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HISTÓRIA DOS CONCEITOS E TEORIA

POLÍTICA E SOCIAL:
referências preliminares*

Marcelo Gantus Jasmin

O presente artigo discute, de forma sucinta, I


algumas das principais questões em torno das
quais vem se dando o debate acerca do fazer his- O debate acerca do que seriam as formas vá-
tória do pensamento político e social nas últimas lidas da história do pensamento para o âmbito da
três décadas. Importa esclarecer, comparando, li- teoria política e social ganhou enorme impulso
mites e possibilidades teóricas e metodológicas das com a publicação, em 1969, na revista History and
duas vertentes mais produtivas no campo hoje: o Theory, do ensaio metodológico de Quentin Skin-
contextualismo lingüístico de Quentin Skinner e a ner, intitulado “Meaning and understanding in the
história dos conceitos (Begriffsgeschichte) desen- history of ideas”. Neste ensaio, que ampliava argu-
volvida por Reinhart Koselleck. Pretende-se, com mentos inicialmente expostos por Dunn (1972) e
isso, organizar minimamente a pauta de questões por Pocock (1969) na esteira das pesquisas de Pe-
em discussão. ter Laslett (1965), Skinner endereçou uma crítica
violenta contra várias tradições da história das
idéias políticas, acusando-as principalmente de in-
correrem no erro comum do anacronismo, ou
* Este trabalho é parte do projeto “Contextualismo
lingüístico e história conceitual: o debate teórico- seja, de imputarem a autores e obras intenções e
metodológico contemporâneo sobre a história da significados que jamais tiveram, nem poderiam ter
teoria política” e teve apoio do CNPq. tido, em seus contextos originais de produção. O
Artigo recebido em novembro/2004 resultado básico dessas histórias criticadas seria a
Aprovado em janeiro/2005 produção de um conjunto de mitologias históricas

RBCS Vol. 20 nº. 57 fevereiro/2005


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que terminavam por narrar pensamentos que nin- p. 50; 2001), e poderia ser aproximada de outras
guém pensou, portanto, não-histórias. abordagens contextualistas da primeira metade do
Em geral, afirmava Skinner, as interpretações século XX – como as propostas, por exemplo, pela
contemporâneas acerca das idéias do passado to- noção de utensilagem mental de Lucien Febvre ou
mavam conceitos e argumentos sem a devida da “sociologia do conhecimento” de Karl Man-
consideração de seus significados originais, trans- nheim –, ela trazia consigo um conjunto de novas
formando os antigos em parceiros de um debate aquisições extraídas da filosofias da linguagem
do qual jamais poderiam ter participado. Se para o de Wittgenstein e da linguagem ordinária de John
âmbito genérico da história da filosofia o anacro- Austin. O principal veio produtivo foi estabeleci-
nismo já seria anátema,1 em relação à teoria polí- do a partir das noções de que o significado de
tica o erro estaria amplificado na medida em que, uma proposição é o seu uso na linguagem e que,
diferentemente de formas mais abstratas da elabo- portanto, a sua elucidação deve orientar-se para o
ração filosófica – os tratados de lógica são o caso seu portador (Wittgenstein, 1984, par. 43), e de
mais extremo –, os trabalhos da filosofia política que neste uso são reconhecíveis forças ilocucioná-
seriam elaborados como atos de fala (cf. Austin, rias e perlocucionárias não disponíveis à análise
1962) de atores particulares, em resposta a confli- orientada para o caráter descritivo ou constatativo
tos também particulares, em contextos políticos da linguagem (Austin, 1962, especialmente a VIII
específicos e no interior de linguagens próprias ao Conferência). Para Skinner, como para Austin, a
tempo de sua formulação. Cada autor, ao publicar análise da sentença cede lugar “à análise do ato de
uma obra de teoria política, estaria portanto ingres- fala, do uso da linguagem em um determinado
sando num contexto polêmico para definir a supe- contexto, com uma determinada finalidade e de
rioridade de determinadas concepções, produzin- acordo com certas normas e convenções” (Mar-
do alianças e adversários, e buscando a realização condes de Souza, 1990, p. 11). Nessa direção,
prática de suas idéias. Nesta chave interpretativa, Skinner especificava a noção de contexto, qualifi-
sendo a elaboração de um tratado de filosofia po- cando como lingüístico ou de linguagem aquele
lítica e social uma ação, a questão do seu signifi- que importaria reconstruir historicamente para dar
cado deveria se confundir com aquela da sua in- sentido às proposições da teoria política e social
tenção, sendo esta apreendida no ato de fazer (in no tempo. Uma tal especificação resultava, simul-
doing) a própria obra ou asserção. Daí a reivindi- taneamente, na crítica da tendência reificadora de
cação metodológica mínima conformada na noção noções de contexto usuais em diversas perspecti-
de que, de um autor não se pode afirmar que fez vas sociais da historiografia.
