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PÁGINAS MATINAIS - MORNING PAGES - ISSUE #3 03/APR/2020

Páginas Matinais – Morning Pages #3

Mais uma aventura começa, nessa manhã fria de 3 de Abril de 2020, em Lisboa. As minhas
páginas matinais têm mais uma candidata. Vamos ver no que isso vai dar hoje, visto que há
múltiplos temas em turbilhão no meu cérebro a disputarem por um lugar privilegiado nessas
folhas brancas. É um processo que nos deixa sempre com um friozinho na barriga. Mas é
um medo “infundamentado”, porque receamos não sermos capazes de terminar uma tarefa
sobre a qual pouco ou nada sabemos...daí mesmo o medo...não conhecermos a natureza do
monstro. Viver é exactamente isso, enfrentar o desconhecido e recolher dessa experiência
alguma lição inestimável que talvez nos poupe embaraços no futuro.

Apetece-me falar sobre a questão das Repações que os herdeiros dos Colonos devem aos
herdeiros dos Escravos, principalmente na América do Norte onde grande massa dos
sequestrados, dos arrancados dos seios das suas famílias, dos “despatriados” das suas
terras e dos extirpados das suas origens contra as suas vontades, foram levados para
trabalhar em actividades praticamente forçadas, ao ritmo cadente da chibata e ao som das
vozes fanfarrãs, dos gritos covardes dos capangas cruéis e masoquistas, que se auto-
proclamavam superiores baseados no tom epidérmico.

Essa Reparação de que tanto se falou e nunca se efectivou. Muito pelo contrário, houve o
despautério de compensarem os antigos “proprietários” de escravos pela perda de
propriedade. Sério? Uma espécie de lucro cessante, mecanismo legal pelo qual, uma pessoa
que fica acidentalmente privada de lucrar por um meio, equipamento ou outro, deve
receber o lucro que receberia se tal meio não tivesse sido danificado ou colocado na
situação disfuncional pelo causador do acidente. Então voltamos ao início do problema, quer
dizer que existe uma resistência da parte dos “Ex-Colonizadores” para se reconhecer que se
cometeu um erro ao traficarem humanos como se fossem coisas inanimadas. Como ousam
querer receber ou dar uma compensação por propriedade perdida?

Não basta a ofensa do acto originário em si? Ainda querem acrescentar mais gravidade a
ofensa já cometida? Então os africanas, vítimas duma das maiores barbaridades da história
da humanidade, eram mercadorias? Será que foi apenas um truque para lucrarem mais
algum no meio da confusão? Ou eram mesmo estúpidos o suficiente para não verem que ao
exigirem isso, negavam tecnicamente em simultâneo o direito à Reparação que justamente
deviam? Então se te exigem que repares uma falta e tu pelo teu lado exiges que te
compensem porque ao reparares a tua falta vais sofrer danos financeiros dos lucros
pecuniários que somente auferiste em virtude da tal ofensa cometida, não estás a negar
fundamentalmente a natureza ofensiva do teu acto? Caso para análise filosófica!!!

Pensar nesses aspectos negros da história da humanidade, deixa-me profundamente


indignado. A injustiça em si, de qualquer natureza que seja, deixa-me sempre revoltado.
Muitas vezes manifestei-me contra actos flagrantes ou implícitos de injustiça, outras vezes
as circunstâncias silenciaram a minha voz e por isso me sinto culpado de não ter
emprestado muitas vezes a minha voz à quem não tinha nem voz, nem capacidade, nem
plataforma para expressar a sua revolta, a sua dor de oprimido. Somo todos cúmplices da
injustiça, quando a testemunhamos em silêncio “velado”.

O mundo tem sido assim desde que é mundo. E muitos acreditam e afirmam piamente que
para uma dúzia de pessoas estarem bem, muitos devem sofrer. O bem-estar de uma
minoria privilegiada tem como base fundamental, como pedra-angular, o sofrimento da
maioria. E muitos têm vivido de acordo com esse moto e não acreditam noutro modo de

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viver. E sempre que alguém se determina a prosperar financeiramente, se auto-convence


que para realizar tal desiderato uma massa indeterminada de pessoas terá que sofrer. Há
coisas fundamentalmente erradas com o mundo e essa é uma delas. Acreditar que só é
possível ser bem-sucedido à custa do fiasco de outrem.

Precisamos de extirpar esse vírus do organismo da humanidade se quisermos criar meios


para que as gerações vindouras encontrem no mundo um local melhor para se habitar. E,
não tenham que repetir os mesmos erros que a humanidade tem vindo a cometer desde
que o mundo é mundo. Será que o amor ao próximo um dia será uma realidade? Ou será
sempre essa quimera inatingível, possível apenas em contos fictícios?

