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Direito Administrativo

Profª. Tatiana Marcello

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LEGISLAÇÃO A SER MARCADA
1 FUNÇÕES DO ESTADO E ORGANIZAÇÃO DA 9 BENS PÚBLICOS
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA
2 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PROPRIEDADE
3 AGENTES PÚBLICOS E PROCESSO 11 INTERVENÇÃO DO ESTADO NO
ADMINISTRATIVO DOMÍNIO ECONÔMICO
4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO 12 CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO
5 PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PRÁTICAS DE COMPLIANCE
6 ATOS ADMINISTRATIVOS 13 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
7 LICITAÇÕES E CONTRATOS Índices remissivos
8 SERVIÇOS PÚBLICOS Normais gerais
Leis processuais
ATOS ADMINISTRATIVOS
• CONCEITO

• Segundo Hely Lopes Meirelles, ato administrativo é “toda manifestação unilateral de


vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato
adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
obrigações aos administrados ou a si própria”.

• Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro: “declaração do Estado ou de quem o represente, que
produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito
público e sujeito a controle pelo Poder Judiciário”.

• Em suma, é uma manifestação de vontade do Estado ou de quem lhe faça as vezes, que
tem por finalidade o interesse público.
• Detalhes:

• A lei deve obedecer a CF, e o ato administrativo deve obedecer a lei (norma infra legal – está abaixo
da lei).
• Ato Administrativo é ato secundário – decorre de um ato primário que é a lei (exceção: ato
administrativo primário: art. 84, VI, “a” e “b”).

➢Ato administrativo – manifestação de vontade unilateral.

➢Fato Administrativo – acontecimento da vida com relevância para o direito administrativo (ex.:
servidor atinge 75 anos de idade, tem que ser editado o (ato) de aposentadoria compulsória.

➢Ato Político (ato do rei) – não é suscetível de controle judicial (Ex.: CF, art. 84, XII – compete
privativamente ao presidente da república: conceder indulto/graça).
• Quem emite atos administrativos?
✓Poder Executivo como função típica;
✓Poder Judiciário como função atípica (ex.: conceder férias aos servidores);
✓Poder Legislativo como função atípica (ex.: fazer um regimento interno);
✓Particulares que façam as vezes de Estado (ex.: concessionária).
• REQUISITOS ou ELEMENTOS

• Segundo a corrente clássica, defendida por Hely Lopes Meirelles e mais aplicada em
concursos públicos, os “requisitos” (também chamados de “elementos”) são trazidos pela
Lei n. 4.717/65 (Lei de Ação Popular), art. 2º, segundo o qual, “são nulos os atos lesivos ao
patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
• Portanto, os requisitos do ato administrativo são: COM FIN FOR MOB

COMPETÊNCIA ----- (quem?)


FINALIDADE ----- (para quê)
FORMA ----- (como?)
MOTIVO ----- (por que?)
OBJETO ----- (o que?)

➢Faltando 1 desses requisitos de validade, o ato não é válido, pois terá um


vício/defeito.
• Portanto, os requisitos do ato administrativo são: COM FIN FOR MOB

COMPETÊNCIA ----- (quem?)* Autoridade competente pode ratificar o ato.


FINALIDADE ----- (para quê)
FORMA ----- (como?)* Ato pode ser refeito pela forma correta.
MOTIVO ----- (por que?)
OBJETO ----- (o que?)

* Vícios que podem ser sanados, convalidando-se o ato.


• Lei 9784/99, Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse
público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser
convalidados pela própria Administração.
➢ Competência (quem?)

✓Lei n. 4.717/65, art. 2º, p. ú, “a” - a incompetência fica caracterizada quando o ato não se
incluir nas atribuições legais do agente que o praticou.

✓O agente que pratica o ato deve ter poder legal para tal.

✓Lei 9784/99, Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos


administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação
legalmente admitidos.
✓(mesmo quando se delega ou avoca, se trata de transferência de exercício daquela
atribuição, mas não da competência).
➢ Competência (quem?)

