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Teologia da Evangelização (14)

3.4. O Espírito e a Igreja:

“A comunidade de Jesus vive sob a


inspiração do Espírito Santo; este é o se-
gredo de sua vida, de sua comunhão e
1
de seu poder” – Emil Brunner.

A) A INDISSOCIABILIDADE ENTRE O ESPÍRITO E A IGREJA:

O Espírito está tão essencialmente ligado à igreja que, na linguagem de


2
Pedro, mentir à igreja é o mesmo que mentir ao Espírito (At 5.3,9). A Igreja é a co-
munidade do Espírito formada e preservada por Ele. Ao longo da História “Deus
tem preservado sua Igreja de uma maneira comum ou ordinária, porém com
3
terrível majestade”. Dentro de outra perspectiva, declara Bavinck (1854-1921):
“Assim como Cristo em Sua concepção assumiu a natureza humana e nunca
colocou-a de lado, assim também o Espírito Santo no dia de Pentecostes
passou a usar a Igreja como Sua morada e como Seu santuário e nunca se
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separará dela”. A Igreja de fato é de Deus. Vejamos alguns pontos concernentes
a este fato.

1. ESTABELECE A IGREJA:

Sem o Espírito não haveria Igreja; isto, porque não haveria crente em
Cristo. A Igreja é composta por pessoas que confessam o Senhorio de Cristo. Esta
5
confissão só é possível pela ação poderosa do Espírito (Cf. 1Co 12.3/Rm 10.9-10).
A igreja é o reflexo dos atos da Trindade. O Deus Trino atua de tal forma que a Sua
igreja foi constituída e é preservada até a consumação definitiva da obra de Cristo,
quando Ele será glorificado na Igreja e a Igreja nele: “Quando vier para ser glorifica-
do nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto

1
H. Emil Brunner, O Equívoco da Igreja, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 53.
2
“.... certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em a-
cordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apósto-
los. Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espíri-

to Santo, reservando parte do valor do campo?” (At 5.1-3). Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em
acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e e-
les também te levarão” (At 5.9).
3
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2 (Sl 65.5), p. 614.
4
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 386.
5
“Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Je-
sus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1Co 12.3). “Se,
com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a
respeito da salvação” (Rm 10.9-10).
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foi crido entre vós o nosso testemunho). Por isso, também não cessamos de orar por
vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder
todo propósito de bondade e obra de fé, a fim de que o nome de nosso Senhor Je-
sus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Se-
nhor Jesus Cristo” (2Ts 1.10-12).

A Igreja é uma comunidade de pecadores regenerados. A regeneração é efetuada


6
pelo Espírito (Cf. Jo 3.3,5; Tt 3.5). Logo, sem a ação regeneradora do Espírito, não
existiriam cristãos nem Igreja.

O Espírito é a alma da Igreja, Quem lhe dá ânimo e vitalidade. É o Espírito Quem


7
dirige os homens à porta de salvação que é Cristo (Jo 10.9). No decorrer da Histó-
ria o Espírito tem estabelecido a Igreja, chamando por meio da Palavra os homens
para constituírem a Igreja de Deus. “Do mesmo modo que o Espírito Santo for-
mou o corpo físico de Jesus Cristo na encarnação, assim também forma o
8
corpo místico de Jesus Cristo, ou seja, a igreja”.

Boanerges Ribeiro (1919-2003) acentua a especificidade e especialidade da Igre-


ja:

“A Igreja resulta de uma ação especial, não ‘rotineira’, de Deus entre os


homens. O que organiza a Igreja, o que faz dos indivíduos de outra forma
dispersos uma comunidade é a presença permanente de uma pessoa
9
certa e determinada, o Santo Espírito Divino”.

A Igreja é a comunidade daqueles que foram chamados do mundo para Deus pe-
la operação do Espírito, daqueles “que tem a mesma fonte genética, o sangue
10
de Cristo, o novo nascimento”.

2. DIRIGE A IGREJA NA EVANGELIZAÇÃO:

O mesmo Espírito que forma a Igreja, também a comanda na Evangeli-


zação. Deus escolhe, envia e dirige os Seus servos na proclamação do Evangelho
(At 8.39-40; 13.1-4). Isto o Espírito faz ordinariamente por meio da Igreja como insti-

6 3
“ A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus”
5
“ Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não
pode entrar no reino de Deus” (Jo 3.3,5).
“Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante
o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).
7
“Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem” (Jo
10.9).
8
Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, p. 198.
9
Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo: O Semeador, 1989, p. 36.
10
Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 46.
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tuição, ainda que não exclusivamente. Seja como for, o meio usado pelo Espírito
para dirigir a Sua obra missionária é a Palavra de Deus; por isso que, “sem o poder
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do Espírito Santo a evangelização é impossível”.

Quando o rei Frederico IV da Dinamarca, precisou de missionários para enviar


aos seus súditos na colônia dinamarquesa de Tranquebar, não encontrando em seu
reino quem se dispusesse a fazê-lo, recorreu ao pietista alemão August H. Francke
(1663-1727), que lecionava na Universidade de Halle, o qual enviou Bartholomew
Ziegenbalg (1683-1719) e Henry Plutschau (1677-1747), os quais partiram da Euro-
pa no fim de 1705 e chegaram em Tranquebar no dia 9 de julho de 1706, sendo dois
dos primeiros missionários não católicos a chegarem na Índia, provenientes da Eu-
13
ropa.

Apesar de não serem bem recebidos pelos colonos dinamarqueses, Ziegenbalg e


Plutschau não se intimidaram, iniciando os seus estudos do idioma nativo, tendo Zi-
egenbalg se destacado pela facilidade em aprender outras línguas. Eles traduziram
para o tamil o Catecismo de Lutero, além de orações e hinos luteranos. Em 1711,
por questões de saúde, Plutschau regressou definitivamente para a Europa. Ziegen-
balg continuou o seu trabalho: compilou uma gramática tamil, escreveu uma obra
sobre o hinduísmo, traduziu para o tamil o Novo Testamento (1714) e o Antigo Tes-
tamento até o livro de Rute. Ele fundou uma escola industrial e outra para a prepara-
ção de catequistas e também a primeira imprensa evangélica da Ásia (esta com a
ajuda financeira da Sociedade Anglicana para a Promoção do Conhecimento Cris-
14
tão). Quando Ziegenbalg morreu em 1719, existia em Tranquebar uma comunida-
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de luterana de cerca de 350 pessoas. De fato, o Espírito dirigiu os seus servos pa-
ra aquele país.

Ashbel Green Simonton (1833-1867) sentiu-se chamado para o campo missioná-


rio quando ainda iniciava os seus estudos teológicos no Seminário de Princeton. O
instrumento que o Espírito usou para este despertar missionário, foi Charles Hodge
(1797-1879) – um dos maiores teólogos de todos os tempos –, através de um ser-
16
mão proferido no Seminário. Este despertamento foi amadurecendo em seu cora-

11
Vejam-se: R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan, Subcomision Litera-
tura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 220ss.; Idem., Evangelização Teocêntrica,
São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 100, 151-152.
12
John R.W. Stott, Crer é também Pensar, São Paulo: ABU., 1984 (2ª impressão), p. 49.
13
Cf. Stephen Neill, História das Missões, São Paulo: Vida Nova, 1989, p. 233-234. Em meados do
século XVII João Ferreira de Almeida (1628-1691) havia trabalhado em Málaca (c. 1642-1651) e no
Ceilão (1656-1663). (Ver: J.L. Swellengrebel, João Ferreira de Almeida, Um Tradutor Português da
Bíblia em Java, 2ª ed. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1984).
14
Quanto ao surgimento, objetivo e influência desta sociedade, veja-se: Richard P. Heitzenrater,
Wesley e o povo chamado Metodista, São Bernardo do Campo, SP./Rio de Janeiro: Editeo/Pastoral
Bennett, 1996, p. 21ss.
15
Vejam-se: S. Neill, História das Missões, p. 233ss.; K.S. Latourette, A History of the Expansion of
Christianity, New York: Harpers & Brothers, 1939, Vol. III, p. 278-279; Paul Pierson, O Pietismo: In:
Revista Teológica, Campinas, SP. Dez/1962, nº 30, p. 96.
16
A.G. Simonton, Diário (1852-1867), São Paulo: CEP/O Semeador, 1982, 14/10/1855.
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ção gradativamente. No dia 25 de novembro de 1858, Simonton finalmente forma-
lizou a sua proposta à Junta de Missões Estrangeiras mencionando o Brasil como o
campo de seu interesse. Ele conclui o registro no seu Diário, dizendo: “A Ti, Ó Deus,
confio meus caminhos na certeza de que o Senhor dirigirá meus passos re-
18
tamente”.

