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Numero » Ano 19 / 2013


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Poesia

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Ano ig / 2013 Poesia amermdia

no Brasil

Rio de Janeiro
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Presidenta da República
Duma Rousseff

Ministra da Cultura
Marta Suplicy

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

Presidente
Renato Lessa

Diretoria Executiva
Maristela Rangel

Centro de Pesquisa e Editoração

José Eisenberg

Coordenadoria de Editoração
Marcus Venicio Toledo Ribeiro

EDITORIAL

Editor
Afonso Henriques Neto
Conselho Editorial

Editor Adjunto Alberto Pucheu

Alberto Pucheu Adauto Novaes


Anderson Braga Horta

Coordenação Editorial André Seffrin

SlMONE MuNIZ Ângelo Oswaldo de Araúio Santos


Antonio Carlos Secchin

Preparação de Originais Carlos Lima


Francisco Madureira Cláudio Willer

Rosanne Pousada Cleber Teixeira (in memoriam)


Valéria Pinto Floriano Martins
Ivo Barroso
Pesquisa Iconográfica Sérgio Cohn
Raquel Fábio

Projeto Gráfico Original Capa:


VlCTOR BURTON [Índio mura]. Desenho em nanquim. Coleção Alexandre
Rodrigues Ferreira, [17--].

Projeto Gráfico Adaptado


Adriana Moreno Quarta capa:
[Artefatos indígenas: adornos 02]. Gravura. Coleção
Comissão Cientifica de Exploração do CearA, SeçAo
Diagramação e Tratamento de Imagens
Etnográfica, [1859-1861).
Eliane Alves

Ioyce Braga
Orelhas:
Mata A margem do Rio Amazonas. In: Tabulae
Digitalização de Imagens
physiognomicae Brasiuae regions, de Carl Friedrich
Otívio Oliveira Philip von Martius, 1840.

MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação BIBLIOTECA NACIONAL
w

Inistérlo da © 4^11
Cultura
DKAall,
Sumário

Palavras iniciais 17 Bosquejo da história da


poesia

brasileira (1841)

ENSAIOS Norberto de Souza


Joaquim

Poéticas ameríndias 1137


19 e Silva

Linjaguar: os ameríndios OS POETAS BRASILEIROS E


na

literatura no Brasil INDÍGENAS 1149


OS TEMAS

Se.rgio Cohn 111

ENTREVISTA

Desafios das ameríndias Lúcia Sá


poéticas
Pedro de Niemeyer Cesarino I 27 Realizada Sérgio Cohn I 249
por

Direitos autorais e culturas TRADUÇÕES

ameríndias: uma conversa com Três de John Keats 1257


poemas
Carlos Fausto

Por José Eisenberg e Sérgio Cohn I 35 RESENHAS 1267

TRÊS TEXTOS HISTÓRICOS 143 YVilmur Silva: Estilhaços no

lago de e Arranjos de
pnrpnra

Resumo da história literária do e llores


pássaros

Brasil Cláudio Willer I 269


(1826)

Ferdinand Denis I 45

A de José Santiago Naud


poesia

Ensaio sobre a história da Floriano Martins I 273

literatura do Brasil
(1836)

Domingos José Gonçalves

de Magalhães I 79
Palavras iniciais

à idéia extensa negociação entre a Fundação


prosseguimento

de se o caminho Biblioteca Nacional e as lideranças das


perseguir

Eminaugurado na edição anterior, várias etnias, o que inviabilizaria a

dirigido à no estado de Minas edição. A saída encontrada foi


poesia presente

Gerais, de uma dedicação integral à a publicação de dois ensaios, de Sérgio

poesia brasileira, o Conselho Editorial Cohn e de Pedro Cesarino, em torno da

da revista Poesia Sempre a estrutura dessa inclusive


percebeu geral poética,

importância de se construir um número com a apresentação de importantes

por inteiro voltado à indígena em fragmentos dos cantos, seguida de uma


poesia
terras nacionais. Afinal, a tradição dos entrevista com o antropólogo Carlos

cantos ameríndios remonta a um longo Fausto, se discute, entre outras


quando
tempo ao descobrimento o dos direitos autorais
precedente coisas, problema
do se deu a conseqüente aos indígenas.
país, quando em relação

fixação da língua a seção dedicada


portuguesa entre nós. Para complementar

Neste há se colocar incluímos três


ponto que o antigo aos cantos ameríndios,

problema: sempre se fala de uma textos de importância histórica.


que grande
história da brasileira, do
poesia o Em lugar, apresentamos,
primeiro primeiro
nome arrolado e o do du
padre José de livro Résumé de Vhistoire littéraire

Anchieta, uma vez os cantos Résumé de Vhistoire


que Portugal, suivi du
poéticos
ameríndios, formulados oralmente de Denis
littéraire du Brésil, Ferdinand

nas várias línguas indígenas, não são 1826), o trecho se refere à


(Paris, que
"poesia
considerados brasileira", de uma
ou seja, poesia genuinamente
produção
versos escritos em Portanto, cópia fotográfica do
português. brasileira, com

este número da Poesia Sempre apresenta original lado da respectiva tradução.


ao

o viés, a meu ver corajoso, de Esta é a primeira a discorrer


propugnar publicação

pela inserção dos cantos ameríndios na sobre a possibilidade de criação de

história da no Brasil. nova brasileira a partir


poesia uma poética
Contudo, dificuldades relativas da força cultural de nossos índios.

aos direitos autorais desde logo se transcrições


A seguir, com as
junto
tornaram nós. o
graves problemas para atualizadas dos textos, reproduzimos

Os cantos "Ensaio
ameríndios aos sobre a história da literatura
pertencem
diferentes indígenas desde do Brasil", de Domingos Gonçalves
povos que, José

tempos imemoriais até a atualidade, os de Magalhães, em Nitheroy:


publicado
vêm tecendo meio de incessantes revista brasiliense, sciencias, letras e
por

mutações. Assim, a artes no ano de 1936, e trecho


para publicação pequeno
teria haver uma complexa e do livro Modulações
que poéticas, precedido
de um bosquejo da história da Pajé tonteou
poesia Se acocorou Foi-se

brasileira, de Joaquim Norberto de


[sumindo

Souza e Silva, editado no Rio de Janeiro assobiando baixinho


fiu...fiu...fiu...
em 1841.

Logo após, organizamos uma Então

coletânea de sobre a temática contrata o mato fazer


poemas pra mágica

indígena em língua a
portuguesa,

começar com Gregório de Matos de Cassiano Ricardo, autor de Martim

na época barroca, Cererê, de onde retiramos:


passando pelos

românticos até atingirmos os dias de

hoje. Vale ressaltar entre os A onça saltou


que poetas pintada tronco acima

atuais estão índios escrevem em nem um relâmpago


que já [que

português e que revelam de rabo comprido e cabeça amarela:


proximidade

com o estilo encontrado de modo Zás!


poético

geral nos cantos ameríndios, ou seja, Mas uma flecha ainda mais rápida

textos estreita ligação o relâmpago fez


que guardam [que

com o universo indígena. É necessário rolar ali mesmo

também dizer insolúveis Aquele matinal elétrico


que problemas gatão e

relativos às cessões de direitos autorais


[bigodudo

não a dos ficou estendido no


permitiram publicação poemas Que chão feito um

modernistas de Raul Bopp, autor de de cor


[fruto

Cobra Norato, onde encontramos tivesse caído


que de uma árvore!

referências aos índios brasileiros como

nesta e de Oswald de Andrade.


passagem:

Pajé faz uma benzedura de destorcer Há se destacar,


que ainda, a

[quebranto entrevista com a Lúcia Sá,


professora

realizada Sérgio Cohn,


por quando
E depois fuma e defuma variados temas relativos à cultura

Fumaça de mucurana indígena são debatidos. Na


parte

gervão com cipó-titica referente à traduzida,


poesia se mostram

e favas de cumaru três conhecidos


poemas do romântico

inglês John Keats. Por fim, na seção

[•••] de resenhas, Cláudio Willer e Floriano

Martins discorrem sobre as obras dos


— Compadre, vamos também Wilmar Silva e José Santiago
poetas

[experimentar uma fumadinha? Naud.

Afonso Henriques Neto


Ensaios

Poéticas ameríndias
' " I HIT.. I»l»lf I.IIII. «i—Mi ,i. m'A-

[EMBARCAÇÃO INOlCCNAI. DESENHO EM NANQUIM. COLEÇÃO ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, [17--1


Linjaguar: os ameríndios

na literatura no Brasil

Sérgio Cohn

... estranho

- c muito -

o meu e teu

linjaguar

(Antonio Risério)

7 alguns textos e poemas dos ou


jesuítas
"Nós
somos brasileiros, de autores coloniais, como Gregório de
não somos

0 lema de Joaquim Matos. Mas era uma presença efêmera.


guaranis'. Nabuco

denuncia o confronto e muito Antes de Denis houve também um


explica da

errática e absorção esboço de inserção do índio


presença da cultura pequeno

ameríndia na nossa literatura. durante o arcadismo, nas Minas Gerais


Tirando

alguns breves momentos — o do fim do século XVI11, como bem relata


primeiro
romantismo, o modernismo Antonio Risério:
da década

de 1920 e começo da seguinte, alguns

autores de nossa e Embora, ao contrário dos românticos,


poucos contracultura

uma salutar retomada -, os índios os árcades, como todos os seus


atual
"inconfidentes",
brasileiros estiveram companheiros não
praticamente

ausentes das manifestações literárias da exibam nem o mais ligeiro ou simples

nossa história. sinal de simpatia qualquer outro


por

E impressionante, um país ou cultura não seja de


para povo que

marcado forte dessas origem europeia, vamos encontrar


pela presença

etnias, no arcadismo traços lítero-nativistas


que o primeiro esforço sistemático

de inserção de suas culturas na nossa antecipam do


que preocupações

literatura só tenha ocorrido no século romantismo. A figura do índio chegou

XIX, estimulado a ser pensada ali, por Alvarenga


pelo trabalho de um

francês, Ferdinand Denis. É claro Peixoto, como símbolo


que os possível

tupinambás ser encontrados nos da luta da elite mineira contra o


podem

relatos dos viajantes, como colonialismo. Nos limites de um


primeiros Jean

de Léry, ainda no final do século XVI, esquematismo mistificador que

ou na biografia do capuchinho seria retomado românticos,


padre pelos

Claude d'Abbeville, no começo do século concebeu-se a fabricação de um

"nativo"
seguinte. E os índios foram tema de elemento como precursor
"inconfidente".
do independentismo no romantismo europeu, Denis defende

Também o índio desfigurado e traços de independência da literatura

idealizado Cláudio Manoel da brasileira em relação à port uguesa, e fala


por

Costa vem para reforçar a tese de pela primeira vez de uma poesia indígena,
"essa
o indianismo romântico foi um poesia primitiva, jamais levada à
que

aprofundamento do indianismo escrita, e que nem por isso oferece menos

árcade. belezas de ordem".


primeira

O momento então é outro. A

Minas Gerais, naquele fim do século independência do Brasil havia se

XVIII, ainda era uma terra realizado e, dentro de um novo,


povoada país

índios. Caso os árcades desejassem, nada melhor idéias nacionalistas


por que

ir atrás das fontes culturais pudessem ajudar a consolidar sua


poderiam que

dessas etnias sem problemas. Mas não identidade. Uma nação se forma e
que

o fizeram. Assim como os românticos, começa a contornos novos


ganhar pede,

mais do nunca, a afirmação de uma


que tanto lamentariam que
os primeiros que

missionários não colecionaram em seus cultura própria. E então o espírito de

tempos os textos tupis, mas também não época coincidiu com o


perfeitamente

momento do
se aventuraram em viagens ao interior do país. As idéias de Denis

colecionar eles textos foram rapidamente repercutidas, inclusive


país, para próprios

de outros Continua Risério: em textos importantes, como o manifesto


povos.

fundante de nosso romantismo,


publicado

A sensibilidade de Cláudio Manoel, Gonçalves de Magalhães, o Visconde


por

diante da sorte indígena, nunca de Uruguai, na revista Nitheroy, em 1836.

de licença Mesmo E, cinco anos depois, no Bosquejo da


passou poética.

Tomás Antonio Gonzaga, historia da brasileira, de Joaquim


que poesia

recriminou a violência da caça aos Norberto. Esses dois textos ecoam e

índios no da conquista tentam aprofundar, dentro do


período possível

bandeirante do território mineiro, a época, a idéia de uma literatura


para

se interessou índios indígena, realizada a de seus


jamais pelos que partir

foram seus coetâneos. E isto cantos, e a do índio na literatura


quando presença
"problema
o indígena" era um dado brasileira.

real da vida mineira, bastando E com o texto de


principalmente

lembrar ainda depois da morte Gonçalves de Magalhães


que, que surge o

de Cláudio Manoel, um confuso João indianismo romântico do século XIX.

VI, no Brasil com a família real, Foi certamente o mais forte e


já período

declarou aos botocudos de duradouro da do índio na nossa


guerra presença

Minas Gerais. literatura: durou cerca de 50 anos e

produziu em torno de 30 obras, algumas

Se o interesse dos árcades era até hoje vistas como clássicas, como as

ele toma corpo mais específico Poesias americanas de Gonçalves Dias


genérico,

com a publicação de fíésumé de Vhistoire (1846), os romances de José de Alencar

livro Ferdinand O e Iracema


littéraire du Brésil, que guarani (1857) (1865), e o

Denis escreveu após uma estada no épico de Gonçalves de Magalhães


poema

entre 1816 e 1819. Influenciado A confederação dos Tamoios


país, (1856).

nacionalismo força Este último, embora seja hoje visto como


pelo que ganhava
obra literária menor, timbiras",
por seus problemas impressionam também
pela

estruturais e até alta


por sua resolução qualidade poética dos seus versos.

excessivamente católica Entender o


(embora o livro que significava o

trate da confederação entre 1554 indianistno naquele momento é


que

e 1557 uniu tupinambás, importante. A do índio na


goitacazes, questão

guaianás e tamoios contra os invasores literatura tamanha relevância


ganhava

portugueses, de certa forma os Alexandre Herculano, de


jesuítas que pensador

José de Anchieta e Manoel da Nóbrega na época, ao saudar


grande penetração

acabam sendo os heróis da história), o aparecimento de Gonçalves Dias de


"a
repercutiu de tal forma na época Primeiros canlos como inspiração
que

o imperador de um grande
dom Pedro II o nomeou o poeta", lamentou apenas
"poema
nacional" brasileiro. a de
pequena quantidade poemas

Se Gonçalves de Magalhães é hoje indianistas no livro. O tema estava em

visto como um menor, Gonçalves voga, e precisava de um de fôlego


poeta poeta

Dias é um autor de inegável talento. Os o tirasse da teoria a concreção


que para

poemas reunidos em Poesias americanas de uma obra. Em 1875, Capistrano de

fazem um retrato bem informado Abreu escreveu o indianismo é


pelos que

cronistas dos tupinambás, criando um

olhar atento à cultura ameríndia. Como um dos visíveis


primeiros pródroinos

ressalta Lúcia Sá, do movimento enfim culminou


que

na independência: o sentimento

o uso Gonçalves Dias faz das de superioridade a Portugal.


que

fontes coloniais vai muito além das Efetivamente era necessária


grave

descrições de rituais indígenas e mudança nas condições da sociedade,

traduções literárias do tupi utilizadas a inspiração se voltasse


para que

por José de Alencar. Gonçalves Dias as florestas e íncolas


para primitivos,

incorpora em sua vários dos até então evitara, mudança tanto


poesia que

generos mencionados cronistas: mais o indianismo foi


pelos grave quanto

jactância, sonhos xamânicos, canções muito surgir de causas


geral para

para recém-nascidos. Além disso, individuais.


puramente

exatamente como nos textos dos

cronistas, seus enfatizam Um caso singular é Sousândrade.


poemas

a coragem e a belicosidade dos Nascido, assim como Gonçalves Dias,

tupinambás e de seus inimigos, a no Maranhão, o também atentou,


poeta

qual, no entanto, tem sido atribuída coino outros contemporâneos românticos,

pelos críticos a um mero desejo, a existência de um texto criativo


para

por parte do de equiparar os ameríndio, e aproveitou do lugar onde


poeta,

indígenas brasileiros aos europeus morava ter um conhecimento direto


para

medievais, como Alencar faria da vida indígena. Sousândrade foi um dos

posteriormente. primeiros poetas a dar atenção ao mito do

Jurupari, depois faria sucesso entre


que

Gonçalves Dias não é meritório apenas os autores modernos. Sobre esse interesse

na boa interpretação dos textos dos de Sousândrade às línguas indígenas,

"Tabira",
cronistas. Seus como Augusto de Campos observou
poemas, já que
"I-Juca "Os
Pirama" e o épico inacabado o maranhense e
poeta pré-enunciou
incorporou à sua a matriz do canto de Amorim
poesia virou referência entre todos

ameríndio, em de textos como os interessados


passagens em cultura amazônica,
"Taturema":
o um incluía
grupo que os Mário de
poetas

Andrade, Baul Bopp, Oswald de Andrade


- A
grinalda teçamos e Cassiano Ricardo.

As cabeças de lua: O interesse no livro de Amorim estava

Oaca! Yaci-lalá! no uso criativo e coloquial da linguagem,

Tatá-yrá tirava o caráter


que puramente
Glórias da carne crua! documental dos relatos, e na incorporação

do caráter lúdico das lendas. Lúcia Sá

Autores de maior e menor faz uma bela análise da importância


que
envergadura continuariam a trabalhar os artifícios utilizados
por Amorim iriam

a temática indígena com alguma conquistar na nossa literatura:

freqüência, até a metade da década

de 1880. Então, novamente o tema A repetição de sílabas


junto aos

iria lentamente submergir, só ser verbos de movimento - uma


para

retomado mais de 40 anos depois, com influência do nheengatu - é um

os modernos. Naquele momento, a dos traços


poetas poéticos do linguajar

situação
já é outra. Os
poetas
modernos amazônico
popular que Amorim
encontram um material mais extenso de emprega com freqüência, como

cantos e mitos indígenas trabalhar ver nos seguintes


para podemos exemplos:
'a
sobre, coletado nomes como Theodor
por pele dos peixes brilhabrilhava",

Koch-Grünberg e conde Ermanno do nheengatu "elas


oueráuerá;

Stradelli. Esses mitos foram algumas nadanadavam", do nheengatu

vezes "as
coletados utilizando o havia de oytáuytá; mulheres boiaboiavam
que

mais avançado na tecnologia da época, dele", do nheengatu


perto

como é o caso de Koch-Grünberg usando opuápuámo; e assim


por diante.

o fonógrafo Em todos
para gravar os mitos de esses casos, a natureza

Makunaíma seriam repetitiva e hesitante


que posteriormente do movimento

recriados Mário de Andrade. em é reforçada


por questão sílabas
pelas
"Mitos
Se os e lendas dos índios duplicadas — um recurso
poético
Taulepangue e Arekuná", de Koch- muito econômico e eficaz, usado

Grünberg, onde se encontram os mitos mais tarde Raul


por Bopp em Cobra

de Makunaíma, só seriam Norato e Guimarães


publicados por Rosa.

pela primeira vez em 1917, a lenda

do Jurupari coletada
por Stradelli, No fim da década de 1920, dois

uma longa cosmogonia dos índios do movimentos literários antagônicos surgem

rio Negro, havia sido em no modernismo De um


já publicada paulista. lado, o

1890. O Jurupari circulou verde-amarelo do Grupo Anta,


pelos poetas formado

modernistas
principalmente através dos por
Cassiano Ricardo, Menotti dei Picchia
"Lendas
manuscritos das em nheengatu e Plínio Salgado, com forte tendência

e em de Brandão de Amorim, nacionalista, e, de outro, a Antropofagia


português",

foi colega de Stradelli no Museu de Oswald de Andrade, Raul


que Bopp e

Botânico de Manaus. Publicado apenas Alcântara Machado, mais irreverente e

após a morte do autor, em 1926, o livro internacionalista.


C) Grupo Anta lança em 1929 o de outros modernistas, como Tasso da
"Nhengaçu
manifesto verde-amarelo" Silveira,
que escreveu uin texto na revista

(o título já demonstra a importância da Festa onde


pergunta:
leitura de Amorim), no afirma
qual que

A anta, Porque vara as


por quê?

a descida dos tupis do florestas em linha reta, abrindo


planalto

continental 110 rumo do Atlântico caminho, derrubando obstáculos

foi uma fatalidade histórica sem nunca desviar-se, invencível na


pré-

cabralina, o ambiente sua teimosia? Isso é cegueira e não


que preparou

para as entradas 110 sertão inteligência. A inteligência vai


pelos por
aventureiros brancos desbravadores uma via sinuosa. Porque sabe
para
do oceano. A expulsão, feita onde vai. Não avança nunca sem
pelo

povo tapir, dos tapuias do litoral, finalidade. Não dispersa inutilmente

significa bem, na história da América, suas forças. Além disso, a anta é o

a de direitos das raças e mais inestético dos nossos animais.


proclamação

a negação de todos os Disforme, deselegante,


preconceitos. pesadona...

E continua: Por trás da ironia do texto de lasso,

a evidência dos conflitos estavam


que
Os tupis desceram serem a acontecer dentro do modernismo. 0
para

absorvidos. Para se diluírem 110 Grupo Anta seguia um caminho


(em

sangue de nova. Para viver linha reta) o conservadorismo,


gente para

subjetivamente e transformar numa chegaria ao integralismo de Plínio


que

prodigiosa força a bondade do Salgado na década seguinte.

brasileiro e o seu sentimento Foi a Antropofagia conseguiu


grande que

de humanidade. uma reflexão e uma obra de muito maior

alcance, trabalhando com as mesmas

Dentro "Manifesto
desse olhar verde-amarelo, bases de referência. O

sincrético e idealizado, Cassiano Ricardo antropófago",


publicado por Oswald de

iria em 1931 um interessante


publicar Andrade em 1928, é até hoje um dos

livro de
poemas, Marfim Cererê, com
grandes clássicos de nosso
pensamento.
influências de temáticas afro-brasileiras e Nele, defende Oswald:

ameríndias.

A escolha da anta como símbolo Só a antropofagia nos une.

do foi também
grupo provavelmente Socialmente. Economicamente.

resultado das leituras da coletânea Filosoficamente. Única lei do mundo.

de Amorim. Em uma das histórias Expressão mascarada de todos

lá narradas, o personagem declara: os individualismos, de todos os

Somos Gente-Anta". Na briga entre os coletivismos. De todas as religiões.

dois isso rendeu algumas boas


grupos, De todos os tratados de Tupy or
paz.
boutades. Na Revista de Antropofagia, not tupy, that is the Contra
question.
Oswald assinou mais de uma vez os textos todas as catequeses. E contra a mãe

com o de Poronominare, o
pseudônimo dos Gracos. Só me interessa o
que
trapaceiro matador de antas da mesma não é meu. Lei do homem. Lei do

história. E contou também com o apoio antropófago.


Se Oswald, além do manifesto, Mas no fundo representa a minha
[tara

não trabalharia em com tragédia de febres.


profundidade

a cultura ameríndia em seus e


poemas

textos em Raul Bopp De forma, Bopp conseguiu


prosa, publicou qualquer

em 1931 o que talvez seja a mais bem absorver de maneira exemplar as

acabada absorção da cultura ameríndia estruturas e sabores das narrativas

em nossa Cobra Norato. Bopp ameríndias. Como declarou Oswald de


poesia:

também se declara abertamente devedor Andrade,

da leitura de Amorim:

em Cobra Norato,
pela primeira

Uma ocasião Alberto Andrade vez, se realizou a poesia brasileira

mostrou-me trabalhos e sem fraude. Bopp fez o


Queiroz grandiosa

avulsos de Antonio Brandão Amorim, Gonçalves Dias não conseguiu


que

de um forte sabor indígena. Foi e o que mais de um modernista,

uma revelação. Eu não havia lido viciado nos conchavos eleitorais do

nada mais delicioso. Era um idioma talento, teima em fracassar. Aventura

novo. A linguagem tinha às vezes de trazer o Brasil nos dentes.


perigosa

uma bíblica. Essas E portanto aventura de alto sentido.


grandiosidade

leituras me conduziram a um novo Bopp a realizou.

estado de sensibilidade. Alarguei

instintivamente a visão formava Infelizmente, a do começo da


que partir

das coisas. Abeirei-ine das falas década de 1930, novamente o Brasil

rurais, de uma deliciosa formação volta as costas os seus territórios


para
"selvagens",
sintática. e busca inspiração na

contemporaneidade dos europeus.

Cobra Norato é uma rapsódia sobre Com os projetos desenvolvimentistas

a Amazônia, utiliza um do Estado Novo, não interessava mais


que personagem
"Brasil
bastante das histórias locais, mas a busca de um mas
popular profundo",

se encontra de forma substancial cantar o urbano cotidiano das cidades


que não

na coletânea de Amorim. Provavelmente, se modernizavam a nostalgia


que (ou

rural dos trabalhadores


Bopp ouviu a história
pessoalmente,
nas que para ela

suas viagens lá. Como ele mesmo migravam). Com isso, o interesse
por pelas

relata, culturas ameríndias e afro-brasileiras


que

estava corpo no modernismo


ganhando

a maior volta ao mundo eu dei é deixado para trás. Os índios iriam


que

foi na Amazônia. Canoa de vela. Pé desaparecer da nossa


praticamente

no chão ouvindo aquelas Mil e uma literatura, a não ser em algumas

noites tapuias. Febre e cachaça. 0 narrativas dispersas (e de grande


"Meu
mato e as estrelas conversando em como o tio o Iauaretê",
qualidade),

voz baixa. Para mim o livro vale de Guimarães Rosa, Maira, de Darcy

como a tragédia da maleita, cocaína Ribeiro, e Quarup, de Antonio Callado.

amazônica. Eu é a filha da Na poesia, um caso interessante da


quero

rainha Euiza. Obsessão sexual. segunda metade do século XX, como

Druídica. Esotérica. Tem o ar de um lembra Cláudio Wilier em ensaio recente

livro de criança. Quente e colorido. ("O valor poético"), é Manoel de Barros,


na sua releitura e invenção a partir dos Duas outras exceções iriam surgir a

guatós e kadiweus, como é o caso do da nossa contracultura: Gramiro


partir
"hiutensílios
poema de Anieeto", de Matos e Roberto Piva. 0
que primeiro

possui a seguinte nota de rodapé: surgiu em 1972, com o livro Urubu rei.

No ano seguinte, publicou Os morcegos

Estes inutensílios foram colhidos estão comendo os mamãos maduros. Ao

entre os mitos cadiuéus, narrados seu nome real (Ramiro Matos), incluiu

"G" "de", "por


Darcy Ribeiro. 11111 e o como explica,
pelo professor

Resguardando-se e encantamento de Gregório de Matos


petulância

distância, exercitou-se aqui a cae-cancioneiro lembraxas de


poeta y

moda em Eliot mediekabala velha baía lu'ervilhas dos


posta prática por

incorporando à sua obra versos de deuses navivos". A experimentação formal

Shakespeare, Dante, Baudelaire. E é o marco da sua altamente


prosa poética,

o fez um James Joyce fragmentária, mistura a influência de


que pouco que

aproveitando-se de Homero. E ainda Guimarães Rosa, Sousândrade e James

o
que fez Homero aproveitando-se Joyce com a busca de uma absorção

dos rapsodos das estruturas narrativas e lingüísticas


gregos.

ameríndias. Os seus livros, hoje


pouco

Ai cadiuéus! Esse bugre conhecidos, tiveram ampla repercussão


pobres

Anieeto aí em cima é que vai crítica na época, nomes do porte de


por

vocês? Nem xum. Silviano Santiago, escreveu:


perpetuar que

0
homem deixou o filho num cisco
em Gramiro o uso de tupi-guarani

[e saiu de
forma o arcabouço ideológico e

a
pé comendo fruta do mato
lingüístico do livro, na medida em

Tem certidão desse homem tudo


por é de capital importância ele
que para

[quanto o aproveitamento de lendas indígenas


é vereda
no original (e desde Urubu Rei fica

Tem tapera e osso de caititu tudo
por à espera do seu Cavalcanti Proença).

[quanto Sobressai tio todo o extraordinário


é lugar. "Mai
capítulo intitulado e traduzido

Pituna Oiuquau ãna/ Quando a


[...]
noite apareceu", não só mistura
pela

Todas homogênea dos textos em tupi e


as coisas têm serventia

arvoredos mas fez com que


[sinimbus português, porque

a língua se conformasse
[...] portuguesa

de noite os sintaticamente ao tupi, dentro do


passarinhos não têm onde

se poderia chamar uma tradução


[descansar. que

literal. Seu se instala, pois,


projeto
As nações tinham casa, máquina como antípoda das realizações,
já por

[de fazer exemplo, de José de Anchieta, no seu


pano,

de fazer enxada, fuzil etc também


teatro catequético, onde

Foi uma criançada mexeu na tampa línguas.


houve a mistura das

[do vento.

Isso destelhou as nações.


que
Roberto Piva é um caso à Mais uma versão literal dos seus conteúdos.
parte.

conhecido
por seus primeiros livros, Realizadas muitas vezes
por poetas, com
como Paranóia, onde fez uma renovação amplo domínio da linguagem, enfrentam

do nosso melhor modernismo urbano os difíceis desafios de trabalhar com

ao fazer uma leitura delirante de São termos irredutíveis


para a tradução,

Paulo, dialogando com a poesia beat e o contextos muito diversos da nossa cultura

surrealismo, Piva, a partir da década de e a redução a linguagem


para escrita de

1980, começou urna bastante expressões no seu original


pesquisa que utilizavam

fértil sobre cantos ameríndios, criando também do canto, da


performance e de

poemas de beleza nessa temática. ferramentas visuais, entre outras.


grande

São marcados liberdade Se


poemas pela pensarmos que o Brasil possui
e sensibilidade do interessado ao menos 180 línguas indígenas, e
poeta, que
então em cantos xamânicos, mas ainda é escasso o trabalho
que de afirmação

merecem um estudo mais aprofundado da literatura desses


povos (os exemplos
capacidade
pela que tiveram em anteriores são
poucos, como os
já citados
absorver as imagens e estruturas mitos do Jurupari "Rã
(como e Makunaíma, e o

o dos cantos ameríndios Txa Huni Kui", as narrativas


paralelismo) kaxinawá

brasileiros. Piva mesmo declara o seu coletadas


que por Capistrano de Abreu, além
"Coleção
interesse no xamanismo está marcado da Narradores Indígenas do Rio

pela liberdade expressiva dentro Negro'), a de diversos


possível publicação livros

do tema: sobre os cantos ameríndios nos últimos

20 anos é salutar, e digna de um estudo

Meu relacionamento é com o mais alentado. Por enquanto, fazemos

xamanismo, é uma religião de uma breve apresentação


que de alguns dos

poesia, não de teologia. De certa volumes lançados, e o esboço


principais

forma, até o candomblé é uma de algumas


questões que eles apresentam.

religião organizada. E o xamanismo, Em 1993, Antonio Risério


publicou
você realizar em Textos e tribos, livro
pode qualquer parte, seminal sobre o

dentro de um trem, dentro de um tema. Reunião de ensaios sobre literatura

ônibus. Você tem uma relação não ameríndia e afro-brasileira, a edição foi

organizada com o sagrado. assim saudada


pelo antropólogo Eduardo

Viveiros de Castro:

2 O se encontrará
que nestas
páginas
A da segunda metade da alegremente
partir veementes, cheias de um

década de 1980, começa a surgir no salubérrimo desrespeito às verdades

Brasil um trabalho de valorização da adquiridas, é essencialmente um

literatura ameríndia, através de traduções Em


programa. primeiro lugar,

muitas vezes realizadas em convida-se a uma


qualificadas, re-visão da

com membros das etnias, de literatura brasileira


parceria a de uma
partir
seus cantos e narrativas. Essas traduções, de suas exclusões constitutivas, a

ao contrário dos esforços anteriores da alteridade


poética dos índios

realizados etnólogos, buscam manter e africanos, reduzidos


por a
pretexto
as literárias e formais em detrimento de texto.
particularidades Defende-

dos originais, e não apenas realizar se, em seguida, uma aliança entre
"Canto
etnografia e poesia, avance O da castanheira", na
que versão

além do necessário mas insuficiente de Risério, foi um dos exercícios


primeiros
ataque antropológico - onde o de divulgação um
para público amplo e

texto é subordinado não-especialista de tradução de cantos


geralmente

ao contexto em direção a uma ameríndios:

retomada das
propriamente poética

textualidades extraocidentais
(e o Nai dai dai

autor nos dá alguns bons exemplos Por você empluma a


que grande
de como fazê-lo). Propõe-se,
[castanheira?

sobretudo, uma desta Por os Maí emplumam a


presentificação que grande

palavra alheia, tradicionalmente Modidaro?


[castanheira,

neutralizada sua remissão a um Por os Maí solteiros emplumam


por que a

passado histórico do da castanheira?


(alegorização [face

índio ou simbólico Eis aqui os Maí, Ararinhano,


quinhentista)

(folclorização das tradições negras a face da


[emplumando

e ameríndias). E se indicam, castanheira.


por

fim, os rumos de uma análise Eis aqui os Maí emplumando a

dos específicos de castanheira.


procedimentos [grande

cada uma destas muitas Nai dai daí


poéticas,

capaz de apreciar as lições ali Kadine-kanhí


que

se encontram os Aqui aqui os Maí, emplumando a


para problemas

universais da expressão criativa da castanheira.


[face

humana. Por
que
fazem assim os Maí -

Kadine-kanhí - emplumando a

Textos e tribos traz, além dos ensaios, castanheira?


[grande
uma "Canto
versão do da castanheiro", Aqui aqui os Maí - Kadine-kanhí -

cantado araweté Kãnipayero face da


pelo pajé [emplumando a

e originalmente no livro
publicado [castanheira, aqui aqui os Maí.

Araweté: os deuses canibais, de Eduardo

Viveiros de Castro. A tradução do canto anos depois, Antonio


Quatro Risério

foi retrabalhada
por Antonio Risério,
que
editou, em
parceria com Roberto

ressalta:
Pinho, a revista Invenção do Brasil,

uma publicação do Museu Aberto do

E claro não falo araweté. 0 Descobrimento. Nela, incluiu


que que traduções

o leitor vai ler é, fundamentalmente, de tolo kuikúros, realizadas


pela lingüista

a versão de Viveiros. Fiz algumas Bruna Franchetto, em um ensaio com o

alterações, "Diga
abrasileirando os nomes belo nome de cantando o não
que
dos função tanto ser dito falando". Como
personagens (em pode afirma
"estranhamento" "a
do do Bruna, tolo na língua kuikúro
quanto palavra
estrato 'canto' 'pássaro'.
sonoro do texto), enxugando significa e Assim os

algumas frases, acumular cantos voam, ou melhor,


procurando são feitos
para
determinados fonéticos voar". A edição
grupos desses cantos
poucos

(nasais, por exemplo), etc, mas sem kuikúros, de grande beleza, é significativa

arriscar muito no de um dos adotados


jogo. procedimentos

desde então a publicação de cantos


para
ameríndios: conhecimento da língua, de canoa ela se foi

relação direta com membros da etnia, na nossa frente

através de longos trabalhos de campo, e

ampla contextualização. Lá, em Aitolóu

Essa contextualização muitas vezes sentirei saudade de ti

é fundamental. Sem ela, perdemos a lá, na terra dos bakairí

compreensão de alguns termos ou versos sentirei saudade de ti

das traduções. Um exemplo está nos Sim, vamos botar nossos colares

cantos reproduzidos abaixo. Em seu texto, só depois você me


poderá queimar

Bruna Franchetto conta espere


que

banhar-me
quero

muitos dos cantos tólo têm como quero pintar-me

tema sentimentos ligados às só depois você me


poderá queimar

dos adyó, não agora


paixões clandestinas
"amantes".
É a melancolia da sim, vamos botar nossos colares

saudade, é o impulso a fuga. só depois de enfeitar-me com meu


para

As relações extraconjugais formam [colar.

uma complexa rede de trocas:


"presentes"
sexo feminino versus Os trabalhos de Bruna
pioneiros
"pagamentos"
e masculinos e Bisério trouxeram frutos, e um
("a

vagina é cara e Os bens paradigma de como tratar os cantos


querida").

adquiridos mulheres em e as narrativas ameríndias se criou. A


pelas

seus encontros amorosos são, em virada do século trouxe um aumento

seguida, imediatamente colocados de iniciativas de traduções de cantos e

em circulação numa espécie de narrativas ameríndias, em edições muito

mercado ritualizado, o uluki, bem cuidadas e na maioria das vezes

exclusivamente feminino. O homem, seguindo o mesmo modelo de relação

do último canto, a direta com as etnias, contextualização


personagem pede

sua ansiosa adyó espere ele ampla e conhecimento da língua. É o


para que

se fazer bonito; só depois ela caso dos dois livros de cantos maxakalis
poderá
"queimá-lo",
ou seja, fazer sexo com organizados Bosângela de Tugny,
por
"fura"
ele. Se o penis a vagina, ele é, Cantos e histórias do e
gavião-espírito
"queimado"
sua vez, ela: Cantos e histórias do morcego-espírito e
por por

do Hemex, em 2009. Neles,


publicados

Que nasçam asas em nós além da contextualização em ensaios

aportar atrás da beira d'água sobre a etnia maxakali e em notas


para

irei feita beija-flor específicas, a reprodução de desenhos

originais dos índios (entre eles, dos

Não ficar aqui animais citados nos cantos, muitas vezes


podes

namorarmos desconhecidos dos leitores) e a inclusão


para

leve-me contigo de DVDs com as dos cantos


gravações

vamos tua aldeia uma maior compreensão dos


para possibilitam

cantos editados. As centenas de cantos


"Vou
contigo" maxakalis traduzidos Bosângela,
por que

disse-me a mulher se enfeixain em narrativas, utilizam de


diversos sonoros e formais, Tikmun1un [maxakalis] eles
procedimentos quando

como o e o uso de fonemas falam português.


paralelismo

não-semantizados, como é o caso de


"Japu":
Um foi incluído no fina!
glossário

dos volumes, uma


para possibilitar

negras negras compreensão do leitor.


penas penas penas

Mas não foi apenas Rosângela de


[negras

cauda cauda cauda Tugny decidiu incluir outras


púrpura púrpura que por

linguagens não apenas a escrita nos


[púrpura que

ollios azuis olhos azuis olhos azuis livros de cantos ameríndios. 0 volume

bico branco bico branco bico branco Kosmofonia mbya guarani, organizado

Douglas Diegues e Guillermo Sequera


por

muita saudade em 2006, traz um CD com os cantos. K

seu canto triste traz saudade os livros organizados por Pedro Cesarino

sobre cantos e narrativas marubo, Oniska:

negras negras do xamanismo na Amazônia


penas penas penas poética

e Quando a terra deixou de


[negras (2011)

cauda cauda cauda são enriquecidos com uma


púrpura púrpura falar (2013),

serie de desenhos originais dos marubos.


[púrpura

olhos azuis olhos azuis olhos azuis Kosmofonia, como o nome indica, traz a

bico branco bico branco bico branco tradução de cantos mbya guaranis, com

forte ao aspecto sonoro. O


preocupação

muita saudade de certos cantos os aproxima


paralelismo

seu canto triste traz saudade de mantras:

diac haa Viemos aqui nos alegrar

Viemos aqui nos deliciar

Rosângela de Tugny adotou outro Vamos todos nos maravilhar

comum nos diversos Viemos aqui nos encantar


procedimento

trabalhos de tradução de cantos

ameríndios a público: a Viemos aqui nos alegrar


que estão vindo

manutenção de termos originais. Segundo Vamos todos nos maravilhar

ela, Viemos aqui nos encantar

Viemos aqui nos deliciar

após alguns ensaios, optamos

manter uma série de termos Viemos nos alegrar


por

na língua original. Geralmente,

são os termos remetem aos O menino cor de cor de


que palmeira

resplandecente - o menino
povos-espíritos. Traduzi-los seria [sol

aos leitores uma solução de folhagem morena


propor [cor
- vai fazer você
de facilidade negaria e estas [brilhante
que

subjetividades o elas de [chorar


que possuem

irredutível. Mas também mantivemos

termos sempre me Viemos aqui nos encantar


que pareceram

muito marcados na expressão dos Viemos aqui nos maravilhar


Viemos aqui nos deliciar Ela si mesma cresce
por pensante,

[por si mesma fala como



O menino cor de cor de velha.
palmeira gente

resplandecente - o menino Vão crescendo,


[sol por si mesmas

[cor de folhagem morena vão imitando cantos,


[cantam,
- vai fazer você Os
[brilhante soprocantos, crescem
pensando

[sofrer [nos soprocantos,

Mas são crianças, são mesmo

Viemos aqui nos alegrar


[crianças.

O menino cor de cor de Um caso a parte é o livro Roça


palmeira

resplandecente - o menino barroca,


[sol de Josely Vianna Baptista,

[cor de folhagem morena onde ela retrabalha os cantos mbya

- vai fazer você se


[brilhante guarani coletados León
pelo paraguaio

[decepcionar Cadogan nos anos 1940, e


publicados
originalmente em 1959, em Ayvu rapyta.

Já os textos marubos coletados Esses cantos haviam sido vertidos


por já

Pedro Cesarino impressionam o francês


pelo para por Pierre Clastres, em

perspectivismo. Como Cesarino explicou ll>74, no livro Le só


grandparler, que
em entrevista recente, os marubo os foi no Brasil em 1990,
para publicado com

cantos tem função diplomática, mediando tradução de Nícia Adam Bonatti e o título

a relação com o ambiente ao redor: de A sagrada. Como


fala diz Clastres no

prefácio ao volume,

A floresta, as árvores, os animais,

todos eles têm seu de As Belas Palavras: assim


próprio ponto os índios

vista. A humanidade está distribuída. denominam as


guarani palavras que
Para eles, uma sucuri ser gente lhes servem se
pode para dirigir a seus

e uma multidão de araras ser deuses. Bela linguagem,


pode fala sagrada,

um monte de espíritos de do agradável ao ouvido


povos dos divinos,
que
ar. 0 rio, exemplo, não é apenas se consideram dignas
por de si. Rigor de

um reservatório de água, é a morada sua beleza na boca dos sacerdotes

em que vive o povo subaquático: inspirados as


que pronunciam;

embriaguez de sua no
grandeza
É assim, escute. coração dos homens e das mulheres

Serpente-espírito, espírito, os escutam. Essas fie è


jaboti, que porá,

[Jaboti Branco, essas Belas Palavras, ecoam ainda

Toda essa vive nos lugares mais secretos da


gente junta para

[crescer, floresta desde sempre, abriga


que,

Assim é esta gente invisível, serpente- aqueles autonomeando-se,


que,

sucuri-espírito, Ava, os Homens, se afirmam


[espírito, grande assim

Toda essa gente vive criar depositários absolutos do humano.


junta para

[seus filhos,

Fazendo crianças, ali mesmo onde a A comparação da tradução de um

[criança nasce, trecho do canto do livro, sobre


primeiro o

colibri, entre Clastrers-Bonatti e Vianna


Baptista, nos mostrar o tratamento as mãos celestes com os brotos
pode

apurado as versões dos cantos floridos


que

ameríndios têm recebido atualmente: abriu Namandauí, desabrochando

do caos obscuro do começo.

Nosso o último, nosso o


pai, pai,

Sobre a fronte do deus


[primeiro,

fez com seu corpo as flores do cocar


que próprio
- olhos de orvalho
[surgisse

da noite originária. entre as corolas do cocar sagrado

o Colibri, original,
pássaro

A divina dos esvoaçante.


planta pés, pairava,

o traseiro redondo: (Vianna Baptista)


pequeno

no coração da noite originária

ele os desdobra, desdobrando-se. Essas diversas e<lições de cantos

ameríndios, realizadas com apuro,

Divino do saber das coisas, conquistaram reconhecimento crítico -


espelho

de toda coisa, inclusive literários. Mas ainda


compreensão divina prêmios

divinas das mãos, estão distantes do conhecimento de um


palmas

divinas de ramagens lloridas: mais amplo, mesmo entre os


palmas público

leitores habituais de poesia. Exercícios

ele desdobrando a si de aproximação estão ocorrendo nos


os desdobra,

últimos anos. Em 2012, Max de Carvalho


[mesmo, Namandu,

no uma ampla antologia de


coração da noite originária. publicou poesia

brasileira na França, denominada Le

No da cabeça divina du Brésil, onde inclui algumas


cimo poésie

as flores, a coroam, narrativas orais do Xingu, recolhidas


as plumas que

são durante os séculos XVI, XIX e XX. E 110


de orvalho.
gotas

Entre entre da ano seguinte, realizei uma antologia de


as flores, as plumas

divina, dez volumes de poesia brasileira, Poesia,


[coroa

o originário, Mamo, o colibri, br, com um dos volumes dedicado aos


pássaro

esvoaça, cantos ameríndios. Nos dois casos, a


adeja.

busca de um diálogo entre esses cantos e


(Clastres-Bonatti)

brasileira, colocando-os em
a poesia pé de

Nosso Pai, sumo, supremo, ierualdade com autores consagrados, como


primeiro

a sós foi desdobrando a si mesmo Machado de Assis, Carlos Drummond de

do caos obscuro do começo. Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral

de Melo Neto, e contemporâneos.

As celestes dos A antologia Poesia.br trouxe, além


plantas pés,

o breve arco do assento, da seleção de alguns cantos de livros de

a sós foi desdobrando, ereto, Bisério, Josely Vianna, Douglas Diegues

do caos obscuro do começo. e outros, traduções inéditas. É o caso dos

cantos kashinawá traduzidos Daniel


por

0 lume de seus olhos-de-céu, Bueno em parceria com diversos membros

os divinos ouvidos, da etnia, e a tradução de Sérgio Medeiros

as celestes arvorando o cetro, um canto bororo. Sérgio Medeiros


palmas para
organizou em 2002 o importante volume contextualização? Nas duas antologias

Makunaíma e Jurupari: cosmogonias supracitadas, estas não ocorreram. E

ameríndias, com ensaios e novas há motivos isso.


para Segundo Max de

traduções "a
das narrativas, realizadas Carvalho, faz suas
por poesia próprias
Aurora Fornoni Bernardini e leis". A contextualização
(Jurupari) de de
poemas
Henrique Roenick Para o literatura não é automática.
(Makunaíma). qualquer Ou
"Canto
Poesia.br, retrabalhou o da anta", a exigência de explicitar-se o contexto

presente na Enciclopédia bororo: se generaliza ou se cria uma diferença

artificial entre os cantos ameríndios a os

[...] poemas da literatura brasileira corrente.

Voz das antas: Em segundo lugar, oferecer diretamente

Sou a anta: meu choro está nas cores ao leitor a fluência do texto, sem a

[do caçador. obrigação de


passar por vastos ensaios

Sou a anta: meu choro está no enfeite introdutórios e explicativos, é importante

[do caçador. a construção de um diálogo


para mais

Sou a anta: meu choro está nas cores amplo entre as culturas envolvidas.

[vermelhas do caçador.

Sou a anta: meu choro está na branca

[penugein do caçador. 3

Sou a anta: meu choro está na Ein 2013, se comemorou


pena os dez

[do caçador. anos do I Encontro de Escritores

Sou a anta: meu choro está na coroa Indígenas, reunindo nomes como Daniel

[do caçador. Munduruku, Graça Graúna e Eliane

Sou a anta: meu choro está nos Potiguara. Esses escritores indígenas

[cabelos presos do caçador. contemporâneos estão criando uma

linguagem livre, lidando com


própria,

As flechas dele são tão belas como as suas tradições e também com uma

[um dourado. relação aberta com as outras culturas. E,

As flechas dele são tão belas como dentro de uma tendência importante, sem

[uma flor. necessitar de intermediários, tradutores,

As flechas dele são tão belas como antropólogos ou acadêmicos


para

[uma arara. isso. São autores de


grande qualidade
As flechas dele são tão belas como e importância. Mergulhar em suas

[um gavião. obras não apenas uma maior


permite

As flechas dele são tão belas como compreensão sobre as suas etnias, mas

[um gavião. também sobre os desafios


que estão
As flechas dele são tão fatais como enfrentando atualmente.

[uma cascavel. O surgimento de escritores indígenas,

As flechas dele são tão belas como de traduções


qualificadas de cantos e

[um gavião. narrativas ameríndias e de livros se


que

[•••] relacionam com essas culturas é muito

salutar. Essa reconquista da importância

Uma apresenta-se sempre dos da floresta na cultura


questão povos

que se trata de
publicar
cantos brasileira, não apenas na literatura, mas

ameríndios: Deve-se buscar sempre a nas suas diversas manifestações, é um


fato novo, e ser atentado. A da nossa própria cultura, tão domesticada
que precisa

importância disso não ser medida: no urbano cotidiano. Já lembrava Ezra


pode

como registro e afirmação - especialmente Pound que


todo período
de
grande

num momento em os invenção foi precedido de um tempo de


político que

direitos indígenas conquistados durante trocas culturais, 011 seja, de contato com o

a Constituição de 1988 são colocados em alheio (jue que a cultura respire e


permite

risco - e se reinvente.
pelas políticas governamentais

também como de transformação


potência
Desafios das
poéticas

ameríndias

Pedro dk Niemeyer Gesarino

freqüência de um desconhecimento ultrapassa


com que que

o Brasil é um com a o mero aspecto comunicacional, uma vez


dos países

Esquece-se
maior diversidade lingüística cada língua implica em um mundo
que

do mundo, e suas formas de expressão, tais como


pois aqui se fala
grande

das línguas aquelas relacionadas às poéticas da


parte ameríndias existentes

segundo Apresento aqui algumas de suas


(274, censo recente do IBGE).1 palavra.