✓Delegação – regra é que posso delegar. Exceção: Não podem ser objeto de delegação (Lei
9784/99, art. 13):
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

✓A delegação é subdelegável, se a autoridade competente não proibir.


✓Se extrapolar a competência, ocorre o “excesso de poder” (ex.: tinha poder para aplicar
suspensão, mas demitiu – a demissão não será válida por vício de competência).
✓Obs.: O vício de competência pode ser convalidado, não sendo necessária anulação.
➢Finalidade (para quê)

➢Lei n. 4.717/65, art. 2º, p. ú, “e” - o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica
o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.

✓É o objetivo do ato, que deve buscar o interesse público.

✓Se não atender a finalidade, haverá “desvio de finalidade ou desvio de poder” (espécie de
abuso de poder) tornando o ato inválido (ex.: sou eleito prefeito e meu primeiro ato é
desapropriar imóvel do meu inimigo político; ex.: remoção de ofício como forma de
punição).

✓Obs.: desvio de finalidade é vício insanável; obriga a anulação.


➢Forma (como?)

➢Lei n. 4.717/65, art. 2º, p. ú, “b” - o vício de forma consiste na omissão ou na observância
incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
✓É o revestimento do ato, que tem que obedecer a forma prescrita em lei;
✓Em regra, a forma é a escrita, mas excepcionalmente existem outras formas, como por
exemplo, forma verbal, sinalização de trânsito, etc.

✓Ex.: auto de infração sem assinatura; aplicação de penalidade ao servidor sem PAD.

✓Obs.: O vício de forma pode ser convalidado, exceto se a lei estabelecer que determinada
forma é essencial à validade do ato, caso este em que será nulo o ato (não podendo ser
convalidado).
➢ Motivo (por que?)

✓Lei n. 4.717/65, art. 2º, p. ú, “d” - a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria
de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
✓Situação de fato ou de direito que determina ou autoriza a realização do ato administrativo.
✓ Motivo é diferente de motivação.

Ex.: servidora ficou grávida e tenho que conceder licença gestante; o motivo do ato é a gravidez.
Ex.: servidor praticou uma conduta que levou à pena de demissão; o motivo do ato é a infração.

Obs.: o vício quanto ao motivo é insanável; obriga a anulação.


Lei 9784/99, Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e
relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte
integrante do ato.
• Teoria dos Motivos Determinantes

• Ao motivar um ato (seja ele vinculado ou discricionário), a Administração fica vinculada à


existência e adequação daqueles motivos declarados como causa determinante do ato,
podendo sofrer controle de legalidade/legitimidade pela própria Administração Pública
ou pelo Poder Judiciário caso esses motivos não existam ou sejam inadequados.
• Isso ocorre mesmo em atos discricinários em que não precisa motivação, mas que se
forem motivados vinculam a Administração. Ex.: para exonerar o servidor ocupante de
CC não é necessário motivação; entretanto, se a autoridade motivar, terá que haver
existência e adequação daquele motivo; Ex.: a exoneração foi motivada na falta de
assiduidade do servidor, este poderá requerer a anulação do ato caso prove que era
assiduo; algo que não seria possível ser contestado caso a autoridade não tivesse
motivado (já que a lei não obriga a motivar nesse caso).
(XIX Exame) - A associação de moradores do Município F solicitou ao Poder Público municipal
autorização para o fechamento da “rua de trás”, por uma noite, para a realização de uma festa junina
aberta ao público. O Município, entretanto, negou o pedido, ao fundamento de que aquela rua seria
utilizada para sediar o encontro anual dos produtores de abóbora, a ser realizado no mesmo dia.
Considerando que tal fundamentação não está correta, pois, antes da negativa do pedido da associação
de moradores, o encontro dos produtores de abóbora havia sido transferido para o mês seguinte,
conforme publicado na imprensa oficial, assinale a afirmativa correta.
A) Mesmo diante do erro na fundamentação, o ato é válido, pois a autorização pleiteada é ato
discricionário da Administração.
B) Independentemente do erro na fundamentação, o ato é inválido, pois a autorização pleiteada é ato
vinculado, não podendo a Administração indeferi-lo.
C) Diante do erro na fundamentação, o ato é inválido, uma vez que, pela teoria dos motivos
determinantes, a validade do ato está ligada aos motivos indicados como seu fundamento.
D) A despeito do erro na fundamentação, o ato é válido, pois a autorização pleiteada é ato vinculado,
não tendo a associação de moradores demonstrado o preenchimento dos requisitos.
➢Objeto (o que?)

