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PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FRUTOS DE MAMONA DURANTE A SECAGEM

André Luís Duarte Goneli1, Paulo César Corrêa1, Osvaldo Resende2, Fernando Mendes Botelho1
1
Universidade Federal de Viçosa, andregoneli@vicosa.ufv.br, copace@ufv.br,
fernando_eaa@yahoo.com.br; 2Universidade Federal de Rondônia, osvresende@yahoo.com.br

RESUMO - O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da variação do teor de água nas
propriedades físicas dos frutos de mamona, variedade Guarani. A massa específica aparente foi
determinada diretamente utilizando-se uma balança de peso hectolitro. A massa específica unitária foi
determinada pela divisão entre a massa de um fruto pelo seu volume. A porosidade foi determinada
indiretamente em função das massas específicas aparente e unitária. Com base nos resultados
encontrados, conclui-se que a redução no teor de água pela secagem influencia as propriedades
físicas dos frutos de mamona. Os valores das massas específicas aparente e unitária sofreram redução
de seus valores com a redução do teor de água, diferentemente da maioria dos produtos agrícolas. Os
valores de porosidade também foram reduzidos com o decréscimo do teor de umidade.

INTRODUÇÃO
A mamona (Ricinus communis L.) é uma planta oleaginosa de relevante importância
econômica e social. É uma cultura encontrada em várias regiões do Brasil, sendo produzida
tradicionalmente em pequenas e médias propriedades, gerando emprego e renda, em razão de suas
inúmeras possibilidades de aplicação na área industrial, além da perspectiva de potencial energético na
produção de biodiesel, tornando-se um agronegócio bastante promissor.
Visando-se o estabelecimento de uma agricultura mais competitiva e lucrativa, torna-se
necessário o emprego de tecnologias que possibilitem a otimização do processo. Neste sentido, o
conhecimento sobre as propriedades físicas de produtos agrícolas é de fundamental importância para
uma correta conservação, bem como para o dimensionamento e operação de equipamentos para as
principais operações pós-colheita de produtos agrícolas.
Alterações de características físicas como tamanho, volume, massas específicas unitária e
aparente e porosidade, em função do teor de umidade e outros fatores, durante e depois da secagem,
tem sido adequadamente investigado por diversos autores para vários produtos agrícolas.
A secagem é o processo mais utilizado para assegurar a qualidade e estabilidade dos
produtos agrícolas. Assim, a diminuição da quantidade de água do material reduz a atividade biológica
e as mudanças físico-químicas que ocorrem durante o armazenamento. As variações das propriedades
físicas em função do teor de umidade e de outros fatores durante a secagem de vários produtos têm
sido investigadas por diversos autores (AMIN et al., 2004; BARYEH, 2002; RIBEIRO et al., 2005).
A redução do teor de água dos grãos envolve simultaneamente processos de transferência
de calor e massa, o que pode alterar de forma substancial a qualidade e as propriedades físicas do
produto, dependendo do método e das condições de secagem (HALL, 1980).
Ante ao exposto e devido a grande importância do conhecimento e variabilidade existente
nas propriedades físicas dos produtos agrícolas, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito
do processo de secagem nas propriedades físicas dos frutos de mamona.

MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Propriedades Físicas e Avaliação de
Qualidade de Produtos Agrícolas do Centro Nacional de Treinamento em Armazenagem
(CENTREINAR), localizado no Campus da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG.
Foram utilizados frutos de mamona, da variedade Guarani, com teor de água inicial de
aproximadamente 71 % b.u. A secagem foi realizada à temperatura controlada de 50ºC, até que o teor
de água final de aproximadamente 12 % b.u., fosse atingido. O conteúdo de água dos produtos foi
determinado pelo método da estufa, a 105 ± 1°C, durante 24 horas, em três repetições. Ao término de
cada tratamento de secagem as amostras foram homogeneizadas e encaminhadas para determinação
das propriedades físicas.
A massa específica aparente (ρap) foi determinada utilizando-se uma balança de peso
hectolitro, com capacidade de um litro, em três repetições, sendo os resultados expressos em kg -3. A
massa específica unitária (ρu) foi determinada pela divisão da massa de um fruto pelo seu volume, em
25 repetições, sendo os resultados expressos em kg-3.
Para o cálculo do volume de cada fruto, foram realizadas medidas dos eixos ortogonais
referentes a largura (a), comprimento (b) e altura (c) de cada fruto, com o auxílio de um paquímetro
digital com resolução de 0,01 mm, sendo o volume (V) calculado de acordo com a seguinte expressão
(MOHSENIN, 1986):
π×abc
V= (1)
6

A porosidade (ε), expressa em %, foi obtida em função da massa específica aparente e da


massa específica unitária de acordo com a equação descrita por Mohsenin (1986):
ρap
ε =  1−    × 0 (2)
ρu