ou quis fazer, que disse ou quis dizer, algo que ele A partir desse programa básico, uma sofisti-
próprio não aceitaria como uma descrição razoá- cada elaboração metodológica e conceitual acerca
vel do que disse ou fez (Skinner, 1969, p. 28).2 Dis- do fazer história das idéias (ou dos discursos, dos
so resulta que a correta compreensão de uma atos de fala, da linguagem política e social etc.),
idéia ou teoria só poderia se dar pela sua apreen- das noções de significado e de intenção e dos li-
são no interior do contexto em que foram produ- mites da historiografia do pensamento político e
zidas. Resulta também que o objeto da análise his- social, assim como uma pujante produção histo-
toriográfica é deslocado da idéia para o autor, do riográfica com freqüência identificada com o rótu-
conteúdo abstrato da doutrina para a ação ou per- lo “escola de Cambridge” e com a coleção “Ideas
formance concreta do ator num jogo de lingua- in Context”, se desenvolveram, provocando rea-
gem historicamente dado. ções diversas que constituíram um profícuo deba-
Se tal perspectiva correspondia genericamen- te metodológico internacional entre historiadores,
te à concepção historiográfica da compreensão tal filósofos, cientistas políticos e críticos literários.3
como formulada no programa cognitivo de Robin Para o propósito introdutório deste artigo, im-
George Collingwood, a quem Skinner presta a sua porta ressaltar algumas das linhas de crítica à pers-
homenagem (ver, por exemplo, Skinner, 1969, pectiva skinneriana que conformariam o que me
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parece ser o quadro mais significativo do debate ção entre as várias linguagens políticas que, no
contemporâneo acerca da história do pensamento seu confronto sincrônico, conformam a tessitura
político e social. Em primeiro lugar,4 a linha de lingüística (langue) na qual as diversas perfor-
acusações acerca do antiquarismo ou da inutili- mances (parole) se tornam possíveis e inteligíveis.
dade desse tipo de historiografia contextualista Também em Pocock, o esforço de desnaturaliza-
para a elaboração teórica, com freqüência operan- ção da conceituação e dos horizontes teóricos
do a partir da noção de que o programa rankeano contemporâneos se faz presente. Para dar um
de saber com precisão o que se passou seria, se- exemplo, ao chamar a atenção do leitor para a he-
não totalmente inútil, irrelevante para a tarefa da terogeneidade dos discursos produzidos no sécu-
teoria cuja vocação estaria no enfrentamento dos lo XVIII inglês, baseados ora nos direitos, ora nas
problemas contemporâneos. Nessa direção, se os virtudes ou nos costumes (manners), sublinha
significados dos conceitos anteriores não são trans- que ali tais possibilidades devem ser apreendidas,
poníveis para o presente senão por mecanismos pelo intérprete, como alternativas numa disputa
ilegítimos de atualização, porque produtores de que desconhece o que nós, hoje, conhecemos –
deformação dos sentidos originais, melhor seria, os seus resultados, isto é, aquilo que, a posterio-
ou deixá-los a si e partir para uma elaboração da ri, tornou-se hegemônico: o liberalismo, a lingua-
teoria sem referência histórica às idéias, ou assumir gem dos direitos individuais e a noção de liberda-
como inevitável a traição da tradução para o con- de como não-obstrução.
temporâneo e operar como se (a título de ficção Ao mesmo tempo, a mobilização e o estudo
heurística) os autores do passado fossem parceiros detalhado das categorias inscritas no registro do
nos temas do debate contemporâneo.5 humanismo cívico (ou do republicanismo clássi-
A resposta skinneriana a esse tipo de argüi- co, como preferem outros intérpretes) permitiria
ção segue, em geral, a noção de que o investi- reconstruir lógicas teóricas derrotadas na luta po-
mento historicista no não-familiar dos conceitos lítica dos últimos séculos, mas não por isso racio-
do passado e, conseqüentemente, no estranha- nalmente inferiores ou desprezíveis. Além disso, a
mento dele derivado, serve à desnaturalização ou verificação do caráter necessariamente poliglota da
desestabilização dos conceitos da teoria contem- linguagem política, com os vários idiomas que em
porânea, fomentando a imaginação conceitual disputa a integram num determinado período histó-
com alternativas enriquecidas por significados e rico, aponta para os riscos da incompreensão (mi-
alteridades que a pesquisa erudita da história sunderstanding) que o analista corre quando tenta
pode encontrar. Um caso notório seria o da aná- apreender os modos de desenvolvimento do pen-
lise que o próprio Skinner faz da idéia republica- samento alheio a partir de concepções estáveis e
na de liberdade em Maquiavel: o reconhecimento historicamente desinformadas daquilo que lhe pa-
da complementaridade necessária e da convivên- rece ser um domínio próprio da política ou da mo-
cia pacífica das dimensões positiva e negativa da ral. O risco do anacronismo estaria não apenas na
