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INTRODUÇÃO

O Direito caminha e evolui com a sociedade, devendo ser compreendido de acordo com
o contexto social em que está inserido.Em qualquer dimensão da vida social,
Empresarial, Pública ou Privada, é imprescindível que os agentes possam tomar como
sérios os documentos emanados de órgãos de Estado incumbidos de lhes atribuir fé
Pública. No ordenamento jurídico angolano este poder ( de atribuir fé pública a actos
jurídicos) está adstrito, essencialmente, às Conservatórias de Registo Civil, Comercial
ou Predial, ou seja, qualquer documento oficial, emanado de uma Conservatória de
Registo, que ateste um acto, faz prova bastante da existência jurídica desse acto.

Se uma determinada Conservatória emite uma Certidão, certificando que num


determinado dia e hora foi realizado um determinado acto ou facto, e que esse acto
reunia requisitos legais para ser validamente praticado,diz a lei que essa Certidão tem
força de “ verdade verdadeira”, e que todas as pessoas podem confiar que aquele acto
se passou exactamente daquela forma e foi praticado de forma legal. É nesta senta que
todos os Códigos de Registo vigentes prevêem uma disposição que, em termos gerais,
diz que o registo dfinitivo constitui presunção de que os factos registados têm existência
jurídica, nos precisos termos em que a lei os define.

A lei atribui aos Conservadores um tal poder que qualquer negligência ou má fé sua
poderá causar prejuízos irreparáveis ao tráfico jurídico, ou seja, às pessoas que todos os
dias e a todas as horas praticam actos jurídicos. Por causa desse poder atribuído aos
Conservadores, a lei é clara quando impõe um conjunto de requisitos a que qualquer
acto de registo deve obedecer. Por exemplo, o Registo de um bem imóvel a favor de
determinada pessoa só deve ser feito com base num Título Translativo do direito a
registar.

Para o registo, o Conservador tem a obrigação legal de sindicar a


regularidade/legalidade do acto que serve de base ao registo. Ou seja, se se tratar do
registo de um bem imóvel a favor de alguém que o comprou a outrem, o Conservador
deverá necessariamente verificar se a escritura foi feita dentro dos trâmites legais,
recusando o registo se entender que a escritura foi viciada.

PROBLEMA
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Tendo em conta o facto de Angola ter estado “mergulhada” numa situação de guerra
durante décadas, verificou-se, consequentemente, a destruição total ou parcial de grande
parte das infraestruturas de registo de civil, bem como a destruição dos seus Arquivos.

Em relação ao registo comercial, torna-se necessário informar bem os individuos


motivados em iniciar uma actividade económica mercantil, pois muitos encontra
barreira desde a legalização da sua pequena e/ou média empresa até aos preços dos bens
e serviços, devido a especulação de preço que dificulta as relações de consumo. O
mesmo acontece no caso do Registo Predial, que a informação chega ao indivíduo de
forma desveiculada, que muitas vezes leva os indivíduos a desacreditar no Estado como
pessoa de boa fé, devido a negligência ou não aplicabilidade da lei por parte dos
conservadores. Para continuarmos a discussão em funçã do tema vertente foi elaborada
a seguinte questão de partida:

 Como impugnar as decisões do Conservador nos Registos?

FORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES

Para responder a questão que nortea o problema da nossa pesquisa, fazemo-nos valer de
hipóteses, que segundo a concepção de Rudio (1980 como citado em Oliveira, 2011)
"são suposições que se fazem na tentativa de explicar o que se desconhece". (p.13).
Trata-se de respostas provisórias para solucionar o problema de investigação. Assim,
foram levantadas as seguintes hipóteses:

H1: Podemos impugnar a decisão do Conservador nos registos através de recursos que
confirmam a não aplicabilidade da lei;

H2: Podemos impugnar a decisão do Conservador nos registos por meio dos Códigos de
registos vigentes, quando se notar um mal proceder da acção judicial;

H3: Podemos impugnar a decisão do Conservador nos registos por meio de agravo de
instrumento;

OBJECTIDO DO ESTUDO
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Segundo Lakatos e Marconi (2007) “toda pesquisa deve ter um objectivo determinado
para saber o que se vai procurar e o que se pretende alcançar”.

Objectivo geral

Analisar as formas de impugnação das decisões do conservador nos registos civil,


comercia e predial em Angola.

Objectivos específicos

Para atingir o objectivo geral, delinearam-se os seguintes objectivos específicos:

 Investigar os diplomas legais que permitem impugnar as decisões do


conservador nos registos;

 Identificar as cláusulas a cumprir para se efectuar uma impugnação;

 Avaliar o Processo de Registo Civil, Comercial e Predial vigente em Angola;

JUSTIFICATIVA

O estudo do tema escolhido tem no nosso entender particular relevância pelo facto de
apesar de ser uma área recentemente alterada pelo legislador carece de alterações
fulcrais para que a segurança jurídica se mantenha.

Optamos pelo tema “Impugnação das decisões do Conservador nos registos civil,
comercial e predial em Angola” por três razões: primeiro, por ser um tema que explora o
pensamento jurídico e exercita a capacidade da contrariedade; segundo, por ser um
problema registado nas nossas Instituições quer de Registo ou de Notariado e, terceiro,
para fazer um reparo aos diplomas legais, quanto a sua desarticulação Temporal e
Espacial.

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
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Os Registos surgem-nos portanto como ferramentas não só concebidas, mas


verdadeiramente aptas e idóneas para tornar públicos e salvaguardar os direitos,
identificar as situações jurídicas e permitir que o público em geral tenha acesso à
informação que deles consta, presumindo-se legalmente que ela é válida e verdadeira.

O estudo dos registos é de grande importância pois possiblitar o reconhecimentos dos


indivíduos, de suas actividades e de suas propriedades, evitando assim conflitos de
valores e/ou de interesses. Através dos registos gozamos de uma gama de direitos que
quando violados podemos fazer recursos a meios para impugnar a acção judicial que
transgride os nossos direitos, quer de cidadania quer de proprietário.

LIMITAÇÃO E DELIMITAÇÃO

Tendo em conta o tema que nos propusemos discutir, torna-se impossível desenvolvê-lo
de forma abrangente. Por esta razão, limitaremos e delimitaremos o nosso estudo.

Limitação espacial

O nosso estudo foi realizado em Luanda, capital política de Angola.

Limitação temporal

O nosso estudo foi realizado num período de tempo compreendido entre os meses
Agosto e Novembro, conforme o cronograma definido.

CAPÍTULO I : FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


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1.1. Definição de termos e conceitos

1.1.1. Registo

Segundo Lopes (2011 como citado em Viegas, 2014, p.30) “o registo resulta da
necessidade de guardar, para efeitos posteriores, a memória dos factos susceptíveis de
produzir efeitos de direito, factos jurídicos, com o escopo principal de fazer prova da
ocorrência daqueles, bem como, conferir-lhes publicidade”. O autor relata que devemos
distinguir entre registos administrativos e registos de segurança jurídica, uma vez que a
publicidade e a certeza jurídica dos factos publicitados não é caraterística de todos os
registos públicos.

Pedron (1995 como citado em Viegas, 2011) chama atenção da inapropriação da


expressão “registos administrativos”, dando preferência à utilização da expressão
“registos de informação administrativa”, afirmando que apenas os registos de segurança
jurídica prosseguem a finalidade de publicidade das situações jurídicas. Para o autor os
registos de informação administrativa são concatenados com os fins da administração
pública de objectividade e eficácia, interesses de ordem geral, e os registos de segurança
jurídica contribuem para a materialização do princípio da eficácia da segurança do
tráfego jurídico.

Viegas (2011) argumenta que os registos de segurança jurídica destinam-se aos


particulares prosseguindo a certeza das relações jurídicas entre estes estabelecidas,
sendo certo que na prossecução deste objectivo são necessariamente públicos, pois o seu
reduto final não mais é que o conhecimento por terceiros do que se encontra “guardado”
nos registos.

Corroborando Lopes (2011 como citado em Viegas, 2014) “o registo consiste na


memorização de factos jurídicos tipificados na lei, por via da sua inscrição em suporte
próprio, efetuada sob a responsabilidade do Estado com o controlo da sua verdade e
legalidade”.(p.32). Neste contexto, não se trata de uma competencia específica da
responsabilidade do Estado em regular a totalidade da matéria inerente ao registo, mas
sim de dotar de segurança o tráfico jurídico.

Parafraseando González (como citado em Guerreiro, 2010), os registos ajudam a


aproximar a ordem jurídica concreta da autenticidade que existe na ordem jurídica
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abstracta. Constituem, assim, um auxílio, um suporte e um eficaz contributo para a


própria realização do direito.

1.1.1.1. Publicidade

A máxima certeza jurídica é condição indispensável na celebração de qualquer negócio.


