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AULA 8
CONTINUAÇÃO - QUESTIONAMENTO ELABORATIVO

QUESTIONAMENTO ELABORATIVO

1. Em caso de lesão corporal culposa, praticada na direção de veículo automotor, qual será a
modalidade de ação penal?
Isso dependerá do caso concreto a ser analisado. O art. 291 do CTB estabelece, primeiramente, que, no
caso de lesão corporal culposa (art. 303 do CTB), serão aplicadas disposições relacionadas aos arts.74, 76 e 88 da
Lei 9099/95, sendo cabível a composição civil, transação penal e representação (em ação penal pública condicio-
nada à representação) – o mesmo ocorre no caso de lesão corporal culposa prevista no CP. No entanto, o art. 291
do CTB também dispõe acerca de exceções, é caso da pessoa que atropelou alguém e provocou lesão corporal
culposa, estando em velocidade excessiva (acima de 50 km/h), ou participando de racha, ou sob efeito de álcool ou
substâncias psicoativas. Nestas circunstâncias, não poderá ser aplicada a Lei 9.099/95. Assim sendo, nestes casos,
a ação penal será pública incondicionada.

2. É possível o concurso de crimes entre homicídio (art. 302 do CTB) e o crime de embriaguez ao
volante (art. 306 do CTB)?
Não, pois, atualmente, aquele que mata alguém na direção de veículo automotor, estando sob efeito de
álcool ou substâncias psicoativas, responde pela modalidade mais grave do art. 302 do CTB. Ou seja, afasta-se o
concurso de crimes.

3. Qual é a modalidade de ação penal em caso de lesão corporal leve com violência doméstica?
Em regra, em caso de lesão corporal leve com violência, a ação penal será pública condicionada à re-
presentação. O art.88 da Lei 9.99/95 dispõe que a lesão corporal leve depende de representação do ofendido. No
entanto, se a vítima for mulher, ação penal pública passa a ser incondicionada.

4. Chamar alguém de ladrão é crime de calúnia?


Não, pois não há imputação de fato. Chamar uma pessoa de ladrão é uma atribuição de qualidade ne-
gativa, ou seja, está-se xingando a vítima. Desta maneira, é um caso de crime de injúria, pois há ofensa à dignidade
e decore da vítima.

5. Qual é a diferença entre furto e roubo?


A diferença entre furto e roubo está no meio empregado. Todavia, o crime de roubo não significa tão
somente subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem no emprego de violência ou grave ameaça, pois se o

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agente, para realizar a subtração, impossibilita a resistência da vítima, também haverá crime de roubo. Desta ma-
neira, não sendo empregados estes meios, será hipótese de crime de furto.

CRIMES PATRIMONIAIS (Continuação)

3. CRIME DE ROUBO

A partir de agora, veremos de forma mais aprofundada o crime de roubo, o qual pode ser próprio, con-
forme o caput do art. 157 do CP, e impróprio, §1º do art. 157 do CP. Veja:

Roubo

Art. 157, CP: Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para


outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à im-
possibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de sub-


traída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave
ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para si ou para terceiro.

Desta maneira, a diferença entre roubo próprio e roubo impróprio se dá da seguinte forma:

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No roubo próprio, portanto, é o caso do agente que primeiro emprega a violência, grave ameaça ou
meio que impossibilite a resistência da vítima para depois alcançar a subtração. Já no roubo impróprio, o agente
primeiro subtrai a coisa pretendida e depois usa violência ou grave ameaça. É uma hipótese muito parecida com
o crime de furto, mas que se caracteriza como roubo (impróprio) em decorrência da conduta se finalizar com a
violência ou grave ameaça.
É um exemplo de roubo impróprio o caso da pessoa que entra na casa da vítima sem ser vista para
subtrair uma joia, mas no momento de sua saída e já com a joia em mãos, a vítima aparece, fazendo com que o
agente a ameace com uma faca, por exemplo, para que consiga sair daquele local com a joia (É como se fosse uma
hipótese de furto que não deu certo).

O §2º do art. 157 do CP prevê as majorantes de roubo.

