, ela perde seu
calor que é irradiado de volta para a atmosfera
e é substituída pela massa de ar subtropical que se torna aquecida. A
massa de ar tropical que perde seu calor se torna densa, fria e seca
e desce próximo à superfície, espalhando-se para a região norte e sul
do Equador. Este tipo de circulação e reciclagem do ar é denominado
células de Hadley (Figura 2).

Figura 2: Esquema de como ocorre a circulação global


na atmosfera terrestre.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

As várias células de Hadley existentes envolvem a Terra formando


cinturões nas regiões de Norte a Sul do Equador. Essas massas de ar se
deslocam com velocidades diferenciadas, influenciadas pela intensidade
da radiação solar que varia em função da latitude.

Chama-se convergência intertropical o local em que correntes de


ar que se deslocam, próximas à superfície, encontram-se. Nessa
convergência intertropical, o ar tropical, que é úmido, expande-se e
eleva-se. Na medida em que sobe, resfria-se causando precipitação.
240 UNIUBE

Portanto, as chuvas ocorrem em maior quantidade na região tropical,


porque a água circula de forma mais rápida pela atmosfera tropical
devido à maior taxa de evaporação, influenciada, por sua vez, pela
maior intensidade da radiação solar.

Após a precipitação, o ar, agora frio e seco, desce para a superfície na


região subtropical. Esse ar seco e frio, portanto mais denso, cria zonas
de alta pressão atmosférica na região subtropical, conhecidas como
cinturões subtropicais de alta pressão.

A pressão atmosférica é resultado da movimentação em alta velocida-


de das partículas de gases na atmosfera. Perto da superfície terrestre,
essas moléculas se encontram comprimidas abaixo do peso do ar que
está sobre elas. Por isso, dizemos que a pressão atmosférica próxima
à superfície é maior.

As massas de ar de alta pressão possuem ar frio e denso, e descem


rumo à superfície da Terra tornando-se mais quente. Nessa situação,
teremos tempo agradável.

Já as massas de ar de baixa pressão contêm ar quente e menos denso


que se eleva, e na medida em que sobe, expande e se resfria, provocan-
do condensação da água e formação de nuvens. As massas de ar de
baixa pressão provocam tempo nublado e chuva em algumas situações.

SAIBA MAIS

Você sabe por que os desertos estão localizados em regiões subtro-


picais?

O ar frio e seco que perdeu seu calor e umidade na região tropical torna-se
mais denso e se desloca para as regiões subtropicais. Nessa zona subtro-
pical, o ar frio e seco desce e se posiciona próximo à superfície.
Nesse momento, o ar começa a se aquecer e aumenta sua capacidade de
retenção de água, absorvendo a umidade da Terra, e por isso, na região dos
cinturões subtropicais de alta pressão encontram-se os maiores desertos
do planeta.
UNIUBE 241

7.2.2 Tipos de clima

O clima é bem diversificado em diferentes Correntes marítimas

regiões do planeta. O clima de cada região São massas de água


oceânica que se
sofre influência de fatores como a latitude, a deslocam devido à
altitude, as massas de ar, a continentalidade e rotação do planeta e à
influência dos ventos.
as correntes marítimas.

De acordo com essas características, podemos observar alguns tipos


de clima:

Clima polar: é característico de regiões de altas latitudes, ou seja,


de regiões polares. É observado na Antártica, no hemisfério sul, e no
hemisfério norte é observado nas regiões do Ártico. As chuvas são
escassas devido à baixa evaporação da água ocasionada pelas baixas
temperaturas. No inverno, que dura seis meses, o frio é rigoroso e no
verão o Sol não se põe, ou seja, é dia por 24 horas.

Clima temperado: geralmente as temperaturas são mais baixas que


nos climas subtropicais e tropicais. Tanto o clima temperado continental
quanto o clima temperado oceânico têm chuvas distribuídas ao longo
do ano e as temperaturas variam entre 15 e 20°C no verão, podendo
chegar a 5°C no inverno.

Clima subtropical: é um clima de transição entre o tropical, com clima


geralmente quente e úmido, e o temperado, com maiores latitudes,
e, portanto, apresenta clima mais frio. O clima subtropical possui
características de ambos os climas (tropical e temperado).

Clima tropical: abrange a região próxima aos trópicos de Câncer


e Capricórnio. Possui verão quente e úmido enquanto, no inverno,
as temperaturas têm uma pequena queda, assim como o índice
pluviométrico.
242 UNIUBE

Clima equatorial: ocorre na região próxima à linha do Equador. Tem


como característica: altas temperaturas e umidade o ano todo, devido
à alta taxa de evaporação ocasionada pelas temperaturas elevadas. A
pluviosidade também é alta. As regiões que possuem esse tipo de clima
desenvolvem um tipo de vegetação denominada floresta equatorial,
com abundante biodiversidade.

Clima desértico: é caracterizado por baixa


Amplitude térmica
pluviosidade e alta amplitude térmica, ou seja,
Diferença entre a
maior e a menor durante o dia, a alta insolação eleva muito as
temperatura
registrada em um
temperaturas, que podem chegar a 50°C, mas
período, que pode ser durante a noite, o calor é irradiado rapidamente
um dia, um mês ou
um ano. e as temperaturas caem muito.

Clima semiárido: é caracterizado por apresentar


Fitofisionomias baixa umidade e baixo volume pluviométrico.
Diz respeito à No Brasil, é encontrado nas regiões Nordeste
aparência da
vegetação em uma e Sudeste, apresentando fitofisionomias
região.
características e espécies animais e vegetais
endêmicas.

Clima de altitude: a altitude é um fator que pode condicionar o clima


de uma determinada região. A insolação aumenta com a altitude, pois o
ar menos denso faz com que a incidência de radiação solar seja maior.
Porém, a temperatura é baixa porque o ar menos denso e a menor
pressão atmosférica das altitudes maiores não seguram a radiação
solar, que é emitida de volta para a atmosfera.

Clima mediterrâneo: este tipo de clima é caracterizado por apresentar


precipitações durante o inverno e verão quente e seco. Recebe esse
nome porque sua maior ocorrência é na região do Mar Mediterrâneo,
porém, pode ocorrer em outros locais como litoral da Califórnia, nos
Estados Unidos, Chile e Austrália (Figura 3).
UNIUBE 243

Figura 3: Locais de ocorrência do clima mediterrâneo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Na Figura 4, o gráfico mostra relação de pluviosidade versus temperatura,


em local de clima mediterrâneo.

Figura 4: Pluviosidade versus temperatura em local de clima


mediterrâneo.

Repare, na figura 4, que nos meses de verão europeu (junho-agosto) a


temperatura é alta, porém o volume de precipitações é baixo. O oposto
ocorre no inverno frio e úmido.

7.2.3 Influência da topografia sobre o clima

A topografia de uma região pode modificar o clima em escala local. Na


medida em que subimos uma montanha, sentimos uma ligeira dificuldade
244 UNIUBE

de respirar que pode aumentar assim que continua-


Resfriamento
adiabático mos subindo. Também percebemos uma mudança
na temperatura: o clima se torna mais frio. Isso ocorre
Resfriamento
provocado pela porque o ar se expande em altitudes superiores,
ascensão e
expansão do ar. fenômeno denominado resfriamento adiabático.

Em locais em que a altitude chega a mais de 5000 metros, nos


trópicos, podemos observar até mesmo a ocorrência de neve. Regiões
montanhosas também podem influenciar os padrões de precipitação de
um local, pois, frequentemente, o ar úmido quando encontra regiões
montanhosas como barreira, é forçado a subir, resfriando e perdendo
sua umidade na forma de precipitação. Em consequência disso, regiões
que se encontram na porção oposta de elevações podem sofrer por
falta de chuva.

SAIBA MAIS

O Planalto da Borborema e o semiárido nordestino

O Planalto da Borborema se estende do sul de Alagoas até o Rio Grande


do Norte, apresentando altitudes que variam de 650 a 1000 metros.

Esse planalto representa uma grande barreira para as nuvens carregadas


de umidade vindas do Oceano Atlântico: ao se encontrarem com o
paredão, essas nuvens ascendem, resfriam e o ar úmido se condensa
provocando a precipitação nas encostas voltadas para o oceano (lado
oriental do planalto). O ar úmido não consegue ultrapassar o paredão e,
portanto, a porção ocidental do planalto, local onde se encontra o bioma
caatinga, é semiárido.

7.2.4 O clima tem papel significativo na formação dos solos

Certamente você já leu, em outros capítulos, que o clima e o tipo de


solo influenciam na distribuição da vegetação na superfície terrestre.
Pois bem, saiba que o clima local também pode influenciar na formação
e diversificação dos solos. Isso ocorre devido ao intemperismo que a
rocha matriz sofre.
UNIUBE 245

RELEMBRANDO

O intemperismo é a alteração física e química da rocha que pode ocorrer em


decorrência de desgastes provocados pelas águas das chuvas, pelo vento
ou por processos de congelamento e aquecimento que ocorre ao longo de
vários anos, além de outros fatores. O resultado é a fragmentação física
do material rochoso e alteração em sua estrutura química, que ocasiona
a formação de diferentes tipos de solo, que sustentarão diferentes tipos
de vegetação.

Portanto, a formação e distribuição de diferentes formas vegetais estão


intimamente associadas ao solo, pois é ele o responsável por fornecer
meio para fixação das plantas e a solução mineral nutritiva que elas
necessitam para se desenvolverem.

A ciência voltada ao estudo do solo é chamada pedologia ou edafologia,


e é de grande interesse para os agrônomos, geógrafos, geólogos e
também aos biólogos.

O solo é um ambiente natural cuja formação e composição são muito


complexas, e necessitam da interação de diversos fatores como o
clima, a composição do material de origem (rocha), topografia, ação de
organismos vivos e tempo geológico. Quanto à sua composição, o solo
é formado por uma parte mineral e outra orgânica. A parte mineral se
origina pela desagregação mecânica e decomposição química da rocha,
enquanto a parte orgânica é resultado do acúmulo e decomposição de
restos de animais e vegetais.

A atuação dos fatores de gênese do solo, em diferentes intensidades,


proporciona variações horizontais na composição do solo, e variações
em profundidade, dando origem aos chamados horizontes do solo
(O, A, B, C e R). Os horizontes variam quanto às propriedades físicas
e químicas, e agrupados, formam o perfil do solo.

Na Figura 5, vemos diferentes horizontes (O, A, B e C), formados, entre


outros fatores, pela influência do clima.
246 UNIUBE

Figura 5: Diferentes horizontes (O, A, B e C).


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Apesar de não estar representado no desenho, o horizonte R é formado


pela rocha matriz e está localizado logo abaixo do horizonte C.

Vejamos os horizontes:

• horizonte O: formado por matéria orgânica morta;


• horizonte A: é superficial e recebe intensa ação do clima; é rico
em matéria orgânica e minerais que, quando solúveis, são trans-
portados pela água para camadas mais profundas do solo;
• horizonte B: está abaixo do horizonte A e, portanto, recebe o
material mineral infiltrado desta camada;
• horizonte C: transição entre solo e rocha matriz. É formado
por fragmento de rocha;
• horizonte R: está localizado na região mais profunda. É a
rocha matriz que sofreu intemperismo para formar os demais
horizontes.

PESQUISANDO

Para saber mais sobre o solo, pesquise em materiais didáticos e cientí-


ficos sobre suas propriedades físicas e químicas, bem como os princi-
pais tipos de solos encontrados pelo planeta. Você irá se surpreender
com a diversidade e riqueza de solos existentes na superfície terrestre,
abrigando diversas formas de vida.
UNIUBE 247

7.3 A pluviosidade

A chuva não se distribui de forma igual por todas as zonas climáticas. A


presença de uma maior quantidade de água na superfície na forma de
rios, lagos e oceano, proporciona uma maior evaporação em comparação
aos locais onde a disponibilidade de água superficial é menos abundante.

Nas regiões costeiras, por exemplo, costuma chover mais do que nas
regiões continentais. Além da disponibilidade de água superficial, os
ventos também são responsáveis pela variação da quantidade de
chuva em diferentes regiões tropicais, pois são eles os responsáveis
por distribuir vapor de água pela atmosfera.

A precipitação pluviométrica tem grande influência na diversidade de


espécies no planeta. Ela pode ocorrer na forma de chuvas, neblinas,
garoas, geadas, neve etc.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Não é novidade que a água é indispensável à sobrevivência de qualquer


ser vivo. Porém, existe variação quanto à necessidade de água entre
os organismos. Quanto à exigência de água, plantas e animais podem
ser classificados em:

• hidrófitos e hidrófilos: são vegetais e animais, respectivamen-


te, que vivem em ambientes aquáticos. É o caso da vitória-régia
e de espécies de peixes, por exemplo;
• higrófitos e higrófilos: são vegetais e animais, respectivamen-
te, que necessitam de ambientes muito úmidos para sobrevive-
rem. Esses seres apresentam algumas modificações morfoló-
gicas e funcionais para sobreviverem no meio em que vivem:
as plantas apresentam folhas largas e finas sem mecanismos
de redução da transpiração e em períodos de estiagem podem
não resistir à falta de chuva. Entre os animais, as modificações
observadas incluem a ausência de mecanismos de proteção no
corpo para evitar perda de líquido, como pode ser observado
entre anelídeos, tal como as minhocas.
248 UNIUBE

• xerófitos e xerófilos: são plantas e animais, respectivamente,


que necessitam de pequenas quantidades de água para sobre-
viverem, e, portanto, suportam longo período de seca. Tal como
nos seres higrófitos e higrófilos, esses organismos também so-
freram modificações morfológicas e funcionais, mas neste caso,
para evitarem a perda de água, os vegetais apresentam redução
da superfície foliar e cobertura de ceras ou pelos. Os animais
apresentam pele espessa e cutícula resistente.
• Mesófitos e mesófilos: são plantas e animais, respectivamen-
te, que ocupam posição intermediária entre os higrófitos e higró-
filos, e xerófitos e xerófilos. Necessitam de um ambiente úmido
e sombreado para sobreviverem. Exemplo de plantas mesófitas
são as espécies do gênero Ficus sp., Philodendrom sp e Anthu-
rium sp.

7.3.1 Formação das chuvas

Para compreender melhor como se formam as chuvas, pense em uma


panela cheia de água. Na medida em que essa água é aquecida, ocorre
a evaporação. Quando esse vapor d’água sobe, ele sofre resfriamento, e
ao encontrar a tampa da panela, a água condensa-se, ou seja, formam-se
gotículas na superfície da tampa. Essas gotículas então caem, retornando
à panela.

