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17/10/2019 Responsabilidade Objetiva das Instituições Financeiras: Relação de Consumo; Cartão de Crédito com chip, senha intransferível; fr…

    

Responsabilidade Objetiva das Instituições


Financeiras: Relação de Consumo; Cartão
de Crédito com chip, senha intransferível;
fraude em relação aos consumidores
12/09/2019

Rafael Paraguassu de Oliveira, Marcio Souza de Almeida

RESUMO

O artigo objetiva abordar questões imprescindíveis ao desenvolvimento da Teoria da


Responsabilidade Objetiva das Instituições Financeiras, alusiva à fraude de cartão de crédito com
chip, visto que, os bancos argumentam o afastamento do Código de Defesa do Consumidor, já que
nessas transações haveria inexistência de falha na prestação de serviço – cartão com chip – que a
senha seria secreta e intransferível. Em outras palavras, sendo impossível de ser clonado ou
duplicado, malgrado, a doutrina e jurisprudência percorre de forma oposta. Compreendem que versa
sobre relação de consumo, devendo, pois, ser analisada à luz de seus princípios e regramentos,
ademais, repelem a tese da senha intransferível, a falha no serviço de segurança do banco, que
permite a utilização do cartão de crédito do cliente para compra por terceiros, caracteriza fato do
serviço, o que atrai o dever do fornecedor de comprovar a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro,
para afastar sua responsabilidade de reparar o dano. Sendo assim, não pode ser alegada também
fraude por terceiros, visto que não afasta a responsabilidade civil do prestador dos serviços, pois se
trata de fortuito interno, ou seja, inerente à própria atividade econômica exercida pelo banco, motivo
ao qual comprova a falha no serviço.

Palavras-Chave: Responsabilidade Objetiva da Instituição Financeira-Relação De Consumo-Fraude


Cartão com Chip.

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Abstract: The article aims to address essential issues to the development of the Theory of
Responsibility Objective of Financial Institutions, alluding to credit card fraud with chip, since, the
banks argue the withdrawal of the consumer protection code, since in these transactions there would
be no failure to provide service – chip card – which would be secret and non-transferable. In other
words, being impossible to be cloned or duplicated, in spite of this, doctrine and jurisprudence go the
opposite way. They understand that it is about consumption relationship and should therefore be
analyzed in light of its principles and regulations, in addition, repel the thesis of the non-transferable
password, the failure in the security service of the bank, which allows the use of the customer’s credit
card for purchase by third parties, characterizes the fact of the service, which attracts the duty of the
supplier to prove the exclusive fault of the consumer or third party, to avoid their responsibility to
repair the damage. Therefore, fraud can not be alleged by third parties, as it does not exclude civil
liability of the service provider, because it is a fortuitous internal, that is, inherent to the economic
activity itself exercised by the bank, reason for which proves the failure in the service.

Keywords: Objective Responsibility of the Financial Institution-Consumer-Fraud Relation Card with


Chip.

Sumário: Introdução. 1. Relação de Consumo frente às Instituições Financeiras. 1.1. Conceitos de


Consumidor, Fornecedor, Produto e Serviço. 1.1.2 Conceito de Consumidor. 1.1.3 Conceito de
Fornecedor. 1.1.4 Conceito de Produto. 1.1.5 Conceito de Serviço. 1.2. Relação de Consumo Frente
às Instituições Financeiras. 2. Breve Resumo da Teoria da Responsabilidade. 2.1 Da
Responsabilidade Subjetiva. 2.2 Da Responsabilidade Objetiva. 3. Responsabilidade Objetiva das
Instituições Financeiras. 3.1 Inexistências de Falha na Prestação de Serviço – Cartão com Chip. 3.2 A
Culpa Exclusiva da Vítima. 4 Fortuito Externo e Interno. 4.1 Fortuito Externo. 4.2 Fortuito Interno.
Conclusão.

INTRODUÇÃO

Os cartões bancários, tanto de crédito quanto débito, estão cada vez sendo mais utilizados pelas
pessoas, e se justifica pela facilidade e pela segurança. Hoje em dia, é mais raro encontrar pessoas que
andem com dinheiro em espécie na carteira. Contudo, as fraudes nos cartões também se tornaram

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recorrentes, ocasionando transtornos tanto para o usuário quanto para o banco, além da relação entre
estes agentes que está pautada na confiança dos serviços prestados pelos bancos.

Diante de uma fraude no cartão de crédito, como por exemplo, uma compra não realizada pelo
cliente, surge o questionamento de saber de quem é a responsabilidade pelo fato, mesmo em cartões
que possuem chip e senha intransferível.

Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo abordar questões sobre o desenvolvimento da Teoria
da Responsabilidade Objetiva das instituições financeiras, em relação às fraudes em cartão de crédito
com chip, visto que, os bancos argumentam o afastamento do Código de Defesa do Consumidor, já
que nessas transações haveria inexistência de falha na prestação de serviço – cartão com chip – a qual
a senha seria secreta e intransferível.

Com o propósito de alcançar os objetivos, este artigo foi dividido em quatro seções: a primeira seção
aborda a relação de consumo frente às instituições financeiras, em que foi levantado o conceito de
consumidor, fornecedor, produto e serviço; a segunda seção apresenta a teoria da responsabilidade,
subdividindo-se em objetiva e subjetiva; a terceira seção aborda a responsabilidade objetiva das
instituições financeiras, apontando a inexistência de falha na prestação de serviço e a culpa exclusiva
da vítima; e por fim, a quarta seção detalha sobre fortuito interno e externo.

A escolha do tema justifica-se, pois de acordo com a lei, as instituições bancárias assumem o risco da
atividade econômica desempenhada, já que, por consequência, é alvo das mais diversas tentativas de
fraude em seus serviços. Além disso, deve arcar com os prejuízos advindos, pois todo aquele que se
predispõe a oferecer bens e serviços deve ter a responsabilidade de arcar com os fatos e defeitos
advindos de seu empreendimento.

O trabalho proposto baseia-se em uma pesquisa de abordagem explicativa, por meio da coleta de
fontes em pesquisa bibliográfica, a respeito da fraude em relação aos consumidores, correlacionado à
responsabilidade das instituições financeiras a partir da relação de consumo com os clientes
portadores de cartão de crédito com chip e senha intransferível.

1 RELAÇÃO DE CONSUMO FRENTE ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

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Cumpre elucidar o conceito de instituição financeira, antes de minuciarmos os aspectos relevante à


relação consumerista.

Têm-se um conceito legal de instituição financeira, dado pela Lei 4.595/64 em seu art. 17, à frente:

“Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas
jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação em vigor, equiparam-se às instituições
financeiras as pessoas físicas que exerçam qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma
permanente ou eventual.”

Dessa forma, a lei referida nos traz como elemento essencial à caracterização de uma instituição
financeira a realização de coleta (ARAÚJO, 2011, n.p), intermediação ou aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, assegurando assim, uma amplitude de situações que podem
abarcar diversas entidades.

Passado a análise superficial do conceito referido, antes, porém, é preciso discorrer especificamente
sobre a relação de consumo, deve-se debruçar sobre conceitos de consumidor, fornecedor, produto e
serviço, ressalta-se que não pretende esgotar o tema, é apenas para que se possa entender melhor seu
arcabouço.

CONCEITOS DE CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTO E SERVIÇO

1.1.2 CONCEITO DE CONSUMIDOR

Ante o conceito de consumidor definido pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) em seu artigo
2º (BRASIL, 1990), este nos ensina que tanto as pessoas físicas como as jurídicas podem se
enquadrar neste conceito, vejamos:

“Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

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Parágrafo único. Equipara-se o consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis,


que haja intervindo nas relações de consumo. ”

Nessa seara se destaca duas teorias que buscam explicar qual o alcance e quem seriam considerados
consumidores: a Teoria Finalista e a Teoria Maximalista.

Aos que advogam favoravelmente à Teoria Finalista ou Subjetiva. Ressalta-se que essa teoria, é,
atualmente, aceita de forma majoritária e solidificou-se na jurisprudência brasileira. O conceito de
consumidor é o assunto mais importante, o que dá sentido à proteção especial do CDC.

Entendem que o “destinatário final” deve ser interpretado de forma restrita, o qual seria aquele
destinatário fático e econômico do bem ou serviço. Com outras palavras, os consumidores seriam os
que adquirem o produto para seu uso ou de sua família, afastando as relações para uso profissional,
como por exemplo, quando um profissional compra uma determinada ferramenta de trabalho e a
utiliza para gerar lucro (costureiras, taxistas entre outros).

Já para os que advogam de forma favorável à Teoria Maximalista, vislumbram que “destinatário
final” é todo aquele consumidor que adquire o produto para seu consumo, quer seja para relação
pessoal, quer seja para relação profissional. De forma mais didática, destinatário final seria o
destinatário fático do produto – aquele que o retira do mercado e o utiliza. Assim, não se tem uma
visão fechada de quem seriam os consumidores e de quem seriam os fornecedores.

