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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

O movimento de mulheres entre a História e a Filosofia


Bruna Barbosa de Carvalho Dias

Introdução:

A Filosofia, uma ciência que busca o conhecimento, se mostrou um campo vasto em


que o machismo encontrou (e ainda encontra) apoio e argumentos. De Aristóteles a Nietzsche,
passando por Rousseau, filósofos apresentam teses que definem as mulheres como seres
inferiores e imorais, destinando a elas um lugar de submissão e opressão física, psicológica e
social.

Por esse artigo, pretendo demonstrar essa posição filosófica machista, mas – também
como um alívio intelectual (e uma fresta de esperança), apresentarei alguns filósofos que
lutavam por pautas femininas e algumas filósofas feministas – que ajudaram a humanidade a
superar (um pouco) a mácula do machismo impregnada desde seu fatídico passado. Por fim,
apresentarei algumas vertentes do feminismo atual e algumas mulheres importantes que lutaram
e que ainda lutam por espaço.

Um breve passado Filosófico:

As mulheres – para além de um tema meramente filosófico ou sociológico – tiveram


muitas vezes seus direitos suprimidos, suas liberdades confiscadas e suas vozes abafadas. Na
história, não são raras as situações em que, auxiliando os homens em suas lutas por liberdade,
as mulheres são relegadas das conquistas.

Na Filosofia, Aristóteles garantiu fortes argumentos para sociedades e pensadores


machistas. Sua obra é permeada pelo pensamento de que a fêmea é o macho incompleto,
mutilado (Geração dos Animais, II.3, 737 a). Assim, o estagirita coloca a mulher em uma
posição de inferioridade em relação ao homem, não apenas física, mas também psicológica, ao
afirmar que a maior deficiência feminina está relacionada a sua alma menos racional que tende
a apetites e elementos passionais. Essa fraqueza ocasiona o déficit de caráter feminino (em
relação ao homem). Dessa forma, Aristóteles justifica o domínio e a relação de poder que o
homem deve exercer sobre a mulher, já que elas são a incapazes de agir racionalmente, e sua
natureza é degenerada e imutável – “a debilidade inerente ao sexo feminino deve ser encarada
como um insucesso da natureza” (Geração dos Animais, IV. 6, 775 a).

Avançando para a Revolução Francesa, vemos uma luta por igualdade, liberdade e
fraternidade. Mas, como foi lamentavelmente constatado pelas mulheres da época, esses ideais
não contemplavam demandas femininas. Nas palavras de Elisabeth Badinter:

[...] parece que a filosofia da segunda metade do século [XVIII] se antecipou, e de


longe, à prática cotidiana. É verdade também que ela militou mais pela igualdade dos
homens entre si (igualdade das ordens) do que pela igualdade entre os seres humanos:
o homem, a mulher e as crianças. (BADINTER; Um amor conquistado: O mito do
amor materno; p. 161-162; 1985)

Um dos teóricos iluministas do movimento, Jean-Jacques Rousseau, escreve alguns de


seus livros visando orientar o comportamento social da época. Dentre esses livros, destaco
Emíle ou Da educação: “Cabe ao ser que a natureza encarregou de ter filhos, obedecer ao outro”
(Émile, V, p. 697). Nesse livro Rousseau se dispões a ensinar como a mulher deve ser educada.
Ele afirma que o homem é “forte e ativo” e a mulher é “fraca e passiva”; assim “a mulher é feita
especialmente para agradar ao homem e para ser-lhe subjugada”. Quanto ao homem, “seu
mérito está na sua força, ele agrada apenas pelo fato de ser forte” (Émile, V, p. 693).

Chegando ao século XIX, Nietzsche surge com um novo modo de ver o homem, a
cultura e a história, mas isso não muda a forma como a mulher é vista e tratada.

Nós, homens, desejaríamos que a mulher não continuasse a comprometer-se com


explicações; pois foi por preocupação pelo homem que a igreja decretou: mulier taceat
in ecclesia!1 Tal como foi para o bem da mulher que Napoleão deu a entender à célebre
Madame de Staël: mulier taceat in politicis!2 E penso que é um verdadeiro amigo das
mulheres aquele que hoje diz às mulheres: mulier taceat de muliere!3 (NIETZSCHE,
Para Além do Bem e do Mal; p. 182; 1996)

De forma inesperada, o pensamento nada feminista de Nietzsche é sobreposto por sua


filosofia iconoclasta que, frequentemente, é aproximada de pautas feministas contra valores
instituídos, contra o dogmatismo e na desconstrução de um certo modelo de racionalidade.