Art. 157, CP:

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:


(Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)

I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)


II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o
agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessó-
rios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego.(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

ATENÇÃO: A majorante do emprego de arma prevista no inciso I deste artigo foi revogada pela Lei
13.654/18, passando a caracterizar nova hipótese de aumento de pena no parágrafo 2º A. No entanto, na nova
majorante, exigi-se que a arma seja de fogo. Com isso, nesse ponto, a alteração foi benéfica e deve retroagir para
alcançar aqueles que tiveram a pena do roubo majorada pelo emprego de outra modalidade de arma. Vejamos:

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Art. 157, CP:

§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):(Incluído


pela Lei nº 13.654, de 2018)

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego


de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo medi-
ante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que
cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de
2018)

Imagine que o agente queira praticar um roubo em uma casa onde moram duas pessoas. Como a casa
tinha uma porta que impedia o fácil acesso, o agente resolveu utilizar explosivos para arrombá-la. Empregou a
violência contra os moradores e subtraiu as coisas que na casa estavam. Desta forma, a partir da vigência da Lei
13.654/18, esta hipótese é de crime de roubo, devendo ser aplicada a majorante prevista no inciso II do §2º do art.
157 do CP.
Ainda sobre o §2º do art. 157 do CP, deve-se ter cuidado com o inciso V que estabelece como majorante
“se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade”. Nesta hipótese, o agente mantém a vítima
em seu poder com a finalidade garantir o roubo. Exemplo: o agente que, para roubar o carro, leva a vítima de
maneira que o alarme não seja acionado, liberando-a 30 minutos depois do roubo.

ATENÇÃO: A privação da liberdade da vítima pode impactar também em outros crimes. Como é o caso
do agente que leva a vítima para um cativeiro no intuito de pedir resgate à família. Nesta hipótese, tem-se o crime
de extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP). O crime de extorsão mediante sequestro se consuma quando o
agente priva a vítima de liberdade no intuito de obter vantagem para si, não sendo necessário a obtenção da van-
tagem de fato para a configuração do crime.
Na extorsão quem vai praticar o crime precisa da vítima, pois o agente só obtém a vantagem alme-
jada, se a vítima praticar alguma conduta. Já no roubo, a conduta da vítima pode até existir, mas não é imprescin-
dível como na extorsão.
Em relação ao inciso V do §2º do art. 157 do CP, deve-se compreender a sua diferença para o §3º do
art. 158 do CP, conhecido como sequestro relâmpago. No sequestro relâmpago o agente também precisa da
vítima para obter a vantagem. É o caso do agente que sequestra a vítima, ainda que momentaneamente, para que
ela faça o saque do montante desejado por ele. Ou seja, aqui, a vítima foi constrangida e teve privação da sua
liberdade momentaneamente para que o agente obtivesse a vantagem.

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A Lei 13.654/18 também incluiu no art. 157 do CP a majorante do o inciso VI que estabelece que pena
será aumenta de 2/3: “se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego”.
Outras qualificadoras estão dispostas no art. 157, as quais não se confundem com majorantes. Veja:

Art. 157, CP:

§ 3º. Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº


13.654, de 2018)

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete)


a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta)
anos, e multa.(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

Se o roubo for seguido de morte, tem-se o chamado latrocínio. CUIDADO: Desde que a morte tenha
relação com o crime patrimonial. O crime de latrocínio se consuma com a morte, ainda que o agente não tenha
levado a coisa subtraída. O §3º, então, teve nova redação dada pela Lei 13.654/18, tendo aumentado em 3 anos a
pena máxima do roubo seguido de lesão.

4. CRIME DE RECEPTAÇÃO

Outra espécie de crime patrimonial é o crime de receptação, o qual possui modalidades principais: a
própria e imprópria; a qualificada e a culposa. Este crime está previsto no art. 180 do CP. Veja:

Receptação

Art. 180, CP - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou


ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé,
a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

A partir da leitura deste artigo, percebe-se que há disposição de diferentes verbos. A primeira parte do
caput deste artigo estabelece a receptação própria: “adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito

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próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime”, enquanto a segunda parte, sobre receptação imprópria:
“ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte”.

Os parágrafos do artigo 180 também tipificam algumas outras modalidades de receptação:

Receptação qualificada

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,


montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser pro-
duto de crime:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer


forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residên-
cia.

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o
valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio
criminoso:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do


crime de que proveio a coisa.

