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S.L. Figueiredo & G.

Conte Alberti

A música nas séries iniciais do Ensino Fundamental:


Orientações para seu ensino em
Vitória (ES) e no Distrito Federal1
Profº. Drº. Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo2

Giovanna Conte Alberti3

Resumo: Essa pesquisa teve por objetivo estudar os documentos legais que tratam da músi-

MÚSICA
ca nas séries iniciais do ensino fundamental. Os locais escolhidos como dados para o artigo
foram Distrito Federal e Vitória. A metodologia foi baseada na abordagem qualitativa e a
análise documental foi a técnica utilizada para a análise dos dados. Os resultados indicam
a necessidade de revisão das orientações sobre a música neste nível escolar.

Palavras-chave: Educação musical - Séries iniciais do Ensino Fundamental - Legislação


Educacional.

1. Introdução documentos produzidos naquela localidade,


em função de novas informações disponíveis
O objetivo deste projeto de pesquisa é a respeito do ensino de música no ensino fun-
estudar a legislação educacional para as séri- damental.
es iniciais do ensino fundamental no que se
refere ao ensino de música nas escolas regu- O presente texto apresenta uma breve
lares. Estão, portanto, envolvidas as docu- revisão de literatura a respeito da música nas
mentações federais (de abrangência nacional) séries iniciais do ensino fundamental e dos
e as documentações estaduais e municipais documentos federais, como a Lei de Diretriz-
(de abrangência local). Esta pesquisa ocorre es e Bases da Educação Nacional n. 9394/96
desde 2006 e está em sua fase de encerramen- (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacionais
to. Os resultados das etapas anteriores estão (PCN). Há também a apresentação da metodo-
documentados através de textos produzidos e logia abordada, dos dados coletados e discuti-
publicados (FIGUEIREDO e MOREIRA, 2007; dos com base na revisão de literatura realizada.
FIGUEIREDO e ROSA, 2008; FIGUEIREDO
e SEZERINO, 2007; FIGUEIREDO e SILVA, 2. Revisão de Literatura
2008).
2.1. A Legislação Educacional
Neste artigo, pretende-se abordar os docu-
mentos para as localidades de Vitória (ES) e do A LDB 9394/96 estabelece as normas para
Distrito Federal. No caso de Vitória, pretende- a educação em âmbito nacional. Ela substitui
se divulgar aspectos dos documentos legais a lei anterior, a LDB 5692/714. Na legislação
propostos para aquele município em termos de de 1996 estão determinadas as atividades que
educação musical. Em relação ao Distrito Fed- competem à União (artigo 9º), aos Estados (ar-
eral, pretende-se ampliar as discussões sobre tigo 10) e aos Municípios (artigo 11). Aos Esta-

1
Vinculada ao Projeto de Pesquisa Os efeitos da legislação educacional para a educação musical nas séries iniciais: 10 anos de LDBEN e outros documentos,
desenvolvida no Centro de Artes / UDESC.
2
Orientador, professor do Departamento de Música do Centro de Artes - sergiofigueiredo.udesc@gmail.com.
3
Acadêmica do curso de Licenciatura em Música - Centro de Artes - UDESC, bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq.

1
Anais do XIX Seminário de Iniciação Científica
A Música nas Séries Iniciais do Ensino...

dos compete, entre outros, “elaborar e executar feita


políticas e planos educacionais” (artigo 10, in-
ciso III), “baixar normas complementares para
o seu sistema de ensino” (artigo 10, inciso V) e em nível superior, em curso de licen-
oferecer o ensino médio como prioridade (arti- ciatura, de graduação plena, em uni-
go 10, inciso VI). Os Municípios devem “baixar versidades e institutos superiores de
normas complementares para o seu sistema de educação, admitida, como formação
ensino” (artigo 11, inciso III) e oferecer a edu- mínima para o exercício do magisté-
cação infantil e o ensino fundamental (artigo rio na educação infantil e nas quatro
11, inciso V). Portanto, é importante conhecer primeiras séries do ensino fundamen-
os documentos publicados posteriormente à tal, a oferecida em nível médio, na
LDB e verificar se os mesmos estão em acordo modalidade Normal. (BRASIL, 1996,
com a lei maior. artigo 62).

