Você está na página 1de 47

INSTITUTO MINERE

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOTECNIA E SEGURANÇA DE BARRAGENS E PILHAS

Annika Ferreira Lopes

Análise de uma barragem tipo pond na região de Poconé/MT


Estudo de Caso

Orientador: D. Sc. Marcio Leão

Cuiabá - MT, agosto/2023

1
Resumo

A atividade mineral na região de Mato Grosso está em conformidade com as exigências dos
órgãos estaduais e da Agência Nacional de Mineração (ANM). A extração é realizada em minas
a céu aberto e o beneficiamento do minério de ouro ocorre em um circuito fechado, com os
resíduos armazenados em barragens. O ouro é então concentrado em uma central de
amalgamação, onde a água e o mercúrio são reutilizados. As barragens em Poconé,
conhecidas como barragens do tipo "pond", estão acima da topografia original do terreno e
diferem das barragens em outras regiões de mineração brasileiras. Este trabalho discute os
estudos que levaram à análise de estabilidade dos taludes de uma dessas barragens, a
barragem Ouro Fino, e à elaboração de um mapa de inundação em caso de ruptura hipotética.
Este estudo de caso é parte de um projeto associado à CoopePoconé - Cooperativa de
Desenvolvimento Mineral de Poconé/MT

Abstract

The mineral activity in the Mato Grosso region is in compliance with the requirements of state
agencies and the National Mining Agency (ANM). Extraction is carried out in open-pit mines
and the beneficiation of gold ore occurs in a closed circuit, with the waste stored in dams. The
gold is then concentrated in an amalgamation center, where water and mercury are reused.
The dams in Poconé, known as "pond" type dams, are above the original topography of the
terrain and differ from dams in other Brazilian mining regions. This work discusses the studies
that led to the analysis of the stability of the slopes of one of these dams, the Ouro Fino dam,
and the development of a flood map in the event of a hypothetical rupture. This case study is
part of a project associated with CoopePoconé - Mineral Development
Cooperative of Poconé/MT.

2
SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................................................... 6
2. Localização e acesso ........................................................................................................................ 7
3. Metodologia .................................................................................................................................... 8
3.1. Análise de Estabilidade da Barragem Ouro fino ........................................................................... 8
3.2. Mapa de Inundação da Barragem Ouro fino................................................................................ 8
4. Resultados e Discussões .................................................................................................................. 9
4.1. Análise de estabilidade ................................................................................................................ 9
4.2. Mancha de inundação ............................................................................................................... 28
4.2.1. Modos de Falha Avaliados ............................................................................................. 29
4.2.2. Localização das rupturas hipotéticas ............................................................................. 32
4.2.3. Características da Brecha de Ruptura............................................................................ 33
4.2.4. Volume Mobilizado........................................................................................................ 34
4.2.5. Hidrograma de Ruptura ................................................................................................. 36
4.2.6. Trecho Analisado e Seções Notáveis ............................................................................. 38
4.2.7. Propagação dos Hidrogramas ........................................................................................ 38
4.2.8. Requisitos do Critério de Parada ................................................................................... 43
4.2.9. Mapa de Inundação....................................................................................................... 43
5. Conclusões ..................................................................................................................................... 45
5.1. Análise de estabilidade .............................................................................................................. 45
5.2. Análise de mancha de inundação .............................................................................................. 45
6. Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 46

3
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa de Localização da BCR OURO FINO. .............................................................................. 7
Figura 2 – Mapa de disposição espacial dos ensaios laboratoriais, SPT e Ina’s. ....................................... 9
Figura 3 – Síntese dos resultados dos ensaios de laboratoriais para a fundação ................................. 12
Figura 4 - Fatores de segurança mínimos, segundo a ABNT NBR 13028:2017. ...................................... 13
Figura 5 - Localização das seções estudadas. ......................................................................................... 15
Figura 6 -Análise de estabilidade de talude Seção 01 Cenário I. ........................................................... 16
Figura 7 - Análise de estabilidade de talude Seção 01 Cenário II. ......................................................... 17
Figura 8 - Análise de estabilidade de talude Seção 01 Cenário III. ........................................................ 18
Figura 9 - Análise de estabilidade de talude Seção 02 Cenário I. .......................................................... 19
Figura 10 - Análise de estabilidade de talude Seção 02 Cenário II. ....................................................... 20
Figura 11- Análise de estabilidade de talude Seção 02 Cenário III. ....................................................... 21
Figura 12 - Análise de estabilidade de talude Seção 03 Cenário I. ........................................................ 22
Figura 13 - Análise de estabilidade de talude Seção 03 Cenário II. ....................................................... 23
Figura 14 - Análise de estabilidade de talude Seção 03 Cenário III. ...................................................... 24
Figura 15 - Análise de estabilidade de talude Seção 04 Cenário I. ........................................................ 25
Figura 16 - Análise de estabilidade de talude Seção 04 Cenário II. ....................................................... 26
Figura 17 - Análise de estabilidade de talude Seção 04 Cenário III. ...................................................... 27
Figura 18 - Base topográfica utilizada. .................................................................................................... 28
Figura 19 localização da brecha de ruptura setor sul - mancha principal. .............................................. 32
Figura 20 Locais estudados para as rupturas na seção oeste e leste. .................................................... 33
Figura 21 - Hidrograma de ruptura. ........................................................................................................ 37
Figura 22 - Hidrograma de ruptura do dique leste ................................................................................. 37
Figura 23 - Hidrograma de ruptura do dique oeste. ............................................................................... 38
Figura 24 - Seções Transversais consideradas na jusante da barragem para o setor sul , considerada a
ruptura principal. ................................................................................................................................... 39
Figura 25 - Seções Transversais consideradas para os setores leste e oeste do barramento. ................. 39
Figura 26 Mapa de envoltória máxima (cenário de Ruptura Sul). .......................................................... 43
Figura 27 - Mapa da envoltória máxima (Cenário de Ruptura Leste)...................................................... 44
Figura 28 Mapa da envoltória máxima (Cenário de Ruptura Oeste). ..................................................... 44

4
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Documentos referentes ao estudo de estabilidade da bacia OURO FINO. ............................... 8