Por esse breve histórico, é possível observar que a mulher, desde o princípio do
pensamento filosófico, foi definida como alguém que deveria ser reprimido, educado e
subjugado. Sua função era circunscrita à reprodução. Com o desenvolvimento do mundo

1
“mulier taceat in ecclesia!” a mulher deve permanecer em silêncio na igreja!
2
“mulier taceat in politicis!” a mulher deve permanecer em silêncio na política!
3
“mulier taceat de muliere!” a mulher deve permanecer em silêncio sobre as mulheres!
capitalista e a necessidade de se aumentar o número populacional, seu papel aumentou para o
cuidado da família, visando a manutenção da vida da prole.

Assim, a partir do século XVII, teóricos começaram a polarizar os espaços sociais em


público e privado e restringiram a mulher ao espaço privado, em que se da a criação dos filhos
e o cuidado da família – a mulher se transforma em uma espécie de governante de casa, com
autoridade fictícia, mas passa a ser tratada com mais respeito, ao ser vista como uma pessoa
necessária e não como um mero item para reprodução.

Por outro lado, no ambiente público os direitos e as liberdades femininas continuaram


quase inalcançados. Quanto maior o espaço alcançado no ambiente privado, menor o espaço no
ambiente público. Até o século XVIII a voz feminina continuou cada vez mais abafada pelos
risos e pelas teorias machistas.

Lutas por direitos femininos:

Alguns filósofos lutaram pelos direitos das mulheres, entre eles estão François Poullain
de la Barre (1647-1725), Marquês de Condorcet (1743-1794), Olympe Gouges (1748-1793) e
Mary Wollstonecraft (1759-1797).

De acordo com François Poullain de la Barre “tudo o que os homens escreveram sobre
as mulheres deve ser suspeito, pois eles são, ao mesmo tempo, juiz e acusado”. Porém, em um
momento que pouquíssimas mulheres conseguiam ser ouvidas, o posicionamento desses
homens a favor das causas feministas foi de extrema importância. François foi um filósofo que
denunciou injustiças e desigualdades sociais cometidas contra as mulheres. Em seus principais
livros – Sobre a igualdade dos dois sexos, Sobre a educação das mulheres e Sobre a educação
das mulheres – defendeu que a opressão feminina era decorrente de um processo de preconceito
cultural, que a educação era o único meio de conquista de autonomia para as mulheres e, ainda,
a igualdade condicional e intelectual entre homens e mulheres. Sua frase sobre se manter em
suspeição o que os homens escrevem sobre as mulheres foi a epígrafe inicia do livro de Simone
de Beauvoir, O Segundo Sexo.

Alguns anos mais tarde, Marquês de Condorcet, matemático e filósofo iluminista


contemporâneo a Rousseau, defendia o direito feminino ao voto nos debates da Assembleia N
acional, durante a Revolução Francesa. Em 03 de julho de 1790, Condorcet publica o
texto Sobre a admissão do direito de cidadania às mulheres,
[…] os direitos dos homens resultam simplesmente do fato de serem seres racionais e
sensíveis, suscetíveis de adquirir ideias de moralidade e de raciocinar sobre essas
ideias. As mulheres que têm, então, as mesmas qualidades, têm necessariamente os
mesmos direitos. Ou nenhum indivíduo da espécie humana tem verdadeiros direitos,
ou todos têm os mesmos; e aquele que vota contra os direitos do outro, seja qual for a
sua religião, cor ou sexo, desde logo abjurou o seu próprio” (Condorcet, 1790, p. 1).

Durante os primeiros anos da Revolução Francesa, o Marquês e sua esposa – Sophie de


Condorcet (1764-1822) – fizeram, em sua casa, reuniões Girondinas que ficaram conhecidas
como Cercle Social. Os convidados dessas reuniões compunham uma vertente mais solidária à
participação das mulheres e em defesa de seus direitos. Entre os convidados estava Olympe de
Gouges.

