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1 – O QUE É A ARBITRAGEM?

No mundo jurídico são consagrados três tipos de resoluções alternativas de conflitos, ou seja, formas de
composição de litígio longe da esfera tradicional do poder judiciário.

Tais alternativas de resolução de conflitos vêm alcançando grande popularidade entre os operadores do
Direito, pois entregam decisões de forma mais célere, e com ajuda de pessoas nas quais se confia, sabendo
da capacidade destas para decidir acerca do objeto em litígio.

As três formas consagradas são: a Conciliação, a Mediação e a Arbitragem. As duas primeiras possuem
característica de autocomposição, quando as partes trabalham sendo ajudados por um conciliador ou
mediador em busca de um acordo que satisfaça as partes, com a diferença que na conciliação ainda se
busca um equilíbrio no acordo, e na mediação somente importa que se chegue à composição, sem se levar
em consideração se há ou não justiça no acordo estabelecido.

Enquanto isso, a Arbitragem difere drasticamente de ambas, pois aqui não há que se falar em acordo ou
autocomposição. Neste método, entrega-se o litígio na(s) mão(s) de um ou mais árbitros, que decidirão
sobre o caso.

Este mecanismo pode ser considerado o mais importante e mais difundido meio de resolução alternativa de
conflito por possuir maior demanda e tratar de casos de grande relevância no mundo jurídico.

A Arbitragem – meio alternativo de solução de controvérsias através da intervenção de uma ou mais


pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção
estatal, sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença judicial – é colocada à disposição
de quem quer que seja, para solução de conflitos relativos a direitos patrimoniais acerca dos quais os
litigantes possam dispor.

Trata-se de mecanismo privado de solução de litígios, através do qual um terceiro, escolhido pelos
litigantes, impõe sua decisão, que deverá ser cumprida pelas partes. Ou ainda, na visão de outro
conceituado doutrinador, Alexandre Freitas Câmara, que assim define a arbitragem:

A Arbitragem, já se viu, é um meio paraestatal de solução de conflitos, inserido nas conquistas alcançadas
pela “terceira onda renovatória” do Direito Processual. Trata-se de um meio de heterocomposição de
conflitos, ou seja, um meio de composição do litígio em que este é solucionado por um terceiro, estranho
ao conflito, isto é, a solução do conflito é obra de alguém que não é titular de nenhum dos interesses
conflitantes.

A Arbitragem possui a mesma característica do sistema judiciário, se utiliza da heterocomposição como


método para a resolução do conflito, ou seja, as partes entregam seu problema a um terceiro, ou terceiros,
que não possua interesse na causa, que decidirá de forma justa, à luz da legislação pertinente. As
semelhanças, todavia, cessam neste ponto.

Enquanto no Poder Judiciário existem inúmeros juízes, cada um pensando de forma diversa, e decidindo da
forma que julgam correta e conveniente, conduzindo o judiciário a insegurança jurídica, uma vez que um
caso poderia ser decidido de forma “x” por um juiz que por acaso recebeu o processo pela distribuição;
poderia ocorrer, deste mesmo processo, ser distribuído aleatoriamente a outro juiz, que decidiria de forma
diametralmente oposta. Na Arbitragem, os árbitros, por serem pessoas escolhidas pelas partes, não há que
se reclamar acerca da decisão, que foi fruto da escolha do julgador pelas partes.

Ademais, observa-se que a arbitragem é um meio de resolução de conflitos extrajudicial, tendo que ser
contratado o serviço, o que poderá ser estabelecido já na realização do contrato, ou, tão somente, após a
existência do litígio acerca de um objeto.

O principal fator para este meio de solução de controvérsias vir ganhando cada vez mais espaço no mundo
jurídico se deve à celeridade dos andamentos processuais, neste meio de resolução, maior anseio da
sociedade, que deseja ver seus problemas resolvidos da forma mais rápida possível, evitando desgastes
desnecessários que prejudicam ainda mais a relação que já encontra-se abalada pelo litígio.

Esta maior celeridade deve-se em grande parte pela falha na prestação jurisdicional do Estado, que devido
ao grande número de demandas que vem recebendo encontra-se falido, pois não consegue julgar
habilmente todas as causas, causando desconforto à sociedade que se vê na necessidade de buscar
alternativas ao tradicional meio de solução de litígios, como atesta o ministro do Superior Tribunal de
Justiça, José Augusto Delgado:

Por fim, vive-se, na época contemporânea, o Direito Processual de quarta geração, onde a arbitragem se
situa. É a utilização de um instrumento voltado para a solução dos litígios sem a presença obrigatória do
Poder Judiciário. É a própria sociedade, de modo organizado, aplicando o direito, utilizando-se das
associações que a compõem. É uma nova era do Direito Processual que necessita evoluir até alcançar os
denominados Tribunais de Vizinhança. É a busca de intensificação de outros meios de acesso do cidadão
ao encontro da Justiça, por essa reivindicação se constituir em um direito constitucional de natureza
subjetiva.

A quarta geração, de que trata o ministro José Augusto Delgado, foi concebida após a edição da lei n°
9.307/96, quando, a partir dela, finalmente a arbitragem assumiu papel importante em nosso país, pois,
apesar de já existir há muito, não possuía eficácia alguma, vez que o procedimento arbitral, após proferida a
sentença, haveria de ser homologado na justiça comum para que se confirmasse a decisão proferida e esta
se obtivesse validade, retardando o processo; e, ainda, antes mesmo da realização do procedimento arbitral,
a despeito de conter cláusula no contrato estabelecendo que todos e quaisquer litígios deveriam ser
discutidos na via arbitral, nada impedia, ou melhor, compelia as partes de se absterem de utilizar o poder
judiciário, mesmo que qualquer uma das partes insistisse em fazer valer a cláusula entabulada.

Após a edição da lei, tornou-se obrigatório o cumprimento da cláusula, obrigando as partes a discutir o
litígio, caso qualquer uma das partes viesse requerer o cumprimento, na via extrajudicial previamente
estabelecida.

Entretanto, a sociedade civil brasileira ainda engatinha no uso da Arbitragem, pois falta tradição a este
instituto, por ter sido por muitos anos inócuo e mal difundido. Neste sentido, explica Cláudio Vianna de
Lima, membro da Comissão de Arbitragem da Associação Comercial do Rio de Janeiro e ex-
desembargador do TJRN:

Até o advento da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, a arbitragem foi, notoriamente, maltratada pelo
Direito Positivo, no Brasil. A consequência é a falta de uma prática do instituto e de uma cultura arbitral
em nosso País. Não se acredita na arbitragem. Só se admite a justiça feita pelo Estado, nada obstante a crise
universal, do Judiciário, a delonga das decisões judiciais, a injustiça manifesta que representam as decisões
retardadas, a consequente inocuidade, na maioria das vezes, dessas sentenças e a impunidade frequente de
infrações penais.

A despeito disto, o instituto é amplamente difundido nas questões comerciais, notadamente quando se trata
de grandes empresas, que fazem questão de possuir decisões provenientes de árbitros especializados, de
forma rápida e sigilosa.

Portanto, é de se esperar que num futuro muito próximo, a arbitragem esteja incorporado também a
sociedade civil brasileira, que tem sofrido e protestado muito em relação a prestação jurisdicional do
Estado. Sendo apenas uma questão de mudança cultural, para que se passe a acreditar na credibilidade do
instituo alternativo para resolução de conflitos.
2 – NATUREZA JURÍDICA
A doutrina não é pacífica, havendo diversas posições quanto à natureza jurídica do instituto, que a
classificam como contratual, jurisdicional ou mista.

Segundo a teoria contratualista, a natureza jurisdicional da arbitragem está afastada por que: (a) está
vinculada à autonomia da vontade das partes contratantes, enquanto a jurisdição repousa na soberania do
Estado; (b) o árbitro não tem poder de império; (c) a sentença arbitral não se aperfeiçoa sem a atuação da
jurisdição na fase de execução; (d) a celebração da convenção de arbitragem é pressuposto essencial do
instituto.

A jurisdicionalidade da arbitragem, segundo a teoria jurisdicional, repousa nas atribuições de julgar litígios,
que ao árbitro são conferidas, proferindo sentenças revestidas da qualidade de título executivo judicial.
Ressalte-se que as sentenças arbitrais não se submetem à homologação judicial, o que reforça a sua força
coativa independentemente da chancela estatal. Sem contar que ao árbitro aplicam-se os mesmos casos de
impedimento e suspeição de juízes, conforme preconiza o artigo 14 da Lei n. 9.307/96.

Para a teoria mista, a primeira fase da arbitragem é contratual, tendo como base a convenção arbitral que
decorre do acordo de vontade. A segunda fase é jurisdicional, em que o árbitro irá dizer o direito aplicável
à espécie, sendo certo que sua decisão é dotada de força coercitiva, gera trânsito em julgado, é um título
executivo judicial e põe fim ao litígio como uma sentença judicial.

Quer nos parecer que a teoria mista é a que melhor compreende o instituto da arbitragem, uma vez que as
premissas para o seu enquadramento no âmbito da dicotomia do direito público ou privado se revelam
precárias e insuficientes diante da complexidade dos fenômenos sociológicos e jurídicos atuais.

Impende ressaltar que, nos termos do artigo 1º, da Lei n. 9.307/96, a utilização da arbitragem está adstrita
às pessoas capazes e aos direitos patrimoniais disponíveis.

Assim, todo aquele que for capaz de contrair direitos e obrigações, na forma do artigo 9º, do Código Civil,
poderá valer-se da arbitragem para solucionar controvérsia relativa a direito patrimonial disponível.

De acordo com Márcio Yoshida, entende-se o direito patrimonial disponível como aquele que assegura o
gozo ou fruição, ao arbítrio de seu titular, de uma riqueza ou qualquer bem, apreciável monetariamente. (A
arbitragem no âmbito do Direito do Trabalho. In: GARCEZ, José Maria Rossani (coordenador) – A
arbitragem na era da globalização. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 95).
3 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ARBITRAGEM
Dentre as inúmeras características da arbitragem, seis apresentam-se como didaticamente hábeis a
proporcionar uma leitura do instituto em comento. São elas: a celeridade, a informalidade do procedimento;
a confiabilidade; a especialidade; a confidencialidade ou sigilo e a flexibilidade.

Quanto à celeridade, cumpre salientar a irrecorribilidade da sentença arbitral, peculiaridade que abrevia
significativamente o curso do procedimento, sobretudo na esfera trabalhista, cujas demandas, na maioria
das vezes, versam sobre verbas de caráter alimentar.

Atinente à informalidade é suficiente consignar que a solução dos conflitos é fundada precipuamente na
ausência de formas solenes, como as exigidas no processo comum. A simplificação dos atos processuais,
no entanto, não quer significar o afastamento das garantias fundamentais e do devido processo legal.

A confiabilidade, por evidente, refere-se à possibilidade de as próprias partes escolherem o árbitro, o que
faz com que este traga consigo maior legitimidade, por não ser imposto pelo Estado, mas decorrente da
autonomia da vontade dos litigantes.
Relativamente à especialidade, é certo que as partes podem optar livremente pela indicação de um julgador
de seus conflitos dentre especialistas das diversas áreas específicas do conhecimento jurídico e científico,
elegendo o da sua maior confiança. Essa prerrogativa representa um elemento de maior conforto para as
partes, que, em tese, podem buscar os melhores especialistas ou um árbitro que goze de boa reputação, da
credibilidade e preferência dos litigantes. Ao juiz, naturalmente, faltam esses conhecimentos, supridos por
peritos que, no entanto, não têm responsabilidade da decisão, que é inteiramente do magistrado, de acordo
com o princípio do livre convencimento motivado.

