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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Educação .t. .Tecnologia
i. .g. .o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
Graduada em Letras - Licenciaturas: Português e Inglês (UFMG), especializada em Revisão de Textos (IEC - PUC MINAS) e mestranda em Literatura de Língua Portuguesa
também pela PUC-MINAS. Revisora - ATAN CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO LTDA. Av. Afonso Pena, 4001m, bairro Mangabeiras, BH/MG. betaniaviana@yahoo.com.br.
2
Graduada em Letras - Licenciaturas: Português e Espanhol (UFMG), especializada em Revisão de Textos (IEC - PUC MINAS) e mestranda em Literatura de Língua Portuguesa
também pela PUC-MINAS. Revisora - ATAN CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO LTDA. Av. Afonso Pena, 4001m, bairro Mangabeiras, BH/MG. claudineandrada@yahoo.com.br.
Recebido em: 09/10/2008; Aceito em: 30/10/2008. Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, p. 09-18, maio./ago. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Educação
. . . . . . . . . .&
. . Tecnologia
..................................................................
2 A REVISÃO DO TEXTO TÉCNICO DE ENGENHARIA Todos os povos têm ou tiveram uma tradição
oral, mas poucos tiveram ou têm uma tradição escri-
ta. Mesmo para os que tiveram também a tradição es-
crita, é importante ressaltar que esta foi sempre pos-
terior à oral. Entretanto, o fato de uma ser posterior
2.1 Considerações iniciais
à outra não faz com que nenhuma delas seja mais
importante.
que o escritor intenciona transmitir. Diferentemente motivo este que nos levou a tratar, neste artigo, do
do texto ficcional (em que a concatenação e a inter- tema relacionado à nossa atividade profissional: revi-
pretação das idéias pode ficar a cargo do leitor), no são do texto técnico de engenharia.
texto técnico, o leitor precisa compreender o conteú-
do desejado pelo emissor do texto e não, simplesmen-
te, interpretar o que lê, na sua ótica particular.
Garcia (1985) e Carvalho (1991) utilizam a ex-
2.5 Prática da revisão do texto técnico de Engenharia
pressão “técnico-científico” para designar os textos
técnicos de cunho acadêmico referentes a especiali-
dades de determinado ramo. Entretanto, aqui, enten-
deremos a “linguagem técnica” como aquela dos tex-
tos referentes ao funcionamento de máquinas, peças 2.5.1 Macroestrutura e microestrutura textuais
e equipamentos, deixando a expressão “linguagem
científica” para as publicações de caráter propriamente
científico, que não são o nosso objeto de análise nes-
te trabalho. Sendo “técnica” diferente de “ciência” –
respectivamente ‘habilidade’ e ‘conhecimento’ – po- O serviço de revisão, como já mencionado na
demos distinguir texto técnico de texto científico. introdução, constitui algo extremamente importante
Vejamos como Genouvrier e Peytard (1973, p.288) nas mais diversas áreas que primam pela qualidade do
diferenciam o saber técnico do saber científico: serviço. Além de ser apresentado sem erros básicos de
ortografia e concordância, é necessário que o texto
Deve-se distinguir terminologia técnica de seja coerent e. Estes dois aspectos textuais –
metalingüística científica: a primeira exerce um papel microestrutura e macroestrutura – retratam a qualida-
de denominação dos ramos ou objetos próprios de uma de de um texto. A esse respeito, lê-se em Koch que:
técnica e estabelece uma classificação entre os
resultados obtidos pela técnica enquanto atividade; a É a macroestrutura profunda que explicita a coerência
segunda reúne as palavras por meio das quais se do texto, sua estrutura temático-semântica global.
designam os conceitos operatórios de uma pesquisa ou [...] Já a microestrutura é a estrutura superficial do
de uma reflexão científica. (GENOUVRIER & texto. (KOCH, 2004, p. 9).
PEYTARD, 1973).