Olympe de Gouges – filósofa e jornalista apaixonada pelos direitos sociais – começou


a frequentar o Cercle Social em 1791, quando se desencantou com a Revolução Francesa ao
perceber que os ideais de igualdade pregados não contemplavam as mulheres. De acordo com
Olympe se “a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de
subir à Tribuna”. E assim, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ela
escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, que em sua conclusão diz:

Mulher, desperta. A força da razão se faz escutar em todo o Universo. Reconhece teus
direitos. O poderoso império da natureza não está mais envolto de preconceitos, de
fanatismos, de superstições e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as
nuvens da ignorância e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve
necessidade de recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-
se injusto em relação à sua companheira. (Gouges, 1971)

Na mesma época, Mary Wollstonecraft (filósofa e escritora) além questionar pensadores


homens, publicava comentários políticos – produzindo registros importantes sobre a Revolução
Francesa. Mary foi autora de romances e livros infantis que questionavam a ordem sexual e de
gênero, além de defender os direitos das mulheres à educação e à igualdade no casamento.

Wollstonecraft é considerada uma das mães do feminismo, uma vez que seu livro
Thoughts on the education of daughters (“Pensamentos sobre a educação das filhas”),
publicados em 1787, foi um dos primeiros a discutir sobre a opressão estrutural feminina na
Europa e suas raízes – “Desafortunada é a situação das fêmeas, educadas de acordo com a
moda, mas deixadas sem fortuna alguma”. Ela defendia que as mulheres deveriam ter o mesmo
direito à educação que os homens e, além disso, que não estudassem apenas para se tornarem
“esposas ideais”.

Em 1972, Mary Wollstonecraft. publicou sua obra mais famosa, Reivindicação dos
direitos da mulher. O livro é considerado um dos fundadores do feminismo, e denuncia a
privação do acesso das mulheres a direitos básicos no século XVIII. Outros pontos importantes
da obra são a defesa do voto feminino e da igualdade de direitos no casamento – em especial
em relação a bens da esposa e tutoria dos filhos, em situações de divórcio. Nele a educação é
considerada a base para o fim das desigualdades e para isso a autora afirma a necessidade de
escolas mais livres, menos rígidas, que ensinassem aos dois sexos as tarefas domésticas.

O Movimento Feminista

O movimento feminista surge de uma forma organizada em meados do século XIX.

Os teóricos atuais costumam dividir o movimento feminista em “ondas feministas” – ou


seja, momento de relevância e efervescência popular ou acadêmica em que determinadas pautas
das mulheres dominaram o debate.

A primeira onda (fim do século XIX até meados do século XX) foi caracterizada pela
reivindicação das mulheres de direitos que estavam sendo conquistados pelos homens. No
século XIX despontava o socialismo, com as lutas dos operários por diretos e participação
política – que não incluíam as mulheres. Esses eram os direitos exigidos pelas feministas desse
período: o voto, a participação política e na vida pública — o lugar da mulher sempre foi dentro
de casa. As feministas da primeira onda questionavam a imposição de papéis submissos e
passivos às mulheres. Essas mulheres ficaram conhecidas como “sufragistas”.

A teoria da primeira onda defendia que homens e mulheres eram iguais (moral e
intelectualmente) e deveriam ter oportunidades iguais. É um feminismo que prega igualdade.
A retórica predominante dessa onda é o liberalismo e o universalismo.

A segunda onda (entre 1950 e 1990) marcou o início dos estudo sobre a condição física
feminina e sua opressão. Isso possibilitou a construção de uma teoria-base, uma teoria raiz sobre
a opressão feminina. Assim esse feminismo ficou conhecido como feminismo radical (raiz,
início). Essa onda, discutiu a exploração feminina em dois quesitos: sexual e reprodutivo, e se
caracterizou pela luta por autonomia nesses quesitos. Assim, começa as discussões entre sexo
e gênero – aquele é definido como uma característica biológica; e este, uma construção social,
imposto à pessoa dependendo de seu sexo.

Essa onda foi marcada por grupos, como o The Redstockings e o New York Radical
Feminists, que protestam contra concursos de beleza visando demonstrar que estes
objetificavam as mulheres, presando mais pela aparência que pela inteligência.
Essas feministas pretendiam entender a origem da opressão e a justificativa para a
submissão feminina. Elas não alcançaram uma resposta satisfatível, mas perceberam que apesar
de todas as diferenças, havia algo que unia a todas a mulheres, indiscriminadamente: a opressão
com base no sexo. Assim, elas são as pioneiras na crítica à pornografia, à prostituição e na
denúncia quanto a exploração da mulher via maternidade e via casamento, e o uso do estupro e
da violência sexual enquanto ferramenta de manutenção do poder masculino.