Esta certeza se traduz num regime organizado de publicidade de registos, que confere a
autenticidade dos factos neles contidos. Esta relação jurídica não pode de modo algum
romper alguns princípios, tais como o Princípio da Reserva da Intimidade da Vida
Privada; exige-se que a publicidade esteja sujeita a controlo e a legitimidade. De acordo
com Viegas (2014), os elementos constantes dos registos cabem no ambito da
publicidade quando possam afectar terceiros.

Numa visão clássica, Carlos de Almeida (como citado em Guerreiro, 2010) nos
apresenta um conceito de publicidade como:

Conhecimento ou cognoscibilidade pelo público, atingida por meios


específicos e com a intenção própria de provocar esse conhecimento. O autor
prolonga a sua linha de pensamento, afirmando que há uma outra noção, mais
restrita, quando tais meios representam “uma actividade própria de uma
entidade destinada tipicamente àquela função”, utilizando, como um serviço do
Estado, adequados meios técnicos. Neste contexto, haverá então uma
publicidade organizada “como conhecimento ou cognoscibilidade através dos
registos públicos (2010, p.5).

Segundo Lima e Varela (2010 como citado em Viegas, 2014, p.32), “o objecto da
publicidade são as situações jurídicas, pese embora, regra geral, se inscrevam nos
registos actos, o que é publicitado são situações jurídicas, sendo certo que são estas que
interessam aos particulares, na medida em que podem afectar direitos de terceiros”.

A publicidade tem, ainda, como reduto limite, a função de garantir a verdade dos factos
constantes dos registos, é aquela que “oferece” a veracidade dos factos neles constantes,
na medida em que assegura o controlo da sua legalidade e bem assim, permite a
verificação dos factos anteriores deles constantes (Viegas, 2014). Assim, percebe-se que
o registo não implica um efectivo conhecimento dos factos publicados, nem a
averiguação dos mesmos, quanto à sua veracidade e existência. Torna-se inegável que o
registo funciona como garantia de exatidão e veracidade dos factos e situações jurídicas
dele constantes.
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Acompanhando Guerreiro (2010) , a publicidade que os registos públicos conferem não


é, pois, uma publicidade qualquer, apenas geradora da notícia da existência dos direitos
ou também das “razões de ciência” que os baseiam. Os registos destinam-se, portanto, a
tornar públicas as situações jurídicas – objecto da publicidade registral são as situações
jurídicas – e de modo a que tal publicitação possa ser geradora de efeitos de direito.
Contribuem assim para alcançar, de um modo que vem sendo progressivamente
aperfeiçoado, um dos valores fundamentais da ordem jurídica, qual seja o do
conhecimento, da certeza e ainda, em certos casos, da inquestionabilidade das situações
que realmente vão sendo constituídas.

1.1.1.2. Força probatória dos registos

Os registos fazem prova plena dos factos deles contantes, são, assim, “documentos
autênticos, atestados por um conservador, não obstante a consistam em prova que pode
ser ilidida através de recurso às vias judiciais” (Viegas, 2014, p.35).

No tocante ao Código Civil (CC) português, Lima e Varela (2010, como citado em
Viegas,2014, p.35) fazem menção do art.º 369 descrevendo que:

a autoridade ou oficial público que exara o documento tem de ser competente


em razão da matéria e do lugar, não podendo estar legalmente impedido de
lavrar os respetivo documento, a não ser que os beneficiários ou intervenientes
conhecessem, no momento da sua feitura, a falsa qualidade de autoridade ou
oficial público, a sua incompetência ou, ainda, a irregularidade da sua
investidura (Lima & Varela, 2010, p.136).

Assim, percebe-se através da descrição do diploma acima que quem tem a seu favor o
registo não precisar provar que é o autor do direito nele inscrito, pois esta prova pode
ser ilidida. Vale-nos realçar que esta presunção está delimitada ao registo definitivo,
sendo que ao registo provisório esta presunção se fragmenta, devido a sua validade
condicionada a constatação de factos futuros.

1.1.1.3. Modalidades de registo

Na concepção de Lopes (2011 como citado em Viegas, 2014, p.38), os registos são
definidos em cinco (5) modalidades: a) definitivo ou provisório; b) obrigatório ou
facultativo; c) constitutivo ou declarativo; d) aquisitivo ou consolidativo; e) por
depósito ou por transcrição.
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O registo diz-se definitivo quando se realiza o controlo da legalidade e da verdade da


ocorrência dos factos jurídicos que se pretendem registar, surgindo assim os efeitos
jurídicos, que eventualmente estariam suspensos.

O registo será provisório por verificação da existência de deficiências no pedido de


registo, susceptíveis de correcção no prazo de seis meses, ou por a validade ou eficácia
do facto jurídico estarem condicionadas à verificação futura de um outro facto ou do
reconhecimento de um direito.

O registo é obrigatório por imposição da lei, seja expressamente, seja por via da
estipulação de prazos para o seu pedido e da estipulação de sanções para a
extemporaneidade do pedido. Será facultativo quando a lei não estabelece qualquer
prazo para o pedido de registo, nem determine quaisquer sanções para a omissão
daquele.

O registo constitutivo consubstancia-se na criação de uma nova situação jurídica pela


via do próprio registo, que não existiria sem este. Neste tipo de registo os factos sujeitos
a registo poderiam até já existir, não obstante, não produzem efeitos jurídicos sem a sua
inscrição no registo.

O registo declarativo consiste no registo por meio da simples declaração de ocorrência


de um facto jurídico válido, consistindo esta declaração numa presunção de que o facto
existe nos precisos termos declarados. Lopes afirma que nos registos do tipo
declarativo, os direitos nascem, vivem e extinguem-se, independentemente da inscrição
dos factos, de que resultam, no registo.

1.1.2. Funções do Conservador

Os registos são qualificados pelos conservadores, entidade pública, completamente


desprovidos de interesse no registo e imparciais. Após verificação da respectiva
legalidade do pedido, cabe ao conservador qualificá-lo com base em todos os
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documentos que instruem aquele facto sujeito a registo. Segundo Ferreira (2015, p.21) ,
são funções do Conservador as seguintes:

1. Função parajudicial - o conservador desempenha o complexo papel de


decisor. A função do conservador consiste em proferir uma decisão acerca da
qualificação do pedido de registo com responsabilidade e competencia.

Os actos de registo têm por finalidade publicitar direitos privados e, são recorríveis em
fase contenciosa para os Tribunais comuns. Se fossem actos administrativos estavam
sujeitos à impugnação para o tribunal administrativo. Assim, percebe-se que os actos
típicos do conservador não são actos administrativos, não se encontrando sujeitos ao
Código do Procedimento Administrativo.

2. Função jurisdicional - os conservadores proferem juízos inteiramente livres,


em obediência à Lei, exercendo um cargo parajudicial que é praticado no
âmbito do direito privado, estando, desta forma, fora do domínio
administrativo, e não necessitando de qualquer despacho por parte da
Administração Pública para proceder aos registos.

Uma das questões que levanta discussão entre os doutrinários que defendem esta função
é o facto de se admitir a existência ou não do duplo controlo da legalidade feita sobre
acúmulo pelas entidades tituladoras e a jusante pelo conservador. Gonsález ( como
citado em Ferreira, 2015) defende que deveria ser eliminado o controlo efetuado pelos
conservadores, na medida em que, pela sua apreciação, não é sanado qualquer vício de
que o acto enferme.

1.2. Revisão da Literatura

Segundo Garcia e Pinheiro (2014) no Direito Romano, a expressão “direito civil”


abrangia todo o direito vigente, como o privado, o penal e o administrativo. O Direito
Civil era o direito da cidade, cujo objetivo era reger a vida dos cidadãos.A partir do
século XIX, o Direito Civil ficou ainda mais estrito, a designar apenas o que estava
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disciplinado num diploma específico, o Código Civil. Ou seja, o Direito Civil passou a
ser apenas aquele conjunto de regras existentes nos Códigos Civis.

No tocante ao Registo Comercial, Coelho (2011) afirma que “os bens e serviços de que
todos precisamos para viver - isto é, os que atendem às nossas necessidades de
vestuário,alimentação, saúde, educação, lazer etc. — são produzido em organizações
econômicas especializadas e negociadas no mercado”.(p.21). O autor argumenta que
estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os recursos
financeiros (capital), humanos (mão de obra), materiais (insumo) e tecnológicos que
viabilizem oferecê-los ao mercado consumidor com preços e qualidade competitivos.