Tabela 2 Resumo dos valores de fator de segurança estimados nas análises de estabilidade ............... 15
Tabela 3 - Principais Características da bacia de rejeito Ouro Fino ......................................................... 29
Tabela 4- Tipo de escoamento em função do CV para o pior cenário da porção sul. ............................ 30
Tabela 5 - Tipo de escoamento em função do CV para o cenário leste. ................................................. 31
Tabela 6 - Tipo de escoamento em função do CV para o cenário oeste ................................................. 31
Tabela 7-Dados de entrada das equações de previsão da brecha – dique sul. ...................................... 33
Tabela 8 - Dados de entrada das equações de previsão da brecha – dique leste. .................................. 34
Tabela 9 - Dados de entrada das equações de previsão da brecha – dique oeste. ................................. 34
Tabela 10 - Curva cota-volume primitiva - rejeito.................................................................................... 34
Tabela 11 - Volume Propagado – Cenário de ruptura sul........................................................................ 35
Tabela 12 - Volume Propagado – Cenário de ruptura do dique leste. .................................................... 36
Tabela 13 - Volume Propagado – Cenário de ruptura do dique oeste. ................................................... 36
Tabela 14 - Resultados da simulação hidrológica do hidrograma de ruptura- cenário sul ...................... 36
Tabela 15 - Resultados da simulação hidrológica do hidrograma de ruptura do dique leste. ................. 37
Tabela 16 - Resultados da simulação hidrológica do hidrograma de ruptura do dique oeste. ................ 37
Tabela 17 - Resultados da Simulação do Cenário de Ruptura do dique LESTE e modo de falha por erosão
interna. .................................................................................................................................................. 40
Tabela 18 - Resultados da Simulação do Cenário de Ruptura do dique LESTE e modo de falha por erosão
interna. .................................................................................................................................................. 41
Tabela 19- Resultados da Simulação do Cenário de Ruptura do dique OESTE e modo de falha por
erosão interna........................................................................................................................................ 42

5
1. Introdução

A ocorrência de minério de ouro na região de Poconé/MT é conhecida desde o século XVIII, e a


fundação da cidade de Poconé e o desbravamento das regiões circunvizinhas teve seu início
associado à exploração das “Minas Auríferas de Beripoconé”, descobertas em 1791.

Atualmente, a atividade mineral desenvolvida nessa região segue um padrão ajustado às


exigências dos órgãos licenciadores/fiscalizadores do estado de Mato Grosso, principalmente
da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente
(SEMA/MT).

Neste sentido, os empreendimentos minerários dessa região desenvolveram padrões de


extração, beneficiamento e concentração final do ouro. A extração mineral é realizada em mina
a céu aberto. O beneficiamento de minério de ouro (Au) é realizado em um circuito fechado,
em que os resíduos são armazenados em uma estrutura de barragem. Nessa barragem os
rejeitos que saem da planta de beneficiamento são lançados em um ponto (espigoto), enquanto
a porção líquida segue em trajetória acompanhando a declividade do terreno, de modo a
promover a decantação dos sólidos, até o ponto de captação da água de recirculação, que é
novamente conduzida até a planta de beneficiamento. Já a concentração final do ouro é
realizada em uma central de amalgamação, instalada no empreendimento como estrutura de
controle ambiental, cuja água é reutilizada em circuito fechado, da mesma forma que o
mercúrio (Hg) usado na amalgamação do ouro, que é reutilizado após a queima em capela
hermética.

As barragens da região de Poconé são do tipo pond, ou seja, são estruturas geotécnicas cuja
cota superior está acima da topografia original do terreno. Essas estruturas, de controle
ambiental, são instaladas fora de linhas de talvegue e fundos de vale, de modo que não têm
finalidade de represar corpos hídricos para a contenção de rejeitos de mineração. Isso as
diferencia das várias barragens existentes em outras regiões mineradoras brasileiras. Desta
forma, os estudos recomendados pela ANM para essas estruturas, na região de Poconé se
diferem da maioria daqueles utilizados em outras regiões brasileiras.

6
Considerando essas especificidades, este trabalho tem como objetivo a discussão dos
resultados dos estudos que levaram à análise de estabilidade dos taludes de uma barragem; e
à confecção de seu mapa de inundação, em caso de hipotética ruptura. Essa barragem em
estudo, é do tipo pond e foi cadastrada no SIGBM sob a denominação, OURO FINO. Assim, este
estudo de caso da barragem Ouro Fino se refere a um empreendimento associado da CoopePoconé –
Cooperativa de Desenvolvimentos Minerais de Poconé/MT.

2. Localização e acesso

A barragem OURO FINO está localizada na parte sul no município de Poconé, no estado de
Mato Grosso. O acesso à área pode ser feito a partir da região metropolitana da grande Cuiabá
por estrada pavimentada, após o “trevo do lagarto”, pela BR-070 percorrendo-se cerca de
12km até o entroncamento da MT-060. Toma-se esta rodovia estadual, MT-060, em direção à
Poconé e percorre 70km até alcançar a área urbana desta cidade. A partir deste ponto, a
rodovia se torna Av. Aníbal de Toledo na malha urbana a qual se percorre até alvcançar a Av.
Generoso Poconé, quando se percorre 1,4Km até alcançar o trevo da rodovia Transpantaneira
que leva ao empreendimento após se percorrer 3,57Km, o qual fica à direita desta rodovia,
como pode ser observado na Figura 1.

Figura 1 – Mapa de Localização da BCR OURO FINO.

7
3. Metodologia

Os documentos de referência para o desenvolvimento deste estudo de caso se basearam nos


trabalhos geotécnicos realizados pela CooperPoconé, entre os anos de 2019 e 2023. A Tabela
1 mostra os relatórios que foram consultados para a análise de estabilidade da barragem Ouro
fino e para o mapa de inundação em caso hipotético de ruptura.

Tabela 1 - Documentos referentes ao estudo de estabilidade da bacia OURO FINO.