Pouco conhecidas direções visto merecem


para além dos círculos principais, que

restritos de lingüistas mais atenção dos interessados outras


e etnólogos, tais por

línguas se dividem ein dois formas de concepção da linguagem


grandes
troncos e Macro-Jê), dez outras
(Tupi poética.

famílias Pano, Karib Há toda uma variedade de


(Tukano, e Arawak,

entre outras menores) e várias modos essas se


línguas pelos quais poéticas

isoladas. Esse bastante exprimem. Eles uma série


panorama possuem

vasto indica o tamanho do desafio de de traços distintivos, muito embora

compreensão das línguas e de não sejam isolados uns dos outros


ameríndias

seus universos criativos. Afinal, e se articulem através de relações


trata-se

interverbais constantes. São comuns os

cantos envolvidos em sistemas de cura

Dados sobre o número de línguas divergem.


ou em outras formas de ação ritual
O censo mais recente do IBGE fala em 274, mas
relacionadas ao xainanismo, notáveis
ate
pouco tempo atrás a referência aceita por
lingüistas era de aproximadamente 150. Para nas artes verbais de povos como os

o censo do IBGE, veja http://www.ibge.gov.br/ falantes de línguas tukano Rio


(Alto
lioine/presidencin/noticias/noticia_visiializa.
Negro), ocidental) e
pano (Amazônia
php?id_notieia=2194&id_pagina=l (acesso
arawak regiões da Amazônia),
fin 10/12/2012). (diversas
Para uma apresentação
lingüística, consulte FRANCHETTO, Bruna, "O entre outros.2 Esses cantos costumam

trabalho dos lingüistas", 2008


(disponível em
litt.p://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-

atual/linguas/o-trabalho-dos-linguistas, acesso ^
Exemplos de cantos de cura referentes a
em 10/12/2012). A autora observa encontrados em um
que apenas povos pano podem ser
cerca de 20 línguas artigo de Graham Townsley sobre o xamanismo
possuem descrições mais
completas, ainda dos Yaminawa lhe ways and
que quase uma centena tenha ("Song paths:
sido objeto de estudos lingüísticos mais ou means of Yaminawa shamanic knowledge".
menos bem elaborados. L'Homme, 1993, n" 126-8, p. 449-468), no
ser marcados aprendizado rigoroso 15. shata
pelo txishã ipawê!

de uma linguagem ritual constituída shaki ewe awãi

por metáforas, fórmulas fixas, léxicos wení nonisho


pae
especiais, enunciações shata navetsenãki
polifônicas

complexas e outras características. Ao shaki shata apawê!

longo de sua execução, um 20. shata txishã


pajé pode apawê!

convocar a ajuda de espíritos auxiliares vene teke tiomai

ou de determinados agenciamentos shata kova ipawê!

responsáveis cura de um doente: shata tarii ipawê!


pela

daí a de imperativos e da
presença

cadência encantatória notável nesses leve taboca-sol

cantos com freqüência, são bastante ti leve chamo


que, por

extensos e de difícil tradução. Veja a leve


gavião-sol3
seguinte estrofe de um canto de cura dos ti leve chamo
por

Marubo (falantes de da Amazônia leve envira-descamar


pano

ocidental), na um rezador ti leve chamo


qual pajé por

busca restabelecer a leveza em seu dentro da cabeça


por

paciente: leve descendo lave

pelo corpo do homem

/. vari tawa shataki leve lavando desça!

miki shata keviai o braço leve deixe!

vari chapo shataki leve vertendo desça!

miki shata keviai leve se alastrando

5. shokô moshô shataki leve o ventre fica

miki shata keviai leve costas desça!


pelas

mapo shaki tiomai do ventre tirando


peso
shata kova ipaki a droga embora foi

vene kaya tiomai leve mesmo alastrando

10. shata kova ipawê! ventre leve


pelo vá!

meta shata apawêt costas leve


pelas vá!

shata mane ipawê! do homem


pela perna
shata navetsenãki leve lavando desça!

shakT shata apaki leve desça!4


pelos pés

trabalho de Pierre Déléage sobre o xamanismo


Esse fragmento extraído de um
Sharanawa (Le chant de l'anaconda:
Papprentissage du chamanisme chez les original composto mais de dois
por
Sharanahua, Amazonie occidentale. Nanterre: mil versos é um bom exemplo do
Société d'Ethnologie, 2009.) e em meu trabalho
que, entre os etnólogos, costuma ser
sobre os Marubo (CESARINO, Pedro. Oniska:

poética do xamanismo na Amazônia. São Paulo:


Perspectiva/Fapesp, 2011), entre outros. Para O
'
o caso tukano, o interessado pode se reportar Uma hárpia grande.

ao trabalho de Dominique Buchillet ("Nobody ^


Tradução de Pedro Cesarino. Versão original

is ihere to hear". In LANGDON, J. & BAER, integral


publicada em CESARINO, Pedro de
G. (Org.). Portais of Power. Albuquerque: Niemeyer. Oniska:
poética do xamanismo na
University of New México Press, 1997. p. 211- Amazônia. São Paulo: Perspectiva/Fapesp.
231.).
p. 232 e seg.
chamado de uma terapia estética: vai mesmo voando

neste caso, uma terapia assim sempre


verbal que se fomos

dá a da comunicação
partir entre o na colina da terra-espírito

cantador, seus espíritos na


auxiliares e as colina da terra-névoa

entidades agressoras. As há tempos vivemos5


artes verbais

relacionadas à cura se associam aos

chamados cantos de são,


pajé, que Ele fala aí sobre sua morada,
na realidade, cantados
por espíritos
localizada no último celeste
patamar
através do corpo dos xamãs ou pajés, da cosinografia marubo Morada da
(a
os especialistas rituais das sociedades
Terra-Névoa) e sobre o seu de
processo
ameríndias. Os cantos de
pajé oscilam
surgimento (os espíritos se desprendem
entre o uso da linguagem cotidiana e da
das flores de labaco caídas e, em seguida,
ritual, mas também ser marcados
podem se dirigem às suas casas). Através de
pelo uso de fórmulas verbais e de
tais palavras, a audiência termina
por
metáforas, muito embora tendam a ser
formar uma imagem, um tanto
quanto
mais sintéticos e imagéticos. Em
geral, nostálgica, dos habitantes de outras
destacam-se também
por uma estrutura
referências longínquas (mas melhores do
enunciativa
polifônica, que se refere
esta em estamos), vêm com
que que que
à multiplicidade de vozes de mortos e
freqüência ensinar e curar os viventes.
espíritos transmitidas
pelos cantadores.
Há outras modalidades das artes da
São em diversos
presentes dos
tais como as falas de chefe e os
palavra,
xamanismos ameríndios, muito embora
discursos cerimoniais. Caracterizadas
os estudos e traduções mais detalhados
referências aos modos dos antigos,
pelas
estejam conta dos cantos
por maraká,
elas são constituídas uma complexa
por
de falantes
povos de tupi, e de cantos de
opacidade semântica decorrente do
falantes de línguas No seguinte
pano. da intensidade e da
privilégio potência
exemplo
proveniente do xamanismo
oratória, referentes aos duelos verbais
marubo de da Amazônia
(falante pano e diplomático
de caráter em
político que
ocidental), o espírito do Gavião-Névoa
costumam ser executadas. São notáveis
canta as seguintes
palavras através do
entre os povos do Alto Xingu, mas
corpo do Armando
pajé Cherõpapa.
também entre os Yanomami, os Jivaro e

outros.6

koi rome owaki

menokovãini
J
Tradução de Pedro Cesarino originalmente
riai koi shnvaya
CESARINO, Pedro de Niemeyer,
publicada em
"Poéticas
shavá avainita indígenas". São Paulo: Instituto

ave Socioambiental, 2009 (disponível em l)ttp://pil>.


rioke
pariki
scKnoambientaJ.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-
yove mai matoke
de-vida/as-poeticas-indigenas).
koi mai matoke
Bons estudos e traduções sobre tais
shokoivoti
falas cerimoniais no Alto Xingu podem ser

encontradas nos trabalhos de Bruna Franchetto

llor de ("Rencontres rituelles dans le Haut Xingu: la


tabaco-névoa
parole du chef". In: MONOD, A. Becquelin &
caindo e
planando ERIKSON, P. (Org.). Les rituels du dialogue:
à morada do céu-névoa promenades ethnolinguistiques eri turres
amérindiennes. Nanterre: Société d'Ethnologie,
Essas três modalidades estão Nas sociedades ameríndias, a

assentadas sobre as narrativas míticas, elaboração da é, portanto,


palavra

o referencial dos universos central sistemas cosmológicos


principal para

intelectuais ameríndios. Cantos de variam na mesma


que praticamente

cura, exemplo, vão nos quantidade de línguas existentes. Através


por procurar

episódios míticos o processo de formação da palavra, torna-se possível pensar

de entidades agressoras capazes de na relação com a morte e as doenças,

atormentar os viventes como na e nas transformações


(tais paisagem

sucuris, do mato e outros animais do chamamos de natureza, no


porcos que

dotados de espíritos surgimento das cidades, dos brancos e


potencialmente

agressivos). Os cantos de são, das destruições trazidas sociedade


pajé pela

mais atualizações dos industrial. Muitas das indígenas


propriamente, poéticas

tempos míticos através do trabalho elaboram uma ética da


palavra

de mediação dos conectam fundamental a constituição da


pajés, que para

outras referências a esta. E aí pessoa e sua relação com os mortos, os


por

as comuns têm acesso às espíritos e o mundo desolado em


que pessoas que

celestes visitadas duplos vivemos. Sem esse conhecimento, tudo


paisagens pelos

almas) de tais especialistas rituais, se passa como se a


(ou pessoa permanecesse

bem como notícias de outros agentes vazia. Não acaso, Namandu, o


por

do cosmos vêm em falar demiurgo da mitologia


que pessoa guarani-mbyá,

sobre seus conhecimentos e mundos. decide fazer a fala antes


que qualquer

Por conta disso, tornou-se comum outra coisa fosse formada no mundo

escutar na Amazônia os são primeiro, como lemos nos seguintes


que pajés

como rádios, ou seja, transmissores de versos:

notícias e de formas outras de se viver.

Também as falas cerimoniais de chefes


Antes de a Terra existir,

e de lideranças nas narrativas


procuram no caos obscuro do começo,

míticas seus exemplos de condutas éticas,


tudo oculto em sombras,

conhecidas antigos e necessárias


pelos Namandu, Pai verdadeiro, o primeiro,
a continuidade dos laços sociais.7
para

2000. p. 481-510.) e de Antonio Guerreiro Jr.

(Ancestrais e suas sombras: uma etnografia da cuja complexa mitologia vem sendo
publicada
chefia kalapalo e seu ritual mortuário. Tese de
pela iniciativa dos próprios cantadores da
doutorado, UNB, 2012).
região nos oito volumes da Coleção Narradores
^
A arte narrativa ameríndia se aproxima mais Indígenas, editados desde a década de 1990.

da poesia dramática do que da prosa corrida, Sérgio Medeiros também tem se dedicado

como sugeriu DennisTedlock (The spoken word aos ciclos narrativos da América do Sul e da

and the work of inlerpretalion. Philadelphia: América Central (Makunaíma e Jurupari.


University of Pennsylvania Press, 1983). Sua São Paulo: Perspectiva, 2002; Popol Vuh. São

redução à prosa corrida é uma constante em Paulo: Iluminuras, 2007, em colaboração com

diversas publicações, que foi revisada e criticada Gordon Brotherston). Vale também lembrar dos

da década de 1980 em diante por uma série de trabalhos de Alberto Mussa sobre a mitologia

Tedlock) especializados tupinambá (Meu destino é ser onça. Rio de


autores (entre os quais
em antropologia lingüística e etnologia. No Janeiro: Record, 2009) e de Josely Viamia

Brasil, pouco desses corpus narrativos tem sido Baptista sobre os Guarani
(Roça barroca, São
estudado, traduzido e editado. As exceções ficam Paulo: Cosac Naify, 2011), entre outros
poucos
narrativas do Alto Rio Negro, tais como os publicados
por conta das por Betty Mindlin.
aflorou-se a fonte da fala e fez com mito e da tradição sobre elas ainda
que

[que fluísse seu ser, costumam ser (a ausência


por projetadas

[divinizando-a. de capacidade de reflexão crítica, o

enraizamento no contexto sociológico

A fonte da futura tendo como empecilho à universalidade, a


palavra

[aflorado, repetitividade e a circularidade, a falta

com o saber cont ido em seu ser-de de elaboração, a rusticidade, entre

[céu, outras falsas características dadas


pelo
"propriamente
e sob o sol de seu lume criador, contraste com a literatura

de si foi aflorando a fonte do amor.8 dita"). Se é inegável o caráter


positivo

dessas poéticas, devemos, no entanto,

atentar sua originalidade e


Para a metafísica se para
guarani, que
expressa diferença com relação à episteine
de maneira tão eloqüente nesta
ocidental moderna. Algo deve ser
e em outras do Ayvu Rapyta, que
passagens
feito em diálogo com aspectos diversos
as verdadeiras não são apenas
palavras

uma dos da floresta estudados


forma de fruição estética mas, pensamentos

antropólogos tais como Claude Lévi-


também, um instrumento fundamental por

de transformação Strauss, Eduardo Viveiros de Castro,


ritual e de superação

das Manuela Carneiro da Cunha e Philippe


mazelas do mundo. De fato, alguns
Descola.
povos ameríndios se destacam suas
por
Uma das matrizes do
ricas e diversificadas tradições orais principais

e, também, universo intelectual em questão ser


desenvolverem algo pode
por
como encontrada na sua concepção alternativa
uma teoria da linguagem. Este é

de humanidade que, para as sociedades


precisamente o caso dos cantos
guarani
ameríndias, não é exclusiva
acima referidos. 0 lirismo de suas belas prerrogativa

ou de alguma espécie determinada.


verdadeiras
palavras (nhe'eporã),
dizia "designa I luinanidade é uma qualidade ou uma
Pierre Clastres, ao mesmo

tempo de ser distribuída


a eclosão de um posição, passível
pensamento
no infinitas subjetividades espalhadas
sentido ocidental do termo", um por

"pensa cosmos. Subjetividades essas


pensamento o mundo e a pelo que
que
infelicidade do mundo". Para Clastres,
sempre existiram (é o que dizia o espírito

esse "tenta Gavião-Névoa na tradução acima), mas


pensamento uma arqueologia

do mal, em um determinado momento,


fazer uma da que,
quer genealogia
infelicidade".9 a adotar posições corporais
passaram

diversas tais como as de


Com essa aproximação ao Ocidente, jaguares,

o antropólogo sucuris, do mato, etc. Não


francês marcar porcos gaviões
pretendia
o estatuto "positivo" acaso, dizia Viveiros de Castro:
das formas por

ameríndias de reflexão
poética, tão

eclipsadas imagens as indígenas se


pelas do palavras que
genéricas
"ser
costumam traduzir por

8 humano", e entram na
que
Iradução de Josely Vianna Baptista
(op. cit.,
composição das tais designações
p. 31-32).
"nós,
CLASTRES, Pierre. A etnocêntricas [do tipo, os seres
fala sagrada: mitos e
cantos sagrados dos índios humanos verdadeiros"], não denotam
guarani. Campinas:
Papirus, 1990.
p. 13.
a humanidade como espécie natural, o seu mundo, de modo que as
povoam
"
mas a condição social de pessoa, falas e pensamentos melhores de tais

e, sobretudo modificadas agentes venham favorecer as nossas.


quando
"de "vivem
intensificadores do tipo São pessoas que juntas para
por
"realmente", "genuínos",
verdade", (chinãyai shokosho) através do
pensar"

funcionam, aprendizado e da execução de cantos e


pragmática quando

não sintaticamente, menos como falas elaboradas. Suas fórmulas poéticas

são, a rigor, espíritos -


substantivos como pronomes.™ pensadas pelos
que

magníficos, fulgurantes, e
perfumados

infinitos - desde sempre existiram e


Isso dizer é humano aquele que
quer que
surgem a todo instante. Ao aprende-
ocupa a posição de enunciador, ou que
que
Ias, um pajé se torna capaz também
seja, se torna capaz de produzir
que
"pensar
de tudo", isto é, de recuperar
linguagem e, potencialmente, linguagem

o modo de formação e de composição


adensada, Em situações liminares
poesia.
de tudo aquilo há, pois os espíritos
características da doença e das crises que

de fato fizeram este e outros


acarretadas transformação ritual, primeiros
pela
mundos com o de suas
a pessoa a interagir com essas poder palavras-
passará
"de - de sua
outras verdade" será pensamento, poiesis primeira.11
gentes
Aos pajés cantadores cabe,
forçada a reconhecer o excesso de gente

assim, tanto a tarefa de inimetizar


de se faz o mundo. Aos poucos,
que
tal potência poética a de
alguma comunicação se estabelecerá quanto

conectar essas subjetividades outras


através de uma linguagem reconhecível,

com o tempo A forma de


de um conjunto de hábitos presente.
próximos
subjetividade criadora em se
àqueles na relação entre seus questão
presentes
afasta radicalmente, daquele
dessa nossa visível, portanto,
parentes posição
fechamento tão característico da
mas referente a outras e outros
gentes
metafísica do sujeito solipsista moderno
saberes.
e de suas transformações na figura do
É sobre isso, aliás, fala
que
autor-criador individualizado. Aqui, a
da mitologia ameríndia:
grande parte
é estabelecer formas de conexão
sobre os infortúnios e os resultados questão

multiplicidade, de fazer com a


do cruzamento de de pela que
perspectivas,
seja um veículo ou uma forma de
convivências e de relações estabelecidas pessoa

relação com outras tantas e seus


entre as múltiplas humanidades pessoas

saberes, que terminam incidir nas


existentes impensável em nossa por
(algo
belas cantadas
ontologia secular antropocentrada). palavras (e raramente

bem traduzidas ou estudadas). Ora,


É conta disso, também, os
por que

que essa condição seja conquistada,


Marubo falante de língua para
(um povo
o sujeito deve destruir a sua
com o qual trabalho) dizem que própria
pano
"ligar individualidade e ultrapassar o registro
seus vivem ou conectar
pajés para
vazio da linguagem ordinária, sem o
ãtinãnãi), entre si
pensamento" (china

e com a miríade de outros espíritos que

^ ^
Mais detalhes a respeito de tal teoria da

10 linguagem podem ser encontrados em meu livro


VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A

inconstância da alma selvagem. São Paulo: sobre a poética xamanística marubo citado

Cosac Naify, 2002. p. 371. acima.


qual jamais conseguirá compreender dessa nossa humanidade
provenientes
e transportar o sentido da experiência a fim de se transforme em outro.
que

extra-humana. É o vemos nessa bela Uma vez conquistada tal capacidade de


que

passagem, na o pajé aprendizado e de transporte das


qual yanomami palavras

Davi Kopenawa fala sobre sua lenta alheias, freqüentemente enriquecidas

aproximação dos espíritos xapiri: sentido e pela experiência do


pelo

cantador, haverá ainda o desafio


próprio
"Awe\
Desta vez ele nos respondeu de transmiti-las os em
para jovens que,

direito!" As vozes deles me sociedades indígenas diversas, costumam


pareciam

bastante claras. Satisfeito, me esforcei coin o limbo social e existencial.


padecer

sem descanso imitá-los, muitas Uma condição lhes tem sido imposta
por que

e muitas vezes. Por conta desse vida nas margens das cidades e
pela

esforço, eles vieram ao meu auxílio. E outros espaços devastados avanço


pelo
"Ele "olhos
diziam entre si: de fato não nos das têm de espectro",
pessoas que

escuta muito bem! Recomecemos! como diz o Kopenawa em algum


próprio

Como fazer nossas outro lugar.


para que palavras

se tornem audíveis?" Então, eles Mas há, ainda, outro desafio não

retomavam seus cantos com as vozes menos difícil: o de fazer com suas
que
"se
ainda mais fortes e Foi tornem audíveis" os
potentes. palavras para

assim eu terminei escutá-los brancos, tão congelados em suas idéias


que por

verdadeiramente e por cantar como sobre si mesmos e sobre os


prontas

eles. Se nos esforçamos a responder outros. Afinal, o xamanismo é uma forma

aos xapiri, as imagens do melro de diplomacia e de tradução envolve


que

yõrixiama e da árvore de cantos outros interlocutores além dos


próprios

reã hi começa a descer rapidamente indígenas, ainda mais estes


quando

nós. Eles nos emprestam suas últimos têm lidar com a voracidade
para que

e consolidam a nossa e a indiferença alheias. Do lado urbano


gargantas

língua. A daí, as palavras letrado, são os souberam


partir poucos que

dos cantos dos espíritos aumentam efetivamente transformar a linguagem

rapidamente em nós como em um através do estudo dessas


palavras,

gravador. Foi isso aconteceu ultrapassando a camisa de força do


[...] que

comigo.12 imaginário indigenista romântico e

do modernista: Mário de
primitivismo

0 esforço realizado Andrade e seu Mucunaíma, Guimarães


pelo pajé para
"Meu
ser reconhecido um Rosa e seu tio o Iauaretê", e não
pelos espíritos como

potencial e, consequentemente, muito mais do isso. Os brasileiros


parente que

como um interlocutor- de fato têm se esquecido dos diversos


potencial
aprendiz, é diretamente derivado continentes sempre existiram
que por

da alteração de seu corpo, deve aqui. Imaginar uma nova interlocução


que

perder todos os vestígios de substâncias com esses registros de


pensamento

implicaria, também, em traçar outras

KOPENAWA, Davi. La chute du ciei: imaginação e da


paroles cartografias da poesia.
d un charnan
yanomami (em colaboração com
Brúce Alhert). Paris: Plon, 2010. p. 136. A
tradução do trecho citado é minha.
Direitos autorais e

culturas ameríndias:

uma conversa com

Carlos Fausto

Por José Eisenberg e Sérgio Gohn

Poesia Sempre: Um dos motivos culturas. É claro existem motivos


que

desta entrevista é discutir isso, como as apropriações se


a questão para que

dos direitos autorais em relação à faziam de suas manifestações culturais

cultura ameríndia. E assunto sem créditos ou retornos financeiros


um para

complexo. No da os representantes dessas etnias. Como


presente número

Poesia Sempre, você vê essa


por exemplo, havia a questão?

intenção de reproduzir uma série de

cantos ameríndios, Carlos Fausto: Há realmente um


mas não foi
possível

por conta da 177/2006 da Ele é muito evidente na


portaria paradoxo.
1' unai, trata cotidiana dos antropólogos.
que desse assunto. Por ela, prática

seria necessário Existe um capítulo no Tristes


um esforço enorme
"Um
de acessar os representantes das trópicos, chamado pequeno

etnias conseguir copo de rum", em Lévi-Strauss


para a autorização que

de reprodução diz nós, antropólogos, somos


desses textos, o que que

acaba sendo se você normalmente em relação


quase impossível progressistas

nao é alguém à nossa sociedade e conservadores em


trabalha na área.
que já
Nas últimas décadas relação às sociedades dos outros. No
aconteceu este

fenômeno interessante: movimento ser chamado de


enquanto a nossa que pode

cultura começou da cultura, havia


a buscar novas formas patrimonialização
de lidar com a idéia de era não apenas
o direito autoral, a criar que preciso

novas ferramentas, documentar a riqueza das culturas


como o Creative

Commons e outras abertas, ameríndias, no caso


licenças para principalmente
torna-lo mais do imaterial, mas também
flexível, os ameríndios patrimônio
têm ela não fosse usada
procurado um acirramento das garantir que
regras "Indevidamente"
dos direitos autorais, dentro indevidamente. era o

das leis mais termo utilizávamos


tradicionais, ampliando genérico que para

as restrições usos nós achávamos incorretos, no


de circulação das suas que
sentido de ou auferiam-se lucros um mestre e um aprendiz. Isto, de saída,
que que

não eram repassados aos índios, ou coloca uma sobre a transmissão,


que questão

de alguma maneira eram utilizados de se o conhecimento confere


porque,

um modo não respeitoso. Nos últimos a do momento em


prestígio, partir que
25 anos, muita se engajou nesse for muito difundido, esse se
gente prestígio

processo de da e, se não for, há o risco dos


patrimonialização perderá,

cultura. Até os índios cantos desaparecerem. Então, havia a


porque quiseram

isso fosse feito. idéia de era o registro, a


que que preciso

No meu caso, comecei a e também era


quando gravação, que preciso

trabalhar com antropologia, fiz uma impedir houvesse o uso indevido


que

pesquisa com os índios parakanã, a desse conhecimento. É uma


que questão
rigor não têm cultura, no sentido de complexa, está instalada na
que que própria
eles não identificam, não reificam alguma relação entre índios e antropólogos.
"cultura"
coisa como sendo a deles. Toda E não tem uma saída definida, uma

a lógica dos cantos rituais formulação Cada caso é um caso.


parakanã, pronta.

exemplo, é de contínua; E analisar com caso


por produção preciso, pois, que
não existe um corpus transmitido entre se está lidando, são os anseios de
quais

O há é um esquema cada E isso é complicado,


gerações. que população.

gerativo que é aprendido na prática, se faz um CD de


porque, quando

na no ritual, e cantos, exemplo, é utilizar


própria participação que por preciso

permite, o seria no nosso de as regras de direitos autorais


que ponto presentes
vista, a desses cantos. Do na norma brasileira. No caso de nosso
produção ponto
"A
de vista deles, não há e sim CD Dança dos Sopros", assegurar
produção,
"autorais"
apropriação, é através dos sonhos os direitos era fundamental,
já que

que eles acessam os cantos moverão os cantos de uso


que para preservar qualquer
novos rituais infinitamente. indevido. Essa tensão e esse
paradoxo
Mas, no começo dos anos 2000, é algo vivemos hoje, existem
quando que pois
fui trabalhar no Alto Xingu com os imensas de difusão, com
possibilidades

kuikuro, eles tinham claramente a o meio digital, e o conhecimento virtual

idéia de era registrar o a ter um valor enorme. Não


que preciso passou existe

conhecimento ritual deles. E os kuikuro mais a da informalidade,


possibilidade

empregavam um termo designar como existia tempos atrás. E os


para povos
"guardado",
o deveria ser cuja indígenas estão tentando se inserir
que nisso,

tradução mais é cultura. E ter uma relação mais simétrica


próxima para

este projeto era claro eles - o chefe com as


para normas vigentes na sociedade

disse-me todo envolvente. O também cria uma


que queria que gravasse que

o acervo de cantos rituais existentes série de


problemas.

então, tinha clareza de isso


porque que

ia acabar. Levam-se anos e anos se PS: No caso dos cantos ameríndios,


para duas

transmitir esse conhecimento, tem outras se somam: o fato


que questões de a

uma dimensão semelhante às epopeias autoria muitas vezes ser coletiva, ou não

cantadas africanas ou a uma Iliada, e definida, e de há uma atuação muito


que

essa transmissão exige um trabalho de maior do tradutor, não é apenas


já que
memória enorme. A transmissão se dá, uma transposição de uma língua
para
ademais, mediante entre outra, mas de um canto se utiliza,
pagamento, que
além da de música PS: Em sentido?
palavra, performance, que

e ferramentas visuais, a escrita.


para

CF: Bem, em primeiro lugar, não se

CF: falamos do registro de trata originalmente de um E


Quando poema.

uma tradição oral, estamos num isso já coloca uma ao


questão, porque,

campo em o direito O se transformar em em literatura,


que patina. poema,

direito indígena e o direito autoral, da em arte, é algo um lugar


que que possui

forma estão estipulados no Brasil, específico no nosso campo social, está se


que

não conversam entre si, e as soluções dando urna legitimidade àquele canto

acabam desembocando de alguma i|ue não é de mesma ordem daquela que

maneira na criação de mecanismos em seu campo original. Essa


possui já

institucionais, associações criadas dentro é uma operação enorme. Em


primeira

do direito brasileiro, capazes de escoar segundo lugar, na maioria dos casos,

a necessidade de resolver a tensão entre não se trata apenas de um mas


poema,

as maneiras de conceber o valor dentro são cantos, com um padrão melódico,

de uma sociedade indígena e a maneira rítmico, se tentar reproduzir


que pode

como nós o concebemos. no mas não é de simples


papel, que

tradução. Claro se pode colocar o


que

1*8: E alguém seja definido texto acompanhado de uma partitura,


preciso que
como detentor dos direitos mas aí entram as dificuldades de notação,
autorais

do determinado, e para isso as notações ocidentais, cromáticas,


produto já que

é escolhida uma entidade, na falta de não funcionam esse


perfeitamente para

possibilidades melhores... trabalho. Então, há necessariamente

uma perda nesse Em terceiro


processo.

Cl": Sim. E, 110 ponto lugar, há uma semântica. Porque,


quando pensamos questão

de vista da tradução a escrita traduzimos algo do inglês,


para quando

de algo da tradição oral, estamos trabalhando com conceitos


que provém
se introduz um novo elemento é à tradição judaico-
que que pertencem

a figura do tradutor. Ele adquire imi cristã. Mas, trabalhamos com


quando

protagonismo na construção ou na cantos ameríndios, estamos tratando

reconstrução de uma de outras tradições, cujos referenciais


determinada

tradição oral exerce. E o e equivalentes no nosso mundo muitas


pelo papel que
nosso direito é muito claro ao estipular vezes não existem. Evidentemente a

os direitos autorais do tradutor. Agora, é descontinuidade entre os parakanã ou

evidente isso traz novos desafios os marubo e nós é muito maior do


que para que

se criar uma equação entre o que é direito aquela entre os alemães ou italianos e nós.

do tradutor e o é direito do índio. Então esse processo tradutivo implica


que
Do índio como figura no caso. uma muito maior. 0 não
genérica, passagem que

Essa equação é mais complicada do dizer seja impossível. T anto e


que quer que

no caso de tradução de um escrito assim estão se produzindo traduções.


poema que

originalmente, exemplo, no alemão No havia a tendência de se


por passado,
ou no árabe. uma fazer traduções simples e bastante
Essa tradução possui
equivalência de enquanto a dos literais de artes verbais ameríndias,
gênero,
cantos ameríndios implica uma operação em se tudo aquilo era
que perdia que

muito mais radical. mais do uma simples fala. Hoje isso


que
mudou. A tradução visa à aproximação operação é de outra escala do num
que
com a poesia, com o modo-poema texto de Ezra Pound, exemplo.
por
característico de nosso universo. É Algumas hoje, começam a
pessoas,

uma tradução tende a enriquecer o investir na formação de tradutores


que

processo tradutivo, mas também cria indígenas, eles façam


que possibilitando que
outros riscos. traduções ou versões dos cantos. O
pulo

do será nós, antropólogos,


gato quando
PS: Que riscos? deixarmos de ser os únicos tradutores

dessa história. E isso nas duas direções.

CF: Como disse, o mais evidente é

colocar a sobre os ombros dos PS: E stamos falando


poesia aqui sobre

índios. Assim como é colocar a criação de novos registros. E


possível a

a filosofia sobre os ombros dos índios. circulação dos existentes? Os cantos



Não dá se definir n priori se isso é tentamos reproduzir no
para que presente
bom ou ruim. Isso ser benfeito ou número da Poesia Sempre haviam sido
pode já
malfeito. Vamos o caso do Pedro em livros, e não foi
pegar publicados possível
Cesarino traduzindo os cantos marubo. mesmo assim. é a ferramenta
Qual

Ali há um certo tipo de interferência. isso?


possível para

Assim como a tradução antropológica

que Eduardo Viveiros de Castro fez CP: Se vocês ficarem na ânsia de ter

dos araweté tendia a valorizá-los do um contrato uma vez assinado,


que,

de vista ocidental (pois Eduardo funcione, esqueçam. Por uma razão


ponto

elevou a cosmologia araweté a uma simples: a não ser as sociedades


que

filosofia), Pedro faz uma operação que indígenas mudem de maneira muito

valoriza os cantos xamânicos marubo, radical, o deles até hoje


problema

os insere no discurso da não é fechar um contrato e


porque grande pronto;
estética ocidental. Ambas as operações é como manter uma relação. Os

são incríveis, estética e contratos determinam o início e o fim


politicamente

conceitualmente incríveis, mas trazem de uma relação. Toda a nossa lógica

consigo as suas ambigüidades, de contrato é de assegurar escrito,


próprias por
seus seus convencionalizar são os termos
próprios paradoxos, próprios quais

equívocos. Só com o tempo saberemos da relação do seu começo até o seu fim.

se disso sairá uma estética com impacto 0 é eles não é


ponto que para para
A operação de Eduardo teve sim terminar a relação. 0 interesse dessas
geral.

um impacto bastante não apenas é relações


grande populações produzir que
na nacional, mas também se estendam no tempo, e não se
produção que
internacional, e não só antropológica. cortem abruptamente o contrato
porque

Então é a operação do foi realizado, foi terminado,


possível que perdeu
Pedro ser uma dessas fontes de a sua validade. Então, eles vão
possa pedir
compartilhada, de tradução novas coisas, vão requisitar, vão
produção querer
de cantos são também, num certo manter a relação. Eu não acredito
que que
sentido, autorais. seja uma fórmula e,
possível genérica,
Esse é um 0 outro cada vez se tenta normalizar, se
primeiro problema. que

é exatamente em relação à autoria. cria uma cascata de outros


problemas.
Porque a presença do tradutor nessa E o exemplo da definição da Funai dos
direitos autorais indígenas. Vale longe demais. Ela acompanhava, nos
para
todas as Não. termos de Marshall Sahlins, a idéia da
populações indígenas?

Do de vista do funcionamento indigenização: enquanto os antropólogos


ponto

interno delas, não saber viviam um certo sentimental,


vale. E pessimismo
preciso
com negociar, o é segundo o qual os índios estariam
quem porque ponto

justamente negociar, é estar dentro da sempre a sua cultura, na


perdendo

relação. verdade eles estariam processando,

digerindo, canibalizando todo o universo

PS: Um importante é ao falar ao seu redor. Em um texto escrevi


ponto que, que

de cultura indígena, muita há alguns anos, eu falava


gente pensa justamente

em culturas estanques, não é sobre as armadilhas da indigenização,


quando
bem o caso... havia o perigo de se começar
que

apropriando e acabar sendo apropriado.

(^F: Essa é cara nós, E hoje o sentimental não é


questão para pessimismo

antropólogos, o nosso só dos antropólogos, há muitos


porque próprio povos

ponto de vista vem mudando. Não dá indígenas tem nesse mote da


que perda

para saber será o nosso norte daqui da cultura um dos centros de suas
qual
a anos. eu comecei reivindicações E isso causa
quinze Quando presentes.

na havia muita clareza uma angústia. E é aí os


profissão, profunda que

de lutávamos não apenas mediadores aparecem.


que pela

preservação dos territórios indígenas, Eu me envolvi em diversos de


projetos
"preservação
mas também de suas culturas. Nós cultural" entre os kuikuro

estávamos afetivamente ligados à idéia é um tema muito forte eles),


(este para

de era a cultura ao mesmo tempo em me envolvia


que preciso preservar que
"produção
indígena. Essa era uma ideia-chave, igualmente em de
projetos

que, com a crítica à noção estática de cultural", empregando novas mídias.

cultura - dominante Eu me instalei na tensão entre


na antropologia própria
"guardar
dos anos 1980 e começo dos 1990 -, a cultura" eles dizem)
(como
"virar
de alguma maneira nós tivemos e branco". Eu me aproximei
que
recriar, insistindo não defendíamos deste último tema com uma idéia de
que
"virar
o caráter estanque da cultura, a sua o branco" sobre o
que qual

simples continuidade, mas na verdade falam insistentemente é uma doença

defendíatnos as culturas indígenas crônica. Na maioria das sociedades


que
se transformassem segundo seus indígenas da Amazônia, há essa idéia

próprios modos de transformação. Aí de você adoece agressão de


que pela

estava a idéia de estas um espírito, e então vai se afastando


presente que
sao culturas abertas o exterior da sua comunidade e se transformando
para
"espécie"
(a famosa abertura ao outro de Lévi- na desse espírito. Torna-se

Strauss), e de certa maneira, ainda desse espírito e deixa de ser


que, parente

que entre aspas, a coisa mais tradicional do seu Isso é traduzido


parente povo.

que se esperar delas é se como um sentimento de orfandade, de


podia que
transformassem, se apropriassem E justamente esse o
que perda. pessimismo

do universo lhes rodeia caso, a sentimental. Só a doença de se


que (no que

chamada"sociedade envolvente"). Essa tornar branco, é um tema obsessivo


que

idéia um tanto otimista ter ido nas aldeias hoje, é uma doença crônica,
parece
porque eles estão o tempo inteiro outra modalidade de domínio. Não

virando brancos, mas o nunca é a mesma coisa, os resultados são


processo

acaba, a doença não chega a um fim. diferentes, mas saibam numa aldeia
que
Você não vira branco lá no final. E esse indígena a única coisa não existe
que
muita angústia. Daí é a coletiva.
processo produz propriedade Justamente

acredito que está na hora de o é de todo mundo não é de


porque porque que

nós, antropólogos, revermos essa idéia ninguém, e logo ninguém cuida. Eu me

otimista da fomos tomados, de lembro uns anos atrás


qual que quinze visitei

as sociedades indígenas sempre uma aldeia tinha uma escola super-


que que

estiveram em transformação, e malcuidada. Perguntei estava


que por que
está tudo certo continuem se "a
que naquele estado e a resposta foi escola

transformando ainda hoje. A é não tem dono". Nas aldeias kuikuro,


questão por

que nem todas as transformações são exemplo, as estruturas coletivas sempre

iguais. Algumas delas não valem a têm dono e ser dono implica uma relação
pena.
"dono"
ritual, é o cara vai
pois que
PS: Corno é a da circulação comida alimentar
questão produzir para quem
de informação entre as diversas etnias fará o trabalho coletivo. Sem isso não se

ameríndias? cuida de nada.

1 lá donos também de coisas intangíveis,

CF: Não o mundo como o conhecimento musical. Mas aqui


podemos pensar que

indígena é o mundo da liberdade, o termo kuikuro oto se traduz melhor

simplesmente. Senão bastava ler mestre: um conhecedor de


por grande

Rousseau a gente saberia como cantos é um mestre-dono dos cantos e só


que já

era. Existem sociedades nas há um os transmitirá mediante Este


quais pagamento.
regime de muita restrição de transmissão fato colocava um nosso
problema para
de conhecimento, internamente e não apenas era
projeto, porque preciso
também em relação às como também não era
populações pagar, porque

vizinhas. Em geral, isso está ligado ao claro se estava transmitindo


para quem

conhecimento xamânico e ritual. esse conhecimento.

Mas a questão não acaba aí. fui


Quando
PS: ( Jomo comentário apenas, eles trabalhar no Xingu com a documentação

podem não conhecer a uma do conhecimento músico-ritual, apareceu


priori

categoria é do nosso direito romano, uma outra Os brancos


que questão. podem
de propriedade, dominium, mas eles ouvir o material sem
gravado problemas,
conhecem a idéia de patrimônio. De uma eles nunca irão aprender. Para
porque

certa maneira eles não são desvestidos da os kuikuro, esta não é a 0


questão.

idéia de alguma coisa tenha sentido é se outro do Alto Xingu


que problema povo

patrimonial. aprender os cantos kuikuro, sendo


que

os cantos kuikuro e os cantos dos wauja,

CF: Sendo um cabotino, eu escrevi ficar apenas num exemplo, são


pouco para

um texto chamado Donos demais extremamente tendo apenas


que parecidos,

fala sobre isso: o fato de não distinções, são o suficiente


justamente pequenas que
existir exclusiva nas se estabelecer uma unidade
propriedade privada para

sociedades indígenas não significa autônoma


que político-musical que pode
não existam conceitos impliquem ser representada musicalmente num
que
ritual intertribal. PS: Para encerrar, como podemos
Então, liavia também

essa trabalhar 11a construção de leis que


preocupação com a restrição da

circulação assegurem os direitos dos ameríndios às


dos cantos, não era em
que
relação suas culturas, mas também a
à sociedade envolvente, mas aos permitam

E era muito séria. sua circulação?


povos próximos.

Mas, é claro, como disse anteriormente,

existem CF: Nós estamos vivendo um momento


outros regimes. Entre os

de enorme e rápida transição; não dá


parakanã não há a idéia
propriamente

de dono ficar muita coisa. Mas


dos cantos de um conjunto para prevendo

ritual: acredito é se
há sim os mestres-donos dos que preciso preocupar

cantos, em menos com a normatização e trabalhar


aqueles os receberam
que

sonho, coin os casos exemplares, se ter


mas devem obrigatoriamente para
que

transmiti-los um rol das diferenças existentes entre os


a um terceito serem
para

executados Essas diferenças não têm a ver


ritualmente. Como mestre povos.

desses apenas com as características intrínsecas


cantos, ele mesmo não pode

cantar-matá-los. de cada mas também com as suas


Esses cantos uma vez grupo,

cantados experiências históricas com diferentes


em um ritual estão mortos,

loram mediadores. Acredito esse é o melhor


literalmente executados. Você que

são caminho, trabalhar caso a caso, e criar


pode cantá-los aí, mas eles não
por já

mais nada. um rol de exemplos e


efetivos, não fazem mais possibilidades.

Então é capturar novos cantos


preciso

em sonhos, com estrangeiros, mover


para

a máquina ritual. É absolutamente uma

outra lógica.
I
Três textos

históricos
RESUME

DE LIIISTOIRE LITTÉRAIRE

DU

PORTUGAL

süivi nu

RÉSTJMÉ DE LTIISTOIRE LITTÉRAIRE

dü brésil;

?>AR FERDINA1ND OENIS

dlh

PARIS,

LECOINTE ET DUREY, LIBRA1RES,

DE; augustjns, M* /j9.


^UAI

X 826
Resumo da história

literária do Brasil

(1826)

Primeiro cap ítu lo:

Considerações sobre o
gerais

caráter a deve
que poesia

tomar no Novo Mundo

Ferdinand Denis

Tradução de Afonso I Ie.nhiquks Neto


RESUME

DE L'HISTOIRE
LHISTOIRE LITTERAIRE
UTTERAIRE

DU
DV

BRESIL.
BRÉSIL.

W <•» ^ • <••
*.V\W%WkVWW%iV%* %.-%?%. %.."%?*.

CHAPITRE PREMIER.

Considerations
Considéralions sut le
]e caractere
caractère la
l;i
gencrales
géperales que

doit dans le Nouveau-Monde.


poesie
poésie prendre

long-temps I'Amerique
rAmerique ineridio-
inéridio-
Pendant

soumise au de deux
nale,
«ale, joug puissances

leurfour-
leur four-
europeennes,semblacondamneea
européennes,semblacondamnéeà

ricliesses sans tager leur


nil*
nir des pm
pai'iager gloire.

besoin de la liberte on a senti dans


Avec le

uii
uu desir
désir ardent
arderit d'ac-
le Nouveau-Monde

ses connaissances. Nous ue


ne sommes
croitre

au temps oil
ou Ton
l'on retenir les
pouvait
plus

sous la dependancc les liens


liens
Américains
Americains par
Primeiro
capítulo:

Considerações
gerais

sobre o caráter a
que

poesia deve tomar no

Novo Mundo

Durante longo tempo submetida ao de duas


jugo

potências européias, a América Meridional condenada


parecia
a fornecer-lhes riquezas, sem de sua Com
partilhar glória.
a necessidade da liberdade, a sentir nesse Novo
passou-se

Mundo um desejo ardente de maiores conhecimentos. Não

estamos mais 110 tempo em se conservar os


que podiam
americanos subjugados, sob a dependência dos laços
5 1 RESUME DE L'IIISTOIKE
L'fli$TQlH8 LITTEUAIUE
LlTTÉttAME
4

et ceux de rignorance. On
Ou
politiques par

nous avons arracbe


arracbc de l'or, nous avons laisse
laissé

eclifipper
écbftpper le de toutes
do.toutcs les counais-
germe

sances;
sancesj nous verrons ce cet
que produira
prodíiira

ecliange,
écliange, <<jui se faisajt sou vent
faisaitsouvent malgre
malgré nous,
jui

dans
datis la des etals
étals de 1'Ame-
l'Amé-
puisque plupart

rique du sudleslivres
sud les livres etaient
étaient
proliibes,ou
proliibés,ou

venaient s'enTouir
s'eníouir dans
daris les bibliotheques
bibliothòques des

moiues,
moines, et la
là trop souvpnt une oisive
que

ignorance les dedaignait.


dédaignait.

II faut
íaut convenir cependanl
cependant 1c
le Portu¬
Portu-
que

mit
mil bien moins de rigueur dans ces
gal

mesures les etats


c3tats limitroplies, et
que que

l'ancien en
eu transpprtaut
transportant son
sou
goufernement,
gouvernement,

siege
sidge a
à Kio-Janeiro,
Rio-Janeiro, apporta aussi le
gout

des sciences et des arts,


arts_, et lacilita
facilita nienfe
méníe

Jeur
leur culture le Bresil
Brésil cessait alors d'etre
d'étre
;

une colonic;
colonie; l'odieux
1'odieux systeme tombai t
tombait do
de

lui-meme
lui-méme : annees
années lard les
quelques plus

Bresiliens
Brésiliens i'etissent
Teosscnt aneanli*.
anéanlí.

Neannioins, au commencement
cominencement du sieclc,
sièclc,

le vaste empire du Bresil


Brésil cnipi uulait
euipruutait encore

au Portugal faible's
faibles rayons de son
sou
quelques

ancienne
aneienne Jilteraire
liltéraire s'en
gloire pour parei
parer

les succes
succès les Bresiliens
Brésilieus eusseut
que pu

acquerir
acquérir etaient
étaient comptes
comptés rienjeomme
rienjcomme
pour

les ricliesses de
dc la terre
terre, ils allaient le
? grossir
políticos e da ignorância. Nos lugares de onde arrancávamos
0 ouro,
deixamos escapar o de todos os conhecimentos;
germe
vamos ver o essa troca, feita tantas vezes à
que produzirá
nossa revelia, visto na maior dos da América
que parte países
(lo Sul os livros estavam ou se enterravam nas
proibidos,
bibliotecas
dos monges, e lá, muitas vezes, uma ociosa

ignorância
os desdenhavam.

No entanto, é necessário convir em Portugal possuía


que
menos rigor em tais medidas do os limítrofes,
que países
e
que o antigo ao transferir sua sede o Rio
governo, para
('e Janeiro,
trouxe também o gosto ciências e artes, e
pelas
facilitou
mesmo sua cultura; o Brasil deixou então de ser

unia colônia; o odioso sistema tombava si mesmo: alguns


por
anos mais tarde os brasileiros o aniquilariam.

Contudo, no de
princípio século, o vasto império do Brasil

amda tomava de empréstimo a Portugal alguns frágeis raios


f'e sua antiga literária com eles se enfeitar; os
glória para
exitos
que os brasileiros houvessem adquirido contavam

muito
pouco; igual às riquezas da terra, iam engordar o
DU TiUESlL. 5l5

iresor de la métropole : le reste du monde

les ignotíut, et les Amériçains eux-mêmcs

savaient a s'ils devaient s'en


pcine glorifierj

el cependant, 1'amour malheureux, la dé-

converte de ce beau les conquêtes


? des
pays

Européens, avaient dejà inspire les liommes

dn Nouveau-Monde: un cliíriat déiicieux


'É*"' les
¦ - \ •
í
entraiuait à leiír insu : de la nature,
poetes

ils en avaiem célebre la beauto; soumis aux

nobles, et ardentes, ils cliantaient


passions

lenr
pouvoir.

LeBresi],.qui a senti la necessite d'adopter

des inslilutions diííérentes de celles Ini


qui

avaient eté imposées 1'Europe, le Bresil


par

óprouve déjà le besoin d'aller ses in-


pniser

spirations à source lui


uiie
poétiques qui

appartienne véritablement;et dans sa


gloire

naissante, il nousdonnera bientôt les chefs-


"premiei*
d'ceuvre de ce enthousiasme
qui

attéste la (Vim
jeunesse peuple.

Si cette de l'Amérique a adopté


partie

un langage nu'a notre vieille


perfectionné

Europe, el le doit rejeter les idées mytlio-

logiques dues aux fables de la Grèce: usees

notre longue civilisation, ellcs onl étd


par

tees sur d és rívages oíi les natíons ne


poi pou-

vaiem bièn les complreridre, oà elles auraient


tesouro da metrópole: o resto do mundo os ignorava, e os

próprios americanos mal sabiam se deviam exaltá-los; e, no

entanto, o amor infeliz, a descoberta desta deslumbrante

região,
as conquistas dos europeus, haviam inspirado

aos homens do Novo Mundo; sem o deixavam-se
perceber,
arrastar
por um ambiente delicioso: da natureza,
poetas
haviam celebrado a beleza; submetidos às nobres e
paixões
ardentes,
cantavam o seu
poder.
0 Brasil, sentiu a necessidade de adotar instituições
que
diferentes
daquelas lhes haviam sido impostas
que pela
Europa,
já experimenta a necessidade de ir buscar suas

inspirações
poéticas em uma fonte verdadeiramente lhe
que

pertença; e nessa nascente, cedo nos dará as obras-


glória

primas desse entusiasmo atesta a de


primeiro que juventude
uni
povo.

Se essa da América adotou uma língua nossa


parte que
velha Europa aprimorara, deve rejeitar as idéias mitológicas

devidas às fábulas da Grécia: usadas nossa longa


por
civilização,
elas são levadas os extremos onde as nações
para
nao as
podiam bem compreender, onde elas deveriam
5i0 resume de i/histoire litteraire

du toujours être
etre meconnues;
méconnues; elles ue
ne sont

en harmonie, elles ne sont d'^ccord'ni


d^ccordTqg avec

le climat, ni avec la nature, ni avec ies

traditions.
tjaditions. L'Amerique,
L7Amérique, brillante de
jeu-

nesse, doit avoir des neuveset ener-


éner-
pensees

comme elle;
ellej notre
notregloirelitteraire
litteraire ue
ne
giques gloire

toujours
tòujçurs I'e'clairer
l'e'ciairer d'unelueur sJaf-
pent
peut qui
quis3aí-

iaiblit en
eu traversant les mers, et doit
qui

s'evariouir
s'évanouir completement
complètement devant les inspi¬
inspi*

rations d'une natipn d'e-


d'e'—
primitives pleine

nergie.
ncrgie.

Dans ces belles


beílcs contrees si favorisecs
favor isees de

la nature, la doit s'agrandir comme


pensee
pensée

le spectacle lui est offer


offertj
tj majeslueuse,
qui

aux anciens chefs-d'oeuvre,


chefs-d\£uvre, elle doit
gr3ce
grâce

rester independarite,
indépendarite, et ne chercher sou
son
çhercher

dans 1'observatiori.
robservation. L'Amerique
L*Ãmeiiique
guide que

eunu
eufiu doit etre
être libre dans sa comme
poesie
poésie

dans son
gouvernement.

Le INouveau-Monde ne manquer
manque*'
peut

d'imposantes
dimposantes traditions}
traditionsj dans sie-
siè-
quelques

cles,
cies, l'epoque
répoque ou
oíi nous sommes
parvenus,

1'epoque oil
ou se fonda sou independance,
indépendance, lui

donuera de nobles et touclians souvenirs.

Son tem
temps des fables mystérieuses
mysterieuses et
ps poe-
poé-

tiques, ce
cc seront les siectes
siècles ou vivaient des

nous avons aneantis,


anéanlis, nous
peuples que qui
por sempre ser desconhecidas; não conseguem se harmonizar,

não estão de nem o clima, nem com a natureza,


acordo com

muito menos com as tradições. A América, ardente de juventude,

deve ter novos e enérgicos iguais a ela; nossa


pensamentos

glória literária não sempre iluminá-la com um clarão que


pode
se enfraquece ao atravessar os mares, e que deve desvanecer-se

completamente diante das inspirações de uma nação


primitivas

plena de energia.

Nessas belas regiões tão favorecidas natureza, o


pela

pensamento deve se ampliar na mesma medida do espetáculo

que lhe é ofertado; majestoso, graças


às antigas obras-primas,

tal deve independente, não buscando


pensamento permanecer

guia senão na observação. A América, enfim, deve ser livre na

poesia como no seu


governo.

0 Novo Mundo não sem respeitáveis


poderá passar
tradições; em alguns séculos, a época a que chegamos, na qual

se fundou a sua independência, lhe dará nobres e tocantes

recordações. A sua idade das fábulas misteriosas e poéticas serão

séculos em viveram os aniquilamos c nos


que povos que que
1)U BRESJL. 5l7

elonnent leur courage, et ont re-


par qui

trerapé les nations sorties du vieux


peut-être

monde riesouvenir de leur


grandeursauvage

remplira 1'âme dc fierté, leurs croyances re-

ígieuses animeront les déserts; les chauls

joétiques, conserves chez nations,


quelques
«ímbelliront
les forêis. Le merveilleux, si

nécessaire à la se trouvera dans les


poésie,

antiqiies coutumes de ces comme


peuples

dans la force incompréhensibled'uneualure

variant continuellement ses :


pliénomènes

si cette nature de 1'Amérique a de


plus

splendeur celle de 1'Europe,


que qu'onl-ils

donc d'infe'rieur aux héros des temps fabu-

íeux de Ia Grèce, ces hommes à l'on


qui

ne arrachér une au milieu


pouvait plainte

d'horribles supplices, et demandaienl


qui

á leurs ennemis de nouveaux tourmens,

les tourmens ajoutaient à lagioire?


parceque

Leurs combats, leurs sacrifices, nos conquê-

les, tout de brillans tableaux. A


presente

1'arrivée des Européens, ils croient, dans

leur simplicilé, se confier à des dieux mais


;

ils sentent doivent combattre


quand qu'ils

des liommes, ils meurent et nesont vain-


pas

eus. La voix de leur dieu, c'éiait la foudre


;

leur !emple,c'etak le désert eux,mille


jchez
espantam sua coragem, e que fortaleceram talvez as nações
por
saídas do Velho Mundo: a recordação de sua selvagem
grandeza

preencherá a altna de orgulho, suas crenças religiosas animarão

os desertos; os conservados em algumas nações,


cantos poéticos,
embelezarão florestas. 0 maravilhoso, tão necessário à
as

poesia, encontrar-se-á nos antigos costumes desses como


povos

na força incompreensível de uma natureza a variar de modo

contínuo em seus fenômenos: se essa natureza da América é mais

fulgurante a da Europa, terão, assim, de inferior aos


que que
heróis dos tempos legendários da Grécia esses homens de quem

não se arrancar nenhuma em meio a terríveis


podia queixa,
torturas, e novos tormentos a seus inimigos,
que pediam porque

os tormentos tornam a maior? Seus combates, seus


glória
sacrifícios, nossas conquistas, tudo apresenta esplendoroso teor.

A chegada dos europeus, acreditaram, na sua simplicidade, que

se confiavam à proteção de deuses; mas, que


quando perceberam

os combates homens, morreram sem ser vencidos. A


eram contra

voz de seu deus era o raio; seu templo, o deserto; eles, mil
para
5lB
5i8 RESUME
resumi! DE
de 1,'hISTOIRE
t/histoire LITTER AIRE
litteraire

fantastiques la nature
genies
geuies qnimaieut
^nimaieut

favorisaient
favorisaier.it les liommt-s
hommès ou s'en faisaient

redouter. etudie
étudie les faibles tributs
Qu'on

ecliappes
ecliappés a.trois
à.trois sieclos-de
siècles^de destruction,
destruction; on

verra
veria encore
eneore toules
toulcs les
y pensees
perisées primitives
"
excitent
cxcitent fbrtementTimagination;
fortement 1'imagi nation: mai
raai("
qui

les trouver dans toute leur dnergie,


energie., ces
pour

il ne faut les aller demander


demandei-
pense'es, pas

aux la
ia civilisation
civilisaíion detruit
détruit
peupladcs
pcupladfes que

lentementet caclient
caclxeüt lesmalheursde
qui la

race
raçe americaine sur des rivages
ri vages ou on
o"n les a

confines : au sein des forets,


qu'on
qu'on penetre

/, intcrroge
intcrrôge les nations libres, leurs
Jeurs
qu'on
q;u'on

campagnes s.ont
s.orit encore aniipees
aniipées de
pensees
perisées
• vraiment
poetiques.

D'uu
D'un autre CQte?
côte? lout
tout I'lieroismc du
^héroísmedu moven
moyen

age, tout
tont l'esprit
fesprit ardent et aventureux
avéntureux
des

temps
teiiips de chevalerie, ne
paraissent-ifs
paraissent-iís
pas'
pas
avec une teinlc
teinte dans ces
particuliere
particulière voya¬
voya-

des expiorateurs,
explorateurs, s'avaneant
s'avançant
ges premiers
premíers

au sein des Tore is


forets vierges, sans crainte, atla-
alta-

avec audace des animaux


ammaux inconnus
inconhus
quaut
quant

visitant
visitaut des-nations
des-nations les
qui pouvaient ane'an-
anean-

tir P
tirP lis ne voulaieiit
vouiaient de
de l'or;
l'õr; mais
que onnc
on nc

leur refuser
reíYiser : J
,1a
pent
peut qne'.que
quelque gloire a
p0c-
p0('.
sie s'enxparer
sVmparer de leu rs
leurs courses
peut loin-
foin-

taines.
taines. ,
gênios fantást icos animavam a natureza, favorcciam os

homens ou destes se faziam Ao se estudar os


temidos.

frágeis vestígios destruição,


que restaram de três séculos de

ai se encontrarão ainda todos arcaicos


os
pensamentos

que excitam fortemente a imaginação; se


porém, para que
vejam tais não será
pensamentos em toda a sua energia,

necessário buscá-los aos a civilização


povos primitivos que
destruiu lentamente, os as desgraças da
quais ocultam

raça americana nas margens confinados: ao


em foram
que
mergulhar 110 seio das florestas, ao interrogar as nações

livres, enxergar
poder-se-á os campos ainda animados por

pensamentos verdadeiramente
poéticos.

Por outra todo o heroísmo da Idade Média, todo


parte,
o espírito ardente e venturoso dos tempos da cavalaria,

nao se mostra com um colorido nessas viagens


particular
dos exploradores, avançando na
primeiros profundidade
das florestas virgens, enfrentando sem temor animais

desconhecidos, visitando nações destruí-los?


que poderiam
Não desejavam nada além do ouro; contudo, não
podemos
lhes negar alguma a
glória; poesia se apoderar de suas
pode
longínquas correrias.
'
DU BllÉSlL. 5iQ

Et veut-on 1'Americain fasçe de


que que

¦aos dans une


comparaisons nature
puisées

usee le travai! des siecles? Eprouve-t-oií


par

dans ses forêts vierges les mèmes iinpres-

sions dans nos bois sapé^ continuelle-


que

raent ie bucliejon? Les animaux


par qui

les campagnes n'ont-ils


parcourent pas plus

de force et de liberte? L'Oce'an ne roule-t-il

ses ílots sur des rivages imposans?


pas plus

L'aurore de la Grece ouvrira-t-elle avec ses

doigts de roses ce ciei e'clatant de splendçur,

et dont les feux feraient 1'Apollon?


pâiir

les de ces contrées contemplem


Que poetes

ia nature, s'animcnt de sa
qu'ils grandeur,

ep d'atinées ils deviendront nos égaux,


peu

nos maitres. Cette nature si fa-


peut-être

vorable aux développemens du elle


géfiie,

étaíe ses charmes, elle entoure


partout

mème les cites de ses belles


plus produc-

tionsj et ce n'est conime dans nos


point

viiles, ou elle est méconnue, ou souvent on

nepeut la connaitre.

le de ces belies contrees célè-


Que poète

bre dès à les üeureux evenemens du


présent

siècle; mais u'oublie les fautcs du


qu'il pas

attaclie. un momerit sa lyre aux


passe; qu'il

rameáux de ces arbres autiques dont les


Que se imagine venha o americano a fazer de nossas

comparações retiradas exaurida


de uma natureza já pelo
trabalho de na floresta
séculos? Experimenta o homem

virgem as mesmas impressões bosques continuamente


nos
que
devastados as
pelo lenhador? Os animais que percorrem
campanhas não 0 oceano não
têm mais força e liberdade?

lança suas vagas A aurora


contra um litoral mais imponente?

da Grécia abrirá com seus dedos de rosa aquele céu ofuscante

de esplendor, e cujo brilho einpalideceria o Apoio?


próprio
Se os dessas a natureza, se se
poetas plagas contemplarem

deixarem tomar oferecida, em anos


pela grandeza poucos
deverão ser nossos iguais, sabe nossos mestres. Essa
quem
natureza tão favorável ao desenvolvimento do espalha
gênio

por tudo seus encantos, circunda as cidades com as mais

belas dádivas; e não é como no interior de nossas cidades,

onde não a conhecem, onde tanta vez não a percebem.

