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284-Einsteinv7n1p88 90
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Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola na Disciplina de Cirurgia do Trato Digestório pela Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.
Cirurgião Assistente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.
1
Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Escola da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.
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Cirurgião Assistente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil
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Cirurgião Assistente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.
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Cirurgião Assistente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.
5
Chefe do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, Santo André (SP), Brasil.
6
Autor correspondente: Sergio Renato Pais Costa – Avenida Pacaembu, 1.400 – CEP 01308-000 – São Paulo (SP), Brasil – e-mail sergiorenatopais@terra.com.br
Data de submissão: 8/3/2006 – Data de aceite: 16/3/2007
RELATO DE CASO
Paciente branca de 48 anos, com queixa de dor abdo-
minal no quadrante direito há quatro anos. Durante os
últimos seis meses desse período, a dor tornou-se mais
intensa e ela começou a usar analgésicos fortes, como
derivados de opiáceos, para o controle da dor. Ela não
apresentava alterações físicas ou bioquímicas. O ultras-
som abdominal revelou uma lesão que media 5 x 5 cm,
com origem no IV segmento do lobo hepático esquer- Figura 2. Dissecção do hilo hepático
do. A lesão era sólida e heterogênea com sombra acús-
tica posterior.
Os marcadores tumorais (AFP, CEA, CA19-9,
CA 125) e as enzimas hepáticas estavam normais. Tanto a
tomografia computadorizada quanto a ressonância mag-
nética nuclear do abdome confirmaram a presença de
um hemangioma cavernoso medindo 5 x 5 cm (Figura 1).
A paciente foi submetida a diversos exames, entre eles
colonoscopia, gastroscopia, ultrassom do trato urinário,
e avaliação ortopédica (clinica e radiológica), sendo que
os exames não apresentaram alterações. Como não havia
doença que explicasse a síndrome dolorosa, a paciente
foi submetida a uma hemi-hepatectomia esquerda (Figu-
ras 2, 3, 4). Não houve complicações no pós-operatório.
A paciente não recebeu transfusão de sangue e recebeu
alta do hospital cinco dias após a cirurgia. O exame his- Figura 3. Hepatectomia esquerda – aspecto final
tológico confirmou o diagnóstico de hemangioma caver-
noso. Até o presente, nove meses após o procedimento
cirúrgico, a paciente apresenta-se assintomática e não
está tomando analgésicos.
DISCUSSÃO
Hemangiomas hepáticos podem ser divididos em dois
grupos principais: o primeiro grupo, com o tipo mais
Figura 1. Aspecto radiológico – ressonância magnética nuclear frequente, abrange os hemangiomas capilares, que são
geralmente periféricos e pequenos (de 1 a 4 cm), e, às lesões intra-hepáticas devido ao grande sangramento. A
vezes são múltiplos. O segundo grupo abrange os he- maior vantagem da enucleação é a melhor conservação
mangiomas cavernosos, que são mais raros e maiores do parênquima hepático, que pode ser vital no caso de
que os hemangiomas capilares. Esses tumores podem doenças benignas(7-9). Tratamentos alternativos, como a
apresentar dimensões extensas, e quando atingem mais embolização da artéria hepática ou até mesmo a radio-
que 4 cm são chamados de hemangiomas gigantes(1). terapia apresentaram resultados piores que a ressecção,
Estruturalmente, são compostos por lagos venosos e devem ser reservados para os pacientes que não são
envoltos por tecido endotelial, no qual o sangue circu- candidatos ou recusam cirurgia(4-10).
la vagarosamente. Esse tipo de tumor é uma doença Desde que corretamente indicada, a ressecção hepá-
congênita que não apresenta associação maligna. Cres- tica de casos dolorosos de hemangioma podem apresen-
cem por ectasia vascular e nunca por hiperplasia ou tar bons resultados. Portanto, pode ter um papel funda-
hipertrofia e quase sempre são assintomáticas com um mental nos casos de dores que são difíceis de controlar.
curso indolente. Às vezes podem apresentar complica-
ções que incluem dor, massa abdominal, febre ou com-
pressão de estruturas vizinhas, como o sistema biliar e REFERÊNCIAS
o estômago. Mais raramente pode ocorrer a síndrome 1. Weimann A, Ringe B, Klempnauer J, Lamesch P, Gratz KF, Prokop M, et al.
de Kasabach-Merritt, caracterizada pelo consumo de Benign liver tumors: differential diagnosis and indications for surgery. World J
Surg. 1997;21(9):983-90; discussion 990-1.
plaquetas, de elementos de coagulação e até mesmo da
2. Bornman PC, Terblanche J, Blumgart RL, Jones EP, Pickard H, Kalvaria I.
fístula arteriovenosa(1-10).
Giant hepatic hemangiomas: diagnostic and therapeutic dilemmas. Surgery.
Quando há dor, ocorre na região epigástrica ou no 1987;101(4):445-9.
quadrante direito, e foi associada à trombose interna e 3. Trastek VF, van Heerden JA, Sheedy PF 2nd, Adson MA. Cavernous
processos inflamatórios(7-9). Embora a dor seja um crité- hemangiomas of the liver: resect or observe. Am J Surg. 1983;145(1):49-53.
rio para a indicação de cirurgia, deve-se tomar o cuidado 4. Brouwers MA, Peeters PM, de Jong KP, Haagsma EB, Klompmaker IJ, Bijleveld
de descartar doenças dolorosas que podem confundir o CM, et al. Surgical treatment of giant haemangioma of the liver. Br J Surg.
diagnóstico etiológico(7-9). Apesar dos hemangiomas de 1997;84(3):314-6.
grandes dimensões apresentarem maior risco de ruptu- 5. Kawarada Y, Mizumoto R. Surgical treatment of giant hemangioma of the liver.
Am J Surg. 1984;148(2):287-91.
ra (alta mortalidade), não existe indicação cirúrgica se
6. Sinanan MN, Marchioro T. Management of cavernous hemangioma of the
forem assintomáticos ou não apresentaram complica- liver. Am J Surg. 1989;157(5):519-22.
ções. Há controvérsia com relação ao critério de tama-
7. Popescu I, Ciurea S, Brasoveanu V, Hrehoret D, Boeti P, Georgescu S, et al.
nho na definição de um hemangioma gigante. Alguns Liver hemangioma revisited: current surgical indications, technical aspects,
autores consideram o hemangioma gigante como sendo results. Hepatogastroenterology. 2001;48(39):770-6.
maior que 4 cm, outros consideram 5 cm ou mais, e, 8. Lerner SM, Hiatt JR, Salamandra J, Chen PW, Farmer DG, Ghobrial RM, et al.
mais recentemente, consideram 10 cm como sendo o Giant cavernous liver hemangiomas: effect of operative approach on outcome.
ponto de corte(7-10). O tratamento ideal para hemangio- Arch Surg. 2004;139(8):818-21; discussion 821-3.
mas cavernosos é a extirpação. Tanto a hepatectomia 9. Moreno Egea A, Del Pozo Rodriguez M, Vicente Cantero M, Abellan
Atenza J. Indications for surgery in the treatment of hepatic hemangioma.
formal quanto a enucleação são aceitas(4-10). O heman- Hepatogastroenterology. 1996;43(8):422-6.
gioma possui uma cápsula fibrosa que pode facilitar a 10. Pietrabissa A, Giulianotti P, Campatelli A, Di Candio G, Farina F, Signori S, et al.
enucleação. Apesar dessa abordagem ser possível para Management and follow-up of 78 giant haemangiomas of the liver. Br J Surg.
lesões superficiais, não deve ser encorajada no caso de 1996;83(7):915-8.