Se por um lado exige-se da justiça pública a publicidade dos seus atos (artigo 5º, inc. LX, da Constituição
Federal), na justiça privada faz-se presente o caráter sigiloso e confidencial do deslinde do conflito de
interesses. O exame dos autos do procedimento arbitral não é franqueado aos interessados, senão com o
expresso consentimento das partes.

No que tange à flexibilidade, importa dizer que a arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério
das partes, que podem escolher livremente as regras de direito que serão aplicadas, desde que não haja
violação aos bons costumes e à ordem pública, assim como poderão convencionar que a arbitragem se
realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de
comércio.

PREVISÃO LEGAL

Em 23 de setembro de 1996, foi sancionada a Lei n. 9.307, que disciplinou por completo a arbitragem no
Brasil, dando novo alento à sua utilização.

No âmbito do Direito do Trabalho, afora a previsão constitucional do artigo 114, há previsão da arbitragem
na Lei de Greve (artigos 3º e 7º da Lei nº 7.383/89) e no artigo 4º, da Lei n. 10.101/2000, que dispõe sobre
a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa.
4 – A ARBITRAGEM COMO MECANISMO JURISDICIONAL DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS
A Lei n. 9.307/96 – Lei de Arbitragem - causou um definitivo marco na história da arbitragem no Brasil,
trazendo consigo novos e mais modernos conceitos que proporcionaram o desenvolvimento na solução de
litígios por vias extrajudiciais, abrindo uma maior possibilidade de escolha entre um e outro meio.

No entanto, quando foi criada a Lei de Arbitragem, as instituições especializadas na administração da


arbitragem, comumente chamadas de Câmaras de Arbitragem, e dedicadas à organização do corpo de
árbitros, vinculados a regulamentos e procedimentos específicos, não eram conhecidas no ambiente jurídico
interno brasileiro.

Um procedimento tão utilizado nos países titulados desenvolvidos passou a ser reconhecido no Brasil
apenas num passado muito recente, que por ser um país onde a homologação judicial importava tanto, com
a nova lei, tal cultura foi abolida, e, enfim, aceita pela população.

A arbitragem é um meio alternativo, extrajudicial, heterocompositivo e privado de resolução de


controvérsias, na qual pessoas capazes de contratar elegem um ou mais árbitros para decidir o litígio, sem a
intervenção estatal, gerando com esta decisão a mesma eficácia da sentença judicial.

Carlos Alberto Carmona, jurista que integrou a comissão redatora do anteprojeto da Lei de Arbitragem,
assim conceitua a arbitragem:

A arbitragem – meio alternativo de solução de controvérsias através da intervenção de uma ou mais pessoas
que recebem seus poderes de uma convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção estatal,
sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença judicial – é colocada à disposição de
quem quer que seja para solução de conflitos relativos a direito patrimoniais acerca dos quais os litigantes
possam dispor. Trata-se de mecanismo privado de solução de litígios, por meio do qual um terceiro,
escolhido pelos litigantes, impõe sua decisão, que deverá ser cumprida pelas partes.

Nota-se através deste conceito a presença de três elementos fundamentais na arbitragem:

i) a existência de uma convenção de vontades que escolha a arbitragem como mecanismo de solução de
controvérsias;

ii) a necessidade de que os litígios aduzidos à arbitragem sejam relativos a direitos patrimoniais
disponíveis, e

iii) a sentença arbitral possui força cogente.

Sendo a arbitragem um procedimento instituído por meio de acordo entre as partes na forma de um contrato
– Convenção de Arbitragem – tem-se que, pela natureza contratual, deva haver um acordo de vontade entre
as partes devendo as mesmas ser capazes (capacidade civil), e que o objeto do litígio seja sobre direitos
patrimoniais disponíveis.

Segundo a Lei 9.307/96, as partes interessadas poderão se utilizar da arbitragem mediante convenção de
arbitragem, sendo que a mesma lei prevê que as partes poderão escolher livremente as regras de direito
aplicáveis ao caso específico, tanto do direito material como do processual, assim como a eleição de
árbitros.

Portanto, para a instituição de um procedimento arbitral, basta que as partes sejam capazes e tenham de fato
um interesse na resolução de um conflito por via arbitral.

A convenção de arbitragem é a forma expressa e o instrumento pelo qual as partes escolhem a arbitragem
como forma definitiva de solução de controvérsias atuais ou futuras, que segundo descreve o artigo 3º da
Lei de Arbitragem, são divididas em duas espécies, quais sejam: cláusula compromissória e o compromisso
arbitral que estão respectivamente descritos nos artigos 4º e 9º da Lei de Arbitragem.

Atualmente, o legislador brasileiro procura dar, tanto à cláusula compromissória como ao compromisso
arbitral os mesmo efeitos jurídicos, assim manifesta-se Carlos Alberto Carmona, in verbis:

Após o advento da Lei, cláusula e compromisso podem, indistintamente, instituir a arbitragem, deixando a
primeira de ser mera promessa de celebrar o segundo, de modo que uma e outro são acordos mediante os
quais renuncia-se à solução estatal de conflitos, em prol da atuação do juiz escolhido pelos litigantes: se na
celebração do compromisso tem-se em mira um conflito atual, já existente, definido, na cláusula aponta-se
para um litígio futuro, eventual e definível.

Quanto ao objeto da arbitragem, o mesmo pode versar sobre qualquer direito patrimonial disponível, desde
que previamente delimitado pelas partes por meio de Compromisso Arbitral, sendo válido o compromisso
que indique matéria a ser submetida aos árbitros esta decorrente de determinado contrato, não sendo,
portanto, necessária a descrição completa de todos os fatos submetidos ao árbitro ou descrição completa do
litígio, apenas uma indicação suficiente para evitar que o laudo fuja dos limites estabelecidos.

Direitos patrimoniais disponíveis são todos os direitos que podem ser transacionados livremente por seus
titulares, independentemente da vontade estatal que, se reserva a tutelar os direitos fundamentais da
coletividade. Portanto, a partir do momento em que podem as partes dispor livremente dos bens sobre os
quais haja uma controvérsia, serão passíveis de disponibilidade e assim sujeitos à negociação em juízo
arbitral.

A arbitragem é a instituição pela qual as pessoas capazes de contratar confiam a árbitros, por elas indicados
ou não, o julgamento de seus litígios relativos a direitos transigíveis. Esta definição põe em relevo que a
arbitragem é uma especial modalidade de resolução de conflitos; pode ser convencionada por pessoas
capazes, físicas ou jurídicas. Os Árbitros são juízes indicados pelas partes, ou consentidos por elas por
indicação de terceiros, ou nomeados pelo juiz, se houver ação de instituição judicial de arbitragem; na
arbitragem existe o “julgamento” de um litígio por “sentença” com força de coisa julgada.

Com relação à eficácia da sentença arbitral, importante destacar que a redação do artigo 31 da Lei de
Arbitragem, estabelece que: “A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos
efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título
executivo”, que desde logo produzirá os mesmo efeitos da sentença estatal, e conforme escreve: A
equiparação entre a sentença estatal e a arbitral faz com que a segunda produza os mesmos efeitos da
primeira. Por consequência, além da extinção da relação jurídica processual e da decisão da causa
(declaração, condenação ou constituição), a decisão de mérito faz coisa julgada às partes entre as quais é
dada (e não beneficiará ou prejudicará terceiros). Sendo condenatória, a sentença arbitral constituirá título
executivo e permitirá a constituição de hipoteca judiciária.

Assim, fica claro que o legislador elegeu a tese da jurisdicionalidade da Arbitragem, pondo fim à atividade
homologatória do juiz estatal. E nesse diapasão, com a sentença, o efeito final que se projeta da convenção
de arbitragem encerra seu alcance. A manifestação da vontade encontra seu desiderato e se completa com a
emissão da decisão arbitral. É ato que dá completude jurídica ao exercício da jurisdição. Dela emanam
efeitos que se observam entre as partes: nos termos da convenção de arbitragem, confirma o direito das
contratantes e os árbitros dão cumprimento à obrigação assumida de por fim ao conflito.

Portanto, com a redação do artigo 31 da Lei de Arbitragem, não há mais a necessidade de homologação do
laudo arbitral por um juiz togado, que antes da Lei 9.307/96, somente após o ato homologatório do
judiciário é que a sentença ou decisão do Tribunal Arbitral teria os mesmos efeitos de uma sentença
proferida pelo juízo estatal para assim lhe conferir a eficácia de título executivo.

Da mesma forma, o Ministro Gilmar Ferreira Mendes, em seu livro, Curso de Direito Constitucional,
define arbitragem como um “mecanismo extrajudicial de solução de controvérsias, segundo o qual as partes
litigantes investem, por meio de uma convenção arbitral, uma ou mais pessoas de poderes decisórios para
resolver seus conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.”
5 – A ARBITRABILIDADE
A idéia geral que se tinha era a de que a arbitragem apenas cabia quando tratávamos de questões
comerciais, oriundas de contratos mercantis, pois não há tradição em nosso país no uso deste instituto,
ocorre que, atualmente, é amplamente aceito na doutrina e jurisprudência pátria que inúmeros outros ramos
do direito, afora o civil, tem legitimidade para ser tratado sob a égide da arbitragem, inclusive em se
tratando dos direitos trabalhistas, apesar das limitações.

Ao tratar de arbitragem na justiça obreira, de pronto podemos afirmar que todos os dissídios coletivos
poderão ser discutidos no âmbito do procedimento arbitral, uma vez que a própria Constituição Federal em
seu Art. 1145 não somente abre tal possibilidade, bem como a incentiva, não obstante seu pouco uso.

O problema, razão de ser deste trabalho, encontra-se nos dissídios individuais, que enfrentam poderosas
barreiras no caminho da Arbitragem.

Nada mais importante e útil para a justiça trabalhista seria o sinal verde para que estes pudessem ser
julgados sob a égide do procedimento arbitral, ajudando a desafogar a justiça trabalhista.

Ocorre que, o legislador ao redigir a lei da arbitragem, deixou de contemplar esta possibilidade,
subentendendo a vedação, conforme se observa no Art. 1° da lei n. 9.307/96:

“Art. 1° As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a
direitos patrimoniais disponíveis.”
Neste ponto, cabe discutirmos o que significa direito patrimonial disponível, e o que se enquadra neste
perfil. Para tanto, verificaremos os conceitos envolvidos com a expressão.

Direito possui um dos conceitos mais abrangentes que existe, uma vez que possui variadas posições
ideológicas e filosóficas que o norteia, apesar disto, um bom e geral conceito é trazido por Caio Mário: “o
direito é o princípio de adequação do homem à vida social.”

Quanto ao patrimônio, seu conceito é tratado pela corrente majoritária como um complexo das relações
jurídicas de uma pessoa, apreciáveis economicamente. Ou a idéia de patrimônio não se confunde com o
conjunto de bens corpóreos, mas sim com toda a gama de relações jurídicas (direitos e obrigações de
crédito e débito) valoráveis economicamente de uma pessoa, natural ou ideal.

Para passarmos a análise do conceito de Direito Patrimonial Disponível, resta determinar o conceito de
disponível. A disponibilidade provém do direito que uma pessoa tem de dispor acerca de determinado bem
ou patrimônio, ao deter a capacidade de realizar o negócio jurídico que bem entender com determinado
objeto.

Dessarte, aplicando os conceitos acima explorados, o objeto da arbitragem, que somente poderá ocorrer nos
casos em que tratarmos de Direitos Patrimoniais Disponíveis, terá sempre um espectro limitado.

Somente poderemos falar em arbitragem quando tratarmos de um bem jurídico o qual não possua nenhuma
norma cogente limitando os direitos do proprietário. Os direitos concernentes às pessoas do Estado,
conceitualmente direitos indisponíveis são aqueles cuja realização interessa à própria sobrevivência e
manutenção da sociedade.