A Junta respondeu afirmativamente o seu pedido na primeira quinzena de de-


19
zembro. Simonton desembarcou no Brasil em 12/8/1859. Em oito anos de traba-
20
lho, ajudado posteriormente por A.L. Blackford (chegou em 25/7/1860), e o Rev.
José Manoel da Conceição (padre convertido do catolicismo e ordenado pastor em
17/12/1865), entre outros, Simonton deixou um jornal com tiragem quinzenal, A Im-
prensa Evangélica, (primeiro número publicado em 05/11/1864); um Seminário no
Rio de Janeiro com quatro alunos (organizado em 14/5/1867) e um Presbitério
(Presbitério do Rio de Janeiro, organizado em 16/12/1865), constituído de três igre-
jas: Rio de Janeiro (organizada em 12/01/1862); de São Paulo (organizada em
21
5/3/1865); e a de Brotas, (organizada em 13/11/1865).

O Espírito dirigiu retamente os passos de Simonton, de Blackford, de Schneider,


de Conceição, de Chamberlain e de tantos outros. Nós somos herdeiros desta glori-
osa manifestação do Espírito.

Aplicando o que estamos dizendo, devemos entender que a igreja local deve re-
ceber o seu pastor como alguém que o Espírito enviou para pastoreá-la (At 20.28),
tendo sempre como elemento norteador, a Escritura Sagrada.

Como já fizemos menção, o Espírito dirige a todos nós na proclamação do Evan-


gelho, enviando-nos aos nossos familiares, parentes, amigos e vizinhos. O Sacerdó-
cio Universal dos Crentes, obtido por Cristo, por meio de Quem temos livre acesso a
Deus (Jo 14.6; 1Tm 2.5; Hb 10.19-25), torna-nos também responsáveis pelo teste-
munho da mensagem redentora de Cristo (1Pe 2.9). “A igreja é uma realeza de
sacerdotes, um sacerdócio de reis. E cada sacerdote e rei tem o dever de
proclamar as excelências do seu Salvador. (...) Cada cristão é um agente da
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evangelização, ordenado por Deus”.

17
Vejam-se, Diário, 20/01/1856; 04/02/1856; 10/10/1857.
18
Diário, 27/11/1858.
19
Cf. Diário, 13/12/1858.
20
Durante este período de 8 anos, Simonton passou fora do Brasil cerca de quinze meses.
21
Para maiores detalhes sobre a implantação do Presbiterianismo no Brasil, veja-se, Hermisten M.P.
Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, São Paulo: 1997; Hermisten M.P. Costa, Introdu-
ção ao Protestantismo no Brasil, São Paulo: 2000 e Hermisten M.P. Costa, Simonton, um homem di-
rigido por Deus, Cadernos de Pós-Graduação. Programa de Educação, Arte e História da Cultura,
São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, outubro de 1999
22
R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976,
p. 97-98.
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B) O TESTEMUNHO FIEL DO EVANGELHO NO PODER DO ESPÍRITO:

Nos círculos evangélicos, um dos assuntos mais debatidas em nossos


dias, é a questão do crescimento de igreja. Há pessoas e grupos que estabelecem
de forma universalizante, determinados meios que alegadamente “funcionaram” aqui
e acolá, havendo sempre em cada descrição uma tentativa de legitimação de seus
atos e universalização de suas propostas.

Como cristãos evangélicos entendemos que a Bíblia é a fonte de todo o nosso


conhecimento, tendo as Escrituras diretrizes para nos guiar em todas as áreas de
nossa existência. Portanto, quando estudamos este assunto, faz-se necessário –
como em todos os demais –, buscar nas Escrituras orientação para o direcionamen-
to de nossa vida e, consequentemente, para o nosso modo de agir. Estudemos en-
tão, a Igreja Primitiva. A partir daí poderemos juntos perceber o seu crescimento,
como Deus agiu por meio de Seu povo, mesmo sendo este imperfeito como nós
também hoje o somos. Ao lermos o Livro de Atos, em especial, devemos estar aten-
tos àquilo que é descritivo e, ao que é-nos ordenado. O descritivo, ainda que sirva
de parâmetro, não estabelece um mandamento divino; o ordenado, no entanto, é pa-
ra ser cumprido sempre.

Atos é o “Livro eixo do Novo Testamento”, pois estabelece uma ligação entre os
Evangelhos e as Epístolas, mostrando em forma de esboço o crescimento da Igreja,
indo de Jerusalém a Roma, a capital do mundo gentílico.

Certamente um dos objetivos de Atos é retratar o crescimento da Igreja, ultrapas-


sando barreiras geográficas, religiosas e culturais, culminando com a chegada de
Paulo em Roma. Por isso Atos pode ser esboçado a partir dos registros do cresci-
mento da Igreja (Vejam-se: At 2.41,47; 4.4; 5.14; 6.7; 9.31; 12.24; 16.5; 19.20;
28.31). Além disso, Atos nos dá pistas a respeito dos judeus da Ásia e do Norte da
África que ouviram o sermão de Pedro, muitos dos quais devem ter sido convertidos
em Jerusalém (At 2.9,10/2.41); fala-nos também do Eunuco etíope que após a sua
conversão e batismo, continuou o seu caminho “cheio de júbilo” (At 8.37-39). Estes
homens voltando para as suas cidades, que método usaram para difundir a sua fé?
Atos também descreve como o Evangelho foi pregado por Paulo na Europa (At 16.9-
15).

Os testemunhos históricos que temos a partir do segundo século, informa-nos que


apesar de perseguidos, os cristãos davam o seu testemunho, sendo muitas vezes
martirizados; aliás a palavra “testemunha” em grego significa “mártir”. Vemos tam-
bém que o seu comportamento era contagiante através de sua conduta diferente,
que procurava se pautar pela Palavra de Deus.

1. O PODER DO TRINO DEUS:

Antes de ser assunto aos céus, o Senhor ressurreto – diante da curio-


sidade de seus discípulos que o inquiriam sobre o que não lhes era pertinente –,
lhes diz: “....recebereis poder (du/namij), ao descer sobre vós o Espírito Santo, e se-
reis minhas testemunhas (ma/rtuj) tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
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Na redação do Evangelho, Lucas registrou palavras semelhantes, oferecendo-


nos, contudo, outros detalhes:

44 A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: im-
portava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
45 Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;
46 e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no
terceiro dia
47 e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações,
começando de Jerusalém.
48 Vós sois testemunhas (ma/rtuj) destas coisas.
49 Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto
sejais revestidos de poder (e)ndu/shsqe e)c e(/youj du/namin)” (Lc 24.44-49).