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em considera-


ção as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto
no § 2º do art. 155.

§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de


Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista
no caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)

Receptação de animal

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou ven-
der, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de pro-
dução, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de
crime: (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Talvez o maior desafio no entendimento do crime de receptação esteja em diferenciar “ocultar (...) coisa
que sabe ser produto de crime” do art. 349 do CP, que dispõe sobre o favorecimento real, quando o agente torna
seguro o proveito do crime para alguém. Quando o agente presta um favor ao autor do crime, tem-se o favoreci-
mento real. No caso da receptação, o agente (autor do crime) deseja tomar proveito para ele ou para outra pessoa
alheia (ao crime praticado). Logo, se a pessoa recebe uma ligação do autor do crime (após o crime ter sido praticado)
e decide ocultar um carro subtraído em sua garagem, porque quer ajudar o amigo que realizou a subtração. Neste

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caso, haverá favorecimento real. Já se a intenção é adquirir o veículo posteriormente, ou guardar o veículo porque
um outro amigo quer adquirir, haverá receptação.

ATENÇÃO: Se o agente recebe uma ligação de seu amigo e este diz que deseja praticar o crime de
roubo de um carro, por exemplo, mas que não tem onde guardar veículo. Nesta hipótese, caso o agente diga que
após o roubo, o carro pode ser guardado na garagem dele, haverá, nesta hipótese, concurso de pessoas. Desta
maneira, ambos responderão pelo crime de roubo. Mas para haver concurso, é importante que essa divisão de
tarefas tenha sido antes da realização do crime antecedente.

5. IMUNIDADES NOS CRIMES PATRIMONIAIS

Os crimes patrimoniais possuem algumas imunidades, as quais estão previstas em dois artigos: art. 181
e o art.182 do CP. Deve também ser estudado o art. 183 do CP, haja vista que este dispõe sobre as exceções dos
artigos anteriores.
A primeira imunidade está disposta no art. 181 do CP. Diz que esta imunidade é absolutória. Trata-se
de uma escusa absolutória. Já a segunda, a imunidade do art. 182 do CP, é relativa e tão somente transmuda a
ação penal. Desta maneira, verifica-se que são imunidades de naturezas diferentes.
Entende-se por escusa absolutória quando a punibilidade de um crime não chega a nascer no caso
concreto. Exemplo: Quando o filho, sem violência ou grave ameaça, subtrai do pai uma grande quantia em dinheiro
da sua carteira sem que ele sabe. Nesta hipótese, tem-se o crime de furto, porém não há punibilidade, em razão da
escusa absolutória. Ou seja, o filho não será punido por ter praticado furto contra seu próprio pai.

Art. 181, CP: É isento de pena quem comete qualquer


dos crimes previstos neste título, em prejuízo:

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;


II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

ATENÇÃO: Nem sempre o uso da expressão “é isento de pena” significa o instituto da escusa absolu-
tória, pois há momentos que esta expressão é utilizada para associar à excludente de culpabilidade, por exemplo.

No caso do art. 181, conforme já foi mencionado, tem-se a disposição de uma imunidade associada à
escusa absolutória. De acordo com este artigo, é possível que, ao invés do filho biológico, o filho adotivo pratique
esta conduta do exemplo, a de furto contra seu pai adotivo sem o emprego de violência ou grave ameaça, e ainda
assim não seja punido pelo crime.

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Art. 182, CP: Somente se procede mediante representa-
ção, se o crime previsto neste título é cometido em pre-
juízo:

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;


II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

O art. 182 do CP, ao mencionar a palavra representação, estabeleceu que a ação penal pública será a
condicionada à representação. Salienta-se que, tradicionalmente, nos casos de crimes patrimoniais, as ações pe-
nais serão as públicas incondicionadas. Exemplo: Se João e Marcos são irmãos, e João praticar o crime de furto
contra Marcos, caberá a este, seu irmão, decidir se irá representar na ação penal ou não, pois o Ministério Público
precisa desta representação para prosseguir com a ação penal. Então, a representação será uma condição de
procedibilidade da ação penal pública. Por isso que a imunidade do art. 182 do CP é relativa, pois há somente a
transmudação da ação penal, ficando a cargo da vítima decidir sobre a representação.
Outro artigo muito importante a ser estudado é o 183 do CP. Veja:

Art. 183, CP: Não se aplica o disposto nos dois artigos


anteriores:

I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,


quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

O art. 183 do CP dispõe sobre as exceções aos artigos anteriores. Assim sendo, nas hipóteses mencio-
nadas nestes incisos não poderão ser aplicadas nenhuma das imunidades. Então, se pai a ser furtado pelo filho for
idoso (pessoa maior de 60 anos de idade), não poderá ser aplicada a imunidade ao crime praticado pelo filho,
devendo este, portanto, responder pelo furto.

