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CURRICULAR EM DISCUSSÃO
Resumo
Ao se pensar a docência emerge a discussão sobre o que é a prática profissional assim como
questiona-se a relação entre a teoria e a prática e sua influência para os cursos de licenciatura.
O estágio curricular já foi entendido como um conjunto de atividades que os alunos realizam
durante o curso, junto ao campo futuro de trabalho, sendo denominado como a parte prática
do curso contrapondo-se às demais disciplinas, consideradas teóricas. As diferentes
exigências teóricas e práticas foram corroboradas por legislações educacionais. O estudo teve
como objetivo realizar uma contextualização das diferentes concepções entre teoria e prática
no processo de ensino. Ainda, buscamos discutir a prática educativa atual subsidiada pela
nova legislação que traz todo um direcionamento da prática de ensino pautada na pesquisa
como produtora de conhecimento, objetivo primeiro da escola. A prática de ensino e o estágio
curricular, nos cursos de Licenciatura e na Formação de docentes da educação infantil e anos
iniciais do ensino fundamental, em nível médio, na modalidade normal tem sido referência
para críticas, discussões, sugestões e busca de mudanças em seu encaminhamento. As
alterações apontadas por educadores buscam atender o dinamismo educacional presente nos
diferentes contextos em que se inserem as instituições de ensino. O processo de formação
para o trabalho pedagógico tem se preocupado em associar teoria e prática com um novo
enfoque: a pesquisa durante as atividades de estágio. O professor carrega os sentidos e
significados sociais configurando a atividade de aprender e ensinar, transformando atos e
objetos no processo de seu trabalho que consiste em formar, ensinar, aprender e produzir
conhecimentos. Percebemos a necessidade de se repensar a educação que temos e a educação
que queremos. Captar as exigências, necessidades e posturas de novas discussões e práticas é
nosso desafio.
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Introdução
Discutir a formação de professores nos instiga a considerar as grandes transformações
de caráter social, político e econômico que temos vivenciado. Essas mudanças estão ligadas
aos pressupostos que dão sustentação ao modelo de sociedade capitalista, como a
globalização da economia, a concentração de riquezas e práticas que estimulam a divisão do
conhecimento. A escola, por sua vez, é uma instituição que não fica à margem desse processo
e acaba potencializando valores que caracterizam a sociedade moderna, como a fragmentação
do saber. Contraditoriamente, faz isso ao mesmo tempo em que se propõe a trabalhar para a
formação de um aluno integral e consciente, capaz de compreender e criticar a realidade. Na
formação de professores, muitas vezes, a proposta educativa é insuficiente para a
concretização da aprendizagem dos conteúdos produzidos pelos homens. Acredita-se que isso
ocorra devido à falta de elementos que permitam compreender essa questão, bem como por
um limite no trabalho voltado para a emancipação humana.
Ao se pensar a docência emerge a discussão sobre o que é a prática profissional assim
como questiona-se qual a relação entre a teoria e a prática e sua influência para a formação de
professores. Há um entendimento, historicamente já dado, do estágio curricular como um
conjunto de atividades que os alunos deverão realizar durante o curso, junto ao campo futuro
de trabalho sendo denominado como a parte prática do curso contrapondo-se às demais
disciplinas, consideradas teóricas (PIMENTA, 2001). Os diferentes entendimentos dessa
questão foram sendo corroborados por legislações educacionais. É comum a defesa do estágio
como componente do curso de formação de professores e este é visto como sendo atividades
que envolvem intervenção na escola.
Esse trabalho é resultado do compromisso em se avançar no entendimento da
concepção da prática pedagógica que dê sustentação à preparação para a docência. Partimos
da hipótese de que essa discussão, embora já em curso, necessita de um envolvimento de
todos os profissionais que atuam na formação de professores. Os motivos que nos levam a
empreender essa discussão são experiências que desenvolvemos com a Disciplina de Estágio
Supervisionado em cursos de licenciatura e de Formação de Docente, modalidade normal.
Cabe ressaltar que trazer para o campo teórico o processo de formação docente nessas
modalidades de ensino com reflexões sobre a relevância da pesquisa e seu elemento
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A prática pedagógica
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“As primeiras escolas normais – de Niterói, Bahia, São Paulo, Pernambuco, entre outras - foram destinadas
exclusivamente aos elementos do sexo masculino, simplesmente excluindo-se as mulheres ou prevendo-se a
futura criação das escolas normais femininas. Aliás, mecanismos de exclusão refletiam-se mesmo na escola
primária, onde o currículo para o sexo feminino era mais reduzido e diferenciado, contemplando o domínio de
trabalhos domésticos. Nos anos finais do Império, as escolas normais foram sendo abertas às mulheres, nelas
predominando progressivamente a freqüência feminina e introduzindo-se em algumas a co-educação. Já se
delineava nos últimos anos do regime monárquico a participação que a mulher iria ter no ensino brasileiro”
(TANURI, 2000, p.66).