Trata-se dos chamados direitos da personalidade (vida, incolumidade física, liberdade, honra, propriedade
intelectual, intimidade, estado, etc.). Quando a causa versar sobre interesses dessa ordem, diz-se que as
partes não tem disponibilidade de seus próprios interesses.

Observa-se, portanto, que tem grande aceitação na doutrina a utilização deste instituto, que tem abertura
para utilização na grande maioria dos ramos de Direito, e esta vem sendo efetivamente aproveitada.

Excetuando-se os casos em que tratemos de direitos que interfiram na vida da coletividade, ou que
porventura possam gerar insegurança jurídica. A luta pelo Estado democrático de Direito envolveu a
disputa da sociedade na aquisição de certo direitos, que antes eram ignorados e suprimidos
autoritariamente, e de grande importância.

No intuito de preservar a existência da proteção à sociedade, não houve flexibilização maior, negando a
possibilidade de utilização da arbitragem, nos casos em que haja interessa da coletividade, ou ainda que
tratem de matéria de ordem pública, conforme visto.

Corroborando isto, é público e notório que o instituto é amplamente utilizado no âmbito do Direito
Comercial. Ora, neste ramo tratamos em grande parte de contratos de compra e venda, celebrado entre
empresas, sendo claro que trata-se de direitos patrimoniais disponíveis, uma vez que não se discute a
existência de qualquer norma ou legislação que fixem rito necessário a ser seguido no poder judiciário. A
partir do momento em que a relação em nada interfere na ordem pública, não podemos falar de
indisponibilidade quando envolvemos apenas pessoas capazes.

Não se estranha, portanto, que o maior cliente do instituto seja o Direito Comercial. Outro perfeito exemplo
envolve o Estado. Quando discutimos acerca de atos negociais da administração pública, quando o Estado
assume posição de igualdade em relação à outra parte envolvida no negócio jurídico, é permitido que, em
havendo, o conflito seja resolvido na via arbitral. Neste ponto tratamos de direitos disponíveis, pois a
relação tem caráter de Direito Privado.

Contudo, quando o Estado estiver envolvido em litígios que versem acerca de contratos administrativos,
pela posição assumida, em que o Estado defenderá o interesse da coletividade, sua natureza, de
indisponibilidade, portanto, impedirá que a solução seja alcançada pelo meio alternativo de resolução de
conflitos.

Para identificarmos os direitos dos quais dispomos, e que por consequência são arbitráveis, podemos,
também, observar a possibilidade de haver composição em juízo. Nos casos em que as partes puderem
chegar a um acordo, transigindo, sempre caberá a arbitragem, pois haverá a possibilidade de dispor acerca
dos direitos em disputa à mesa.

Há, porém, um ramo do direito que possui obstáculo que causa sérias dificuldades à arbitragem: o Direito
do Trabalho. Em face da proteção legal estabelecida pela legislação ao empregado, em vista de sua
hipossuficiência, vem sendo estabelecido pelos tribunais que o trabalhador, via de regra, não possui
autonomia para abdicar deste direito, uma vez que este poderia sofrer pressões e ser coagido a assinar
contratos com a cláusula compromissória, gerando uma ilegalidade, visando ferir o direito adquirido pelos
trabalhadores. Entretanto, uma brecha é aberta, ao passo que existe o entendimento que em dissídios
coletivos, que passem a prever a possibilidade desta cláusula no contrato individual de um atleta possa ser
considerada legal, vez que, se e somente se, houver participação sindical na elaboração da CCT que abra
caminho para a tal cláusula, sendo a hipossuficiência nutrida pela assistência sindical.

Assim, determinam-se 3 correntes acercar da utilização da arbitragem na solução de litígios trabalhistas:

A primeira afirma que apesar da possibilidade de obter uma justiça célere, de nada adiantaria aos
trabalhadores, dado que os árbitros não estariam a salvo das pressões de grandes empresas, não possuindo,
destarte, condições de independência e isenção para julgar. Levando-se em conta, também, que o
trabalhador não pode transacionar seus direitos fora da esfera do judiciário, excluindo-se assim a hipótese
da arbitragem.

A segunda se caracteriza por entender ser possível a arbitragem na resolução destes litígios, baseada na
análise dos poucos casos existentes na historia do direito trabalhista, observa que resultou na determinação
de fatores positivos, tais quais a agilidade da solução e a qualidade da mesma, que em momento algum se
viu ameaçada, pois as decisões sempre advinham de pessoas qualificadas para tal papel.

Por último, a terceira corrente admite a arbitragem com ressalvas, considerando esta ser possível quando
decorrer de ACT ou CCT que, com a participação sindical, inclua a possibilidade da solução de litígios via
corte arbitral, assistindo os trabalhadores nos seus direito coletivos, evitando, assim, desigualdade entre as
partes, trabalhadores e empregadores, suprindo, desta forma, a hipossuficiência do trabalhador.
6 – PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE VERSUS ARBITRAGEM
Para os contratos trabalhistas existe a barreira do princípio da irrenunciabilidade dos direitos individuais de
trabalhista quando se pretende resolver os litígios derivados deste assunto pela via arbitral. O princípio da
irrenunciabilidade cita que o trabalhador não pode renunciar seus direitos trabalhistas, visando protegê-lo
de intenções dos empregadores que agem de má-fé, pois estes são economicamente e politicamente mais
fortes que o trabalhador, podendo usar esta diferença em proveito próprio. A doutrina que defende este
princípio cita que é de fundamental importância seguir este preceito em defesa ao obreiro, que é o
hipossuficiente da relação trabalhista. Exemplo disto é a citação de Márcio Yoshida, a qual define a
conservadora interpretação do artigo 9º da Consolidação das Leis do Trabalho:

A renúncia se define como desistência unilateral de um direito por seu titular e encontra objeção positivada
no art. 9º da Consolidação das Leis do Trabalho. A nulidade de todos os atos praticados com o objeto de
desvituar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos consolidados resulta, aprioristicamente, na
impossibilidade do trabalhador renunciar a qualquer direito nele consagrado.
Ou seja, os textos dos artigos 9º e 444, ambos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), favorecem
àqueles que querem interpretar a lei de modo que obstrua o uso da arbitragem para dirimir conflitos
individuais de trabalho:

Art. 9º - da CLT: Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou
fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.

Art. 444 da CLT: As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes
interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos
coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.

Esta interpretação é lesiva à arbitragem, pois torna o direito individual trabalhista um direito indisponível,
transformando-o em assunto de cunho judicial, uma vez que não existe a possibilidade jurídica destes
direitos serem discutidos por este meio extrajudicial.

A arbitragem, como meio extrajudicial, foi criada para desafogar o judiciário e agilizar o trâmite
processual, contudo com certas restrições, sendo que a mais significativa de todas é que ela só pode discutir
direitos disponíveis. Ou seja, se levar a interpretação de que os referidos artigos tornam indisponíveis os
direitos trabalhistas, não haverá meio de empregar a arbitragem como via de solução de conflitos
individuais.

Contudo, este entendimento vem sofrendo manifestações contrárias, mostrando que se trata de um erro
afirmar sobre a impossibilidade jurídica da arbitragem frente ao princípio da irrenunciabilidade. Isto quer
dizer que, o princípio não é tão absoluto, pois existem vários interpretações lapidando o entendimento para
se adequar aos dias atuais. Uma dessas é que, após a extinção do contrato trabalhista, os direitos previstos
não estariam disponíveis no patrimônio do empregado.

Fazendo ainda menção a uma interpretação da irrenunciabilidade versus a arbitragem, tem-se que a
renúncia pode ser admitida se esta for mais benéfica do que as condições previstas no ordenamento
jurídico, sendo incoerente admitir que benefício ao hipossuficiente não pode ser alcançado, em detrimento
da observação de um princípio.

Além disto, a irrenunciabilidade não se confunde com disponibilidade, pois este se reputa a manifestação
instituídas por acordos entre às partes, diferente de algo assegurado por um preceito de ordem pública, a
qual não se aplica a arbitragem, pois esta é uma via eficiente de solução de conflitos que foi normatizada
para desafogar o judiciário. Assim distingue-se, na citação de Sérgio Pinto Martins, a irrenunciabilidade da
disponibilidade.

Direitos patrimoniais disponíveis são diferentes de direitos irrenunciáveis. Direitos disponíveis são normas
direcionadas às partes e não exatamente normas de ordem pública absoluta.

Na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho há uma variação em suas opiniões com relação ao
princípio da irrenunciabilidade, não trazendo segurança jurídica à arbitragem, pois ora inadmitem que
certos direitos sejam renunciáveis, como o do aviso prévio, mas em uma mesma declaração pontua a
exceção que torna-o renunciável:

SÚMULA 51 - NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO


REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) -
Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005:

I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão


os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. (ex-Súmula nº 51 - RA 41/1973,
DJ 14.06.1973).

II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem
efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (ex-OJ nº 163 da SBDI-1 - inserida em
26.03.1999).

SÚMULA 243 - OPÇÃO PELO REGIME TRABALHISTA. SUPRESSÃO DAS VANTAGENS


ESTATUTÁRIAS (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003: Exceto na hipótese de previsão
contratual ou legal expressa, a opção do funcionário público pelo regime trabalhista implica a renúncia dos
direitos inerentes ao regime estatutário.

SÚMULA 276 - AVISO PRÉVIO. RENÚNCIA PELO EMPREGADO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19,
20 e 21.11.2003: O direito ao aviso prévio é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de
cumprimento não exime o empregador de pagar o respectivo valor, salvo comprovação de haver o
prestador dos serviços obtido novo emprego.
7 – CLAÚSULA COMPROMISSÓRIA E COMPROMISSO ARBITRAL
A arbitragem é um instituto à parte de qualquer outro, se diferenciando muito dos outros métodos de
resolução de conflitos apresentados, e, também, extremamente diferente da prestação jurisdicional
tradicional.

Sua essência encontra-se em sua formação, onde é facultativa, tem que, obrigatoriamente, nascer da
autonomia da vontade das partes. Nula será se for imposta, por exemplo, em um contrato por adesão. Para
ser válida, terá que ser contratada mediante a comprovação de que ambas as partes expressam a vontade de
decidir o litígio sob a esfera do instituto arbitral, abdicando de levar a lide ao poder judiciário.

Ainda, por se tratar da contratação de um serviço, a Arbitragem, deverá ser observada, também, a
capacidade das partes em contraírem o negócio, levando-se em conta a legislação do país, no nosso caso, o
Código Civil.

Indo adiante, faz-se mister ressaltar que a Arbitragem, no Brasil, não possui poderes para tratar de qualquer
tipo de matéria. Para que pudesse ser promulgada a lei, criou-se uma barreira, impedindo que este instituto
fosse utilizado universalmente. Ficou estabelecido que apenas os direitos patrimoniais disponíveis podem
ser discutidos na esfera arbitral.

Assim, toda e qualquer matéria que for tratada por lei, e que exija o cumprimento de um rito próprio, como
matéria de família, sucessão, continuará a ser tratada na esfera do poder judiciário.

A Arbitragem poderá ser insituída por 2 vias diversas, tanto pela via da cláusula compromissória, bem
como se adotando o compromisso arbitral. As duas possuem a mesma finalidade, levar o caso à apreciação
de um árbitro, porém apresentam importante diferença no tempo de sua estipulação.

