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FUTU Angola Cabo Verde

ROS Guiné-Bissau Moçambique

CRIATI
S ã o To m é e P r í n c i p e Timor-Leste

VOS
Índice
5 FUTUROS CRIATIVOS 72 Identidade e representação positivas
76 Um hub de inovação e tradição
9 ARTES PERFORMATIVAS
80 Já andam pelo mundo as galinhas
10 Um palco em movimento do Kikolo

12 Uma referência no cenário cultural 82 Karingana wa karingana


16 Elinga: acção, iniciativa, exercício 86 Machamba Criativa à procura
do que é novo
18 Uma referência nas artes cénicas
88 Mudanças “mínimas” com impacto
22 Amigos das crianças e das artes
90 Nina expõe também parcerias
26 Um quintal de música e gastronomia
92 Rui collection
31 Artes visua is
95 EDITORAS E LIVRARIAS
32 Valorizar as artes dos “quadradinhos”
96 Animação itinerante com crianças
34 Uma abordagem holística das artes e jovens

36 Fotografar, descobrir, 98 Uma associação, uma editora


comunicar e conhecer e uma livraria

40 Contar as suas histórias 102 Promover coisas boas


em maus momentos
44 Comunicação e arte
num pequeno paraíso 104 O futuro com as suas mãos
48 Transmitir valores culturais na arte 108 Da leitura compulsiva
a iniciativa de referência
50 Mais balas na arte menos balas na rua
52 As areias na construção 113 ESPAÇOS de EDUCAÇÃO
de expressões culturais e cultura

54 Diálogo e pensamento crítico 114 Formação artística
nas artes visuais e interdisciplinaridade

58 Irmãos unidos 116 De cabo verde para o mundo


60 Desenhar a história 118 Uma casa das artes, criação,
ambiente e utopia
62 Arte em movimento
122 Uma instituição pública
de referência
65 DESIGN E ARTEFACTOS
124 Uma aldeia cultural no meio
66 O valor social e económico da panaria de uma metrópole

70 A engenheira que se dedica à moda 128 Formar jovens para iniciativas


empreendedoras
130 O confronto de gerações, 190 As ideias do design sustentável
nacionalidades e linguagens na floresta

194 Produtos naturais


135 FESTIVIDADES 100% moçambicanos

136 O teatro popular do príncipe 198 Produtos da terra e do mar bijagó


140 Quando a Kavala se tornou rainha
201 SERVIÇOS CRIATIVOS
144 A inspiração crioula como
referência 202 O desafio da mudança social
146 A incessante procura de caminhos 204 O design e arquitectura
com função social
150 Tchiloli: sinónimo da palavra teatro
206 Uma cultura de projectos
inspiradores
155 MEDIA E TECNOLOGIAS
210 A ambição de formar 1000 jovens
156 Uma televisão para novas ideias em inteligência artificial

158 Soluções da tecnologia 212 Uma plataforma para conhecer


e qualidade de vida Luanda

160 Escrever uma nova história 214 Uma aposta na economia


africana solidária criativa

164 Estimular a indústria cultural 216 Mister Paul e a linguagem do riso


do país
220 N de negócios com marca CV
166 Cultura não é só entretenimento
224 Arquitectura e criatividade
172 Tv Klele: comunicar e formar
226 Formas de contar e partilhar
174 Emprego.co.mz histórias

228 O design em múltiplas áreas


177 PRODUTOS NATURA IS
E GASTRONOMIA
231 TURISMO SUSTENTÁVEL
178 Aloé-a-ver-o-índico
232 Gorongosa criativa e ecológica
180 O café como protagonista
234 Respeitar os princípios
182 Cosmética artesanal do ecoturismo
e extractos de Angola
236 Um negócio eco-sustentável
184 Sabores e aromas
de São Tomé e Príncipe
239 FICHA TÉCNICA
186 Slow Dilicious
188 Monte Café já produz biológico
5

FUTUROS
CRIATIVOS
Economia e criatividade em Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, São Tome e Príncipe
e Timor Leste é o tema de um conjunto de
actividades desenvolvidas pela ACEP, em parceria
com organizações e pessoas daqueles países,
ao longo dos últimos 4 anos, com o objectivo
de conhecer e valorizar a inovação e a criatividade
como factores de desenvolvimento e de que esta
edição é um dos resultados tangíveis.
Sabemos que a criatividade e a inovação estão
cada vez mais na base da valorização de recursos
endógenos e ate identitários, de descoberta
de novas soluções para uma multiplicidade de
desafios: referimo-nos em particular aos que
são colocados pela urbanização acelerada e pela
necessidade de criação de oportunidades para
jovens e maior igualdade na inserção das mulheres
no trabalho e nas comunidades, pela exclusão de
populações rurais envelhecidas, pela necessidade
de gerir os recursos de forma sustentada, de
valorização de culturas nacionais, recorrendo
as inovações da ciência e da técnica, pela
necessidade de construir bases de relacionamento
com o mundo mais equilibradas e justas.
No processo que desenvolvemos, com o apoio

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financeiro da Fundação Portugal- África e do


Camões – Instituto da Cooperação e da Língua,
o primeiro passo foi de procurar identificar e
valorizar em cada contexto nacional ou local,
os recursos e as soluções já disponíveis e tornar
o seu conhecimento acessível. Trocar ideias,
experiências, interrogações e sonhos é talvez uma
das formas que mais nos enriquecem, gerando
confiança e criando cumplicidades – um processo
de auto/inter capacitação, sem prazo definido.
Na definição proposta pela Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD), a economia
criativa é um conceito baseado nos recursos
criativos que potencialmente geram crescimento
e desenvolvimento económico. A economia
criativa é, então, entendida como um conjunto
de actividades, em que a criatividade, enquanto
capacidade de criar o novo ou de reinventar o
velho, se torna catalisadora de valor económico.
São bens e serviços que cruzam e exploram os
sectores artísticos, de serviços e industriais,
relacionando cultura, ambiente e tecnologia,
entre outros domínios, e tem uma forte ancoragem
no património cultural e de saberes tradicionais,
impulsionando desta forma novos negócios,
com base na cooperação e colaboração entre
diversos sectores e actores em diferentes escalas
e em diversos tipos e abordagens à economia
e a relação entre cultura e desenvolvimento
(indivíduos, associações, empresas, estados).
No entanto, não colocando em causa o potencial
7

da economia criativa como sector estratégico


para o desenvolvimento, devemos propor uma
reflexão mais cautelosa sobre a relação entre
cultura e desenvolvimento, sendo útil questionar
a racionalidade intrínseca da economia criativa na
sua valorização dos bens culturais, na medida em
que assumem valor de mercado e capacidade de
gerar riqueza, excluindo ou menorizando outros
benefícios intangíveis – o que é valor e como é
determinado? a cultura deve ser medida apenas a
partir da contribuição económica e não com base
em outras dimensões como a coesão social ou a
qualidade de vida em geral? e como medir estas
dimensões? – constituem algumas das questões
que podem ser colocadas.
O trabalho até agora desenvolvido apoiou-se
numa definição consensualizada entre as equipas:
economia criativa enquanto sector que permite
o desenvolvimento de actividades económicas,
suportadas pelo capital cultural, criativo e artístico;
transversal aos contextos culturais, artísticos,
sociais e económicos; englobando,
para alem da criatividade, diferentes dimensões
como a tecnologia e a geração de rendimentos
com diferentes impactos socioeconómicos;
e conferindo um caracter único aos bens e
serviços gerados.
Este é assim um processo de procura de respostas
para os desafios identificados e para a progressiva
construção de visões estratégicas, ainda
naturalmente escassas, num terreno onde
o intangível é, por definição, um recurso ilimitado.

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8
Artes
DESIGN & ARTEFACTOS 9

performa
tivas

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© JOÃO TUNA CEDIDA POR CDCA
ARTES PERFORMATIVAS 11

UM PALCO
EM MOVIMENTO
C o m pa n h i a d e D a n ç a C o nt e m p o r â n e a d e A n g o l a , A N G O L A

The Contemporary Dance Company of distinctive auteur features. The Company


Angola counts 26 years of dance history entwine history and culture in Angola as
and continues to reinvent itself, breaking an attempt to understand the universal
with a certain idea of “tradition” and issues such as pain, love, conflict, energy
conservatism, and building a collection and affects.
of aesthetic creations that possess

Com um percurso inovador e singular, pontualmente, artistas para efectuarem


a Companhia de Dança Contemporânea residências. São exemplos a partir de
de Angola acumula já 26 anos de história pesquisas em vários territórios, para
da dança sem deixar de se autorecriar. revitalizar a diversidade cultural de raiz
Num contexto artístico débil em políticas tradicional, A Propósito de Lweji (1991),
culturais, onde as artes performativas Uma frase qualquer… e outras (frases)
parecem reduzir-se ao teatro não (1997), Peças para uma sombra iniciada
profissional e às danças patrimoniais e outros rituais mais ou menos (2009),
e recreativas urbanas, a CDCA rompe Paisagens Propícias (2012), e Mpemba
com uma certa ideia de “tradição” Nyi Mukundu (2014) e (Des)construção
e conservadorismo, construindo um (2017). Mas para a CDCA a dança é,
espólio estético com características sobretudo, um meio de intervenção
específicas e de cunho autoral muito social, como evidenciam Mea Culpa
vincado. As suas propostas coreográficas (1992), Imagem & Movimento (1993),
confrontam o público trazendo as Palmas, por Favor! (1994); Neste País...
histórias e episódios do quotidiano (1995), Agora não dá! ‘Tou a Bumbar...
social, urbano e rural, onde o corpo (1998), Os Quadros do Verso Vetusto
e o movimento constituem o elemento (1999), O Homem que chorava sumo de
catalisador. A contemporaneidade da tomates (2011), Solos para um Dó Maior
Companhia reside nesse olhar atual (2014), Ceci n’est pas une porte (2016)
que cruza a história e a cultura com e O monstro está em cena (2018).
experiências extremas vividas em Além dos espectáculos, a Companhia
Angola, numa tentativa de compreender promove actividades diversas para
as questões universais da dor, amor, contribuir para a educação estética
conflitos, energia e afetos. do público. Os espectáculos já viajaram
Sob direcção da coreógrafa Ana por várias cidades africanas, americanas,
Clara Guerra Marques, a Companhia é europeias e asiáticas. Em 2017 foi-lhes
composta por 7 bailarinos, um produtor atribuído o Prémio Nacional de Cultura
executivo, um fotógrafo para a imagem e Artes no seu país.
e um ensaiador e figurinista, convidando,

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© RUI TAVARES

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ARTES PERFORMATIVAS 15

uma
referência
NO CENÁRIO
CULTURAL
C o m pa n h i a N ac io n a l d e T e at r o , C a nto e D a n ç a ,
S ã o To m é e P r í nc i p e

The National Theatre, Vocal Music and yet professionalized, the Company
Dance Company was created in 1987 plays an essential role in specialised
based on the experience of Mozambique. artistic training, in the national cultural
They perform shows adjusted to each scenario and in dissemination of national
context, either theatre, dance or a production at international level.
combination of both. Although not

A Companhia Nacional de Teatro, Canto como o FITEI (Festival Internacional


e Dança está integrada na Direcção Geral de Teatro de Expressão Ibérica, Porto,
da Cultura de São Tomé e Príncipe, Portugal) e têm colaborações com
e foi criada a partir da experiência grupos estrangeiros, como o grupo
da Companhia Nacional de Canto de teatro português O Bando.
e Dança de Moçambique. Tem por Realizam espectáculos em diversos
missão promover a formação superior formatos, que ajustam ao contexto,
em educação artística. A companhia de teatro, dança ou mistos. A companhia
de teatro foi criada em 1987, com um foi institucionalizada em 2004, abrindo-
primeiro grupo composto por 7 actores -se a possibilidade de profissionalização,
e actrizes e posteriormente, foi criada que contudo, ainda não foi concretizada.
a companhia de canto e de dança. Apesar disso, a Companhia tem um
Conta, na atualidade, com cerca papel incontornável na formação
de 12 elementos, todos artistas são- especializada em teatro, canto e dança,
-tomenses, 6 homens e 6 mulheres, na dinamização do cenário cultural
entre os 25 e os 60 anos de idade. são-tomense, e na divulgação da
Participam em eventos nacionais e produção artística nacional noutras
internacionais, incluindo em Festivais partes do mundo.
© ORLANDO GARCIA

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ARTES PERFORMATIVAS 17

ELINGA:
ACÇÃO,
INICIATIVA,
EXERCÍCIO
e l i n g a T E AT R O, A N G O L A

“Elinga” comes from the Umbundo a gallery with temporary exhibits;


language and means action, initiative, and training and dissemination. In 2018,
exercise. The association Elinga Teatro the Elinga Theatre and Arts Festival of
works in three areas: theatre, with theatre Luanda hosted 13 theatre groups from
and dance groups; visual arts, having three continents.

“Elinga” deriva do Umbundo: significa decorrem seminários, cursos, estágios


ação, iniciativa, exercício. O Elinga e debates de cariz cultural e onde se
Teatro foi criado em 1988, sendo editam conteúdos relacionados com
o sucessor de uma série de grupos as atividades realizadas pela associação.
de teatro que partilharam entre si o Actualmente, coexistem neste espaço
mesmo director artístico e uma parte o grupo de teatro Elinga, a companhia de
considerável do corpo de atores: o dança Mónica Ana Paz, o atelier Mwanby,
grupo Tchinganje (1975/76), o Xilenga- um cineclube, um grupo de capoeira,
Teatro (1977/80) e o Grupo de Teatro um bar, uma galeria de arte e um
da Faculdade de Medicina de Luanda auditório onde são realizados seminários,
(1984/1987). debates e formações.
Em 1999, foi constituída, formalmente, A Associação Cultural Elinga-Teatro
a Associação Cultural Elinga-Teatro, tem dinamizado, desde 2014, o Festival
uma associação sem fins lucrativos que Internacional de Teatro e Artes de Luanda
se desdobra em três vertentes distintas: ELINGA. Em 2018, ano em que o Grupo
a vertente teatral, que se materializa Elinga-Teatro celebrou o seu trigésimo
em vários grupos de teatro e de aniversário, o festival contou com a
dança, que aí desenvolvem as suas participação de 13 grupos de teatro
atividades; a vertente de artes plásticas, angolanos, cabo-verdianos, argentinos,
consubstanciada numa galeria para brasileiros, moçambicanos
exposições temporárias e a vertente e portugueses.
formativa e de divulgação, onde
© ORLANDO GARCIA

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“Paisagens Propícias”, 2013


© CEDIDO POR MINDELACT
ARTES PERFORMATIVAS 19

UMA
REFERÊNCIA
NAS ARTES
CÉNICAS
M I N D E L A CT, C a b o V e r d e

Mindelact association organizes on performing arts, promotes the


the international theatre festival development of skills for actors and other
“Mindelact”, well recognised at intervening agents, and also organise
national and international levels. The cultural exchanges in different regions
Association created and keep running of the world.
a documentation and research centre

A Mindelact é uma associação cultural, do teatro no país.


criada em 1995 no Mindelo, São Vicente, Em 1999 criou o Prémio de Mérito
Cabo Verde, a partir da paixão de um Teatral, atribuído no Dia Mundial do
grupo de pessoas pelo teatro. Teatro, para anualmente distinguir
Não existindo oferta cultural contribuições valiosas para o
nesta área, ou grupos organizados, a desenvolvimento das artes cénicas cabo-
Mindelact apostou na formação de -verdianas.
actores e actrizes, de agentes teatrais No quadro das parcerias
e de públicos. Neste sentido realiza, internacionais que tem criado ao
ao longo do mês de Março, iniciativas longo dos anos, realiza intercâmbios
diversas para celebrar o mês do e promove o desenvolvimento de
teatro, organiza o festival internacional competências de actores e de outros
de teatro “Mindelact”, que é já uma agentes ligados a esta área, em várias
referência nacional e internacional, partes do mundo, processo que se
edita livros e revistas ligadas ao tema tem traduzido na emergência de novas
e realiza formações especializadas. actividades profissionais, como a
Mantém em funcionamento o Centro sonoplastia e a iluminação cénica.
de Documentação e Investigação Teatral “O maior desafio é arranjar forma
do Mindelo, que recolhe, trata e divulga de ter sustentabilidade”.
documentação relevante para a história

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21
© CEDIDO POR MINDELACT

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© AUTOR DA FOTO
ARTES PERFORMATIVAS 23

AMIGOS
DAS CRIANÇAS
E DAS ARTES
N E TO S D O B A N DI M , G u i n é - B i ss a u

They are children and young people aged represent the Guinean culture. Netos
between 4 and 30, and they all share a de Bandim is a regular fixture of Guinea
passion for the cultural and traditional Bissau’s Carnival, the country main
arts of the different ethnic groups that cultural event.

São crianças e jovens entre os 4 a 30 em instrumento de sensibilização


anos de idade e todos têm uma paixão através da dança, música e teatro,
pelas artes culturais e tradicionais reunindo cerca de 120 associados
dos diferentes grupos étnicos que jovens, do Bairro de Bandim em Bissau.
representam a cultura guineense. As receitas provenientes das actuações
Os Netos de Bandim surgem da iniciativa revertem para a educação dos seus
da organização não-governamental associados e para o apoio em despesas
guineense Amigos das Crianças de saúde. Os Netos de Bandim são uma
(AMIC), em 2000, com o objectivo presença assídua no Carnaval, principal
de sensibilizar para a maior promoção manifestação cultural na Guiné-Bissau,
da cultura guineense, recolhendo e e já representaram o país na maior
divulgando elementos de expressão manifestação de carnaval do mundo
© ANITA WASIK

dos diversos grupos étnicos do país. - o carnaval do Brasil, entre outras


Rapidamente se transforma também presenças em eventos internacionais.

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12
© ANITA WASIK

“Paisagens Propícias”, 2013

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© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO


ARTES PERFORMATIVAS 27

UM QUINTAL
DE MúSICA
E GASTRONOMIA
Q U I N TA L DA M Ú S I C A , C a b o V e r d e

In the Platô, there is a unique “Quintal” known well beyond our national borders.
(literally, backyard). It was named There are many tourists who visit, besides
Quintal da Música, i.e., a privileged Cape Verdeans from Santo Antão to
space for promoting music from Cape Brava. We are always fully booked in
Verde. Dona Ália is at once manager, the high season”, Dona Ália says.
chef, and musical director:“ We are

No Platô, entre a Rua Pedonal e a considerada baixa, não temos de nos


Avenida Amílcar Cabral, situa-se um queixar, pois a casa esta sempre bem
Quintal, pertencente à Câmara Municipal composta.”.
da Praia, que em 2001 foi batizado com O Quintal emprega 16 pessoas, sem
o nome de Quintal da Música, ou seja, contar com os músicos que todos os dias
um espaço privilegiado de promoção ali atuam. Paga todas as suas despesas,
da música cabo-verdiana, através de faz investimentos periódicos para
lançamento de novos talentos. Em 16 manter a nível dos serviços e aposta sem
anos de funcionamento, na base de uma reservas na qualidade, tanto a nível da
combinação perfeita entre a música música como a nível da gastronomia.
ca e gastronomia, tem vindo a cumprir Para a dona Ália o aspeto material
o seu papel na promoção da música e/ou financeiro não deixa de ser
cabo-verdiana, homenageando artistas importante para a própria dinâmica
consagrados do panorama musical cabo- e crescimento do empreendimento.
-verdiano como o Bana, a Cesária, o Mas o mais importante é amor pelo
Ildo Lobo, a Tututa, o Manuel de Novas, que faz e gosta de fazer, associado ao
entre outros, e lançando novos talentos significativo contributo que tem vindo
musicais como Maira Andrade, Tcheka, a dar para a cultura em geral e música
Mário Lúcio, Princezito, Terezinha cabo-verdiana em particular.
Araújo, Vadú, Neusa, Lucibela, Assol O Quintal é a sua paixão, o seu mundo,
Garcia e outros. a sua vida. Os artistas que ajudou
O Quintal funciona na base de uma a lançar são os seus filhos que hoje
programação semanal, que inclui trios, atuam maioritariamente na diáspora,
bandas e batuco. A dona Ália, acumula em espaços muito maiores, com outros
as funções de gestora do Quintal com as públicos, e como uma agenda cheia,
de chefe de cozinha e diretora musical: sem tempo para regressar ao Quintal.
“Somos conhecidos além-fronteiras. Mas apesar da distância física estão
Muitos são os turistas que nos visitam, sempre presentes através de telefonemas
para além dos cabo-verdianos de Santo periódicos, de publicações que fazem
Antão à Brava. Estamos sempre cheios nas suas páginas, nas redes sociais,
na época alta, com gente à espera apara recordando e ajudando a promover
encontrar um lugar. Mesmo na época o Quintal cada vez mais.

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© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

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artes
DESIGN & ARTEFACTOS 31

visuais

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ARTES VISUAIS 33

VALORIZAR
AS ARTES DOS
"QUADRADINHOS"
A L B E R TO F O R T E S , C A B O V E R D E

Alberto Fortes is an illustrator and creating vectorial illustrations, digital


designer from Cape Verde. He uses both paintings, storyboards. Alberto Fortes
“artcraft” approaches and resources, takes pleasure in making his art available
like ink and paper, and digital resources, to children, teenagers and adults.

É um ilustrador / designer freelancer clientes entre as principais instituições


cabo-verdiano. Trabalha nesta área do Estado e empresas de referência no
desde 2011, mas recorda que sempre país, dedicando-se à ilustração e design
gostou de desenhar e de aprender: a tempo inteiro.
“decidi aprender design para melhorar as Os seus principais projetos são “sair,
minhas habilidades”. Nos seus trabalhos especializar-se em artes visuais, abrir um
utiliza quer as abordagens e recursos atelier de arte aqui em Cabo Verde e de
“artesanais”, tinta e papel, quer os seguida uma editora de publicação de
recursos digitais, criando ilustrações banda desenhadas e contos.”
vetoriais, pinturas digitais, storyboards… Considera que faz falta uma
© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

Tem gosto em criar produtos nacionais associação de ilustradores e designers,


no ramo das artes de “quadrinhos”, livros até para ajudar a valorizar esse trabalho
de contos, e outros, e em colocar a sua em Cabo Verde. E “é preciso criar
arte ao dispor do público infanto-juvenil uma lei de regularização do mercado
e adulto. Utiliza as diversas plataformas das artes visuais e gráficas aqui em
digitais para divulgar o seu trabalho e tem Cabo Verde.”