Ainda, a Teoria Finalista ganhou novas direções e se debruçou sobre conceito de consumidor final
imediato e de vulnerabilidade, como nos ensina Marques e colaboradores (2013, p. 106) que chama
de finalismo aprofundado, em que amplia o conceito de consumidor incluindo todo aquele que possua
vulnerabilidade em face do fornecedor.

Essa teoria, deriva da diminuição dos rigores da teoria finalista autorizando que tanto a pessoa física
ou jurídica, embora não seja legalmente a destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em
situação de vulnerabilidade. Assim, reza a melhor doutrina que a teoria supracitada suaviza a
aplicação do finalismo, admitindo, exceções à pessoa jurídica em frente ao CDC.

A título de ilustração utilizaremos jurisprudência do STJ ((REsp 1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2012, DJe 21/11/2012), a seguir:

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“CONSUMIDOR. DEFINIÇÃO. ALCANCE. TEORIA FINALISTA. REGRA. MITIGAÇÃO.


FINALISMO APROFUNDADO. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. VULNERABILIDADE.

1. A jurisprudência do STJ se encontra consolidada no sentido de que a determinação da


qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita mediante aplicação da teoria finalista, que,
numa exegese restritiva do art. 2º do CDC, considera destinatário final tão somente o
destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica.
2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim
entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição,
compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço. Vale dizer, só pode
ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei nº 8.078/90, aquele que exaure a
função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo.
3. A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação
previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista
frente às pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando finalismo
aprofundado, consistente em se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa jurídica
adquirente de um produto ou serviço pode ser equiparada à condição de consumidora, por
apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o princípio-motor da
política nacional das relações de consumo, premissa expressamente fixada no art. 4º, I, do
CDC, que legitima toda a proteção conferida ao consumidor.
4. A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de vulnerabilidade:
técnica (ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de
consumo), jurídica (falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos
na relação de consumo) e fática (situações em que a insuficiência econômica, física ou até
mesmo psicológica do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor).

Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados insuficientes


sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra).

5. A despeito da identificação in abstracto dessas espécies de vulnerabilidade, a casuística


poderá apresentar novas formas de vulnerabilidade aptas a atrair a incidência do CDC à
relação de consumo. Numa relação interempresarial, para além das hipóteses de
vulnerabilidade já consagradas pela doutrina e pela jurisprudência, a relação de dependência
de uma das partes frente à outra pode, conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade
legitimadora da aplicação da Lei nº 8.078/90, mitigando os rigores da teoria finalista e
autorizando a equiparação da pessoa jurídica compradora à condição de consumidora.

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6. Hipótese em que revendedora de veículos reclama indenização por danos materiais derivados
de defeito em suas linhas telefônicas, tornando inócuo o investimento em anúncios
publicitários, dada a impossibilidade de atender ligações de potenciais clientes. A contratação
do serviço de telefonia não caracteriza relação de consumo tutelável pelo CDC, pois o referido
serviço compõe a cadeia produtiva da empresa, sendo essencial à consecução do seu negócio.

Também não se verifica nenhuma vulnerabilidade apta a equipar a empresa à condição de


consumidora frente à prestadora do serviço de telefonia. Ainda assim, mediante aplicação do direito
à espécie, nos termos do art. 257 do RISTJ, fica mantida a condenação imposta a título de danos
materiais, à luz dos arts. 186 e 927 do CC/02 e tendo em vista a conclusão das instâncias ordinárias
quanto à existência de culpa da fornecedora pelo defeito apresentado nas linhas telefônicas e a
relação direta deste defeito com os prejuízos suportados pela revendedora de veículos.

7. Recurso especial a que se nega provimento. ”

Adiante, a legislação consumerista ainda traz a ideia do consumidor por equiparação, de outra forma,
basta mera exposição da coletividade para identificar o alcance da “intervenção”. Em linhas gerais,
tenta-se evitar que o dano ocorra em face da coletividade, por exemplo, medicamentos de uso
prolongado venham a se tornar nocivos, de acordo como consta no parágrafo único do art. 2º, e ainda,
17 e 29 ambos do CDC, vejamos:

“Art. 2º, § único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis,
que hajam intervindo nas relações de consumo.

(…)

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, que cuida da responsabilidade dos fornecedores pelo fato do
produto e do serviço, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

(…)

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.”

