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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Pseudo-Homero

Batracomiomaquia
a guerra das rãs e dos ratos

Tradução do grego e introdução


Rodolfo Pais Nunes Lopes

Colecção
Fluir Perene - nº 2

3
Pseudo-Homero

Autor: Pseudo-Homero
Título: Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos
Título Original: Βατραχομυομαχια
Tradutor: Rodolfo Pais Nunes Lopes
Editor: José Ribeiro Ferreira
Edição: 1ª / 2008
Concepção Gráfica: Fluir Perene
Ilustração da capa: Ana Isabel Garrido Hormigo
Tiragem: 150 Exemplares

Impressão:
Simões & Linhares, Lda.
Av. Fernando Namora, n.º 83 - Loja 4
3000 Coimbra

Apoio: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos


da Universidade de Coimbra

Pedidos: Associação Portuguesa de Estudos Clássicos (APEC)


Universidade de Coimbra
Faculdade de Letras
Tel.: 239 859 981 | Fax: 239 836 733
3000-447 Coimbra

ISBN: 978-989-95751-4-1

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Índice

Prefácio 7

Introdução 15
1. Perspectivas de análise 15
2. Critérios de tradução 18
3. Datação e autoria 20
4. Transmissão do texto 28
5. Carácter paródico e fabular do poema 32
6. Estrutura geral do poema 38

Batracomiomaquia
a guerra das rãs e dos ratos 43

Índice dos nomes das personagens 67

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Pseudo-Homero

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Prefácio

A Batracomiomaquia ou Guerra das Rãs e dos Ratos,


segundo livro da colecção “Fluir Perene”, vai abrir a
secção das traduções. Com significativa repercussão na
Grécia e em Roma, tem uma extensão de cerca de tre-
zentos versos e é constituída por três partes de tamanho
sensivelmente igual, como se sublinha na “Introdução”.
A obra que aqui se traduz apresenta problemas na trans-
missão do texto, em grande parte por a sua génese de-
rivar de estratos sucessivos. Os combates de rãs e ratos
aí cantados são paródia evidente dos que descreve a Ilí-
ada, com paralelismos muito próximos de episódios do
poema homérico, inclusive na própria sucessão da in-
vestidura das armas nas cenas do armar de guerreiras,
como mostra Rodolfo Lopes na “Introdução”. A paródia
e comicidade do texto é visível até na forma das armas e
no material de que são feitas. Estamos perante uma obra
que exerceu influência em escritores gregos e romanos
de importância e, através deles, na literatura posterior.
Estou a lembrar-me, por exemplo, de Luciano de Samó-
sata, cuja História Verdadeira tem nítidos pontos de con-

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Pseudo-Homero

tacto com esta Guerra das Rãs e dos Ratos, mesmo na con-
fecção das armas e na preparação do combate.
A Batracomiomaquia, alvo de duas traduções em
língua portuguesa, uma do penúltimo quartel do séc.
XIX e outra publicada no Brasil já neste século, mere-
cia esta atenção que lhe dedicou Rodolfo Lopes: além da
tradução, introdução e breves notas.
A tradução é vossa. Que vos agrade e vos seja
útil.

Coimbra, Abril de 2008


José Ribeiro Ferreira

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

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Pseudo-Homero

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Agradecimento

Ao Professor Doutor José Ribeiro Ferreira não só por me ter


incentivado a fazer este breve trabalho, mas também - e prin-
cipalmente - pelo apoio e orientação que me prestou enquan-
to o fiz. Muito obrigado.

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Pseudo-Homero

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Introdução

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Pseudo-Homero

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Introdução

1. Perspectivas de análise

Uma abordagem ao texto da Batracomiomaquia que


pretenda explorar a sua estrutura interna implica obriga-
toriamente que se tenha como ponto de partida o texto
que lhe deu origem: a Ilíada. O estudo das personagens,
da linguagem, do metro ou de qualquer outro tópico li-
terário, estilístico ou retórico obriga a um conhecimen-
to profundo do texto homérico, na medida em que este
constitui o repositório de recursos em que o autor forço-
samente se baseou. Se a abordagem deste género exige o
tempo e o espaço mais próprios para uma tese e se tam-
bém o estudo das circunstâncias extra-textuais igualmen-
te merece um lugar de considerável destaque, será mais
apropriado enveredar por esta segunda via. Tendo em
conta que estas breves reflexões têm o objectivo de pre-
ceder a tradução do texto e não de segui-lo – esta seria a
função de uma análise interna –, torna-se ainda mais per-
tinente optar por enquadrar o texto nas circunstâncias em
que foi composto e transmitido ao longo dos tempos.

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Pseudo-Homero

As circunstâncias de composição da Batracomio-


maquia são para nós quase tão desconhecidas e incertas
quanto aquelas que se referem aos Poemas Homéricos.
Embora não sejam exactamente iguais, elas situam-se
nos mesmos âmbitos e, no fundo, são comuns a quase
todos os textos da Antiguidade Clássica: data, autoria e
transmissão do texto. Ainda assim, mesmo que não seja
possível garantir com certeza e precisão filológica quase
nenhum dado sobre os seus parâmetros extra-textuais,
é sem dúvida menos falível o erro da estimativa que se
queira traçar; é que, ao contrário da Ilíada, este peque-
no poema não se situa nos inícios da Literatura Grega, o
que permite um enquadramento mais preciso mediado
por uma tradição que o antecede. Para além das ligagões
intertextuais que o texto mantém com esse seu corpus
“antepassado”, estabelece com a Ilíada uma relação de
dependência, mantendo ambos entre si uma espécie de
nexo de causalidade; um (a Batracomiomaquia) não te-
ria existido sem o outro (a Ilíada). Portanto, partindo
de dados que a tradição nos deixou e de outros que
podemos observar a partir do confronto entre os tex-
tos, é possível estabelecer um grupo de possibilidades

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

logicamente aceitáveis que permita circunscrever as


condições de composição desta obra de forma mais ou
menos satisfatória.
Ainda assim, considera-se necessária uma breve
nota introdutória que sistematize a estrutura interna do
texto, focalizando a forma como a narrativa está organi-
zada e que contemple o modo como esta se vai desenvol-
vendo, de modo a fornecer algumas informações prévias
que possam, de alguma forma, facilitar a compreensão
do texto. Não se trata de uma análise exaustiva, mas sim
de um simples guia de leitura.
Além disso, existe no texto uma matriz temática
que não podia deixar de ser referida por se manifestar de
um modo contínuo e que, em grande medida, constitui
a sua base referencial. Trata-se, obviamente, do carácter
fabular e paródico da narrativa que, pela importância
que assume na transmissão da mensagem poética, mere-
ce um lugar de destaque nesta breve investigação. Como
já se disse, as ligações com a Ilíada são óbvias, mas elas só
podem ser entendidas como paródias; ou melhor, como
uma só paródia, pois todo o texto se centra nesta pers-
pectiva. Não será necessário explorar exaustivamente o

17
Pseudo-Homero

conceito, na medida em que actualmente lhe tem sido


dedicada bastante atenção pelos Estudos Literários1,
principalmente no que respeita à poética pós-modernis-
ta, mas este aspecto não poderia deixar de ser referido,
ainda que de forma abreviada.

