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O termo administrar vem do latim administrare que, significa não só prestar serviços, como
também, dirigir, governar, exercer a vontade, com o objectivo de obter um resultado útil. Até no
sentido vulgar, administrar quer dizer dirigir superiormente, aplicar, traçar um programa de acção
e executá-lo.
1
FEIJÓ, Carlos, PACA, Cremildo – Direito Administrativo, Luanda: Mayamba Editora, 2013, p. 101.
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o que representa a esfera das necessidades a que a iniciativa privada não pode responder e que
são vitais para a comunidade na sua totalidade e para cada um dos seus membros 2.
O poder político tem responsabilidade na provisão de muitos bens, que são mais
públicos que privados, e que devem ser por ele produzidos, porque só deste modo certos
benefícios serão distribuídos pelos mais carenciados – o que representa discriminação positiva.
No entanto, convém notar que nem todos os serviços que funcionam para a satisfação
das necessidades colectivas têm a mesma origem ou a mesma natureza: uns são criados e
geridos pelo Estado (polícias ou impostos, por exemplo), outros são entregues a organismos
autónomos que se auto-sustentam financeiramente (portos, vias férreas), outros ainda são
entidades tradicionais de origem religiosa, hoje assumidas pelo Estado (Universidades).3
Apesar das diferentes naturezas destes serviços, todos deveriam existir e funcionar para
a mesma finalidade: a satisfação das necessidades colectivas; segurança, cultura e bem-estar.
A TAP não nasceu na perspectiva da obtenção de lucros, mas sim na de uma empresa
vocacionada para a satisfação prioritária de uma necessidade colectiva. Poderíamos, também
falar no caso dos CTT e na decisão política da sua privatização. Depois dos casos BPN, BPP,
BES e Banif, acredito que ninguém pode afirmar taxativamente que o privado gere melhor que o
público, ou vice-versa.
2
AMARAL, Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, Coimbra: Almedina, 2ª ed. 2013
3
Idem, Op. Cit.
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“Não se pode com efeito, admitir simplesmente a participação de um sector privado
eficaz, mas que, na sua acção, provoque desigualdades e exclusões, nem um sector público
social que intervenha, em seguida, apenas para reparar os danos causados pela falta de uma
acção preventiva. Esta acção preventiva poderia nascer da construção de mecanismos eficazes
de regulação de serviços públicos operados por empresas privadas (Lorrain, 1995).”
4
MAYER, Ivan H.; FOX, William, Public Administration Dictionary. Stellenbosch – South Africa: Juta & Co.,
Ltd., 1995
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Quanto ao controle: A teoria das protecções especiais; segundo Weber, como os
servidores públicos agem em nome do poder público, dispõem, em virtude disso, de
um certo poder de coacção, independentemente de seu nível hierárquico; essa
autoridade, para que não se torne abusiva, necessita de controlos, não só de seu
chefe, mas também dos colegas, dos subordinados, do povo e do próprio servidor. A
esse controle, Weber denominou Teoria de protecções especiais.
Quanto aos objectivos: A gestão pública visa a consecução de seus objectivos em
prol do interesse colectivo, sem contudo, buscar lucro em suas actividades.
A gestão privada visa o lucro. Vale ressalvar que as organizações públicas que oferecem
serviços não exclusivos ao Estado (como as empresas públicas, por exemplo), podem auferir
lucro. Assim, os empresários são motivados pela busca do lucro, as autoridades governamentais
orientam-se pelo desejo de serem reeleitas.
Vários autores se têm debruçado sobre as diversas formas de privatização. Savas refere que
existem três formas do processo de privatização, a saber:
a transferência de funções – através da qual o Governo mantém o controlo da produção
e a obrigação da prestação de serviços;
o desinvestimento – o governo vende ou sede a produção, prestação de um bem e/ou
serviço a privados; e
substituição – onde não é necessária uma acção de transferência ou desinvestimento
pelo Governo para que os privados se encarreguem da produção e/ou prestação de
bens e/ou serviços.
Mas será que a gestão pública terá de, obrigatoriamente, não dar lucros, sobrecarregando
outros sectores públicos? E será que a gestão privada deverá conhecer o verbo falir tão
frequentemente?
Mais do que pública ou privada, a gestão quer-se competente, rigorosa, eficiente e eficaz.
Nesse sentido, mais importante do que a estrutura de capital, é a forma como se definem
estratégias, planos de acção e orçamentos, entre outros. A gestão tem de ser responsável e, não
menos importante, responsabilizada pelos resultados que obtém e apresenta. Na devida altura, e
em sede própria, caberá à estrutura accionista avaliar essa gestão, seja o capital público ou
privado.
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Na verdade, a Administração Pública moderna é uma rede de ligações verticais e horizontais
entre organizações de todo o tipo: públicas, privadas lucrativas e sem fins lucrativos e
voluntárias.
Com as reformas do Estado uma nova gestão pública começa a dar os primeiros passos
intentando corrigir algumas deficiências no sistema administrativo, nomeadamente a
preocupação com a disciplina e parcimónia na utilização de recursos, cortando nos custos e
procurando maior eficiência na utilização dos recursos.
Os Transportes Aéreos Portugueses foram criados em 1945 como empresa estatal, pela
mão de Humberto Delgado, com uma frota composta de excedente americano da Segunda
Guerra, normal numa altura em que o transporte aéreo de passageiros estava longe de ser uma
actividade tão apetecível.
Era sobretudo um meio para ligar os territórios continentais aos territórios ultramarinos,
estando as rotas algo limitadas fora da lusofonia, e também pelo investimento modesto em
aeronaves. Entre os primeiros onze pilotos formados em Inglaterra estava o Comandante
Marcelino, conhecido pelos voos de certificação do aeroporto da Madeira e por ser o piloto do
voo desviado por Palma Inácio em 1961 para despejar milhares de panfletos anti-Salazar em voo
rasante por cima da estátua do Marquês de Pombal.
Em 2015 foi vendida ao consórcio Atlantic Gateway, num negócio que previa a
passagem de 61% do capital da companhia para a esfera privada e a injecção de 334 milhões de
euros na companhia. Pouco tempo depois, tomava posse o actual Governo, que decidiu reverter
parcialmente a privatização, reduzindo a participação do consórcio privado de 61% para 45%.
Depois de a Assembleia da República ter pedido uma auditoria sobre todo o negócio, as
conclusões parecem não deixar margem para dúvidas. No relatório pode ler-se: «Com a
recompra, o Estado recuperou controlo estratégico, mas perdeu direitos económicos, além de
assumir maiores responsabilidades na capitalização e no financiamento da empresa». O relatório
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expõe ainda os «riscos» inerentes às obrigações assumidas pelo Estado e diz que «as
projecções até 2022 são insuficientes» para aferir da sustentabilidade.
AMARAL, Diogo Freitas do - Curso de Direito Administrativo. 2ª ed., 11ª reimp. Coimbra:
Almedina, 2006, Vol. I
SAVAS, Emanuel Steve – A, Privatization and Public-Private Partnerships. New - York: Chatham
House Publishers, 2000
MAYER, Ivan H.; FOX, William, Public Administration Dictionary. Stellenbosch – South Africa:
Juta & Co., Ltd., 1995
CAETANO, Marcello, Manual de Direito Administrativo. rev. e actual. Diogo Freitas do Amaral.
10ª ed., 10ª reimp. Coimbra: Almedina, 2010
http://www.ordemeconomistas.pt/xportalv3/eventos/evento.xvw?debate:-
privatiza%C3%A7%C3%A3o-da-tap&p=84139
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