Realcemos alguns pontos no texto:

a) Os discípulos de Cristo, só entenderam as Escrituras, quando o próprio Jesus


lhes abriu o entendimento (Lc 24.45). F.F. Bruce (1910-1990) está correto ao afirmar
que: “Os crentes possuem um padrão permanente e um modelo no uso que
nosso Senhor fez do Antigo Testamento, e uma parte do atual trabalho do
Espírito Santo no tocante aos crentes é abrir-lhes as Escrituras, conforme o
Cristo ressurreto as abriu para os dois discípulos no caminho para Emaús (Lc
23
24.25ss)".

b) Os discípulos como testemunhas deveriam pregar o Evangelho profetizado e


vivenciado por eles na companhia de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado (Lc 24.47-
48).

c) O alcance dessa missão primitiva teria início em Jerusalém e depois se esten-


deria a todo mundo: universalidade da pregação (Lc 24.47).
24
d) Eles deveriam aguardar até que fossem revestidos (e)ndu/w) de poder (Lc
24.49).
25
e) O poder (du/namij) que receberiam seria do alto (u(/yo/w) (Lc 24.49).

23
F.F. Bruce, Interpretação Bíblica: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo:
São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 753. Veja-se também: João Calvino, As Institutas,
I.9.3; II.8.7. “Muito embora todo cristão seja participante do Espírito e, portanto, por ele guia-
do à verdade, parece que a revelação dos mistérios de Deus contidos nas Escrituras do An-
tigo Testamento era um dom apostólico, consignado aos autores do Novo Testamento co-
mo parte da inspiração divina para registrar infalivelmente a verdade de Deus” (Augustus Ni-
codemus Lopes, A Bíblia e Seus Intérpretes, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 120).
24
e)ndu/w tem o sentido literal de “vestir-se” (Mt 6.25; 27.31; Mc 1.6; Lc 15.22; At 12.21) e, quase que
exclusivamente em Paulo, a aplicação figurada de “revestir-se”: a) De poder (Lc 24.49); b) Das armas
da luz (Rm 13.12); c) Do Senhor Jesus (Rm 13.14; Gl 3.27); d) Do novo homem (Ef 4.24; Cl 3.10); e)
De toda armadura de Deus (Ef 6.11,14); f) De ternos afetos (Cl 3.12); g) Da couraça da fé e amor
(1Ts 5.8). A palavra descreve também a nossa ressurreição como um revestimento de imortalidade e
incorruptibilidade (1Co 15.53-54).
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A Palavra poder (du/namij) é empregada de várias maneiras no Novo Testamen-


to; ela se refere, por exemplo: a) Milagres: Mt 7.22; 11.20,21,23; 13.58; Mc 6.5; Gl
3.5; b) Poderes miraculosos: Mt 13.54; 2Co 12.12; c) Forças miraculosas: Mt 14.2;
Mc 6.14; d) Maravilhas: Mc 6.2.

Vejamos algumas formas como a palavra é usada no Novo Testamento, fazendo


algumas aplicações decorrentes:

1) O nascimento do Messias está associado ao poder de Deus: “Respondeu-lhe o


anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder (du/namij) do Altíssimo te envolve-
rá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chama-
do Filho de Deus” (Lc 1.35). Jesus Cristo foi designado Filho de Deus com poder:
“Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evange-
lho de Deus, o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profe-
tas nas Sagradas Escrituras, com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio
da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder (du/namij), se-
gundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo,
nosso Senhor” (Rm 1.1-4).

2) Jesus inicia o seu ministério após a tentação, no poder do Espírito: “Então, Je-
sus, no poder (du/namij) do Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu
por toda a circunvizinhança” (Lc 4.14).

3) Jesus Cristo em Seu Ministério operou pelo poder do Pai. Pedro em seu ser-
mão conclama o povo a atender a sua mensagem: “Varões israelitas, atendei a es-
tas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com mila-
gres (du/namij), prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio
dele entre vós, como vós mesmos sabeis” (At 2.22). Diante de Cornélio, Pedro re-
sume: “.... Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder
(du/namij), o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimi-
dos do diabo, porque Deus era com ele; e nós somos testemunhas de tudo o que ele
fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, penduran-
do-o no madeiro” (At 10.38-39). Os discípulos extasiados com os sinais de Cristo
louvaram a Deus: “E, quando se aproximava da descida do monte das Oliveiras, to-
da a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos
os milagres (du/namij) que tinham visto” (Lc 19.37).

4) As Escrituras nos mostram que o Reino chega com poder: “Dizia-lhes ainda:
Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira
nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder (du/namij) o
reino de Deus” (Mc 9.1). Paulo, aos ensoberbecidos de Corinto, diz: “Alguns se en-
soberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco mas, em breve, irei visitar-
vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder (du/namij)

25
u(/yoj literalmente tem o sentido de “altura”, como no texto de Lucas e, também, de “dignidade” (Tg
1.9) (*Lc 1.78; 24.49; Ef 3.18; 4.8; Tg 1.9; Ap 21.16). O verbo (u(yo/w) é traduzido em geral por “ele-
var” (Mt 11.23; Lc 10.15; Jo 3.14); “exaltar” (Mt 23.12; Lc 1.52; 14.11; 2Co 11.7; Tg 4.10; 1Pe 5.6) “le-
vantar” (Jo 3.14; 8.28; 12.32).
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dos ensoberbecidos. Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em po-
der (du/namij)” (1Co 4.18-20).

5) Os saduceus procurando fazer uma pergunta embaraçosa a Jesus Cristo, tem


como resposta uma declaração estonteante: “Errais, não conhecendo as Escrituras
nem o poder (du/namij) de Deus” (Mt 22.29).

6) Cristo demonstra que a Sua segunda vinda será com grande poder e glória:
“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se la-
mentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder
26
(du/namij) e muita glória” (Mt 24.30). (Ver: 2Ts 1.7). Quando Cristo retornar, sere-
mos ressuscitados pelo poder de Deus: “Deus ressuscitou o Senhor e também nos
ressuscitará a nós pelo seu poder (du/namij)” (1Co 6.14). O que Ele tem preparado
para nós ultrapassa em muito aos nossos sonhos, por mais santos que eles sejam:
“Ora, àquele que é poderoso (du/namai) para fazer infinitamente mais do que tudo
quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder (du/namij) que opera em nós,
a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o
sempre. Amém” (Ef 3.20-21). (Ver: Dt 29.29; 1Co 2.9-16).

7) Vejamos algumas das manifestações do poder de Deus na vida de Seus ser-


vos:

a) Na Parábola dos Talentos, vemos que talentos são distribuídos conforme a


“capacidade” de cada um: “Porque isto é também como um homem que,
partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus
bens, e a um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um
segundo a sua capacidade (du/namij), e ausentou-se logo para longe” (Mt
25.14-15).

b) Os apóstolos nos sinais miraculosos operados demonstravam reconhecer o


poder vindo de Jesus Cristo. Após a cura de um coxo de nascença, Pedro
se dirige ao povo atônito: “.... Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por
que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder (du/namij) ou
piedade o tivéssemos feito andar? (...) Pela fé em o nome de Jesus, é que
esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconhe-
ceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na pre-
sença de todos vós” (At 3.12,16). Diante do Sinédrio, Pedro e João ouvem a
pergunta das principais autoridades judaicas: “Com que poder (du/namij) ou
em nome de quem fizestes isto?” (At 4.7). Segue então o seu testemunho a
respeito da salvação em Cristo Jesus. Este poder era uma das credenciais
do apostolado: “Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no
meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes mira-
culosos (du/namij)” (2Co 12.2).