2. Critérios de Tradução

Traduzir a Batracomiomaquia implica adoptar uma


de duas perspectivas: considerar o texto uma epopeia,
independentemente de, em grande medida, apresentar
inúmeros traços anti-épicos e de ter uma inalienável
componente ridícula e paródica; por outro lado, po-
demos abordá-la pura e simplesmente como um texto
cómico, ignorando o facto de (não só) formalmente ser
épico. A primeira hipótese implica que se traduza o vo-
cabulário tal como tem sido traduzido nos outros tex-
tos épicos, interpretando cada termo segundo o sentido
com que aparece na Ilíada; o cómico será, desta forma,
indirectamente provocado por uma constante ironia
que acompanhará a leitura ao longo dos versos. A se-
1 Para um conhecimento mais aprofundado do conceito de paró-
dia, vide HUTCHEON, Linda, Uma teoria da paródia : ensinamen-
tos das formas de arte do século XX , Lisboa, Edições 70, 1989.

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

gunda hipótese obriga a que se traduza cada expres-


são independentemente do sentido que apresenta em
Homero, sendo o cómico provocado directamente por
expressões equivalentes na língua de chegada, o que de
certa forma faria com que o vocabulário perdesse o seu
sentido épico. Visto que se trata de um texto subsequen-
te de um anterior, seria despropositado alienar o senti-
do com que o vocabulário foi utilizado naquele texto de
partida. Além disso, o simples facto de as característi-
cas formais da Batracomiomaquia serem exclusivas dos
textos épicos impede-nos de alienar esta sua vertente.
Finalmente, o seu sentido geral aponta para um modo
de provocar o cómico que não se limita às ridiculari-
zações pontuais; pelo contrário, parece estabelecer-se
uma ironia geral e absorvente que começa a manifestar-
se desde o primeiro verso (literalmente) e continua até
ao fim do breve relato.
Por estas razões, os critérios e preocupações de
tradução desta obra devem ser os mesmos que se têm
em conta para abordar um dos dois textos homéricos,
principalmente a Ilíada, visto que é com este poema que
a Batracomiomaquia mais se assemelha, quer a nível vo-

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Pseudo-Homero

cabular, quer a nível temático. Se tal for possível, a me-


lhor forma de traduzir este texto é adoptar o princípio
kantiano de imaginação transcendental, isto é, ignorar o
que sabemos a priori sobre o carácter fabular e paródico
do texto, preocupando-nos apenas com as suas caracte-
rísticas que irremediável e indubitavelmente o relacio-
nam ao género épico; fingir que é uma epopeia como to-
das as epopeias; assumir que, internamente, é um texto
homérico.

Quanto à edição, considerou-se obrigatório seguir


a de Martin West (Homeric Hymns ; Homeric apocrypha ;
Lives of Homer, Cambridge, Harvard Univ. Press, 2003),
por este autor ser um dos maiores especialistas da actu-
alidade sobre este assunto.

3. Datação e Autoria

A atribuição de uma data de composição da Ba-


tracomiomaquia é uma questão que levanta ainda mais
problemas do que aqueles que envolvem os Poemas
Homéricos propriamente ditos. Pode parecer um pouco

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

exagerada esta afirmação, mas, se tivermos em conta que


as diversas opiniões sobre este assunto, quer dos autores
antigos quer dos estudiosos modernos, se situam num
intervalo temporal que vai desde o século VI a. C. até ao
século I d. C. – data do primeiro testemunho considera-
do digno de crédito –, verificamos que é praticamente
impossível apontar uma data minimamente aceitável.
No que respeita à autoria, os problemas são em
tudo semelhantes, como seria de esperar, dado que
ambas as questões estão intimamente ligadas. Come-
çando pela atribuição ao próprio Homero, as hipóteses
alargam-se até ao período helenístico tardio. Vejamos,
então, com mais pormenor quais são as várias possibi-
lidades de datação e autoria que se têm apontado como
prováveis, tendo obviamente em conta a falibilidade de
qualquer uma delas.
Começando pelos autores antigos, a opinião é
unânime: Homero é o autor da Batracomiomaquia. Em
Pseudo-Heródoto, é-lhe atribuída a autoria de um con-
junto de poemas a que o “autor” chama “poemas diver-
tidos”, entre os quais se inclui este em particular2. Já em

2 Ps.-Hdt. Vit. Hom. 24.

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Pseudo-Homero

Pseudo-Plutarco, a opinião é menos clara, pois a men-


sagem é um pouco ambígua; diz-se na Vita Homeri que
“Ele [Homero] escreveu dois poemas: a Ilíada e a Odis-
seia; há quem diga, embora não seja verdade, que, para
praticar a escrita e por divertimento, lhes acrescentou a
Batracomiomaquia e o Margites”3. De facto, é dúbio se o
“não ser verdade” se refere ao facto de estas duas obras
não serem de Homero ou se, pelo contrário, significa
que as fez mas não por divertimento e para praticar a
escrita, mas por qualquer outro motivo. Independente-
mente do sentido que se queira escolher, podemos ga-
rantir que não é apontada qualquer outra autoria neste
excerto.
Já no Mundo Romano, Estácio alude também in-
directamente à autoria homérica da obra. No prefácio às
Silvae diz “no entanto lemos o Culex e também conhe-
cemos a Batracomiomaquia; não há nenhum dos grandes
poetas que não pratique a escrita com obras menores do
seu género”4. Uma vez que o Culex (“O Mosquito”) é
uma obra menor tradicionalmente atribuída a Virgílio e
que aparece no mesmo plano que a Batracomiomaquia, é
3 Ps.-Plu. Vit. Hom. 1. 5.
4 Stat. Silv. Pref.

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

claro que, quando Estácio diz “os grandes poetas”, se


refere também a Homero.
Já Marcial é bastante mais directo quanto à autoria
homérica da obra, quando diz “leiam o poema das rãs
tal como o Meónio o compôs e aprendam a perceber as
minhas piadas”5. Sabendo que uma das origens dadas a
Homero era a Meónia (nome antigo para Lídia), a refe-
rência é clara e directa.
Pelo que ficou exposto, é claro que as referências
credíveis mais antigas são as de Marcial e de Estácio, si-
tuando-se ambos no século I d. C, visto que os escritos de
Pseudo-Heródoto e de Pseudo-Plutarco são cerca de dois
ou três séculos mais tardios. Além disso, as estranhas e mis-
teriosas circunstâncias que os envolvem não permitem que
lhes seja dada a mesma importância que os restantes.
Um outro nome também referenciado nos textos
antigos como autor da Batracomiomaquia é Pigres de
Halicarnasso, que seria familiar de Artemísia, esposa de
Mausolo. A autoria do poema é-lhe dada na Suda6 e em
Plutarco7.

