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Filipe A. R. Gaspar http://resumosdosecundario.blogspot.

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Geografia A
2 – Os recursos naturais de que a população dispõe:
usos, limites e potencialidades
2.4 – Os recursos marítimos
2.4.1 – As potencialidades do litoral
O mar é de grande importância para Portugal. Este pode ser utilizado para a pesca,
aquicultura, extração de sal e atividades de lazer e recreio.

2.4.1.1 – As características da linha de costa


A linha de costa – área que marca o limite entre o mar e o continente, ao nível
atingido pela maré mais alta, em período de calma – tem sofrido alterações
provocadas pela erosão marinha e pela alteração do nível das águas do mar:
 as costas de submersão já estiveram emersas, mas agora já não devido às
transgressões marinhas (avanço das águas do mar sobre as áreas continentais);
 as costas de emersão já estiveram submersas, mas agora já não devido às
regressões marinhas (recuo das águas do mar relativamente às áreas
continentais).
No litoral português predomina a costa de arriba e a costa de praia.

Costa de arriba
Onde as rochas têm maior dureza, a costa é de
arriba alta e escarpada ou de arriba baixa. É
sobretudo de arriba baixa e rochosa no litoral
norte, e de arriba alta e escarpada:
 da Nazaré à foz do Tejo;
 do cabo Espichel à foz do Sado;
 do cabo de Sines ao de São Vicente;
 no barlavento algarvio;
 na Madeira e nos Açores.

Costas de praia
Onde o mar entra em contacto com rochas mais
brandas, a costa é de praia, sobretudo:
 entre Espinho e São Pedro de Moel;
 no estuário do Tejo;
 da foz do Sado ao cabo de Sines;
 no sotavento algarvio.

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2.4.1.2 – A ação do mar sobre a linha de costa


A linha de costa está sujeita a uma intensa erosão marinha (ação de desgaste,
transporte e acumulação de materiais rochosos provocada pelas águas de mar), que se
exerce através dos processos de:
 desgaste das arribas;
 transporte dos materiais resultantes do processo, que são depois acumulados.
As arribas sofrem de uma intensa erosão provocada pela abrasão marinha (um
desgaste provocado pela força do embate das ondas, intensificado pela areia e pelos
fragmentos rochosos arrancados à base das arribas ou transportados pela deriva
litoral). Esta dá origem ao recuo das arribas.

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 A abrasão marinha desgasta a base da arriba, retirando o apoio à parte superior;


 Esta desmorona-se e recua para o interior. Os fragmentos rochosos acumulam-se
na base da arriba, formando-se a plataforma de abrasão;
 A continuação do processo faz a arriba recuar cada vez mais, aumentando a
plataforma de abrasão. No mar, acumulam-se materiais resultantes do desgaste
da arriba – plataforma de acumulação. Quando o mar deixa de atingir a arriba,
forma-se uma arriba morta ou fóssil (como é o caso da arriba fóssil da Caparica).
Os fragmentos resultantes do desgaste das arribas (areias e outros materiais de
origem fluvial) acumulam-se e originam praias.
Por vezes, dá-se o assoreamento da foz dos rios e da entrada de reentrâncias da
costa, formando-se restingas e barreiras de seixos a que, geralmente, se associam
áreas lagunares.

Principais acidentes do litoral português


As rias de Aveiro e de Faro
A ria de Aveiro é uma laguna separada do
mar por uma espessa restinga que se
formou devido à acumulação de sedimentos
marinhos transportados pelo rio Vouga e à
regressão das águas. É, por vezes,
denominada haff-delta, pois o rio desagua
na laguna, formando um delta interior.
A ria Formosa ou ria de Faro é igual,
separada do mar por uma extensa restinga
formada pela acumulação de materiais
transportados pela deriva litoral – corrente
de sentido oeste para leste, resultante da
aproximação oblíqua das ondas à praia.
Os estuários do Tejo e do Sado
Permitem um importante desenvolvimento
das atividades portuárias, e, devido à
grande riqueza ecológica, essa zona tornou-
se numa reserva natural.
Concha de São Martinho do Porto
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Uma baía que já foi um golfo – reduziu-se pela acumulação de sedimentos marinhos.
Tômbolo de Peniche
Istmo resultante da acumulação de areias e seixos transportados pelo mar. Os cabos
proporcionam proteção natural aos portos, e, por isso, esses, geralmente, localizam-se
no flanco sul dos cabos.

Na costa portuguesa, destacam-se os


cabos:
 Mondego;
 Carvoeiro;
 Roca;
 Raso;
 Espichel;
 Sines;
 Sardão;
 São Vicente;
 Santa Maria.
A linha de costa pouco recortada e
muito exposta a ventos e vagas
oferece poucas condições naturais
propícias aos portos marítimos, daí a
necessidade de construção de abrigos
e portos artificiais, como são os casos
de Leixões e Sines.

