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A defesa de Palamedes

11 a. (1) A acusnçâo e a defesa nâo [se tornarn] urn juizo sobre


a morte. A natureza decretou a morte corn um vota manifesta a
todos os mortais, no dia em que surgiu. 0 perigo existe em.relaçâo
à, desonra e à honra, se necessârio que eu marra segundo a justiça
é

ou que eu morra violentamente, com os maiores ultrajes e sob a


mais vergonhosa acusaçâo 109.

ou de urn erro da mente, 0 que ressalta é a impossibilidade de eseapar aos


seus efeltos, Se Helena agiu sob coacçâo do am or e nâo de sua livre vontade,
nâo pode ser eonsiderada eulpada, mas vitima da ma sorte e da necessidade.
107 De aeordo corn 0 prop6sito antes enunciado, de dizer correetamente
o. que deve ser dito, G6rgias levou a cabo a elogio de Helena, que redunda
na apologla da sua inocência. Corn efeito, 0 autor considera provâveis todas
as causas da ida para Trôia e, rias qua tro eventualidades adrnitidas coma verosï-
meis, mostra a inoperância das mes mas no sentido de responsabilizar Helena.
Cf. notas 91 e 94.
103 Ao dizer que a discurso era uma diversâo (rra(yVlov, paigtliol1) para
o seu autor, G6rgias deu azo a muitas interpretaçôes dïspares, havendo no-
meadamente quem considere este discursci como uma espécie de passa tempo
Ott mero jogo formaI. Esta leitura pareœ-nos inadequada, tendo em Iinha de
conta, além do interesse 16gieo e ret6rico do referido rexto, a importância
dos conteüdos abordados e a sua concordância corn as opiniôes defendidas
nas restantes obras. .
109 Ulisses aeusou Palamedes de ter traîdo os Gregos, 0 que estâ na origem
do processo a que se reporta a D~res(/de Palamcdes. Os pormenores da acusaçâo
nâo san objecto de exposiçâo, conslderando-se conhecidos por lodos: baseava-
-se nu ma car ta que Palarnedes teria dirigido a Prîamo e na descoberta de
uma avultada soma de dinheiro, escondida .nas suas lnstalaçôes (cf. Apolo-
dora, Epitome, 3, 8, 10). No começo do exôrdio (§§ Vi), a acusado contrap6e
a morte il que, por narureza, estâo votados todos os sereshumanos e aquela

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(2) Existindo estas duas possibilidades, uma tende-Tavés em vosso (5) De facto, sei corn clareza que 0 acusador me acusou sem
poder, a outra, tenho-a eu: do meu lado, esta a justiça; do vosso, a [conhecer] a assunto corn clareza; sei, corn clareza paré3.rnim mes-
força 110. Se quiserdes,podereis faciln:ientematar-me, pois tendes poder ma, que nâo fiz tal coisa. Nem sei corna alguém poderia saber 0
sobre estas quest6es,em relaçâo às quais.me encontro sem poder algum' que nâo aconteceu 1l3. Mas, se fez a acusaçâo presumindo que as
(3) Se 0 acusador Ulisses tivesse feito a acusaçâo por amor à, coisas eram assim, demonstrar-vos-ei de duas maneiras que nâo
Grécia ou par saber claramente que eu tinha traido a Grécia junto diz a verdade, pois eu nem, mesmo que quisesse, teria podido
dos bârbaros ou por calcular de algum modo que as coisas ,se pas- nem, mesmo que pudesse, teria querido empreender tais acçôes.
savam assim, ele seria 0 melhor dos homens: e coma nâo, se' ele (6) Abordarei, em primeiro lugar, este argumenta de que me
salva a pâtria, os pais e ta da a Grécia e, além disso, castiga 0 é impossivel fazer isso 114. Corn efeito, era precise que surgisse
culpado? ln Mas, se foi par inveia ou par fraude ou por perfidia algum principio de traiçâo, e 0 principio poderia ser uma conversa,
que inventou esta acusaçâo, do mesme modo que, por causa pois" antes de haver acçâo, é necessârio que primeiro haja con-
daqueles motivos, seria 0 melhor dos homens, assim também por versaç6es. Ecorna poderia ter havido conversaçôes sem um encon-
causa destes sera 0 pior. tro? Ecorna poderia ter havido um encontre. sem que aquele
(4) Ao falar sobre estas coisas, par onde começarei? a que dizer
em primeiro Iugar? Para onde hei-de dirigir a defesa? A acusaçâo
nâo demonstrada produzo aturdirnento evidente e, por causa do 113 Depois de sublinhar, retoricamente, as dificuldades da defesa, 0 acusa-
aturdimento, éforçoso que me.sinta ernbaraçado no meu discursoy, do enuncia aslinhas mestras da estratégia argumentativa que vai ser realizada. "
a nâo ser que depreenda alguma coisa a partir da pr6pria verdade A acusaçâo foi pronunciada corn base no conhecimento (Émcr'tTtJ.lll, epistemeï
e da necessidade presente, tenda-me encontrado corn mestres mais ou corn base na opiniâo (ooça, daxa). De facto, Palamedes sabe que 0 acusador
perigosos do que providos de recursos 112. nâo conhece aquilo de que 0 acusa, pois ele pr6prio tem consciência de que
nâo cometeu 0 crime que lhe atribuîdo, 0 argumento tira parti do da força
é