Tipo Nome / Descrição Ano de elaboração
PROJETO “AS IS”
Relatório 2020
Bacia de Contenção de Rejeito OURO FINO

Relatório Mapa de Inundação: Bacia de Contenção – OURO FINO 2022

Relatório Batimetria OURO FINO 2020


Desenho Ortomosáico e Modelo Digital do Terreno - MDT 2022
Plano de Instrumentação: Bacia de Contenção de Rejeitos
Relatório 2019
OURO FINO
Estudo de Chuvas Intensas: Determinação de Chuva
Relatório Decamilenar Bacia de Contenção de Rejeitos OURO FINO 2023
Atualização
RAG: Relatório de Atividades Geotécnicas – Bacia de
Relatório 2019
contenção de rejeitos OURO FINO
Relatório Ensaios de Laboratório 2022

3.1. Análise de Estabilidade da Barragem Ouro fino

Para a análise de estabilidade da barragem Ouro Fino foram consideradas as geometrias atuais
do maciço, com base na topografia atualizada e nas leituras dos poços de monitoramento de
nível d’água (N.A.). As seções geotécnicas do barramento foram modeladas com base nas
investigações geotécnicas existentes, nos ensaios realizados em campo e em laboratório; e em
correlações bibliográficas. A análise de estabilidade da barragem Ouro Fino foi realizada para
cada setor do barramento, definido em três porções, sul, leste e oeste, por se tratar de um
barramento tipo “pond” regionalmente denominado, bacia de contenção de rejeitos.

3.2. Mapa de Inundação da Barragem Ouro fino

Para o mapa de inundação foram utilizados todos os dados dos ensaios de laboratório e a carta
planialtimétrica com topografia atualizada, via fotos aéreas de drone, que permitiu gerar as
áreas de inundação e o perímetro da Zona de Autossalvamento (ZAS). A área de inundação foi
projetada para todos os lados do maciço, levando em consideração todos os possíveis cenários,

8
tendo sido utilizada a forma de galgamento como o pior cenário possível, a qual considera
sempre o setor de topografia mais baixa, que também é considerada à de jusante. Os demais
setores foram analisados considerando a ruptura de tipo piping.

4. Resultados e Discussões

4.1. Análise de estabilidade

Na análise de estabilidade considerou-se os resultados obtidos pelas sondagens SPT (Standat


Penetration Test) realizada no corpo do barramento. Considerou-se também, os resultados dos
monitoramentos realizados nos indicadores de níveis d’água (INA’s). Considerou-se ainda, os
resultados das amostras deformadas e indeformadas, tanto daquelas coletadas no corpo do
barramento, como daquela coletada em nível de referência, da rocha alterada para a sã,
tomada como padrão regional, cujo ponto amostrado situa-se a norte da barragem Ouro Fino
e é representativa da fundação desta barragem. As amostras foram analisadas por laboratórios
credenciados (INOVA de Cuiabá/MT e SUPORTE de São Paulo/SP). A Figura 2 mostra as
localizações das sondagens, blocos de amostras dos ensaios laboratoriais e instrumentos na
Barragem Ouro Fino.

Figura 2 – Mapa de disposição espacial dos ensaios laboratoriais, SPT e Ina’s.

9
Os ensaios de laboratório para o barramento utilizados na análise de estabilidade foram:

• Granulometria por peneiramento e sedimentação. O resultado está a seguir


apresentado com base na NBR 7181.

• Limites de Atterberg (liquidez e plasticidade). O resultado está sintetizado a seguir de


acordo com a NBR 6459,7180 e DNER 80/93.

• Teor de umidade natural. Os ensaios para determinação do teor de umidade fpram de


acordo com a NBR 16097, como a seguir mostrado.

• Compactação. Os ensaios de compactação foram com base nas recomendações do


DNIT – ME -164/2013 e na NBR 7182, cujos resultados estão a seguir consolidados no gráfico.

10
• Cisalhamento direto e densidade real dos grãos. Baseou-se nas recomendações da
ASTM - D3080-11 e na NBR-6458/17, cujos resultados estão consolidados no gráfico a seguir.

• Ensaios de coeficiente de permeabilidade a carga variável. Baseou-se nas


recomendações da NBR 14545, cujo resultado segue:

Com base nesses ensaios e nos critérios de análise, para o material do aterro, adotou-se valores
de peso específico (γ) igual a 25,76kN/m³, coesão (c’) de 40,8kPa, ângulo de atrito (Φ’) de 31°
e k = 6,30 x 10-9 m/s e kv/kh = 1,0. O coeficiente de permeabilidade nos diferentes planos, foi
utilizado na análise kv=kh, para alimentar o Programa SLIDE 2 adotado no estudo.

Com relação aos resultados das amostras deformadas e indeformadas, para caracterizar a
fundação da barragem Ouro Fino, foram obtidos dos ensaios realizados à uma distância
aproximada de 1km do eixo deste barramento; os quais estão a seguir consolidados na Figura
3.

11
Figura 3 – Síntese dos resultados dos ensaios de laboratoriais para a fundação

Com base nesses ensaios e nos critérios de análise, para o material da fundação, adotou-se
valores de peso específico (γ) igual a 25.6 kN/m³, coesão (c’) de 31.3 kPa, ângulo de atrito (Φ’)
de 30° e k = 7.09 x 10-9 m/s e kv/kh = 1,0, O coeficiente de permeabilidade nos diferentes
planos, foi adotado na análise kv=kh, para alimentar o Programa SLIDE 2 adotado no estudo.

12
Os resultados de análises do rejeito foram obtidos do Projeto “AS IS” de 2020, em que se
adotou valores de peso específico (γ) igual a 25 kN/m³, coesão (c’) de 20 kPa, ângulo de atrito
(Φ’) de 34° e k = 6,30 x 10-9 m/s e kv/kh = 1,0.

Para a análise física o principal objetivo da análise de estabilidade geotécnica é verificar se a


resistência ao cisalhamento do maciço é superior às forças cisalhantes atuantes, de forma a
garantir a sua estabilidade. A essa razão se dá o nome de Fator de Segurança (FS):

𝜏𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
𝐹𝑆 = > 1: obra estável
=< 1: ocorre ruptura
𝜏𝑎𝑡𝑢𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠

Atinente às análises de estabilidade física, foram adotados os parâmetros mínimos e fases


orientadas pela norma brasileira ABNT NBR 13028:2017, como mostra a Tabela 1 da Figura 4.