As feministas de segunda onda uniam mulheres socialistas/marxistas em diversas


pautas, como crítica à jornada dupla de trabalho das mulheres, à diferença de ganhos
econômicos entre homens e mulheres, e à divisão sexual do sistema educacional e do mercado
de trabalho. Essas feministas pregavam a união das mulheres em um movimento forte e
determinado, mas entendiam que as diferenças existentes entre mulheres (de classe, etnia e
sexualidade), apesar de ocasional, eram decisivas e constitutivas de suas identidades, de suas
experiências e de sua opressão.

A terceira onda, inicia nos anos 90 e é marcada por importantes marcos históricos –
como o fim da União Soviética, a queda do muro de Berlim, o fim das ditaduras na América
Latina – e econômicos – neoliberalismo e hiperconsumismo.

Em 1989, Kimberlé Crenshaw introduziu o conceito de interseccionalidade como


ferramenta que permitia a mulheres sob diversas formas de opressão (raça, classe, sexualidade)
reconhecerem suas diferentes variedades de identidades. Para essas feministas, a ideia de união
defendida pela segunda onda implicava necessariamente numa anulação das especificidades de
cada grupo de mulher.

A terceira onda se mostrou pós-estruturalista e não acredita em significados fixos ou


intrínsecos a palavras, símbolos ou instituições. Assim gênero e categorias biológicas, são
vistos como construções sociais, frutos de ciências enviesadas pelo olhar masculino. Nesse
contexto, Judith Butler desenvolve sua teoria de gênero em sua tese de doutorado Problemas de
gênero (1990), abrindo caminho para a teoria queer que se desenvolveria nos próximos anos.

A liberdade de escolha de cada mulher começa a ser defendida indiscriminadamente, com a luta
contra a prostituição — típica da segunda onda — sendo silenciada. Outro foco é a apropriação
de termos misóginos e pejorativos contra mulheres, numa tentativa de se ressignificação desses
termos, retirando-lhes a conotação negativa.
E, finalmente, surge nessa onda a ideia de transversalismo em oposição ao
universalismo e ao particularismo - característicos, respectivamente, da segunda e da primeira
ondas. Isso está associado a ideia da empatia, ou seja, fazer o exercício de se colocar no lugar
do outro para entender, suas necessidades e seus pontos de vista.

As vertentes feministas atuais:

• Feminismo radical: ou Radfem, surgiu nas décadas de 60 e 70, o nome vem de raiz (ou
início). Afirmam que a origem da opressão feminina está no patriarcado e nos papéis
sociais intrínsecos ao sistema de gênero. Retomam, de certa forma, o determinismo
biológico, e por isso são consideradas moralista e alinhadas a setores sociais mais
conservadores, muitas são chamadas transfóbicas. Elas defendem a destruição de
algumas estruturas ou situações sociais que geram benefícios para o homem – por
exemplo a prostituição –, para que haja uma real libertação feminina.
Principais nomes: Simone de Beauvoir, Shulamith Firestone, Sheila Jeffreys, Kate
Millett, Andrea Dworkin.
• Feminismo negro: chegou no Brasil durante a década de 80 juntamente com o
movimento negro. Ele existe, pois, é fato que as mulheres negras tem problemas além
das questões de gênero, ou seja, opressão dupla – por serem negras e mulheres. Elas não
consideram a opressão da mulher negra pior que a da mulher branca, porem a questão
da mulher negra deve ser discutida de forma diferente.
Principais nomes: Angela Davis, Audre Lorde e bell hooks. No Brasil, Lélia Gonzales
e Sueli Carneiro.
• Transfeminismo e Feminismo Queer: devido a exclusão que sofreram no feminismo
radical, essa vertente surgiu como forma de dar visibilidade as causas de pessoas que
possuem identidade de gênero diferente as do seu sexo biológico. Assim, essa os
teóricos dessa vertente acreditam que o gênero "mulher" é produzido e reprimido pelas
mesmas estruturas de poder das quais se busca emancipação. Assim, a aceitação de um
sistema binário de gêneros (masculino e feminino), ignorando categorias fora da matriz
heterossexual como dragqueens, travestis, transexuais e todas as identidades que não se
identificam binaridade normativa.
A inspiração teórica inicial foi a obra de Judith Butler, Gender Trouble (1990)
• Feminismo liberal: ou libfem, como é chamado, é pouco popular no Brasil. Os teóricos
dessa vertente afirmam que uma forma de assegurar a igualdade de gêneros é por meio
da criação de leis. Contrariando ao que é pregado pelo radfem, essa vertente afirma que
quando uma mulher decide seguir ou não um padrão de beleza, se prostituir ou ser uma
dona de casa, ela está pondo em prática sua liberdade - radfem acredita que isso é uma
condição que foi imposta a ela pela sociedade. É favorável à participação dos homens.
Principais nomes: Olympe de Gouges, Mary Wollstonecraft, Naomi Wolf, Betty
Friedman, John Stuart Mills.
• Feminismo interseccional: É uma corrente que acredita que a opressão não está ligada
apenas ao gênero, mas em um emaranhado entre gênero, raça e classe social. Afirma
que as mulheres experimentam a opressão em várias formas e em graus diferentes. E
que esses padrões estão interligados e unidos e são influenciados por um sistema social.
É uma vertente receptiva a homens, ao contrário das radfems que acreditam que os
homens são opressores por natureza. Busca conciliar as demandas de gênero com as de
outras minorias, considerando classe social, raça, orientação sexual, deficiência física.
Principais nomes: Kimberlé Crenshaw, Patrícia Collins, além das autoras mencionadas na
vertente do Feminismo Negro.