lôgica ine;rente ao conhecimento e da impossibilidade de alguém conhecer


algo nâo existente. A nâo ocorrência do facto de que é acusado justifica a
que pode atingir um inocente corn uma de;sonra ~er~cida. r:erar:te .aInevita- consciência clara que Palamedes tem da sua inocência e, simultaneamente,
bilidade da morte, a alternativa poe-se entre ouccumç à1toIlave1:v, !1~kmosapoîha- inviabiliza a alegada consciência clara do acusador para estabelecer a culpa.
nein, «morrer seguncio a ordem natural das coisas», ou ~ta{IDÇ wroGcxvEiv, biaios Afastada a hipôtese de a acusaçâo se basear no conhecimento, resta a hip6tese
apothanein, «morrer por violência». Acerca desta obra, veja-se A'. A: Long, de a mesma se' basear numa crença assente em conjecturas, no âmbito da
«Methods of argument in Gorgias's Palamedes», in AA.VV., Till! Soplustic Move- opiniâo. Assim; 0 acusado argumenta seguindo uma dupla estratégia: no pla-
ment, Athens, 1984, pp. 233-241; e, também, Alonso Tordesillas, «Palamède no das acçôes, nâo podiater praticado 0 acto em questâo, mesmo que tivesse
contre toutes raisons«, in Jean-François Mattéi, ed., La naissance de la raison querido fazê-lo (§§ 6-12); no plano dos motivos, nâo teria razôes para 'cometer
e7! Grèce, Paris, pp. 241-255.
tal crime, mesmo que tivesse podido fazê-lo (§§ 13-21). Palamedes ira mostrar
110 Ressalta a antîtese entre a justiça (IHlCT\, dike) e a força (J:Ha, "bia) E! a a falsidade da crença referida na acusaçâo, acumulando as impossibilidades
desigualdade da situaçâo em que se encontram 0 acusado, que apenas tem decorrentes do pIano dos factos e do plano dos motives.
a seu favor a primeira, e 05 juîzes, que têm 0 poder de decidir. 1l~ Na prlmeira parte da argumentaçâo (§§ 6-12), ao estabelecer a im-
III Se Ulisses tivesse acusado Palamedes de boa-fé e corn motivos patriô- possibilidade de, no pIano dos factos, Palamedes ter alguma ocasiâo de trair
ticos, baseado no conhecimento claro (cratpWç È1ncrGciflEvoç, sapho: episthamenos) , os Gregos, é desenvolvido um esquema que, na sua forma sistemâlica, poderâ
ou na mera presunçâo (ôoÇcl!J.evoç, doxanll!/los), seria merecedor de elogio. Mas, ser uma invençâo gorgiana. 0 autor parte do hipotético acto de traiçâo, divide-
se inventou a acusaçâo por motivos indignes, deve ser justamente censurado. -0 numa sequência de estâdios necessârios e prova que cada um des tes, a

nz A perturbaçâo provocada pela falsa acusaçâo deixa Palamedes sem começar pelo primeiro, nâo tinha possibilidade de se verificar. Dada a sequên-
palavras, num duplo embaraço: 0 que dizer e como dizer 0 que tem a diz.er da existente entre os diversos casos e a dependência dos factos subsequentes
e aponta como ünicos guias, possiveis para si, a verdade (ètlfjBEUX, aletTU!la) em relaçâo aos antecedentes, a impossibilidade destes trazia como consequên-
e a necessidade presente ('tZç xCXjJOUü1jç à.vâ:yr.:nç, tes parouses anankes), que da a impossibilidade daqueles; mas, ao mesmo tempo. era mostrada a impos-
esta pr6xima do momento oportuno ou ocasiâo, corn todos 05 factores sibilidade de cada um dos cases, por si, mesmo que os demais fossem suscep-
variâveis, associados ao concreto e ao contingente. Por isse, Palamedes acentua tîveis de ter ocorrido, 0 que redundava numa acumulaçâo de impossibilidades.
que tais «mestres» envolvem «perigos», nâo facultartdo, desde logo, todos Logicamente, recorria-se a alternativas mutuamente exclusives entre si e à
os recursos precisos para uma defesa eficaz. aplicaçâo do principio do meio excluîdo,