Figura 4 - Fatores de segurança mínimos, segundo a ABNT NBR 13028:2017.

Assim, as superfícies potenciais em análise foram simuladas com auxílio do software Slide 2,
embasadas por meio dos estudos de campo, índices obtidos em ensaios e por meio de
correlações bibliográficas. Foram consideradas as possibilidades de ruptura local e global nos
seguintes casos:
I. Cenário I:
Neste cenário foi simulada a fase de operação normal do barramento, na qual há a condição
de carregamento normal, considerando-se a combinações de ações com grande probabilidade
de ocorrência ao longo da vida útil da estrutura, com condições hidrológicas normais (superfície

13
freática normal no nível de operação do reservatório). Neste caso, o fator de segurança mínimo
deve ser de 1,5 na avaliação do talude de jusante.
II. Cenário II:
Neste cenário foi simulada a fase de operação com baixa probabilidade de ocorrência ao longo
da vida útil da estrutura, sendo combinada a ocorrência de uma ação excepcional
(representada pela condição hidrológica excepcional com reservatório no nível máximo
maximorum) com a condição de carregamento normal. Neste caso, o fator de segurança
mínimo deve ser de 1,5 na avaliação do talude de jusante e fundações.
III. Cenário III:
Neste cenário foi simulada a condição de carregamento limite correspondente a uma
probabilidade de ocorrência ao longo da vida útil da estrutura muito baixa, na qual há a
combinação de mais de uma ação excepcional, neste caso, representada pela condição
hidrológica excepcional (com reservatório no nível máximo maximorum) e a ocorrência de
sismo. Para este caso, o fator de segurança mínimo deve ser de 1,1 na avaliação do talude de
montante, jusante e fundações.

Concernente ao Cenário III, na situação de ocorrência de sismo, foi adotada a recomendação


descrita no “Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens - Volume V - Diretrizes
para a Elaboração de Projetos de Barragens” (ANA, 2016) atinente a avaliação do
comportamento da barragem face a ocorrência de sismos naturais ou induzidos. Neste caso foi
adotada a análise pseudoestáticas com a adoção de cargas sísmicas correspondentes a
acelerações de 0,05g na direção horizontal e 0,03g na direção vertical.
Como há uma compartimentação na barragem Ouro Fino, separada por um dique, depreende-
se que há um compartimento norte denominado bacia acima e um compartimento ao sul, aqui
denominado bacia abaixo. Cada um será tratado com níveis de máximo e operacional e máximo
maximorum diferentes.

O nível operacional do reservatório encontra-se na cota 152 m. e o nível máximo maximorum


encontra na cota 155 m. Já o volume de amortecimento de cheia é de 552.600 m³.

Para o estudo de percolação, foi adotado o modelo de escoamento em regime permanente,


analisado por meio de soluções numéricas através do método de elementos finitos. Neste
contexto, a condutividade hidráulica é função da pressão do escoamento e então se determina

14
iterativamente a posição da linha de saturação para escoamentos não confinados, como é o
caso da barragem Ouro Fino.

As seções estudadas quanto à estabilidade seguiram o posicionamento conforme Projeto AS-


IS, ilustrado se encontra na Figura 5.

Figura 5 - Localização das seções estudadas.

Os fatores de segurança mínimos computados para os maciços da bacia de contenção de


rejeitos OURO FINO, considerando ruptura global e local, em condições normais, excepcionais
e em situação de sismo conforme cenários descritos, estão resumidos na

e expostos nas figuras 6 a 17.

Tabela 2 Resumo dos valores de fator de segurança estimados nas análises de estabilidade
FS DE REF. 1.5 FS DE REF. 1.5 FS DE REF. 1.1

SEÇÃO DE REF. CENÁRIO I CENÁRIO II CENÁRIO III

SEÇÃO S01 1.79 1.69 1.49

SEÇÃO S02 1.67 1.59 1.42

SEÇÃO S03 1.86 1.82 1.64

SEÇÃO S04 2.25 2.24 1.98

15
Figura 6 -Análise de estabilidade de talude Seção 01 Cenário I.

16
Figura 7 - Análise de estabilidade de talude Seção 01 Cenário II.

17
Figura 8 - Análise de estabilidade de talude Seção 01 Cenário III.

18
Figura 9 - Análise de estabilidade de talude Seção 02 Cenário I.

19
Figura 10 - Análise de estabilidade de talude Seção 02 Cenário II.

20
Figura 11- Análise de estabilidade de talude Seção 02 Cenário III.

21
Figura 12 - Análise de estabilidade de talude Seção 03 Cenário I.

22
Figura 13 - Análise de estabilidade de talude Seção 03 Cenário II.

23
Figura 14 - Análise de estabilidade de talude Seção 03 Cenário III.

24
Figura 15 - Análise de estabilidade de talude Seção 04 Cenário I.

25
Figura 16 - Análise de estabilidade de talude Seção 04 Cenário II.

26
Figura 17 - Análise de estabilidade de talude Seção 04 Cenário III.

27
Isso significa que os fatores de segurança (FS) estão acima dos parâmetros sugeridos pela
norma. Desta forma, os estudos de estabilidade demonstram que atualmente a estrutura
se apresenta estável do ponto de vista de estabilidade geotécnica, considerando- se o
talude global e os níveis freáticos.

4.2. Mancha de inundação

Para o desenvolvimento do presente estudo foi utilizado o levantamento


aerofotogramétrico realizado em 15 de abril de 2022, feito por VANT (veículo aéreo não
tripulado) realizado pela empresa CentroGEO com precisão de 8,07cm. Esse
levantamento permitiu elaborar um produto de alta resolução, onde a estrutura e parte
da região a jusante da barragem foram mapeadas.

O levantamento foi realizado na bacia e em seu entorno, com uma abrangência de 500m,
a partir da base dos taludes (Figura 18).

Figura 18 - Base topográfica utilizada.

28
A bacia de rejeito Ouro Fino foi projetada acima do terreno, em arranjo do tipo “pond”
com maciços de terra compactada e sendo o material de empréstimo proveniente de
estéreis das cavas. O terreno possui suaves inclinações e a estrutura se encontra em uma
depressão, fora de linha de talvegue ou drenagens intermitentes.