A Cláusula Compromissória é estabelecida ainda na formação do contrato, quando as partes estão na fase
da proposta contratual. Esta cláusula, ao ser adicionada no contrato, exclui a possibilidade de levar o objeto
do acordo entabulado à disputa na égide do poder judiciário. Vale ressaltar que esta característica somente
foi obtida após o advento da lei 9.307/96, conforme narra Carlos Alberto Carmona:

Segundo a sistemática adotada, tanto a cláusula quanto o compromisso excluem a jurisdição estatal, efeito
que até o advendo da Lei 9.307/96 só era produzido pelo compromisso arbitral, ex vi do art. 301, IX, do
Código de Processo civil, em sua redação original. Tal efeito unificado da cláusula e do compromisso é
condição sine qua non para o regular funcionamento da arbitragem.

Assim, resta claro que esta cláusula será sempre instituída antes do nascimento do litígio. Neste ponto,
cumpre fazer uma ressalva. Nos contratos por adesão, a doutrina manifesta grande preocupação quanto a
validade desta cláusula, uma vez que para assinar o contrato não é possível praticar alterações, assim a
cláusula compromissória não provém da vontade das partes, mas sim de uma imposição contratual.
Preocupação expressa por Alexandre Freitas Câmara:

Vale lembrar, porém, que no contrato de adesão o aderente simplesmente se submete às cláusulas impostas
pelo proponente, o que nos leva a crer que, em muitos casos, o contrato só será celebrado se o aderente
assinar também o documento anexo que institui a cláusula compromissória (ou dê sua assinatura ou visto
especialmente para a cláusula compromissória constante, em negrito, do instrumento do contrato). Será
assim, fundamental que o judiciário coíba abusos, assegurando que só se submeterá à arbitragem aquele
que livremente optou por esta forma de solução de seus conflitos.

Portanto, para solucionar o problema, basta uma simples ratificação do contraente, assinando, também,
diretamente na cláusula, expressando a vontade de que a mesma seja válida, evitando a nulidade da
cláusula.

Quando se fala em Compromisso Arbitral, no entanto, já devemos ter em mente que o litígio já existe, e,
sendo do interesse das partes, poderão elas assinar um compromisso, decidindo abrir mão da via estatal,
para adotar a Arbitragem para solucionar o conflito em tela.
8 – DA EXECUÇÃO DA CLÁUSULA ARBITRAL
Para realizar este negócio jurídico, é necessário preencher os requisitos constantes do artigo 10° da lei
9.307/9616, já qualificando as partes e os árbitros que decidirão sobre o conflito, ou tribunal arbitral, na
falta dos árbitros. Além de outros detalhes obrigatórios, também podem os contraentes adicionar cláusulas
facultativas, presentes no rol do artigo 11° da mesma lei.

É comum que ocorra resistência por parte de um dos contraentes das cláusulas arbitrais em aceitar que se
institua o procedimento arbitral, seja por arrependimento ou por quaisquer outros motivos. Frustrando, e
atrasando a decisão acerca do litígio, contrariando a principal característica da arbitragem que é a
celeridade.

Para evitar que tal fenômeno ocorra, caso uma das partes tente se esquivar da arbitragem de forma
ilegítima, deverá a outra requerer no poder judiciário, que se obrigue a instauração do procedimento
arbitral, nos termos do artigo 7° da lei 9.307/96:

Art. 7º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá
a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o
compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim.

§ 1º O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o documento que
contiver a cláusula compromissória.

§ 2º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca do litígio. Não
obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral.

§ 3º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após ouvir o réu, sobre
seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, respeitadas as disposições da cláusula
compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2º, desta Lei.

§ 4º Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao juiz, ouvidas as
partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do litígio.

§ 5º A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do compromisso
arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.
§ 6º Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a respeito do conteúdo do
compromisso, nomeando árbitro único.

§ 7º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.

Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da
existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula
compromissória.

Assim, este artigo e seus parágrafos podem ser considerados um doas mais importantes da lei, pois
conferem eficácia e legitimidade ao acordo arbitral pré-estabelecido entre as partes.

Discussão importante também recai acerca do parágrafo único deste artigo, quando se trata de questões de
válidade da cláusula compromissória, quando do estabelecimento do contrato.

Há grande preocupação no que tange à nulidade de algumas cláusulas que possam interferir na cláusula
arbitral. Neste sentido, a doutrina defende que esta cláusula detém autonomia e, inclusive, de acordo com
as lições do renomado Irineu Strenger, é alçada a condição de contrato principal, não sofrendo com
possíveis nulidades acerca do objeto do contrato, e das demais cláusulas:

A solidariedade que liga normalmente as cláusulas de um contrato, no qual umas não podem subsistir sem
as outras, cessa diante da cláusula compromissória, como diante da cláusula de escolha da lei, porque a
função dessa o comanda.

Do mesmo modo, a cláusula compromissória sobrevive a cessação do contrato, pois perderia grande parte
de sua utilidade se deixasse escapar os litígios que aparecessem depois da superveniência de resilição ou a
ocorrência de termo extintivo, ou durante período de suspensão.

Extraímos, portanto, que a cláusula arbitral sobreviverá sempre ao contrato principal, outrossim, perderia o
sentido de ser. Sua existência perdurará para qualquer tipo de discussão que envolva o objeto, ainda que
seja após findado o contrato que regia a relação das partes para com objeto.
9 – DOS ÁRBITROS
À parte estas questões inerentes ao estabelecimento do compromisso arbitral, o pontapé inicial para o
julgamento do conflito dá-se com a escolha dos árbitros e quando se obtém a aceitação da função pelos
mesmos.

Dá-se por instituído o juízo arbitral tão logo seja aceita pelo árbitro (ou pelos árbitros) a função para a qual
foram escolhidos. A aceitação não depende de ato formal do árbitro, entendendo-se que aceitou o encargo
se desde logo tomou providências para o prosseguimento do procedimento (recebimento de manifestação
das partes, expedição de notificações, convocação das partes para audiência etc.).

Os árbitros poderão ser escolhidos de 3 maneiras diversas: pelas partes, pelo tribunal escolhido, ou, ainda,
por um juiz.

Quando do estabelecimento da cláusula arbitral, seja ela a cláusula compromissória ou o compromisso


arbitral, ficará a critério das partes já escolher os árbitros que decidirão sobre a controvérsia, ou ainda
deixar a cargo de um tribunal específico, por eles indicados.

Cada uma das opções elencadas apresentam diferentes vantagens. No primeiro caso, quando já escolhem
quais árbitros serão responsáveis para dirimir o conflito, as partes tem o poder de escolher de acordo com a
reputação e capacidade intelectual que é requisitada pela disputa, escolhendo as pessoas que acharem mais
adequadas a julgar a questão, como rege o artigo 13º parágrafo 1º da lei 9.307/96.
Por outro lado, caso apenas decidam apenas eleger um tribunal como responsável, este decidirá à frente
quais de seus árbitros serão responsáveis pelo procedimento arbitral. Neste caso, ao optarem pela escolha
de um conhecido e renomado tribunal, terão a certeza de que quaisquer dos árbitros indicados terão a
experiência e o reconhecimento da comunidade arbitral para sentenciar o litígio, de acordo com o artigo
13° parágrafo 3° da supracitada lei: “§ 3º As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de
escolha dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.”

Ademais, ainda há os casos em que somente se estabelece que qualquer conflito acerca da matéria será
decidido via arbitragem, sem eleger árbitros, ou sequer mencionar alguma instituição. Nestes casos, se não
houver consenso a posteriori, o procedimento deverá ser instaurado via poder judiciário, entregando a um
juiz a tarefa de escolher os árbitros que porventura considere competentes para tratar da matéria, seguindo
o disposto no artigo 7° parágrafo 4° da lei da arbitragem, acima já colacionado.

Prosseguindo, cumpre ressaltar que o número de árbitros para decidir a causa deverá sempre ser ímpar,
caso contrário frequente seriam os impasses quanto às decisões a serem tomadas. A despeito disso, as
partes poderão eleger um número par de árbitros para decidir sobre a lide, ocorre, porém, que estes
escolhidos deverão observar o disposto no artigo 13º parágrafo 2º e juntos decidirem a nomeação de outro
árbitro, alcançando o número ímpar exigido para que se inicie o procedimento arbitral.

Entretanto, mesmo havendo número ímpar de julgadores, não há nenhum impedimento legal ou prático
para que ocorra uma indecisão acerca do melhor decisum a ser seguido, explica-se, os árbitros tem o livre
poder para julgar, assim, podem cada um entender de forma diversa, ou seja, os 3, ou quantos forem,
podem chegar a sentença divergentes, ainda que condenando a mesma parte, seja em valores desiguais, ou
em comandos desiguais.

Assim imperiosa a definição de um critério para que em caso de indecisão acerca de qual sentença adotar,
os árbitros deverão votar entre si para definir um presidente, que, em caso de impasse, terá sua sentença
escolhida para ser definitiva, obedecendo o artigo 24° parágrafo 1° da lei 9.307/96.

A escolha do presidente pode ser outro problema, a lei prevendo a possibilidade de não haver consendo
acerca do fato, decidiu de maneira pouco ortodoxa como por fim ao impasse, o árbitro mais idoso será
automaticamente o presidente, norma disposta no artigo 13°.

10 – DA SENTENÇA

Para finalizar o procedimento arbitral haverá um relatório do processo do qual constará a qualificação das
partes, resumo do objeto em disputa na arbitragem, e tudo que tiver revelância no procdimento arbitral.
Adiante, deverá constar a motivação, que será formada pelo livre convencimento dos árbitros, esclarecendo
a fundamentação do decisum. Ao fim, assim como em qualquer sentença proferida no poder judiciário, virá
o dispositivo, contendo a decisão acerca do objeto, juntamente com a data e lugar da decisão, para definir
se a setença foi nacional ou estrangeira.

A importância deste fato, da nacionalidade ou não acerca da sentença, significa muito em se tratando da
celeridade. Após a edição da nova lei, felizmente, apenas as sentenças arbitrais estrangeiras restam
obrigadas a serem homologadas judicialmente para produzir efeitos em nosso país, enquanto isto, as
sentenças arbitrais proferidas em nosso solo encontram-se prontas para serem executadas, produzindo
efeitos de forma imediata, cumprindo com o objetivo maior da arbitragem, o da celeridade processual.
Da sentença, imprescindível frisar que não cabe qualquer tipo de recurso, sendo definitiva, para que o
processo não mais se arraste por sucessivos recursos. De todo modo, o legislador reservou um meio para a
correção de erros produzidos pelos árbitros. Apenas caberão “embargos de declaração”, assim chamados
por terem a mesma finalidade encontrada no processo civil de corrigir erros materiais, contradições,
obscuridades e omissões; carregando, inclusive, o mesmo prazo de 5 dias, concedido no poder judiciário,
vale ressaltar ainda que não há previsão de qualquer manifestação pertinente ao embargado.

11 – PREMISSAS DOS CONTRATOS DE ADESÃO EM CONTRATO TRABALHISTA VERSUS


ARBITRAGEM
Outra barreira que existe para o progresso da arbitragem para discutir dissídios individuais é a característica
dos contratos trabalhistas serem praticamente um contrato de adesão, pois é fato que o empregado por ser a
parte hipossuficiente acaba acatando as condições iniciais estipuladas. Ou seja, o contrato trabalhista na
maior parte de sua constituição contem cláusulas com predisposição unilateral e redação inalterável,
caracterizando a formação de um contrato de adesão.

Portanto, existirá um obstáculo àqueles que optam por contratos trabalhistas que prevejam a arbitragem
para a solução de litígios caso não seja seguido o que preconiza o parágrafo 2º do artigo 4º da Lei da
Arbitragem. O referido dispositivo faz referência aos quesitos necessários para a inserção de compromissos
arbitrais em contratos de adesão, sendo que, dentre eles, o destaque da cláusula entre as demais inseridas no
contrato é o que mais chama a atenção, pois sua inobservância pode levar a nulidade da cláusula. A parte
hipossuficiente tem que ter plena ciência quanto à opção escolhida, sendo este um meio extrajudicial para
dirimir os litígios que possam aparecer e tem força jurídica.