É importante ressaltar que, para que a água da panela sofra condensação,


é necessária a presença de uma superfície, nesse caso foi a tampa da
panela. Se a panela estivesse sem tampa, dependendo da intensidade
da evaporação, provavelmente o vapor d’água utilizaria o teto da cozinha
como superfície para se condensar.

Portanto, para que ocorra a condensação da água e consequente


precipitação, a água necessita de uma superfície para se condensar.
Quando essa condensação ocorre no ar acima do solo, ou seja, na
atmosfera, é necessária a presença de núcleos de condensação, que
consistem em minúsculas partículas conhecidas como aerossóis (poeira,
cinzas, fuligem, entre outros).
UNIUBE 249

A ocorrência de chuvas se inicia com a formação de nuvens. As nuvens


são formadas por um conjunto visível de partículas minúsculas de água
em estado líquido ou em estado sólido (gelo), podendo também ser
formadas por água em ambos os estados físicos (líquido e sólido). Essas
gotículas ou cristais de gelo que compõem as nuvens são resultados da
evaporação da água da superfície terrestre, e o estado físico da água
depende da temperatura e da altitude das nuvens. Depois de formada, a
nuvem pode ser transportada pelo vento até locais de maiores altitudes,
sendo forçada a elevar-se. Ao subir, a nuvem sofre resfriamento e as
gotículas de água congelam-se total ou parcialmente.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), as nuvens


que estão acima de 6 quilômetros de altura (nuvens altas) apresentam
gotículas d’água em estado sólido; as nuvens que se encontram de 2 a
4 quilômetros na latitude polar, 2 a 7 quilômetros nas latitudes médias e
2 a 8 quilômetros na região equatorial, podem ser mistas (estado líquido
e sólido) ou líquidas; e as nuvens que se encontram em altitude de até
2 quilômetros são líquidas.

SAIBA MAIS

Durante os períodos mais quentes do ano, é comum a ocorrência de


tempestades e inclusive chuvas de granizo. Você sabe como as chuvas
de granizo são formadas?

Os altos índices de umidade combinados com as temperaturas elevadas


provocam a formação de nuvens de tempestade (cúmulo-nimbo). O interior
dessas nuvens é extremamente frio, podendo chegar a temperaturas de
até -80ºC, e turbulento, devido à ação de correntes de ar. A umidade que
evapora, ao atingir as temperaturas negativas, congela-se. Se esta nuvem
estiver carregada e baixa o suficiente para provocar uma precipitação, e
em decorrência do peso da água em estado sólido ser superior à água
em estado líquido, a chuva cai na forma de granizo.

Quando uma nuvem se forma, ela pode evoluir, tornando-se cada vez
maior ou pode se dissipar. A dissipação ocorre quando a nuvem sofre
um aquecimento e em decorrência disso o vapor d’água evapora.
250 UNIUBE

O aquecimento da nuvem pode ocorrer em consequência do encontro


da nuvem com uma massa de ar mais aquecida, por exemplo.

As nuvens podem ser classificadas de acordo com o seu aspecto


(dimensão, forma, estrutura, textura, luminescência e cor) em:

Estratiformes: tem desenvolvimento horizontal, cobrindo uma grande


área; apresentam pouca espessura e a precipitação originária desse
tipo de nuvem tem caráter leve e contínuo.

Cumuliformes: geralmente surgem isoladas e apresentam desenvolvi-


mento vertical em grande extensão. A precipitação provocada por esse
tipo de nuvem é forte, ocorrendo na forma de pancadas isoladas.

7.3.2 Tipos de nuvens

As nuvens de aspecto estratiformes e cumuliformes podem dar origem


a diferentes tipos de nuvens (Figura 6):

Figura 6: Esquema mostrando tipos de nuvens.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Vejamos a explicação sobre cada uma:

• Cirro: esse tipo de nuvem tem aspecto delicado, podendo ser


sedoso ou fibroso e sua cor é branca. Geralmente é associado
a tempo agradável, podendo provocar chuviscos;
UNIUBE 251

• Cirro-cúmulo: tem aspecto delgado e é composta por peque-


nos elementos em forma de grânulos;

• Cirro-estrato: é uma nuvem de aspecto fino, transparente,


sendo incapaz de cobrir o Sol;

• Alto-estrato: apresenta-se como camadas cinzentas, é capaz


de encobrir o Sol e a precipitação provocada por esse tipo de
nuvem tem caráter leve e contínuo;

• Alto-cúmulo: apresenta-se como camadas de nuvens bran-


cas ou cinzentas, podendo gerar sombras próprias;

• Estrato: esse tipo de nuvem se apresenta em camadas uni-


formes e suaves, de cor cinza e em baixas altitudes. Produz o
chuvisco conhecido como garoa;

• Estrato-cúmulo: essa nuvem apresenta-se como um lençol


contínuo, de cor cinza ou esbranquiçada com a presença de
algumas partes mais escuras;

• Nimbo-estrato: apresenta aspecto amorfo, ou seja, sem forma;


geralmente é muito espessa e de cor escura; a precipitação pro-
duzida por esse tipo de nuvem tem caráter intermitente e com
alguma intensidade;

• Cúmulo: apresenta contornos bem definidos e está associada


às chuvas orográficas e convectivas, cujos aspectos serão mais
bem detalhados ao longo do capítulo;

• Cúmulo-nimbo: tem como característica a formação de nu-


vens com trovoadas; está localizada em altas altitudes, por
isso são formadas por cristais de gelo, flocos de neve, granizo
e água em estado líquido.

Vejamos as fotos de algumas delas (Figura 7):


252 UNIUBE

Figura 7: Quatro diferentes tipos de nuvens.

7.3.3 Tipos de chuvas

A água que evapora da superfície terrestre se condensa em partículas


aerossóis, formando as nuvens. Se as gotículas de água forem grandes
o suficiente, elas cairão na forma de chuva.

As chuvas são classificadas em três tipos:

• frontais: são originadas pelo choque entre frentes frias contra


frentes quentes e vice-versa. Abrangem grandes áreas, geral-
mente são de forte intensidade, ocorrem de forma intermitente,
apenas com breves intervalos de estiagem. É acompanhada
de descargas elétricas fortes.
• convectivas: são chuvas formadas pela ascensão e resfria-
mento de massas de ar quente e úmido. O resfriamento provo-
ca condensação de vapor d’água e, consequentemente, ocorre
a precipitação. Geralmente são chuvas de muita intensidade,
mas de curta duração. Abrangem pequena área e, frequente-
mente, são acompanhadas de descargas elétricas.
• Orográficas: ocorrem quando uma massa de ar úmida encon-
tra-se com uma elevação natural do terreno, como por exem-
plo, uma montanha, e é forçada a elevar-se.
UNIUBE 253

A Figura 8, a seguir, é um esquema de chuva orográfica. Após a precipi-


tação, a nuvem que ultrapassa a elevação está seca e, portanto, não
ocorre precipitação na encosta a sotavento.

Figura 8: Esquema de chuva orográfica.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Nesse processo, a massa de ar resfria-se e o vapor d’água se condensa,


ocorrendo a precipitação (Figura 8). Esse tipo de chuva é caracterizado
por baixa intensidade e longa duração, podendo ocorrer precipitação
por horas sem interrupção. Geralmente não são acompanhadas de
descargas elétricas.

7.3.4 Medição das chuvas

Um dos aparelhos mais utilizados para a medição das chuvas é o


pluviômetro. Com esse aparelho, é possível medir a quantidade de
chuva ocorrida no decorrer de um período. Para isso, basta dividir a
altura total da lâmina de água marcada no pluviômetro pela duração
da precipitação, que consiste no tempo durante o qual a chuva cai. Por
exemplo: se em um dia, durante o período de uma hora a lâmina de água
no pluviômetro alcançou quinze milímetros, dizemos que a quantidade
de chuva é de 15 mm/h.
254 UNIUBE

EXPERIMENTANDO
Construindo um pluviômetro

Construir um pluviômetro é muito simples e você pode fazê-lo em sua


casa. Para isso, basta ter em mãos:

• uma garrafa PET;


• cimento;
• tesoura;
• uma régua graduada;
• uma ripa de madeira de, aproximadamente, 1,5 metros;
• prego;
• martelo e
• cola quente.

Os passos para a construção do pluviômetro são:

1º) corte a parte superior da garrafa pet e reserve-a;


2º) como a garrafa possui fundo irregular, preencha o fundo da
garrafa com cimento até um pouco acima da linha que separa
a curvatura da base da parte lisa. A superfície do cimento
deve ficar plana. Espere o cimento secar por alguns dias;
3°) cole a régua graduada na parte de fora da garrafa pet. Para
isso você pode utilizar cola quente ou cola de secagem rápida.
A régua deve ser colada invertida, ou seja, o número zero
deverá ficar voltado para o fundo da garrafa (rente à superfície
de cimento utilizada para preencher o fundo da garrafa);
4º) coloque a parte superior que foi cortada da garrafa de forma
invertida na superfície aberta do pluviômetro, formando um
funil;
5º) fixe a garrafa pet na ripa de madeira utilizando prego e martelo;
6º) Finque a ripa de madeira a mais ou menos meio metro de
profundidade em terreno aberto, de modo que o pluviômetro
fique há cerca de 1,5 m do chão.

Se você não possui um local com terra para a fixação da ripa, pode
utilizar latão de tinta preenchido com terra e brita ou cascalho, de
tal forma que a ripa fique seguramente fixa. O pluviômetro deve ser
colocado em local aberto.

Agora, você já tem o seu próprio pluviômetro! Lembre-se: para fazer


o cálculo, basta dividir a altura total da lâmina de água marcada no
pluviômetro pela duração da precipitação, que consiste no tempo
UNIUBE 255

durante o qual a chuva cai. Utilizando uma garrafa PET de refrigerante,


cada milímetro de água marcado na régua indica que caiu um litro de
água por metro quadrado.

Faça você mesmo o cálculo da precipitação ocorrida durante um mês.


Para isso, basta somar a quantidade de precipitação diária medida no
pluviômetro durante todo o mês e calcular.

Você também pode ir mais além: faça a medição da quantidade de


chuva ocorrida durante o ano todo. Assim, você poderá ver na prática
quais os meses de maiores índices pluviométricos.

7.4 Frentes frias e frentes quentes

É comum, nos dias quentes de verão, mudanças repentinas no tempo: o


céu ensolarado e quase sem nuvens é tomado por uma imensa nuvem
negra, e o dia passa de ensolarado a nublado, em instantes. Essas
mudanças no tempo ocorrem quando uma massa de ar choca-se com
outra ou a substitui em uma região chamada frente, que é a fronteira
entre duas massas de ar com temperaturas e densidades diferentes.

A frente quente é uma fronteira entre uma massa de ar quente, menos


densa, que se desloca para cima da massa de ar fria (Figura 9). Nesse
deslocamento, a umidade da massa de ar quente se condensa, e se essa
massa de ar for úmida o suficiente, ocorrerá a precipitação. Geralmente,
o dia fica nublado e ocorrem chuviscos.

Figura 9: Frente quente.


256 UNIUBE

A parte dianteira de uma massa de ar fria é denominada frente fria.


Essa massa de ar por ser mais densa, é empurrada para baixo da massa
de ar quente, se posicionando próxima ao solo (Figura 10). A frente fria
provoca ventos fortes e tempestades com trovoadas.

Figura 10: Frente fria.

De acordo com a Figura 10, vemos que a frente fria é empurrada para
baixo da massa de ar quente e se posiciona próximo ao solo. O ar quente,
que se posiciona acima do ar frio, se resfria e ocorre a precipitação.

SAIBA MAIS

Você já deve ter ouvido alguém dizer que o tempo mudou repentinamente
ou que o clima em determinada região é frio. Afinal, você sabe dizer a
diferença entre tempo e clima?

Quando nos referimos ao tempo estamos falando sobre o conjunto de


condições e fenômenos atmosféricos ocorridos em um local restrito, em
determinado intervalo de tempo (algumas horas ou dias, por exemplo).

Já o clima é um padrão de diversos elementos atmosféricos (chuva,


temperatura, vento, entre outros) medidos por um período de tempo mais
longo (vários meses ou anos).

Portanto, o tempo hoje está nublado, porque o clima nesta época do ano
é quente e úmido.
UNIUBE 257

7.5 Eventos climáticos extremos

Provavelmente, você já viu nos noticiários as catástrofes provocadas


por tornados e ciclones tropicais, como o ciclone tropical Katrina, que
atingiu New Orleans nos Estados Unidos, em 2005, provocando destrui-
ção e mortes.

Os tornados e ciclones tropicais são considerados eventos climáticos


extremos, capazes de provocar grandes destruições por onde passam.

Os tornados se formam sobre a terra, quando uma frente de ar frio e


seco descendente se choca e interage com uma massa de ar quente
ascendente, formando um redemoinho de ar. Eles podem ocorrer em
qualquer lugar, provocando ventos extremamente fortes, porém, é de
curta duração, muitas vezes não ultrapassando alguns minutos.

EXPLICANDO MELHOR

Uma massa de ar quente e úmida geralmente não se mistura com outra


massa de ar fria e seca. Quando elas se encontram vindas de direções
opostas e com alta velocidade, o ar quente e úmido é lançado para cima
e se condensa, dando origem a uma tempestade.

Quando essas duas massas de ar se chocam, elas começam a girar para


perder velocidade, e por isso forma-se um funil que chega até o chão no
centro da tempestade, onde a rotação das massas de ar é mais intensa.
Fonte: Pinto (2000).

Os ciclones tropicais (também conhecidos como furacões e tufões) só


se formam sobre os mares tropicais quentes quando ocorre a formação
de células de ar de baixa pressão.

Baixas pressões são resultado da elevação do ar quente que, ao subir,


tem seu vapor de água condensado, o que pode provocar chuva, neve
ou tempestade. Por isso, baixa pressão geralmente significa mau tempo.
258 UNIUBE

Portanto, os ciclones só terão atividade sobre os oceanos, pois precisam


da água quente em evaporação para lhe fornecer energia.

Convencionalmente, chamamos de furacões, os ciclones tropicais que


se formam no Oceano Atlântico e tufões são os ciclones que se formam
sobre o Oceano Pacífico.