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ARTES VISUAIS 35

UMA
ABORDAGEM
HOLÍSTICA
DAs artes
A R T E D E G E M A , M o ç a m b iq u e

Visual artist Gemuce created Arte in communication, negotiating on behalf


de Gema in 2016 as a gallery and art of artists, and producing exhibitions.
agency. It follows a holistic approach, Gemuce envisages developing projects
as space for exhibiting and selling, or of artistic residency and local and
renting, art work; and providing services international exchanges.

A Arte de Gema, criada em 2016, Trabalham para clientes particulares,


é uma galeria e agência de artes fundada artistas, ONG e Estado, divulgam as
pelo artista plástico Gemuce, na obras, artistas e serviços nas suas redes
continuação de um projecto de há alguns de contatos nacionais e internacionais,
anos. A ideia surgiu pela constatação participam em eventos, utilizam os media
da necessidade de criar espaços que tradicionais e a Internet. Têm parcerias
separassem arte e artesanato (como com pessoas de referência no sector
era comum haver na cidade) e, além cultural, como Rafael Mouzinho (artista
disso, da vontade de representar artistas plástico) ou Mauro Pinto (fotógrafo) e
em feiras e eventos internacionais: com entidades privadas e públicas como
“representamos e actuamos no contexto o Centro Comercial Marés e o Ministério
moçambicano e na valorização do da Cultura.
património artístico e cultural local”. A galeria Arte de Gema ambiciona
Por outro lado, os fundadores alargar o número de artistas
constataram que faltavam espaços para representados, desenvolver projectos
apoiar os artistas nas suas actividades de residências artísticas e intercâmbios
e procedimentos. locais e internacionais, ajudar os artistas
A Arte de Gema segue uma abordagem na valorização dos trabalhos, através de
holística à actividades artísticas, sendo workshops e sessões de recomendação.
um espaço de exposição e venda ou Para tal consideram fundamental
© VANESSA RODRIGUES

aluguer de obras de arte, prestando a aplicação da Lei do Mecenato, a


serviços de agenciamento artístico, divulgação estruturada de artistas e a
comunicação e produção de exposições, formação de públicos ou seja, um maior
contando com uma equipa de 5 pessoas. investimento no setor.

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36

© BERNARDINO SOARES
ARTES VISUAIS 37

FOTOGRAFAR,
DESCOBRIR,
COMUNICAR
E CONHECER
B E R N A R DI N O S OA R E S , T i m o r - L e st e

Bernardino Soares starts from his a company, in 2012, that provides


country’s and family’s history to transform services in photography, video-making,
it in conceptual art, and understands and training. He promotes activities
photography as a form of painting. After with youths, cultivating photography as
studying photography in Indonesia, a way to know the world and to share
Bernardino Soares decided to open experiences.

Bernardino Soares parte da história fundar uma empresa que presta serviços
do país e da família para as transformar nas áreas de fotografia (artística, de
em arte conceptual, entendendo a eventos, documental), vídeo e formação.
fotografia como uma pintura. Recorda A experiência na área, as competências
que quando era criança sempre brincou especializadas, o estudo e pesquisa
com a máquina fotográfica do pai. A arte permanentes têm contribuído para
apareceu na sua vida pela dança criativa manter a sua atividade e os clientes
no Centro de Juventude Padre António nacionais e internacionais.
Vieira, experiência que abriu caminho Na área da formação, tem dinamizado
para se conectar com a sua sensibilidade actividades com jovens, promovendo
e conceptualidade, interrogando-se a fotografia como meio de expressão,
como transformar sentimentos em de conhecer o mundo e como meio
algo visual. No secundário costumava de partilha de experiências. Tem como
fotografar com amigos e decidiu ir objectivos, a edição de um livro de
estudar fotografia para a Indonésia. fotografia e a produção de exposições
Quando regressou a Timor-Leste individuais, nacionais e internacionais,
começou a trabalhar como fotógrafo a promoção da fotografia no país e a
para as Nações Unidas, onde aprendeu educação de novos fotógrafos: “Na
muito sobre fotografia, vídeo documental fotografia “temos de estar livres, abertos
e “final arts”. à imaginação, e ser um pouco loucos.”
Em 2012 Bernardino Soares decidiu

f ut u r o s c r i at i v o s
© BERNARDINO SOARES

f ut u r o s c r i at i v o s
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© CEDIDA POR BETTY REIS


ARTES VISUAIS 41

CONTAR
AS SUAS
HISTÓRIAS
DE VIDA
B E T T Y R E I S , T I M O R - L E ST E

Betty Reis started her acting career more receptive to watching films than to
with the Bibi Bulak group. In 2010, she reading; they identify with the characters
founded the association Dili Film Works and take joy in listening to stories about
with José da Costa and Gaspar Sarmento. their lives”. A dream of hers is to make
Betty is the author of the first feature film a feature film with staff from East Timor
from East Timor and, through her art, only, for which she already has written
she aims to communicate with the whole the script.
population: “people from East Timor are

Começou como atriz de teatro no grupo filme no Festival Internacional de Cinema


Bibi Bulak, vindo a tornar-se diretora do da Índia e também dois prémios na
grupo, onde ministrou várias formações Sociedade Cinematográfica Australiana.
de teatro a crianças e jovens. Entre 2015 e 2016 participou como
Em 2009 teve a primeira experiência produtora na curta-metragem “Criança
com o mundo do cinema com um papel Roubada”, e na série “Laloran Justisa”
no filme “Balibo 5” de Robert Connolly. como realizadora. Está atualmente a
Em 2010 participou na primeira novela realizar uma curta-metragem chamada
timorense “Wehali”. Nesse mesmo ano, “Hapara”.
criou com José da Costa e Gaspar Betty procura através da sua arte
Sarmento a associação Dili Film Works. cinematográfica comunicar com toda
Nessa altura fez uma formação em a população: “a comunidade timorense
audiovisual durante um ano, e, durante está mais receptível a ver filmes do que
a formação, realizou o documentário a ler, identificam-se com os personagens
“Manufutu” (luta de galos). e alegram-se de ouvir as suas histórias
Pela Dili Fim Works já realizou mais de vida”, afirmou a realizadora.
quatro curtas-metragens e passou a Tem o sonho de realizar uma longa-
ser a diretora da ONG, cuja missão é -metragem apenas com staff timorense,
contribuir para o desenvolvimento da para a qual já escreveu o argumento.
indústria cinematográfica em Timor-Leste. Betty Reis é um exemplo de uma mulher
De 2011 a 2012, esteve a realizar a criativa que contribui com a sua arte para o
primeira longa-metragem timorense em desenvolvimento, criando e desenvolvendo
conjunto com Luigi Acquisto, o filme histórias e filmes que abordam temas
“A Guerra de Beatriz”. Este filme ganhou relevantes para Timor-Leste.
o Pavão de Ouro na categoria de melhor

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© CEDIDA POR BETTY REIS

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© DÁRIO PARAÍSO
ARTES VISUAIS 45

COMUNICAÇÃO
E ARTE NUM
PEQUENO
PARAÍSO
D Á R IO PA R A Í S O, S Ã O TO M É E P R Í N C I P E

Dário Paraíso is a photographer, graphic Pequeno Paraíso”. In Dario’s view, the


designer and visual artist. Born in Lisbon, country growned significantly in the past
in a family from São Tomé e Principe, few years, from a very traditional society
Dario moved to the island in 2014, where to one where the new technologies play
he established his own brand “Dário an increasingly prominent role.

Dário Paraíso é um fotógrafo, designer na área do marketing e da comunicação,


gráfico e artista visual português filho Dário Paraíso é também artista visual.
de santomenses. Dário nasce em Lisboa Produziu, em 2009, o documentário
em 1991 e emigra para São Tomé em “OMALI VIDA NÓN” (Mar nossa vida)
2014. Em São Tomé e Príncipe cria a sua e participou, em 2017, na realização
marca, “Dário Pequeno Paraíso”. da curta-metragem “MINA KIÁ”.
Para o designer gráfico, São Tomé “Ilhando” é o nome da exposição
tem crescido de forma significativa nos que apresentou, em 2017, na Casa
últimos anos, tornando-se cada vez mais das Artes Criação Ambiente e Utopias
global e transitando de uma sociedade (CACAU). “Ilhando” procura mostrar
muito tradicional, com meios limitados ao mundo a beleza e liberdade que
e pouco acesso à informação, para uma São Tomé e Príncipe emana, através
sociedade na qual as novas tecnologias de imagens. Em 2018, no âmbito de
desempenham um papel cada vez um projecto colaborativo entre para
mais preponderante. Nota-se, por ONGs santomenses e outra portuguesa,
parte as empresas são-tomenses, uma realizou uma exposição fotográfica sobre
preocupação crescente em transmitir a mulheres de São Tomé e Príncipe, em
sua identidade e os seus objetivos através paralelo com um de livro de histórias de
da imagem e do marketing. mulheres santomenses, recolhidas pela
Para além do trabalho que desenvolve jornalista portuguesa Ana Cristina Pereira.

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© DÁRIO PARAÍSO
© DÁRIO PARAÍSO
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ARTES VISUAIS 49

TRANSMITIR
VALORES
CULTURAIS
nA ARTE
D O M I N G O S LU Í S A , C a b o V e r d e

Domingos Luísa is a self-taught Now Domingos Luísa devotes his time


scenographer, painter and sculptor from exclusively to art, and his customers
Cape Verde. His interest in the visual include some of the main national public
arts emerged during a trip to Guinea institutions. The International airport of
Bissau, where he had first-hand contact São Vicente Island home to his statue of
with sculptures by local craftsmen. Cesária Évora.

Domingos Luísa é um cenógrafo, pintor criadas no atelier que possui em casa.


e escultor cabo-verdiano, autodidata. Na área da escultura, destaca-se a
O seu interesse pelas artes plásticas estátua criada por si, de Cesária Évora,
surgiu após uma visita à Guiné-Bissau no aeroporto internacional que serve a
onde pode contactar com o trabalho ilha de São Vicente e que tem o nome da
de escultura de artesãos guineenses. cantora. Dedicando-se exclusivamente
Decidiu então fazer algo semelhante no às artes, tem como clientes algumas das
seu país, em finais dos anos 1970. Desde principais instituições públicas do país,
aí tem procurado transmitir valores e tendo obras de sua autoria espalhadas
princípios culturais através das suas obras, um pouco por todo o país.
© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

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© VANESSA RODRIGUES
ARTES VISUAIS 51

MAIS BALAS
NA ARTE
MENOS BALAS
NA RUA
G O N Ç A LO M A B U N DA , M O Ç A M B IQ U E

Gonçalo Mabunda is a well-known museums in multiple countries in the


Mozambican sculptor who uses war world, Gonçalo Mabunda envisages
remnants in his country for his creations: to create a “street university”, where
“more bullets in art, fewer bullets in homeless children can learn the multiple
the streets” is his motto. Having works ways to use recyclable materials to
in private collections, galleries and create art.

Gonçalo Mabunda é um conhecido da mecânica e soldadura e superior.


escultor moçambicano que cria a Sendo um artista integrado em redes
partir dos despojos da guerra no país. internacionais de arte contemporânea,
“Comecei a trabalhar no Núcleo de vende os seus trabalhos através de
Arte e usava restos de tintas dos meus galerias, eventos e por contato direto.
colegas”, conta, lembrando o seu As suas esculturas fazem parte de
percurso de 14 anos nas artes, e do catálogos de arte contemporânea
início na Casa da Avenida Karl Marx, editados por instituições de referência,
1834. Hoje Mabunda tem obras em sendo hoje um artista reconhecido
coleções privadas, galerias e museus em nacional e internacionalmente. Entende
diversos países do mundo. Está presente que a dinamização das artes no país
nomeadamente, na 111 Lisboa Galeria; requer o desenvolvimento do mecenato.
Tilandia Galeria; Jack Bell; Etho Gallery, Mabunda ambiciona criar uma
entre outras. “universidade da rua” que permita a
O seu material de eleição é o ferro: crianças em situação de rua aprender
“Eu pinto com ferro, ensino com ferro a diversidade de formas de utilizar
e vivo com ferro”, que combina com o materiais recicláveis para criar arte.
lixo da guerra “ mais balas na arte menos Continuará a expor, a participar de
balas na rua”. No seu atelier emprega residências artísticas e intercâmbios
quase uma dezena de pessoas com em Moçambique e noutros países.
formação em artes e ofícios, nas áreas

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ARTES VISUAIS 53

AS AREIAS
NA CONSTRUÇÃO
DE EXPRESSões
CULTURA is
G U I L H E R M E C A R VA L H O, S Ã O TO M É E P R Í N C I P E

Guilherme Carvalho is a visual artist that work evoke the country’s daily life, its
uses natural sands as a raw material for peoples, experiences, landscapes and
producing wall pictures and cards. His colours, as forms of cultural expression.

Guilherme Carvalho é um artesão exposições em diversos espaços culturais


e artista plástico são-tomense, nascido de São Tomé e no exterior, destacando-
em 1970. Usa areias naturais como -se as exposições individuais no Centro
matéria prima na composição de quadros Cultural Francisco José Tenreiro, S. Tomé
e postais. As suas obras remetem para (1993); Teia d’Arte, S. Tomé (2002);
o quotidiano santomense, para as gentes, Alliance Française , S. Tomé (2004 ),
vivências, paisagens, cores, formas Akerby Herrgard Nora, Suécia (2010),
de expressão cultural dos santomenses. CACAU - Casa de Arte Cultura Ambiente
Realiza trabalhos para instituições e e Utopias , São Tomé (2013 ), Leve Leve
empresas nacionais, incluindo o Banco – Casa da Nostalgia (São Tomé) e Casa
de São Tomé e Príncipe, e tem obras Museu da Taipa . Macau. (2017).
espalhadas pelo seu país e pelo mundo, É membro da comissão gestora
vendidas a colecionadores de Angola, da Casa da Cultura de São Tomé e
Gabão, Cabo Verde, Portugal, Espanha, Príncipe e ao longo do seu percurso tem
Suíça, França, Holanda, Alemanha, participado de encontros, workshops
Suécia, Noruega, Brasil e EUA. de formação em técnicas de pinturas,
© ORLANDO GARCIA

Para o futuro, ambiciona criar uma desenhos, no país no estrangeiro.


galeria de arte. Divulga o seu trabalho também através
Guilherme Carvalho tem realizado da internet e redes sociais.

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ARTES VISUAIS 55

DIÁLOGO
E PENSAMENTO
CRÍTICO nAS
ARTES VISUAIS
J A H M E K C O N T E M P O R A R Y A R T, A N G O L A

Jahmek Contemporary Art gallery opened about visual arts, hosting exhibitions
its doors in early 2018, in an old soft that reveal the dynamics of Angolan
drinks’ factory, in Luanda. According contemporary art and the artists views
to one of its founders, Jahmek aims to about country’s history and daily life.
promote dialogue and critical thinking

A galeria Jahmek Contemporary Art procurou representar, metaforicamente,


abriu ao público no início de 2018, a história dos quarenta e três anos de
numa antiga fábrica de refrigerantes, independência do país, filtrada pelo
na Rua dos Coqueiros, em Luanda. olhar do artista, engajado artística, social
O espaço procura promover, segundo e politicamente.
os seus fundadores Mehak e Jardel Vieira, Em 2019, a Jahmek Contemporary Art
o diálogo e o pensamento crítico em apresenta a exposição de Kiluanji Kia
torno das artes visuais em Luanda. Entre Henda, “Concrete Blues”. O artista olha
os artistas que aí expõem o seu trabalho, criticamente para a política angolana
encontram-se os angolanos Tiago do pós-independência, e retrata o
Borges, Kiluanji Kia Henda, Délio Jasse, quotidiano daqueles que vivem na
Nástio Mosquito e a alemã Iris Buchholz cidade de Luanda, evidenciando, através
Chocolate. da fotografia, fenómenos de exclusão
A galeria tem acolhido exposições e de desigualdade, que contrastam e
que revelam o dinamismo da arte convivem com processos de acumulação
contemporânea angolana, e o olhar dos de capital.
artistas para a história e o quotidiano do Para além das exposições e
país. Em 2018, Délio Jasse apresentou conferências que dinamiza, a galeria
“Nova Lisboa – a imagem versus a oferece serviços de advising buying e
amnésia colectiva”. Neste trabalho, o de intermediação para colecionadores.
© VANESSA RODRIGUES

artista reutiliza fotografias da cidade do Entre os seus principais clientes


Huambo, batizada pelo regime colonial encontram-se colecionadores de arte,
português, em 1928, como Nova Lisboa. compradores singulares e empresas.
O trabalho do artista angolano centra- A Jahmek é assim um espaço de
se, em grande medida, na relação entre referência para a arte contemporânea
a fotografia e a memória. A exposição / angolana, e para a sua divulgação
instalação de Yonamine, “N’gola Cine”, internacional.

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© ORLANDO GARCIA
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© ORLANDO GARCIA

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© ANITA WASIK
ARTES VISUAIS 59

IRMÃOS
UNIDOS
I S M A E L E L E M O S DJ ATA , G U I N É - B I S S A U

Ismael and Lemos Djata are brothers as express feelings and a contribution
well as visual artists, and they created the to energise the culture of Guinea Bissau,
group Irmãos Unidos. (Brothers United). where the visual arts still have little room.
Gradually, painting became a way to

Ismael e Lemos Djata são irmãos e França, Bélgica, Espanha). Como


artistas plásticos. Começaram por pintar “Irmãos-Unidos” foram galardoados
cabaças, no início dos anos 2000. como melhores jovens pintores do ano
Criaram então o grupo “Irmãos Unidos”. em Bissau, em 2005, tendo recebido
A pintura foi-se tornando uma forma prémios e distinções por organizações
de expressão de sentimentos, da Polónia, de Portugal e da diáspora
e uma contribuição para a dinamização guineense.
da cultura guineense. Nesse sentido, Sentindo que as artes plásticas têm
engajaram-se na Associação de Artistas ainda pouco espaço na Guiné-Bissau,
Plásticos, onde Lemos Djata tem exercido procuram divulgar o seu trabalho num
funções como presidente. Ao longo espaço de exposição coletivo em Bissau,
do seu percurso têm apresentado o onde apresentam o seu trabalho,
seu trabalho em exposições individuais com outros artistas plásticos nacionais,
e colectivas na Guiné-Bissau, em ambicionando uma maior divulgação
diversos países africanos (Cabo Verde, internacional.
Senegal, Egipto) e europeus (Portugal,

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© VANESSA RODRIGUES
ARTES VISUAIS 61

DESENHAR
A HISTÓRIA
J U ST I N O C A R D O S O, M o ç a m b iq u e

Justino Cardoso is a Mozambican northern Mozambique. Justino Cardoso


illustrator, having published his first work, would like to open a school/workshop
“Afrika”, in 1978. Ever since, he has for children. He considers that more
become prominent in book illustration investment is necessary in supporting
and comics books in Nampula, in structures for artists

Justino Cardoso é um ilustrador É possível encontrar obras suas


moçambicano. Fez a primeira publicação em lojas, livrarias e na loja do Museu
em 1978, “Afrika”, e desde então tem Nacional de Etnografia. Faz também
se destacado na ilustração e banda venda direta a clientes, e por
desenhada em Nampula, cidade a encomenda. Procura divulgar o seu
norte, mas também no resto do país. trabalho nos media, em feiras, e eventos.
Ao longo da sua carreira, já realizou Olhando para o panorama artístico
várias exposições e tem os seus trabalhos nacional e local, entende ser necessário
editados em livros como “Moçambique mais investimento nas estruturas de
1498”, “ Os Macuas de Moçambique”, apoio a artistas, sugerindo a criação
“Lenda Maconde” e “ Guebuza: de entidades de gestão direta das artes.
Desenvolver Moçambique”. Para o futuro, gostaria de criar um
Procura assim, contribuir para a atelier-escola para crianças.
redução das assimetrias na divulgação
da história através dos livros.

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© MARTA LANÇA
ARTES VISUAIS 63

ARTE
EM MOVIMENTO
M O V ’ A R T, A N G O L A

MOV’ART is na art gallery that started countries. The gallery also works on
with a pop-up approach, a movement corporate curatorship and contemporary
concept, to promote Angolan artists arts consultancy and promotes cultural
by exhibiting their works in Luanda’s events, art residencies and social
emblematic places, as well as in other programmes.

A MOV’ART é uma galeria de arte em arte contemporânea, organiza


angolana fundada em 2014 na cidade eventos culturais, programas sociais e
de Luanda. Iniciou o seu percurso com residências artísticas. Essa diversidade
o conceito pop-up, um conceito de de iniciativas está alicerçada em redes
mobilidade, que adotou para promover colaborativas nacionais e internacionais,
os artistas angolanos, exibindo as com galerias e agentes culturais que
suas peças em locais emblemáticos partilham os seus objetivos. Mantendo
da cidade bem como em cidades de um olhar atento para o panorama cultural
outros países. No início do ano de do continente e do mundo têm como
2017, após 15 exposições realizadas, missão “especializarmo-nos na arte
a galeria abriu o seu espaço físico em contemporânea dos PALOP e diáspora.
Luanda, apresentando obras de arte Perspetivamos, enquanto galeria e
contemporânea de artistas angolanos projeto, promover os nossos artistas
e lusófonos através de exposições e a arte e cultura de Angola
bimestrais. e consequentemente africana,
Desde então, a MOV’ART participou pelo mundo. Acreditamos aqui existe
em várias feiras internacionais de arte potencial e valor artístico em Angola,
em Nova York, Londres, Miami, Cidade e em toda África.”
do Cabo e Joanesburgo entre outros. Consideram contudo que: “É inevitável
Representando artistas africanos de referir que necessita de acontecer um
língua portuguesa o projeto da MOVART “boom” cultural e educacional para que
assenta em quebrar estereótipos, possa haver um maior conhecimento e
mostrando um lado da cultura africana acesso a tudo o que se faz no continente
que é pouco conhecido para o resto africano e no mundo, principalmente no
do mundo. sector artístico e não só”, reconhecendo
No âmbito da promoção e divulgação a necessidade de maiores apoios das
de artistas e da arte contemporânea instituições para facilitar o acesso
angolana, a MOV’ART presta serviços à cultura e a divulgação internacional
de curadoria corporativa, consultoria da arte angolana e africana.