c) Os apóstolos testemunhavam a respeito da ressurreição de Cristo: “Com

26
“E a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o
Senhor Jesus com os anjos do seu poder (du/namij)” (2Ts 1.7).
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 9

grande poder (du/namij), os apóstolos davam testemunho da ressurreição


do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça” (At 4.33).

d) Estevão cheio de graça e poder, operava grandes sinais: “Estêvão, cheio de


27
graça e poder (du/namij), fazia prodígios (te/raj) e grandes sinais (sh-
28
mei=on) entre o povo” (At 6.8).

e) Por intermédio de Paulo Deus operava milagres extraordinários: “E Deus,


29
pelas mãos de Paulo, fazia milagres (du/namij) extraordinários” (At 19.11).
O objetivo de todos os sinais e prodígios era, pelo Espírito, divulgar o Evan-

27
A palavra indica algo que é maravilhoso, prodigioso, causa assombro, é estarrecedor; é aquilo que
desperta a atenção, é novo e incomum, sendo guardado na memória. Satanás também usa deste re-
curso para enganar, se possível os eleitos (Mt 24.24 (= Mc 13.22); 2Ts 2.9); Jesus, além de sinais,
operou prodígios (At 2.22); do mesmo modo os apóstolos (At 2.43; 5.12), os quais reconheciam ser
isto obra de Deus (At 4.30; 14.3). Estevão, Paulo e Barnabé também realizaram prodígios (At 6.8;
14.3; 15.12). Assim como os “sinais”, os “prodígios” se constituíam num dos elementos que credenci-
avam o apóstolo (2Co 12.12). Eles tinham uma função de confirmar o anúncio da salvação (Hb 2.3,4).
(Quanto a maiores detalhes sobre esta palavra, veja-se: O. Hofius, Milagre: In: Colin Brown, ed. ger.
O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983,
Vol. III, p. 175; K.R. Rengstorf, te/raj: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the
New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. VIII, p. 113-126; Richard
C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted),
p. 339-344; Richard C. Trench, Notes on The Miracles of Our Lord, London: Kegan Paul, Trench,
Truubner, & Co. Ltd., 1911, p. 2ss.).
28
A palavra indica uma marca ou sinal indicativo pelo qual alguma coisa é identificada; aponta para
outra coisa cujo significado parece obscuro. Esta palavra é usada para referir-se aos milagres divinos:
(Mt 12.38,39; 16.1,4; Mc 8.11,12; 16.17,20; Lc 11.16; Jo 2.11) e de Satanás e seus mensageiros: (Mt
24.24; Mc 13.22; 2Ts 2.9; Ap 13.13,14;16.14;19.20). Os discípulos querem um sinal da vinda de Cris-
to (Mt 24.3/24.30; Mc 13.4); o beijo traidor de Judas serviu como sinal (Mt 26.48); a criança nascida
em Belém era um sinal do nascimento do Messias (Lc 2.12); Simeão diz que Jesus será “alvo” (sh-
mei=on) de contradição. (Lc 2.34). Jonas foi um sinal para os ninivitas e Jesus era para a sua geração
(Lc 11.29,30). Herodes queria ver Jesus realizar algum sinal (Lc 23.8); os judeus queriam um sinal de
Jesus que atestasse a Sua autoridade (Jo 2.13-18/3.2/6.14; 6.30); muitos creram por meio de Seus
sinais (Jo 2.23/4.48; 6.2; 7.31). Todavia, outros estavam mais preocupados com o pão (Jo 6.26), e
outros, ainda que vendo os sinais, não creram (Jo 12.37); contudo gostavam de ver sinais (Mt
16.1/1Co 1.22). Os sinais de Jesus deixavam confusos os judeus e amedrontadas as autoridades (Jo
9.16; 11.47,48). João diz que Jesus fez “muitos outros sinais”, contudo estes foram registrados para
que os homens cressem (Jo 20.30,31/Hb 2.3,4). Os sinais incitam “a mente humana a atentar
para algo mais elevado que a mera aparência” (João Calvino, Exposição de Hebreus, São Pau-
lo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 55). João Batista não fez sinal, contudo, tudo que disse era verdade
(Jo 10.41). Os apóstolos também realizaram sinais (At 2.43; 4.16; 5.12) reconhecendo que estes e-
ram obra de Deus (At 4.30; 14.3; 15.12). Estevão, Filipe, Paulo e Barnabé, do mesmo modo, opera-
ram sinais (At 6.8; 8.13; 14.3; 15.12; Rm 15.19). Os sinais se constituíam num dos elementos que
credenciavam o apóstolo (2Co 12.12). Resumindo: os sinais de Cristo nunca eram praticados com
fins egoístas ou, com o propósito de se mostrar aos Seus ouvintes. Na realidade vimos sempre o pro-
pósito de glorificar a Deus, relacionar de forma fundamental a base sobrenatural da revelação e, tam-
bém, satisfazer e aliviar as necessidades humanas. (Quanto a maiores detalhes sobre esta palavra,
Vejam-se: K.R. Rengstorf, shmei=on, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the
New Testament, Vol. VII, p. 200-269; O. Hofius, Milagre: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. III, p. 169-174; Richard C. Trench, Synonyms of
the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 339-344; Richard C.
Trench, Notes on The Miracles of Our Lord, London: Kegan Paul, Trench, Truubner, & Co. Ltd., 1911,
p. 2ss.).
29
Tugxa/nw indica algo que é incomum ou extraordinário.
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 10

gelho a fim de que os homens se convertessem a Cristo: “Porque não ousa-


rei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por
meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por o-
bras, por força de sinais e prodígios, pelo poder (du/namij) do Espírito Santo;
de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho
divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15.18-19). Notemos a relação estreita
entre graça e poder (At 4.33; 6.8; Ef 3.7). O mago Simão era chamado pelo
povo de poder de Deus (At 8.10). Ele supostamente convertido, admirou-se
dos sinais feitos por Filipe e pelos apóstolos. Querendo adquirir poder seme-
lhante para si, propôs aos apóstolos uma compra, no que foi duramente re-
preendido por Pedro (At 8.13-24).

f) Primeiramente, o chamado para o Ministério da Palavra não é uma questão


de querer ou não querer; depende exclusivamente do Poder de Deus; poste-
riormente, como algo natural, o homem deseja cumprir o ministério recebido,
atendendo à vocação de Deus. Deus atua em nossa vontade mediante o
Seu poder: “.... os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-
participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; do qual
fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida
segundo a força operante do seu poder (du/namij)” (Ef 3.7)(Ver: Jr 1.5; Gl
30
1.15; Fp 2.13). Paulo trabalha arduamente conforme o poder que opera e-
31
ficientemente nele: “Para isso é que eu também me afadigo (kopia/w), es-