Art. 4º e seus parágrafos, da Lei da Arbitragem - A cláusula compromissória é a convenção através da qual
as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato.

§ 1o A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato
ou em documento apartado que a ele se refira.

§ 2o Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de
instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em
documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

Apesar da expressa referência à possibilidade de instituir uma cláusula compromissória, mesmo em


contratos de adesão, tem doutrinadores que descordam que os contratos trabalhistas possam conter tais
cláusulas. Estes citam que o empregado, devida sua posição fragilizada na relação, será desfavorecido e
prejudicado, pois quase sempre não pode excluir ou modificar cláusulas, restando somente a opção de
aceitar.

Seria ingênuo e até jocoso imaginar que a simples inscrição em negrito de cláusula compromissória em
determinado contrato decorrente de relação de consumo, acompanhada de assinatura ou visto especial do
consumidor, poderia servir como instrumento único e absoluto de exclusão da jurisdição estatal e
instituição da privada, na hipótese de se vislumbrar necessidade posterior de solução de algum conflito
surgido entre as partes e decorrentes do mesmo contrato.

Além dessas considerações contrárias à arbitragem, outros doutrinadores dizem sobre a impossibilidade da
aplicação do instituto aos contratos trabalhistas por um motivo de cunho material. Em contratos
trabalhistas, devido ao entendimento que estes se equipararem a contratos revestidos de característica
consumista, com cláusulas de adesão, aplicam-se os dispositivos prescritos no CDC (Código de Defesa do
Consumidor).

O artigo 51, inciso VII, do CDC, preconiza a impossibilidade de realizar a utilização compulsória de
arbitragem em contratos de fornecimento de serviços, sendo que isto se aplicaria aos contratos trabalhistas.
Isto se conflita com o artigo 4º da Lei da Arbitragem, a qual permite a utilização da arbitragem em
contratos de adesão.

Porém, em mais um momento de contraponto para dirimir litígios individuais trabalhistas por meio da
arbitragem, vem o princípio que lei posterior geral não derroga lei anterior especial.

Ademais, sabe-se que a Lei de Arbitragem reveste-se de natureza geral em relação ao Código de Defesa do
Consumidor, que se reveste de natureza especial e, consequente, aquela não tem o condão de revogar
tacitamente este pois é princípio assente de hermenêutica jurídica que lex posterior generalis non derrogat
legem priorem specialem. Nesta hipótese de antinomia de segundo grau, o princípio da especialidade acaba
por prevalecer ao princípio cronológico, não deixando que a lei geral sucessiva revogue a lei especial
precedente, conforme expressamente enunciado pelo art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil.

Na jurisprudência se encontra decisões negativas com relação ao uso de cláusula de compromisso arbitral
em contratos trabalhistas, repetindo o discurso dos doutrinadores que não são favoráveis a este tipo de
estipulação contratual, citando que pode ser prejudicial ao empregado, haja vista ele ser a parte mais frágil
da relação e por se tratar de ato inválido perante o ordenamento jurídico. Isto é possível ver em um
julgamento da 4ª Turma do Tribunal Superior de Trabalho:

a nulidade das chamadas cláusulas leoninas, a teor do 424 do Código Civil de 2002, com as quais guarda
íntima correlação eventual cláusula compromissória de eleição da via arbitral, para solução de possíveis
conflitos trabalhistas, no ato da admissão do trabalhador ou na constância do pacto, a qual por isso mesmo
se afigura jurídica e legalmente inválida. (Processo: RR - 144300-80.2005.5.02.0040 Data de Julgamento:
15/12/2010, Relator Ministro: Antônio José de Barros Levenhagen, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT
04/02/2011).

Existem outros julgados que não são tão radicais como o anteriormente referido, porém demonstrando a
possibilidade de usar a via arbitral para solução de conflitos individuais de trabalho. Pelo menos, ao ler um
julgado da 8ª Turma do Tribunal Superior de Trabalho, a tese da decisão acordada evidencia a importância
da cláusula do compromisso arbitral seguir o que instruí a Lei da Arbitragem, ou seja, a cláusula tem que
sobrepor entre as demais para se destacar, respeitando o requesito que se tem que ter quanto se trata de
contratos de adesão, como são os contratos de trabalho.

Caso contrário, a cláusula compromissória será anulada com fundamentação irrecorrível devida a sua
concepção já consolidada perante a jurisprudência, como segue o trecho do acórdão que, após mencionar
sua contrariedade com relação à aplicação da arbitragem no caso em questão, mostra claramente a
preocupação em tutelar o empregado, aonde é, na maior parte das vezes, o mais fraco da relação e tem que
se sujeitar para obter o emprego.

De outro modo, o "contrato de serviço" celebrado é mero contrato de adesão. Ou seja, o empregado não
negociou suas cláusulas, inclusive a cláusula que obriga à arbitragem, que lhe foi, naturalmente imposta.
(Processo: RR ‐ 29840-50.2007.5.10.0020 Data de Julgamento: 15/12/2010, Relatora Ministra: Dora Maria
da Costa)

Ou seja, até a jurisprudência coloca obstáculos ao progresso da arbitral na esfera do direito do trabalho,
pois existem conceitos retrógrados e outros que não são mais incisivos no assunto, não dando o claro
entendimento sobre a delimitação jurídica da arbitragem para conflitos individuais trabalhistas.

12 – OS TIPOS DE LITÍGIOS QUE PODEM SER RESOLVIDOS PELA ARBITRAGEM NAS


DISCUSSÕES TRABALHISTAS
Como a arbitragem é para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, a jurisprudência
aceita sentenças arbitrais citando sobre valores pecuniário como os das férias, das diferenças salariais, da
indenização do FGTS, do adicional de insalubridade, das horas extras, do 13º salário, da alimentação e das
verbas rescisórias.

Isto porque quando se discute apenas sobre o montante dos valores, a esfera dos direitos indisponíveis não
está sendo atingida, como o seria se a discussão fosse, por exemplo, sobre o direito à aquisição das férias.
Discutir valores pecuniários entra no âmbito dos bens que podem ser livremente alienados ou negociados,
matéria suscetível à arbitragem.

Em suma, a arbitragem, para alguns doutrinadores que levam ao pé da letra o princípio da


irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas, não pode entrar no mérito da discussão da existência do direito
aos valores reclamados, mas sim, com relação ao cálculo desses valores. Por um outro lado, existe a
doutrina que cita a viabilidade de estender a arbitragem para assuntos além dos que são tratados para
discutir valores pecuniários, como elucida Wilson Ramos Filho, citando a possibilidade do trabalhador
transacionar sobre os efeitos patrimoniais:

Diante da controvérsia sobre o direito, e sobre as circunstâncias fáticas, é frequente a realização de


transações, mediante concessões recíprocas, homologadas em juízo. Se há transação é porque os direitos
eram disponíveis, pois se assim não fosse, sequer homologação seria possível.

Mas o que é disponível é o efeito patrimonial decorrente da prestação do labor extraordinário, não o direito
às horas extras ou à jornada reduzida. Se pode haver a transação, pode haver a arbitragem.

Ou seja, existe uma corrente doutrinária que defende que as relações trabalhista, com exceção de normas
intransacionáveis (estabilidade, salário mínimo, registro de trabalho e intervalo para refeição nas jornadas
superiores a seis horas), podem ser discutidas via arbitragem, uma vez que existe precedente legal que
autoriza as partes buscarem outra forma de justiça, como o caso da conciliação aplicado pelos tribunais.

Se ao trabalhador é permitido transacionar perante a justiça do trabalho como perante as Comissões de


Conciliação Prévia, não haveria qualquer óbice em se adotar a arbitragem como um dos modelos de
solução de conflitos individuais trabalhistas.

Destarte, como o resultado da arbitragem deve ser garantido para ambas as partes, recomenda-se, enquanto
não houverem mudanças expressas na legislação, que a arbitragem seja usada apenas naquilo em que o
resultado possa ter a segurança jurídica, como as questões de valores referidos anteriormente.
13 – DISPOSITIVOS LEGAIS QUE LEGITIMAM A ARBITRAGEM NAS DISCUSSÕES
TRABALHISTAS
Na Lei 10.101/00, em seu artigo 4º, segundo inciso, cita que a arbitragem pode ser usada em questões
envolvendo a participação nos lucros. Porém, o árbitro poderá arguir uma sentença apenas se baseando em
uma proposta oferecida por uma das partes. Exemplo: Se houver duas propostas de participação nos lucros,
uma do empregador e outro do empregado, o árbitro deverá optar por uma das duas em sua sentença, sem
modificar o conteúdo desta oferta final, conforme o primeiro parágrafo do artigo referido anteriormente.

Artigo 4º, da Lei 10.101/00 – Caso a negociação visando à participação nos lucros ou resultados da
empresa resulte em impasse, as partes poderão utilizar-se dos seguintes mecanismos de solução do litígio:

I - mediação.
II – arbitragem de ofertas finais.

§ 1º Considera-se arbitragem de ofertas finais aquela em que o árbitro deve restringir-se a optar pela
proposta apresentada, em caráter definitivo, por uma das partes.

Oportunamente um outro ponto a ser comentado é com a relação ao que está prescrito na Lei 7.783/89 (Lei
da Greve), em seu artigo 3º. Artigo 3º, da Lei 7.783/89 - Frustrada a negociação ou verificada a
impossibilidade de recurso via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho.

Este dispositivo não é caso de cláusula contratual trabalhista, mas que tem interesse para o conhecimento
do alcance da arbitragem nas relações trabalhistas em nossa jurisdição. Um dos requisitos para haver
licitude na paralisação coletiva do trabalho é a frustração da negociação ou a verificação da impossibilidade
de recurso via arbitral. Quer dizer que, para legitimar o movimento grevista, deve-se antes tentar a prévia
negociação ou a arbitragem.

Também, na Lei da Greve, existe mais uma menção à arbitragem, em seu art. 7º, tratando as relações
durante o curso da greve. Artigo 7º, da Lei 7.783/89 - Observadas as condições previstas nesta Lei, a
participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais durante o
período ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.

A própria Constituição Federal cita a respeito da arbitragem para as negociações coletivas, em seu artigo
114, parágrafo 1º, transcrito a seguir: Artigo 114, da CF, §1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes
poderão eleger árbitro.

Por tanto, as relações obrigacionais no curso de greve devem ser determinados por acordo ou por
arbitragem e, último caso, por decisão da Justiça do Trabalho. E não é só às questões das negociações
coletivas que a arbitragem pode ser utilizada quando o assunto é relação trabalhista. Segundo a Lei
8.630/93, que regulamenta o trabalho portuário, a arbitragem é necessária para solucionar os litígios
decorrentes da aplicação de normas pelo órgão gestor de mão de obra portuário.

Artigo 23, da Lei 8.630/93 - Deve ser constituída, no âmbito do órgão de gestão de mão-de-obra, Comissão
Paritária para solucionar litígios decorrentes da aplicação das normas a que se referem os arts. 18, 19 e 21
desta lei.§ 1° Em caso de impasse, as partes devem recorrer à arbitragem de ofertas finais.

§ 2° Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência de qualquer das partes.

§ 3° Os árbitros devem ser escolhidos de comum acordo entre as partes e o laudo arbitral proferido para
solução da pendência possui força normativa, independentemente de homologação judicial.