1.1.3 CONCEITO DE FORNECEDOR


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Conforme dito acima, é necessário que haja a presença do fornecedor para que configure a relação de
consumo, assim sendo, para o Código Consumerista que abrange de maneira extensa o conceito de
fornecedor (NUNES, 2015, p. 175), na intenção que seja aplicado de forma ampla envolvendo as
diversas operações de relação de consumo. Nos ensina o art. 3º da bíblia consumerista que:

“Art. 3°. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços. ”

Com outras palavras, na inteligência do código fornecedor é aquele que disponibiliza o produto e ou
presta serviço no mercado. Porém, o artigo não abrange, apenas, o fornecedor, mas sim, toda cadeia
de produção será considerada como fornecedor, como prestadores de serviço e profissionais liberais
entre outros.

A doutrina de Rizzatto Nunes (2015, p. 175) entende que pessoas físicas serão consideradas
fornecedoras quando atuarem com habitualidade, eis que o profissional liberal estaria sob a égide do
Código do Consumidor, mesmo este tendo recebido proteção da lei, não responde objetivamente,
somente, através da culpa. Leia-se que na visão do doutrinador este profissional pode ser considerado
como fornecedor.

1.1.4 CONCEITO DE PRODUTO

Dito acima, a relação de consumo é combinada de elementos objetivos – produtos e serviços – e


elementos subjetivos – consumidor e fornecedor -, sem a intenção de esgotar o tema, tratemos agora
de produtos.

Reza a melhor doutrina que, o código consumerista em seu art. 3º parágrafo 1º, nos ensina a definição
de produto de forma abrangente, em que poderá ser considerado produto qualquer bem novo ou
usado, móvel (automóvel) ou imóvel (apartamento, casa), material (joias) ou imaterial (software)
dentre outras características dos bens (GARCIA, 2016, p. 37), como dito a seguir:

“Art. 3º. § 1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.”

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Dessa forma, o entendimento deste código pretendeu abranger diversas ramificações, bem como
contratos imobiliários, contratos de empréstimos e financiamentos e etc.

1.1.5 CONCEITO DE SERVIÇO

O Código nos dá a significado de serviço em seu art. 2º, § 3º, que, via de regra, se caracteriza pela
remuneração. Entende Garcia (2016, p.30) que a expressão remuneração se mostra mais acertada
porque permite que se incluam todas as relações que possua uma remuneração indireta, além das que
são perfeitamente identificáveis como de consumo, “in verbis”:

“§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,


inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista. ”

RELAÇÃO DE CONSUMO FRENTE ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Após todo debate, sobre relação de consumo (consumidor, fornecedor, produto e serviço) não há falar
que esta relação não seria aplicada às instituições financeiras, já que entre a instituição e seu cliente
enquadra-se no conceito de consumidor, como supracitado. Todavia, os “bancos” tendem a tentar
rechaçar esse argumento, no ensaio de afastar a inversão do ônus da prova, porém, trata-se de tese
majoritária já pacificada pela doutrina e jurisprudências dos tribunais.

Sendo enfático, é pacífico tanto na doutrina como nas jurisprudências do STJ como do STF que o
CDC será aplicado aos serviços bancários, visto na Súmula 297 do STJ: “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras. ”

2 BREVE RESUMO DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE

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Antes de adentrarmos no tópico específico, faremos uma breve análise da teoria da responsabilidade
adotada em nosso ordenamento jurídico pátrio. Via de regra, aquele que causa um dano à terceiro
responde por esse, de forma objetiva e/ou subjetiva.

2.1 DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

Pode-se mencionar que o Código Civil, em seu artigo 186, nos ensina, em linhas gerais, que aquele
que comete um ilícito civil tem o dever de repará-lo, vejamos: “Art. 186. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Cogita-se, com muita frequência, que a responsabilidade subjetiva necessita de requisitos, Dolo ou
Culpa, bem como o Nexo de Causalidade. Adverte a doutrina que ambos os requisitos devem ser
entendidos como culpa de forma genérica (lato sensu). Assim sendo, aquele que de forma intencional
(dolo ou culpa) violar um dever jurídico, prejudicando, assim outrem, responderá, a doutrina
denomina esse dolo de responsabilidade civil (TARTUCE, 2017, p. 184).

Leia-se que a comprovação da culpa gera o dever de indenizar, a culpa “lato sensu” é primordial para
a responsabilização subjetiva, ou seja, e o direito de ser indenizado, no caso da vítima. Sem a prova
da culpa inexiste a obrigação da reparabilidade do dano (PEREIRA; TEPEDINO, 2018, p. 50).