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tivesse enviado alguém até mim ou que da minha parte alguém os que se encontram comigo. HomensIivres ou escravos? V6s,
tivesse ido ao seu encontro? Uma mensagem escrita nâo chegaria entre os quais me encontre, sois homens livres. Quem que, de é

sem um portador. entre v6s, sabe algurna coisa? Que fale. Quanto aos escravos, como
(7) Mas isto po de suceder pela conversa. E, nesse caso, ele ter- seria verosimil que eu recorresse a eles? Estes acusam deliberada-
-se-Ia encontrado comigo e eu corn ele. De que modo sucedeu? mente corn vista à liberdade ou por necessidade, quando pressionados.
Quem foi ter cam quem? Um grego encontra-se com um bârbaro .. (12) E quanto à acçâo, camo teria ocorrido? Era preciso ter
Como nos entendemos e como falàmos? Sozinhos? Mas riâo corn- introduzido forças inimigas evidentemente mais fortes do que v6s,
preenderiamos as palavras um do outra. Com um intérprete? Entâo . 0 que era impossivel. Como é que eu as introduziria? Através das
uma terceira pessoa tornar-se-ia testemunha de coisas que tinham portas? Mas nâo me cabia a mim nem fechâ-Ias nem abri-las, mas
de ser secretas. cabia aos guardas que têm essa incumbência. Porventura por cima
(8) Mas, admitamos também que isso aconteceu, embora nâo dessas muralhas, par meio de uma escada? Nâo [teria eu sido
tenha acontecido, Era precise, depois dis ta, dar e receber mütuas vista]? Na verdade, esta tudo cheio de guardas. Através de uma
garantias. Qual seria a garantia? Um juramento? Quem estaria dis- brecha na muralha? Ter-se-la tornado evidente para todos. Corn
posto a confiar em mim, um traidor? Mas se fossem reféns? Quais? efeito, a vida militar é ao ar livre; sac acampamentos, em que
Por exemple, eu poderia ter dado 0 meu irmâo (nâo tenho, na [todos] vêem tudo e todos sâovistos por todos. Era-me totaImente
verdade, outra) e 0 bârbaro poderia ter dado um dos seus filhos. impossfvel, sob todos os pontos de vista, fazer tudo isso.
A garantia .seria assim muito segura, tanto da parte dele em relaçâo . (13) Examinai em conjunto também isto: por que motiva me
...,a mim, como da.minha parte em relaçâo a ele. Mas isto, se tivesse convtriaquerér fazer .estas coisas, mesmo que, em absoluto, as
sucedido, ter-se-la tornado evidente para todos v6s . pudesse fazer? 115 Ninguém .quer corn certeza correr os rnaiores
.: (9) Alguém dira que concluîmos 0 pacto mediante pagamento perigos gratuitamente nem ser 0 mais pérfido em quest6es da
ern ·dinheiro, .aquele dando-o e eu recebendo-o, ..Porventura por maior perfidia. Entâo por que razâo? Volto de nova a esta questâo.
pouco dinheiro? Mas nâo é verosimil receber pouco dinheiro por Talvez para exercer um poder absoluto? Sobre vos ou sobre os
importantes serviços prestados. Ou por muito dinheiro? Mas qual bârbaros? Mas sobre v6s seria impossïvel, pois v6s sois tantos e
foi 0 transporte? Como poderia um s6 transportâ-lo? E muitos? de tal indole que os maiores dons sâo vosso apanâgio: as virtudes
Se tivessem sido muitos, muitas seriam as testemunhas da traiçâo, dos antepassados, a copiosidade de riquezas, os altos feitos, a força
mas se foi um 56, nâo seria muito 0 dinheiro transportado. de alma, a governo de cidades.
(10) Transportaram-no de dia ou de noite? Mas os guardas sâo (14) Sobre os [barbares] entâo? Mas quem haveria de 0 permi-
muitos e densamente colocados e nâo seria possfvel passar desper- tir? Corn que poder, eu, um grego, me apoderarei de bârbaros,
cebido por eles. Entâo de dia? A luz certamente é inimiga de tais sendo eu um s6 e eles muitos? Persuadindo ou usando a força?
. empreendimentos. Seja. Fui eu que sai e recebi 0 dinheiro ou aquele Corn efeito, nem eles queteriam -ser persuadidos nem eu os poderia
que chegou que 0 transportava? Efectivamente, em ambos os casos forçar, Talvez estivessem dispostos a entregar-se a quem esta dis-
existem dificuldades. Se eu 0 tivesse recebido, como 0 poderia ter posto a aceitâ-los, dando-me isso como recompensa pela minha
escondido dos de dentro e dos de fora? Onde 0 teria posto? Corno traiçâo? Mas tanto acreditar camo aceitar isto seria uma grande
o teria guardado? Ao servir-me dele, ter-se-ia tornado evidente,
se nâo me servisse, que proveito tiraria desse dinheiro? .
(11) Pois bem, admitamos que aconteceu 0 que nâo aconteceu. 115 Na segunda parte da argumentaçâo (§§ 13-21), elenca-se uma série
Encontrâmo-nos, falâmos, entendemo-nos, recebi clinheiro da parte de motivos susceptïveis de justificar a acçâo de que Palamedes é acusado e
deles, passei despercebido corn ele, escondi-o, Era precise, sem refuta-se cada um desses motives, independentementè dos demais. Partindo
do principio de que tais motivos esgotam a totalidade dos motivos possîveis,
düvida, fazer aquelas coisas por causa das quais isso aconteceu.
dernonstra-se que, mesme que Palamedes tivesse podido trair os Gregos, nâo
Isso é ainda mais impraticâvel do que as coisas referidas. Ao fazê- teria quaisquer razôes para 0 fazer, É de realçar 0 repositôrio de finas anâlises
-10, actuei sozinho ou corn outros. Mas a acçâo nâo foi obra de psicolôgicas utilizado na argumentaçâo, assim coma 0 conjunto de reflex5es
um s6. Foi todavia com outras? Corn quais? É evidente que corn morais particulannente significativas das formas de pensar e de sentir correntes.