Que o dessas formosas regiões celebre desde agora


poeta

os felizes acontecimentos do século; mas não esqueça de

modo algum os erros do suspenda a sua lira


passado; por
instantes nos dessas antigas árvores cujas
galhos
5'JO RESUME DE L'H!STOHÍE
l'hISTOIRE LITTh'aAlUE
LITTERAIRE

sombres ombrages cacherent


cachèrent tant de scene,
scène

<le
de secu t lons apres
peisecutions
pei |j avoir un re¬
rc
quapres
qu jete
jeté
de compassion sur les siecles
siècles
gard ecoulcs,
écoulcs,

il la saisisse; les
lesnatious
qu'il
quil nations annui¬
auéan-
plaigne
pjaigne

ties,
lies, excite une tardive,
qu'il pitie mais fa¬
fa-

vorable
vorable aux restes de$
de§ tribu's
tribus indiennes;
indienncs; el
ei

cepeuple exile, different


différent sa couleur
ccMileur et
par

ses mceurs,
moeurs, ne soit
par qu'il oublie
oublié
point

dans les chants du <qu'il


<{u'il
poete; adopte une

etqu'il
et la
là cliante
diante lui-mdmc,
lui-même,
patrienouvelle, qu'il

se console au souvenir d'autres infor-


qu'il

tunes, se rejouisse
réjouisse avec la brillante
qu'il es-

lui donne uri


un humain.
liumain.
perance
pérance que peuple
peuplc

Je ne crains de le dire, I'Amerieain


rAméricain
çrains point

en tant de races se sont coufondues,


qui

I'Amerieain,
rAméricain, Her
íier de son climat, de sarichesse,

de ses institutions,
fastitutions, viendra un visiter
jour

1'Europe
1'JEJuvopè comme
corame nous nos vers
portons pas

les ruiues
mines de l'antique
1'antique Egypte. II deman-

dera alors des souvenirs a


à cette
poetiques
poétiques

terre aura brille


brillé de tant d'eclat;
d'éclat; il
qui

lui
híi un tribut de reconnais¬
reconnajs-
paiera juste

sance. L'Eiirope
L'E*irope a fondd
fondé la du
grandeur

Nouveau-Monde, mais ce sera un


peut-etre
peut-être

sou beau litre


titre de
jour plus gloire.

descende de 1'Européen,
1'Europeen, se
Qu'il qu'il

soit allie
aliié au noir ou a
à l'habitant
Plutbitant
de
primilif
primitif
sombrias ramagens de
escondem tantas cenas perseguição;
retome-a, depois de compaixão
de haver lançado um olhar

sobre os séculos nações


transcorridos; lastime as

aniquiladas, excite favorável aos


uma piedade tardia, porém
restos das diferente
tribos indígenas; e que este exilado,
povo

por sua cor e costumes, seja esquecido nos cantos do


jamais

poeta; que adote uma nova e cante-a ele mesmo; que


pátria
se console à recordação e rejubile-se
de outros infortúnios,

com a cintilante humano.


esperança lhe dá um povo
que
Não temo dizê-lo, o americano, no tantas raças se
qual
confundem, o americano, de sua
orgulhoso de seu território,

riqueza, de a Europa
suas instituições, virá um dia visitar

da mesma maneira nos encaminhamos na direção das


que
ruínas do antigo Egito. Pedirá então as recordações poéticas
a esta terra brilhará com tanto fulgor; um
que pagar-lhe-á

justo tributo de reconhecimento. A Europa fundamentou

a do Novo Mundo, e este será talvez, um dia, seu


grandeza

mais belo título de


glória.

Seja descendente do europeu, seja ligado ao negro ou ao

primitivo habitante da
DU BRiísiL. 5UI

le Brésilien est
^'Àmérique, uaiuicllement

disposdà recevoir desimpressionsprófondes;

<ít. livrer
se à lá il
pour poésie, rfesl
pas
i-uícessaire áit reçu réducation
qu'il des

viüüs; il semble le
que génie parliculier de

tan| races difíerentes se montre


jje chez lui:

tour à tour ardent cominè 1'Africain, che-

valetesque comme le cies


guerrier bords

du Tage, rêveur comme rÀmericain, soii

les forêts soit


qu' parcoure primitives,

cultive les terres les fertiles


qu'il plus du

monde, soit ses troupeaux dans


qu'il garde

d'immensespâturages, il est : aussi )e


poete

voyageur voit-il contiuuellement des


grou-

se íormer dans les cites ou dans les


pes

campagnes entendre un re'cit merveil-


pour

leux, uii cliant mélancolique, une relation

desterres íointaiues; sur les rivages, dans

les forets, au sein des villes vous voyez ce


,

besoin de satisfaiie Timagination. Le repôs

du Brésilien n'est le repôstl'une com-


jamais

indolence : il chautc, ou les accords


plète

d'uue suivent lesrêVeries de sa mé-


guitare

dilatiouj alors est dans le re-


qu'il plongd

sans la réflexion y
po> que prenne part,

il contemple ce la nature
peut-étre que

» dé richesses autour de lui. Et


piQçügnc

..i5
América, o brasileiro de um modo natural a disposição
possui

para receber impressões e para se entregar à


profundas;

poesia, não necessita da educação das cidades; parece que

o de tantas raças diferentes nele se mostra:


gênio peculiar

sucessivamente exaltado, tal o africano; cavalheiresco,

como o das margens do Tejo; sonhador, igual ao


guerreiro

americano, seja as florestas seja


percorrendo primitivas,
cultivando as terras mais férteis do mundo, seja ainda

guardando seus rebanhos nas imensas é poeta:


pastagens,
também o viajante vê, com freqüência, formados nos
grupos
centros urbanos ou nas campinas ouvir uma narrativa
para

maravilhosa, um canto melancólico, um relato de terras

longínquas; à beira d'água, nas florestas, no interior das

cidades, vereis essa necessidade de satisfazer a imaginação. O

repouso do brasileiro não é uma completa indolência:


jamais
canta, ou os acordes de um violão acompanham os devaneios

da sua meditação; se submerge no descanso livre


porém,

de talvez consiga contemplar tudo a


pensamentos, quanto

natureza ofereceu de opulência em torno dele. E


5'22 RESUME DE i/lUSTOlRtt L1TTEAA1ILK

spectaele! comment ne l'admirci


quel pas

Sür le bord de Ia mer, auscin des baies


pro-

sur Ic
fondes, ou les ílots meurent
paisibles

rivage, lesxocotiers seba


toujours
presque
I i-
lancent doucement,thpervencliçroseoti

les sablesarides du rivage,lcf


pomaíatapisscnt

manglier forme sès labyrinUies de verdure;

et si les seportentvers íle loin-


yeux quelque

taine, à 1'aspecl de cés forêls verdoy antes, de

cesfrais rivagcs,de ces collines feriilesqui se

déroiílent aux regards, rimagi^at^on ajoute

rideedela retraite la d'une so-


plys paisible,

litude n'est troublée.Souvent à la


qui jamais

brise de se les odeurs de la


^Océan joignent

terre, et si utivent frais vierilàcourber les bois

d'oranger? il répand dans i'aimosphère un lé-

caresse l'odorat, se dissipe uri


gerparfuin qui

moment?jse fait sentir encore, etse dans


perd

1'espaee. Sous ce clima t délicieux tout se réu-

nitdonc charmer; etle temps dela séclie-


pour

resse interrompt seul móis;


pendant quelques

la beaute du Mais dans rintérieur,


paysage.

sur les bords de ces íleuves immenses


qui

arrosent le une liuinidite' bienfaisanle


pays,

eritretient toujours la splendeur de


presque

la végétation. Dans cette de Ia


grandeur

nature, dans lc áésordre de ses


productions,
M1"' espetáculo, e como não admirá-lo! Nas bordas do mar, no

coração das baías onde as calmas ondas morrem


profundas,

praia, quase sempre os coqueiros se balançam docemente,

a do
pervinca-rosa ou a ipomeia recobrem as áridas areias

litoral, o mangueiral forma labirintos de verdura; e se os olhos

se dirigem
para alguma ilha distante, à configuração dessas

ílorestas
verdejantes, dessas frescas dessas férteis
praias,
colinas
que se desdobram diante dos olhos, a imaginação se

soma à idéia do mais tranqüilo retiro, de uma solidão que


nada viria
perturbar. Muitas vezes à brisa do oceano se vêm

juntar os odores da terra, e, se uin vento fresco faz curvar

0 laranjal,
espalha-se no ar um leve acaricia
perfume que
0 olfato, dissipa-se
por momentos, se faz sentir outra vez,

e se
perde no espaço. Sob essa deliciosa atmosfera tudo se

reúne
para nos encantar; e o tempo da seca interrompe por

Poucos meses a beleza da Porém, 110 interior, à


paisagem.
niargem
desses rios imensos banham o uma umidade
que país,
benfazeja
mantém sempre o esplendor da vegetação.
quase
Neste vigor da natureza, na desordem de suas produções,
I)U BRÉS1L. 5*Jts>

dans cclte ferlilite sauvage se montre à


qui
cote <te Ia iertilité de l'art, dans cet espoir

donne l'abondance de Ia
que lerre, au mu-

gissemcnt des íorêts au bruit d es


primitives,

chutes d'eau se lancent de rochers en


qui

rochers, atix cris des animaux sauvages,


qui
semblent brayer 1'homiue dans les deserts,

la du Brésilien une énergie


pense'e prend

nouvelle; et cela est si vrai le voyageur


que

se senfc naturellement disposé à laire reten-

tir les íoréts deses chants et de mer—


, que

veilleuses histoiresdes temps de la decou-

erie charment les loisirs des caravanes.

A la manière de ra conter, à celle d'e'couter

et de comprendre, vous reconnaitre


pouvez

ces honimes si diííerens de moeurs et de

caraciòre, separes des espaces iin-


jadis par

menses, et réunis niaintenant la Provi-


par

dence former nn de írères,


pour peuple

J/Américain ecoute avec mélancolie, une

lente iristesse se souvènt dansses re~


peint

s'il sa voix esl basse,


gardsj prendia parole,

ses mots ont uri ;rçcent il s'anime


plaintií;

rarement, il a sou ardeur au fond de l'âme;

elle «-st toute l'indépendanee, elle est


pour

l<»iite la liberte des lorêts. Le noir a


pour

i de s'abandonner au fèu de sou ima-


6?

nessa fertilidade da
selvagem se mostra ao lado
que
fertilidade da
da arte, na esperança da abundância
provinda
terra, ao das
mugido das florestas ao fragor quedas
primitivas,
d água se lançam aos rugidos dos
que de rochedo em rochedo,

animais selvagens, no sertão,


que parecem desafiar o homem

o e tanto
pensamento do brasileiro uma nova energia;
ganha
isso é verdade disposto a
o viajante sente-se naturalmente
que

povoar as florestas com os seus cantos, e maravilhosas


quantas
histórias dos o descanso
tempos do descobrimento encantam

das caravanas. De de escutar e


acordo com o modo de contar,

de compreender, reconhecereis diversos nos


esses homens tão

costumes e no caráter, imensos,


separados outrora espaços
por
e reunidos agora de
Providência formar um povo
pela para
irmãos. 0 americano escuta com melancolia, uma vagarosa

tristeza se é baixa,
mostra muita vez no olhar; se fala, a voz

com um acento lamentoso se anima,


nas raramente
palavras;

guardando todo o ardor 110 fundo da alma, é toda


que pela
independência, 0 negro
pela liberdade existente nas florestas.

tem a necessidade de se abandonar ao fogo de sua


5'24 HiiSUMlí DL t/HlSTOlKli LUTEUAIRE

il faul sa
gination, qu'on partage penséej

ses rapicles ne sulíisent à Pabon-


paroles pas

dance des idées, il excite les spectateurspar

ses sa voix en éclats, ses


gestes, part yeux

animc's indiqtient le feu de sou ârae. Mobile

dans ses sentimens, mais toujours crédule,

lesurnaturel embellitsesrécit^il anime des

tradilions de son une


poétiques pays palrie

nouvelle. II sans doíite au souvenir


ge'mit

d'anciennes iufortunes, mais malgré les dou-

leurs de 1'esclavage, le en capti-


present,

vaiit 1'ardeur de son imàgination, rentraine

et detonrne ses de Favenir; et leblanc,


yeux

souvent les travaux de ces denx


qui partage

hommes, fier d'etre de Ia race des vaiu-

i! s'est fait des traditions nouvelles,


queurs,

mais il tient à celles du vieux temps; sa

erre sur les bords de ce


pensee quelqueíois

Tage n'a vu; son imaginalion


qu'i{ jamais

est aux terres lointaines, mais son coeur e*st

à sa ie : dans ses récits, dans ses et)anis


pati

1'hisloire des deux contrées se mele.


Quant

à 1'liomme dont la mcre est indienne, il

a ne sais énergie d'indépendauce


je quelle

lui íait sentir le besoin d'élevcr sa


qui pa

irie avant tont; il clierclie les aventures au

sein des forélsj il a la du Mane,


persévérance
"naginação,
e é necessário compartilhemos de seu
que
pensamento; suas rápidas não são suficientes
palavras
para a abundância de idéias; excila os espectadores com os

gestos, a voz é estridência, os olhos acesos demonstram


pura
0 ardor
que lhe vai na alma. Inconstante nos sentimentos,

"ias sempre crédulo, o sobrenatural embeleza os relatos;

niittia, com as tradições da terra natal, uma


poéticas
nova
patria. Sem dúvida, ainda na recordação dos
geme
antigos infortúnios, mas, apesar das dores da escravidão,

0
presente, arrebatando-lhe a intensidade da imaginação,

° arrasta
e desvia-lhe os olhos do futuro; e o branco,
(Iue
partilha tanta vez o trabalho daqueles dois homens,

orgulhoso
de à raça dos vencedores, se constrói
pertencer
ern tradições novas, mas retém aquelas dos velhos tempos; o

seu
pensamento erra algumas vezes sobre as bordas daquele

fejo
jamais visto; a imaginação está em terras distantes,

porem o coração à pátria: nas suas narrativas, nos


pertence
seus cantos, mescla-se a história de ambos os Quanto
países.
a" homem cuja mãe é indígena, não se sabe
possui que
energia
de independência o faz sentir a necessidade da
que
exaltação
de sua antes de tudo; busca aventuras no
pátria
amag° da floresta; a perseverança do branco
possui
D U
DU uresil.
ÜRÉSIL. 5'i5

et le coinage
courage de l'homme cuivre : son ame

est energique
énergique et son esprit rcveur;
rêvèurj de
gran-

de eette race
race J.
des clioses
choses sortiront
gortiront

Le Ills
fils d'un Europe'en
Européen et d'une noire, le

mulâtre
mulatre rappelle 1'Arabe
1'Árabe ses trai ts, sa
par par

couleur,par son caractere:


caractère: ramour,en exal-

taut
tant son ame, le rend entliousiaste;
entliousiáste; sa
pen-

see
sée estrapide, son imagination variee,
variée, son

coeur
cosur ardent. II est la nature
naturefa
l'a crec
créé
poete,
poete,

tel.

II me semble dans le temps ou une


que

lutte liero'ique
liéroique developpa tous les caracte-
caiactè-

res, a
à l'epoque
1'époque ou la Ilollande lut vaincue

le Bre'sil,
Brésil, la nature oifrit
oiirit au monde un
par

spectacle nouveau
spectaclenouveauqui comprendre
qui putfaire
putlaire

ses desseins. Fernand Vieyra, d'lie-


d'lié-
plein

roisme cnfeValeresque,
clífeValeresque, donna l'exemple
Texemple du
roisirie

les Europeens
Européens allient a
à la
lamédi-
medi¬
courage
que

tation. Le noir Henrique Dias eut i'ai dente


1'aidente

reflexion.
réflexion. Calabar,
bravoure
quidedaignela
quidédaignela

tie
ue d'un blanc et
et, d'une Africaine,
Áfricame, doue
doué

d'une inconcevable imagination d'une ad


,

inirablc eut ele


elé aussi
perseverance,
persévérance, grane;
grand

* ce dit Koster dans son Voyagc au


Voyez que

le Mamatuco est toujours le heros


liéros
Bre'sil;
Bivsilj presque

des liistoircs
liistoires inventecs
inventées dansle
poetiques
poeliques pays.
e a coragem é enérgica e o
do homem acobreado: a alma

espirito sonhador; desta raça.'


coisas sairão
grandes

0 filho de um europeu com uma negra, o mulato, recorda

0 árabe nos o amor, exaltando-lhe


traços, na cor e no caráter:

a alma, o faz 6 rápido, a imaginação


entusiasta; o
pensamento
variada, do jeito a
o coração impetuoso. É que
poeta,
natureza o criou.

Parece-me no tempo cm uma luta heróica


que, que
desenvolveu em a Holanda
todos os caracteres, época que
foi vencida ao mundo um
Brasil, a natureza ofereceu
pelo
espetáculo seus
novo fez com fossem compreendidos
que que
desígnios. Vieira, de heroísmo cavalheiresco,
Fernandes pleno
deu um exemplo sobre o qual os europeus tiveram
de coragem

ffue meditar. a arrebatadora


0 negro Henriques Dias teve

bravura nascido de
desdenha a reflexão. Calabar, pai
que
''ranço imaginação,
e mãe africana, dotado de uma incrível

(Je uma notável


admirável teria sido tão
perseverança,

Veja o é quase sempre


que diz Kostcr em Viagem ao Brasil-, o mameluco
0 herói das no
historias poéticas inventadas país.
526
52(5 RESUME
resumi; DE
de i/lUSTOlUE
i/histoire LITTERAIRK
littérairk

tous, s'il
«'il n'eut^te
r/eutété un traitre et enfiti
eteníin
qu'eux j

ce Cameran
Cameran, , ce clief-celebre
clief-célèbre des Indiens
Iudiens,
?

alors avait sauve


sauvé les
ics colons, et
ct
qu'il qu'il

s'e'galer
s*e'galer a
à eux, voulut toujours s'i-
pouvait

solcr
soler : il
ii se monlra le type de la race ame-
amei-

ricaine son
sou courage terrible,
lerrible, sa len-
par par

teur
perseverante.

l'on me cette longue di¬


di-
Que pardonne

mais il m'a semble


semblé avant tout
lout
gression, qu'avant
qu

il fallait
failait faire connaiLre
connaíüx' ces traits caracteris-
caractéris-

tiques distinguent les races,


lesraces, se mo-
semo-
qui qui

dilieront
difieront un mais est important
jour, qu'il

de ne oublier.
pas

Dans
Daus.cé
ce 011
oíi la nature ddploie
déploie tant
tani
pays,

de oh
oíi les esprits sont si ardens,
pompe,

rien ne done
donc rester faible, tout
lout doit
peut

s'elever
s'élever rapidement.

Mais uue
une chose vraiment. remarquable,

e'est
c'est riufluence
riníluence maintenant notre
qu'exerce

litteVature
litte'rature sur
s"ur celle des- Bresiliens. lis
íls sont

Tiers
íiers des auleurs ont fixe
íixé leur langue;
qui

mais ils lisent les frangais,


français, et les con-
poeles
poetes

uaisscntpresque
uaissent tous.
toas. Le role nous reste
presque qui

a
à dans ce est encore assez beau ,
jouer pays

et
ct si les Anglais ont nous cette in¬
in-
plus que

flueuce
fluence commerciale leur assigne
assigns
que
que par-

tout leur activity


activité, nous uevons etresatisfaits
étresatisfaits
quanto os outros, se não fora um traidor; e por (iin o Camarão,

celebre chefe indígena, depois de haver socorrido os colonos,

aos se igualara, sempre levar vida isolada: ele


quais quis
mostrou toda a força da raça americana temível coragem,
pela

pela impassível
perseverança.

Perdoem-me esta longa digressão, mas me pareceu ser

necessário, antes de tudo, tornar conhecidos aqueles traços

característicos distinguem mesmo se


que as raças, que
modificando um dia é de importância não os esquecer.
grande

Nesse onde a natureza denota tanta onde os


país, pompa,
espíritos são tão exaltados, nada, sem energia,
pois, permanece
tudo cresce com rapidez.

Porém, o dado verdadeiramente notável é a influência que

nossa literatura exerce agora sobre a dos brasileiros. Eles se

orgulham dos autores fixaram língua; mas leein os


que a sua

poetas franceses, e os conhecem todos. 0 nos


quase papel que

resta representar nesse é ainda bastante expressivo, e, se


país
os ingleses têm, mais nós, a influência comercial em
que que

toda consigna sua atividade, devemos contentar-nos


parte
I)U
du DPxESlL.
brésil. 5*^7
5y-7

<lc
de voir une nation briUante de eu nesse
jjeunesse

et de s'attacher
s'attaclier à
a nos
genie
gícnie productions

litteraires, en
eu modtíier
modifier ses
propres produc¬
produc-

tions, et resserrer
resseurer les liens de 1'esprit
par

ceux do'ivent
doivent exister la
qui par politique1.

Le commencement de la litterature
littérature brcsi-
brési-

liermenedatepas
liennenedatepas d'une epoque
époque tres-recule'e,
très-recuíée,

et cependant.
eependant. il est assez diflicile
diílicile d'assigner
*
sa veritable
véritable origine
origin© nous la sepa-
sépa-
| puisque

ronspour instans de la litterature


littérature
quelques

II est certain a com¬


com-
porlugaise.
portugaise. qu'elle

mence
mencé relations imparfaites
par quelques

du seizieme
seizième siecle,
siècle, sont venues s'en-
Yen-
qui

fouir la t dans les archives


arcliives de la
pour plupart
plupai

Torre do Tombo.

En meme
même temps eut des historiens
historiais
qu'il y

il eut des el
et il est
y poetes, probable que

les cxplorateurs,
explorateurs, remplisd'enthou-
remplis d'enthou-
premiers

siasme le beau voyaient,


pour pays qu'ils

le celebrerent
célébrèrent d'une fois. La langue
Ianque
plus

se té, comme
com me Fitalieri,
Fitalien, aux
portugaise prete,
pré

tions
inspirations
inspira soudaines. Lesloisirs des voyages

s'allienl
s*alHcnt avec la reflexion:
réflexion: de nos les
íes
jours,

*i Voyez cc flit,
clit, dans !es
les Scenes
Scéncs de
dc
Voytz que j'ai la

nature sous les tropiques, sur le monire


montre
gout que

la socicte
société bresilienne
brésilienue la
pour poesie.
poésie.
75

por ver a nação resplandecente de e de engenho se


juventude
ligar às nossas razão delas modificar
literárias, e em
produções
as e estreitar meio de vínculos do
próprias produções, por
espirito os existir
que devem no campo político.1

0 começo da literatura brasileira não data de época muito

recuada; contudo, é bastante designar a verdadeira


difícil

origem, uma vez instantes, da literatura


que a separamos, por

portuguesa. É certo começou com alguns imperfeitos


que
relatos do século XVI, os na maior parte,
quais se enterraram,

nos arquivos da Torre do Tombo.

Ao mesmo tempo em apareceram os historiadores,


que
surgiram os poetas, os exploradores,
e é provável primeiros
que

plenos de entusiasmo aprazível região contemplavam,


pela que
a tenham louvado mais de uma vez. A língua portuguesa
se assim como a italiana, às súbitas inspirações. As
presta,

lentidões das viagens se hoje os


aliam à meditação:

Veja o acerca «Io


que eu disse, em Cenas da natureza sob os trópicos,
gosto que a sociedade brasileira mostra
pela poesia.
5'iB RIÍSUTHE DE l/lIISTOIRE HTTIiRAIRE

du Brésil nous donnent une idee do


paysans

ce ceLte n'est
qu'e'tait poésie primitive, qui

confiee à lVcrilure, ct cela


jamais qui pour

n'on offre rnoins des beautés du


pas premier

ordre. Dans les campagnes, il u'cst


point

rare de rencontrer des improvisateurs exer-

cés. 011 a le sentir, il ne faut


Comme pas
pu

confondre le cultivâteur bresilien de race

blanche avec celui de 1'fíurope; ilestéiran-

à beaucoup d'idées d'industrie, sou


ger

ignora nce est la su-


quelquefois profonde,

le tient sons son mais sa


perstilion joug,

est comme 1'éclair, scs ré-


pensee promple

sont ses idees sMlèvent,


flexions
justes,

s'empare facílement de sou


1'enthousiasme

et si 1'éducation développe dans ies


ame,

dispositions , il eu
villes ces heuréuses peut

de avantages Ia lit-
résulter pour
puissans

tératu re.
77

camponeses
do Brasil concedem a nós uma idéia do era
que
esta
poesia nunca confiada à escrita, e nem
primitiva, que

por isso deixa de oferecer inenos belezas de ordem.


primeira
Nos campos, não é raro encontrar repentistas competentes.

Conforme
já se observou, não há confundir o lavrador
que
brasileiro
de raça branca com o da Europa; ao brasileiro são

estranhas
muitas formulações industriais, e sua ignorância

e vezes
por a superstição o tem sob mas o
profunda; jugo,

pensamento é tão rápido o relâmpago, as reflexões


quanto
suo
justas, as idéias se elevam, o entusiasmo se apodera

facilmente
da alma, e se a educação vier a desenvolver

essas felizes disposições nas cidades, vantagens


poderosas
resultarão
para a literatura.
REVISTA BRASILIENSE.

SCIENCIAS, LETTRAS, E ARTES.

/'mio polo Rrosil, t para o Rrasií.

m
''"¦-vf'
-
Soma pnmfira,

N°. I". -

IJAUVIN ET rONTAINE, IIBRAIUES


,

V«S*AÒf i)HS PANORAMAS, M» 35.

1830.
Ensaio sobre a história

da literatura do Brasil

(1836)

Estudo
preliminar

Domingos José Gonçalves de Magalhães


'tifTCC
jii ft'tc
0pi' a. t'j 4(ê (/* C(
(iC f6"6f
O» C(" 5Í 6fí £'¦ c,
5£T • ' ; i£ SS CCSV'GO CS~'.£~2<TW"S5~ »

ENSAIO

SOBRE A HISTORIA DA LITTERATURA

DO BRASII..
BRASIL.

ESTUDO
ESTODO PREL1MINAR.
PRELIMINAR.

A Lilteratura de
Lilteraturade um é o
6 desenvolvimento
povo do

elle tern
tem de mais sublime nas ideias,
idéias,
que de mais

no de mais heroico
philosophico
pbilosophico pensamento, na

moral, e de mais bello na Natureza, 60


éo
quadro ani-

mado de suas virtudes, e de suas


paixoens, 0
o des-

de sua e 0
o reflexo
pertador gloria, progressivo desua
de sua

intelligencia. E esse ou essa


quando povo,
geracao
geração
desaparece da superficie
superfície da Terra com todas as suas

instiluiçoens,
instituicoens, suas crenças,
crencas, e costumes, a Littera-

tura so
só escapa aos rigores do tempo, annunciar
para

as
ás futuras f6ra
fôra o caracter
geracoens
geraçoens qual do
povo
do é ellao único
eellaounico representante na •¦
qual posteridade

sua voz como um echo immortal repercute


por toda

a e diz : em tal ejiocha,


épocha, de baivo de
parte,
parle, tal cons-

tellacao,
tellação, e sobre tal
esobretal ponto
da terra um
pontoda povo existia

cujo
cnjo nome eu so conservo, cujos heroes eu so

conheco;
conheço; vos si também
tambem
porem
porém pertendeis conbe-
conhe-

cel-o, consultai me, eu sou o espirito


por que desse

e uma sombra
umasombra viva do elle
que foi.
povo,

Cada tern
tem sua Litteratura, como
povo cada ho-

mem
inem o sou
seu caracter, cada arvore 0
o seu fruclo.
fructo. Mas
Estudo
preliminar

A literatura de um
povo é o desenvolvimento do ele tem
que
(1(> mais
sublime nas idéias, de mais filosófico no de
pensamento,
Ir''"s heroico na moral, e de mais belo na natureza, é o
quadro
anunado
de suas virtudes e de suas o despertador dc
paixões,
sua
glória e o reflexo de sua inteligência. E
progressivo quando
esse
povo ou essa desaparece da superfície da Terra com
geração
todas
as suas instituições, suas crenças e costumes, a literatura só
uscapa
aos rigores do tempo, anunciar às futuras
para gerações
fual fora o caráter do do
povo, qual é ela o único representante
Ila
posteridade; sua voz como um eco imortal repercute toda
por
a
parte, e diz: em tal época, debaixo de tal constelação, e sobre tal

ponto da Terra um existia, cujo cujos


povo nome eu só conservo,
'" róis
eu só conheço; vós se conhecê-lo,
porém pretendeis também
corisultai-me,
porque eu sou o espírito desse e uma sombra
povo
v'Va do
que ele foi.

Cada tem sua literatura,


povo como cada homem o seu caráter,
cada
árvore o seu fruto. Mas esta verdade, os
que para primitivos
ENSAIO SOB
SOBHK
HE A H1STORIA
HISTORIA DA LITTERATURA. 1,33
133

esta verdade,
que para os 6
é in-
ia-
primitivos povos
contestavel,
contestável, e absoluta, todavia alguma mcdifi-

cacao
cação experimenta entre aquelles, cuja civilisacao
civilisação

apenas 6
é um reflexo da civilisacao
civilisação de outro
povo.
i,ntao
Então similhante
similhanle as arvores enxertadas, vem-se

pender dos de um mesmo tronco fructos


galhos de

diversas especies, e nao


não degenerem
posto que aquel¬
aquel-

les, do enxerto brotaram, comtudo


que algumas

adquirem
adquirem, , dependentes da natureza
qualidades do
¦ tronco, Ihes
lhes da
dá o nutrimento, as
que quaes os dis-

tinguem dos outros fructos de sua mesma especie.

Em tal caso as duas Litteraturas marcham


porem a

>ar, e conhecer-se a indigena,


indígena,
par, pode qual qual a es-

rangeira. N'outras circunstancias, como as agoas

de dous rios, n'um confluente se annexam,


que e

confundidas em um so
só leito se deslisam,
dèslisam
, as duas

Litteraturas de tal se alliam, impossivel


impossível
geito que è

o separal-as. A Grecia,
Grécia, exemplo, tinha uma
por

Litteratura, lhe era expliea


explica suas
que propria,
própria, que

erencas,
crenças, sua moral, seus costumes, uma Litteratura

toda filha de suas ideias,


idéias, uma Litteratura emfim

toda Grega.

A Europa de hoje, ou tomemos a Frahpa,


França, ou a

Inglaterra, ou a Hespanha,
Ilespanha, ou Portugal, apresenta

o exemplo da segunda
dasegunda alem da Littera¬
Lidera-
proposicao;
proposição;

tura, lhe 6
é desta Litteratura filha de sua
que propria,
própria,

civilisacao
civilisação originaria
originária do Christianismo, nos
nós abi ve-

mosoutraLitteratura,quecbamamosenxertada,que
mosoutraLitteratura,quéchamàmosenxertada,que

nao
não 6
é mais do uma lembranca
lembrança da mytbologia
mythologia
que

antiga, e uma
urna recordacao
recordação de costumes, ella
que

as duas Litteraturas marcham


nao
não
possue ; e nao
não so

povos é incontestável e absoluta, todavia alguma modificação

experimenta entre aqueles civilização apenas é um reflexo da


cuja

civilização de outro Então semelhante às árvores enxertadas,


povo.
vêm-se dos de um mesmo tronco frutos de diversas
pender galhos
espécies e, não degenerem aqueles do enxerto
posto que que

brotaram, contudo algumas adquirem, dependentes


qualidades
da natureza do tronco, lhes dá o nutrimento, as os
que quais

distinguem dos outros frutos de sua mesma espécie. Em tal caso

porém as duas literaturas marcham a par, e conhecer-se pode qual

a indígena, a estrangeira. Em outras circunstâncias, como as


qual

águas de dois rios, num coníluente se anexam, e confundidas


que
em um só leito se deslizam, as duas literaturas de tal jeito se

aliam impossível é o separá-las. A Grécia, exemplo, tinha


que por

uma literatura, lhe era explica suas crenças, sua


que própria, que
moral, seus costumes, uma literatura toda filha de suas idéias, uma

literatura enfim toda


grega.

A Europa de hoje, ou tomemos a França, ou a Inglaterra,

ou a Espanha, ou Portugal, apresenta o exemplo da segunda

proposição; além da literatura, lhe é desta literatura


que própria,
filha de sua civilização originária do cristianismo, nós aí vemos

outra literatura, chamamos enxertada, não é mais


que que

do uma lembrança da mitologia antiga e uma recordação


que

de costumes, ela não e não só as duas literaturas


que possui;
J134
34 KiNSAIO
EiNSAIO

apar, como muitas vezes um


una mesmo Poetase
Poeta se vota a
ú

cultura de
<le ambas, e como diz Tasso fallando
(aliando do

magico
mágico Ismeno.

Anzi sovente in uso euipio


cinpio ce profano.

Confontlc <lue leggi


le due a se mal note.
noto.

Para da terceira
prova proposicao,
proposição, no caso em

as Litteraturas de modo tal se mesclam


que , <[ue se
que
nao
não separal-as, nós
nos vemos na Litteratura
Littcratura
pode Ro-

mantica de Hespanha uma mistura de idéias


jdeias cava-

lherescas, e Arabes,
Árabes, restos da antiga civilisacao
civilisação dos

Arabes;
Árabes; algumas vezes si ella e
é christa
christã no seu fundo,

e
é ella Arabe
Árabe a forma.
quanto

Mas nao
não sao
são estas as unicas
únicas modificacoens,
modiíicaçoens,
que
entre os diversos experimenta a Litteratura
Littcratura
povos
;

outras ba, >.


ha da natureza mesmo do homem,
que da

civilisacao,
civilisação, e do dependeni
dependem
progresso ; por que seja
queseja
for a modificação,
modificacao, a Litteratura
Littcratura soffra,
qual que em

accordo
ac.cordo acha-se sempre esta modificacao
modificação com o

caracter,
Caracter, e estado de civilisacao
civilisação desse
povo.
povo.. As&im
Assim

a Litteratura e
é variavel como sao
são os seculos
séculos si-

milhante ao Thermo,metro, sobe ou


ou desce
que se-

o estado da atmosphera.
atmospliera.
gundo

Por uma especie de contagio, uma ideia,


idéia, lavra

entre os homens de uma epocha ; reune-os todos

11'uma
n'uraa mesina
mesma crenca
crença ; seus pensamentos se liarmo-
barmo-

uisam, <?
e um so
só fiwi
fia» tendem. Cada epocha
para
pa™ re-

entao
então uma ideia,
idéia, marcha escollada
escoltada
presenta que

d'outras, lhe sao


são subaJUernas,
subalternas, como Saturno
que

rodieiado de sens
seus satellites; ella contem, e explica
marcham a à
par, como muitas vezes um mesmo se volta
poeta
cultura de ambas, e como diz Tasso falando do mágico Ismeno

Anzi sovente in uso empio e


profano
Confonde le due leggi a se mal note.

Para da terceira no caso em as


prova proposição, que
literaturas
de modo tal se mesclam, se não separá-las,
que pode
nós vemos na literatura romântica de Espanha uma mistura de

idéias cavalheirescas e árabes, restos da antiga civilização dos

árabes; algumas vezes se ela é cristã em seu fundo, é ela árabe

quanto à forma.

Mas não são estas as únicas modificações entre os diversos


que

povos experimenta a literatura; outras há, da natureza mesmo


que
flo homem,
da civilização e do dependem; seja
progresso porque

qual for a modificação a literatura sofra, em acordo acha-se


que
sempre esta modificação com o caráter e estado de civilização

desse
povo. Assim a literatura é variável como são os séculos,

semelhante ao termômetro, da
que sobe ou desce segundo o estado

atmosfera.

Por uma espécie de contágio, uma idéia lavra entre os

homens de uma época; reúne-os seus


todos numa mesma crença;

pensamentos se harmonizam, e para um só fim tendem. Cada

época representa então uma idéia, marcha escoltada de outras,


que

que lhe são subalternas, como Saturno rodeado de seus satélites;


SOBRE A HISTORIA
HISTORIA, DA. LITTERATURA.
LITTERATURA. 135
I3ã

as outras ideias
idéias como as
primissas no raciocinio
raciocínio

conlem,
contem, e explicam a conclusao.
conclusão. Essa ideia
idéia e
é o es-

pirilo, e o mais intimo de sua epocha


pensamento ,

e a razao.occulta
razão occulta de todos os factos contemporaneos.
contemporâneos.

A Litteratura abrangendo
grande parte de lodas
todas as

Sciencias, e Artes, e sendo ella so


só filha, e represen-
represei)-

tante moral da civilisação,


civilisacao, 6
é mister um concurso

de extensos conhecimentos tracar


traçar
para poder-se

sua historia ou e
geral, particular, jamais perder-

se de vista a ideia
idéia do seculo,
século, lumi-
In
predominante mi-

noso na indagacao,
indagação, e coordenacao
coordenação dos factos,
guia

sem o a historia e
é nulla , e sua missao
missão illudida.
que

Applicando-nos agora especialmenle


especialmente ao Brasil;

as se nos apresentam sao:


são:
primeiras questoens, que

e
é a origem de sua Litteratura? seu
qual Qual pro-

seu caracter, tem tido ?


gresso, que phases
phascs Quaes

os a cultivaram , e as circunstancias, em
que que

dilferentes
diííerentes tempos favoreceram, ou tolheram seu Ho-
flo-

recimente??
recimentc Ilavemos
Havemos mister rernontarmo-nos
remontarmo-nos
pois

ao estado do Brasil de de seu descobrimento,


pois

d'ahi conta a
á historia, a
e á tradição
tradicao viva dos
pedindo

do como se as cousas, seguindo


homens passaram

do desenvolvimente
desenvolvimento intellectual, e
a marcha pes-

o espirito a livre-
qimandooespirito
quizando que presidia, poderemos

mente mostrar, nao


não acabado, mas ao menos verda-

historico da nossa Litteratura.


deiro quadro

Mas antes de encetar a


encetara materia,
matéria, uma consideracao
consideração

nos dcmora
demora e o caso a explanemos.
aqui , pede que

Lugar e
é este de expormos as difficuldades,
difíiculdades, na
que

execucao
execução desta obra encontrainos.
encontrámos. Aquelles,
que

alguns lumes de conhecimentos possuem sobre a


fila contém, como as premissas no
e explica as outras idéias,

é o espírito e
raciocínio e explicam a conclusão. Essa idéia
contêm

o é a razão oculta de todos


mais íntimo de sua época,
pensamento
d<
°s fatos contemporâneos. A literatura abrangendo grande parte

e representante moral
todas as Ciências e Artes, e sendo ela só filha

da civilização, um concurso de extensos conhecimentos


é mister

ou particular, e
para traçar sua história geral, jamais
poder-se

do século, luminoso guia


perder-se de vista a idéia predominante

o que a história < nula


na indagação e coordenação dos fatos, sem

e sua missão iludida.

Aplicando-nos especialmente ao Brasil; as primeiras


agora

são: é a origem de sua


questões se nos apresentam qual
que

literatura? caráter, fases tem tido;1


seu seu que
Qual progresso,

circunstâncias em diferentes
Quais os a cultivaram, e as que
que

tempos seus florescimento.'' 1 lavemos


favoreceram ou tolheram

estado do Brasil depois de seu


pois mister remontarmo-nos ao

à historia e à tradição viva


descobrimento, daí pedindo conta

dos homens se as coisas, seguindo a mar< lia


de como passaram
o espírito a
do desenvolvimento intelectual, e que
pesquisando

não acabado, mas ao


presidia, livremente mostrar,
poderemos

menos verdadeiro histórico da nossa literatura.


quadro

a matéria, uma consideração aqui


Mas antes de encetar

nos o caso a explanemos. Lugar é este


demora, e que
pede

de expormos na execução desta obra


as dificuldades que

encontramos. Aqueles alguns lumes de conhecimentos


que
13f>
136 ENSAIO
ENSAIO

Litteratura
Litteraiura Brasileira sabem, mesquinhos e
que

exparsos são
sao os documentos, sobre ella consul-
cônsul-
que

tar-se Nenbum
Nenhum nacional, nos
nós conheca-
conheça-
podem. que

mos, occupadosetematehoje
occupadosetematéhoje com lal objecto. Doses-

trangeiros,
trangéiros, MM. Bouterwech,
Bouterwecb, SismondedeSimondi,

e Ferdinand
eFerdinand Diniz alguma.
alguma cousa disseram. O
pri-

meiro apenas conhecia Claudio


Cláudio Manoel da Costa,

de alguns apresenta, o segundo en-


quem pedacos
pedaços

teiramente sobre o ; ea mencao,


menção,
pautua-se primeiro

faz de alguns Brasileiros fdra


fóra mesmo excluída
excluida
que

do de sua obra sobre a Litteratura


Lilteratura do Meio-
piano
plano

dia da Europa, si n'ella não


nao entrasse como um ap-

a
á historia da Litteratura
Litteraiura Portugueza. No
pendece

resumo da historia Litteraria de Portugal, e Brasil,

M. Ferdinand Diniz, o separadas estejam


por post
posto que

ellas, e ventura mais extenso desenvolvimento


por

esta ultima oHereca


ofíereça , com tudo, basta uma vista
vísla

d'olhos ver-se ainda longe esta


está de ser com-
para que

servindo apenas dar umaideia


urna idéia a estran-
pleta, para

Eis tudo o sobre a Litteratura


Litteraiura do Brasil
geiros. que

se tem escripto; e si isto so nos na


por guiassemos,
guiássemos,

impossibilidade em ficariamos
ficaríamos de nada
que poder-

mos ajunctar, teriamos


teríamos o traduzir, o
prefferido que

de hem
bem monta f6i*a
fôra aá historia, Einpe-
Empe-
pouca para

nhadosem dar alguma cousa mais meriloria, come-

camos
cámos estudar a nossa historia, e desde alii
ahi de-
por

com embaraços
embaracos o nosso esco-
paramos grandes para

Necessario
Necessário nos lbi
foi a leitura do immenso trabaiho
trabalho
po.

biographico do Abade Barbosa,


AbadeBarbosa,
biographicodo para podei-mos achar
parapodermosachar

aqui c alii
alli o nome
home de um Brasileiro distinclo, no

meio dessa alluviao


alluviào de nomes colleccionados as
ás
possuem sobre a literatura brasileira, sabem mesquinhos e
que
esparsos são os documentos
que sobre ela consultar-se podem.
Nenhum nacional,
que nós conheçamos, ocupado se tem até hoje

com tal objeto. Dos estrangeiros, MM. Bouterwech, Sismonde de

Simondi e Ferdinand Denis alguma coisa disseram. 0


primeiro
apenas conhecia Cláudio Manoel da Costa, de alguns
quem

pedaços apresenta, o segundo inteiramente sobre o


pauta-se

primeiro; e a menção faz de alguns brasileiros fora mesmo


que
excluída do de sua
plano obra sobre a literatura do meio-dia da

Europa; se nela não entrasse da


como um apêndice à historia

literatura
portuguesa. No resumo da história literária de Portugal

e Brasil, M. Ferdinand
por Denis, separadas estejam
posto que
elas, e ventura mais extenso
por desenvolvimento esta última

ofereça, contudo basta uma vista de olhos ver-se ainda


para que
longe está de ser completa, servindo apenas dar uma idéia
para
a estrangeiros. Eis tudo o
que sobre a literatura do Brasil se tem

escrito; e se isto só nos


por guiássemos, na impossibilidade em

que ficaríamos de nada ajuntar, teríamos


podermos preferido
o traduzir, o de bem
que pouca monta fora a história.
para
Empenhados em dar alguma coisa mais meritória, começamos

por estudar a nossa história, e desde aí deparamos com


grandes
embaraços o nosso escopo.
para Necessário nos foi a leitura do

imenso trabalho biográfico do abade Barbosa,


para podermos
achar aqui e ali o nome de vim brasileiro distinto, no meio dessa

aluvião de nomes colecionados às vezes com bem crítica.


pouca
•SOltUE
SOltUE A III.SI Olí 1A
JlISTOUlA l)A
DA UTTKltATIillA.
UTTEHA.TIJIU. 137

\ ezes
e/.cs com hem
l)(;m
pouca critica.
crítica. Ainda assirn
assim convinha-
corivinha-

nos ler suas obras; cis


eis alii uma insuperavel
insuperável
quasi
harrcira;
barreira;
embalde
cmbalde algumas dellas
dellas, de
por , ti-
que
"hamosiioticia,
nhamos noticia, invest igamos
irivcstigámoè todas asIJibliothecasde
as Bibliothecasdf

lyiris,
•yiris, de Roma,
Roma , doPlorenca,
dcPlòrenoa, do
de Paauaede
Padúâede oulras
outras

principaes cidades
principaescidades de Italia
Italia, vesitainos:
vesilamos: I'oi-nos
foi-nos
, que

preciso contenlar-nos
comentar-nos com
eoni o obiter.
obter.
qtie
que podemos
Acresse
A cresse mais dos nossos Poetas igno-
que primeiros

ramos as epochas
epOchas de sens
seus nascimentos, tanto
tan to
que
apreeo
apreço damos nos
nós aos homens,
homeris, nos
grandes que
horiram,
honram, desses homens cuja heranca
herança d
é hoje nossa

unica
única Esta diTlienldade
difliculdade foi reconhecida
gloWa.
gloria. j;i
ja

illustre
illust.ro Ediclor
Edictor do Parnassb
Parnasso Brasileiro,
Brasileiro, cujo
pelo

irabalho
trabalho tao
tão digno de louvor, assaz
assa/, servio-nos. Em

lim, de de urn longo c


e enfadonlio
enfadonho estudo, vimo-
virnó-
pois

nos redusidos
rednsidos sem outro o nosso
quasi
quasí guia, que
queonostopro-
pro-

a lermos, e analysarmos os auctores,


auetores,
prio juiso, que

obter esperando o tempo nos facilite


podemos, que

os meios o fim aque nos Todos estes


para propomos.
propomos;

trabalhos, e obslaculos
obstáculos indicamos, nao
não com o fito
oTito

de realcar
realçar o mérito
merito deste nosso bosqilejo,
bosquejo, mas sim

merecer
mcrecer des-culpa de fallas,
faltas, e
para podermos penu-

rias, devem de lodos


iodos os lados, e outro
quehorbulllar
quehorbulhar

sim (pie, a:i vista de tal


lal ineuria
incúria, e mendiguez,
mendiguéz,
para
para ,

inais
mais zelozos sejamos em e
c conscrvar
conservar'os
os
pesquirar,

monuinentos
monumentos de nossa as raças
racas fuluras,
futuras,
gloria para

a fim (pie não


nao nos cxprobrem
exprobrem nosso desmazelo, c
e de

barbaros
barbaras na o
nao nos aecusem,
accusem, como Ia riamos com
lariamoscom
justa

causa dos nossos maiores. Nos


Nós ao fu-
pertencemos

luro,
turo , como o nos A de uma
passado pertcnce.
pertence. gloria

Nacadj
Nação, (pie existe, ou
on existira, nao
não e senão
senao
que que
qbe j;i
ja'

I
<)1

Ainda assim convinha-nos ler suas obras; eis aí uma quase

insuperável barreira; einbalde algumas delas, de tínhamos


por que

notícia, investigamos todas as bibliotecas de Paris, de Roma, de

I" lorença, de Pádua de Itália,


e de outras principais
cidades que

visitamos: foi-nos contentar-nos com o


preciso que podemos

obter. Acresce inais dos nossos ignoramos


que primeiros poetas

as épocas de seus nascimentos, tanto apreço damos nós aos


que

grandes homens, nos honram, desses homens cuja herança é


que
hoje nossa única Esta dificuldade foi reconhecida
glória. já pelo

ilustre editor do Parnaso Brasileiro, cujo trabalho tão digno de

louvor assaz Enfim, depois de. um longo e enfadonho


serviu-nos.

estudo, vimo-nos reduzidos sem outro o nosso


quase guia, que

próprio a lermos e analisarmos os autores, obter


juízo, que

podemos, esperando o tempo nos facilite os meios o íiin


que para

a nos Todos estes trabalhos e obstáculos indicamos,


que propomos.
não com o fito de realçar o mérito deste nosso bosquejo, mas

sim merecer desculpa de faltas e


para podermos penúrias, que

borbulhar devem de todos os lados e outrossim à vista


para que,

de tal incúria e mendiguez, mais zelosos sejamos em e


pesquisar

conservar os monumentos de nossa as raças futuras, a


glória para

fim de não nos exprobrem nosso desmazelo e de bárbaros não


que
nos acusem, como faríamos com causa dos nossos maiores.
justa

Nós ao futuro, como o nos A


pertencemos passado pertence.

glória de uma nação, existe, ou existira, não é senão


que que já
138
138 ENS A10
ENSAIO

um reflexo da de sens
seus homens de
gloria grandes ;

toda
ioda a antiga da dos Ciceros, e dos
grandeza patria

Virgilios apenas restam suas immortaes obras, e es-

sas ruinas,
ruínas , tanto attrahem a vista do estran-
que

e no meio das Roma se sustenta, e se


geiro, quaes

enche de orgulho. cada se convenca


convença dd
Que qual

diz IVIadama
Madama de Stael : » A dos
que que gloria gran-

» des homens 6
é o de um livre; de
patrimonio paiz

» de sua morte lodos


todos d'ella.
d elia. »« O
pois partecipam

aparecimento de um homem €
é uma epocha
grande

a historia, e similhante a uma


a.
para joia preciosa,

co a o
que possuimos
possuímos quando podemos possuir,

homem jamais se apresenta nos


nós nao
não
grande quando

o merecemos. Elle existe no meio de nos


nós sem ser

conhecido, sem se conhecer a si mesmo, como o

ouro nas entranhas da terra, e so espera o des-


que

encavem adquerir seu valor. Empreguemos


para

os meios necessarios,
necessários, en<5s
enós ho¬
ho-
possuiremos grandes

mens. Si e
é verdade a anima o trabalho, a
que paga

recompensa do Genio
Gênio e
é a , e segundo o hello
bello
gloria

de Mmc de Stael: « O Genio


Gênio no meio da
pensamento

sociedade <5
é uma dor
dor, , uma febre interior de se
que

tractar como verdadeira molestia


moléstia si a recom¬
recom-
deve ,

da nao
não lhe adoca
adoça as
gloria penas.»
pensa
pensada

O Brasil descoberto em 1500,


1600, trez seculos
séculos es-
jazeo

da cadeira de ferro, em se re-


magado de baixo
magadodebaixo que

um Governador
umGovernador colonial com todo o de
costava peso

insufficiencia,
insuficiência, e de sua imbecilidade. Misqui-
sua

inlencoens
inlençoens nao
não avancar
avançar outra
nhas politicas, por

leis absurdas, e iníquas


iniquas diclavam, o
cousa, que pro-

e
c da industria entorpeciam. Os
gressodacivilisação,
gressodacivilisacao,
um reflexo da de seus homens; de toda a antiga
glória grandes
grandeza da dos Cíceros e dos Virgílios apenas restam
pátria
suas imortais obras, e essas ruínas, tanto atraem a vista do
que
estrangeiro,
e no meio das Roma se sustenta e se enche de
quais
°igulho.
Que cada se convença do diz Madaine de Stael
qual que
"A
que: glória dos homens é o de um
grandes patrimônio país
ivre; depois de sua morte todos dela." 0 aparecimento
participam
de um
grande homem 6 uma época a história e semelhante a
para
uma
jóia preciosa, só a o
que possuímos quando podemos possuir,

grande homem se apresenta nós não o merecemos.


jamais quando
Ele existe no meio de nós sem ser conhecido, sem se conhecer a

S1 ,nesino,
como o ouro nas entranhas da terra, e só espera que
0 desencavem
para adquirir seu valor. Empreguemos os meios

necessários,
e nós homens. Se é verdade
possuiremos grandes

lue a anima o trabalho, a recompensa


paga do gênio é a glória, e
segundo "0
o belo de Mrne. De Stael: no meio
pensamento gênio
sociedade é uma dor, urna febre interior de se deve tratar
que
como
verdadeira moléstia, se a recompensa da não lhe
glória
adoça as
penas."

0 Brasil descoberto em 1500,


jazeu três séculos esmagado
debaixo
da cadeira de ferro, em se recostava um
que governador
colonial
com todo o de sua insuficiência e de sua
peso
imbecilidade.
Mesquinhas intenções não avançar
políticas, por
outra coisa, leis absurdas e iníquas ditavam o da
que progresso
civilização
e da indústria entorpeciam. Os melhores em
gênios
SOBRE A HISTORIA 1)A L1TTERATURA. 139

melhores em flor morriam, faltos deste orva-


gênios

liio os desabrocha; um ferete ignomi-


protector, que

moso de desapprovação, na fronte do Brasi-


gravado

leiro indigno o tornava de altos e civis empregos.