A partir dos documentos da CooperPoconé foi possível definir as características


geométricas da estrutura, bem como compreender as parcelas de sólidos e de água que
atualmente ocupa o reservatório. A Tabela 4 apresenta as principais características da
bacia de rejeitos Ouro Fino.

Tabela 3 - Principais Características da bacia de rejeito Ouro Fino


Bacia de contenção de rejeitos OURO FINO
Elevação de fundo (m) 132
NA operacional (m) 152
Elevação da crista (m) 156 / 157
Borda livre operacional (m) 4
Volume armazenado no reservatório (m³) 696.805,00
Volume de água até o NA da batimetria (m³) 28.942,00
Volume livre acima do NA da batimetria até a crista (m³) 187.208,00

4.2.1. Modos de Falha Avaliados

Os modos de falha associados para esta estrutura foram:

a) Galgamento

A bacia de contenção de rejeitos Ouro Fino não conta com sistema extravasor de
superfície, sendo utilizada uma tubulação de retorno de água com canos de 4”.
Entretanto, a segurança frente às cheias ocorre por manutenção de uma borda livre
suficiente para amortecer uma chuva decamilenar.

O galgamento considerou a análise supercrítica do estudo de “Dam Break”, uma vez que
se trata de um modelo de barramento do tipo Pond, sendo esta modalidade de falha
considerada de maior propensão a ocorrer no setor sul da barragem em função da cota
altimétrica mais baixa.

29
A Tabela 4 mostra o tipo de escoamento em função da porcentagem da Concentração
Volumétrica para o escoamento de rejeito no pior cenário da porção sul da barragem.

Tabela 4- Tipo de escoamento em função do CV para o pior cenário da porção sul.


Região Parâmetros Cenário de Ruptura

Densidade dos sólidos – ρs (kg/m³) 2.500

Teor de sólidos em massa – Ts (%) 84,5%

Reservatório Volume depositado a ser propagado (m³) 696.805

Volume de sólidos (m³) 477.728

𝐶𝑣 (%) 68,6%

Densidade dos sólidos – ρs (kg/m³) 1.800

Teor de sólidos em massa – Ts (%) 97%

Brecha de Ruptura Volume da brecha de ruptura (m³) 4.080

Volume de sólidos (m³) 3.876

𝐶𝑣 (%) 95,0%

Somatório dos volumes de água presente nos


215.200
reservatórios até a crista da estrutura (m³)

TOTAL Volume de sólidos 481.604

Volume (m³) 696.805

𝐶𝑣 (%) 69,1%

Tipo de Escoamento em função da 𝐶𝑣 Escorregamento

b) Piping

A segunda maior probabilidade de ruptura da barragem é do tipo piping, uma vez que
em um cenário crítico poderia haver no corpo da barragem a formação de dutos por
heterogeneidade na compactação de seus taludes. Neste caso, o modo de falha por
piping, foi adotado para refletir as demais faces leste e oeste da bacia.

O escoamento foi definido integralmente como Mud Flow, logo, o material propagado
terá comportamento de fluido não-newtoniano, conforme as Tabelas 5 e 6.

30
Tabela 5 - Tipo de escoamento em função do CV para o cenário leste.
REFERÊNCIA PARÂMETROS CENÁRIO- LESTE
Densidade rejeito – ρs (kg/m³) 2,500
Densidade água – ρs (kg/m³) 1,000
Reservatório Teor de sólidos em massa – Ts (%) 84.5%
Volume - rejeito (m³) 696,805.00
Volume de sólidos (m³) 477,728
Cv (%) 68.6%
Densidade dos sólidos – ρs (kg/m³) 1,800
Densidade água – ρs (kg/m³) 1,000
Brecha de
Teor de sólidos em massa – Ts (%) 97%
Ruptura (aterro) Volume da brecha de ruptura (m³) 2,736
Volume de sólidos (m³) 2,592
Cv (%) 95%
Volumes de água livre até cota piping (155) (m³) 150,640.00
TOTAL Volume de sólidos 480,320
Volume total (m³) 850,181
Cv (%) 56.50%
Tipo de Escoamento em função do CV Mud Flow

Tabela 6 - Tipo de escoamento em função do CV para o cenário oeste


REFERÊNCIA PARÂMETROS CENÁRIO OESTE
Densidade rejeito – ρs (kg/m³) 2,500
Densidade água – ρs (kg/m³) 1,000
Reservatório Teor de sólidos em massa – Ts (%) 84.0%
Volume - rejeito (m³) 696,805.00
Volume de sólidos (m³) 472,029
Cv (%) 67.7%
Densidade dos sólidos – ρs (kg/m³) 1,800
Densidade água – ρs (kg/m³) 1,000
Brecha de
Teor de sólidos em massa – Ts (%) 97%
Ruptura (aterro) Volume da brecha de ruptura (m³) 2,145
Volume de sólidos (m³) 2,032
Cv (%) 95%
Volumes de água livre até cota 155m (m³) 150,640.00
TOTAL Volume de sólidos 474,061
Volume total (m³) 849,590
Cv (%) 55.80%
Tipo de Escoamento em função do CV MudFlow

31
4.2.2. Localização das rupturas hipotéticas

Mesmo sendo o cenário adotado muito improvável de acontecer, devido à extrapolação


e a adoção de estudos conservadores no documento de estudos de trânsito de cheias,
essa condição foi adotada para atendimento à legislação vigente e para apresentar outros
cenários de maior impacto possível, dentro do atual arranjo da estrutura. O objetivo
desse cenário é ser tão conservador quanto prudente, pois retrata um cenário de
extrema criticidade.

Os locais estudados para os cenários de ruptura se encontram ilustrados nas Figuras 19


e 20.

Figura 19 localização da brecha de ruptura setor sul - mancha principal.

32
Figura 20 Locais estudados para as rupturas na seção oeste e leste.

No contexto da previsão de impactos, o objetivo dos estudos dos mecanismos de ruptura,


atrelados ao desenvolvimento da brecha, não é outro senão o de determinar o
hidrograma de ruptura a ser propagado a jusante.