➢Lei n. 4.717/65, art. 2º, p. ú, “c” - a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato
importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;

✓É o conteúdo do ato, que tem por objeto a criação, modificação ou comprovação de situações
concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas à ação do Poder Público. É aquilo que quero
alcançar quando pratico o ato administrativo.

Ex.: servidora ficou grávida e tenho que conceder licença gestante; o motivo do ato é a gravidez; o
objeto do ato é a licença.

Ex.: servidor praticou um ato que levou à aplicação de pena de suspensão; o motivo do ato é a
infração; o objeto do ato é a pena de suspensão.

Obs.: o vício do objeto (objeto ilegal) é insanável; obriga a anulação.


• Ex.: ato de demissão do servidor

COMPETÊNCIA ----- (quem pode aplicar a pena de demissão?)


FINALIDADE ----- (para quê? Interesse público corrigir)
FORMA ----- (como? Através de um processo administrativo)
MOTIVO ----- (por que? Praticou infração)
OBJETO ----- (o que? demissão)
• Ex.: ato de aposentadoria compulsória do servidor

COMPETÊNCIA ----- (quem? Ministro de Estado)


FINALIDADE ----- (para quê? Interesse público/renovar os servidores)
FORMA ----- (como? Escrita por Portaria)
MOTIVO ----- (por que? Completou 75 anos)
OBJETO ----- (o que? Aposentadoria compulsória)
• ATRIBUTOS (PATI)
Presunção de Legitimidade (veracidade/legalidade) - o ato é válido (e legítimo) e
deve ser cumprido até que se prove o contrário (presunção relativa); presente em todos os
atos.
Autoexecutoriedade – o Estado pode executar seus atos sem precisar de manifestação
prévia do Judiciário (ex.: apreensão de mercadoria, interdição de estabelecimento,
aplicação de multa...); mas, posteriormente o Judiciário pode analisar legalidade do ato.
Obs.: a Administração pode aplicar multa, mas para cobrar tem que ser no Judiciário.
Tipicidade – respeito às finalidades especificadas em lei; ato não é lei, mas tem por base
uma lei, então deve atender a figuras definidas previamente pela lei.
Imperatividade – o ato cria unilateralmente obrigação ao particular; o Estado impõe
coercitivamente (coercibilidade) o ato e tem que ser respeitado, concordando ou não.
• (IV EXAME) O Sr. Joaquim Nabuco, dono de um prédio antigo, decide consultá-lo como
advogado. Joaquim relata que o seu prédio está sob ameaça de ruir e que o poder público
já iniciou os trabalhos para realizar sua demolição. Joaquim está inconformado com a ação
do poder público, justamente por saber que não existe ordem judicial determinando tal
demolição. Diante do caso em tela, discorra fundamentadamente sobre a correção ou
ilegalidade da medida. (Valor: 1,25)

• Resposta: Abordar duas entre as seguintes (indicar 1 = 0,6; indicar 2 = 1,25):


