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O termo “texto” deriva do substantivo latino textus, que significa “tecido”, “urdidura”,
“encadeamento” e que provém do particípio passado do verbo texere, o qual significa
“tecer”, “entrançar”, “entrelaçar”. No seu significado metafórico, por conseguinte, o
texto é um tecido de palavras e de frases.(Cf. Aguiar e Silva, 1990: 185)
Numa acepção semiótica, “texto” significa, como defende Aguiar e Silva (2002: 183), a
“sequência de sinais ordenados segundo as regras de determinado código”,
constituindo-se e funcionando como tal “no quadro de um sistema de comunicação”. E
acrescenta: “os textos da semiose estética, embora dentro de um condicionalismo
peculiar, não podem deixar de ser, por conseguinte, fenómenos de comunicação”.
O conceito de “texto” deve, pois, ser visto, no âmbito semiótico, como algo que
ultrapassa o sentido estrito, linguístico, que o vocábulo correntemente possui. Assim,
mais adiante, o mesmo autor (2002: 562) fornece uma possível e completa definição
do conceito de texto enquanto entidade semiótica e portanto translinguística: “conjunto
permanente de elementos ordenados, cuja co-presença, interacção e função são
consideradas por um codificador e/ou por um decodificador como reguladas por um
determinado sistema sígnico”. A natureza dos signos que configuram o texto pode,
portanto, ser diversa: convencional, natural, linguística, icónica, etc. Seja qual for essa
natureza, o texto é sempre a actualização expressiva de um específico sistema
semiótico, apresentando-se como realidade formalmente delimitada e evidenciando
uma organização interna que o configura como um todo estrutural.
É nesta óptica que se torna possível – e não abusivo – usar esse conceito para falar
de “texto fílmico”, “texto pictórico”, “texto musical”, “texto coreográfico”, etc.
O texto pictórico é caracterizado pela materialidade dos seus signos naturais (ao
contrário dos textos verbais, cujos signos são arbitrários, convencionais) e pela sua
correspondente iconicidade. Embora topograficamente delimitado, o texto pictórico não
tem, temporalmente, um princípio e um fim: o olhar do espectador (receptor) move-se
com quase total liberdade, permanecendo o texto sempre materialmente presente,
como um todo, perante o seu olhar.
O texto musical possui igualmente signos materiais (os sons, com o seu timbre,
intensidade, harmonia, ritmo e específicas combinações), mas estes caracterizam-se
pela ausência de conteúdos semânticos (que, no caso da literatura, são pré-existentes
no sistema linguístico). Tal como o texto literário e diferentemente do texto pictórico, o
texto musical concretiza uma forma de expressão temporal.