A leitura detalhada de um manual por parte de
alguém que não tenha participado da sua elaboração,
pode detectar mais facilmente possíveis incoerências e
Apesar da vasta utilização do texto técnico nas
ambigüidades que tenham passado despercebidas pelo
empresas – descrição de peças, equipamentos, relató- autor. Na revisão, não é fundamental o conhecimento
rios de manutenção, manuais de instrução –, percebe- técnico do assunto, que é o que Heinemam & Viehweger
mos que esse não tem recebido a merecida atenção (1991) definem como ‘Conhecimento Enciclopédico’:
por parte da maioria dos elaboradores, divulgadores e
usuários. Mesmo por parte dos estudiosos da língua, O conhecimento enciclopédico, semântico ou
observamos pouca bibliografia no que se refere à ori- conhecimento de mundo é aquele que se encontra
entação na hora de elaborar tais textos. armazenado na memória de cada indivíduo, quer
O pouco prestígio histórico atribuído ao curso se trate de conhecimento do tipo declarativo,
técnico – criado, segundo Peterossi (1994), para aten- constituído por proposições a respeito dos fatos do
mundo, quer do tipo episódico, constituído por
der aos “filhos dos pobres, ou melhor, como a única
“modelos cognitivos” socioculturalmente
via de ascensão permitida ao operário” – também cons- determinados e adquiridos através da experiência.
titui uma das causas para o descaso mencionado ante- (HEINEMANN & VIEHWEGEN, 1991,
riormente. Acredita-se que, pelo fato de o texto técni- apud KOCH).
co ter estado sempre relacionado ao curso técnico,
essa modalidade textual não receba a devida impor- Trata-se, pois de um conhecimento amplo re-
tância. Percebemos também que a dificuldade referen- lativo a determinada área.
te à especificidade lexical do texto técnico, associada Dessa forma, durante a revisão macroestrutural
a aspectos histórico-educacionais, contribui para esse de um manual técnico, o revisor pode não possuir o
descaso, uma vez que, como sabemos, infelizmente o conhecimento enciclopédico do assunto, mas, ainda
tradicional ensino de redação tem o objetivo único de assim, tornar claros os conceitos e/ou instruções abor-
preparar o aluno para o exame vestibular. Tendo em dados no texto desse manual.
vista, porém, os limites deste trabalho, deixaremos a O que acontece, normalmente, é que o revisor
discussão desses aspectos para outra oportunidade. não possui o conhecimento enciclopédico, mas o
Apesar de alguns reveses, acreditamos que nos- li ngüí sti co. Vejamos mais clarament e o q ue
sa experiência de seis anos no ramo da revisão técni- Heinemann e Viehwegen (1991) chamam de ‘conhe-
ca seja válida e, portanto, passível de ser comentada, cimento lingüístico’:
O conhecimento lingüístico compreende os conhecimentos quando cede ao serviço de revisão uma vez, o enge-
gramatical e lexical, sendo, assim, o responsável pela nheiro parece perder o receio de confiar o seu texto
articulação som-sentido. É ele que responde, por exemplo, ao revisor, talvez por certificar-se de que se trata de
pela organização do material lingüístico na superfície
um trabalho conjunto e por perceber que o revisor
textual, pela seleção lexical adequada ao tema e/ou
aos modelos cognitivos ativados (HEINEMANN &
não faz nenhuma alteração considerável sem a sua
VIEHWEGEN, 1991, apud KOCH). permissão. O revisor, no seu papel de mediador en-
tre o autor e o leitor, funciona como um parceiro e
Assim, na etapa de leitura dos textos, é co- não como um corretor automático3. Quase sempre,
mum surgirem dúvidas, nem sempre simples de re- após a leitura, aparecem sugestões. Nesses casos, a
solver, já que uma pequena alteração, causada por decisão final é sempre do autor. Apenas correções de
uma tentativa de acerto (sem conhecimento enciclo- gramática e ortografia dispensam a sua aprovação.
pédico), pode gerar algum problema de compreen- Cria-se, portanto, um laço de confiança e integração
são por parte, por exemplo, de um operador de entre ambos os profissionais, e, a partir de então, os
máquina que esteja seguindo as instruções de um autores (neste caso, os engenheiros) passam a usar o
texto mal revisado. Então, uma pane no sistema po- revisor não como um “inimigo”, mas como um aliado
derá ocorrer, gerando uma parada no processo de e primeiro leitor do seu texto.
produção e, conseqüentemente, prejuízo financei- Na revisão microestrutural do texto, o revisor
ro para a empresa. A solução mais acertada é, por- se preocupa não com o significado geral, mas com as
tanto, o contínuo diálogo e a troca de experiências pequenas estruturas, corrigindo eventuais erros de
entre o revisor e o autor do texto, a fim de se evita- gramática e ortografia, eliminando a repetição silábi-
rem contradições. ca e a de estruturas semelhantes.