• Garantia da segurança coletiva por meio do poder de polícia.
• Autoexecutoriedade como atributo do poder de polícia aplicável a casos urgentes.
• Respeito ao contraditório e ao devido processo legal no âmbito administrativo.
• (XXI EXAME) Maria construiu, de forma clandestina, um imóvel residencial em local de risco e, em
razão disso, a vida de sua família e outros imóveis situados na região estão ameaçados. A
autoridade municipal competente, por meio do devido processo administrativo, tomou as
providências cabíveis para determinar e promover a demolição de tal construção, nos exatos
termos da legislação local. Diante dessa situação hipotética, responda aos itens a seguir.
• A) Pode o Município determinar unilateralmente a obrigação demolitória? (Valor: 0,60)
• B) Caso Maria não cumpra a obrigação imposta, o Município está obrigado a postular a demolição
em Juízo? (Valor: 0,65)
Resposta:
• A. Sim. O ato administrativo decorre do exercício do poder de polícia que goza do atributo da
imperatividade ou coercibilidade, por meio do qual a Administração pode impor unilateralmente
obrigações válidas.
• B. A resposta é negativa. O ato administrativo em questão goza do atributo da autoexecutoriedade,
que autoriza a Administração a executar diretamente seus atos e a fazer cumprir suas
determinações sem recorrer ao Judiciário.
• INVALIDAÇÃO/EXTINÇÃO (anulação e revogação)

• Lei 9.784/1999, art. 54: A Administração deve anular seus próprios atos, quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

➢Súmula do STF 473 – A Administração pode anular seus próprios atos quando
eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

➢Súmula do STF 346 - A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.
• Anulação e revogação: decorrem do “Princípio da Autotutela”.

✓ Revogação - é a invalidação de ato legal e eficaz, que pode ser realizado apenas pela
Administração, quando entender que o mesmo é inconveniente ou inoportuno (mérito),
com efeitos não retroativos (ex nunc).
✓ Anulação é a invalidação de um ato ilegítimo, que poderá se dar pela Administração ou
pelo Poder Judiciário (efeitos retroativos – ex tunc).

• Desses dispositivos conclui-se que, em relação aos atos, a Administração pode ANULAR ou
REVOGAR, porém, o Poder Judiciário pode apenas ANULAR.
• ANULAR quando ILEGAIS
ADMINISTRAÇÃO • REVOGAR quando INCONVENIENTES OU INOPORTUNOS

PODER • ANULAR quando ILEGAIS


JUDICIÁRIO
Anulação e Revogação de Atos Administrativos

• A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de


legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos.

A+J ANULAÇÃO Vício de Legalidade EX TUNC


Inconveniência ou
A REVOGAÇÃO
Inoportunidade EX NUNC
• O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em 5 anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé (princípio da segurança jurídica).

• O direito de revogar ato administrativo não tem limitação temporal.

• Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis (vício de competência ou vício de
forma) poderão ser convalidados pela própria Administração.

• Caducidade – ato se torna contrário a nova lei.


• Contraposição – ato se torna contrário a ato posterior (revogação tácita).
• (XVII EXAME) O Ministério X efetua a doação de um imóvel em área urbana extremamente
valorizada, para que determinada agência de turismo da Europa construa a sua sede no
Brasil. Meses depois, o Ministro revoga o ato de doação, ao fundamento de que ela era
nula por não se enquadrar nas hipóteses legais de doação de bens públicos. A empresa
pede a reconsideração da decisão, argumentando que não existe qualquer ilegalidade no
ato. Considerando a situação hipotética descrita acima, responda, justificadamente, aos
itens a seguir.
• B) É juridicamente correta a revogação da doação fundamentada na ilegalidade
vislumbrada pelo Ministro? (Valor: 0,65)
• Resposta: B. Não, diante de vícios de legalidade à Administração resta anular os seus atos,
com base no princípio da autotutela, já que a revogação ocorre nos casos de conveniência e
oportunidade (0,55). Enunciado da Súmula nº 473 do STF OU Art. 53, da Lei n. 9784/99.
(0,10)
• (XXIII EXAME) O Congresso Nacional aprovou recentemente a Lei nº 20.100/17, que reestruturou diversas
carreiras do funcionalismo público federal e concedeu a elas reajuste remuneratório. Especificamente em
relação aos analistas administrativos de determinada agência reguladora, foi instituída gratificação de
desempenho. Ao proceder aos cálculos, a Administração interpreta equivocadamente a lei e calcula a maior o
acréscimo salarial, erro que só é percebido alguns anos depois de iniciado o pagamento. Sobre a hipótese
apresentada, responda aos itens a seguir.
• A) Não havendo má-fé dos servidores, a Administração pode rever a qualquer tempo os cálculos e exigir a
devolução da quantia paga indevidamente?
• B) O ato da Administração que resultar na revisão do cálculo da gratificação precisa, obrigatoriamente, ser
motivado? (Valor: 0,50)
• Resposta:
• A1. Não, pois o direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis
para os destinatários decai em cinco anos (0,35), conforme disposto no Art. 54 da Lei nº 9.784/99 (0,10).
• A2. Quanto à restituição da quantia paga a maior, por não terem os servidores dado causa ao equívoco e
estarem de boa-fé, não será cabível (0,30).
• B. Sim, a Administração deve obrigatoriamente motivar o ato na forma do artigo 2º da Lei nº 9784/99 OU no
princípio da motivação (0,40), conforme disposto no Art. 50, inciso I, da Lei nº 9.784/99 OU no Art. 50, incisos VI
ou VIII, da Lei nº 9.784/99 (0,10).
• ERRATA:

• Queridos, ao tratar dos atos discricionários e vinculados (a seguir), acabei me equivocando


nos exemplos e para não ficar confuso, os exemplos são os seguintes:

➢ licença – ato vinculado (ex.: licença para dirigir – se a pessoa cumprir os requisitos, a
Administração é obrigada a conceder).
➢ permissão e autorização – atos discricionários (ex.: permissão de uso de um bem público;
ou autorização para casar na praia – a pessoa pede e a Administração concede ou não,
conforme achar conveniente ou oportuno).

- Obs.: os slides seguintes já estão corrigidos, conforme acima.


• CLASSIFICAÇÃO

• I - Quanto a liberdade de ação:


a) Ato Vinculado (tem que fazer) – quando a lei estabelece os requisitos e condições de sua
realização, não sobrando margem para liberdade do administrador, pois o ato somente será
válido se obedecidas as imposições legais (ex.: licença para dirigir*, aposentadoria
compulsória; lançamento tributário, anulação de ato ilegal, etc.).

b) Ato Discricionário (pode fazer) – quando a Administração tem liberdade de escolha


quanto ao seu destinatário, seu conteúdo, sua oportunidade e modo de realização (ex.:
autorização; revogação de ato).

*corrigido.
Ato Vinculado Ato Discricionário

- Sem margem de liberdade - Com margem de liberdade

- Não tem mérito - Tem mérito

- Administração pode anular, mas não pode - Administração pode anular ou revogar
revogar
- Sofre controle Judicial - Sofre controle judicial, exceto quanto ao
mérito
- Ex.: aposentadoria compulsória; - Ex.: Reversão à pedido, Autorização,
lançamento tributário, licença. permissão.
• Atos de Império: imposto pela Administração (ex.: multa).

• Atos negociais: particular manifesta sua vontade.


CORRIGIDO:
(Ex. 1: licença – ato vinculado)
(Ex. 2: permissão e autorização – ato discricionário)
ATOS ADMINISTRATIVOS
✓ Poder de Polícia

Súmula 346, STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

Súmula 473, STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Direito Administrativo

Bens Públicos

Profª. Tatiana Marcello


CONCEITO
Código Civil - Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a
que pertencerem.

Pessoa Jurídicas de Direito Público Interno – CC Art. 41. São pessoas jurídicas de direito
público interno:
I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Portanto, bens públicos são apenas aqueles pertencentes a pessoas jurídicas de direito
público (U, E, M, DF, Autarquias e Fundações públicas de direito público).
Entretanto, bens das pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração
Pública são privados (ou particulares), mas podem estar sujeitos a regras próprias do regime
jurídico de bens públicos (inalienabilidade, impenhorabilidade, imprescritibilidade e não
onerabilidade), quando estiverem sendo efetivamente utilizados na prestação de um
serviço público;
Afetação e Desafetação (utilização)

Afetação – é quando um bem está vinculado a uma finalidade pública (está afetado). Em
regra, os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial são afetados. Ex.: prédio
público onde funciona uma escola pública está afetado à prestação desse serviço.