EXPLICANDO MELHOR

Furacões, como o Catarina que atingiu o Sul do Brasil, originam-


-se sobre mares e oceanos muito quentes. Acima desses mares,
formam-se massas de ar quente que podem se tornar tão grandes
e compactas que passam a sofrer a influência do movimento de ro-
tação do planeta. A condensação em altas altitudes da água quente
dos oceanos que evapora é responsável pela forte tempestade que
acompanha um ciclone, e o movimento de rotação do planeta pro-
voca o redemoinho observado nos furacões.
O ar permanece em movimento até que atinja uma altura elevada
o suficiente para que se resfrie, saindo do furacão. A velocidade de
rotação do vento é maior quanto mais próximo do centro.
Os furacões podem durar dias, com ventos cuja velocidade atinge
120 km/h.
Fonte: Pinto (2000).

7.6 As estações do ano

Não é novidade para ninguém que, durante o ano, existem quatro


estações: primavera, verão, outono e inverno. Mas você já parou para
se perguntar por que ocorrem as estações do ano? Sabe quando começa
e termina cada uma delas?

As estações do ano ocorrem devido a dois fatores


Translação
associados: ao movimento de translação e à
Movimento que a inclinação da Terra em seu próprio eixo. Esses dois
Terra realiza ao
redor do Sol. fatores combinados provocam uma mudança no
ângulo de incidência dos raios solares.
UNIUBE 259

Nos equinócios (outono e primavera), os


Equinócio
hemisférios norte e sul do planeta estão
Momento do ano
igualmente iluminados. No início de cada uma em que a duração
do dia é igual à da
dessas estações (21 de março e 23 de setembro, noite. Ocorre no
respectivamente, no hemisfério Sul) o dia e a noite início do outono e
da primavera.
têm exatamente 12 horas cada um.

Nos solstícios (inverno e verão) o eixo de


Solstício
inclinação da Terra muda: quando o polo sul
Momento em que o
inclina em direção ao Sol, os raios solares incidem Sol atinge um maior
declínio em latitude e
mais no hemisfério sul e menos no hemisfério por isso, nos dias de
norte. Sendo assim, no hemisfério sul é verão e solstícios de verão
(21 de dezembro no
no hemisfério norte é inverno. Quando o oposto hemisfério sul) o dia
é o mais longo do
ocorre, e o polo norte é que tem sua inclinação ano e no solstício de
inverno (21 de junho
voltada para o Sol, é verão no hemisfério norte e no hemisfério sul) a
inverno no hemisfério sul. duração da noite é a
mais longa do ano.

Próximo ao Equador, onde o ângulo formado pelo Sol é menor, ocorre


uma boa incidência de raios solares o ano todo, não ocorrendo muitas
oscilações de temperatura. Sendo assim, faz calor o ano todo e o inverno é
caracterizado por uma leve queda na temperatura. O verão no hemisfério
Sul tem seu início em 21 de dezembro e o inverno inicia-se em 21 de junho.

A Figura 11 é um esquema que mostra a posição da Terra com relação


ao Sol nos solstícios e equinócios:
260 UNIUBE

Figura 11: Posição da Terra com relação ao Sol nos solstícios


e equinócios.
Fonte: Acervo EAD - Uniube

As características de cada estação do ano, de certa forma, influenciam


na distribuição dos seres vivos no planeta. Na primavera, por exemplo,
que é uma época de florescimento de algumas espécies de planta, os
polinizadores são atraídos para determinadas regiões.

SAIBA MAIS

É muito comum que professores de Ciências e mesmo alguns livros


didáticos abordem alguns temas relativos ao ensino das estações do ano
de forma errônea! Um erro muito cometido pelos professores refere-se às
características de cada estação do ano: é corriqueiro dizer que o verão é
a estação mais quente do ano e o inverno a mais fria; que a primavera é
a estação das flores e que no outono as folhas das árvores caem.

Na verdade, o padrão de estação do ano bem definida se aplica a países


do hemisfério norte, portanto, não é correto que essas informações sejam
também aplicadas ao Brasil!

Em algumas regiões do Brasil, por exemplo, os termômetros marcam


altas temperaturas durante o inverno e algumas árvores, entre elas o ipê
amarelo, florescem durante esta estação.

No inverno das regiões temperadas, muitos animais hibernam, reduzindo


suas atividades, e só voltam a frequentar seu antigo ambiente com a
UNIUBE 261

chegada da primavera, quando o clima se torna mais ameno. O mesmo


ocorre com a vegetação, que morre encoberta pelo gelo e só volta a
germinar quando a camada de gelo derrete.

PESQUISANDO

Podemos dizer, em geral, que o clima no inverno é frio e seco e no verão


é quente e úmido. Entretanto, é difícil prever como estará o tempo em
um período particular, pois ele pode variar em períodos de horas ou
dias devido a alguns fenômenos atmosféricos, como por exemplo, a
passagem de uma frente fria.

Eventos que não são característicos de determinada estação do ano


também podem ocorrer. É o caso do veranico, um período de estiagem
que dura alguns dias e ocorre em plena estação chuvosa do verão.

Vale a pena consultar em livros e sites, quais são as causas do fenômeno


veranico e como ele afeta a fauna, a flora e a vida do homem nos locais
em que ocorrem!

7.7 Os ambientes aquáticos

Os ambientes aquáticos encontram-se espalhados pelas mais diversas


regiões do planeta. Cerca de 70% de nosso planeta é formado por água.
Com essa informação, é possível imaginar a diversidade de espécies
animais e vegetais que esses ambientes abrigam, inclusive, há, ainda,
muitas formas desconhecidas para nós.

A água começou a se acumular na superfície terrestre a partir do resfria-


mento da crosta, provocado pelo constante regime de chuva ao qual
ela foi submetida.

Os ambientes aquáticos, assim como os ambientes terrestres, também


sofrem classificação, porém, eles não são classificados de acordo com
o tipo de vegetação que exibem, tal como os ambientes terrestres.
262 UNIUBE

Sua classificação está ligada às suas características físicas como


profundidade, salinidade e movimento de água (RICKLEFS, 2003).

De acordo com essas características, os ambientes aquáticos são


classificados em lagos, águas correntes, estuários e oceanos.

7.7.1 Lagos

Os lagos se formam em locais onde existem depressões. Muitos


pesquisadores acreditam que os lagos se formaram a partir de glaciações.
Nessa perspectiva, o gelo, ao derreter, esculpe a superfície, formando
cavidades e preenche esses locais com água.

Os lagos são divididos em regiões, de acordo com sua extensão e


profundidade, cada uma com características próprias:

• zona litoral é o local que apresenta vegetação que margeia os


lagos; representa a parte rasa;
• zona limnética é a área que vai além da margem, onde ocorre
a presença de algas flutuantes e algumas espécies de animais
planctônicos;
• zona bentônica fica em maiores profundidades, onde sedimen-
tos são depositados. Abriga espécies de animais cavadores, mi-
crorganismos e poucas espécies vegetais, uma vez que pouca
luz penetra nessas profundidades.

7.7.2 Águas correntes

As águas correntes são formadas a partir da precipitação que se acumula


em locais onde a taxa de acúmulo de água excede a taxa de evaporação.
Essa água pode formar pequenas correntes denominadas rifles, que
transportam materiais como folhas e galhos e são bem oxigenadas.
UNIUBE 263

O local onde a água corrente se acumula é denominada poça, e,


geralmente, é o local onde a matéria orgânica transportada pelos rifles
se acumula.

7.7.3 Estuários

Os estuários geralmente são áreas rasas de deposição de sedimento,


localizados na porção final de rios, onde estes deságuam no mar, e como
consequência, as águas doce e salgada se misturam nessa região. Os
estuários são ricos em matéria orgânica e nutrientes, portanto, abrigam
uma biodiversidade grande de espécies estuarinas e marinhas.

7.7.4 Oceanos

A maior parte da superfície de nosso planeta é formada por oceanos.


A luz penetra até, aproximadamente, 180 metros de profundidade. Até
1200 metros ainda é possível encontrar traços de luminosidade, porém,
abaixo dessa profundidade, o ambiente é totalmente escuro.

Os oceanos possuem uma diversidade muito grande de ambientes


marinhos, que é consequência da profundidade, temperatura, das
correntes, do substrato e das marés (RICKLEFS, 2003).

De acordo com a profundidade e extensão, os oceanos podem ser


divididos em ambientes:

1) pelágico: é o ambiente de alto mar; representa as águas abertas do


oceano. Subdivide-se em:

• nerítico: são águas abertas que se encontram sobre as


plataformas continentais;
264 UNIUBE

• oceânico: são águas abertas que estão sobre as bacias


oceânicas. São divididas verticalmente em:

A) zona epipelágica: é a camada localizada na


Produção primária
superfície dos oceanos. É o local onde ocorre a
Produção de matéria
orgânica a partir
produção primária, pois consiste em uma área
de compostos bem iluminada, habitada por diversas espécies
inorgânicos, realizada
pelos organismos de plantas e animais. Possui profundidade de
autótrofos.
até 200 metros e também é conhecido como
Zona fótica
zona fótica;

Região de um corpo
d’água que recebe B) zona mesopelágica: é uma zona afótica
iluminação solar
suficiente para que cuja profundidade varia de 200 a 1000 metros.
a produção primária
ocorra.
Apresenta poucas espécies animais e as plantas
são ausentes;
Zona afótica
Região de um corpo
d’água onde não
ocorre iluminação
C) zona batipelágica: também é uma zona afótica
direta da luz solar. que abrange 1000 a 3000 metros; possui poucos
animais, com olhos pequenos;

D) zona abissopelágica: a profundidade dessa zona afótica varia de


3000 a 6000 metros. Apresenta poucas espécies animais, de cor pálida
e com olhos pequenos ou mesmo ausentes;

E) zona hadalpelágica: apresenta profundidade de 6000 a 10000 metros


(em média, pois acredita-se que as maiores valas oceânicas podem
ultrapassar os 11000 metros de profundidade). Representa a área de
valas oceânicas. Nesse ambiente é possível encontrar bactérias e alguns
animais com olhos ausentes e bioluminescência.

À medida que se avança em profundidade, as formas de vida começam


a se tornar mais escassas e com adaptações fisiológicas necessárias
para viverem em um ambiente com poucos recursos e luminosidade.
UNIUBE 265

Veja a Figura 12:

Figura 12: Desenho esquematizando as divisões das zonas verticais


oceânicas.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

De acordo com a Figura 12, temos a divisão vertical da região oceânica:


zona epipelágica ou zona fótica; zona mesopelágica; zona batipelágica;
zona abissopelágica e, por último, a zona hadalpelágica.

2) Bêntico: representa o fundo do oceano. Divide-se, horizontalmente,


em:

• litoral: vai da região da maré mais alta à maré mais baixa.


Apresenta muitas espécies de animais e vegetais;
• sublitoral: abrange a área de maré baixa até a extremidade da
plataforma continental. Possui vida animal em abundância e a
presença de bancos de algas;
• batial: é uma área de declive continental que está situada
abaixo da zona batipelágica;
• abissal: abrange a camada superior das valas oceânicas;
• hadal: representa o fundo das valas oceânicas.

O ambiente pelágico corresponde à área de oceano aberto e


o bêntico seria o fundo do oceano, que acompanha a costa
(pela superfície).

O ambiente bêntico não foi esquematizado na figura.


266 UNIUBE

Compreender como ocorre a distribuição dos seres vivos no planeta é


uma tarefa complexa, que envolve o conhecimento acerca do passado
evolutivo da Terra e compreensão de como os elementos ambientais,
tanto os fatores abióticos como os bióticos influenciam essa distribuição.

Eventos climáticos moldaram, e vêm transformando, a cada dia, o padrão


de distribuição dos seres vivos.

A análise da dinâmica climática é de extrema importância para propor


explicações sobre o padrão atual de distribuição dos organismos, pois
ela condiciona o aparecimento de determinados tipos de vegetação,
atuando inclusive, na formação dos solos.

Esperamos ter contribuído e alcançado os objetivos deste capítulo.


Entretanto, sempre que possível, continue ampliando seus conhecimentos
sobre os elementos ambientais e sua influência na distribuição dos seres
vivos, por meio da busca de informações complementares em outros
materiais didáticos e fontes de pesquisa.

Resumo
Neste capítulo, vimos que, assim como o passado geológico da Terra,
as atuais relações dos seres vivos com elementos bióticos e abióticos
do ambiente influenciam no padrão de distribuição das espécies.

Um dos fatores abióticos envolvidos na distribuição dos seres vivos é


o clima: a intensidade da radiação solar, influenciada pela latitude, a
umidade atmosférica, as correntes de água e a redistribuição do calor
criam zonas climáticas na Terra. Os diferentes tipos de clima abrigam
diferentes biomas com diversidade de espécies animais e vegetais.

A pluviosidade e as mudanças ambientais locais, também podem


modificar a distribuição dos seres vivos e criar diversidades: a topografia
pode alterar o microclima de uma região e alterar a disponibilidade de
UNIUBE 267

chuva, diferentes condições climáticas combinadas com diferentes tipos


de rochas promovem uma variedade de tipos de solos que condiciona
o aparecimento de biodiversidade de vegetação e espécies animais.

A distribuição de seres vivos em ambientes aquáticos também sofre


influência de fatores abióticos, como a profundidade e condição de
salinidade de um corpo d’água. Esses fatores criam diferentes zonas que
são habitat de uma grande diversidade de espécies animais e algumas
podem abrigar espécies vegetais.

Atividades

Atividade 1

Se você percorrer uma vasta extensão de um único bioma, certamente


perceberá que uma variedade de formas de vida pode ser encontrada.
Ecossistemas distintos, com diferentes tipos de vegetação, dividem
o mesmo espaço geográfico e, consequentemente, a mesma zona
climática. Se analisarmos a fitofisionomia da Amazônia, por exemplo,
veremos que apesar de estar localizada em região de clima equatorial,
quente e úmido, é possível encontrar vegetação típica de matas de terra
firme, várzeas e até cerrado. Pensando nisso, responda:

a) como explicar a presença de formas de vida tão diferentes vivendo


em um mesmo bioma?

b)
suponhamos que dentro desse bioma existisse uma região
montanhosa com altitude superior a 4000 metros. Nesse caso, à
medida que caminhássemos rumo ao topo, perceberíamos que a
vegetação sofreria modificações. Poderíamos até mesmo encontrar
espécies vegetais típicas de climas mais amenos (subtropicais)
vivendo no local. Explique como isso é possível.
268 UNIUBE

Atividade 2

Os seres vivos estão constantemente submetidos a fatores ambientais,


sejam eles favoráveis ou adversos, que podem garantir a sobrevivência de
um organismo ou levá-lo à extinção. Teoricamente, esses fatores podem
ser classificados em três ordens distintas: biótica (ou social), química
e física. Cite, ao menos, um fator ambiental de cada ordem e explique
como ele influencia na distribuição dos seres vivos em um ecossistema.