Por que será que só quando o mundo é confrontado com um inimigo comum que ameaça a
extinção de toda a humanidade, é que despertamos para a necessidade de sermos mais
unidos como espécie, mais humanos com os nossos semelhantes, mais gentis com a
natureza, a fauna e a flora? Essa instrospecção pela qual somos invadidos quando
supostamente a humanidade está à beira dum colapso do qual poderá não recuperar ou
mesmo sobreviver, tem muito de genuinidade como de falsidade. Porque nos primeiros
segundos depois de sobrevivermos e nos apercebermos que conseguimos derrubar o
inimigo comum, naqueles primeiríssimos minutos a memória começa logo a desvanecer e
voltamos para rotina habitual, esquecendo-nos que à pequenas fracções de tempo atrás
estávamos desesperados e arrependidos de não termos manifestado mais afecto aos nossos
ente-queridos, não termos amado e demonstrado mais, não termos sido mais solitários com
o próximo, não termos sido menos gananciosos e materialistas, e que o tempo já não
estava ao nosso lado e que já haveria tempo para tais actos antes considerados frívolos,
mas nesse hora, reveladas como as coisas mais importantes da vida na terra.

Drogas nootrópicas, será que são verdadeiramente eficazes ou não passam de placebos?
Será que temos estado a ser enganados todo esse tempo? Mas se forem de facto placebos
e, no entanto, têm estado a surtir efeito, o que esse facto diz sobre o poder da mente? O
poder da crença em algo como força-motriz imparável e indispensável para a realização de
grandes feitos? Se a mente tem de facto esse poder para nos permitir realizar todo e
qualquer desafio à que uma pessoa se propõe, por que é tão difícil desencadear esse poder
e usá-lo discricionariamente? Por que temos que recorrer a terapias e outras actividades
como meditações profundas para libertar esse poder infinito da mente?

Gostaríamos de ser capazes de assimilar o maior número de informação possível no mais


curto espaço de tempo possível, e colocar essa informação que eventualmente se
transforma em sabedoria ao nosso serviço, para vivermos uma vida mais plena, mais
recheada de significado. Mas, o que é uma vida plena e recheada de significado? Com base
nessa exposição, uma vida que preenchesse tais requisitos seria uma vida em que uma
pessoa teria resposta para todo o novo desafio ou problema que lhe aparecesse a frente.
Seria ser capaz de controlar tudo a sua volta, não deixando que o perigo, o risco, a ameaça,
a perda, constituíssem motivos de preocupação?

Teria realmente sabor essa vida? Ou será que viver sem poder controlar efectivamente o
que nos acontece e como as coisas que nos acontecem nos afectam, é o que torna a vida
realmente interessante? Reflexões filosóficas sobre a vida, não são coisas fáceis. Requerem
uma profundidade de pensamento que já tive e algures na minha história de vida, deixei
escapar...ou deixei a guardada em algum compartimento cujo rótulo não sei identificar.
Será que terei que readquirir essa habilidade ou poderei restaurar a já existente, perdida
algures nos confins da minha mente?

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O tempo voa. E a cada dia damos mais um passo em direcção ao nosso fim. Cada dia? A
cada segundo. Por isso devemos nos esforçar sem medidas para realizar as missões que nos
trouxeram a terra. Ou pelo menos agregar valor as vidas daqueles que nos rodeiam. O
descanso deve estar reservado para quando formos para o outro lado. Onde repousaremos
e apreciaremos os nossos feitos aqui na terra. Vendo as nossas vidas lá do outro lado, como
aproveitamos ou desperdiçamos o pouquíssimo tempo que nos foi atribuído para
realizarmos uma missão ou missões que nem sequer sabíamos qual/quais eram. Essa
reflexão faz pensar que a vida é uma coisa injusta, não é? Vir a terra sem saber por que
motivo e partir dela e ser julgado sem saber por quê?

A vida é para os duros, e quanto mais cedo adquirirmos essa noção, melhor. Maiores são as
chances de fazermos coisas interessantes e significativas. Parece que estou a andar em
círculos nessa temática. Preciso de sair daqui.

Ideias invoco-vos para que invadam a minha mente nesse momento em grandes vagas.
Apossem-se de mim, tomem o meu ser e façam de mim o vosso vaso, o vosso veículo para
comunicar ao mundo o que o mundo não entendeu até hoje. E o que é isso que o mundo
não entendeu até hoje? Sei lá! São tantas coisas, que eu nem saberia pode onde começar.
O Amor? É demasiado para abordar nas pouquíssimas linhas que me restam. Ou terei receio
apenas de abordar um tema tão sensível, simples e ao mesmo tempo tão complexo?

O Amor, fonte de tanta alegria e ao mesmo tempo de tanta tristeza. Alegria quando é
correspondido, tristeza quando acontece o inverso. Mas o Amor tem tantas facetas. Por que
motivo estou a falar desse Amor que precisa de ser correspondido para ser Amor, para se
manifestar e existir. O Amor nem sempre tem que ser uma estrava de dois sentidos.
Podemos amar alguém sem esperar que esse alguém nos ame de volta? Ou todo Amor para
persistir requer a correspondência da contraparte? Podemos falar de amor por um ser
inanimado? Se a resposta for sim, então podemos amar sem ser correspondido e esse
persistiria, porque não estaríamos a espera de ser amados de volta pelo ser inanimado. Mas
podemos ter esse mesmo amor por seres vivos? Posso amar o meu cão, e a fidelidade que
ele mostra por mim ser confundida com amor? Então é possível amarmos pessoas e não
ficarmos desiludidas por elas não nos amarem de volta? Ou por sabermos que são pessoas,
automaticamente esperamos que elas nos amem de volta, e é nessa esperança que reside a
raíz da frustração, da desilusão, quando nos apercebemos que não somos amados na
mesma medida ou nem somos amados de todo?

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