Você está na página 1de 7

Zumbidos

Aída Regina Monteiro Assunção


Sergio Albertino

Resumo Introdução
O zumbido é um sintoma frequente, ca- Zumbido é uma denominação ampla para
racterizado como uma percepção sonora que qualquer tipo de sensação sonora percebida, em
não pode ser atribuída a uma fonte externa. que a etiologia não possa ser atribuída a uma
Acomete, principalmente, adultos e sua inci- fonte sonora externa.1
O zumbido é um sintoma, sendo a sua prin-
dência aumenta com a faixa etária, sendo uma
cipal origem na cóclea, podendo estar associado
queixa comum em idosos. A repercussão na
a várias patologias que possam repercutir sobre
vida diária depende de diversos fatores. Pode
as vias auditivas.
ser classificado como: subjetivo e objetivo. Está
associado, principalmente, a perdas auditivas do Prevalência
tipo sensório-neurais e condutivas. Avaliação
Estima-se que 10 a 15% da população
audiológica é fundamental para o diagnóstico,
mundial apresente zumbidos.2 Cerca de 15%
tratamento a ser instituído e prognóstico. A re-
da população geral nos EUA e 33% dos ido-
solução do problema depende da identificação sos. A repercussão na vida diária depende de
da causa e, na maioria das vezes, o tratamento diversos fatores. Cerca de 80% dos pacientes
medicamentoso é inespecífico. que apresentam zumbido não têm repercussão
nas atividades diárias, 15% apresentam algum
Palavras-chave: Zumbidos; Hipoa-
tipo de repercussão e para 5%, o zumbido é
cusia; Doenças cocleares.
incapacitante.3
O tipo de repercussão é muito variável,
cerca de 50% referem alteração do padrão de
sono, 43% dificuldade de concentração, 58%

Ano 11, Julho / Setembro de 2012 19


Zumbidos

alteração no equilíbrio emocional (depressão), pelo paciente, sendo o mais frequente e em geral
14% alteração na vida social. Os principais fato- originado no próprio sistema auditivo. Zumbido
res determinantes do incômodo são a percepção objetivo, quando é percebido também por outras
de intensidade, a flutuação, multiplicidade de pessoas junto ao paciente, normalmente são
sons, ruído ambiente (piora/melhora), estresse. sons não originados no sistema auditivo, sendo
O zumbido é pouco comum na infância gerados pela contração muscular (mioclonia)
acometendo, principalmente, adultos e sua dos músculos do palato mole e da faringe;
incidência aumenta com a faixa etária, sendo, músculos da orelha média (tensor do tímpano
por isso, uma queixa frequente em idosos que, e/ou estapédio), tuba auditiva patente, origem
em geral, apresentam redução dos limiares da vascular arterial ou venosa. Estes últimos podem
audição principalmente nas altas frequências causar zumbidos rítmicos (pulsáteis) (Fig 1).4,6,7
(presbiacusia). Pode ocorrer de forma transitó-
ria por exposição a ruídos (trauma acústico) ou
Etiologia
uso de salicilatos por curto período de tempo. Frequentemente, o zumbido está associado
Na forma crônica em geral, associa-se a disacu- a perdas auditivas do tipo sensório-neurais (sur-
sias. Pode ser uni ou bilateral, algumas vezes o dez súbita; presbiacusia; doença de Menière).
paciente não consegue referir o lado, referindo Nos casos de perdas do tipo condutivas, em es-
a percepção do som na cabeça. pecial a otosclerose clínica, casos de otite média
secretora ou na otite média aguda, a queixa de
Fisiopatologia zumbido pode estar associada à hipoacusia e/ou
otalgia. Outras causas otológicas como tampão
Sua fisiopatologia ainda permanece pouco
de cerume também estão associadas à queixa
conhecida, sendo possivelmente gerado por uma
de zumbido. Pode acontecer associado à perda
atividade neural espontânea em qualquer área
auditiva induzida por ruído, que em jovens está,
do sistema auditivo.2
geralmente, ligada ao hábito de ouvir música
com som excessivamente alto.
Classificação Outras causas podem ser uso de me-
O zumbido pode ser classificado como: dicamentos ototóxicos (aminoglicosídeos,
zumbido subjetivo, quando é percebido apenas salicilatos, anti-inflamatórios não hormonais,

Figura 1: Zumbido figura Sist vertertebro basilar normal (esquerda). Zumbido figura Sist ver-
tertebro basilar tortuoso (direita).

