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Gerada em
02/04/2020
16:50:10

Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

DECISÃO OU DESPACHO

Dados do Processo:
Número:
202000809028
Classe:
Agravo de Instrumento
Fase:
DISTRIBUÍDO
Escrivania: Situação: Órgão Julgador:
Escrivania da 2ª Câmara Cível e Câmaras Cíveis Reunidas ANDAMENTO 2ª CÂMARA CÍVEL
Grupo: Impedimento/Suspeição: Procedência:
I NÃO 2ª Vara Civel de Lagarto
Processo Origem: Processo Sigiloso: Distribuido Em:
202054100444 NÃO 01/04/2020
Segredo de Justiça:
NÃO
Tipo do Processo:
Eletrônico
Número Único:
0002867-95.2020.8.25.0000

Partes do Processo:
Tipo Nome Representante da Parte
Agravante MUNICIPIO DE LAGARTO Procurador Municipal: RODRIGO MACEDO DANTAS - 6067/SE
Agravado MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SERGIPE
HILDA ROLLEMBERG RIBEIRO
Pai: NÃO INFORMADO
Interessado Mae: NÃO INFORMADO

Vistos e analisados;

MUNICÍPIO DE LAGARTO interpôs AGRAVO DE INSTRUMENTO, em face da

decisão interlocutória proferida pelo Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Lagarto/SE
que, nos autos de uma Ação Civil Pública, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE SERGIPE, concedeu liminarmente o pedido de tutela provisória de
urgência antecipada da seguinte forma:

“Ex positis, concedo liminarmente o pedido de tutela provisória de urgência

antecipada (CPC, art. 300 c/c Lei n. 7.347/1985, art. 12), determinando que o
MUNICÍPIO DE LAGARTO, por meio da sua prefeita, HILDA ROLLEMBERG

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RIBEIRO, suspenda todas as reuniões de pregão presencial a partir da intimação

desta decisão até o dia 17/04/2020 ou, em caso de prorrogação pelo Estado de Sergipe
das medidas de prevenção ao COVID-19, até a nova data informada. Na hipótese de
descumprimento da liminar, determino a incidência de multa diária no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), limitada a R$100.000,00 (cem mil de reais), nos termos do
artigo 12, § 2.º, da Lei n.º 7.347/85, a ser revertida em favor do combate ao
COVID-19, nos termos do Provimento 06/2020 da CGJ/SE. Intime-se, por mandado,
os requeridos acerca da presente decisão judicial, em regime de urgência, nos termos
do art. 3º, parágrafo 1º, da Portaria Conjunta nº 13/2020 GP1 do Tribunal de Justiça
do Estado de Sergipe. Intime-se, eletronicamente, o MP acerca da presente decisão.
Conforme determinação no Ofício Circular nº 106/2020, promova-se o cadastramento
do assunto “Covid-19 (Código TPU 12612) no SCP-v, e comunique-se esta decisão,
via SEI, à Consultoria de Processos Administrativos deste Tribunal, para fins de
encaminhamento ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na forma determinada no
art. 4º da Portaria nº 57/2020, do CNJ. Cumprido o mandado, certifique-se e volvam
conclusos.”.

Em suas razões recursais, o agravante alega que desempenha serviços essenciais e não
pode paralisar, integralmente, durante a pandemia do COVID-19.

Revela que, ainda que se esteja sob estado de emergência, não se impossibilitou a
realização de procedimentos licitatórios, sendo, inclusive, estabelecida nova hipótese,
até mesmo de contratação de empresas inidôneas, como aponta o art. 4º, § 3º, da Lei
Federal 13.979/2020.

Aduz que o Decreto Federal 10.282/2020, que regulamentou a Lei Federal 13.979/2020,
em seu Art. 3º, já trouxe todas as normas para funcionamento do serviço público,
incluindo-se aí as licitações, por ser considerada atividade acessória, de suporte e
disponibilização dos insumos necessários à cadeia produtiva relativas ao exercício e ao
funcionamento dos serviços públicos e das atividades essenciais, conforme aponta o §
3º.

Assevera que a decisão agravada é manifestamente ilegal, por vedar a realização de

procedimentos licitatórios, que pode implicar na paralisação das demais atividades
desenvolvidas pelo Município de Lagarto.

Salienta que não se pode admitir que os procedimentos licitatórios, no Município de

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Lagarto, não sejam realizados, em razão da sua essencialidade.

Ressalta que estão na iminência de realizar licitações para pneus e câmaras, gêneros
alimentícios para utilização nos CAPS, medicamentos, combustíveis e gás natural.

Afirma que procedimentos licitatórios continuam a ocorrer no âmbito federal, estadual e

municipal, sem qualquer correlação com a Lei Federal 13.979/2020.