5 Mart. 14. 183-186.


6 Suda, Pygres.
7 De Herod. malign. 873. F. 4.

23
Pseudo-Homero

Passando para os autores modernos, as opini-


ões são bastante mais diversificadas, muito embora as
conclusões que desses estudos podemos retirar sejam
igualmente duvidosas. A principal diferença é que,
como seria de esperar depois de todos os estudos que
constituíram a famosa Questão Homérica, a crítica não
segue o pensamento dos antigos de atribuir o texto a
Homero, porque, como se sabe, nem sequer se pode
garantir que este poeta tenha existido. Portanto, a se-
gunda via de interpretação – autoria de Pigres –, aquela
que tinha sido adoptada por Plutarco e pelos autores
da Suda, acabou por dar origem a alguns estudos que
seguem essa perspectiva.
Segundo Ludwich8, um dos primeiros estudiosos
da Batracomiomaquia, o poema terá sido realmente com-
posto por Pigres de Halicarnasso durante o século IV a.
C.; mas depois das análises de Van Herwerden e de Cru-
sius9 à componente linguística, começa a ser posta em

8 A. Ludwich, Die Homerische Batrachomachie des Karers Pigres,


Leipzig, 1896.
9 Respectivamente, J. van Herwerden, “Die Batrachomyoma-
chia” in Mnemosyne 10 (1872), pp. 163-174; O. Crusius, “Pigres und
die Batrachomyomachie bei Plutarch” in Philologus 58 (1899), pp.
577-793.

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

causa a datação que, consequentemente, comprometia


essa autoria: segundo estes estudiosos, o poema nunca
poderia ter sido composto antes do período helenístico.
No seguimento destas primeiras investigações
que começam a pôr em causa aquelas teorias mais
simplistas que vigoravam desde a Antiguidade, surge
Ahlborn que, a partir de uma minuciosa análise lin-
guística, chega à conclusão de que o texto data do sé-
culo I a. C. e teria sido composto por um autor da zona
de Alexandria. Este autor apoia-se na crítica textual e
nega todas as evidências antigas que pudessem supor
uma data mais antiga para o texto, principalmente um
relevo de Arquelau de Priene chamado Apoteose de Ho-
mero, em que aparece o poeta rodeado pelas Musas e
ao lado de duas figuras alegóricas, uma da Ilíada e ou-
tra da Odisseia. Aos seus pés estão duas imagens: uma
delas é imperceptível e a outra é um rato. Antes de
Ahlborn, acreditava-se que a imagem que já não se vê
seria uma rã, que juntamente com o rato, representaria
a Batracomiomaquia. Mas, segundo este autor, o relevo
não pode dar informações precisas e credíveis sobre
este assunto e ele aponta duas razões fundamentais:

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Pseudo-Homero

em primeiro lugar, a figura desconhecida pode não ser


uma rã mas sim um rato, que, em conjunto com o ou-
tro, simbolizava a crítica; em segundo lugar, mesmo
que fosse uma rã, isso não significava que se pudesse
com isso datar o poema de tempos mais antigos, por-
que os dados de que dispomos sobre Arquelau situam-
no num alargado intervalo temporal entre os séculos
III a. C. e I d. C.
É nesta linha de pensamento que actualmente se
situam os estudiosos, nomeadamente Bernabé Pajares e
West. O primeiro limita-se a aceitar as teorias baseadas
na análise linguística iniciadas por Van Herwerden e
Crusius e melhoradas por Ahlborn, que situam o poema
no século I a. C.10. Quanto a West, dá um contributo im-
portantíssimo a esta questão na medida em que adianta
novas e preciosas informações que confirmam as suspei-
tas de Ahlborn, principalmente no que respeita à Apote-
ose de Homero de Arquelau de Priene. Segundo nos diz
West, os dois animais que nesse relevo estão aos pés do
Épico são dois ratos e, além disso, estão a roer um papi-

10 BERNABÉ PAJARES, Alberto, Himnos Homéricos. La “Batraco-


miomaquia”, Madrid, Editorial Gredos, 1988, p. 319.

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

ro11, o que pode dar azo a variadíssimas interpretações,


mas impede que se use o relevo para tecer considerações
sobre a Batracomiomaquia. Para além desta informação,
West relaciona um episódio do poema – um trecho da
descrição dos caranguejos nos vv. 294-298 – com um epi-
grama de Estatílio Flaco12, um autor situado entre os sé-
culos I a. C. e I d. C. Ao traçar um óbvio paralelo formal
entre os dois textos, West quase confirma finalmente a
tese que coloca o poema no início da Era Cristã.
Tendo em conta todas estas as incertezas que
envolvem as condições de composição do poema, em
particular no que respeita à autoria, é sem dúvida pre-
ferível não arriscar em nenhuma das propostas apre-
sentadas, quer por autores antigos, quer por estudiosos
modernos. Portanto, a designação “Pseudo-Homero”
parece ser a mais adequada por duas razões funda-
mentais: não deixa de incluir as várias ligações com os
textos homéricos nem acarreta consigo a carga de in-
certeza que causaria a escolha de uma das autorias que
têm vindo a ser sugeridas.

11 WEST, M. L. (ed. trad.), Homeric Hymns; Homeric Apocrypha;


Lives of Homer, Cambridge, Harvard Univ. Press, 2003, p. 229, n. 7.
12 AP 6. 196.

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Pseudo-Homero

4. Transmissão do texto

Desde a sua criação – independentemente de


quando tenha sido – até aos nossos dias, o texto da Ba-
tracomiomaquia sofreu um processo de transmissão que,
de uma forma mais ou menos atribulada, é comum a to-
dos os textos antigos. Esta viagem a que os textos estão
submetidos depende, em grande medida, do apreço que
lhes foi sendo atribuído ao longo dos tempos.
Como já se disse, o poema foi inicialmente atri-
buído a Homero e assim continuou durante muitos sé-
culos. Desde a sua criação até sensivelmente ao século
IX, além de serem muitíssimo escassas as referências e
alusões a ele feitas até àquela altura13, encontrou-se ape-
nas um fragmento de data anterior àquela (século II d.
C.). Todavia, ainda nos primeiros séculos da nossa era,
encontramos uma passagem da História Verdadeira de
Luciano de Samósata que, por fazer lembrar determina-
dos pormenores da Batracomiomaquia, principalmente no
tipo de armamento dos “guerreiros”, merece uma men-

13 Sobre as alusões que o poema foi tendo ao longo dos tempos,


vide WÖLKE, Hansjörg, Untersuchungen zur Batrachomyomachie,
Meisenheim am Glan, Anton Hain, 1978.

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

ção ainda que breve. O narrador, ao passar as Colunas


de Hércules durante a sua viagem imaginária, encontra
umas criaturas estranhíssimas, de formas híbridas (ca-
valos-caranguejo, por exemplo), que estavam em guerra;
ao descrever as suas armas, refere elmos feitos de feijões,
lanças de espargos e, entre outras coisas, escudos de co-
gumelos14. Seria arriscado, até talvez exagerado, falar em
intertextualidade directa, mas é bem provável que a ins-
piração de Luciano deva alguma coisa à descrição das
armas dos ratos e das rãs.
Já durante o Período Bizantino, a Batracomiomaquia
assumiu um papel importantíssimo no ensino escolar,
visto que era utilizado como manual de introdução ao
estudo de Homero; esta forma divertida de iniciar os es-
tudantes nas obras centrais da Literatura Grega propor-
cionou-lhe um tratamento privilegiado. Ainda assim,
este lugar de destaque não contribuiu para que o texto
em si fosse estabelecido de forma homogénea sem gran-
des variações; pelo contrário, os cerca de 75 manuscritos
que são datados desse tempo contêm variadíssimas ver-
sões, interpolações e todo o tipo de alterações que ain-

14 VH 1. 14-16.

29
Pseudo-Homero

da dificultam mais a tarefa de estabelecimento do texto.