20 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Zumbidos

diuréticos, quimioterápicos); tumores do ân- Exames laboratoriais


gulo-ponto cerebelar (Schwannoma vestibular);
ataque isquêmico transitório; acidente vascular Avaliação das taxas sanguíneas – hemogra-
isquêmico/hemorrágico; alterações hormonais ma completo, glicemia de jejum, hemoglobina
(gravidez; menopausa); distúrbios metabólicos glicada, perfil lipídico, velocidade de hemosse-
(alterações glicêmicas ou da glândula tireoide).8 dimentação, hormônios da tireoide TSH, T3,
A avaliação do paciente deverá seguir um T4, dosagem de zinco, podem ser solicitados na
roteiro: suspeita de distúrbios metabólicos.
Anamnese – tempo de início do zumbido,
intensidade do desconforto, localização uni ou
Tratamento
bilateral, contínuo ou intermitente, se exerce ou Inicialmente, esclarecer ao paciente sobre
exerceu atividades em ambiente com excesso as possíveis etiologias da sua queixa (zumbido,
de ruídos sem a proteção adequada. Associado hipoacusia, autofonia, intolerância a ruídos)
a outros sintomas como hipoacusias, intole- mostrando os exames complementares, orien-
rância a ruídos, plenitude aural, tonturas ou tando e dando um prognóstico. Caso exista uma
desequilíbrio. Pesquisar fatores desencadeantes doença de base (disglicemia, hipertensão arte-
ou agravantes: hipertensão arterial sistêmica, rial), esta deve ser tratada por um especialista
trauma craniano, diabetes, estresse, ruídos, piora na área específica. Fatores agravantes devem ser
em ambiente silencioso, uso de medicações com afastados ou controlados (exposição a ruídos
potencial de ototoxidade, jejum prolongado, intensos, estresse, uso de medicamentos com
bebida alcoólica, cafeína.5 potencial de ototoxidade). O médico deve tran-
Exame físico – realizar exame clínico quilizar o paciente, que associa frequentemente
otorrinolaringológico completo, incluindo ava- o zumbido com a presença de tumores, distúr-
liação da articulação têmporo-mandibular e da bios psiquiátricos, surdez, aumento progressivo
região cervical com ausculta vascular. da intensidade e prejuízo da qualidade de vida.
Atenção especial deve ser dada à orientação
Avaliação instrumental dietética quanto à restrição do uso de cafeína e
A avaliação audiológica completa com produtos com alto teor de sódio. Evitar jejum
audiometria tonal e testes de discriminação são prolongado.
essenciais para o diagnóstico. A impedanciome- Uso de complexo vitamínico e reposição de
tria é utilizada para o diagnóstico diferencial das zinco devem ser utilizados quando comprovada
disacusias condutivas.9 sua deficiência. Atividade física regular e ma-
Outros exames complementares serão
nutenção do peso em patamares normais con-
solicitados de acordo com o quadro clínico e
tribuem para manutenção de níveis glicêmicos
resultados da avaliação audiológica (otoemis-
e controle das lipoproteínas com aumento da
sões acústicas, potencial auditivo, evocado
auditivo de tronco encefálico (BERA), eletro- HDL e diminuição da LDL plasmática.
cocleografia). O tratamento medicamentoso é inespe-
cífico.
Avaliação por imagens Benzodiazepínicos – clonazepam, al-
prazolam, cloxazolam, melhoram o quadro de
Exames de imagens como tomografia
ansiedade e a qualidade do sono dos pacientes
computadorizada das mastoides, ressonância
magnética nuclear da região do ângulo ponto que, durante o período de repouso, percebem
cerebelar e fossa posterior com gadolínio, an- mais o zumbido devido ao silêncio do ambiente.
giorressonância magnética nuclear podem ser Antidepressivos – fluoxetina, sertralina,
solicitados no caso de suspeita de neuroma do trazodona, venlafaxina: inibidores da recaptação
acústico e mal formações vasculares. da serotonina, atuam nos casos de ansiedade e