,

Paraelleohstruidas, efeixadas estavam todas as


por-
'tas,
e estradas á illustração o conduzir
que podiam;

umas oporia ante seus se abria, era a do


passos porta

convento, do retiro,, e do esquecimento. À Religião

franqueava esta a Religião a feixava sobre seus


porta,

sos;eosino, o chamava ao Claustro, annuiv


pa que

ciava também sua morte omundo. Ogeniaeni


para

vida sepultado, cercado de mvsticas imagens, apenas

sala catequisar os índios no meio dos desertos,


para

ou aos fieis as austeras verdades do


para pregar

Evangelio. Mas em vão ; as virtudes doChristianismo

não domiciliar nas coraçoeus embebidos


podiam

vivios desses homens, mor tirados


nos pela parte

de Lisbóa, vir o JNovo


das cadeias para povoar

Deos nos de lançar o oppro-


Mundo. Que preserve

ninguém. Era então um systema de fun-


brio sobre

com homens destinados ao


dar colonias patibulo;

uma Nação nascente sobre todosos


era basear gene-

e crimes; é ainda um systema igual


rosde vicios, por

deffensores da Patria,
nós reservamos para para
que
dos nossos direitos, e das
sustentaculos guardas

os homens mais ignóbeis, correm-


nossas cidades

devassidão.
pidos pela
habitadores doi Brasil)
Taes homens (os primeiros

seus filhos olhavam como


de seu lado para proprios

inepta tudo; tatai


uma raça degenerada, para
para

ainda hoje medra entre alguns


preconceito, que
flor morriam,
faltos deste orvalho os desabrocha;
protetor, que
um ferrete ignotninioso do
de desaprovação, na fronte gravado
brasileiro, indigno o tornava Para ele
de altos e civis empregos.

obstruídas e fechadas e estradas à


estavam todas as portas que
ilustração o conduzir seus se
uma só ante passos
podiam; porta
abria, era a A
porta do convento, do retiro e do esquecimento.

religião franqueava sobre seus


esta porta, a religião a fechava

passos; e o sino, o chamava ao claustro, anunciava também


que
sua morte o mundo. cercado de
para 0 em vida sepultado,
gênio
niísticas imagens, apenas saía catequizar os índios 110 meio
para
dos desertos, ou aos fiéis austeras verdades do
para pregar as

Evangelho. Mas em vão; as virtudes do cristianismo não podiam

domiciliar nos corações embebidos nos vícios desses homens,

pela mor tirados das cadeias de Lisboa, vir povoar o


parte para
Novo Mundo. Deus nos de lançar o opróbrio sobre
Que preserve
ninguém. Era então um sistema de fundar colônias com homens

destinados ao era basear uma nação nascente sobre


patíbulo;
todos os de vícios e crimes; é ainda um sistema igual
gêneros por

que nós reservamos defensores da pátria, sustentáculos


para para
dos nossos direitos, e guardas das nossas cidades os homens mais

ignóbeis, corrompidos devassidão.


pela

Tais homens habitadores do Brasil) de seu


(os primeiros

lado seus filhos olhavam como uma raça


para próprios para
degenerada, inepta tudo; fatal ainda
para preconceito, que
140 ENSAIO

aos Indios,
índios, esses
Portugueses.
Portuguezes. Quanto perseguidos

ferro, e fogo, como se fossem animaes fe-


eram com

rozes; nem elles em outra cathegoria eram conside-

rados. Sabe-se necessario


necessário foi, uma Bula do
que que

Papa Paulo, 3°
3o declarasse eram os Indios
índios ver^
ver^
que

dadeiros homens, e capazes isso da fd


fé de Christo;
por

sem o os Europeos talvez os houvessem de todo


que

exterminado. Da barbaridade de taes homens traca-


traça-

' « os
nos Yasconcellos'
Yasconcellos um nos diz :
quadro, quando

Portuguezes, alii
alü estavam, e comecavam
começavam a
que ja

lugares, viviam a modo de e


esses gentios;
povoar

os com o exemplo destes Yam


iam fazendo menos
gentios
gentios

conceito da lei dos Christaos


Christãos : e sobre tudo , vi¬
vi-
que

viam aquelles Portuguezes de um tracto vilissimo

salteando os Indios,
índios, ou noscaminhos,
nos caminhos, ou
pobres

em suas terras, servindo-se d'elles, e avexando-os

todas as leis da razao.


razão. » E mais abaixo diz
contra

ainda : « viviam f os
fos Portuguezes)
Portuguezes do rapto dos In¬
In-
)

dios, e era tido o officio de assalteal-os valen-


por

tia; e elle eram os homens estimados.»»


eslimados. Tal
por

era o estado d'aquelles tempos. Que nos


nós
podemos

a estas citacoens?
citaçoens? Tal era todaa
toda a industria,
ajunctar

a arte, e a sciencia dos habitantes do Bra-


primeiros

sil. Triste esem


ésem duvida a recordacao
recordação dessa epocha,

em o Brasileiro, como lancado


lançado em uma terra
que

estrangeira, duvidoso em seu vagava,


proprio paiz

sem dizer : isto e


é meu, neste lugar
que podesse

nasci. Envergonhava-se de ser Brasileiro, e muitas

vezes com o nome Portuguez se acobertava, ao


para

<' Chronica
Cliinuica da companhia dc Jesus;
compntihi'a Jesus, liv. 1,
pag. àfi.
pig,
hoje medra entre alguns aos índios, esses
portugueses. Quanto
perseguidos eram corri ferro e fogo, como se fossem animais
ei ozes;
nem eles em outra categoria eram considerados. Sabe-
st
que necessário foi uma bula do Paulo 3o declarasse
que papa
que eram os índios verdadeiros homens e capazes isso da
por
^ de Cristo; sem o os europeus talvez os houvessem de
que
todo exterminado. Da barbaridade de luis homens traça-nos
Vasconcellos1 "os
um nos diz: Portugueses, (|ue al
quadro, quando
Ia estavam, e começavam a povoar esses lugares, viviam a modo
('<
gerrlios; e os com o exemplo destes iam fazendo menos
gentios
conceito
da lei dos cristãos: e, sobretudo, viviam aqueles
que
portugueses de um trato vilíssimo salteando os índios, ou
pobres
nos caminhos, ou em suas terras, servirrdo-se deles, e avexando-os
contra "viviam
todas as leis da razão." E mais abaixo diz ainda:

(os portugueses) do rapto dos índios, e era tido o ofício de assalta-


'os
por valentia; e ele eram os homens estimados." Tal era
por
o estado
daqueles tempos. nós ajuntar a estas
Que podemos
citações?
1 al era toda a indústria, a arte, e a ciência dos primeiros
habitantes
do Brasil. Triste é sem dúvida a recordação dessa época
ern
que o brasileiro, corno lançado em uma terra estrairgeira,
duvidoso
em seu vagava, sem dizer isto
próprio país que pudesse:
( "teu, neste lugar nasci. Envergonhava-se de ser brasileiro, e
"'""as
vezes com o nome se acobertava, ao menos
português para

1 . .
r rornca
da companhia de Jesus, liv. 1,
pág. 56
SOBRE A HISTOIUA
HISTORIA DA LlTTERATUfiA.
LlTTERATUttA. Ml
HI

menos apparecer como um


naenosapparecercomoum ente da especie humana ,

e alcancar
alcançar um lugar em seu Dest'arte cir-
poder paiz.

cunscripto em tao
lão curto estadio,
estádio, extranho a
á nacio-

nalidade, sem o incentivo da este novopovo


novo
gloria, povo

nao
não dirá,
dird, Portugal, com este
^regetava. Quem
Qnem que

systema exterminador so
só curava de atenuar, e en-
eu-

fraquecer esta immensa colonia, conhecia


por que

sua fraqueza, e ignorava seus mesmos inte-


propria
própria

resses? nao
não dira,
dirá, elle temia a mais
Quem que que

alto o Brasil se erguesse, e a ibe


lhe offu-
ponto gloria

seasse? Assim e
é um barbaro senhor algema seu
que

escravo, receoso elle se escape, e so Ihe


lhe des-
que

um braco
braço on
ou outro delle algum
prende quando

trabalho requer. A Economia Politica


Política tem comba-

tido victoriosamente
victoriosamenle o erro, muito lavrava
quedesde

na um nao
não se engrandecer
politica, que povo pode
pôde

senao
senão a custa de outro e com o sacrificio
sacrifício de
povo,

tudo o rodeia. Politica esta, a


à imitação
imitacao dos
que que,

Romanos, e de todos os dos baixos tempos,


povos

Portugual exerceo sobre o Brasil.

O tempo sanccionou estas-verdades,


eslas-verdades, a historia,
que

de recentes factos nos indicam, e o


e a memoria
memória

sua marcha ira


irá mostrando
tempo, em proseguindo,

homens e
é o destino, a Providencia tem
aos qual que

a este Imperio
Império da America. A Deos
marcado prasa,

fermento, entre nos


nós
este que gyra,
gvra,
que perigioso

de discordia,
discórdia, resaibo ainda da nao
não
este
germe
e sobre tudo
tudo aescravidao,
a escravidão, tão
tao
apurada educacao
educação ,

desenvolvimento da industria, e das


contraria ao

a moral, nao
não empecam
empeçam sua
artes, e tao
tão
perneciosa

marcha, e seu en nd eCi men to.


engrandecimento.
gra
aparecer como um ente da espécie humana, e alcançar um
poder
'ugar em seu Destarte circunscrito em tão curto estádio,
país.
estranho
à nacionalidade, sem o incentivo da este novo
glória,
povo vegetava. não dirá Porlugal, com este sistema
Quem que
exterminador,
só curava de atenuar e enfraquecer esta imensa

colônia,
porque conhecia sua fraqueza, e ignorava seus
própria
mesmos interesses?
Quem não dirá ele temia a mais alto
que que
ponto o Brasil se erguesse, e a lhe ofuscasse? Assim é
glória que
um bárbaro senhor algema seu escravo, receoso ele se escape,
que
e só lhe desprende um braço ou outro dele algum trabalho
quando
requer. A Economia Política tem combatido vitoriosamente o erro,

1ue desde muito lavrava na um


política, que povo não se pode
engrandecer
senão à custa de outro e com o sacrifício de
povo,
tudo o rodeia.
que Política esta à imitação dos romanos, e de
que,
'od°s os
povos dos baixos tempos, Portugal exerceu sobre o Brasil.

0 tempo sancionou estas verdades,


que a história e a

memória de recentes fatos nos indicam, e o tempo, em sua

marcha
prosseguindo, irá mostrando aos homens é o destino
qual
(I''e a Providencia tem marcado a este império da América. A

Deus
praza que este fermento, entre nós este
perigoso que gira,
germe de discórdia, ressaibo ainda da não apurada educação,
e: sobretudo
a escravidão, tão contrária ao desenvolvimento da

mdústria e das artes, e tão à moral, não impeçam sua


perniciosa
marcha e seu engrandecimento.
142 ESS.VIO
ENSViO

Estas consideracoens
consideraçoens talvez fora do ob-
parecerao
parecerão

a nos mas ellas intimamente


jecto que propomos;

aelle se ligarn,
ligam, e o explicam : ainda uma vez, e
por

outras diremos, o nosso fim nao


não e
é tra-
palavras que

car a biographia chronologica dos Auctores Brasi-


çar

leiros, mas sim a historia da Litteratura do Brasil,

toda a historia, como lodo o drama, supde


supõe
que

lugar da scena, actores, um facto


paixoens, pro-

gressivo, se desenvolve, tem


tern sua razao,
razão,
que que

como tem uma causa , e um fim. Sem estas condi-

coens nera
nem ha
há historia, nem drama.
çoens

Ao travez das espessas trevas em esta-


porem que

vam mergulhados os homens no novo continente,

viram-se alguns superiores brilhar de


genios
gênios passa-
bem similhantes a essas luzes errantes,
gem, o
que
investigador admira em solitaria noite nos
peregrino

desertos do Brasil; sim, elles eram como os Pyrilam

no meio das trevas


pos, que phosphoream. E

com razao
razão accusar o Brasil de nao
não ter
podcr-se-ha
poder-se-ba

de mais subido Mas


produzido genios
gênios quilate? que
escravisado cantar com harmonia,
povo pode

<>
o retinido das eadeias,
cadeias, e o ardor das
quando feri-

das sua existencia torturam? colono tão


tao feliz,
feliz ,
Que

inda com o sobre os ombros, e curvado


peso para a

terra, o voz
vóz ergueo
erguèo no meio do Universo, e
gravou

seu nome nas da memoria?


memória?
paginas Quern,
Quem, nao
não

lendo o conhecimento de sua existencia,


propria
própria e

so
só de scenas de miseria
miséria rodeiado soltar
, pode urn
um

riso de alegria, e exhalar o de sua


pensamento in-
in-

dividualidade? Nao;
Não; as Sciencias, a Poesia e as

Art.es,
Artes, filhas da Liberdade,
Libcrdade, nao
não sao
são
parlilhas
partilhas do es-
listas considerações talvez fora do objeto a que nos
parecerão

propomos; mas elas intimamente a ele se ligam, e o explicam:

ainda uma vez, e outras diremos, o nosso fim não


por palavras que
é traçar a biografia cronológica dos mas sim a
autores brasileiros,

história da literatura do Brasil, toda como todo o


que a história,

drama, supõe lugar da cena, atores, um fato


paixões, progressivo,
<jue se desenvolve, tem sua razão, tem urna causa e um
que como

fim. Sem estas condições nem há história, nem drama.

Ao través das espessas trevas em estavam


porém que
mergulhados os homens no novo continente, viram-se alguns

gênios superiores brilhar de bem semelhantes a essas


passagem,
luzes errantes, o investigador em solitária
que peregrino admira

noite nos desertos do Brasil; sim, eles eram como os


pirilampos,

que no meio das trevas fosforejam. E com razão acusar


poder-se-á
o Brasil de não ter de mais subido
produzido gênios quilate?
Mas escravizado cantar com harmonia, o
que povo pode quando
retinido das cadeias e o ardor das feridas sua existência torturam?

Que colono tão feliz, inda com o sobre os ombros, e curvado


peso

para a terra, a voz ergueu no meio do Universo, e gravou seu nome

nas da memória? não tendo o conhecimento de sua


páginas Quem

própria existência e só de cenas de miséria rodeado, soltar


pode
uin riso de alegria e exalar o de sua individualidade?
pensamento
Não; as Ciências, a Poesia e as Artes, filhas da liberdade, não são
SOBHK
SOtlIUÍ A HISI'OIUA
HISTORIA. DA
I)A LITTER A'l'UR A.
L1TTERATURA. 143
143

cravo; frmaesda
Irmaesda fogem do
dopaiz amaldicoado
amaldiçoado
gloria, paiz

onde a escravidao
escravidão rasteja, e so
só com o Liberdade ha-
lia-

bitar
podem.

Si refletirmos, veremos nao


não sao
são os
que poueos
poucos

escriptores um foi colonia Portugueza,


Portuguôza,
paraum
para paiz que
paizqile

um no ainda hoje o trabalho dos


para paiz qual

Eitteratos,
Litteratos, deassegurarlbes, coBQ
longcdeassegurarlbes,com
longe a uma
gloria,

independencia
independência individual, e um titulode
titulo de mais, ao

contrario desmerecel-os, e desvia-los da liga


parecc
parece

dos homens
homenspositivds, desdenhosos dizem: é um
6
positives, que

Poeta; sem ifetinguir


dêstitiguir si apenas 6
é um irovista, ou

um homem de como si dissessem : Eis-ahi


Kis-ahi
genio;
gênio;

um ocisso, um nao
não a este
parasita, que pertence

mundo; deixai-o na sua


sua mania. Alii
Abi cantaoVate[>or
canta o Vale
por

in
mera
era inspiracao
inspiração celeste, esta necessidade de
f>or
por

canlar,
cantar, dar um
darum desafogo a seu coracao.
coração. Ao
para pren-

cipio cantava-se
cantava-sc louvar a belleza, a virtude,
para

e seus amores; cantava-se ainda adocar


adoçar as
para

amarguras d'alma; e tanto a ideia


idéia de Palria
Patria
que

appareceo aos Poetas come^aram


começaram elles a invocal-a
,

de seus canl icos.


cânticos. Mas sempre , como o
objecto
para

no meio dos bosques conta sem espe-


peregrino , que

rar recompensa o Poeta lirasileiro,


Brasileiro, nao
não e
é
, guiado

interesse e so
só o Amor mesmo da Poesia, e de
pelo ,

sua Palria
Patria arrasta.
oarrasta.
o Elle dizer com o Epico
Épico
pode

Portuguez.

Vorcis
Vcreis <la Patria
amor da , nao
uno movido

Do
Dc vil.
premio
prcmto

Si em total csquecimenlo
esquecimento muitos d'elles exis-

tem,
tcm, isto cm da Lingoa ein
cm esere-
cscrc-
provem parte que
partilhas do escravo; irmãs da fogem do amaldiçoado
glória, país
onde a escravidão habitar
rasteja, e só com a liberdade podem.

Se refletirmos, veremos não são os escritores


que poucos para

uni foi colônia um 110 qual ainda


país que portuguesa, para país
hoje o trabalho dos literatos, longe de assegurar-llies, com a glória,

uma independência individual, e um título de mais, ao contrário

parece desmerecê-los, e desviá-los da liga dos homens positivos,

que desdenhosos dizem: é um sem distinguir se apenas é


poeta;
um trovista ou um homem de se dissessem: Eis aí um
gênio; como

ocioso, um não deixai-o na


parasita, que pertence a este mundo;

sua mania. Aí canta o Vate mera inspiração celeste, esta


por por
necessidade de cantar, dar um desafogo a seu coração. A
para

princípio cantava-se louvar a beleza, a virtude e seus amores;


para
cantava-se ainda adoçar as amarguras da alma; e tanto
para que
a idéia de apareceu aos começaram eles a invocá-la
pátria poetas,

para objeto de seus cânticos. Mas sempre, como o no


peregrino
meio dos bosques, canta sem esperar recompensa, o
que poeta
brasileiro não é guiado interesse, e só o amor mesmo da
pelo poesia
e de sua o arrasta. Ele dizer com o épico
pátria pode português.

Vereis amor da Pátria, não movido

De vil.
prêmio

Se em total esquecimento muitos deles existem, isto em


provêm

parte da língua em escreveram, tão conhecido é o


que que pouco
,44 KNSA.lt)

tão conhecida é o idioma Luso


veram , pouco
que

e Inglaterra,
na Europa, particularmenteemFrança,

onde mais alio sóa o brado da fama, e


e Alemanha,

reputação se adquire; em sobre nós


colossal parte

deve recair a sensura , tão somos em


que prodigos

louvar, e admirar os estranhos, mesquinhos


quão

nos mostramos com os nossos, e deste


para geito

visos damos de nada Não


que possuímos. que per-

tendamos á esmo se louve tudo nos


, que que per-

só nos fora iosuporta-


pertence, por que pertence,

vel; mas vós, consunjistes vossa


porventura que

no estudo dos clássicos Latinos ou Gregos,


mocidade

vós ledes Voltaire, Racine, Camoensou Filynto,


que

e não cessais de admiralo-os muitas vezes mais


por

imitação, critica, apreciais vós as


que por própria

bellezas naturaes de um Sancta Rita Durão, de um

Basilio da Gama , de um Caldas?

Toca ao nosso século restaurar as ruinas, e repa-

raros erros dos séculos. Cada Nação livre


passados

reconhece hoje , mais nunca , a necessidade de


que

Marchar uma Nação é engrandecer-


marchar. para

se, é desenvolver todos os elementos da eivilisação.

mister reunir todos os títulos de sua existência,


Ha

tomar o lhe compete na


para posto, que justamente

liga social, como o nobre recolhe os


grande per-

de sua em face do Rei


gaminhos genealogia, para

credor de uma nova Si o futuro só


fazer-se graça.

sair do a d'aquelle se me-


pôde presente, grandeza

dirá deste. O Povo se olvida a sí mesmo


pela que ,

ignora o seu como o seu


que passado, presente,

como tudo o i-m sí se , esse Povo ficará


que passa
idioma luso na Europa, e em França, Inglaterra
particularmente
e Alemanha, onde mais alto soa o brado da fama, e colossal

reputação se adquire; em
parte sobre nós deve recair a censura,

que tão somos em louvar e admirar os estranhos,


pródigos quão
mesquinhos nos mostramos
para com os nossos, e deste jeito

visos damos de nada a


que possuímos. Não que
que pretendamos
esmo se louve tudo nos
que pertence, só porque nos fora
pertence,
insuportável; mas
porventura vós consumistes vossa mocidade
que
no estudo dos clássicos latinos ou vós ledes Voltaire,
gregos, que
Racine, Camões ou Filinto, e não cessais de muitas
admirá-los

vezes mais
por imitação, que por própria crítica, apreciais vós as

belezas naturais de um Santa Rita Durão, de um Basüio da Gama,

de um Caldas?

Toca ao nosso século restaurar as ruínas, e reparar os erros

dos séculos. Cada nação livre


passados reconhece hoje, mais que
nunca, a necessidade de marchar. Marchar uma nação é
para
engrandecer-se, é desenvolver todos os elementos da civilização.

I lá mister reunir todos os títulos de sua existência, tomar o


para

posto, que justamente lhe compete na liga social, como o


grande
nobre recolhe os pergaminhos de sua do
em face
genealogia, para
rei fazer-se credor de uma nova Se o futuro sair
graça. só
pode
do a daquele se medirá
presente, grandeza deste. O
pela povo

que se olvida a si mesmo, ignora o seu como o seu


que passado,

presente, como tudo o em si se esse ficará sempre


que passa, povo
SOBRIi
SOBRE A HISTORIA DA LITTERATURA-
L1TTERATURA- 145
J45

sempre na immobilidade como o Imperio


Império Indo-
Chinez.

Nada de exclusão,
cxclusao, nada de deprezo. Tudooque

poder concorrer o esclarecirnento


esclarecirnenlo
para da historia

geral dos da humanidade


progressos merecer deve
^nossa
''nossa
consideracao.
consideração. Jamais uma Naeao
Nação
podera
poderá pre-
ver o seu futuro, ella
cila nao
não conhece
quando o
que
ella e,
é, comparativamente com o foi.
que Estudar o

6
é ver melhor o e
é saber como
passado, presente , se

. deve marchar. Nada de exclusão;


exclusao; a exclusão
exclusao e
é dos

espiritos apoucados, em orbila


orbita
que pequena gyram,
sempre satellites, ebrilhandes com luz emprestada.
emprestado.

O amanteda
amante da verdade caminhos nao
não tri-
porem, per

lhados, em tudo encontra interesse e objecto


, de

meditação. Comooo viajor


Como naturalista,
profunda
profundameditacao. que

se exlasia
extasia na consideracao
consideração de uma florzinha
florzinha desço-
desco-

nhecida, o homern
homem bronco tantas
tautas vezes vira com
que

desprezo. O era ignorado, ou esquecido rom-


que

dest'arte o envoitorio
envoltório de trevas, e achara
achará di-
pera
perá

vido lugar entre as cousas conhecidas. Depois de


ja

tantos systemas exclusivos, o espirito eclectieo


eclectico

o nosso século,
seculo, elle se levanta como um im-
anima

menso colosso vivo, tendo diante dos olhos os an.

naes de todas as n'uma mão


mao o archote
geracoens,
geraçoens,

da Philosophia acceso da investigacao,


investigação,
pelo genio
gênio

com a outra aponta a esteira luminosa, onde se

convergem todos os raios de luz, escapados do bran-

dao
dão sustenla.
sustenta. Luz e ; eis sua diviza.
que , progresso

Nao,
Não, oh Brazil, no meio do movimento, tu
tu
geral

nao
não deves ficar immovel e tranquillo como o colono

sem ambição
ambicao e sem esperancas.
esperanças. O da civili-
germen
10

1
na imobilidade como o império indo-chinês.

Nada de exclusão, nada de desprezo. Tudo o que pode


concorrer o esclarecimento
para da história dos
geral progressos
da humanidade merecer deve nossa consideração. Jamais uma

nação o seu
poderá prever futuro, ela não conhece o
quando

que ela é, comparativamente com o foi. Estudar o


que passado
é ver melhor o
presente, é saber como se deve marchar. Nada de

exclusão; a exclusão é dos espíritos apoucados, em


que pequena
orbita sempre satélites,
giram, e brilhantes com luz emprestada.

0 amante da verdade,
porém, por caminhos não trilhados, em

tudo encontra interesse e objeto de meditação. Como


profunda
o viajor naturalista, se extasia
que na consideração de uma

florzinha desconhecida, o homem


que bronco tantas vezes vira

com desprezo. O era ignorado


que ou esquecido romperá destarte

o envoltório de trevas, e achará devido lugar entre as coisas já


conhecidas. Depois de tantos sistemas exclusivos, o espírito eclético

anima o nosso século, ele se levanta como um imenso colosso

vivo, tendo diante dos olhos os anais de todas as numa


gerações,
mão o archote da filosofia aceso
pelo gênio da investigação, com

a outra aponta a esteira luminosa, onde se convergem todos os

raios de luz, escapados do brandão


que sustenta. Luz e
progresso;
eis sua divisa. Não, oh, Brasil, no meio do movimento, tu
geral
não deves ficar imóvel e tranqüilo como o colono sem ambição e

sem esperanças. O da civilização


germe depositado em teu seio
110
1íü E.NSAIO
ENSAIO

sacao
sação depositado em teu seio Europa
pela , nao
não tem

dado ainda lodos


todos os frutos, deveria
que dar; vicios
vieios

es
radicaes
radica tem tolhido seu desenvolvimento.
Tu

afastaste de teu collo a mao


mão extranha,
extranha
, que te suffo-

cava, respira livemente, respira, cultivaas


cultiva as sciencas,

as artes, as lettras, a industria, e combate tudo

entreval-as
que
qne pode.
pôde.

Nao
Não se lisongear muito o Brasil
pôde
pode de dever
devei' a

Portugal sua educao,


edição, tao
tão
primeira que mesquinha

foi ella, hem


bem ter sido dada
que parece por maos
mãos

avarase com tudo b6a


bóa ou ma
mà delle
pobres; herdou
,
e o confessamos, a Litteratura, eaPoesia,
e a Poesia,
que che-

dagas a
á America nao
não seu^aracter
perderam Euro-

Com a Poesia vieram todos o


peo. Deoses do
paga-
nismo, espalharam-se Brasil, e
pelo dos ceos,
céos, das

florestas, e dos rios se apoderaram.


A Poesia do
Brasil nao
não e
é uma indigena
indígena civilisada, d
é uma Grega,

vestida a
á Franceza, e aPortugueza, e climatisada
no
Brasil; e
é uma Virgem do Helicon
Helicon,
, que, peregri-
riando
nando Mundo, estragara seu manto,
pelo talhado

maos
mãos de Homero, e sentada a
á sombra
pelas das Pal-
Pai-

meiras da America, se apraz ainda com as reminis-

cencias da Patria, cuida ouvir o doce murmurio


murmúrio da

Castalia.e o trepido susurro do Lodon, e do Ismeno

e toma um rossinol o sabia,


sabiá,
por que gorgeia entre os

da larangeira. Encantados
galhos por este nume

seductor, esta bellaEstrangeira, os


por Poetas Bra-

sileiros se deixaram levar sens


seus
pelos canticos
cânticos e

olvidaram as simples imagens,


que uma
uma Natureza

virgem com tanta lhes offerecia


ofíerecia;
profl'usao
proflusão ; simi-

1lhantc
haute a Armida deTasso, cuja belleza, arteficios, c
o
pela Europa, não tem dado ainda todos os frutos, deveria
que
dar; vícios radicais iu afastaste
têm tolhido seu desenvolvimento,

de teu colo a mão respira livremente,


estranha, que te sufocava,

respira, cultiva e
as ciências, as artes, as letras, a indústria,

combate tudo,
que entrevá-las pode.

Não se lisonjear muito o Brasil de dever a Portugal sua


pode

primeira educação, tão mesquinha foi ela bem parece


que que
ter sido dada e boa ou ma dele
por mãos avaras contudo
pobres;
herdou, e o confessamos, a literatura, e a chegadas à
poesia, que
América não seu caráter europeu. Com a poesia vieram
perderam
todos os deuses do Brasil, e dos
paganismo, espalharam-se pelo
céus, das florestas, e dos se apoderaram. A do Brasil
rios poesia
"ao é uma indígena civilizada, é uma vestida à francesa, e
grega,
à e climatizada no Brasil; é uma Virgem do Helicon,
portuguesa,

que, peregrinando mundo, estragara seu manto, talhado


pelo

pelas mãos de Homero, e sentada à sombra das da


palmeiras
América se apraz ainda com as reminiscências da cuida
pátria,
ouvir o doce murmúrio da Castalia, e o trépido sussurro do

Lodon, e do Isrneno, e toma um rouxinol o sabiá,


por que gorjeia

entre os da laranjeira. Encantados este nume sedutor,


galhos por

por esta bela estrangeira, os brasileiros se deixaram levar


poetas

Il('los seus cânticos, e olvidaram as simples imagens, uma


que

natureza virgem com tanta lhes oferecia; semelhante a


profusão

Armida de Tasso, cuja beleza, artifícios e doces atraíram,


palavras
SOBRE A 1IIST0RIA
HISTORIA DA LITTERATL'ftA.
LITTERATDRA. w
147

doces attrahiram,
altrahiram, desorientaram
palavras e
edesorientaram os
prin-
prin¬
cipals
cipaes de Goffredo. E
É rica
guerreiros a mvtholo»ia
mytholo°ia
& '
sao
são bellas suas ficcoens,
ficçoens, mas a
á forca
força deserem
de serem repe-

lidas, e
c copiadas vão
vao desmerecendo, alem de
que,
cbmo
como o da fábula,
fabula, despimos nossas
passaro plumas
apavonar-mo-nos com antigas
para gallas, que nao
não

nos Em Poesia requer-se maisque


mais
pertencem. que tudo

invencao,
invenção, e nuvidade;
nuvidade ; repetidas imitacoens
genio,
gênio,

o espirito embrutecem , como a muita arte


arte, , e
pre-
ceitos tolhem, e suffocam o as
genio;
gênio; primeiras ver-

dades da sciencia , como os mais hellos


bellos ornamentos

da Poesia, a todos a ninguem


ninguém
quando pertencem,

honram. O da
dá realce, e nomeada a alguns
que dos

nossos Poetas nao


não e
é certamente o uso destas fic¬
fie-

coens ; mas sim outro de hellezas


bellezas naturaes,
çoens genero

nao
não colhidas nos livros, mas so
só a Pátria
Patria
que Ihes
lhes

inspirara. Oxa tão


tao foi a infiuencia,
influencia,
grande.
grande que sobre

o Genio
Gênio Brasileiro exerceo
exercèo a Grega mythologia

transportada Poetas Portuguezes,


Porluguez.es,
pelos que muitas

vezes Poelas
Poetas Brasileiros em se metamor-
pastores

e vao
vão apassentar seu rebanho nas
plioseam
phoseam , mar-

do Tejo, e cantar a
á sombra da faias.
laias.
gens

Mas existe
exisle no homem um instinclo occulto,
que,

em despeilo
despeito dos calculos
cálculos da educacao,
educação, o dirige; e

de tal modoesle
modo este instinclo aguillioa
aguilliòa o homem,
que

em seus aclos imprime um cerlo caracter de neces-

sidade, a n6s
nós cbamamos
chamamos ordem, ou natureza
que

das cousas. O homem collocado diante de um vasto

mar, ou no cume de uma alia


alta monlanha,ou
montanha, ou no meio

de uma virgem e enmaranhada floresta, certo, nao


não

ter os mesmos as mesmas ins-


poderá
podera pensamentos,
III

e desorientaram os de Goffredo. E rica a


principais guerreiros

mitologia, são belas as ficções, mas à força de serem repetidas

e copiadas vão desmerecendo, além de como o da


que, pássaro
fábula, despimos nossas apavonar-mo-nos com
plumas para

antigas não nos Em requer-se mais


galas, que pertencem. poesia

que tudo invenção, e novidade; repetidas imitações o espírito


gênio

embrutecem, como a muita arte, e tolhem, e sufocam


preceitos

o as primeiras verdades da ciência, como os mais belos


gênio;

ornamentos da a todos a ninguém


poesia, quando pertencem,

honram. O dá realce e nomeada a alguns dos nossos


que poetas

não é certamente o uso destas ficções; mas sim outro de


gênero

belezas naturais, não colhidas nos livros, mas só a pátria


que
lhes inspirará. Ora, tão foi a influência sobre o gênio
grande que

brasileiro exerceu a mitologia transportada


grega pelos poetas

portugueses, muitas vezes brasileiros em se


que poetas pastores

metamorfoseiam, e vão apascentar seu rebanho nas margens do

Tejo, e cantar à sombra das faias.

Mas existe no homem um instinto oculto em despeito


que,

dos cálculos da educação, o dirige; e de tal modo este instinto

aguilhoa o homem, em seus atos imprime um certo caráter


que

de necessidade, a nós chamamos ordem, ou natureza das


que

coisas. 0 homem colocado diante de um vasto mar, ou no cume

de uma alta montanha, ou no meio de uma virgem e emaranhada

floresta, certo, não ter os mesmos as mesmas


poderá pensamentos,
148 ENSAIO

como se cllc assistisse aos olympicos


piraçoens,

na Arcadia habitasse. Alem destas


jogos,ou pacifica

materiaes circunstancias, variaveis nos diversos


pai-

zes, assaz influem sobre a descriptiva, e


que parte

caracter da um elemento ha, su-


paysagem poética;

blime sua natureza, sua inspira-


por poderoso por

variavel a sua forma, é a


ção, porem quanto que

base da moralidade Poética, empluma as azas


que

ao Gênio, o abala, e o fortifica, e ao travez do


que

mundo até Deos o eleva ; este elemento é a


physico

Religião. Si sobre laes pontos meditassan um só ins-

tante os Poetas Brasileiros, certo


primeiros que

logo teriam abandonado esta Poesia estrangeira,


que

destruía a sublimidade de sua Religião,


paralisava-

lhes o Gênio, e os cegava na contemplação de uma

Natureza reduzindo-os a final a meros


grandiosa,

imitadores. Não; elles não meditaram, nem medi-

tar no das cousas obra-se


podiam; principio pri-

meiro, depois reflecte-se. Acreditava-se então


que

mythologia, e Poesia uma ea mesma cousa eram. O

instincto ; e lentamente,
porem guiou-os posto que

as encanecidas montanhas da Europa humilharam-

se diante das sempre verdes e alterosas montanhas

do Novo-Mundo; a virgem Homerica, similhante a


1
convertida Esposa de Eudoro abraça o Christia-

nismo, e neophyta ainda, mal iniciada nos myste-

riosos arcanos de sua nova Religião, resvala ás ve-

zes,e no enlevo d'alma , no meio de seus sagrados

imodoce, esposa de Eudoro , dos Mãríyre.r de M. de Chalé,iu-


,
hrinnri.
inspirações, como se ele assistisse aos olímpicos ou na
jogos,

pacífica Arcádia habitasse. Além destas materiais circunstâncias,

variáveis nos diversos assaz influem sobre a parte


países, que

descritiva, e caráter da um elemento há,


paisagem poética;

sublime sua natureza, sua inspiração, variável


por poderoso por

porém a sua forma, é a base da moralidade poética,


quanto que

que empluma as asas ao o abala, e o fortifica, e ao


gênio, que

través do mundo físico até Deus o eleva; este elemento é a religião.

Se sobre tais meditassem um só instante os primeiros


pontos

poetas brasileiros, certo logo teriam abandonado esta poesia


que

estrangeira, destruía a sublimidade de sua religião,


que paralisava-

lhes o e os cegava na contemplação de uma natureza


gênio,

grandiosa, reduzindo-os afinal a meros imitadores. Não; eles não

meditaram, nem meditar no das coisas obra-


podiam; princípio

se depois reflete-se. Acreditava-se então mitologia


primeiro, que

e uma e a mesma coisa eram. 0 instinto


poesia porém guiou-os;

e lentamente as encanecidas montanhas da Europa


posto que

humilharam-se diante das sempre verdes e alterosas montanhas

do Novo Mundo; a virgem homérica, semelhante à convertida

esposa de Eudoro1 abraça o cristianismo e, neófita ainda, mal

iniciada nos misteriosos arcanos de sua nova religião, resvala às

vezes, e no enlevo d'alma, no meio de seus sagrados cânticos,

'
Iraodoce, esposa de Eudoro, dos Martyres de M. de Chateubriand.
SOliUE A HISTORIA DA L1ETERATUKA. 14:)

cânticos, se olvida, e a dor montada sonha com as

mentiras, o berço lhe embalaram.


graciosas que

Não, ella não ainda, naluralisada na


pode posto que

America, esquecer-se dos sagrados bosques do Par-

naso, á cuja sombra se recreara desde o albor de

seus annos; dir-se-hia ella é combatida


que pela

moléstia da Patria, e nos assomos da Nostalgia


que

ii Grécia transportada se , e com seus Deoses


julga

delira. Saudosa moléstia, só o tempo curar


que pode.

Mas emfim é um e ao cêo


já grande passo; prasa

a conversão seja completa, e os vindouros


que que

vates Brasileiros achem no céo de sua Patria


puro

mais luminoso Phebo, Angélicos Gênios,


um sol que

sublimes as Pieredes, os inspirem.


mais que que

Se o aclual estado da civilisação do


comparamos

o das anteriores epochas, tão notável


Brasil com

encontramos, cuidar-se hia en-


differença que que

século e o nosso tempo ao menos um


ire o ,
passado
Devido é isto á causas, ninguém
século madiára. que

Com a expiração do domínio Portuguez,


hoje ignora.

as ideias. Hoje o Brasil é filho da


desenvolveram-se

e como Nação é filho desta


civilisação Franceza;

balançou todos os thronos


revolução famosa, que

e repartio com os homens a


da Europa, purpura,

dos Reis. O Gigante da nossa idade até


e os sceptros

Península enviou o susto, e o neto


a extremidade da

como um menino lemêo


dos Afonsos alerrorisado

Arbitro dos Reis cair fizesse sobre


o braço do
que
de seus avós. Elle foge, e com
sua cabeça o
palacio

deixam o natal Paiz, e trazem


elle toda a sua.corte,

novo dc um Rei, e os
ao solo Brasileiro o aspecto
se olvida, e adormentada sonha com as graciosas mentiras, que

o berço lhe embalaram. Não, ela não ainda, posto


pode que

naturalizada na América, esquecer-se dos sagrados bosques do

Parnaso, a cuja sombra se recreara desde o albor de seus anos;

dir-se-ia ela é combatida moléstia da e que nos


que pela pátria,

assomos da nostalgia à Grécia transportada se e com seus


julga,

deuses delira. Saudosa moléstia, só o tempo curar pode. Mas


que
enfim é um e praza ao céu a conversão seja
já grande passo; que

completa, e os vindouros vates brasileiros achem no céu


que puro

de sua um sol mais luminoso Febo, angélicos


pátria que gênios,

mais sublimes as Pieredes, os inspirem.


que que

Se comparamos o atual estado da civilização do Brasil com

o das anteriores épocas, tão notável diferença encontramos, que

cuidar-se-ia entre o passado século e o nosso tempo ao menos


que

um século mediara. Devido é isto a causas ninguém hoje


que
ignora. Com a expiração do domínio desenvolveram-
português,
se as idéias. Hoje o Brasil é filho da civilização francesa; e como

nação é filho desta revolução famosa, balançou todos os tronos


que
da Europa, e repartiu com os homens a púrpura, e os cetros dos

reis. O da nossa idade até a extremidade da


gigante península

enviou o susto, e o neto dos Afonsos aterrorizado como um menino

temeu o braço do árbitro dos reis cair fizesse sobre sua cabeça
que

o de seus avós. Ele foge, e com ele toda a sua corte deixam
palácio

o natal e trazem ao solo brasileiro o aspecto novo de um rei,


país,
rr>o
f;">0 knsajo
KNSA.JO

restos de uma sem brilho. Eis aqui como


grandeza

o Brasil deixou deser colonia, ea


eá cathegoria de Reino

Irmao
Irmão foi elevado. Sem a Revolucao
Revolução Franceza,
que

tanto esclareceo os este tao


tão cedo se
povos, passo

nao
não daria. Com este facto uma nova
riova ordem de cou-

sas abrio-se o Brasil. Aqui deve a


para parar pri-

meira epocha da His tori a


Historia do Brasil. Comeca
Começa a se-

gunda, em elle collocado sobre mais ampla


que

estrada, se apresta conquistar a liberdade, con-


para

sequencia necessaria do seu estado de civilisacao.


civilisação.

As epochas da Historia do Brasil sao


são como especies

de contra ou echos dos fastos


pancadas, grandes

modernos daEuropa.
da Europa. O como vimos, di-
primeiro,

vido foi a
á Revolucao
Revolução Franceza, o segundo a
á
promul-

da constituição
constituicao em Portugal, eapressado
e apressado
gacao
gação pela

volta do Rei a
á Lisboa. O Bi-asil
Brasil entao
então nao
não
podia

mais viver de baixo da tutela de uma metropole,


que

de suas riquezas se nutria, eo reduzir o


pertendia

ao antigo esiado
es lado de colonia.
cplonia. Necessario
Necessário era a Inde-

todos a desejavam, empossivel era suf-


pendencia;

focar o unaneme dos coracoens


coraçoens Brasileiros
grito

avidos
ávidos de Liberdade, e de E
progresso. quem pode

oppor-se á
a marcha impetuosa de um Povo,
que

conhece sua forca,


força, e firma suavontade?
sua vontade?
propria
própria

A Independencia foi em 1S22,


1822, e reco-
proclamada

nhecida 3 annos depois. Mas tarde a experiencia

mostrou tudo nao


não estava leito ; cousas,
cousas , ha
que que

se nao
não O Brasil,
podem prever. que parece pautar

suas accoens,
acçoens, e siguir as da Nagao
Nação Fran¬
Fran-
pegadas

ceza, no anno seguinte ao de 1S30


1830 em caio do
que

ilirono
throno da Franca
França o Rei, o occupava, aceorde
que
' os restos de uma sem brilho. Eis aqui como o Brasil
grandeza
eixou de ser colônia, e à categoria de Reino Irmão foi elevado.
Sem a Revolução
Francesa, tanto esclareceu os este
que povos,
passo tão cedo se não daria. Com nova ordem de
este lato uma
coisas abriu-se
para o Brasil. Aqui deve a época
parar primeira
''•> História do Brasil. Começa a segunda, em ele colocado
que
sobre mais ampla estrada se apresta conquistar a liberdade,
para
< onsequericia
necessária do seu estado de civilização. As épocas da

I üstória
do Brasil são como espécies de contrapancadas, ou ecos

dos
grandes fastos modernos da Europa. O vimos,
primeiro, como
devido foi a Revolução Francesa, o segundo, à da
promulgação
constituição
em Portugal, e apressado volta do rei a Lisboa.
pela
^ Brasil então não mais viver debaixo da tutela de uma
podia
metropole,
que de suas riquezas se nutria, e o reduzir ao
pretendia
antigo estado de colônia. Necessário era a Independência; todos a
desejavam,
impossível era sufocar o unânime dos corações
grito
brasileiros
ávidos de liberdade e de E opor-
progresso. quem pode
se a marcha
impetuosa de um conhece sua força
povo, que própria
e firma sua vontade? A Independência foi em 1822,
proclamada
e reconhecida .3 anos depois. Mais tarde a experiência mostrou
(iue tudo não estava feito; coisas há se não O
que podem prever.
Brasil,
que parece pautar suas ações, e seguir as da nação
pegadas
francesa, 110 ano seguinte ao de 1830 em caiu do trono da
que
' rança o rei,
que o ocupava, acorde movimento experimentou ele;
SOltHK
SOBHK A IIISTOItlA
IIISTOIUA. DA
DA LITTJiHATUHA.
LJTTKltATUIlA. 15?
151

movimentoexperimenlou
movimenloexperimeutgu elle;
clle; e acorda,
acoróa, cingia
que
a fronte
Ironte <le
<lc um Princepe Porluguez,
Portuguez-, reservado
pela
Providencia assignalar-se
para na terra de sua Pa-

tria,
Iria, e cujo coracao
coração nao
não
palpitava de amor sua
por
Pallia
Pátria adopliva,
adoptiva,
passou o Joven Imperador,
para
l'dra
IVSra ao nascer auras da America
que pelas bafejado,

e <los t^picos,
iropieos aquecido.
pelo sol
pelosol dos Assim lem sempre

e Brasil medrado, olhando a Franca,


França,
para c
e nos
nós

nos lisongeamos
noslisongeamos elle nao
não retrogradara
retrogradará
que , tomando

esta meslra
mestra
grande por guia.

De duas deslinelas
destinelas cousla
consta a historia
hisloria do
partes

Brasil, comprehendendo a osseculos


os séculos XVI,
primeira

XVII e XVIII; a segunda o curio


curto espaco,
espaço, de
que
1808 até
aid os nossos diasdecorre.
dias decorre. Examiuaremosagora
Examinaremos agora

os escriptores são
sao destes differentes tempos,
quaes

o caracter, e o a Litteralura
qual progresso, que

tem lei to.


feito. No seculo
século XVI, e
é o do descobrimento,
que

nenhum escriptor exist io


existio de noticia tenhamos.
que

No seculo
século XVII alguns appareceram Poetas, e Pro-

sadores, de fallaremos
fatiaremos em em um ar-
que particular

tigo
ligo consagrado a este objcclo.
ohjeclo. Em diremos
geral

como debaixo dos auspicios


auspícios da Religiao,
Religião,
que, e tra-

balhos dos Jesuitas as se


primeiras povoacoens fun-

daram , a Litteralura nesse seculo


século notavel
notável
propen-
sao
são Religiosa mostra, a
parlicularmente
particularmente prosa, que
todaconsisledeoraooenssagradas.E
toda consiste de oraçoens sagradas. É no seculo
século X VIII

se abre
abrc a carreira Lideraria
Litteraria no Brasil,
que seudo
sendo a

do seculo
século anterior tao
tão mingoada, apenas
que serve

a hisloria.
historia. Neste seculo
século os mocos,
moços,
para
para a Eu-
que
ropa collier
colher iam os fructosda
fruclos da sapiencia,
sapiência, trouxeram

para o seio da Patria os de lodas


todas as Scion-
Scieu-
germens
e a coroa,
que cingia a fronte de um reservado
príncipe português,
pela Providência e cujo
para assinalar-se na terra de sua
pátria,
coraçao
não de amor sua adotiva,
palpitava por pátria passou para
0 imperador,
jovem fora ao nascer auras da América
que pelas
bafejado,
e sol dos trópicos aquecido. Assiin tem sempre o
pelo
Brasil medrado, olhando a França, e nós nos lisonjeainos
para que
cie não retrogradará, tornando esta mestra
grande por guia.
De duas distintas
partes consta a história tio Brasil,

compreendendo
a os séculos XVI, XVII e XVIU; a
primeira
segunda
o curto espaço, de 1808 até os nossos dias decorre.
que
Examinaremos
agora os escritores são destes diferentes
quais
tempos,
qual o caráter, e o a literatura tem feito.
progresso, que
No século XVI, é o do descobrimento, nenhum escritor existiu
que
('e
que notícia tenhamos. No século XVII alguns apareceram

poetas, e de falaremos em em um
prosadores, que particular
aitigo consagrado a este objeto. Em diremos como
geral que,
debaixo dos auspícios da religião, e trabalhos dos as
jesuítas,
primeiras povoações se fundaram, a literatura nesse século

notável
propensão religiosa mostra, a prosa,
particularmente
•lue toda consiste de orações sagradas. É no século XV11I que
se abre a carreira literária no Brasil, sendo a do século anterior

tao minguada
que apenas serve a história. Neste século, os
para
nioços, à Europa
que colher iam os frutos da sapiência, trouxeram

para o seio da os de todas as Ciências e Artes; aqui


pátria germes
IV-'
152 UNSA10
1ÍNSAI0

cias, eArtes;
e Artes; aqui
acjiii benigno acolhimento acharam
acharani

nos espiritos
esjjiritos avidos
ávidos de saber, e dest'arte
desfarte se
sepropa-
propa-
as Iuzes,
luzes, dado <jue a estrangeiros,
garam que e alguns

livros empedido fosse o ingresso. E


É innegavel
inncgavel <{ue
que
com a F rang a
França o nosso
nosso commercio scientifico, e lit—
lit-

terario v
x
partictllarmente
particularmente tern
tem existido. Originaes, ou

tradusidos deram os Auctores


Auclores Francezes a
á Portugal

no século XVIII
seculoXVIII asSciencias, e as Lettras, e con-
por
siguinte ao Brasil. Entao
Então vasto campo Litterario

abrio-se no Brasil,
brasil, todos os ramos da Eitteratura
Litteratura

ahi
abi foram cultivados
cultivados; ; homens de suhida
subida tempera

mostraram os dos incullos


incultos
que genios
gênios sertoens da

America dilatar sen


seu v6o
vóo ate
até as
podiam margens do

Tejo, e emparelhar com as Tagides no canto. No

seculo
século XIX com as mudancas,
mudanças, e reformas
politicas,
políticas,
tem o Brasil experimentado, nova
que face Littera-

ria apresenta. Uma so


só ideia
idéia absorve todos os
pen-
samentos, uma nova ideia
idéia ate
até alii
alli desconhecida,
desconhecida,
é

a ideia
idéia da Patria; e 11 a
ella domina tudo, tudo se faz
por
ella, ou em sen
seu nome. Independencia, Liberdade,

inslituieoens
instituiçoens soeiaes
sociaes , reformas,
politica
política em fim

taes sao
são os objectos, attrahem a
que attencao
attenção de

todos,
iodos, e os unicos,
únicos, ao interessam.
que povo Tem-se

convindo, ecom razao


razão a Poesia
á
que quecontrarias Poesiasao
são

asepochas revolucionarias.
revolucionárias. Em taes crises a Poesia,

morre, so falia
sofalla a lingoagcmdoenthusiamo
lingoagem doenthusiamo
quenuncamorre,
quenunca

Patriot ico,
Patriótico, e das ea
éa epocha aos
paixoens, Tyrteos.

Mas longe estamos isso de amaldicoarmos


amaldiçoarmos
por as Re-

volucoens;
voluçoens; nos
nós conhecemos sua missao
missão na historia

da humanidade; ellas sao


são úteis,
uleis,
por que meios sao
são

indispensaveis
indispensáveis o de
para progresso genero humano,
benigno acolhimento acharam nos espíritos ávidos de saber, e

destarte se as luzes, dado a estrangeiros, e a


propagaram que
alguns livros impedido fosse o ingresso. I . inegável com a
que

França o nosso comércio científico e literário tem


particularmente

existido. Originais ou traduzidos deram os autores franceses a

Portugal no século XVIII as Ciências e as Letras, e por conseguinte

ao Brasil. Então vasto campo literário abriu-se no Brasil, todos

os ramos da literatura aí foram cultivados; homens de subida

tempera mostraram os gênios dos incultos sertões da América


que

podiam dilatar seu voo até as margens do Tejo, e emparelhar com

as Tágides no canto. No século XIX com as mudanças, e reformas

políticas, tem o Brasil experimentado, nova face literária


que

apresenta. Uma só idéia absorve todos os uma nova


pensamentos,

id eia até ali desconhecida é a idéia da ela domina tudo,


pátria;

tudo se faz ela, ovi em seu nome. Independência, liberdade,


por

instituições sociais, reformas, enfim, tais são os objetos que


política

atraem a atenção de todos, e os únicos ao interessam.


que povo

Tem-se convindo, e com razão, contrárias à poesia são as


que que

épocas revolucionárias. Em tais crises a poesia, nunca morre,


que

só fala a linguagem do entusiasmo e das é a


patriótico, paixões,

época aos Tirteus. Mas longe estamos isso de amaldiçoarmos


por

as revoluções; nós conhecemos sua missão na história da

humanidade; elas são úteis, meios são indispensáveis para


porque

o do humano, e até mesmo o movimento, e


progresso gênero para
SOBKE
SOBKL V
A lUSTOlU.V
HISIOIÜA DA LITTERATUtU.
L1TTERATUUA. 153
I5S

e al6
até mesmo o movimento, e Littera-
Littera-
para progresso
rio. ellas agilam
agitam as sociedades,
Quando e
é verdade,

a cansada Litteralura um desmaiar


para
pára e
pouco,

parece, mas é de novo continual-


continuar mais bella e
para
paia

remoçada
remocada em sua carreira, como o viajor repousa

assustado, negras nuvens trovejam, e


quando pro-
pio-

lempeslade
tempestade ameacam
ameaçam ; mas, finda ella, con-
pincua

tinua sua marcha, a de um ceo


céo
gozando perspectiva

e sereno, de um ar suave, e de um campo


puro por

uma nova vegetacao


vegetação esmaltado.

Aqui terminamos a vista sobrea


sobre a historiada
geral

Litteralura do Brasil, desla


desta Litteralura nao
não no Paiz

nascida. Antes de entrarmos


entrarmoS na deseripcao,
descripção,
porem

e analyse dos escriptores, uma se levanta,


questao
questão

e requer ser aqui tratada, toda concernente


questao
questão

aoPaiz,eaos seus indígenas.


seusindigenas. Pode o Brasil inspirar a

dos Poetas? E os seus indígenas


indigenas cultiva-
imaginacao
imaginação

ventura a Poesia? Examinemos.


ram j)or
por
conhecida <5 hoje esla verdade,
Tao
Tão
geralmenle
geralmente
e caracter de um a maisde-
mais de-
a disposicao,
disposição, paiz
que
exerce sobre o
sobreo e moral de
cisiva influencia physico,

nos
nós a como um
seus habitantes, que passamos prin-

inútil
inulil insistir em
insistirem demonstral-a com
cipio, e cremos

e factos tantos Naturalistas, ePlu-


ePhi-
ar-umentos,
argumentos, por
porlantos

A hi
Ahi estao
estão Butlon, e Montes¬
Montes-
losophos apresentados.

a demon strain.
demonstram. Ainda hoje Poetas
assaz
quieu ,
quieu, que

no Oriente suas mais hellas


bellas ins-
Europeos vao
vão beber

Chateaubriand, eDelamartineso-
e Delamartineso-
Bvron,
Byron,
piracoens.
meditaram. Ainda hoje se admira
bre seus tumultos
seuslumultos

daGrecia, o ceo inspii.nua


inspirai a
o tao
tão celebrado ceo que

eo ceo
eoceo inspirara a Virgilio
Virgílio
Homero , e a Pindara,
Homero, que
progresso literário. Quando elas agitam as sociedades, é verdade,

a cansada literatura um e desmaiar mas é


para pouco, parece,

para de novo continuar mais bela e remoçada em sua carreira,

como o viajor repousa assustado, negras nuvens trovejam,


quando

e tempestade ameaçam; mas, finda ela, continua sua


propínqua

marcha, a de um céu e sereno, de um ar


gozando perspectiva puro

suave, e de um campo uma nova vegetação esmaltado.


por

Aqui terminamos a vista sobre a história da literatura


geral

do Brasil, desta literatura não no nascida. Antes de


país porém

entrarmos na descrição e análise dos escritores, uma se


questão

levanta, e requer ser aqui tratada, toda concernente ao


questão

país, e aos seus indígenas. Pode o Brasil inspirar a imaginação

dos E os seus indígenas cultivaram ventura a poesia?


poetas? por

Examinemos.