4.2.3. Características da Brecha de Ruptura

Foi realizada a definição e validação dos parâmetros da brecha de ruptura para o cenário
considerado no estudo. Os dados de entrada das equações de previsão de brechas são
definidos a partir dos métodos empíricos referenciados na literatura e podem ser
extraídos a partir da relação cota X volume do reservatório.

As Tabela 7, 8 e 9 apresentam as informações de entrada das equações de previsão, para


o cenário considerado por galgamento, respectivamente para os diques sul, leste e oeste.

Tabela 7-Dados de entrada das equações de previsão da brecha – dique sul.


Dados de entrada Cenário de Ruptura

Elevação da crista (m) 156,00

Elevação da fundação (m) 132,00

33
Altura da brecha - Hb (m) 24,00

Altura da lâmina de água no momento da ruptura – Hw (m) 4,00

Inclinação lateral (Z) 1,00

Elevação do N.A. para gatilho de desenvolvimento da brecha (m) 156,00

Modo de falha considerado Galgamento

Tabela 8 - Dados de entrada das equações de previsão da brecha – dique leste.


Dados de entrada Dique Leste

Elevação da crista (m) 157


Altura da brecha - Hb (m) 16

Altura da lâmina de água no momento da ruptura – Hw (m) 3,0


Inclinação lateral (Z) 0,9
Elevação do N.A. para gatilho de desenvolvimento da brecha 153
(m) de falha considerado
Modo Erosão Interna

Tabela 9 - Dados de entrada das equações de previsão da brecha – dique oeste.


Dados de entrada Dique Oeste

Elevação da crista (m) 156


Altura da brecha - Hb (m) 11
Altura da lâmina de água no momento da ruptura – Hw (m) 3,0
Inclinação lateral (Z) 0,5
Elevação do N.A. para gatilho de desenvolvimento da brecha (m) 155
Modo de falha considerado Erosão Interna

4.2.4. Volume Mobilizado

A Tabela 10 apresenta a cota-volume primitiva da estrutura.

Tabela 10 - Curva cota-volume primitiva - rejeito.


Cota (m) Volume Mobilizado (1.000 m³)

132 0.00
33 9.87
134 21.55
135 31.42
136 42.19
137 50.27
138 58.35

34
Cota (m) Volume Mobilizado (1.000 m³)

139 112.21
140 162.49
141 225.32
142 228.91
143 250.73
144 280.08
145 299.84
146 335.74
147 343.69
148 347.10
149 402.69
150 461.03
151 517.46
152 573.25
153 603.29
154 635.31
155 689.95
156 696.80

A seguir a Tabela 11, consolida os volumes mobilizados no presente estudo de ruptura


hipotética.

Tabela 11 - Volume Propagado – Cenário de ruptura sul.


Parcela Volume (m³)

Brecha de ruptura (m³) 4.080

Volume de Sólidos (m³) 481.604

Água (m³) 215.200

Total Propagado (m³) 696.805

As Tabelas 12 e 13 consolidam os volumes mobilizados considerando-se o volume da


brecha e a ruptura em um dia de sol, adicionado ao volume da bacia o volume de espera
até a cota de elevação 155m, um metro anterior à cota que causaria galgamento (El.
156m) no dique sul.

35
Tabela 12 - Volume Propagado – Cenário de ruptura do dique leste.
Parcela Volume (m³)

Brecha de ruptura (m³) 2.736,00


Água livre até 155m (m³) 150.640,00
Volume - rejeito (m³) 696.805,00
Total Propagado (m³) 850.181,00

Tabela 13 - Volume Propagado – Cenário de ruptura do dique oeste.


Parcela Volume (m³)

Brecha de ruptura (m³) 2.145,00


Água livre até 155m (m³) 150.640,00
Volume - rejeito (m³) 696.805,00
Total Propagado (m³) 849,590

4.2.5. Hidrograma de Ruptura

Após as definições das características da brecha de ruptura, foi determinado o


hidrograma proveniente da ruptura hipotética, a partir do modelo hidrológico contido no
HEC-HMS. As Tabelas adiante apresentam os resultados das simulações realizadas no
software HEC-HMS, e as demais figuras ilustram o hidrograma defluente da estrutura,
para o cenário sul.

Tabela 14 - Resultados da simulação hidrológica do hidrograma de ruptura- cenário sul


Volume mobilizado (x 10³ m³) Vazão de pico defluente (m³/s)

696,80 632,1

36
Figura 21 - Hidrograma de ruptura.

Tabela 15 - Resultados da simulação hidrológica do hidrograma de ruptura do dique leste.


Volume mobilizado (x 10³ m³) Vazão de pico defluente (m³/s)
846 1245.7

159
1200
1100 156
1000 153
900
150
Vazão(m³/s)

800
700 147 NA (m)
600
144
500
400 141
300 138
200
100 135
0 132
0:00:00
0:07:00
0:14:00
0:21:00
0:28:00
0:35:00
0:42:00
0:49:00
0:56:00
1:03:00
1:10:00
1:17:00
1:24:00
1:31:00
1:38:00
1:45:00
1:52:00
1:59:00
2:06:00
2:13:00
2:20:00
2:27:00
2:34:00
2:41:00
2:48:00
2:55:00

Tempo

Vazão (m³/s) Nível d'água(m) Cota da crista(m)

Figura 22 - Hidrograma de ruptura do dique leste

Tabela 16 - Resultados da simulação hidrológica do hidrograma de ruptura do dique


oeste.
Volume mobilizado (x 10³ m³) Vazão de pico defluente (m³/s)
554 525

37
550 159
500
156
450
Vazão(m³/s) 400 153
350

NA (m)
300 150
250 147
200
150 144
100
141
50
0 138
0:00:00
0:12:00
0:24:00
0:36:00
0:48:00
1:00:00
1:12:00
1:24:00
1:36:00
1:48:00
2:00:00
2:12:00
2:24:00
2:36:00
2:48:00
3:00:00
3:12:00
3:24:00
3:36:00
3:48:00
4:00:00
4:12:00
4:24:00
4:36:00
4:48:00
5:00:00
5:12:00
Tempo

Vazão (m³/s) Cota da crista(m) Nível d'água(m)

Figura 23 - Hidrograma de ruptura do dique oeste.