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loucura. Quem, de facto, escolheria a escravidâo em vez da realeza, Talvez para a Hélade? Para ser castigado por aqueles que foram
o pior em vez do melhor? injustiçadcis por mim? E quem, dos que tinham suportado injus-
(15) Alguém poderé dizer que, desejando dinheiro e riquezas, tiças, me pouparia? Mas, e se permanecesse entre os bârbaros, des-
eu empreendera tais actos. Acontece que possuo uma fortuna satis- curando tudo quanto ha" de mais importante, priva do da mais bela
fat6ria e nâo precisa de mais. Os que precisam de muitas riquezas honra, constrangido a viver na mais ignominiosa infâmia, abando-
sac os que gastam muito, sâo nâo aqueles que dominam os praze- nando os esforços feitos na minha vida passada pela virtude? E isto,
res da natureza, mas os que sac escravos dos prazeres e procuram por minha prépria culpa, a quéé precisamente 0 mais ignominioso
adquirir honras a partir da riqueza e da magnificência. Mas nada para um homeni: ser mfeliz par sua prôpria culpa.
disto se aplica a mim. Apresentarei a minha vida: passada como (21) Mas nâo teria podido viver de modo tranquilo entre os
testemunho fidedigno de que falo verdade; vos sois testemunhas bârbaros, pois eles sabiam que eu tinha cometido a maior desleal-
deste meu testemunho. De facto, convivestes comigo e por isso dade ao entregar os amigos aos iriimigos. E, privada de lealdade,
sabeis estas coisas. a vida nâo é suportâvel. Quem tenha perdido as riquezas ou tenha
(16) E um homemmedianamente prudente nâo empreenderia
sido derrubado do poder ou tenha fugido da pâtria poderia re-
tais actos por causa das honras. As honras provêm da virtude e
cuperar tudo isto; mas quem perca 0 sentirnento de lealdade nâo
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ma da perffdia. E que honra poderia existir para a homem que poderâ jamais readquiri-lo. A partir do que foi dito, fica demons-
1 '," traîsse aCrécia? Além disso, acontece que a mim nâo me faltam
!" tradoque, jmesmo podendo], nâo quereria, [e que, mesmo queren-
"," .honras, poiseu erà honradopor causa dos méritos mais honrosos
dornâo poderia]trair a Crécia, " ""• "
pelos homens mais honrados e honrado por vos por causada mi-
(22) Quero, depois disto, dirigir-me ao acusador 116. Em quem
nha sabedoria.
(17) Por segurança também ninguém cometeria tais actes; 0 trai- é que confiaste, sendo tu quem és, ao acusares-me a mim, sendo
dor é inimigo de tudo, da lei, da justiça, dos deus es, doconjunto eu "quem sou? Vale a pena examinar corn cuidado que tipo de
dos homens; de facto, transgride a lei, subverte a justiça, corrompe hornem' ës e que coisas tu dizes, como uma pessoa indigna contra
as massas, ultraja 0 sagrado e nâo goza de segurança aquele cuja alguém que nâo digne de ser acusado. Porveritura me acusas
é