A educação básica compreende a educa-


ção infantil, o ensino fundamental e o médio 2.2. A música nas séries iniciais do en-
(artigo 21, inciso I). O ensino fundamental sino fundamental
apresenta, a partir da lei n. 11274/2006, dura-
ção de nove anos. Com relação à organização Por conta das diversas interpretações que
dos ensinos fundamental e médio, deverá ha- a LDB 9394/96 possibilita para o termo “ensino
ver uma base nacional comum “a ser comple- de arte”, a música acaba não fazendo parte da
mentada, em cada sistema de ensino e estabe- grade curricular. Diversos autores salientam
lecimento escolar, por uma parte diversificada, que ela raramente faz parte do currículo das
exigida pelas características regionais e locais escolas regulares brasileiras (TARGAS, 2002;
da sociedade, da cultura, da economia e da LOUREIRO, 2003; TARGAS, JOLY, 2004).
clientela” (BRASIL, 1996, artigo 26). O ensino
de arte deverá fazer obrigatoriamente parte Quando se pensa em música nas escolas
do currículo na educação básica (parágrafo 2º regulares, uma questão crucial é a formação
do artigo 26). Aqui o ensino de arte deve ser dos professores. Em relação ao professor gen-
entendido como uma divisão em linguagens eralista5, de acordo com as Diretrizes Curricu-
artísticas, que foram definidas posteriormente lares para o curso de Pedagogia, este deve estar
pelos PCN: música, teatro, artes visuais e dan- apto a ensinar as artes, dentre as diversas áreas
ça (BRASIL, 1997). Apesar de haver uma clara (BRASIL, 2006). Entretanto, essa área de con-
determinação para a presença das artes no cur- hecimento não costuma ser valorizada nos cur-
rículo, não há especificações sobre que tipo sos de pedagogia, apresentando pequena car-
de ensino de arte será ministrado nas escolas, ga horária, como apontam Figueiredo (2005),
sendo que estas acabam por determinar qual Beaumont e Rosa (2007) e Bellochio (2004).
linguagem será aplicada nas escolas (conforme Essa situação ocasiona a falta da música nas es-
PENNA, 2004a, 2004b; HIRSH, 2007; PIRES, colas, pois geralmente esses professores optam
2003). Dessa forma, a música, por ser uma das por não trabalhar a música por se sentirem in-
possibilidades entre as linguagens artísticas, seguros para utilizá-la como recurso pedagógi-
pode ou não fazer parte da grade curricular. co (VALLIENGO, 2007). Ou ainda, quando o
fazem, não a utilizam de maneira significativa
A LDB determina ainda que os estabeleci- e a valorizam por seus aspectos extramusicais,
mentos de ensino devem “I - elaborar e exe- em vez de valorizá-la como uma importante
cutar sua proposta pedagógica” e “II – admin- área de conhecimento humano (BELLOCHIO,
istrar seus recursos materiais e financeiros” 2004; TARGAS, 2002; LOUREIRO, 2003).
(BRASIL, 1996, artigo 12). Isso significa que
há uma autonomia quanto à organização do Existem, no entanto, alguns cursos de ped-
espaço escolar quanto a quem, como e o que agogia que oferecem a música em seus cursos
deve ser ensinado. Mais uma vez se percebe na (BELLOCHIO, 2004). Para que a música possa
legislação a possibilidade, e não a certeza, da estar nos currículos escolares, é importante
presença da música no currículo. valorizá-la na formação inicial do pedagogo.
Ortega (2006, p.04) atesta que “é imperativo
Sobre a formação do professor para atuar reavaliar a formação musical dos professores
na educação básica, a lei determina que será

4
Na LDB 5692/71, havia a denominação de “educação artística” para a área relativa às artes. Ela comportava os conteúdos da área de desenho,
artes plásticas, dança, teatro e música. Os professores tinham uma formação polivalente e deveriam dar conta de todos os conteúdos anterior-
mente mencionados. Sobre a polivalência, verificar Araújo (2002), Pires (2003), Loureiro (2003), Hirsh (2007) e Lazzarin (2007).
5
Professor generalista é o atuante na educação infantil e em séries iniciais do ensino fundamental. Outras nomenclaturas possíveis são unido-
cente, regente, não especialista, docente.