4.2.6. Trecho Analisado e Seções Notáveis

A área de abrangência da mancha definida pelos estudos de Dam Break da porção sul
(principal) da barragem possui aproximadamente 3.000 m de extensão, tendo à jusante
áreas antropizadas. Para o dique leste a mancha possui aproximadamente 910 metros de
extensão, tendo à jusante bacias de recirculação de água e cavas exauridas. Já no cenário
do dique oeste, a mancha possui aproximadamente 3400 metros de extensão, tendo à
jusante área rural.

Ao longo da área analisada foram traçadas seções transversais com o objetivo de se


realizar avaliações hidráulicas das propagações da cheia, resultante dos cenários
estudados. As seções transversais podem ser visualizadas na Figura 24 para setor sul e
Figura 25 para os setores leste e oeste.

4.2.7. Propagação dos Hidrogramas

Os principais resultados obtidos por meio da simulação hidráulica da onda de ruptura


hipotética da Bacia de Contenção de Rejeitos Ouro Fino estão apresentados nas Tabelas
17, 18 e 19, sendo os cenários sul, leste e oeste respectivamente

38
Figura 24 - Seções Transversais consideradas na jusante da barragem para o setor sul ,
considerada a ruptura principal.

Figura 25 - Seções Transversais consideradas para os setores leste e oeste do barramento.


39
Tabela 17 - Resultados da Simulação do Cenário de Ruptura do dique LESTE e modo de falha por erosão interna.
CENÁRIO DE RUPTURA - SUL
Tempo de Tempo de
Distância em Profundida Elevação Velocidad Vazão
Cota de Fundo Chegada da Chegada da
relação ao de Máxima Máxima e Máxima Máxima
Seção Descrição de do curso de Onda Onda
eixo da Atingida na Atingida na Atingida Atingida
Transversal referência água da seção de Ruptura de Ruptura -
Barragem Seção Seção na Seção na Seção
- 2 Pés Pico

(m) (m) (m) (m) (m/s) (hh:mm) (hh:mm) (m³/s)

Eixo da Barragem Eixo da Barragem 0,0 N/A (1)


N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)

ST-01 307 127,16 1,69 128,95 4,52 0:22 0:22 599,72

ST-02 1.185 119,34 1,42 121,28 1,59 0:31 0:32 372,73

ST-03 1.650 117,00 1,65 119,78 1,17 0:40 0:43 191,85

ST-04 2.385 115,74 1,73 117,87 0,34 6:43 3:00 14,77


(1) N/A: Não se Aplica.

(1) N/A: Não se Aplica.

40
Tabela 18 - Resultados da Simulação do Cenário de Ruptura do dique LESTE e modo de falha por erosão interna.
CENÁRIO - LESTE

Cota de Tempo de Tempo de


Distância em Profundidade Elevação Velocidade
Chegada da Chegada da
Vazão
Fundo do Máxima Máxima Máxima
relação ao Máxima Onda Onda
Seção Descrição de curso de
eixo da Atingida na
Transversal referência água da Atingida na Atingida na de Ruptura - de Ruptura - Atingida
Barragem Seção
seção Seção Seção 2 Pés Pico na Seção

(m) (m) (m) (m) (m/s) (hh:mm) (hh:mm) (m³/s)

Eixo da Eixo da
0,0 N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
Barragem Barragem

ST-01 62 137.34 3.75 141.09 8.2 0:06 0:21 1245

ST-02 570 119.8 18.1 137.87 8.6 0:16 0:23 766

ST-03 521 137.5 0.36 137.86 0.14 0:22 0:25 0.04

ST-04 820 123.35 14.5 137.85 4.12 0:22 0:23 160


(1)
N/A: Não se Aplica.

41
Tabela 19- Resultados da Simulação do Cenário de Ruptura do dique OESTE e modo de falha por erosão interna.

CENÁRIO - OESTE

Cota de Tempo de Tempo de


Distância em Profundidade Elevação Velocidade
Chegada da Chegada da
Vazão
Fundo do Máxima Máxima Máxima
relação ao Máxima Onda Onda
Seção Descrição de curso de
eixo da Atingida na
Transversal referência água da Atingida na Atingida na de Ruptura - de Ruptura - Atingida
Barragem Seção
seção Seção Seção 2 Pés Pico na Seção

(m) (m) (m) (m) (m/s) (hh:mm) (hh:mm) (m³/s)

Eixo da Eixo da
0,0 N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
N/A (1)
Barragem Barragem

ST-05 110 134.2 3.9 138.1 17.3 0:08 0:25 520

ST-06 1.207 119.2 2.4 121.6 2.21 0:27 0:29 427

ST-07 3.308 118 0.1 118.1 0.01 12:04 17:03 0.01


(1)
N/A: Não se Aplica.

42
4.2.8. Requisitos do Critério de Parada

A partir dos resultados obtidos, é possível identificar que, para o Cenário sul a seção ST -04,
para o setor leste a seção ST-03 atendeu o critério de parada e para o cenário oeste, a ST-07.

4.2.9. Mapa de Inundação

Como resultado dos estudos de Dam Break da Bacia de Contenção de Rejeitos Ouro Fino, foi
gerado o mapa de contextualização apresentado nas Figuras 26, 27 e 28.

Figura 26 Mapa de envoltória máxima (cenário de Ruptura Sul).

43
Figura 27 - Mapa da envoltória máxima (Cenário de Ruptura Leste).

Figura 28 Mapa da envoltória máxima (Cenário de Ruptura Oeste).

44
5. Conclusões

5.1. Análise de estabilidade

As análises de estabilidade da estrutura apresentaram fatores de segurança que estão acima


dos mínimos preconizados pela NBR13.028:2017 em todos os cenários.