liberdade na teoria política de Maquiavel poria incapacidade de compreender o que está em jogo
em xeque a naturalização operada pelo pensa- na emissão desta ou daquela proposição (de seu
mento liberal, desde o século XIX – leia-se aqui significado), mas também na imputação de cará-
Benjamin Constant, Jeremy Bentham e Isaiah Ber- ter contraditório a elaborações teóricas que, em
lin –, da oposição entre essas duas dimensões seu contexto de enunciação, eram plenamente le-
(Skinner, 1984). gítimas e racionais. Neste registro, as relações en-
Nesse sentido, a variante apresentada pela tre, por um lado, a gramática que permite as vá-
perspectiva metodológica de John Pocock, no rias construções lingüísticas (idiomas ou
contexto da mesma escola, ganha relevância. Em sublinguagens) num determinado período e, por
primeiro lugar porque, embora também opere outro, as performances específicas – por vezes
com a análise de obras e de autores, o centro de subversivas da própria gramática – desempenha-
sua reflexão metodológica desloca-se para a rela- das em seu interior, constituiria o locus privilegia-
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do da análise pocockiana do discurso político (cf., época tem um interesse objetivo e na qual tenta
por exemplo, Pocock, 1985).6 compreender a si mesma. O verdadeiro sentido
Vale notar que a reivindicação de um pro- de um texto, tal como este se apresenta a seu in-
térprete, não depende do aspecto puramente
grama rigorosamente historicista que recusa a
ocasional que representam o autor e o seu públi-
existência de “problemas filosóficos perenes” e co originário. Ou, pelo menos, não se esgota nis-
que paga o preço da redução drástica do alcance so. Pois este sentido está sempre determinado
das “lições” do passado, dado que a história só li- também pela situação histórica do intérprete e,
daria com respostas particulares a problemas epo- por conseqüência, pela totalidade do processo
cais particulares, tem como contraparte a “libera- histórico (Gadamer, 1997, p. 366).
ção” da elaboração teórica contemporânea para
criar respostas novas (e particulares) para os pro- A cognição, sendo ela mesma produtiva e
blemas novos (e também particulares) do presen- produtora de significados a partir da tradição
te (Skinner, 1969, p. 53). Nesse sentido, é no mí- em que se inscreve, transforma-se em recepção,
nimo curioso perceber que uma reivindicação tão tornando essencial que idéias e conceitos sejam
erudita e historicista em relação ao fazer história, apreendidos em seus efeitos.
e que resulta na afirmação da impossibilidade de Daí a proposição de uma história dos efeitos
transposição dos conceitos antigos para o presen- caracterizada por aquilo que a recepção contem-
te sem anacronismo, funciona, na outra ponta, a porânea consegue determinar, a partir de seu ho-
da teoria contemporânea, como uma espécie de rizonte de expectativas, das diversas mutações so-
carta de alforria para a imaginação que deve dei- fridas pelos conceitos ou idéias no tempo. Se a
xar ao passado os seus termos e partir para uma historicidade dos significados das idéias é inesca-
inovação conceitual adequada aos problemas “lo- pável, a dos sujeitos que os conhecem também o
cais” do tempo presente. Na frase de Skinner, “De- é, transformando as condições de possibilidade do
mandar da história do pensamento uma solução conhecimento dos conceitos do passado numa
para os nossos próprios problemas imediatos é aventura interpretativa, por definição contemporâ-
perpetrar não só uma falácia metodológica, mas nea, e não passível de determinação científica. Teo-
também algo como um erro moral” (Idem, p. 67). ricamente, o caráter hermenêutico e lingüístico da
O debate também é promissor e produtivo operação do conhecimento das idéias não seria
numa segunda via de inquirição que traz, em ge- apenas epistemológico, mas ontológico, o que, no
ral, embora não necessariamente, a marca da her- limite, tornaria sem efeito a própria noção de uma
menêutica das ciências humanas de referência ga- história científica. Segue-se daqui que o trabalho
dameriana e que duvida da própria empreitada da teoria política e social se confundiria com
científica de apreensão das intenções e dos signi- aquele da história da teoria, sendo ambas, história
ficados originais dos atos de fala do passado, na da teoria e teoria, formas da hermenêutica inter-
medida em que a cognição é ela mesma prisionei- pretativa dos conceitos. Se a primeira linha de crí-
ra de sua historicidade. O que implica dizer, ra- tica acima referida denunciava a inutilidade ou a
dicalizando ao caso limite, que o significado ori- inocuidade políticas do programa rankeano do
ginal em si é inapreensível e que é apenas no contextualismo lingüístico, a crítica hermenêutica
interior de uma fusão de horizontes interpretati- mais radical afirma a sua inviabilidade cognitiva.