ATENÇÃO: Não será admita a imunidade do art. 181 do CP, caso a subtração seja realizada mediante
violência ou grave ameaça pelo filho ao pai, independentemente de sua idade. Desta maneira, o filho responde pelo
crime de roubo.

Enunciados que envolvem os crimes patrimoniais

 SÚMULAS STJ:

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Súmula 582, STJ
Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave
ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa rou-
bada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

Súmula 567, STJ


Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior
de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.

Súmula 511, STJ


É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto
qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de
ordem objetiva.

Súmula 442, STJ


É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.

Súmula 244, STJ


Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem
provisão de fundos.

Súmula 107, STJ


Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante falsifica-
ção das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal.

Súmula 96, STJ


O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.

Súmula 73, STJ


A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da
competência da justiça estadual.

Súmula 48, STJ


Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato come-
tido mediante falsificação de cheque.

Súmula 24, STJ

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Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da previdência social,
a qualificadora do § 3º, do art. 171 do código penal.

Súmula 17, STJ


Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, e por este absorvido.

 SÚMULAS STF:
Súmula 610, STF
Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de
bens da vítima.

Súmula 603, STF


A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do Juiz singular e não do Tribunal do Júri.

Súmula 554, STF


O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta
ao prosseguimento da ação penal.

Súmula 521, STF


O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emis-
são dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Veja a partir de agora uma outra espécie de crimes que também estão dispostos na Parte Especial do
Código Penal. São eles os crimes contra a dignidade sexual. Esta parte do CP abrange os crimes contra liber-
dade sexual, os crimes sexuais contra vulnerável, as disposições gerais, o lenocínio, o ultraje público ao
pudor e outras disposições gerais.
No intuito de estabelecer um estudo dirigido para prova, veja os pontos de maior importância:
a) Modalidades de estupro;
b) Distinção entre estupro e violação sexual mediante fraude;
c) Estupro de vulnerável e experiência sexual anterior da vítima;
d) Estupro de vulnerável e erro de tipo;
e) Tráfico de pessoas;
f) Ação penal.

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1. MODALIDADES DE ESTUPRO

O crime de estupro está previsto no art. 213 do CP e, assim como outros crimes já estudados até aqui,
possui modalidades. Veja como está disposto seu dispositivo:

Estupro

Art. 213, CP: Constranger alguém, mediante violência ou


grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1º - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza


grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de
14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2º - Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Nos §§1º e 2º do art. 123 do CP, tem-se as formas qualificadas.


Atente-se que o §1º estabelece como vítima, pessoa menor de 18 ou maior de 14 anos de idade. Isso
se dá porque quando a vítima de estupro for menor de 14 anos de idade o agente responderá por outro crime,
o estupro de vulnerável (art. 217-A do CP). Este, portanto, é uma outra modalidade de estupro. Veja:

Estupro de vulnerável

Art. 217-A, CP: Ter conjunção carnal ou praticar outro ato


libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

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No entanto, pessoa vulnerável não é só aquela menor de 14 anos. É sobre o que dispõe o §1º do art.
217-A:

Estupro de vulnerável

Art. 217-A, CP:

§ 1º - Incorre na mesma pena quem pratica as ações des-


critas no caput com alguém que, por enfermidade ou de-
ficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência.

