Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Pertel - A Face Intercultural Da Linguística PDF
Pertel - A Face Intercultural Da Linguística PDF
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
Introdução
59
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
60
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
1
Grosso modo, a verdade a qual aqui nos referimos é um conceito epistêmico que tem suas raízes na
Lógica aristotélica, na Grécia. Ela tem o caráter de fidelidade ao fato conforme sua existência no mundo
real, ou seja, a proposição corresponderia diretamente a algo no mundo, independente de contextos. Essa
definição, porém, é incompleta, pois a questão da ‘verdade’ nos estudos linguísticos e também na
filosofia da linguagem é um assunto bastante extenso que mereceria um estudo à parte. Esse assunto, no
momento, foge às metas estabelecidas para a presente discussão.
61
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
... atravessadas por marcas características da rede de relações sociais que se estabelece.
Dessa forma, o que falta ao linguista, muitas vezes, é compreender que língua e
cultura são indissociáveis, ou seja, “cultura e língua estão intimamente relacionados.
Nossas culturas influenciam as línguas que falamos, e a forma como usamos as línguas
influencia nossas culturas” (GUDYKUNST, 1998, p. 172) 2. Assim, a compreensão de
língua a partir de uma perspectiva intercultural pode gerar pesquisas que respondam a
diversas questões linguísticas também urgentes às sociedades do século XXI. Vejamos,
pois, como compreendemos a interface entre a Linguística e a perspectiva intercultural.
2
Culture and language are highly interrelated. Our cultures influence the languages we speak, and how
we use our languages influences our cultures.
62
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
63
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
... em que ela ocorre. Em sua concepção, que inclui a enunciação e a interação, a língua
não é estática e os signos são criados e ideologicamente modificados pelo homem, pois
“enquanto uma forma linguística for apenas um sinal e for percebida pelo receptor
somente como tal, ela não terá para ele nenhum valor linguístico. A pura ‘sinalidade’
não existe [...], a forma é orientada pelo contexto” (BAKHTIN, 1929/1997, p. 94).
Assim, a língua é uma ferramenta que possibilita ao locutor suprir suas necessidades
enunciativas, e ao se utilizar dela para tais fins, acaba por construí-la sob a orientação
dos sentidos e dos contextos concretos de uso. Como afirma o próprio Bakhtin
(1929/2002, p. 92),
64
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
Comungamos com tal pensamento, uma vez que compreendemos ciência como
um conjunto de atividades que deve, de alguma forma, dar certo retorno prático à
sociedade, de forma a proporcionar melhorias e a gerar conhecimento não somente para
o meio acadêmico, mas, sobretudo, para qualquer usuário das línguas. Assim, para
Rajagopalan (2003a), por exemplo, a ciência da linguagem pensa a vida, incluindo dois
aspectos: pensar sobre a vida e pensar em vida. “Pensar sobre indica distanciamento;
pensar em indica o mergulho. No entanto, ambas as posições comungam no pensar: não
há como excluir ramos de uma mesma teia” (RAJAGOPALAN, 2003a, p. 13).
Essa perspectiva nos leva a acreditar na falácia de definições que restringem a
ciência da linguagem ao estudo de estruturas e formas. Pois a língua, instrumento/meio
e objeto da Linguística é
65
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
... subciências que, segundo Kato (2003), podem parecer bastante contraditórias. Para
ela, a Linguística pode ser considerada “[...] a ciência que estuda as línguas humanas, as
línguas naturais. Agora, a abordagem, o ângulo é que diferem” (p. 116). Nessa mesma
linha de pensamento, Rajagopalan (2003, p. 44) afirma que “podemos fazer da
Linguística o que quisermos que ela seja. Vai depender tão-somente de nós linguistas”.
Portanto, a natureza dos estudos linguísticos se apresenta multifacetada,
pluralizada, uma vez que a interação e o uso da língua/linguagem são grandes
responsáveis por essa caracterização. Esse novo modelo de linguagem ordinária se
mostrou mais evidente após as produções da Escola de Oxford, com Ryle, Austin,
Strawson e Searle, sob a influência de Wittgenstein II, quando se passa a compreender
que “a função da linguagem NÃO É FALAR ACERCA DO MUNDO, MAS AGIR
COM A FALA NO MUNDO, pois ela é um tipo de AÇÃO, uma atividade, um
comportamento, uma forma de vida” (ARAÚJO, 2004, p. 100, grifos da autora). Essa
forma de vida, porém, não pode ser afastada de suas características culturais, pois língua
e cultura são inseparáveis dentro da perspectiva de que língua é uma prática social
(KRAMSCH, 1994),
Ao compreender a linguagem e a natureza da Linguística desse ponto de vista,
podemos afirmar que há nela espaço necessário para a interface com outros aspectos da
vida humana em sociedade, bem como com a questão da interculturalidade, um campo
de estudos que nos permite compreender as inter-relações entre diferentes identidades,
culturas. Passemos, portanto, a ...
66
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
... seguir, a discutir mais detalhadamente as relações que construímos entre a Linguística
e a Interculturalidade.