vos que se dá a compreensão dos significados Há duas respostas básicas de Skinner para
desde logo marcados pela teia da comunidade este tipo de linha de argumentação, embora não
de intérpretes contemporâneos. Na concepção haja um enfrentamento direto com as proposições
de Gadamer: gadamerianas em si. A primeira delas distingue
entre os vários tipos de significado que uma pro-
[...] cada época entende um texto transmitido de posição pode ter: o significado das palavras enun-
uma maneira peculiar, pois o texto constitui par- ciadas na frase; o significado da proposição para
te do conjunto de uma tradição pela qual cada mim ou para a comunidade contemporânea de in-
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térpretes à qual pertenço; e o significado da pro- conquistou espaços cada vez maiores na discus-
posição como o ato de fala daquele que a profe- são internacional das ultimas duas décadas.7
riu. É para a apreensão deste último sentido que Como diz o nome, a Begriffsgeschichte é
a metodologia skinneriana se elaborou, e só para uma história de conceitos, e proliferou como um
ele (cf. Skinner, 2002a). Skinner reconhece que há modo particular de história reflexiva da filosofia
intenções e significados que, por ausência de in- e do pensamento político e social, tendo se de-
formação contextual, não podem ser recupera- senvolvido a partir das tradições da filologia, da
dos. No entanto, se as intenções a serem recupera- história da filosofia e da hermenêutica. A história
das pelo historiador são aquelas que, por estarem dos conceitos tal como a conhecemos hoje foi
expressas num ato de comunicação bem-sucedido, inicialmente desenvolvida pelo historiador aus-
foram legíveis publicamente, as chances de esta- tríaco Otto Brunner na sua crítica à historiografia
belecê-las é grande. Não se trata, portanto, de jurídica e liberal alemã, em particular ao modo
exercício de empatia ou de busca do que havia como esta transpunha para a realidade medieval
oculto na mente de alguém, mas de reconhecer, lógicas conceituais derivadas do liberalismo pos-
no conjunto das convenções lingüísticas publi- terior como, por exemplo, a separação entre a
camente reconhecíveis de uma determinada economia e a política e a oposição entre o públi-
época, a intenção que se infere do “lance” pro-
co e o privado.8
movido por um determinado jogador (Skinner,
Em sua versão contemporânea, concomitan-
1988, pp. 279-280).
temente a uma pujante discussão teórica e meto-
A segunda linha de resposta ameniza o cará-
dológica, produziu volumosos dicionários de con-
ter científico da certeza do método proposto. Mes-
ceitos.9 O projeto que aqui importa, o da história
mo quando há muita informação contextual, o que
dos conceitos políticos e sociais fundamentais que
se obtém com a pesquisa histórica são hipóteses
resultou no Geschichtliche Grundbegriffe, justifi-
plausíveis que devem se sustentar na erudição dis-
cou-se pela percepção, experimentada por histo-
ponível, sem a pretensão de resultados últimos que
alcancem “verdades finais, auto-evidentes e indubi- riadores nas décadas de 1950 e 1960, da insufi-
táveis” (Idem, p. 280). Embora reconhecendo que ciência da história do espírito (Geistesgeschichte)
“sempre nos aproximamos do passado à luz de pa- de corte hegeliano e da história das idéias (Ideen-
radigmas e pressupostos contemporâneos”, para geschichte) tal como explorada por Dilthey e seus
Skinner um grau (bastante) elevado de erudição e seguidores. Os principais pontos atacados pela crí-
consciência históricas é capaz de controlar a impu- tica desta então nova historiografia estavam na
tação de intenções que são, em última análise, tais baixa contextualização de idéias e conceitos utili-
hipóteses, “inferências a partir da melhor evidência zados no passado, no anacronismo daí derivado e
disponível para nós” (Idem, p. 281). na insistência metafísica da essencialidade das
idéias. Na fala de Koselleck, a atual Begriffsges-
chichte surgiu do duplo impulso crítico referido “à
II transferência descuidada para o passado de ex-
pressões modernas, contextualmente determina-
A segunda corrente relevante para a cons- das, do argumento constitucional” e à “prática da
trução do nosso quadro do debate acerca das história das idéias de tratá-las como constantes,
perspectivas teórico-metodológicas do fazer his- articuladas em figuras históricas diferentes, mas
tória do pensamento político e social constitui-se elas mesmas fundamentalmente imutáveis” (Ko-
na história conceitual alemã tal como desenvolvi- selleck, 1985a, p. 80). Daí que a reivindicação me-
da por Reinhart Koselleck. Divulgada tardiamente todológica mínima possa ser resumida nos se-
no mundo anglo-saxão, embora seus desenvolvi- guintes termos: os conflitos políticos e sociais do
mentos iniciais fossem anteriores aos da perspec- passado devem ser descobertos e interpretados
tiva skinneriana, essa outra forma da história as- através do horizonte conceitual que lhes é coetâ-
sociada à teoria política e aos conceitos sociais neo e em termos dos usos lingüísticos, mutua-
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mente compartilhados e desempenhados pelos ato- ção interpretativa. Sem dúvida, a história concei-
res que participaram desses conflitos. Desse modo, tual mantém a noção da “não convertibilidade do
o trabalho de explicação conceitual quer precisar que foi articulado pela linguagem” numa determi-
as proposições passadas em seus termos próprios, nada época, afirmando a necessidade metodoló-
tornando mais claras as “circunstâncias intencio- gica de um historicismo rigoroso para a com-
nais contemporâneas” em que foram formuladas preensão dos usos conceituais particulares (Idem,
(Idem, p. 79). p. 62). Nesse sentido, por exemplo, o conceito aris-
É esta direção contextualista da história dos totélico de politeia não pode ser apreendido sem
conceitos que permite uma aproximação teórico- referência aos usos e às práticas da cidadania nas
metodológica com as perspectivas desposadas por poleis gregas, assim como a compreensão da res pu-
Skinner e Pocock.10 Poderíamos então dizer, em blica de Cícero depende da ordem política da
termos simplificadores, embora não empiricamen- Roma do primeiro século.