Tão conhecida é hoje esta verdade, a


geralmente que

disposição e caráter de um a mais decisiva influência exerce


país

sobre o físico e moral de seus habitantes, nós a passamos


que

como um e cremos inútil insistir em demonstrá-la com


princípio,

argumentos e fatos tantos naturalistas e filósofos apresentados.


por

Ali estão Buffon, e Montesquieu, assaz a demonstram.


que

Ainda hoje europeus vão beber no Oriente suas mais


poetas

belas inspirações. Byron, Chateubriand e Delamartine sobre seus

tumultos meditaram. Ainda hoje se admira o tão celebrado céu

da Grécia, o céu inspirara a Homero e a Pindaro, e o céu


que
154
154 ENS
ENSAIO
A10

e Horacio. Nos vimos o c^o,


céo, cobre as ruinas
ruínas do
quo
que

Capitolio,
Capilolio, e as doColiseo,
doColisêo, sim, elle d
é bello; mas oh!

o do Brasil nao
não lhe cede em belleza! failem
faílem
que por
nós
nos todos os viajores, estrangeiros, de
que, por sus-

peitos nao
não serao
serão taxados. Sem duvida fazem elles

justica,
justiça, e o coracao
coração do Brasileiro, nao
não tendo muito"
muito

de ensuberbar-se aos das huma-


quanto productos

nas fadigas, so
só com o tempo se adquirem, enche-
que

se, e de satisfacao,
satisfação, vendo as sublimespaginas
sublimes
palpita paginas
de Langsdorff. Nisved, Spixet et Martins, Saint-

Hilaire, Debret, e uma multidao


multidão d'outros viajores,

as bellezas de sua Patria conhecidas fizeram a


á
que

Europa.

Este immenso e rico da America, debaixo do


paiz

mais bello ceo


céo situado, corlado
cortado de tao
tão rios,
pujantes

leitosd'ouro, epedraspreciosasrolamsuas
epedras
quesobreleitosd'ouro,
quesobre preciosas rolam suas

agoas caudalosas; este vasto terreno revestido de

eternas malas, onde o ar esta


está sempreembalsamado
sempre embabamado

com o de tao
tão flores, em chu-
perfume peregrinas que

veiros se despencam dos verdes doceis


dóceis entre-
pelo

laçamento
lacamento formados dos ramos de mil especies; estes

desertos, remansos, onde se annuncia a vida


por

esta voz solitaria da cascata, se despenha,


que por

este doce murmurio das auras, se etnbalan-


embalan-
que

cam nas folhas das esta harmonia


çam palmeiras, por

e melancólica
melancolica das aves, e dos
grave quadrupedes;
quadrúpedes;

este vasto Eden separado inormissimas monta-


por

nhas sempre esmaltadas de verdura, em cujo tope,

collocado se ere
crê o homem no espaco,
espaço, mais chegado

a
á terra, e debaixo de sens
seus vendo
ao ceo,
céo, que pes
pés

as nuvens, roncar as lormentas,


tormentas, e
desnovelar-se
vimos o céu, cobre as
que inspirara a Virgílio e Horácio. Nós que

ruínas é belo; mas oli! Que o


do Capitólio e as do Coliseu, sim, ele

do Brasil Falem nós todos os viajores


não lhe cede em beleza! por

não serão taxados. Sem dúvida


que, por estrangeiros, de suspeitos

fazem não tendo muito de


eles e o coração do brasileiro,
justiça,

assoberbar-se humanas fadigas, so


aos das que
quanto produtos

com e palpita dc satisfação, vendo


o tempo se adquirem, enche-se,

as sublimes de Langsdorff, Nisved, Spixet et Martius,


páginas

Saint-Hilaire, de outros viajores, as


Debret, e uma multidão que

belezas de sua conhecidas fizeram à Europa.


pátria

debaixo do mais belo ceu


Este imenso e rico país da América,

situado, sobre leitos de ouro e


cortado de tão rios, que
pujantes

rolam suas águas caudalosas; este vasto terreno


pedras preciosas

revestido de eternas matas, onde o ar está sempre embalsamado

com flores, em chuveiros se


o de tão que
perfume peregrinas

despencam formados tios


dos verdes dosséis entrelaçamento
pelo

ramos de mil espécies; estes desertos, remansos, onde se anuncia

a vida esta voz solitária da cascata, se despenha, por


por que

este doce murmúrio das auras, se embalançam nas folhas


que

das esta harmonia e melancólica das aves


palmeiras, por grave

e dos este vasto Éden separado enormíssimas


quadrúpedes; por

montanhas sempre esmaltadas de verdura, em cujo topo, colocado

se crê o homem no espaço, mais chegado ao céu à terra,


que

e debaixo de seus vendo desnovelar-se as nuvens, roncar


pés
SOBUE
SOIíUE A H1STOIUA
H1STOHU 1)A IJTTEHATLiHA.
LI 1TERATUHA. 155

dispararo
disparar o raio; com lão
tao felizes disposicoens
disposiçoens da Na-

tureza o Brasil necessariamente inspirar devera seus

primeiros habitadores ; os Brasileiros musicos,


músicos, e

poetas nascer deviam. o duvida ? Elles o fo-


Quem

ram, elles ainda o sao.


são. Por alguns escriptos antigos

sabemos varias tribus


iribus índias
indias talento da
que pelo

da musica, e da
eda Poesia se avantajavam. Entre todas,

os Tamoyos, mais to das costas habitavam


que pei ,

eram tambem
também os mais talentosos; em suas festas, e

occasiao
occasião de combates, inspirados scenas,
per pelas

os torneavam, guerreiros hymnos improvisavam,


torneavam,guerreiroshymnosimprovisavam,
que

com accendiam a coragem nas almas dos com-


que

batentes, ou cantavam em coros alternados de mu¬


mu-

sica, e dansa hymnos herdados dos seus maiores.

Em urn
um manuscripto antigo, cujo Auctor ignora-

', lemos o seguinte


lemoso : « Sao
São havidos es-
mos seja
quem

tes Tamoyos musicos,


músicos, entre o e
por grandes gentio

os sao
são muito respeitados dos
bailadores, quaes

onde vao,
vão, » Mas nao
não s6
só a raca
raea
gcntios
gentios por quer que

dos Tamoyos as
ás outras superava pelogenio
pelo gênio musical

os Caitds
Caités e mais ainda os Tupinambas,
Tupinambás,
e ; ,
poetico
poético
veviam com os e em costu¬
costu-
em primeiros,
que paz

se assimilhavam , tambem
lambem cultivavam a
mesaa
mes elles

No mesmo manuscripto lemos ainda : «» Os


poesia.
se de musicos,
músicos, e ao seu
Tupinambds
Tupinambás presam grandes

com soffrivel torn,


tom, os tern
tem
modo cantam quaes

mas todos cantam um


u'm torn,
tom, e os mu¬
mu-
boas
bóas vozes , por

de improviso , e suas voltas,


sicos fazem motes que

1 aá Bibliolheca
Bibliolheea real de
Jioteiro
Roteiro do Brasil,
JBrasil, manuscripto perlenceslc
perlencesle

Pill is.
Paris.
as tormentas, e disparar o raio; com tão felizes disposições da

natureza o Brasil necessariamente inspirar deverá seus primeiros

habitadores; os brasileiros músicos e nascer deviam. Quem


poetas

o duvida? Eles o foram, eles ainda o são. Por alguns escritos

antigos sabemos várias tribos índias talento da música e


que pelo

da se avantajavam. Entre todas, os tamoios, mais


poesia que perto

das costas habitavam, eram também os mais talentosos; em suas

festas, e ocasião de combates, inspirados cenas, os


por pelas que

torneavam, hinos improvisavam, com acendiam


guerreiros que

a coragem nas almas dos combatentes, ou cantavam em coros

alternados de música e dança hinos herdados dos seus maiores.

Em um manuscrito antigo, cujo autor ignoramos seja,1


quem
"São
lemos o seguinte: havidos estes tamoios músicos,
por grandes

entre o e bailadores, os são muito respeitados dos


gentio, quais

gentios onde vão." Mas não só a raça dos tamoios


por quer que

as outras superava musical e os caetés, e mais


pelo gênio poético;

ainda os tupinambás, em viviam com os e em


que paz primeiros,

costumes a eles se assemelhavam, também cultivavam a poesia.

"Os
No mesmo manuscrito lemos ainda: tupinambás se prezam

de músicos, e ao seu modo cantam com sofrível tom, os


grandes

quais tem boas vozes, mas todos cantam um tom, e os músicos


por

fazem motes de improviso, e suas voltas, acabam no consoante


que

^
Roteiro do Brasil, manuscrito
pertencente à Biblioteca Real de Paris.
156
156 ENS A10
ENSAIO

acabam no consoante do mote , os cantam e


quaes

bailam em roda. « Do respeito reli-


junctamente

taes barbaros consagravam aos seus ho-


gioso que

mens inspirados uma da-nos


dá-nos o mesmo Auc-
prova

tor, diz : » Entre os Gentios sao


são os musicos
músicos
quando

muito estimados, e onde vao


vão sao
são hem
bem
por quer que
agasalhados, e muitos atravessaram o sertao
sertão
ja
jã por
entre seus contrarios
contrários sem lhes fazerem mal. » Tal

veneração
veneracao os e musicos,
músicos, lembra-nos
para poetas,

esses Trovadores, de Estado em Estado livre-


que

mente e ante se abriam as


peregrinavam, quem por-
tas dos castellos dos senhores da media idade; e

ainda a respeitosa magnanimidade do con¬


con-
grande

antigo a familia
família doLyrico Grego. E',
quistador para

á Poesia
a ea
eá Musica é dado
e o assenhorear-se da li-
que

berdade humana, vibrar as fibras docoracao,


do coração, abalar,

e extasiar o espirito. Por rneio


meio destas duas
potencias,
potências,

sabiamente empregadas Jesuitas


Jesuítas missionaries
missionários
pelos

do Brasil, os selvagens abandonavam seus deser-

tos, e amoldavam-se ao Christianismo, e a


á civilisa-

cao'. So
Só as theorias de algunshomens
alguns homens
ção'. positivos, que

i Ein
Em cousas de faelos
faclos de anteriores seculos
séculos nada
podemos avancar
avançar

sem documentos. Em Simao


Simâo de Vasconcellos lemos as seguintes linlias.

Estavam estes (os lilhos


filhos dos selvagens) já bastantemente
baslantemente instruidos
instruídos na
ja
Fé, ler, esccever, «e contar: foi traca
Ee, traça de Jose,
José,
que viessem
queviessem estes meminos

os campos encorporar-se com seus discipolos em favor, e ajuda


para
dos Tais,
ráis, com o effeito, que logo veremos. Continuavam estes na nova

AWea sua escola,


Aldea ajudavain
ajudavam a bcneficiar
beneficiar os officios divinos em canto de

orgam, e instrumentos musicos


músicos (o mor
gosto e ineitamento,
incitamento, (pie
que podia
os Pais, que jaalli
haver para osPais, jáalli estavam, vindos de seus sertoens). Espalha-

aá noite pelas casas dc


de seus
vam-se parentes , a cantor
parcnlcs cantar as cantigas
pias
de Jose
José em
cm propria lingoa eoutraposlas
contrapostas as que elles eostumavam
costumavam cantar
própria oantar
vaus c
vans ts.
is. Vida do Padre Jose
Josc de Auchieta; cap. vi .
gentilic pag. 29.
]iag.
do mote, os cantam
quais e bailam em roda." Do
juntamente
respeito religioso
que tais bárbaros consagravam aos seus homens

inspirados "Entre
uma dá-nos o mesmo autor, diz:
prova quando
os são
gentios os músicos muito estimados, e onde
por quer que
vao são bem agasalhados, e muitos atravessaram o sertão
já por
entre seus contrários sem lhes fazerem mal." Tal veneração para
°s e músicos
poetas lembra-nos esses trovadores, de estado em
que
estado livremente
peregrinavam, e ante se abriam as
quem portas
dos castelos dos senhores da média idade; e ainda a respeitosa

magnanimidade do
grande conquistador antigo a família do
para
1/ ?
nco
grego. E que à
poesia e à música é dado o assenhorear-se da

liberdade
humana, vibrar as fibras do coração, abalar e extasiar o

espírito. Por meio destas duas sabiamente empregadas


potências,

pelos jesuítas missionários do Brasil, os selvagens abandonavam

seus desertos, e amoldavam-se ao cristianismo e à civilização.1

Só as teorias de alguns homens mal estudam a


positivos, que

Km coisas do fatos de anteriores séculos nada


podemos avançar sem
documentos. Em Simão de
Vasconcellos lemos as seguintes linhas. Estavam
estes
(os filhos dos selvagens) já bastantemente instruídos na fé, ler, escrever
( contar: foi traça
de José, <jue viessem estes meninos
para os campos
encorporar-se com seus
discípulos em favor e ajuda dos
pais, com o efeito,
que logo veremos. Continuavam estes na nova aldeia sua escola, ajudavam
a beneficiar os ofícios divinos
em canto de órgão e instrumentos músicos
(o
mor
gosto e incitamento, que podia haver para os pais,
que já ali estavam,
vmdos de seus sertões).
Espalhavam-se à noite
pelas casas de seus parentes,
a cantar as cantigas
pias de José em própria língua contrapostas às que eles
costumavam cantar
vãs e gentílicas. Vida do
padre José de Anchieta;
cap. VI,
pág. 29.
SOURE
SOBRE A HISTORIA DA UTTERATt.'RA.
LITTERATIJRA. J57
157

mal
mui estudam a Nature/,a,
Natureza, desmerecer a im-
podem
tanciadestas duassublimesIrmaes
duas
poi sublimes Irmaés nasociedade,
na sociedade,

c
e apenas considcral-as
considerai-as corno
como meras artes de luxo, e

do ti ecrcaeao
ecreaçao de ociosos. Mas nao e
é nosso coso agora

tecer sen
seu
panegyrico.
' Apostolos
Os Apóstolos do Novo Mundo, lao
tão solícitos
solicitos nos

desertos do Brasil na da Fe
Fé calholica,
propaganda catholica,

compunham em lingoagemTupica alguns


lingoagemTupicaalguns hymnosda

Igreja- substituir a sens


seus cânticos
canticos selvagens;
para

mas não
nao consta (pie ao trabalho se dessem de
dc ver¬
ver-
que

ier
ter cm lingoagem vulgar os canticos
cânticos dos Indios.
índios.

Posto t|ue nenhum documento sobre isto


que possui-

mos, loda
ioda via, lalvez
talvez nas bibliothecas conven-
que

tuaes,
luaes, com espicialidade asdaBahia,
asda Bahia, seachem
se achem a todo

o tempo algumas inslrupoens.


instruçoens. monu-
Que precioso

mento nao fdra


fôra nos
nós desses Povos incultos,
para que

tem desaparccidoda superficie da Terra,


tcmdesaparecidodasuperficièdaTérra, sendo
quasi

trio
tão amigos da liberdadc,
liberdade, e da independencia,
indèpendencia,
que

com ao captiveiro cm
em cardumes caiam
preferencia

debaixo das espadas dos Portuguezeè,


Portugueses, embalde
em balde
que

tentavam submeitel-os
submettel-os a sou
seu tyrannico. Talvez
jugo

cilas
ellas de influir sobre a actual
actúal Poesia
livessem
tivessem Brasi-

lica como os cânticos


canticos do Bardo da
Bardoda Escossia sobrea
,

influiram
influíram do Norte da Europa, e hoje, harmo-
Poesia
Poesia

nisando sens
seus melancólicos
melancolicos accentos com a sublime

do Chrislianismo,
Christianismo, em loda
toda a Europa do¬
do-
gravidade

minant.
minam. Do (pie dito havemos, concluimos,
concluímos, (pie ;í
a
que

*• Traduzia a doutrinn
Trnduzm doutrina isitt,
Oluislfi,
Cln co mylcrios
mylorios da F6
Fó dispostos a modo
raodo

do Diálogos , cm
Diftlogos hcncíiciQ dos
hcncficio Índios calhccumcnos
tios Indios calliccumcnos , c foz
Icz tralado,
tratado, c in-

iciTOgntonos, c avisos' neccssarios


ncccssarios os epic
íjuc liouvcssem
houvessem dcconlcssar,
dc conlcssar,
lerrogntórios, para

oooonfossar-so.
oonfessar-so. Simaodc
Siniaodc Vafiooiiocllos. icia do
VaftCOiiOG^los. ^N iua P. Anolnola,
Ancliicta. ?«'>.
L. I, p. 25,.
natureza, desmerecer a importância destas duas sublimes
podem
urnas na sociedade, de
e apenas considerá-las como meras artes

luxo e de recreação de ociosos. Mas não é nosso caso agora tecer

seu
panegírico.

Os apóstolos do Novo Mundo, tão solícitos nos desertos

do Brasil na
propaganda da fé católica, compunham em

linguagem túpica alguns hinos da igreja1 substituir seus


para
cânticos selvagens; mas não consta ao trabalho se dessem
que
de verter em linguagem vulgar os cânticos dos índios. Posto

que nenhum documento sobre isto todavia, talvez


possuímos,

que nas bibliotecas conventuais, com especialidade as da Bahia,

se achem a todo o tempo algumas instruções. Que precioso


monumento não fora nós desses
para incultos, que quase
povos
têm desaparecido da superfície da Terra, sendo tão amigos da

liberdade
e da independência, com ao cativeiro
que preferência
em cardumes caíam debaixo das espadas dos portugueses, que
embalde tentavam submetê-los a seu tirânico. Talvez tivessem
jugo
elas de influir sobre a atual brasílica, como os cânticos do
poesia
bardo da Escócia sobre a poesia influíram no norte da Europa,

e hoje, harmonizando seus melancólicos acentos com a sublime

gravidade do cristianismo, em toda a Europa dominam. Do


que
dito havemos, concluímos
que à não se opõe o antes
poesia país,

traduzia a doutrina cristã, e mistérios da fé dispostos a


modo do diálogos,
em benefício dos índios
catecúmenos, e fez tratado, e interrogatórios, e avisos
necessários
para os que houvessem de confessar e confessar-se. Simão de
Vasconcellos. Vida do
p. Anchieta. L. I, p. 25.
I5S ENSAIO

Poesia não se oppõe o antes suas dispo-


pau. pelas

siçoens muilo favonèa o desenvolvimento


pbysicas

intelleclual; e si até hoje a nossa Poesia não offerece

um caracter inteiramente novo e


particular, é
que
os Poetas, dominados atados
pelos preceitos, pela
imitação dos Antigos, como diz Pope
que , é imits-r

mesmo a Natureza si a Natureza se osten-


(como

tasse sempre a mesma nas regioens


polares, e nos

Tropicos, e diversos sendo os costumes, as leis,

e as crenças, só a Poesia não essa diversi-


partilhase

dade)não tiveram bastante força despojarem-


para

se do dessas leis, as mais das vezes arbitrarias,


jugo

da se arrogam o direito de torturar


quelles , que o

Gênio, arvorando-se Ligisladores do Parnaso. De-

Homero, inspirado seu Gênio, sem


pois que pelo o

apóio de alheia critica, elevou-se á


grandeza da

Epopéia, creação sua, e Pindaro mesmo


pelo cami-

nho á sublimadade da Lyrica, vieram então os

críticos, e estabeleceram regras. Convém estudar

os Antigos, e os modellosdos nas diversas


que com-

se avantajaram mas não


poziçoens poéticas , escra-

visar se. « O Poeta independente, dizSchiller, não

reconhece lei senão as inspiraçoens de sua


por alma,

e suberano o seu Gênio. » Só um Poeta


por pôde cha-

mar-se si ellc é original , si de seu


grande proprio

Gênio recebe as inspiraçoens. O imita alheios


que

nada é mais um tradutor salteado,


pensamentos que

como é o tradutor um imitador seguido; e igual é o

mérito e talento de ambos; e mais se esfor-


por que

cem mais com seus modellos emparelhem,


, por que

011 mesmo os superem, isso


que pouca gloria por
pelas suas disposições físicas muito favorece o desenvolvimento

intelectual; e se até hoje a nossa não oferece um caráter


poesia
inteiramente novo e é os dominados
particular que poetas, pelos

preceitos, atados imitação dos antigos, como diz Pope,


pela que
e imitar mesmo a natureza se a Natureza se ostentasse
(como

sempre a mesma nas regiões e nos trópicos, e diversos


polares
sendo os costumes, as leis e as crenças, só a não
poesia partilhasse

essa diversidade) não tiveram bastante força despojarem-se


para

do dessas leis, as mais das vezes arbitrárias, daqueles se


jugo que

arrogam o direito de torturar o arvorando-se legisladores


gênio,
do Parnaso. Depois Homero, inspirado seu sem o
que pelo gênio,

apoio de alheia crítica, elevou-se à da Epopéia, criação


grandeza
sua, e Pindaro mesmo caminho à sublimidade da Lírica,
pelo

vieram então os críticos e estabeleceram regras. Convém estudar

os antigos, e os modelos dos nas diversas composições


que poéticas

se avantajaram, "O
mas não escravizar-se. independente, diz
poeta
Schiller, não reconhece lei senão as inspirações de sua alma,
por

e soberano o seu Só um chamar-se


por gênio." pode poeta grande

se ele é original, se de seu recebe as inspirações.


próprio gênio
O imita alheios nada é mais um tradutor
que pensamentos que

salteado, como é o tradutor um imitador seguido; e igual é o

mérito e talento de ambos; e mais se esforcem, mais


por que por

que com seus modelos emparelhem, ou mesmo os superem,


que
SOBRE A HISTORIA
HISTOIIIA DA LITTERATURA.
LITTEIlATUIU. 150
15!)

Ihes
lhes toca,
loca, tendoso
tendo só afinal
afina) augmentado a d'aquelles.

iGomo
Gomo nos estudamos a historia, não
nao com o unico
único

fito de conhecer o
passado, mas sim tirarmos
para
uteis
úteis licocns
liçoens o
para presente , assim no estudo do

chamamos modellos não


nao nos devemos limitar a
que

sua reproducao
reprodução imilativa. A estrada
estrada nossos il-
pelos

lustres maiores aberla,


aberta,
que podemos-considera-

dal-'a
dal-a traçada
tracada em
cm caracol n'uma
numa montanha, nao
não

tocou ainda ao seu cume ; si intentamos cheear


chegar a
O

elle
,elle , o mais curto caminho c
e trilhal
trilhai a, mas com o

cuidado não
nao nos deixemos incantar har-
que pela

monia das vozes dos cysnes, a ladeam, ouvindo-


que

os adocarmos a fadiga , adrnirando-os,


para porem

marchando sempre, empenhemo-nos


por prolongar

a estrada; si fallos de torça,


forca, em seu meio (icamos,
ficamos,

outro nos desejard


desejará
que preceder, por que proseguir,

nos arredara
arredará nos
nós recuaremos ; e certas aves mor-
;

sobre o caminho esvoacam,


esvoaçam, nada
dazes,
d azes, que
que

mas de tudo contentes com


ousam, que
quede grasnam,

se amontoarão
seamontoarao sobre nos,
nós, tomando-
a nossa queda,

de sua sombaria. Oh como <5 incan-


nos objecto
para
De um lado e d'outro
d'oulro esses aves
tada essa estrada!

tomai esta nao


não subais mais,
nos : por pare,
gritam
a cair; ;i
á directa, d
á esquerda. Si
vos arriscais
que
si o nosso Gênio
nossoGenio nao
não nos
as escutamos, guia, grande

6
é a a nós
nos, a nossa
(>
é o risco, segura queda. Quanto ,

nas obras de o unico


único e
é
convicção
conviccao d, genio
gênio guia
que

mais vale um v6o


vóo arrojado deste,
o que que
genio,
gênio,

e regular da servil imitacao.


imitação.
a marcha reflectida

D. J.
I. G. DE MAGALIIAENS.
isso lhes toca, tendo só afinal aumentado a
pouca glória por

daqueles. Como nós estudamos a história, não com o único fito

de conhecer o mas sim para tirarmos úteis lições para


passado,

o assim no estudo do chamamos modelos não nos


presente, que

devemos limitar a sua reprodução imitativa. A estrada pelos

nossos ilustres maiores aberta, considerá-la traçada


que, podemos

em caracol numa montanha, não tocou ainda ao seu cume; se

intentamos chegar a ele, o mais curto caminho é trilhá-la, mas

com o cuidado não nos deixemos encantar harmonia das


que pela

vozes dos cisnes, a ladeiam, ouvindo-os adoçarmos a


que para

fadiga, adinirando-os, marchando sempre, empenhemo-nos


porém

a estrada; se faltos de força, em seu meio ficamos,


por prolongar

outro nos desejará nos arredará;


que preceder, porque prosseguir,

nós recuaremos; e certas aves mordazes, sobre o caminho


que

esvoaçam, nada ousam, mas de tudo contentes


que que grasnain,

com a nossa se amontoarão sobre nós, tomando-nos para


queda,

objeto de sua zombaria. Oh como é encantada essa estrada! De

um lado e de outro essas aves nos tomai esta parte,


gritam: por

não subais mais, vos arriscais a cair; à direita, à esquerda.


que

Se as escutamos, se o nosso não nos é o risco,


gênio guia, grande

segura é a a nós, a nossa convicção e que nas obras


queda. Quanto

de o único é o mais vale um voo arrojado


gênio guia gênio, que

deste a marcha refletida e regular da servil imitação.


que

D. J. G. de Magalhães.
POÉTICAS.

PRHCIDIDAS DE UM.

BOSQUEJO DA HISTORIA DAPOESIA BRASILEIRA,

PER

fcit r|UR«J»m
tentis, •> non dalur ultra.
prodire
¦oitrin.
UMUWVVM UMVWtVW VV*>

RIO DE JANE1110.

1'RANCliZA, RUA DE S. JOSÉ N« 04.


TXtOGRAFlIIA

Il841.
Bosquejo da história

da brasileira
poesia

(1841)

/. Introdução

Joaquim Norbêrto de Souza e Silva


I.

Do lodos
iodos os auioricanos
americanos 6
ó sem exagera^So
cxngernção alguma o
povos

brasilciro
brasileiro o mais
mm digno da veneraQao
veneração dos estrangeiros,
estrangeiros. O
pri-
mciro
aieiro conheceu a necessidade do
de sua independencia,
independence,
que quo
inlcntou
intentou vezes sacudir o da escravidao
escravidão e
o constituir-sc
consliluir-so
per jugo

nagao
nação livre e
c independcute,
independente, foi tambem
também o ensaiou-
prirneiro
primeiro que

se nos diversos ramos da litteratura. Ainda nao


não eramos
éramos nagao
nação

o
c tiuhamos
Unhamos historiadores , que
historiadores, memorassem as da
ja glorias pa-
tria,
trio, e
c celebrassem as victoria6
victoriaí do seus concidadaos,
concidadãos,
poetas que

recommendando
recommcndando seus nomes o feitos
e á
& ninda
ainda nao
não
posleridadc;
posteridade;

eramos
éramos na^ao,
nação, mas umn colonia avexada caplivciro,
coptivciro, ondo
pelo

a instruc<;ao
instrucção era um delicto
delicio e os livros expressamente
prohi-
Lidos,
hidos, e
o da lam
lauí somente o uorne
nome conhecido fama
patria pela
das
dasproducçoensseleclnsde do suns
suas magestosas
mogestosas mattas,
maltas, din-
dia-
produc<;oensselectns pelos

mantes
mantos do seus scrros
serros eprcciosos
epreciosos metaesde
melaesde suns
suas minas; enfim

dogura
doçura do
de seu clima , belleza do
de scu
seu ceo o
e furtilidado
fertilidade
pela pela

do seu tcrrcno,
terreno, cortado maiores rios do mundo, e
polos
pelos ja

uma litteratura, sinao


sinão legilimamcnto
legitimamente nacional,
possuiamos
— <|ue raras o sao—,
são—, ao mcnos
menos em , c
e (pic ao
que parto quo prezento
prezonlo

constitue-nos como naeao


nação iria
litteraria
liller uma dnsprimeiras
das das duas
primeiras
I. Introdução

De todos os americanos é sem exageração alguma o


povos

brasileiro o mais digno da veneração dos estrangeiros. 0


primeiro

que conheceu a necessidade de sua independência, intentou


que

por vezes sacudir o da escravidão e constituir-se nação livre e


jogo

independente, foi também o ensaiou-se nos diversos


primeiro que

ramos da literatura. Ainda não éramos nação e já tínhamos

historiadores memorassem as da pátria, e poetas


que glórias que

celebrassem as vitórias de seus concidadãos, recomendando seus

nomes e feitos à ainda não éramos nação, mas uma


posteridade;

colônia avexada cativeiro, onde a instrução era um delito e


pelo

os livros expressamente e da tão somente o nome


proibidos, pátria

conhecido fama das seletas de suas majestosas


pela produções

matas, diamantes de seus cerros e metais de suas


pelos preciosos

minas; enfim doçura de seu clima, beleza de seu céu e


pela pela

fertilidade de seu terreno, cortado maiores rios do mundo, e


pelos

uma literatura, senão legitimamente nacional -


já possuíamos que

raras o são -, ao menos em o ao constitui-nos


parte, que presente
como nação literária, uma das das duas Américas e a
primeiras
1G
lfl BOSQUBJO
I?OSQT"EJO DA IIISTOIUA.
HISTORIA.

Aruerieas
Américas ea
ca unica
unicn <la
da meredional.
merodional. Abrn-se
Abra-se a historia do lira-
sil; cis-ahi
eis-ahi a cada uma fac^ao
facção brilhante,
pagjna
pngjna eis-ahi a cada

um magnanimo,
iiugnanimo , apezar
apeznr da escravidão
cscravidao
periodo
período povo o op
oj>-
quo
que
, arrancando uni brado
hrado heroico,
heróico, dando um
uni signal
prime
primo do
de sua

cxistencia ! Si extrangeiros ousam de invadir as terras da


patria,
pátria,
hnrdidos
hardidos siio
são os seapresentam
se apresentam rccha^al-os.
rcchaçal-os.
primeiros qus
que para
Os
üs nomcs
nomes de um bravo 1). Antonio
Antônio Felippe Camnrao,
Camarão, de um

intrepido
intrépido Rabelliuho,
Rabellinho, de iin
un impavido
impávido Negreiros, de hum cora-

Henrique Dias, de
dc dons tcrriveis
terríveis Martim-Affonsos,
Marlim-Affonsos,
joso de um

forle
forte Jorge de
dc Albuquerque C.oclho
Coelho, , a as cm-
em-
quem grandes
tanto enthusiasniavam
enthusiasníavam , que so
se deixou arrastar sen
seu
prezas
prczas pclo
pelo
niau
mau fudo
fado As
ás campinas ensanguentndas
ensangüentadas de Alcaccrquiver,
Alcncerquiver, de

uma valentc
valente fluminense, coino
como fora 1).
D. Maria
Marin Ursula de Abreu
Abrcu

Alencastre, do uma brava pcrnarnbucann, conio


como se moslraraD.
mostrara D.
pernambucano,

Clara Fetippa
Felippa Cnniarao
Camarão , de.
de, uma deslimidnpaulistann,
dcgtimidopaulistana, como se

destinsuirp
destinguir,*» I),
l). ilosa Maria de
dc Siqueira, e
o de lanlos
lautos outros vaile-
1
*

rosos Brasileiros, estSo


estão ligndos
ligados ans
aos mais memoraveis
memoráveis aconteei-

mfentos,
mentos, esmaltam as laudas
landas dc nossa
nossa historia c etcrnisa-
eternisa-
que

dos em versos do ouro nossos melhorc*


melhores
per poolas.
poclas.

vencidos fossem conquistadores


Antes que pelos
pulos portugueses,
portuguozes,

de heroes
heroos sn'idos
saídos de um cantinho
canlinho da Kuropa
Europa ,
um
per punhado
«>s brasileiros, cujo D'mis
Dmis era TupA,
TapA, essa escellencin,
excellencia,
os selvagens

espantosa, Ihes
lhes fallava
faltava tupa^unvnga,
tiipaçuntinga,
essa que
qua pelo
potencia
potência
se lhes ro»'elnva
Ihes revelava tupaberaba,
lupabr.raba, era
(pie era o
n trovao;
trovão; que pelo que
que
Icmplo cram
eram as magestosas
mngestosas florestas, eleva-
0
o relâmpago;
relampago; cujo

nmcricanos
americanos sua imagsnncao
imaginação ardento
nrdento
vnm-sp
vam-se A
h cima dos povos pela

scenas, em
mi
e As incanlndore»
iVicantndores que quadros portentosos
poetica.
poética.
todps
todos os sitios dc nossa os ins-
ofierecc a nature/a
natureza per patrin,
patria,

rudes c
rndesc barbards
barbàtos os faziam Os
e
o de povos poetas.
pirava, povos
o
0 Uio
Rió dc
de Janeiro, os Tupinambas
Tupinamliás
Tamoyos , habftavam
habitavam que
que
se assimilhnvam
assimilhavam , e os lamosos
famosos Coethés
Coethes ,
cm costumes a cites
ellcs

antes o cangtor
canglor horrivel das
sempre voavam a que
que guerra,
confuses
conTusos do-
dos marakas,
marahas, e suas hor-
"uerreiras
'J inúbins
hultfos , o;
o? so:i<
so:i«

r*
única da meridional. Abra-se a história do Brasil, eis aí a cada

página uma facção brilhante, eis aí a cada um povo


período

magnânimo, apesar da escravidão o oprime, arrancando um


que

brado heroico, dando um sinal de sua existência! Se estrangeiros

ousam invadir as terras da ardidos são os se


pátria, primeiros que

apresentam rechaçá-los. Os nomes de um bravo d. Antonio


para

Felipe Camarão, de um intrépido Rabelinho, de um impávido

Negreiros, de um corajoso Henrique Dias, de dois terríveis Martim-

Afonsos, de um forte Jorge de Albuquerque Coelho, a as


quem

grandes empresas tanto entusiasmavam, se deixou arrastar


que

pelo seu mau fado às campinas ensangüentadas de Alcácer-Quibir,

de uma valente fluminense, como fora d. Maria Ursula de Abreu

Alencastre, de uma brava como se mostrara d.


pernambucana,

Clara Felipa Camarão, de uma destemida como se


paulistana,

distinguira d. Rosa Maria de Siqueira, e de tantos outros valorosos

brasileiros, estão ligados aos mais memoráveis acontecimentos,

que esmaltam as laudas de nossa história e eternizados em versos

de ouro nossos melhores


por poetas.

Antes vencidos fossem conquistadores


que pelos portugueses,

por um de heróis saídos de um cantinho da Europa,


punhado

os selvagens brasileiros, cujo Deus era Tupã, essa excelência,

essa espantosa, lhes falava tupctçununga,


potência que pelo que

era o trovão; se lhes revelava tupaberaba, era o


que pelo que

relâmpago; cujo templo eram as majestosas florestas, elevavam-

se acima dos americanos sua imaginação ardente


povos pela

e As encantadoras cenas, em
poética. que quadros portentosos

oferece a natureza todos os sítios de nossa os


por pátria,

inspiravam, e de povos rudes e bárbaros os faziam povos poetas.

Os Tamoios, o Rio de Janeiro,


que habitavam os Tupinambás que

em costumes a eles se assemelhavam, e os famosos Caetés, sempre

que voavam a antes o clangor horrível das


guerra, que guerreiras

inúbias, os sons confusos dos marakas, e suas horríssonas


DA POF.SIA BRASILEIRA.
BRASILEIRA. 17
17

risonas voeifern^ocs,
vociferoçÕcs, cadcnciassem o hymno tia
da annun-
guerra,
ciassem o combate; antes inllimmadas
inllammadas as suas settas
scttas levos-
levas-
que

seui
sem a morto aos contrarios
contrários co incendio
incêndio as suas lahas, reccbiam
recebiam

JnspiragScs
inspirações de
do valor e dc
de constancia
constando canticos
cânticos dc
de
pelos gucrrn
guerrn
celcbravam
celebravam sens
seus Tyrleus aos sons dc
de suas murimuris,
muremurés, e
que

a victoria
vicloria Ihes
lhes era canteens
cançoens deglorio
de Ihcs
lhes vo-
quandoa
quando propicia, glorio

ovam
«vam d'entre
d'cntre os labios,
lábios. Conquistados, submctlidos
submcltidos ao
jugo,

desappareceram
desopporcceram de
do sobrc
sobre n lace
face da torra,
terra, como dcsapparecem
dcsapparccem

as nagoens
naçoens bcllicosas.
bellicosaí.

Entfio
Então vierom
vieram novos Brasiloiros
Brasileiros , filhos dos conqnistadores
conquistadores

bom
bem inspirados
portuguezes, que que
quo pelas piclurcscas
piclurescas payza-
pnyza-

brasilicas, ceo dos tropicos, sol fulgcnle


fulgente da
d:»
gens pelo pelo

nao
não os souberam cantar, antes exemplo abriram,
America,

de^graQa
desgraça seguido foi longo tempo.
tempo. Quando devi-
que por per

dos costumes, das usanQas


nsançns e dos
am sc
se apoderar palrios
pátrios prc-
pro-

das tradiccoens
tradicçoens das t ri bus,
tribus, cs nossas
nossasflo-
fio-
conccitospopularcs,
conceitos populares, qucos
que

com dessem cores e


c fei<;ocns
feiçoens nadonacs
nadonaes A
á
restas , que
povoaram
povooram

nbratjaram
abraçaram as ideias
idéias do As
ás nos-
grego polytheismo,
polythcismo, que
pocsin,
poesia,
abordaram coin
com as armas deixaram
deixaram-se
se
sas portnguczas;
portuguesas;
praias
das bellezas dos o romanos e imitar
fascinar grcgos
gregos poctas,
poetas,

dc
de Canities,
Camões, dc
de Bemardcs,
Bemardes, de Caminha, dc
do Fcr-
Fer-
proenraram
procuraram
Oriente e tantos outros bucolicos
nao
não Alvarcs
Alvares do portuguezes,
porluguezes,

em iam us
ús margens do Tejo.do
Tejo,do
o
c metamorpboscados
metamorphoseados pastorcs
pastores
seus rebanhos! L';dta
Falta de rellexao,
reflexão,
Mondcgo
Mondego ou doDouro,
do Douro, pascer

tnnta
tanta da cm
em suas
sim melhores com¬
com-
crro
erro grnvissimo,
gravíssimo, que quebra
quebrada

lodos;
Iodos; alguns houve, ,
hotivc si bem cm
1 Mas ncm
nem quo
que
posicoens!
positions
admiradores das acçoens
actions
diminuto numero,
numcro, que gloriosas, quo
que

de
dc uossa
nossa histuria,
histeria, canlaram,
cantaram, e
o cantaiam
cantai am
illustram
illuslram as
paginas
nao
não movidos de
do vil . mas
como o valo
ovate lusitano, premio
prêmio pelo
çomo
almejar outro sinao
sinão a
nmor
ninor da sem almcjar gnlardao
galardão gloria.
pallia,
patria,
mais nobres assurnptos.
ossumpios.
E d'esscs
d'esses cantos, inspirados pelos

, dignos dos
movidos a mais hcroicn
heróica paixao,,
paixão |freniios
pn-mios que
quo
pel
pela
raros clrgaram
chagaram a nossos dias,
dias. al-
at-
ambicionavam seus auctorcs,
auetores,
vociferações, cadenciassem o hino da anunciassem o
guerra,

combate; antes inflamadas as suas setas levassem a morte


que

aos contrários e o incêndio às suas tabas, recebiam inspirações

de valor e de constância cânticos de guerra celebravam


pelos que

seus Tyrteus aos sons de suas murémurés, e quando a vitória

lhes era canções de Ilies voavam dentre os lábios.


propícia, glória

Conquistados, submetidos ao jugo, desapareceram de sobre a face

da terra, como desaparecem as nações belicosas.

Então vieram novos brasileiros, filhos dos conquistadores

portugueses, que bem que inspirados pelas pitorescas paisagens

brasílicas, céu dos trópicos, sol fulgente da América, não


pelo pelo

os souberam cantar, antes exemplo abriram, desgraça


que por

seguido foi longo tempo. deviam se apoderar dos


por Quando

pátrios costumes, das usanças e dos das


preconceitos populares,

tradições das tribos as nossas florestas com


que povoaram, que

dessem cores e feições nacionais à abraçaram as idéias


poesia,

do às nossas abordaram com as


grego politeísmo, que praias

armas deixaram-se fascinar das belezas dos e


portuguesas; gregos

romanos e imitar de Camões, de Bernardes, de


poetas, procuraram

Caminha, de Fernão Alvares do Oriente e tantos outros bucólicos

portugueses, e metamorfoseados em iam às margens de


pastores

Tejo, do Mondego ou do Douro, seus rebanhos! Falta de


pascer

reflexão, erro tanta dá em suas melhores


gravíssimo, que quebra

composições! Mas nem todos; alguns houve, se bem em


que

diminuto número, admiradores das ações


que gloriosas, que

ilustram as de nossa história, cantaram, e cantaram como


páginas

o vate lusitano, não movidos de vil, mas amor da


prêmio pelo

pátria, sem almejar outro senão a glória. E desses cantos,


galardão

inspirados mais nobres assuntos, movidos mais heróica


pelos pela

paixão, dignos dos ambicionavam seus autores, raros


prêmios que
noSQPpJO I)A lITSXOltlA

travessando as ondas do iam ditalados nnnos ! Todo ostc mal ema-

na da tyrantua sobro a imperou;


quo patria colonos, como era-
inos. Dão estabelecer, como
podíamos adiante veremos , olli-

cinas typographicas, multiplicassem


que as copias das obras
devidas a do nossoS auetores: embaldo
pouna so lio-
procurará
Brasília, esse cujo assumpto
jcpcla por poema, ó a
primeira
da historia da conquista do Brasil! Embalde
pagina se buscará

os manuscriptos de outros muitos illustrados


preciosos Brasi-

loiros. Todos esses ensaios , todos esses esforços do um


povo
na infância se dava ao cultivo dos diversos
que ja maios da lit-

teratura , e luetava com a hydra da invasão hollandeza, bare-

toando com Iam denodados u vida liberdade,


guerreiros pela
e o mais é, venceodo-os, derrotando-os e exterrninando-os
, so,

ao meio dns trevas da ignorancia ; as raras


perderam publicadas,
cintam numero de exemplares o foram,
pequeno que poucas che-

aos nossos dias.


garam

Releva ainda notarmos a mania dominou os nossos


que po-
ctas o que não deixa de ser falai á nossa litleralura
, pois que
de algumas obras a defrauda.

Antes o de ferro dos tyrannos Philippes subjugas-


que jugo

so a Lusitania , e escriplorcs houve, bem em não


poetas que

notável numero, surdos aos brados de Ferreira, escreveram


que

em extrangeiros idiomas o no castelhano, como


principalmente

ninguém ignora obras o comprovam; depois


pelas que porém

Portugal sentiu o dos llie lançara a


que pezo grilhoons, que pre-

bespanhola, e viu domado o valor de seus soldados e


potência
—aliazbeneméritos! —que
cabos, apparcceram ,
portnguezos

não se envergonharam da honrar a linguo do seus opprcssorcs,

sua — ialha do talha


menos rica o suave do a ; patriotismo,
que

vergonhosa de nacional!
pundonor

no e envilecido Portugal
E ossn epidemia , que pobre gras-

savn de accommcttor aos brasileiro?. \ cr-


, não deixou poetas
chegaram a nossos dias, atravessando as ondas de tão dilatados

anos! Todo este mal emana da tirania sobre a pátria imperou;


que

colonos, como éramos, não estabelecer, como adiante


podíamos

veremos, oficinas tipográficas, multiplicassem as cópias das


que

obras devidas à de nossos autores; embalde se procurará hoje


pena

pela Brasília, esse cujo assunto é a primeira da


por poema, página

história da conquista do Brasil! Embalde se buscará os


preciosos

manuscritos de outros muitos ilustrados brasileiros. Todos esses

ensaios, todos esses esforços de um na infância se


povo que já

dava ao cultivo dos diversos ramos da literatura, e lutava com a

hidra da invasão holandesa, bareteando com tão denodados


[sic]

guerreiros a vida liberdade, e o mais é, vencendo-os,


pela

derrotando-os e exterminando-os, se ao meio das trevas


perderam

da ignorância; as raras em tão número de


publicadas, pequeno

exemplares o foram, chegaram aos nossos dias.


que poucas

Releva ainda notarmos a mania dominou os nossos poetas


que

e não deixa de ser fatal à nossa literatura, de algumas


que pois que

obras a defrauda.

Antes o de ferro dos tiranos Filipes subjugasse a


que jugo

Lusitânia, e escritores houve, bem em não notável


poetas que

número, surdos aos brados de Ferreira, escreveram em


que

estrangeiros idiomas e principalmente no castelhano, como

ninguém ignora obras o comprovam; depois


pelas que porém

que Portugal sentiu o dos lhe lançara a


peso grilhões, que

prepotência espanhola, e viu domado o valor de seus soldados e

cabos, apareceram - aliás beneméritos! - não se


portugueses que

envergonharam de honrar a língua de seus opressores, menos rica

e suave do a sua; - falha de falha vergonhosa de


que patriotismo,

pundonor nacional!

E essa epidemia, no e envilecido Portugal


que pobre grassava,

não deixou de acometer aos brasileiros. Verdade é que dois


poetas
DA POESIA nUASILElRA.
BRASILEIRA. I!)
I!)

dado
datlc <3
11 dous
dons on
011 trcz
Ircz do
dc nossos
que auctorcs em
cm caslelhano
castelhano

compozcram
compozcram, , uias outros vieram (jue acharam fjuo
queacharam so
se lhes nao
não
quo
levaria em mal o escrever cm
em diversas línguas
linguas , como Claudio
Cláudio

Manuel da Costa , ijue


(jue cabalmente conhecendo o ,
portugucz
portuguez
brindou vezes o ilaliano
italiano com bonitas can<jonetas
cançonetas
per e sonetos;

como Manuel o Lo I li o
JBotelho
13 de Oliveira,
Oliveira t cjuc
que querendo dor
dar de
dc
provas
provos
saber caslelhano,
castelhano, lalim
latim e italiano deu á
portugucz,
portuguez, & luz um

volume de
dc n'estes
n'estcs idiomas cscriptas,
escriptas, a íim
fim de estimar-se,
pocsias
poesias

nao
não clegancia
elegancia dos conceitos ao menos
quando pola pola multi-

das linguas! (*) E como outros muitos sc


se entre-
plicidndc
plicidnde que
do todo ao lalim
latim , olvidando-se
olvidando-so de honrar o
garam portugucz
portuguez
com as suas composites,
composições, ir augmenlar o exercito dc lali-
lati-
por

tinos e alguns
nlguns s:\be
sabe Deus como
poetas,

Iloje, ventura, essa mania, esse dissipou-so


por peduntismo

com os brados do celebro Francisco Manuel, mais activos e

fortes os de Ferreira , c feliz de nos


nós si os douses
deuses do
quo
que paga-

nismo não
nao mais inspirarcm
inspirarem aos de nossa ! Por ven¬
vcu-
poetas patria

tura nao
não nos approximamos a essa epocha ? 0
O fluminense,
genio
gênio

o auctor
auetor dos Suspiros e saudades, deu o signal
poeticos
poéticos ja para
paro

a reform-J.
reform-j. Com o sou
seu estnndarte
estandarte clle tnarcha
marcha a frcntc
frente da cspe-
espe-

raixjosa
rançosa mocidade brasilcira,
brasileira, bradando-lhe: «— A vante,

a 6 nossa ! —
nossa! » Chefc
Chefe de uma revolu<;ao
revolução toda
quo
que posteridade

clle
elle marcou nos nnnaes
annaes da littcratura do novo mun¬
mun-
littcrarioj

do uma epocha brilhantc


brilhante do
poesia.

rosto a esses auctorcs


auetores de estrangeiras obras,
Dando de pas-

olhos
ollios tempos,
tempos» mencionando
mcncionando os auc*
auc¬
saremos os pelos passados
passodos

mais se distinguiram ,
sedistinguiram, csboQando
esboçando rapidamcnte
rapidamente a bio-
torcs
tores que
um e
c analysando as suas obras. Mas antes dc
do
de
dc cada ,
graphia
em lam
Iam trabalho, confessamos que sobre mui-
trab»lho,confessamosqucsobremai-
entrarmos penoso
o nosso não
nao nos ser
tas obras nao
não emittiremos juizo, por possi-

obstante os csforcos
esforços n6s
nós leitos.
feitfls.
vel obtel-as, nao
não grandes
graudes per


Vrjn-sr da
dft Mustca
Musicu do Parnaso.
(*)
(*J ja-sr j>rologf>
j>rologo
ou três de nossos autores em castelhano compuseram, mas outros

vieram acharam se lhes não levaria em mal o escrever em


que que

diversas línguas, como Cláudio Manuel da Costa, cabalmente


que

conhecendo o brindou vezes o italiano com bonitas


português, por

cançonetas e sonetos; como Manuel Botelho de Oliveira, que

dar de saber castelhano, latim e


querendo provas português,

italiano deu à luz um volume de nestes idiomas escritas,


poesias

a fim de estiinar-se, não elegância dos conceitos ao


quando pela

menos multiplicidade das línguas 1 E corno outros muitos


pela (*)

se entregaram de todo ao latim, olvidando-se de honrar o


que

com as suas composições, ir aumentar o exército de


português por

latinos e alguns sabe Deus como!


poetas,

Hoje, ventura, essa mania, esse dissipou-se


por pedantismo

com os brados do célebre Francisco Manuel, mais ativos e fortes

que os de Ferreira, e felizes de nós se os deuses do paganismo

não mais inspirarem os de nossa Por ventura não


poetas pátria!

nos aproximamos a essa época? O gênio fluminense, o autor dos

Suspiros e saudades, deu o sinal a reforma. Com


poéticos já para

o seu estandarte ele marcha à frente da esperançosa mocidade

" -
brasileira, bradando-lhe: Avante, a posteridade é nossa!"
que

Chefe de uma revolução toda literária, ele marcou nos anais da

literatura do novo mundo uma época brilhante de poesia.

Dando de rosto a esses autores de estrangeiras obras,

os olhos tempos, mencionando os


passaremos pelos passados

autores mais se distinguiram, esboçando rapidamente a


que

biografia de cada um, e analisando as suas obras. Mas antes de

entrarmos em tão trabalho, confessamos sobre muitas


penoso que

obras não emitiremos o nosso não nos ser possível obte-


juízo, por

Ias, não obstante os esforços nós feitos.


grandes por

(*) Veja-se prólogo da Música do Parnaso.


[UTENSÍLIOS INDlCENASI. DESENHO EM NANQUIM. COLEÇÃO ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, [17-I
POETAS BRASILEIROS

OS TEMAS INDÍGENAS

Grecório de Maios

José de Santa Rita Durão

Basíeío da Gama

Gonçalves Dias

Bernardo Guimarães

José de Alencar

Gastro Alves

Luiz F. Papi

Jorge Tufic

Gilberto Mendonça Teles

Walmir Avala

Olca Sanaiiv

Affonso Romano de Sant'Anna

Roberto Piva

Graça Graúna

Bernardo Vii.hena

ElIANE PoTlCUARA

Chacal

Ailton Ivhenak

André Vallias
Gregório de Matos
(1636-1696)

Aos mesmos Caramurus

Há cousa como ver um Paiaiá

Mui prezado de ser Caramuru

Descendente de sangue de Tatu,

Cujo torpe idioma é Cobepá?

A linha feminina é carimá,

moqueca, caruru,
pititinga,

mingau de vinho de caju


puba,

num de Piraguá.
pisado pilão

A masculina é um Aricobé,

Cuja filha Cobé c'um branco Pai

Dormiu no de Passe.
promontório

O Branco é um marau veio aqui:


que

Ela era uma índia de Maré:

Cobepá, Aricobé, Cobé, Pai.


José de Santa Rita Durão
(1722-1784)

Caramuru: épico do descobrimento da


poema

Bahia
(excertos)

Canto II

XLIV

Estando a turba longe de cuidá-lo,

fica o bárbaro ao estremecido,


golpe
e cai terra, no tremendo abalo
por

da chama, do fracasso, e do estampido;

qual do hórrido trovão com raio e estalo

algum a cai, fica aturdido,


junto quem
tal Gupeva ficou, crendo formada

no arcabuz do Diogo uma trovoada.

[...]

XLV

Ioda uma terra exclama e


prostrada, grita
a turba rude, em mísero desmaio,

e faz o horror, estúpida repita


que
— — temendo
Tupá, Caramuru! um raio.

Pretendem ter por Deus,


quando o
permita,
o estão vendo em ensaio,
que pavoroso
entre horríveis trovões do márcio
jogo,
vomitar chamas, e abrasar com fogo.

XLVI

Desde esse dia, é fama nome


que por
do Caramuru foi celebrado
grão

o forte Diogo; e escutado, dome


que,
este apelido o bárbaro espantado.

Indicava o Brasil no sobrenome,

que era um dragão dos mares vomitado:

nem doutra arte entre nós a antiga idade

tem Jove, Apoio, e Marte deidade.


por

[...]
LX1

Dentro da grã choupana a cada


passo

de lenho a lenho a rede extensa;


pende

ali descanso toma o corpo lasso;

ali se esconde a marital licença:

repousa a filha no materno abraço

em rede especial, tem suspensa:


que

nenhum se vê (que é raro) em tal vivenda,

a mulher de outrem nem a filha ofenda.


que

LXI1

Ali chegando a esposa fecundada

a termo feliz, nunca se omite


de na rede o a prole amada,


pôr pai

onde o amigo e parente o felicite:

e como se a mulher sofrerá nada,

tudo ao reclinado então se admite,


pai

fora, tendo sido em modo sério,


qual

seu e não das mães, o


próprio, puerpério.

LXIII

Quando na rede encosta o tenro infante,

de negro todo, e de vermelho;


pinta-o

um arco frecha volante,


pequeno põe,

e um bom cutelo ao lado; e em tom de velho,

com discurso e zelante,


patético,

vai-lhe inspirando o conselho;


paternal

que seja forte, diz, (como se o ouvisse)

que se saiba vingar, não fugisse.


que

LXIV

Dá-lhe depois o nome, se apropria


que

por semelhança ao Infante iguala,


que

ou com o espera célebre algum dia,


que

senão é defeito o assinala:


por que

a algum na fronte o nome se imprimia,

ou no verniz, têm
pintam que por gala;

e segundo a figura se lhe observa,

dão-lhe o nome de fera, fruto, ou erva.