5.2. Análise de mancha de inundação

De acordo com os resultados apresentados no presente estudo de caso, podem ser elencadas
as seguintes constatações:

A mobilização da onda determinou, nos primeiros metros da propagação, uma vazão


de 599,72m³/s, com altura da onda de 1,69 m e velocidades de até 4,52 m/s para o Cenário sul,
uma vazão de 1245 m³/s, com altura da onda de 3,75 m e velocidades de até 8,2 m/s para o
Cenário leste, e, 520 m³/s, altura da onda de 3,9 m e velocidades de até 17 m/s para o Cenário
oeste. Assim, considera-se que a capacidade destrutiva da onda é significativa para os cenários
dado o perigo hidrodinâmico, embora a onda não tenha alcançado nenhum povoado,
habitações esparsas, construções de comércio ou aparelhos de infraestrutura cuja
permanência de pessoas seria considerada eventual. A onda atinge, para todos os cenários
considerados, basicamente campos vegetados e cavas exauridas existentes ao longo do
perímetro do empreendimento. Especialmente ao lado leste, a onda atinge bacias de
recirculação de água e a cava do próprio empreendimento logo a jusante, ademais, a onda não
se espraia no sentido da planta industrial, próxima e ao norte da brecha do dique leste.

Para o cenário Sul, a inundação fica restrita a região ao sul do barramento com 2.385 metros,
atingindo apenas planícies de baixa declividade.

Para o cenário oeste, a inundação fica limitada as regiões entre a barragem a até no máximo
3400 metros se acomodando ao longo da planície de baixas declividades e, para o cenário leste,
limita-se entre a barragem e até 910 metros sentido as calhas formadas pelas cavas próximas,
onde as alturas de onda chegam a maiores valores (≅ 18 metros na seção ST-02).

A ZAS do presente estudo compreende toda a mancha de inundação para o cenário Sul, foi
considerado como ZAS para o setor leste a área em malha quadriculada e para o cenário oeste
foi considerada toda a mancha de inundação.

45
Espera-se que o resultado das manchas de inundação e as variáveis hidrodinâmicas associadas
às seções de interesse devam ser empregados para a avaliação do Dano Potencial Associado
(DPA) desta estrutura e, caso necessário, na elaboração do PAEBM.

6. Referências Bibliográficas

Barrera, S & Riveros, C 2006, 'Stability of Tailings Beach Slopes', in R Jewell, S Lawson & P
Newman (eds), Proceedings of the Ninth International Seminar on Paste and Thickened
Tailings, Australian Centre for Geomechanics, Perth, pp. 169-179

COLORADO. Guidelines for Dam Breach Analysis. Office of the State Engineer Dam Safety
Branch. Fevereiro, 2010.

DIAS, F.M.; MICELI, B.S.; SEABRA, F.M; SANTOS, P.R.A.; FERNANDES, M.C. Avaliação Vertical de
Modelos Digitais de Elevação (MDEs) em Diferentes Configurações Topográficas para Médias
e Pequenas Escalas. In Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 15, 2007, Curitiba.
Anais... Curitiba: INPE, 2011. p. 4110-4117.

FEMA. Federal Guidelines for Inundation Mapping of Flood Risks Associated with Dam
Incidents and Failures. Julho, 2013.

Federal Energy Regulatory Commission (FERC). Engineering Guidelines for Evaluation of


Hydropower Projects. FERC 0119-1, Office of Hydropower Licensing. July, 1987.

FERENTCHAK, J. A., JAMIESON S. L., (2008). Using Erosion Rate to Refine Earth Dam Breach
Parameters, The Journal of Dam Safety, Vol. 6, No. 4, 2008, pgs 14-24.

FROEHLICH, D. C. Embankment Dam Breach Parameters and Their Uncertainties in Journal of


Hydraulic Engineering, Vol. 134, No. 12. Maio, 2008. pp 1708-1720.

FROEHLICH, D. C., TUFAIL, M. Evaluation and use of embankment dam breach parameters and
their uncertainties in Proceedings of the Annual Conference of the Association of State Dam
Safety Officials. Phoenix. Setembro, 2004, 15 p.

FROEHLICH, D. C. Embankment dam breach parameters revisited in Proceedings of the 1995


ASCE Conference on Water Resources Engineering. San Antonio, Agosto, 1995. pp.887-891.

HIDROTEC. Atlas Digital das Águas de Minas. Disponível em


<http://www.atlasdasaguas.ufv.br>, último acesso em Dezembro de 2016.

46
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa. Mapa de Solos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2001.

MACDONALD, T. C., LANGRIDGE-MONOPOLIS, J. Breaching characteristics of dam failures in


Journal of Hydraulic Engineering. vol. 110, nº 5. 1984, 567-586 p.

O’BRIEN, J. S., JULIEN, P.Y. Physical properties and mechanics of hyperconcentrated sediment
flows in: Specialty Conference - Delineation of Landslide, Flash Flood and Debris Flow
Hazards.Utah State University, 1984. p. 260-279.

PINHEIRO, M.C. Diretrizes para Elaboração de Estudos Hidrológicos e Dimensionamentos


Hidráulicos em Obras de Mineração. 1ª ed. Porto Alegre: ABRH, 2011. 308 p.

RIBEIRO, V. Q. F. Proposta de metodologia para avaliação dos efeitos de rupturas de


estruturas de disposição de rejeitos. 2015. 267 f.. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.

SMITH G P, DAVEY E K, COX R J (2014). Flood Hazard UNSW Australia Water Research
Laboratory Technical Report 2014/07 30 September 2014.

VALERIANO, M. M.; Rossetti, D. F. Topodata: Brazilian full coverage refinement of SRTM data.
Applied Geography (Sevenoaks), v. 32, p. 300-309, 2011.

VENTURA. Sediment/Debris Bulking Factors and Post-fire Hydrology for Ventura-County.


Relatório final. WEST Consultains, inc para Ventura County Watershed Protection District.
Junho, 2011. 184 p.

VON THUN, J. L., D. R. GILLETTE. Guidance on Breach Parameters, unpublished internal


document. U. S. Bureau of Reclamation, Denver, Colorado. Março 1990. 17 p.

WASHINGTON (MGS Engineering Consultants). Dam Safety Guidelines, Technical Note 1: Dam
Break Inundation Analysis and Downstream Hazard Classification. Washington State
Department of Ecology Publication No. 92-55E (revised), Washington, 2007, 34.

47

Você também pode gostar