te falsos, que, se o projeto original de Skinner Mas a história conceitual não pára aí, pois
teve como principais adversárias as concepções está interessada nos modos pelos quais as gera-
das idéias atemporais e dos problemas filosóficos ções e os intérpretes posteriores leram, alterando
perenes, tal como julgava encontrar em trabalhos os seus significados, essas proposições políticas
como os de Leo Strauss e de Arthur Lovejoy, o do passado. Neste registro é possível afirmar, ri-
projeto de Koselleck dirigiu-se contra a história gorosamente, que os conceitos em si não têm his-
das idéias imutáveis tal como desenvolvida, por tória; mas também é possível afirmar, com rigor,
exemplo, por Friedrich Meinecke em seu livro so- que a sua recepção tem. Aliás, é da própria con-
bre a razão de Estado.11 Nessa dimensão, por as- dição de unicidade dos atos de fala ou dos concei-
sim dizer sincrônica, da história do pensamento, tos articulados numa linguagem local que a histó-
a aproximação entre o contextualismo lingüístico ria conceitual deriva a necessidade de uma história
e esta forma da história dos conceitos não é su- da recepção, já que parte justamente da aposta de
pérflua. Como reconhece Koselleck, “a história que os significados não se mantiveram no tempo
dos conceitos lida com o uso de linguagem espe- e que foram alterados. “O registro de como os
cífica em situações específicas, nas quais os con- seus usos foram subseqüentemente mantidos, al-
ceitos são elaborados e usados por falantes espe- terados, ou transformados pode, propriamente,
cíficos” (Koselleck, 1996, p. 62). Por isso a ser chamado de história dos conceitos” (Idem, pp.
necessidade de se estabelecer os conceitos que 62-63). Afinal, é disso que se trata quando mobi-
constituem os vocabulários – campos semânticos lizamos, hoje, termos como sociedade civil, repú-
ou domínios lingüísticos – dessa ou daquela lin- blica ou democracia. Nessa perspectiva, a com-
guagem política e social, relacionando o seu uso preensão das alterações, dos desvios, das
na discussão política, social e econômica com os ocultações etc., conscientes ou não, mas articula-
grupos que os sustentam ou os contestam.12 dos na linguagem, é um caminho historiográfico
No entanto, há uma outra dimensão intrínse- privilegiado para apreender com maior precisão
ca à história dos conceitos que me parece ultra- os significados próprios e as funções normativas
passar o caráter basicamente sincrônico do histo- de um conceito contemporâneo formulado numa
ricismo metodológico skinneriano e trazer outras teoria também contemporânea.
possibilidades para a elaboração da teoria política Aqui, a perspectiva da mudança conceitual
e social contemporânea na sua relação com a his- adquire traços diacrônicos de dinamismo históri-
tória. Pois, se os atos de fala são únicos e os con- co e acentos claramente hermenêuticos que estão
ceitos – não mais concebidos como substâncias ausentes, ou são muito tênues, nas proposições
capazes de vida própria – também são dependen- fundadoras do contextualismo lingüístico de Cam-
tes da experiência que os formulou, a recepção bridge.13 Para a história conceitual koselleckiana,
desses atos (ou de seus efeitos) se dá ao longo do continuidades e mudanças conceituais tornam-se
tempo, constituindo diacronicamente uma tradi- temas centrais. No entanto, esta mesma história re-
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cusa limitar a investigação às linguagens articula- produzida em tempos de mudança rápida (cf. Ko-
das pelos atores do passado na medida em que es- selleck, 1994, 1997a).