Ano 11, Julho / Setembro de 2012 21


Zumbidos

depressão que, frequentemente, coexistem com 6. S a n c h e s T G , M i o t o N e t t o B , S a s a k i


F, et al. Zumbidos gerados por
zumbidos e vertigem. alterações vasculares e musculares. Arq
Substâncias vasoativas – betaistina, Otorrinolaringologia.2000;4(4):136-42.
ginkgo biloba, pentoxifilina são de pouco ou 7. Gultekin S, Celik H, Akpek S, et al. Vascular
nenhum efeito na melhora do zumbidos. loops at the cerebellopontine angle: is there
a correlation with tinnitus? AJNR Am J
O uso de parelhos de amplificação so- Neuroradiol. 2008;29(9):1746-9.
nora (AASI)) em pacientes com zumbidos e
8. Rosito LPS. Zumbido não Pulsátil. In: Tratado
hipoacusia tem um efeito mascarador devido de Otorrinolaringologia e cirurgia cervicafacial.
ao enriquecimento sonoro que acontece com 2nd Ed. São Paulo: Editora Roca; 2011. p.479-86.
a amplificação dos sons do meio ambiente.8 9. Atherino CC, Meirelles RC. Semiologia da
Audição. In: Atherino CC, Meirelles RC,
Aparelhos que produzem sons diversos também
editores. Semiologia em otorrinolaringologia.
podem ser utilizados (emissores com sons de Rio de Janeiro: Editora Rubio; 2010. p.101-8.
cachoeira, ondas, vento, chuva).
Abstract
Referências Tinnitus is a common symptom, characte-
1. Eggermond JJ. Tinnitus: neurobiological rized as a perception of sound that cannot be
substrates. Drug Discovery Today. attributed to an external source. It affects mainly
2005;10(19):1263-332.
adults and its incidence increases with age, being
2. Henry JA, Dennis KC, Schechter MA. General a common complaint in the elderly. The impact
review of tinnitus: prevalence, mechanisms,
effects, and management. J Speech Lang Hear on daily life depends on several factors. It can
Res. 2005;48(5):1204-35. be classified as subjective and objective. Mainly
3. Sanches TG. Quem disse que zumbido não tem associated with sensorineural hearing loss and
cura? São Paulo (SP): Ed H Máxima; 2006. 74p. conductive type. Audiological evaluation is
4. Albertino S, Assunção ARM, Souza JA. essential for diagnosis, treatment and prognosis
Zumbido pulsátil: tratamento com clonazepam to be established. The resolution of the problem
e propranolol. Rev Bras Otorrinolaringol.
2005;71(1):1113.
depends on identifying the cause and in most
cases drug treatment is nonspecific.
5. Kotzias SA, Onishi E T, Mendes RCCG. Zumbido
Pulsátil. In: Tratado de Otorrinolaringologia e
cirurgia cervicafacial. 2ª Ed. São Paulo: Editora KEY WORDS: Tinnutus, Hearing loss, Co-
Roca; 2011. p.468-78. chlear diseases.

22 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Titulação dos Autores

Editorial Felippe Felix


Médico do Serviço de Otorrinolaringologia -
Roberto Campos Meirelles HUCFF-UFRJ;
Professor Associado - FMC-UERJ; Mestre em Otorrinolaringologia - Faculdade de
Medicina-UFRJ.
Doutor em Otorrinolaringologia - USP.
E-mail: felfelix@gmail.com
Endereço para correspondência:
Rua Sorocaba, 706, Botafogo.
Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22271-110. Artigo 2: Zumbidos.
E-mail: rcmeirelles@gmail.com
Aída Regina Monteiro Assunção
Artigo 1: Novas Terapias para Professora Assistente - FCM-UERJ;
Surdez. Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia
HUPE-UERJ.
Shiro Tomita
Endereço para correspondência:
Professor Titular de Otorrinolaringologia da Secretaria da Otorrinolaringologia - HUPE-UERJ
Faculdade de Medicina - UFRJ; Av. 28 de setembro 77, 5°andar - Vila Isabel
Rio de Janeiro-RJ. CEP 20551-030
Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia - Telefone: 21 2868-8120
HUCFF- UFRJ. E-mail: aidarma@uerj.br
Endereço para correspondência:
Av. Professor Paulo Rocco 255, sala 11E24, Sergio Albertino
Ilha do Fundão.
Rio de Janeiro - RJ Professor Adjunto IV - UFF;
E-mail: shiro@openlink.com.br Doutor em Neurologia - UFF.