Atividade 3

O Planalto da Borborema é uma região montanhosa localizada no


interior do nordeste brasileiro. Ele separa dois ecossistemas diferentes:
de um lado, são encontradas matas exuberantes, ligadas à ocorrência
de chuvas. Do outro lado, está localizado o agreste brasileiro, região
semiárida, com chuvas escassas. A partir de seus conhecimentos sobre
a formação das chuvas e os tipos de chuvas existentes, explique como
é possível essa diferença entre os ecossistemas.

Referências
MILLER JR, G. T. Ciência ambiental. 11. ed. São Paulo: Thomson Pioneira, 2006.

PINTO, Romeu Pereira. Qual é a diferença entre tornado, tufão, ciclone e


furacão? Superinteressante, dez. de 2000. Disponível em <http://super.abril.com.
br/tecnologia/qual-diferenca-tornado-tufao-ciclone-furacao-441799.shtml>.
Acesso em 14 dez. 2011.

RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan. Rio de Janeiro, 2003.

STORER, T. I.; USINGER, R. L.; STEBBINS, R.C.; NYBAKKEN, J. W. Zoologia


Geral. 6. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

TROPPMAIR, H.; CAMARGO, J. C. G. A evolução da biogeografia no âmbito


da ciência geográfica no Brasil. Revista Geografia. V. 27. (2002).
Capítulo
8 As chaves da vida

Ricardo Baratella

Introdução

Imagine, neste momento, a Terra, nosso abrigo de notável


biodiversidade, com milhões de organismos, vivendo nos mais
variados habitats, e que você, um(a) pesquisador(a) sobre a
origem e evolução das espécies, esteja ávido(a) para transmitir
seus conhecimentos e experiências do mundo antigo. Para
começar essa nossa viagem e as reflexões sobre a evolução
dos seres vivos, eu gostaria de saber se você, neste momento
de sua leitura, já está apto(a) para responder, com precisão, os
seguintes questionamentos:

• o que é evolução?

• o que Charles Darwin descobriu em suas pesquisas?

• a evolução é uma teoria ou uma lei natural?

Antes de tentar responder a esses questionamentos, observe a


Figura 1, a seguir:
270 UNIUBE

Figura 1: Plantas e animais pioneiros na colonização da Terra.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Os primeiros artrópodes terrestres (Figura 1) foram os miriápodes e


escorpiões que surgiram no período Siluriano. No período seguinte,
o Devoniano, apareceram insetos sem asas e, no Carbonífero,
os insetos alados.

Agora, veja o que Frota-Pessoa (2001, p.182-183) afirma em seu


livro Os caminhos da vida:

os miriápodes e os insetos têm em comum


cabeça bem diferenciada, antenas e mandíbu-
las. A anatomia comparada sugere, portan-
to, que os insetos surgiram de um miriápode
primitivo, que sofreu redução do número de
patas. Isso indica que os primeiros insetos
eram apterigotos (sem asas), como as
traças de livros atuais (tisanuros). Os insetos
alados desenvolveram-se a partir dos que não
tinham asas. Um grande passo evolutivo se
seguiu: o aparecimento das asas não articu-
ladas que só se movem perpendicularmente
ao corpo e, portanto, ficam estendidas para
cima ou para os lados, mesmo quando o
animal está pousado, como na ordem dos
Odonata (libélulas). Deles provieram os
insetos de asas articuladas, que cobrem o
abdome na posição de repouso. Assim, a
UNIUBE 271

anatomia comparada ajuda a reconstruir, em


traços gerais, a evolução dos insetos quanto
à ausência ou à presença de asas.

Você conhece outros animais em que a anatomia comparada


ajuda a reconstruir a evolução de uma espécie? Pesquise, verifi-
que e analise essas informações! Não é tão difícil descobrir um
animal desconhecido.

Existem na Terra milhões de formas de vidas diferentes. Não é


verdade? Como explicar essa diversidade?

A diversidade e a evolução se manifestam, sob vários aspectos


no mundo vivo, como na estrutura, na composição química, na
natureza dos processos vitais, no desenvolvimento embrionário,
na maneira pela qual os animais e vegetais estão distribuídos na
Terra e adaptados a diferentes ambientes, na classificação dos
seres vivos e nos restos de organismos preservados como fósseis.

Para você ter uma ideia, o National Museum of Natural History, de


Washington, procede ao inventário de 60 milhões de espécimes
(arqueológicos, paleontológicos, zoológicos e botânicos), com a
adoção de processamento automático de dados, objetivando um
registro total da coleção em computador. É preciso que se repita:
60 milhões de espécies, só nessa instituição! Pouco menos de 380
cientistas e pesquisadores associados militam ali (PAPAVERO,1994).

Imagine uma floresta tropical da América do Sul. Agora, imagine-se


explorando essa floresta, revirando os troncos caídos, espiando
atrás das cascas de árvores, procurando uma camada úmida de
folhas mortas. Quando a encontra, já é noite. Então, acende uma
lanterna e clareia o que está debaixo da camada: certamente, você
conseguirá observar centenas de animais diferentes, a variedade
será enorme, e é quase certo que algum desses animais não
tenha sido catalogado pelos cientistas!
272 UNIUBE

Como todos os conceitos importantes da ciência, a evolução


gera controvérsia; já que tem sido usada como uma base ou
fundamento intelectual para pontos de vista filosóficos, históricos,
éticos, morais ou sociais.

Você sabia que um dos obstáculos encontrados pelos primeiros


evolucionistas foi o desconhecimento dos princípios genéticos?

Além disso, a evolução não pode ser estudada experimentalmente


em laboratório. A evolução processa-se de maneira mais
perceptível quando o homem seleciona as características que
deseja estudar e promove a sua fixação, cruzando e recruzando
os indivíduos que as possuem, pois, para que ocorra alguma
mudança em uma espécie, são necessárias muitas gerações e
condições especiais, o que torna muito difícil detectá-las.

Você já conseguiu responder o que vem a ser evolução?


Você seria capaz de explicar por que a evolução afeta,
por extensão, quase todos os outros campos do conheci-
mento?

A evolução não consegue explicar o que está ocorrendo no


presente e nem prever o futuro. Por este motivo, a evolução - as
modificações das espécies ao longo do tempo - procura explicar
as relações de parentesco entre os seres vivos. Nesse contexto,
também temos uma contrapartida: o que aconteceu no passado
de uma espécie, ou de um grupo de espécies que resultaram
nos seres vivos atuais?

Com o termo evolução, entendemos o tipo de mudança para o


qual comumente usamos a palavra desenvolvimento. A evolução
orgânica corresponde ao desenvolvimento do organismo desde
UNIUBE 273

o ovo até a fase adulta (ontogênese), senectude e morte. Essa


subdivisão da evolução trata das mudanças sofridas pelos
seres vivos. A sucessão de etapas por que passaram os seres
vivos, desde a instalação da vida na Terra, com os primeiros
seres unicelulares, até a situação atual, com um imenso número
de espécies e tipos já extintos, denominamos evolução das
espécies.

O processo de evolução é, provavelmente, a área mais polêmica


dos estudos biológicos. Entender a grande diversidade dos seres
vivos e a origem da própria espécie é uma preocupação comum às
pessoas, o que faz com que muitos tenham suas próprias ideias
a respeito do assunto, ideias essas baseadas em convicções
erradas sob o ponto de vista biológico. Quando falamos da
evolução do Sistema Solar, da evolução da Terra, da evolução dos
computadores e da evolução dos aviões, estamos nos referindo
às transformações ocorridas no Sistema Solar, na Terra, nos
computadores e nos aviões, respectivamente. Entretanto, para
se entender o processo evolutivo, é preciso ter uma visão real da
diversidade dos seres vivos, e conhecer os mecanismos genéticos
que atuam no processo e a ação do meio ambiente sobre as
populações.

Segundo Futuyma (2003), é importante ter em mente que nem


toda a evolução consiste no desenvolvimento de adaptações
por meio de seleção natural; muitos outros fatores, incluindo o
acaso, influenciam a evolução. Mas, mesmo que restrinjamos
nossa atenção à evolução por meio da seleção natural, existem
numerosos fatores seletivos, além daqueles impostos pelo mundo
ecológico externo.
274 UNIUBE

Você já estudou que o ambiente ecológico


inclui tanto fatores bióticos quanto abióti-
Patogênicos
cos. O clima, salinidade, tipo de solo,
(Do grego
pathos, ‘doença’, disponibilidade de água e outras caracte-
‘sofrimento’; rísticas físicas e químicas são importan-
genesis, ‘origem’;
+ suf. ico, ‘próprio tes. Outras espécies também, incluindo
de’). Que produz
doença. presas, predadores, agentes patogêni-
cos, competidores e mutualistas, são parte
importante do ambiente de cada espécie.

Além disso, outros membros da espécie, com os quais o indivíduo


pode acasalar, competir por recursos ou parceiros reprodutivos, ou
interagir em vários contextos sociais são, também, peças importan-
tes de seu ambiente. Desse modo, as propriedades da população,
tais como densidade, proporção sexual ou composição genética
podem se impor de modo decisivo sobre as perspectivas de cada
indivíduo de sobreviver e de se reproduzir (FUTUYMA, 2003).

Com milênios de existência, a ideia de que um criador sobrenatural


teria sido o responsável pela variedade de organismos espalhados
pela Terra - o criacionismo - chegou ao paroxismo em 1802,
quando o teólogo inglês William Paley escreveu a teoria do
relojoeiro. Segundo ele, ao encontrar um relógio no chão,
imediatamente pensaríamos que aquilo não era produzido
por processos naturais, mas sim por um criador, assim como
as espécies. Portanto, para William Paley, a complexidade e a
organização dos seres vivos era uma evidência da existência
de um criador, o que simboliza uma analogia ao fato de que
a existência de um relógio leva a confiar na existência de um
relojoeiro (ser humano). Para muitos, isso era argumento suficiente
para explicar a criação! E assim foi pelo menos até 1859, ano
em que o naturalista inglês Charles Darwin publicou A origem
das espécies, defendendo que a evolução era a resposta mais
inteligente para explicar o design da natureza.
UNIUBE 275

Por que demorou tanto para aparecer um Darwin? O que explica


a demora da humanidade para atinar com essa ideia simples que
parece, superficialmente, tão mais fácil de entender do que as
ideias matemáticas legadas por Newton dois séculos antes, ou
mesmo as de Arquimedes, dois milênios antes? Muitas respostas
foram sugeridas. Talvez as mentes se intimidassem com a
imensidão de tempo necessário para ocorrência de mudança ─
com a disparidade entre o que chamamos de tempo geológico
profundo e o tempo de vida e da compreensão da pessoa que
tentava entender (DAWKINS, 2009).

O relógio simboliza a importância que damos às horas e aos


minutos. O tempo geológico, embora muito mais difícil de ser
medido, é essencial para o entendimento da evolução biológica.

Richard Dawkins (2009, p.310) escreveu em seu livro O maior


espetáculo da Terra:

o relógio molecular supõe que a evolução


é verdade e que ocorre a um ritmo
suficientemente constante por meio do tempo
geológico para ser, ela própria, usada como
um relógio, desde que seja possível calibrá-
la usando fósseis, os quais, por sua vez, são
calibrados com relógios radioativos. Assim
como um relógio da vela supõe que as velas
queimam-se a uma taxa fixa e conhecida, um
relógio d’água supõe que a água escoa-se de
um balde a uma taxa que pode ser calibrada,
e um relógio do tipo carrilhão supõe que um
pêndulo oscila a um ritmo fixo, também o
relógio molecular supõe que existem certos
aspectos da própria evolução que ocorrem
a um ritmo fixo. Essa taxa fixa pode ser
calibrada com base nas partes do registro
evolucionário que são bem documentadas
com fósseis (datáveis radioativamente). Uma
276 UNIUBE

vez calibrado, o relógio molecular pode então


ser usado para outras partes da evolução que
não sejam bem documentadas por fósseis.
Por exemplo, podemos usá-lo para animais
que não possuem esqueleto duro e raramente
se fossilizam.

Para entender o padrão das trocas evolutivas que são documenta-


das, precisamos pensar em linha de tempo cruzando muitos milhões
de anos e imaginar eventos e condições muito diferentes daqueles
que observamos hoje. A Terra de um passado distante é, para nós,
um planeta estrangeiro, habitado por organismos estranhos. Os
continentes não estavam onde estão hoje e o clima era bastante
diferente. Um dos maiores feitos da ciência moderna tem sido o
desenvolvimento de técnicas sofisticadas para inferir as condições
do passado e datá-lo com precisão (PURVES et al., 2005).

Você estudou que as evidências geológicas são uma fonte de


informação sobre as mudanças sofridas pela Terra durante um
passado remoto. Assim, são os fósseis preservados em rocha, e
não as rochas propriamente ditas, que permitem aos cientistas
ordenar os eventos no tempo. Nesse sentido, é importante
considerar as seguintes questões: o que são os fósseis? O que
eles têm para nos dizer sobre as mudanças físicas na Terra e
sobre a influência desses fenômenos sobre a evolução da vida na
Terra? Ou seja, antes de examinar as condições que preservam
os organismos remanescentes, devemos considerar a totalidade
do registro fóssil e como tais registros revelam os padrões da
história da vida.

Se as taxas de evolução variam tanto, como podemos ter esperan-


ça de usá-las? É aqui que a genética molecular vem em nosso
socorro. À primeira vista, não está claro como isso pode ser feito.
UNIUBE 277

Quando ocorre evolução em características mensuráveis como


o comprimento da perna, o que vemos é a manifestação externa
e visível de uma mudança genética básica.

Richard Dawkins (2009, p.311) acrescenta ainda que taxas de


mudanças no nível molecular:

fornecem um bom relógio, enquanto as taxas de


evolução da perna ou da asa não. A resposta é
que as mudanças genéticas que se manifestam
na evolução exterior e visível ─ de coisas como
pernas e braços ─ são uma ínfima ponta do
iceberg, a ponta que é fortemente influenciada
pelas variações da seleção natural.