Basílio da Gama
(1741-1795)

0 Uraguai
(excertos)

Canto II

•••]

Setas de novo agora recebia,

para dar outra vez à


princípio guerra.

Quando o ilustre Espanhol, que governava

Montevidio alegre, airoso, e pronto

as rédeas volta ao rápido cavalo,

e cima de mortos, e feridos,


por

que lutavam co'a morte, o índio afronta.

Cepé, o viu, tinha tomado a lança,


que

e atrás deitando a um tempo o corpo, e o braço,

a despediu. Por entre o braço, e o corpo

ao ligeiro Espanhol o ferro passa:

rompe, sem fazer dano, a terra dura,

e treme fora muito tempo a hástea.

Mas de um a Cepé na testa, e peito


golpe

fere o governador, e as rédeas corta

ao cavalo feroz. Foge o cavalo,

e leva involuntário, e ardendo em ira

por todo o campo a seu Senhor; e ou fosse

que regada de sangue aos cedia


pés

a terra, ou as mãos em falso,


que pusesse

rodou sobre si mesmo, e na caída

lançou longe a Cepé. Rende-te, ou morre,

grita o Governador; e o Tape altivo,

sem responder, encurva o arco, e a seta

despede, e nela lhe a morte.


prepara

Enganou-se esta vez. A seta um


pouco

declina, e açouta o rosto a leve


pluma.

Não deixar o vencimento incerto


quis

mais tempo o Espanhol, e arrebatado


por

com a pistola lhe fez tiro aos


peitos.

Era o espaço, e fez o tiro


pequeno

no corpo desarmado estrago horrendo.

Viam-se dentro rotas costas


pelas

palpitar as entranhas. Quis três vezes


levantar-se do chão: caiu três vezes,

e os olhos nadando em fria morte


lhe cobriu sombra escura, e férreo sono.

[...]

Canto III

[•••]

Acorda o índio valeroso, e salta

longe da curva rede, e sem demora

o arco, e as setas arrebata, e fere

o chão com o sobre o largo rio


pé: quer

ir a peito a contrastar co'a morte.


peito

Tem diante dos olhos a figura

do caro amigo, e inda lhe escuta as vozes.

Pendura a um verde tronco as várias penas,

e o arco, e as setas, e a sonora aljava;

e onde mais manso, e mais o rio


quieto

se estende, e espraia sobre a ruiva areia,

e turbado entra; e com água


pensativo,

cima do as mãos, e os olhos


já por peito

levanta ao Céu, ele não via, e às ondas


que

o corpo entrega. [...]


Gonçalves Dias
(1823-1864)

I-Juca-Pirama

No meio das tabas de amenos verdores,

Cercadas de troncos — cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos (Taltiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na ein densas coortes


guerra, que

Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de


glória,

Já prélios incitam, cantam vitória,


Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, valentes!


guerreiros

Seu nome lá voa na boca das


gentes,

Condão de prodígios, de e terror!


glória

As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,

As armas lançando-as ao rio,


quebrando,

0 incenso aspiraram dos seus maracás:

Medrosos das os fortes acendem,


guerras que

Custosos tributos ignavos lá rendem,

Aos duros sujeitos na


guerreiros paz.

No centro da taba se estende um terreiro,

Onde ora se aduna o concilio


guerreiro

Da tribo senhora, das tribos servis:

Os velhos sentados d'outrora,


praticam

E os moços inquietos, a festa enamora,


que

Derramam-se em torno dum índio infeliz.

é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,


Quem

Sua tribo não diz: — de um remoto


povo

Descende certo — dum


por povo gentil;

Assim lá na Grécia ao escravo insulano

Tornavam distinto do vil muçulmano

As linhas corretas do nobre


perfil.
Por casos de caiu
guerra prisioneiro

Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro

Assola-se o teto, o teve em


que prisão;

Convidam-se as tribos dos seus arredores,

Cuidosos se incumbem do vaso das cores,

Dos vários aprestos da honrosa função.

Acerva-se a lenha da vasta fogueira,

Entesa-se a corda de embira ligeira,

Adorna-se a maça com penas gentis:

A custo, entre as vagas do da aldeia


povo

Caminha o Timbira, a turba rodeia,


que

Garboso nas de vário matiz.


plumas

Entanto as mulheres com leda trigança,

Afeitas ao rito da bárbara usança,

0 índio cativo acabar:


já querem

A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,

Brilhante enduape no corpo lhe cingem,

Sombreia-lhe a fronte canitar.


gentil

II

Em fundos vasos d alvaccnta argila

Ferve o cauim;

Enchem-se as copas, o prazer começa,

Reina o festim.

0 prisioneiro, cuja morte anseiam,

Sentado está,

0 prisioneiro, outro sol no ocaso


que

Jamais verá!

A dura corda, lhe enlaça o colo,


que

Mostra-lhe o fim

Da vida escura, será mais breve


que

Do o festim!
que

Contudo os olhos d'ignóbil


pranto

Secos estão;

Mudos os lábios não descerram queixas

Do coração.
Mas um martírio, encobrir
que não
pode,
Em rugas faz

A mentirosa do rosto
placidez

Na fronte audaz!

Que tens, temor te assalta


guerreiro? Que

No horrendo?
passo

Honra das tabas nascer


que te viram,

Folga morrendo.

Iolga morrendo;
porque além dos Andes

Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

Da fria morte.

Rasteira exposta ao sol,


grama, à chuva,

Lá murcha e
pende:
Somente ao tronco,
que devassa os ares,

O raio ofende!

Que foi? Tupã mandou ele caísse,


que

Como viveu;

E o caçador o avistou
que prostrado

Esmoreceu!

Que temes, ó Além dos Andes


guerreiro?

Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

Da fria morte.

III

Em larga roda de novéis


guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,

A do sacrifício cabe
quem as honras.

Na fronte o canitar sacode em ondas,

0 enduape na cinta se embalança,

Na destra mão sopesa a iverapeme,

Orgulhoso e — Ao
pujante. menor
passo
Colar d'alvo marfim, insígnia d'honra,

Que lhe orna o colo e o ruge e freme,


peito,
Como feitiço não sabido
que por

Encantadas ali as almas


grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem

Serem e brasão
glória d'imigos feros.
"Eis-me
aqui", diz ao índio
prisioneiro;
"Pois
fraco, e sem tribo, e sem família,
que

As nossas matas devassaste ousado,

Morrerás morte vil da mão de um forte."

Vem a terreiro o mísero contrário;

Do colo à cinta a rnuçurana desce:

"Dize-nos
és, teus feitos canta,
quem
"Ou
se mais te apraz, defende-te." Começa

0 índio, ao redor derrama os olhos,


que

Com triste voz os ânimos comove.


que

IV

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo Tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

Já vi cruas brigas,

De tribos imigas,

E as duras fadigas

Da
guerra provei;

Nas ondas mendaces

Senti pelas faces

Os silvos fugaces

Dos ventos amei.


que

Andei longes terras,

Lidei cruas
guerras,

Vaguei pelas serras

Dos vis Aimorés;

Vi lutas de bravos,

Vi fortes — escravos!
De estranhos ignavos

Calcados aos
pés. '59

E os campos talados,

E os arcos
quebrados,

E os coitados
piagas

Já sem maracás;

E os meigos cantores,

Servindo a senhores,

Que vinham traidores,

Com mostras de
paz.

Aos do imigo
golpes

Meu último amigo,

Sem lar, sem abrigo

Caiu a mi!
junto

Com rosto,
plácido

Sereno e composto,

O acerbo desgosto

Comigo sofri.

Meu a meu lado


pai

Já cego e
quebrado,

De ralado,
penas

Firmava-se em mi:

Nós ambos, mesquinhos,

Por ínvios caminhos,

Cobertos d'espinhos

Chegamos aqui!

0 velho no entanto

Sofrendo tanto

De fome e quebranto,

Só morrer!
qu'ria

Não mais me contenho,

Nas matas me embrenho,

Das frechas tenho


que

Me valer.
quero

Então, forasteiro,

Caí
prisioneiro

De um troço
guerreiro
Com me encontrei:
que

0 cru dessossego

Do fraco e cego,
pai
Enquanto não chego,

Qual seja — dizei!

Eu era o seu guia

Na noite sombria,

A só alegria

Deus lhe deixou:


Que

Em mim se apoiava,

Em mim se firmava,

Em mim descansava,

Que filho lhe sou.

Ao velho coitado

De ralado,
penas

.lá cego e quebrado,

— Morrer.
Que resta?

Enquanto descreve

O tão breve
giro

Da vida teve,
que

Deixai-me viver!

Não vil, não ignavo,

Mas forte, mas bravo,

Serei vosso escravo:

Aqui virei ter.

Guerreiros, não coro

Do choro;
pranto que

Se a vida deploro,

Também sei morrer.

Soltai-o! — Diz o chefe. Pasma a turba;

Os murmuram: mal ouviram,


guerreiros

Nem nunca um chefe dar tal ordem!


pôde

Brada segunda vez com voz mais alta,

Afrouxam-se as prisões, a embira cede,

A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

— Timbira, diz o índio enternecido,

Solto apenas dos nós o seguravam:


que

És um ilustre, um chefe,
guerreiro grande

Tu assim do meu mal te comoveste,


que

Nem sofres transposta a natureza,


que,

Com olhos onde a luz não cintila,



Chore a morte do filho o cansado,
pai

Que somente seu na voz conhece,


por
És
livre;
parte.
— E voltarei.

Debalde.

Sim, voltarei, morto meu


pai.
Não voltes!

li bem feliz, se existe, em não veja,


que

Que filho tem, chora: és livre;


qual parte!

Acaso tu supões me acobardo,


que

Que receio morrer!

Es livre;
parte!
Ora
não
partirei; quero provar-te

Que um filho dos Tupis vive com honra,

E com honra maior, se acaso vencem,

fia morte o passo afronta.


glorioso

Mentiste, um Tupi não chora nunca,


que
E tu choraste!... Parte; não
queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.

Sobresteve o Tupi: — arfando


em ondas

0 rebater do coração se ouvia

Precipite. — Do rosto afogueado

Célidas bagas de suor corriam:

Talvez o assaltava um
que pensamento...
Já não... na enlutada fantasia,
Que

Um um martírio ao mesmo tempo,


pesar,

Do velho a moribunda imagem


pai

Quase bradar-lhe ouvia: — Ingrato! Ingrato!

Curvado o colo, taciturno e frio.

Espectro d'homem, no bosque!


penetrou

VI

"—
Eilho meu, onde estás?

Ao vosso lado;

Aqui vos trago tomai-as,


provisões:

As vossas forças restaurar


perdidas,
E a caminho, e já!

Tardaste muito!

Não era nado o sol,


quando partiste,
E frouxo o seu calor sinto agora!

— Sim,
demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-ine nestas matas intrincadas,

Reaviei-me e tornei; irias urge o tempo;

Convém partir, e
já!
Que novos males

Nos resta de sofrer? — novas dores,


Que

Que outro fado Tupã nos


pior guarda?
As setas da aflição se esgotaram,

Nem novo golpe espaço intacto


para

Em nossos corpos resta.

Mas tu tremes!

Talvez do afã da caça...

Oh filho caro!

Um misterioso aqui me fala,


quê

Aqui no coração; fraude


piedosa

Será certo, não mentes nunca!


por que

Não conheces temor, e agora temes?

Vejo e sei: é Tupã nos aflige,


que

E contra o seu não valem brios.


querer

Partamos!... —

E com mão trêmula, incerta

Procura o filho, tateando as trevas

Da sua noite lúgubre e medonha.

Sentindo o acre odor das frescas tintas,

Uma idéia fatal correu-lhe à mente...

Do filho os membros apalpa,


gélidos

E a dolorosa maciez das plumas

Conhece — Foge, volta,


estremecendo:

Encontra sob as mãos o duro crânio,

Despido então do natural ornato!...

Recua aflito e pávido, cobrindo

Às mãos ambas os olhos fulminados,

Como teme ainda o triste velho


que

De ver, não mais cruel, mais clara,


porém

Daquele exício a imagem viva


grande

Ante os olhos do corpo afigurada.

Não era a verdade conhecesse


que

Inteira e tão cruel tinha sido;


qual

Mas funesto azar correra o filho,


que

Ele o via; ele o tinha ali presente;

E era de repetir-se a cada instante.

A dor a futura
passada, previsão

E o tão negro, ali os tinha;


presente

Ali no coração se concentrava,

Era num só, mas era a morte!


ponto
Tu
prisioneiro, tu ?

— Vós o dissestes. .6
Dos
índios?

— Sim.

— De
que nação?

Timbiras

E
a muçurana funeral rompeste,

Dos falsos mariitôs a maça...


quebraste

Nada fiz... aqui estou.

Nada! —

Emudecem;

Curto instante depois o velho:


prossegue
Tu
és valente, bem o sei; confessa,

Hzeste-o, certo, ou não foras vivo!


Nada fiz; mas souberam da existência

De um velho, em mim só vivia...


pobre que
E
depois?...

Eis-me aqui.

Fica essa taba?

Na
di reção do sol, transmonta.
quando
Longe?

Não muito.

Tens razão:
partamos.
E
quereis ir?...

Na direção do ocaso.

"Por
amor de um triste velho,

Que ao termo fatal chega,



Vós, concedestes
guerreiros,

A vida a um
prisioneiro.

Ação tão nobre vos honra,

Nem tão alta cortesia

Vi eu
jamais praticada

Entre os Tupis — e mais foram

Senhores em
gentileza.

"Eu
porém nunca vencido,

Nem os combates armas


por

Nem nobreza nos atos;


por

Aqui venho, e o filho trago.

Vós o dizeis
prisioneiro,
Seja assim como dizeis;

Mandai vir a lenha, o fogo,

A maça do sacrifício

E a muçurana ligeira:

Em tudo o rito se cumpra!

E eu for só na terra,
quando

Certo acharei entre os vossos,

Que tão gentis se revelam,

Alguém meus passos


que guie;

Alguém, vendo o meu peito


que

Coberto de cicatrizes,

Tomando a vez de meu filho,

De haver-me se ufane!"
por pai

Mas o chefe dos Timbiras,

Os sobrolhos encrespando,

Ao velho Tupi
guerreiro

Responde com torvo acento:

— Nada farei do dizes:


que

E teu filho imbele e fraco!

Aviltaria o triunfo

Da mais das tribos


guerreira

Derramar seu ignóbil sangue:

Ele chorou de cobarde;

Nós outros, fortes Timbiras,

Só de heróis fazemos —
pasto.

Do velho Tupi
guerreiro

A surda voz na
garganta

Faz ouvir uns sons confusos,

Como os rugidos de um tigre,

Que pouco a pouco se assanha!

VIII

"Tu
choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;

Pois choraste, meu filho não ésl

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres


guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres de vis Aimorés.


presa
'
Possas tu, isolado na terra,

Sem arrirrio e sem vagando,


pátria

Rejeitado da morte na guerra,

Rejeitado dos homens na


paz,

Ser das o espectro execrado;


gentes

Não encontres amor nas mulheres,

leus amigos, se amigos tiveres,

Tenl mm alma inconstante e falaz!

"Não
encontres doçura no dia,

Nem as cores da aurora te ameiguem,

E entre as larvas da noite sombria

Nunca descanso
possas gozar:

Não encontres um tronco, uma pedra,

Post a ao sol, às chuvas e aos ventos,


posta

Padecendo os maiores tormentos,

Onde a fronte
possas pousar.

"Que
a teus a relva se torre;
passos

Murchem a flor desfaleça,


prados,

E o regato límpido corre,


que

Mais te acenda o vesano furor;

Suas águas depressa se tornem,

Ao contacto dos lábios sedentos,

Lago impuro de vermes nojentos,

Donde festas como asco e terror!

"Sempre
o céu, como 11111 teto incendido,

Creste e punja teus membros malditos

E o oceano de denegrido

Seja a terra ao ignavo tupi!

Miserável, faminto, sedento,

Manitôs lhe não falem nos sonhos,

E do horror os espectros medonhos

Traga sempre o cobarde após si.

"Um
amigo não tenhas
piedoso

Que o teu corpo na terra embalsame,

Pondo em vaso d'argila cuidoso

Arco e frecha e tacape a teus pés!

Sê maldito, e sozinho na terra;

Pois a tanta vileza chegaste,


que

Que em da morte choraste,


presença

Tu, cobarde, meu filho não és."


IX

Isto dizendo, o miserando velho

A quem Tupã tamanha dor, tal fado

Já nos confins da vida reservara,

Vai com trêmulo com as mãos frias


pé, já

Da sua noite escura as densas trevas

Palpando. — Alarma! Alarma! — O velho


para

0 escutou é voz do filho,


grito que

Voz de ouviu
guerra que já tantas vezes

Noutra melhor. — Alarma! Alarma!


quadra
Esse momento só vale a
pagar-lhe

Os tão compridos transes, as angústias,

Que o frio coração lhe atormentaram

De e de — Vale, e de sobra.
guerreiro pai:

Ele em tanta dor se contivera,


que

Tomado súbito contraste,


pelo

Desfaz-se agora em copioso,


pranto

Que o exaurido coração remoça.

A taba se alborota, os descem,


golpes

Gritos, imprecações soam,


profundas

Emaranhada a multidão braveja,

Revolve-se, enovela-se confusa,

E mais revolta em mor furor se acende.

E os sons dos incessantes fervem.


golpes que

Vozes, estertor de morte


gemidos,

Vão longe ermas serranias


pelas

Da humana tempestade
propagando

Quantas vagas de enfurecido


povo

Contra um rochedo vivo se quebravam.

Era ele, o Tupi; nem fora


justo

a fama dos Tupis — o nome, a glória,


Que

Aturado labor de tantos anos,

Derradeiro brasão da raça extinta,

De um e um só se aniquilasse.
jacto por

Basta!
Clama o chefe dos Timbiras,

Basta,
guerreiro ilustre! Assaz lutaste,

E o sacrifício é mister forças. —


para

0 caiu nos braços


guerreiro parou,

Do velho o cinge contra o peito,


pai, que

Com lágrimas de bradando:


júbilo
"Este,
sirn, é meu filho muito amado!
que
"E
pois que o acho enfim, qual sempre o ti
"Corram
livres as lágrimas
que choro,
"Estas
lágrimas, sim, não desonram."
que

l m velho Timbira, coberto de glória,

Guardou a memória

Do moço do velho Tupi!


guerreiro,

E à noite, nas tabas, se alguém duvidava

Do ele contava,
que

Dizia — "Meninos, eu vi!


prudente:

"Eu
vi o brioso no largo terreiro

Cantar prisioneiro

Seu canto de morte, nunca esqueci:


que

Valente, como era, chorou sem ter pejo;

Parece vejo,
que

Que o tenho nest'hora diante de mi.

"Eu
disse comigo: infâmia d'escravo!
que

Pois não, era um bravo;

Valente e brioso, como ele, não vi!

E à fé vos digo: encanto


que parece-me

Que chorou tanto,


quem

Tivesse a coragem tinha o Tupi!"


que

Assiin o Timbira, coberto de


glória,

Guardava a memória

Do moço do velho Tupi.


guerreiro,

E à noite nas tabas, se alguém duvidava

Do que ele contava,


"meninos,
Tornava eu vi!"
prudente:
Bernardo Guimarães
(1825-1884)

0 elixir do
pajé

Que tens, caralho, que te oprime


pesar

Que assim te vejo murcho e cabisbaixo

Sumido entre essa basta


pentelheira,

Mole, caindo abaixo?


pela perna

Nessa inerencória e triste,


postura

Para trás tanto vergas o focinho,

Que eu cuido vais beijar, lá no traseiro,

Teu sórdido vizinho!

Que é feito desses tempos gloriosos

Em erguias as inflamadas,
que guelras

Na barriga me dando, de contínuo,

Tremendas cabeçadas?

Qual hidra furiosa, o colo alçando,

Co'a sanguinosa crista açoita os mares,

E sustos derramando

Por terras e mares,


por

Aqui, e além atira mortais botes,

Dando co'a cauda horríveis piparotes,

Assim tu, ó caralho,

Erguendo o teu vermelho cabeçalho,

Faminto e arquejante,

Dando em vão rabanadas espaço,


pelo

Pedias um cabaço!

Um cabaço! Que era este o único esforço,

Única empresa digna de teus brios;

Porque surradas conas e


punhetas

São ilusões, são petas,

Só dignas de caralhos doentios.

Quem extinguiu-te assim o entusiasmo?

Quem sepultou-te nesse vil marasmo?

Acaso teu tormento,


pra

Indefluxou-te algum esquentamento?


Ou em estéreis te cansaste,
pívias

Ficando reduzido a inútil traste?

Porventura do tempo a destra irada

Quebrou-te as forças, envergou-te o colo,

E assim deixou-te e
pálido pendente,

Olhando o solo,
para

Bem como inútil lâmpada apagada

Entre duas colunas


pendurada?

Caralho sem tesão é fruta chocha,

Sem gosto nem cheirume,

Lingüiça com bolor, banana podre,

E lampião sem lume

Teta não dá leite,


que

Balão sem candeia sem azeite.


gás,

Porém não é tempo ainda

De esmorecer,

Pois teu rnal inda


que pode

Alívio ler.

Sus, ó caralho meu, não desanimes,

Que ainda novos combates e vitórias

E mil brilhantes
glórias

A ti reserva o fomicante Marte,

Que tudo vencer co'engenho e arte.


pode

Eis um santo elixir miraculoso,

Que vem de longes terras,

Transpondo montes, serras,

E a mim chegou modo misterioso.


por

Um sem tesão, um nigromante


pajé

Das matas de Goiás,

Sentindo-se incapaz

De bem cumprir a lei do matrimônio,

Foi ter com o demônio,

A lhe conselho
pedir

Para dar-lhe vigor ao aparelho,

Que já de encarquilhado,

De velho e cansado,

Quase se lhe sumia entre o


pentelho.

A meia-noite, à luz da lua nova,

Co'os manitós falando em uma cova,

Compôs esta triaga


De plantas cabalísticas colhidas,

Por suas mãos às escondidas.


próprias

Esse velho pajé de mole,


pica

Com nina desse feitiço,


gota

Sentiu de novo renascer os brios

De seu velho chouriço!

E ao som das inúbias,

Ao som do boré,

Na taba ou na brenha,

Deitado ou de
pé,

No macho ou na fêmea

De noite ou de dia,

Fodendo se via

O velho
pajé!

Se acaso ecoando

Na mata sombria,

Medonho se ouvia

O som do boré,

Dizendo: — "Guerreiros,

O vinde ligeiros,

Que à guerra vos chama

Feroz aimoré,

Assim respondia

0 velho pajé,

Brandindo o caralho,

Batendo co'o
pé:
"Mas neste trabalho,

Dizei, minha
gente,

Quem é mais valente,

Mais forte é?
quem

Quem vibra o marzapo

Com mais valentia?

Quem conas enfia

Com tanta destreza?

Quem fura cabaços

Com mais gentileza?

E ao som das inúbias

Ao som do boré,

Na taba ou na brenha,

Deitado ou de
pé,

No macho ou na fêmea,

Fodia o
pajé.
Se a inúbia soando

Por vales e outeiros,

A dança sagrada

Chamava os
guerreiros,

De noite ou de dia,

Ninguém via
jamais

velho
pajé,

Que sempre fodia

Na taba na brenha,

No macho ou na fêmea,

Deitando ou de
pé,

E o duro marzapo,

Que sempre fodia,

Qual rijo tacape

A nada cedia!

Vassoura terrível

Dos eus indianos,

Por anos e anos

odendo
passou,

Levando de rojo

Donzelas e
putas,

No seio das
grutas

Fodendo acabou!

E com sua morte

Milhares de
gretas

Fazendo
punhetas

Saudosas deixou...

Feliz caralho meu, exulta, exulta!

Tu aos conos fizeste viva,


que guerra

E nas de amor criaste calos,


guerras

Eleva a fronte altiva;

Em triunfo sacode hoje os badalos;

Alimpa esse bolor, lava essa cara,

Que a Deusa dos amores,

Já pródiga em favores

Hoje novos triunfos te


prepara,

Graças ao santo elixir

Que herdei do bandalho,


pajé

Vai hoje ficar em


0 meu cansado caralho!

Vinde, ó putas e donzelas,

Vinde abrir as vossas pernas

Ao meu tremendo marzapo,


Que a todas, feias ou belas,

Com caralhadas eternas

Porei as cricas eru trapo...

Graças ao santo elixir

Que herdei do bandalho,


pajé

Vai hoje ficar em


O meu cansado caralho!

Sus, caralho! Este elixir

Ao combate hoje te chama

E de novo ardor te inflama

Para as campanhas do amor!

Não mais íicarás à-toa,

Nesta indolência tamanha,

Criando teias de aranha,

Cobrindo-te de bolor...

Este elixir milagroso,

O maior mimo da terra,

Em uma só gota encerra

Quinze dias de tesão...

Do inacróbio centenário

Ao esquecido marzapo,

Que já mole como um trapo,

Nas balança em vão,


pernas

Dá tal força e valentia

Que só com uma estocada

Põe a escancarada
porta

Do mais rebelde cabaço,

E em cento de fêmeas
pode

Eoder de fio a
pavio,

Sem nunca sentir cansaço...

Eu te adoro, água divina,

Santo elixir da tesão,

Eu te dou meu coração,

Eu te entrego a minha
porra!

Faze ela, sempre tesa,


que

E em tesão sempre crescendo,

Sem cessar viva fodendo,

Até fodendo morra!


que

Sim, faze este caralho,


que

Por tua santa influência,

A todos vença em
potência,
E, com abonos,
gloriosos

Seja logo
proclamado,

Vencedor de cem mil conos...

E seja em todas as rodas,

D'hoje em diante respeitado

Como herói de cem mil fodas,

Por seus heroicos trabalhos,

Eleito — rei dos caralhos!


José de Alencar
(1829-1877)

Os de Tupã
filhos (excertos)

1° Canto (A guerra)

Ao deserto, minh'alma! Sobre os


píncaros

Da bronca enquanto o vento


penedia,

Nos antros da montanha ulula e brame,

Solta a rude o canto fero,


pocema,

Dos filhos de Tupã. E ruja a inúbia,

Troando várzea os sons bravios.


pela

VII

Onde estão estes povos primitivos?

é de nossos irmãos, teus primogênitos,


Que

De teus filhos selvagens, minha terra?

Extinguiram-se! Alguns dispersos vagam,

Pelos antros se acoutam como feras,

Escorjados, o antigo lustre,


perdido

Degeneres da e nobre casta.


pura

Poucos, dos ritos regando


pátrios

Abraçados à cruz, à sombra dela,

Misturaram seu sangue ao sangue estranho.

Quase todos morreram defendendo

0 solo dos as cinzas,


que pais guardava

Os campos dos avós e conquista,


glória

E a liberdade, lei, direito santo,

Mais direito ou lei, culto profundo,


que

Fera religião de um indômito.


povo

Em torno aos filhos seus recém-nascidos,

A cascavel coleia estremecendo

De inefável Terna se engolfa


prazer.

Na delícia de os ver à imagem sua:

Ora em doces anéis toda se enrosca,

Palpitante de amor os cinge e estreita,

Porque mãe, outra vez, inda os conceba.

Mas súbito o assoma.


perigo perto

Eis das nuvens gavião, que paira,


que
Abate o voo as garras encrespando;

A serpente se assanha, silva, estila

O veneno; terrível brande a cauda.

[...]

Assim os filhos teus, embalaste


pátria,

Na sombra das florestas, sobre as águas,

Ao rumor da cascata. No regaço

De teus vales em flor, meiga os cingias.

Mas veio enfim o sol da desventura.

Quando errantes, nas matas foragidos,

Estrangeiros na terra de seu berço,

De esmorecida a fronte reclinaram;

Abriste o seio e nele os recolheste.

Preferiste ser mãe órfã de filhos,

A ser de raça vil d'escravos.


pátria

Ah! Que voz triste e enche o silêncio,


grave

Pela amplidão dos ermos reboando;

Que gemido plangente e inerencório

Solta a floresta das crastas!


profundas

Angustiado o vento nas


gargantas

Dos alcantis, ulula soluçante;

0 rio, opresso da borrasca,


grande

Anseia ria agonia e se convulsa.

l)a lufada sulfúrea ao bafo ardente,

A negra coma as árvores desgrenham.

Os mil rumores vagos, indecisos,

Que ali, aqui, crepitam sombra,


pela

Quais dobres da artéria


pulsações grande

Do se condensam longe e longe


globo,

No lúgubre estertor da natureza.

Tu choras, choras teus filhos.


pátria, por

Oh! Silêncio, minha alma, respeitemos

A dor da mãe, viúva, órfã da


prole!

[...]

Eram filhos de sua virgindade

Primeiros no seio concebera,


que

E inocentes o lhe morderam.


peito

Eram belos como Ela. A tez morena,

Crestada ao sol, brilhava com reflexo

Do cobre incandescido raio.


pelo

Negros os olhos, negros os cabelos,


Como o basalto dos rochedos
pátrios:

Rosto nu moldava o
que pensamento

Nas linhas do O talhe erecto,


perfil.

Como os órgãos da cordilheira,


grande

Qual o silvestre bambu vergava airoso;

Forma esbelta de serpe, ein se eleva


que

Do cedro a robustez, do tigre a força.

Almas rudes ingênuas, corpo atlético,

Fundido ern bronze, esculpido na rocha,

Tinham herdado de seu Deus o nome.

Chamavain-se Tupis, heróis e filhos

De Tupã, criador e pai dos homens.

Ensinou-lhes somente a natureza,

Uma ciência - amor; uma arte - a


guerra.

A terra em nasciam, desvelada


que

Trabalhava eles, mãe e escrava.


por

Aspro tronco brotando entre


penhascos,

Ferido, em borbotões inanava o leite,

Que no materno, homens robustos,


peito,

Sugavam inda infantes o mundo.


para

Destilava nas lágrimas douradas,

0 beijoiin as recendentes,
gomas

Incenso o sassafrás. Perene a abelha

De rosado licor enchia os favos:

E cada sol, dos cocos sazonava

A delicada e o fino creme.


polpa

As vestes encontravam tecidas


Na casca da marima;

E na
plumagem

Das aves seus ornatos de ouro e


púrpura.

Uma palmeira só dava à família

Armas, sombra, alimento, fogo e vinho;

0 teto da cabana, e as rijas malhas

Da rede, embalava amor de esposo.


que

Raio de leite, e mel, luz e


perfume,

A vida em flor, aqui desabrocha;

Os lábios a colhiam num sorriso,

Não crestada hálito ofegante;


por

Das bagas do suor não rorejada.

Até na morte a vida era suave

E a terra mãe; um áspide na relva,

De veneno uma e vinha a noite


gota

E dormiam do sono não sonha.


que

Ai, a vida tão risonha


pátria, por que
Lhes fizeste; não luta, mas enlevo?

Os oll ios com teus beijos lhes cerravas,

Que não vissem além o mundo ingrato!

Eram felizes no infantil conchego

De teu Se a folha caduca


grêmio. já

Do cajueiro despira os ramos,


que

Alguma vez levava tristes luas,

A nova lhes trazia festa e


júbilo.

A em Tamandaré surgindo
prole que

Da voragem das águas, renascera,

Mais forte e vigorosa florescia.

Da haste frágil saíra uma família;

A família medrara e fez-se tribo;

As tribos dividiram-se crescendo;

E a raça, tronco frondoso,


grande já

Que boiava embrião sobre o dilúvio,

Formava cem nações


jovens, pujantes,

'chi nações cem chefes dirigiam,


que

Reconhecendo os chefes um mais alto,

Pai dos na senhor da


povos paz, guerra.

IX

Eram felizes. o caso estranho


Quando

De espanto e horror encheu a raça heróica.

E de Tupã conjure as iras,


porque

Manda o abaré, o deus inspira,


grande que

Buscar a guerra ao cimo das montanhas,

E trazei-a da ao seio virgem


pátria

Para a sede aplacar da terra amiga.

Foi então dos cimos altaneiros


que

Dos Andes despenharam na


planície

Quais lascas de desgalgairi,


penedo que

As turbas dos Oromos, bárbara,


gente

Que da afronta cruel ruge vingança.

Correu a flecha, núncia do combate;

0 trocano mandou às longes tabas

A voz do chefe, e os ecos responderam.

Como em ondas caudais as águas


juntando

No largo e imenso leito do Amazonas

Se transformam num mar tamanhos rios,

As cem nações tupis se esgueiram, uma:

Braços de um corpo só, mim


por gigante.
O prudente Iruama, o chefe,
grande

Os filhos de Tupã conduz à guerra.

Ein meio da campina


que, se alarga

Pelo deserto além, Iruama


planta

O sacro maracá do povo egrégio;

A cabeça da assim chamada,


guerra,

Porque nela respira a alma sombria

Do iracundo Aresky, do torvo nume,

Que odeia a paz, despreza amor e vinho;

A deleita a festa dos combates,


quem

Onde beba do sangue a rubra espuma.

Da lança empunhara, sobre o topo,


que

Ergue-se o vasto crânio, a fronte hirsuta,

De herói, aos homens ensinou a


que guerra,

Ei-lo o tremendo vulto, o aspérriino,


gesto

Que no lenho esculpiu com rubras tintas

Do vidente abaré a arte sublime.

Os olhos coruscantes, afrontavam


que

Os raios de Tupã, das fundas órbitas,

Fulminam de os inimigos,
pavor

E inspiram nos Tupis a força invicta.

Quando vibrada vento a lança,


pelo

Na boca hiante freme-lhe o bramido,

Como estilhas de rocha que fracassam

Era assim rangiam do


que guerreiro

Os rijos dentes no furor da pugna.

Quando voa do sul a tempestade,

Antes sobre o mar envergue as asas,


que

Cobre do Corcovado o largo dorso;

Mas entre a bruma surte o cimo altivo

Que domina sereno os horizontes.

O povo dos Tupis antes arroje


que

Sobre o inimigo a sanha, lá rodeia

0 Abaeté, sobranceiro
grande que

Solta da o mirahi soberbo.


guerra

Disse Iruama: — "Filhos de meu arco,

Fortes chefes e filhos de meus filhos,

E netos de Tupi, homem,


primeiro

Gerado vento na
pelo palmeira;

Florestas de eu habito;
guerreiros que

Tupã nos ama, nos manda a


pois guerra.

Da vem a força o corpo,


guerra para

Como vem da torrente a força d'água.


O sol trouxe o inimigo a nossos campos

Mas há de aqui deixá-lo como a sombra

Lastrando terra fria e negra.


pela

Quer Iruama e seus


guerreiros queiram

Que o sol não morra sem morra o último.'1


que

A voz do chefe a vitória ordena,


que

Lá responde a dos
pocema guerreiros.
"Tupã!
Tupã! Tupã! crebro rebrama

Com clamor o e brande


possante povo

Os tacapes embatem nos escudos.


que

I' reme a selva Tupã; e de eco em eco

Pelas fragas Tupã rolando, ao longe

Tupã retroa; além Tupã ribomba."

Soa então dos Tupis o canto bélico:


"O
grande do céu manda a seus filhos
pai

Inimigos sem conta, como as ondas

Manda aos rios e a llor à sapucaia.

Eles vêm nos trazer as lindas filhas

Que sonham noiva rede em nossas tabas.

Vêm de sangue orvalhar os nossos campos

Porque se enflore o da mata,


pequiá

E da cor de encarnado o cardo brilhe.

Vêm dar-nos o colar dos alvos dentes;

Do s ossos o boré rijo e sonoro.

Eles vêm como a seca folha d'árvore,

ao tronco
Que já não volta em
que nascera

E negro da terra o vento a leva.


Quer Iruama e seus


guerreiros querem

Que o sol não morra sem morram todos."


que

"0
feroz Aresky manda ao
guerreiro

Inimigos valentes, como a onça

Manda ao e o vento manda a chama,


jaguar,

Eles vêm dar aos velhos a vingança;

Aos mancebos trazer nome de guerra.

Vêm os voos medir às nossas flechas,

0 do tacape brandimos,
peso que

E do braço tupi a força inata.

Vêm do negro oitibó matar a fome,

Porque de noite os sonhos não agoure;

Eles vêm como as águas da torrente

Que no seio mais não volvem da montanha


E se na areia rio deserto.
perdem

Iruama e seus guerreiros


Quer querem

o sol não morra sem morram todos."


Que que

As inimigas se desdobram
guerras

Pela imensa campina, como nuvens,

Pejadas de tufão, ígneas de raios,

Que chocando-se rompem nas chapadas

Da excelsa Ibiapaba. Um estampido

Horríssono, um fragor medonho e fero,

Voz da turba, do mar, da tempestade,

Reboa espaço e vai rugindo,


pelo

Trovão da terra, estremecer os astros.

Luz em torrentes, alto o sol dardeja;

céu resplende azul, a terra flores;

Canta a floresta hosana ao rei do dia;

Volve além majestoso o grande rio.

2o Canto (O combate)

Sinistra e culminante a vasta fronte

De Iruama sobre o campo,


plainava

Como do Itatiaia entre a borrasca

Assoma ao longe o píncaro altaneiro

Pelo sol abrasado. E como os estos

Da roçam face
procela que pela

Do de imoto e plácido,
gigante pedra,

A majestade insultam-lhe, cuspindo

Um bulcão de assim das flechas


granizo;

A nuvem que o inimigo arremessava

Vinha abater aos do chefe.


pés grande

Engolfando 110 olhar o vale


profundo

Viu Iruama que cedia o bárbaro,

Ao poder de seu arco, e já receia

Que lhe fuja batido, salvo.


porém

Quem nunca o mesmo duas vezes


povo

Vencera, logo o exterminava,


porque

A vergonha temeu dessa vitória.

Levou da inúbia. A voz rugiu da guerra.

Na densa multidão de tantos


povos

Se o clangor, como o relâmpago.


propaga
Naquele extremo e neste responderam

Caribe e Guaranê, filhos do chefe,

íao como o mas dele


grandes pai, prole.

Eram irmãos;
gêmeos gêmeos guerreiros.
Mais robusto, Caribe afigurava

Possante Ubiratã de espessa


grimpa
No varonil. Filho da noite,
porte

Mesto no d'alma sombria,


parecer,

A noite se espelhava nos seus olhos

Como nas águas frias do Parimo;

E a lua o banhara inda no berço


que

Lhe embranquecera a tez e baça.


pálida
Mais alto, Guaranê enrija o talhe

Como um cedro virente ao sopro d'aura.

Filho do sol, brilhante e


generoso,
0 sol nascente a cútis lhe dourava

De rúbido moreno e a estrela


grande

Lhe coara 110 rosto a


galhardia.

II

No centro da batalha, ao chefe,


junto

Combatia a nação estirpe e tronco

Mais todas egrégia,


que primogênita,
Dos títulos a honra desdenhava.

Dizia-se Tupi; fora nobreza

Ser da nação e filho.


grande guerreiro

Nela a transmitia-se
geração pura
Do sangue de Tupã. Era seu chefe

Sobre todos os chefes o primeiro.

I' oi este então na flor da idade,


povo,

Que em remoto levou as armas


porvir

De vitória em vitória às lindas


praias
Onde Cabral a cruz de Cristo,
plantou

E aos montes em altiva se reclina


que

A cidade dos outeiros.


princesa

Aí se dividira em tribos,
grandes
Perdera antigos ritos e juntara

Ao nome de Tupis diversos motes.

Seguiam-se os Tamoios, ilustravam


que

Cloriosa e vetusta
procedência.

Ramo da raiz brotou mais cedo,


que

Prezavam-se de ser os mais antigos

Depois da nação mãe. Tinham


por garbo
A Constância e firmeza inabalável.

Eles foram mais tarde os vencedores

Que da serra dos Órgãos à baía

Onde abre o vasto seio a Guanabara,

Soberbos capearam. Crua


guerra

Moveram contra os lusos, defendendo

A terra tingiram de seu sangue,


que

Porque suor de escravo a não regasse.

Além o talhe erguiam alto e fléxil

Os fortes Goitacazes venciam


que

A ema na corrida, e à porfia


que

Acompanhavam curva margem


pela

0 curso da corrente impetuosa.

Quando nos dilatados férteis campos,

Que ao nômade Tapuia conquistaram

E deles trazem nome, a raça branca

Ousara disputar-lhes o domínio,

Provou do seu tacape a fortaleza.

Cidade
que Vitória inda se chama,

Duas vezes rasada base,


pela

Nos sobejos do incêndio, entre as ruínas,

De seu valor a senha eterna.


guarda

Mas longe e destacava o busto


grave

Dos caetés, heróis da mata virgem,

Cuja sombra alvejando o rosto fero,

No espírito coava densa nuvem.

Nenhum como eles tinha no perigo

A fria calma da rocha,


placidez,

Que o raio a abrase, não comove.


quando

Coube-lhes, na conquista, a longa praia

Onde arrebenta o mar, e surge airosa

Como álcion vogando sobre as ondas,

A cidade Luca do Beberibe.

Na fundação de Olinda
protegeram

A nascente colônia. Erro funesto,

E bem cão remido em nobre exílio.

A terra abandonando à treda


gente

Do Mearim, nas margens levantaram

Nova onde a ingênita braveza


pátria,

Vinga a recente injúria e a fé traída.

Os senhores do vale, os Pitiguaras,

Cuja seta subia inda mais alto

Do sobe o anajê cortando os ares,


que
Batiam-se à direita de Iruama.

Se ver lhes fora dado além dos tempos,

Quando as tiveram decorrem


praias que

Do Jaguaribe ao Parnaíba,
pingue

0 vulto saudariam do
guerreiro

Que gerar-se devia do seu sangue

Para lustre da raça e prol dos lusos.

A fama sua basta o nome puro

De Camarão, soldado cearense,

Libertador da a bravura
pátria, que

Fez e a cruz de Cristo fez ilustre.


grande,

Ao lado, os Tabajaras afrontavam

A sanha do inimigo. Era seu timbre

Prudência ao valor dava realce.


que

Primeiros, desprezando a fresca sombra

Das matas, construíram taba agreste,

Ensinaram das terras a cultura,

O fabrico dos vasos, e a maneira

De fiar do algodão formosas teias.

Artes transportaram na conquista


que

As úmidas campinas salitradas,

Que vão do Camocim ao Paraíba,

Onde no meio dos rebanhos


pasce

O touro, do sertão filho bravio.

III

Seguiam a Caribe: os Guaianazes,

I' orrnidáveis no assalto e na investida

Que ao do Orenoco deram nome;


país

Os Muras na destreza
que primavam

E brandiam a longa tamarana,

Arma terrível, duas armas n'uma,

Prostrando, dum só bote, dois


guerreiros;

Os Omaguas, valentes lutadores,

Que o derrubavam corpo a corpo


jaguar

E vergavam nos músculos possantes

Do braço, o rijo tronco da braúna;

Habitantes dos vales ensombrados

Que talha no seu curso o negro rio,

Os Ticunas ferozes, cujos


golpes

Matavam sempre, não feriam nunca.

Só eles conheciam do fabrico

Do uirarê o segredo; e do veneno,


Que súbito nas veias o sangue,
gela

Ervavaxn suas armas de combate.

Guararê conduzia os Araucanos

Robustos na e mais robustos


peleja

No resistir serenos à fadiga.

Insensíveis à fome, à sede, ao sono,

Que o sol nascesse e o sol morresse em trevas

Uma, duas, três vezes, sobre o campo,

No campo os deixaria combatendo,

Se a vencer inimigos lhes restassem.

Foram depois senhores das coxillias

E campanhas do sul, onde o


gaúcho

Lança e boleia o à disparada.


poldro

Os Guatós, se arriscaram
que primeiros

Sobre os rios, domando a correnteza,

Cuja igara corria à llor das ondas

Qual veloz de rubras asas;


jaçanã

Audazes navegantes, cujo remo

Arou do Paraguai os afluentes;

Os feros Chiriguanos as estrelas


que

Geraram nos da montanha.


penhascos

Povo ousado, de aventureiro,


gênio

Do transpondo o largo esteiro,


paranã

Tala ao torpe Charrua os vastos pampas,

E nas abas dos Andes crava a lança.

Vinham após os bravos Abatiras

De estatura e nobre aspeto;


prócera

Futuros habitantes das campinas

Onde rola o Belmonte as águas d'ouro;

E os orvalhos do serro desabrocham

Flores, mas de safira e de esmeralda.

Os Jarunas, cor da noite,


guerreiros

Cujo aspeto medonho espavoria

O Curupira, o deus das brenhas


próprio

Os Bugres desdenham dos escudos


que

Mas vestem de tapir o rijo corpo

Que nunca o sol crestou. Foram senhores

Da ilha onde a beleza é flor nativa;

Habitaram depois as matas virgens

Que orlam do Tietê as frescas margens.

O Ubirajara, forte e célebre


povo

Pela terrível lança de usava


que

E nunca falhava no arremesso


que
O mirava. Abandonando
ponto que

A taba ergueram nova


primitiva

Do' Tocantins nas férteis cabeceiras

Os ágeis Guaicurus, filhos da velha

E sempre noiva, a mãe das águas,


jovem

Deles vêm os afoitos cavaleiros,

Que as sujeitaram do Araguaia


plagas

E as infindas savanas
percorriam

Velozes como o vento, sobre o dorso

Do valente corcel, amigo e


pátria,

Rede, leito do amor, berço do filho,

Do filho inda a esposa amamentava.


que

Aqueles são os nobres Guaianazes,

Que os lagos do deserto,


povoaram

Possuíram também os lindos campos

De Goiás e mais tarde conquistaram

A soberba e gentil Piratininga,

Onde fala Tupã na voz do raio.

Deles Tibiriçá nasceu, um dia


que

Há de ver a raça branca


primeiro

Dos do fogo; e Araribóia


guerreiros

De a história comemora
quem pátria

Da fé o mais sublime rasgo.


jurada

E outros e tantos se apinham


povos, que

Como as vagas de areia em Mocuripe

Erguem na montes sobre montes.


praia

IV

Tal era de Iruama a ingente


guerra.

Os Oromos não tinham várias tribos

Ou nações; eram hordas sobre hordas

De aluvião, torrente imensa,


gente,

Que rolava das abas da montanha

E lastrava, subindo sempre, o campo.

Sem ordem mas com ímpetos


pelejavam;

E fúria da matéria inerte e bruta:

Manga d'água, de fogo ou vento,


pegão

Pelas forças movidos.


plutônicas

Como 110 incêndio vê-se a labareda

Enroscando lamber ao longe a várzea,

Trêmula arrepiar, volver de novo,

Até morde as secas maravalhas,


que

A língua estende, lavra e após arrasta


A voragem das chamas se alteiam,
que

Assim os chefes bárbaros arrancam;

E após eles a turba se arremessa.

Lá avança como a tromba no oceano

O feroz Mariraca. Das espáduas

Media o largo bojo à sumaúma,

E topava do crânio a verde


palma,

Do bori dez luas florescera.


que

Segue-o Ikidê, no e na estatura


passo

Ingente e colossal; onde


por passa

Deixa no campo um rastro de cadáveres.

Eis Mocoby, horrível esqueleto;

Assemelha uma ossada


gigantesca

De fóssil mastodonte, que o dilúvio

Soterrou nas cavernas da montanha.

Urraca tem arma um estilhaço


por

De rochedo à feição de um grande malho,

Que arremessa no forte da peleja,

E matando sepulta logo os mortos.

Dos heróis montanheses o mais


jovem

Paoky, o vento do deserto


parece

Que rugindo no bojo da floresta

Verga em torno das árvores o tope.

Naquela selva espessa de guerreiros.

Levanta cada herói o corpo hirsuto;

Grupam-se em torno dele, rijos galhos

Do formidável tronco, a fera esposa

E as mulheres o servem. Cães selvagens


que

E filhos inda infantes, açulados,

Mordem latindo o bárbaro inimigo.

Assim de um velho nas fendas


jatai

Que o lodo esverdeou, as rãs saltitam

Coaxando, se a borrasca se avizinha.

Avança o herói; abala-se a família;

Inimigos tombam malferidos,


que

Outros não resistem, vão ficando,


que

Às mulheres despojo, e ao dente


pasto

Da se adestra no combate.
prole que

Guerra tremenda, luta


pavorosa,

Extermínio de raças se odeiam,


que

Onde é cada família um só


guerreiro,

E o um rancor só, mas imenso.


povo grande,
V

Ao fero soin da inúbia Iruama

Dos Tupis fecha o tiírbido crescente

Corno as do arco formidável


pontas

Do Tamui mão do herói vergado.


pela

Já Guaranê brandindo a igarapema,

Sua arma remo e lança,


predileta,

Insígnia do senhor dos rios,


pátrios

Soberbo fende a mole dos Oromos,

Como fende o cachopo a correnteza.

Ao soçobro das hordas montanhesas,

Paoki meneia a coma. Os dois guerreiros

Avistam-se de longe, ambos atraem

Dos olhos devorando, a certa presa.

Medem as almas no lampejo ardente,

Que era o corpo medido as armas.


para

Caminham um ao outro. 0 solo foge,

Sob o daquele e o deste.


passo passo

Só entre eles não havia


param quando

Mais terra a à sepultura


que precisa

Do vencido ou do vencedor ao leito.

Ei-los face a face, olhos nos olhos.


Do filho de Iruama o remo, a um tempo,

E do filho dos Andes a macana

Volveram coruscando ares.


pelos

Como remonta às nuvens a gaivota,

Traça o voo em espiras sobre as águas,

E mal, lobriga o n'água, frecha


peixe

Do céu ao fundo abismo sobre a vítima;

Os dois braços se abateram


pujantes

Velozes, saltam mais velozes,


porém

Como na luta saltam duas serpes,

Retraindo-se ao os inimigos.
golpe,

[...]

A ema deu-te aos


pés as leves asas;

Foge, corvo da serra, às tuas


grotas.

Mais ligeira o vento desce a morte


que

Da minha igarapema no sibilo.

Serpente rastejas relva,


que pela

Lhes responde Paoki, a águia dos Andes

Não volta ao ninho sem leve a presa.


que
Dez vezes giram, dez se abatem rápidas,

As armas dos sem tocá-los.


guerreiros

Cada golpe, porém, de um lado e d'outro,

Derroca um inimigo, fende um crânio.

Giram ainda, mas no ar se encontram,

Com as dos touros mugindo


pontas que

Do meu Ceará nas belas várzeas


pátrio

Travando em combate, acesa a fúria,

Marram batendo testa contra testa.

Tremem ao duro choque os dois


guerreiros;

[•••]

Ambos de novo a arma terrível


premem

E se arrojam de novo; sentem ambos

N'alma a sede do sangue os afronta.


que

De Paolei a macana ameaçadora,

Inda uma vez subiu, volveu tangida

Pelo braço e esfuziando


possante,

Caiu como o corisco sobre a fronte

De Guaranê; certeiro o remo


porém

No vórtice rompendo o
girou: punho

Do inimigo, arrancou-lhe a arma sangrenta,

Que foi tombar ao longe, inda assassina,

Abrindo de um o largo
guerreiro peito.

[...]

De seu herói cobrindo o invicto,


passo

As ondas dos Tupis, cavando o leito,

Precipitam, levando tudo a rojo.

VI

Era medonha a luta sobre a margem.

Caribe e Urraca, os dois


grandes guerreiros

Mais de sob o
pujantes quantos passo

A terra americana estremeceram

E as matas abalaram do rugido

Pelejavam ainda. Antes as hostes


que

Peito a peito no campo se esbarrassem.

Primeiros eles tinham na investida

Renhido a pugna brava e rancorosa

Que dura sempre igual, crescendo sempre.

Pupila em sangue, eschamejando fogo,

Dentes cerrados, como se


já palpite
O coração trincassem o inimigo,

Negro rosto arruinava a coma


pó que

Horrípila de sanha; os rijos músculos

Bra ndidos como as cordas sibilantes

De cem arcos vergados a ponta,


ponta

[...]

Os de >is heróis, maiores eles mesmos,


que

A vária turba assombram dos


guerreiros,

Cuja infância aos combates se embalara.

Às armas remoinhando desaparecem;

Mas nas largas rodilhas de tapira

Lá repercutem sobre
golpes golpes.

Enfim Caribe sápido mergulha

Sob os da clava do inimigo


golpes

Súbito erige o porte musculoso;

Roda o braço, o ar sibila, ruge o peito,

E ao rugido feroz num baque troa,

Qual flanco de montanha desaba.


que

O rijo tacape topara


que

Da lasca do rochedo, arma de Urraca,

Setn abrir uma fenda, se espedaç.a

Do montanhês no crânio teso e duro.

E na mão o brandiu só farpas restam.


que

Nem oscila o varão. Direto e firme

Ergue a fronte, como ergue o cimo a rocha,

Que vestígios não da borrasca.


guarda

Os olhos afundaram-se nas órbitas;

As cavernas do se dilatam,
peito

Bufam-lhe as ventas, farejando sangue;

Riso mordaz do derriça


puma que

Da vítima inda viva as carnes


palpita

E range as longas se aguçam,


presas que

Lhe arregaça a mandíbula feroce:

"Tu és forte,
guerreiro das florestas,

Como ser forte o ipê da várzea.


pode

Mas teu braço é madeira decepa


que

De um só o machado dos Oromos.


golpe

Foge, ao da montanha
pois, guerreiro

Que Sumaúma fez de rija


penha.

Acaso luta o lenho contra a rocha?

A serra não domina sempre o campo?"

"Condor dos Andes, chefe dos Oromas,

Do meu tacape a dor te cega os olhos.

E mais forte o lenho e o rochedo;


que que
O raio; e inda mais forte do o raio
que

iço É de Caribe o braço te esmaga."


que

Mas aiém nova cena descortina

O horizonte no campo de batalha.

VII

Da cascata em o rio se debruça,


que

Ergue-se a calva negra de um


penhasco

Plainando sobre as ondas. Ferve em torno

O borbotão da branca espuma,


grosso

Alvas cãs de ancião apenas cingem


que

O crânio despido e nu dos anos.


Refracto n'água, o sol chispando os raios

Do turbilhão das vagas surto e imóvel,

De fráguas eriçado, tal


parece

Zombar do arrojo humano o respeita.


que

Embora; na miragem da cascata

Sobranceiro destaca o vulto esbelto

De Paracy, a mãe do rio,


grande

A senhora das águas, virgem chefe

Das donzelas do Amazonas.


guerreiras

Sublime o talhe à luz debuxa as formas

Da esplêndida beleza. Assoma o corpo

No fulgor o desnuda isento e puro


que

Do opulento cabelo, solta à brisa

A nuvem negra assombra a fronte excelsa.