vida decorre entre os maiores perigos. corn um conhecitnento preciso ou baseado em conjecturas? Se é
(18) Seria, entâo, por querer auxiliar os amigos ou prejudicar corn um conhecirnento preciso, sabes, por teres visto ou por teres
, partici.pado ou por te teres inforrnado junte de alguém que partici-
os inimigos? Par essas razôes uma pessoa poderia cometer uma
·i pou? Se foi por teres visto, diz a estes juizes [a maneira], olugar,
injustiça. Mas a mirn tudo sucedeu ao contrario: fiz mal aos amigos,
auxiliei os lnimigos. Por conseguinte, a acçâo nâo envolvia qual- "1 1 a altura, quando e onde e coma vis te; se foi par teres participado,
quer aquisiçâo de bens, nem existe ninguém que trame algum male- estas sujeito às mesmas acusaç5es; se foi por teres ouvido de quem
ficio pelo desejo de sofrer prejuizos. participou, que essa pes~iOaavance, se mostre, testemunhe, seja
(19) Resta saber se eu actuei para fugir a'um temor ouaùm tra- "'"""j Ela'quem for, pois a acusaçâo baseada num testernunho é, assirn,
balho penoso ou a um perigo. Ninguém poderia dizer ern que é que mais digna de crédito; mas, até agora, nenhum de n6s esta a apre-
isto me diz respeito. Sâo, pois, duas as razôes pelas quais todos fazern sentar testemunhos.
tudo 0 que fazem: para conseguir um lucro ou para evitar uma perda;
e tudo 0 que se maquina de mau, para la destas razôes [costuma"
envolver 0 que actua em grandes males. Que eu] terei feito mal a
116 Segue-se uma interpelaçâo clirectado adversârio (§§ 22-26). Contesta-se
mim mesmo, actuando assim, esta fora de dûvida. Corn efeito, ao a idoneidade do acusador, para pôr em causa a reputaçâo do acusado, hem
trair a Grécia, traia-me a miro mesmo, traia os pais, os amigos, a como 0 valor da acusaçâo a partir da discussâo das hipotéticas bases de apoio
honra dos antepassados, os temples. ancestrais, as sepulturas, a pâ- da mesma, De facto, se 0 acusador tivesse sido testemunha presencial do
tria, a maior da Grécia E teria entregue nas mâos dos que me tinham ocorrido, deveria indicar todos os po=enores relativos ao tempo, ao Iugar
e às divers as circunstâncias do acto praticado e essa prova teria um peso
prejudicado aquilo que para todos esta acima de tudo.
decisive no processo. Desta forma, a ausência de testemunhas remete as
(20) Examinai também isto. Nâo se tornaria Insuportàvel a mi- intervençôes das partes para 0 plana dos discursos proferidos e em face
é

nha vida, se tivesse feito tais acç6es? Para onde me havia de dirigir? des tes que a tribunal deve deliberar.

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(23) Diras talvez que 0 nâo apresentares tu testemunhos de sua pr6pria vida censurâvel e perigosa. E, na verdade, como se
coisas que, em tua opiniâo, acontecerarn equivale ao facto de nâo deverâ confiar num homern que, no mesmo discurso, ao falar aos
os apresentar eu, relativamente a coisas que nâo aconteceram 117. mesmes ho mens sobre as mes mas coisas, diz coisas totalmente
Mas nâo é a mesmo.É, de certo modo, irnpossivel testemunhar contrarias?
acerca do que nâo aconteceu; mas, sobre 0 que aconteceu, nâo s6 (26) Gostaria que me informasses se consideras 05 hornens sé-
é possïvel, coma é fâcil, e riâo s6 é fâcil, [mas também indispen- bios insensatos ou dotados de senso. Se os consideras insensatos,
savel]. [Mas] tu nâo conseguiste encontrar um iinico testemunho, o discurso é novo, mas nâo verdadeiro: se os consideras dotados
é

nem sequer falsos testemunhos: quanto a mim, nâo me é possïvel de sense, riâo pr6prio de pessoas sensatas cometer os maiores
é