A luta pela sobrevivência resulta, sem dúvida nenhuma, da rapidez


com que os seres organizados são multiplicados. Todo indivíduo
que, durante o estado natural da vida, produz muitos ovos ou
muitas sementes, deve ser destruído em qualquer período da sua
existência, ou durante uma estação qualquer porque, de outro
modo, dando-se o princípio do aumento geométrico, o número
de seus descendentes se tornaria tão notável que nenhuma
região os poderia alimentar. Segundo Darwin, como nascem mais
indivíduos que os que conseguem sobreviver, deve existir, em cada
caso, a luta pela sobrevivência com outro indivíduo da mesma
espécie, com indivíduos de espécies diferentes, com condições
naturais da vida.

Purves et al.( 2005) afirmam que entender a evolução biológica


é importante porque:
as mudanças evolutivas estão ocorrendo
ao nosso redor. Essas mudanças têm fortes
implicações no bem-estar da humanidade.
278 UNIUBE

Nossas tentativas para controlar populações


de espécies indesejáveis e aumentar as
populações daquelas desejáveis, fazem do
homem um agente poderoso no processo
evolutivo. Como consequências desses
esforços, às vezes surgem macroevolutivas
entre organismos. Boa parte dessas mudanças
é drástica.

A evolução nos permite investigar como ocorreram as mudanças


nos seres vivos e ainda é um conceito litigioso em nossa socieda-
de fora da comunidade científica. A Figura 2 é uma caricatura de
Charles Darwin como um macaco e reflete a reação cultural contra
a evolução biológica.

Figura 2: Caricatura publicada na revista Hornet.


Fonte: EDITORIAL CARTOON DEPICTING CHARLES
DARWIN A1 AN APE (1871).JPG.

O debate há algum tempo tem-se centrado nas implicações


filosóficas, sociais, éticas e religiosas da evolução, já que, para
Darwin, a evolução não é um processo linear, mas um processo
de divergência a partir de ancestrais comuns.
UNIUBE 279

Se você acha absurda a afirmação anterior, imagine animais já


extintos que tivessem alguma semelhança com os atuais leões-
-marinhos e focas, que são mamíferos atuais! Para Meyer e El-Hani
(2005, p.25 - 26), na árvore da vida:

sucessivos eventos de ramificação representam


o surgimento de novas espécies a partir das
preexistentes. Esse modo de evolução foi
chamado de descendência de modificação.
Chimpanzés e humanos são, ambos, resultados
de transformação evolutiva. Eles partilham
um ancestral comum, que existiu há algum
tempo, e sofreram mudanças desde que essa
espécie ancestral se ramificou pela primeira
vez. Nós não descendemos dos chimpanzés,
nem os chimpanzés descendem de nós; somos
espécies distintas que se originaram de uma
outra; que existiu no passado, o ancestral
comum de humanos e chimpanzés. Quando
dizemos que "viemos dos macacos", queremos
dizer que somos descendentes de um animal
que provavelmente tinha muitos traços
semelhantes aos dos macacos atuais, mas,
ao mesmo tempo, não era um macaco idêntico
ao que vemos hoje. Humanos e macacos são
parentes próximos na natureza e o ancestral
que deu origem a ambos era um animal
semelhante aos macacos que conhecemos
hoje.

Você sabia que a maior parte das mudanças genéticas que


ocorrem no nível das moléculas são neutras? Podemos prever
que ela acontece a um ritmo que independe da utilidade e pode
até ser aproximadamente constante no âmbito de um dado gene.
Uma mudança genética neutra não tem efeito sobre a sobrevi-
vência do animal. Isso porque genes que afetam a sobrevivência,
de modo positivo ou negativo, presumivelmente evoluem a uma
taxa que é mutável porque reflete esses efeitos na sobrevivência
das espécies (DAWKINS, 2009).
280 UNIUBE

Mutação neutra é aquela que, embora facilmente


mensurável por técnicos da genética molecular, não é
sujeita à seleção natural, nem de modo positivo, nem de
modo negativo (DAWKINS, 2009).

Você verá que, neste capítulo, iremos aprofundar nosso estudo


a respeito das teorias evolutivas e a diversidade dos seres vivos.
Sendo assim, para prosseguirmos o raciocínio e ampliarmos o
assunto, em alguns momentos, retomaremos o que foi estudado.
Entretanto, se, mesmo assim, você tiver dúvidas sobre alguns
conceitos retomados, orientamos que, ao longo do estudo, volte
aos capítulos anteriores.

Realizaremos o estudo de forma contextualizada e crítica, propondo


trabalhos coletivos, interações, debates e leituras; estimulando o
compromisso com sua autoformação e criando estratégias didáticas
para a reflexão, experimentação e ação, a partir de conhecimentos
antigos e novos.

Bons estudos!

Objetivos

Ao estudar este capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• descrever as ideias de Jean Baptiste Lamarck e de Char-


les Darwin;
• explicar os mecanismos que propiciaram a imensa varie-
dade de seres vivos;
• distinguir os aspectos básicos das ideias de Lamarck
e Darwin e sua importância para o desenvolvimento do
conhecimento humano, reforçando o sentido coletivo do
aprendizado;
UNIUBE 281

• explicar como o documentário fóssil pode ajudar a com-


preender as contínuas modificações sofridas pelas es-
pécies;

• compreender as bases da teoria evolutiva atual e reco-


nhecer a diversidade dos mecanismos de isolamento re-
produtivo entre espécies diferentes, completando, assim,
o processo permanente de ação – reflexão – ação sobre
a realidade;

• discutir a atuação da seleção natural no processo evo-


lutivo e os tipos de alterações que ocorrem nas popula-
ções naturais.

Esquema

1º momento - Origem da ideia de evolução

2º momento - Adaptação e ambiente

3º momento - Darwin e o mecanismo evolutivo

4º momento - O registro geológico e fossilífero

8.1 Origem da ideia de evolução

Muitas pessoas pensam que a ideia de evolução começou com Charles


Darwin. Essa crença provavelmente nasceu do fato de que o mais
importante livro de Darwin, “A Origem das Espécies”, publicado em
282 UNIUBE

1859, foi o primeiro livro sobre evolução amplamente lido. Mas, antes de
prosseguirmos nesse assunto, responda, objetivamente, às seguintes
questões:

• qual a relação entre Lamarck e o mecanismo evolutivo?


• o que significa dizer que Lamarck propôs uma teoria
voltada ao conceito de adaptação?

Reflita sobre o que você já aprendeu, leu, ouviu e faça o registro das
suas impressões. Em seguida, converse com seus colegas e imagine
uma resposta, ouvindo a opinião deles e discutindo com eles a respeito
dessa temática.

Você sabia que, de uma forma ou de outra, as ideias sobre


evolução são tão antigas quanto o pensamento humano?

De acordo com Anaximandro, cuja vida adulta estendeu-se pela primeira


metade do século VI a.C., os homens foram formados como peixes;
com o tempo, perderam a pele de peixe e iniciaram a vida em terra
firme. Quantos créditos poderiam ser atribuídos a Anaximandro por
especulações que provaram conter esse núcleo de verdade?

Xenófanes, embora tenha vivido no século V a.C., foi a primeira pessoa


a reconhecer que os fósseis, tais como conchas petrificadas, engastadas
em rochas, representam restos de animais que existiram algum dia.

Qualquer vestígio que uma rocha tenha, testemunhando a existência


de um organismo vivo, pode, com razão, ser considerado um fóssil. Por
vezes, não será mais que um tênue rastro deixado originariamente na
lama; outras vezes, será o corpo de um animal que, molécula a molécula,
se transforma em pedra.
UNIUBE 283

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Há cerca de 2 milhões de anos, na Sibéria, alguns


Ravinas
mamutes caíram acidentalmente numas ravinas e
morreram. A neve e o saibro, este último transpor- Sulcos profundos,
tado pelos rios durante a breve primavera ártica, abertos por
cobriram rapidamente os seus corpos. Depois, o enxurradas que
saibro consolidou e o frio intenso conservou os caem de lugar
elevado.
cadáveres. Quando os cientistas desenterraram
os corpos, estes encontravam-se completos, com
pelagem, carne e órgãos internos. Saibro

Em alguns casos, foi possível distinguir fragmen- Mistura de argila e


areia grossa, usada
tos de vegetais nas enormes presas e no estôma- no preparo da
go, o que permitiu aos cientistas concluir quais argamassa.
os alimentos ingeridos pelos animais.

Conforme estudaram, com efeito, e em geral, as partes moles de


um animal decompõem-se e desaparecem. A maioria dos fósseis é
constituída apenas pelas partes duras do corpo — dentes, ossos ou
conchas. Mesmo estas, para manterem-se, terão que se encontrar de
algum modo envoltas por um sedimento, o que ocasionalmente poderá
ocorrer em terra — numa duna ou numa caverna — mas, normalmente,
verifica-se no fundo de um pântano, de um lago ou no mar.

Em determinadas circunstâncias, os processos de fossilização atuam de


modo oposto. Neste caso, as soluções de minerais que se encontram
nas rochas não revestem e impregnam as conchas e os ossos, mas
os dissolvem, deixando apenas um espaço vazio, que, mesmo assim,
revela muito da forma e das características do organismo primitivo.

Os corais são animais ideais para a fossilização, já que constroem


esqueletos de calcário ou de sílica que, sendo pétreos, podem manter-
se intactos nas rochas.
284 UNIUBE

Purves et al. (2005, p. 137) afirmam que:


um fóssil é mais parecido com o organismo que lhe deu
origem se o corpo morto for depositado num ambiente
sem oxigênio. Entretanto, a maioria dos seres vive em
ambientes oxigenados e se decompõe quando morre.
Assim, muitos registros fósseis são uma coleção de
organismos mortos transportados pelo vento ou água
até sítios sem oxigênio. Ocasionalmente, organismos,
ou impressões deles, são preservados onde viveram.
Nesses casos, especialmente se o ambiente em
questão é frio, anaeróbio e com condições de
preservação excelentes, podemos obter um retrato
das comunidades de organismos que viveram juntos.

O registro fóssil revela vários padrões que dificilmente serão alterados


com descobertas futuras. Primeiro, existe uma grande regularidade. Por
exemplo, organismos de um tipo particular são encontrados em rochas
de idades específicas e novos organismos aparecem nas rochas mais
recentes.

A combinação dos dados, sobre eventos físicos, durante a história da


Terra, com as evidências dos registros fósseis, permitiu aos cientistas
comporem um quadro do que a Terra e seus habitantes viveram em
diferentes tempos. Sabemos que a vida mudou ao longo do tempo,
mas muitos dos detalhes são pobremente conhecidos, especialmente
quanto aos eventos ocorridos no passado mais remoto. Seriam as rochas
e os estratos calcários tão antigos que todos os seus fósseis foram
destruídos? E as primeiras criaturas que deixaram qualquer marca de
sua existência teriam sido seres tão complexos quanto os moluscos?

O registro geológico da vida no passado apresenta muitas imperfeições.


Assemelha-se aos restos de um livro, do qual se perderam todos os
capítulos iniciais. Assim, da parte central, restaram algumas páginas
ou fragmentos de páginas esparsas e, apenas perto do fim, restou um
número crescente de páginas intactas ou, mesmo, trechos de capítulos.
UNIUBE 285

O registro de fatos da vida no passado depende de uma série de


circunstâncias acidentais:

• os restos de um animal morto escapam à destruição e


ficam enterrados em sedimentos ou cinzas que não sofrem
aquecimento, pressão ou dobramento excessivos, o que
destruiria o fóssil;
• os sedimentos ou rocha emergem, mas escapam à ação
destrutiva da erosão pela água ou vento;
• o fóssil fica exposto ou é desenterrado e atrai a atenção de um
paleontólogo.

Alguns restos fósseis são completos, mas muitos são fragmentários


e todos os fósseis conhecidos representam apenas uma fração de
numerosas espécies de animais e plantas que viveram no passado.
Provavelmente, algumas espécies ou grupos nunca se transformaram
em fósseis, por terem tido o corpo mole ou por terem vivido onde a
fossilização era impossível. Muitos fósseis foram destruídos por alteração
das rochas ou pela erosão e outros, situados agora em rochas profundas
na terra ou sob o mar, são inacessíveis.

PARADA OBRIGATÓRIA

O filósofo Empédocles (século V a.C.) admitia que as plantas surgiram


da terra, e, subsequentemente, os animais. Os animais surgiram como
órgãos e partes separados, que se juntavam ao acaso.

Aristóteles afirmou que existe uma gradação completa na natureza. O


estágio mais abaixo é o inorgânico. O orgânico surgiu do inorgânico por
metamorfose direta. Assim, dentro dos limites do material e dos métodos
que lhe eram acessíveis, realizou investigações em campos tão diversos,
como a biologia marinha, a anatomia e a embriologia. Aristóteles concebia
o mundo orgânico como consistindo de três estágios: vegetais; vegetais
– animais, um grupo de transição, que incluía as esponjas e as anêmonas-
-do-mar; animais.
286 UNIUBE

Nosso conhecimento sobre a sequência ordenada de aparições de vida


na Terra está enormemente baseado nos restos fósseis de organismos
que viveram antigamente. Agora, pense um pouco nos seguintes
questionamentos: como o conhecimento das relações evolutivas é usado
para resolver outras questões biológicas? Como as relações evolutivas
expressas nos sistemas de classificação dos seres vivos podem ajudar
a guiar novos estudos sobre os organismos? Registre a seguir as suas
observações em seu caderno de anotações.

8.2 Adaptação e ambiente

A primeira teoria geral da evolução foi proposta por Jean Baptiste de


Lamarck (1744–1829), anatomista e estudante de sistemática. Sua teoria
baseou-se em duas suposições:

• Lei do uso e desuso: segundo essa lei, o uso frequente e


contínuo de qualquer órgão o desenvolve e aumenta, ao passo
que seu desuso permanente o enfraquece até, finalmente
desaparecer; todas as aquisições ou perdas são causadas por
influência do ambiente e, a partir daí, pelo uso ou desuso, são
conservadas pela reprodução.

Lamarck ilustrou o desuso com a estrutura de uma cobra (Figura 3).

Figura 3: Cobra.
Foto: Henrique Suriani de Oliveira.
UNIUBE 287

Ao reptar pela grama, a cobra teria seu corpo constantemente estirado


para passar por espaços estreitos e as pernas não seriam usadas. Pernas
longas interfeririam na reptação e quatro pernas curtas não conseguiriam
mover o corpo. Apesar de os répteis terem caracteristicamente pernas,
as cobras as perderam. Os olhos tornaram-se laterais para ver melhor
quando sobre o solo e a língua desenvolveu-se num órgão sensitivo
protátil para perceber objetos à sua frente.