Bombeando-se as espáduas; surge altiva

A cerviz de ostentar nativo garbo.

Luxos de seiva exuberante arqueia

Turgindo o colo, e cobre como a vaga

Do oceano um abismo; os saltam


peitos

Rompendo sob a derma os constrange;


que

O botão a doce aragem


purpúreo que

Titila, inda à babugem não se inclina

Da tenra aponta o lábio amante.


prole,

Lindos braços se resvalam,


polidos

Abrem lascivo berço em moles curvas;

Que os vibre a ira, afogam, serpes sabidas,

A vítima imprudente, os irrite.


que

Pelo sulco das vértebras ligeiras

Corre o dorso felino espasma


que

Como o tigre. A cintura aos flancos cessa


Da anca soberba os voluptuosos contornos.

Palpitando a voluta harmoniosa,

Modela a esbelta firme, elástica,


perna

No salto a corça, no deslize a


garça.

Verifica ternura da serpente

Soçobra-lhe a figura majestosa,

A o sol não crestara a fresca alvura.


que

Os olhos negros e
grandes profundos

Corno túrbido mar, noite cálida


por

Esfrolando em bolhões fosforescentes,

Se engolfam aos remoinhos do combate.

[...]

Curva a do sutil e breve


planta pé

Prure a rocha, de alar-se impaciente.

Arfa o seio aspirando


precipite;

Enfuna-se a narina e o lábio crespo

Afogam num sorriso o de ânsia


grito

Que lhe ruge no onde recalca.


peito,

[...]

3o Canto vitória)
(A

Doce filha da luz, irmã da aurora,

Violeta celeste, meiga tarde;

Hora augusta e solene do mistério;

Tarde assomas no horizonte;


gentil, que

Quem não te contemplara em santo enlevo!

O ermo te pressente. Mais suave

Rola manso o ribeiro sobre as lapas.

A escassa viração afiando apenas

Crepita no E o rouco múrmur


palmar.

Vela com surdos ecos a cascata.

Terno eflúvio de amor, doce ressumbro

De serena inala a terra.


quietude,

Ao certo a sombra
pouso precedendo

0 vivente ligeiro se aproxima.

Sutil entre as folhas o campeiro


passa

À malhada onde à noite colhe a cerva

As flores da aroeira.
perfumadas

0 regouga e leve trota


guaximum

Pelas orlas da mata. Foge a ema

Aos vastos areais onde nascera.

Rápida os cascavéis tange a serpente


Guiando a prole à toca onde se abrigue

Da cauã que piou. Serena


paira

Sobre o rochedo a águia altaneira.


pátrio

Das emigrantes o bando


pombas passa

Concluída a Volve ao berço


jornada.

Nas solidões do mar o corvo aquático.

0 homem só, te esquece, linda tarde,

Neste imenso deserto. As tabas


grandes

Dos heróis de Tupã, ermas agora,

Jazem 110 vale mudas e sombrias.

Dormem nas altas redes sob as árvores

As crianças de colo, a aura embala


que

E as aves acalentam; ausentes


porque

Seguem as mais 110 campo da batalha

Seus senhores. Sobre a grama


guerreiros

Os irmãos inda o lhes disputam,


que peito

Folgam e lutam corpo a corpo.


peleja

Enquanto no terreiro
pressurosas

As velhas mais dos filhos de Iruama

Enchem o convívio as amplas talhas


para

Do espumante cauim; morenas virgens

Errando em bandos colhem bosque


pelo

0 mel a abelha colma


perfumado que

Nos troncos da emburana; e o roxo suco

Do flagrante açaí, aos lassos membros


que

Do mitigue a ardente calma.


guerreiro

Não teme amante a virgem noiva,


pelo

Nem a mãe filho. Só lhes


pelo pesa

Não segui-lo ao combate, como a esposa

Que a vida lhe defende, e vinga a morte,

E sobre o corpo seu vingado expira.

Estrugem longe; ecoam mata


pela

As da enfurece.
pocemas guerra que

[...]

VI

Inflama-se o horizonte, ferve a chama

Que as nuvens abrasando imerge a selva.

O poente se funde em mar de fogo.

É o sol. No céu a luz degrada,


posto
Voa sutil, cambia o lindo esmalte,

Por fim desbota. A sombra rara e tênue

Que lenta espreguiçava escarpa,


pela

Rápida o campo alastra; mesta e


pálida

Em inorte-cor debuxa a natureza.

A negra mata ondula como o lago

Quando a tormenta incuba-lhe nas ondas

Densa caligem sob as torvas asas.

Candila o rio as águas, desdobrando

O lívido lençol 110 vasto leito.

Entre a vigília e o sono, a luz e a treva,

Oscila a criação. Do sol o ocaso

Contempla a natureza esmaecida,

Dando ao dia expira o extremo adeus.


que

Como a e menina
gentil gárrula

Deixa o colo materno e volve ao berço,

De ramo em ramo busca a rola o ninho.

Arrulha a e turturina,
juruti plangente

Mavioso responde o terno amigo.

Cerra o cálice a flor. Lindas efêmeras

Filhas da luz, apagam-se com Ela.

E a noturna vibrando as asas


pardas

Louca desfere os sussurrantes voos.

Êxtase melancólico da tarde,

Quanta saudade, amor ressumbras!


quanto

Harmonia suave de harpa agreste,

Que no deserto vibra a mão de Deus,

Teu eco murmura e lá ressoa

No sombrio da mata, crebro e surdo,

Da noite se arrasta, o trenó lúgubre.


que

Além sobre a cascata veste a sombra

A linda estátua da virgem,


guerreira

Suspensa, alerta. Longe, campo,


pelo

Virá sumir rolando as negras hordas

Dos Oroinos, a maça de Iruama


que

Partira, como a viga da madeira

Escala do machado o rijo


golpe.

Viu também Guaranê as tribos


que guia

Sobre as ondas lançar a leve igara

Por o do rio corte ao bárbaro.


que passo

Mas viu de esguardo. Os olhos seus cativos

Vão egrégio cuja fronte


guerreiro
Desfere sobre o campo os voos d'água

É Caribe: veloz dispara e fende

Com seu de heróis campina


povo pela

Talando o ílanco ao fugitivo bárbaro.

Arroja-se a filha da selva


gentil

Da rocha abrupta, como alada virgem,

Que sem amor finou à flor da vida

E agora errante sombra bosque


pelo

Veste da lua a branca luz macia.

Um momento — na voragem
pairando,

Das águas afunda e surge,


precipita;

E vai, buscando o ninho.


garça gentil,

VII

Reina a treva na cena triste e lôbrega.

Um longo, um só
gemido pavoroso

Enche a vasta soidão. Crebro responde

0 voo crepitante dos vampiros,

Os da coruja, e o dobre tétrico


pios

Da itanha, retroa sob as águas.


que

Brilha na sombra o inosqueado pelo

Da ariranha. Rugindo o tigre;


passa

Toma o faro à carniça; é frio o sangue;

Desdenha o pasto e busca a viva


presa.

Pardos vultos se esgueiram campo;


pelo

Curvando o corpo, o colo distendido

Vão com trôpego Os vagos olhos


passo.

Rasgam da noite o seio; a fronte;


pende

Seco o lábio murmura o doce nome

Do dileto; um eco frouxo


guerreiro

De voz amiga em vão o ouvido


perscruta

No estertor da agonia. Aqui resvala

Em coalhos de cruor, ali tropeça

O num corpo estrebucha e queda.


pé que

Aqui de um filho moribundo apenas

O corpo,
já carniça, e torpes restos

Ao faminto a mãe disputa.


guará

Arranca esta um membro, aquele a destra,

A destra terror foi dos combates,


que

Ludibrio então dos vermes. Pios restos

No rubro camucim recolhe a mísera.

Lá, ferido agonizando


guerreiro

Entre sombras da morte inda lobriga


í li

Sombra viva ao seu reclina.


que peito

Nele, morto, inda vive o ódio aceso,

Adivinha no vulto aflita esposa

De inimigo, busca o seu valente.


que

Ergue no extremo arranco um hirto braço;

Trava da atrai, abraça e


presa, preme;

Estreita-se com ela e morrem ambos.

De longe horrenda velha, do Oromos

Eúria vem trilhando o campo


gerada,

Qual abutre sedento; o cão felpudo

Lambe-lhe o rastro mareja sangue.


que

Estancou. Jaz-lhe aos frio cadáver,


pés

Em face outra mulher, o morto carpia.


que

Fita, repara, avança, olha de novo.

Ah! ... seu varão senhor foi esse corpo!

Aquela... Não se engana... filha indigna,

De um
guerreiro Tupi cativa outrora,

Não remira na morte a liberdade,

Amor infame fez-lhe nova


pátria,

E serva concebeu do sangue inimigo.

Mãe! Morre!
Clama a filha; e a mãe tornando:

Mãe!
Suplicou, e a mãe cruel tirana

Sobre o corpo do imola a filha


pai

[•••]

virgens disputam o corpo do amante e brigam)


(Duas que

Sobre o morno cadáver, de bruços


O lívido semblante fita a virgem;

A mão sôfrega o frio espojo;


palpa

Começa uma carícia, acaba um


golpe

De novo ergue-se, irada, recalcando

Sob a esmaga, a massa inerte.


planta que

Não era o seu mas de um bárbaro


guerreiro;

Esquecido, sobejo, imundo e torpe.

Eis d'avante exsurge estranha sombra.


que

Vulto humano também, de fera.


gesto

Esgarram unhas, horripila a grenha;

0 dente em riste vem feito ao bote.


Cambir! Rugiu Cendira, e a voz rugindo

Afoga em sangue na ferida hiante

Que rasga a veia.


Castro Alves
(1847-1871)

Ao dois de
julho

índio adormeceu um dia:


gigante

Junto aos Andes terra era prostrado;


por

Diríeis um colosso deslocado

De um de imensa serrania.
pedestal

Dos ferros a tinir a voz sombria

Desperta-o... Ruge-lhe o trovão um brado.

Roçam-lhe a fronte as nuvens... sopesado

À destra o íulvo raio lhe alumia.

Foi luta de titãs, luta tremenda!

Enfim aos do Atlante americano


pés

S'estorce Portugal n'angústia horrenda.

E hoje o dedo de Deus escreve ulano:

Tremei, tiranos, desta triste lenda;

Livres, erguei o colo soberano.


ANNO - MAIO - 192E
I NUMERO I 500 rs.

Revista de Antropofagia

Gerencia de RAUL. BOPF


gireção de ANTONIO DE ALCANTARA MACHADO

ENDEREÇO: —
- —
- SÃO PAULO
13.
13, RI14
RUA RFNI1MIN
BENJAMIN CONSTAM
CONSTANT —
- 3.° P1V.
PAV. SílA
SALA 7 CAIXA POSTAL N.° 1.569
I.269
3."

.—
ABRE-ALAS manhã

Nós éramos xifópagos. chegamos a


Quási
Ser deródimos. foi
Hoje somos antropófagos. E
assim chegamos
que á perfeição.
estava em rosa, ao pé do Sol
Cada o jardim
qual com o seu tronco mas ligados
Pelo fígado mar- ventinho de mato que viera do Jaraguá
( o que quer dizer pelo ódio) E o
chávamos
numa só direcção. Depois houve uma tudo uma de agua
Deixando por presença
revolta,
E para íazer essa revolta nos unimos
Banzava na manhã praceana.
ainda mais. gosado
Então formamos um só tronco. De-
Pois o estouro: cada um de seu lado. Viramos ca-
n'bais.
limpo nem toada de flauta.
Tudo que
Aí descobrimos que nunca havíamos sido
outra beijava o chão sem formiga,
cousa. A A gente si quizesse
geração actual coçou-se: apare-
Ceu o na de cristal.
antropófago. O antropófago: nosso pai. A bocca roçava mesmo paisagem
Principio de tudo.
Não o índio. O indianismo é nós uni
para
Prato nortista, muito claro!
de muita sustância. Como outra Um silêncio
qualquer
escola árvores
ou movimento. De ontem, de hoje e de se agarrando no folhedo das
As sombras
ainanhã.
Daqui e de fora. O antropófago come o
índio Talqualmente preguiças pesadas.
e come o chamado civilizado: só êle fica
'ambendo nos bartcos, tomando banho-de-luz.
os dedos. Pronto engulir os ir- O Sol sentava
para
•nãos.

Assim a experiência moderna con-


(antes: no
tra um sossego tão antigo jardim,
os outros; depois: contra os outros e contra Tinha
nos mesmos) de mão lavada com limão
acabou despertando em cada con- Uma fresca tão
v'va
o
apetite de meter o garfo no vizinho. Já tão marupiara e descansante
começou Era
a cordeal mastigação.
Mulher não desejei não, desejei...
Aqui mortandade Que desejei...
se processará a (êsse car-
"aval). a meu lado ali passeando
Todas as oposições se enfrentarão. Até Si eu tivesse
1923 havia aliados que eram inimigos. Hoje há um desses!...
Suponhamos, Lenine, Carlos Prestes, Gandhi,
inimigos
que são aliados. A diferença é enorme.
Milagres do canibalismo.

No fim sobrará Hans Staden. Êsse Hans da manhã quasi acabada


um Na doçura
Staden contará aquillo de com os
que escapou e :-Se abanquem um bocadinho
Eu lhes falava cordialmente
dados
dêle se fará a arte próxima futura.
êles os nomes dos nossos peixes
E havia de contar pra
E' pois aconselhando as maiores precauções
Ouro Preto, a entrada de Vitoria, Marajó,
lue eu apresento ao da terra e de todas Ou descrevia
gentio
as terras um disfarce de festa
a libérrima REVISTA DE ANTRO- assim puzesse
Coisa que
pOFAGIA.
dessas tempestades de homens.
No pensamento
E arreganho a dentuça.

Gente: pode ir pondo o cauim a ferver.


MARIO DE ANDRADE
Antônio de Alcântara Machado.

"#li

vem a nossa comiôa


pulanòo"

Staden - Cap.
<V. Hans 28)
2

RESOLANA
Poema

O mormaço é a fumaça da macega.


Ella vae sozinha, tropeçando nas colheitas.
Treme o longe diluído na quentura. Bate-lhe o sol nos hombros. Ella sente um
que gosto
O boi desce a recosta em da sombra
procura humano
mas logo, abombado. dcí!ora-lhe a bocca e illumina-a de absurdos.
pára

Lá no alto, voando, voando, bebendo o azul,


Parece um choro

que quer sorrir dentro de si.
subindo sempre urubú. Parece que o sangue dentro de si quer matal-a
e clarões
Feliz... jogar-lhe por cima.

O calor queima a terra, ferve no ar.


Aquillo é o universo se despenha dos seus cabellos.
que
(Memória de marulhos

gosto de espuma limo areia branca) (Pará) ABGUAR BASTOS

A cabeça do alazão é uma chamma esbelta


cortando o campo a trote largo.

Vejo as orelhas agudas que se móvem,

sinto o corpo fremente do cavallo. FA,


U

E ha tanta harmonia entre o choque dos cascos os films assombram o mundo


que
e o meu tronco agitado na vibração febril,
REPRESENTANTE
que eu compreendo a gloria animal da carreira:
vou!

enrolado na força do sol. Gustavo Zieglitz

(Rio Grande do Sul) 42


RUA DOS ANDRADAS,
"Giraluz"
Do livro

SÃO PAULO
AUGUSTO MEYER

Estão no Prélo Vacca Christina

LARANJA DA CHINA
A vacca Christina, de madrugada,
DE Vem de belengue no longo da rua.

Uei,
Antonio de Alcantara Machado
Olha o leite da vacca Christina!
E

No Bango lambido de luzes escassas


MACUNAIMA
Estira-se a larga madrugada molle.

DE Amontoa-se a garoa miúda. E lá adeante.

Roda a carroça do lixo da noite.


Mario de Andrade Uei,

quer leite da vacca Christina?


Quem

E a vacca bohemia, de pata pitoca,


A sair brevemente
Vae toda faceira, enfeitada de fita

Vae ver as comadres atraz dos tabiques


-
Marti m Sererê
Uei,

VERSOS Viva as tetas da vacca Christina!

DE
E passa a noturna da zona.
patrulha
Cassiano Ricardo E' a hora em o Bango cansado cochila.
que
Somente enche o resto da noite deserta
E
O belengue molango no longo da rua:

dos E. U. do Brasil Uei,


Republica
qué o leite da vacca Christina?
Quem
POEMAS
Jacob Pim-Pim.
DE

"Ai,
Do livro a sahir: seu Mé".
MENOTTI DE PICCHIA

A
Revista de Antropofagia 3

MANIFESTO ANTROPOFAGO

Só a antropofagia direitos do Só podemos attender ao mundo


nos une. Social- declaração dos
njente- pobre
Economicamente. Philoso- homem. orecular.
Pnicamente. annunciada
A edade de ouro pela
America. A edade de ouro. E todas Tínhamos a justiça codificação da
n'ca lei do mundo. Expressão vingança A sciencia codificação da
as girls.
'"asearada
de todos os individualis- Magia. Antropofagia. A transfor-
de todos os collectivismo. De Filiação. O contacto com o Brasil mação permanente do Tabú em to-
as as religiões.
, De todos os trata- Carahiba. Oú Villeganiion print ter- tem.
dos de
paz. re. Montaigne. O homem natural.

Rousseau. Da Revolução Francesa Contra o mundo reversível e as


Tlipy, Revolução Boi- idéas objectivadas. Cadaverizadas.
or not tupy that is the ao Romantismo, á
"luestion. e
chevista, á Revolução surrealista O stop do pensamento que é dyna-
ao barbaro technizado de Keyserl- mico. O indivíduo victima do syste-
Contra ma. Fonte das injustiças classicas.
toda as cathecheses. E ing. Caminhamos.
°*ttra Das injustiças romanticas.
a mãe dos Gracchos. E o es-
Nunca cathechisados. Vive-
fomos quecimento das conquistas interio-
Só- nie direito sonam- res.
. interessa o que não é meu. mos atravez de um
j ei
do homem. Lei do antropofago. bulo. Fizemos Christo nascer na Ba-
Belem do Pará. Roteiros. Roteirçs. Roteiros. Ro-
hia. Ou em
Estamos teiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
fatigados de todos os i
r'dos
catholicos suspeitosos Mas nunca admittimos o nasci-
postos
drama. Freud lógica entre nós. O instineto Carahiba.
acabou com mento da
om
n,gma
mulher e com outros
ustos Morte e vida das hypothe-
da psychologia im-
Pressa. ses. Da equação eu parte do
Kosmos ao axioma Kosmos
O parte do eu. Subsistência. Co-
que atropelava a verdade
a roupa, impermeável nhecimento. Antropofagia.
o
^ra
ntre
o mundo interior e o // I I
Undo Contra as elites vegetaes.
exterior. A reaccao / / I \
o homem Em communicação com o sólo.
^°ntra
estido.
O cinema
Nunca fomos cathechisados.
informa-
r?lericano
Fizemos foi Carnaval. O índio
vestido de senador do Império.
Filhos Fingindo .de Pitt. Ou figuran-
do sol,
dos viventes. do nas operas de Alencar cheio
,nae
"contrados de bons sentimentos
e ama- portugue-
0s ferozmente, zes.
com
°da (¥3
a hypocrisia
a saudade, tínhamos
pelos im- Já o
communismo. Já ti-
^ados, pelos tra-
1Cados
e pelos tou- nhamos a lingua
lstes.
No da \v/\ j3) surrealista. A eda-
paiz
Cobra
grande. de de ouro.
Catiti Catiti
Poj
porque nun- Imara Notiá
a tivemos
gram- Notiá Imara
nem col-
J^aticas,
CcÇões Desenho de Tarclln 1928 D. um quadre ou, ligur.,4 n. .... Junh° Ipejú
de velhos na galeria Percier, era Pa"*-
Vcf>etaes.
E nunca soubemos que o
era Tínhamos
urbano, suburbano, fronteiriço e do A magia e a vida. a re-
c""tinental. Contra o Padre Vieira. Autor
Preguiçosos no mappa lação e a distribuição dos bens phy-
'"«ndi nosso emprestimo, para
primeiro
do Brasil. sicos, dos bens moraes, dos bens di-
ganhar cotnmissão. O rei analpha-
^Juia sabíamos transpor o inys-
consciência participante, no papel gnarios. E
'"na beto dissera-lhe: ponha isso
rythmica religiosa.
o em- terio e a morte com o auxilio de al-
mas sem muita lábia. Fez-se
formas grammaticaes.
o assucar bra- gumas
prestimo. Gravou-se
em
Contra sileiro. Vieira deixou o dinheiro
todos os importadores de
a um homem o que era
c°nsciencia
A existência Portugal e nos trouxe a labia, Perguntei
enlatada.
Palpável o Direito. Elle me respondeu que
da vida. E a mentalidade
Prelogic era a garantia do exercício da pos-
gica o Sr. Levy Bruhl
tstudar. para conceber o Esse homem chamava-se
O espirito recusa-se a sibilidade.
corpo. O antropomor- Galli Mathias. Comi-o
espirito sem
da vaccina an-
fismo. Necessidade
Queremos a revolução Carahiba. Para o equilíbrio contra - onde ha
to aior
tropofagica. Só não ha determinismo
in-
quC a revolução Francesa. A as religiões de meridiano. E as
mistério. Mas que temos nós com
V^ficação de todas as revoltas ef- exteriores.
'Çazes quisições isso?
na direcção do homem. Sem
"0s
a Europa não teria siquer a sua
Continua na Pagina 7
4 Revista de Antropofagia

SEIS POETAS

PEDRO-JUAN VIGNALE — Sen- A ascensão de Jorge de Uma é uma Henrique de Resende, Rosário Fus*
timiento de Germana — Buenos delícia. De soneto Acendedor de Iam- co e Ascanio Lopes — Poemas
Aires — 1927. peões ao poema Essa negra Fulô. Su- Cataguazes — 1928.
jeito inteligente como poucos soube pro- E' a gente simpática da Verde de Ca*
Os versos são de uma ternura foi te e curar e achou. Abençoado Manuel Ban- taguazes.
daquele picguis- deira. Livro naturalmente desigual
grave. Muito differente Dos Poemas eu separo G. W. B. R.
puxando
110 para três lados.
mo rimado dos poetas que sussurram
sussurram no Gostosura de lirismo vagabundo, alegre, Henrique de Rezende é o mais velho da
rimado dos poetas que
Pedro-Juan Vignalc, levado tios diabos. Dá vontade na turma. Engenheiro rodoviário vai anotando
ouvidinho da amada. gente
de repetir a viajem tendo o poema bem nas margens do cadcrno de medições c
maestro e entomôlogo, ama á moderna.
guardado na memória. Separo esse por de cálculos os aspectos dos caminhos Quc
E poeta á moderna. Seus ditirambos em
ser o meu predileto. Mas não o único êle1 abre
honra de Germana não são declarações
notável. Rio de São Francisco também
tem
de namocado bisonho: antes de que como um cordame de veias
senti- mc agrada bastante. Baía de Todos os
fé convencida e invencível num no corpo adusto
Nada de Santos, Santa Dica, Floriano-Padre Cf-
mento muito alto mas palpável. da terra inhospita.
cero-Lampeão' igualmente têm cousas
dúvidas cruciantes ou queixumes suspl-
que a gente não esquece. Principalmente Não sei se como engenheiro é bom
rados. Nenhuma alusão á morte salva-
o primeiro. E do magnífico Changô pula poeta. Mas sei que como poeta é bom
dora. engenheiro. Seus versos são solidamente
um bodum danado, rebenta um ritmo
Através da mulher o poeta ama a terra
infernal. Inútil querer resistir. construídos sobre leito bem empedrado-
onde ela nasceu: esta terra. Sentir uma Nem
De vez em quando uma descaida sen- falta o rôlo compressor de unia
£ áentir a outra. auto-critica severa. E êsses caminhos têm
timcntal ou pueril, livresca, oratória ou
conceituosa que desaponta mas não as- sombras para a gente repousar a vista
En tus manos ávidas
sombra. Porque não é assim tão fácil- tonta da luz das paisagens. A ermida Por
traes
Brasil mente que se Tompe com certos cacoetes exemplo: tão comovente e tão bonita.
los cielos dei
literários. Não vê. A cousa é dura como Rosário Fusco é um menino. Esta

O:: vindo a voz cálida de trópico é quê. Não tem importância : Jorge de Li- dito tudo: mistura timidez com audácia»
ma está ficando cada vez mais escovado. brutalidade com ternura, larga o esti-
que éle vê
Por isso duvido muito que em seus livros lingue paTa choramingar no colo de ^m
futuros apareçam versos como OraçSo, afecto Í>om. Tem talento. Quanto a iss°
esa tarde paulista
Meninice, Poemas dos bons fradinhos, não pode haver dúvida. Tem talento, von-
exprimirse
i\ voz da igrejinha e o Painel de Nuno tade de acertar e uma desenvoltura ótima
sobTe el Tietê
Gonçalves sobretudo. na qual a gente não pode deixar de pôr a
hasta inundarlo
Agora Essa negra Fulô. E' das cousas maior das confianças. Eu gosto muito deste
O que é positivamente lindo.
mais marcantes que a poesia nordestina poeminha — SaJa de gente pobre — do
Esse contracto de poeta, tão profun- nos tem enviado de muito tempo para qual tomo a liberdade de suprimir o útt*-
damente vigoroso com o tema lírico Bra- cá. Essa negra Fulô sim. Bole com a gen- mo verso:
sil ainda nos dará (penso eu) muita cou- te. Pinica a sensibilidade da gente. Em- Um banco.
sa ótima. bala o sensualismo da gente. Canção e Uma mesa.
história da escravidão sem querer ser. Um quadro: Nossa Senhora
— Livro de Poesia boa, cheirosa, suarenta, apetito-
JORGE FERNANDES Outro quadro: São José....
— Natal — 1927. sa, provocadora.
poemas
Um lampeão.
Nem ambição de mais coisas.
A poesia de Jorge Fernandes machuca. Ora sedeu que chegou
Deante dela fica-se com vontade de gri- Os defeitos de Rosário Fusco são dc-
(isso já faz muito tempo)
tar como o próprio poeta na Enchente: no bangüê dum meu avô feitos de quem tem dezesete anos. Em
uma negra bonitinha geral porque há alguns mais graves quC
Lá vem cabeçada...
chamada negra Fulô podem virar crônicos se não forem cura-
E vem mesmo. Poesia bandoleira, vio- dos logo: linguagem meio cá meio 1®'
lenta, golpeando a sensibilidade da gente quedazinha para o lugar-comum, imagem
Essa negra Fulô!
que nem o tejú brigando com a cobra: de efeito,^ final arranjadinho. È outros
Léxol léxo! Essa negra Fulôl
mais. Porém eu já disse e repito
que em
Ao lado disso uma afeição carnal e Rosário Fusco a gente
pode ter seiu medo
selvagem pela terra sertaneja como de- muitíssima confiança.
monstra entre outras a expléndida Can- Ò' Fuiô?' O* Fulô?
Ascanio Lopes também é menin»: m*"
çáo do invernot. E feitlo uide de dizer (Era a fala da Sinhá nino malicioso, gozador, cheio de suben'
as cousas. Jorge* Fernandes tem a mão chamando a negra Fulô)
tendidos. O principal defeito dêle é o me»*
dura: tira lascas das paisagens que caem Cadê meu frasco de cheiro
mo de Rosário Fusco: a idade
nas unhas dele. Máo de derrubar sem du- que teu Sinhô me mandou? que tem-
— Ahl foi você que roubou! Daí, apesar dêle ser brincalhão, certas
vida. Aquella mesma trabalhadeira e li- pucrilidades sentimentais, o desejo crian-
Ah I foi você que roubou!
rica Mio nordestina que dá o nome a ça de ser acarinhado e o tema triste*»
uma de suas poesias mais características. soando falso nas poesias dêle.
Outra cousa: Jorge Fernandes fala uma A mata é grande demais para o fog°
lingua que nós do Sul ainda não com- O Sinhô foi açoitar pegar caracteriza bem a sua maneira boa:
preendemos totalmente mas sentimos ad- sosinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia Na modorra enorme do sertão
miravel. Eu pelo menos não percebo tre-
os empregados trabalhavam nos da
chos e trechos de várias poesias suas. e tirou o cabeção, eitos
No entanto gosto deles. O poema Avoêtes de dentro dele pulou [roça
nuinha a negra Fulô. cantando cantigas ingênuas.
por exemplo (não sei se por causa da
construcção de certas Mas do lado da serra, lá longe, começou
particularíssima
frazes) espanta como o desconhecido. E Essa negra Fulôl [a subir fumaÇ*
é bonito que só vendo. Essa negra Fulôl e as chamas tamparam as arvores da
O autor do Livro de poemas eviden- [mata-
temente está passando por um período O' Fulô? O' Fulô? O feitor disse que era
uma queimada QuC
_
doído de auto-critica de que sairá melho- Cadê, cadê teu Sinhô [saltara o aceiro-
rado com certeza. Éle mesmo reconhece que Nosso-Senhor me mandou? Ninguém pensou em apagar o fogo.
isso e caçoa de suas renwniscôncias par- Ahl foi você que roubou No céu os gaviões gritavam assustados-
nasianas. Daí uma porção de pequenos foi você, negra Fulôl Ascanio Lopes não deve abandonai"
defeitos nas vésperas dt completo desa- ésse seu feitio de gozador a seco.
Essa negra Fulôl'
parecimcnto. Ou eu muito mc engano. O pessoal da Verde é portanto uma
surpresa excellente e cuja excelência dc
LIMA — Poemas e Essa negra Fulô. Pretinha do infermo.
JORGE DE hoje em deante não mais surpreenderá
Essa negra Fulô — Maceió — Essa negra Fulô. ninguém.
1927 e 1928. A. de A. M.
A. de A. M.

I
de Antropofagia 5
Revista

POESIA

"Revista de Antropofagia")
para a
(Especial,

FOME

"Café
Em na mesa do Guarany",
jejum,

rima e metrifica o amorzi-


O poeta antropofago

de sua vida.
[nho

Elle tem saudades de ti.

"ti" voluptuo-
Elle chamar de: estranha
quer
— linda querida.
[sa

"ti" — — bôa
Elle chama de: gostosa quente

comida.
[—

Guilherme de Almeida.


PLÍNIO VALGADO
A LÍNGUA TUPY

europeu, também. Liga-se o estudo dos idiomas á


mado como idêntico ao homen
A LÍNGUA TUPY
Basta ver-se própria historia do homem. Depois de
não resta a menor duvida.
e com o Lamarck, G. de Saint Hilaire, Darwin e
A. língua tupy deve ser estudada com envergando o habito de Christo,
telippe Spencer, estes assumptos tomam um ou-
um novo critério. A contribuição de todos titulo de Dom. que lhe concede
de nas- tro aspecto. A ultima tentativa para redu-
05 IV, o sr. Antonio Camarão, Poty
que escreveram grammaticas t dic- de- zír o indio á forma euTopéa, é, talvez, a
cionarios do idioma falado pelos nossos cimento... Aliás, uma bulla papal j*
Mun- do nosso chamado indianismo, expressão
selvagens é certamente muito valiosa, e clarara, após a descoberta do Novo
e Eva. do romantismo em nossa literatura. Mas
s*rve-nos hoje de inicio do, que todos descendiam de Adão
para as nossas aquelles essa preoccupação lamartinizante dos
Procuras curiosas. Mas os que estudaram Os que estudaram o tupy, desde
orientaç o nossos poetas e romancistas teve a van-
°. tupy, nos da colo- tempos, não podiam ter outra
primeiros séculos e a das ne- tagem de chamar a attençlo brasileira
nj2ação inspiravam-se num critério arca- que não fosse a do seu século cercal-o de uma sympathia
cessidades prementes. para o bugre,
dico. do mesmo modo c
que, considcando a através da qual pudessemos chegar a elle
'ndio,
tomavam-no sob o ponto de vista Muita gente depois veio estudando
cri- e pesquizal-o melhor. E como esse mo-
catechese. Período de Anchieta, depois lingua de nossos índios, mas com um
curiosos. vimento de Gonçalves Dias e José de
^ Montoya, de Filgueiras. E é preciso terio pratico. São subsídios
homem, Alencar representa o primeiro passo para
notar o caracter, de utilidade pratica im- Abanheenga, quer dizer, lingua de
os * urna comprehensio melhor do indígena,
^ediata, desses estudos, naquella época. lingua de gente, chamavam <t,.,pys é justo perdoarmos a esses escriptores os
^ jesuíta tinha necessidade de unificar, sua lingua. O missionário foi uMlicanao, tempo. E é
s prejuízos inherentes ao seu
t*nto num systematizando as pequenas modaliaa
quanto possive?, as Ünguas, Don e preciso também registrar que, no meio
*ypo no nheengatú, ou seja lingua boa. ha expressões fieis
geral que servisse ao imperialismo trib de muita phantazia,
E a necessidade da compre- nasceu o tupy-guarany. As outras da psychologia selvagem em muitos tre-
f*techista. IW-
hensão urgente entre catcchumcnos e ficaram falando o seu nheengahyba, chos da poesia e do romance românticos.
«vangeüzadores. Essa não se submettia
preoccupação uti- gua ruim. Ruim porque A opinião do nosso historiador Porto
"taria nâo á reducção classica do nheengatú.
podia ter sinão uma orien- Seguro (Varnhagen), tão hostil & pobre
taçâo hu- o estudo
grammatical. E sendo o typo O critério scientifico para raça dominada, vem logo contrabatida
¦nano dos de ™ar-
conquistados reduzido pelo do- das línguas americanas procede pela sympathia de Couto de Magalhães,
ramo bra-
fcma.á equivalência intrínseca do con- tius e da sua classificação. O de Barbosa Rodrigues, de Baptista Cae-
luisiador, passava para um segundo pia- sileiro, que vem denominado"grupona classi
tano a cuja obra podemos juntar o que
n.° o estudo do seu espirito e do 3eu ins- tupy-
cação de Frederico Muller tem feito Theodoro Sampaio, Cândido
em nove
'¦neto, e da língua do gentio só se to- guarany", é dividido por Martius Rondon, Alarico Silveira, e outros.
'fiavam dahi por dian-
as conclusões finaes, formas paci- galhos. PaTece-me que ha, Novos aspectos nos interessam hoje
as
f'cas
passivas da tTaducçSo. Qi5e o indio, te, uma curiosidade maior em relação na jingua dos nossos selvagens O da ori-
c°nio valor
psychologico e social era to- línguas selvagens. E em relação ao índio.
(Continua na pag. seguinte)
Revista de Antropofagia
¦ - - i——— —

-
A LÍNGUA TUPY
(Continuação)

cxpri-
gem. o da sua significação como não simplesmente representativa de per- que também, com certeza, depois dc feitas
mindo um estagio humano, e, sobretudo, ccpções auditivas, mas como representa- as expressões iniciaes, a lingua selvagem
a intima communhão cósmica, essa espe- ção de relações entre os sentidos e os soffreu os metaplasmas a que nenhum
cie de intercomprehensão, de intersensi- dois mundos, o objectivo e o subjectivo. idioma póde-sc furtar.'Houve, por certo,
bilidade e corrcspondencia dos elementos Donde se origina a generalização das si- transposições, el-isões, figuras de dim»-
idiomaticos representativos dos objectos, gnificações, a analogia que vae ampliando nuição ou de augmento, modificações
(substantivo) das acções (verbos) c das a funeção representativa dos vocábulos,
prosoiíicas sensíveis obedientes a liis c»*
circumstancias, (adjectivos e advérbios) ou das syllabas. Analogia que obedece matericas, cósmicas e históricas, c de tal
que resumem toda uma syntaxe priini- a um sentido sensorial, ou a uma lógica forma que se contavam dezenas de diale-
tiva, que prescindia de .preposições e sentimental. Isso tudo estabeleceu v.iuita ctos na época da descoberta. Accrescen-
conjunções, primeiras mdietas da deca- confusão entre os que primeiro c£*uda- te-se a isso a obra unificadora dos je*
dencia na íuneção creadora das linguas. ram as linguas dos nossos aborígenes. suitas, as influencias hespanholas, por-
Porque não tinha sido interpretado tuguezas, francezas e tapuyas. De modo
A hypotese onamatopaica de Heber, a o
sentido dessas linguas. de homen3 se
das interjecções de Home Tooke, a do pn- que a documentação desta hypothcsc
mitivos, «m plena idade da pedra lascada.
poder inherente á natureza humana,
de torna multo difficil. A hypothese c apenas
Max Muller, a matéria debatida por Con- Quando, com Raul Bopp, comecei a me para mostrar o espirito que possivelmente
dillac. Leibnitz. Locke, são indicações interessar f>or estes assumptos, estimu- presidiu a formação da lingua tupy.
curiosas para indagações mais remotas, lados ambos pelas nossas conversas com
Pa. Pe, p«, po, pu, traz sempre idéa àc
e hoje, pelo menos, nos fazem meditar Alarico Silveira, demos para fazer varias
superfície, ponta, extremidade, contacto,
"descobertas".
sobre o acervo léxico das raças que fo- Não sei até que
ponto contorno, revestimento, limite. Sendo su-
ram desapparecendo em nosso continente. podem ellas ter valor. Em todo o caso,
"homus perficie, também é tudo o que se refere
A própria origem do americanus , são oaminhos nara melhores averi- a plano, por exemplo a pequenez, a cha-
da
pensamento que nos perturba diante guações. teza. que sí confunde quasi com a su-
Lagoa Santa ou dos Sambaquis de Igua-
Por exemplo: onde entram as expres- perficle. Donde peua, ou peba, que sign»-
ou na consideração phantasiosa aos e
pe; sões te, ti, to, tu, quer dizer fica chato, liso. Cachorro pequeno
chronistas das possíveis migrações trans- que a
cousa é dura de tinir. 1U — pedra, ftr- yaguá-pcua, ou yaguÃ-peba. Mas cxpri*
occanicas precolumbianas; o senso das
ro; ibitu, — montanha, de ibi-terra, e tu, mindo esta consonancia também ponta,
cdades, a edade da nossa terra, tu lo isto coisa dura, extremidade, coisas tão relacionadas com
tesa; cunhatan-muíhcr vir-
se prende, de certa forma, ao estudo do superfície, (é a lógica intima das inter-
gem, de cunhã-mulher, e tan-coisa dura,
domo indio e da sua língua, e o assum- correspondências sensoriaes) o índio cha-
tesa-(os seios, naturalmente); taquara-
pto é hoje multo mais suggestivo. ma a aza do passaro pepu, as mãos do
canna de bambu, de tá-duro, e quara-ôco;
Porém, principalmente depois das hy- tétá-fogo, homem, po, ou pu, Pela mesma razão, as
provavelmente porque é do
cousas que revestem levam esja conso*
potheses de Freud, da sua interpretação atricto de coisas duras que sáe fogo, c o
nancia. Pelle é pe, ou pi. Como vimos,
pela psychanalyse da vida social dos po- indio não conhecia mesmo outro proces-
re-re, oy riri são formas do
vos primitivos ("Totem et Tabou"); de- so de fazer fogo, aliás velho processo que plural. Dahi
vem piriri, ou perere, muitas pelles, por-
pois do cansaço das civilizações de que vinha desde os primeiros sambaquis de
a Europa presente é uma grande expres- Iguape, ou desde o homem de Lund; ou que a pelle quando irritada dá a ídéa dí
são; e ao despertar de um século em que de Ameghino, segundo a descoberta íeita que se multiplica cm muitas pellozinhas.
o senegalez confraternizou com o"4poilu", Pelo menos é a sensação que se leu»,
pelo incançavel Ricardo Croner.
e Josephina Backer lançou os requebros quando nos sentimos arrepiados. Por-
— é depois de tudo Como sabemos, agua e hy, ou Ig. Quem tanto, perereca, ou pirírica significam es-
yankees do Zanzibar,
nos dirá que pedra, ita, não vem da cir- trcmcccr. Ligada essa idéa ao ar, ao ven-
isto que ha um novo interesse, e, por-
cuinstancia de estar'sempre a pedra iiga- to, ás folhas das arvores, c finalmente a
tanto, deve haver um novo critério para
da á agua, nas minas, nas grutas, no mar, outro, rumores da natureza, temos a si"
o estudo da nossa língua tupy
ou em lueta, ou em paz? Seixos que gniíicação também empregada de sus-
A doutrina da equivalência espiritual, rolam, peàrcgulhos, granitos e basaltos 'surrar, sussurro. Mas pe é, principal-
denominação que poderemos dar ao pon- emoldurando as cachoeiras, penedos no mente, a expressão do contacto entre os
to de -vista catholico do inicio da colo- mar, tócas onde nascem os corrcgos... sentidos e os mundos subjectivo e obje-
nização brasileira, assume hoje um novo ctiyo. Donde a significação de super-
Espuma t tii. Porque a espuma se ori-
aspecto. E' a equivalencla das forças ori- ficie, de contorno, de véo ou
gina de choques, de violências. E tudo o que pcll-í. Por
ginaes humanas, denominador commum isso, petuna (pelle ou véo
é forte, ardente, traz, por analogia, o t. preto) quer
de todas aa raças. dizer noite. Mas é á noite se repousa,
Tai, raiz que arde, gengibre; tainha, deu que
das nossas tes; taturana, jnsecto que queima ; tiqui- que se dorme, portanto, pituú é o verbo
, A tendencia primitivista repousar. E o dia em
artes modernas, como das formas da ci- rn, aguardente, pinga ; tainha, caroço, se- que se descança
viVização moderna, o proprio primitivismo mente de dente); tacunhá, (domingo ou feriado) é para o indio tam-
(analogia
do macho bem pituú. Esta consonancia,«exprime,
desta éra nova, que Keyaerling denomina membro sexual (tá, duro;
tacape, arma também, por essas intimas analogias o
a éra do chauffeur, tudo Isto nos jeva cunhã, mulher); dc ma-
rebentar da» superfícies. Assim,
ás mais intimas confraternizações com o tar, etc. , temos
pororoca, pipôca, pereba, puca, (quebrar,
elemento humano cm suas expressões iní- A consoante U lembrando tudo o estalo de onde arapuca, ara-ave; c
ciaes. Vem dahí a comprehensão mais puca-
que é duro, forte, violento, traz sempre quebrar). Pelo que vimos, pelle
perfeita que teremos da língua dos po- se vc em piriricada
idía de atricto, como tttá, fogo, quer dizer pele que salta irritada. Tudo
vos primitivos..
cm tii, espuma. Por isso, tiquira. Pois tudo o que salta, estrcbucha, é
pcrereca. Dc
A nossa língua tupy, não a devemos O que é qui significa coisa meuda. Ti é onde vem o Sacy-percre, ou
perereg. Mais
estudar mais com um senso grammati- violência que o fogo exerce para distil- forte do que piririca, é,
porém, tirlrlcà,
cal, philologico, mas com um senso humano. lar a aguardente, que vae sahlndo aos P»io que já vimos do valor de t. Por-
"ficar
O idioma, ou os idiomas falados pelos pingos, qui. E ternos também Quiriri, ou tanto, tiririca", expressão que
povos americanos precolombianos repre- qulririm, que quer dizer muitos nieúdos, usamos tanto, dá perfeitamente idéa do
sentam uma verdadeira eucharistia: o do mesmo modo que quirera. Como se estado do indivíduo que estremece com
homem commungando com a natureza. sabe. o plural em tupy, entre suas varias violência, ou dá pulos dc raiva.
formas tem a da repetição dc rere,
E' sob este ponto de vista que deve- Em outros artigos arranjaremos exem-
mos tomar os elementos verbaes poly- ri-ri.
pios interessantes, não só do ponto de
ryntheticos da lingua dos nossos selva- Isto dito, vejamos Mantiqueira, o nome vista das analogias sensoriaes, como ago-
gens. Veremos desdobrar-se aos nossos de nossa grande serra. Man quer dizer ra, mas das sentimentaes, que revelam
olhos através de cada palavra, de cada ver, enxergar. Tiquera, ou tiquira, quer operações psychologicas mais difficcis.
raiz, toda a alma do nosso indio. dizer meudos, pequeninos, razurado, pul-
Hoje foi só para mostrar que * lin-
verizado. O indio, naturalmente, do alto
Tenho observado — pelos pouquissnnos gua tupy í unia lingua quasi em estado
da serra, via tudo diluído na distancia,
conhecimentos que tenho do tupy — que nascente, directamente ligada á natureza,
via tudo tiquera...
a onomatopéa é, de facto, a origem mais oriunda do contacto imnicdiato entre, o
remota da linguagem dos índios. Não di- E' preciso notar-se (e chanjo a attenção homem e o mundo.
rei precita.-mente onomatopéa. segundo a dos meus leitores para este facto) que
presumpção de Herder, ou seja a imita- nem sempre se encontrará a confirmação , Plinio Salgado
ção da natureza. Prefiro a onomatopéa destas hypothezes na língua tupy. Por-
BRASILIANA
Manifesto Antropofago RAÇA
Dcuma correspondência de Sarutayá
Contra as historias do homem,
que (Est. dc S. Paulo) para o Corfclo Paulis-
começam fonte do costu-
no Cabo Finisterra. O mun- Contra a Memória tano, n. dc 15-1-927:
não datado. Não rubricado. Sem me. A experiencia pessoal renovada. O Sr. Abrahão José Pedro offcreceu
^ aos seus amigos um lauto jantar com-
"apoleão.
Sem César.
memorando o anniversario dc seu filhf-
concretistas. As idéas to-
Somos nho José c baptizado do pequeno Fuad,
A fixação reagem, queimam gente
do progresso por meio num conta, que nessa data foi levado á pia baptiimal.
ca'alagos e apparelhos de televi- nas Suprimamos as Foram padrinhos o sr. Rachide Mus Ufa
praças publicas.
sao' e sua esposa d. Torgina Mustafa.
Só a maquinária. E os transfu- idéas e as outras paralysias. Pelos
Sores O Sr. Paschoalino Vcrdi proferiu um
de sangue. roteiros. Acreditar nos signaes, acre-
discurso de saudação.
ditar nos instrumentos e nas estrel-
POLÍTICA
Contra as sublimaqões antagoni- Ias. Da ^icsma correspondência:
cas- Trazidas O Sr. Rachid Abdalla Mustafa, escrivão
nas caravellas.
a mãe dos Grac- dc paz, muito tem trabalhado para au-
Contra Goethe,
Contra de D. João VI#. giuentar o numero- de eleitores.
a verdade
povos dos mis- chos, e a Côrte
DEMOCRACIA
narios, definida sagacidade
pela Telegrama de Fortaleza (AB):
um antropofago, o Visconde de A alegria é a dos nove. "Itassussê"
prova A bordo do passou por
Cayrú: —
É a mentira muitas vezes este porto com destino ao norte, S. A.
rcpetida. chamaria D. Pedro de Orleans e Bragança, acom-
A lueta entre o que se

e a Creatura-illustrada pela panhado de sua esposa e filho.


Increado
S. A. desembarcou, visitando na Praça
Mas não foram cruzados contradição permanente do homem
que vie- Caio Prado a estatua.de Pedro II. O povo
fam. Foram c
fugitivos de uma civi- e o seu Tabú. O amor quotidiano acclamou com cnthusiasmo o príncipe. A
'"ttção Antro- officialidadc do 23.° B. C. e a banda de
que estamos comendo, por- o modus-vivendi capitalista.
musica cercada de enorme multidão,
9ue somos fortes e vingativos como do inimigo 3a-
0 Jaboty. pofagia. Absorpção aguardou a chegada de S. A. naquelU
cro. Para transformal-o em totem.
praça.
A terrena fina-
A humana aventura. Compacta maisa, acompanhou os dis-
Se Deus é a consciência do Uni- as elites tinetos viajantes até a praça do Ferreira,
lidade. Porém, só puras
verso onde o tribuno Quintino Cunha fez uma
Incrcado, Guaracy é a mãe realisar. a antropofagia
conseguiram
dos viventes. enthusiastica saudação em nome da po-
Jacy é a mãe dos ve- em si o mais alto
carnal, que traz pulação.
getaes.
sentido da vida e evita todos os ma- Na volta para bordo, um preto catraeiro»
les identificados Freud, males dc nome Vicente Fonseca, destacando-se
por
Não tivemos especulação. Mas ti- dá não é uma da mu!tid5o abraçou o príncipe dizendo:
cathechistas. O que se "Fique sabendo
nhamos Po- E a que as opiniões inuda-
adivinhação. Tinhamos sublimação do instineto sexual.
"tica rani mas os corações sSo os mesmos
que é a sciencia da distribui- escala thermometrica do instineto RELIGIÃO
Ç^o. E um systema social elle se tor-
planeta- antropofagico. De carnal, Telegramma dc Porto Alegre para a
no.
na electivo e cria a amizade. Affe- Gazeta de S. Paulo n. de 22-3-927:
a scien- Vindo de S. Paulo chegou a esta ca-
ctivo, o amor. Especulativo,
da Silva, que fez o
As migrações. A fuga dos esta- Che- pitai o sr. Sebastião
cia. Desvia-se e transfere-se.
raide daquclle (Estado ao no»so, a pé,
tédiosos. Contra as escleroses A baixa an-
Urbanas. gamos ao aviltamento. tendo partido dalli em outubro.
Contra os Conservatórios, "raidman" tomou essa resolução em
tropofagia agglomerada nos pecca- O
e o tédio
especulativo. dos de cathecismo — a inveja, a virtude de unia promessa feita a Virgem
o assassinato. Maria, para que terminasse a revoluçío
usura, a calumnia,
De William no Brasil. Quando se achava proximo a
James a Voronoff. A dos chamados povos cultos
e
transfiguração
Peste esta Capital, teve conhecimento do ter-
do Tabti em totem. é contra ella que es-
christianisados, mino da lueta, proseguindo até aqui, a(im
Antropofagia.
tamos agindo. Antropófagos. de cumprir a sua promessa.
Sebastião Antonio da Silva conta
0 familias e a creação da actualmente 35 annos de edade.
pater Contra Anchieta cantando as onze
Moral NECROLÓGIO
da Cegonha: Ignorancia real virgens do céo, na terra de Ira-
mil De unt discurso do professor Joio Ma-
coisas-}-falta de imaginação-fsen« Ramalho
•'ivtento cema — o patriarcha Joáo rlnho na Academia Nacional de Medicina
de authoridade ante a pro- do Rio dc Janeiro (EiUdo de S. Paulo,
fundador de São Paulo.
curiosa.
n. de 3-8-921):
não O dr. Daniel de Oliveira Barros c Al-
A nossa independencia ainda
E' meida nasceu num dia e morreu em outro,
preciso partir de um profundo D.
foi proclamada. Frase typica de de doença dc quem trabalha, coraçSo can-
?Jheismo para se chegar a idéa de — Meu filho, põe essa
Deus. João VI.*: çado antes dc tempo.
Mas o carahiba não precisava, al- Entre os dois, correu-lhe a vida.
"orque coroa na tua cabeça, antes que
tinha Guaracy. SURPRESA
o faça! Expulsa-
gum aventureiro
Telegramma de Curityba para a Folha
mos a dynastia. E' preciso expulsar
0 objectivo creado reage como os da Noite de S. Paulo, n. de 2-11-927:
Anjos da o espirito bragantino, as ordenações Informam de Imbituba que o indivíduo
Queda. Depois Moysés di- Maria da Fonte.
Vaga. e o rap.é de Juvenal Manuel do Nascimento, ex-agen-
Que temos nós com isso?
te do correio, reuniu em sua ema todos
Contra a realidade social, vestida os amigos c parentes 40b o prcCxto dc
Antes dos descobri- fazer uma festa. Durante o almoço, Ju-
portuguezes e oppressora, cadastrada por Freud
Brasil, o Brasil tinha desço- venal mostrou-se alegre e, ao terminar a
y«m o — a realidade sem complexos, sem
berto
a felicidade. festa foi ao seu quarto, do qual trouxe
loucura, sem prostituições e sem pe- um embrulho contendo uma dynamite, di-
Contra o indio de tocheiro. O in- nitenciarias do matriarcado de Pln- zendo que ia proporcionar a todo* uma
dio filho de Ca- do rama. surpresa.
de Maria, afilhado
tharina Todos estavam attentos e esperando a
de Medicis e genro de D.
surpresa quando, com espanco geral, o
Antônio Mariz. OSWALD DE ANDRADE.
de dono da casa approximou um cigarro
acceso do embrulho que cxplrdiu, ma-
A alegria é a prova dos nove., Em Piratininga. tando Juvenal e ierindo gravcuuntc sua
Anno da Deglutição do Bispo esposa e todas as pessoas que haviam
374
No matriarcado de Pindorama. Sardinha. assistido ao convite fatal.
8 Revista de Antropofagia

"Descida" Portugal vestiu o selvagem. Cumpre despil-o. Para


A Antropophaga "innocencia
que elle tome um banho daquella conten-
te" que perdeu e que o movimento antropophago agora
"descida"
A agora é outra. lhe restitue. O homem, (falo o homem europeu, cruz
O Autor credo!) andava buscando o homem fora do homem. E
de lanterna na mão: philosophia.
"descida"
Ha quatro séculos, a para a escravidão. Nós o homem sem a duvida, sem siquer
queremos
"descida"
Hoje, a para libertação. O Dilúvio, foi o a presumpção da existencia da duvida: nú, natural, an-
movimento mais serioque se fez no mundo. Deus apa- tropophago.

gou tudo, para começar de novo. Foi intelligente, pra- séculos de carne de vacca! horror 1
Quatro Que
tico e natural. Mas teve uma fraqueza: deixou Noé.
O movimento antropophago, — que é o mais serio OSWALDO COSTA.
(a)
depois do Dilúvio — vem para comer Noé. NOE* DEVE
SER COMIDO.
VISITA DE SÃO THOME*
Penso que não se deve confundir volta ao estado
íatural(o que se quer) com volta ao estado a Bahia não se chamava Bahia,
primitivo Quando
(o que não interessa). O que se quer é simplicidade e muito antes de Pedro Alvares Cabral, São Tho-
não um novo codigo de simplicidade. Naturalidade, não
rné foi lá um dia.
manuaes bom tom. Contra a belleza canonica, a bel-
de
Não sei se foi acaso ou vêr. Mas
eza natural — feia, bruta, agreste, barbara, illogica. por para
Instincto contra o verniz. O selvagem sem as missan- viu.

gas da cathechese. O selvagem comendo a cathechese. Viu e contra as coisas viu.


protestou que
Os PEROS que ainda existem entre nós hão de Fez um discurso cheio de conselhos os
que
sorrir por seus dentes de ouro o sorriso civilisado de
Índios escutaram de boccas abertas:
reagindo contra a cultura, estamos dentro da cul-
que,
Que era preciso adorar a Deus, fugir do de-
não é cultura euro-
tura. Que besteira. O que temos
de quatro séculos. monio, não ter mais uma mulher. Conselhos
péa: é experiencia delia. Experiencia que
Dolorosa c páo. Cem Direito Romano, canal de Veneza, bons.
Tobias, Nabuco e Ruy.
julgamento synthetico a priori, Emquanto falava, fazia nascer da terra a
O que fazemos é reagir contra a civilisação que inven-
da mandioca
planta e a bananeira que ainda
tou o catalogo, o exame de consciência e o crime de de-
hoje dá bananas de São Thomé.
floramento. SOMOS JAPY-ASSU':
"Ce fut merveil- Então os Índios gostaram.
venerable vieillard Japi Ouassou
leusement attentif, comme tous les outres Incliens lá Quando São Thomé, cansado, sentiu que
il replique ce qui devia
presens aux discours susdicts á quoi acabar, acabou com estas palavras:
s'ensuit. Je m'esionis extremement de vous voir et me —E não comam nunca mais carne de gente!
manqueray á tout ce ie vous ay promis. Mais ie me es-
Então os Índios não Avançaram.
gostaram.
tonne comme il se peut faire que vous autres PAY ne
Quizeram comer o santo.
vouliez pas de femmes. Estes vous descendus du Ciei?
Felizmente São Thomé corria mais do
Estes nays Quay doncl n'estes pas
de Pere et Mere? que
mortels comme nous ? D'ou vient que non seulement elles.

vous ne prenez pas de femmes ainsi que les autres Fran- Chegou na beira da deu um de
praia, passo
;ois que ont trafique avec nous depuis quelque quarante meia légua e foi numa ilha onde não tinha
parar
et tant d'années; mais ancore que vous les empechez
selvagens.
mainteoant de se servir de nos filies: ce que nous esti-
avoir (Quem me ensinou isto foi Frei Vicente do
mions s grand honeur et grandheur, pouvans en
des enfans". Salvador...)