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V Jornada de Iniciação Científica
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unidocentes, pois são eles que estão cotidiana- foram selecionadas duas localidades: Vitória e
mente com as crianças, podendo assim, con- Distrito Federal. Os dados aqui apresentados
tribuir para o desenvolvimento musical das foram primeiramente coletados através de cor-
mesmas.” respondências enviadas ao orientador da pes-
quisa pela Secretaria de Estado da Educação de
Outra possibilidade ainda é a realização Vitória (ES), Secretaria Municipal de Educação
de cursos de formação continuada, para os de Vitória e a Secretaria de Estado da Educação
professores em serviço. do Distrito Federal. Nessas correspondências
foram solicitadas informações a respeito do en-
sino de música para as séries iniciais do ensino
fundamental para as duas localidades escolhi-
Além de uma reavaliação nos cur-
das. Em uma segunda etapa, foram coletados
sos de formação de professores, com
dados dos sites dessas mesmas secretarias,
relação à música, um caminho para
para a verificação de possíveis atualizações em
estabelecer uma prática consciente da
relação aos dados coletados previamente.
música na escola, acredito ser a real-
ização de cursos de capacitação em
música para os professores unidocen- O procedimento adotado com relação à
tes. Esses professores, conhecendo os seleção dos dados na internet foi:
conteúdos musicais poderão realizar
atividades seguramente produtivas, - verificação de documentos sobre legisla-
ção educacional para o ensino fundamen-

MÚSICA
do ponto de vista musical, junto a
seus alunos. (ORTEGA, 2006, p. 06). tal;
- verificação de documentos para as séries
Pesquisas evidenciam que a formação iniciais do ensino fundamental;
continuada em música para professores uni- - verificação da incidência das palavras
docentes tem trazido resultados positivos, “arte”, “artes” e “música” nos documen-
que oferecem maior segurança e autonomia tos escolhidos;
para os professores generalistas trabalharem a
- verificação da existência de projetos em
música em sala de aula (TARGAS, JOLY, 2004;
que a música esteja presente.
ABRAHÃO, 2004).

3. Método 4. Documentos do Distrito Federal

Em uma carta enviada ao pesquisador


A metodologia deste trabalho está fun-
(DISTRITO FEDERAL, 2007a), a Secretaria de
damentada em uma abordagem qualitativa.
Estado da Educação do Distrito Federal infor-
Bogdan e Bicklen (1994) caracterizam esse tipo
ma os dispostos legais que orientam o ensino
de abordagem como sendo descritiva, onde
de Artes. Música, Artes Visuais e/ou Teatro
há um interesse maior pelos processos do que
são as opções de linguagens artísticas. De acor-
pelos produtos e/ou resultados. Chizzotti traz
do com a Lei Orgânica do Distrito Federal (de
ainda que a pesquisa com abordagem qualita-
1993), são informados na carta os artigos n. 233
tiva geralmente procura “provocar o esclareci-
(“a educação é um direito de todos e deve com-
mento de uma situação para uma tomada de
preender as áreas cognitivas, afetivo-social e
consciência pelos próprios pesquisados dos
físico-motora”) (p. 01) e 235 (ensino de artes
seus problemas e das condições que os geram,
incluído no currículo da rede oficial de ensino
a fim de elaborar os meios e estratégias de re-
em todos os níveis, entre outros); isso ainda em
solvê-los” (2003, p.104).
vigor antes mesmo da LDB 9394/96.
O trabalho de pesquisa baseou-se na pes-
Outra normatização mencionada é o Regi-
quisa documental. A coleta de dados consistiu
mento Escolar das Instituições Educacionais
na busca por documentos oficiais, através das
da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal.
páginas da internet das Secretarias de Educa-
Nele é informado que as Artes e a Educação
ção, e também em documentos escritos que já
Física são de responsabilidade das chamadas
haviam sido coletados em etapas anteriores da
Escolas-Parque, que atuam em regime de inter-
pesquisa.
complementaridade com as instituições edu-
cacionais que oferecem o ensino fundamental
A pesquisa como um todo estudou docu- – anos iniciais (artigos 248 e 249). Nas Escolas-
mentos de todos os estados brasileiros e o Dis- Parque ocorrem aulas e oficinas. Aqui nota-se
trito Federal, no primeiro ano da investigação, uma escolha local de como regulamentar o en-
sendo que as capitais de cada estado foram sino, em conformidade com a LDB 9394/96.
estudadas no segundo ano. Para este texto

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Anais do XIX Seminário de Iniciação Científica
A Música nas Séries Iniciais do Ensino...