encontrar qualquer um, nem de uns nem de outras. erros e preferir 0 mal aos bens presentes. Se, portante, sou sâbio,
(24) É claro que tu nâo conheces corn precisâo aquilo de que nâo errei; se errei, nâo sou sâbio. (E, assim], em ambos os cases,
me acusas; resta, portanto, que tu, sem saber nada ao certo, te tu seras mentiroso 120.
baseias em conjecturas. Tu, 0 mais audacioso de todos os homens, (27) Ora, embora te possa acusar de teres sido antes tu a prati-
confiando numa opiniâo (a coisa menes fiâvel), ousas acusar um car muitas e graves acçôes, antigas e recentes, riâo quero fazê-lo,
homem de um delito susceptïvel de pena de morte. Que delito pois [quero] ser absolvido desta acusaçâo nâo graças à tua ma con-
desse género te consta que ele tenha coinetido? De facto, fazer duta, mas graças à minha boa conduta. Para ti, era isto 121.
suposiç5es é comum a todos, sobre todas as matérias, e nisto tu (28) A v6s, senhores juizes, quero falar-vos de mim, dizer-vos
nâo és, em-nada, mais sabio do que os outros. Mas nâo se deve algo detestâvel, ~~, \,:e:r:d_ad~~o!:nao apropriado a quem riâo foi
confiar nos -que sefundamentam -em suposiç5es, mas' nos que acusado, mas cOJi.YE:DieI1.t.~_a_qYE!Ip,}oiacusado. Vou agoradar-
.sabem: nem se deve considerar a opiniâo mais digna de crédito -vcs conta da minha vida passada e da sua razâo de ser. Peço-vos,
40 que a verdade: pela contrario, ha que considerar a verdade portanto, se eu vos rccordar aigumas boas acçôes realizadas por
muito mais digna de crédito do que a opiniâo 118. mim, que ninguém leve a mal as minhas palavras, mas que consi-
(25)Acusaste-me, nas palavras que proferiste, de duas caracte- dereis necessério que quem foi acusado de modo terrivel e falsa-
rîsticas opostas, sabedoria e loucura, que 0 mesme homem nâo mente diga tambérn coisas verdadeiras e boas, diante de.v6s que
consegue ter 119. Assim, quando dizes que sou engenhoso, hâbil as conheceis. E isto é 0 mais agradâvel para mim.
e rico em recursos, acusas-me de sabedoria; quando dizes que eu (29) A primeira coisa e a segunda e a mais importante é que,
traî a Grécia, acusas-me de loucura. Loucura é tentar ernpreender absolutamente, a minha vida passada, desde 0 prindpio ao fim,
acç5es impossiveis, irrïiteis e desonrosas, a partir das quais uma é irrepreensîvel, isenta de toda a culpa. Ninguém poderia, diante
pessoa prejudlcarâ os amigos, sera ùtil aos inimigos e tornarâ a de vôs, proferir a meu respeito uma acusaçâo verdadeira de per.,
ffdia. Nem 0 pr6prio acusador forneceu qualquer prova do que
disse. Assim, a seu discurso tem 0 impacto de uma difamaçâo sem
prava.
. 117A incapacidade, por parle da acusaçâo, de apresentar quaisquer tes- (30) E poderia também afirrnar e, tendo-o afirmado, nâo menti-
temunhas nâo pode ser equiparada à da defesa, pois, no caso des ta, tal im- ria nem seria contestado que sou nâo s6 irreprensfvel coma tarn-
possibilidade radica na prôpria inexistência do acto em litigio.
118Salienta-se, mais uma vez, a antitese entre «a verdade», baseada no
bém um grande benfeitor vosso, dos Gregos e de todos os homens,
conhecimento precise, e «a opiniâo», assente em suposiçôes, censurando-se
a temeridade de um homem corn fama de sable de fundamentar uma acusaçâo
tao grave corn conjecturas tao falïveis.
119A acusaçâo, além de Ialsa. incorre formalmente em contradiçâo, pois, 120 Ulisses, ao afirmar que Palamedes é«sâbio» (croeôc, 50pl105), admite
no mesmo discurso, ao mesmo tempo, dirigindo-se aos mesmos homens, sobre as premissas de um dilema que, seja quaI for a opçâo do acusador, conduz
as mesmas coisas, imputa ao réu atributos Hia contrârios coma «sabedoria» à conclusâo negativa de este Ultimo ser um «mentiroso» C'JIëUÙi]ç, pscuâesi.
(coetœ, sophia) e «loucura» (uovtœ, manÏa). De facto, a referida traiçâo de que . 1210 acusado renuncia a mover uma contra-acusaçâo, na sequência da
Palamedes é acusado constitui um acto de loucura, ja que vai contra tudo intençâoexpressa de conseguir a absolviçâo corn base na sua boa conduta,
o que é tido par sensato, segundo 0 ponto de vista do homern comum. e passa a eÀ1'0r aos juizes a que considera abonatôrio a seu favor (§§ 28-32).

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dos contemporâneos e dos vindouros. De facto, quem teria tornado de entre os Gregos, nâcé preciso que vos persuada, nem cam
a vida humana bem provida de recursos, em vez de desprovida, pedidos de ajuda aos amigos nem cam sïiplicas nem cam palavras
e ordenada, em vez de desordenada, inventando tâcticas de guerra, que movem à piedade; mas precise de me libertar desta acusaçâo
aspecto muito importante para a superioridade militar, e leis escri- pela maxima evidência do justo, mformando-vos da verdade e riâo
tas, guardiâs da justiça, caracteres escritos, instrumenta da memô- vos enganando.
ria, medidas e pesos, meios eficazes de trocas comerciais, 0 nûmero, (34) É precise que nâo presteis mais atençâo às palavras do
guardiâo dos bens, os sinais luminosos, mensageiros muito podero- que aos factos, nem prefirirais as acusaçôes às contestaçôes nem
: 1
sos e muito râpidos, eo jogo dos dadas, inofensivo passatempo considereis que a tempo brève um juiz mais sâbio do que 0
é

