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CURSO DE PSICOLOGIA
Alirio Leandro
Ester da Rocha Schell Seberino
Rosecléia
Thalita
Victória
MAUS-TRATOS NA INFÂNCIA
CRICIÚMA
2019
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
CURSO DE PSICOLOGIA
MAUS-TRATOS NA INFÂNCIA
CRICIÚMA
2019
INTRODUÇÃO
Objetivamos neste trabalho contribuir com reflexões acerca de questões ligadas aos
maus-tratos infantis. Para tanto, a reflexão apresenta o seguinte itinerário: história de normas de
proteção à criança e adolescente; conceituação do que são e os tipos de maus-tratos na infância;
as consequências neurológicas (impacto na estrutura e funcionamento cerebral), psicológicas,
sociais no desenvolvimento da criança; diagnóstico da realidade social da criança e do
adolescente do Estado de Santa Catarina; e as políticas públicas vigentes em vista da prevenção
e do combate aos maus-tratos na infância.
Os maus-tratos contra as crianças são uma das formas de violência mais grave, tanto
pelo número de vítimas que faz, como pelas sequelas negativas que deixa (causando graves
prejuízos em seu desenvolvimento, com repercussões de longo prazo). É essencial entender suas
ramificações para preveni-lo, detectá-lo e, em última análise, eliminá-lo em todas as suas formas.
MAUS-TRATOS NA INFÂNCIA
Historicamente, antes de 1870, as crianças eram vistas como adultos e a infância não
existia; trabalho infantil não era visto como exploração, mas como dever à sociedade e a Deus;
além disso, eram julgadas como adultos nos crimes que cometiam.
O infanticídio, até o século IX, não era crime, já que as crianças ilegítimas ou portadoras
de alguma deficiência eram jogadas de precipícios.
No século XIX, a criança começa a ter direito à educação e, somente em 1924, foi
realizada a 1ª Declaração dos Direitos da Criança.
Em 1950, foi instalado o primeiro escritório do UNICEF no Brasil, em João Pessoa, na
Paraíba. O primeiro projeto realizado no Brasil destinou-se às iniciativas de proteção à saúde da
criança e da gestante em alguns estados do nordeste do país.
Em 1964, criou-se a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, através da Lei 4.513
de 1/12/64.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, concretizou-se no artigo 227,
garantias às crianças e adolescentes os direitos fundamentais de sobrevivência, desenvolvimento
pessoal, social, integridade física, psicológica e moral, além de protegê-los de forma especial, ou
seja, através de dispositivos legais diferenciados, contra negligência, maus tratos, violência,
exploração, crueldade e opressão.
Então em 13/07/1990, foi criada a Lei nº 8.069, conhecida como Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), que vigora em nosso País até hoje.
Ressaltamos, que o artigo 17 da Lei n. 8.069/1990, define como respeito, a
“inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente (...)”. E, na
sequência, o art. 18 estabelece que é um dever de todos cuidar da dignidade de crianças e
adolescentes, “pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor”.
Assim, a simples violação de qualquer um dos direitos fundamentais elencados no ECA
e da Constituição Federal, configura desrespeito e é um crime, que deve ser punido o infrator
com todo o rigor que a lei impõe.
Em 1993, foi criada Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), n. 8.742/93, que
consagra uma nova abordagem para políticas de proteção integral para infância e juventude.
2 CONCEITUAÇÃO
Podemos considerar como maus-tratos todo comportamento que atinge a criança, que
está fora das normas de conduta e acarreta um risco substancial de danos físicos e emocionais.
São quatro os tipos de maus-tratos genericamente reconhecidos: violência física,
violência sexual, violência emocional/psicológica e negligência.
As causas dos maus-tratos à criança são variadas e não bem compreendidas.
A violência física muitas vezes é utilizada como instrumento pedagógico, sendo
qualquer ação que machuque ou agrida intencionalmente uma criança, por meio da força física,
arma ou objeto, provocando ou não danos e lesões internas ou externas no corpo. As formas
específicas incluem sacudir, derrubar, bater, espancar, queimar (p. ex., escaldar ou tocar com
cigarros). As causas mais comuns de abuso são as graves lesões cranianas em lactentes. Em
crianças pequenas, lesão abdominal também é comum.
Já a violência sexual trata-se de uma falta de fronteira entre as gerações, onde predomina
o abuso de poder do mais forte e a cultura de coisificação da criança e do adolescente. Formas
de abuso sexual incluem coito, com penetração oral, anal ou vaginal, assédio com contato genital
sem coito e formas que não envolvem contato físico com o agressor, incluindo exposição dos
genitais pelo agressor, exibição de material sexual explícito a uma criança e forçar a criança a
participar na produção de material sexual.