Em uma segunda carta enviada ao pesqui- so superior de Pedagogia com habilitação para
sador (DISTRITO FEDERAL, 2007b), a mesma as séries iniciais. O mesmo edital também se
secretaria informa que para as séries iniciais refere à contratação de professores para outros
do ensino fundamental, os Referenciais Cur- níveis educacionais para atuação em diferentes
riculares estabelecem que as Artes estão pre- instituições (Diretorias Regionais de Ensino,
sentes no currículo escolar, “onde a música é APAES, Centro de Educação Profissional da
trabalhada sob forma de atividade” como Eixo Escola de Música de Brasília e outros); para os
Temático (p. 01). Além disso, há a informação profissionais que atuarão nas séries finais do
da visão sobre a música desta secretaria: ensino fundamental, ensino médio, 2º e 3º seg-
mentos da educação de jovens e adultos e edu-
cação profissional o edital indica a obrigato-
considerando que a música desen- riedade de diploma ou certificado de curso de
volve a percepção de modo geral, licenciatura plena, bacharelado ou tecnólogo.
serve de estímulo ao estudo das mais A possibilidade da presença de um graduado
diversas disciplinas, e é, sem dúvida, em bacharelado em música - provavelmente
um componente fundamental para a para trabalhar na Escola de Música – pode in-
formação integral da personalidade viabilizar a presença de um licenciado neste
humana, observa-se que esta se apre- espaço.
senta, positivamente, como elemento
integrador e lúdico na promoção de Diante deste quadro, onde o pedagogo
ações pedagógicas e interdisciplinares assumirá os anos iniciais da escola, deduz-se
com ênfase na aprendizagem criativa que a música será ministrada também por ele.
e inovadora. (DISTRITO FEDER- O edital indica que professores especializados
AL, 2007b, p. 01). em música atuarão em outros níveis escolares,
e não nos anos iniciais. Os documentos oficiais
não apresentam conteúdos musicais que de-
A ludicidade da música e o estímulo ao vem ser ministrados pelo professor pedagogo.
estudo das demais disciplinas são caracter-
ísticas comumente ressaltadas da importância Nas Diretrizes Pedagógicas: Secretaria
de se trabalhar a música na escola (conforme de Estado de Educação do Distrito Federal –
ANDRAUS, 2008; FIGUEIREDO, 2005; LOU- 2009/2013 (DISTRITO FEDERAL, 2008), nota-
REIRO, 2003, SPANAVELLO, 2003). Por que se a autonomia das escolas na elaboração de
ela costuma apresentar esse caráter secundário seus projetos político-pedagógicos (p. 21), que
como justificativa de sua presença na escola? devem ser orientados a partir do que está con-
Por que não se pode valorizá-la como uma área tido nessas diretrizes. Os projetos de educação
de conhecimento específico? A música deve e devem se preocupar com o desenvolvimento
pode ser mais do que um momento agradável de competências e habilidades. São apresen-
dentro da escola. tadas as matrizes curriculares para a educação
infantil, ensino fundamental, ensino médio,
De acordo com Edital n. 1– SEPLAG/ ensino de jovens e adultos e educação especial
PROF (BRASÍLIA, 2008a), para professores da (para classes de aceleramento de aprendiza-
Educação Básica, um dos cargos oferecidos é o gem) com as cargas horárias das disciplinas,
de professor da Educação Básica/área 2, para com duas opções para o ensino fundamental
atuar no componente curricular denominado – uma para o sistema de oito anos e uma para
atividades; este cargo é oferecido para professo- o sistema de nove anos. Arte está presente em
res da Educação Infantil, das séries iniciais do todas essas matrizes curriculares, mas não es-
Ensino Fundamental e 1º segmento do EJA – pecificamente como música. Esta aparece mais
Educação de Jovens e Adultos (p. 03). Exige-se detalhadamente apenas para a educação infan-
licenciatura plena em Pedagogia ou Pedagogia til, como um dos eixos componentes Conheci-
com Magistério para as séries iniciais. Neste mento de Mundo (eixo que deve fazer parte do
edital não foram contemplados os cargos para currículo). Seria necessário indagar por que a
professores de artes, com formação específica música aparece apenas na educação infantil e
em uma das linguagens artísticas para nenhum não nos outros segmentos da educação básica.
nível educacional.
Nas Orientações curriculares – ensino fun-
No Edital normativo n. 1/2008 – SEPLAG/ damental – séries iniciais (BRASÍLIA, 2009),
SE (BRASÍLIA, 2008b) – processo simplificado, são apresentados os conteúdos referentes a
para contratação temporária de docentes da cada disciplina do currículo, bem como das
rede pública de ensino do Distrito Federal, chamadas “expectativas de aprendizagem”,
para as séries iniciais do ensino fundamental e que são “um conjunto de ‘fazeres e saberes’
educação infantil, é pedido graduação em cur- possíveis a partir da apropriação destes con-

