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Revista Filosofia Capital


ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 5, Ano 2007.
A VISÃO INDÍGENA E SEU OLHAR CRÍTICO PARA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Júlia de Holanda
juliadeholanda@filosofiacapital.org

Marcos Viana
marquimcei@yahoo.com.br

Brasília-DF

2007
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Revista Filosofia Capital


ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 5, Ano 2007.
A VISÃO INDÍGENA E SEU OLHAR CRÍTICO PARA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Júlia de Holanda1
juliadeholanda@filosofiacapital.org

Marcos Viana2
marquimcei@yahoo.com.br

Resumo

Esta pesquisa apresenta a visão indígena e seu olhar crítico para a legislação brasileira. Como

é possível observar no decorrer da nossa história, tem surgido Ativistas Nativos3. Ou seja, as

próprias comunidades indígenas tem se organizado, e unidas deliberam, reivindicam, se

expressam, e aos poucos atingem os meios de comunicação, e conseqüentemente, a sociedade

brasileira. Tornando presente na consciência humana as vozes e os gritos dos Índios do Brasil,

e quiçá, do Mundo.

Palavras-Chave: Ativistas Nativos – Sociedade Brasileira – Consciência Humana

A Voz do Índio no Brasil

Arileia, Davi, Iglesio, Yonana, Michele, foram estes jovens que pertencem à

comunidade Pataxó Hãhãhãe os autores desta declaração, que informa a sociedade brasileira

as dificuldades em resolver questões territoriais e culturais da comunidade.

Nós, jovens indígenas, Pataxó Hãhãhãe, estamos acompanhando o trabalho


da comunidade com a visão de estarmos ajudando o desenvolvimento
interno e externo das questões territoriais, e culturais do nosso povo.
Na visão dos jovens indígenas a nossa aldeia está passando por dificuldade
como: Território não demarcado, sem apoio do órgão responsável das causas
indígenas, (FUNAI); os órgãos governamentais que não estão dando apoio às

1
Holoterapeuta, Professora de Filosofia, dos cursos de Pós-Graduação do SIEL – Sistema Integrado de Educação
e Editora Executiva da Revista Filosofia Capital.
2
Ativista da Causa Indígena do Piauí é Professor Pedagogo formado pela UnB e Orientador da Fundação
Educacional do DF.
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Referência dos autores, para indicar personalidades indígenas que atuam efetivamente em favor da própria
causa.
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causas indígenas, e nem estão nós ajudando para que assim possamos ter
melhores desenvolvimentos na cultura que não está sendo valorizada, nós
jovens não estamos tendo prioridade nas decisões internas da nossa
comunidade, dificultando assim o nosso aprendizado na luta da terra.
Para que posamos ter um maior conhecimento devemos está presente nas
decisões comunitária do nosso povo, juntos com as nossas raízes, para que
juntos possamos lutar para resgatar a cultura do nosso povo. Nós jovens
estamos disposto a nos integrar na comunidade participando de eventos
decisivos, dando a nossa opinião, e que seja acatada a benefícios de todos
para assim podermos enriquecer o trabalho na nossa comunidade, através de
pesquisar da historia da nossa nação contada pelos nossos anciões que são os
verdadeiros historiadores da nossa terra4.

Durante uma reunião do Fórum Permanente de debate sobre as causas indígenas, em

maio de 2006, o líder indígena Marcos Terena5 disse à Rádio ONU6 que a questão da posse da

terra ainda é um problema no Brasil.

Apesar de nós, os povos indígenas sermos 230 sociedades indígenas e 180


línguas, nós temos um relacionamento ainda um pouco complicado com o
Estado brasileiro, já que ainda somos tratados – do ponto de vista legal –
como relativamente incapazes. Isso significa então que todas as terras
demarcadas pelo governo apesar de existirem essas culturas e tradições, nós
não somos proprietários dessas áreas.

Terena também disse que as entidades que lidam com a causa indígena precisam se

adaptar às mudanças de um mundo globalizado.

Outro registro importante "Grito do Xingu" é uma carta também escrita por jovens

lideranças indígenas desta vez do Parque Indígena do Xingu, na qual informa a sociedade

brasileira o quanto a comunidade indígena vem sendo ameaçada por uma política

governamental que tem por objetivo agradar a elite econômica.

