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Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE)

No pós segunda guerra mundial, que contou como vencedores os aliados, e


consequentemente os regimes democráticos, começou-se a apontar a necessidade de
criar uma estrutura política que garantisse a estabilidade no continente europeu e
uma união de países com direitos e deveres comuns, assegurando a liberdade de
circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais.

É dessa necessidade que nasce em 1951, através da assinatura do Tratado de Paris,


a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) com seis países fundadores: a
França, a Alemanha Ocidental, a Itália e os três países do Benelux (Bélgica, Holanda,
Luxemburgo).

Esta seria uma comunidade que assegurasse que, doravante, as divergências fossem
resolvidas à volta da mesa e nunca mais com armas na mão, sujeitando a produção
do carvão e do aço, que na altura eram materiais essenciais ao esforço de guerra, a
uma entidade comunitária e já não ao controlo nacional.

Posteriormente, mais precisamente 7 anos depois, na intenção de fomentar o


progresso económico, a liberdade e uma paz duradoura entre os estados vizinhos da
Europa, esta transforma-se na Comunidade Económica Europeia na sequência do
Tratado de Roma, assinado pelos mesmos estados membros, porém sofrendo vários
alargamentos ao longo dos anos.

Esta organização internacional tinha como objetivos a criação de um mercado


comum (união aduaneira), a definição de políticas comuns para a agricultura e a
pesca, a livre circulação de pessoas, bens e capitais e a cooperação económica,
cientifica e tecnológica, fundando instituições comuns para o desenvolvimento
económico.  

Nesta época Portugal era um país caracterizado por uma elevada taxa de pobreza,
muito baixas qualificações, forte inflação, desemprego, escasso desenvolvimento
tecnológico, débil dinamismo empresarial e carências na rede de comunicações.

Após o 25 de abril, que vem pôr fim à ditadura e a uma política económica em
desagregação, com enorme dependência externa de matérias primas, e a um poder
político contestado por uma população com más condições de vida e fraco poder de
compra, Portugal perdeu o mercado colonial e vê-se obrigado a centrar a sua atenção
no mercado europeu. Para isso foi necessária uma grande transformação a todos os
níveis.

É neste plano económico e social que Portugal vê na CEE uma mais valia para
consolidação da jovem democracia e da estabilização política, a promoção do
desenvolvimento da sua economia e o acompanhamento do processo de integração.

A proposta de adesão à CEE é formalmente entregue a 28 de março de 1977 pelo


primeiro-ministro Mário Soares.

Contudo, foi necessário ultrapassar diversas dificuldades através de processos


negociais que se arrastaram por oito anos e por oito governos. Sobre a mesa das
negociações estiveram questões relacionadas com o comércio, a agricultura, as
pescas e mesmo a emigração.
Deste modo a integração na CEE, que vê com apreensão a adesão de Portugal,
implicou várias mudanças ao nível da reformulação da legislação interna, a
liberalização dos movimentos de capitais, pessoas e serviços e a aplicação de
políticas   comuns.

Iniciado um período de negociações entre a CEE e o IV Governo Constitucional, o


primeiro-ministro fez uma viagem às capitais da CEE de forma a garantir o apoio
destes Estados-membro à candidatura portuguesa. Porém a maioria dos países da
Comunidade, apesar de algumas objeções, olhava para a candidatura de forma
favorável “Como novo país democrático, a Europa considerava que Portugal era um
elemento vital para a unidade de coesão europeia” , e, como tal, os restantes dez
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elementos da Comunidade Económica Europeia, após diversos diálogos, foram


acabando por aceitar a integração dos países da Península Ibérica assinando o acordo
de pré-adesão em dezembro de 1980.

A partir daí a economia portuguesa e o poder político vão ter como primeira
prioridade de política externa a adesão à CEE, verificando-se a partir de 1985 um
período de expansão da atividade económica.

É então, a 12 de junho desse mesmo ano, no Mosteiro dos Jerónimos, que é


assinado o tratado de adesão de Espanha e Portugal à Comunidade Económica
Europeia (CEE), culminando um processo de adesão que remonta a 1977. No entanto,
só a 1 de janeiro de 1986 Portugal passa a ser membro efetivo, oficializando o
terceiro alargamento do grupo europeu sendo a entrada do nosso país também
benéfica para a sua edificação da estrutura e estabilização enquanto organismo,
denominada União Europeia, a partir da entrada em vigor do Tratado de Maastricht
(1992).

Vários nomes figuraram no documento histórico, como o de Mário Soares, na época


primeiro-ministro, o de Rui Machete, vice-primeiro-ministro, Jaime Gama, Ministro
dos Negócios Estrangeiros, e Ernâni Lopes, responsável pelas negociações de adesão
de Portugal à CEE.                                                                  

Na altura, diante de um claustro recheado de 700 personalidades nacionais e


estrangeiras, discursaram Mário Soares, Jacques Delors, então Presidente da
Comissão Europeia, e Giulio Andreotti, presidente do Conselho das Comunidades
Europeias.                                                                                                                  
                                                                                                                             

A economia do país até então era baseada em baixos salários e mão-de-obra pouco
qualificada, em atividades de baixo valor acrescentado e reduzida intensidade
tecnológica.

A partir da adesão à CEE, Portugal deixa definitivamente de estar “orgulhosamente


só”, passando a ser reconhecido internacionalmente, a sociedade desenvolve-se, o
país infraestruturou-se com redes de transporte que reforçaram a coesão territorial e
foram essenciais para atrair investimento para o interior do país, criando empregos
que fixaram populações e evitaram o abandono, ainda maior, do território.

Porém, com a sua entrada na CEE foram impostas certas diretivas no domínio
legislativo que abrangem vários setores além do económico, como fiscalidade,
energia, ambiente.

Neste contexto Portugal recebe apoios de ordem técnicas e um largo de afluxo de


capitais no âmbito dos Fundos Estruturais que visam a modernização do setor
produtivo, e posteriormente do Fundo de Coesão, destinados a fazer com que o país
ficasse tão desenvolvido como os outros países da comunidade, o que não aconteceu,
sendo que especialistas referem que existiram “erros” na aplicação, havendo uma
aposta excessiva em infraestruturas, principalmente as rodoviárias (há 30 anos
Portugal tinha 167 quilómetros de autoestradas; hoje tem 3100).

Para além destes apoios, Portugal teve ainda ajuda de fundos para investir em
programas de desenvolvimento no setor agrícola (PEDAP), no setor industrial (PEDIP),
no emprego e formação profissional (PODAEEF), na criação de infraestruturas viárias
(PRODAC) e ainda na educação (PRODEF).       

O impacto destes fundos comunitários na economia portuguesa levam ao


crescimento significativo do PIB (as exportações aumentam, em volume e valor
acrescentado; amplia-se o grau de abertura da economia; cresce o peso do comércio
com os países da CEE, particularmente com a Espanha; etc.), ao aumento do número
de pequenas e médias empresas, ao crescimento do setor terciário (modernizando-se
a estrutura da economia), à diminuição do desemprego, à melhoria do nível de vida
das populações como consequência da melhoria das regalias sociais, como pensões e
subsídios de desemprego.

Concluindo, as duas datas, 12 de junho de 1985 e 1 de janeiro de 1986, registam


dois marcos que permitiram a consolidação da democracia portuguesa e o
desenvolvimento de múltiplas áreas, desde a agricultura, ao ensino passando pela
saúde, entre outras, através dos fundos estruturais europeus, os chamados fundos da
coesão organizados no Quadro Comunitário de Apoio (QCA), decisivos para o nosso
desenvolvimento econômico.

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