Assevera que, quando do recebimento da decisão, o pregão presencial 11/2020 estava

em andamento, respeitando o afastamento entre os licitantes, com a presença, apenas,
dos participantes, de um vereador e de um ouvinte, não havendo qualquer irregularidade
na sua realização.

Explica que, caso o Município necessite, futuramente, de um caminhão munck, para

efetuar reparos na iluminação pública da cidade, ou necessite de um carro pipa, para
que possa abastecer com água famílias em necessidade que não possuam serviço de
água encanada, o Município poderá, após a consolidação da ata de registro de
preços, verificar qual empresa poderá alugar algum dos referidos veículos, pelo
menor valor licitado, e, assim, imediatamente, poderá proceder a referida
contratação.

Sustenta ser imperiosa a conclusão da referida ata de registro de preços, a fim de que
alguns serviços essenciais venham a ser prestados no âmbito do Município, sejam
eles referentes à iluminação pública, água, ou até mesmo pavimentação de urgência,
ante a iminência do período de chuvas, o que poderá inviabilizar o transporte de
pacientes em povoados mais distantes

Pede a concessão do efeito suspensivo, e, no mérito o provimento do Agravo, no sentido

de possibilitar ao Município de Lagarto que continue realizando todos os processos
licitatórios, com fundamento no Art. 3º, §2º do Decreto Federal 10.282/2020, desde que
sejam adotadas as medidas previstas no Art. 3º, §7º do mesmo Decreto.

É, em síntese, o relatório.

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DECIDO.

O recurso apresenta-se tempestivo e contém os documentos obrigatórios ao seu

processamento.

Nos termos do art. 1.019, I e art. 995 do Novo Código de Processo Civil, será
concedido efeito suspensivo ao agravo de instrumento quando houver risco de lesão
grave ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso.

Para a concessão da tutela provisória deve-se observar os pressupostos para sua

concessão quais sejam a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

Compulsando os autos e os fundamentos fáticos trazidos pelo agravante, verifico que

existe a probabilidade do direito por ele invocado.

Pretende o recorrente reformar a decisão do magistrado de origem, que concedeu,

liminarmente, o pedido de tutela provisória de urgência antecipada do Ministério
Público do Estado de Sergipe, nos termos que seguem:

“Ex positis, concedo liminarmente o pedido de tutela provisória de urgência

antecipada (CPC, art. 300 c/c Lei n. 7.347/1985, art. 12), determinando que o
MUNICÍPIO DE LAGARTO, por meio da sua prefeita, HILDA ROLLEMBERG
RIBEIRO, suspenda todas as reuniões de pregão presencial a partir da intimação
desta decisão até o dia 17/04/2020 ou, em caso de prorrogação pelo Estado de Sergipe
das medidas de prevenção ao COVID-19, até a nova data informada. Na hipótese de
descumprimento da liminar, determino a incidência de multa diária no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), limitada a R$100.000,00 (cem mil de reais), nos termos do
artigo 12, § 2.º, da Lei n.º 7.347/85, a ser revertida em favor do combate ao
COVID-19, nos termos do Provimento 06/2020 da CGJ/SE. Intime-se, por mandado,
os requeridos acerca da presente decisão judicial, em regime de urgência, nos termos
do art. 3º, parágrafo 1º, da Portaria Conjunta nº 13/2020 GP1 do Tribunal de Justiça

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do Estado de Sergipe. Intime-se, eletronicamente, o MP acerca da presente decisão.

Conforme determinação no Ofício Circular nº 106/2020, promova-se o cadastramento
do assunto “Covid-19 (Código TPU 12612) no SCP-v, e comunique-se esta decisão,
via SEI, à Consultoria de Processos Administrativos deste Tribunal, para fins de
encaminhamento ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na forma determinada no
art. 4º da Portaria nº 57/2020, do CNJ. Cumprido o mandado, certifique-se e volvam
conclusos.”.

Pede o recorrente a concessão do efeito suspensivo, e, no mérito, o provimento do

Agravo, no sentido de possibilitar ao Município de Lagarto que continue realizando
todos os processos licitatórios, com fundamento no Art. 3º, §2º do Decreto Federal
10.282/2020, desde que sejam adotadas as medidas previstas no Art. 3º, § 7º do mesmo
Decreto.

Pois bem. Analisando os argumentos esposados no presente Agravo, depreende-se que

assiste razão ao agravante.

A manutenção/continuidade dos serviços essenciais, especialmente, em tempos de

pandemia viral do COVID-19 em que estamos vivenciando, é de suma importância,
desde que sejam respeitadas as determinações de prevenção de combate à epidemia
causada pelo Coronavírus, objetos de Decretos, a nível federal, estadual e municipal e,
sobretudo, na garantia da incolumidade fisica dos participantes, de modo a se
previnirem de contaminações.

