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aplicam aos sonhos; e outro, Dugas (1897a), declara que “le rêve n’est pas déraison ni même

irraison pure”. Mas tais afirmações têm pouco valor, na medida em que seus autores não fazem
nenhuma tentativa de conciliá-las com suas próprias descrições da anarquia psíquica e da ruptura
de todas as funções que predominam nos sonhos. Parece, contudo, ter ocorrido a alguns outros
autores que a loucura dos sonhos talvez não seja desprovida de método e possa até ser simulada,
como a do príncipe dinamarquês sobre o qual se fez esse arguto julgamento. Estes últimos autores
não podem ter julgado pelas aparências, ou então a aparência a eles apresentada pelos sonhos
deve ter sido diferente.
Assim, Havelock Ellis (1899, 721), sem se deter no aparente absurdo dos sonhos, refere-
se a eles como “um mundo arcaico de vastas emoções e pensamentos imperfeitos” cujo estudo
talvez nos revele estágios primitivos da evolução da vida mental.
O mesmo ponto de vista é expresso por James Sully (1893, 362), numa forma que é, ao
mesmo tempo, mais abrangente e mais perspicaz. Suas palavras merecem ainda mais atenção
tendo em mente que ele talvez estivesse mais firmemente convencido do que qualquer outro
psicólogo de que os sonhos têm um significado disfarçado. “Ora, nossos sonhos constituem um
meio de conservar essas personalidades sucessivas [anteriores]. Quando adormecidos,
retornamos às antigas formas de encarar as coisas e de senti-las, a impulsos e atividades que nos
dominavam muito tempo atrás.”
O sagaz Delboeuf (1885, 222) declara (embora cometa o erro de não apresentar
qualquer refutação do material que contradiz sua tese): “Dans le sommeil, hormis la perception,
toutes les facultés de l’esprit, intelligence, imagination, mémoire, volonté, moralité, restent intactes
dans leur essence; seulement elles s’apliquent à des objets imaginaires et mobiles. Le songeur est
un acteur qui joue à volonté les fous et les sages, les bourreaux et les victimes, les nains et les
géants, les démons et les anges.”
O mais ferrenho oponente dos que procuram depreciar o funcionamento psíquico nos
sonhos parece ser o Marquês d’Hervey de Saint-Denys [1867], com quem Maury travou viva
controvérsia, e cujo livro, apesar de todos os meus esforços, não consegui obter. Maury (1878, 19)
escreve a respeito dele: “M. le Marquis d’Hervey prête à l’intelligence durant le sommeil, toute sa
liberté d’action et d’attention et il ne semble faire consister le sommeil que dans l’occlusion des
sens, dans leur fermeture au monde extérieur; en sorte que l’homme qui dortè ne se distingue
guère, selon sa manière de voir, de l’homme qui laisse vaguer sa pensée en se bouchant les sens;
toute la différence qui sépare alors la pensée ordinaire de celle du dormeur c’est que, chez celui-ci,
l’idée prend une forme visible, objective et ressemble, à s’y méprendre, à la sensation déterminée
par les objetes extérieurs; le souvenir revêt l’apparence du fait présent.” A isso Maury acrescenta
“qu’il y a une différence de plus et capitale à savoir que les facultés intellectuelles de l’homme
endormi n’offrent pas l’èquilibre qu’elles gardent chez l’homme éveillé.”
Vaschide (1911, 146 e seg.) nos fornece uma exposição mais clara do livro de Hervey de
Saint-Denys e cita dele um trecho [1867, 35] sobre a aparente incoerência dos sonhos: “L’image du

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