Esta liberdade de alterar e corrigir foi provavelmente
motivada por questões pedagógicas: visto que o texto
era fundamentalmente um manual escolar, implicava
que determinadas adaptações tivessem de lhe ser feitas.
A importância do Período Bizantino para a conser-
vação e manutenção do poema é perfeitamente ilustra-
da pelo simples facto de os primeiros e mais importan-
tes manuscritos se terem composto e mantido durante
aquela época. Ao todo, chegou até nós um conjunto de
testemunhos que fica enquadrado num intervalo de cin-
co séculos, X a XIV (apenas um é dos inícios do século
XIV – 1311): o manuscrito Z – o mais importante – data
do século X; o grupo a situa-se entre os séculos XII e XIII;
o grupo l é dos séculos XI a XIV; o grupo S data dos sé-
culos XI e XII. Quer isto dizer que se a Batracomiomaquia
não tivesse despertado tal interesse em Bizâncio, prova-
velmente hoje não a conheceríamos.
Já em pleno Renascimento, é das primeiras obras
clássicas a ser editada pelo recente método de difusão
cultural, a imprensa. Em virtude destas novas potencia-
lidades de divulgação, o poema começa a ser lido por

30
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

mais pessoas, dando origem a um processo de imitação


que continuou até aos tempos modernos: logo em 1595
aparece a primeira edição da autoria do alemão Georg
Rollenhagen (Froschmeuseler); em 1791; na Hungria sur-
ge uma imitação (Békaegérhare) composta por Vitéz; na
Itália, o próprio Leopardi, que também traduziu a obra,
escreveu os Paralipomeni della Batracomiomachia.
Em língua portuguesa, a Batracomiomaquia conta
também com duas traduções, embora nenhuma delas
invalide uma terceira: a primeira, da autoria de António
Maria do Couto15, tem já mais de 170 anos de idade e,
por isso, estará já um tanto envelhecida, quer pelo voca-
bulário, quer pela própria edição que segue, hoje já tida
por obsoleta; quanto à segunda, da autoria de Fabricio
Possebon16, é bem mais recente (2003), mas, embora a
língua de chegada seja a portuguesa, trata-se da sua va-
riante brasileira. Por isso, sem quaisquer prejuízos das
15 Sobre a tradução de António Maria do Couto, vide Carlos
Costa, Evelina Costa, Inês Semedo, eds.; Ângela Correia, coord,
Batracomiomaquia. Edição da tradução portuguesa de António Maria do
Couto, Lisboa, Bibliotrónica Portuguesa, Faculdade de Letras da
Universidade Portuguesa, Outubro de 2007, 1(http://www.fl.ul.pt/
dep_romanicas/auditorio/Bibliotronica/PDF/Batracomiomaquia.
pdf).
16 Batracomiomaquia, São Paulo, Humanitas, 2003, trad. de Fabri-
cio Possebon.

31
Pseudo-Homero

anteriores – ambas de inegável valor –, uma nova tradu-


ção da Batracomiomaquia em português de Portugal não
será de todo descabida.

5. Carácter paródico e fabular do poema



Todas adaptações ou imitações que acabaram de
ser referidas têm como fundamento principal o teor cla-
ramente paródico e fabular que define o poema. Não é
caso exclusivo deste texto, visto que várias outras obras
tinham também a convivência destes dois componentes,
como por exemplo a Galeomiomaquia (“A luta entre do-
ninhas e ratos”), mas, graças à importância dada pelos
Bizantinos à Batracomiomaquia, foi este o poema que per-
durou através de sucessivas cópias, impressões, tradu-
ções e imitações.
A adaptação dos elementos do mundo animal e
a sua personificação na Literatura remonta já a tempos
muito anteriores ao da composição desta obra. Na Li-
teratura Grega, o exemplo mais famoso é o de Esopo,
cujo corpus textual é exclusivamente formado por textos
desta espécie, constituindo por isso uma verdadeira base
de dados para os autores que posteriormente cultivaram

32
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

este género. Mas a originalidade de Esopo é bastante re-


lativa, na medida em que este gosto de atribuir aos ani-
mais características humanas existia já no Antigo Egipto
e terá sido por via oral que se disseminou pelas civiliza-
ções que contactaram com este povo. Para ter uma ideia
da importância deste aspecto na Cultura Egípcia, bas-
ta ter em conta a forma como entendiam a religião: os
deuses eram representados por meio de figuras animais
ou híbridas, sendo a relação entre o Homem e o divino
mantida pela mediação do mundo zoológico. Mas, apar-
te a religião, também já no Egipto havia representações
de guerras entre os animais, principalmente aqueles que
ainda hoje são canonicamente inimigos, e esse topos aca-
bou por ser também transmitido para a Cultura Grega
e, consequentemente, para toda a Europa. Segundo diz
West, “há representações de guerras entre ratos e gatos
desde o século XIV a. C.”17
Em relação aos ditos cânones das fábulas que es-
tabelecem, desde tempos remotos, os inimigos por ex-
celência entre os animais, a Batracomiomaquia parece
apresentar uma tradição invertida, na medida em que

17 WEST, M. L., op. cit. p. 230.

33
Pseudo-Homero

uma guerra entre rãs e ratos não cabe nesses moldes. Na


verdade, para o propósito do poema – colocar dois ad-
versários em confronto no campo de batalha – seria bas-
tante mais expectável que o poeta recorresse a um dos
modelos canónicos. Para compreendermos a causa desta
inimizade a partir da qual é montado o cenário e a trama
da narrativa, será necessário voltar a Esopo. Numa das
suas fábulas, há um rato que conhece uma rã que con-
vida para um banquete em sua casa; a rã, retribuindo o
favor, convida-o também a conhecer o sítio onde mora
– um lago. Visto que o rato não sabia nadar, a rã decide
atar um fio, unindo as patas dos dois animais, de modo
a ensiná-lo a movimentar-se na água; ao longo da atri-
bulada viagem, o rato apercebe-se do trágico fim que se
lhe afigura e avisa a rã de que a sua morte será vingada.
Assim foi: quando o rato, depois de morto, começou a
flutuar, veio um falcão que o agarrou e levou também a
rã que se tinha esquecido de se libertar da linha18. Parece,
portanto, que esta será a origem do episódio que abre
a Batracomiomaquia e que, consequentemente, dá origem
aos restantes acontecimentos.
18 Cf. PERRY, Ben E., Aesopica, Urbana, Univ. of Illinois Press,
1952, pp. 75-76.