Desafetação – é quando um bem não está vinculado a nenhuma finalidade pública (está
desafetado). Os bens dominicais são desafetados. Ex.: terreno baldio da Prefeitura.

Entende-se por desafetação também, o ato de desvincular um bem a determinada


finalidade, a fim de facilitar sua alienação. Portanto, um bem de uso comum do povo ou de
uso especial é transformado em bem dominical. O ato de desafetação depende de lei
específica.
Classificação

1 – Quanto à forma de utilização/destinação:

Código Civil - Art. 99. São bens públicos:


I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas
jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal,
ou real, de cada uma dessas entidades.
a) Bens de uso comum do povo – apesar de pertencerem a uma a pessoa jurídica de direito
público interno (poder de gestão e não propriedade), podem ser utilizados sem restrição por
todos, gratuita ou onerosamente (rios, mares, estradas, ruas e praças, meio ambiente...);

b) Bens de uso especial – se destinam (afetados) especialmente à execução dos serviços


públicos; são exemplos os veículos da Administração ou os imóveis onde estão instalados os
serviços públicos e órgãos da administração (secretarias, escolas, tribunais, parlamentos...);

c) Bens dominicais – constituem patrimônio das pessoas jurídicas de direito público


(propriedade), semelhantes aos bens dos particulares, mas que não estão afetados a uma
finalidade pública específica, servindo apenas de reserva patrimonial ou fonte de renda, ou
seja, não tem uma destinação especial (ex.: terras devolutas, terrenos baldios, viaturas
sucateadas...).
2 – Quanto à titularidade:

Os bens públicos se dividem em


a) Federais (CF, art. 20),
b) Estaduais (CF, art. 26),
c) Distritais,
d) Territoriais,
e) Municipais,
Conforme o nível federativo da pessoa jurídica a quem pertença.

Res nullius – são coisas que “não pertencem a ninguém” (não são públicos nem
particulares), como animais selvagens, conchas da praia, pérolas das ostras do fundo do
mar...
3 – Quanto à disponibilidade:

a) bens indisponíveis por natureza – são aqueles que, devido à sua condição não-
patrimonial, não podem ser alienados ou onerados; são bens de uso comum do povo
destinados à utilização universal e difusa (ex.: ar, meio ambiente, mares...);
b) bens patrimoniais indisponíveis – são os que tem condição patrimonial, mas que por
pertencerem à categoria dos bens de uso comum do povo ou de uso especial, a lei lhes
confere o caráter de inalienabilidade enquanto mantiverem tal condição, ou seja,
naturalmente poderiam ser alienados, mas legalmente, não (ex.: ruas, praças, imóvel onde
está instalada a prefeitura...);
c) bens patrimoniais disponíveis – são os legalmente possíveis de alienação, por não
estarem afetados a certa finalidade pública, como é o caso dos bens dominicais (ex.: terras
devolutas).
Atributos/Características
➢a) Inalienabilidade (relativa)
Código Civil - Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Código Civil - Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as
exigências da lei.
Em regra, os bens públicos não podem ser alienados (nem usucapidos, nem
desapropriados...). Em relação aos bens afetados (de uso comum do povo e de uso especial)
não há possibilidade de alienação enquanto mantiverem essa condição. Em relação aos bens
desafetados (dominicais), até podem ser alienados, porém há exigências legais a serem
cumpridas (chamada alienabilidade condicionada), trazidas pela Lei 8.666/93, art. 17 e 19
(demonstração de interesse público; prévia avaliação; e quanto imóveis, autorização legislativa
e licitação na modalidade concorrência).
➢b) Impenhorabilidade

• Os bens públicos não podem ser objeto de constrição judicial.

• Portanto, a lei estabelece uma forma especial de execução contra a Fazenda Pública, bem
como as ordens de precatórios previstas no art. 100 da CF.
➢c) Imprescritibilidade
CC, Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. (vide art. 183, § 3º e art. 191, CF)
Os bens públicos não se sujeitam à chamada prescrição aquisitiva, ou seja, não podem ser
usucapidos.