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a educação da infância deveria ser atribuída à mulher, uma vez que essa atividade era o
prolongamento de papel de mãe e da atividade educadora que já exercia em casa (TANURI,
2000, p. 66).
No início do século XX o conceito de prática que se efetivou na formação de
professores foi o da imitação de exemplos teóricos existentes. Seguiam-se os bons modelos e
a reprodução dos mesmos. Essa tendência se consolidou a partir da observação, da imitação,
da reprodução e, às vezes, reelaboração dos modelos consagrados como bons na prática
(PIMENTA & LIMA, 2004, p. 35). Somente com a legalização da profissão do professor há
um enfoque na prática como ponto de referência. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em meados de 1950, registra a preocupação da falta de
equilíbrio entre teoria e prática. Vai se evidenciando no discurso educacional, preocupações
com deficiências das atividades de estágio, planejamento inadequado, o não direcionamento
da observação assim como a ausência da organização da regência.
Tais críticas se fundamentavam na prática pautada somente na imitação de modelos e
do saber acumulado que desvalorizava a formação intelectual e reduzia a atividade docente
somente a um fazer que se aproximasse dos exemplos observados. A aplicação de modelos
era desprovida de análise crítica e da falta de fundamentação teórica, legitimada por diferentes
realidades sociais em que o ensino acontece. Numa outra tendência de encaminhamento
metodológico há o registro da preponderância da prática respaldada pela instrumentalização
técnica. Diante da valorização desse novo recurso didático não se levava em conta o
conhecimento científico muito menos as complexidades das situações no exercício
profissional. Nessa nova perspectiva o profissional ficava reduzido ao fazer prático
dominando somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas (PIMENTA & LIMA,
2004, p. 37).
A visão dual da prática educativa que compreende técnicas separadas de questões
teóricas foi classificada por Candau (1984, apud: PIMENTA, 2004), como didática
instrumental, que compreendia o uso de tecnologias educacionais e o ensino programado.
Estudos que enfatizavam a crítica a essa didática fundamentaram a posição de negação à
própria didática. Concebia-se a escola como aparelho reprodutor de ideologias e o estágio
passou a se restringir na observação de falhas e desvios da escola, assim como de críticas aos
profissionais envolvidos com o ensino.
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A intenção dos educadores busca responder aos anseios por uma educação que
corresponda às necessidades sociais. Aponta-se para o enfrentamento dessa situação
compreendendo a educação como mediação no interior da prática social. Assim, a prática
social se põe tanto como o ponto de partida como ponto de chegada da prática educativa.
Dessa discussão decorre um método pedagógico que “parte da prática social em que professor
e aluno se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições distintas, condição
para que travem uma relação fecunda na compreensão e encaminhamento da solução dos
problemas postos na prática social” (SAVIANI, 2007, p. 110).
A práxis educativa
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Outros educadores apontam nessa mesma direção. O intuito é possibilitar uma visão
mais abrangente e contextualizada do estágio para além da instrumentalização técnica,
formando um profissional que pensa sua prática e que se situa num determinado espaço e num
tempo histórico. Nesse sentido o papel da teoria é de oferecer aos professores possibilidades
de análises e compreensão do contexto histórico em que estão inseridos.
Maciel (2002, p. 85), também defende a formação docente instrumentalizada pela
pesquisa. Esta prática permitiria o envolvimento do profissional em formação com um
compromisso pautado na reflexão dos acontecimentos que ocorrem no espaço escolar. A
autora critica a ênfase que se dá somente na docência como ato de ensino. Para ela essa
tendência, corroborada pela tríade: “observação, participação e regência” não consegue
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Esse avanço teórico é resultado de debates decorridos na década de 1990. Existia uma
inquietação sobre essa questão que após inúmeras discussões, resultou na aprovação da
Resolução CNE/CP n. 1/2002 e Resolução n. 2/2002. Esse é um momento em que a prática
nos cursos de Licenciatura ganha importância. Essas Resoluções dispõem sobre as dimensões
pedagógicas atribuídas à prática presente nos cursos assim como define sobre a carga horária:
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Conclusão
educação que temos e, da educação que queremos. Contribuir com essas discussões é nosso
desafio.
REFERÊNCIAS
LÜDKE, M. O professor, seu saber e sua pesquisa. Rev. Educação e Sociedade. n.74,
Campinas, abr. 2001.