Nós, povo Indígena do Xingu, vimos por meio deste, manifestar toda nossa

4
Fonte: http://www.indiosonline.org.br.
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Cacique da Tribo dos Terena.
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Site da Rádio ONU http://radio.un.org/por/index.asp
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indignação e angústia diante de decisão liminar proveniente do Tribunal, na
qual foi permitida a continuidade da obra da Pequena Central Hidrelétrica de
Paranatinga II até a produção de decisão de mérito sobre a questão. A
comunidade indígena se vê ameaçada por esta realidade alarmante que
reflete uma política governamental focada em interesses da elite econômica,
a qual vai flagrantemente de encontro aos direitos sócio-ambientais
constitucionalmente assegurados.
Somos Povos da Floresta e a relação de respeito que mantemos com meio
ambiente propicia a manutenção da vida e da biodiversidade. A tão falada
sustentabilidade, que os não-índios colocam como fundamental à
sobrevivência e a existência das próximas gerações, mas poucos fazem para
efetivar, foi por nossos antepassados, e é por nós, naturalmente buscada, pois
nossos modos e cultura não se pautam por práticas degradantes. Nem visam
interesses utilitaristas de uma classe, e sim ações que atendam aos interesses
do coletivo e que não ocasionem danos ao meio natural que nos envolve e
nós fornecemos toda a riqueza que necessitamos para viver.
Logo, contraditório nos parece, que o Estado Brasileiro, do qual fazemos
parte, realize ou legitime práticas que atentam contra a existência de nossa
coletividade. Nossa diversidade e sua contribuição para a vida no Planeta
não é reconhecida e respeitada. Apesar do ordenamento jurídico nacional e
internacional determinar o dever estatal de proteção das comunidades
indígenas o modo de vida do homem branco é colocado como referencial e a
as diferenças são vistas como ameaças a serem, aos poucos, eliminadas.
Lutamos contra este estado de coisas.
Os gritos do Xingu devem ser ouvidos! Temos o direito de participar e
decidir sobre projetos que interfiram em nossas terras, em nossas culturas,
em nossas crenças, em nosso modo de vida. Não queremos que o Rio
Kuluene seja poluído com o óleo eliminado pelas turbinas. Não queremos
que os peixes desapareçam devido à barreira artificial que está sendo
construída e que impedirá a subida de inúmeras espécies, que fazem parte da
dieta alimentar do povo Xinguano. Não queremos ter nosso regime alimentar
fique comprometido pela falta dos peixes; Não queremos o restante da fauna
terrestre desapareça. Não queremos que espécies da flora desapareçam. Não
queremos que o local sagrado do primeiro surgimento de Kuarup seja
inundado. Não queremos uma obra que está voltada para os interesses de um
empresariado que somente objetiva acumular riquezas à custa da morte.
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(...) queremos que a Constituição Federal, a Convenção n° 169 da OIT 7 e a
Carta da Terra, com seu conjunto de Princípios -- entre eles: Princípio do
Direito à Vida Saudável, Princípio da Dignidade, Princípio da Participação
social, Princípio do Respeito à Diversidade, Princípio da Proteção do Meio
ambiente – sejam efetivados!
Somos povos resistentes! São mais de cinco séculos de opressão, fruto da
estupidez do homem branco que desconsidera que diversidade é evolução.
Continuaremos na luta! Finalizamos esta carta atentando para a
responsabilidade e o compromisso do Poder Judiciário com a Justiça Social,
a fim de que práticas abusivas e desumanas não se tornem lugar comum em
nosso País.
Amigos e amigas, autoridades do País, defensores da Natureza, solicitamos
apoio de todos para preservamos juntos a nossa grande riqueza: rios, matas,
peixes e flora do nosso País que resta de pouco em nossa reserva do Parque
do Xingu. Por favor, nos ajude! COMISSÃO INDÍGENA DO
MOVIMENTO DO PARQUE DO XINGU agradece desde já pelo apoio de
todos e solidariedade. Por favor, divulguem esta carta. 31 de Out de 2006 8.

Em face desta situação que tende a piorar com o modelo defendido pelo Governo

Lula por meio do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, a política indigenista do

Governo brasileiro nos últimos anos continua surpreendendo negativamente. Haja vista, o

Governo mostrou-se incapaz de lidar com a pluralidade étnica do Brasil, e, sobretudo, de

estabelecer políticas públicas diferenciadas para os povos indígenas.

Resistência Indígena Continental

É necessário apresentar mais um documento criado em favor das causas indígenas,

uma Carta Aberta ao Governo e à Sociedade Civil da Resistência Indígena Continental – Ano

513º.

