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UM PATRIMÓNIO CIVILIZACIONAL PARTILHADO

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UM PATRIMÓNIO CIVILIZACIONAL PARTILHADO
UM Património cultural Milenar

O Mediterrâneo é mais que um mar interior e transporte, dinamizou o comércio e a


ligando três continentes, é berço de civilizações navegação, fundou pequenas e grandes
que influenciaram a história da humanidade cidades, formas de organização social e
nos últimos milénios. O Mediterrâneo é um política, construiu espaços sagrados e
modo de ver, pensar e agir, um modelo de vida as três grandes religiões monoteístas.
comunitária. As formas de vida comunitária estruturaram
Um modelo cultural interdependente sistemas mentais e sociabilidades, originaram
vertebrou as sociedades mediterrânicas, expressões simbólicas, rituais e artísticas,
transformou espaços naturais em paisagens tendo como marcadores temporais os ciclos
de terrenos lavrados, de vinhedos e olivais, astrais, biológicos e agrários, ainda hoje muito
pomares e figueirais, desenvolveu novas presentes nas festividades populares por todo
tecnologias de produção, transformação o espaço cultural mediterrânico.

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As populações atribuíram valores sagrados e mediterrânicos estão presentes nos traços
agregadores a determinados alimentos, como fundamentais do clima, da geografia, da
os cereais e o pão (o termo companheiro vem economia, da cultura e do quotidiano dos
do latim cum panis), o azeite e o vinho, entre portugueses.
outros. Estes elementos estão presentes nas Em Portugal ocorreram historicamente “ATRIBUÍRAM VALORES
práticas de ritualização, como o uso do pão e processos de assimilação e aculturação, com
SAGRADOS E AGREGADORES
do vinho na eucaristia, do azeite como fonte de integrações e exclusões, como a romanização,
luz e calor e ainda unguento para cerimoniais de a arabização e a cristianização, que nos últimos A DETERMINADOS ALIMENTOS”
batismo, crisma e extrema-unção. oito séculos definiram o perfil e especificidades
A Península Ibérica, entre o Mediterrâneo de uma cultura portuguesa multifacetada e
e o Atlântico, foi confluência de civilizações universalizadora.
que marcaram a História. Os elementos

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As diferenças entre o Norte e o Sul, com preparação e confeção dos alimentos onde
o Mondego como referência, estão bem os conhecimentos transmitidos de geração a
patentes no clima e morfologia dos terrenos, geração se associaram aos saberes e produtos
nos sistemas agrários e na divisão da trazidos pelas permutas das Descobertas.
propriedade, nos vinhedos serranos do Douro Uma extensa orla marítima pontuada de
e no montado alentejano, nos povoamentos cidades portuárias e estuarinas em contacto
fracionados ou concentrados, no granito da permanente com o oceano e de comunidades
casa nordestina ou beirã e nos barros e taipas piscatórias distribuídas ao longo da costa,
do Alentejo e Algarve. São também visíveis nas trouxe para a mesa dos portugueses uma
expressões linguísticas e “falares”, nas festas enorme variedade de peixes, moluscos
e modos de celebração colectiva, na tradição e bivalves. Originaram igualmente uma
oral, nos desfiles de oferendas, e ainda no multiplicidade de padroeir(o)as, festividades
desenvolvimento de formas particulares de de mareantes, bênçãos de redes e “banhos
santos”, compromissos e ex-votos marítimos, …

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A diversidade e riqueza da cozinha portuguesa, A permanência das culturas comunitárias
simbiose das formas de subsistência alimentar implica reconhecimento e preservação das
dos camponeses e pescadores, da tradição especificidades da Dieta Mediterrânica
conventual e aristocrática e da mescla com portuguesa, fator decisivo para a presença
elementos de outras origens geográficas, personalizada de uma nação multissecular, num
expressa-se à volta da mesa, tendo a família mundo cada vez mais competitivo, globalizado
e os amigos como elemento de convocação e homogeneizador.
e transmissão. Na comunidade a dieta
mediterrânica é dinamizada por associações,
confrarias, comissões de festas e outras
organizações locais.
São múltiplos os exemplos de relacionamento
e semelhança com outras tradições
gastronómicas mediterrânicas, como a regular “A FAMÍLIA E OS AMIGOS COMO
presença das sopas, dos cozidos e guisados, ELEMENTO DE CONVOCAÇÃO
do pão, das saladas, a condimentação com
E TRANSMISSÃO”
ervas aromáticas, os frutos secos e o vinho às
refeições.