34
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Tomada isoladamente, a vertente fabular do poe-


ma esgotaria a sua projecção para o real, na medida em
que as personagens tomariam uma dimensão puramen-
te alegórica, pois não poderia ser encontrado nenhum
referente directo; é, aliás, uma característica própria
das fábulas. Mas, se associarmos a este conceito o de
paródia, o texto passa de alegoria a metáfora e os seus
personagens e episódios podem ser identificados com
outras personagens e outros episódios particulares que,
neste caso, evidentemente encontram os seus referentes
na Ilíada.
A paródia àquele poema manifesta-se de variadís-
simas formas, desde aspectos formais, temáticos e mes-
mo através das próprias personagens; mas não é ao nível
dos pormenores que a paródia se manifesta; é sim de for-
ma geral e global. Não se trata de uma simples ridiculari-
zação de um texto através de outro texto nem tão-pouco
de um mero exercício cómico. Pelo contrário, parodiar
um texto é dar-lhe novos sentidos e permitir-lhe novas
interpretações; é enriquecê-lo; é, no fundo, um acto de
tradução hermenêutica. Os pilares principais que defi-
nem o texto de partida são adaptados, moldados e re-

35
Pseudo-Homero

feitos, permanecendo apenas a sua estrutura original; o


conteúdo com que esta estrutura é preenchida dá origem
a um novo texto que, ainda assim, precisa do anterior
para existir e fazer sentido. Prestando alguma atenção
à etimologia do termo “paródia”, esta relação obrigató-
ria que o texto forjado mantém com o texto parodiado
clarifica-se, se tivermos em conta que um dos vários sen-
tidos da preposição para- é “ao lado de”. Sabendo que o
canto (segundo elemento da palavra) na Cultura Grega
significava, entre outras coisas, o acto de produzir poesia
(entenda-se “textos literários”) ou então o produto final
desse acto – isto é, o texto em si –, “paródia” significará
um canto que foi produzido ao lado de qualquer coisa,
ou com qualquer coisa ao seu lado; essa coisa será o texto
de partida. Literal ou metaforicamente, o autor da Batra-
comiomaquia tinha a seu lado a Ilíada enquanto compu-
nha o poema. Partindo deste pressuposto, pode compre-
ender-se a paródia não como um género ou subgénero
literário, como tem sido entendida desde Aristóteles19,
mas sim como uma atitude perante um texto existente,
como o têm feito, com mais ou menos variações, Genette

19 Ar. Poet. 1448a.

36
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

e Hutcheon. O primeiro insere a paródia na sua concep-


ção dinâmica da Literatura, considerando-a um texto que
deriva de um outro por meio de um processo de trans-
formação, e chama-lhe hipertexto20. Quanto à segunda,
considera que paródia consiste numa imitação com dis-
tanciamento crítico cujo principal instrumento retórico
será a ironia21. De facto, no caso da relação entre estes
dois poemas em causa, há bastantes marcas de ironia do
texto de chegada em relação ao de partida. Tomemos,
por exemplo, a forma como é concebida a figura do he-
rói. Enquanto que, na Ilíada, os guerreiros são bravos e
corajosos, preferindo por vezes a morte honrosa à fuga,
na Batracomiomaquia a questão é bem diferente: quando
Calamíntio vê Pternóglifo na sua direcção para o matar,
em vez de o enfrentar como determina o costume épico,
deita fora o escudo e foge para o lago, a sua casa. Este
gesto de abandonar o escudo que depois de Arquíloco
(cf. Frg. 6 DIEHL) se tornou num topos recorrente – o fa-
moso relicta non bene parmula de Horácio (Carm. 2. 7. 10)
é um bom exemplo –, reconfigura o herói épico através
de traços puramente antiépicos, como o é a fuga, confe-
20 GENETTE, Gerard, Palimpsestes, Paris, Seuil, 1982, p. 14.
21 HUTCHEON, Linda, op. cit., pp. 47, 54.

37
Pseudo-Homero

rindo-lhe um individualismo que acaba por sobrepor a


vida a quaisquer virtudes heróicas.

6. Estrutura geral do poema

A Batracomiomaquia apresenta uma estrutura muito


clara e facilmente esquematizável, um pouco à imagem
de todos os poemas épicos. Segundo considera Esteban,
toda a obra se desenrola de forma tripartida, consideran-
do três grandes partes cada uma das quais com várias
subdivisões. A autora apresenta uma cuidada e minu-
ciosa análise no artigo que dedica a este assunto que,
sem dúvida, constitui o mais importante estudo que foi
realizado ao poema no que respeita às suas caracterís-
ticas estruturais22. É com base nesse trabalho que serão
apresentadas algumas breves considerações sobre essa
questão.
Como já foi dito, o poema divide-se em três partes
principais, sendo atribuída a cada uma das partes um
número aproximado de 100 versos perfazendo um total
também aproximado de 300. É admirável a simetria que
22 ESTEBAN, Alicia, “Ratones, ranas y dioses: el esquema
ternario de la «Batracomiomaquia»” in Cuadernos de Filologia Classica
– Estudios Griegos e Indoeuropeos, n.s. 1 (1991), pp. 57-71.

38
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

a obra apresenta, mas deveremos ter algum cuidado a


atribuir esta mestria de composição ao poeta; pelo que
foi referido a propósito da atribulada transmissão do
texto, é provável que ao longo dos tempos tenha havido
alguma manipulação que tivesse contribuído para esta
harmonia. Todavia, visto que todas essas incertezas não
passam disso mesmo, é preferível colocá-las de parte e
ter apenas em conta uma das versões que chegaram até
nós, que, apesar de manifestarem diferenças, apresen-
tam essencialmente a mesma estrutura. Prova disso é
que, apesar de a análise realizada por Esteban ter como
referência a edição de Ahlborn23, que data já de 1968, as
conclusões que nos apresenta são perfeitamente aplicá-
veis à edição de West, mais de 25 anos mais recente, sem
qualquer prejuízo de coerência.
A primeira parte do poema, o mesmo é dizer os
primeiros 100 versos, consiste sobretudo na exposição
dos acontecimentos que motivaram a guerra; mas antes
disso, como é regra numa epopeia, há lugar a uma in-
vocação às Musas e a um proémio que resume o enredo
da narração. Em seguida, é descrito o episódio baseado

23 AHLBORN, H., Der Froschmäuserkrieg, s/e, Berlim, 1968.

39
Pseudo-Homero

na fábula de Esopo já referida, em que ocorre o acidente


que vai determinar o fundamento temático do poema: a
guerra entre rãs e ratos.
A segunda parte estende-se pelos seguintes 100
versos e trata dos antecedentes do combate propriamen-
te dito, destacando-se o facto de a cada um dos interve-
nientes (activos – ratos e rãs – e passivos – os deuses)
ser dedicado o mesmo número de versos e uma mesma
estrutura narrativa: primeiro os ratos reúnem-se em as-
sembleia e, depois de terem decidido combater, prepa-
ram as armas e os guerreiros; as rãs reúnem-se também
e, depois da chegada do mensageiro com a declaração
de guerra, tomam as mesmas medidas de preparação do
exército; quanto aos deuses, que não combatem, é-lhes
dedicada uma cena de contemplação da disposição dos
exércitos que segue a assembleia.
Finalmente, a terceira parte, os últimos 100 versos,
consiste na narração da guerra que dura apenas um dia.
Durante este episódio, ocorrem cenas típicas de um com-
bate épico como as aristeias e os duelos entre guerreiros
em particular, mas há uma delas que, pelas semelhanças
que mantém com a Ilíada, merece um pequeno excurso

40
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

pela estrutura interna do poema: o armar do guerreiro.