Analisando o grande número de dificuldades e mazelas por que estão

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Organização Internacional do Trabalho – OIT – agência especializada que integra o sistema das Nações
Unidas, viu-se compelida a rever a sua convenção sobre populações indígenas, que datava de 1957 e era
largamente criticada por acolher disposições ultrapassadas, em especial dirigidas à assimilação dos índios pelas
sociedades nacionais, em total descompasso com a evolução da mentalidade acerca dos seus direitos a nível
internacional.
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Fonte: http://www.artes.com/sys/artista.php?op=manif&artid=34&npage=3.
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passando os remanescentes das Nações Indígenas que vivem no território
brasileiro muito antes da invasão portuguesa e diante das falhas do poder
constituído e das instituições criadas para tutelar o "povo da terra".
Reuniram-se neste dia, vários representantes da sociedade civil e
representantes das principais etnias indígenas urbanas para deliberar em
favor das centenas de vidas indígenas que se encontram nas periferias da
Grande São Paulo. Em razão da perda de vidas nas aldeias por falta de
assistência médica, saneamento básico, das ameaças de interferência em
território natural destinado à sua sobrevivência e uma série de outros fatores
que os obrigaram a viver na tangência da dignidade humana, deliberou as
seguintes reivindicações9:

1. Ampliação, demarcação e homologação urgentes dos territórios indígenas;

2. Atendimento permanente do Poder Público para prover nas rotinas, nas exceções e nas

necessidades dos povos indígenas aldeados nas áreas metropolitana ou em torno

destas;

3. Oportunidades perenes para a afirmação da identidade indígena nos centros urbanos.

Seja com o comércio de artesanato, apresentações artísticas e culturais para o público

interessado na arte e cultura indígena, exposições de arte, de música, do teatro e da

culinária indígena, entre outros;

4. Requerimento de patentes sobre as técnicas e aplicações do herbário indígena;

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Assinam de acordo:
Miryám Hess - MsC em Energia pela USP/ Promotora Legal Popular - Conselheira da Reserva da Biosfera do
Cinturão Verde - GT Agenda 21-Metropolitana Paulista.
Heitor Laso Gonçalves - Terra Atlântica Mov. Sócio- Ecoambiental.
Cacique Marcos Tupã - Aldeia Krukutu - Nação Guarani Nhandeva - Representante Guarani na Comissão
Estadual Indígena.
José Oliveira Ribas - Comissão Pró-Servir de São Paulo - GT Agenda 21-Metropolitana Paulista.
Soraia A, Zanzine - Coordenadora Cultural CECI - Jaraguá - Prefeitura Municipal de S. Paulo.
Cacique José Fernandes Soares - Guyrapepó. - Tekoa Pyaú - Aldeia Jaraguá - Guarani Nhandeva
Josefa Soares da Silva Rodrigues Indígena. - GT Agenda 21-Metropolitana Paulista
Líder Indígena Evandro Tupã Mirim - Tekoa Pyaú - Aldeia Jaraguá - Representante Guarani na Comissão
Estadual Indígena.
Cacique Timóteo Werá - Tenondé Porã - Aldeia da Barragem - Guarani Nhandeva.
Chico Canindé - Indígena Teatrólogo: Teatro das Águas. - GT da Agenda 21-Metropolitana Paulista.
Aninha Pecci - Consultora da ONG "Ação Cultural Indígena Pankararu", São Paulo.
Cacique Dimas J. Nascimento (Pankararú) - Aldeia Pankararú, São Paulo.
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6. Direito sobre insumos gratuitos para produção da agricultura familiar, com apoio

científico se necessário;

5. Direito sobre a criação, manejo e abate de animais da Fauna Nativa local mantidos

semi-confinados, também para a recuperação das espécies da Fauna, conforme

autorização de criatório do IBAMA;

6. Direito sobre a extratividade e reprodução exclusiva de essências da Flora nativa, com

projetos de recuperação e incentivos para produção sustentável;

7. Direito de uso das estruturas de saúde do Estado e Municipal, além da FUNASA;

8. Direito indígena de Indenização sobre as terras de seus bisavós, tataravôs e toda

ancestralidade, desde antes da colonização dos invasores europeus;

9. Usucapião sobre as posses de terras recentes, mesmo sem recolhimento do ITR;

10. Direito à educação diferenciada, pública, em todos os níveis;

11. Resgate e apoio à arquitetura indígena nas comunidades. Soolicitamos Plano Piloto na

Aldeia Tekoa Pyaú;

12. Fomento para espetáculos artísticos sobre a História Indigenista, Culturas Milenares,

Oficinas Temáticas que valorizem a condição do indigenismo urbano;

13. Inclusão na Agenda da Cidade de São Paulo, a visitação às aldeias indígenas de

Jaraguá, Barragem e Krukutu e, outros pontos a serem criados;

