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A crise dos paradigmas e a Hiper-especialização em História

FREITAS (1994:45) afirma que, “no século XIX, os historiadores praticamente só


prestavam atenção à dimensão política, excepcionalmente no quadro de filosofias da
história do século XIX, Marx e Engels começaram a atentar para a dimensão económica,
mas também para a dimensão social”. Os Annales, no século XX, reforçaram este olhar
pioneiro, no que logo foram acompanhados por todos os historiadores que quiseram
acompanhar o movimento da modernidade, isto é, o giro do caleidoscópio historiográfico.
Depois os olhares dos historiadores foram se voltando sucessivamente para a Demografia,
para a Cultura Material, para a Geo-História, para as Mentalidades, para a Cultura.

A hiper-especialização em História

Na óptica de PEREIRA (2011:34) “a hiper-especialização é a fragmentação do saber ou


divisão do saber em sub-partes, esse fenômeno de hiper-especialização chega com a
modernidade, com a necessidade de mais e mais funções necessárias à vida moderna”.
Característica de uma comunidade científica que se desinteressou de uma cultura mais
abrangente e humanística.

Portanto, o historiador deve estar atento com a hiper-especialização, para não se fechar
em um determinado campo, como o político, por exemplo, e esquecer que o mundo
humano está sempre ligado, além do campo político, com o social e o cultural.

A subdivisão da História em variadas especialidades internas é essencialmente resultado


dos próprios desenvolvimentos da historiografia a partir do século XX, que de fato se
tornou mais complexa, mais rica, mais abrangente, mais audaciosa na escolha de seus
objectos de estudo e de suas fontes de conhecimento.

Critérios da divisão do conhecimento histórico

 Dimensões (enfoques);
 Domínios (métodos);
 Domínios (temas).
A hiper-especilização resultou de dois caminhos, a saber:
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 Especialização: o fenómeno da especialização vem desde o paleolítico, e este vai


se tornar complexo à medida que as sociedades humanas vão se tornando
complexas;
 A crise dos paradigmas: durante o século XX os modelos, padrões, entraram em
crise, porque neste período os especialistas deixaram de acreditar em mesmos
modelos ou padrões culturais.

Dimensões da História

A dimensão da História implica em um tipo de enfoque ou em um modo de ver (ou em


algo que se pretende ver em primeiro plano na observação de uma sociedade
historicamente localizada), ou seja, dimensões da História corresponde àquilo que o
historiador traz para primeiro plano no seu exame de uma determinada sociedade: a
Política, a Cultura, a Economia, a Demografia, e assim por diante. Desta maneira,
teríamos na História Económica, na História Política, na História Cultural ou na
História das Mentalidades campos do saber histórico relativos às dimensões ou aos
enfoques do historiador. Um historiador cultural, por exemplo, estuda os fatos da cultura;
um historiador político estuda o poder nas suas múltiplas formas; um historiador
demográfico orienta o seu trabalho em torno da noção que lhe é central de população.

Abordagem da História

Segundo BARTHES (1967:79) a abordagem da História, implica em um modo de fazer a


história a partir dos materiais com os quais deve trabalhar o historiador (determinadas
fontes, determinados métodos, e determinados campos de observação), isto é, quando
falamos de abordagens, referimo-nos, aos métodos e modos de fazer a História, aos tipos
de fontes e também às formas de tratamento de fontes com os quais lida o historiador. São
divisões da História relativas a abordagens a História Oral, a História Serial, a Micro-
História e tantas outras.

A História Oral, por exemplo, lida com fontes orais e depende de técnicas como a das
entrevistas; a História Serial trabalha com fontes seriadas, documentação que apresente
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um determinado tipo de homogeneidade e que possa ser analisada sistematicamente pelo


historiador.

A Micro-História refere-se a abordagens que reduzem a escala de observação do


historiador, procurando captar em uma sociedade aquilo que habitualmente escapa aos
historiadores que trabalham com um ponto de vista mais panorâmico, mais generalista ou
mais distanciado.

De acordo com FREITAS (Op Cit:57) a História Regional poderia ser classificada como
modalidade historiográfica ligada a uma abordagem, no sentido de que elege um campo
de observação específico para a construção da sua reflexão ao construir ou encontrar
historiograficamente uma região. Examinando um espaço de actuação onde os homens
desenvolvem suas relações sociais, políticas e culturais, a História Regional viabiliza
através de sua abordagem um tipo de saber historiográfico que permite examinar uma ou
mais destas dimensões nesta região que pode ser analisada tanto no que concerne aos seus
desenvolvimentos internos, como no que se refere à sua inserção em universos mais
amplos.

Domínios da história

Os domínios da História, na visão de BARTHES (Op Cit:99) correspondem a “uma


escolha mais específica, orientada em relação a determinados sujeitos ou objectos para
os quais será dirigida a atenção do historiador (campos temáticos como o da história
das mulheres ou da história do Direito)”.

Outrossim, domínios da História, referem-se a campos temáticos privilegiados pelos


historiadores. Poderemos neste momento reflectir sobre os vários domínios da História
que têm surgido e desaparecido no horizonte de saber desta complexa disciplina que é a
História. Estamos falando de domínios quando nos referimos a uma História da Mulher, a
uma História do Direito, a uma História Rural, ou a uma História da Vida Privada.

Os domínios da História são na verdade de número indefinido. Alguns domínios podem


se referir aos agentes históricos que eventualmente são examinados (a mulher, o
marginal, o jovem, o trabalhador, as massas anónimas), outros aos ambientes sociais
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(rural, urbano, vida privada), outros aos âmbitos de estudo (arte, direito, religiosidade), e
a outras tantas possibilidades.

A maioria dos domínios históricos presta-se a historiadores que trabalham com diferentes
dimensões históricas, e certamente abre-se às várias abordagens. Mas existem domínios
que têm mais afinidade com uma determinada dimensão, dada a natureza dos temas por
eles abarcados. Assim, a História da Arte ou a História da Literatura podem ser
eventualmente consideradas sub-especialidades da História Cultural (embora se deva
chamar atenção para uma História Social da Arte, ou uma História Social da Literatura,
que não deixam de ser possibilidades dentro da História Social).

Vantagens da Hiper-especialização

A hiper-especialização garante a eficiência no indivíduo, ou seja, com a hiper-


especialização o conhecimento torna-se mais eficiente.

Desvantagens da Hiper-especialização

MORIN (1998:45) sustenta que, a hiper-especialização contribui fortemente para a perda


da visão ou concepção de conjunto, pois os espíritos fechados em suas disciplinas não
podem captar os vínculos de solidariedade que unem os conhecimentos. Um pensamento
cego ao global não pode captar aquilo que une elementos separados. O fechamento
disciplinar, associado à inserção da pesquisa científica nos limites tecno-burocráticos da
sociedade, produz a irresponsabilidade em relação a tudo o que é exterior ao domínio
especializado.

Bibliografia

FREITAS, José Vicente de. “Algumas considerações sobre a crise paradigmática nos
quadros da sociedade contemporânea”. In: Cultura histórica em debate. São Paulo, 1994.
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MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Trad.: Maria D.Alexandre e Maria Alice
Sampaio Dória. 2a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

PEREIRA, TORELLI. Reginaldo de Oliveira, Leandro Salman. Metodologia da História


II. (Caderno de Referência de Conteúdo – CEUCLAR, SP). 2011, 39-42.

BARTHES, Roland. O discurso da história. S/L: S/Ed, 1967.

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