Comparando as cenas nos dois poemas, é notória uma
sequência de disposição das armas que se mantém cons-
tante sempre que é utilizada. No caso da Ilíada, a sequên-
cia grevas, couraça, espada, escudo, elmo e lança aparece
no armar de Páris (3. 330-338), Agamémnon (11. 17-44)
e Aquiles (16. 130-147); quanto à Batracomiomaquia, o
armar dos ratos (124-131) e das rãs (160-164) seguem a
sequência grevas, couraça, escudo, lança e elmo. Além
das óbvias diferenças entre os materiais de que as armas
são feitas nos dois poemas, a sequência da sua colocação,
embora não idêntica, é bastante semelhante; além disso,
é evidente a preocupação em repetir exactamente o mes-
mo modelo.
Voltando à estrutura da Batracomiomaquia, quan-
do a batalha era favorável aos ratos, os deuses tornam
a reunir-se em assembleia, decidindo acabar com a cha-
cina; para isso, enviam os caranguejos que, pelo seu in-
comensurável poderio bélico, provocam o fim da guerra
sem que haja oportunidade para distinguir vencedores
de vencidos. Todos batem em retirada.

41
Pseudo-Homero

42
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Batracomiomaquia
A guerra das rãs e dos ratos

43
Pseudo-Homero

44
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Ao começar a primeira página, ao Coro peço que do

[Hélicon

desça até ao meu coração, por causa do poema

que acabo de escrever em tabuinhas que tenho sobre os

[joelhos,

jurando fazer chegar aos ouvidos de todos os homens

a incomensurável batalha, belicosa obra de Ares:

como os ratos conseguiram superiorizar-se às rãs

e imitar os feitos dos Gigantes, filhos da Terra,

segundo se dizia entre os mortais. Assim começou.

Era uma vez um rato sequioso – da ameaça de uma

[doninha escapara

há pouco – que na borda de um lago pôs o ávido focinho

para saborear a água doce como mel. Avistou-o

um ilustre e belo habitante do lago e disse-lhe estas palavras:

“Estrangeiro, quem és tu? Donde vieste para esta margem?

[Quem te gerou?

45
Pseudo-Homero

Conta toda a verdade; não me mintas, que eu descubro.

Se achar que mereces, levar-te-ei à minha casa

e presentes de hospitalidade te darei, muitos e valiosos.

Eu sou o Rei Fisígnato, que por todo o lago

é honrado pelas rãs como governante para sempre;

Meu pai Peleu me criou, ele que a Hidromedusa

se uniu em laços amorosos nas margens do Rio Eridano.

Vejo que também tu te distingues dos outros em beleza e

[bravura.”

Em resposta, disse Psicárpax estas palavras:

“Porque perguntas pela minha linhagem? É por todos

[conhecida.

Psicárpax é o nome que me dão. E sou filho

de magnânimo pai: Troxartes; e a minha mãe

é Licómila, filha do Rei Pternotroctes.

Pariu-me em Calibe e alimentou-me com restos,

figos, nozes e carnes de toda a espécie.

46
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Mas como me fazes teu amigo se não tenho natureza

[semelhante?

A tua vida passa-se nas águas, mas eu, por minha parte,

tenho o hábito de comer o que é próprio dos homens;

[não esqueço nunca

o pão duas vezes moído no redondo cesto,

nem a torta bem revestida com queijo e sésamo,

nem a fatia de presunto, nem o fígado com alva gordura,

nem o queijo-fresco feito com doce leite,

nem o delicioso bolo-de-mel que os bem-aventurados

[desejam,

nem quanto preparam os cozinheiros para o banquetes

[dos mortais,

enfeitando os pratos com temperos variados.

Não como rabanetes, nem couves, nem abóboras;

também não me alimento de alho-porro verde nem de aipo;

essas são as iguarias vossas, dos que habitam no lago.”

47
Pseudo-Homero

Perante tais palavras, Fisígnato sorriu e respondeu:

“Estrangeiro, muito te gabas pela barriga; também nós

[temos,

no lago e em terra, muitas coisas para contemplar.

É que existência anfíbia concedeu às rãs o filho de Cro-

nos,

para saltitarem em terra e na água esconderem o corpo.

Se quiseres também tu isto aprender, é fácil;

sobe para as minhas costas e agarra-te a mim para não

[escorregares,

de modo a chegares à minha casa são e salvo”.

Assim falou e ofereceu as costas; ele subiu rápido

e lançou as mãos ao delicado pescoço, em leve enlace.

Não foi assim que sobre o dorso carregou o fardo amado

o touro, quando sobre as ondas levou Europa para Creta;

o modo como a rã pôs o rato às costas e o levou para casa,

distendendo o corpo amarelado na água límpida.

48
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

E a princípio, alegrou-se o rato, próximas as margens,

deleitando-se com o nadar de Fisígnato. Mas quando

[começou

a ser inundado por purpúreas ondas, a chorar copiosamente,

censurou o vão arrependimento, arrancou o pêlo

e apertou o pés contra a barriga da rã. O coração

estremecia de inexperiência e regressar a terra;

gemia terrivelmente, coagido por gélido temor.

{A princípio, navegava sobre as águas, arrastando o rabo

como um remo, e pedia aos deuses que o levassem para

[terra.

Como se via inundado pelas sombrias águas, gritava

[muito.}

De repente, uma hidra apareceu – cruel visão para

ambos – de cabeça erguida fora da água.

Ao vê-la, Fisígnato mergulhou sem pensar que

abandonava o companheiro à destruição.

49
Pseudo-Homero

Mergulhou no fundo do lago e evitou o negro destino.

O outro, cuspido, caiu redondo de costas na água;

{e apertava as patas e chiava enquanto a morte o tomava.}

Muitas vezes mergulhou na água e outras de novo

emergiu a espernear, mas não conseguiu evitar a sorte.

O peso do pêlo molhado arrastava-o mais para o fundo.

E a desfalecer nas águas, proferiu as seguintes palavras:

“Não escaparás aos deuses, ó Fisígnato, pelo que fizeste,

alijando um náufrago do teu corpo como de uma pedra.

Não me serias superior em terra, detestável criatura,

no pancrácio, na luta e na corrida; mas pelo engano

me lançaste para a água. A divindade tem olho vingador:

pagarás o crime e ao exército dos ratos não escaparás.”

Assim falando, expirou nas águas. E viu-o, porém,

Licopínax que estava sentado nas margens verdejantes.

Deu um grito terrível, e correu a contar aos ratos.

Quando souberam o que se passara, tomou-os a todos

50
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

[uma cólera terrível.

Logo ordenaram aos arautos para, quando raiasse o dia,

convocarem uma assembleia para casa de Troxartes,

pai do infeliz Psícarpax, que algures no lago,

flutuava de costas com o corpo morto. Junto à margem não

se encontrava já o desgraçado, mas andava à deriva no

[meio do lago.