2.4.1.3 – Principais fatores


que influenciam os recursos
piscatórios
A temperatura, iluminação, salinidade e oxigenação das águas influencia a formação
de plâncton, que serve de alimento a grande parte da fauna marinha. Geralmente,
essa conjunção dá-se sobretudo nas plataformas continentais (extensão da placa
continental submersa cuja profundidade não ultrapassa os 200 metros), nas áreas de
encontro de correntes marítimas e de ocorrência de upwelling.

A plataforma continental
Portugal tem uma plataforma continental estreita. As águas das plataformas
continentais:
 são pouco profundas – logo, são bem iluminadas;

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 são mais agitadas – logo, têm mais oxigénio;


 têm um menor teor de sal – devido à agitação das águas e ao desaguamento dos
rios;
 são mais ricas em nutrientes – devido ao plâncton e às águas dos rios.

Correntes marítimas
As correntes marítimas favorecem a abundância de pescado, sobretudo as frias (que
transportam mais nutrientes), e as áreas de confluência de uma corrente fria com
uma corrente quente (favorecem a diversidade de espécies e a renovação de stocks).
 A corrente quente do Golfo (corrente de Portugal) é pobre em nutrientes – logo,
é desfavorável;
 A sudoeste, esta encontra-se com a corrente fria das Canárias, o que é favorável;
 Upwelling – ventos fortes do Norte atingem a costa, afastando para o largo as
águas superficiais. Cria-se uma corrente de compensação que provoca a ascensão
das águas profundas no verão.

2.4.1.4 – Divisão do mar


A utilização dos mares como fonte de
recursos tem suscitado algumas questões
que foram discutidas a nível
internacional. A realização de várias
conferências internacionais definiu:
 o mar territorial ou águas
territoriais – até 12 milhas;
 a zona contígua – de 12 a 24 milhas;
 a Zona Económica Exclusiva (ZEE) –
zona de soberania dos Estados
costeiros sobre o espaço aéreo, o mar, os fundos e o subsolo marinhos, até uma
distância de 200 milhas náuticas. A portuguesa é a maior da UE e a 5ª maior do
mundo, podendo vir a ser quase duplicada se o pedido apresentado nas Nações
Unidas, em 2009, for aprovado.

2.4.2 – A atividade piscatória


2.4.2.1 – O setor da pesca em Portugal
O setor da pesca continua a ter alguma relevância económica, embora tenha vindo a
decrescer, tal como a população empregada no mesmo.
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As principais áreas de pesca


 NAFO – Atlântico Norte;
 ICES – Nordeste do Oceano Atlântico;
 CECAF – Atlântico Sudeste e Sudoeste

Capturas e principais espécies


As principais espécies capturadas são a sardinha, a cavala, o atum e o carapau.
Os portos com maior volume de pescado descarregado são os de Matosinhos,
Sesimbra, Figueira da Foz, Peniche e Olhão.

Frota de pesca
A frota de pesca nacional é a 4ª maior da UE em nº de embarcações e a 6ª em
arqueação bruta e potência motriz.
A frota de pesca tem vindo a decrescer, devido à sua reestruturação, à vulnerabilidade
dos stocks e ao aumento das restrições.
Frota de pesca local
 Opera em águas interiores e perto da costa;
 Utiliza diversas artes de pesca;
 Sai por curtos períodos de tempo;
 Captura espécies de maior valor;
 Ocupa maior nº de pescadores;
 Usa embarcações de pequena dimensão e de madeira.
Frota de pesca costeira
 Opera para lá das 6 milhas náuticas;
 Usa alguns meios modernos (como o cerco e o arrasto);
 Tem maior potência matriz e autonomia de navegação;
 Usa embarcações com mais de 9 metros e até 33.
Frota de pesca do largo
 Opera para lá das 12 milhas náuticas;
 Pode permanecer no mar durante meses;
 Utiliza técnicas modernas de deteção e captura;
 Está equipada com meios de conservação (navio congelador) e transformação
(navio-fábrica).

Mão de obra
A mão de obra tem continuado a decrescer por abandono da atividade, reforma ou
devido à modernização funcional da frota.
O maior nº de ativos na pesca encontra-se nos Açores, no Norte e no Centro, e a
maior representatividade da pesca no emprego regista-se nos Açores, na Madeira e
no Algarve. Os profissionais de pesca são maioritariamente homens com mais de 45

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anos de idade e reduzidos níveis de escolaridade.


É necessário elevar os níveis de escolaridade da mão de obra para desenvolver a
pesca. Por isso, foram criados Centros de Formação nos principais postos do país.