Ano 11, Julho / Setembro de 2012 9


Artigo 3: Avaliação Diagnóstica Artigo 6: Abordagem Atual
das Síndromes Vertiginosas. das Hemorragias Nasais.

Marcelo Miguel Hueb Roberto Campos Meirelles


Professor Adjunto e Chefe da Disciplina e do (Vide Editorial)
Serviço de Otorrinolaringologia - UFTM;
Presidente da Associação Brasileira de Leonardo C. B. de Sá
Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial-
Mestre em Medicina - Cirurgia Geral /
ABORL-CCF. Otorrinolaringologia - Faculdade de Medicina-
Endereço para correspondência: UFRJ;
Av. Santos Dumont, 409;
Fellowship em Cirurgia Nasossinusal pela
Uberaba - MG. CEP 38060-600 Universidade de Graz - Áustria.
Telefone: 34 3332-3033
E-mail: mmhueb@terra.com.br
Guilherme Almeida

Camila Pazian Feliciano Médico do Serviço de Otorrinolaringologia -


HUPE-UERJ.
Médica Voluntária do Serviço de
Otorrinolaringologia - UFTM. Artigo 7: Rinossinusite
Artigo 4: Terapêutica Crônica.
Farmacológica da Vertigem Débora Braga Estevão
Ciriaco. Professora Colaboradora - FMC-UERJ.

Cristóvão T. Atherino. Roberto Campos Meirelles


Professor Adjunto Doutor da Disciplina de (Vide Editorial)
Otorrinolaringologia - FCM-UERJ.
Endereço para correspondência: Artigo 8: Rinossinusite
Rua Rodolfo Dantas 106 / 201
Rio de Janeiro - RJ. CEP 22020-040 Nosocomial.
Telefone: 21 2541-9098
E-mail: crisatherino@gmail.com. Roberto Campos Meirelles

Artigo 5: Reabilitação (Vide Editorial)

Vestibular. Fabiana Rocha Ferraz


Professora Colaboradora - FCM-UERJ.
Sergio Albertino
(Vide Capítulo 2) Artigo 9: Síndrome da boca
seca.
Rafael S. Albertino
Ivan Dieb Miziara
Pós-graduando em Otorrinolaringologia - UFF.
Professor Livre Docente - Faculdade de Medicina-
USP;
Médico Chefe do Grupo de Estomatologia da
Divisão de Clínica ORL do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina-USP.

10 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Ali Mahmoud Artigo 12: Afecções
Pós-graduando do Departamento de Otorrinolaringológicas
Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina-
USP. no Idoso: O impacto da
Polifarmácia.
Artigo 10: Distúrbios da
Mônica Aidar Menon Miyake
Deglutição.
Otorrinolaringologista e Alergologista;
Geraldo Pereira Jotz Hospital Sírio Libanês, Hospital Israelita Albert
Professor Associado do Departamento de Ciências Einstein e Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos;
Morfológicas - UFRS; Doutora em Ciências pela Disciplina de
Professor Adjunto do Departamento de Ciências Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina -
Básicas da Saúde - UFCSPA; USP;
Pós Doutorado no Swallowing Center - Especialização em Pesquisa Clínica - FCM Santa
Universidade de Pittsburgh. Casa-SP.
Endereço para Correspondência:
Silvia Dornelles Clínica Menon
Fonoaudióloga Clínica; Rua Afonso Brás 525 cj. 21
São Paulo - SP. CEP 04511-011
Professora Adjunta do Curso de Fonoaudiologia - Telefone: 11 3842-4288
UFRS. E-mail: clinica@clinicamenon.com.br

Artigo 11: Presbifonia.


Roberto Campos Meirelles
(Vide Editorial)

Roberta Bak
Médica Otorrinolaringologista;
Residência Médica em Otorrinolaringologia -
HUCFF-UFRJ;
Primeira Tenente Médica Otorrinolaringologista -
PMERJ.

Fabiana Chagas da Cruz


Médica Residente do Terceiro Ano do Serviço de
Otorrinolaringologia - HUCFF-UFRJ.

Ano 11, Julho / Setembro de 2012 11

Você também pode gostar