Já no Registo Predial, invocamos Guerreiro (2010) que percorrendo o ordenamento


jurídico português, nos mostra uma visão doutrinária acertiva. Segundo o autor, “a
necessidade pública de ser conhecida a situação jurídica dos prédios é evidente e de há
muito foi reconhecida”.(p.5). Ao longo da evolução histórica compreendeu-se ainda
que se a esse simples conhecimento fosse adicionada uma presunção da verdade do que
é publicitado e uma garantia de eficácia (para as partes e terceiros) e consequente
oponibilidade – sobretudo para efeitos de maior confiança na contratação – então o
“sistema” publicitário tornar-se-ia mais eficaz, melhorando as próprias condições do
comércio jurídico. Nasceram assim os registos jurídicos, designadamente o “registo
predial”.

Alguns doutrinários defendem que os conservadores praticam actos públicos, é o facto


das conservatórias de registos se encontrarem compreendidas no Instituto dos Registos e
do Notariado. Segundo Ferreira (2015) o IRN “dirige, orienta e coordena os serviços do
registo do estado civil e da nacionalidade, da identificação civil, dos registos predial,
comercial, de automóveis e de navios e do notariado”.(p.22).

CAPÍTULO II – REGISTOS CIVIL, COMERCIAL E PREDIAL

2.1. Registo Civil

Segundo Sampaio (2011) denomina-se Registo Civil à instituição estatal que


proporciona constãncia de diversos acontencimentos e acções vinculados com o estado
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Civil dos indivíduos. Por exemplo, os casamentos, os nascimentos, as mortes, as


emancipações e mesmo os nomes e os apelidos dos seres humanos são registados por
estas entidades que, de forma geral, se encarregam de gerir diversos documentos
pessoais. O Registo Civil é uma instituição de grande importância para a cidadania já
que, através dos seus actos e dos documentos que emite, é possível exercer quantidade
de direitos.

Importa salientar que a Constituição da República de Angola, no seu artigo 56º,


estabelece que o Estado reconhece como invioláveis os direitos e liberdades
fundamentais nela consagrados e que ao Estado compete criar as condições que
garantam a sua efetivação, sendo certo que um destes direitos é precisamente o direito à
identidade (art.º 32º da CRA). Assim, a cidadania de um indivíduo inicia-se com o
registo de nascimento para que deste modo o cidadão possa exercer plenamente todos os
direitos que lhe cabem, competindo ao Estado, no caso concreto ao Ministério da Justiça
e dos Direitos Humanos, criar mecanismos e políticas para a efetivação do referido
direito à identidade, de modo a que o cidadão possa aceder a tantos outros direitos tais
como o direito ao voto, o acesso ao emprego, à educação, à segurança social, entre
outros.

Sem o registo de nascimento de todos os indivíduos torna-se impossível, a nível de


estatísticas nacionais, a obtenção de dados concretos respeitantes à determinação do
número de cidadãos angolanos existentes e de quem são filhos, e consequentemente,
dificulta-se ao Estado o acesso a informação fiável que permita aumentar a eficácia dos
programas sociais e económicos, o que, por sua vez, impossibilita aos cidadãos o
exercício de todos os direitos, deveres e obrigações em condições de igualdade.

2.1.1. Objecto do registo civil e factos sujeitos a registo

Os factos que, tendo início com o nascimento, momento de aquisição de personalidade


jurídica, até à morte, termo da personalidade jurídica, e que modificam as capacidade ou
o estado civil, são o objecto do registo civil (Viegas, 2014, p.50). A autra relata que
apenas os factos que a lei considere sujeitos a registo podem ser registados, quer
estejam previstos no Código de Registo Civil (CRC), quer estejam previstos em
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legislação especial, como é o caso dos factos determinantes da atribuição da


nacionalidade ou o caso da união de facto.

Recorrendo ao Código de Registo Civil, Viegas recorda-nos que:

Nos termos do art.º 1 do CRC constituem objecto de registo civil, o


nascimento; a filiação; a adoção; o casamento; as convenções antenupciais e as
alterações na constância do casamento do regime de bens convencionado ou
legalmente fixado; o óbito; a emancipação; a inibição ou suspensão do poder
paternal; a interdição ou inabilitação definitivas, bem como a tutela de menores
ou interditos, a administração de bens de menores e a curatela de inabilitados; a
curadoria provisória ou definitiva de ausentes e a morte presumida.

Todos os factos elencados, bem como aqueles que determinem a modificação ou


extinção de algum deles, devem constar obrigatoriamente do registo, caso respeitem a
cidadãos angolanos ou, ainda, caso respeitem a cidadãos estrangeiros mas que tenham
ocorrido em território angolano, nos termos do art.º 2 do Cód. Reg. Civ.

A expressão “obrigatoriamente” significa que determinados factos só terão relevância


jurídica após a data do respetivo registo, sendo a partir deste momento que produzem
efeitos tanto em relação às partes interessadas, como perante terceiros, articulando o
art.º 2 com o art.º 3 do Cód. Reg. Civ.

2.1.2. Estado pessoal

Segundo Fernandes (2010 como citado em Viegas, 2014) , define estado pessoal (lato
sensu) como sendo uma qualidade da pessoa, relevante na fixação da sua capacidade e
de que decorre a investidura automática num certo conjunto de direitos e vinculações.
(p.52). Na sequência do que vem sendo exposto, podemos afirmar que o estado civil é
um estado pessoal obrigatoriamente sujeito a registo civil.

Neste contexto, delimitamos o conceito de estado pessoal às posições fundamentais


ocupadas pela pessoa na vida jurídica. Seguindo a noção de Cunha , o estado pessoal
corresponde às “posições que representam dados fundamentais da condição jurídica da
pessoa”. (p.52). Fernandes relata que os estados pessoais, quando dependem de factos
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obrigatoriamente sujeitos registo civil, chamam-se estados civis. Ressalva o mesmo


autor, que correntemente se afirma que o estado civil é um estado pessoal que está
sujeito a registo obrigatoriamente, afirmação que deve ser afastada uma vez que o que
está sujeito a registo são factos que dão origem a determinados estados ou a qualidades
que os condicionam.

2.1.3. Valor probatório dos factos sujeitos a registo

Resulta do art.º 4 do CRC que a força probatória do registo civil apenas pode ser ilidida
mediante propositura de acções de estado e de acções de registo, uma vez que os factos
comprovados pelo registo apenas podem ser impugnados se for pedido o cancelamento
ou retificação dos assentos ou averbamentos.

As acções de registo são aquelas que têm por objeto o próprio registo, ou melhor, os
erros cometidos na elaboração do registo, ou aquelas em que se pede o suprimento do
registo. Assim, neste tipo de acção o que está em causa é apurar da regularidade ou
irregularidade do registo e não o conteúdo do facto registado. Já nas acções de estado o
objecto da acção é o estado que o registo representa, ou seja, saber se o registo está
correcto porque a factualidade nele descrita era a existente à data em que foi lavrado.

De acordo com o art.º 3 CRC os factos cujo registo seja obrigatório não podem ser
invocados, quer pelo próprio, quer pelos seus herdeiros, quer por terceiros, enquanto
não for lavrado o respetivo registo. Neste sentido, afirmamos que a falta de registo não
pode ser invocada como meio de prova ou de oposição pelas pessoas a que respeite a
omissão daquele ou seus herdeiros, ou por terceiros, uma vez que a omissão do devido
registo implica a promoção do mesmo, produzindo, nos casos previstos na lei, efeitos
retroativos.

Os meios de prova dos factos sujeitos a registo civil encontram-se previstos no art.º 278
do Cód. Reg. Civ. e são a certidão, o boletim, a cédula pessoal ou o bilhete de
identidade. Do art.º 5 do CRC resulta que a prova do facto sujeito a registo apenas pode
ser feita depois do registo daquele, pelo que, apenas nessa altura passa a produzir os
devidos efeitos. Assim, quando se verifique a omissão de um registo de casamento ou de
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óbito, apenas poderá ser feita prova do mesmo, após o registo prévio do facto de que se
pretende fazer prova.

Assim, caso se trate de um registo que devesse ser lavrado por inscrição, o registo
omitido deve ser efetuado mediante decisão judicial passada em julgado; se o registo
tiver sido feito através de transcrição, o funcionário deverá requisitar à entidade
competente, assim que tomar conhecimento da omissão, o título necessário para o lavrar
– caso não haja sido lavrado o original, o funcionário deverá diligenciar junto da
entidade competente para que proceda ao suprimento da omissão por meios próprios, de
acordo com as leis aplicáveis e que remeta à conservatória o respetivo título; caso não
seja possível a obtenção do título destinado à transcrição, deverá tomar-se o
procedimento enunciado em primeiro lugar.

Cabe ressalvar que esta obrigação de supressão da omissão impende sobre quaisquer
funcionários do registo civil, bem como sobre os agentes do Ministério Público (MP),
que assim que tenham conhecimento da omissão devem promover todas as diligências
necessárias, por si ou por intermédio das entidades competentes, a fim de regularizarem
a situação.