Ou seja, o artigo 23 e seus parágrafos da Lei dos Portos, autoriza o uso da arbitragem para dirimir as
dúvidas sobre o uso das normas portuárias e esclarece sobre o procedimento que, querendo ou não, os dois
últimos parágrafos tem semelhança ao que dispõe expressamente a própria Lei da Arbitragem, em seus
artigos 7º e 18, sendo que este artigo está dispondo sobre a desnecessidade de homologação judicial e
aquele faz menção da impossibilidade da desistência da via arbitral por qualquer uma das partes, se não a
for feita pela vontade comum.

Artigo 7º, da Lei 9.307/96 - Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição
da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim
de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim.

Artigo 18, da Lei 9.307/96 - O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a
recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário. Por tanto, em relação às questões trabalhistas, nosso
ordenamento jurídico tem dispositivos que expressão a viabilidade do uso da arbitragem.
14 – POSIÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDÊNCIAL
Dando apoio completo para que arbitragem seja via para resolver litígios trabalhistas, a doutrina de
Geogenor de Sousa Franco Filho posiciona-se com o entendimento de que a pacificação dos conflitos de
trabalho são possíveis através da solução arbitral, sendo válida, sem devaneios, bastando acurar a técnica
para transformar esta via extrajudicial em eficiente modo de entendimento entre as partes conflitantes.

Através da solução arbitral dos conflitos trabalhistas poderá se ter condições de encontrar a almejada
convivência realmente pacífica entre os fatores da produção, a partir de que capital e trabalho, em comum
acordo, atribuam a um terceiro, privado, independente e isento, a busca de remédios para sarar seus
desentendimentos. É forma válida para se obter a composição das divergências entre as categorias
econômica e profissional e a aperfeiçoar a distribuição de riqueza. Não é mecanismo utópico. Ao contrário,
com sua boa implementação e o conhecimento acurado de suas técnicas, poderá ser a fórmula que se busca
para o perfeito entendimento entre os parceiros sociais.

Embasado na Constituição Federal, existe a extensão do entendimento do dispositivo constitucional que


prevê a faculdade do uso da arbitragem nas discussões coletivas para as discussões individuais, ou seja, a
previsão legal constitucional dando margem para o entendimento que é possível o uso da arbitragem
também nas questões que este tem força de negociar com o empregado, tirando-lhe direitos fundamentais a
que tem direito. Este entendimento é visto em sua citação.

Ocorre que, considerando a posição desvantajosa da grande maioria dos trabalhadores em relação aos
empregadores, a arbitragem, nos dissídios individuais, deverá se revestir de algumas cautelas, para que não
se transforme num meio de burlar as normas trabalhistas de proteção ao empregado, ou mesmo de
imposição a este do meio alternativo de solução.

Assim, não deve ser permitida a inserção de cláusulas compromissórias em contratos individuais, salvo
naqueles casos raríssimos em que o empregador, tendo força de negociar diretamente com este, sem que
ponha em risco seus direitos.

Por fim, existe a corrente doutrinária que não é a favor do uso da arbitragem para dirimir os direitos
individuais trabalhistas, repetindo conceitos debatidos, não reconhecendo a argumentação pró via arbitral e
continuando a instruir a via judicial como única via correta para discutir estes direitos. Isto pode ser
conferido no comentário de Jorge Luiz Souto Maior, o qual faz uma argumentação baseada no princípio da
irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas e na hipossuficiência do empregado.

Sob o ângulo dos empregados é inaceitável, já que todo um aparato jurídico, de ordem material e
processual, fora criado, exatamente, para a proteção dos direitos do trabalhador, e não seria uma mera
manifestação de vontade, cujo vício já se demonstra pelo simples fasto de não ter o empregado cumprido o
compromisso, que poderia derrogar e tornar a letra morta nesse ordenamento.

A magistratura tem entendimentos favoráveis sobre a atuação da arbitragem. Exemplo disto e o relatório da
excelentíssima senhora ministra Denise Arruda, em denegação ao seguimento do recurso especial nº
638.150 - BA, fundamentando a possibilidade da justiça arbitral ser válida para dirimir questões da
demissão sem justa causa.

Ora, atendidos esses pressupostos legais, não há razão para impedir o levantamento do depósito pelo
empregado despedido, ainda que a despedida por justa causa tenha sido reconhecida e homologada por
sentença arbitral. É certo que o juízo arbitral não pode ser utilizado para dirimir controvérsias sobre direitos
indisponíveis (arts. 1º e 25 da Lei 9.307⁄96).

Todavia, os direitos trabalhistas, embora irrenunciáveis, não são absolutamente indisponíveis,


comportando, em certos casos, transação, o que é comum ocorrer no âmbito dos dissídios individuais.
Ademais, a indisponibilidade desses direitos deve ser considerada como modo de tutelar os interesses do
empregado, não cabendo invocá-la para alcançar finalidade oposta. Assim, conforme reconhece a doutrina
(v.g.: Joel Dias Figueira Jr., Arbitragem, Jurisdição e Execução, 2ª ed., 1999, p. 182), não se pode
descartar, em caráter absoluto, a viabilidade da utilização do juízo arbitral para dirimir conflitos individuais
de natureza trabalhista. Será legítima a via arbitral - e, portanto, a sentença nela proferida - a não ser
quando evidenciada a indevida e desproporcional renúncia dos direitos por parte do empregado.

Assim, na situação dos autos, a despedida sem justa causa, acompanhada da prova do depósito previsto no
art. 18 da Lei 8.036⁄90, é motivo suficiente para autorizar a movimentação da conta pelo empregado. Em
tal ocorrendo, não se pode considerar presente qualquer renúncia a direito seu, nem, portanto, ilegítima a
sentença arbitral que reconheceu a despedida injusta.

15 – O PROCEDIMENTO ARBITRAL
Dentre os princípios gerais do processo, o legislador selecionou aqueles capazes de prestar a garantia de um
julgamento justo a todos os envolvidos, exigindo, assim, independente da escolha do procedimento, a
aplicação do princípio do contraditório, da igualdade, da imparcialidade e do livre convencimento do
árbitro.

O procedimento arbitral tem previsão legal nos arts. 19 ao 22 da Lei de Arbitragem, e por meio deles é que
será determinada a forma com que se estabelecerá o procedimento arbitral que, no entanto, frise-se, a lei
não determina um procedimento único e determinável. Como prevê o art. 21 da referida Lei, “a arbitragem
obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem”, assim, as regras
aplicadas poderão ser vinculadas a uma determinada Câmara Arbitral, podendo, ainda, ser facultado às
partes delegar ao árbitro ou tribunal a regulamentação do procedimento.

Ainda, não aplica-se aos procedimentos arbitrais as regras contidas no CPC, sendo a sua única limitação de
aplicação no que diz respeito aos princípios gerais do processo, como a igualdade, a ampla defesa e
contraditório, o devido processo legal e o livre convencimento dos árbitros, restando, caso não sejam
respeitados, a anulação da sentença arbitral.

No entanto, os referidos princípios atingem não só o procedimento, mas o processo arbitral num todo,
sempre com o intuito de tutelar a relação jurídica entre partes e árbitro. Assim, com esse objetivo tutelar de
direito, o legislador brasileiro não se fixou apenas nos atos procedimentais que visam garantir esses
direitos.

De um lado, a liberdade de forma dos atos do procedimento arbitral é coerente com a escolha de plena
liberdade conferida às partes quanto à gestão do mecanismo de solução de controvérsias que elegeram, e
revela apreciável concessão à autonomia da vontade dos litigantes; de outro, esta mesma liberdade cobrará
seu preço, pois caberá aos tribunais estatais, em sua tarefa interpretativa, controlar as escolhas das partes (e
dos árbitros), detectando, caso a caso os excessos cometidos (que levarão à anulação da sentença arbitral,
nos termos do art. 32, VIII, combinado com o art. 33, §2º, I da Lei).

Dessa forma, fica claro que a arbitragem não é uma forma de se esquivar do poder judiciário, sendo que
comprovada a existência de fraude no procedimento, a sentença arbitral poderá ser anulada, sendo mantida
a garantia constitucional prevista no art. 5º, inciso XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”, pois sempre que necessário haverá a apreciação pelo Poder Judiciário
Trabalhista, sendo ele ainda o órgão máximo de competência para julgamentos de lides trabalhistas.

Assim, a maior característica do procedimento arbitral, e o fato pelo qual tantas pessoas se submetem aos
procedimentos arbitrais são em razão da flexibilidade de escolha do procedimento aplicável (art. 21 da Lei
de Arbitragem), que será estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, na qual constará todas as
regras do procedimento, desde a escolha dos árbitros, o local da arbitragem, a legislação aplicável, prazos a
serem seguidos, devendo sempre ser respeitado o princípio da igualdade e do contraditório.

No que tange a escolha dos árbitros, as partes poderão indicar qualquer árbitro vinculado a uma
determinada Câmara, ou árbitro independente, e que sejam especialistas nas matérias de fato que serão
objeto da arbitragem. Os árbitros escolhidos devem ser imparciais e independentes, sendo aplicável regra
semelhante no que diz respeito ao impedimento e suspeição3 do Código de Processo Civil, podendo uma
parte impugnar a indicação do arbitro feita pela contra parte.

O resultado desta flexibilidade do procedimento arbitral é a sua capacidade de adequar-se a complexidade


do litígio, de forma a atender um duplo desejo das partes: a celeridade processual e a eficácia do
procedimento. Nesse sentido, note-se ainda o fato da impossibilidade de recurso contra a sentença arbitral,
abrevia significativamente o procedimento.

Por conta desta característica, verifica-se em certos tipos de litígios a preferência da arbitragem em
detrimento do Poder Judiciário, o que pode inclusive acontecer na esfera do Direito do Trabalho.

Além do mais, como diria Marcio Yoshida, há que se considerar que, “o prolongamento dos trâmites
processuais implica o aumento dos custos administrativos e jurídicos de acompanhamento despendidos
pelas partes e pelo próprio Estado, que muito se beneficiam com a presteza do procedimento arbitral.”

No entanto, para que a arbitragem seja utilizada na esfera dos litígios trabalhistas individuais, deve-se
verificar a compatibilidade deste mecanismo com os princípios inerentes ao próprio Direito do Trabalho,
em especial a eventual “indisponibilidade dos direitos trabalhistas individuais” e a necessária “proteção”
através do processo judicial do trabalhador, parte esta considerada, a princípio, hipossuficiente na disputa
jurisdicional.
16 – CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE ARBITRAGEM
Em face do previsto no artigo 5º, XXXV da Constituição Federal, a constitucionalidade da Lei de
arbitragem foi muito discutida, em especial ao que concerne ao compromisso arbitral e a eventual
controvérsia sobre sua aplicação. No entanto, com o julgamento da Sentença Estrangeira 5.2065 (Agravo
Regimental em sentença estrangeira), pelo Ministro Relator Sepúlveda Pertence, em 12.12.2001, por
maioria de votos, o STF afirmou a compatibilidade da clausula compromissória com a Constituição,
reconhecendo, então, a constitucionalidade da Lei de Arbitragem.

Como bem defendeu a constitucionalidade dos dispositivos da Lei de Arbitragem no referido processo, o
ex-Procurador-Geral da República, Dr. Geraldo Brindeiro, entende que o inciso XXXV do artigo 5º: Não
determina que os interessados devam sempre levar ao Judiciário suas demandas. Se admite como lícita a
transação relativamente a direitos substanciais objeto da lide, não se pode considerar violência à
Constituição abdicar do direito instrumental de ação através da cláusula compromissória.