As infraestruturas portuárias
Nas áreas portuárias nacionais, tem vindo a ser exercido um esforço de modernização
e monitorização do cumprimento das regras de desembarque, tempo e condições de
permanência e escoamento do pescado, nomeadamente ao nível das lotas. Os apoios
comunitários no âmbito da Política Comum da Pesca têm-se revelado importantes na
modernização da frota e das infraestruturas portuárias, permitindo a sua
modernização. O porto de Matosinhos é o que dispõe de maior nº de equipamentos.

2.4.2.2 – A aquicultura
A aquicultura – cultura de espécies aquáticas em ambientes controlados de água doce
ou de água salobra e marinha – constitui uma forma alternativa de obtenção de
pescado, que ajuda a reduzir a pressão sobre os stocks marinhos, favorecendo a sua
recuperação, além de permitir recuperar espécies em risco de extinção e repovoar os
habitats naturais.
Em Portugal, a aquicultura tem vindo a crescer, e predominam os estabelecimentos
de água salobra e marinha ao longo da costa, sobretudo nas áreas lagunares do
Centro e Algarve. Predomina o regime de produção extensivo, com tendência para o
aumento do regime intensivo e semi-intensivo:

 regime extensivo – utiliza apenas alimentação natural na produção de bivalves


(amêijoa, ostra, mexilhão e berbigão) em viveiros ou estruturas flutuantes, em
águas salobras e marinhas;
 regime semi-intensivo – associa alimentação natural e artificial na criação de
peixes como a dourada e o robalo, sobretudo em viveiros de águas marinhas;
 regime intensivo – a alimentação é sobretudo artificial na produção em viveiros
de espécies de água doce, como a truta, e de águas marinhas, como o pregado.

2.4.2.3 – A indústria transformadora do pescado


A indústria transformadora dos produtos da pesca e aquicultura tem evidenciado
uma tendência de crescimento tanto ao nível da produção como das vendas.
A produção do subsetor das conservas e preparados baseia-se na sardinha, no atum e
na cavala.
A preparação e transformação de pescado congelado é o subsetor mais recente desta
indústria transformadora, tendendo a afirma-se como um dos mais importantes. Os
seus produtos – filetes, postas, marisco, preparações alimentares – são cada vez mais
procurados.
O subsetor da salga e secagem tem uma tradicional implantação em Portugal,
dependendo quase exclusivamente do bacalhau, cujas quotas de pesca – quantidade
máxima de capturas permitida a cada país da UE, em função da espécie – são
reduzidas.

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Sem tradição nos padrões alimentares nacionais, a fumagem tem-se afirmado, em


Portugal, com espécies como o espadarte e os produtos da aquicultura.

Salicultura
Em Portugal Continental, ao longo da costa atlântica, sobretudo no sul, existem
condições naturais favoráveis à produção de sal marinho por evaporação solar. Trata-
se de uma atividade com tradição em Portugal, que decresceu com o encerramento de
muitas salinas.

2.4.3 – Gestão e valorização do litoral e dos recursos marítimos


2.4.3.1 – Problemas
 A sobre-exploração dos recursos piscícolas é um dos principais problemas com
que se debate o setor da pesca, conduzindo à redução dos stocks e à dificuldade
de recuperação das espécies;
 A poluição das águas costeiras é outro dos problemas que afetam a costa
portuguesa, ao largo da qual existem corredores marítimos com uma grande
intensidade de tráfego;
 A degradação do litoral português resulta de vários fatores, naturais e humanos,
como a diminuição da quantidade de sedimentos que atingem a costa, a pressão
humana sobre as dunas, a construção sobre as arribas e a subida do nível médio
das águas do mar.

2.4.3.2 – Soluções
 A investigação no domínio da gestão dos recursos é um elemento importante
para fazer a avaliação do seu estado, do impacte das tecnologias da pesca e do
ordenamento da pesca litoral;
 A implementação de medidas de proteção das espécies, como a definição de
quotas de pesca e de restrições às capturas, deverá contribuir para a estabilização
e renovação dos stocks;
 O reforço da capacidade de vigilância da ZEE é fundamental para garantir a
preservação dos recursos marítimos;
 A gestão do mar e da orla costeira deve ser feita de forma integrada de acordo
com os diversos instrumentos da sua implementação, de que se destacam os
POOC, o POEM, o PAPVL e a ENGIZC;
 A produção de energias renováveis, a partir das ondas e das marés ou dos ventos,
constitui uma das potencialidades do mar e das regiões costeiras que pode ser
mais valorizada;

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 O mar, como fonte de recursos, poderá ser mais valorizado através da exploração
de hidrocarbonetos e minerais, bem como do desenvolvimento de atividades
turísticas e desportivas alternativas ao turismo de sol e praia.

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