14. Formação de Equipes Médicas Especializadas para o atendimento sanitário Indígena.

Modelo que poderá ser implantado em todo o país e continente Latino Americano;

15. Criação de um espaço desempermeabilizado na Praça Patriarca para instalação de uma

"Opy" Casa de Reza Indígena para mostras permanentes da Arquitetura, História e

Culturas Indígenas de São Paulo, do Brasil e das Américas, com exposições e

apresentações de Etnias Ameríndias. Lembramos que o nome do local poderá estar

relacionado à Guerreira Juré (Carijó) e seu companheiro, herói inglório da intentona


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de 1562, Cacique Piqueroby (Guaianá), de etnias totalmente exterminadas pelos

invasores lusos;

16. Revisão da Agenda 21 Brasileira de modo a resgatar o Capítulo 26 da Agenda 21

Global;

17. Inclusão na Agenda das Políticas Públicas para a Juventude a questão juvenil indígena;

18. Fomento à Política Pública da Questão de Gênero Indígena, respeitadas as

particularidades de cada uma das 220 Etnias;

19. Inclusão no Estatuto do Idoso da defesa dos direitos da 3ª Idade Indígena,

consideradas ainda as especificidades de cada Etnia;

20. Estruturação de formas de Acesso Gratuito a todos os Meios de Transporte que se

façam necessários para assegurar a livre locomoção de indígenas cadastrados nas

comunidades em defesa dos seus interesses e direitos inalienáveis à continuidade de

vida da sua Etnia;

21. Articulação entre a discussão do Estatuto do Índio e os debates vinculados na "Lista de

Lutas Indígenas do Brasil e América Latina".

22. Isenção de tributos (municipal, estadual, federal) que estejam incidindo sobre terras,

propriedades e produtos de qualquer espécie, de origem indígena;

23. Acesso de indígenas a postos organizacionais ou representativos em favor das causas

indígenas, com ênfase no conhecimento e dedicação às causas indígenas;

24. Facilitação legal e reserva de investimentos financeiros destinados à aplicação em

projetos de eliminação de plantas consideradas exóticas em terras indígenas ou

remanescentes, substituindo esses estoques exóticos e prejudiciais ao meio-ambiente

por estoques nativos do bioma em foco, visando a implementação de

empreendimentos ecológicos e recuperação de ambientes naturais da fauna, flora e

potenciais hídricos;
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25. Regime especial de licenciamento para implementação de empreendimentos indígenas

e ecológicos com simplificação de registro nos órgãos competentes e total isenção de

tributos.

26. Alterar o Estatuto do Índio de modo a garantir a vida de índias e índios em situações

especiais, tais como: grupos e indivíduos que vivem em favelas localizadas nas áreas

urbanas e periurbanas.

27. Tipificar a "evangelização" de índias e índios que mantém suas crenças religiosas e

culturas ancestrais na categoria de "racismo assimilacionista", uma vez que a

conseqüência da evangelização tem sido a perda da cultura peculiar à Etnia Indígena e,

a assimilação da cultura hegemônica cristã, que é o anseio máximo do racismo

assimilacionista desde o Brasil Colonial.

Não faltam Ativistas dedicados em torno das causas indígenas. Mas é lamentável a

omissão e o descaso que o Governo brasileiro dispensa aos Povos Indígenas. Mas, nem tudo

está perdido! Foi aprovada no último dia 13 a Declaração Universal dos Direitos dos Povos

Indígenas.

Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas

O documento prevê a garantia dos direitos humanos fundamentais, como o respeito

às diferenças culturais e às tradições, e também o direito de manter e fortalecer as suas

próprias instituições políticas, legais, econômicas, sociais e culturais. Na Declaração, a ONU

e as agências vinculadas a ela se comprometem a contribuir para a implantação das

disposições previstas no documento por meio da mobilização internacional e de cooperação

financeira e assistência técnica aos países. A Declaração também prevê o controle da

propriedade intelectual dos Povos Indígenas como patrimônio científico, cultural e

tradicional. Essa propriedade compreende inclusive os recursos humanos e genéticos,


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sementes, medicamentos, conhecimentos das propriedades da fauna e flora, tradições orais e

culturais.

O Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon, em um comunicado, disse que os Estados

deveriam incorporar a Declaração às suas agendas de direitos humanos o mais rápido. A

Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, no dia 13 de setembro

de 2007, a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas. Este instrumento internacional

delibera a proteção dos mais de 370 milhões de indígenas em todo o mundo.