30
“Entre tantos dotes preclaros com os quais Deus há exornado o gênero humano, esta prer-
rogativa é singular: que digna a Si consagrar as bocas e línguas dos homens, para que neles
faça ressoar Sua própria voz” (João Calvino, As Institutas, IV.1.5). “A Deus pertence com exclu-
sividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que
proceda dele” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 1.1), p. 22).
31
O verbo kopia/w e o substantivo ko/poj descrevem um trabalho estafante, difícil, árduo, trabalhar
até à exaustão. Curiosamente, Paulo é quem mais utiliza esta palavra para se referir ao seu ministé-
rio: “....em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas
aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos
(ko/poj)....” (2Co 6.4-5).(Ver: 2Co 11.23,27). Paulo trouxe à memória dos tessalonicenses, a lembran-
ça do seu labor, de como ele se esforçou por pregar o Evangelho sem depender financeiramente da-
queles irmãos: “Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor (ko/poj) e fadiga; e de como, noite e
dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus”
(1Ts 2.9/2Ts 3.8; At 20.35; 1Co 4.12; 15.10). Paulo também relembra aos irmãos que quando teve de
partir de Tessalônica devido a perseguição que se moveu contra ele, manteve-se preocupado com a
Igreja. Assim, tendo enviado a Silas e Timóteo para verificar o estado da Igreja, aguardou-os num
primeiro momento em Atenas: “Foi por isso que, já não me sendo possível continuar esperando,
mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o Tentador vos provasse, e se tornasse inútil o
nosso labor (ko/poj)” (1Ts 3.5).
Escrevendo aos Romanos, Paulo destaca algumas irmãs que se exauriam no trabalho de Deus:
“Saudai a Maria que muito trabalhou (kopia/w) por vós” (Rm 16.6). “Saudai a Trifena e a Trifosa,
as quais trabalhavam (kopia/w) no Senhor. Saudai a estimada Pérside que também muito trabalhou
(kopia/w) no Senhor” (Rm 16.12).
Ao Anjo da Igreja de Éfeso, o Senhor diz: “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor (ko/poj) como
a tua perseverança....” (Ap 2.2). Na visão do Apocalipse, João registra a palavra vinda do céu: “Es-
creve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para
que descansem das suas fadigas (ko/poj), pois as suas obras (e)/rgon) os acompanham” (Ap 14.13).
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32
forçando-me o mais possível (a)gwni/zomai), segundo a sua eficácia
33
(e)ne/rgeia) que opera (e)nerge/w) eficientemente (du/namij) em mim” (Cl
1.29). A nossa pregação deve ser no poder do Espírito: “....o nosso evange-
lho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder
(du/namij), no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter
sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós” (1Ts 1.5). Os mila-
gres visavam confirmar a mensagem do Evangelho: “Como escaparemos
nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada
inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;
dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários
milagres (du/namij) e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua
vontade” (Hb 2.3-4).

g) Ninguém tem poder em si mesmo para confessar sinceramente o senhorio


de Cristo: “.... ninguém pode (du/namai) dizer: Senhor Jesus!, senão pelo
Espírito Santo” (1Co 12.3).

h) Deus é poderoso para socorrer e manter de pé os seus servos, mesmo a-


queles aos quais consideramos fracos: “Quem és tu que julgas o servo a-
lheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, por-
que o Senhor é poderoso (dunate/w) para o suster” (Rm 14.4). É neste sen-
tido que Paulo ora, para que Deus cumpra o Seu propósito na vida dos tes-
salonicenses a fim de que Deus seja glorificado neles no regresso de Cristo:
“Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus
vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder (du/namij) todo pro-
pósito de bondade e obra de fé, a fim de que o nome de nosso Senhor Je-
sus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e
do Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.11-12). Ora também para que a igreja de
Roma seja rica de esperança no poder do Espírito Santo: “E o Deus da es-
perança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos
de esperança no poder (du/namij) do Espírito Santo” (Rm 15.13. Ver tam-
bém: Rm 16.25). Paulo pede a Deus que desvende os nossos olhos para
que vejamos entre outras coisas, a suprema grandeza do poder de Deus:
“Por isso, também eu, tendo ouvido da fé que há entre vós no Senhor Jesus
e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fa-
zendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Se-
nhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de

32
A)gwni/zomai, a)gw/n e a)gw=noj descrevem um esforço atlético (1Co 9.25, “atleta”), um combate
(1Tm 6.12;Tm 4.7(duas vezes em ambos os textos)), uma luta (1Ts 2.2) por conseguir o seu objetivo.
(Ver: Cl 4.12; 1Tm 4.10). A nossa palavra “agonia” é a transliteração de a)gwni/a, conforme traduzida
em Lc 22.44 referindo-se ao tormentoso sofrimento de Cristo: “E, estando em agonia (a)gwni/a), orava
mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a ter-
ra”
33
E))ne/rgeia – “trabalho efetivo” –, de onde vem a nossa palavra “energia”, passando pelo latim,
energîa. Esse substantivo é empregado tanto para Deus (Ef 3.7; 4.16; Fp 3.21; Cl 1.29; 2.12) como
para Satanás (2Ts 2.9). Estando este subordinado à e)ne/rgeia de Deus (2Ts 2.11). E)ne/rgeia e seus
derivados, no NT, descreve sempre um poder eficaz em atividade sobre-humana, através da qual a
natureza de quem a exerce se revela (Veja-se: William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamen-
to, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 51-57).
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 12

revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso cora-


ção, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza
da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu po-
der (du/namij) para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu
poder” (Ef 1.15-19). (Ver também: Ef 3.16,20; Fp 3.10; Cl 1.9-11; 1Pe 1.5).
Deus é poderoso para nos guardar até o fim. Esta é a confiança partilha-
da por Paulo com todos os fiéis servos de Deus: “.... por isso, estou sofrendo
estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido
e estou certo de que ele é poderoso (dunato/j) para guardar o meu depósito
até aquele Dia” (2Tm 1.12).
No Apocalipse é considerada bem aventurada a Igreja de Filadélfia que
apesar da pouca força guardou a Palavra e não negou o nome do Senhor
Jesus: “Conheço as tuas obras – eis que tenho posto diante de ti uma porta
aberta, a qual ninguém pode (du/namai) fechar – que tens pouca força
(du/namij), entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu no-
me” (Ap 3.8).

i) Deus pode suprir todas as nossas necessidades: “Deus pode (dunate/w) fa-
zer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla
suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2Co 9.8). O Poder gracioso
de Cristo se aperfeiçoa na fraqueza. É o que Deus diz a Paulo, que estava
em profunda agonia: “....A minha graça te basta, porque o poder (du/namij)
se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fra-
quezas, para que sobre mim repouse o poder (du/namij) de Cristo” (2Co
12.9). Paulo diz que o seu ministério é sustentado pelo poder de Deus: ”Por-
que, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder (du/namij)
de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele,
para vós outros pelo poder (du/namij) de Deus” (2Co 13.4).
Deus nos fornece uma armadura resistente para que possamos enfrentar
as tentações satânicas:

11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes (du/namai) ficar firmes contra as
ciladas do diabo;
12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potesta-
des, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas
regiões celestes.
13 Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais (du/namai) resistir no dia mau
e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
14 Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
15 Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz;
16 embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis (du/namai) apagar todos os dar-
dos inflamados do Maligno.
17 Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
18 com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos (Ef 6.11-18).

Jesus Cristo pelo seu poder nos fornece todos os meios para o nosso
crescimento na piedade: “Visto como, pelo seu divino poder (du/namij), nos
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 13

têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo co-
nhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e
virtude” (2Pe 1.3). Em Teologia denominamos essas “cousas que nos con-
duzem à piedade”, de meios de graça ou meios de santificação. A nossa
certeza é que Deus nos concedeu todas as coisas que nos conduzem à pie-
dade; portanto, devemos utilizar todos os recursos que Deus nos forneceu
34
(2Pe 1.3).
Ao mesmo tempo, o Senhor Jesus Cristo é poderoso para nos socorrer
35
em nossas tentações (1Co 10.13): “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu,
tendo sido tentado, é poderoso (du/namai) para socorrer os que são tenta-
36
dos” (Hb 2.18). (Ver também: Hb 4.15; Jd 24; 1Pe 1.5).

8) A disciplina eclesiástica é realizada no poder de Jesus: “Eu, na verdade, ainda


que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse
presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e
o meu espírito, com o poder (du/namij) de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás
para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Je-
sus” (1Co 5.3-5).