Desta maneira, outras hipóteses de vulnerável são estabelecidas neste artigo: “alguém que, por enfer-
midade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato” ou aquela pessoa que “por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”. É exemplo desta última hipótese a pessoa que esteja em
coma, esta pessoa não necessariamente é menor de 14 anos de idade nem portadora de enfermidade ou deficiência
mental. Outro exemplo: pessoa que esteja em coma alcóolico.
ATENÇÃO: No caso de estupro seguido de morte, previsto no §2º do art. 213 do CP, esta morte não
pode se dar a título de dolo, no estupro seguido de morte, a morte ocorre a título de culpa. Exemplo: o agente, no
momento do estupro, coloca um travesseiro no rosto da vítima para abafar os gritos e, posteriormente, em razão da
asfixia, a vítima vem a óbito. No entanto, se o sujeito estupra a vítima e depois decide matá-la para que ela não
conte para alguém, não será hipótese de estupro seguido de morte, mas sim um concurso de crimes: estupro
e homicídio.

2. ERRO DO TIPO, ESTUPRO DE VULNERÁVEL E EXPERIÊNCIA SEXUAL ANTERIOR DA VÍTIMA

O que diferencia o estupro (art. 213) do estupro de vulnerável (art. 217-A)?


A condição de vulnerabilidade da vítima. Se a vítima é vulnerável e o agente tem ciência disso, não
importando como o ato libidinoso foi praticado (com consentimento, violência, grave ameaça ou fraude), o crime
será sempre de estupro de vulnerável.

E se o agente não tem ciência, por exemplo, de que a vítima é menor de 14 anos?
Neste caso, é possível a aplicação do art. 20 do CP. O erro de tipo exclui o dolo, embora permita a
punição por culpa. No entanto, estupro não tem modalidade culposa.

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ATENÇÃO AO SEGUINTE EXEMPLO: Imagine que Mário empregue grave ameaça para praticar ato
libidinoso com Joana. No entanto, Mario acreditava que Joana era maior de 18 anos de idade. Joana, na verdade,
tinha 13 anos de idade. Neste exemplo, houve o erro de tipo, o que exclui o dolo, conforme o art. 20 do CP, porém
exclui o dolo do art. 217-A. Como Mário empregou grave ameaça para praticar ato libidinoso, significa dizer que ele
tinha dolo de constranger alguém (Joana) a praticar tal ato. Pergunta-se: Qual é o dolo de Mário? O dolo de Mário
é o de praticar estupro (art. 213 do CP). O que será excluído pelo art. 20 é o dolo de estupro de vulnerável.

2. DISTINÇÃO ENTRE ESTUPRO E VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

O segundo ponto importante a ser compreendido é a distinção entre estupro (art. 213 do CP) e viola-
ção sexual mediante fraude (art. 215 do CP). Veja a disposição do art. 215 do CP:

Violação sexual mediante fraude

Art. 215, CP: Ter conjunção carnal ou praticar outro ato


libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio
que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade
da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de


obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

A diferença entre os referidos crimes é o meio empregado. No crime de estupro, o meio empregado é a
violência ou grave ameaça, enquanto na violação sexual mediante fraude o meio utilizado é a fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. Um exemplo de violação sexual medi-
ante fraude é quando o agente engana a vítima se passando por outra pessoa (irmão gêmeo, por exemplo).

Então, qual é o critério que diferencia a violação sexual mediante fraude do crime de estupro (art.
213 CP)?
O meio empregado para a prática do ato libidinoso. Caso o agente empregue a fraude, o crime será do
art. 215. Caso o agente empregue violência ou grave ameaça, o crime será do art. 213. Cabe destacar que se a

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vítima for vulnerável e o agente tiver conhecimento disso, não importa o meio empregado, pois o crime será
sempre o do art. 217-A (estupro de vulnerável).

ATENÇÃO: Já no crime de assédio sexual (art. 216-A do CP), não há emprego de violência ou de grave
ameaça. No máximo, em havendo ameaça, ela não será grave. Exemplo: Ameaçar de não dar a promoção que é
devida.

Assédio sexual

Art. 216-A, CP: Constranger alguém com o intuito de ob-


ter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se
o agente da sua condição de superior hierárquico ou as-
cendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Parágrafo único. (VETADO)

§ 2º- A pena é aumentada em até um terço se a vítima é


menor de 18 (dezoito) anos.