A violência emocional/psicológica refere-se à depreciação, a ameaças e à rejeição do
adulto sobre a criança, desenvolvendo nesta um comportamento destrutivo ou autodestrutivo
devido à desvalorização que sofre, ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde
psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal.
A negligência fruto do despreparo para maternagem e paternagem e o referencial de
falta de cuidados básicos na infância, como: deixar vacinas em atraso, não levar ao médico, não
fazer os tratamentos necessários, perder documentos importantes da criança (ex: certidão de
nascimento, cartão da criança), a criança não estar matriculada ou não ir à escola, aparência
descuidada e suja, falta de supervisão dos responsáveis - crianças pequenas sozinhas em casa ou
constantemente fora de casa, em festas populares, em casa de vizinhos, nas ruas, em abandono;
acidentes domésticos previsíveis: quedas da cama, berço, janelas, escadas, banheiras; asfixias
por objetos pequenos, brinquedos, travesseiros, fios de telefone, saco plástico, pedaços grandes
de alimentos, cordão de chupeta e outros; intoxicações por medicamentos, material de limpeza,
veneno de rato, cosméticos, bebida alcoólica, dentre outros; queimaduras no forno quente,
tomada, ferro de passar, velas, fósforos, panelas, líquidos quentes, álcool e exposição excessiva
ao sol; atropelamentos e afogamentos em piscinas, lagos, praias, banheiras, baldes e vasos
sanitários).
Portanto, observa-se que o adulto – mais forte contra o mais fraco, a criança – é o ponto
fundamental nessa relação de violência. Somam-se a isso outras causas, como baixa escolaridade,
uso de drogas, alcoolismo e famílias desestruturadas emocionalmente. Enfim, trata-se de um
fenômeno multifatorial.
No primeiro estágio ocorre a ativação dos sistemas de resposta ao estresse, onde ocorre o
aumento dos níveis de cortisol, da liberação de noradrenalina, reações autonômicas e aumento
da tensão e atenção. A separação materna prolongada, assim negligência ou maus tratos ativam
intensamente os sistemas de resposta ao estresse.
Há a redução de receptores GABA, que é o principal neurotransmissor inibitório no
sistema nervoso central, localizado na região da amigdala e lócus coeruleus. Implica também na
inibição da secreção de noradrenalina. e aumenta do estímulo à liberação de cortisona, levando
a sensação de medo e ansiedade,
Devido a essa ativação uma série de consequências ocorrem no cérebro, entre elas é possível citar
a redução do peso cerebral, interferência na mielinização, redução do número de dendritos em
neurônios de várias regiões do cérebro e atraso na maturação de potenciais auditivo, visual e
somatosensorial-evocados
Para investigar a relação entre abuso precoce e disfunção do sistema límbico, Martin
idealizou, uma lista de perguntas para medir a frequência com que os pacientes apresentavam
sintomas parecidos aos da ELT. Em 1993, Martin e seus parceiros tiveram respostas de 253
adultos. Pouco mais da metade relatou ter sido vítima de abusos físicos ou sexuais ou ambos,
quando criança. Comparados com pacientes que não relataram maus tratos, a média de pontos da
checagem foi 38% maior em vítimas de abuso físico (mas não sexual) e 49% mais elevada em
vítimas de abuso sexual (mas não físico). Os indivíduos que admitiram tanto abusos físicos
quanto sexuais tiveram pontuação 113% maior do que os que não relataram nenhum tipo de
abuso. Maus tratos sofridos antes dos 18 anos tiveram mais impacto do que os ocorridos em idade
posterior, e homens e mulheres foram afetados de modo semelhante.
Em 1994, a equipe do McLean procurou apurar se o abuso físico, sexual ou psicológico
estava associado a anormalidades das ondas cerebrais em eletroencefalogramas (EEGs), que
possibilitavam uma medida mais direta da irritabilidade
límbica do que a checagem. Em busca de uma ligação, foi
revisado as fichas de 115 admissões consecutivas num Vermis Cerebelar
hospital psiquiátrico para crianças e adolescentes. E foi
encontrado anormalidades significativas de ondas cerebrais em 54% dos pacientes com histórico
de trauma precoce, mas em apenas 27% dos pacientes que não tinham sofrido abusos. Foi
observado também anomalias nos EEGs de 72% daqueles que haviam documentado histórias de
abusos físicos e sexuais sérios. As irregularidades apareceram nas regiões frontal e temporal do
cérebro e, surpreendentemente, envolviam especificamente o hemisfério esquerdo ao invés dos
dois lados, como seria de se esperar.