• Lei da herança dos caracteres adquiridos: essa lei postula


que as alterações provocadas num órgão pelo uso ou
desuso são transmitidas aos descendentes. Por exemplo, os
músculos de um atleta aumentam de força e volume se usados
intensamente, mas diminuem se o exercício é suspenso; as
crianças nunca herdam dos pais tais caracteres adquiridos.

Segundo Lamarck, a girafa (Figura 4), vivendo em um solo seco e quase


sem capim, teria como alimento as folhas das árvores, e de tanto esticar
o pescoço para capturar as folhas, este cresceria um pouco e essa nova
característica teria sido transmitida aos descendentes.

Figura 4: Girafa
Foto: Henrique Suriani de Oliveira.

Com o conhecimento atual, a ideia de transmissão de caracteres


adquiridos, conforme proposta por Lamarck, é totalmente sem
fundamento, pois constitui uma ideia destituída de fundamento científico.
288 UNIUBE

É impossível explicar de que maneira o exercício


Cromossomos de esticar o pescoço, no caso da girafa,
Estrutura nuclear poderia alterar a sequência de bases de DNA,
que surge durante
a mitose, pela exatamente no segmento dos cromossomos das
espiralização dos
cromonemas e células germinativas que contêm os genes para
que encerra os comprimento de pescoço, de forma a poder ser
genes, elementos
responsáveis transmitida aos descendentes.
pela transmissão
dos caracteres
hereditários.
Sobre as aves, Lamarck supôs, corretamente, que
eram originalmente terrestres. Uma ave terrestre,
procurando alimento na água, abriria os dedos
para golpear a água ao mover-se. A pele, na
base dos dedos, estaria sendo continuamente
esticadas e os movimentos musculares das
pernas provocariam maior fluxo de sangue aos
pés. Em consequência, a pele cresceria como
palmouras entre os dedos, como nos patos
(Figura 5), pelicanos e outras aves aquáticas.

Figura 5: Pato: ave terrestre.

Entretanto, não há provas seguras que corroborem a teoria de Lamarck


e, atualmente, poucos a defendem.
UNIUBE 289

8.3 Darwin e o mecanismo evolutivo

Como você estudou, uma boa maneira de imaginarmos como convencer


um cético de que a evolução ocorre é examinar os argumentos do
naturalista inglês, Charles Robert Darwin, que expôs em seu livro
A Origem das Espécies, suas ideias a respeito do mecanismo de
transformação das espécies. Em seu todo, a teoria de Darwin sustentava
que a evolução ocorria por meio de um processo de descendência com
modificação e ela é aceita até hoje.

Sua teoria apresenta conhecimentos extremamente amplos e diversos


da Anatomia, da Embriologia e da Paleontologia, apesar de não ser
considerada completa, porque na época em que ela foi formulada não
eram conhecidos os mecanismos de transmissão hereditária e nem a
estrutura do material genético.

Purves et al. (2005, p.149) referem-se a Charles Darwin como um:


naturalista bastante perspicaz que observou uma
grande quantidade de diferentes estruturas e comporta-
mentos, os quais, a seu ver, pareciam ter-se desenvolvi-
do para auxiliar a sobrevivência e o sucesso reprodutivo
dos indivíduos que os apresentavam. Darwin teve
uma oportunidade única de estudar as adaptações em
organismos de diferentes partes do mundo quando,
em 1831, seu professor de Botânica, John Henslow,
recomendou-o como naturalista ao Capitão Robert
Fitzroy, que estava preparando uma viagem ao redor
do mundo a bordo do navio de pesquisa e observação
H.M.S. Beagle. Sempre que possível, ao longo dessa
viagem, Darwin descia à terra para observar e coletar
espécimes de plantas e animais.

Darwin encomendou a outros pesquisadores o trabalho taxonômico do


material coletado na viagem de Beagle. Esse trabalho demorou dez anos
desde o seu retorno. No entanto, só faltava analisar um minúsculo animal,
um pequeno crustáceo que recolhera ao longo das costas chilenas, em
1835.
290 UNIUBE

Cirrípede
Tratava-se de um cirrípede de espécie desconhe-
cida. Até então, os estudos sobre o grupo de
Ordem de
crustáceos de animais marinhos e fixos (de que fazem parte os
pequeno porte na
qual se enquadram bálanos) só apresentavam resultados insatisfa-
as cracas.
tórios. Era para Darwin a oportunidade ideal de
adquirir, no domínio da sistemática, uma reputa-
ção capaz de colocá-lo ao abrigo dos ataques
sobre suas reais competências.

Em outubro de 1846, ele se lança num estudo cuja amplitude e


complexidade não havia, sem dúvida, suspeitado. Tampouco suspeitou
do proveito que tiraria para sua teoria.

Os cirrípedes formam um grupo de espécies difíceis de classificar e muito


variáveis; seu trabalho foi muito útil quando, em A origem das espécies,
Darwin teve que discutir princípios de uma classificação natural. Ele
juntou materiais de diversas procedências e seu trabalho se estendeu
igualmente aos fósseis, até se tornar uma monografia exaustiva sobre
o assunto, em três grossos volumes. A obra foi publicada entre 1852 e
1854, ou seja, quase oito anos depois do início dos trabalhos.

PESQUISANDO NA WEB

Se você quiser conhecer um pouco mais sobre os estudos de Charles


Darwin, acesse o site Completo Trabalho de Charles Darwin Online, no
endereço, a seguir:
<http://www.darwin-online.org.uk/graphics/illustrations.html>.

Em 1853, ele recebe o Royal Medal pelos estudos sobre os corais e,


principalmente, sobre os cirrípedes. Darwin precisou equipar-se de novos
instrumentos adaptados à dissecação de organismos tão pequenos
e uma objetiva mais poderosa para seu microscópio. A descoberta
de um mundo praticamente desconhecido o fascinava. Ele estudou a
UNIUBE 291

anatomia desses animais, sua reprodução, seus ciclos de vida, fases de


desenvolvimento, as relações de parentesco entre as espécies atuais
e as espécies fossilizadas e, sobretudo, a variação.

Darwin estava finalmente em condições de utilizar suas descobertas


no plano da sistematização para verificar as hipóteses relativas ao
mecanismo da evolução. Ele mesmo se acusou de um crime, o de crer
que as espécies não são imutáveis. Os estudos que publica sobre os
cirrípedes são, não obstante, um irrepreensível trabalho de sistemática:
nada aparece das ideias que o guiaram e cuja confirmação encontrou
durante suas pesquisas.

Nada mais fácil que analisar mentalmente e procurar dar a uma espécie
superioridade sobre uma outra. Isso seria suficiente apenas para nos
convencer de nossa ignorância acerca das relações afins que existem
entre os seres organizados; é uma verdade que nos é tão necessária
quanto difícil de compreender. Os seres organizados se empenham
incessantemente em multiplicar-se em algumas fases nos seus ciclos
de vida; lutam continuamente pela sobrevivência
e ao mesmo tempo, permanecem expostos à
Seleção natural
destruição.
Fenômeno admitido
primeiramente
O simples fato de pensar nessa luta universal por Charles
Darwin, como uma
provoca tristes reflexões. Todavia, devemos nos consequência
da luta pela vida,
consolar uma vez que temos a certeza de que por meio qual a
a luta na natureza é efêmera; de que o medo é natureza faria
a seleção de
desconhecido; de que a morte está geralmente alguns tipos, os
mais adaptados
pronta e que, apenas, os seres vigorosos, sadios às condições
ambientais (clima,
e afortunados sobreviverão e se multiplicarão. forma de vida,
hábitos alimentares,
maneira de
Darwin introduziu o termo seleção natural para reprodução),
em detrimento
permitir a ideia de que a natureza exerce a seleção de outros, que
tenderiam à
mais ou menos como um criador de animais, extinção.
292 UNIUBE

quando deseja melhorar uma linhagem de animais domésticos. O criador


seleciona, para pais da geração seguinte, os indivíduos que possuam
qualidades por ele desejadas para tal linhagem. Ao mesmo tempo, evita
a reprodução dos indivíduos que não possuam as qualidades desejadas.
Esta seleção atua provocando a morte diferencial de indivíduos de uma
dada população, ou seja, os indivíduos mais adaptados têm maior
probabilidade de sobrevivência do que os menos adaptados.

A evolução por meio da seleção natural, a concepção fundamental


de toda a obra de Charles Darwin, é uma teoria sobre a origem da
adaptação, complexidade e diversidade dos seres na Terra.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

O comprimento do pescoço da girafa intrigava Charles Darwin, menos


do que a forma de sua cauda que, para ele, lembrava um “mata-moscas”
(Figura 6):

Figura 6: Fóssil de uma girafa.


UNIUBE 293

A seleção natural mudou profundamente nossa maneira de compreender


a natureza e não apenas uma, mas duas grandes ideias estão no centro
da teoria da evolução:

1. uma, é a evolução de todas as espécies, um fenômeno histórico;


2. a outra, é o próprio mecanismo da seleção natural.

Os fatos utilizados por Darwin no desenvolvimento de sua teoria da


evolução por seleção natural eram conhecidos da maioria dos biólogos
de sua época. O que diferenciou Darwin dos demais foi sua percepção
da existência de correlações entre esses diferentes fatos conhecidos.
Por exemplo, percebeu que populações de todas as espécies possuem
capacidade de aumentar o número de indivíduos de forma exponencial.
Para ilustrar essa situação, ele usou o seguinte exemplo: suponhamos
que existam oito pares de pássaros (casais) e apenas quatro desses
reproduzam anualmente, produzindo apenas quatro filhotes cada,
e que esses, por sua vez, irão procriar seguindo essa mesma taxa.
Assim, no final de sete anos (um período de vida bastante curto), se
desconsiderarmos a possibilidade de morte violenta de qualquer um dos
pássaros, dos 16 indivíduos originais teremos uma população constituída
por 2048 pássaros (PURVES et al., 2005).

Para Darwin (1979, p.39 [1859]) muitos escritores têm compreendido


mal, ou criticado mal, a expressão seleção natural. Alguns têm pensado
que a seleção natural:
traz a variabilidade, visto que abrange somente a
conservação das variações por acaso produzidas,
quando são vantajosas ao indivíduo nas condições
de vida em que se encontra. Ninguém protesta contra
os agricultores, quando falam dos poderosos efeitos
da seleção realizada pelo homem; ora, neste caso,
é indispensável que a natureza produza, a princípio,
diferenças individuais que o homem escolhe para um
determinado fim. Outros pretenderam que o termo
seleção envolva uma escolha consciente por parte
294 UNIUBE

dos animais que se modificam, e inferiu-se, inclusive,


que não desfrutando as plantas de qualquer vontade,
a seleção natural não é aplicada a elas.

Você sabia que nas populações animais e vegetais isoladas


– como as que habitam as ilhas oceânicas – a competição é
menos intensa?

Ao deparar-se com os curiosos habitantes das ilhas Galápagos, em 1835,


Charles Darwin constatou, com espanto, os resultados do isolamento de
animais e árvores que habitam as ilhas oceânicas. Depois de percorrer
a costa do Brasil, onde fez escalas na Bahia e no Rio de Janeiro, no
Uruguai, na Argentina, no Chile e na Bolívia, o veleiro de 27 metros
da Marinha Real inglesa chegou em Galápagos. Quando ali aportou,
Darwin apenas começava a meditar a respeito da origem das espécies.
O que ele viu nas Galápagos facultou-lhe observações e conhecimentos
indispensáveis à sua teoria.

Brilhante observador da natureza, Darwin ficou surpreso com o grande


número de espécies de plantas e animais até então desconhecidos e
lhe chamou a atenção a incrível diversidade de tartarugas e tentilhões,
pequenos pássaros só encontrados no arquipélago. Os de bico menor
comiam sementes pequenas, enquanto os de bico maior, sementes
grandes. Essa observação, que levou o naturalista a formular sua tese
de que as mudanças ocorrem, conforme a necessidade de sobrevivência,
foi o pontapé inicial da teoria da evolução.

Naquela época, a ideia dominante era de que tudo o que existia na Terra
havia sido criado por Deus. As revelações de Darwin causaram grande
rebuliço nos meios científicos e religiosos do período, mas ainda hoje
são o principal paradigma para explicar diversos fenômenos biológicos.
Mas, para entender as ideias de Darwin, é importante conhecer alguns
aspectos das ilhas Galápagos.
UNIUBE 295

As ilhas Galápagos

As ilhas Galápagos erguem seus perfis desolados, no Oceano Pacífico,


mil quilômetros a oeste do Equador e de um e outro lado da linha
equatorial. Galápagos é um laboratório a céu aberto. Essas ilhas ocupam
um papel fundamental no estudo da Biologia evolutiva, já que sua fauna
e flora serviram de base para Charles Robert Darwin desenvolver a
teoria da evolução das espécies e para tornar o local reconhecido
internacionalmente.

Hoje, as expedições turísticas substituem em número as científicas,


mas o encanto das ilhas continua o mesmo.

O arquipélago é um local de acesso caro, com


infraestrutura hoteleira precária e frequentado
principalmente por turistas excêntricos ou curiosos.
É fácil entender o fascínio exercido por Galápagos.
Ao chegar, basta olhar para cima, para os lados ou
para o fundo do mar e o milagre da natureza explode
diante de nossos olhos. Esse paraíso do Oceano
Pacífico é formado por ilhas vulcânicas, sendo que
a mais velha surgiu entre 5 milhões e 10 milhões de
anos e as mais jovens, como Isabela e Fernandina,
ainda estão em formação, com três vulcões ativos.
(STEINBERG, 2010, p. 01).

A luta pela sobrevivência é travada sob diferentes regras nessas ilhas.


Nos continentes, a cadeia alimentar formada pelos vegetais, animais
vegetarianos e carnívoros é constituída por animais e plantas de
diferentes classes zoológicas e botânicas. Mas, devido ao modo acidental
de povoamento das ilhas, os elos dessa cadeia são incompletos.

A fauna das Galápagos oferece provas muito mais evidentes do


fenômeno evolutivo do que se pode encontrar na maior parte dos
ambientes naturais, onde as interrelações dos organismos são mais
complexas. O arquipélago que inspirou a criação da teoria da evolução
é um surpreendente santuário das faunas terrestres e marinha.
296 UNIUBE

Vamos conhecer um pouco desse espetáculo da vida?

As iguanas marinhas e terrestres

A iguana marinha é o único lagarto a se aventurar no mar. Ele come


algas que nascem no fundo do oceano e é capaz de mergulhar a grandes
profundidades e ficar uma hora submersa. Uma glândula na cabeça
processa a água do mar e espirra o sal pelas narinas.