2.2 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

Diferentemente da responsabilidade subjetiva, na objetiva só basta a comprovação do nexo de


causalidade e o dano, não precisando comprovar o Dolo e Culpa. Explicando de outra forma, aqui não
é necessário mais demonstrar a culpa “lato sensu”, eis que mesmo que se comprovar que não houve
dolo ou culpa do autor, esse deverá ser responsabilizado pelo ilícito causado.

Em consequência disso, desenvolveu-se a teoria do risco administrativo, versando sobre a


responsabilidade civil do Estado e de outras pessoas jurídicas, dependendo de algumas circunstâncias
para a responsabilização.

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A seguir, Pereira e Tepedino (2018, p. 42) nos ensina que a Teoria do Risco, justifica-se no caso do
indivíduo que exerça alguma atividade está submisso a criar um risco de dano para terceiros, esse
mesmo autor ainda enfatiza que a responsabilidade civil apresenta outra direção, no sentido que culpa
é excluída e adota-se o risco. De forma didática, basta o autor comprovar que houvera o dano somado
ao nexo causal que o causador do dano responderá civilmente por seus atos, a guisa de exemplo,
citemos o art. 37, § 6º da Constituição, “in verbis”:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

(…)

6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços


públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

3 RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Seguindo a linha de raciocínio acima, a relação consumerista é aplicável às instituições financeiras


(NUNES, 2015, p. 191), de acordo com art. 3º § 2° do CDC e da Súmula 297 do STJ, em que diz que
“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”, aplicando-se a regra do
art. 14 do CDC, adiante:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

Dizendo melhor, o capítulo supracitado, nos instrui no sentido de que a regra é a responsabilidade
civil objetiva (ZULIANI, 2012, n.p), destas instituições, por este motivo, independe de culpa. Não se
diz que não haveria forma de exclusão desta responsabilidade, eis que o mesmo dispositivo nos traz
as cláusulas de excludente de tal responsabilidade, analisemos:

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“Art. 14. (…) § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.”

Notemos, dentre as causas de exclusão da responsabilidade do fornecedor (CAVALIERI, 2010, p.


185) está a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. Em decorrência disto, as instituições
financeiras, em situações de fraude como a abertura de conta corrente, clonagem de cartão de crédito
com chip, roubo de cofre de segurança ou violação de sistema de computador por cracker, passaram a
alegar em suas defesas a excludente da culpa exclusiva da vítima ou de terceiros, sobretudo quando as
fraudes praticadas em relação ao cartão com chip, discorremos a seguir.

3.1 INEXISTÊNCIA DE FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO – CARTÃO COM CHIP

Mencionam-se as instituições financeiras (NUNES, 2015, p. 244) que não haveria inexistência ou
falha na prestação do serviço, já que o cartão de créditos possui chip e a senha seria intransferível.
Explica-se que para o uso de cartão com chip, faz-se necessária a digitação de senha pessoal, a qual é
secreta e intransferível do proprietário do cartão.

Esse fato, aliado aos demais mecanismos de segurança adotados pelo Banco, teriam o condão de
afastar a possibilidade de essas operações terem ocorrido por falha no serviço de autoatendimento, e
impediriam que fosse imputada ao banco a responsabilidade pelos danos ocorridos. A instituição
financeira, via de regra, declara que adota várias medidas que garantem a ABSOLUTA
SEGURANÇA de seus serviços. Discute-se ainda que o cartão magnético com chip seja
IMPOSSÍVEL DE SER CLONADO OU DUPLICADO, enfatizam-se alguns pontos importantes
quanto essas alegações:

“a) As informações contidas no chip estão criptografadas, o que impossibilita sua reprodução e/ou
leitura por equipamentos não interligados ao banco como, por exemplo, o artefato conhecido por
“chupa-cabra”. O chip é fabricado por poucas grandes empresas no mundo, que possuem rígidos
controles de segurança, como a adoção, para cada chip fabricado, de um número de série exclusivo

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que permite identificar sua origem (tal como um número de chassi de veículos). Corrobora a
segurança da tecnologia adotada pelo Banco fato de que o chip é utilizado mundialmente pelas
maiores instituições financeiras.

1. b) a utilização desse CARTÃO COM CHIP REQUER A DIGITAÇÃO DE SENHA PESSOAL E


SECRETA DO CLIENTE, escolhida e cadastrada por ele, que teria assumido, no contrato de
adesão ao cartão de crédito, a obrigação de zelar pela sua guarda e sigilo absoluto;
2. c) a senha do cartão é automaticamente bloqueada após tentativas consecutivas erradas de
digitação dos seus números, impedindo a continuidade da operação;
3. d) nos terminais de débito automático em estabelecimentos comerciais, é necessária a
digitação de senha de quatro dígitos para compras, como forma de proteger a senha do cliente
evitando acessos indevidos à sua conta, para os quais é necessária a digitação da senha
completa de seis dígitos;
4. e) confirmação aleatória de dígitos da data de nascimento, com o fim de dificultar que outra
pessoa utilize o cartão para fazer transações.”