9) Podemos observar que enquanto Mateus procurou dar nome aos atos podero-
sos de Jesus Cristo, Lucas apresenta Jesus Cristo exercendo o seu poder realizan-
do tais atos: a) Expulsão dos espíritos: (Lc 4.36); b) Cura: (Lc 5.17; 6.19; 8.46); c)
Jesus conferindo poder e autoridade aos doze e aos 70 sobre os demônios e para
curar os enfermos: (Lc 9.1/Lc 10.19).

10) Finalmente, o nosso conforto é que o poder pertence a Deus. Quando o Se-
nhor revelar plenamente a sua soberania – “Exorto-te, perante Deus, que preserva a
vida de todas as coisas, e perante Cristo Jesus, que, diante de Pôncio Pilatos, fez a
boa confissão, que guardes o mandato imaculado, irrepreensível, até à manifestação
de nosso Senhor Jesus Cristo; a qual, em suas épocas determinadas, há de ser re-
velada pelo bendito e único Soberano (duna/sthj), o Rei dos reis e Senhor dos se-
nhores” (1Tm 6.13-15) –, o canto celestial, finalmente será, como descrito no Apoca-
lipse: “Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multi-
dão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder (du/namij) são do nosso
Deus” (Ap 19.1).

34
Ver: Hermisten M.P. Costa, A Palavra e a Oração como Meios de Graça: In: Fides Reformata, São
Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 5/2 (2000), 15-48.
35
“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais
tentados além das vossas forças (du/namai); pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá
livramento, de sorte que a possais (du/namai) suportar” (1Co 10.13).
36
“Porque não temos sumo sacerdote que não possa (du/namai) compadecer-se das nossas fraque-
zas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). ”O-
ra, àquele que é poderoso (du/namai) para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exul-
tação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Se-
nhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os
séculos. Amém!” (Jd 24-25). “Que sois guardados pelo poder (du/namij) de Deus, mediante a fé, para
a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pe 1.5).
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 14

2. O PODER DO ESPÍRITO NA EVANGELIZAÇÃO:

O Evangelho é o poder de Deus (Rm 1.16). A Palavra da Cruz é poder


37
de Deus (1Co 1.18); e a “Palavra da Graça” é poderosa para nos edificar (At
38 39
20.32; 2Tm 3.15). Jesus Cristo é o poder de Deus (1Co 1.24). Paulo pregou o
Evangelho com demonstração do Espírito e de poder para que a fé dos coríntios não
40
se apoiasse em palavras mas em poder (1Co 2.4-5; 1Ts 1.5). O Evangelho não
41
parte de fábulas inventadas (2Pe 1.16). “[A] fé saudável equivale à fé que não
42
sofreu nenhuma corrupção proveniente de fábulas”.

Em Atos 4.33, lemos: “Com grande poder (du/namij) os apóstolos davam teste-
munho da ressurreição do Senhor Jesus....”. A Igreja cumpria a missão dada por Je-
sus Cristo com fidelidade, pois, Ele mesmo ordenou: “.... e sereis minhas testemu-
nhas...” (At 1.8).

A Igreja teve uma experiência pessoal com o seu Senhor e, foi comissionada por
Ele mesmo a dar testemunho perante o mundo, dos atos salvadores de Deus e das
43
Suas virtudes (Mt 16.15; Mt 28.19,20; 1Pe 2.9,10). A eficácia do ministério da Igre-
ja consiste em apontar para a obra eficaz de Jesus Cristo, testemunhando, então, o

37
“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos sal-
vos, poder (du/namij) de Deus” (1Co 1.18).
38
“Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder (du/namai) para
vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados” (At 20.32). “E que, desde a infância,
sabes as sagradas letras, que podem (du/namai) tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo
Jesus” (2Tm 3.15).
39
“.... nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas
para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder (du/namij) de
Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.23-24).
40
“A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas
em demonstração do Espírito e de poder (du/namij), para que a vossa fé não se apoiasse em sabedo-
ria humana, e sim no poder (du/namij) de Deus” (1Co 2.4-5). “Porque o nosso evangelho não chegou
até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder (du/namij), no Espírito Santo e em plena
convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós” (1Ts 1.5).
41
“Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fá-
bulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majesta-
de” (2Pe 1.16).
42
João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.14), p. 320. “Se porventura dese-
jarmos conservar a fé em sua integridade, temos de aprender com toda prudência a refrear
nossos sentidos para não nos entregarmos a invencionices estranhas. Pois assim que a pes-
soa passa a dar atenção às fábulas, ela perde também a integridade de sua fé” [João Calvi-
no, As Pastorais, (Tt 1.14), p. 320]. “Fábulas (...) aqueles contos fúteis e levianos que não têm
em si nada de sólido” [João Calvino, As Pastorais, (1Tm 1.4), p. 29].
43
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mt 16.15). “Ide, portanto,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os
dias até à consumação do século” (Mt 28.19,20).“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação
santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois
povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1Pe
2.9,10).
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 15

perdão do seu próprio pecado. A Igreja apresenta-se como resultado histórico, fruto
da ação misericordiosa de Deus em Cristo. Ela não cria nem é a mensagem; é ape-
nas o sinal mais ou menos luminoso, dependendo de sua fidelidade à Palavra, que
aponta para o Seu Senhor (Mt 5.14-16; At 2.14ss; 5.30-32; 20.27-21; 22.12-15;
26.22,23; 1Jo 1.2,3).
44
A Missão da Igreja inspira-se e fundamenta-se no exemplo Trinitário. O Pai en-
via o Seu Filho (Jo 3.16), ambos enviam o Espírito à Igreja (Jo 14.26; 15.26; Gl
45 46
4.6), habitando em nossos corações (Rm 8.9-11,14-16); e nós, como embaixado-
res, somos enviados pelo Filho, sendo guiados pelo Espírito de Cristo (Jo 17.18;
47 48
20.21) . O modelo de nossa missão temos, de modo especial, no Filho. O Deus
encarnado é o modelo mais sublime da missão da igreja. Missão requer engajamen-
to de serviço e este, não pode prever e controlar os riscos.

a) Em Jerusalém:

O resultado da pregação eficiente e de uma vida cristã autêntica,


além de outras coisas secundárias, redunda na Glória de Deus (Mt 5.14-16; 2Co
9.12-15), resultando naturalmente, conforme o exemplo bíblico, no crescimento espi-
ritual e numérico da Igreja. O Livro de Atos registra que enquanto a Igreja testemu-
nhava e vivia o Evangelho, “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sen-
do salvos” (At 2.47); e mais: “Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se multi-
plicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé”
(At 6.7. Leia também: At 2.41; 4.4; 9.31; 12.24; 14.1).

44
Veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Tua Palavra é a Verdade, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p.
66-67.
45
“Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas
as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “Quando, porém, vier o Conso-
lador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará teste-
munho de mim” (Jo 15.26). “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de
seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gl 4.6).
46“9
Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós.
10
E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vós, o
11
corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se
habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressus-
citou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espíri-
14
to, que em vós habita. (...) Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
15
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas rece-
16
bestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com
o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.9-11, 14-16).
47
“Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18). “Disse-lhes,
pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo
20.21).
48
Recentemente li a afirmação do teólogo luterano Vicedom: “Deus é o sujeito ativo da missão.
Deus Pai enviou o Seu Filho, e ambos enviaram o Espírito Santo. A Trindade envia a igreja e
os crentes em particular, para cumprir a tarefa da grande missão” (Georg Vicedom, A missão
como obra de Deus: introdução a uma teologia da missão, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1996, p. 34).
Do mesmo modo, entre outras obras de Stott, veja-se: John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo
Moderno, p. 25ss.).
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 16

b) “Até Aos Confins da Terra”:

Após o eloquente e desafiante sermão de Estevão e, a sua conse-


quente morte por apedrejamento (At 7.1-60) – a forma judaica de executar os culpa-
dos de blasfêmia (Lv 24.16; Jo 10.33) – o grupo inquisidor estimulado por esta atitu-
de assassina, promoveu “... grande perseguição contra a igreja de Jerusalém” (At
8.1), com a permissão do sumo sacerdote (At 8.3; 9.1,2).