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design
DESIGN & ARTEFACTOS 65

e
arte
factos

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© CEDIDA POR ARTISSAL
DESIGN E ARTEFACTOS 67

O VALOR
SOCIAL
E ECONÓMICO
DA PANARIA
ARTISSAL, Gu iné-Biss au

The pinti fabrics are used traditionally the quality of raw materials and work
in the most important ceremonies processes (that now include also
in the lives of the local communities. women). Artissal integrates fair trade
Artissal began researching and retrieving networks and created local cooperatives
ancient materials and design patterns to ensure fairer prices.
and weaving practices, while bettering

Fundada em 2004, a Artissal é uma socialmente considerada, às mulheres.


associação guineense que trabalha na Com o propósito de melhorar a
recuperação e valorização da panaria dinâmica de produção e a geração de
guineense. Os panos de pinti (de renda para os artesãos e artesãs, estes
pente, o tipo de tear utilizado) são estão organizados em cooperativas e
tradicionalmente utilizados nas mais numa federação: a Cooperativa Bontche,
importantes cerimônias da vida das em São Paulo, Bissau, a Cooperativa
pessoas e comunidades, principalmente Djaguimobilar, em São Domingos
de etnia pepel e manjaka, e a sua e a Federação Sitna Bissif, em Cacheu.
produção é habitualmente realizada A Artissal procura integrar estes grupos
por homens, a partir de conhecimentos em redes nacionais e internacionais de
e técnicas ancestrais, transmitidos comercialização solidária, contribuindo
entre gerações. para a divulgação da panaria tradicional
A Artissal tem desenvolvido, ao longo guineense no país e no mundo e para
dos anos, um trabalho de pesquisa a comercialização dos produtos por um
e recuperação de materiais e padrões valor justo.
antigos, de práticas de tecelagem A qualidade da panaria, e dos produtos
e de modelos de teares, introduzindo com ela confeccionados, produzidos no
elementos de melhoria, quer na atelier da Artissal, tem sido reconhecida
qualidade das matérias primas quer por entidades nacionais e internacionais
na qualidade dos processos de trabalho. que são parceiros da organização, e que
Tem igualmente dinamizado grupos de têm contribuído para continuidade do
mulheres tecelãs, de etnia papel, que projeto, nomeadamente a cooperação
participam de grupos de formação com europeia.
artesãos, abrindo assim esta atividade,

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© ANITA WASIK

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DESIGN E ARTEFACTOS 71

A Engenheira
que se dedica
à moda
B & F, G U I N É - B I S S A U

Nérida Fonseca is a young electronics is Nérida’s passion for fashion and for
engineer who, in 2014, decided to create Guinea Bissau. The products were very
a company for fashion and decoration well received, even in the absence
accessories with a contemporary design of a marketing strategy, creating the
based on traditional elements – the successful commercial dimension of the
pinti fabric. The origin of this activity company.

Nérida Fonseca é uma jovem engenheira elementos foi bem-sucedida graças à


informática que trabalha para uma sua capacidade enquanto autodidacta
grande empresa internacional de e ao aprendizado da costura no meio
telecomunicações presente na familiar, o que lhe permitiu aliar o design
Guiné-Bissau. Em 2014, decide criar contemporâneo ao saber tradicional do
a sua própria empresa, a Batista pano de pinti. Inicialmente, tudo o que
& Fonseca, que se dedica à produção confeccionava era ou para uso exclusivo
e comercialização de acessórios de na própria casa ou para dar presentes
moda e decoração a partir de aos amigos e conhecidos. A recepção
elementos tradicionais da cultura que as diferentes peças tiveram no
guineense - o pano de pinti. Este artigo, mercado, mesmo sem uma estratégia
tradicionalmente associado às cerimónias de divulgação planeada, foi determinante
fúnebres e matrimoniais das etnias pepel para a formação da dimensão comercial
e manjaca, adquire novas formas actual. O seu negócio tem atraído
e funções nas criações de Nérida. nacionais e estrangeiros, e a localização
A origem da actividade? A paixão estratégica do espaço de comercialização
da Nérida pela moda e pela sua – aeroporto de Bissau - permite que
© ANITA WASIK

Guiné-Bissau, a sua terra.“É um gosto as suas criações sejam “conhecidas


pessoal”, afirma. A junção destes dois e reconhecidas além-fronteiras”.

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© VANESSA RODRIGUES
DESIGN E ARTEFACTOS 73

IDENTIDADE E
REPRESENTAÇÃO
POSITIVAS
C H I B A I A , M O Ç A M B IQ U E

Cláudio Lobo is the backstage mentor The capulana, a traditional fabric,


of the brand name Chibaia. He was is reinvented in stylised, especially
born in New York but lives in Maputo in female and male coats. “We are
nowadays, after having studied design in focused on projecting a positive image
Washington. The brand name Chibaia was of Mozambique, giving a example
inspired by his family’s original name, as to a new generation”.
a way to recover its Mozambican identity.

Cláudio Lobo é o mentor dos bastidores o nome de uma localidade em Tete).


da marca Chibaia. Nasceu em Nova Nessa altura, o estilista começou a
Iorque, oriundo de uma família transformar casacos, criando formas
moçambicana de professores da com capulana. O negócio começou
província da Zambézia. É filho de pai a alavancar e a ganhar expressão.
diplomata e mãe com formação na área “No princípio, os principais clientes
financeira. Formou-se em Marketing, em eram sobretudo estrangeiros, mas nos
Comércio Internacional e, mais tarde, últimos anos temos tido um público
em Design. Cresceu em Washington, mas de compradores moçambicanos, jovens
hoje vive em Maputo. Depois de terminar de classe média”, afirma.
o curso de Design, começou a trabalhar Hoje, tem já uma loja perto do
em Publicidade na agência DDB. Chegou centro de Maputo, onde a capulana
a ter uma empresa de comunicação, é reinventada em bolsas estilizadas,
mas a crise económica fechou-lhe as calções, tops, t-shirts, mas sobretudo
portas. Em 2013, mandou fazer um em casacos femininos e masculinos
casaco forrado com capulana a uma de variadas formas. “Quero contribuir
costureira. O produto foi de tal forma para a valorização do património
um sucesso que Cláudio começou a ter material e a sua utilização, através da
vários pedidos. Percebeu que a ideia se capulana, criando uma identidade e
poderia transformar num negócio. uma representação”, ressalva o criador.
A marca Chibaia nasce, assim, “por “A aposta é em projectar uma imagem
acaso”, e inspirada no nome original positiva de Moçambique, dando exemplo
da família, como forma de resgatar a a uma nova geração de emprego
identidade moçambicana. (O avô de e, ainda, contribuir para suprir as
Cláudio foi professor na época colonial necessidades do mercado em vestuário
e, por isso, teve de adotar um nome de alta qualidade, cem por cento
português: “Lobo”, deixando cair o moçambicano”.
sobrenome Chibaia, que é também

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© VANESSA RODRIGUES
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© VANESSA RODRIGUES

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© CEDDIA POR EMPRESA DI’AK


DESIGN E ARTEFACTOS 77

UM HUB DE
INOVAÇÃO
E TRADIÇÃO
E M P R E Z A D i ’ a k , T I M O R - L E ST E

The Empreza Di’ak, which means “good with traditional arts and crafts. The Ataúro
business”, is a local NGO whose mission Centre, a business hub, was conceived
is to design, implement and manage as a space for pilot projects, training,
social businesses. It works with local and as an arts and crafts shop, supporting
communities with a holistic approach, 20 groups in their income-generating
from training and mentoring, fostering activities.
knowledge and techniques associated

A Empreza Di’ak, Bom Negócio, e espaço de formação), onde apoia


traduzido à letra, é uma organização vinte grupos comunitários que geram
não governamental local dedicada rendimento a partir de artesanato e da
a desenvolver, implementar e gerir produção e transformação de produtos
negócios sociais. Foi criada em 2011 e naturais. Este apoio é realizado através
tem como objectivo quebrar o ciclo de de formação, de aconselhamento
pobreza em Timor-Leste e fomentar a criativo, de gestão e de marketing,
capacitação dos Timorenses, sobretudo de incentivo à produção e à aposta
das mulheres. na qualidade, e da facilitação ao acesso
Esta ONG trabalha com diversas ao mercado. A Empreza D’iak dinamiza
comunidades de Timor-Leste numa há dois anos consecutivos a Feira de
perspectiva holística, desde a oferta Artesanato de Ataúro, que conta com a
de formação em diversas áreas até participação dos grupos da ilha apoiados
ao desenvolvimento e “mentoring” de pela organização, bem como outros
modelos de geração de rendimento, grupos, cooperativas, diversas ONG’s
tanto através da criação de micro- e empresas que operam em Ataúro.
negócios (ex. quiosques, lojas de roupa Nesta aposta no empreendedorismo
em segunda mão, venda de combustível, social e no empoderamento económico
criação de patos, produção de pão/ dos grupos mais vulneráveis (sobretudo
bolos, etc...), como na valorização o feminino) os principais contributos
e recuperação de técnicas e saberes da Empreza Di’ak são a abordagem
tradicionais na área do artesanato ao mercado, a criação de formas
e do património cultural, tornando-os alternativas de rendimento, a introdução
formas de criação de rendimento para de inovação em produtos tradicionais
as comunidades através do acesso e o desenvolvimento de novos produtos,
ao mercado. sendo desta forma um agente promotor
Em 2015 inaugurou o Centro de Ataúro e facilitador da inovação
(“hub” de negócios, espaço para testes e do desenvolvimento.
e projetos pilotos, loja de artesanato

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© CEDIDA POR EMPRESA DI’AK

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DESIGN E ARTEFACTOS 81

JÁ ANDAM
PELO MUNDO
AS GALINHAS
DO KIKOLO
G a l i n h a s d O K i ko lo , A N G O L A

The group Galinhas de Kikolo (Kikolo papier maché. Nowadays, the well-
chickens, literally) was born out of -known Kikoko Chickens are available
a small family cluster that included in shops in Luanda, or in arts and crafts
people with physical disabilities. After markets. And these artefacts continue
a workshop on painting, collage and to ensure the integration of people
paper recycling techniques, they began with physical disabilities from Kikolo, a
producing animals with hand-painted neighbourhood in the periphery of the city.

O Grupo de Artesanato Galinhas de de Luanda, pobre e com baixos índices


Kikolo, de Luanda, surge a partir de um de escolaridade.
pequeno núcleo familiar, constituído, As famosas “Galinhas do Kikolo” estão
em parte, por pessoas portadoras de disponíveis em lojas pela cidade, no
deficiências físicas e que começa por, Aeroporto Internacional de Luanda, em
em 2008, reciclar caricas de garrafas. feiras de artesanato, e por encomenda.
Em 2011, a ONG Grupo Amizade em A notoriedade nacional e internacional
Angola dinamizou, com esse grupo, das “Galinhas” tem crescido, e nos
uma formação em técnicas de pintura, últimos o governo angolano adquiriu
colagem, utilização de papier maché obras ao grupo para exibir em várias
(papel amassado com água) e reciclagem exposições no estrangeiro, como no
de papel. O domínio destas técnicas Pavilhão Angola da “Expo-Milão”, em
permitiu-lhes começar a produção de 2015, ou no “Afrifest”, em Houston.
animais feitos a partir de papier maché, Simultaneamente, o Grupo foi
destacando-se as galinhas pintadas à mão. reconhecido pelo Ministério do Ambiente
Atualmente, trabalham 16 pessoas de Angola pelo seu trabalho no âmbito
no Grupo de Artesanato das Galinhas da reciclagem e da sustentabilidade
do Kikolo, 9 das quais portadoras de ambiental.
deficiências motoras. Esta iniciativa Futuramente, o Grupo de Artesanato
tem permitido garantir a integração Galinhas do Kikolo ambiciona criar uma
no mercado de trabalho de pessoas cooperativa ou empresa para poder
portadoras de deficiências físicas do exportar os seus produtos, e abrir uma loja
bairro de Kikolo, uma zona periférica própria no centro da cidade de Luanda.
© ORLANDO GARCIA

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DESIGN E ARTEFACTOS 83

KARINGANA
WA
KARINGANA
K A R I N G A N A WA K A R I N G A N A , M O Ç A M B IQ U E

In the Ronga language, “Karingana wa through fabric”. They found out that
karingana” is an expression used to Mozambique’s most famous fabric
begin a story, similar to “once upon a – capulana – was imported. So they
time”. In Maputo, it is also the name of decided to establish a brand whose
a brand that combines contemporary patterns were exclusive and producing
design with traditional African fabrics: for small designer brands.
“Our brand name’s DNA is to tell stories

Na língua ronga, Karingana wa karingana um produto 100% moçambicano.


é a expressão que dá início a uma Criaram o negócio como resposta ao
história, equivalente ao “era uma vez” facto de a venda de tecido de capulana
em português. Em Maputo, é também se limitar a um mínimo de 300 peças,
o nome da marca que alia o design o que representa um entrave ao trabalho
contemporâneo aos tecidos tradicionais das marcas de pequena dimensão.
africanos, cujos desenhos são inspirados Decidiram, assim, criar uma marca cujos
em contos tradicionais. desenhos fossem criações exclusivas e
“O ADN da nossa marca é contar que produzisse a quantidade necessária
histórias com o tecido”, explicam as para essas pequenas marcas, ao mesmo
criadoras Djamila Sousa e Wacy Zacarias tempo que apostavam num produto
sobre as estampas que desenham para 100% nacional.
tecidos e superfícies. “Isso tem muita “A nossa maneira de olhar o design e
simbologia”, realçam, explicando que o processo criativo em si [é inovadora]”,
falam de “acontecimentos actuais, atestam. Em que sentido? “Porque
histórias desconhecidas em África”. Wacy olhamos a ideia de mudar narrativas:
e Djamila conheceram-se em 2014. Um o narrar uma história e torná-la um
ano depois, era uma vez uma empresa. tecido e um acessório”. Inovam,
Elas tinham acabado de regressar da também, no uso de diferentes matérias
Alemanha, onde estiveram a estudar primas e técnicas, ao utilizarem, por
moda sustentável e desenvolveram exemplo, folhas de bananeira, plástico
© VANESSA RODRIGUES

trabalhos sobre tecidos africanos, reciclado ou restos de capulanas


sustentáveis e de luxo. Descobriram desaproveitados por outras empresas
que o tecido mais famoso de Moçambique para recriarem produtos. “O objectivo
– a capulana – era importado e queriam é [que seja] cada vez mais ecológico”.

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© VANESSA RODRIGUES
© VANESSA RODRIGUES

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© VANESSA RODRIGUES
DESIGN E ARTEFACTOS 87

MACHAMBA
CRIATIVA
À PROCURA
DO QUE É NOVO
M ac h a m b a C r i at i va , M o ç a m b iq u e

Machamba Criativa is a design space for textiles, as well as painting and illustration
artists, to enable them to increase their techniques. Machamba Criativa also
income, and to promote arts’ training provides services such as representing
and development. In this space, one can artists and producing events.
find design pieces using cow horns and

A Machamba Criativa, criada em 2017, Para além do contato direto com


é um espaço de design localizado no o cliente no espaço, a Machamba
Centro Cultural Francês - Moçambicano comercializa os trabalhos dos artistas
que surgiu de uma ideia e necessidade, através de intermediários, em feiras
a de permitir aos artistas disporem de e online. Procura marcar presença em
espaços de promoção permanente que eventos, utilizar a Internet e as redes
permitam aumentar as suas fontes de sociais e a publicidade nos media
rendimento, incentivar a educação e o tradicionais para divulgar produtos,
desenvolvimento das artes. Aqui podem artistas e artesãos.
encontrar-se produtos de design com Apresentando-se como parte de
chifres de boi, design e produção “um conjunto novo de actores que
a partir de derivados de têxteis, pintura se propõe desenvolver as áreas em
e ilustração de obras em aguarela. que trabalhamos” querem desenvolver
A Machamba Criativa presta igualmente produções baseadas na Machamba,
serviços de representação de artistas dinamizar um programa de formação,
(designers, escultores, etc.), produção criar um atelier, desenvolver uma
de eventos no sector das artes, publicação de arte e design e atuar
divulgação e representação de artesãos, na formação de públicos. Neste
apresentando-se como um espaço sentido, consideram fundamental
alternativo, com exigências de qualidade. ampliar os contatos no interior do meio
“Representamos artistas e damos artístico, valorizar o ensino das artes
mais-valia aos trabalhos; estamos e o engajamento na cultura através da
permanentemente à procura da implementação da Lei do Mecenato e da
novidade artística”. criação de espaços de divulgação comum.

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DESIGN E ARTEFACTOS 89

MUDANÇAS
"MÍNIMAS"
com IMPACTO
Mus a & co, Angola

A duo of young Angolans opened the create unique decoration and accessory
workshop of Musa&co in the outskirts of pieces. They work with local natural fibres
Benguela. Concerned with ethical and (e.g., banana leaves) in collaboration
environmental sustainability issues they with people from local communities.

Esta dupla de jovens angolanos qual trabalham é de produção local


instalaram o seu atelier na periferia de assim como a mão-de-obra, tentando
Benguela (num terreno onde funciona empregar mais pessoas à medida que
uma carpintaria) e é partir de lá que o negócio floresça e haja condições.
se criam peças únicas de decoração No momento contam com a participação
e acessórios, produzidas por artesãos de três colaboradores, jovens na
e com preocupações éticas e de faixa etária dos 20 anos sem grandes
sustentabilidade ambiental. perspectivas profissionais mas com força,
Os fundadores do Musa & co. técnica e determinação para desempenhar
não podiam ser mais complementares: as suas novas funções ao mais alto nível.
à paixão por têxteis e formação em A preocupação com o impacto
design sustentável (em Londres) de Sofia ambiental está tanto nas práticas de
Mateus juntou-se a visão vanguardista trabalho como nos aspectos sociais.
para negócios sustentáveis de cariz Faz parte do projeto de Musa&co.
agrícola de Ivan Morais. Juntos criaram sensibilizar para os problemas ambientais,
a marca Musa & co., um projecto tendo consciência que estes estão
norteado, acima de tudo, por valores intrinsecamente ligados aos problemas
e respeito pela natureza. sociais de Angola. Assim, o blog Minimal
Os produtos são realizados a partir pretende “incentivar e ajudar à adesão
de fibras naturais (nomeadamente da de uma rotina simples realçando o valor
bananeira) e através de métodos não de mudanças “mínimas” mas de grande
invasivos. Desde a produção à extração, impacto nesta viagem a que chamamos
tratamento e processamento das vida e divulga de forma leve e simples
fibras, procuram trabalhar num ciclo dados e dicas que podem ajudar a mudar
o mais autónomo possível de uso e e melhorar o nosso dia a dia”. Promovem
reaproveitamento de material mitigando conversas sobre o Ambiente nas redes
os desperdícios e o impacto ambiental. sociais, onde abordam temas como o
O nome da marca encaixa perfeitamente plástico nos oceanos, a caça furtiva e
na noção de “inspiração” e sendo a o comércio ilegal de marfim. Defendem
© CEDIDA POR MUSA&CO

exploração de fibra de bananeira o motor que a responsabilidade do combate aos


do projeto (para quem desconhece problemas ambientais é certamente dos
“musa” é o nome científico da planta). governos mas igualmente de todos
Toda a matéria-prima a partir da os cidadãos.

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DESIGN E ARTEFACTOS 91

NINA EXPÕE
TAMBÉM
PARCERIAS
M I S S A N G A DA N I N A , M O Ç A M B IQ U E

Born in Ilha de Moçambique, Nina artists: “The sculptures are made by an


attempts to reinvent different languages artisan who works with me for a long
for jewelry and clothing making. time; the pieces in blackwood, I buy
She works with artisans, and at her shop them directly from the artisans; as for the
one can find both her original work and Mussiro root, someone collects it for me”.
the result of partnerships with other

Amina Amade Cássimo, mais de feiras em Maputo, apostava em


conhecida por Nina, trabalha com formação e em formar parcerias. “Por
artesanato há mais de 20 anos. Natural exemplo, chegaram até a contratar
da ilha de Moçambique, começou por uma designer de África do Sul, a meu
confeccionar roupa para ela e para a pedido, para trabalhar comigo.” Nina
irmã, ao mesmo tempo que também ia foi trabalhando cada vez mais, tentando
experimentando fazer bijuteria. Diz que novas abordagens criativas a materiais,
é “autodidata e curiosa” e que sempre tentando reinventar as diferentes
se interessou por “experimentar novos linguagens para a bijuteria e para o
materiais”. Começou a fornecer alguns vestuário. “Estamos a produzir roupa e
produtos à então proprietária da loja bijuteria na loja e a fazer remodelação
de artesanato na ilha - que hoje é sua de mobiliário antigo”, enumera.
- e viajava muitas vezes para Maputo A artista trabalha com vários artesãos
para ir vender. Explica: “eu ia de porta- independentes e projeta ideias em
em-porta às instituições culturais como desenhos para que eles fabriquem
embaixadas, centros culturais, etc, as peças.
ia vendendo e tive algum sucesso.” Na loja, encontramos quer trabalhos
Em 2000, a proprietária da loja de originais, quer resultados de parcerias
artesanato propôs-lhe que ela ficasse com outros artistas locais: “As esculturas
com o espaço. Ela comprou a loja. de barro é um senhor que trabalha
Depois, chegou a participar de algumas comigo há muito tempo. O pau preto
© VANESSA RODRIGUES

feiras de artesanato em Maputo. Levava são peças que compro diretamente aos
peças feitas em bordado tradicional artesãos. As peças utilitárias eu desenho
e capulanas. Começou a colaborar e depois fazem. O Mussiro é um senhor
com alguns organismos na promoção que trabalha comigo que recolhe.”