tas revelam apenas parte do que é relevante co- Em termos esquemáticos, podemos recorrer à
nhecer. Em primeiro lugar porque há elementos fórmula proposta por Koselleck numa conferência
pré-lingüísticos que condicionam a história, tanto de 1991, que elabora um modelo de Heiner Schultz
acontecimento como discurso, e que uma antropo- apresentado em 1979, e que observa o problema
logia histórica convencida da finitude humana da mudança do ponto de vista das relações mais
deve reconhecer. São “condições, às quais a huma- “brutas” entre conceitos e realidades. Supondo que
nidade compartilha com os animais e que são, nes- de um lado haja um estado de coisas, e de outro
ta medida, pré- ou extralingüísticas, ‘metahistóri- um conceito deste estado de coisas, quatro situa-
cas’” (Koselleck, 1989, p. 650). Exemplos ções são possíveis: 1) o estado de coisas e o con-
inescapáveis, segundo Koselleck, são os “três con- ceito permanecem ambos estáveis ao longo de
juntos de contrários sem os quais nenhuma histó- um período de tempo; 2) o conceito e a realida-
ria é possível”: antes/depois, dentro/fora e em de transformam-se simultaneamente; 3) os con-
cima/embaixo. É certo que tais precondições são, ceitos mudam sem que haja uma mudança conco-
freqüentemente, articuladas pelas linguagens de mitante da realidade, ou seja, a mesma realidade
comunidades locais e mobilizadas em usos concei- é conceituada de modo diverso; 4) o estado de
tuais determinados: religiosos, políticos, econômi- coisas muda, mas o conceito permanece o mesmo
cos etc. Mas mesmo quando não o são, integram (Koselleck, 1994).15
assim mesmo a história dessas comunidades.14 Se olhamos para a obra de Koselleck, é no-
Em segundo lugar, há boa parte do histórico tório o caráter heurístico e didático deste esque-
acontecido que não recebe articulação na lingua- ma, dada a relação bem mais complexa entre lin-
gem local, seja porque se trata de fenômenos des- guagem e história. Antes de mais nada porque a
conhecidos para a consciência dos atores históri- relação entre conceito e realidade social e política,
cos daquele momento, seja porque a linguagem entre “dogmata” e “pragmata”, não é de simples
não consegue exprimir satisfatoriamente os even- separação e oposição. Prevalece a opinião de que,
tos, como no caso dos alemães, em 1945, incapa-
zes de encontrar expressões verbais adequadas [...] enquanto os conceitos têm capacidades polí-
ticas e sociais, sua função e performance semân-
ao extermínio em massa, fazendo com que uma
ticas não são unicamente derivadas das circuns-
memória estável por intermédio da linguagem tâncias sociais e políticas às quais eles se referem.
fosse bem posterior (Idem, p. 652). Um conceito não é simplesmente indicativo das
Nesse sentido, a exigência de separação en- relações que ele cobre; é também um fator den-
tre linguagem e história social é ativada e, com tro delas. Cada conceito estabelece um horizonte
ela, a necessidade metodológica de associar mu- particular para a experiência potencial e a teoria
dança lingüística à história dos eventos. Numa de- concebível e, nesse sentido, estabelece um limite
(Koselleck, 1985a, p. 84).
finição sucinta, e para aproveitar a recepção nor-
te-americana desta perspectiva, trata-se de pensar
“as relações recíprocas entre as continuidades, as Aqui podemos perceber a relação de filiação
mudanças e as inovações nos significados e nas tensa e de simultâneo afastamento entre as pro-
aplicações dos conceitos políticos e sociais de um posições de Koselleck e a versão ontológica da
lado, e as transformações estruturais de larga es- Begriffsgeschichte, pois o historiador quer negar a
cala no governo, na sociedade e na economia de fusão entre linguagem e história:
outro” (Richter, 1986, p. 610). Trata-se de pôr os
Toda linguagem é historicamente condicionada, e
conceitos políticos e sociais em relação com a toda história é lingüisticamente condicionada.
continuidade ou a descontinuidade das estruturas Quem desejaria negar que todas as experiências
políticas, econômicas e sociais, o que resulta em concretas que temos só se tornam experiências
ter como tema favorito a elaboração conceitual pela mediação da linguagem? É justamente isto o
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que faz a história possível. Mas, ao mesmo tempo, selleck, 1985b). Na relação complexa entre con-
quero insistir que linguagem e história permane- ceitos e realidade, entre dogmata e pragmata, a se-
çam separadas analiticamente, pois nenhuma das paração entre linguagem e história não implica a
duas pode ser, na sua inteireza, relacionada à ou- recusa tout court do caráter lingüístico constitutivo
tra (Koselleck, 1989, pp. 649-650).
da realidade social e política, mas a busca de um
modelo teórico no qual os significados lingüísticos
Em outras palavras, a ciência histórica de
simultaneamente criam e limitam as possibilidades
Koselleck mantém a exigência de referencialidade da experiência política e social.
ao postular os aspectos extralingüísticos da vida
histórica e afirmar que mudanças estruturais de
longo prazo não podem ser identificadas, descri- NOTAS
tas ou explicadas por teorias do discurso que ex-
cluam a referência a algo externo ao sistema de 1 O debate, embora iniciado no âmbito da história
signos constitutivos da linguagem. do pensamento político, ganhou a discussão geral
Por isso torna-se imprescindível separar “as sobre a interpretação de textos do passado. Sem
circunstâncias que foram, num certo momento, ar- esquecer essa dimensão abrangente, restrinjo-me
ticuladas na linguagem” e aquelas outras “circuns- aqui àquelas perspectivas que têm impacto signifi-
tâncias que não foram previamente articuladas na cativo no tratamento do pensamento político e so-
linguagem mas que, com a ajuda de hipóteses e cial. Para o quadro mais amplo ver, por exemplo,
métodos, ele [o historiador] é capaz de extrair dos as coletâneas organizadas por LaCapra e Kaplan
vestígios” (Koselleck, 1985b, pp. 267-268). Assim, (1982) e Rorty, Schneewind e Skinner (1984), além
produz-se um segundo afastamento em relação a do artigos de Kelley (1990) e Falcon (1997).