Além desses mecanismos de segurança, as instituições financeiras fariam regularmente campanhas


divulgando alertas e dicas de segurança na mídia, em suas páginas na internet, a tela do caixa
eletrônico acessado pelo correntista, em folhetos encaminhados às residências dos clientes e
disponibilizados em agências. Pede-se insistentemente aos clientes que (i) criem senhas seguras, sem
ligação com dados que possam ser facilmente descobertos, como datas de aniversário e casamento,
documentos pessoais, números de telefone ou sequenciais ou repetitivos; (ii) decorem as senhas e
destrua qualquer anotação; (iii) tenham o hábito de trocar senhas periodicamente; (iv) mantenham
protegido o cartão magnético não aceitando ajuda de estranhos ao utilizá-lo e nunca o emprestando a
terceiros (MIRAGEM, 2010, p. 164).

Essas medidas de segurança e orientações ao cliente seriam suficientes para afastar o risco de defeito
no serviço de autoatendimento oferecido pelo Banco e a relação de causalidade entre esse serviço e os
danos alegados. A ausência desses pressupostos exclui, por si só, a responsabilidade objetiva e
subjetiva do prestador de serviço, aludidas nos arts. 14 do CDC e 927, caput, e § 1º, do CC, e fulmina
quaisquer tipos de pleitos indenizatórios, tanto morais como materiais, que teria que comprovar o fato
constitutivo de seu direito (art. 373, I, CPC), qual seja, a prática de ato ilícito por parte da instituição.

Logo, o pleito indenizatório deve ser rechaçado, haja vista a inexistência de ato ilícito praticado pelas
instituições. Além desses argumentos trazidos à baila por essas instituições, que de maneira alguma
devem prosperar, ainda debruçam sobre a culpa exclusiva da vítima, tentando se eximir de tal
responsabilidade.

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Ressalta-se que a mera alegação de que as operações com cartões com chip são impossíveis de serem
implementadas por terceiros não afasta, por si só, a possibilidade de que a captura de suas
informações e da senha digitalizada pelo cliente possam ser transferidas para uma fita magnética e o
cartão ser utilizado por terceiros. É sabido também que vários são os casos de sua utilização sem a
necessidade de chip, bastando a utilização do número do cartão e número de segurança (compras pela
internet, por exemplo), facilmente obtidos por qualquer pessoa que tenha contato com o cartão
(BENJAMIN, et al., 2010, p. 229).

3.2 A CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA

Não bastando o fundamento, incabível, da inexistência de falha na prestação de serviço, além de que
se imputa a culpa exclusiva da vítima (MORAIS, 2010, p.182). Na medida em que somente seria
possível a concretização das transações impugnadas com o uso do cartão magnético com chip
disponibilizado a vítima (não passível de clonagem), concomitante com a digitação correta de sua
senha (de uso e conhecimento exclusivos desse cliente), é forçoso concluir que (i) essas transações
seriam, sim, realizadas pela vítima; ou, (ii) este possibilitou, por vontade própria ou por desídia na
guarda do seu cartão e senha pessoal, que terceiro tivesse acesso a ambos e efetivasse essas
operações.

As duas hipóteses narradas acima, configurariam causa de excludente da responsabilidade que se


pretende impor às instituições financeiras, na medida em que, no contrato de adesão ao cartão de
crédito, o cliente/vítima assumira a responsabilidade de zelar pela guarda de sua senha e cartão
magnético, conforme a adesão do regulamento e do contrato de adesão. Desse modo, observa-se o
quão absurdo são tais alegações, eis que é patente que o banco não teria condições de garantir de
forma absoluta que haveria fraude por terceiros, visto que, existem quadrilhas especializadas em
fraudar esse tipo de negociata, fato notório e diário nos meios de comunicação nesse tipo de
transações.

De fato, a falha no serviço de segurança do banco, que permite a utilização do cartão de crédito do
cliente para compra por terceiros, caracteriza fato do serviço, o que atrai o dever do fornecedor de
comprovar a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro, para afastar sua responsabilidade de reparar
o dano (CDC, art. 14, §3º).

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Pelo sistema do Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor de serviços responde


independentemente de culpa pelos prejuízos causados ao consumidor. Para se eximir desse dever de
reparar, é seu o ônus de provar a inexistência de defeito no serviço ou culpa exclusiva do consumidor
ou de terceiro.