A prática de ato libidinoso com menor de 18 anos e maior de 14 anos configura crime?
Somente se o menor de 18 anos e maior de 14 estiver em situação de prostituição ou exploração
sexual. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável. Veja sobre o que dispõe o art. 218-B do CP:

Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de cri-


ança ou adolescente ou de vulnerável. (Redação dada pela Lei nº 12.978, de
2014)

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração


sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impe-
dir ou dificultar que a abandone:

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Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

§ 1º - Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se


também multa.

§ 2º - Incorre nas mesmas penas:


I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de
18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem
as práticas referidas no caput deste artigo.

§ 3º - Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a


cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

Este artigo, inclusive, tornou-se considerado crime hediondo desde 2014 a partir da alteração feita pela
Lei 12.978.

4. TRÁFICO DE PESSOAS

O tráfico de pessoas para fins sexuais é crime contra a dignidade sexual?


Não mais. A lei 13.344/16 revogou os artigos 231 e 231 A do Código Penal. O crime passou a estar
previsto no art. 149-A do CP, incluindo também outras motivações para o tráfico. Passou a se caracterizar como
crime contra a liberdade pessoal.

Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

Art. 149-A, CP: Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou
acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com
a finalidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (Incluído pela Lei nº 13.344,


de 2016)
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; (Incluído pela
Lei nº 13.344, de 2016)
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)
IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº


13.344, de 2016)

§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se: (Incluído pela Lei nº 13.344,
de 2016)

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I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com
deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabi-
tação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superio-
ridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou (Incluído
pela Lei nº 13.344, de 2016)
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. (Incluído
pela Lei nº 13.344, de 2016)

§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar


organização criminosa. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

Cabe ressaltar que a Lei 13.344 entrou em vigor no dia 21 de novembro de 2016.

5. AÇÃO PENAL

Por fim, o outro ponto que merece destaque é a ação penal. Veja sobre o que dispunha o art. 225 do CP
antes da alteração realizada em 2018:

Ação penal

Art. 225, CP: Nos crimes definidos nos Capítulos I e II


deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação.

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação


penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18
(dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Conforme visto, o art. 225 do CP dispunha sobre a ação penal nos casos dos crimes contra a liberdade
sexual (Capítulo I) e os crimes sexuais contra vulnerável (Capítulo II). Atente-se que o parágrafo único estabelecia
a ação penal pública incondicionada para os casos em que a vítima fosse menor de 18 anos de idade ou pessoa
vulnerável.

ATENÇÃO: A partir da leitura do art. 225 do CP, concluia-se que:


A maioria dos crimes contra a dignidade sexual seria de ação penal pública incondicionada. A exceção
(ação penal pública condicionada à representação) aplicava-se apenas aos crimes previstos no Capítulo I (arts. 213,
215 e 216A). Os crimes contra vulnerável são de ação penal pública incondicionada.

Vejamos a nova redação promovida pela Lei 13.718/18:

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Ação penal

Art. 225, CP: Nos crimes definidos nos Capítulos I e


II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada.

Essa lei entrou em vigor no dia 24 de setembro de 2018 e incluiu alguns novos crimes contra a dignidade
sexual. No entanto, somente podem ser aplicados às condutas praticadas a partir da sua entrada em vigor:

Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso
com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime
mais grave.
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável,
de cena de sexo ou de pornografia
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à
venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de co-
municação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou
outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável
ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima,
cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime
mais grave.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime
é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com
a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
Exclusão de ilicitude
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no ca-
put deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou aca-
dêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressal-
vada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos

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Também foi incluído o parágrafo 5o no artigo 217:
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo apli-
cam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter man-
tido relações sexuais anteriormente ao crime.”

E ainda foram realizadas algumas alterações em relação a causas de


aumento de pena. Vejamos:
Art. 226. ..............................................................
.......................................................................................
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela;
.......................................................................................
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
Estupro coletivo
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;
Estupro corretivo
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.” (NR)
“Art. 234-A. ...........................................................
........................................................................................
III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima
doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou
se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.

QUESTIONAMENTO ELABORATIVO

1. Qual é a diferença entre roubo próprio e impróprio?


2. O emprego de arma de fogo apresenta qual consequência no crime de roubo?
3. A subtração de filho contra o pai é crime?
4. Qual é a diferença entre estupro e estupro de vulnerável?
5. É possível o emprego de grave ameaça no crime de assédio sexual?

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