E, em se tratando de direitos patrimoniais disponíveis, não somente é lícito e constitucional, mas é também
recomendável aos interessados – diante do acúmulo de processos e do formalismo excessivo que têm
gerado a lentidão das demandas judiciais – abdicarem do direito ou do poder de ação e buscarem a
composição do conflito por meio de sentença arbitral cujos efeitos sejam idênticos àqueles das decisões
prolatadas pelo Poder Judiciário. (SE-AgRg 5.206, Rel. Para o acórdão Sepúlveda Pertence, julgada em 12-
12-2001, DJ de 30-4-2004)

O Min. Nelson Jobim, em discordância em relação ao voto do Relator, concluiu pela plena
constitucionalidade dos artigos 6° e 7° da Lei, tendo em vista o inciso XXXV do artigo 5°, nos seguintes
termos: Ela não proíbe que as partes pactuem formas extrajudiciais de solução de seus conflitos, atuais ou
futuros. Não há nenhuma vedação constitucional a que partes, maiores e capazes, ajustem a submissão de
conflitos, que possam decorrer de relações jurídicas decorrentes de contrato específico, ao sistema de
arbitragem. Não há renúncia abstrata à jurisdição. Há renúncia relativa à jurisdição.Não há que se ler na
regra constitucional (art. 5º, XXXV), que tem como destinatário o legislador, a proibição das partes
renunciarem à ação judicial quanto a litígios determináveis, decorrentes de contrato específico. [...] (SE-
AgRg 5.206, Rel. Para o acórdão Sepúlveda Pertence, julgada em 12- 12-2001, DJ de 30-4-2004)

Sendo assim, nas palavras de Marcio Yoshida, no livro Arbitragem Trabalhista, é inadequada a concepção
de que o juiz natural não pode ser afastado pelo consenso das partes, pois não ocorre renuncia à ação
judicial mas uma opção espontânea por uma via alternativa de resolução de conflito.

Como previsto em seu artigo primeiro, a Lei de Arbitragem (Lei 9307/96) determina que: “as pessoas
capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais
disponíveis”.

Nesse sentido, versa a principal controvérsia sobre a aplicabilidade da Lei de Arbitragem no âmbito do
direito do Trabalho, onde há uma relação de hipossuficiência e os direitos dos trabalhadores são muitas
vezes tratados como direito patrimoniais indisponíveis, o que geraria, em princípio, a impossibilidade de
utilização da via arbitral.

Com a Emenda Constitucional 45 de 2004, a Constituição Federal passou a estabelecer a competência para
processar e julgar ações oriundas da relação de trabalho, prevendo também, a possibilidade de eleição de
árbitros caso frustrada a negociação coletiva. Nesses casos de dissídios coletivos, frise-se, a competência da
Justiça do Trabalho será uma faculdade das partes, que recusando-se à negociação e à arbitragem, poderão
de comum acordo ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho julgar o conflito.

Para Marcio Yoshida, “A simples omissão da Constituição Federal, por conseguinte, não corresponde à
proibição da arbitragem nos conflitos individuais de trabalho indicada por parte da doutrina e da
jurisprudência.”

Consequentemente, a redação do já citado artigo 31 da Lei gerou novas discussões no que se refere ao
artigo 5º, XXXV da Constituição Federal, sob alegação de estar afrontando o princípio da inafastabilidade
ao vedar as partes o acesso direto ao Judiciário, e que, no entanto, como já mencionado acima, foi derrotada
pelo Supremo Tribunal Federal, que pacificou a tese da inconstitucionalidade da Lei de Arbitragem, e no
mesmo sentido conclui Joel Dias Figueira Júnior, citado por Marcio Yoshida no artigo “A Arbitragem e o
Judiciário Trabalhista”, da Revista Brasileira de Arbitragem:

O principio constitucional da inafastabilidade da jurisdição está integralmente preservado no novo regime


jurídico da arbitragem, através da faculdade concedida às partes, por mútuo acordo, de optarem e
convencionarem a solução de determinados conflitos atuais ou futuros por intermédio de juízo arbitral.

Logo, diante de tantas decisões acerca do assunto, fica legitimado o efeito da coisa julgada da sentença
arbitral, não restando dúvidas acerca deste importante tópico, uma vez que o artigo 18 da Lei de
Arbitragem reforça que: “O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a
recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário”.

Assim, foi dada uma equiparação à sentença estatal e a arbitral para que ambas produzam os mesmo
efeitos, fazendo coisa julgada às partes em que é dada, podendo, inclusive, quando condenatória, constituir
título executivo extrajudicial, não havendo a possibilidade de recurso, apenas “embargos de declaração”.
No entanto, caso ocorra qualquer fato previsto nos incisos do artigo 32 da Lei de Arbitragem, a parte
poderá recorrer ao disposto no artigo 33, onde prevê que a parte interessada poderá ir ao Poder Judiciário
competente pleitear a decretação de nulidade da sentença arbitral.

Em outubro de 2008, a sétima turma inaugurou um entendimento precursor na corte, no sentido de que a
arbitragem individual pode ser válida e eficaz desde que haja prova de que o procedimento foi idôneo,
deixando de lado a questão de inconstitucionalidade da lei. "Manter uma postura inflexível é prestar um
desserviço ao trabalhador, que acaba esperando até dez anos para receber verbas", alega o ministro Manus.

No seguinte sentido se deu a decisão supramencionada: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA. JUÍZO ARBITRAL. COISA JULGADA. LEI Nº 9.307/96. CONSTITUCIONALIDADE.
O art. 5º, XXXV, da Constituição Federal dispõe sobre a garantia constitucional da universalidade da
jurisdição, a qual, por definir que nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser excluída da apreciação do
Poder Judiciário, não se incompatibiliza com o compromisso arbitral e os efeitos de coisa julgada de que
trata a Lei nº 9.307/96. É que a arbitragem se caracteriza como forma alternativa de prevenção ou solução
de conflitos à qual as partes aderem, por força de suas próprias vontades, e o inciso XXXV do art. 5º da
Constituição Federal não impõe o direito à ação como um dever, no sentido de que todo e qualquer litígio
deve ser submetido ao Poder Judiciário. Dessa forma, as partes, ao adotarem a arbitragem, tão-só por isso,
não praticam ato de lesão ou ameaça à direito. Assim, reconhecido pela Corte Regional que a sentença
arbitral foi proferida nos termos da lei e que não há vício na decisão proferida pelo juízo arbitral, não se há
de falar em afronta ao mencionado dispositivo constitucional ou em inconstitucionalidade da Lei nº
9.307/96. Despicienda a discussão em torno dos arts. 940 do Código Civil e 477 da CLT ou de que o termo
de arbitragem não é válido por falta de juntada de documentos, haja vista que reconhecido pelo Tribunal
Regional que a sentença arbitral observou os termos da Lei nº 9.307/96 - a qual não exige a observação
daqueles dispositivos legais - e não tratou da necessidade de apresentação de documentos (aplicação das
Súmulas nºs 126 e 422 do TST). Os arestos apresentados para confronto de teses são inservíveis, a teor da
alínea "a" do artigo 896 da CLT e da Súmula nº 296 desta Corte. Agravo de instrumento a que se nega
provimento. (AIRR-1475/2000-193-05-00.7 – Ac. 7ª Turma, Rel. Pedro Paulo Manus, DEJT - 17/10/2008)

Portanto, concluindo a questão da constitucionalidade, o fato que ninguém nega é que a arbitragem, embora
tenha origem contratual, desenvolve-se com a garantia do devido processo e termina com ato que tende a
assumir a mesma função de sentença judicial. Sirva, pois, esta evidência para mostrar que a escolha do
legislador brasileiro certamente foi além das previsões de muitos ordenamentos estrangeiros mais evoluídos
que o nosso no trato do tema, trazendo como resultado final o desejável robustecimento da arbitragem.

Assim, analisados os pontos apresentados pelos doutrinadores, assim como o entendimento do Supremo
Tribunal Federal, conclui-se que a arbitragem não viola o previsto no artigo 5º, XXXV da Constituição
Federal.
17 - A EFETIVIDADE DA CONCILIAÇÃO
O Direito Processual do Trabalho tem dado grande ênfase à conciliação buscando sempre a composição das
partes litigantes. ressalta-se a conciliação como uma forma de se atingir o objetivo da paz social. Interessa
ao Estado que as próprias facções em litígio encontrem, elas mesmas, a fórmula capaz de compor suas
divergências.

Assim, com o intuito de oferecer uma forma alternativa de solução de conflitos trabalhistas, agilizando sua
composição e desafogando a Justiça do Trabalho, foram criadas as Comissões de Conciliação Prévia, que
instituída por meio da Lei 9.958/2000, facultou a criação de comissões paritárias de conciliação prévia, que
incluiu na CLT os artigos 625-A a 625-H.

Como previsto no artigo 764 da CLT, “os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da
Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”. A conciliação possui a estrutura da mediação e a
substância da sentença judicial, visto que a decisão é uma conciliação imposta às partes, enquanto a
conciliação é uma decisão aceita por elas, sendo que nos termos dos artigos 7649 e 83110 da CLT, a
conciliação no início e no fim da instrução é exigida, sob pena de nulidade.

Segundo Márcio Yoshida, “não pode, entretanto ser descartada essa valiosa ferramenta de pacificação de
dissídio trabalhista, que pode, como instancia prévia, auxiliar a desafogar a incessante torrente de processos
que deságuam na Justiça do Trabalho.”

Ante o exposto, verifica-se que a importância e a amplitude de aplicação da conciliação nos processos
trabalhistas onde a patrimonialidade e a disponibilidade dos direitos trabalhistas são demandados de mesma
forma em que seriam nos procedimentos arbitrais.
18 – INDISPONIBILIDADE DOS DIREITOS TRABALHISTAS INDIVIDUAIS
O direito do trabalho consolidou-se como uma necessidade dos ordenamentos jurídicos em função das suas
finalidades sociais, que o caracterizam como regulamentação jurídica das relações de trabalho que se
desenvolvem nos meios econômicos de produção de bens e prestação de serviços.

Nesse contexto, o Direito do Trabalho tem por finalidade básica a proteção jurídica do trabalhador e a
tentativa de diminuir as desigualdades sociais, que, no entanto, vem enfrentando novos dilemas.
Direito do Trabalho é o conjunto de princípios, regras, e Instituições atinentes à relação de trabalho
subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao
trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas. Tem por objetivo proteger o
trabalhador, que é considerado o pólo mais fraco da relação com seu patrão. Este é normalmente mais forte
economicamente, suportado os riscos de sua atividade econômica.

É em cima desse conceito que a os doutrinadores classificam o Direito do Trabalho como um ramo
totalmente diferente dos demais, onde foi criado para igualar uma relação jurídica entre empregado e
empregador, surgindo assim os princípios que norteiam o ordenamento justrabalhista.

Logo, a tutela imposta pelo Estado surge como um meio de mitigar a hipossuficiência entre empregado e
empregador, onde, de fato, o Direito do Trabalho reconhece a inferioridade do trabalhador diante de seu
empregador criando certas vantagens no decorrer da relação empregatícia, para que possa ser reduzida a
referida desigualdade existente na relação jurídica.

No entanto, mesmo com uma competência limitada à Justiça do Trabalho por meio da Emenda
Constitucional nº 45, observaremos a possibilidade da efetivação dos métodos alternativos, assim
chamados pela doutrina, a fim de flexibilizar o direito do trabalho ampliando o acesso à Justiça por meios
extrajudiciais de resoluções de conflitos trabalhistas, sem deixar de observar as normas constantes na
legislação específica.

Assim, chegamos ao nosso principal tópico a ser tratado no presente trabalho. É notória a utilização da via
arbitral na resolução de dissídios coletivos de trabalho, onde tem-se, inclusive, respaldo constitucional no
§1º do artigo 114 da Constituição Federal, e nos dissídios individuais, a simples omissão da Constituição
Federal, não corresponde à proibição da arbitragem nos conflitos individuais de trabalho.