dos tempos livres? Por que razâo vos recordei tudo isto? ":/'
"
tempo Iongo nem julgueis mais fiâvel a calûnia do que a experiên-
(31)Para vos fazer ver, [par um lado] que dedico aminha aten- , 1 da. Em todos os assuntos, os homens bons têm a grande preo-
çâo a este tipo de coisas; para fomecer uma prova, por outro lado, 1 cupaçâo de nâo errar, mais ainda rias coisas irreparâveis do que
de que me mantenho afastado de acç6es vergonhosas e perversas. .' 1
nas reparâveis: estas padern evitar-se com a previsâo, mas sâo
É impossivel que quem entretérn 0 espirito corn isto se dedique irrernediâveis com 0 arrependîmento. Verifica-se uma questâo deste
a esse .tipo de ados. E julgo que é justo que eu nâo seja prejudicado génera, sempre que se julga um homem por .um delito capital,
por vos, ja que eu nâo vos prejudico 122. como é 0 caso agora diante de vos .
. (32) Nem mesmo.rnereço umrnautratamento por. causa. de (35) Se, por rneio daspalavras.jfçsse possfvelaverdade dos
outros actos,nem por parte dos-maisnovos nem pcr.parte dos. factos tornar-se pura e manifesta aos ouvintes, seriafâcil asentença
mais velhos. Nâo sou motivo de desgosto para os mais' velho s, a partir do que jâ foi dito 125. Mas, coma nâo é esse a casa, protegei
nâo sou iruitil aos mais novos, nâo invejo os afortunados, compa- a minha pessoa, aguardai mais tempo; decretai, no entanto, a sen-
deço-me dos infelizes. Nâo desprezo a pobreza, nem prefiro a tença segundo a verdade. Ao mostrar-vos injustos, correis um gran-
riqueza à virtude, mas a virtude à riqueza. Nâo sou sem préstimo de risco' de destruir uma reputaçâo e adquirir outra. Para os ho-
nas assembleias, nem inactiva nos combates, faço 0 que me esta mens bons, a morte é preferivel a uma reputaçâo desonrosa: aquela
destinado e obedeço aos chefes. Nâo me cabe a miro Iouvar-me: é 0 fim natural da vida, esta é a doença em vida.
no entanto, a presente: ocasiâo constrange-me a defender-me com (36) Se me. condenardes à morte injustamente, isso tornar-se-
todos os melos, acusado coino .sou de tais cu1pas 123. -a evidente para muitos, pois eu nâo sou um desconhecido e a
(33) Resta-me dirigir-vos uma palavra a vosso respeito U4; dîta vossa perversidade tornar-se-â conhecida e manifesta para todos
esta, parei termoà defesa. A compaixâo, as süplicas, os pedidos os Gregos. Sereis v6s eriâo 0 acusador que recebereis a responsa-
dos amigos SaD imprescindiveis, quando a juizo depende da bilidade da injustiça, manifesta a todos, pois que em vos esta a
multidâo. Perante vos, que sois e tendes a fama de ser os primeiros decisâo final do julgamento. Maior erra do que este nâo poderia
existir. Ao decidirdes injustamente, nâo s6 cometereis um erra em
relaçâo a miro e a meus pais, mas também ficareis vos pr6prios
corn a consciência de ter leva do a cabo um acto terrïvel, impio,
122 Depois de ter invocado uma reputaçâo impoluta, Palamedes enumera
alguns dos beneficios qùe trouxe aas seus concidadâos e aos demais homens
injusto e contrario às leis, por condenardes à morte um homem
em geral, reafirmando a sua inteira inacência em relaçâo a quaisquer actos
condenâveis. Assim.,fundamenta o seu apeJo a que lhe seja feita justiça, de
acordo corn os prindpios da [ustiça.comum, uma vez que esta implica que
quem nâo prejudicou os outros nâo sofra prejuizo por parte destes. 125 Depois de ter insistido, no parâgrafo anterior, na necessidade de os
113 A gravidade das presentes circunstâncias iliba Palamedes da eventual juizes nâo prestarem mais atençâo às palavras do que aos factos, acentua
censura por proceder ao seu proprio elogio. que a situaçâo de1icada dos juizes advém da impossibilidade de apurar a
. U4 Palamedes dirige-se, por fun, aosjuizes, [ustifica nâo recorrer, na situa-
verdade dos factos, a nâo ser por meia de palavras. Dai a dificuldade da
çâo em causa, a urn discurso que visasse exaltar 0 pathos dos ouvintes, dada sentença e os riscos de uma tal decisâo, quando esta em causa um crime
que os seus destînatârios sac reputados de «os primeiros de entre os Cregos», punivel cornpena de morte. Cf., acerca das limitaçôes dos discursos na trans-
pelo que lhes dira a verdade, sem usar quaisquer expedientes retéricos. missâo dos conhecimentos, a tratado gorgiano, Tratado do Niio E1Ite, ID parte.