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© CEDIDA POR RUI CARVALHO


DESIGN E ARTEFACTOS 93

Rui
Collection
R U I C A R VA L H O, T I M O R - L E ST E

“Rui Collection” is the fashion brand areas, thereby enhancing female and
of Rui Carvalho. He uses the traditional rural livelihoods. He experienced some
tais fabric as raw material to produce resistance on his choice to use tais, but
clothing (high fashion), footwear and his talent and resilience gradually won, and
accessories. Rui Carvalho buys tais from now 80% of his clients are from East Timor.
small community groups in different

Rui Madeira de Carvalho é um jovem quer como oferenda em cerimónias


estilista timorense que estudou Artes tradicionais (casamentos, funerais, rituais
em Bandung (Indonésia), mas aprendeu de base animista, entre outros).
costura de forma autodidata. Os tais, utilizados nas coleções,
Aquando do seu regresso a Timor-Leste, são comprados a pequenos grupos
e enquanto trabalhava em ONG’s, comunitários de várias zonas do país,
começou a produzir acessórios e roupa. incentivando assim o emprego feminino
O que inicialmente era uma atividade e rural (no mínimo 30 mulheres) e Rui
secundária, veio a tornar-se em 2013 Carvalho dá, ainda, formação sobre
o início de um negócio próprio: a Rui qualidade e autenticidade do tais.
Collection. Esta marca de moda usa o No início da sua atividade criativa,
tais como matéria-prima por excelência o estilista deparou-se com alguma
para produzir vestuário (alta-costura), resistência da parte da comunidade
calçado e acessórios. nacional e urbana no uso desta matéria
O tais, enquanto tecido tradicional prima para outros fins que não os
de Timor, é manufaturado por mulheres tradicionais. Inicialmente a procura era,
em teares horizontais com o recurso sobretudo, por estrangeiros, porém o
à técnica de tecelagem e tingimento seu talento e resiliência foi conquistando
passada de geração em geração nas gradualmente os timorenses, sendo hoje
famílias, sobretudo nas áreas rurais. Este em dia 80% da clientela. Rui Carvalho
tecido é usado como vestuário nas áreas é também um artista muito solicitado
rurais e têm um caráter simbólico cultural em eventos de promoção de Timor-Leste
excecional, quer como herança familiar, no estrangeiro.

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Editoras
DESIGN & ARTEFACTOS 95

e
livra
rias

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EDITORAS E LIVRARIAS 97

ANIMAÇÃO
ITINERANTE
COM CRIANÇAS
E JOVENS
A b ut , T i m o r - L e st e

Abut is an East Timorese publisher activities in communities around Dili.


focused on books for children and “All the work we carry out, we do it so
youths between 2 and 14-years old. as not to focus only on tasks but also to
The publisher has an itinerant library, foster family and community participation.
“Tiga Roda” (three wheels), which is We create products that take into account
also an instrument to promote cultural the local reality and local needs”.

A Abut é uma editora timorense na escola. Todas as aprendizagens são


especializada em livros para crianças realizadas de forma criativa e prática,
entre os 2 e os 14 anos, incluindo facilitando à criança o acesso
audiolivros. Não se limitando à a estímulos adequados e necessários para
publicação de obras, dinamiza atividades o seu crescimento e desenvolvimento
de promoção da leitura, educativas, integral. Este trabalho inclui uma grande
e de desenvolvimento da criatividade proximidade com as famílias.
através da articulação com a música. “Consideramo-nos criativos porque
Dispõe de uma biblioteca que serve realizamos atividades únicas na área da
a comunidade e de uma biblioteca educação para crianças entre os 2 e os 14
itinerante, a “Tiga Roda” (Três-rodas) anos. Todo o trabalho que desenvolvemos
que constitui um instrumento de é realizado de forma a não se focar
animação comunitária, nos bairros de apenas em tarefas, mas na intervenção
Dili, em torno do livro. A Abut desenvolve familiar e comunitária. Criamos produtos
também recursos pedagógicos ajustados tendo em consideração a realidade e as
à realidade sociocultural do país, jogos e necessidades locais. Fomos a primeira
brinquedos, procurando relançar os jogos editora privada a ser criada no país
tradicionais timorenses. e fomos os primeiros a lançar livros
A Abut promove actividades para originais com textos e ilustrações que
crianças entre os 2 e os 5 anos onde consideram a realidade local
© CEDIDA POR ABUT

estas trabalham as competências e os primeiros a lançar livros originais


indicadas para as respetivas idades, em língua portuguesa.”
de forma a prepararem-se para a entrada

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© ORLANDO GARCIA
EDITORAS E LIVRARIAS 99

UMA
ASSOCIAÇÃO,
UMA EDITORA
E UMA LIVRARIA
CHÁ DE CAXINDE, Angola

The Association Chá de Caxinde was Nacional), in Luanda. This is where its
born out in 1989, of regular cultural triangular organisational model is translated
meetings of a hundred of citizens into practice: the Association, a publisher
focused on Angolan identity values. / bookstore (with about 150 books of the
Its headquarters are located in the most prestigious national authors) and the
National Film Theater (Cine-Teatro Espaço Verde’s (green space),

A Associação Chá de Caxinde, criada em -futuro foca-se na recuperação da sala


1989 por uma centena de sócios, a partir de espetáculos do Nacional Cine-Teatro,
de uma tertúlia de cidadãos angolanos que além de constituir um imperativo de
focados nos valores identitários Património, viabilizará a dinamização do
angolanos, tem sede no edifício espaço (situado no coração da “Baixa”)
do Nacional Cine-Teatro no centro de com programação diversificada e com
Luanda. Nos seus 30 anos de existência múltiplos efeitos nas economias criativas.
e de ação, foi conhecendo diversas A Novo Chá de Caxinde - Editores
transformações adaptativas: começou e Livreiros, foi criada em 2000/2001,
por ser uma unidade e agora é um cacho, na sequência de iniciativas editoriais e
um modelo organizativo triangular que livreiras que vinham desde 1997.Tem um
partilha a mesma sede e instalações - acervo literário com cerca de 150 livros,
no vértice central a Associação e em com alguns dos autores mais prestigiados
cada um dos outros vértices, de um lado das letras angolanas. Mantém e sempre
uma Editora / Livraria (empresa) e do manteve uma livraria aberta ao público,
outro o Espaço Verde (concessionado e conta com cinco colaboradores
a uma empresa de restauração aberta ao permanentes. Recentemente reformulou
público) mas onde se realizam os eventos. a sua cadeia de produção editorial -
A Associação emprega 8 a 10 pessoas com recurso a free-lancers - passou
(homens e mulheres, abaixo e acima dos de soluções fora do país, com os
30 anos) e, para além do seu auto- inconvenientes do vai-vém (distância
-financiamento, tem acesso ao concurso e burocracias) para soluções em Angola.
do Fundo de Apoio do Ministério da Num plano mais estrutural é destacada
Cultura, tem ligações a diversas redes a falta de um Plano Nacional de Leitura
nacionais e internacionais. e a desregulação do mercado.
O seu principal projeto presente-

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© ORLANDO GARCIA
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© ORLANDO GARCIA

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© CEDIDAS POR COCORUBAL


EDITORAS E LIVRARIAS 103

PROMOVER
COISAS BOAS
EM MAUS
MOMENTOS
CORUBAL, Gu iné-Biss au

Founded in 2012, Corubal Publishers and by producing and disseminating


emerges out of the inspiration and forms of knowledge. Corubal is in charge
entrepreneurship of young people that of publishing the Bissau Cultural Agenda
aim to contribute to foster a national in partnership with this municipality.
critical mass by stimulating knowledge,

Fundada em 2012, a Corubal surge da e culturais na Guiné-Bissau, através


inspiração empreendedora de jovens do livro. Tem uma equipa que trabalha
e é impulsionada pela necessidade na edição e conta com uma bolsa de
de “promover coisas boas em maus colaboradores em função da natureza
momentos” (Golpe de Estado de 12 dos conteúdos.
de Abril 2012) e contribuir para a Com o propósito de dar a conhecer,
dinamização duma massa crítica nacional valorizar e estimular o setor cultural
através da produção, animação e nacional, a Corubal é responsável pela
divulgação de conhecimentos. edição da Agenda Cultural de Bissau,
A editora tem como objetivo levar em parceria com o município,
junto ao público, pensamentos e práticas publicação que tem tido um papel
de diferentes autores sobre as dinâmicas de destaque na divulgação de iniciativas
literárias, sociais, económicas, políticas e de criativos na cidade.

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© CEDIDA POR KU SI MON


EDITORAS E LIVRARIAS 105

O FUTURO
COM AS
suas MÃOS
Ku Si Mon, Gu iné-Biss au

For the founders, Ku Si Mon (or, “with tradition that are an important part
your own hands”, in Guinea Bissau’s of the country’s literary heritage. Ku Si Mon
Creole), the first private book publisher is a founding member of the Alliance
in the country, represents an investment of Independent Editors, an international
in independence, in the future and in association with headquarters in Paris
development in Africa. Its catalogue that brings together dozens of publishers
includes key works and authors of Guinea from more than 40 countries.
Bissau, and a collection of tales of oral

Ku Si Mon é a primeira editora privada A Ku Si Mon tem funcionado com


guineense. Foi criada em Bissau, em base no trabalho não remunerado dos
1994, a seguir à liberalização política seus membros, que executam todas as
e à instauração do multipartidarismo, fases da edição prévias à impressão.
por Abdulai Sila (escritor guineense), As despesas de funcionamento são
Teresa Montenegro (investigadora igualmente suportadas pelos seus
chilena) e Fafali Koudawo (investigador membros, que aplicam as receitas na
togolês). Para os seus fundadores a edição de novos títulos. Ocasionalmente
Ku Si Mon (do criol guineense Com as a editora tem patrocinado eventos
Próprias Mãos) é fundamentalmente, artísticos, particularmente exposições.
uma aposta na independência, no futuro, Nos quatro primeiros anos da sua
no desenvolvimento, em África. existência, a Ku Si Mon Editora publicou
A editora tem como principais cerca de uma vintena de títulos. Durante
domínios de intervenção, a literatura a guerra de 1998-99 a sua sede foi
(romances, contos, ensaios), a tradição bombardeada, tendo perdido boa
oral (recolhas de contos, provérbios, parte do seu património. Em 2003,
adivinhas) e a linguística (dicionários a editora retomou os seus trabalhos com
analógicos bilingues). Tem publicado a publicação do livro “Contos da Cor
textos em português e edições bilingues do Tempo”, uma colecção de doze
criol-francês e criol-português. No seu contos, editada especialmente para
catálogo encontram-se obras e escritores celebrar os seus 10 anos de existência.
de referência da Guiné-Bissau, com A Ku Si Mon Editora está integrada
reconhecimento além-fronteiras, e uma em redes internacionais e é membro
importante coleção de contos orais, fundador da “Aliança dos Editores
que são parte do património literário Independentes”, uma associação
do país, tendo a editora desempenhado internacional que congrega 75 editores
um papel fundamental na sua de 42 países, sediada em Paris.
preservação e divulgação.

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© CEDIDA POR KU SI MON
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© CEDIDA POR KU SI MON

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EDITORAS E LIVRARIAS 109

DA LEITURA
COMPULSIVA
A iniciativa
DE REFERÊNCIA
L I V R A R I A N H Ô E U G É N IO, C A B O V E R D E

Nhô Eugénio Livraria was created in and organizes painting exhibits. In sum,
2008, with the love of reading as its it sponsors cultural activity in the city
motto. It promotes book and record of Praia. Having a small esplanade,
selling, events associated with the it is a top choice as a leisure space
promotion of books and national authors, and meeting point.

Criada em 2008, tendo por mote esplanada onde são servidos um café
o gosto pela leitura e a necessidade de qualidade e refeições leves ao longo
verificada no mercado, a Nhô Eugénio do dia, sendo por isso eleito como
Livraria é uma sociedade por quotas, espaço de lazer, ponto de encontro
que promove a venda de livros e mesmo local para uma pequena pausa
e de discos, realiza eventos ligados durante o período laboral.
à promoção do livro e dos autores No espaço é possível encontrar
© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

nacionais, organiza exposições de manuais escolares, livros técnicos


pinturas e promove o entretenimento e especializados, literatura nacional e
cultural na cidade da Praia. internacional, bem como livros infantis
Com sete trabalhadores e um e discos. Os clientes da Nhô Eugénio
ambiente acolhedor, o espaço Livraria são nacionais, de todas as faixas
proporciona aos clientes uma pequena etárias, com destaque para as mulheres.

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© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

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Espaços
DESIGN & ARTEFACTOS 113

de
educa
ção
e
cultura

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© CEDIDA POR ALAIM


ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 115

FORMAÇÃO
ARTÍSTICA
E INTERDISCi-
PLINARIDADE
ALA IM, Cabo Verde

ALAIM (the Portuguese acronym for that aims above all, to render social
Mindelo’s Free Academy of Integrated and cultural dignity to all children, youth
Arts) is an art education centre with a and adults who, despite their difficult
particular focus on the performing arts, living conditions, find in art a way to carry
based on the principles of collaboration on, and didn’t have a place to rehearse,
and inter-disciplinarity. ALAIM is project learn, experiment and show their talents.

A ALAIM é um espaço de formação para setor privado, de duas campanhas de


crianças, jovens e adultos, em diversas crowdfunding, em Portugal e no Brasil,
áreas artísticas, com enfoque nas de uma campanha em Cabo Verde
artes performativas - teatro, expressão e do Alto Patrocínio da Presidência
corporal, dança, vídeoarte e expressão da República de Cabo Verde. O espaço
vocal - e nos princípios da colaboração da ALAIM é propriedade da empresa
e da interdisciplinaridade. O ensino é Ímpar - Seguradora de Cabo Verde,
realizado de forma integrada, sendo cedido à organização, e foi recuperado
disponibilizadas aulas de diversas pela atelier de arquitectura mindelense
áreas num espaço comum. Para além de Adelino Santos.
das atividades de educação cultural “A ALAIM - Academia Livre de Artes
e artística, a ALAIM é um espaço de Integradas do Mindelo é um projecto
acolhimento para artistas durante os que pretende acima de tudo dignificar
processos de ensaio e de preparação cultural e socialmente todas as crianças,
de seus espectáculos, procurando assim jovens e adultos que, apesar das graves
contribuir para a dinamização das artes dificuldades em que vivem, encontram
na cidade. na arte uma forma de continuar a viver
A materialização deste sonho, no e não tinham um espaço onde pudessem
Mindelo, foi possível através de um ensaiar, aprender, experimentar
conjunto alargado de parcerias do e mostrar os seus talentos”.

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© CEDIDA POR ATELIER MAR


ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 117

DE CABO VERDE
PARA O MUNDO
At e l i e r M a r , C a b o V e r d e

Atelier Mar, is a cooperative and community development and promote


training centre, founded in 1979 in São training programmes in other areas and
Vicente. Working on the revitalization technologies. Today, it has a diverse
of ceramics and on vocational training network of national and international
for young people self-fulfillment, it partners, putting into practice its motto
has broaden its projects to support “from Cape Verde to the world”.

O Atelier Mar, cooperativa e centro o empreendedorismo social e a


de formação, foi criada em 1979 em São Economia Solidária, numa sociedade
Vicente. Intervindo na revalorização da em que o mercado produziu enormes
cerâmica e na formação profissional que desigualdades sociais, e assume como
estimulasse a auto-realização de jovens, missão apoiar a capacitação, produção
veio alargando a sua área de actividades e/ou distribuição de bens e serviços
para apoiar o desenvolvimento com qualidade, competitividade e
comunitário e continuar a formação com rentabilidade, usando factores e recursos
outras tecnologias, tais como: serigrafia, produtivos escassos, mas implicando
pequena carpintaria, vídeo e diaporama, a geração de rendimentos para
design gráfico e de equipamentos, os grupos envolvidos.
design de habitação e fabricação de Ao longo destas décadas, o Atelier
materiais de construção com tecnologias Mar tem promovido iniciativas de
adaptadas, bem como tecnologias desenvolvimento local e animação
alternativas para a actividade agrícola. comunitária na periferia urbana do
Entre estas áreas, destacam- Mindelo, em comunidades piscatórias
-se os programas de cerâmica, madeira, e no meio rural de São Vicente, e em
e pedra, no âmbito dos quais o Atelier Lajedos, Santo Antão, centrados na
desenvolve uma pequena produção valorização das pessoas e na procura
de peças nas suas oficinas da Matiota, de soluções, modos de fazer, que
em Mindelo. respondam aos desafios ambientais
O Atelier Mar procura ter uma do arquipélago. Sendo hoje uma
actuação para o desenvolvimento organização reconhecida no país e no
sustentável das comunidades e grupos exterior, dispõe de uma alargada rede de
com quem trabalha, valorizando o parceiros, públicos e privados, nacionais
artesanato, o design e a cultura como e estrangeiros, colocando em prática
pilar de desenvolvimento. Promove o lema “de Cabo Verde para o Mundo”.

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© INÊS GONÇALVES
ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 119

UMA CASA
DAS ARTES,
CRIAÇÃO,
AMBIENTE
E UTOPIAS
C A C A U , S ã o To m é e P R í nc i p e

Cacau – Fundação Roça Mundo is one economy services, artistic practice


of the most prominent entities promoting and art exhibitions are promoted, as
cultural events in São Tomé e Príncipe. well as a sustained work of creation
Cacau – Casa das Artes, Criação, and production in various fields (music,
Ambiente e Utopias (the Portuguese dance , shows, visual arts, events, and
acronym is made of the words “house”, so forth). It organizes the Arts Biennial
“arts”, “creation”, “environment” and “From a Slave Warehouse to a Cultural
“utopias”) is a multi-purpose and Warehouse”.
multi-disciplinary centre, where social

A Cacau – Fundação Roça Mundo é uma eventos públicos, postos de venda),


fundação com vocação cosmopolita, um onde para além da prática e exposição
caso pioneiro e paradigmático no cenário artística, se desenvolve um contínuo
cultural são-tomense, sendo uma das trabalho de produção, criação em
mais destacadas entidades na promoção diversas modalidades (música, dança,
e/ou organização de eventos culturais. espectáculos, artes plásticas, eventos,
A Cacau - Casa das Artes, Criação, etc.), formação artística em formato
Ambiente e Utopias - instalada nas antigas de ateliers, que vão da fotografia
oficinas das obras públicas coloniais, à pintura ou à escrita criativa.
recuperadas para ser um espaço A Cacau está ligada a diversos eventos
na centralidade da capital e com uma (todos eles com distintas fórmulas
programação e acção contínua (desde de produção), onde se destaca a Bienal
2008), constitui um centro polivalente de Artes, “De entreposto de escravos
e multidisciplinar. a entreposto cultural”, neste caso
Aí se desenvolvem serviços de em parceria com uma ONG (CIAC).
economia social (restauração, bar,

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© ORLANDO GARCIA

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© CEEDIDA POR CNAD


ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 123

UMA
INSTITUIÇÃO
PÚBLICA
DE REFERÊNCIA
CNAD, Cabo Verde

The National Center of Arts and Crafts in promoting the creative economy at
and Design (CNAD) is a key public the local and national level, and is the
institution, headquartered in Mindelo, institution responsible for the National
São Vicente island. It has a central role Forum of Arts and Crafts.

Atuando na promoção do artesanato, cidade e no país, tendo entre as suas


o Centro Nacional de Artesanato responsabilidades, o Fórum Nacional
e Design (CNAD) é uma instituição de Artesanato, estrutura que procura
pública de referência , tendo a sua organizar o setor.
sede no Mindelo, ilha de São Vicente. O Centro tem uma exposição
Nos últimos anos, tem vindo a permanente do seu espólio, e realiza
desempenhar um papel importante na atividades educativas complementares
dinamização da economia criativa na com escolas.

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© VANESSA RODRIGUES
ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 125

uma aldeia
cultural no
meio de uma
metrópole
D E A L , M O Ç A M B IQ U E

DEAL (Design, Entretenimento, Artes are the project’s mentors: “We transform
e Literatura) in the capital Maputo, is a existing materials in radically new
space for art exhibitions and art trading, products, with new shapes, uses and
where the publishing house Cavalo do aesthetics”. In their view the space
Mar also works. Sisters Nelsa and Nelly allows the emergence of a “collaborative
Guambe, and designer Ab Oosterwaal network” in arts and culture.

O DEAL (Design, Entretenimento, Artes Na loja, para além de pintura,


e Literatura) é um espaço de exposição escultura, livros e cerâmica,
e de comercialização de trabalhos é possível encontrar mobília criativa
artísticos, localizado, em Maputo, e que produzida a partir da reciclagem de
abriu portas em Setembro de 2017. materiais, e também outras peças que
As irmãs Nelsa e Nelly Guambe e o combinam elementos tradicionais
designer Ab Oosterwaal são as mentoras e contemporâneos com novos materiais,
do projeto, criado com o propósito como é o exemplo do vestuário,
de exporem as próprias criações. dos candeeiros em capulana, e outros
Mais tarde, junta-se ao grupo produtos que resultam de oficinas com
dinamizador o escritor Mbate Pedro, jovens costureiros locais.
dinamizando as sessões de leitura “Transformamos materiais existentes
Cavalo do Mar, hoje marca da editora em produtos radicalmente novos,
residente, contribuindo com a Literatura, com formas, estéticas e utilizações
última palavra do acrónimo que passou, novas” afirmam os dinamizadores,
então, a dar nome ao espaço cultural. acrescentando que enquanto “espaço
A iniciativa enquadra-se e dialoga assim pioneiro” queriam mostrar que é
com diversos segmentos criativos. possível desenvolver iniciativas locais.
Apresentado como uma “aldeia Consideram que a existência do espaço
cultural”, o DEAL agrega num só espaço tem servido de incentivo à produção
uma galeria de arte e de exposições, local de qualidade e que acaba por
uma loja, um espaço de co-working, possibilitar a criação de uma “rede
e uma programação recheada de eventos colaborativa” que tem reunido artistas,
como tertúlias, lançamentos, saraus artesãos e outros criativos
culturais, festas e chill-outs. de Moçambique.