Os dados obtidos foram submetidos à análise de regressão e seleção do modelo matemático


adequado para expressar a relação entre as variáveis estudadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas Figuras 1 e 2, são apresentados, respectivamente, os valores das massas específicas
aparente e unitária dos frutos de mamona em função do teor de umidade.
De acordo com as Figuras 1 e 2, verifica-se que ocorreu a diminuição da massa específica
aparente e da massa específica unitária das sementes de mamona com a redução do teor de umidade,
diferentemente do que foi observado, por diversos autores, para a maioria dos produtos agrícolas
(AMIN et al., 2004; BARYEH, 2002; RIBEIRO et al., 2005). De acordo com Goneli et al. (2005), essas
diferenças devem-se, provavelmente, à reduzida contração do tegumento das sementes de mamona
durante o processo de secagem, diferentemente do que ocorre com o conjunto embrião e endosperma,
localizado na parte interior da semente. Os frutos de mamona são constituídos em sua maior proporção
por sementes, variando de três a quatro a quantidade de sementes por fruto. A relação direta das
massas específicas aparente e real, com o teor de água, também foi encontrada por Afonso Júnior
(2001) trabalhando com frutos e grãos de café. Os valores encontrados para os frutos de mamona
variaram de 358,80 a 309,06 kg.m-3 e de 1138,03 a 654,84 kg.m-3, respectivamente, para as massas
específicas aparente e unitária, na faixa de umidade de 71,36 a 11,63 % b.u.
Na Figura 3, são apresentados os valores observados e estimados da porosidade dos frutos
de mamona em função do teor de água (% b.u.).
De acordo com a Figura 3, observa-se que a porosidade dos frutos de mamona descreve
comportamento semelhante à maioria dos produtos agrícolas, apresentando redução dos seus valores
com a diminuição da umidade. Os valores variaram de 68,47 a 52,80 %, para a faixa de umidade de
71,36 a 11,63 % b.u. Esses valores assemelham-se aos os observados por Afonso Júnior (2001)
trabalhando com frutos e grãos de café.
Na Tabela 1, encontram-se os modelos ajustados aos dados de massa específica aparente,
de massa específica unitária e de porosidade, em função do teor de água (U), para os frutos de
mamona, com seus respectivos coeficientes de determinação (R2). Os modelos mostraram-se
adequados em estimar as variáveis analisadas, representando satisfatoriamente o fenômeno em
estudo.
CONCLUSÕES
Para a variedade de mamona estudada, pode-se concluir que a redução do teor de água,
durante a secagem, promove a redução das massas específicas aparente e unitária e da porosidade
dos frutos. Além disso, pode-se concluir que os modelos utilizados descrevem satisfatoriamente os
fenômenos estudados.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO JÚNIOR, P.C. Aspectos físicos, fisiológicos e de qualidade do café em função da
secagem e do armazenamento. Viçosa, UFV, 2001. 384p. (Dissertação - Doutorado em Engenharia
Agrícola).
AMIN, M.N.; HOSSAIN, M.A; ROY, K.C. Effects of moisture content on some physical properties of lentil
seeds. Journal of Food Engineering, v.64, n.1, p.83-87, 2004.
COUTO, S.M.; MAGALHÃES, A.C.; QUEIROZ, D.M.; BASTOS, I.T. Massa específica aparente e real e
porosidade de grãos de café em função do teor de umidade. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.3, n.1, p.61-68, 1999
BARYEH, E.A. Physical properties of millet. Journal of Food Engineering, v.51, n.1, p.39-46, 2004.
GONELI, A.L.D.; CORRÊA, P.C., FIGUEIREDO NETO, A. Influência do processo de secagem sobre as
propriedades físicas das sementes de mamona. IN: II CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS
OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL, 2005, Varginha, MG. Cd Roon .... Universidade
Federal de Lavras, UFLA, 2005.
MOHSENIN, N.N. Physical properties of plant and animal materials. New York: Gordon and Breach
Publishers, 1986.
RIBEIRO, D.M.; CORRÊA, P.C.; RODRIGUES, D.H.; GONELI, A.L.D. Análise da variação das
propriedades físicas dos grãos de soja durante o processo de secagem. Revista Ciência e Tecnologia
de Alimentos, Campinas, v.25, n.3, p.611-617, 2005.
440

Massa específica aparente (kg.m-3)


420
400
380
360
340
320
Valores observados
300 Valores estimados
280
80 72 64 56 48 40 32 24 16 8
Teor de água (% b.u.)

Figura 1. Valores observados e estimados da massa especifica aparente dos frutos de mamona em
função do teor de água

1200
Massa específica unitária (kg.m -3)

1100

1000

900

800

700 Valores observados


Valores estimados
600
80 72 64 56 48 40 32 24 16 8
Teor de umidade (% b.u.)

Figura 2. Valores observados e estimados da massa especifica unitária dos frutos de mamona em
função do teor de água

70
68
66
64
Porosidade (%)

62
60
58
56
54 Valores observados
52 Valores estimados
50
80 72 64 56 48 40 32 24 16 8
Teor de água (% b.u.)
Figura 3. Valores observados e estimados da porosidade dos frutos de mamona em função do teor de
água.

Tabela 1. Modelos de regressão ajustados aos valores observados das massas específicas aparente
(ρap1) e unitária (ρu1) com seus respectivos coeficientes de determinação (R2) e níveis de significância.
Teste Equações R2 (%)

Massa específica aparente ρ ap = 227, 4721** + 7, 0549** × U - 0, 0689** × U2 89,71++

Massa específica unitária ρ u = 498, 2428** + 13, 4167** × U - 0, 0662** × U2 99,35++

Porosidade ε=49,0+213×U* 88,19++


**Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste t.
++
Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F.

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