Quando, pela manhã, chegaram apressados, primeiro

[levantou-se

Troxartes, irado pelo que haviam feito ao filho e disse o

[seguinte:

“Amigos, ainda que só eu tenha sofrido os males

vindos das rãs, adivinha-se uma calamidade para todos nós.

Sou agora um infeliz, já que perdi três filhos.

O primeiro raptou-o e chacinou-o uma

odiosa doninha, ao apanhá-lo fora da toca.

O outro, arrastaram-no para a desgraça homens cruéis,

51
Pseudo-Homero

com inovações técnicas, ao inventarem a armadilha

[de madeira

a que chamam ratoeira – a perdição dos ratos.

E este agora, amado por mim e pela sua querida mãe,

foi afogado e atirado para as profundezas por uma vil rã.

Por isso, vinde, armai-vos e marchemos contra elas.”

Assim falando, convenceu-os todos a pegar nas armas.

Primeiro, ajustaram as grevas, feitas das duas partes

das favas verdes, divididas e bem trabalhadas,

que eles próprios tinham roído durante a noite.

Colocaram as couraças de pele de doninha

que tinham esfolado, cosendo-as cuidadosamente

[com junco.

O escudo era o centro de uma lucerna; a lança

era uma longa agulha, brônzea obra de Ares;

E o elmo era a casca de grão-de-bico na cabeça.

Assim estavam os ratos em armas. Quando tal perceberam,

52
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

as rãs saíram da água e, num lugar

convergindo, reuniram conselho de danosa guerra.

Enquanto inquiriam a causa da disputa

– ou que palavra usar –, aproximou-se um arauto com o

[bastão nas mãos,

Tiróglifo, filho do magnânimo Embasíquitro,

portador da nefasta declaração de guerra, e disse o seguinte:

“Rãs, os ratos enviaram-me para vos desafiar e dizer

que vos armeis para a guerra e para a luta.

É que eles viram na água Psicárpax, a quem assassinou

o vosso rei Fisígnato. Preparai-vos pois para a luta,

aqueles de que de entre as rãs se acharem os melhores.”

Estas palavras proclamou. O discurso nos ouvidos de todos

entrou e perturbou o espírito das rãs arrogantes.

Enquanto se queixavam, Fisígnato levantou-se e disse:

“Amigos, eu não matei o rato nem o vi

perecer; de certeza que se afogou enquanto se divertia

53
Pseudo-Homero

no lago, a tentar nadar como as rãs; e os malvados

agora culpam-me, inocente que sou. Mas vamos, um plano

busquemos para destruir esses ratos ardilosos.

Por isso, dir-vos-ei o que me parece ser o melhor.

O corpo adornemos todos com armas e tomemos posições

no alto das margens, onde o terreno é escarpado;

sempre que os nossos opositores se aproximarem

e nos atacarem, agarramos pelo elmo todo o que se nos

[depare e, de uma vez,

atiramo-lo para o lago para junto do companheiro.

E assim afogamos nas águas os que não sabem nadar

e em festa aqui levantemos o troféu raticida.”

Assim falando, convenceu-os todos a pegar nas armas.

Com folhas de malva as pernas envolveram

e colocaram belas couraças de beterrabas verdes,

e trabalharam bem as folhas de couve para os escudos;

prepararam para cada um uma grande lança aguçada

54
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

[de junco,

e elmos de finas conchas de caracol protegiam a cabeça.

Tomaram então posições defensivas no alto das margens,

brandindo as lanças, cada um a encorajar o outro.

Zeus, então, chamou os deuses ao céu cheio de astros

e mostrou-lhes a turba guerreira, os poderosos heróis,

numerosos e enormes, armados com grandes lanças,

a marchar qual exército dos Centauros ou dos Gigantes,

e sorrindo docemente, perguntou quem ajudava os

[batráquios e

quem dos imortais os ratos ajudava, e dirigiu-se a Atena:

“Filha, será que vais defender os ratos?

É que andam sempre a saltitar pelo teu templo, todos eles

a fruir da carne dos sacrifícios e de muitas outras iguarias.”

Assim falou o Crónida. E Atena respondeu-lhe:

“Pai, eu jamais os ratos que todos afrontam

iria socorrer, pois me causaram males sem conta,

55
Pseudo-Homero

estragando-me grinaldas e lamparinas, por causa do

[azeite.

Ofendeu-me ainda mais o espírito outra coisa que me

[fizeram:

roeram-me o peplo que eu tecera em trabalhos

de fina trama e um grande cinto, que eu fiara,

encheram-no de buracos. E agora o cerzidor não me larga

e reclama a paga – coisa horrível para os imortais.

É que mandei cerzir a crédito e não tenho com que pagar.

Mas nem mesmo assim quero ajudar as rãs:

também elas não são criaturas equilibradas, pois uma tarde,

quando eu voltava da guerra, extremamente cansada

e com vontade de dormir, com o barulho não me deixaram,

nem por um instante, pregar olho. E eu, sem dormir,

[fiquei deitada

e com dor de cabeça, até que o galo cantasse.

Por isso, evitemos, ó deuses, ajudar tais criaturas,

56
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

não vá algum de vós ser ferido por uma seta afiada:

são guerreiros destemidos, mesmo que seja um deus a

[enfrentá-los;

divertamo-nos todos a ver o combate aqui do céu.”

Assim falou; e os outros deuses aceitaram o conselho.

Todos em grupo se retiraram para um sítio

e logo os mosquitos, empunhando grandes trombetas,

fizeram soar o terrível clangor de guerra. Dos céus,

Zeus Crónida trovejou, presságio da funesta guerra.

Primeiro, Hipsíboas atingiu Liquenor com a lança

no ventre, na linha da frente, mesmo em cheio no fígado;

caiu de borco e ficou com o cabelo cheio de poeira.

Em seguida, Troglodites apontou a Peleu

a lança robusta e cravou-lha no peito; caindo por terra,

arrebatou-o a negra morte e a alma lhe voou do corpo.

Embasíquitro matou Seutlaio, atingindo-o no coração.

A dor arrebatou Ocímides, que trespassou com o junco

57
Pseudo-Homero

[aguçado

Troglodites no pescoço delicado, e de imediato tombou.

Nem a lança retirou ao aperceber-se que o inimigo

Crustófago se escapava: lança-se para as margens íngremes,

mas nem sequer na água desistiu; atingiu-o.

Ele caiu e não se levantou; o lago tingiu-se de sangue

purpúreo e Crustófago ficou estendido junto à arriba.

† Ocímides atirou-se-lhe às vísceras e aos brilhantes

[quadris.†

Na mesma margem matou ainda Tirófago.

Ao ver Pternóglifo, Calamíntio ficou aterrorizado,

e saltou para o lago em fuga, atirando fora o escudo.

A Higraio, aniquilou-o o venerável Embasíquitro,

ao atingi-lo com uma pedra na testa; o cérebro

escorreu-lhe pelo nariz e a terra ficou salpicada de sangue.

O venerável Borborocetes matou Licopínax,

arremessando-lhe uma lança. E a penumbra cobriu-lhe

58
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

[os olhos.