2.1.4. Forma de lavrar o registo

Segundo Bumba e Viegas (2013 como citado em Viegas 2014, p.55) “os factos que
consubstanciam objecto de registo civil são registados por via de assentos ou
averbamentos”. Os assentos podem ser lavrados por inscrição ou transcrição. O assento
compreende o texto do registo e os averbamentos lavrados na sua sequência ou na sua
margem.

De acordo com os autores, os assentos são lavrados por inscrição ou por transcrição. No
primeiro caso, sempre que declarados directamente na Conservatória competente para o
efeito; no segundo caso, sempre que lavrados com base em declaração prestada em
outra conservatória, ou em sentença judicial, ou certidões emitidas por organismos de
registo civil estrangeiros, como é o caso do assento de nascimento lavrado no
estrangeiro.
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Os averbamentos são feitos à margem ou na sequência dos assentos e fazem parte


integrante deste, nos termos do art.º 63 Cód. Reg. Civ. Os averbamentos lavrados com
base em documentos devem ser devidamente assinados pelo conservador ou por pessoa
com competência para o efeito, sendo certo que, regra geral, todos os averbamentos
devem ser assinados pelo conservador ou qualquer funcionário sob a sua
responsabilidade.

2.1.5. Órgãos do registo civil

Nos termos do art.º 10 do Cód. Reg. Civ. os órgãos normais do registo civil são as
delegações municipais do registo civil e a Conservatória dos Registos Centrais.
Contudo, tal como dispõe o art.º 11, excecionalmente, determinados órgãos especiais
podem desempenhar funções de registo civil, tais como, os agentes diplomáticos e
consulares angolanos no estrangeiro; os comissários, os capitães, mestres ou patrões de
embarcações particulares angolanos e os comandantes de aeronaves; as entidades
designadas por regulamentos militares; e quaisquer indivíduos em casos especialmente
previstos na lei.

Bumba e Viegas (2013 como citado em Viegas, 2014) todos estes órgãos especiais
desempenham, a título excepcional, funções de registo civil e devem obedecer ao
preceituado do diploma do registo, nas partes que lhes é aplicável. Os actos praticados
por estas entidades são integrados na ordem jurídica angolana, sendo competente para
tal a Conservatória dos Registos Centrais e apenas podem provar-se mediante certidão
emitida por esta conservatória.

Neste sentido, as entidades ora mencionadas devem remeter à Conservatória dos


Registos Centrais as cópias ou duplicados, por intermédio do ministério a que se
encontrem subordinadas, no prazo de sessenta dias (art.º 6 Cód. Reg. Civ.), sendo que os
assentos são integrados ou transcritos nos livros da conservatória, a quem foi cometida a
competência exclusiva.

2.1.5. Do registo de nascimento em Angola


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Dispõe o art.º 119 do Cód. Reg. Civ. que o nascimento ocorrido em território angolano
deverá ser declarado verbalmente na conservatória da área do nascimento, no prazo de
30 dias, contando do dia seguinte ao nascimento, aplicando-se para o efeito de
contagem de prazo o disposto no art.º 279 CC angolano. O registo de nascimento é
lavrado através de assento, pese embora existam casos em que será lavrado por
transcrição, como é o caso do registo do abandonado (art.º 135 Cód. Reg. Civ.).

A declaração de nascimento compete, de forma obrigatória e sucessiva, nos termos do


art.º 120 CRC ao pai; à mãe; ao parente capaz mais próximo, que se encontre no lugar
do nascimento; ao diretor do estabelecimento onde o parto tiver ocorrido, ou ao chefe de
família residente na casa onde o nascimento se verificar; ao médico ou parteira
assistente e, na sua falta, a quem tiver assistido ao nascimento; qualquer pessoa
incumbida de prestar a devida declaração pelo pai ou pela mãe do registando, ou por
quem o tenha a seu cargo.

O declarante do registo de nascimento deve ser maior de idade, a menos que se trate do
pai ou mãe biológicos (que podem ser menores), ou se trate do próprio registando no
âmbito de uma declaração tardia de nascimento, de acordo com o art.º 125 Cód. Reg.
Civ. que dispõe que quando o registando tiver mais de 14 anos de idade poderá requerer
a inscrição tardia no registo, pese embora devam ser ouvidos em auto os pais do
registando.Viegas (2014) relata que na prossecução do objevtivo pretendido pelo Estado
angolano de se proceder ao registo de todos os nascidos em território nacional, o art.º
112 do CRC prevê as sanções aplicáveis no caso de não se proceder à devida
comunicação.

Neste sentido, se decorrido o prazo legal, e a declaração de nascimento não houver sido
feito, tanto os funcionários do registo civil, como as autoridades administrativas ou,
ainda, qualquer pessoa que tome conhecimento do facto, devem participar o facto ao
MP, que por sua vez deve promover procedimento criminal contra quem se encontra em
incumprimento (a pessoa obrigada a prestar a devida declaração), bem como deve
proceder à recolha dos elementos necessários a fim de se regularizar a situação
registal180, suprimindo a omissão.

2.2. Registo Comercial


17

Segundo Quinteiro (2010) o Registo Comercial é o registo de factos referentes a


pessoas, singulares ou colectivas, que exercem uma actividade económica mercantil.

2.2.1. Princípios do Registo Comercial

Valendo-se das palavras de Quinteiro (2010), são princípios orientadores do registo


comercial aqueles princípios que informam o respectivo ordenamento jurídico,
inspirando as normas regulamentadoras e auxiliando a compreensão e correcta
interpretação dessas normas. Assim, destacam-se:

a) Princípio da Instância- Traduz-se no facto de o registo se efectuar a pedido dos


interessados, salvo as situações de oficiosidade, previstas na lei.
b) Princípio da Tipicidade ou Numerus Clausus - Só podem ser levados ao registo
os factos que a lei indica como a ele sujeitos e, por consequência, nenhum outro.
c) Princípio da Presunção da Verdade Registal - Afirma a presunção de que a
situação jurídica resultante do registo existe, e existe nos precisos termos aí
definida. Aplica-se apenas aos registos por transcrição (definitivos) e tem como
consequência a inversão do ónus da prova.
d) Princípio da Publicidade - O registo comercial destina-se a dar publicidade à
situação jurídica das pessoas singulares e colectivas.

e) Princípio da Especialidade - Corresponde à necessidade de tanto o comerciante


individual ou estabelecimento individual de responsabilidade limitada, como
qualquer das pessoas colectivas sujeitas a registo comercial, serem determinados
através de menções individualizadoras no registo, por forma clara e específica,
de forma a afastar quaisquer dúvidas, quer sobre a identificação precisa, quer
sobre os direitos e vinculações que lhes digam respeito.
f) Princípio da Legalidade ou da Qualificação - O Conservador aprecia a
viabilidade do pedido de registo a efectuar por transcrição, em face das
disposições legais aplicáveis, dos documentos apresentados e dos registos
anteriores, verificando especialmente a legitimidade dos interessados, a
regularidade formal dos títulos e a validade dos actos nele contidos.
g) Princípio da Prioridade - O facto registado em primeiro lugar prevalece sobre os
que se lhe seguirem, relativamente às mesmas quotas ou partes sociais, segundo
a ordem do respectivo pedido.
h) Princípio do Trato sucessivo - Significa que os titulares dos direitos devem
constar do registo de forma continuada e não de forma descontínua, isto é, o
18

titular actual do direito adquiriu-o do anterior, tal como o seguinte só do titular


actual poderá adquirir o mesmo direito.

2.2.2. Actos do Registo da Empresa

O acto de inscrever-se no Registo das Empresas é uma das obrigações de todo indivíduo
motivado a exercer uma actividade económica organizada para a produção ou circulação
de bens e/ou serviços, antes de dar início a exploração de seu negócio. Coelho (2011,
p.59) aponta três actos do registro de empresa: a matrícula, o arquivamento e a
autenticação. Nesta senda, o autor discorra os actos, argumentando que:
a) Matrícula é o nome do acto de inscrição dos tradutores públicos, intérpretes
comerciais, leiloeiros, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais.
Trata-se de profissionais que desenvolvem actividades paracomerciais.
b) Arquivamento é pertinente à inscrição do empresário individual, isto é, do
empresário que exerce sua actividade económica como pessoa física, bem como
à constituição, dissolução e alteração contratual das sociedades empresárias.
c) Autenticação está ligada aos denominados instrumentos de escrituração, que são
os livros comerciais e as fichas escriturais. Nesse caso, a autenticação é condição
de regularidade do documento, já que configura requisito extrínseco de validade
da escrituração mercantil.

2.2.3. Processos de registo

Os processos de registo previstos na lei pretendem sumariamente extrair dos


documentos apresentados pelos interessados os elementos conducentes às matrículas,
inscrições, averbamentos e publicações ( Leal, 2014).

Na concepção de Lopes (2007, como citado em Leal,2014) existem duas formas de


registo: Registo por transcrição e Registo por depósito.