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que é vosso companheiro de Iuta, ûtil a vés, benfeitor da Grécia 14. Arist6teles, Rejuiaçôes Sofisticas, 33, 183 b 36. 0 ensino dos
y
(Cregos contra um grego), sem terdes provado contra ele uma in- "0.1 que se faziam pagar pelos diSCUISOS eristicos era semelhante à ma-
justiça manifesta ou culpa credivel126• neira de proceder de G6rgias. Cam efeito, uns davam a decorar
(37)Estâo diras as ideias. Pela minha parte, termine. Recapitular discursos retéricos, outras questionârios com perguntas e respostas,
brevemente a que longamente se expôs sô se justifica diante de pensando, cada uma das partes, que era sobre estes que a maior
juizes mediocres 127. Mas nâo é justo pensar que os Gregos, que • 1 parte dos discursos incidiria. E, por isso, 0 ensino dos que apren-
sac os primeiros de entre os primeiros, nâo pre stem atençâo, nem diam corn eles era râpido, mas nâo cienlifico. Pensavam que ensina-
recordem a que foi dito. vam dan do nâo ci.arte, mas os resultados da arte, tal coma se al-
guém declarasse ensinar a ciência de nâo sofrer dos pés e nâo
Arte ensinasse a arte de fazer sapatos, nem como conseguir tais coisas,
mas oferecesse muitas espécies de sapatos de todo 0 género 130.
Cf. Sâtiro A 3 [s. II 272, 37]; Diodoro A 4, 2 [s. II 273, 5]; Esc6lio Platâo, FedTO, 261 b. FEDRO: - Mas sobretudo nos processos
é

a Isôcrates, 13, 19; Sôpatro, Comeniârio à Reiôrica de Hermôgenes, judiciais que se fala e se escreve corn arte; 0 mesmo acontece nas
5,6 s... Walz. . assembleias populares: quanto ao resto, nunca ouvi falar. SàCRATES:
- Mas ja ouviste certamente falar das técnicas de discurso que
12. Aristételes, Retôrica, 3, 18, 1419 b 3. G6rgias disse que «se Nestor e Ulisses, nos seus mementos de lazer, compuseram em
tem+de destruirnseriedade dos adversârios corn 0 gracejo e a llion? E das técnicas .de Palamedes nâo te constou nada? - POl'
giâëej6'ccmï'a:!;'ëtiè'aâde» e tinha razâo 128. . Zeus, n~ das d~N~si:o~~u;ifal"a~,'a nâo ser que consideres Gor-
gias esse tal Nestor e Trasfmaco e Teodoro 0 tal Ulisses.
13. Dionisio de Halicarnasso, Da Composiçâo das Palauras, 12,
p. 84. Nenhum retor ou filésofo, até hoje, definiu a arte da oportu-
Esen tos incertos
nidade e nem G6rgias de 'Leontinos, que foi 0 primeiro a tentar
escrever sobre isto, escreveu algo digno de referência 129. 15. Arist6teles, Reiôrica, 3, 1405 b 34. A frieza de estilo encontra-
-se em quatro formas: uma é a uso de palavras compostas. Tarn-
béin Gorgias falava em «aduladores especialistas da pedinchice»,
126 Um veredicto injusto por parte dos juizes tem efeitos terriveis que
«infiéis aos juramentos» e «fiéis aos juramentos» 131.
recaem, ernprimeiro Iugar, sobre eles proprios, enquanto responsâveis pela
decisâo final, e 56 i.ri.directamentee em segundo Iugar, sobre 0 acusador. 16. Aristôteles, Retôrica, 3, 1406 b 4. E ainda a quarta forma
, 127 a acusado prescinde da recapitulaçâo final e nâo usou os procedi-
de frieza do estilo encontra-se no uso da metâfora. Por exemple,
mentes habituais base ados nasûplica e no apeloa factores emocionais, rea-
G6rgias fala em «assuntos pâlidos (trémulos) e exangues». Diz:
firmando a confiança nas qualidades superiores dos membres do tribunal,
o que continuava, no entanto, a ser um expediente bem integrado no perfeito «Semeaste isto vergoilhosamente e colheste-o miseravelmente.»
dominio da 'arte ret6rica. Este estilo é demasiado poético.
128 Cf. Platâo, Gôrgias, 473 e. Por vezes, a refutaçâo pode ser feita pela
ridiculo e nâo pela lôgica do argumento. Sublinha-se a importância do conhe-
,cimento da disposiçâo daquele que escuta, a fim de desarmer, no memento
oportuno, a tensâo pressuposta. Desta maneira, em vez de mobilizar 0 eikos,
«0 que dizer», privilegia-se a kairos, «camo e quando» intervir. 1.30 Na perspectiva de Arist6teles, 0 ensino feito nos referidos moldes era
129 A captaçâo do lCatpéç ikairos, momento oportuno), sendo algo que se râpido, mas nâo era cientŒco;a importante nâo era aprender lugares-comuns
prende corn a compreensâo do sentido de uma situaçâo concreta, num deter- e decorar modeles de discursos, mas dominar a arte ret6rica em si mesrna.
minado memento, eonstituido por uma série de instantes heterogéne6s e inca- Cf. Arist6teles, Retôrica, 1.
mensurâveis entre si, nâo se coaduna corn a estatuto de um saber susceptivel 131 Os compostes ÈmoKi]cro:v'to:ç e eùopxûcœvrœçdiferem entre si pelas
de aprendizagem met6dica. Par conseguinte, nâo pode haver nunca um prefixas èm e 'Éù; a radical da palavra 0 mesme OpKOro, «prestar juramento»
é

tratado de kairologia. ' (OpKOÇ, «[uramentc»). .

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