Quando Prasseio viu isto, arrastou o cadáver pelos pés,

afundou-o no lago, agarrando-lhe o calcanhar com a mão.

Então Psicárpax veio em defesa do camarada morto

e atingiu Prasseio antes que este pusesse um pé em terra;

caiu para a frente e a sua alma partiu para o Hades.

Ao ver tal coisa, Crambóbates atirou-lhe uma mão-cheia

[de lama,

que lhe cobriu o focinho e por pouco não o cegou.

E ele então, irado, pegou com a mão robusta

numa enorme pedra que jazia no chão, um fardo terrestre,

com que atingiu Crambóbates abaixo do joelho; toda

[fracturada ficou

a perna direita, e ele caiu de costas sobre a poeira.

Craugasides veio em sua defesa e logo se atirou a ele.

Acertou-lhe em cheio na barriga: pelo corpo dentro todo

o aguçado junco penetrou e por terra se espalharam todas as

59
Pseudo-Homero

[entranhas ao retirar a lança com a mão robusta.

Quando Sitófago viu isto na margem do rio

..................................................

Troxartes atingiu Fisígnato na ponta do pé;

foi o último a sair do lago e {a sofrer de forma atroz}

..................................................

retirou-se da batalha a coxear e a sofrer de forma atroz,

saltou rápido para a vala e evitou a total destruição.

..................................................

Quando Prasseio o viu avançar ainda meio-vivo,

atravessou as primeiras filas e arremessou-lhe o junco

[agudo,

mas não lhe rompeu o escudo que susteve a ponta da

[lança.

Porém, o excelente escudo de quatro cascas foi atingido

pelo divino Origânio, que ao próprio Ares se iguala,

e que, sozinho entre as rãs, se destacava na multidão.

60
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

..................................................

logo investiram contra ele; quando se apercebeu, não

[esperou

pelos poderosos heróis; mas mergulhou nas profundezas

[do lago.

Estava entre os ratos um de Meridárpax, que se distinguia

dos demais,

filho amado do nobre de Cnáison, ladrão de pão,

< que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .>

quando ia para casa, mas obrigou o filho a participar na

[guerra.

Ele próprio ameaçava que iria aniquilar a raça das rãs,

e não arredou pé dali, desejoso de combater com devoção.

Quebrou uma noz pela junta central em duas partes

e, como defesa, pôs as patas nas duas cascas vazias.

..................................................

e eles tiveram medo e rápido saltaram para dentro do lago.

61
Pseudo-Homero

E então o filho de Cronos teve pena das rãs dizimadas,

e acenou com a cabeça proferindo as seguintes palavras:

“Oh, obra tremenda a que tenho diante dos olhos;

{não pouco me surpreende Meridárpax, que, no lago},

irrompe, rápido, entre as rãs; quanto antes,

enviemos Palas notável no grito de guerra, ou mesmo Ares,

para que o retirem da batalha por mais bravo que seja.”

Assim falou o Crónida, mas Hera respondeu-lhe o seguinte:

“Crónida, não bastará a força de Atena nem a de Ares

para afastar das rãs uma cruel destruição.

Em vez disso, vamos todos em seu auxílio; ou tua arma

empunha, pois assim será esmagado o melhor dos

[guerreiros,

tal como outrora também mataste Capaneu, vigoroso varão,

e o grande Encélado, bem como a rude tribo dos Gigantes.”

Assim falou; e logo o Crónida, pegando no raio

[resplandecente,

62
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

{primeiro trovejou e o alto Olimpo fez tremer}.

Atirou-o em ziguezague e ele voou da mão do soberano.

Todos aterrorizou o arremesso, rãs e ratos;

mas nem assim desistiu o exército dos ratos; mas

[ainda mais

se empenharam em destruir a raça das rãs guerreiras.

E tê-lo-iam conseguido, porque era grande o seu ímpeto,

se o não percebesse logo o pai dos homens e dos deuses

{e se do Olimpo não tivesse tido pena das rãs o Crónida}.

Ele próprio enviou ajuda aos que pereciam.

De repente, chegaram criaturas de dorso couraçado, de

[garras recurvas,

com andar oblíquo e torto, com pele de conchas,

corpo duro como ossos, costas largas, reluzentes nos

[ombros,

pernas arqueadas, mãos como tendões, olhos no peito,

oito pernas, dois chifres, em número incontável. São

63
Pseudo-Homero

[chamados

caranguejos. Cortaram os rabos dos ratos com a boca,

cortaram os pés; as lanças vergavam.

Temeram-nos todos os ratos e não ficaram ali;

em vez disso, bateram em retirada. Punha-se já o sol

e a guerra de um só dia chegou ao fim.

64
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

65
Pseudo-Homero

66
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Índice dos Nomes


das Personagens

67
Pseudo-Homero

68
Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Índice dos nomes das personagens

Borborocetes (Βορβοροκοίτηϛ) – O do leito de lama.

Calamíntio (Καλαμίνθιοϛ) – Hortelã.

Cnáison (Κναίσων) – O que se coça.

Crambóbates (Κραμβοβάτηϛ) – O trepador de couves.

Craugasides (Κραυγασίδηϛ) – O que coaxa.

Crustófago (Κρουστοφάγοϛ) – O devorador de massa de

bolos.

Embasíquitro (Ἐμβασίχυτροϛ) – O visitante de caçolas.

Fisígnato (Φυσίγναθοϛ) – O de mandíbulas infladas.

Hidromedusa (Ὑδρομέδουσα) – Rainha da água.

Hipsíboas (Ὑψιβόαϛ) – O que grita alto.

69
Pseudo-Homero

Higraio (῾Υγραῖοϛ) – Nome derivado da palavra ῾Υγρόν,

que significa “humidade”.

Licómila (Λειχομύλη) – A lambedora de mós.

Licopínax (Λειχοπίναξ) – O lambedor de pratos.

Liquenor (Λειχήνωρ) – O lambedor de homens.

Meridárpax (Μεριδάρπαξ) – O ladrão de pedaços.

Ocímides (Ὠκιμίδηϛ) – O que se banha nas vasilhas.

Origânio (Ὀριγανίων) – Orégão.

Peleu (Πηλεὺϛ) – Uso cómico do nome épico Peleu, pai

de Aquiles, cuja palavra em Grego é muito semelhante

à que significa “lama” (πηλόϛ).

Prasseio (Πρασσεῖοϛ) – Alho-porro.

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

Psicárpax (Ψιχάρπαξ) – O ladrão de migalhas.

Pternóglifo (Πτερνογλύφοϛ) – O raspador de presunto.

Pternotroctes (Πτερνοτρώκτηϛ) – O mordedor de presunto.

Seutlaio (Σευτλαῖοϛ) – Beterraba.

Sitófago (Σιτοφάγοϛ) – O comedor de migalhas.

Tiróglifo (Τυρογλύφοϛ) – O furador de queijo.

Troglodites (Τρωγλοδύτηϛ) – O que se esgueira para os

buracos.

Troxartes (Τρωξάρτηϛ) – O roedor de pão.

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Pseudo-Homero

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Batracomiomaquia - a guerra das rãs e dos ratos

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