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© VANESSA RODRIGUES
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© VANESSA RODRIGUES

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© ANITA WASIK
ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 129

FORMAR
JOVENS para
INICIATIVAS
EMPREENDEDORAS
E S C O L A D E A R T E S E O F Í C IO S , G u i n é - B i s s a u

The School of Arts and Crafts (Escola de skills); and entrepreneurship (business
Artes e Ofícios) offers a programme with development skills), which aim to foster
a diversified range of technical training. It self-employment amongst young people.
stands out due to its methodology, based The School was created by a NGO, AD,
on a combination of technical training and has trained more that 1000 male and
(focused on practical skills); posture/ female youths since it started.
ethics/mind-set (personal and social

A Escola de Artes e Ofícios (EAO) é para o desenvolvimento de iniciativas


uma iniciativa da ONG Acção para o empreendedoras.
Desenvolvimento (AD), que surge em A Escola tem-se destacado pela
2009, com o apoio da União Europeia sua metodologia de trabalho assente
da Cooperação Portuguesa. na formação técnica (saber-fazer),
A escola tem por objectivo a na postura/ética/mentalidade (saber-
capacitação dos seus formandos com -estar) e no apoio ao empreendedorismo
instrumentos técnicos e práticos que lhes (técnicas de gestão de negócio).
permitam desenvolver as suas próprias Este elemento é direccionado a todos
iniciativas de emprego, e também maior os alunos da escola e pretende
capacidade de inserção no mercado impulsionar a criação de auto-emprego,
de trabalho. com alternativa ao mercado laboral
A escola oferece um programa e ao sector privado, ainda resistentes
de formação técnica diversificado: à contratação de jovens.
produção de sal solar, tricotagem, Jorge Handem, director da Escola,
curso de electrónica, transformação assinala a necessidade de reforçar
e conservação de produtos locais, as capacidades da EAO a nível
montagem e reparação de painéis pedagógico, no que toca à formação
solares, tinturaria de panos, educação dos professores e à disponibilização
de infância, culinária e artes domésticas, de materiais didácticos e conteúdos
curso de informática básica e pintura formativos, adequados às necessidades
de quadros à base de areia e apicultura. dos alunos e do mercado, sendo por
Desde a sua criação, a Escola de isso necessário uma maior colaboração
Artes e Ofícios é responsável pela com as instituições públicas, no sentido
formação de mais de 1000 alunos jovens da harmonização do sector da formação
e mulheres e tem vindo a contribuir profissional.

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© CEDIDA POR M_EIA


ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA 131

O CONFRONTO
de GERAÇÕES,
NACIONALIDADES
E LINGUAGENS
M_EIA, CABO VERDE

M_EIA was created in 2004, as the followed, as well as a post-graduation


culmination of 25 years work by the in Cinema. In the old secondary school
cooperative Atelier Mar, with a first (Liceu Velho), M_EIA promotes art
training cycle of Arts teachers – exhibits and a lab-coffee shop. The Cape
a partnership between the government Verdean Design Centre, recently created,
of Cape Verde and the Luxemburg is a meeting venue for senior designers
Cooperation Agency. Bachelor degrees in (teachers), juniors and students,
the Visual Arts, Design, and Architecture contributing to debate and co-creation.

O M_EIA, Mindelo_Escola Internacional profissionalizante em Engenharia Civil


de Arte, surgiu a partir dos 25 anos de Sustentável e Pós-graduação em Cinema
experiência de uma ONG, o Atelier e Audiovisual.
como forma de saciar sonhos do Atelier Recentemente foi criado um Centro
Mar sobre mudança social através da Cabo-verdiano de Design, virado para
educação, da arte e da cultura. Nasceu o design de produtos, que confronta
em 2004 com um curso de formação os designers seniores (os professores)
de professores para a área artística, com e os juniores (os alunos) em ambientes
a parceria da cooperação luxemburguesa propícios para a criação e o debate.
e o governo de Cabo Verde, que integrou Tem um laboratório de food design, que,
esses professores no final do curso. assente nos pilares de sustentabilidade
Em 2007, o Estado cedeu estética e ética que caracterizam a
temporariamente ao M_EIA parte do instituição, dá os primeiros passos para
velho edifício do Liceu Velho, devolvendo despertar estudantes e público em geral
à cidade viu assim devolvido um espaço para iniciativas criativas.
de excelência na fruição cultural e Para além da oferta formativa
reintegrando-o no quotidiano como palco e das actividades paralelas, dentro e fora
de produção intelectual artística. do espaço universitário, de uma forma
Após comprovado o sucesso e discreta o M_EIA oferece ao público
pertinência do curso de formação exposições diversas e o café-laboratório.
de professores para a área artística, Sem se impor, o M_EIA contribui
lançaram-se duas licenciaturas em activamente para o desenvolvimento do
artes visuais e design, com duas opções pensamento contemporâneo mindelense,
de saída: ensino e profissão liberal. proporcionando um confronto constante
Posteriormente surgiram também a entre gerações, nacionalidades
Licenciatura em Arquitectura, Curso e linguagens estéticas.

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© CEDIDA PORM_EIA

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Festivi
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dades

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© INÊS GONÇALVES
FESTIVIDADES 137

O TEATRO
POPULAR
DO PRÍNCIPE
A U TO D E F LO R I P E S , S Ã O TO M É E P R Í N C I P E

The medieval style play Auto de Floripes an integral part of the region’s annual
is part of Príncipe’s Island popular fest, engaging the population in theatre,
theatre that was introduced in the island music and dancing. As such, Auto de
probably during the nineteenth century, Floripes continues to be a central feature
as a representation of conflicts between of Príncipe’s cultural heritage.
Muslims and Christians. Nowadays, it is

O Auto de Floripes é um teatro popular de três dias, a história do Almirante


da ilha do Príncipe, em São Tomé e Balão e de Carlos Magno, e de seus
Príncipe, com origens nas histórias embaixadores, que disputam as santas
medievais europeias do imperador Carlos relíquias e a conversão religiosa
Magno. Esta importante manifestação ao islamismo e ao cristianismo.
cultural terá sido introduzida na ilha A celebração deste teatro de rua envolve
no século XIX e faz hoje parte da festa a população e inclui ainda música e dança.
anual da região, a festa de O Auto de Floripes da ilha do Príncipe
São Lourenço, celebrada a 15 de Agosto. é uma celebração muito importante
Com o arranque das festividades, logo na ilha e tem sido representado noutros
ao amanhecer, a população local é países, sendo reconhecida, a par do
despertada pelos tambores e cornetas Tchiloli, como uma muito importante
para a representação, nas ruas da capital parte do património cultural, das artes
Santo António, do conflito entre cristãos performativas, do país, do continente
e mouros. O argumento conta, ao longo e do mundo.

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DESIGN & ARTEFACTOS 139
© INÊS GONÇALVES

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© OLL
FESTIVIDADES 141

quando
a Kavala
se tornou
rainha
K AVA L A F R E S K F E ST I VA L , C a b o v e r d e

Kavala (the blue mackerel), previously emigrants come on holiday and are eager
considered poor people’s food, was to get homeland products, to promote an
crowned queen by a group of friends event around the “cavala (blue mackerel)
who had an idea for an event, based queen”. In addition to gastronomic
on the expression used by fish sellers: activities, there’s water sports, exhibits,
Oli kavala fresk! (come get fresh blue theatre, music, boat tours, contests,
mackerel!). That group chose the fish’s and the Kavala Radio broadcasts for
spawning period, coinciding with the time 12 full hours.

Ainda só com uma meia dúzia de edições a cargo da nova empresa Mariventos,
anuais, o Kavala Fresh Festival é já que se empenhou numa estratégia de
uma das datas importantes do ano mobilização/comunicação sem igual
dos mindelenses. para produzir o KAVALA FRESK FESTIVAL.
A Kavala, considerada até agora comida Uma das principais artérias da cidade
dos pobres, mas sempre respeitada (Rua d’ Praia e Avenida Marginal) é
pelo seu valor nutricional e baixo preço, fechada para extensão dos restaurantes
deixou-se coroar por um grupo de já existentes e acolhimento de outros
amigos que numa conversa de café restaurantes da ilha, destacando-
tiveram uma ideia a partir da expressão -se a interacção entre os técnicos
usada para apregoar esse peixe: Oli da restauração, o público e pescadores
kavala fresk! (Olha a cavala fresca!). para degustar a cavala e outros peixes.
A presente fórmula surgiu normalmente: Para além da oferta gastronómica,
aproveitaram a época de desova, que há uma série de actividades
coincidia com o início do verão e da complementares: desportos náuticos,
vinda de emigrantes sedentos de coisas exposições, teatro, música, passeios
D´terra, e decidiram realizar um evento de barco, concursos, rádio kavala,
em torno da “rainha cavala”, despertando entre outras animações durante
uma série de manifestações de várias aproximadamente 12 horas seguidas.
áreas. Diferentemente dos outros O KFF foi um sucesso que ultrapassou
festivais centrados na música, todas as expectativas e a produtora
este seria centrado na cavala. Mariventos procura a internacionalização.
Surge em 2012 a primeira edição,

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© OLL
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© OLL

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© MIC DAX
FESTIVIDADES 145

A INSPIRAÇÃO
CRIOULA COMO
REFERÊNCIA
K R IO L J A Z Z F E ST, C a b o v e r d e

Kriol Jazz Festival was the result of a Verde, or from Africa, the cradle of
partnership between a company and creole culture”, while having jazz as a
the municipality of Praia, in 2009. reference. Everyone in Praia gets involved
Its aim was to promote music of in organising what is nowadays a major
“creole inspiration from all islands, the reference in World Music festivals, with
Caribbean, The Indian Ocean, Cape shows, workshops and other events.

Resultado de uma parceria público- escola e oportunidade para os jovens


-privada entre a empresa Harmonia, músicos nacionais.
uma empresa que trabalha no campo Para a organização do evento, com
da produção e distribuição musical alguns espetáculos pagos e outros
e na produção de espectáculos ao vivo, gratuitos, a cidade mobiliza-se para
e a Câmara Municipal da Cidade da a realização dos diferentes eventos
Praia, a primeira edição do Kriol Jazz e para receber os artistas e agentes
Festival aconteceu em Abril de 2009, culturais estrangeiros e nacionais,
segundo os seus promotores, com a que participam nos espetáculos
finalidade de promover a música de e nos workshops, bem como para
“inspiração crioula originária de todas receber os jornalistas estrangeiros e
as ilhas, quer se trate das Caraíbas, todo o público. Por seu lado, o público
do Oceano Índico, de Cabo Verde, prepara-se, igualmente, para desfrutar
ou de África, o berço da cultura crioula”, da boa música, vinda de diversos países
tendo o jazz como referência. e origens, das fusões musicais, jam
Com um repertório rico e sessions e de momentos ímpares de
diversificado, o Kriol Jazz Festival traz a entretenimento e de convívio.
cada ano à Cidade da Praia, durante três Hoje o Krioll Jazz Fest faz parte
dias do mês de Abril e aproveitando a dos 25 melhores festivais mundiais
forte afluência dos turistas durante este da World Music, segundo a revista
período, artistas e músicos conceituados, inglesa Songlines, granjeando prestígio
de renome internacional, espectáculos para o país e para a Cidade da Praia,
de elevada qualidade, promovendo mas também para a sociedade Harmonia
a fusão de ritmos, o intercâmbio entre e para os músicos e agentes culturais
os artistas, sendo também uma grande nacionais.

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© ORLANDO GARCIA
FESTIVIDADES 147

A INCESSANTE
PROCURA
DE CAMINHOS
O k ut i u k a , A N G O L A

Okutiuka is an Angolan NGO with a social part of Huambo’s festive calendar –


mission, created during the war. It begun Carnival and the rock festival (O Rock
with playful activities for children, who Lalimwe Eteke Ifa - Festival de Rock). The
gradually came to realise that they had latter is one of the few in southern Africa
in Okutiuka a safe haven and a and constitutes an important opportunity
welcoming home, and adopted it as for promotin the local economy.
theirs. Nowadays, Okutiuka is an integral

ONG Angolana fundada em 1995, outra parcela da ruína da Fábrica – um


durante a guerra, a OKUTIUKA começou “Anfiteatro” com espaços polivalentes
por actividades lúdicas para crianças que para Formação, para Exposições e para
progressivamente foram percepcionando pequenos eventos.
que ali tinham um refúgio e ali O Festival de Rock (praticamente
começaram a viver em comunidade. o único em Angola e um dos poucos da
Na contínua “reciclagem” das ruínas África Austral) fundado por Sonia Ferreira
da antiga Fábrica de Laticínios, tem e Wilker Flores, tem por base pessoas
decorrido o acolhimento e a reinserção e tertúlias amantes da cultura rock. A 8ª
social das crianças e jovens, que em edição (2018) contou com a participação
2018 incluía 48 residentes. de 14 grupos de rock e com actividades
A organização também está paralelas: exposições, feira de negócios,
intrinsecamente envolvida em rituais stands de comidas e bebidas, dentro do
festivos da cidade - o Carnaval e o recinto e pólos de economia informal na
Festival de Rock (O Rock Lalimwe Eteke envolvente do recinto. O financiamento
Ifa - ORLEI). Também “naturalmente” está baseado nos patrocínios e a entrada
a OKUTIUKA foi-se constituindo numa é livre, revertendo os eventuais lucros
plataforma de pequenos pólos de para a OKUTIUKA.
atividades geradoras de rendimentos Este Festival constitui uma importante
para promover a emancipação e ocasião de animação da economia
profissionalização dos seus educandos: local e uma oportunidade para colocar
cabelos, desenho / BD, TIC, costura, o Huambo na agenda. Foi tema de um
sonoplastia, cozinha, envolvendo documentário, “Death Metal Angola”, de
actualmente cerca de 30 jovens. Jeremy Xido, apresentado em festivais
O principal projecto próximo futuro de cinema em várias partes do mundo.
é a criação do Café Cultural OKUTIUKA O principal projeto do festival:construir
- com recuperação e reabilitação de a ARENA DO ROCK na cidade doHuambo.

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© ORLEI

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© INÊS GONÇALVES
FESTIVIDADES 151

TCHILOLI:
SINÓNIMO
DA PALAVRA
TEATRO 
TC H I LO L I , S ã o To m é e P r í nc i p e

Tchiloli, a synonym for “theatre” in takes place in an open, wide place


São Tomé and Príncipe, is the country’s during the gravana period (dry season),
most well-known and documented as part of the catholic saints’ festivities.
cultural manifestation, and derives from UNESCO’s recognition as World Heritage
European medieval stories, particularly is envisioned for Tchiloli.
Charlesmagne’s. This form of theatre

O Tchiloli é um teatro popular são- padroeiros. O tchiloli tem igualmente


-tomense, do ciclo das histórias uma importante componente de música
europeias medievais de Carlos Magno, e dança. Todo o trabalho cenográfico
principalmente A Tragédia do Marquês e de vestuário é da responsabilidade
de Mântua e do Imperador Carloto dos grupos, transmitindo-se, os papéis
Magno, que trata do confronto trágico representados, o guarda-roupa e os
entre D. Carloto, herdeiro de Carlos textos, entre membros das famílias.
Margo, e Valdevinos, sobrinho do Um dos grupos de Tchiloli mais
Marquês Mântua, e que terá sido conhecidos é o Formiguinha de Boa
introduzida em São Tomé no século XVI, Morte que tem mantido a sua atividade
pelo dramaturgo da Ilha da Madeira, ao longo de décadas e já representou
Baltasar Dias. O tchiloli, sinónimo da o país em vários eventos internacionais.
palavra teatro, é a manifestação cultural É um dos 4 ou 5 grupos que continuam
mais conhecida e documentada do país. no activo a prolongar a tradição, como
Os grupos de tchiloli, denominados de o Florentina do Caixão Grande, o Santo
tragédias, estão espalhados por diversas António Madre de Deus e os Africanos
localidades de São Tomé, representando de Cova Barro.
versões próprias daquela peça. O património cultural associado
O espectáculo tem a duração de ao Tchiloli tem vindo a ser trabalhado
5 a 6 horas, com grande participação e divulgado em iniciativas diversas
do público. Decorre num espaço aberto, nomeadamente na Bienal de
um terreno amplo, uma praça pública, Arte e Cultura de São Tomé, em
durante o período da gravana (estação documentários, livros e sites, antevendo-
seca), por ocasião das festas populares, -se o seu reconhecimento como
geralmente as associadas aos santos património mundial da humanidade.

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© INÊS GONÇALVES
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© INÊS GONÇALVES

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media
DESIGN & ARTEFACTOS 155

e
tecno
logias

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© CEDIDA POR ANDIM MÉDIA


MEDIA E TECNOLOGIAS 157

UMA TELEVISÃO
PARA NOVAS
IDEIAS
A N DI M M E DI A , S Ã O TO M É E P R Í N C I P E

Andim Media owns the only private and economic powers”. Andim Media
TV channel, web-based, in São Tomé promotes other activities related to
and Príncipe. Andim TV produces and culture and the media, such as the
broadcasts information programmes web live coverage of the second TEDx
and entertainment shows, defining itself event in the country and the training
as a “means of communication that is of young people in the journalism and
free and independent from political communication sectors.

A Andim Media é uma empresa são- promovido atividades ligadas à cultura


-tomense de produção e distribuição e aos media como a participação na
de conteúdos multimédia e de marketing cobertura ao vivo, para a Internet, do
digital. A empresa é proprietária da única segundo evento TEDx em São Tomé e
televisão privada do país, a AndimTV, via Príncipe, em colaboração com a ONG
web, onde produz e divulga programas Galo Canta, que organiza o evento.
de informação e de entretenimento, A empresa tem tido também um papel
definindo-se como um “meio de importante na formação em áreas ligadas
comunicação isento e independente à produção audiovisual, tendo formado
do poder político e económico”. mais de quatro dezenas de jovens são-
Tem nos seus objetivos, através dos -tomenses em iniciação ao jornalismo
conteúdos que divulga, preservar a para TV, edição de vídeo e repórter
identidade cultural de São Tomé e de imagem.
Príncipe, permitindo, simultaneamente, Com cerca de uma dezena de
dar espaço a novas ideias e a um estilo trabalhadores permanentes e uma rede
inovador de programação onde se de duas dezenas de colaboradores,
destacam programas como 50 minutos a Andim Média segue uma estratégia
com, que convida pessoas que se multiplataformas, dispondo para além
destacam nas mais variadas áreas, desde de plataformas Web, de um canal de
a educação, à cultura e à economia ou o Youtube e de uma página no Facebook
programa Estação da música. onde transmite ao vivo, apostando assim
A Andim Média tem também na divulgação integrada de conteúdos.

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158
158

© TUPUCA © APPY SAÚDE


MEDIA E TECNOLOGIAS 159

SOLUÇÕES
da TECNOLoGIa
E QUALIDADE
DE VIDA
APPY SAÚDE, TUPUCA, ANGOLA

App development for mobile devices to too, particularly, in the capital city
meet the needs of daily life has grown in Luanda. Appy Saúde (Appy Health)
several African countries, involving teams and Tupuca, which have received
of national, highly qualified technical domestic and international recognition,
staff. This has been happening in Angola, are two examples of the current dynamics.

A criação de aplicações móveis procuraram financiamento e lançaram-


que respondam a necessidades na em abril de 2017. Deslocaram-se
do quotidiano, com base em equipas já por duas vezes ao Websumit em
de técnicos nacionais, altamente Lisboa, não lhe tem faltado divulgação.
qualificados, tem crescido em vários Mas o mais importante foi conseguirem
países africanos, também em Angola, profissionalizar a estrutura, e contam
e em particular na cidade capital, com uma média de dois mil visitantes
Luanda. A Appy Saúde e a Tupuca únicos por semana. Um grande desafio
são dois exemplos dessa dinâmica, é alcançar cobertura a nível nacional.
com reconhecimento nacional
e além fronteiras. TUPUCA
Fundada em 2015, é igualmente uma
APPY SAÚDE empresa constituída por jovens quadros
Trata-se de uma aplicação gratuita técnicos especializados (engenheiros,
que permite encontrar rapidamente designers, gestores e informáticos).
informações úteis sobre mais de 1.900 Funciona através de uma aplicação
estabelecimentos de saúde, como gratuita (a primeira no mercado angolano
listas de médicos e de medicamentos, no negócio do take-away), e os serviços
podendo encomendar produtos e que oferece são sobretudo a entrega
serviços, com informação sobre o preço de comida, provinda de restaurantes
e a distância a percorrer. e de supermercados, entregando ainda
Em 2015, Daniel Cohen e Pedro alguns outros produtos, como bilhetes
Beirão perceberam que não havia e convites. Tem cerca de 40 mil clientes
muita informação sistematizada sobre e trabalha com cerca de 150 empresas.
saúde e decidiram eles próprios A Tupuca é extremamente alargada,
recolhê-la, localizando 400 pontos empregando duzentos trabalhadores.
de farmácias, hospitais e clínicas com O seu serviço é avaliado como
quem tencionavam trabalhar. Depois competente sem ser muito caro.
de terem o protótipo da sua aplicação,

F U T U R O S C R I AT I V O S
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© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO


MEDIA E TECNOLOGIAS 161

ESCREVER UMA
NOVA HISTÓRIA
AFRICANA
B O N A KO, C A B O V E R D E

BONAKO is a games and apps applications’ production: “As far as our


development company, with an games are concerned, our mantra is to
interdisciplinary team of a few tens write a new African history”. The Africa
of young and highly skilled people from Innovation Summit emerged as the main
Cape Verde. The company aims to place innovation platform in Africa, focused on
Africa on the map of videogames’ and the challenges that the Continent faces.