Registo por transcrição - Do latim transcriptio; -onis, transcrição, cópia, imputação, o


seu termo significa acto ou efeito de transcrever. Segundo Leal (2014), a sua definição,
não encontra similitude na sua realidade substantiva pois o registo por transcrição não é
um mero acto de copiar ou transcrever, antes pelo contrário trata-se de um verdade
registo, na sua acepção.
19

O Conservador orientado pelo princípio da legalidade afere da forma e conteúdo dos


documentos apresentados no pedido de registo e consubstancia um juízo de qualificação
do mesmo. Exerce assim a plenitude das suas funções como oficial de registo
qualificado, e garante da segurança jurídica.

Registo por depósito – neste registo reconhecemos ao legislador o mérito da inovação,


todavia achamos que terá sido um pouco imprudente ao julgar que determinados
registos pudessem ser realizados com segurança jurídica pelos próprios interessados,
sem necessidade de qualquer controlo de um profissional habilitado.

Nem todas as empresas, referimo-nos às pequenas e médias empresas, dispõem de


técnicos habilitados para a elaboração de contratos segundo o normativo legal em vigor
o que em casos de redução de custos faz com que se apoiem em minutas defeituosas no
seu conteúdo. Segundo Leal (2014), “o registo por depósito é uma moderna forma de
registo, na qual não se evidencia qualquer traço de intervenção de controlo da
legalidade”.(p.44). Neste registo passamos de um duplo controlo da legalidade
(efectuado por notário num primeiro momento e pelo Conservador, num segundo
momento), para uma total ausência de controle.

2.2.4. Inactividade da Empresa

Entende-se por inactividade da Empresa ao cancelamento do registro por parte do


Órgão ministerial que regula a actividade económica, com a consequente perda da
protecção do nome empresarial pelo titular inactivo. Nesta perspectiva, Coelho
apresenta uma visão mais acautelada em relação a esta situação, argumentando que:
Do cancelamento do registro por inactividade não decorre a dissolução da
sociedade, mas apenas a sua irregularidade na hipótese de continuar
funcionando. Quer dizer, a sociedade com arquivamento cancelado não deve
necessariamente entrar em liquidação; mas sobrevêm as consequências do
exercício irregular da atividade empresarial, caso os sócios não a encerrem
(2011, p.62).

O autor afirma que todo empresário individual e a sociedade empresária que não
procederem a qualquer arquivamento no período limite estabelecido devem comunicar
ao Órgão ministerial responsável que ainda se encontram em actividade, sob pena de
20

serem inactivos. Este Órgão ministerial deve comunicar, previamente, o empresário


acerca da possibilidade do cancelamento, podendo faze-lo por edital. Se atendida a
comunicação, desfaz-se a inactividade; no caso de não atendimento, efectua-se o
cancelamento do registro, informando-se o fisco.

Se, no futuro, o empresário pretender reactivar o registro, deverá obedecer aos mesmos
procedimentos relacionados com a constituição de uma nova empresa, não tendo o
direito de reivindicar o mesmo nome empresarial anteriormente adoptado, caso este
tenha sido registrado por outro empresário.

2.3. Registo Predial

O registo predial (que também se tem designado como “registo imobiliário”, “registo da
propriedade” e “registo hipotecário”) é sobretudo importante para a realização das
transacções imobiliárias – sua fiabilidade, estabilidade e segurança – bem como para o
crédito hipotecário, que poderá ser tanto mais facilitado, eficiente e “barato” quão mais
aperfeiçoado e garantido for o sistema de registo. Numa visão doutrinária, Guerreiro
(2010) relata que:

a necessidade pública de ser conhecida a situação jurídica dos prédios é


evidente e de há muito foi reconhecida. Ao longo da evolução histórica
compreendeu-se ainda que se a esse simples conhecimento fosse adicionada
uma presunção da verdade do que é publicitado e uma garantia de eficácia
(para as partes e terceiros) e consequente oponibilidade – sobretudo para
efeitos de maior confiança na contratação – então o “sistema” publicitário
tornar-se-ia mais eficaz, melhorando as próprias condições do comércio
jurídico. Nasceram assim os registos jurídicos, designadamente o “registo
predial. (p.5).

2.3.1.Sistemas de registo predial

A forma como nos diversos países tem sido encarada a publicidade registral, os modos
como ela se organiza e se articula com o direito substantivo, a própria definição dos
objectivos que se pretendem alcançar, bem como os princípios (e regras gerais) que
21

vigoram e ainda os efeitos que se visam gerar, deram origem á criação de diversos
sistemas registrais. Estes sistemas têm sido classificados com base em diversos critérios.
Assim, tendo-se em vista o modo como o registo é organizado, diz-se que é um “registo
de base real” se é a partir do prédio – ou seja, com base no prédio – que se registam os
sucessivos factos que se lhe referem e de “base pessoal” se é com base nos titulares dos
direitos que o registo é feito.

Segundo Guerreiro (2010, p.7) , a classificação dos sistemas de registo mais relevante é
a que respeita aos efeitos da publicidade registral. Sob este ângulo poder-se-ão
distinguir fundamentalmente três tipos de sistemas. São eles:

1. Sistema de recording – neste sistema arquivam os sucessivos documentos, sem


um prévio exame dos mesmos. São sistemas que apenas podem obter meros,
escassos e duvidosos efeitos meramente informativos e que, portanto, não
oferecem garantias de que os titulares dos direitos sejam realmente os que
constam do registo. Há quem considere, que nem sequer são sistemas de registo,
visto que não têm fiabilidade alguma, podendo gerar toda a espécie de dúvidas
sobre a própria existência e legalidade do facto “registado”. São os sistemas de
raiz saxónica.

2. Os sistemas de mera inoponibilidade - são aqueles em que a não inscrição do


título no sistema registral o torna inoponível ao terceiro que, de boa fé, o tenha
inscrito. Também conhecidos como de “registo de documentos” são sistemas que
não oferecem uma informação garantida sobre a titularidade do bem, embora
prestem alguma informação sobre essa titularidade, designadamente no sentido
de que “o dono será um dos que o registo publica”. São os sistemas de
inspiração francesa.

3. Sistemas de registo de direitos, também designados de fé pública - trata-se dos


que mais e melhores efeitos produzem. Em síntese, dir-se-á que fornecem uma
publicidade credível dando também uma garantia do que é publicitado. Trata-se
de sistemas que informam de forma eficaz e insofismável as “balizas do direito”,
designadamente as titularidades e os encargos que impendem sobre o prédio.
22

Precisamente por isso, a qualificação dos títulos tem de ser rigorosa e exercida
por juristas habilitados e competentes.

Cada sistema registral é constituído por um conjunto orgânico de normas que tem por
objecto definir e organizar o registo e que no seu conjunto formam o que se poderá
designar como o ordenamento jurídico registral. Nesta senda, estes sistemas permitem
reduzir ao mínimo a conflitualidade e os denominados “custos de transacção”.

2.3.2.Processo de justificação administrativo e judicial

O processo de registo começa, portanto, com o pedido para o efeito do registo pelos
interessados. Corroborando Guerreiro (2010) , “um dos princípios que permite que o
sistema registral seja estruturado com exactidão e credibilidade é, consabidamente, o do
trato sucessivo”.(p.47). Para solucionar o problema da falta dos documentos
comprovativos da aquisição do prédio (porque não se sabe onde se encontram ou porque
se terão extraviado), colocou-se ao legislador o problema de procurar a melhor e mais
expedita maneira de resolver a questão.

A solução encontrada, com vista a suprir a falta desses documentos, consistiu


precisamente na permissão (e divulgação) das justificações como um meio idóneo para
o ingresso dos prédios no sistema registral e para o estabelecimento ou restabelecimento
do trato sucessivo. Esta justificação pode ser do tipo administrativa e judicial.

De acordo com os relatos de Guerreiro (2010), o processo de justificação administrativa


processa-se nas repartições de finanças e é destinado a obter título para registo dos bens
pertencentes ao domínio privado do Estado. O autor sublinha que é apenas os do
domínio privado, visto que os bens do domínio público estão e sempre estiveram
excluídos do comércio jurídico e, portanto, fora do próprio âmbito do registo predial.

Já processo de justificação judicial permite o recurso à escritura de justificação tanto


para obter a primeira inscrição no registo como para reatar o trato sucessivo. Pretendia-
se, ao fim e ao cabo, tornar efectiva a concordância do registo com a realidade jurídica,
isto é, inerente aos meios de garantir a concordância entre o registo e a realidade.

A justificação, tanto através do processo simplificado como da escritura pública, surgiu,


portanto como um meio fácil e expedito para que qualquer interessado que – real e
indiscutivelmente – tivesse o direito, mas que todavia o interessado não dispusesse dos
23

necessários documentos, ou seja, do título que formal e legalmente o habilitasse a obter


o registo, ou não o conseguisse com uma razoável celeridade, através desse instrumento
simples e acessível.