Gadamer, pois se repõe o espaço negado pela 2 Uso o texto da edição original que foi republicado
hermenêutica filosófica à discussão sobre o méto- em Tully (1988, pp. 29-67) e, posteriormente, abre-
do e a teoria da história (Historik). Quando Gada- viado e revisto em Skinner (2002, pp. 57-89). Para
mer busca uma teoria da verdade baseada na es- o quadro básico aqui exposto as modificações en-
trutura ontológica da compreensão humana como tre as edições deste texto não são relevantes.
tal, nega, simultaneamente, validade à discussão
3 Uma excelente coletânea dos principais passos no
metodológica no campo das ciências humanas, in-
desenvolvimento metodológico de Skinner e de
cluindo-se aí a historiografia e o estudo daquilo que
críticas importantes oriundas da ciência política e
o conhecimento histórico é. Por isso mesmo, a re-
da filosofia política encontra-se em Tully (1988).
posição da distinção entre história e linguagem
Os principais textos foram revistos e coletados
vem acompanhada das discussões de método e de
pelo próprio Skinner no primeiro volume de Vi-
teoria da história em Koselleck.16
sions of politics (Skinner, 2002).
Cabe, no entanto, notar que permanece ativa
a “influência” de Gadamer na história conceitual 4 Há um tipo de crítica que não analiso aqui e que
proposta por Koselleck, uma vez que esta diz que- aponta para o fato de que nas obras historiográficas
rer cobrir justamente “a zona de convergência ocu- de Skinner nem sempre se reconhece o seu progra-
pada por conceitos passados e presentes”, embora ma metodológico. Creio que se trata da incompreen-
reivindique uma “teoria” para tornar possível a são de que a obra historiográfica não está limitada ao
compreensão dos “modos de contato e de separa- programa derivado das questões de método às quais
ção no tempo”, teoria que estabelece as condições o autor se dedicou sistematicamente.
de possibilidade da produção de histórias a partir 5 Ver, por exemplo, a permanência desta linha de
das “aporias da finitude do homem em sua tempo- crítica no debate entre Skinner e Yves Charles Zar-
ralidade” (Koselleck, 1997b, p. 68 ss.) e que se en- ka na revista Le Débat, 96, 1997. Ver também a no-
contra condensada na distinção entre “espaço de ção de “reconstrução racional” como oposta a “re-
experiências” e “horizonte de expectativas” (Ko- construção contextual”em Rorty (1984).
HISTÓRIA DOS CONCEITOS E TEORIA POLÍTICA E SOCIAL 35

6 Os termos da lingüística de Benveniste citados são 13 O tema das mudanças conceituais de longo curso
os mobilizados pela reflexão do próprio Pocock. jamais integrou o núcleo duro das preocupações
Ver, por exemplo, Pocock (1987). metodológicas de Skinner. Ele adotou como sua
uma perspectiva “retórica” da mudança conceitual
7 Para uma comunidade como a nossa que, da peri-
para indicar o caráter de curta duração do que lhe
feria, se sente comprometida com a atualização
permanente em relação à bibliografia especializa- interessa estudar. Ver Skinner (2002b, pp. 175-187).
da, européia e norte-americana, é no mínimo estra- Ver também o artigo de Skinner sobre o conceito
nho ler em Skinner (2002b, p. 177) a confissão de de Estado, publicado em Ball et. al. (1989), e repu-
que só tomou conhecimento da existência do pro- blicado com revisão no segundo volume de Vi-
grama koselleckiano a partir da divulgação da Be- sions of Politics.
griffsgeschichte pelos artigos de Melvin Richter reu- 14 Para a discordância de Gadamer em relação a este
nidos em Richter (1995). ponto, ver Gadamer (1997a, pp. 103-105).
8 Ver Brunner (1992). Para o contexto ideológico das 15 O tema já recebera outras elaborações anteriores,
primeiras formulações da Begriffsgeschichte e os notoriamente em Koselleck (1985a). Ver também
seus vínculos com o nazismo, ver Kaminsky e Mel- Koselleck (1992).
ton (1992) e Melton (1996).