A iguana terrestre mede mais 1 metro e pode pesar 13 kg. Elas são
abundantes no litoral rochoso das ilhas Galápagos. Veja a Figura 7:

Figura 7: Iguana terrestre.

Herbívoras, as iguanas terrestres vivem nas áreas mais áridas das ilhas
e, para escapar do Sol do meio-dia, costumam abrigar-se nas sombras
de cactos, rochas e árvores.

O cormorão-de-Galápagos

O cormorão-de-Galápagos (Figura 8) possui, aproximadamente, 1 metro


de comprimento.
UNIUBE 297

Figura 8: Cormorão-de-Galápagos.
Fonte: PHALAROCORAX HARRISI DI09P1OCA.JPG.2006.

O cormorão-de-Galápagos é o maior pássaro entre as 29 espécies de


cormorão e a única que não voa. Em compensação, suas asas atrofiadas
fazem dele um excelente nadador.

Fragata

A característica mais peculiar da fragata (Figura 9) é a capacidade que


os machos têm de inflar o papo vermelho para atrair as fêmeas.

Figura 9: Fragata.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.
298 UNIUBE

Ela acasala apenas uma vez a cada dois anos, pois o único filhote do
casal leva um ano para se tornar independente.

Leões-marinhos

Vastas colônias de leões-marinhos (Figura 10) podem ser vistas em


diversas praias de Galápagos.

Figura 10: Leão-marinho.

As colônias são controladas por um macho, que pode alcançar 2 metros


e 360 kg. Agressivos, eles brigam com intrusos que se aproximam do
bando. Por isso, são responsáveis pela principal estatística de acidentes
nas ilhas.

Cágado gigante

O réptil mais interessante das ilhas é o cágado gigante (Figura 11), que
lhes emprestou o nome (espanhol) galápago. Pastando em grupos,
esses cágados podem alcançar 250 quilogramas de peso e 1,50 m de
comprimento.
UNIUBE 299

Figura 11: Cágado gigante.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Mas, desde que os antigos viajantes descobriram o delicioso sabor de


sua carne e o valor de sua gordura, o homem tem-lhes movido guerra
total que, em dois séculos, os levou à beira da extinção.

Alcatraz

Ao lado dos répteis, as ilhas Galápagos possuem uma alentada


população alada. Embora de pequena distribuição geográfica, o alcatraz
das Galápagos (Figura 12) é emérito voador.

Figura 12: Alcatraz.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
300 UNIUBE

Em busca de alimento, ele paira graciosamente acima de outra ave,


espera que esta capture um peixe e, em seguida, vai direto ao ataque,
forçando-a a abandonar a presa. O alcatraz macho distende o saco
gular de cor viva, a fim de atrair a atenção da fêmea durante o namoro
e a construção do ninho.

Mais um pouco da história de Darwin

Quando explorou o arquipélago de Galápagos, situado a oeste do


Equador, Darwin observou que a maioria das espécies presentes naquele
ambiente não era encontrada em nenhuma outra parte do mundo, apesar
de serem similares a espécies da América do Sul continental, localizada
1000 km ao leste. Darwin também observou que a fauna das diferentes
ilhas que compunham o arquipélago diferia de uma para a outra. Postulou
que alguns animais teriam chegado às ilhas a partir da América do Sul
continental e então teriam evoluído de forma distinta nas diferentes ilhas
(PURVES et al., 2005).

Quando retornou à Inglaterra, em 1836, Darwin continuou a ponderar


e amadurecer suas observações. Nos 10 anos seguintes, ele havia
desenvolvido a base daquela que viria a ser sua teoria da evolução e
que, como explicamos, possuía dois componentes principais:

• as espécies não são imutáveis, elas sofrem modificações, ou


adaptações, ao longo do tempo, ou seja, Darwin afirmou que a
evolução é um fato histórico;
• o agente que produz as modificações é a seleção natural.

Você sabia que iremos compreender melhor a seleção natural, se


analisarmos alguma região em que ocorreu uma leve mudança física,
por exemplo, de clima?
UNIUBE 301

Os números proporcionais de seus habitantes experimentarão


quase imediatamente uma mudança, e algumas espécies chegarão
provavelmente a extinguir-se.

Do que vimos a respeito do modo íntimo e complexo de como


os habitantes de cada região estão unidos entre si, podemos
chegar à conclusão de que qualquer mudança nas proporções
numéricas de algumas espécies afetaria seriamente os outros
habitantes, independente da mudança do próprio clima.

Segundo Darwin, mesmo que a seleção natural possa agir somente pelo
bem e para o bem de cada ser, no entanto, características e estruturas
que estamos inclinados a considerar como de importância insignificante,
podem ser afetadas por ela. Ao considerar as muitas diferenças pequenas
que existem entre espécies — diferenças que, até onde nossa ignorância
nos permite avaliar, parecem completamente insignificantes — não
podemos esquecer que o clima, a alimentação etc., produzem nelas
indubitavelmente algum efeito direto.

Também é necessário considerar que, devido à lei de correlação, quando


uma parte varia e as variações se acumulam por seleção natural, surgirão
outras modificações, muitas vezes da mais inesperada natureza.

Assim, Darwin acrescenta o ambiente, o clima, o hábito, o uso e o não


uso às causas potenciais das variações. Ele tendeu-se a interpretar essa
ideia como uma espécie de recaída no lamarckismo. Entretanto, além de
Lamarck não ter jamais sustentado a tese de uma ação direta do ambiente
sobre o organismo, essas concepções não foram consideradas típicas
de uma visão lamarckiana da evolução, senão num segundo momento,
quando “lamarckismo” e “darwinismo” se radicalizaram, tornando-se
posições mutuamente exclusivas e inconciliáveis. Essa interpretação era
também consequência de uma distinção estabelecida por volta dos anos
302 UNIUBE

Células somáticas
1880, pelo biólogo alemão August Weismann,
que dizia: “um organismo comporta, de um lado,
São todas e
quaisquer células células somáticas, sujeitas a modificações
que participam das
estruturas ou dos provisórias por influências externas, e, de outro,
tecidos do corpo. células germinais, depositárias de caracteres
hereditários e totalmente ao abrigo das influências
Células germinais
externas”.
Células que existem
no interior das
gônadas e das Para Darwin (1979, p.76 [1859]) a seleção natural
quais têm origem os
gametas. procura, a cada instante e em todo mundo:
as variações mais sutis; repele as nocivas, conserva
e acumula as que são úteis; trabalha em silêncio,
insensivelmente, por toda a parte e sempre, desde
que se apresente na ocasião para melhorar os seres
organizados relativamente às suas condições de
vida orgânicas e inorgânicas. Essas transformações
lentas e progressivas fogem à nossa percepção até
que, com o tempo, as mãos dos mesmos as tenham
marcado com seu sinete e, então, damos tão pouca
conta dos longos períodos geológicos decorridos
que simplesmente nos contentamos em dizer que
as formas viventes são hoje diferentes do que foram
outrora. A seleção natural pode modificar a larva
de um inseto de forma a adaptá-la a circunstâncias
totalmente diferentes daquelas em que deverá viver
o inseto adulto. Essas modificações poderão até
mesmo afetar, em razão da correlação, a conformação
do adulto. Mas, inversamente, modificações na
conformação do adulto podem afetar a conformação
da larva. Em qualquer circunstância, a seleção natural
não produz modificações nocivas ao inseto; senão,
a espécie se extinguiria.

A seleção sexual teve um papel importante e coerente para a teoria


em sua globalidade. Mostrando os limites de ação da seleção natural,
abria-se uma interpretação mais ampla do mecanismo seletivo em
geral: a evolução não seleciona tanto uma espécie por sua capacidade
UNIUBE 303

de sobreviver quanto por seu sucesso reprodutivo. Quanto mais


descendência tem um macho, mais chances ele terá de transmitir seu
patrimônio genético.

A seleção sexual, segundo Darwin, não depende da luta pela


sobrevivência, mas da luta entre os indivíduos de um sexo, geralmente
os machos, para assegurarem-se da posse do outro sexo. Essa luta
não termina pela morte do vencido, mas pela privação ou pela pequena
quantidade de descendentes. A seleção sexual é menos rigorosa do
que a seleção natural. Geralmente, os machos mais vigorosos, ou seja,
aqueles que são mais aptos a ocupar seu lugar na natureza, deixam
maior número de descendentes.

A seleção sexual depende não de uma luta pela existência em


relação a outros seres orgânicos ou com condições externas,
mas de uma luta entre os indivíduos de um sexo, geralmente,
os machos.

Para Darwin, a seleção sexual que ocorre, por exemplo, nos tigres,
ilustra a luta pela sobrevivência, que inclui uma luta constante pela
posse das fêmeas. No entanto, além do combate entre os machos
pela posse das fêmeas e a aquisição de elementos que servem para
estabelecer a supremacia entre indivíduos do mesmo sexo, caracteres
sexuais secundários, presentes nas espécies em que o dimorfismo
sexual é mais acentuado, atraem a atenção de Darwin: exibição de cores,
plumagens, desenhos complexos das penas e qualquer outro tipo de
ornamento (por exemplo, o canto dos pássaros) presentes, sobretudo
nos machos. Veja as características do pavão, na Figura 13:
304 UNIUBE

Figura 13: Pavão.


Foto: Henrique Suriani de Oliveira.

As vantagens desses caracteres na luta pela sobrevivência estão longe


de ser evidentes, pois, tomando o animal particularmente visível, até
mesmo entravando seus movimentos – pensemos na cauda do pavão
– eles os expõem mais ao predador. Vemos, na Figura 13, que a cauda
do pavão é um exemplo de caracteres sexuais secundários, úteis para
chamar a atenção das fêmeas.

Como sabemos, em 1835, nas ilhas Galápagos, Darwin recolheu algumas


pequenas aves, sem nada de excepcional, exceto por seu bico, de
vários tamanhos e formas. Ao examiná-las na Inglaterra, o ornitólogo
John Gould afirmou serem “tentilhões-de-solo”, mais de uma dezena
de espécies, até então, desconhecidas.

Durante anos após sua volta, Darwin pensou nos


Tentilhões
tentilhões (Figura 14) como espécies diferentes
Pequenas aves
pertencentes à que pudessem ter um ancestral comum. Ele
mesma família do
pardal e do canário. imaginava a existência de treze espécies
diferentes de tentilhões como galhos diferentes,
evoluídos de um mesmo tronco. E, quem sabe,
o mesmo não acontecera com todas as espécies
vivas existentes na Terra?
UNIUBE 305

Figura 14: Tentilhão.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Nas Galápagos, a ausência de outras espécies competidoras e a


variedade de alimentos e hábitats permitiram a essas aves (os tentilhões),
originalmente comedoras de sementes, uma diversificação no tamanho,
na forma do bico e no hábito alimentar.

Segundo David Quammen (2004, p.14) a biogeografia oferecia amplo


panorama de fatos e padrões característicos dos seres vivos. Bastava
examinar os dados biogeográficos, para se notar:

o enigmático padrão de agrupamento entre o que


chamou de espécies “estreitamente aliadas” – ou
seja, criaturas similares que partilham mais ou menos
da mesma configuração corporal. Essas espécies
estreitamente aliadas costumam ser encontradas no
mesmo continente (várias espécies de zebra na África)
ou no mesmo grupo de ilhas oceânicas (dezenas de
espécies da ave Drepanididae no Havaí, 13 espécies
de tentilhão em Galápagos), a despeito das preferên-
cias de cada uma por determinado habitat, fonte de
alimento ou condição climática. Áreas adjacentes
da América do Sul, observou Darwin, são ocupadas
por duas espécies similares de grandes aves não
voadoras (as emas Rhea americana e Pterocnemia
pennata), e não por avestruzes, como na África, ou por
casuares, na Austrália. Na América do Sul também são
encontradas cutias (pequenos roedores) em habitats
terrestres, assim como capivaras em áreas úmidas.
306 UNIUBE

Segundo Quammen (2004), podemos perguntar por que


deveriam as espécies “estreitamente aliadas” ocupar trechos
vizinhos de habitat? E qual o motivo de habitats similares em
continentes diferentes serem ocupados por espécies que não
são estreitamente aliadas?

Para Darwin, esse vínculo orgânico é simplesmente a hereditariedade;


espécies similares ocorrem em locais próximos, pois descendem de
ancestrais comuns.

Evidências da evolução orgânica são fornecidas pela morfologia, fisiolo-


gia e embriologia comparativas, pelo estudo dos fósseis (paleontologia)
e dos animais e plantas sob domesticação e pela experimentação. Em
anos recentes, novas evidências surgiram da bioquímica, da biologia
molecular e da genética, incluindo a citogenética, além de outros campos
da Biologia. Há abundantes provas apoiando a evolução, mas existem
algumas diferenças de opinião quanto aos mecanismos pelas quais
ela se verificou.

Em seu livro, A Origem das Espécies, Darwin não hesita em afirmar que
o homem e os animais superiores, os primatas, sobretudo, têm alguns
instintos em comum. Todos possuem os mesmos sentidos, as mesmas
intuições, experimentam as mesmas sensações. Eles têm paixões,
afeições e emoções semelhantes, mesmo as mais complicadas, tais
como a inveja, a desconfiança; gostam de enganar e se vingar, sentem
surpresa e curiosidade; possuem as mesmas faculdades de imitação,
atenção, deliberação, escolha, memória, imaginação, associação de
ideias e raciocínio, mas, ressaltamos: em graus bem diferentes.

Veja a Figura 15:


UNIUBE 307

Figura 15: Primata.


Foto: Henrique Suriani de Oliveira.

Richard Dawkins (2009, p. 149) afirmou em seu livro O maior espetáculo


da Terra que:
os humanos não descendem dos macacos. Temos
um ancestral comum com eles. Por acaso, o ancestral
comum seria muito mais parecido com um macaco do
que com um homem, e provavelmente o chamaríamos
de macaco se o encontrássemos, há cerca de
25 milhões de anos. Mas embora os humanos
tenham evoluído de um ancestral que poderíamos
sensatamente chamar de macaco, nenhum animal
dá à luz a uma nova espécie instantaneamente, ou
pelo menos não a um ser tão diferente de si mesmo
quanto um homem de um macaco, ou mesmo de
um chimpanzé. A evolução não é assim. A evolução
é um processo gradual de fato, e, além disso, só
tem poder explanatório sendo gradual. Enormes
saltos numa única geração – como na ideia de uma
macaca dar à luz a um ser humano – são quase
tão improváveis. Seria ótimo se os que se opõem à
evolução se dessem o pequeno trabalho de aprender
ao menos os rudimentos daquilo a que se opõem.