“A Declaração é um importante instrumento para a luta dos povos


indígenas por seus direitos”, avalia Saulo Feitosa, representante do Cimi na
Comissão Nacional de Política Indigenista. Ele destaca que o texto aprovado
reconhece o autogoverno e a livre determinação dos povos. “A ONU
recomenda, com esta decisão, que as nações do mundo respeitem as formas
políticas, sociais e jurídicas de cada povo”.
“Os povos indígenas têm o direito de participar da tomada de decisão sobre
assuntos que afetam seus direitos, através de representantes escolhidos por
eles mesmos de acordo com procedimentos próprios, bem como o direito de
manter e desenvolver suas próprias instituições de tomada de decisão”.
O texto foi aprovado por 143 votos a favor, 4 contra – Canadá, Estados
Unidos, Nova Zelândia e Austrália – e 11 abstenções. Um dos pontos mais
importantes do documento se refere ao direito a terra. Segundo a Declaração,
os Estados devem assegurar aos povos a proteção jurídica de seus territórios
e recursos. Pelo texto, nenhuma ação deve ocorrer em terras indígenas sem
consentimento prévio e informado dos povos. As formas de consultá-los
devem ser de acordo com a organização de cada povo.
“Os Estados devem fornecer mecanismo efetivos de prevenção e reparação
de (...) qualquer ação que tenha por objetivo ou efeito a expropriação de
suas terras, territórios e recursos”
A aprovação da Declaração é considerada uma vitória para os povos
indígenas. “Isso mostra que os Estados e a comunidade internacional
percebem que a nossa articulação buscando nossos direitos está cada vez
mais forte”, comemora Sandro Tuxá, da Articulação dos Povos Indígenas do
Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.
Para ele, da mesma forma que ocorreu com a Convenção n.169 da
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Organização Internacional do Trabalho, as orientações da Declaração da
ONU terão reflexos positivos para os povos indígenas no Brasil. “É mais
uma garantia e uma possibilidade de cobrança. Os Estados estão assumindo
que temos direitos, que é possível um povo dentro de um país ser diferente,
ter sua língua, organização...”, Sandro completa:10

O Conselho Indigenista Missionário – CIMI afirma logo após a aprovação da

Declaração que a esta se torna agora um importante instrumento na luta dos povos indígenas

pela afirmação de seus direitos. A Declaração orienta os Estados a protegerem os territórios

indígenas e os recursos que existirem nestes. Além disso, a ONU recomenda que nenhuma

ação deve ocorrer em terras indígenas sem consentimento prévio e informado dos povos. Que

a maneira de consultá-los deve ser de acordo com a organização de cada povo.

Como não poderia deixar de esclarecer, o Brasil votou a favor da Declaração, da

mesma maneira que todos os países da América do Sul, à exceção da Colômbia, que se

absteve. O mais importante é que partir de agora, segundo o CIMI, a Declaração deve ser

usada como referência no desenvolvimento da política indigenista brasileira.

O CIMI também afirma que as orientações contidas na Declaração também devem

ser consideradas na discussão do Estatuto dos Povos Indígenas, cuja tramitação encontra-se

paralisada na Mesa da Câmara dos Deputados há 12 anos e nove meses. A Declaração sobre

os Direitos dos Povos Indígenas também pode, a partir de sua aprovação, ser usada pelo Poder

Judiciário como referência para suas decisões.

A Declaração recomenda que “as nações do mundo respeitem as formas políticas,

sociais e jurídicas dos povos indígenas”.

Os Povos Indígenas desenvolvem uma cultura extremamente complexa que ao

mesmo tempo é vivida com muita simplicidade. As comunidades cumprem suas obrigações

sociais enquanto preservam as suas características individuais. Praticam costumes e rituais


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Fontes: http://www.direitos.org.br e www.cimi.org.br.
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ancestrais, e em contra partida, convivem com a tecnologia do mundo hodierno. É nesta

combinação de resistência e flexibilidade que nossos Nativos nos mostram que a cultura a sua

cultura nunca ficou estagnada no tempo. E de outra forma, sempre demonstrou uma

capacidade extraordinária de absorver influências de fora sem perder sua referência.


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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARILEIA; DAVI; IGLESIO; YONANA; MICHELE. Fonte: http://www.indiosonline.org.br.

Pesquisa realizada em: 22 de setembro de 2007, às 22h15min.

TERENA, Marcos. Fonte: http://www.direitos.org.br. Pesquisa realizada em: 22 de setembro

de 2007, às 22h22min.

TERENA, Marcos. Fonte: http://radio.un.org/por/index.asp. Pesquisa realizada em: 22 de

setembro de 2007, às 22h31min.

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