O termo usado em At 8.1 para descrever a “perseguição” apresenta a ideia de


49
uma caça violenta e sem trégua. Lucas, inspirado por Deus, pinta este quadro de
forma mais forte, adjetivando “grande”, indicando assim, a severidade da persegui-
ção. Saulo foi o grande líder desta ação contra os cristãos (At 8.1; 9.1,2; 22.4,5;
26.9-12).

Nesta primeira grande perseguição, vemos claramente a direção divina:

1) Os apóstolos não foram dispersos, permanecendo em Jerusalém (At 8.1),


podendo assim, sedimentar a mensagem do Evangelho em Jerusalém.

2) Até agora a Igreja não havia cumprido a totalidade da ordem divina, que di-
zia: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os con-
fins da terra” (At 1.8). Os apóstolos, ao que parece, não haviam saído dos limites da
Judéia com o objetivo de proclamar o Evangelho.

O verbo usado para descrever a “dispersão” – diaspei/rw – (At 8.1,4), está ligado
à sementeira e semeadura, sendo empregado unicamente por Lucas no Novo Tes-
tamento e somente para descrever este episódio (*At 8.1,4; 11.19). Assim, através
da perseguição, os discípulos saíram de Jerusalém levando as Boas Novas do E-
vangelho (At 8.4), semeando a semente do Evangelho de Cristo (1Pe 1.23).

Filipe, um dos diáconos eleitos (At 6.5), pregou em Samaria e muitos se converte-
ram (At 8.5-8), posteriormente ele evangelizou, mediante a direção de Deus (At
8.26), um judeu etíope, que era tesoureiro da rainha Candace – título esse seme-
lhante ao de “Faraó”, não indicando o nome próprio de uma pessoa –, que se con-
verteu, sendo então batizado (At 8.38). Após o batismo do etíope, “.... Filipe veio a
achar-se em Azôto; e, passando além, evangelizava todas as cidades até chegar a
Cesaréia” (At 8.40).

49
O substantivo “perseguição” (Diwgmo/j = “caça”, “pôr em fuga”) dá a entender a figura simbólica de
um animal caçado, de uma presa perseguida, de um tormento incansável e sem misericórdia. Esta
palavra denota mais especificamente as perseguições promovidas pelos inimigos do Evangelho; ela
se refere sempre à perseguição por motivos religiosos (Vejam-se: Mc 4.17; At 8.1; 13.50; Rm 8.35;
2Tm 3.11). O verbo Diw/kw é utilizado sistematicamente para aqueles que perseguiam a Jesus, os
discípulos e a Igreja (Mt 5.10-12; Lc 21.12; Jo 5.16; 15.20). Lucas emprega este mesmo verbo para
descrever a perseguição que Paulo efetuou contra a Igreja (At 22.4; 26.11; 1Co 15.9; Gl 1.13,23; Fp
3.6), sendo também a palavra empregada por Jesus Cristo quando pergunta a Saulo do porquê de
sua perseguição (At 9.4-5/At 22.7-8/At 26.14-15). Paulo diz que antes perseguia a igreja (Fp 3.6),
mas, agora, prosseguia para o alvo (Fp 3.12,14).
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 17

Outro fato que evidencia a ação providencial de Deus na perseguição de Jerusa-


lém, está registrado em At 11.19-21, onde lemos no verso 19: “.... Os que foram dis-
persos, por causa da tribulação que sobreveio a Estevão, se espalharam até à Fení-
cia, Chipre e Antioquia....”. Nos versos 20 e 21 temos ainda a proclamação expan-
dindo-se: “Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, e que foram até
Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Je-
sus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Se-
nhor”. Vemos, desta forma, que o Evangelho estava sendo disseminado, tendo co-
mo elemento gerador uma perseguição que parecia ser fatal para a Igreja de Cristo;
entretanto Deus a redundou em bênçãos para o Seu povo (Gn 50.20/Rm 8.28).

A difusão do Evangelho é demonstrada mais tarde, ainda no período neotesta-


mentário, através das Epístolas de Tiago e Pedro, sendo a de Tiago destinada “... às
doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1.1) e a de Pedro, “... aos eleitos,
que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, e Bitínia”
(1Pe 1.1. Leia também, At 17.6).

3) Por meio do zelo cego de Saulo em perseguir os cristãos, Deus o chamou e-


ficazmente (At 9.1-5), regenerando-o, porque para Deus, Saulo era “.... um instru-
mento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como peran-
te os filhos de Israel” (At 9.15). Mais tarde, Paulo, o antigo Saulo, escreveu aos gála-
tas: “Quando, porém ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua
graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu pregasse entre os gentios....”
(Gl 1.14,15). Saulo, o grande perseguidor, agora era Paulo, o apóstolo de Cristo le-
vando a mensagem salvadora do Evangelho a todos os povos, chegando à capital
gentílica (Roma) e, desejando prosseguir em sua missão, se possível, atingir a Es-
panha (At 28.16ss; Rm 15.22-29).

Por intermédio do trabalho de Filipe, Pedro, Paulo, Barnabé, Silas, Timóteo, Tito e
de milhares de irmãos anônimos, o Evangelho proliferou em todos os continentes.
Nós hoje somos herdeiros desta proclamação. O crescimento da Igreja impulsionado
pelo Espírito, era operado através de todos os irmãos; todos estavam comprometi-
50
dos com a obra missionária quer em suas cidades quer em outras regiões.

c) Fidelidade, Perseguição, Crescimento e Consolo:

A Igreja no Novo Testamento logo enfrentou uma série de persegui-


ções, geradas num primeiro momento, pelos judeus que incitavam as autoridades
romanas. Para citar apenas algumas, temos a perpetrada contra Estevão, que mor-
reu apedrejado (At 7.1-60); a de Herodes Agripa I, que prendeu a Pedro e decapitou
Tiago (At 12.1-3); Paulo, o antigo perseguidor do Evangelho, foi aquele que mais so-
freu perseguições (At 9.23-25,29; 14.2-7,19; 16.19-24; 17.4-9, 13-15; 21.30-32).

Escrevendo aos coríntios, Paulo faz um resumo do que havia sofrido pelo Evan-
gelho de Cristo (2Co 11.23-33). Contudo, havia nele, uma visão constante que
transpunha o sentimento de dor e angústia. Na prisão, escreveu aos filipenses:

50
Veja-se: Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, São José dos Campos,
SP.: Fiel, nº 6, 2000, p. 19ss.
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“Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm an-
tes contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1.12) e, diz mais: “Alegrai-vos
sempre no Senhor, outra vez digo, alegrai-vos” (Fp 4.4). O Evangelho prosseguia
em sua caminhada vitoriosa a despeito dos obstáculos erguidos contra ele.

Paulo estava convencido e, demonstrava isto na prática, que Deus nos faz vencer
os obstáculos que estão à nossa frente.

A perseguição não se encerrou no primeiro século; a Igreja ao longo de toda a


História tem sido alvo de ataques físicos, morais, intelectuais e espirituais; todavia,
ao lado destas afrontas, ela tem podido desfrutar da presença confortadora do Espí-
rito Santo. O Espírito que habita em nós, nos conforta em todos os momentos, nos
amparando quando parece que não temos onde ou em quem nos apoiar. “Assim, o
Espírito Santo é o autor imediato de toda a verdade, de toda a santidade,
de toda a consolação, de toda a autoridade e de toda a eficiência nos fi-
51
lhos de Deus, individualmente, e na Igreja, coletivamente.”