A experiência adquirida como revisor de de- Por trabalhar muito com cálculos e, na sua
terminado tipo de texto (nesse caso, o de engenharia) maioria, ter o costume de ler e escrever pouco, o
é aliada preciosa no exercício dessa atividade profissi- nosso público alvo – engenheiros – parece não fixar
onal, já que proporciona agilidade, além de econo- a atenção na microestrutura. Os textos nos são apre-
mia de tempo para o autor. Apesar, entretanto, da ex- sentados, por diversas vezes, desconexos e fragmen-
periência, são fundamentais humildade e bom senso tados. Para eles, o que parece ter importância são o
em caso de dúvida (por mínima que pareça), devendo resultado e a compreensão finais: se a fragmentação
o autor ser sempre consultado. Afinal, se o autor, que ocorre, mas o todo pode ser compreendido, pare-
é especialista no tema, utiliza-se dos conhecimentos cem não ter tanta importância os “pequenos detalhes”.
do revisor para agregar qualidade ao seu trabalho, é É muito comum, por exemplo, alternância entre as
fundamental que este o faça com responsabilidade. pessoas do verbo (1ª e 3ª) em um mesmo texto. Além
Através das entrevistas e dos questionários utili- disso, por diversas vezes, determinado substantivo é
zados para coletar dados referentes ao trabalho da re- confundido com uma palavra similar (que pertence à
visão em documentos técnicos, um dos engenheiros – classe de verbos), d evi do a uma d úvi d a
funcionário de uma renomada empresa de Engenha- morfossintática.
ria de Belo Horizonte –, apesar de não considerar o Não há exemplos concretos de problemas ocor-
trabalho de revisão relevante, admite que, algumas ridos com clientes, na aplicação dos sistemas, causa-
vezes, devido a uma redação não muito clara, teve pro- dos por erros microestruturais. Entretanto, já houve
blemas com clientes que não manusearam bem o siste- insatisfação por parte de um cliente, com relação à
ma, por não compreenderem a instrução. Provavelmen- estética textual. Ainda que o conteúdo estivesse com-
te, se tais manuais tivessem passado por um revisor, o preensível, as inconsistências gramaticais o incomo-
resultado seria outro, porque o trabalho deste daram muito. Na ATAN, quando se trata da entrega do
complementa o do autor. Caso o revisor não compre- chamado Plano Diretor de Automação e Informação
endesse o significado de determinada parte do texto, (um documento que analisa toda a infra-estrutura do
ele sanaria as dúvidas com o autor e, conciliando ins- cliente, relatando os problemas e sugerindo modifi-
trução correta e coerência textual, deixaria o texto li- cações futuras), há prioridade em revisar o texto e
vre de ambigüidades para o cliente final. apresentar o manual com qualidade. É um documen-
Na nossa prática diária de revisores, depara- to que envolve muito dinheiro e que costuma ser
mos com esta realidade. A grande maioria dos enge- analisado e aprovado por gerentes e diretores das
nheiros (autores dos manuais técnicos de engenha- empresas clientes. Certa vez, um cliente fez reclama-
ria) acha desnecessário o trabalho de revisão. Assim, ções explícitas referentes a um trecho (cerca de três
de maneira geral, eles só procuram esse serviço se páginas) do documento que estaria “mal escrito e com
houver pressão superior (do seu gerente) ou recla- erros primários4”. Tratava-se, entretanto, de um tre-
mações externas (por parte do cliente). Entretanto, cho inserido pelo autor, depois de já haver passado
3
Este termo será retomado para tratar do recurso que o software Word oferece, de mesmo nome.
4
Informação obtida através de entrevista realizada em 08/03/2006.