2.4.Impugnação

Impugnação é o acto de contrariar expondo suas razões de oposição a determinada


acção. Trata-se de acto de oposições muito usado no Direito, com finalidade de refutar
alguma decisão ou manifestação de parte contrária. A impugnação não tem natureza
jurídica de uma nova acção, e sim de mero incidente processual, sendo assim sua
decisão será sempre interlocutória, contra a qual caberá recurso de agravo.

O acto de impugnar tem cunho jurídico plasmado da Constituição de Angola, no artigo


73º, conforme se descreve:«Todos têm direito de apresentar, individual ou
colectivamente, aos órgãos de soberania ou quaisquer autoridades, petições, denúncias, ,
relamações ou queixas, para defesa dos seus direitos […]».

2.4.1.O que é o contraditório?

Contraditório é a possibilidade de se apresentar razões que contrariem entendimento


cujos reflexos práticos sejam prejudiciais àquele que necessita exercer esse direito para
evitar a efetivação do prejuízo. É manifestar contrariedade ao que está sendo exposto
como a verdade. Nenhuma alegação pode ser admitida como verdade sem que, antes,
seja submetida ao crivo do contraditório.

O contraditório representa o direito de ser ouvido, de ter sua opinião, posições,


entendimentos considerados antes que se adote medida gravosa e prejudicial contra
aquele que está sendo acusado. Decisão que cause gravamente a alguém e não tenha
sido produzida a partir do contraditório, é nula e não produz qualquer resultado válido,
devendo ser desfeitos seus reflexos com retorno da situação ao estado em que estava
antes da decisão ser tomada.

2.4.2. Recursos e acções de Impugnação

Para se impugnar uma decisão ou acção jurídica, devemo-nos valer de


recurso.Corroborando Botelho (2010) “ Recurso é o instrumento processual voluntário,
com assento constitucional, do qual se vale o recorrente para impugnar decisão contrária
24

ao seu interesse, antes da preclusão, buscando resultado mais vantajoso, por meio de
reforma, invalidação, esclarecimentos ou confirmação daquela, dada por um órgão
superior ou pelo próprio órgão que a proferiu, seja ele administrativo ou judicial”.(p.10).

Esclarece Capez (2006, p. 435 como citado em Botelho, 2010):

Recurso é a providência legal imposta ao juiz ou concedida à parte interessada,


consistente em um meio de se obter nova apreciação da decisão ou situação
processual, com o fim de corrigi-la, modificá-la ou confirmá-la. Trata-se do
meio pelo qual se obtém o reexame de uma decisão (p. 10).

Ainda, ensina Braga (1941; Capez, 2006, p. 435 como citado em Botelho, 2010):

A palavra recurso é composta da partícula iterativa de origem


desconhecida – re –, que significa volta, renovação, e do substantivo
latino – cursus –, proveniente do verbo – currere –, e, assim formada,
a palavra designa novo curso, repetição do movimento (2010, p.10).

Assim, deve o julgador, incumbido de reexaminar decisão impugnada, realizar um novo


estudo do processo, bem como proferir nova decisão.

Segundo Botelho (2010), a questão sobre a natureza jurídica dos recursos divide-se em
três suposições:

1. Recurso como desdobramento da relação jurídico-processual em curso :


Segundo Rangel (2005, p.727 como citado em Botelho, 2010) “a corrente em
apreço reconhece na interposição de um recurso o desdobramento do direito de
acção, isto é, dentro do mesmo processo haveria outro procedimento, agora, em
fase recursal” .(p.10).

2. Recurso como acção constitutiva autônoma - Os defensores desta corrente


entendem que o autor do recurso pode não ser o que intentou com a acção, bem
como que esta tem como apoio facto anterior ao processo, enquanto que o
recurso fundamenta-se num ato processual, a sentença (Rangel, 2005, p. 727
como citado em Botelho, 2010, p.11 ). Portanto, para os defensores desta
25

corrente, há exigências diversas na interposição de ambos, vez que na ação, o


direito baseia-se num fato e, no recurso, em uma sentença a ser impugnada.

3. Recurso como instrumento destinado a obter reforma de uma decisão -Tal


corrente julga ser o recurso um meio capaz de propiciar a reforma de uma
decisão ou sentença (Rangel, 2005, p. 727 como citado em Botelho, 2010, p.11).
É possível compreender que a natureza jurídica do recurso corresponde a um
desdobramento do direito primário, ou seja, um prolongamento da instância,
com o exercício do duplo grau de jurisdição, para que o interessado obtenha o
provimento jurisdicional almejado.

Segundo Botelho (2010, p.32), as acções de impugnação são as seguintes:

1. Habeas Corpus - Trata-se de acção de impugnação de carácter constitucional,


isenta de custas, impetrada para cessar violência ou ameaça contra a liberdade de
locomoção (direito de ir e vir) de pessoa inocente, praticada por autoridade
competente, por meio de ilegalidade ou abuso de poder.

Nos argumentos de Mirabete (2006, p. 739 como citado em Botelho, 2010) tem-se
seguinte conceito:
O habeas corpus é uma garantia individual, ou seja, um remédio jurídico
destinado a tutelar a liberdade física do indivíduo, a liberdade de ir, ficar e vir.
Pode ser conceituado, pois, como o remédio judicial que tem por finalidade
evitar ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção
decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. Com ele se pode impugnar atos
administrativos ou judiciários, inclusive a coisa julgada, e de particulares
(2010, p.32).

Ainda, a doutrina nomeia de liberatório (correctivo ou repressivo) o habeas corpus


impetrado para ter restituída a liberdade de alguém que já esteja com seu direito
violado; e de preventivo, o habeas corpus impetrado a fim de evitar que a coação se
efetive, logo deverá ser expedido um salvo-conduto assinado pela autoridade
competente.
26

2. Mandado de Segurança- Refere-se a uma acção impugnativa de natureza civil,


podendo ser utilizado, em determinadas hipóteses, contra ato jurisdicional penal
para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, desde que haja ilegalidade ou abuso de autoridade.

Corroborando Mirabete (2006, p. 764 como citado em Botelho, 2010) , percebe-se que:

O mandado de segurança não é um recurso, mas uma ação, de natureza civil,


de rito sumaríssimo, destinado a proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
de atribuições do Poder (2010,p.36).
Segundo Botelho (2010) , a utilização do mandado de segurança contra acto
jurisdicional pressupõe a irreparabilidade do dano pelos remédios processuais
ordinários. Todavia, há hipóteses em que o direito da parte pode sofrer lesão em virtude
da inexistência de efeito suspensivo do recurso. Em tais casos, o mandado de segurança
poderá ser utilizado para tal fim (obtenção do efeito suspensivo).

A competência para a apreciação do mandado de segurança é definida de acordo com a


categoria da autoridade coatora, bem assim em razão de sua sede funcional, sendo
sempre autoridade com poderes para desfazer o ato impugnado. No caso de o mandado
de segurança voltar-se contra decisão judicial, competente será o tribunal incumbido de
julgar os recursos relativos à causa. Terá legitimidade para impetrar o mandado de
segurança o titular do direito líquido e certo violado, que pode ser pessoa física ou
jurídica que deve estar representada por advogado.

3. Revisão Criminal - Constitui uma acção penal de natureza constitutiva, autónoma,


que visa impugnar a coisa julgada material eivada de erro judiciário (in iudicando ou in
procedendo), consagrado em uma decisão judicial de que já não caiba recurso, para
proteger o status libertatis e dignitatis do réu.

Valendo-se das palavras de Nucci (2006, p. 877 como citado em Botelho, 2010) que “
Revisão Criminal é uma acção penal de natureza constitutiva e sui generis, de
competência originária dos tribunais, destinada a rever decisão condenatória, com
27

trânsito em julgado, quando ocorreu erro judiciário”.(p.38). Trata-se de autêntica acção


rescisória na esfera criminal, indevidamente colocada como recurso no Código de
Processo Penal. É acção sui generis, pois não possui pólo passivo, mas somente o autor,
questionando um erro judiciário que o vitimou.

Ensina Mirabete (2006, p. 700): O instituto da revisão é um remédio que a lei confere
apenas ao condenado, contra a coisa julgada, com o fim de reparar injustiças ou erros
judiciários, livrando-o de decisão injusta. A revisão criminal é o instrumento colocado a
disposição do indivíduo para que ele possa resgatar seu status dignitatis, ou seja, sua
dignidade enquanto pessoa.

CAPÍTULO III – METODOLOGIA

3.1. Modelo de pesquisa

O modelo de pesquisa constitui o arcabouço para o planejamento, implementação e


análise de um estudo. Trata-se de um passo essencial da pesquisa que nos permitiu
converter a hipótese conceitual para hipótese operacional.