De fato, o Senhor Jesus não nos deixou órfãos; Ele, Ele mesmo está conosco a-
qui e agora, e para sempre (Jo 14.16-18/At 9.31).

Os testemunhos históricos que temos a partir do segundo século, informam-nos


que apesar de perseguidos, os cristãos davam o seu testemunho, sendo muitas ve-
zes martirizados – aliás, a palavra grega “mártir” significa “testemunha” –, vemos
também que o seu comportamento era contagiante por meio de uma conduta dife-
rente, que procurava se pautar pela Palavra de Deus.

Aqui se torna oportuno transcrever parte de um documento anônimo, escrito ao


que parece no final do 2° século, intitulado “Carta a Diogneto”, que consistia numa
explicação do pensamento, conduta e fé cristã, dirigida a um pagão que, impressio-
52
nado com o testemunho cristão, queria saber mais a respeito desta religião.

“Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua
terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades
próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de
viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e especu-
lação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensina-
mento humano. Pelo contrário, vivendo em cidades gregas e bárbaras,
conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar
quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida
social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas co-
mo forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como
estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é es-
trangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os
recém-nascidos. Põem a mesa em comum, mas não o leito; estão na car-
ne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cida-
51
Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 396.
52
Veja-se: Carta a Diogneto, I: In: Padres Apologistas, Padres Apologistas, São Paulo: Paulus, 1995,
p. 19.
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dania no céu; obedecem às leis; amam a todos e são perseguidos por to-
dos (...). Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são
perseguidos, e aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ó-
53
dio”.

Mesmo com uma história de discriminação, perseguição e martírio, o Cristianis-


mo cresceu. Em 330, Constantino inaugurou a cidade de Constantinopla transferin-
do a capital de Roma para a nova cidade. Numa carta a Eusébio, bispo de Cesaréia,
Constantino pedindo com urgência a preparação de 50 Bíblias para a nova capital,
revela algo a respeito do crescimento do número de cristãos e de igrejas: “Com a
ajuda da providência de Deus, nosso Salvador, são muitíssimos os que se hão
incorporado à santíssima Igreja na cidade que leva o meu nome. Parece,
pois, mui conveniente que, respondendo ao rápido progresso da cidade sob
54
todos os aspectos, se aumente também o número de Igrejas....”. O Cristia-
nismo tornara-se popular, sendo seus cultos muito concorridos.

No entanto, nem tudo era tranquilo; se por um lado as perseguições cessaram,


por outro, vemos que no quarto e quinto séculos tornam-se evidente a influência das
religiões de mistério no culto. O antigo respeito para com os mártires transformou-se
em culto, surgindo a partir daí um “cristianismo popular de segunda classe”. Aos
poucos os novos convertidos tendiam a transferir a Deus, aos apóstolos e mártires,
parte da reverência dos antigos cultos prestados a poderes miraculosos que atribuí-
am aos seus antigos deuses pagãos. Daí foi apenas um passo para que os apósto-
los, os anjos e Maria passassem a ser adorados. O culto cristão pouco a pouco se
paganizara.

Calvino orienta-nos pastoralmente: “.... A Igreja será sempre libertada das ca-
lamidades que lhe sobrevêm, porque Deus, que é poderoso para salvá-la,
55
jamais suprime dela sua graça e sua bênção”. Portanto, “se algo de adver-
so lhe houver ocorrido, aqui também o servo do Senhor de pronto elevará a
mente para com Deus, cuja mão muito vale para imprimir-nos paciência e
56
serena moderação de ânimo”.

As perseguições geradas pelo Evangelho se constituem em evidência de que a


nossa proclamação tem sido fiel e, ao mesmo tempo, em oportunidade para que tes-
temunhemos: “Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos per-

53
Carta a Diogneto, V.1-11,17: In: Padres Apologistas, p. 22-23.
54
Eusebio, The Life of Constantine, IV.36: In: Philip Schaff & Henry Wace, eds. Nicene and Post-
Nicene Fathers of Christian Church, (Second Series), Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (reprinted),
1978, Vol. I, p. 549.
55
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 3.8), p. 88. “Sempre que nossas mentes se agitam e
caem em perplexidade, devemos trazer à memória a seguinte verdade: sejam quais forem os perigos
e apreensões que porventura nos ameacem, a segurança da Igreja que Deus estabeleceu, por mais
dolorosamente abalada ela seja, por mais poderosamente assaltada, jamais poderá ser demasiada-
mente enfraquecida e envolvida em ruína” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 48.8), p.
362]. Ver também: Idem, As Institutas, I.17.6.
56
João Calvino, As Institutas, I.17.8. Vejm-se também: João Calvino, O Livro dos Salmos, (Sl 25.4),
Vol. 1, p. 541; João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 46.3), p. 331.
Teologia da Evangelização (14) ‒ Rev. Hermisten ‒ 29/04/2011 ‒ 20

seguirão (diw/kw), entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à pre-


sença de reis e governadores, por causa do meu nome; 13 e isto vos acontecerá pa-
ra que deis testemunho (martu/rion)” (Lc 21.12-13).

O Espírito alimenta a Igreja, fazendo-a crescer espiritual e numericamente. Creio


que o crescimento significativo ocorre nesta ordem. Quando a Igreja conhece a Pa-
lavra e a pratica, prega com maior autoridade e, enquanto anuncia e vive o Evange-
lho, o Senhor por Sua misericórdia, acrescenta o número de salvos. É justamente is-
to que vemos em Atos: a Igreja pregava a Palavra com fidelidade, vivendo o Evan-
gelho com sinceridade e o Espírito fazendo a Igreja crescer. A melhor estratégia é a
do Espírito Santo e, o método infalível de Deus é a pregação fiel da Palavra; a pre-
gação do Evangelho compete ordinariamente a nós; é função exclusiva da Igreja;
não há outra entidade, agremiação ou organização a qual Deus tenha incumbido
deste privilégio responsabilizador. "A Igreja é uma instituição especial e especia-
57
lista, e a pregação é uma tarefa que somente ela pode realizar". No entan-
58
to, o crescimento, é obra do Espírito (At 2.47; 4.4; 6.7; 9.31; 12.24; 14.1; 16.4-5).

Observemos também, que muitas vezes, a responsabilidade do não crescimento


da Igreja está em nós, que nos entregamos a uma letargia espiritual, não amadure-
cendo em nossa fé e, consequentemente, não apresentando um testemunho genuí-
no (Vejam-se: Hb 5.11-14/1Co 3.1-9; Ef 4.11-16). Devemos aproveitar as oportuni-
dades que Deus nos dá, aprendendo a Palavra, fortalecendo a nossa fé, sendo edu-
cados por Deus e, assim, viver de modo digno do Senhor, testemunhando o Evange-
lho com fidelidade e autoridade.

Maringá, 29 de abril de 2011.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

57
D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, São Paulo: Fiel, 1984, p. 23.
58
“Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o
Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.47). “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a
aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil” (At 4.4). “Crescia a palavra de Deus, e,
em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam
à fé” (At 6.7). “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e
caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31). “En-
tretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava” (At 12.24). “Em Icônio, Paulo e Barnabé entra-
ram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto de ju-
deus como de gregos” (At 14.1). “Ao passar pelas cidades, entregavam aos irmãos, para que as ob-
servassem, as decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém. Assim, as igrejas eram
fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (At 16.4-5).

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