4.2 Psicossocial
Com relação a violência física, os dados representam 23,3% das ocorrências registradas
na SSP/SC e a lesão corporal se destaca com 82,9% dos boletins de ocorrências.
A respeito dos crimes contra a vida que representam 1,7% do total de boletins de
ocorrência registrados pela SSP/SC, tem-se três fatos que, juntos, representam quase 70% dos
registros. São eles: 27,1% de tentativa de homicídio; 21,3% de homicídio; e 20,3% de homicídio
em acidente de trânsito. Sendo que nesse tipo de crime, as principais vítimas são crianças e
adolescentes do sexo masculino (69,3%), vejamos:
No tocante à violência sexual, o sexo feminino representa 85,1% dos casos, sendo o
estupro de vulnerável o fato mais comunicado, com 80,5% das ocorrências. A violência sexual
no total de registros representou 12,6% dos casos, vejamos:
Do total de 295 dos Conselhos Tutelares do Estado de Santa Catarina, somente 70%
destes, responderam as pesquisas ou SIPIA, assim, tiveram 9.115 notificações de violação do
direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, representando 19,7% do total. Desse total, a
violência psicológica representou 36,6% das notificações (4.256), a violência física 26,1%
(3.034) e a sexual 22,0% (2.554), vejamos:
Os dados de notificação de violência fornecidos pela Secretaria de Estado da Segurança
Pública apontam para uma predominância da violência psicológica – 28,7% (e, dentro dessa
categoria, a ameaça, como a mais frequente). A violência física aparece em segundo lugar, com
23,3% dos casos, tendo na lesão corporal o seu maior índice. Em terceiro lugar, aparece a
violência sexual, em que mais de 80% dos casos são computados como estupro de vulnerável.
No caso do SIPIA-CT, as notificações seguem a mesma ordem: 36,6% para violência
psicológica, 26,1% para violência física e 22% para violência sexual.
6 POLÍTICAS PÚBLICAS
CONCLUSÃO
Infelizmente, em nosso país, a violência tornou-se uma temática central da saúde pública
devido a sua magnitude e repercussões no comprometimento da saúde e qualidade de vida das
pessoas. Com relação à criança, a violência é uma comum e grave violação de direitos, por negar-
lhes a liberdade, a dignidade, o respeito e a oportunidade de crescer e se desenvolver em
condições saudáveis.
Como apresentado no presente trabalho, há diversos estudos mostrando os prejuízos que
a violência (praticados contra as crianças) acarretam no desenvolvimento humano, onde
potencializa os problemas de comportamento, estes no meio social, déficits ou interação da
criança com os pares e adultos de sua convivência.
Assim, para que possamos mudar esta realidade, é fundamental a recorrência de maus-
tratos seja rompida, o que pode ser realizado através de programas de intervenção realizados com
os pais, com a escola e com as crianças. A escola, o ambiente escolar, é não somente, um
importante local para detecção dos casos de maus-tratos, como também muito adequado para a
implementação de programas de intervenção.
Acreditamos, também, enquanto a nossa sociedade não passar a pregar o amor, a
empatia, o respeito, nada mudará.
REFERÊNCIAS
PAPALIA, Daine E.; OLDS, Sally W.; FELDMAN, Ruth D. Desenvolvimento Humano. Porto
Alegre: AMGH, 2010. 889 p.
TEICHER, M.H. Feridas que não cicatrizam: A neurobiologia do abuso infantil. Scientific
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Reichenheim, Michael E., Hasselmann, Maria Helena, & Moraes, Claudia Leite. (1999).
Conseqüências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições
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https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81231999000100009
DUARTE, M. F. A; O Impacto dos maus-tratos na vida das crianças e dos jovens em
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Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/6952/1/DM_Mariana%20Duarte.pdf
Acessado no dia 22/11/2019.
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social de Santa Catarina. Diagnóstico da realidade
social da criança e do adolescente do Estado de Santa Catarina. Vol. 03. 1-96 p. 1ª. Edição.
Florianópolis, 2018. Disponível em:
http://www.sds.sc.gov.br/index.php/conselhos/cedca/diagnostico-da-realidade-social-da-crianca-e-
do-adolescente-do-estado-de-santa-catarina/3447-caderno-3-direito-a-liberdade-ao-respeito-e-a-
dignidade/file acessado no dia 20/11/2019.
NUNES, Fábio Luiz et al . Eventos traumáticos na infância, impulsividade e transtorno da
personalidade borderline. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 11, n. 2, p. 68-76, dez. 2015
. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
56872015000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos
em 28 nov. 2019. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20150011.