Quanto aos objectivos da pesquisa, recorremos a pesquisa exploratória, pois o estudo


nos permitiu aprofundar o tema em causa nos limites de uma realidade específica.
Segundo Lakatos e Marconi (2001), são investigações que possuem três objetivos:
desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador para uma pesquisa
futura e tornar conceitos mais claros.

Quanto a natureza da pesquisa, recorremos a pesquisa qualitativa, pois os os fenómenos


a serem explorados não precisaram, necessariamente, serem quantificados. Segundo
Triviños (1987 como citado em Oliveira, 2011), a abordagem de cunho qualitativo
trabalha os dados buscando seu significado, tendo como base a percepção do fenómeno
dentro do seu contexto. O uso da descrição qualitativa procura captar não só a aparência
do fenómeno como também suas essências, procurando explicar sua origem, relações e
mudanças, e tentando intuir as conseqüências.
28

Quanto ao objecto de estudo, recorremos ao estudo de casos múltiplos, que segundo Yin
(2001 como citado em Oliveira, 2011), "o estudo de caso pode ser restrito a uma ou a
várias unidades, caracterizando-o como único ou múltiplo. Tais unidades poderão ser
definidas como indivíduos, organizações, processos, programas, bairros, instituições,
comunidades, bairros, países e, até mesmo, eventos". (p.28).

Quanto a técnica de colecta de dados, recorremos a Pesquisa bibliográfica, fazendo


recurso à material já elaborado como livros, monografia, dissertação, artigos científicos,
internet e à Pesquisa documental, fazendo recurso aos diplomas legais como a
Constituição de Angola, o Código Civil, as Leis- decreto e aos materiais que não
receberam ainda um tratamento Analítico.

3.2.Caracterização da amostra

A amostra do nosso estudo é constituída pelos Registos Civil, Comercial e Predial. De


acordo com Gil (2012, p.90) “amostra é um subconjunto do universo ou da população,
por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou
população”.

A amostragem da nossa pesquisa é do tipo não-probabilística. Conforme Gil (2012) “ a


amostra não probabilística nos dá acesso a um conhecimento detalhado e circunstancial
da vida social”. O método de escolha da amostra foi por acessibilidade aos registos”.
(p.139).

3.2. Procedimentos

Para a elaboração deste trabalho recorremos a técnica de fichamento, que nos permitiu
seleccionar as fontes bibliográficas pela qualidade de informação que detêm, pelo
conteúdo do seu discurso e pelo facto de poderem assegurar a qualidade dos dados da
pesquisa.

3.3. Variáveis

Para Lakatos e Marconi (2001), uma variável pode ser considerada como “uma
classificação ou medida, ou seja, um conceito operacional que apresenta valores,
passível de mensuração”. O nosso estudo suporta duas variáveis e estabelecem entre si
relação de assimetria. Eis as variáveis:
29

a) As decisões do Conservador como variáveis independentes. Segundo as autoras


acima referenciadas, a variável independente é caracterizada como a variável
que influencia, determina ou afecta outra variável;

b) Os registos como variável dependente. A variável dependente é o elemento que


será analisado e explicado em consequência da influência que sofre de outras
variáveis, ou seja, é o factor que varia à medida que o pesquisador modifica a
variável independente.

3.4. Técnica e/ou instrumento de Pesquisa

Em função das hipóteses levantadas, concluimos que a técnica que melhor se articula ao
nosso estudo é a Análise de conteúdo.

A análise de conteúdo “é um conjunto de técnicas de análise das comunicações,


visando, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das
mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a interferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção de mensagens” (Bardin,
1977, p.21 como citado em Triviños, 2013, p.160).

A análise de conteúdo nos permitiu descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de


documentos e textos, para compreendermos melhor o proceder de toda Acção Judicial.
30

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1. Apresentação dos dados

A nível do Registo Civil, mostramos como impugnar a decisão da recusa dos nomes e o
processo de alteração e retificação dos nomes.

A nível do Registo Comercial, mostramos como impugnar a decisão do processo


especial de rectificação.

A nível do Registo Predial, mostramos como impugnar a decisão da correcção do preço


de uma titulação e a recusa de retificação do registo.

4.2. Discussão dos dados

A nossa discussão teve como base os Diplomas legais que norteam o ordenamento
Jurídico Angolano, nomeadamente a Constituição da Repúbica de Angola, o Código
Civil, os Códigos de Registo Civil, Comercial e Predial com o propósito de repor a
legalidade dos factos quando a acção judicial do Conservador rompe com os
procedimentos legais.

4.2.1. Recusa dos nomes


31

A recusa do nome constitui um tópico de Direito Registal muito debatido entre os


doutrinários do Direito Civil. Quando o nome proferido por um indivíduo é recusado, a
sua identidade jurídica é comprometida.

No art. 129º do Código de Registo Civil, o legislador relata que o nome do registando
será o indicado pelo declarante, que neste caso, podemos nos referir ao pai, a mãe ou
outro indivíduo.Valendo-se do raciocínio do legislado, a recusa do nome por parte do
Conservador constitui uma oposição ao referido artigo.

A recusa do nome frisada na alínea segunda do artigo 130º, fazendo menção a nomes de
objetos, animais e qualidade, também é contestável.

Suponhamos que o declarante dita como nome do registando Pedro, cuja gênese é
pedra, este não será recusado por ser um nome vulgar na Língua Portuguesa; se o
declarante ditar como nome do registando Mateus Cuito Bota, serão recusados os nomes
Cuito e Bota por não serem vulgares na onomástica portuguesa? O nome Mateus Cuito
Bota cumpre com o que está ajuizado no art. 130º.

O legislador ao ditar que se faça uma adaptação gráfica e fonética do nome, caso
contrário o nome será recusado acaba por cometer um deslize quanto ao art.º 129º. Por
exemplo, o declarante dita que o nome do registando é Kelson (nome de origem inglesa)
e adaptam em Português para Quilson, nos remete a falsificação de identidade. O registo
visa promover direitos através da publicidade registal. O nome Kelson em algum
momento suscita dúvida.

No caso do Conservador, proceder mal a sua decisão ao recusar o nome, o declarante


pode apresentar mediante condições legais, uma reclamação que no caso de não permitir
o registo com o nome, poderá mediante recurso hierárquico e contencioso impugnar a
decisão do Conservador, como prevê a Lei n 1 /97 (Lei sobre a Impugnação das
decisões dos Conservadores e do Notário).

4.2.2. Processo de retificação dos nomes

Trata-se de um tema vertente do Registo Civil e é plasmado no art.º 117 do CRC


(conjugado com o nº 2 d art.º 72º do CC), na qual o legislador argumenta que « o registo
que enferme de alguma irregularidade, deficiência ou inexactidão, que o não torne
32

juridicamente inexistente ou nulo, deve ser rectificado». Neste contexto, devem recorrer
ao pedido de rectificação todos aqueles que constatar uma anomalia no seu processo de
registo, quer de nome mal escrito, data de nascimento alterada ou outra parte deste
processo.

A rectificação do nome dever averbada ou integrada no assento, mediante o


consentimento dos interessados e se preferirem podem pedir o cancelamento do registo
e a feitura do novo (art.º 118º).

Suponhamos que o nome do registado é André Carvalho e no processo de registo


aparece André Caralho; o registado deve apresentar uma reclamação para a devida
rectificação. O mesmo sucede para os casos que o registado nasceu no dia 30 de Junho e
no processo de registo aparece 31 de Junho. Aqui fica condicionada a natalidade do
indivíduo.

Se após o prazo legal da reclamação, as irregularidades não forem sanadas, os


responsáveis do registo responsabilizarão civilmente, conforme atesta o art.º 384º do
CRC. Sob pena de agravo, o Conservador deve atender a situação do interessado que
pode recorrer mediante recursos hierárquicos e contencioso a impugnação das decisões
do Conservador.

4.2.3. Processo especial de rectificação

O processo especial de rectificação é um tópico de Direito Comercial plasmado no art.º


81º do Cód. Reg. Comercial. O legislador ajuiza que o processo especial de rectificação
é aplicável, com as necessárias adaptações, aos registos por depósito.

Quando uma empresa efectua um pedido , mediante documentos que comprovam a sua
legalidade, para mudança de sua natureza, isto é, de pequena empresa para média deve
estar ciente do recomendado definido no art.º84 do Código supra citado: «o pedido de
rectificação é acompanhado dos meios de prova necessários e do pagamento dos
emolumentos devidos».
33

Se após a efectivação do pedido, o empresário ou sociedade comercial identificar uma


anomalia na concessão do pedido através da demorosidade do processo e/ou de actos
burocráticos, deve recorrer a Conservatória para fazer uma verificação do seu processo .
Se mesmo com a verificação, o pedido não for concedido mediante comprovativo, o
empresário poderá recorrer ao tribunal para impugnar a decisão do conservador quanto
ao pedido efectuado, devido a "indisposição" consensual. A acção judicial do
conservador será verificada mediante um recurso de impugnação. Mas, antes o
empresário deve apresentar uma notificação formal como rege o Código (art.º 50).