BONAKO é uma empresa de jogos digitais Na área das aplicações desenvolveu


e aplicativos móveis que ambiciona produtos como o Muska, um serviço
colocar África no mapa dos produtores musical que atraiu parceiros que
de videojogos e de aplicativos. BONAKO dispõem de conteúdos, financiamento
foi criada para aproveitar a oportunidade e marketing. Muska está disponível na
emergente na economia digital, em que rede Unitel Tmais e vai ser lançado na
“o lazer se tornou uma indústria em República Democrática do Congo e em
expansão e os dispositivos móveis se estão Moçambique. A Bonako desenvolveu
a tornar rapidamente o meio preferido também uma ferramenta para
para interagir, comunicar e divertir”. gerenciamento de eventos e venda de
Os fundadores construíram uma ingressos que funciona em Cabo Verde
equipa de dezenas de jovens cabo- e será comercializada no Continente em
-verdianos interdisciplinares e altamente 2019 Construíram os aplicativos móveis,
capacitados para construir uma empresa MyUnitel, Unitel TV e RTC e têm outros
capaz de produzir produtos altamente produtos inovadores em desenvolvimento
inovadores e de qualidade para o em parceria com potencial para alcançar
mercado global. o mercado em todo o mundo.
Já desenvolveu e editou vários jogos O AIS (Africa Innovation Summit)
e diversos aplicativos móveis inovadores surgiu no percurso da Bonako como
e revelou potencial para ter um impacto a principal plataforma de inovação
transformador na economia de Cabo na África, focada nos desafios do
Verde através da exportação e da criação continente. O AIS tornou-se uma marca
de empregos jovens. e o seu potencial gerou expectativas
“Para os jogos, o nosso mantra é de contribuir para a promoção da
escrever uma nova história africana”: inovação para o desenvolvimento e a
BONAKO pretende tornar-se um líder transformação estrutural de África. AIS
na indústria de jogos e ajudar a liderar 2018 foi realizado simultaneamente em
o setor emergente de jogos em África, Kigali, Ruanda e em dois locais satélites -
para “contar nossas próprias histórias Pretória e Adis Abeba, envolvendo cerca
africanas”. de mil participantes de 76 países.

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© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

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© ANITA WASIK
MEDIA E TECNOLOGIAS 165

ESTIMULAR
A INDÚSTRIA
CULTURAL
DO PAÍS
COBI ANA RECORDS, GUINÉ-BISSAU

Cobiana Records is a Bissau-Guinean consulting and cultural events. Zé Manel,


music production company whose main its founding musician, wishes to continue
goals are to provide music production to record quality music from Guinea-
services to national artists, including Bissau and to participate in the dynamics
those from the diaspora, and to stimulate of internationalisation of his country’s
Guinea Bissau’s cultural industry. culture, using Senegal and Portugal as
Cobiana Records activities include sound supporting markets for that purpose.
production, music lessons, cultural

Cobiana Records é uma produtora organização de eventos, captação e


musical guineense fundada, na primeira tratamento de som. Tem sido responsável
metade dos anos 2000, por Zé Manel, pela produção de importantes artistas
músico do grupo Super Mama Djombo. guineenses como Eneida Marta ou
A ideia de colocar a experiência Binham e tem atuado na promoção do
acumulada na área da música ao serviço hip-hop nacional. Na área dos serviços
do seu país, surgiu quando ainda vivia e eventos, tem colaborado com as
nos Estados Unidos e produzia para principais instituições internacionais,
músicos guineenses, incluindo para a sua embaixadas e entidades nacionais.
banda. O objetivo da Cobiana Records Zé Manel quer continuar a gravar
é gravar músicos nacionais, com elevada música da Guiné-Bissau com
qualidade, com proximidade à diáspora qualidade e participar na dinâmica
guineense e estimular a indústria cultural de internacionalização da cultura
do país. nacional, usando Senegal e Portugal
Dispõe de um espaço físico como mercados de apoio. Mas, chama
projetado por um engenheiro de som a atenção para a necessidade do Estado
profissional, instrumentos de captação apoiar a cultura, à semelhança do que
e tratamento de som de alta qualidade considera que tem acontecido em
(microfones, guitarra, pianos, mesa de Cabo Verde ou em Angola, e a partir
mistura, colunas e sofwares de edição). daí, permitir o surgimento de novas
Oferece serviços como aulas de música, oportunidades ligadas à área da cultura.
consultadoria no domínio cultural,

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MEDIA E TECNOLOGIAS 167

CULTURA
NÃO É SÓ
ENTRETENIMENTO
GERAÇÃO 80, ANGOLA

In 2010, three Angolan partners, generation). Nowadays, the company


Fradique (filmmaker), Tchiloia has 18 permanent employees and has
(construction developer), and Jorge been able to re-invent itself in times of
(manager) got together, and, with their crises, being able to maintain a regular
own savings and personal resources, and rotational work volume and, mainly,
opened an audiovisual production to keep a certain way of looking at the
company, Geração 80 (literally, the 80s country “from within and up close”.

Foi em 2010 que Fradique, Tchiloia Portugal e Brasil 2013) e acaba de sair
e Jorge, três sócios angolanos (um o Para Lá dos meus passos, de Kamy Lara
realizador, uma construtora civil e (2018) que acompanha a montagem do
um gestor) se juntaram e pegaram espectáculo da temporada de 2017.
nas suas poupanças e recursos próprios Na ficção produziram curtas metragens
para abrir uma produtora audiovisual. dos realizadores Ery Claver, Hugo
Eram poucos quando começaram, Salvaterra e o artista plástico Kiluanji Kia
mas hoje a empresa compõe-se de 18 Henda. recentemente começaram
trabalhadores permanentes. A partir a desenvolver as suas primeiras longas
do seu escritório em Luanda, no Bairro de ficção:
Alvalade, produzem filmes de ficção, Ar Condicionado e O Reino das
documentários, vídeos corporativos, Casuarinas, uma adaptação do romance
institucionais, publicidade, e videoclips. com o mesmo nome de José Luís
Rodaram já por todos os cantos do país Mendonça. No mundo da música já
e em vários lugares do mundo. produziram vídeos para Yuri da Cunha,
A Geração não é um caso isolado, este MCK, Aline Frazão, Nástio Mosquito,
“caminho do meio” tem sido seguido por Toty Sa’Med entre outros.
outras pequenas produtoras e cineastas Para além de saberem reinventar-
no mercado angolano. “Conhecemos -se nos momentos difíceis de crise,
bem todas as carências estruturais conseguindo manter a regularidade do
e estamos conscientes de como cada trabalho, é sobretudo a postura de um
© CEDIDA POR GERAÇÃO 80

frame que nos rodeia diariamente possui certo olhar para o país “de dentro e
um sem fim de estórias por contar. de perto” que os distingue. “Queremos
Do nosso lado, existe a vontade genuína reflectir e dar a conhecer as memórias,
de explorar novas linguagens e de abrir as cores, os sons, os traumas, os
caminhos para contar essas estórias - as desejos e as histórias que Angola vive
nossas.” Têm feito documentários, como actualmente. Para nós, cultura não é
o Do outro lado do mundo, de Sérgio entretenimento. É mudança, é crítica,
Afonso (2016) curtas e longas metragens é a construção de uma identidade
ou co-produções internacionais (como - é a possibilidade de um novo começo
por exemplo a série Triângulo, com a cada filme.”

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© GERAÇÃO 80
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© GERAÇÃO 80

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MEDIA E TECNOLOGIAS 171

A TÉCNICA
DO SOM
e a PAIXÃO
PELA MÚSICA
M A N G O S O U N D , M O Ç A M B IQ U E

Mango Sound Mozambique is a brand strategy. The company provides services


created by a rapper from Beira city and in audiovisual production, equipment
an Austrian sound engineer, with a focus rentals, as well as technical support
on creativity, technical professional to sound professionals and to events
training and a sustainable financial and shows.

O Mango Sound Mozambique é uma serviços de vídeo e áudio. Hoje é Nhosa


marca criada pelo beirense e rapper quem gere a empresa, prestando serviços
João Chuvo e pelo engenheiro de de produção audiovisual, aluguer de
som austríaco Andreas Scheibenreif, equipamento, apoio a técnicos de som,
no segmento de Media / audiovisuais eventos e espetáculos.
(cinema, vídeo, TV, rádio). Em 2014, “O nosso forte é a área técnica de som
Andreas estava a trabalhar pela e a nossa paixão é pela música, mas não
cooperação alemã num projeto chamado é fácil aqui na Beira viver só da música”,
Young Africa (Beira), que contemplava explica o beirense. Por isso, é o serviço
um módulo de formação em técnicos de vídeo que garante a sustentabilidade
de som. João Chuvo foi fazer o curso. da empresa. “Temos feito alguns
O rapper, mais conhecido pelo nome videoclipes e apostamos na gravação
artístico Nhosa, foi um dos melhores de CD’s”. Com foco na criatividade, na
alunos e, desde então, tem-se destacado profissionalização técnica e na estratégia
como uma referência na atividade. Na de sustentabilidade, Chuvo está com
época, o projeto absorveu-o. Por isso, o foco no marketing da empresa, na
© VANESSA RODRIGUES

quando, pouco tempo depois, Andreas construção de um estúdio de raiz e na


terminou o contrato com o projeto da criação de uma caravana com estúdio
cooperação alemã, sugeriu uma parceria móvel, para poder prestar serviços por
e criaram uma empresa que fornecesse toda a província.

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© ANITA WASIK
MEDIA E TECNOLOGIAS 173

TV KLELE:
COMUNICAR
E FORMAR
TV KLELE, GUINÉ-BISSAU

TV Klele is a community TV station and is also a training space for young


created in the 2000s, by a Bissau- people. Thanks to years of experience,
-Guinean NGO, Action for Development its equipment, and specialised staff, TV
(AD). It produces audiovisual content Klelé has been able to start producing,
aimed at the residents of the Klelé too, audiovisual materials for a diverse
neighbourhood, with a development- client portfolio.
-oriented communication approach,

A TV Klele, fundada nos anos 2000 especializados, a TV Klele passou


Ação para o Desenvolvimento, uma a prestar serviços na área da produção
ONG guineense, é uma televisão audiovisual: fazem a cobertura de
comunitária. Nesse sentido, produz eventos, produzem documentários,
conteúdos audiovisuais orientados filmes e videoclips. Têm como clientes,
para os moradores do bairro do Klele, instituições nacionais e internacionais,
sendo uma ferramenta de comunicação outras ONGs e cidadãos privados.
para o desenvolvimento, informando e A TV Klele é igualmente um espaço
sensibilizando sobre temas importantes formativo para jovens, que aí adquirem
para a comunidade. competências especializadas e têm
Com a experiência acumulada acesso emprego na área dos media,
ao longo dos anos, e dispondo tendo-se tornado uma referência no setor
dos equipamentos e de técnicos da comunicação comunitária no país.

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© VANESSA RODRIGUES
MEDIA E TECNOLOGIAS 175

EMPREGO.CO.MZ
U X I N F O R M AT IO N T E C H N O LO G I E S , M O Ç A M B IQ U E

A pioneer in its approach to address respond to social needs. It started with


the gaps in information technologies in emprego.co.mz – currently the largest
Mozambique, UX Information Technologies online job platform in Mozambique –
is considered a national reference in its and, more recently, it has launched
area of activity, as the many prizes it has the app biscate.co.mz, which focuses
won internationally attest. The company on the economy’s informal sector.
develops innovative digital platforms to

Pioneira na abordagem face às carências Custódio. Juntos criaram uma startup.


no acesso a tecnologias num país Em 2012, desafiaram Frederico Silva
dificuldades tecnológicas, a empresa e fundaram a UX Technologies, para
UX é considerada uma referência dar resposta à ausência de plataformas
em Moçambique, somando prémios tecnológicas adaptadas ao contexto
além-fronteiras. O projeto desenvolve moçambicano. Começaram com
plataformas digitais inovadoras, o emprego.co.mz – atualmente a
juntamente com a prestação de serviços maior plataforma online de emprego
em consultoria na área das Tecnologias em Moçambique – pois constataram
da Informação com um forte pendor que havia dificuldades a nível global,
social. Além disso, apostam na criação num contexto de declínio dos media
de software pensado na ótica do tradicionais e da digitalização contínua
utilizador, para utilização com telemóveis dos processos de recrutamento.
mais simples (sem serviços de internet). Mais recentemente, lançaram
A iniciativa foi criada por um grupo a aplicação biscate.co.mz, que atua
de amigos de infância, ligados desde no setor informal da economia, ligando
a escola primária. Primeiro juntaram- de uma forma rápida e conveniente
se Tiago Borges Coelho – desde cedo trabalhadores informais (“biscateiros”) a
com interesse por tecnologia – e Paulo clientes, através dessa plataforma online.

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produ
DESIGN & ARTEFACTOS 177

tos
naturais
e
gastro
nomia

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© VANESSA RODRIGUES
PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 179

ALOÉ A-VER-
-O-ÍNDICO
B E L M O Z , M o ç a m b iq u e

BelMoz, in Nampula, was founded when, in 2010: a scrub, a balm for muscle pain,
by chance, a species of aloe vera started a repellent, an after-sun lotion, and a
to spring from the soil, leading to the leg cream. Currently, they offer a wide
idea of using it as a raw material. The first variey of products, made by Karine and
beauty and wellbeing products came out two women whom she taught the trade.

Karine e Stephan Vandepitta não se depois de várias apostas falhadas noutros


deixaram demover pela dificuldade nos produtos (licores, geleias) ao longo de
acessos e resolveram estabelecer-se em quatro anos. Foi só quando um tipo de
Mossuril, vila que faz parte da província Aloe Vera começou a brotar da terra, por
de Nampula, a ver-o-Oceano-Índico. acaso, que surgiu a ideia de usá-lo como
O casal belga está em Moçambique há matéria-prima. Karine reconhece que
cerca de 15 anos e o projeto emprega, “foi um presente da natureza”. Segundo
diretamente, 11 pessoas da comunidade as análises de um laboratório, na Bélgica,
local, mais diversos colaboradores é “um aloé de excelente qualidade com
sazonais. Desde o cultivo e extração diversas propriedades terapêuticas”,
do aloé vera, manufactura principal, assegura a empreendedora, que
à preparação de vários outros produtos chegou a estudar cosmética natural.
como óleos essenciais, passando pela Os primeiros produtos surgem, então,
confecção de embalagens artesanais, em 2010: exfoliante, bálsamo para dores
fabricadas por uma equipa de jovens; musculares, repelente, loção pós-solar,
famílias que costuram saquinhos em creme de pernas. Hoje têm já uma vasta
tecido tradicional, a capulana e cestos gama de oferta, produzidos por Karine e
para a apresentação dos produtos, duas mulheres a quem ensinou o ofício.
reciclando cascas de coco e de Uma curiosidade: a produção do gel de
embondeiro. Aloe Vera é sempre feito em pequenas
Em 2003, quando vieram pela quantidades. “Colhe-se às 6 horas da
primeira vez a Moçambique, andavam manhã e, ao meio-dia, já está no tubo
à procura de um local para viver pronto a ser comercializado.” Como são
e desenvolver um projeto pessoal. uma “pequena produção” trabalham “sem
Em 2005-2006 compraram um terreno precisar de pasteurização”, por isso, “é
e começaram a construir a casa, que um trabalho rápido e isso é uma grande
é hoje habitação, loja, plantação e spa. vantagem”, garante a empreendedora.
Já a oferta BelMoz é fruto de um acaso,

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© CEDIDA POR BLACK BOX


PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 181

O CAFÉ COMO
PROTAGONISTA
B L A C K B OX , T i m o r - L e st e

Nuno Ridénio Guterres is a 30-year old that allows him to sell good quality,
entrepreneur who won the East Timorese affordable coffee anywhere in the city.
award “Business Plan Competition” In 2018, he opened Black Box, a small
in 2017. With the award’s cash prize coffee shop by day and bar by night,
he started his own business, a traveling where he sells one of his specialities,
coffee shop/bar hitched to his bicycle, chilled coffee in a bottle.

Nuno Ridénio Guterres é um empresário de Díli. Nuno começou, igualmente,


timorense de 30 anos que recebeu, em a vender o seu café frio em eventos
2017, o prémio “Competição de Plano locais e em estabelecimentos comerciais
de Negócios” atribuído pelo Instituto de como o supermercado Qulina ou o Agora
Apoio ao Desenvolvimento Empresarial Food Studio.
timorense. O valor do prémio permitiu- Em 2018, Nuno Guterres decidiu
-lhe começar o seu negócio, um café/ expandir o seu negócio, abrindo um
/bar ambulante, movido a bicicleta, que pequeno café de dia e bar à noite
lhe permite andar pela cidade e vender onde vende também uma de suas
café de qualidade a preços acessíveis. especialidades, o café frio engarrafado.
Nuno introduziu em Díli o conceito O café/bar “Black Box” localiza-se no
de café frio com infusão de sabores, bairro de Farol, no centro da cidade
que aprendeu a fazer através de vídeos e conta com um número de clientes
no Youtube e de visitas a cafetarias regulares. Desde a sua abertura em 2018,
na Indonésia. As suas ideias inovadoras já criou 3 novos empregos. O Black Box
permitiram-lhe ganhar uma vantagem de Nuno Guterres dá protagonismo a um
competitiva face aos restantes cafés produto de excelência do país, o café.

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© CHEIRUS
PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 183

COSMÉTICA
ARTESANAL
E EXTRACTOS
DE ANGOLA
CHEIRUS, ANGOLA

The ideia behind Cheirus came after of soaps made with medicinal plants.
Iaracema Watari received, as an Today, Cheirus produces and sells soaps,
inheritance from her husband’s japonese creams, balms with angolan medicinal
grandmother, a handwritten notebook plants, as well as moisturizing butters
(in japonese) with traditional recipes using olive oil and essencial oils.

Iracema Watari criou a Cheirus - Atualmente, produz e comercializa


- Sabonetes Artesanais e Naturais em sabonetes, cremes e bálsamos com
2016 após um período de aprendizagem plantas medicinais, manteigas hidratantes
sobre plantas medicinais. A ideia surgiu à base de azeite de oliveira e óleos
quando recebeu, em herança, da avó essenciais. Desenvolveu uma fórmula
japonesa do seu marido, um caderno que permite a utilização das plantas
manuscrito (em japonês), posteriormente medicinais existentes em Angola.
traduzido, com receitas tradicionais de Tem duas marcas, a Cheirus e a Essências
sabonetes à base de plantas medicinais. de Angola, que está presente nas
O interesse pelo tema levou-a a farmácias, em supermercados e espaços
experimentar as receitas e a estudar, goumet, participando ainda em feiras.
tendo realizado parte da sua formação Esta iniciativa, que valoriza o
em Portugal com Dulce Mourato, e a património natural do país, é também
pesquisar as plantas. Começou a fabricar uma forma de sensibilização para
artesanalmente num anexo da sua casa, a utilização de recursos e produtos
e oferecia os sabonetes a familiares e saudáveis e endógenos. Para o futuro,
amigos. Perante o impacto positivo dos Iracema quer melhorar o processo de
produtos, resolveu montar um negócio, produção, apostar na certificação dos
mantendo a sua oficina artesanal. seus produtos e investir na exportação.

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© BASTIEN LOLOUM
PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 185

SABORES
E AROMAS
DE SÃO TOMÉ
E PRÍNCIPE
D e l íc i a s d a s i l h a s , S ã o To m é e P r í nc i p e

Delicias das Ilhas is a brand focused liqueurs, teas and infusions that display the
on promoting nature’s best products country’s unique nature and gastronomic
from São Tomé e Príncipe. Delicia e heritage. Delicias das Ilhas is also a solution
Bastien, the entrepreneurs, mix fuits, to fruit surplus, allowing farmers to reduce
aromatic herbs and spices to create jams, agricultural production waste.

A Delícias das Ilhas é uma marca são- rurais selecionados, espalhados pela ilha
-tomense que valoriza os melhores de São Tomé, a Delícias é igualmente
produtos da natureza de São Tomé uma resposta às necessidades
e Príncipe. Criada em 2009, surge de escoamento de frutas, permitindo
das experiências e receitas criadas por aos agricultores reduzir o desperdício.
Delicia e Bastien Loloum, que misturam A própria Delícias cultiva ervas
frutas, ervas aromáticas e especiarias aromáticas, frutas e especiarias, onde
para criar compotas, licores, chás se destaca a baunilha.
e infusões que revelam o património Os produtos da Delícias das Ilhas
natural e gastronómico único do país. estão presentes em espaços nacionais
São exemplo as compotas de banana, e são exportados para diversos países,
manga e papaia, aromatizadas com tendo-se tornado uma referência “em
especiarias, uma coleção de Chás valorizar e divulgar aquilo que São Tomé
da Terra como micondó e chalela, e Príncipe tem de melhor para oferecer:
e a transformação de pimenta branca, uma natureza rica em sabores e aromas,
pimenta selvagem e canela. em abundância e qualidade”.
Dispondo de uma rede de produtores

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©CEDIDA POR DILICIOUS


PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 187

SLOW
DILICIOUS
DI L I C IO U S , T I M O R - L E ST E

César Gaio has always sought creative of foodstuffs are imported, César Gaio
ways to generate income, initially innovates by choosing local products,
through “touristing” services and, researching East Timorese traditional
then by investing in one of his passions: gastronomy and investing in “slow food”.
cooking. In a country where over 50%

César Gaio sempre procurou formas “slow food”, que não são comuns nos
criativas de criar rendimento, seja restaurantes locais. O seu conceito é
inicialmente através de serviços de a criação de pratos com referências
“touristing”, seja, mais tarde, na aposta tradicionais, mas com uma junção de
numa das suas paixões: a culinária. sabores diferente e uma apresentação
Em 2016 concorreu ao Prémio Negócio moderna e cuidada. Contribui
Inovador do IADE (Instituto de Apoio ao diretamente para a economia local uma
Desenvolvimento Empresarial), venceu vez que ali compra os seus produtos,
o primeiro prémio monetário e ganhou apostando ainda na sustentabilidade
uma bolsa de estudos para um curso do negócio, com a criação de animais
de curta duração de Gestão de Hotelaria, e produção hortícola.
na Nova Zelândia. Após esta formação, As questões ambientais e sociais
regressa a Timor-Leste e investe num são duas das preocupações que
“Food Truck” primeiro, e, mais tarde, César evidencia, quer através da
num restaurante de comida local. sustentabilidade na procura dos
A comida de rua é algo comum na Ásia, produtos, como referido acima, quer
mas em Timor-Leste o Dilicious Food na criação de emprego, especialmente
Truck foi o primeiro restaurante móvel direcionado aos jovens, tendo em conta
que cozinha “ao vivo” para o cliente a questão do desemprego jovem.
e em qualquer parte da cidade de Díli. Desta forma, promove uma visão
Num país em que mais de 50% dos contemporânea do património natural
produtos alimentares são importados, e cultural timorense, promovendo
Cesar Gaio inova pela aposta no produto simultaneamente a sustentabilidade
local e na pesquisa de sabores e técnicas ambiental e desenvolvimento económico.
de cozinha típicas timorenses e na

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PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 189

MONTE CAFÉ
JÁ PRODUZ
BIOLÓGICO
E F R A I M C A F É , S ã o To m é e P r í nc i p e

Located in Roça Monte Café, in family business comprising a team


the Island of São Tomé, the company of 15 people. It focuses mainly on organic
Efraim Café was founded, in 2002, by coffee and cocoa production. It has also
a member of the technical staff of the opened Alei Coffee Shop, where it sells
former farming company. It is a small its organic coffee.