16 Para a polêmica entre a hermenêutica gadameriana
9 Os dicionários de maior relevância são o Historis- e a teoria da história em relação à história concei-
ches Worterbuch der Philosophie (Dicionário Histó-
tual, ver Koselleck e Gadamer (1997). “Se existem
rico de Filosofia), editado por Joachim Ritter e
tais pressupostos [condições pré- ou extralingüísti-
Karlfried Gründer a partir de 1971; o Geschichtli-
cas] da história que não se esgotam na linguagem
che Grundbegriffe. Historiches Lexikon zur poli-
nem são remetidos aos textos, então a história de-
tisch-sozialen Sprache in Deutschland (Conceitos
veria ter, do ponto de vista epistemológico, um sta-
Históricos Fundamentais. Léxico Histórico da Lín-
tus que a impede de ser tratada como um subcaso
gua Política e Social na Alemanha), editado por
da hermenêutica. Esta é a tese que quero funda-
Otto Brunner, Werner Conze, Reinhart Koselleck a
mentar” (Koselleck, 1997b, p. 69).
partir de 1972; e o Handbuch politisch-sozialer
Grundbegriffe in Frankreich 1680-1820 (Manual
de Conceitos Político e Sociais Fundamentais na
França), editado por Rolf Reichardt e Eberhard BIBLIOGRAFIA
Schmitt desde 1985. Isso não significa que essa his-
tória implique apenas a forma dos dicionários. Bas- AUSTIN, John L. (1962), How to do things with
taria uma referência a Koselleck (1997, 1999 e words. Oxford, Clarendon Press.
2002) para se desfazer essa impressão.
BALL, Terence; FARR, J. & HANSON, R. L. (orgs.).
10 Para uma apresentação geral dessa perspectiva na (1989), Political innovation and con-
tentativa de aproximação com o contextualismo ceptual change. Cambridge, Cambridge
lingüístico, ver Richter (1986, 1994, 1995). University Press.
11 Ver, por exemplo, Koselleck (1996, pp. 61-62). BRUNNER, Otto (1992). Land and lordship: struc-
tures of governance in Medieval Austria.
12 Tecnicamente, os passos iniciais da pesquisa histó-
Philadelphia, University of Pennsylvania
rica nesta perspectiva exigem os desenvolvimentos
Press.
analíticos da onomasiologia e da semasiologia, de
modo a que se construa desde logo a teia de sig- DUNN, John. (1972), “The identity of the history
nificados disponíveis para cada um dos conceitos of ideas”, in P. Laslett; W. G. Runciman
fundamentais em tela e também os muitos concei- e Q. Skinner (eds.), Philosophy, politics
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HISTÓRIA DOS CONCEITOS E HISTORY OF CONCEPTS AND HISTOIRE DES CONCEPTS ET


TEORIA POLÍTICA E SOCIAL: SOCIAL AND POLITICAL THE- THÉORIE POLITIQUE ET SO-
REFERÊNCIAS PRELIMINARES ORY: PRELIMINARY REFE- CIALE: REPÈRES PRÉLIMINAI-
RENCES RES

Marcelo Gantus Jasmin Marcelo Gantus Jasmin Marcelo Gantus Jasmin

Palavras-chave Keywords Mots-clés


Quentin Skinner; Reinhart Ko- Quentin Skinner; Reinhart Ko- Quentin Skinner; Reinhart Ko-
selleck; História dos conceitos; selleck; History of concepts; So- selleck; Histoire des concepts;
Teoria política e social. cial and political theory. Théorie politique et sociale.

O presente artigo discute, de forma The present article briefly discusses Cet article aborde, de forme succinc-
sucinta, algumas das principais some of the main issues around te, certaines des principales ques-
questões em torno das quais vem se which there has been debate on the tions à propos du débat sur la for-
dando o debate acerca do fazer his- making of the history of social and mation de l’histoire de la pensée
tória do pensamento político e so- political thinking for the last three politique et sociale au cours des
cial nas últimas três décadas. Impor- decades. It is important to clarify, by trois dernières décennies. Il est im-
ta esclarecer, comparando, limites e comparison, both the limits and portant d’expliquer, tout en les com-
possibilidades teóricas e metodoló- theoretical and methodological pos- parant, les limites et les possibilités
gicas das duas vertentes mais produ- sibilities of the two most productive théoriques et méthodologiques des
tivas no campo hoje: o contextualis- branches in the field today: the lin- deux courants les plus productifs ac-
mo lingüístico de Quentin Skinner e guistic contextualism of Quentin tuellement: le contexte linguistique
a história dos conceitos (Begriffsges- Skinner and the concepts (Begriffs- de Quentin Skinner et l’histoire des
chichte) desenvolvida por Reinhart geschichte) developed by Reinhart concepts (Begriffsgeschichte) déve-
Koselleck. Pretende-se, com isso, Koselleck. We intend, in doing so, loppé par Reinhart Koselleck. Nous
organizar minimamente a pauta de to minimally organize the guidelines proposons, ainsi, d’organiser les
questões em discussão e estabelecer of matters in discussion and esta- questions qui sont à l’ordre du jour,
pontos interessantes para a pesquisa blish interesting points on the rela- ainsi que d’établir les points intéres-
das relações da teoria política e so- tions of social and political theory sants pour la recherche des relations
cial com a sua história. with its history. de la théorie politique et sociale
avec leur histoire.

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