• Feminismo Cultural: derivou-se do Feminismo Radical. É uma vertente que busca a


"natureza feminina" ou "essência feminina". A teoria dessa vertente valoriza as
diferenças das mulheres em relação aos homens valorizando os aspectos positivos do
que chamam de características ou personalidade feminina. Nessa vertente são tratados
temas como maternidade, relação da mulher com a terra e a natureza, as éticas do
cuidado e as discussões da especificidade de uma razão feminina.
Principais nomes: Jane Addams, Charlotte Perkins Gilman e Margaret Fuller.

Conclusão:

As mulheres sempre tiveram seus direitos cerceados e a filosofia, assim como outras
ciências, forneceu argumentos que justificavam – ainda que de forma controversa e pouco
satisfatível – esse cerceio.

Ao longo da história, muitas foram as teorias levantada para tentar entender o motivo
da necessidade masculina de opressão e subjugação feminina. Uma dessas, acreditava que em
remotos tempos imperava um matriarcado e que, visando o seu fim, os homens instauraram o
patriarcado, oprimindo para não serem oprimidos. A teoria, apesar de pouco provável, é
interessante para nos mostrar o quão difícil é entender quando nos privam de direitos tão básicos
sem um motivo plausível que justifique essa punição.

Assim, o movimento feminista, que se desenvolveu com a organização de mulheres que


não se conformavam com nenhuma forma de justificativa de inferioridade, ou punição por um
matriarcado socialmente improvável, e, apesar de todas as diferenças, se uniram para serem
ouvidas. Quando um coletivo se forma, a voz de um se multiplica, se expande e é isso que as
ondas feministas nos mostraram.

As vertentes feministas atuais encontraram pautas específicas (e muito válidas), mas


estão perdendo a ideia inicial da segunda onda feminista. O movimento feminista está se
atomizando e se tornando pequenos grupos que se combatem, esquecendo que a principal forma
de alcançar espaço e ter voz é se unindo, sendo um. Respeitar as diferenças, saber que somos
todas únicas e que nossas experiências nos tornam singulares é importante, mas também é
importante lembrar que essa singularidade não nos afasta de um denominador comum, somos
todas mulher (por imposição, por sentimento ou por construção social; independente de etnia,
gênero, sexo, crença ou condição física) e somos todas subjugadas e oprimidas.

Ainda que a opressão sofrida por mim seja mínima (ou nenhuma) não posso esquecer
da opressão sofrida pela minha irmã, amiga, vizinha, conterrânea, ou qualquer mulher que é
assassinada, estuprada, agredida, mutilada, violentada, vendida, enfim, oprimida das mais
diversas (e desumanas) formas que existe. Por que, enquanto nos afastamos em grupos
individualizados deixando de ser um movimento único, mulheres ainda morrem pelo fato de
serem mulheres.

Referências:

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