pela revisão. Graças ao controle rígido que é feito 2.6 Criação do Manual Interno da ATAN
dos arquivos, tínhamos uma cópia do documento
original que revisamos, sem o trecho citado, não
caindo sobre nós a responsabilidade do fato. Ape-
sar do constrangimento, o projeto foi aceito devi-
O manual interno de revisão de textos da
do à qualidade do conteúdo. Esse acontecimento
serviu, para, de alguma forma, valorizar o trabalho ATAN foi elaborado com base na realidade profissi-
do revisor, que é um pouco ingrato em termos de onal que vivenciamos. Apesar de saber o que seria
reconhecimento. Afinal, ele só é visível quando há ideal em termos de tempo para a realização de uma
erros; o que foi corrigido e o processo de correção boa revisão, o revisor precisa estar atento a essa
não é “aparente”, mas aquilo que passa despercebi- realidade, que, na maioria das vezes, não lhe pos-
do é suficiente para chamar a atenção do leitor. No sibilita gastar muitas horas revisando textos. Por essa
exemplo citado, o manual continha cerca de 200 razão, é necessário estar sempre em busca de solu-
páginas e a única referência ao bom trabalho, antes ções plausíveis dentro desse contexto, para que a
de citar a parte “desastrosa”, foi o comentário de qualidade do trabalho não seja comprometida pelo
que “estava indo bem, até chegar naquele trecho 5”. curto tempo disponível. Estamos cientes de que o
Ou seja, de um modo geral, o conteúdo estava bom, gerenciamento desse tempo na relação com o cli-
à exceção daquele pequeno trecho que possuía er- ente não é tarefa fácil para os engenheiros, que,
ros, o que significava que as 190 páginas restantes quase sempre, sentem-se pressionados. Apesar dis-
estavam bem revisadas. so, procuramos sempre orientá-los a buscar nosso
Na macroestrutura, pelo fato de envolver a
auxílio e nos passar os textos, na medida do possí-
semântica e a coerência textuais, é comum aconte-
vel, com certa antecedência, evitando, assim, que o
cerem problemas mais graves decorridos da falta de
serviço prestado ao cliente seja prejudicado. O
revisão, como é o caso da interpretação equivoca-
da ou ambígua de algum item descrito em um ma- Manual de Redação da Presidência da República
nual técnico. A má utilização de equipamentos e/ reitera a nossa preocupação:
ou softwares, por exemplo, acarreta desperdício de
tempo e de dinheiro. Certa vez, um operador que A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A
pressa com que são elaboradas certas comunicações
utilizava um sistema de combate a incêndio inter-
quase sempre compromete sua clareza. Não se deve
pretou erroneamente a mensagem apresentada na
proceder à redação de um texto que não seja seguida
tela (“Gás Detectado”) e desativou o sistema, acre-
por sua revisão. “Não há assuntos urgentes, há
ditando que havia perigo de fogo. A mensagem,
assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se, pois, o
entretanto, só queria indicar a presença de gás, como atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
também de outros componentes que não apresen- (BRASIL, 1991).
tavam risco de incêndio. Naquele software, o risco
de incêndio só era sinalizado através da mensagem Na prática, nós revisores também acabamos
“Gás Confirmado”. Do ponto de vista lingüístico, a trabalhando sob pressão, devido, como já comen-
dúvida do operador foi pertinente, já que, no cam-
tado, ao tempo escasso para a realização do servi-
po semântico, essas duas palavras podem ser sinô-
ço. Corremos o risco, assim, de não sermos bem
nimas em diversas situações. Um bom revisor, sen-
entendidos pelos leitores, o que não deveria ocor-
do o primeiro leitor, provavelmente, sugeriria, nes-
te programa, uma forma mais clara de expressar as rer nem na redação oficial nem em outros gêneros
mensagens. textuais.
A revisão dos manuais técnicos exige agilida- Vejamos mais um trecho do que diz o Manual
de, devido à concorrência (quanto antes se entregar de Redação da Presidência da República:
a revisão, maior é o prestígio) e ao prazo (o cliente
sempre tem urgência em ver o serviço executado). A redação oficial deve caracterizar-se pela
O nosso dia-a-dia tem, portanto, este agravante: a impessoalidade, uso do padrão culto de linguagem,
urgência. Cada releitura do documento é um mo- clareza, concisão, formalidade e uniformidade [....]
mento privilegiado para corrigir erros e sugerir so- é inaceitável que um texto legal não seja entendido
luções para os problemas encontrados. Na prática, pelos cidadãos. (BRASIL, 1991).
quase nunca é possível a realização de releituras (nem
pelo próprio revisor nem por terceiros); assim sen- A citação anterior refere-se à redação oficial,
do, é preciso concentrar-se ao máximo durante as embora cite características inerentes à redação de
revisões, a fim de incorrer no menor número de fa- qualquer gênero textual. Nós, como revisores de tex-
lhas possível. tos técnicos de engenharia, devemos nos adaptar à
5
Informação obtida através de entrevista realizada em 08/03/2006.