➢ d) Não onerabilidade
Significa que nenhum ônus real (ex.: hipoteca, penhora, usufruto...) pode recair sobre os bens
públicos. Bens públicos não podem ser dados como garantia em favor de terceiros (penhor,
anticrese ou hipoteca).
BENS PÚBLICOS
✓ Ocupação e Utilização de bens públicos

Súmula 477, STF: As concessões de terras devolutas situadas na faixa de fronteira, feitas pelos Estados,
autorizam, apenas, o uso, permanecendo o domínio com a União, ainda que se mantenha inerte ou tolerante,
em relação aos possuidores.

Súmula 480, STF: Pertencem ao domínio e administração da União, nos termos dos artigos 4º, IV, e 186, da
CF/67, as terras ocupadas por silvícolas.

Súmula 650, STF: Os incisos I e XI do art. 20 da CF/88 não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que
ocupadas por indígenas em passado remoto.
BENS PÚBLICOS
✓ Ocupação e Utilização de bens públicos

Súmula 103, STJ: Incluem-se entre os imóveis funcionais que podem ser vendidos os administrados pelas
forças armadas e ocupados pelos servidores civis.

Súmula 496, STJ: Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de marinha não são
oponíveis à União.

Súmula 619, STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária,
insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
(EXAME XXV) Luiz encontrou um ônibus pertencente a uma autarquia federal abandonado em
um terreno baldio e passou a utilizá-lo para promover festas itinerantes patrocinadas por sua
empresa. O uso e a posse desse ônibus, com animus domini, vêm perdurando por longo
período, de modo que já estariam presentes os requisitos para a usucapião do mencionado
bem móvel.

Em razão disso, Luiz procura você para, na qualidade de advogado(a), orientá-lo na


regularização e integração do ônibus ao patrimônio da empresa promotora de festas,
formulando as indagações a seguir.

A) O ônibus em questão é um bem público? (Valor: 0,65)

B) É possível a usucapião de tal ônibus? (Valor: 0,60)


A. Sim. O ônibus em questão pertence a uma pessoa jurídica de direito público, de modo que
é um bem público (0,55), nos termos do Art. 98 do CC (0,10).

B. Não. Os bens públicos são imprescritíveis, ou seja, não poderão ser usucapidos (0,50),
segundo o disposto no Art. 102 do CC (0,10).
(EXAME XV) Todas as Secretarias do Município XYZ têm sede no prédio do Centro de
Administração Pública Municipal, na zona norte da cidade. Entretanto, tal edifício, além de
muito antigo e em precário estado de conservação, já não comporta toda a estrutura da
Administração Direta do Município. Por essa razão, diversas Secretarias já alocaram parte
operacional de suas estruturas em outros endereços.
Com base no exposto, responda, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a
fundamentação legal pertinente, aos itens a seguir.

A) Pode o Prefeito do Município XYZ, após licitação e sem nenhuma outra providência, alienar
o prédio do Centro de Administração Pública Municipal? (Valor: 0,65)

B) Supondo que o prédio do Centro de Administração Pública Municipal seja guarnecido com
obras de arte não relacionadas à atividade administrativa, podem esses bens públicos ser
objeto de penhora? (Valor: 0,60)
A. Não. O prédio do Centro de Administração Pública é um bem público de uso especial, e tais
bens, no direito brasileiro, caracterizam-se pela inalienabilidade. Os bens públicos de uso
especial podem ser desafetados, caracterizando-se, então, como bens dominicais, e, nesse
caso, podem ser alienados (0,55), conforme arts. 100, 101 do Código Civil OU art. 17, I da
Lei 8.666/93. (0,10) 0,0 – 0,55 –0,65

B. Não. Os bens titularizados pelo Município são classificados como bens públicos,
independentemente de sua utilização. Os bens públicos (de uso comum, de uso especial ou
dominicais) são impenhoráveis, mesmo que não afetados a uma utilidade de interesse
público. (0,50), conforme art. 100 da CRFB OU art. 100 do Código Civil (0,10)

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