Situada na Roça Monte Café, na ilha exportados, maioritariamente para Taiwan.


de São Tomé, a empresa Efraim Café A Efraim Café tem como parceira a
foi fundada em 2002 por um técnico ONG portuguesa Move e pertence ao
da antiga empresa agrícola Monte Grupo dos Pequenos Empreendedores
Café. Financiada por um empresário de São Tomé e Príncipe. A empresa
taiwanês, esta pequena empresa familiar são-tomense pretende
familiar é constituída, atualmente, por crescer, conquistar novos mercados
uma equipa de 15 pessoas. Dedica-se, internacionais e diversificar a sua
maioritariamente, à produção biológica produção, apostando na transformação
de café e de cacau. No caso do café, do cacau, da banana e da jaca.
todo o processo de produção, desde Recentemente, investiu na criação
o cultivo dos grãos, à sua transformação, do Alei Coffee Shop, onde comercializa
embalagem e distribuição final, o café biológico por si produzido. Têm
é realizado pela Efraim Café. Para além apostado, igualmente, na oferta de
de comercializados nas instalações serviços de alojamento local dentro da
da empresa, os seus produtos são roça de Monte Café, realizando visitas
distribuídos no mercado interno e guiadas às suas plantações e fábrica.
© ORLANDO GARCIA

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© VANESSA RODRIGUES
PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 191

AS IDEIAS
DO DESIGN
SUSTENTÁVEL
NA FLORESTA
M E Z I M B I T E F O R E ST C E N T R E , M O Ç A M B IQ U E

Born out of a reforestation initiative, herbs like marigold and aloe vera;
the Mezimbite Forest Centre is nowadays, native woods like Chanfuta and
a private company working in sustainable Blackwood; and vegetables such as
forestry management, with an organic beetroot, mustard, mboa (a particular
farming production for markets and local kind of pumpkin whose leaves are used
communities consumption. Examples of in traditional dishes), rocket, dill, and
plants grown there include: medicinal piri-piri (hot pepers).

O Mezimbite Forest Centre (Centro da plantas nativas como a chanfuta e o


Floresta Mezimbite), localizado a cerca pau preto; produtos hortícolas como
de 30 minutos do centro da cidade a beterraba, mostarda, mboa, rúcula,
da Beira, nasceu em 1994, por iniciativa aneto (tempero e repelente), piri-piri,
do arquitecto Allan Schwarz e emprega, entre outros. Depois, mobiliário, mel,
atualmente, cerca de 100 moçambicanos sabão de côco e artesanato em madeira
- desde marceneiros e espremedores reaproveitada são, ainda, alguns dos
de óleo a viveiristas e apicultores. produtos do projeto. Além disso, tem
O sul-africano, que é também uma forte componente de formação
ambientalista, decidiu fazer o para a comunidade: carpintaria, gestão
reflorestamento de Mezimbite, sustentável e nutrição.
abrindo novas áreas para trabalhar na Ao desenvolver novas habilidades
comunidade, sensibilizando para uma entre os membros da comunidade
boa gestão dos recursos naturais. A local, a proporção do produto de valor
ideia era colocar em prática as ideias de acrescentado aumentou e as vendas
design sustentável que eram o conteúdo de matérias-primas como o carvão,
de “Design with Nature” , um curso que devastando a floresta, cessaram.
ele ensinou como professor no Centro Com maior conhecimento e
de Estudos Visuais Avançados do Instituto habilidades, a Mezimbite agora produz
de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma série de produtos florestais não-
nos EUA. -madeireiros e produz excedentes
A iniciativa é hoje uma empresa de alimentos através de sua divisão
privada de gestão sustentável da floresta, agroflorestal. Em 2010, os produtos
onde se cultiva de forma biológica, da Mezimbite (sob as marcas BoM
quer para venda, quer para consumo e ADS) foram usados pela UNCTAD
das comunidades locais. como exemplos de melhores práticas
Por exemplo: cultiva plantas medicinais de produtos da Biodiversidade durante o
como a calêndula e o aloé vera; Ano da Biodiversidade das Nações Unidas.

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© VANESSA RODRIGUES
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© VANESSA RODRIGUES

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© VANESSA RODRIGUES
PRODUTOS NATURAIS E GASTRONOMIA 195

PRODUTOS
NATURAIS 100%
MOÇAMBICANOS
MOZAMBIQUE GOOD TRADE, M O Ç A M B IQ U E

“We want to promote local/Mozambican and develop the local economy, small
products throughout the world, by adding companies, and to promote development
value through processing, packaging and in a more inclusive manner”. This is how
branding, and to help place them in the Mozambique Good Trade defines its mission.
market. In doing so, we aim to support

A Mozambique Good Trade é uma criadas algumas marcas com as quais


empresa privada moçambicana, fundada a Good Trade trabalha como: Finana,
por Diogo Lucas, com um percurso na BOM, Bao Vita, Café Niassa, Mozambican
área da consultoria financeira. Diogo Honey, Coconut Oil Mozambique,
percebeu o potencial de exportação Tropicaliza polpas de fruta, Bom Sal (Flor
de muitos produtos nacionais que, de Sal do Índico). Estas marcas procuram
contudo, não estavam a singrar no destacar-se por sua origem, provenientes
mercado nacional e internacional, e que de pequenas explorações e empresas
as dificuldades de valorização eram nacionais, e pela elevada qualidade.
comuns entre as pequenas empresas. A distribuição e comercialização dos
A Mozambique Good Trade quer produtos é feita através de retalhistas/
mudar a percepção sobre os produtos supermercados/lojas alimentares,
moçambicanos e criar uma nova imagem e salões e spas para cosméticos,
para a produção nacional para melhorar chegando a consumidores com
o seu posicionamento no país e no preocupações com o consumo saudável
exterior: “Nós queremos promover e local. Todavia, a logística nacional e
os produtos locais/moçambicanos a exportação dos produtos constituem
para o mundo, através do acrescento desafios persistentes, principalmente
de valor/processamento, embalamento para mercados europeus e americanos
e branding e ajudar a colocar no mercado. que mantém grandes restrições
Desta forma, pretendemos apoiar e a produtos agrícolas e alimentares.
desenvolver a economia local, pequenas A Mozambique Good Trade tem 7
empresas e promover o desenvolvimento colaboradores permanentes e trabalha
de forma mais inclusiva.” com cerca de 15 fornecedores, que são
A empresa trabalha na valorização de todos pequenos produtores, com os
produtos naturais 100% moçambicanos quais pretende continuar a trabalhar
como coco, banana, malame, chá, para melhorar a visibilidade / imagem
arroz, café, mel, de produtos alimentares dos produtos, a qualidade produtiva
transformados e cosméticos. Estão já e o acesso a mercados.

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© VANESSA RODRIGUES
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© VANESSA RODRIGUES

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© ANITA WASIK
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PRODUTOS
DA TERRA
E DO MAR
BIJAGÓ
T I N IG U E N A , G U I N é - B i s s a u

Tiniguena is a Bissau-Guinean NGO National Consumption Day celebrations,


whose work is focused on the protection Tiniguena organises events around the
and promotion of the country’s natural national cuisine heritage, with the Fish
resources and the knowledge of Guinea- Fest standing out amongst those.
Bissau’s ethnic groups. As part of the

A Tiniguena é uma ONG guineense possível encontrar pratos confecionados


que actua na protecção e valorização com a diversidade de espécies marinhas
dos recursos naturais e dos saberes da costa guineense, incluindo, em 2018,
associados à gastronomia e à cultura inovações à base de marisco e peixe
das várias etnias da Guiné-Bissau. Neste propostas por Viriato Pã, conhecido chef
sentido, apoia processos de organização guineense ligado à gastronomia moderna
e produção comunitárias e de divulgação africana., por uma jovem gastrónoma
e comercialização para gerar renda guineense e por uma cozinheira bijagó
para as comunidades afirmando. Para de Urok. Com o propósito de promover
dinamizar o mercado e mostrar a riqueza a introdução gradual nas ementas
e qualidade dos produtos nacionais, a escolares e hoteleiras, de valores como
organização traz para Bissau o que de o uso de produtos não artificiais, a
melhor se encontra pelas diversas regiões importância dos valores nutricionais e
do país. São exemplos dessa atividade, a preferência por pratos e ingredientes
os produtos das ilhas Bijagós, de Urok, locais, estes eventos são considerados
produzidos com base em princípios de muito importantes para a promoção da
agricultura sustentável, entre outros. gastronomia e dos produtos guineenses
No âmbito das comemorações do seguindo os valores e princípios da
Dia do Consumo Nacional, a Tiniguena Tiniguena relativos à segurança alimentar
organiza eventos em torno do património e à preservação dos valores culturais
gastronómico nacional, destacando-se a do país.
Festa do Peixe. Nesta iniciativa, tem sido

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200
Serviços
DESIGN & ARTEFACTOS 201

criati
vos

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© VANESSA RODRIGUES
SERVIÇOS CRIATIVOS 203

O DESAFIO
dA MUDANÇA
SOCIAL
A N I M A E ST Ú DIO C R I AT I VO, M O Ç A M B IQ U E

ANIMA is an audiovisual company that -design and audiovisual products


combines design, video production, and services, in an integrated way.
content development and interaction In their words: “we work to involve,
solutions, working as a creative the experience of engaging all those
studio where art, culture and social who are touched by the topics we
development come together. It develops address to produce change”.
creative communication projects, web-

A ANIMA é uma empresa da área integrar no seu trabalho, o conhecimento


audiovisual, criada em 2012, que do contexto, de forma criativa, para a
une o design à realização de vídeos, criar impacto social. A ANIMA assume
informação e interactividade, assim, o interesse e o desafio de articular
funcionando como um estúdio as necessidades locais com a perceção
criativo que articula arte, cultura e do que está a acontecer no mundo para
desenvolvimento social. Neste sentido, criar diálogos entre local e global.
mobiliza pessoas de áreas diversas, com Integrando, na sua práctica, reflexão
conhecimento especializado em arte, e questionamento para melhorar a
design, craftmanship, e capacidade para sua actividade, procuram posicionar-
criar e desenvolver. se num espaço não convencional de
A ANIMA realiza projectos criativos de desbravamento de terreno, apostando
comunicação, concebendo produtos e na participação em projectos que
serviços de design digital e audiovisual, interagem directamente com as pessoas,
de forma integrada. Tendo como áreas saúde, educação. Assim, o centro do
principais de atuação, a comunicação seu trabalho não é a comunicação para
para o desenvolvimento social e para venda, mas para a mudança social,
a cultura, tem nestes setores parte comunicação para a mudança
importante dos seus clientes, procurando de comportamento.

f ut u r o s c r i at i v o s
204

© CEDDIA POR ATELIER MULEMBA


DESIGN & ARTEFACTOS 205

DESIGN
E ARQUITETURA
COM FUNÇÃO
SOCIAL
At e l i e r M u l e m b a , A n g o l a

Atelier Mulemba, in Luanda, defines and respect for the environment to be an


itself as a design atelier specialized in important features of their work, focusing
architectural spaces. Throughout its on the development of suitable and
trajectory, it has developed projects that sustainable solutions and practical ways
aim to be “in harmony with the context”. to meet needs and interests.
They consider identity, social engagement

Criado em 2012, como uma pequena angolanos e estrangeiros residentes,


empresa familiar, o Atelier Mulemba, empresas nacionais e entidades estatais
em Luanda, define-se como um atelier e dispõem de parcerias com outras
de design, especializado em espaços entidades do setor com quem partilham
arquitetónicos. Ao longo do seu percurso saberes e ideias, recursos de trabalho,
têm estado implicados em projetos que clientes e mercados, numa perspetiva
procuram que sejam “coerentes com os colaborativa.
contextos” e nesse sentido, procuram Privilegiam um modelo organizacional
repensar os espaços e materiais para os aberto e evolutivo, inventando e
ajustar aos locais onde estão inseridos. reciclando soluções e participando de
Atualmente composto por quatro projetos de cariz social (socioculturais
arquitetos e um designer, o Atelier e socioeducativos). Definem o seu
oferece serviços de design de trabalho como identitário, implicado
arquitetura, de interiores e de exposição e ambientalista, apostando na
bem como controlo de obras no demonstração de soluções sustentáveis
processo de construção e serviços e convenientes e de formas práticas e
de design gráfico. Simultaneamente, aplicadas aos interesses e curiosidades.
efetuam trabalho de pesquisa no âmbito Procuram assim, através dos seus
da arquitetura e do design. Projetaram projetos, valorizar o património existente.
diversas exposições em museus públicos, São, hoje, uma marca angolana do
como o Museu de Antropologia de design e arquitetura com uma identidade
Luanda. Servem clientes particulares, própria e reconhecida.

f ut u r o s c r i at i v o s
206
SERVIÇOS CRIATIVOS 207

UMA CULTURA
DE PROJECTOS
INSPIRADORES
I D E I A L A B , M o ç a m b iq u e

ideiaLab uses knowledge as a “raw The goal is to “ effect change from


material” to support the development of the ground up”, “to increase the ability
new business and start-ups. “It was a very to work on personal development”,
slow process, partly because it was the and to “empower, by promoting
first time there was a business idea in the inspiring projects”.
ICT area”, one of the founders said.

A ideiaLab é uma empresa social, forma. “Queremos trazer pessoas para


fundada em 2010 em Maputo, dedicada o mercado com essa capacitação
ao empreendedorismo e à inovação, para dar mais esperança à juventude,
com especial enfoque nas iniciativas que não tem emprego”. Uma das
lideradas por jovens e mulheres. estratégias de ação é “partir daquilo
Através da organização de eventos e de que não correu bem”, de forma a
programas de formação, capacitação e “criar melhores soluçõeS”, admite Sara.
mentoria, a ideiaLab usa o conhecimento O objetivo é “operar a mudança a partir
enquanto “matéria prima”, para apoiar de base”, “incrementar a capacidade de
a criação de novos negócios e o trabalho em desenvolvimento pessoal”,
desenvolvimento de startups. A sua e “empoderamento, promovendo
base de redes e contactos permite-lhe projetos inspiradores” e uma “ mudança
aconselhar os e as empreendedoras no social no discurso”.
acesso a mercados e fontes alternativas Desde 2014 a ideiaLab tem
de financiamento, bem como em organizado o programa de formação
estratégias de aceleração do crescimento e mentoria FEM TECH, trazendo para
de micro, pequenas e médias empresas. território moçambicano a iniciativa de
“Foi um processo muito lento, até “empoderamento dos negócios das
porque era a primeira vez que surgia uma mulheres”. Pioneira na experiência e
ideia de negócio nas TIC (Tecnologias no design, um dos motes da ideiaLab
de Informação e Comunicação)”, é “desmistificar a criação do negócio”,
© VANESSA RODRIGUES

conta uma das fundadoras, Sara Fakir, o que muitas vezes passa por “pegar
acrescentando que como já “havia massa no que já existe e que pode ser feito
crítica para tal”, a vontade de criar uma melhor”, dando-lhe um toque daquilo
cultura empreendedora foi ganhando que chamam “Pink Magic”.

f ut u r o s c r i at i v o s
208
DESIGN & ARTEFACTOS 209
© VANESSA RODRIGUES

f ut u r o s c r i at i v o s
210

© ANITA WASIK
SERVIÇOS CRIATIVOS 211

A AMBIÇÃO
DE FORMAR
1000 JOVENS
EM INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL
I N N O VA L A B , G u i n é - B i s s a u

Innova Lab was created in 2015 it aims to spur innovation in the country,
with the goal to promote an enabling namely by promoting spaces for co-
environment for entrepreneurship and -working, workshops, pitches, as well as
information technologies development by organising conferences. Additionally,
in Guinea Bissau. Founded by young Innova Lab makes available mentoring
Bissau-Guineans with a background in services to Guinean start-up companies.
management, engineering, and finance,

O Innova Lab surge, em 2015, com novas tecnologias no país através da


o objetivo de criar um ambiente dinamização de atividades de formação
favorável ao empreendedorismo e empoderamento.
e às novas tecnologias na Guiné-Bissau. A Africa Science Week (ASW),
Fundado por jovens guineenses formados organizada pelo InnovaLab em parceria
nas áreas da gestão, engenharia e com o Next Einstein Forum, decorreu
finanças, procura potenciar a inovação entre os dias 25 e 29 de setembro
no país. O laboratório atua em várias de 2018. Teve como objetivo central
vertentes, nomeadamente através da promover o desenvolvimento tecnológico
dinamização de espaços de co- em África e no mundo e incentivar
-working e de workshops, pitches a participação do país em eventos
e conferências relacionadas com os científicos e tecnológicos. Em 2018,
temas do empreendedorismo, novas no âmbito da ASW, organizaram um
tecnologias e ciência. Simultaneamente, workshop orientado para jovens sobre
disponibiliza serviços de mentoria a técnicas de redação de cartas de
start-ups guineenses, oferecendo-lhes motivação e de currículos.
aconselhamento por parte de técnicos De acordo com um dos seus
e especialistas nestas áreas. fundadores, o laboratório pretende
O laboratório permitiu, desde 2015, formar 1.000 jovens nas áreas
incubar mais de 10 projetos, 5 dos quais da inteligência artificial, blockchain
já se encontram em funcionamento, e robótica, de forma a desenvolver
gerando emprego e riqueza para o país. as suas competências nestes setores
Para além de uma vertente mais e a incentivar a utilização das novas
ligada ao setor empresarial e ao tecnologias para solucionar os problemas
apoio a start-ups, o Innova Lab tem que o país enfrenta.
procurado incentivar a utilização das

f ut u r o s c r i at i v o s
212

© LUANDA NIGHT LIFE


SERVIÇOS CRIATIVOS 213

Uma
plataforma
para conhecer
Luanda
L u a n d a N ig h t l i f e , A n g o l a

Luanda Nightlife is a bilingual web- and expensive bars and clubs at Luanda’s
-platform focused on Angola’s capital Island to the small and exquisite restaurants
cultural, gastronomic, hospitality and inside Fortaleza: if they serve “kitutes”
nightlife scene: “From the pretentious and drinks we will be the to taste it!”.

O projeto Luanda Nightlife surge preços. Têm promovido a Rota


como um espaço de informação do Petisco, organizada em parceria
para estrangeiros e visitantes sobre com a Cerveja Tigra. Em conjunto com
gastronomia, hotelaria e eventos culturais a empresa Delta Cafés, dinamizaram o
e de entretenimento em Luanda. Delta Gourmet Experience, onde alguns
Em 2013 o projeto transforma-se numa dos mais reconhecidos chefes angolanos
empresa. A plataforma bilingue pretende criaram menus inspirados no café.
dar a conhecer a vida noturna, cultural, Na sua Agenda Alternativa,
gastronómica e hoteleira da capital a plataforma divulga semanalmente
de Angola. No seu web-site é possível eventos de cariz cultural a decorrer
procurar restaurantes luandenses tendo na cidade. Os guias turísticos por si
em conta o bairro, o tipo de comida, o elaborados debruçam-se sobre as várias
preço e a classificação. De acordo com regiões angolanas, procurando valorizar
os fundadores da plataforma, o que os as suas mais-valias do ponto de
move é o prazer de explorar a cidade vista turístico.
e de partilhar os sítios que descobrem Atualmente, para além de empregar
neste processo. três pessoas de forma permanente,
“Desde os pretensiosos e caríssimos a LNL conta com 25 colaboradores.
bares e clubes da Ilha ao pequeno De acordo com fundadores, a empresa
e requintado restaurante dentro da tem permitido promover o setor cultural
Fortaleza: se servem kitutes e bebidas, e do turismo em Angola, incentivando
estaremos lá para provar!” o turismo interno e facilitando o acesso
Organizam atualmente o maior à restauração. Procuram, simultaneamente,
evento gastronómico do país, o Angola atenuar o isolamento que algumas zonas
Restaurant Week. Durante este evento do país enfrentam. A sua identidade tem
os restaurantes da cidade baixam os seus um foco nacional e na inovação.

f ut u r o s c r i at i v o s
214
SERVIÇOS CRIATIVOS 215

UMA APOSTA
NA ECONOMIA
SOLIDÁRIA
CRIATIVA
M a ko b o , M o ç a m b iq u e

Makobo - Plataforma Solidária (solidarity arts, wanted to promote arts and crafts
platform, literary) is a social economy as a sustainable business for local
initiative with an integrated approach, communities. Nowadays, he works in
working on education (literacy ), partnership with female and male artisans
nutrition, arts and crafts, and agro- as well as with the Mezimbite project,
-ecology. The founder, Ruy Santos, in Beira, and they sell their products
after studying architecture, design and through an online shop.