nossa realidade e não ser tão rígidos como sugere a 2.8 A revisão como auxiliar da qualidade
primeira parte da citação (“deve caracterizar-se pela
impessoalidade, uso do padrão culto de linguagem”),
uma vez que um texto tem que ser direcionado à sua
finalidade e, em nosso caso, ele nem sempre pode O trabalho de revisão auxilia na qualidade do ser-
ser impessoal. Como revisamos desde planos gerais viço, uma vez que as empresas que emitem documentos
da administração das empresas (mais direcionados a primam não só pela qualidade do conteúdo, mas tam-
diretores e engenheiros especializados) até manuais bém pelo layout dos seus textos. Muitas vezes recebemos
de instrução para operação de determinados equipa- documentos elaborados por engenheiros que dizem não
mentos (direcionados a técnicos), devemos sempre sentir tanta necessidade de os textos serem revisados,
ter em mente o público ao qual será submetido nosso mas que, como requisito de qualidade e conseqüente
trabalho, a fim de adequar a linguagem, com a finali- satisfação do cliente, preferem nos encaminhar os docu-
mentos antes de emiti-los. Um dos engenheiros entrevis-
dade de sermos bem compreendidos. Pauta-se, por-
tados, inclusive, declarou que sua empresa passou a
tanto – sem deixar de lado a norma culta –, em uma
terceirizar o serviço de revisão, porque, apesar de não
linguagem voltada ao conhecimento enciclopédico
poderem manter fixo um profissional para fazê-lo, a
do leitor final. empresa prima pela qualidade e busca certificações refe-
rentes à Qualidade. Além do mais, muitos deles percebe-
ram, após participarem de várias licitações em que a ATAN
esteve presente, que o diferencial da revisão viabiliza
2.7 A informática como suporte do trabalho de revisão grande impacto, uma vez que os clientes não hesitam em
contratar um serviço que, ainda que possa ser mais caro,
deixe transparecer qualidade.
Com a atual preocupação da Certificação da
Qualidade, as empresas têm se voltado mais para os
Ferramentas de um editor de textos comum aspectos que contribuem para a obtenção desse certi-
contribuem para o diálogo com o leitor, seja através ficado. O processo de certificação implica vistorias
de comentários, de marcações das correções efetuadas semestrais por parte do auditor (“recertificação”),
ou de sugestões de alterações que podem ser aceitas devendo, pois, ser uma constante preocupação da
ou não. empresa. Não basta somente atingir um patamar de
É, entretanto, complicado revisar textos na qualidade, deve-se permanecer nele, para não correr
própria tela do computador, devido à luminosidade, o risco de perder a certificação.
que prejudica a visão, e, também, pelo fato de nem Qualquer serviço, portanto, que auxilie na ga-
sempre ser possível visualizar perfeitamente na tela o rantia da qualidade em uma empresa é, a cada dia,
layout final. É imprescindível, pois, a impressão em mais valorizado. Nesse sentido, a revisão textual pode
papel, o que gera um retrabalho, pois durante a lei- ser considerada um dos mais fortes indicativos de
qualidade e, por essa razão, vem ocupando um espa-
tura do texto são feitas marcações e comentários que
ço importante e promissor nas empresas.
depois deverão ser repassados manualmente para o
De acordo com a nossa pesquisa, a ATAN é pio-
computador. Apesar disso, sabe-se o quanto é impor-
neira na revisão de textos técnicos de Engenharia. É a
tante essa etapa da revisão, que agrega perceptível
única empresa, dentre as que entrevistamos, que possui
valor ao produto final.
um setor de revisão de textos formado por profissio-
Além do inconveniente da luminosidade, a
nais devidamente registrados e habilitados para tal fun-
revisão feita somente na tela do computador também ção. Para nossa surpresa, não foram poucos os entrevis-
deixa a desejar em relação a recursos. O corretor or- tados que admitiram que o diferencial “revisão de tex-
tográfico de que os editores de textos dispõem, em tos” gera grande impacto aos olhos do cliente.