Estabelece o art. 2º, do Decreto Estadual nº 40.567, de 24 de março de 2020, em seu §

5º, quais serviços essenciais não estão sujeitos a fechamento e embaraço, a saber:

“I – captação, tratamento e abastecimento de água;

II – geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis,

incluindo postos de combustível e serviços de iluminação pública;

III – os estabelecimentos médicos, hospitalares, laboratórios de análises clínicas,

farmacêuticos, psicológicos, clínicas de vacinação, bem como os estabelecimentos

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de fabricação, distribuição e comercialização de medicamentos, aí incluídos

farmácia, estabelecimentos de produtos sanitizantes e limpeza e demais da cadeia de
saúde da população;

IV - fabricação, distribuição e comercialização de gêneros alimentícios, tais

como supermercados, mercados, mercearias, açougues, peixarias, padarias, lojas
de conveniência e demais estabelecimentos voltados ao abastecimento alimentar da
população.

V- assistência social e atendimento à população em estado de vulnerabilidade;

VI –funerários;

VII –captação e tratamento de esgoto e lixo;

VIII –telecomunicações;

IX –processamento de dados ligados a serviços essenciais;

(...)”.

Inclusive, o Decreto de âmbito federal nº 10.282, de 20 de março de 2020, que

regulamentou a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, para definir os serviços
públicos e as atividades essenciais, no § 1º do art. 3º, especificou os serviços públicos e
as atividades essenciais. Vejamos:

“I - assistência à saúde, incluídos os serviços médicos e hospitalares;

II - assistência social e atendimento à população em estado de vulnerabilidade;

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III - atividades de segurança pública e privada, incluídas a vigilância, a guarda e a

custódia de presos;

IV - atividades de defesa nacional e de defesa civil;

V - transporte intermunicipal, interestadual e internacional de passageiros e o

transporte de passageiros por táxi ou aplicativo;

VI - telecomunicações e internet;

VII - serviço de call center;

VIII - captação, tratamento e distribuição de água;

IX - captação e tratamento de esgoto e lixo;

(...)

XI - iluminação pública;

(...)”.

Reza, ainda, o § 2º do reportado artigo que “Também são consideradas essenciais as

atividades acessórias, de suporte e a disponibilização dos insumos necessários a
cadeia produtiva relativas ao exercício e ao funcionamento dos serviços públicos e
das atividades essenciais.”.

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É cediço que, para que ocorra a manutenção/continuidade dos serviços públicos

essenciais, é necessária a ocorrência de licitações, conforme alegado pelo próprio
recorrente, desde que, na hipótese dos autos, tomem-se todas as cautelas para a
redução da transmissibilidade da COVID-10, conforme disposto no § 7º, do art. 3º,
do Decreto Federal 10.282/2020.

Nessas circunstâncias, a suspensão total das licitações, no Município de Lagarto/SE, nos

moldes da decisão fustigada, acaba por gerar embaraços à manutenção dos serviços,
friso, essenciais à vida, bem como sérios prejuízos/riscos à toda comunidade lagartense,
principalmente, no momento em que a humanidade está clamando por socorro e
soluções no combate ao COVID-19.

Com lastro nessas ponderações, extrai-se a presença dos requisitos autorizadores da

tutela recursal, a teor do que estabelece o artigo 300 do Novo Código de Processo Civil,
consubstanciados na probabilidade do direito e o perigo do dano.

Ante o exposto, pelo menos nesta análise perfunctória, DEFIRO O EFEITO

SUSPENSIVO VINDICADO, para que o Município de Lagarto/SE possa continuar
com processos licitatórios direcionados apenas a serviços públicos ESSENCIAIS,
desde que sejam adotadas medidas preventivas no combate ao COVID-19, na
preconizada pelos Governo Federal e Estadual e nas orientações emanadas da
Organização Mundial de Saude, Ministério da Saúde e Secretaria de Estado de
Saúde.

Deve a parte agravante noticiar a decisão ora proferida, nos autos principais, para fins de
ciência e cumprimento, servindo a consulta ao processo eletrônico como efetiva
notificação de conhecimento.

Intime-se o agravado, para que responda, no prazo de 15(quinze) dias, nos termos do art.
1.019, I e II do NCPC.

Transcorridos os prazos, com ou sem resposta do Agravado, encaminhem-se os autos à

Procuradoria de Justiça.

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Após, voltem os autos conclusos.

Intimações necessárias.

José dos Anjos

Desembargador(a)

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