A Makobo - Plataforma Solidária, é uma à oitava classes do ensino público.


empresa de economia social que integra Já a iniciativa Sopa Solidária surge para
as componentes de educação (literacia atender o grave problema social da má
e alfabetização), nutrição, artesanato e nutrição. Por dia, servem cerca de 400
agroecologia. Surgiu em 2005, quando sopas, beneficiando, semanalmente,
Ruy Santos regressou a Moçambique, cerca de duas mil pessoas,
depois de uma temporada a trabalhar principalmente idosos e crianças.
e a estudar Arquitetura, Design e Artes Além disso, a Makobo promove a
em Portugal. Nessa altura, queria merenda escolar , apoiando diariamente
impulsionar o artesanato nacional como crianças e jovens carenciados, dos
forma de negócio sustentável para as 3 aos 17 anos de idade, residentes em
comunidades. Entretanto, foi convidado bairros degradados e a frequentarem
para trabalhar na Feira de Artesanato, o ensino público.
Flores e Gastronomia de Maputo (FEIMA) Em contrapartida, os pais e os
e constatou que tinha de formar os educadores têm de plantar uma árvore
jovens de base, pois a maioria dos de fruta, uma árvore de sombra, uma
artesãos não sabia gerir o negócio. moringa e um canteiro de hortícolas
Hoje tem parcerias com artesãs, artesãos e ou vegetais.
e com o projeto Mezimbite, na Beira, O objetivo é chegar a 2020 a
e criaram uma loja online. beneficiar um milhão de crianças em
Na área de Literacia e Alfabetização todo o país. “Como Moçambique não
© VANESSA RODRIGUES

promovem a escolinha solidária, no é auto suficiente a nível alimentar,


Bairro dos Pescadores, na Costa do Sol, precisamos de incentivar a produção
em Maputo, que funciona às terças e às local, porque a solidariedade tem
quintas-feiras, para crianças da primeira de ser sustentável a todos os níveis.”

f ut u r o s c r i at i v o s
216
SERVIÇOS CRIATIVOS 217

MISTER PAUL
E A LINGUAGEM
DO RISO
M I ST E R PA U L , G u i n é - B i s s a u

Eugeménio Mendes or Mister Paul, of communication in Guinea Bissau,


as he is known currently, discovered as well as African languages like Balanta,
his talent for advertising when he was Bidyogo, Pulaar, Mandinka, Mandjak and
still participating in a radio show. Pepel, quickly turned him into the most
Speaking Creole, the main language sought-after “advertising artist”.

Eugeménio Mendes ou Mr. Paul (Mister manjaco e pepel, rapidamente o


Paul), como hoje é conhecido pelo transformaram no mais cobiçado “artista
público, descobriu o seu talento para a da publicidade”. A remuneração essa é
criação de serviços publicitários quando variável, negociada com o cliente, mas
ainda era animador de rádio. a inovação e os risos são garantidos.
Em 2001, Mr. Paul animava um Neste momento, a publicidade que
programa radiofónico de uma igreja tem “mais fama, é a da maionese”,
evangélica, mas rapidamente percebeu num formato televisivo que permite
que a sua voz e a sua atitude positiva, explorar outros aspectos da sua arte e
apreciados pelos seus ouvintes, chegar a um público mais diversificado,
poderiam servir outros propósitos. sendo por isso necessário um esforço
Acreditando na sua capacidade de complementar em termos do serviço
influência e persuasão, Mister Paul prestado. Segundo Mr. Paul é preciso
começou a desenvolver os seus que as pessoas se relacionem com
próprios conteúdos para a promoção o produto, tanto os meninos como
de produtos alimentares, introduzindo as mulheres grandes, como quem
aspectos relacionados com o quotidiano diz, as crianças e as senhoras idosas,
do público-alvo e as especificidades afirmando que isto só é possível através
socioculturais das diferentes da “linguagem do riso” que considera
comunidades guineenses. universal, aliada à língua que as pessoas
O sucesso foi imediato! O recurso consideram como sua, seja ela o crioulo
ao crioulo, principal língua de ou uma língua materna. Actualmente tem
© ANITA WASIK

comunicação, e às línguas maternas, a sua própria rádio, a Tropical FM.


balanta, bijagó, fula, mandinga,

f ut u r o s c r i at i v o s
218
SERVIÇOS CRIATIVOS 219

NOME DO LIVRO
220

© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO


SERVIÇOS CRIATIVOS 221

N
DE NEGÓCIOS
COM MARCA
CV
N E s pa ç o s , C A B O V E R D E

N-Espaços (N-Spaces), is a family -magazine shop; from a travel agency to


enterprise that hosts multiple service- a household goods shop, a coffee shop
-oriented businesses that promote and a grocery store that sells products
elements of Cape Verdean culture: from that carry the CV (Cape Verde) brand.
a bookstore to a stationary-

Criada em 2010 e impulsionada pela Abrolhos, pequenas empresas nacionais


necessidade dos seus dois sócios e particulares.
terem liberdade criativa e exercerem a Visando reforçar a sua capacidade
profissão de forma autónoma, visando competitiva e para participar em
a valorização da arquitectura, a NZ concursos onde não possui todas
é uma jovem empresa que trabalha as valências técnicas, a empresa vem
na área da arquitectura, urbanismo, estabelecendo parcerias com empresas
engenharia e construção civil. Aposta em internacionais, nomeadamente do
provar que é possível a criação de uma Brasil e dos Estados Unidos da América,
arquitectura moderna, que obedece às para o desenvolvimento de projectos
especificidades do país, que salvaguarda específicos. Os promotores apontam
o ambiente e proporciona conforto aos como principal constrangimento
clientes a um custo acessível. ao desenvolvimento do sector
Fundada com recursos próprios o incumprimento de regras,
dos sócios, uma mulher e um homem, a informalidade, mas sobretudo
a MZ tem quatro colaboradores e a ausência de concursos que premeiem
quatro empregados, possui uma boa os projectos de arquitectura.
carteira de clientes no panorama Os próximos passos serão dados
nacional, sendo de referenciar a rede no sentido da consolidação da empresa,
de supermercados Calu&Angela, a entrada no sector imobiliário
empresas como a Tecnicil, SEMICO, e a construção de uma sede própria.

f ut u r o s c r i at i v o s
222
DESIGN & ARTEFACTOS 223
© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO

f ut u r o s c r i at i v o s
224

© CÉSAR SCHOFIELD CARDOSO


SERVIÇOS CRIATIVOS 225

ARQUITECTURA
E CRIATIVIDADE
N&Z, CABO VERDE

Created in 2010, driven by the need is a young company specialized in


that its two partners felt to have creative architecture urbanism, civil engineering
freedom, to exercise their profession and construction, with environmental
in an autonomous manner, and to raise concerns, that aims to provide confort
interest for architecture, N&Z Arquitetos at accessible prices.

Criada em 2010 e impulsionada pela SEMICO, Abrolhos, pequenas empresas


necessidade dos seus dois sócios nacionais e particulares.
terem liberdade criativa e exercerem Visando reforçar a sua capacidade
a profissão de forma autónoma, visando competitiva e para participar em
a valorização da arquitectura, a N&Z concursos onde não possui todas
Arquitectos é uma jovem empresa as valências técnicas, a empresa vem
que trabalha na área da arquitectura, estabelecendo parcerias com empresas
urbanismo, engenharia e construção internacionais, nomeadamente do Brasil
civil. Aposta em provar que é possível e dos Estados Unidos da América, para
a criação de uma arquitectura moderna, o desenvolvimento de projectos
que obedece às especificidades do país, específicos.
que salvaguarda o ambiente Os promotores apontam como principal
e proporciona conforto aos clientes constrangimento ao desenvolvimento
a um custo acessível. do sector o incumprimento de regras,
Fundada com recursos próprios a informalidade, mas sobretudo a
dos sócios, uma mulher e um homem, ausência de concursos que premeiem
a NZ tem quatro colaboradores e quatro os projectos de arquitectura.
empregados, possui uma boa carteira de Os próximos passos serão dados
clientes no panorama nacional, sendo no sentido da consolidação da empresa,
de referenciar a rede de supermercados a entrada no sector imobiliário
Calu&Angela, empresas como a Tecnicil, e a construção de uma sede própria.

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Grátis // Quinta-feira, 11 de Agosto de 2016 // Número 0 // Directora: Samira Pereira

Mindel Summer Jazz


B.Leza Jazz
de Tchitche

O Tríptico
de Tchalé Figueira

Cachupa Road
Rota Gastronómica

Vila Leopoldina
Um projecto Allmedia da O2
© CEDIDA POR OII
SERVIÇOS CRIATIVOS 227

FORMAS
DE CONTAR
E PARTILHAR
HISTÓRIAS
OI I , C A B O V E R D E

OII is a company focused on culture, things communicate and that art


communication and marketing in Cape and culture are essential to development.
Verde that stands out for the personalised Despite being a private company,
and differentiated services it offers. OII considers itself to be, essentially,
Actually, they like telling and sharing a platform for sharing ideas, dreams,
stories in multiple ways, believing that all and projects to serve the public interest.

A OII é uma empresa de cultura, à implementação de campanhas:


comunicação e imagem que marca Cabo Verde Ocean Week, Moave, INPS,
presença no mercado cabo-verdiano Provedoria da República, EXPOMAR,
pelos serviços personalizados e entre outros.
diferenciados. Na realidade, gostam Imagem – Para além dos produtos/
de contar e partilhar histórias de várias serviços comerciais de comunicação,
formas e acreditam que tudo comunica, a OII foi produtora local do documentário
e que a arte e a cultura são vitais para O Outro Lado do Atlântico (BR); co-
o desenvolvimento. -produtora da longa metragem de ficção
A OII actua em três eixos Djon África (PT/CV/BR) e produtora do
interdisciplinares: documentário Canhão de Boca (CV).
Cultura – Para além de produção Apesar de ser uma empresa, a OII
de eventos, consultoria e programação, é, na sua essência, uma plataforma de
fazem assessoria de comunicação partilha de ideias, sonhos e projectos
e imprensa para produtos/serviços de interesse público. Assim nascem duas
criativos: Carnaval do Mindelo, Atlantic marcas que aglomeram todas as valências
Music Expo, Kriol Jazz Festival, Kavala da OII: Praia Maria Cultura & Lazer
Fresk Feastival, Mindel Summer Jazz, e Vila Leopoldina Cultura & Lazer.
Mindelact, Rappers Unid e AKUABA. Duas plataformas all media (do digital
Comunicação – Serviços de ao impresso, do texto ao audiovisual)
consultoria de imagem e marketing de informação gratuita sobre cultura,
criativo para organizações públicas lazer e lifestyle nas cidades da Praia
e privadas, desde o desenho e do Mindelo.

f ut u r o s c r i at i v o s
228

© CSEDAY DESIGN
SERVIÇOS CRIATIVOS 229

O DESIGN
EM MÚLTIPLAS
ÁREAS
S e d ay D e s ig n , T I M O R - L E ST E

O Seday Design is an atelier devoted websites, blogs, manage social networks,


to creative design in various areas, develop apps and games. Their main
from arts and crafts to furniture, interior clients are national and international
design, jewellery, to new media. organizations and development agencies.
For the latter, they create content,

O Seday Design é um atelier de design ao mobiliário, decoração, joalharia até


criativo criado por Almeida Ganefabra aos novos média através da criação de
de Jesus Pinto e situado em Manleu- conteúdos, produtos de comunicação,
Ana, Díli. O designer gráfico timorense sites, blogs, redes sociais, aplicações e
frequentou, em 2001, o curso de jogos. Prestam, igualmente, serviços na
Técnico Profissional de Artes Gráficas área das artes gráficas, produzindo livros,
em Portugal, em Coimbra, licenciou- brochuras e banners.
-se em Artes gráficas pela Faculdade Os seus principais clientes
de Belas-Artes do Porto, regressando, são organizações e agências para
posteriormente, a Timor-Leste, onde desenvolvimento internacionais e
trabalhou num escritório de arquitectura organizações não governamentais, como
e de design e na Secretaria de Estado o Fundo para a População das Nações
de Artes e Culturas. Unidas, o Programa das Nações Unidas
Em 2014, criou a sua empresa para o Desenvolvimento, a Agência dos
de design gráfico, a Seday Design. Estados Unidos para o Desenvolvimento
O atelier de design criativo trabalha Internacional e a Organização Mundial
em várias áreas, desde o artesanato, da Saúde.

f ut u r o s c r i at i v o s
230
turismo
DESIGN & ARTEFACTOS 231

susten
tável

f ut u r o s c r i at i v o s
232

© VANESSA RODRIGUES
TURISMO SUSTENTÁVEL 233

GORONGOSA
CRIATIVA
e Ecológica
PA R Q U E N A C IO N A L DA G O R O N G O S A , M O Ç A M B IQ U E

The Gorongosa National Park, located axis between the Gorongosa community
in an area once devastated by armed and the city of Beira. Nowadays it
conflict, is home to unfathomably rich generates employment for 700 people
flora and fauna. The Park has excellence and has a conservation approach that
status, and is considered central to the aims to balance wildlife and ecosystem
development of the region along the protection with community needs.

O Parque Nacional da Gorongosa (PNG), de uma série de atividades com


na província de Sofala, é uma parceria a comunidade nas áreas de saúde,
público-privada entre o Governo educação ambiental e recursos naturais
de Moçambique e a Fundação Carr - de serviços científicos, de media
(Projecto de Restauração da Gorongosa) e comunicação, de conservação e
- uma organização norte-americana sem fiscalização, de finanças e operações.
fins lucrativos. Depois, inclui, igualmente, a equipa do
Localizado numa área outrora fustigada alojamento e o restaurante Chikalango,
pelo confronto bélico, com uma riqueza geridos pelo grupo Montebelo, SA.
de fauna e flora incalculáveis, uma vez O PNG desenvolve, de forma
que fica no extremo sul do Grande Vale transversal, uma diversidade de
do Rift Africano, o PNG é considerado segmentos criativos, como turismo
um projeto de excelência e um dos criativo ecológico, produtos naturais
motores de desenvolvimento do eixo como café, actividades de economia
entre a comunidade da Gorongosa e a social, eventos de expressões culturais
cidade Beira. tradicionais, etc.. É considerado um
Atualmente emprega cerca de modelo em várias frentes. Por um lado,
700 pessoas e segue um modelo é exemplo de restauração, conservação
de conservação que equilibra as da vida selvagem em África e, ainda,
necessidades da vida selvagem e das de preservação da biodiversidade.
pessoas, através de um plano de maneio Por outro lado, promove um turismo
que firma um compromisso de gestão sustentável, criando empregos para
participativa. a população local e gerando receitas
Os recursos humanos distribuem-se sustentáveis para o Parque. Depois, tem-se
entre serviços turísticos, com atividades destacado na ciência, promovendo a
com guias nativos especializados em investigação dentro do parque e o ensino
safaris, por exemplo, e os departamentos universitário, através de um Mestrado em
de desenvolvimento humano - promotor Biologia de Conservação.

f ut u r o s c r i at i v o s
234

© INÊS GONÇALVES
TURISMO SUSTENTÁVEL 235

RESPEITAR
OS PRINCÍPIOS
DO ECOTURISMO
J A L É E C O LO D G E , S Ã O TO M É E P R Í N C I P E

Jalé Ecolodge is located by the Obô between the state of São Tomé and
Natural Park, near the equator imaginary Príncipe and two NGOs. Jalé Ecolodge
line, in an area that integrates three types provides eco-tourism services such as
of ecosystems: mangrove, marine, and accommodation in bungalows, eateries,
tropical forest. It is a sustainable tourism conservation initiatives, mangrove tours,
space that was established by a consortium and turtle and whale watching.

O Jalé Ecolodge está situado junto o esconderijo de diversas espécies


ao Parque Natural Obô de São Tomé, endémicas, de fauna e flora, o Jalé
próximo à linha imaginária do equador, Ecolodge é um lugar que respeita os
numa área que integra os ecossistemas verdadeiros princípios do ecoturismo:
de mangal, marinho e de floresta Todas as estruturas do Ecolodge são
tropical. Em 2013 o Jalé Ecolodge teve construídas a partir de materiais locais,
assim as suas estruturas reabilitadas e de baixo impacto ambiental, sendo
ampliadas, com base nos princípios e também utilizadas energias alternativas;
técnicas da bioconstrução e abriu ao Os serviços ecoturísticos disponíveis
público em 2014. incluem actividades de observação
Foi criado por um consórcio com o e investigação da natureza e da
estado santomense (Direcção geral do vida animal – em terra ou no mar –
Ambiente / Parque Natural de Obô) possibilitando a descoberta dos diversos
e duas ONGs, uma estrangeira e uma ecossistemas locais.”
nacional, a ALISEI e a MARAPA (entidade A gastronomia local tem lugar de
gestora). Tem uma equipa de cerca destaque no Ecolodge, com pratos
de uma dezena de pessoas e fornece preparados por cozinheiros locais e
serviços de ecoturismo em bungalows, com ingredientes provenientes das
de restauração, passeios no mangal, comunidades envolventes. Está integrado
observação de tartarugas e de baleias. na Plataforma de Turismo Responsável e
Esta iniciativa é um caso de sucesso Sustentável (recém criada no país, com
e de referência com mais-valias sócio- 32 membros, em 2015) e nas plataformas
ecológicas, como é destacado no site online de reservas.
da entidade: “Numa área que é também

f ut u r o s c r i at i v o s
236

© ORLANDO GARCIA
TURISMO SUSTENTÁVEL 237

UM NEGÓCIO
ECO-
-SUSTENTÁVEL
M U C U M B L I , s ã o TO M é E P R Í N C I P E

Mucumbli is the name of a tree that is owned accommodation for tourists, local
considered to have magical powers in gastronomy, farming, tours, and bicycle
some countries of Western Africa, due and auto-renting. This eco-sustainable
to is medicinal properties. A sustainable and small business seeks to stimulate new
tourism company named after this tree economic and social dynamics in that
was founded in São Tomé and Príncipe region, where employment chances are
that combines short term, locally- usually low.

A empresa de turismo sustentável a campismo, colaborar nos trabalhos


Mucumbli foi criada em 2013, em Ponta agrícolas, ver os animais que aí habitam,
Figo, no distrito de Lembá. Mucumbli é o como coelhos, galinhas, cabras, burros,
nome de uma árvore considerada mágica ovelhas e abelhas, provar comida
em alguns países da África Ocidental, tradicional são-tomense e visitar a Praia
pelas suas propriedades medicinais. das Furnas, onde o complexo
A Mucumbli combina o alojamento está localizado.
local, com a restauração, a exploração O negócio eco-sustentável e de
agro-pecuária, excursões e o aluguer pequena dimensão procura estimular o
de veículos e bicicletas. A empresa de dinamismo económico e social daquela
turismo sustentável organiza passeios região, caracterizada pela falta de
pedestres e de bicicleta pelo distrito oportunidades de trabalho e pelo seu
de Lembá, ao Pico de São Tomé e ao baixo índice de desenvolvimento, um dos
Pico de Gago Coutinho. Com recurso mais baixos do arquipélago. A Mucumbli
a técnicos especializados na observação emprega, em permanência perto de uma
e aproximação de animais da família das dezena de pessoas e, sazonalmente,
baleias ou dos golfinhos no seu habitat duas dezenas. A grande maioria dos
natural, a Mucumbli dinamiza excursões trabalhadores é originária do distrito de
de barco que permitem observar Lembá, nomeadamente de Ponta Figo,
estes animais. Neves e Generosa. Esta iniciativa tem
Na propriedade de 7,5 hectares permitido o envolvimento da população
é possível observar várias espécies de local e o combate ao desemprego na
plantas endémicas, pernoitar num dos região, valorizando, simultaneamente,
challets, bungalows ou na zona destinada o seu património natural e cultural.

f ut u r o s c r i at i v o s
FICHA TÉCNICA 239

T Í T U LO

FUTUROS CRIATIVOS: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,


Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste

C O O R D E N A Ç ÃO :
ACEP

A U TO R E S

T E X TO S
André Nabais, Alexandro Cardoso, Débora Sanches,
Fátima Proença, Ilsa Sá, Maria Miguel Estrela, Mário Moniz,
Marta Lança, Mídana Mbussum, Olívio Díogo, Orlando Garcia,
Pedro Castanheira, Rita Cavaco, Samira Pereira, Sara Almeida,
Sara Moreira, Saturnino Oliveira, Tânia Santos, Tavares Cebola,
Vanessa Rodrigues.

I M AG E N S
Abut, ALAIM, Andim Média, Anita Wasik, Appy, Artissal,
Atelier Mar, Atelier Mulemba, Bastien Loloum, Black Box,
Bernardino Soares, Betty Reis, César Schofield Cardoso,
Cheirus, CNAD, Corubal, Dário Paraíso, Dilicious, Empreza Di`ak,
Inês Gonçalves, João Tuna, Ku Si Mon, Luanda Night Life,
Marta Lança, M_EIA, Mic Dax, MINDELACT, Musa&Co, OII, Okutiuka,
Orlando Garcia, ORLEI, Rui Carvalho, Rui Tavares, Seday Design,
Tupuca, Vanessa Rodrigues.

E DI Ç ÃO :
ACEP

C A PA E C R I A Ç ÃO G R Á F IC A
Armanda Vilar

F I N A N CI A M E N TO :
ACEP
Camões - Instituto da Cooperação e da Língua
Fundação Portugal – África

I M P R E S S ÃO :
Guide Artes Gráficas

IS B N : 978-989-8625-19-9

D E P Ó SI TO L E GA L : 456710/19

Esta publicação foi elaborada com o apoio financeiro do Camões I.P.


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