várias ocasiões, ludibriam o autor, que acredita que a
sua revisão de texto já esteja finalizada. O que acon-
tece é a simples sugestão de palavras que tentam sa-
nar dúvidas, mas que, por diversas vezes, multipli-
cam-nas. Isso porque o corretor tem um número de 2.9 A importância de uma equipe de revisão na área
palavras que está longe de contemplar todo o dicio- de Engenharia
nário e as potencialidades criativas da língua. Depa-
ramos sempre com palavras simples que o corretor
não contém. Além disso, ele não distingue, em todos
os casos, as classes de palavras (verbo e substantivo – A falta de um setor de revisão numa empresa
exemplos: “canto” e “trabalho”), dando sugestões erra- de Engenharia pode gerar sobrecarga para os geren-
das no lugar das corretas, em diversas situações. tes, que devem, além de planejar e coordenar, revi-
sar textos eventualmente mal redigidos. Ser capaz de 2.9.3 Concordância nominal e verbal
redigir com correção, clareza e precisão é exigência
indispensável a todos que se acham incumbidos de
expressar, por escrito, informação, opinião ou pare-
cer, quando não as conclusões de um estudo, o texto
Apesar de, aparentemente, a concordância
de um projeto ou as normas de um serviço. Na práti-
nominal e a verbal se processarem de forma natural
ca, entretanto, percebe-se que isso não acontece na
na fala e na escrita de qualquer falante nativo da lín-
maioria das vezes.
gua, é muito comum detectarmos esses tipos de erros
Por estarmos convivendo de perto e há algum
quando estamos revisando textos. Como já mencio-
tempo com o texto técnico de Engenharia, podemos
nado anteriormente, acreditamos que isso ocorra de-
visualizar com mais facilidade os erros lingüísticos de
vido ao fato de os engenheiros construírem frases
microestrutura recorrentes nos textos que os técnicos
longas demais, o que ocasiona confusão. Erros de
e engenheiros redigem. Agora, gostaríamos de sinteti-
concordância são, portanto, comuns, já que o pro-
zar algumas das principais dificuldades lingüísticas que
cesso de escrita é mais lento do que o da fala e o
acreditamos ter os autores desse tipo de texto.
autor não consegue manter as palavras que escreveu
na memória por muito tempo. Se a frase fosse relida,
ele poderia perceber rapidamente a falha e corrigi-
la. A esse respeito, vejamos um exemplo retirado do
2.9.1 Paralelismo site da TECGRAF, um grupo de tecnologia em com-
putação gráfica da PUC-Rio, formado basicamente por
engenheiros e analistas:
2.9.2 Pontuação
A crase é a responsável por grande parte dos
erros de português cometidos na escrita. A maioria
dos engenheiros tem, mais do que tudo, “medo” des-
A grande maioria pontua inadequadamente os se “sinalzinho”, cuja única função é facilitar a com-
textos ou deixa de pontuá-los. Obter um perfeito do- preensão do que se quer dizer.
mínio da pontuação representa uma dificuldade séria Das nossas revisões, podemos concluir que o
da escrita e disso depende, em grande parte, a clareza desconhecimento de regras básicas referentes à cra-
de um texto. Por essa razão, é muito difícil reduzir as se é quase que absoluto entre os redatores de textos
normas da pontuação e, mesmo que isso fosse possível, técnicos.
cada uma delas teria exceções. Na verdade, o que ob- É muito comum encontrarmos frases escritas
servamos de reincidente nos textos técnicos de Enge- como a que se segue, em que a crase é, equivocada-
nharia é a falta de pausa. Por pressa, ou talvez por des- mente, usada antes de um substantivo masculino:
cuido, os engenheiros “disparam” a redigir as senten- O sistema de combate à incêndio foi operado
ças, formando enormes blocos incompreensíveis. indevidamente.
2.10 Parceria entre revisor e autor na nossa prática É muito importante observar os itens citados sem,
diária entretanto, generalizar. Muitas vezes, o que parece in-
correção pode ser proposital e fazer parte do estilo do
redator ou do destaque que ele queira dar a algum tre-
cho, como, por exemplo, o uso de pleonasmos e de
adjetivos aparentemente supérfluos.
A linguagem técnica, especificamente a da En-
genharia, faz-se a partir dos conhecimentos específi-
cos que a permeiam. Ainda que de posse de tais co-
nhecimentos, os engenheiros devem adequar a reda-
ção dos textos à finalidade a que estes se propõem, 3 CONCLUSÃO
tendo em mente que escrever “bem” não significa es-
crever “difícil”.