O empresário deverá atender as condições frisadas no art.º 92º do CRC, na qual o


legislador adverte que «A decisão de indeferimento do pedido de rectificação pode ser
impugnada mediante a interposição de recurso hierárquico para o director-geral dos
Registos e do Notariado, nos termos previstos nos artigos 101º e seguintes ou mediante
impugnação judicial para o tribunal da comarca da área da circunscrição a que pertence
a conservatória, nos termos dos números seguintes».

Ao impugnar a decisão do conservador devido o não deferimento do pedido de


rectificação, o empresário deverá cumprir com os prazos definidos para tal, sob pena de
ver o processo suspenso, como reza o art.º 685 do Código de Processo Civil. O
legislador define que o prazo para impugnar judicialmente a decisão do conservador é
de 30 dias a contar da notificação (art.º 101º do Cod. Reg. Comercial).

4.2.4. Correcção do preço de uma titulação predial

Entende-se por correcção de uma titulação ao reajustamento dos preçários de acordo a


legalidade dos factos, quando os actos forçaram o vício ou burocratização da titulação.
Para garantir a seguração do comércio jurídico imobiiário é necessário que haja justiça
nos actos de titulação predial, garantido que a publicidade não crie situação de
desconforto aos interessados, conforme ajuiza o legislador no artigo 1.º do Código de
Registo Predial.

Suponhamos que alguém adquiriu um prédio e, após o registo constata que houve erro
na titulação quanto a natureza do edifício, este poderá efectuar um pedido de correcção
34

da titulação mediante documentos comprovativos, como a planta do prédio e a


declaração de propriedade assinada, invocando nesta situação o artigo 30.º do CRP
conjugado com o artigo 28.º do mesmo Código.

Como se trata de direito de propriedade, neste caso, o interessado pode efectuar um


pedido de reelaboração do registo, tendo como suporte o art.º 135º do CRP. Ao nosso
entender o argumento do legislador neste artigo deveria se prolongar, para que naqueles
casos que não haja extravio ou inutilidade da ficha registal do prédio, far-se-ia também
recurso para os casos de correcção de títulos como tal, o que não carece apenas de uma
rectificação.

Vemos aqui, um medir força entre os artigos 121.º, nº2 e o artigo 135.º, nº1. A
correcção da titulação ajusta-se melhor com uma reelaboração de registo que é isenta de
taxas emolumentares ou encargos legais. Isto pode acarretar a reforma de livros ou ficha
no caso da não reconstituição do registo ( art.º 136º e 137º). Recorre-se ao art. 138, caso
o pedido de correcção for indeferido, para a devida reclamação.

Após o prazo legal da reclamação, se a situação não for regulada, o interessado poderá
impugnar as decisões do conservador devido a não correcção, por negligência ou má fé
deste, recorrendo ao artigo 147 do Código em quest

4.2.5. Recusa da rectificação do registo predial

A rectificação do registo de um prédio faz-se mediante necessárias adaptações do


Código de Registo Predial e Código de Processo Civil. A rectificacao do registo é feita,
em regra, por averbamento a lavrar no termo do processo especial para esse efeito
previsto neste Código (CRP, art.º 121º).

Numa visão mais acautelada, o legislador adverte no art.º 122 do CRP que « a
rectificacao do registo nao prejudica os direitos adquiridos a titulo oneroso por terceiros
de boa-fe, se o registo dos factos correspondentes for anterior ao registo da rectificação
ou da pendencia do respective processo». Na apreciação dos pedidos que lhe são
dirigidos, o conservador atém-se ao princípio da legalidade , tomando uma decisão na
respectiva qualificação, isto é deferindo, ou, indeferindo, total, ou, parcialmente o
requerido. Logicamente que poderá errar, ou ter uma opinião não aceitável.
35

Contra esse eventual erro as pessoas a quem a lei confere legitimidade para o efeito
poderão reagir, pelas vias previstas.

A recusa de retificação de registo apenas pode ser apreciada no processo próprio


regulado no artigo 126º , acarretando responsabiidade civil e criminal previsto no art.º
153 da CRP. A rejeição deve ser fundamentada em despacho a notificar ao interessado,
para efeitos de impugnação, nos termos do disposto nos artigos 126. º e seguintes,
aplicando-se-lhe, com as devidas adaptações, as disposições relativas à recusa.

Todo interesssado que pedir uma rectificação do registo predial e ver seu pedido
recusado, deverá fazer recurso e/ou impugnar a decisão do conservador nos termos do
art.º 147º do CRP, na qual o legislador argumenta « Assiste ao interessado o direito de
interpor recurso contencioso contra erros que entenda ter havido na liquidacao da conta
dos actos ou na aplicacao da tabela emolumentar, bem como contra a recusa do
conservador em passar qualquer certidao, depois de desatendido o recurso hierarquico».

A impugnação será sempre admissível independentemente da decisão proferida


acarretar ou não prejuízos de ordem económica ou outros ao impugnante.
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CONCLUSÃO

Os registos são elementos que atestam direitos quer de identidade, quer de propriedade,
baseado nos Princípios legalmente definidos. Os registos protegem a autonomia das
pessoas mediante a certeza jurídica ditada pela publicidade registal.

No que tange ao Registo Civil, todo indivíduo carece de um nome que constitui o pilar
da sua identidade, permitindo-lhe exercer o seu direito de cidadania. As relações
interpessoais estão também ligadas a identidade jurídica do indivíduo, o que nos revela
o seu estado pessoal. As actividades económicas que permitem a produção e a
circulação de bens e serviços, garantido assim a subsistência de famílias devem ser
reguladas mediante registo de natureza comercial. A legalização de um negócio permite
uma celebração jurídica normal entre o empresário e/ou sociedade comercial e os órgãos
das Instituições incumbidas a regular o exercício comercial. O mesmo acontece no
Registo Predial, onde está em causa o direito de propriedade.

O processo de registo começa sempre como o pedido de registo pelo interessado e, cabe
ao Conservador a concessão do mesmo. Nos registos, ao proceder do Conservador é
dualística, ou seja, parajudicial ou jurisdicional. Os erros de registo constituem um acto
imprudente da parte dos funcionários das Conservatórias que são vistos como actos
administrativos. Os actos de registo visam publicitar direitos privados.
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Como o conservador é quem confere a legalidade dos registos, as suas decisões podem
transgredir ou ferir os interessados, devido a indisposição consensual, negligência ou
má fé deste nos processos de registo. Neste caso, pode-se impugnar as decisões do
conservador tendo em conta o prazo legal de uma reclamação ou notificação. Para
impugnar as decisões do Conservador deve-se fazer recurso aos meios legais e definir as
acções impugnatórias, como o mandado de segurança e a revisão criminal, de acordo os
dispositivos legais vigentes como os Códigos de Registos.

RECOMENDAÇÕES

Ao longo do desenvolvimento da pesquisa, reconhecemos as limitações do legislador


na compilação dos dispositivos legais que norteam o processo de registos. Assim,
fazemos as seguintes recomendações, no sentido de se ajuizar algumas situações que
consideramos desarticuladas e desactualizadas à luz do Ordenamento Jurídico
Angolano.

1. Que se faça periodicamente a actualização e revisão dos diplomais legais, pois


alguns como o Código do Registo Civil apresenta uma desproporcionalidade
temporal e espacial;
2. Que se faça uma revogação de alguns artigos no Código de Registo Predial (art.
121º e 135º) que entram em conflito, pois há uma contrariedade que leva a fusão
dos artigos;
3. Que se faça a revisão de alguns artigos do Código de Registo Comercial que não
se articulam com os princípios Constitucionais, pois gera um conflito de
interesse;
4. Que se faça a actualização dos nomes bantu no Código de Registo Civil
( contidos em avulso na Lei nº 10 /85), pois muitas vezes passa por despercebido
a sua anexação;
5. Que faça revisão no processo onomástico adoptado no processo de Registo
Civil, pois como sabemos Angola não tem uma Onomástica própria, refugiando-
se a Onomástica portuguesa;
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6. Que se crie uma ordem dos Conservadores e Notários, para que a acção
parajudicial e jurisdicional dos mesmos tenha eficiência, celeridade nas decisões
tomadas a fins de obter efeito útil;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Legislação Angolana consultada:

Constituição da República de Angola

Código do Registo Civil

Código do Registo Comercial

Código do Registo Predial

Código Civil

Código do Processo Civil

Lei nº 1 / 97 de 17 de Janeiro

Lei nº 10 / 85 de 19 de Outubro

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