Portanto, não basta alegar ou defender o sistema de segurança do seu cartão de débito e/ou crédito, é
preciso provar que efetivamente foi o titular do cartão quem efetuou a compra ou culpa exclusiva da
vítima. Por conseguinte, não pode ser alegada também fraude por terceiros, visto que não afasta a
responsabilidade civil do prestador dos serviços, pois se trata de fortuito interno, ou seja, inerente à
própria atividade econômica exercida pela instituição, motivo pelo qual comprovada a falha no
serviço.

4 FORTUITO EXTERNO E INTERNO

De acordo com o art. 393 do Código Civil que elenca causas excludentes da responsabilidade civil,
referente a fortuitos em geral, vejamos a norma:

“Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujo efeito não era
possível evitar ou impedir.”

Sobre o instituto acima, a doutrina e a jurisprudência discutem-se (não é conceito pacífico na


doutrina) muito qual seria a diferença entre Caso Fortuito e Força Maior. Em linhas gerais, o primeiro
seria uma espécie de evento proveniente de ato humano, aleatória e fatal que pudesse impedir o
cumprimento de uma obrigação, quais sejam: a greve, a guerra e assim por diante. Já o segundo, seria
um evento previsível ou imprevisível, porém fatal, em decorrências das forças da natureza, tornados,
enchentes, tsunamis, entre outros.

Dito por alguns doutrinadores, em especial Pablo Stolze (2017, p. 464), a diferença entre fortuito
interno e externo que é aplicado em maior parte nas relações consumeristas. Para esse, o fortuito
interno estaria ligado à elaboração do processo do produto ou execução do serviço, não excluindo a

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responsabilidade civil do fornecedor. De outra maneira, o fortuito externo é estranho à elaboração do


processo do produto ou execução do serviço, nesse caso, excluir-se-ia a responsabilidade civil.

4.1 FORTUITO EXTERNO

Esclarecendo de forma didática o início da explanação acima, o fortuito externo (GAGLIANO, 2017,
p. 661), como dito, tem sua caracterização pelo fato imprevisível e inevitável, malgrado é alheio,
estranho (caso fortuito estrito senso) à produção ou a execução do serviço. Fatos estes ligados a
natureza tais como as enchentes, os raios, terremotos, tsunamis. Parte da doutrina intitula como força
maior, vejamos um exemplo, retirado do Superior Tribunal de Justiça relativo ao transporte, em que
nessa ocasião se excluiu a responsabilidade civil.

O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento, corroborado com a tese apresentada acima,
analisando que o assalto em transporte coletivo configuraria hipótese de fortuito externo, em
decorrência disso, excluiria à responsabilidade do transportador:

“PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, ESTÉTICOS


E MATERIAL. ASSALTO à MÃO ARMADA NO INTERIOR DE ÔNIBUS COLETIVO. CASO
FORTUITO EXTERNO. EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA.

1. A Segunda Seção desta Corte já proclamou o entendimento de que o fato inteiramente estranho
ao transporte em si (assalto à mão armada no interior de ônibus coletivo) constitui caso
fortuito, excludente de responsabilidade da empresa transportadora.
2. Recurso conhecido e provido. (STJ, REsp 726.371/RJ, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa,
DJ 05/02/2007)”.

Porém, existe uma corrente que vem tomando força, no sentido de que, se naquela linha de transporte
coletivo acontecera roubos sucessivos, indicando a previsibilidade, o transportador estaria obrigado a
indenizar, e a consequência e que geraria o fortuito interno e não exclusão da responsabilidade.

Nesse interim, analisa Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 286) que: “Somente o fortuito externo,
isto é, a causa ligada à natureza, estranha à pessoa do agente e à máquina, exclui a responsabilidade
deste em acidente de veículos. O fortuito interno, não. Assim, tem-se decidido que o estouro de

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pneus, a quebra da barra de direção, o rompimento do ‘burrinho’ dos freios e outros defeitos
mecânicos em veículos não afastam a responsabilidade do condutor, porque previsíveis e ligados à
máquina”.

4.2 FORTUITO INTERNO

Preliminarmente, a parte essencial para a Não Exclusão da Responsabilidade Civil das instituições
financeiras, está diretamente ligada a este instituto. Esclarece-se que o fortuito interno (CAVALIEIRI
FILHO, 2018, p. 417) estaria ligado à elaboração do processo do produto ou execução do serviço, não
excluindo a responsabilidade civil do fornecedor (ROCHA, 200, p. 102). Em outras palavras, a
instituição financeira para eximir-se de sua responsabilidade civil, não poderia alegar culpa exclusiva
de terceiros ou inexistência de falha na prestação de seus serviços.