No exercício da profissão de revisor, atenta-
mos sempre para alguns detalhes que fazem diferen-
ça, como, por exemplo, o de orientar os engenhei- Deste estudo, podemos depreender, entre
outros aspect os, a necessi d ad e d e mai or
ros em relação à redação de seus manuais. Sugeri-
conscientização, por parte das empresas, em relação
mos, por exemplo, que eles evitem:
ao trabalho do revisor.
a) o uso indiscriminado de adjetivos para não
Servindo não apenas como mantenedor da
prejudicar a idéia principal e, de certa for-
qualidade e da estética textuais, o revisor funciona
ma, evitar os chavões que nada acrescentam também como um mediador entre o autor e o seu
ao conteúdo. Devem evitar: longa jornada, público-alvo, atuando como o primeiro leitor do tex-
providências cabíveis, calor escaldante, forte to. Em se tratando da revisão do texto técnico de
recomendação, etc; engenharia, podemos, mesmo, afirmar que, em di-
b) o uso de modismos, pois eles desvalorizam o versas situações, além de propiciar aos técnicos uma
texto (a nível de – que, inclusive, além de mo- compreensão clara e inteligível das instruções pro-
dismo é expressão errada, exitoso, chocante, etc.); postas em um manual, a revisão serve como um pre-
c) o uso de palavras abstratas no plural, pois, ventivo contra erros operacionais, evitando, na práti-
na maioria das vezes, elas não acarretam ne- ca, equívocos que poderiam gerar perda de tempo e
nhum prejuízo à frase, quando utilizadas no de dinheiro para as empresas.
singular (usar A reunião gerou muita polê- Fica, então, comprovada a grande importância
mica em vez de A reunião gerou muitas po- desse profissional (revisor), não só nas áreas que mais
lêmicas); valorizam a linguagem, mas em todas aquelas que uti-
d) repetições desnecessárias, como “O sistema lizam a escrita como meio de comunicação.
acaba de ser instalado na máquina, portan- Seria, portanto, uma solução plausível e de
to, deve-se aguardar até que a máquina co- grande valia, a inserção do revisor de textos nos mais
munique o fim da instalação” em vez de “O diversos segmentos mercadológicos, de forma a que-
sistema acaba de ser instalado na máqui- brar o paradigma de que a sua atuação é restrita à
na, portanto, deve-se aguardar até que esta área de Humanas. Acreditamos que, dessa forma, além
comunique o fim da instalação”; de se estarem abrindo os caminhos para o revisor, a
e) pleonasmos, (usar a cada dia em vez de a manutenção da qualidade dos textos seria garantida.
cada dia que passa; elo em vez de elo de Consistiria, pois, em uma via de mão dupla, na qual
ligação; há uma hora em vez de há uma áreas distintas se complementariam em busca de su-
hora atrás); cesso profissional.
Além do trabalho de revisão, que visa a adequa-
f) aspas, pois elas devem ser utilizadas basica-
ção do texto à sua aplicação, outra sugestão válida, que
mente para citações, estrangeirismos e para
pode e deve ser analisada em trabalhos futuros, é a
indicar que determinada palavra está sendo
reformulação das grades curriculares dos cursos forma-
usada com sentido diferente do habitual. dores de técnicos e engenheiros. A idéia seria
Para destacar, aconselhamos os engenheiros aperfeiçoá-las, incluindo disciplinas que primassem pela
a usarem outros recursos do editor de tex- redação dos gêneros textuais próprios da área.
tos (geralmente, Word), como itálico, subli- O revisor licenciado em Letras seria o profissio-
nhado, negrito; nal apto para ministrar essas disciplinas: elaboraria os
g) o uso do etc sem nenhum critério, pois se currículos adequados, baseado em sua experiência, e
trata da abreviatura latina et caetera, que sig- saberia como transmitir o conhecimento, aproveitan-
nifica “e as demais coisas” e, portanto, deve do-se dos conteúdos gramaticais e didáticos aprendi-
ser usada quando os termos que ela substi- dos na sua formação, além de procurar sempre traba-
tui são facilmente recuperáveis (nunca es- lhar de maneira multidisciplinar com professores e
crever “e etc”, pois a conjunção “e” já faz empresas de áreas técnicas, possibilitando maior apro-
parte da abreviatura). ximação entre o ensino e a prática profissional.