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O PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E A NOSSA SAÚDE

O padrão alimentar mediterrânico, que diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doença que observou existir, num estudo realizado
por conveniência se designa por Dieta cardiovascular, obesidade e doenças em diversos países, uma estreita relação entre
Mediterrânica tem sido muito estudado nos neuro-degenerativas como a doença de o consumo de gorduras e a incidência de
últimos 50 anos. Os trabalhos científicos têm Parkinson ou de Alzheimer. doença coronária, sendo esta doença tanto
acompanhado populações com consumo mais A dieta mediterrânica é, pois, considerada mais frequente quanto mais elevado fosse o
elevado de produtos vegetais (nomeadamente uma das mais saudáveis do mundo, o que é consumo de gordura. A exceção verificou-se
de hortícolas, fruta, pão de qualidade e cereais testemunhado pelo facto de os habitantes da apenas nos povos da bacia do Mediterrâneo
pouco refinados, leguminosas, frutos secos e Europa do Sul, entre os quais Portugal, terem que, apesar de terem um elevado consumo
azeite) e analisado o seu estado de saúde. a mais baixa taxa de mortalidade por doenças de gordura, sofriam de relativamente
Os resultados de muitos estudos sugerem cardíacas. poucos enfartes do miocárdio. Essa exceção
que este padrão diário de alimentação está O seu extraordinário valor foi realçado pela devia-se ao tipo de gordura consumida que,
associado a maior longevidade no geral e primeira vez pelo americano Ancel Keys, no Mediterrâneo, era sobretudo gordura
à proteção face a doenças como o cancro, reconhecido especialista em nutrição humana, insaturada (azeite).

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“É POSSÍVEL JUNTAR
SAÚDE E SABOR À
VOLTA DA MESA.”

Desconhecem-se ainda os mecanismos exatos A investigação científica continua e será capaz outros fatores, nomeadamente culturais, como
que levam a maior longevidade e proteção face de confirmar brevemente os mecanismos o menor uso do automóvel, mais deslocações
à doença por parte das pessoas que aderem exatos que levam a que estes alimentos a pé, o que significa maior atividade física, bem
à Dieta Mediterrânica. Sabemos hoje que confiram proteção face à doença. Felizmente, como a uma atmosfera social mais descontraída
existem nos alimentos, e mais concretamente a tradição alimentar portuguesa já integra e afetiva que caracteriza a vida dos povos
nos frutos e hortícolas, dezenas de substâncias muitos destes produtos, nomeadamente os mediterrânicos, pelo que se deverá falar, não
químicas ainda pouco estudadas, mas com hortícolas, o azeite, o feijão, o grão e as ervas apenas de dieta mediterrânica, mas antes e com
eventual capacidade de protegerem as células aromáticas em sopas, cozidos, ensopados ou toda a propriedade, em cultura mediterrânica.
do organismo humano face à agressão externa, caldeiradas, o que facilita a sua adoção no
nomeadamente a oxidativa. Por outro lado, nosso dia-a-dia. Desta forma é possível juntar
estes nutrientes interagem entre si, potenciando saúde com sabor à volta da mesa.
o seu papel protetor, sendo diferente comer É evidente que parte dos benefícios atribuídos
uma sopa no início de uma refeição (à boa a esta alimentação são também devidos a
maneira mediterrânica) ou fora dela, por exemplo.

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UMA PAISAGEM ALIMENTAR

Não fazendo diretamente fronteira com o mar enriquecimento do património agrário, com – os produtos mediterrânicos representam 36 %
interior, Portugal é, no dizer de Pequito Rebelo um conjunto de produtos vindos de além-mar das importações do setor, destacando-se as
(A Terra Portuguesa), “mediterrânico por (i.e. tomate, pimento, batata, pepino, melancia importações de peixe, crustáceos e moluscos
natureza, atlântico por posição”. Este facto está e feijão) que passaram a estruturar toda a (15,4 %), de cereais (9,4 %) e de frutos (5,4 %);
bem patente no clima – calor e secura no verão, alimentação de norte a sul do país. – os produtos mediterrânicos contribuem com
chuva e frio no inverno - pouco rigoroso. Assim, não é de estranhar a muito significativa 41 % para as exportações nacionais do setor,
A natureza mediterrânica do território superfície afeta a culturas mediterrânicas, com relevo para o vinho (13,6 %), os frutos (6 %)
nacional assim estabelecida, associada à correspondente a mais de 40 % da superfície e o azeite (4,1 %).
localização atlântica está na origem da história agrícola utilizada (SAU) nacional, encontrando-se A leitura destes indicadores demonstra um claro
da alimentação dos portugueses, muito a restante área essencialmente ocupada com predomínio dos produtos mediterrânicos na
caraterizada pelo consumo de produtos prados e pastagens permanentes. economia do setor, na utilização do território,
mediterrânicos (trigo, vinho, azeite, hortícolas e Uma breve incursão pela análise do comércio na estrutura do comércio externo alimentar e,
leguminosas) complementado com os recursos externo de bens agroalimentares e da pesca consequentemente, na dieta alimentar.
da pesca. Com os Descobrimentos deu-se um permite constatar que:

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UMA EXPERIÊNCIA GASTRONÓMICA

É frequente ouvir-se dos turistas que nos saberes e sabores, para que à mesa de Portugal Hoje, estas práticas ganham novos atores.
visitam que apreciam a nossa hospitalidade, se aprecie tanta variedade de pão, azeite e Num pequeno restaurante de uma qualquer
a nossa forma menos apressada de viver, o vinho, sopas, ensopados, cozidos e caldeiradas. vila ou aldeia, ou nas grandes cidades, os chefes
clima, as paisagens, a gastronomia e os vinhos. Sublimam os aromas, as ervas aromáticas. São vão ao encontro das origens e apresentam de
Dizem-no de forma sentida e emotiva, como iguarias simples, verdadeiras almas imaculadas forma renovada os nossos sabores, os sabores
se tivessem sido “tocados” pela experiência da de um povo. de sempre, valorizando os ingredientes com
sua estada em Portugal. Elogiam um povo e a Esta cozinha não é um regime alimentar, é um inaudita sabedoria.
sua forma de vida. Sem o saberem, enaltecem a modo de vida. Que convida à convivialidade à Completa-se a experiência com um serviço de
Dieta Mediterrânica em Portugal. mesa, ao desfrute do espaço aberto. Às pausas. qualidade, de braços abertos e sorriso rasgado.
O clima e as paisagens são o berço dos À água fresca.
legumes, frutas e cereais. Da azeitona e das Em Portugal, a culinária é de proximidade, é Eis a Dieta Mediterrânica em Portugal!
uvas. De geração em geração, tradições e local. Por isso as mesmas receitas têm subtis A dieta do bem-estar.
práticas vão sendo transmitidas, preservando diferenças.

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10 PRINCÍPIOS
DA DIETA MEDITERRÂNICA
EM PORTUGAL Consumo moderado de laticínios

Frugalidade e cozinha simples que tem na sua base Utilização de ervas aromáticas para temperar
preparados que protegem os nutrientes, como as em detrimento do sal
sopas, os cozidos, os ensopados e as caldeiradas

Consumo frequente de pescado e baixo


Elevado consumo de produtos vegetais em
de carnes vermelhas
detrimento do consumo de alimentos de origem
animal, nomeadamente de produtos hortícolas,
fruta, pão de qualidade e cereais pouco refinados,
leguminosas secas e frescas, frutos secos e
oleaginosos Consumo baixo a moderado de vinho e apenas
nas refeições principais

Consumo de produtos vegetais produzidos


localmente, frescos e da época Água como principal bebida ao longo do dia

Consumo de azeite como principal fonte de gordura Convivialidade à volta da mesa

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Esta brochura foi programada e decidida no âmbito da Comissão responsável pela candidatura da Dieta
Mediterrânica a Património Cultural Imaterial da Humanidade/UNESCO, com a seguinte constituição:
Gabinete da Ministra da Agricultura e do Mar, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária
(Coordenação), Gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura e do Mar, Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve,
Direção Geral de Saúde, Direção Geral do Património Cultural, Turismo de Portugal, Comissão Nacional da
UNESCO, Câmara Municipal de Tavira, Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (Universidade Nova de
Lisboa), Fundação Portuguesa de Cardiologia, Ordem dos Nutricionistas, Movimento Mulheres de Vermelho e
Weber Shandwick|Documentos e Eventos.

Tavira é a comunidade representativa de Portugal na Candidatura.

FICHA TÉCNICA ÍNDICE DE IMAGENS

Título Design Gráfico Arq. Fotográfico da Câmara Municipal de Tavira


Dieta Mediterrânica - Um património Projeto pro bono da Pág. 19
civilizacional partilhado experimentadesign
www.experimentadesign.pt Francisco Almeida Dias
Pág. 8
Textos
Vitor Barros (Coordenador) Impressão
Nuno Correia
Manuel Carrageta Pág. 7, 15, 20, 21, 13
Pedro Graça
Tiragem
Jorge Queiroz 2 500 exemplares Paulo Magalhães
Miguel Sarmento Pág. 6
Depósito Legal
Fotos Turismo de Portugal
Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Tavira Pág. 8, 11, 12, 14, 16
Turismo de Portugal ISBN
Francisco Almeida Dias 978-972-8103-74-3
Nuno Correia
Paulo Magalhães

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