A forma mais correta de expressar essa explicação é que o homem


e os macacos são parentes próximos na natureza e o ancestral que
deu origem a ambos era um animal semelhante aos macacos que
conhecemos atualmente.
308 UNIUBE

8.4 O registro geológico e fossilífero

Para compreendermos a história da vida na Terra, imagine um grande


livro, já que os acontecimentos separados que formam essa história
devem estar dispostos em sequência e relação corretas. Os registros
impressos estão fortemente encadernados de modo que as páginas
se seguem uma à outra, na sequência correta e fornecem ao leitor
um relatório coerente e relacionado. Mas, no registro geológico, como
podemos dizer qual é a página 1, a 2, a 3, e assim por diante?

As “folhas” que formam o “livro” de registro geológico são camadas de


rochas chamadas de estratos. Um estrato consiste de material mais ou
menos solidificado, que foi originariamente depositado por um agente
transportador, como a água ou o ar. Muito da grande quantidade dos
estratos conhecidos foi depositado no que era, então, o fundo de extensões
pouco profundas do mar. Nesses mares rasos vivem um grande número
de animais, muitos deles, espécies com conchas calcárias ou esqueletos.

RELEMBRANDO

Como estudamos, o registro nas rochas não é um livro que pode ser aberto
na página de escolha. Ele é infelizmente, muito incompleto. Considerando
os fatores que atrapalham os esforços dos paleontólogos, é impressionante
a qualidade do documentário dos fósseis.

Veja a Figura 16:

Figura 16: Rochas sedimentares.


Foto: Vanessa das Dores Duarte Teruel.

As rochas sedimentares são algumas das fontes mais ricas de fósseis de


animais terrestres.
UNIUBE 309

Quantos dos animais que viveram em determinada época da história da


Terra são conhecidos pelos geólogos, após milhões de anos ou mais?
Entre os animais que possuem partes duras, quantos são conhecidos
pelos geólogos?

As oportunidades de fossilização variam bastante. Segundo Futuyma


(2003), organismos sem esqueleto duro podem ser fossilizados apenas
sob condições extremamente favoráveis. A ação de processos físicos,
químicos e geológicos nas rochas que contêm os fósseis, desgasta a
rocha circundante e expõe o fóssil.

Futuyma (2003, p.27) afirma ainda que:


muito antes de Darwin ter convencido o mundo
científico da realidade da evolução, geólogos haviam
estabelecido a cronologia relativa dos períodos
geológicos, isto é, sua ordem cronológica, com base
no princípio da superposição – rochas mais jovens
são depositadas sobre rochas mais antigas.

Você sabia que esse princípio é tão aceito cientificamente que alguns
autores o chamam de lei, e não de princípio? Isso acontece porque, em
uma sucessão de camadas de rocha que não foram deformadas, cada
camada é mais jovem do que aquelas que estão abaixo dela e mais
antiga do que as que estão acima.

SAIBA MAIS

Em uma escavação no Egito, paleontólogos encontraram o esqueleto


quase completo de um animal semelhante a uma baleia, que é hoje
conhecido como Dorudon (Figura 17).
310 UNIUBE

Figura 17: Dorudon.

O Dorudon, existente há 40 milhões de anos, possuía uma pelve separada,


junto à extremidade da cauda, assim como pernas pequenas e inúteis.
Veja que apresenta a estrutura óssea com cinco dedos.

Como a mão humana, a pata dianteira de uma baleia primitiva preserva a


estrutura óssea com cinco dedos; o vestígio da pata traseira perdeu vários
de seus ossos, mas comprova que a baleia descende de um ancestral
com quatro membros inferiores.

A biogeografia desempenhou um papel decisivo nas origens da teoria da


evolução; por exemplo, parte da inspiração que levou Darwin à convicção
da realidade da evolução veio de suas observações da distribuição de
espécies semelhantes de aves e tartarugas nas Ilhas Galápagos e das
semelhanças e diferenças entre os mamíferos fósseis e recentes da
América do Sul. Em A Origem das Espécies, Darwin usou extensamente
a biogeografia como evidência da evolução e Alfred Russel Wallace
gastou boa parte de sua vida desenvolvendo conceitos de biogeografia
(FUTUYMA, 2003).

Considerando a distribuição dos seres orgânicos sobre a superfície


do globo, o primeiro dos grandes fatos que chamam nossa atenção é
que nem a semelhança, nem a diferença dos habitantes das diferentes
UNIUBE 311

regiões podem explicar-se totalmente pelas condições de clima ou outras


condições físicas. Ultimamente, quase todos os autores que estudaram
o assunto chegaram a essa conclusão.

O caso da América, quase bastaria, por si só, para provar sua exatidão,
pois se excluíssemos as partes polares e temperadas do norte, todos
os autores concordam que uma das divisões mais fundamentais na
distribuição geográfica é a que existe entre o Velho e o Novo Mundo.

O homem assemelha-se aos macacos, especialmente, aos grandes


macacos do Velho Mundo, em contraste com os macacos do Novo
Mundo, por ter o nariz estreito, com narinas juntas, dois dentes
pré-molares e por vários outros aspectos. Ao homem e os grandes
macacos faltam a cauda externa; os macacos do Velho Mundo possuem
caudas, embora estas sejam frequentemente mais ou menos curtas
e, em nenhuma circunstância, desenvolvem a capacidade preênsil da
cauda de alguns macacos do Novo Mundo, que funciona como um
quinto membro.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Acredita-se que as características que, em maior parte, diferenciam os


seres humanos de outros primatas são, provavelmente, os resultados da
seleção natural, atuando no melhoramento da qualidade da alimentação
humana, e a eficiência com que nossos ancestrais conseguiram alimentos.
Alguns cientistas entendem que vários dos problemas de saúde,
enfrentados pelas sociedades de nosso tempo, seriam consequências
de uma disparidade entre o que ingerimos e o que nossos antepassados
comeram. A abordagem típica da evolução sustenta que os humanos
surgiram de um ancestral semelhante a um chimpanzé, entre 5 e 6
milhões de anos atrás na África Oriental e que se tornou bípede na
savana. Mas, até recentemente, fósseis hominídeos de mais de 4,4
milhões de anos eram virtualmente desconhecidos (LEONARD, 2003).
312 UNIUBE

A busca por fatos relativos à evolução humana criou grandes debates


com os paleontólogos. Com argumentos baseados em seus fósseis,
a maioria dos paleontólogos reivindicava que a divisão evolutiva entre
os humanos e os antropoides ocorrera há 25 milhões de anos. Os
geneticistas sustentavam que os genes dos macacos e dos homens
são muito similares para que a cisão tenha mais do que alguns poucos
milhões de anos. Nem a informação genética de pessoas vivas, nem
os fragmentos fossilizados dos mortos, explicam isoladamente como,
quando e onde se originaram as populações.

Os biólogos moleculares sabem que os genes que examinam, passaram


por linhagens que sobreviveram até o presente; os paleontólogos não
podem ter certeza de que os fósseis que examinam não os conduzem a
um “beco” evolutivo sem saída. Assim, os biólogos treinados em teorias
modernas da evolução devem rejeitar a noção de que os fósseis fornecem
a evidência mais direta de como se processou a evolução humana.

Os fósseis ajudam a completar o conhecimento de como os processos


biológicos ocorrem no passado, mas não devem nos cegar em relação
a novas linhas de indícios ou a novas interpretações com materiais
arqueológicos pouco conhecidos e provisoriamente datados.

Segundo Jim Dickson, Klaus Oeggl e Linda Handley (2003, p.1), um


homem, intitulado o homem do gelo, foi descoberto em setembro de 1991:
em uma depressão rochosa nos Alpes, uma área de
neve e gelos eternos. A pressão do gelo que o cobria
retirou parte do seu couro cabeludo. O cadáver estava
de bruços, caído sobre um rochedo. Ao contrário das
hipóteses iniciais, evidências indicam que ele teria
sido arrastado para aquela posição por sucessivos
degelos. O homem do gelo é muito mais antigo
que os homens da Idade do Ferro das turfeiras da
Dinamarca e precede até as múmias egípcias. Quase
tão impressionante quanto sua idade foi encontrar
suas roupas e acessórios.
UNIUBE 313

Descobertas, assim, são muito importantes para refletirmos sobre o


processo de evolução!

A diversidade dos seres vivos é regulada? Reflita, discuta com


os seus colegas, e, em seguida, faça as suas anotações.

Do mesmo modo que podemos perguntar se a densidade de uma


população flutua aleatoriamente ou se é mantida ao redor de um
equilíbrio por fatores dependentes da densidade, podemos perguntar
se a diversidade de espécies é regulada ao redor de um equilíbrio.
Mesmo que ela seja, é óbvio, o equilíbrio pode ele mesmo se modificar no
tempo conforme as mudanças das condições ambientais, de modo que
a inconstância na diversidade de espécies não é em si mesma evidência
contra a regulação da diversidade. A evidência a favor da regulação seria
fornecida por mudanças na diversidade que diferissem de expectativas
aleatórias, ou de alguma evidência direta de que as taxas de origem ou
de extinção dependessem da diversidade (FUTUYMA, 2003).

Sendo assim, estamos terminando o estudo das teorias evolutivas. Sendo


assim, faça a releitura deste capítulo, refletindo sobre o que lê, anotando
os pontos principais e as dúvidas que ficaram. Não tema esquecer
algumas informações, releia os textos e pesquise constantemente,
organize o conhecimento a partir não da lógica que estrutura a ciência,
mas de situações de aprendizagem que tenham sentido, que lhe
permitam adquirir um instrumento para agir em diferentes contextos e,
principalmente, em situação de vida.

Bons estudos! Lembre-se de que a busca de informações é um


procedimento importante para a sua aprendizagem, pois estar
formado para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar
classificações ou identificar símbolos, significa saber se informar,
comunicar-se, argumentar, compreender e agir.
314 UNIUBE

Resumo

Neste capítulo, vimos que a ciência moderna, em um de seus paradigmas


centrais, estabelece uma coerência de origem e diversificação dos seres
vivos atuais. Segundo esse paradigma, todos os seres vivos, atuais e
passados, são fruto de um processo único: a evolução biológica.

É por meio da evolução biológica que podemos explicar nossas origens.


Entretanto, esse processo implica a ocorrência de uma história longa,
cheia de acontecimentos, período crítico e – por que não dizer? – muito
mistério.

Qualquer mudança nas características físicas ou biológicas de um


ambiente influencia, de modo diverso, as espécies de animais e plantas
que aí vivem.

Como todas as espécies produzem prole mais numerosa que a que


pode sobreviver na área normal de distribuição, há uma pressão de
população que tende a expandir os limites da área. Outros fatores,
como a competição, inimigos, doenças, escassez de alimento, tempo
desfavorável e falta de locais de abrigo, tendem a diminuir a população e
as fronteiras de sua distribuição. A distribuição de todos os organismos,
desde os protozoários até o homem, é antes dinâmica que estática e
sempre sujeita a modificações. O mesmo vale, também, para as plantas,
das quais tantos animais dependem. A maioria das plantas, estando
enraizada no solo, não pode ampliar a área como indivíduos, mas apenas
pela dispersão de sementes.

Qualquer tentativa de explicar a existência de organismos e fósseis


deve explicar também sua origem, suas semelhanças e diferenças, suas
adaptações aos diversos ambientes e sua distribuição geográfica. As
teorias da evolução orgânica enunciam que, desde que a vida surgiu na
Terra, a evolução tem sido contínua e que os organismos mais recentes
derivam de outros mais antigos pela herança de variações, grandes
UNIUBE 315

ou pequenas, induzidas pelo ambiente ou por processos internos dos


organismos. Admite-se que a maioria dos processos evolutivos trabalha
lentamente e seja, por isso, difícil de ser testada experimentalmente.

Charles R. Darwin admitia hipoteticamente que, na competição pela


existência dos seres vivos, os indivíduos que sofreram pequenas
variações favoráveis fossem capazes de enfrentar com mais sucesso
as condições impostas pela vida e, assim, sobreviveriam e perpetuariam
a espécie. Por meio de uma seleção natural, os indivíduos carentes
de tais variações pereceriam ou não se reproduziriam, eliminando-se
desse modo seus caracteres da população. O processo, continuado
em gerações sucessivas, resultaria em gradual adaptação mais perfeita
dos animais ao ambiente. Modificando-se as condições do ambiente,
os caracteres que sobreviveriam à seleção natural seriam também
modificados.

Uma espécie num ambiente em mudança, ou uma que tivesse migrado


para um novo ambiente, alterar-se-ia gradativamente para adaptar-se
às novas condições. Os animais que não conseguissem desenvolver
novas variações apropriadas a quaisquer das condições do ambiente,
seriam logo eliminados.

Assim, concebeu Darwin o desenvolvimento de quaisquer tipos de


adaptações, a origem de espécies em ambientes alterados ou novos
e, ainda, a extinção de espécies no passado geológico.

Atividades
Atividade 1

Além dos fósseis, há evidências indiretas de que a vida estava presente


nos oceanos do Arqueozoico. Essas evidências são fornecidas por
depósitos de grafita em rochas dessa era. Explique por que as águas
vivas resistem desde os primórdios da vida na Terra até os nossos dias,
sem sofrer extinção.
316 UNIUBE

Atividade 2

O termo adaptação designa a capacidade de sobrevivência e de


reprodução de uma determinada espécie em determinado ambiente.
Assim, para que uma espécie seja considerada adaptada num certo
ambiente, ela deve ser portadora de um conjunto de características
morfofisiológicas estreitamente associadas com sua capacidade de
sobrevivência e de reprodução. A região australiana apresenta muitas
espécies de animais e vegetais que são características dessa área
geográfica. A que se pode atribuir a existência de fauna e flora tão
peculiares?

Atividade 3

Considere dois grupos imaginários de animais em competição, cada


grupo constituído, no início, de 1200 indivíduos jovens. Do grupo I,
1000 indivíduos sobrevivem até a maturidade; do grupo II, apenas
600 indivíduos sobrevivem. Digamos que essas taxas de mortalidade
prematura sejam comprovadamente comuns nesses grupos. Mas,
verifica-se que, no grupo I, a taxa de reprodução é tal que cada indivíduo
é substituído por um descendente, enquanto no grupo II, cada indivíduo
é substituído por dois descendentes. Com vistas ao fenômeno da
seleção natural, como fator de preservação de uma variedade, qual
dos dois grupos será mais bem-sucedido? Justifique sua resposta.

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Anotações
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