No mesmo sentido, Marcio Yoshida, em própria citação, prevê:

Sustentam alguns juristas que a omissão constitucional quanto à possibilidade de se arbitrar conflitos
individuais de trabalho equivaleria à sua proibição. Ledo engano pois a Constituição tampouco contem
dispositivo autorizando a arbitragem de litígios cíveis e comerciais, e, é crucial, nem precisa porquanto o
princípio da legalidade prevê que as proibições não se presumem da omissão da lei. (Art. 5º, II, da
Constituição Federal).

Diante disso doutrinadores entendem que a simples omissão da Constituição Federal não corresponde à
proibição da arbitragem nos conflitos individuais trabalhistas como é entendido por parte da doutrina e
jurisprudência. No entanto, o grande embate se dá pelo fato do previsto na segunda parte do artigo 1º da
Lei 9.307/96, onde considera “[...] direitos patrimoniais disponíveis”, que segundo a doutrina clássica,
seriam praticamente todos os direitos trabalhistas, o que certamente está incorreto na percepção mais
moderna.

Diz-se que um direito é indisponível quando ele pode ser ou não exercido livremente pelo seu titular, sem
que haja norma cogente impondo o cumprimento do preceito, sob pena de nulidade ou anulabilidade do ato
praticado com sua infringência. Assim, são disponíveis aqueles bens que podem ser livremente alienados
ou negociados, por encontrarem-se desembaraçados, tendo o alienante plena capacidade jurídica para tanto.

O princípio da indisponibilidade tem por finalidade básica proteger o trabalhador, que pelo fato de estar ele
em situação de debilidade econômica em face dos empregadores e pela clara subordinação a eles, será
amparado pela Justiça do Trabalho para que as desigualdades sejam corrigidas, a indisponibilidade inata
aos direitos trabalhistas constitui-se talvez no veículo principal utilizado pelo direito do trabalho, para
tentar igualizar, no plano jurídico, a assincronia clássica existente entre os sujeitos da relação
socioeconômica de emprego.

No entanto, não são todos os direitos trabalhistas que são tidos como indisponíveis ou irrenunciáveis,
assim, embora não se deixe de reconhecer o caráter protetivo do direito laboral, é fato incontestável que
nem todos os direitos inseridos na Consolidação das Leis do Trabalho assumiram afeição irrenunciável
pregada pela doutrina especializada mais conservadora: se assim não fosse, não se entenderia o estímulo
sempre crescente à conciliação (e a consequente transação), de sorte que parece perfeitamente viável
solucionar questões trabalhistas que envolvam direitos disponíveis através da instituição do juízo arbitral.

Neste diapasão, cito trecho da decisão do Recurso Ordinário n° 00259-2008- 075-03-00-2, da 4ª Turma do
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, onde o relator Antônio Álvares da Silva, com extremo bom
senso, defende a arbitragem da seguinte forma: “[...] todo direito é disponível, desde que tenha um efeito
patrimonial ou econômico e haja dúvida sobre sua incidência na situação concreta. Torna-se então
transacionável.”

Assim, ainda no entendimento do E. Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, “[...] se o trabalhador,


capaz de contratar, opta por solucionar um conflito mediante arbitragem, está no exercício da liberdade de
escolher, dentro das hipóteses ofertadas pelo ordenamento jurídico, o que melhor lhe convier”.

Ademais, outra assertiva favorável à utilização do meio arbitral, é que se a arbitragem é realizada por
terceiros imparciais e competentes, que são requisitos básicos para a validade da arbitragem, onde são eles
indicados pelas partes por sua notória honra e capacidade, é certo que a arbitragem só pode ajudar e não
prejudicar.

Um dos princípios fundamentais do Direito do Trabalho é o acesso ao salário e remuneração pela prestação
de serviços, constituindo crédito de natureza alimentar, sendo ele o instrumento de sua sobrevivência.

Nesse sentido, um direito fundamental do trabalhador, quando transformado em litígio frente ao Poder
Judiciário Estatal, vai além de qualquer prazo mínimo razoável, tornando, assim, o direito humano em
direito desumano e opressor, sendo que o que veio para proteger, explora e tiraniza, infringindo a própria
norma de livre acesso ao Poder Judiciário. Assim sendo, nas palavras do Desembargador Antônio Álvares
da Silva:

Se o trabalhador prefere um meio mais simples, direto e confiável de resolver seu conflito com o
empregador, impedi-lo de seguir este caminho, sob pretexto de violação de princípio protetor e tutelar, é
praticar um ato de violência contra a vontade livre de um cidadão capaz, reduzindo-o à condição de incapaz
de escolher meio mais adequado para a satisfação de seus interesses pessoais. (Recurso Ordinário n°
00259-2008-075-03-00-2, da 4ª Turma do TRT da 3ª Região, Rel. Antônio Álvares da Silva, DEJT -
31/01/2009)

Concomitantemente a esse entendimento, está o entendimento de Marcio Yoshida referente aos diversos
níveis culturais e sociais dos empregados, devendo, assim serem sopesados de acordo com o caso concreto
em que se apresenta o litígio, assim: qualificação e especialização profissional diferenciadas, melhor
discernimento intelectual, nível de escolaridade privilegiado e detentores de cargos estratégicos na
hierarquia da empresa. A menor sujeição dessa classe de trabalhadores às pressões econômicas e à coação
do empregador pode retirar a presunção apriorística do vício da manifestação de vontade.

Esse seria mais um ponto importante a ser tratado, pois mesmo com as frequentes alegações de
hipossuficiência dos trabalhadores, fica claramente demonstrado que em casos como esses, de funcionários
com alto nível de escolaridade, de elevada hierarquia nas empresas e com claro discernimento de que ao
escolherem a via arbitral não poderão ser considerados inferiores ou coagidos ou terem sofrido qualquer
vício de manifestação.
Muitos alegam haver uma lacuna na legislação vigente e que deve ser suprida pela regulamentação da
“correta” utilização da via arbitral em dissídios individuais trabalhistas. Por analogia, como será observado
adiante, o Brasil poderia adotar os termos das leis estrangeiras que prevêem a utilização da expressão
“direitos transacionáveis” ao invés de “direitos disponíveis”, facilitando, assim, a sua interpretação.

No que tange à transação, o artigo 9º da CLT é taxativo ao estabelecer que “serão nulos de pleno direito os
atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na
presente Consolidação.”, no entanto, recusando a ideia de que os direitos trabalhistas são indisponíveis, se
firmássemos essa posição, cometeríamos um erro, porque, indisponibilidade absoluta certamente não existe
no campo trabalhista.

É fato notório que a conciliação na esfera trabalhista é buscada com o amparo legal, conforme estabelece o
artigo 76411 e seus parágrafos, da CLT , ainda que se cogite de direitos indisponíveis, ocorre
frequentemente quanto a horas extras, repouso, trabalho noturno, 40% do FGTS, etc.. .

No entanto, a transação no Direito do Trabalho é contextualizada sobre uma diversidade de enfoques:

a) se for judicial ou extrajudicial;

b) se for concretizada antes ou depois de constituído o direito;

c) se for concretizada no momento da celebração do contrato de trabalho, no curso dele e após seu término;

d) se envolver direitos previstos em cláusulas de acordos ou convenções coletivas de trabalho ou direitos


previstos em lei;

e) se contar com a interveniência do sindicato ou for celebrada diretamente com o trabalhador;

f) se o trabalhador possuir suficiente poder de negociação e discernimento para descaracterizar o vício de


consentimento presumido.

Não haveria como se justificar a indisponibilidade dos direitos trabalhistas relativos a contratos já extintos
porque, primeiro, já não existiria qualquer suposto temor do trabalhador que o obrigasse a aceitar as
imposições de seu ex-empregador, para poder preservar um contrato de trabalho que já naufragou, e,
segundo, porque as eventuais obrigações contratuais que foram descumpridas pelo ex patrão, antes da
rescisão contratual, representam, depois dela, meras obrigações de pagar.

Assim se firma novo entendimento, que independente de diversos posicionamentos contrários na Corte
superior trabalhista quanto à aplicação da arbitragem nos dissídios individuais, pode-se vislumbrar que
referidas decisões gerarão precedentes que, cedo ou tarde, poderão se tornar entendimentos unânimes pelos
magistrados, uma vdeuez que o próprio Estado de Direito busca cada vez mais a desjuridicização dos
procedimentos em busca de uma rápida resolução dos conflitos.
19 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se a grande importância dada ao Instituto de Arbitragem e a forma com que o mesmo vem sendo
tratado pelos estudiosos da área do Direito do Trabalho, mais especificamente no que diz respeito aos
dissídios individuais trabalhistas.

Pôde-se evidenciar como, na medida com que a sociedade vai evoluindo, o direito procura buscar e criar
novas formas, talvez ainda mais eficazes, para solucionar os conflitos surgidos entre pessoas de uma
mesma sociedade.

Assim, como a arbitragem é um procedimento muito mais flexível e célere que os processos judiciais que
tramitam perante a Justiça do Trabalho, a tendência da sociedade moderna é a de buscar, cada vez mais,
“facilitar” as suas vidas, evitando passar anos e anos se aborrecendo dentro do Poder Judiciário.

A principal característica observada que, segundo os doutrinadores estudados, legitima a utilização da


arbitragem para resolução de dissídios individuais trabalhistas, é a autonomia privada das partes, que, por
ato de vontade própria e livre de quaisquer vícios, as mesmas decidem conjuntamente, levar seus conflitos
para cortes arbitrais especializadas.

Mesmo com a larga proteção dada ao trabalhador pela Consolidação das Leis do Trabalho, e com a
alegação de muitos doutrinadores de que a utilização da via arbitral poderia ferir os direitos básicos dos
mesmos, acredito que tenha ficado claro no presente estudo que a arbitragem não tem por objetivo amparar
ou beneficiar o empregador ou a parte mais “forte”, de forma alguma, e sim, o seu objetivo é o de
promover a justiça e a Paz Social, dando o direito a quem lhe pertence.

Ainda, tendo a Justiça do Trabalho o intuito de igualar as partes da relação de trabalho, em face da
hipossuficiência do trabalhador, pode-se afirmar que as Cortes Arbitrais teriam o mesmo objetivo, uma vez
que se utilizam das mesmas leis e princípios da Justiça do Trabalho a fim de sanar os litígios a elas
trazidos.

Quanto à questão da indisponibilidade, ficou evidenciado que a indisponibilidade dos direitos é na


realidade relativa, que os direitos podem ou não ser objeto de transação ou renúncia, basta o trabalhador
não reivindicá-lo, o que irá implicar numa renúncia tácita do direito, que até então era tido como
indisponível, ou efetuar uma conciliação e abrir mão de mais de determinada parte de um direito que lhe é
assegurado por lei.

Nesse sentido se deram as decisões aqui elencadas, decisões estas que demonstram uma elevada
mentalidade e um crescimento cultural, conjuntamente com uma enorme visibilidade a ponto da Corte
Máxima do Trabalho, o TST, passar a reconhecer que ele não seria o único legitimado para solucionar
dissídios de natureza trabalhista, independente da existência expressa previsão constitucional e sem
infringir qualquer lei ou princípio do Direito do Trabalho.

Diante de todo o exposto verifica-se que a disponibilidade ou não de um direito será sempre relativa, onde
deverá sempre ser levado em conta o momento do contrato, a pessoa do contratado, se é uma pessoa com
bom nível de escolaridade e alto nível social, se foi ou não configurada a coação no memento da escolha do
procedimento, etc.

Por fim, é certo que por muitos anos as divergências doutrinárias e jurisprudenciais irão prosperar, no
entanto, acredita-se que com a evolução das sociedades e de sua cultura, a alteração do posicionamento
doutrinário e jurisprudencial, que infelizmente atualmente ainda é majoritário no sentido contrário, será de
certa forma uma conseqüência da evolução do País para a busca da Paz Social.

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