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teúdos, não apenas como algo que se repete fessores concursados. Em 2007, as ações dessa
na memória, mas como o que resulta de op- equipe ocorreram em três eixos: formação, de-
erações mentais simples ou complexas que en- senvolvimento de projetos e currículo. Foram
volvem obrigatoriamente os sujeitos da apren- realizados Cursos de Vivência em Educação
dizagem - os alunos” (p. 07). A arte na escola Musical (formação continuada) para professo-
tem por objetivos “ampliar as formas de ver e res de Educação Infantil e Ensino Fundamen-
sentir os objetos artísticos; reconhecer outros tal. Foram atendidos cerca de 200 professores,
objetos artísticos que não fazem parte de seu em cursos de 30 horas de atividades.
acervo imediato; preservar esses objetos como
representação de culturas, de identidades, de Os cursos realizados indicam a capacita-
patrimônio da humanidade” (BRASÍLIA, 2009, ção musical de muitos professores que atuam
p. 10). São contempladas as artes visuais, a nos anos iniciais da escola, o que pode ser con-
música, a dança e o teatro como linguagens siderado positivo, já que nestes cursos certa-
artísticas. Elas estão organizadas em tabelas de mente foram trabalhados conteúdos musicais
acordo com os PCN em relação aos aspectos de que podem ser aplicados nas escolas. Dessa
produção, fruição e reflexão e especificamente forma, uma espécie de orientação curricular
para cada faixa etária do ensino fundamental está sendo desenvolvida, mesmo que tal orien-
em nove anos. Entretanto, não estão separados tação não esteja explícita em documento dis-
pelas linguagens, mas são abordados como um ponível para a pesquisa.
todo no currículo. Isso, portanto, permite con-
cluir que o professor de artes deve contemplar
7. Considerações Finais

MÚSICA
todas as linguagens artísticas nas aulas. Não
há no texto especificações quanto à formação
desse professor. Mesmo que o objetivo seja o Os documentos analisados referentes às
trabalho interdisciplinar entre as linguagens orientações para o ensino de música nas séries
artísticas, não há como abordar a todas de iniciais em duas localidades (Distrito Federal e
modo qualitativo porque provavelmente o Vitória) apresentam alguns elementos indica-
professor regente não estudou de modo apro- tivos da presença da música nas escolas. No
fundado a todas as linguagens em sua forma- entanto, não estão claramente delineadas as
ção inicial. orientações sobre o ensino de música, ou elas
estão diluídas no conjunto das Artes.
6. Documentos de Vitória (ES)
No Distrito Federal os documentos es-
tudados indicam a presença do professor
A Secretaria Estadual de Educação do Es- generalista nas séries iniciais, ou seja, um
pírito Santo enviou ao pesquisador (ESPÍRITO profissional não especialista em música. Este
SANTO, 2007) as diretrizes do Programa Mais profissional nem sempre está preparado para
Tempo na Escola, que visa ao aumento de per- lidar com questões musicais no currículo e a
manência dos alunos na escola, em jornadas falta de orientações específicas para a música
de 30 ou 40 horas semanais para ensino fun- pode significar a ausência desta atividade de
damental e médio. Nele há o Programa de forma satisfatória na escola.
Enriquecimento Curricular, que se subdivide
em projetos integradores (projetos comuns a
Em Vitória, a formação continuada tem
toda a rede, com ênfase em leitura, escrita e
sido uma alternativa para a formação musi-
raciocínio-lógico) e escolares (projetos própri-
cal de profissionais não especialistas. Mesmo
os das escolas, com atividades artísticas, cul-
não existindo documento específico de música
turais e esportivas, onde aparecem as “artes
naquele município é possível depreender que
musicais” como possibilidade). Está contido o
através da formação continuada em música os
que se espera com o programa, bem como qual
professores das séries iniciais estão sendo pre-
o perfil necessário para o professor (exige-se
parados para atuarem com música na escola. A
formação específica) participar do mesmo e a
breve análise apresentada indica claramente a
organização curricular para o ensino médio.
necessidade de revisão e ampliação dos docu-
Uma ressalva é a diretoria escolar ter o poder
mentos orientadores da música no currículo
de escolha do que vai para o programa, o que
escolar das séries iniciais. Especialmente após
pode deixar a parte musical de fora.
a aprovação da lei 11769/2008 que trata da ob-
rigatoriedade da música na escola brasileira,
Foram enviados ao pesquisador diversos será necessário que se revejam vários docu-
documentos (2008) pela Secretaria Municipal mentos, com o objetivo de incluir definitiva-
de Educação. Um dele é Música e Educação: mente a música no currículo escolar.
parceria de Vitória, que traz uma síntese do
que ocorreu no ano de 2007. A Equipe de Edu-
cação Musical foi composta em 2006, com pro- Referencial Bibliográfico

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