67
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
3
“a particular way of life, which expresses certain meanings and values not only in art and learning but
also in institutions and ordinary behaviour. The analysis of culture, from such a definition, is the
clarification of the meanings and values implicit in a particular way of life, a particular culture… the
characteristic forms through which members of the society communicate”.
68
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
69
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
diferentes, podendo ser definido, num conceito mais geral, como um tipo de
comunicação que ocorre quando indivíduos de diferentes culturas negociam
significados durante a interação. Essa negociação, entretanto, segundo Hall
(1991/1998), exige do sujeito atenção a certas regras de comunicação e comportamento
não-especificadas (‘unstated rules of behavior and communication’), sem a qual haverá
falhas que o levarão ao fracasso na comunicação.
Portanto, a comunicação intercultural é aqui compreendida como uma
perspectiva interacionista que envolve pessoas de diferentes culturas, baseada na
compreensão, apreciação e respeito4 às diferenças (BENNETT, 1998). A comunicação
intercultural envolve mais do que a ciência sobre fatos e características gerais de
determinadas culturas, embora seja importante que o comunicador intercultural tenha
conhecimento suficiente sobre a sua própria cultura, pelo menos, sendo, contudo, aberto
às diversas possibilidades de reconstrução e relativização desse conhecimento. Assim,
tal sabedoria deve servir apenas parcialmente e como ponto de partida para a
(re)construção de hipóteses que deverão ser testadas durante a interação ou construção
do texto.
De modo geral, os valores, as crenças, práticas e suposições culturalmente
estabelecidos e conhecidos são considerados de forma generalizada, uma visão
estereotípica ou até etnocêntrica do mundo, e questionados quando nos confrontamos ...
4
‘respeito’ significa ter consideração e apreciação pelo outro e valorizá-lo (BYRAM, 1997).
70
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
71
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
... pode ser enriquecida através de práticas que promovam encontros interculturais.
Conforme House (2007), o agente intercultural deve ser independente tanto da
sua cultura nativa (e língua) quanto das novas culturas (e línguas) com as quais mantém
contato, ou intermedeia, ou reconcilia. Ele estará criando algo (língua/linguagem,
cultura, identidade) novo e autônomo, ocupando, dessa forma, um entre-lugar (HOUSE,
2007), ou um Terceiro Espaço (KRAMSCH, 1993; BHABHA, 1998/2013), cujas
características principais são o hibridismo e a imprevisibilidade.
Ao agir no mundo através da língua/linguagem, construímos, portanto, muito
mais do que signos linguísticos, construímos também significados culturais, identitários,
valores e características que nos diferenciam como seres humanos, pelo menos
provisoriamente. Tal fato é apresentado por Widdowson em Linguistics (1996), ao
definir a natureza da língua. Segundo o linguista, a língua nos auxilia a descobrir nossa
própria identidade como indivíduos e como parte da sociedade e “nos serve como meio
cognitivo através do qual nos comunicamos, permitindo-nos pensar por nós mesmos e
cooperar como o Outro em comunidade” (1996, p. 3).
Portanto, a Linguística não poderia se ater ao estudo das formas, das estruturas,
ignorando as diversas possibilidades que podem surgir a partir das interações
comunicativas construídas através dos usos linguísticos e das negociações de
significados. Entretanto, tais negociações, bem como possíveis compreensões do mundo
não podem ser construídas quando os interlocutores se mantêm no nível simplificado
da...
72
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
... decodificação dos seus próprios significados. Neste sentido, Bakhtin (1997, p. 27)
nos ensina que “[...] é ainda em nós mesmos que somos menos aptos para perceber o
todo da nossa pessoa”. Os interlocutores precisam, para tanto, buscar a compreensão das
relações desses significados com os significados construídos pelos outros (BYRAM,
1994), que devem ser sempre relativizados.
Para tanto, a perspectiva intercultural nos auxilia a compreender melhor o objeto
de estudo da Linguística. O uso da língua/linguagem não é nada menos do que um
processo de construção enunciativo-cultural, mas cabe aos interlocutores diferenciar
entre o ‘sujeito da proposição’ e o ‘sujeito da enunciação’5, compreendê-los, mediar
entre os dois e reconciliá-los num terceiro espaço, que não se caracteriza nem pelo pré-
suposto, nem por um centro interpretativo inalterável. Nesta perspectiva, Bhabha
(1998/2013, p, 72) nos ensina que ...
5
A proposição é o objeto da lógica preconizada por Aristóteles. Grosso modo, ela é um discurso
declarativo que exprime verbalmente os juízos formulados pelo pensamento através da linguagem. Dessa
forma, o sujeito da proposição é aquele que pensa e que transforma esse pensamento em linguagem,
independente de contextos. Já a enunciação corresponde ao momento de atualização da língua numa
situação de discurso precisa, num dado momento histórico e em certo espaço. Ela é o resultado da
produção individual, porém é dependente da atividade conjunta do locutor e do interlocutor. Assim, o
sujeito da enunciação é aquele que fala, no momento preciso em que fala e por aquele que ouve.
73
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
74
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
7 Considerações finais
75
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
76
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
Referências
77
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
78
Como citar este artigo:
PERTEL, Tatiany. A face intercultural da Linguística. In: REZENDE, P. (Org.) Interfaces com a
Linguística: dialogando saberes. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. p.59-79.
79