Reza a melhor doutrina que fortuito interno seria uma modalidade do caso fortuito insculpido no art.
393 do Código Civil, de forma didática, o devedor não teria a obrigação quando o dano é provocado
pela própria vítima ou quando não poderia prever e evitar essa ocorrência, como um terremoto,
rotulado de fortuito externo (fora da instituição financeira, por exemplo).

Nada obstante, poderia ser sinalizado como fortuito, em decorrência da própria instituição, o delito ou
a fraude cometida por um terceiro, por exemplo, que usa documentos falsificados ou que se apresenta
alguma espécie de fraude (falsário) não isenta a instituição financeira de ressarcir o prejuízo, eis que
seria considerado fortuito interno, desta maneira, não estaria incluso o externo ou de natureza
estranha à atividade.

Outro paradigma, o sujeito que descobre que seu cartão bancário foi clonado, ou que terceiros de
forma fraudulenta e criminosa conseguiu copiar os dados e obter a senha criptografada, e burlando o
sistema, o fraudador aufere benefícios como compras na internet e até em lojas físicas se passando
pelo o correntista do banco, esse (correntista) não poderá ser responsabilizado, o banco deverá ser
responsabilizado, de acordo com a súmula 479, por ser esse típico caso de fortuito interno, quer dizer,
em decorrência da própria atividade e que cabia ao banco evitar.

Visto que não afasta a responsabilidade civil do prestador dos serviços, pois se trata de fortuito
interno (DINIZ, 2009, p. 298), ou seja, inerente à própria atividade, motivo suficiente pelo qual
comprovada a falha no serviço, não se podendo atribuir qualquer responsabilidade ao consumidor

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(TEIXEIRA, 2016, n.p).

A falha do serviço configuraria ato ilícito, e, se comprovada a relação causal entre tal conduta, ainda
que omissiva, e o dano experimentado, faz eclodir o dever de indenizar pela instituição financeira, à
luz do que rezam, de forma expressa, os artigos 14, § 1º, e 17, todos da Lei nº 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor).

Por isso, acertadamente a Súmula 479 do STJ, nos ensina que: “As instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”. (Grifo nosso)

CONCLUSÃO

Demonstremos por meio deste artigo que não há a falar em exclusão da responsabilidade civil – na
ocorrência de fraude praticada por terceiros, especificamente, cartão clonado com chip, no qual a
senha seria secreta e intransferível reminiscente – das instituições financeiras nas relações
consumeristas, uma vez que se trata de fortuito interno, isto é, inerente o risco da própria atividade,
escopo suficiente que, por si só, comprova a falha no serviço prestado por essas instituições, sendo
assim, não se prestando a incumbência de qualquer responsabilidade ao consumidor.

As instituições financeiras insistem em suas defesas que rechaçaria o Código de Defesa do


Consumidor, posto que a culpa seria exclusivamente do consumidor, e ainda, a atividade prestada por
essa instituição seria 100% (cem por cento) segura, quer dizer que haveria inexistência ou qualquer
falha na prestação do serviço. Leia-se que, segundo as instituições, não haveria sequer a possibilidade
de o cartão ser clonado ou duplicado, visto que o meio de segurança adotado pelos bancos seria
intransponível.

Não obstante, essa premissa é afastada pela doutrina e jurisprudência de forma majoritária, em virtude
de, em análise macro o Código Consumerista é perfeitamente aplicado na situação supracitada,
outrossim, afasta-se o argumento da senha ser secreta e intransferível, de mais a mais, a falha no
serviço da segurança do banco, é preciso provar que efetivamente foi o titular do cartão quem efetuou
a compra ou a vítima que permitiu a utilização do cartão para compra por terceiros, caracterizando
fato de serviço, o que atrai o dever do fornecedor de comprovar a culpa exclusiva do consumidor ou
terceiro (fortuito externo) para afastar sua responsabilidade de reparar o dano. Como dito, considera-

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se nessa situação o fortuito interno, intrínseco à própria atividade econômica exercida pela instituição,
motivo pelo qual comprovada a falha no serviço. Sintetizando, as instituições financeiras não
podem se eximir de serem responsabilizadas por fraude de terceiros, eis que nessa relação engloba o
conceito de fornecedor e a responsabilidade é do tipo objetiva gerando à obrigação de indenizar pela
instituição financeira.

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Direito Civil Revista 187

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