(Claude d'Abbeville—"Histoi-
re de la Mission des Péres
ALVARO MOREIRA.
Capucins en l'Isle de Mara-

gnan et terres circonvoici-


NOTA INSISTENTE
nes.")

Neste rabinho do seu numero a


Contra o servilismo colonial, o tacape inheiguára, primeiro
'gente "Revista
de grande resolução e valor e totalmente impa- de Antropofagia" faz de repe-
questão
ciente de sujeição" (Vieira), o heroísmo sem rofta de tir o que ficou dito lá no principio:
"que
Commendador dos carahybas, se oppuzeram a que Ella está acima
de quaesquer ou
grupos
Diogo de Lepe desembarcasse, investindo contra as ca-
tendencias;
ravelas e reduzindo o numero de seus tripulantes"
"Historia Ella acceita todos os manifestos mas não
(Santa Rosa — do Rio Amazonas").
Ninguém se illuda. A do homem americano bota manifesto;
paz
com a civilisação européa no Ella
é paz nheengahiba. Está acceita todas as criticas mas não faz
"aquella
Lisboa: apparatosa paz dos nheengahibas não critica;
passava de uma verdadeira impostura, continuando os Ella é antropófaga como o avestruz é co-
barbaros no seu antigo theor da vida selvagem, dados á
milão;
antropophagia como dantes, e baldos Inteiramente da
Ella nada tem
luz do evangelho." que ver com os pontos de
Como se vê, facilimo ser antropophago. Basta eli- vista de que por acaso seja vehiculo.
minar a impostura. "Revista
A de Antropofagia" não tem
Foram estas as conseqüências dos versos ruimzi-
orientação ou pensamento de especie alguma:
zinhos que Anchieta escreveu na areia de Itanhaeíi:
só tem estomago.
Ordenações do Reino, grammatica e ceia de Da Vinci
na sala de jantar. E não houve ainda quem comesse A de A. M.

Anchieta 1 R. B.
Luiz F. Papi
(1922-2009) 205

Orbestiário
(excertos)

o fetiche ictiofálico

do boto-namorador

dá ao inundo subaquático

habitado ator
pelo

tucuxi donjuanesco

poderes de sedução

num enredo novelesco

que arrebata o coração

da cunhatã da ribeira

rendida ao som galante

da viola seresteira

dedilhada amante
pelo

saído da funda vala

do rio para emprenhá-la

47

cauda de e cabelo
peixe

corrido a Janaína

faceira e nuinha em pelo

sendo combina
princesa

a afro-baiana
graça

com o sestro da linhagem

ameríndio-iorubana

traz à luz a imagem


que

no mar

lagoa

ribeiro

da uiara e iemanjá

sob nuvem de alfenim

servindo de travesseiro

ao embalo e sonho da

sereia tupiniquim
Jorge Tuíic
(1930-)

Cartilha indígena

0 mundo está escrito.

Números, sementes,

objetos,
palavras.

A são
palmeira gestos,

a cobra é um nó,

lagartixa é caminho,

índio sabe histórias

de Bena e Bari,

toca flauta de sombra,

risca lua nova de


peixe,

segredos da terra

ele
guarda.

Amor dos índios

roçado,
planta

embala na rede.
O
japá

Com a do babaçu
palha

se faz a esteira da sesta,

mas faz tudo


palmeira que

pra coisa se
qualquer presta.

O japá cobre o
produto

da igarité o transporta,
que

serve também como folha

no vão serve de
que porta.

Agora a rede balança

nas vigas, lá e pra cá;


pra

se a luz atrapalha o sexo,

sai um e chuta o
pé japá.
Canção nativa

Chãozinho de folhas

me avisa de chuva.

Com as palhas da Envira

as lembranças

tecem lembranças.

Os Pakaraós — dizem —

comeram dessa fruta.

Onde tem
pupunheira

o mormaço é de gente.
-)
Gilberto Mendonça Teles
(1931
209

Aldeia
global

A José Mauro de Vasconcelos

1.

No meio das tabas há menos verdores,

não há brabas nem campos de flores.


gentes

No meio das tabas cercadas de insetos,

pensando nas babas dos analfabetos,

vou chamando as tribos dos sertões gerais,

passando recibos nos vãos de Goiás.

Trago o sol das férias e algumas leituras,

e trago as misérias dessas criaturas

para num brinde os sinais que são


pôr

a força dos índios escutando o chão.

Venham os xerentes, craôs e crixás,

bororos doentes e xicriabás.

E os apinajés, os carajás roídos,

e os tapirapés e os inás perdidos.

Tupis canoeiros e caiapós,


jés

xavantes fulvos caraós,


guerreiros,

índios velhos, novos, os sobreviventes

das nações e povos mortos ou presentes.

Venham com seus mitos e lêndeas na língua.

Tragam tartarugas e íngua.


periquitos,

Tragam rede suja e sexo escorrendo

(o olho de coruja fechado, mas vendo).

Vinde todos, vinde, como o curupira,

vos brinde no avesso da lira.


para que

Vinde, vinde ao poema


e safados
gritai

corno siriema nos ermos cerrados.

2.

No ineio das tabas não ver dores,


quero

mas morubixabas e altivos senhores.

Quero a rebeldia das tribos na aldeia.


"poesia".
Nada de cara feia:
Quero

cor de e urucum no
jenipapo peito,

não índio de trapo falando sem


jeito.

Quero todos sabendo de tudo.


prontos,

Não índios tontos, índios sem estudo.


quero

Quero todos dentro de uma lei existe


que

como luar no centro de seu mundo triste.

Quero ver as danças dos índios


goianos,

cheios de esperanças, cercados de enganos.

Quero ouvir os dos índios bororos,


gritos

cheios de mosquitos, fortes como touros.

Ouvir a risada tupi ou tapuia

na língua travada como nó de imbuía.

Sabê-los envoltos no sim do momento

e admirá-los soltos como a luz no vento.

Escutar estórias, as dicções agudas;

saber as memórias, as coisas miúdas

ditas nos como dedilha


gerais quem

as cordas vocais de uma redondilha:

"—
índio caiapó

vai os matos,
queimar

vai cal e pó
pôr

no rumor dos fatos."

"—
índio canoeiro

vai beber cauiin

e lutar ligeiro

Tocantins."
pelo
"—
índio
javaé

tem
pirarucu?
índio vai é

virar candiru.1'

"—
índio carajá

quer comer
pipoca?
índio agora já

vai
querer popica."

"—
A onça comeu

cachorro meu um.

Berocan encheu,

e chegou
piuin."

3.

Mas o índio fera,


guaiá parecido

olha o rio lá de sua tapera

e, cheio de doença, de fome e de rnugre,

não vê diferença no comum do bugre.

Dança a aruanã, bebe muito e dorme,

e sonha a manhã como um sol enorme

queimando cachaça, como os Anhangueras.

E então acha sem saber deveras


graça

que os índios
goianos

(índios brasileiros)

só conhecem danos,

sendo os verdadeiros

donos desses rios, desses campos e ervas,

donos dos desvios de suas reservas.

Donos da linguagem no fundo da boca,

donos da folhagem, da raiz, da


pouca

certeza doída de sabe a


quem priori

que até sua vida vai virar folclore.


Walmir Ayala
(1933-)

ACARIO-OCA

lírico da cidade de São Sebastião)


(Mapa

As carências da língua

A língua deste -
gentio

Opinou certo Gândavo -

Carece de F. L, R,

Cousa digna de espanto

Pois isso não tem fé


por

Em o coração encerre,
que

Nem lei, nem sagrado manto

De algum rei.
prepotente

A origina] dedução

Do cronista diligente

Repetiu-a Frei Vicente

Do Salvador. Luxo vão

De língua tomar
pela

Ao da letra o direito

De reger e escravizar.

Não se deu conta talvez

0 pedante prosador

Que F, L, R, mais 0

Faria a ílor:
palavra

E de flor não carece


que

Nosso
gentio precursor,

Pois seu solo é ébrio de flor.

Seria todo um
jardim

Não fosse o tortuoso amor

Do seu selvagem confim

é inferno
Que pelo verdor

Onde a orquídea é um serafim.

E a flor de
jabuticaba

É o feroz adorador
De deuses rios concebidos

No ventre da água
puro

Por não Gândavo


que pensou

Km lirar direito à lior

Ao índio escravo?
jamais

Em seu coração mirim,

Tão retórico e torcido,

Mais vale o discurso à margem

Da erudição concebido,

0 original
processo

De fazer alto humorismo,

Por ou cinismo,
preguiça por

E assim reduzir o índio

Por sutil neologismo.

Ó carentes de
poesia,

O supercivilizados,

Não vos dera Deus os remos

Nem a dourada energia

Com depois vos fartastes


que

Não só de flor de algodão,

Mas de uma flor cor de sangue

Cravada no
pau-de-tinta

De fizestes as arcas,
que

Por vossos reis indolentes,

Por vossas leis dirigidas,

Por vossa fé de inclementes.

Melhor fora, com disfarce,

Querer apagar a flor

Da língua deste
gentio,

Do impor, a dura face,


que

Por razões de desgoverno

A arma da vossa
justiça

Pelo capricho de um termo.


Balada do antropófago

Eu te corto como cortasse


quem

Em duas, ver o silêncio


para

A integridade de uma face.

Sorvo teu sangue e não tenho

Sede - devoro-te e não tenho

Fome - sou o algoz do homem.

Que és - inimigo - e te asso

Dividido, como se nas


partes

Houvesse em cada uma um grito,

Houvesse em cada uma um fato,

Houvesse em cada uma um frêmito

Que florisse a rosa do ódio.

Dancemos vive dançando)


(Deus

Enquanto cravo o dente certo

Em tua maciez deposta,

Posta de coxa
peixe,

De veado, lombo manso,

De capivara - tudo és.

Eu te devoro e dançamos.

Pesas no meu estômago, inimigo.

Deste morrer,
peso quero

Contigo.
Da inútil escravidão

Não, o índio não daria

bom escravo.

Bravo Piró
português

fundador da feitoria,

mais madeira, era a terra


que

o
que queria.

Não, o índio não daria

o escravo essa empresa -


para

mais certo é morreria.


que

Bravo Piró,
português

como em tuas mãos violentas

o manso Brasil nascia!

Com sinal tu marcavas


que

a carne do índio rebelde

à tua benfeitoria

- ó
falsa benfeitoria!

Era em brasas, era em brasas

o ferro com o ferias.


que

Que chaga escura, Piró

naquelas carnes macias.

Estes índios nem cantam,


já nem querem os vidrinhos

de cor com os seduzias;


que

já sabem o é traição
que

já sabem o
que é invasão

só não sabem o sentido

dessa colonização.
Livre relato de um cronista

viu os da terra e
que pássaros

os interpretou El-fíei.
para

Quantos cocares
perdidos

em de lama fria,
poças

sangue, virgem,
quanto quanta

fatal desarmonia!
que

Eram a preguiça,
própria

dançavam, riam,
guerreavam,

tinham tinham caça,


peixe,

se lhes dava a raça


pouco

se em nasciam.
paraíso

Piró, Piro, desgarrado

em degredo,
português posto

empunhas armas sem medo

contra desnudados.
peitos

0 valentia

de ratos de feitoria!

E foste até bandeirante,

com mameluco a serviço;

contigo a selva, sem dono,

teve o ultraje de seu viço.

Quantos nomes: Fernão Dias

de sobrenome Paes Leme,

o outro, Raposo Tavares,

e o Bueno Bartolomeu!

Quantos nomes tão sonoros,

nobrezas lançadas,
quantas

ó Luis de Brito de Almeida,

nome de governador -

nomes acrescidos
quantos

definindo a mesma dor.


Matadores de gentios,

2I7 f
vos dera outro caminho L
quem

neste encargo de amargor!

Não, o índio não daria

a vós nome de senhor.

Morreu, hoje é este fantasma

nu orlas marítimas,
pelas

com menos selvageria

que proscrição pela pele.

I loje morre desgarrado

como animal sem memória,

como sonho sem linguagem.

Mas de escravo não reflete

nem imagem.

Livremente ele agoniza:

soberbamente selvagem.
Olga Savary
(1933-)

Anharigá*

Darei teu nome à minha fome,

teu nome darei à minha sede.

Darás teu nome à minha força,

à minha vertigem e ferocidade.

Es Brasil, meu e fortaleza


país

como se fora uma sumaumeira

a me aprisionar e tornar obsessiva,

me dá vida e mata cadenciadamente,


que

a me impor leis não são as minhas.


que

*Do bem.
tupi: dos animais ferozes, gênio do
gênio
Cendáua*

Heráldica fera abocanhada

na mandíbula (la outra fera

selvagem, lá onde a casa

da cidade finge selva,

finge mato, vira


pasto,

faz da floresta apaziguada

e capim domesticado

direito de amor e caça,


por

ardor da língua em duas


pelo

bocas amazônicas,

fluir o acre mel da vida

no delta fingindo
pássaro.

*Do
tupi: lugar.
Rudá?*

Amor é uma morte desatenta,

amor é um fruto doce e duro

deitando sombra no clitóris

e na vulva: tudo invade.

Amada te sou telúrica

com os na água,
pés

terra nas mãos,

avidez de fera

e calor de estábulo,

selva amazônica.

Amor? Um deicídio.

*Do
tupi: amor?
Camanán*

No era o abismo
princípio

que sou eu e não sabia.

Diurno, não vês a noite

que me ronda e cobre

e só tu vês a manhã,

se é apaixonado e impessoal,
possível:

com o rosto belo e gasto

de tanta e desdém.
paixão

E eu não te
possuo

porque das manhãs me evado

quando nelas deveria ter meu


porto

divino, como convém a uma rainha,

tua amazônida rainha.

Nenhuma droga me embriaga

não sendo a vem dos deuses


que

pela natureza te imita


que

e tua língua em fúria


por

porque pertencemos à raça

daqueles mergulham no mar


que

como escapando a um labirinto.

*Do
tupi: caça.
1
Affonso Romano de SanfAnna
(1937-)
: 222

A do índio na
grande fala guarani perdido

história e outras derrotas: moderno vuh


popol

(excertos)

ONDE teria o meu QUANDO?

QUEM teria o meu COMO?

COMO escrever o meu ONDE?

escrever o meu QUEM?


QUANDO

Este é o aberto
poema-abcesso

remédio & cicatriz

transbordando de suas dobras

como o enforcado vivo

se desenrola das cordas

— um maior eu:
poema que

ou cresço merecê-lo
para

ou me explodo

sujando todo.

Mas as escritas antigas

não me socorrem.

Da Ilha de Páscoa às Sete Cidades

do Piauí

é tudo um vão
grafito

musgos zombam com úmido sorriso

das desrazões desesperam


que

as cartilhas novas ensinadas

no da cela
quadro-negro

as linguagens televisadas

no inuseu de cera da sala

são emoções desligadas.

— Serei um tupi tangendo novo) um alaúde?


(de

ou um cacique prisioneiro
tateando a caixa
preta

de um cego computador?

Alguma hora devo ter sido um mais feliz


primitivo,
com suas danças e cores

contemplando o inseto e as luas

olhando as aves e a chuva

sem nenhuma escrita ou traço

que se desfizesse no barro.

Agora, se índio sou

sou um moderno
pataxó

como o chefe Tururin:

— é quem sente dor


quem geme

índio fica triste


quando

tiram sua família


quando

índio começa a morrer

tocaram fogo na aldeia

índio ficou sem casa

índio ficou sem terra

ficou sem cemitério

e então

Pataxó

— comecei a morrer.

Vai ver os antigos eram melhores


que

chego a dizer

parece houve um tempo


que

em a tribo e a selva
que

o corpo e o verde

se mesclavam

e a água e o sangue

a e a terra
pele

a sombra e o sonho

eram um texto só

— e não se escreviam poemas.

Liam-se estrelas e sementes

tempestades e vontades.

0 corpo

era uma extensão da fauna e flora

rio azul-e-verde das horas

e sendo o corpo um e a natureza


poema,

um livro aberto, o
poema

não tinha letra

— o sangue era a própria história.


Mas isto era o poema-ontem

não essa angústia-agora.

Há ainda o eterno e a hora?

o dentro e o fora?

Estaria o meu poema

se dissolvendo

com seus relógios 11a história?

Ou é um sermão montanhoso

multiplicando seus pães

um o ignora?
para povo que

Da pedra lascada

a poluir o urânio
passamos

cogumelos na linha do horizonte


gerando

hoje sabemos mais de ontem e do amanhã

— e não despertamos felizes. Escapamos

de alguns vírus e balas

e só alcançamos a eternidade

— no fogo das cicatrizes.

15

Houve um tempo em havia.


que poesia

E havendo poetas

havia

o tempo do canto

e o tempo

da alegria.

Hoje

— o escutaria?
quem

Deveria eu como um tardio,


grego
retardado Jeremias
já que

continuar clamando:

Orfeu! rolai os dados de tuas


pedras

no deserto uma nova Tebas.


para
Roberto Piva
(1937-2010)

o cacique tomava chá com seu corpo pintado,

o dançava com a casca do


pajé

gambá.

você brincava com meu caralho

Macunaíma & Alice no da


país

Cobra Grande,

mesma estrutura narra-ação &

barroco elétrico pinçando

estilhaços de visões,

palmeira de cobre.

meu cu como bandeira

do navio
pirata

a lua começa a cantar.

de
("éruptions joie,

font rire le Ciei,


Qui

rnuet et ténébreux")

Baudelaire
há 50 mil anos

atrás

o xarnã
primeiro

olhou a fogueira

dos seus olhos

sob a luz

vulcânica do

crepúsculo

cantou mn poema

primaveril

com a garganta azul

da alma

& no seu tambor

de & folhas
peles

inventou o ritmo

de nossos coraçõe
Lamento do Urnbu-Kaapor
pajé

antes

de desaparecer

no

túnel

das nuvens

chega o vento

a caixa do céu

se abre

a estrela

no olho às

vezes

éo

coração bate
que

estou sozinho

110 topo

dos hemisférios
Menino curandero: coribântico
poema

(excertos)

Je tuerait les rôdeurs silencieux danseurs de la nuit

René Crevel

um corpo lunar 110


penetra

saído do mar
quarto

noite imemorial onde


jogam

os elementos

é gavião, é o menino curandero

& tem mil anos

sua dança celebra o mundo

sua risada corta a ilha

em dois
pedaços

rosa de névoa entre os

espectros

corpo de garoto por onde

o Império Romano
passa

sangue onde navegam


piratas,

estrelas turvas, bosques,

telescópios

VI

Viva resta la dolce

di una fitta
persuasione

rete demore ad

inquietare il mondo.

Sandro Penna

rico de asas

o menino xamã

incorpora o gavião

escuta a luz do monte

fica nu & deita impassível na Terra

é dele o tambor feito de Tíbias

Sc a estrela mais límpida 11a

cabeça
Graça Graúna
(1953-)

Canção
peregrina

Eu canto a dor

desde o exílio

tecendo num colar

muitas histórias

e diferentes etnias.

II

Em cada
parto

e canção de partida,

à Mãe Terra refúgio


peço

ao Irmão Sol, mais energia

e à Irmã Lua licença poética


peço

para esquentar tambores

e tecer um colar

de muitas histórias

e diferentes etnias.

III

As do meu colar
pedras

são história e memória

são fluxos de espírito

de montanhas e riachos

de lagos e cordilheiras

de irmãos e irmãs

nos desertos da cidade

ou no seio da floresta.

IV

São as contas do meu colar

e as cores dos meus guias:

amarelo

vermelho

branco

negro

de Norte a Sul

de Leste a Oeste
de Ameríndia ou de LatinoAméric

povos excluídos.

Eu tenho um colar

de muitas histórias

e diferentes etnias.

Se não me reconhecem, paciência,

haveremos de continuar gritando

a angústia acumulada

há mais de 500 anos.

VI

E se nos largarem no vento?

Eu não temerei,

não temeremos,

pois antes do exílio

nosso irmão Vento

conduz nossas asas

ao círcido sagrado

onde o amálgama do saber

de velhos e crianças

faz eco nos sonhos

dos excluídos.

VII

Eu tenho um colar

de muitas histórias

e diferentes etnias.
Poema I

O
guarani

SepéTiaraju foi um
guerreiro

defendeu com a vida o rincão

da caça, da e do
pesca plantio

do contra a invasão.
guarani

Da real história sabem


poucos

o se deu no século dezoito.


que

Sepé Tiaraju morto em combate

em nome da cultura do seu povo.

Junto a mil e
quinhentos guaranis
"esta
afirmando terra já tem don
que

na luta contra o mal ele morreu.

Mas contam lá em São Miguel

quando a noite mais


parece pituma

o Sepé vira uma estrela.


guerreiro
Poema II

Almas
peregrinas

Entre as histórias mais belas

do Rio Grande do Sul

é impossível esquecer

a canção de amor e morte

de Pulquéria e Tiaraju.

Na antiga São Miguel

com a lua testemunha


por

em meio a flores silvestres

onde tantos
pousam pássaros

se encontram os amantes.

E um amor tão bonito

que Nanderu nos faz ver

o há de mais sagrado
que

na história de Pulquéria

e o seu amor Sepé.


por

Foi na Guerra das Missões

que o amado
parente

enfrentou as duras
penas

e as lágrimas de Pulquéria

derain luz a uma nascente.

Diz a lenda Pulquéria


que

no rio ainda se banha

enquanto o amado
guerreiro

segue o Cruzeiro do Sul

quando a noite é mais


pituma.
Bernardo Vilhena
(1949-)

Ouvido ao acaso ri'477

avenida atlântica

interior de um táxi

chofer: mortos
padres

famílias destruídas

guerras, milhares de mortes

tudo isso vestir o índio


pra

e hoje, é o se vê
que
Eliane Potiguara
(1950-)

Ato de amor entre


povos

BOCA VERMELHA, guerreiro das cordilheiras

cansado... Repousava adormecido sob o orvalho.

Abriram-lhe os olhos rubros raios solares,

aromas silvestres, canções da mata.

Era Cunhataí — trêmula — errante das águas,

envolta em folhagens, flores mas sem abrigo...

Cantou-lhe em voz alta e compassada

uma canção de amor... Mas sem destino

(porém ele nada dizia e tudo entendia).

— Desperta
JURUPIRANGA!

Vem me ver hoje acordei suada.


que

Benzo

com o sumo de minha rosa aberta, enamorada,

as manhãs de delírio, completamente cansada.

Vem, te sonhei a noite toda:


que

te revelando nas águas do Orenoco,


puro,

sorrateiro, espreitando o massacre de Potosi.

Vem, que te sonhei na noite PAZ


pela

e teus dedos velozes, a guarânia, tocavam

as vitórias felizes do Império Inca.

Teu rosto estranhava a luz me envolvia,


que
— recuperado — todo o estanho eu trazia.
porque

Vem, vou me com urucum


que pintar

vou me encher de mil colares

te esperar ritual.
pra pro

Tenso

está meu corpo ofegante e

penso

no teu cheiro de homem,

no teu corpo de homem,

que me assanha e me esquenta.


Me senta a teu lado,

me toca c'oas mãos

poéticas, tão e musicais.


grandes

Me espera na hermosa Ponta Porã

e faz tua amante se sentir cunhã.

Me roça

me faz a
palhoça

pra eu morar.
Chacal
(1951-)

Papo de índio

veiu uns ômi di saia


preta

cheiu di caixinha e pó branco

eles disserurn chamava açucri


qui qui

aí eles falarum e nós fechamu a cara

depois eles arrepitiram e nós fechamu o corpo

aí eles insistirum e nós comemu eles


Ailton Krenak
(1953-)

O meu
pai

que é o fogo,

ele sem cessar,


queima

o meu é o fogo,
pai que

ele sem cessar


queima

ele
queima, queima, queima

queima, queima sem cessar

ele o foi
queima que já

ele o será...
queima que

ele
queima, queima, queima

queima, queima sem cessar.


~~~
André Vai li as
(1963-)

Totem

sou guarani kaiowá

munduruku, kadiwéu

arapium,
pankará

xokó, tapuio, xeréu

yanomarni, asurini

cinta larga, kayapó

waimiri atroari

tariana,
pataxó

kalapalo, nambikwara

jenipapo-kanindé

ainondawa,
potiguara

kalabaça, araweté

migueleno, karaja

tabajara, bakairi

gavião, tupinambá

anacé, kanamari

deni, xavante, zoró

aranã,
pankararé

palikur, ingarikó

makurap, apinayé

rnatsés, uru eu wau wau

pira-tapuya, akuntsu

kisêdjê, kinikinau

ashaninka, matipu

sou wari', nadõb, terena

puyanawa, paumari,

wassu-cocal, warekena

puroborá, krikati

ka'apor, nahukuá

jiahui, baniwa, tembé

kuikuro, kaxinawá

naruvotu, tremembé
kuntanawa, uikunã

juma, torá, kaxixó

siriano,
pipipã

rikbaktsá, karapotó

krepumkateyê, arná

kaxuyana, arikapu

witoto,
pankaiuká

tapeba, karuazu

desana,
parakanã

jarawara, kaiabi

fubii-ô, apurinã

charrua, issé, nukini

aweti, nawa, korubo

iniranha. k atilam ré

karitiana, marubo

yawalapiti, zo'é

parintintin, katukina

wayana, xakriabá

yaminawá, umutina

avá-canoeiro, kwazá

sou enawenê-nawê

cbiquitano, apiaká

manchineri, kanoê

pirahã, kamaiurá

j amam adi, guajajara

anambé, tingui-botó,

yudjá, kambeba, arara

aparai,
jiripancó

krenak, xerente, ticuna

krahô, tukano, trumai

patainona, karipuna

hixkaryana, waiwai

katuenayana, baré

menky manoki, truká

kapinawá,
javaé

karapanã,
panará

sakurabiat, kaingang

kodria, makuxi
maxakali, taurepang

aripuaná, paresi

iranxe, kamba, tuxá

tapirapé, wajuru

mehinako, karnbiwá

ariken, pankararu

sou djeoromitxi
guajá,

koiupanká, tunayana

ikolen, dow, wajãpi

amawáka, barasana

kubeo, kulina, ikpeng

ofaié, hupda, xipaya

suruí xokleng
paiter,

tupiniquim, kuruaya

zuruahã, galibi

tsohom-dyapa, waujá

xukuru, kaxarari

tuyuka, tumbalalá

borari, amanayé

hi-merimã, aikewara

kujubim, arikosé

arapaço, turiwara

kalankó, pitaguary

shanenawa, tapayuna

coripaco, kiriri

kaimbé, kokama, makuna

iriatis, karo, banawá

chamacoco, tenharim

tupari, krenyê, bará

wapixana, oro win

sateré mawé, guató

xetá, bororo, atikum

tiriyó
ye'kuana,

canela, mura, borum


/Artefatos indígenas: armas 04].
Gravura. Coleção Comissão Científica de
Exploração do Ceará, Seção Etnográfica,
[1859-1861].

Bivouac am Xingú. Litogravura. In: Skizzen zu dem Tagebuch von Adalbert Prinz von
Prussen, do príncipe Adalberto da Prússia, 1842-1843.
Chefcamacan mongoyo. Litogravura de
Charles Étienne Pierre Motte. In: Voyage
pittoresque et historique au Brésil, tomo
de )ean Baptiste Debret, 1834.

Femme camacan mongoyo.


Litogravura de Charles Étienne Pierre
Motte. In: Voyage pittoresque et
historique au Brésil, tomo I, de |ean
Baptiste Debret, 1834.
Ifndios botocudosj. Fotografia em papel de gelatina de Walter Garbe, 1909,
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Cabocle (Indien civilisé). litogravura de Charles Étierme Pierre Motte. In: Voyage pittoresque
et historique ou Brésll, tomo I, de |ean Baptiste Oebret, 1834.
I
1

[Artefatos indígenas: adornos oi]e


[Artefatos indígenas: adornos 21J.
Gravura. Coleção Comissão Científica
de Exploração do Ceará, Seção
Etnográfica, [1859-1861].

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IAves amazônicas]. Desenho de Ernesto Lohse. In: Álbum de aves amazônicas,


de Emílio Goeldi, 1900-1906.
Lúcia Sá

Entrevista realizada Sérgio Cohn


por

Sérgio Colin: Fale um sobre o interlocutor importante naquele


pouco

livro Literaturas da floresta e como momento. Ele escreveu vários livros

começou seu trabalho com o tema. sobre literatura indígena que foram

fundamentais o meu trabalho. No


para

Lúcia Sá: A minha começou entanto, apresentei o


pesquisa quando projeto

com uma tese de mestrado sobre os ele, ele falou não era
para que possível,

romances Maíra, do Darcy Ribeiro, e eu não usar os mesmos


que poderia

do Antonio Callado. Foi um mecanismos de análise da literat ura


Quarup,

trabalho bastante convencional, mas ocidental trabalhar a literatura


para

depois eu saí para fazer o doutorado em ameríndia. Mas eu segui em frente. E

literatura comparada na Universidade então eu comecei a estudar os textos


que

de Indiana, nos EUA. 0 meu deram origem ao Macunaíma, do Mário


projeto

era comparar a imagem do índio na de Andrade, e que haviam sido coletados

literatura brasileira e na literatura Koch-Grünberg, tentar


pelo para

hispano-americana. A saída do Rrasil entender do essas histórias tratavam.


que

foi importante acabei tendo Mas, ao mesmo tempo, eu queria lidar


porque

contato com outras linhas teóricas sobre com os elementos da análise literária,

textualidade ameríndia, o que fez mudar noções de espaço e questões


personagens,

o rumo da minha Eu deixei de divisão de mundo e linguagem. E


pesquisa.

de lado a da imagem do índio foi juntando os elementos etnográficos


questão

na literatura focar na forma com as ferramentas tradicionais da


para que

a textualidade ameríndia estava sendo análise literária, e pensando no


que

apropriada escritores no Rrasil e na havia de diferente na forma de contar


por

América do Sul. Mas América do Sul histórias daqueles cantos, e sobretudo

nas terras baixas, os no havia de belo, de instigante e de


pensando porque que

Andes são outra história. comovente, comecei a desenvolver


que

E o desafio foi nesses textos o projeto acabou virando o livro


pensar que

como literatura. Eu sou uma Literaturas da floresta.


pessoa

de estudos literários, essa é a minha

formação, então eu decidi usar esse SC: Recentemente, o antropólogo

instrumental analisar os textos. Eduardo Viveiros de Castro defendeu


para

Gordon Rrotherston, era não é possível compreender os mitos


que professor que

na Universidade de Indiana, foi um indígenas se não atentarmos o valor


para
literário deles. Ou seja, se não fizermos fato de são textos tão
que poéticos

uma tradução literária deles, atentando como os textos de outras culturas sobre

a forma do dizer e não apenas para as quais estamos mais acostumados a


para

o conteúdo. O vai contra a maneira pensar como de


que produtoras poesia.

de como tradicionalmente esses textos

são tratados na antropologia. Você SC: O Ezra Pound tem uma frase

concorda com ele? interessante, onde ele diz


que

normalmente todo de
período grande

LS: Eu concordo com transformação na literatura é


perfeitamente precedido

Eduardo Viveiros de Castro. O trabalho de um de ampla


grande período
"Mitológicas"
do Lévi-Strauss nas é tradução e descoberta de outras culturas.

imensamente importante, é um trabalho O Brasil ainda tem um trabalho escasso

eu respeito, de certa forma é com as literaturas ameríndias. Você


que

impossível fazer o trabalho a gente acha esse contato causar


que que pode

faz sem elas. No entanto, o reduzir transformações na literatura brasileira?

das histórias ou dos mitos, como ele

chama, a mitemas, a pequenos LS: Eu acredito sim. Esse contato


pequenos que

esqueletos de história, foi uma coisa que causou transformações na literatura


sempre me incomodou. Nesse sentido, brasileira nos momentos em


poucos

estar em Indiana foi importante também, aconteceu. E nos momentos


que poucos

lá existe o departamento de em aconteceu foi sempre do


porque que ponto

Folclore, é muito importante, onde de vista dos escritores em si. Eu acho


que

eu cheguei a conhecer o Dell I lymes, que a crítica e a historiografia literária

foi lá dar uma e o Jerome estão tremendamente atrasadas. Agora,


que palestra,

Rothenberg. E os trabalhos deles com com o trabalho do Sérgio Medeiros,

etnopoesia e os limites da textualidade do Pedro Cesarino, isso está mudando

foram muito importantes mim. E radicalmente. Mas é só nos últimos


para

claro são trabalhos de uma época, anos, na última década, isso vem
que que

e de certa forma os estudos, tanto acontecendo. Até então, a historiografia

antropológicos de etnopoéticas, literária brasileira e a crítica literária


quanto

vêm se desenvolvendo bastante nas brasileira não tinham acompanhado o

últimas décadas. Mas os trabalhos deles muitos escritores brasileiros tinham


que

foram muito importantes no sentido de feito, era entrar em contato fecundo


que

respeitar a forma como esses textos eram com estas


poéticas.

contados de um de vista oral, e E o caso do Macunaíma. Eu falo muito


ponto

também de o havia de ilo Macunaíma o o Mário de


perceber que porque que

literário naqueles textos. Eu nunca me Andrade fez em 1928 a literatura


para

com a da brasileira abalou a estrutura de corno


preocupei questão performance

em si, embora eu respeite as contar uma história. E, na verdade, foi


questões

colocadas Dell Hymes, mas na uma contribuição toda a literatura


pelo para

tradução desses textos, na transcrição latino-americana, isso só vai


porque

desses textos o português, acontecer bem mais tarde no resto da


para por

exemplo, ou uma linguagem América hispânica. Ele só pôde fazer isso


para

ocidental, deve haver um respeito pelo graças à leitura das narrativas coletadas

texto em si, pelo o texto diz, pelo Koch-Grünberg. E o Mário de


que pelo
Andrade fala isso, havia uma forma dc narrativas etnológicas falam sempre
que

ver o mundo, o fato de o herói da transformação, elas apresentam


próprio

ser uma figura não era heróica no uma forma radicalmente diferente de
que

sentido tradicional, uma figura contar uma história, onde a natureza


que

desafiava as noções de herói, e ao nunca é ser contemplada, ela é a


que para

mesmo tempo não era um anti-herói, ela muda, ela está sempre
protagonista,

era uma figura muito mais complicada, em transformação nestas histórias.

muito mais ambígua. Foi isso o


que

moveu a escrever o Macunaíma. Então SC: a sua opinião não ter


Qual para

o livro é fruto desse contato. Isso é um havido um trabalho mais sistemático

exemplo, a conhece bem, mas sobre literatura indígena no Brasil?


que gente

liá outros. Maíra é um romance


grande

ainda lido, o Darcy Ribeiro LS: Eu não saberia responder. Desconfio


pouco porque

é mais reconhecido como antropólogo, durante o romantismo, os


que, já

mas merecia mais respeito como escritor. indianistas românticos se depararam,

Agora, se a na de imediato, com uma


gente pensa possibilidade praticamente

de um movimento fecundo, de um atitude cínica, irônica, com um ceticismo

movimento de traduções de em relação ao projeto deles, ao que


grande

cantos e narrativas indígenas ocorrendo estavam fazendo. Havia todo um projeto

agora, isso causar realmente de ridicularizar tentativa de


poderia qualquer

uma mudança na forma não se levar a sério o índio, desde o projeto


grande

apenas de fazer literatura, corno romântico. Por Isso é uma coisa


quê?

colocado na belíssima frase de Pound, eu também me Talvez


que pergunto.

mas também de ver o mundo. Por uma das seja existe uma
questões que

exemplo, eu acho urna coisa as narrativa evolucionista, em o índio


que que que

indígenas revelam - eu estou é a infância, é o passado, e que


poéticas precisa

dando um exemplo só, teriam mil outras ser superado se nós nos
quisermos

— é uma forma bastante desenvolver, e esta narrativa


possibilidades ganhou

diferente de equacionar a relação entre muita força a partir do século XIX.

o ser humano e o a chama De certa forma ainda está presente, as


que gente

de natureza, o mundo ao nosso redor. continuam achando que o índio


pessoas

A forma como elas trabalham isso é é o sinal de atraso no A esquerda


país.

completamente diferente. Se a gente for e a direita, de certa forma, se juntaram

nas histórias de criação, a nossa aceitando essa narrativa, o é uma


pensar que

história de criação mais citada, é infelicidade. E existe outra questão


que

a Bíblia, se baseia numa diferenciação bastante espinhosa permeia o tema


que

radical e não ser mudada indígena, é a questão da terra.


que pode que

entre o ser humano e os animais ou No momento em você começa a


que

a natureza. Nas indígenas respeitar o índio, a respeitar a cultura


poéticas

isso não acontece. Os bichos não só indígena, começa a dar valor a


para

falam e as árvores muitas vezes falam, cultura indígena de uma forma


geral,

discutem, mas eles influenciam, mudam você está a um muito de


passo pequeno

a trajetória das coisas, das narrativas, reconhecer os direitos dos índios à terra.

mudam a forma de o ser humano ver E esta é uma questão muito complicada

as coisas. Por exemplo, as no Brasil.


pequenas
SC: E in Iniciação à Literatura bastante tradicional de da época
poesia

Brasileira, que o Antonio Cândido conceitos, a visão de mundo, o


(os jogo
escreveu em 1997, há urna frase com a linguagem), de certo modo, tinha

exemplar da ausência de relação muito mais a ver com os cronistas dos

da crítica brasileira com a tupinambás. 0 Gonçalves Dias estava


questão
"No
indígena: bebendo nas fontes dos cronistas, com
país primitivo, povoado

indígenas na Idade da Pedra, todos os limites essas fontes têm.


por que

foram implantados a ode e o soneto, A leitura o Elorestan Fernandes


que

o tratado moral e a epístola erudita, o faz desses cronistas em A social


função

sermão e a crônica de fatos." Uma frase da na sociedade tupinambá,


guerra

surpreendente, um acadêmico você dizer ele se baseou no


para que poderia que

estava numa universidade onde Gonçalves Dias. São 400 do


por páginas

passaram nomes como Lévi-Strauss e Elorestan Fernandes demonstram


que

Roger Bastide... o estudo o Gonçalves Dias fez


que que

dos cronistas foi bastante cuidadoso. No

LS: E verdade. E essa ausência de entanto, há estudos falam


quantos que

relação vai influir profundamente nas a visão de vingança do Gonçalves


que

análises dos textos. O fato de Dias é meramente medieval, como se


próprio

que se continua a fazer estudos sobre a literatura medieval esse


permitisse

o Macunaíma, ignorando-se o se tipo de vingança? Não existe nenhum


que

sabia eram as fontes do livro, é caso de um deseja a morte do


que já pai que
"I-Juca
impressionante. Quantos estudos sobre filho, como no Pirama".
próprio

Macunaíma existem em as Isto não é medieval, isso tem a ver com


que pessoas

não se deram ao trabalho de ler o Koch- uma sociedade baseada em


guerreira

Grünberg? Imagine outra vingança, é a sociedade tupinambá.


qualquer que

fonte, imagine alguém analisar um texto

literário se saiba baseado em um SC: O Silvio Homero declara, e vários


que

texto anterior, digamos a Bíblia ou um críticos importantes aceitam,


que
mito e ignorar o texto original? E no romantismo brasileiro o índio na
grego,

impensável. E no entanto, em relação às verdade é uma forma disfarçada de

fontes indígenas, estudos e estudos são retratar o negro sem tocar na da


questão
feitos sem se remeta aos originais. escravidão. Como você vê isso?
que

Não é apenas o caso do Macunaíma.

Com Gonçalves Dias ocorre o mesmo. LS: É uma interpretação tortuosa. O

É uma foi muito maltratada Silvio Romero tinha todo um


poesia que problema
crítica sempre simplesmente com a indígena. É tortuosa
pela que questão

se limitou, de uma forma bastante várias razões. Em lugar,


por primeiro

preguiçosa, porque não tinha ignora a escravidão indígena,


paciência porque

de ir ler os cronistas tinham sido a continuou existindo menos


que que pelo
fonte da sua obra, a dizer as noções até o século XIX, não se dizer
que para que
de heróis e de vingança tinham a ver ainda existe escravização agora, em

simplesmente com o medievalismo lugares da Amazônia... Um livro como

coimbrão, o medievalismo europeu. o do John Manuel Monteiro, Negros da

Quando na verdade muito do estava terra, e outros estudos históricos


que que
ali, embora traduzido de uma forma vêm sendo feitos nos últimos 20 anos
são muito importantes entender o Corno ver isso? 1 lá menor necessidade de
para

tema. É claro não ignorar refererrciar autoria aos índios do a


que podemos que

em vários autores românticos, corno outras culturas?


que

em José de Alencar, há a ausência mesmo

do elemento negro, e LS: Sim. Na reapropriação dos cantos


quando pensamos

o Alencar era um antiabolicionista, ameríndios está implícita uma


que

de certa forma, a situação se agrava. E linguagem que econômica. Essa


quase

imperdoável. Mas o Silvio Romero linguagem aparece explicitamente em


que

faz, e vários críticos repetem, é alguns casos, se fala os


que quando que

um erro também: dizer a maioria carrtos indígenas são matérias-primas, e


que

dos indianistas ignorou a escravidão não obras em si. Isto é, eles são matéria-

negra e utilizou o índio simplesmente a grande tradução de


prima para poética
"poeta
corno urna metáfora, um mecanismo um verdadeiro", que constituiria

"poeta
de substituição, e o índio é um a obra final. 0 verdadeiro" é o
que

símbolo negativo, ele não existe, é nosso e o indígena, ele fornece


que poeta,

igualmente imperdoável, e ser a matéria-prima antropológica e não a


precisa

revisto. E importante refletirmos sobre de acordo com essa linguagem


poesia,

o motivo dessa negação da importância econômica, digamos assim. Essa e

da literatura ameríndia e da beleza uma tradição antiga. 0 Darcy Ribeiro

da literatura ameríndia na cultura criticou, exemplo, a forma como os


por

brasileira. E uma das coisas eu salesianos utilizaram o material bororo


que

muito a respeito é a facilidade na Enciclopédia bororo. Para o Darcy,


penso

com se usa o termo romântico aquilo tinha estar com o nome dos
que que

descrição da índios, tem o saber deles. Mas o


para qualquer positiva porque

cultura ameríndia. Se alguém fizer mais assustador é ainda continua


que

uma descrição dos índios, acontecendo, embora, de forma geral,


positiva

é romântico. Se fizer uma descrição hoje em dia tenha-se mais cuidado.

negativa, eu não sei o seria. Talvez


que

realista? Por isso?


É evidente Nos últimos anos, foram
que que o SC: publicados
"romântico"
uso da aqui, como importantes livros de tradução de cantos
palavra

adjetivo, é depreciativo. ameríndios no Brasil, em edições muito

bem cuidadas, bilíngües, com amplos

SC: Outra tem sido estudos de referência. Ao mesmo tempo,


questão que

levantada nos últimos tempos é a da são livros obrigam um grande


que

autoria. Se você livros como o fôlego do leitor, o acaba limitando


pega que

a Josely Vianna Baptista lançou o Como unir a difusão desses


que público.

recentemente, e traz transcriações cantos com a qualidade do trabalho?


que

de cantos dos mbyá-guarani, o Roça

barroca, não há na capa a referência LS: Eu acredito as duas coisas


que

de aqueles são na verdade ser feitas ao mesmo tempo.


que poemas precisam

cantos ameríndios, há apenas o nome da De um lado, a contextualização é

Josely. O mesmo acontece com o livro do importante, e cada vez mais o trabalho

Alberto Mussa de adaptação de um mito dos antropólogos está sensível às

tupinambá, Meu destino é ser onça. A estéticas. Há uma


questões preocitpação

referência está no livro, mas não na capa. crescente dos antropólogos em traduzir
mais cuidadosamente os textos e Existe esse debate no campo das artes

contextualizar, e isso é fundamental. visuais: se devemos colocar objetos

Ao mesmo tempo, eu não vejo indígenas em museus de arte, como


por que

não se publicar os textos ameríndios, objetos de arte são, belíssimos


que por

os cantos ameríndios, como com sinal. Esteticamente, são altamente


poesia

mínima ou nenhuma contextualização. valiosos. Ou se só devemos colocar esses

E apontar apenas as fontes, apontar os objetos em museus etnográficos, que

textos que contextualizem. Esses cantos contextualizam dentro desta ou daquela

uma beleza em si cultura. Eu acredito as duas


possuem que pode que

ser desfrutada mesmo a não coisas devem ocorrer, e os museus


que gente que

entenda completamente o contexto em etnográficos têm errado muitas vezes,

foram A volta não valorização das características


que produzidos. gente pela

os ou outro artísticas do objeto. A mesma coisa


para gregos, para qualquer

contexto cultural, e desfruta deles na antropologia: existe ioda uma

sem ter necessariamente remeter história da antropologia ignora


que que

especialistas. Você tem antologias a indígena enquanto


para poética poética.

de com muitas notas de Não é o caso de todos os antropólogos,


poesia grega

rodapé, dizendo era exatamente e a antropologia recentemente tem


qual

este ou aquele tema, neste ou naquele tentado corrigir isso. Por outro lado,

contexto. Mas você tem também acredito cabe à e aos


que poesia poetas

antologias não colocam isso, e e estudiosos de chamar a atenção


que poesia

nem isso os se para a mesmo. 0 ser


por poemas perdem, poética que pode

não ser lidos com ser feito com ou sem contextualização,


podem prazer,

conhecidos um número maior de dependendo do caso.


por

pessoas. Acredito as duas coisas


que

precisam acontecer ao mesmo tempo,

não são mutuamente excludentes.


Traduções

IVês de Keats
John
poemas
FORÊTOUVERTE LE LONG DUMUCURI. GRAVURA DE
CH. LALAISSE. IN: BRÉSIL, COLOMBIE ETGUYANES,
DE FERDINAND DENIS E M. C. FAMIN, 1846.
257

Keats
John

Keats nasceu em Londres a 31 fevereiro de 1821, tendo se


pedido que
"Aqui
de outubro de 1795. Ao lado de lord na lápide a sentença: jaz
gravasse

Byron e Percy Bysshe Shelley, foi alguém cujo nome foi escrito na água."
um
John

dos da segunda Apresentamos ao leitor três poemas


principais poetas geração
"Bright
do movimento romântico inglês, cujos de Keats. O primeiro é o soneto

representantes são William star", dedicado à grande de sua


primeiros paixão

Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge. Fanny Brawne, de foi noivo.


vida, quem

A de Keats é caracterizada Em 2009 se lançou um filme, dirigido


poesia

um imaginário sensual de caráter Campion, com o título desse


por por Jane

Introspectivo, metafísico, soneto e baseado nos três últimos anos


panteísta.

visionário da alma e da linguagem, nas da vida do poeta inglês. No Brasil, o

de Augusto de Campos, é dele filme recebeu a tradução de Brilho de


palavras
"se outros
a frase de a poesia não surgir uma paixão. Os dois poemas
que

tão naturalmente as folhas de apresentados ao ciclo das


quanto pertencem

uma árvore, é melhor não surja Odes, Keats atinge


que quatro quando

mesmo". O faleceu em Roma, altura poética.


poeta grande

Itália, vitimado tuberculose a 24 de


pela
Bright star, would I were steadfast as thou art —

Not in Ione splendour hung aloft the night

And watching, with eternal lids apart,

Like nature's sleepless Eremite,


patient,

The moving waters at their task


priestlike

Of ablution round earth's human shores,


pure

Or 011 the new soft-fallen inask


gazing

Of snow upon lhe mountains and the moors —

No — yet still steadfast, still unchangeable,

PillowVI upon my fair love's ripening breast,

To feel for ever its soft fali and swell,

Awake for ever in a sweet unrest,

Still, still to hear her tender-taken breath,

And so live ever — or else swoon to death.


Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente!

Não suspenso da noite com uma luz deserta,

A contemplar, com a imortal aberta,


pálpebra
— Monge da —
natureza, insone e
paciente

As águas móveis na missão sacerdotal

De abluir, rodeando a terra, o humano litoral,

Ou vendo a nova máscara — caída de leve

Sobre as montanhas, sobre os — da neve,


pântanos

Não! mas firme e imutável sempre, a descansar

No seio amadura de meu belo amor,


que

Para sentir, e sempre, o seu tranqüilo arfar,

Desperto, e sempre, numa inquietação-dulçor,

Para seu meigo respirar ouvir em sorte,

E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.

de Péricles Eugênio da Silva Ramos


Tradução

Brilhante estrela, fosse eu imóvel ao teu modo —

Não 110 isolado esplendor na altura sem nome

A espiar com aberta e eterna todo


pálpebra

O mover das águas, tal um Ermitão insone

E no místico labor leve


paciente,

Da abluç.ão ao redor de humanos litorais,

Contemplando a nova máscara de neve


Que tombou sobre montanhas e
pantanais

Não — firme neste sempre imutável ar,


porém

Aninhada ao maduro seio da


paixão,

A sentir dele sempre o suave, macio arfar,

Desperta sempre na doce inquietação,

Para ainda ouvir seu meigo alento bem forte,

E assim viver — ou desfalecer na morte.

Tradução de Afonso Henriques Neto


Ode on Melancholy

No, no, go not to Lethe, neither twist

Wolfs-bane, tight-rooted, for its wine;


poisonous

Nor suffer thy forehead to be kiss'd


pale

By nightshade, ruby of Proserpirie;


grape

Make not rosary of


your yew-berries,

Nor let the beetle, nor the death-moth be

Your mournful Psyche, nor the downy owl

A partner in sorrow's mysteries;


your

For shade to shade will come too drowsily,

And drown the wakeful anguish of the soul.

II

But when the melancholy fit shall fali

Sudden from heaven like a weeping cloud,

That fosters the droop-headed flowers ali,

And hides the hill in an Aj>ril shroud;


green

Then thy sorrow on a morning rose,


glut

Or on the rainbow of the salt sand-wave,

Or on the wealth of peonies;


globed

Or if thy mistress some rich anger shows,

Emprison her soft hand, and let her rave,

And feed deep, deep upon her eyes.


peerless

III

dwells Beauty — Beauty that must die;


She with

And Joy, whose hand is ever at his lips

Bidding adieu; and aching Pleasure nigh,

Turning to while the bee-mouth sips:


poison

Ay, in the very temple o Delight

Veil'd Melancholy has her sovran shrine,

Though seen of none save him whose strenuous tongue

Can burst Joy's against his fine;


grape palate

His soul shall taste the sadness of her might,

And be among her cloudy trophies hung.


Ode sobre a melancolia
261

Não, não! Não vás ao Lete; e, o vinho, o mosto

não faças com a raiz aconitina;

nem te sofras a ser beijado o rosto

Beladona: uva de Proserpina.


por

Não fies teu rosário em taxos frutos,

nem com besouro ou falena atra acorra

tua Psique; nem com a coruja calma

partilhes teus mais ocultos;


pesares

pois, da sombra a sombra virá, em modorra,

a adormecer-lhe a insone angústia da alma.

II

Mas a Melancolia cair,


quando

como nuvem de se espalha


pranto que

por toda a flor fornir,


pendida pra

vestindo o verde outeiro com a mortalha

de abril; deglute o teu na rosa


pesar

matinal; ou no arco-íris: salsa areia

de uma onda, ou sã
peônia globular;

ou se tua amada se mostrar nervosa,

prenda-lhe a mão; e, instando o ela anseia,


que

mergulhe fundo ao fundo desse olhar.

III

Com o Belo habita; e o Belo há de morrer

E, mão nos lábios, a Alegria acena

dizendo adeus; e arqueando está o Prazer,

que aspiração da abelha até envenena.

Ah! E veladamente a Melancolia

no templo do Deleite o altar;


pôs

só vista a com a língua contra o céu


quem,

da boca, esfaz a uva da Alegria.

Dessa tristeza sua alma irá


provar,

entre os turvos mais esse troféu.


pondo

Tradução de Wagneh Schadeck


Ode on a Grecian Urn

Thou still unravish'd bride of


quietness,

Thou foster-child of silence and slow time,

Sylvan historian, who canst thus express

A ílowery tale more sweetly than our rhyine:

What leaf-fring'd legend haunts about thy sliape

Of deities or mortais, or of both,

In Tempe or the dales of Arcady?

What men or are these? What maidens loth?


gods

What mad What struggle to escape?


pursuit?

What and timbreis? What wild ecstasy?


pipes

II

líeard melodies are sweet, bnt those unheard

Are sweeter; therefore, soft pipes, play on;


ye

Not to the sensual ear, but, more endear'd,

Pipe to the spirit ditties of no tone:

Fair beneatli the trees, thou canst not leave


youth,

Thy song, nor ever can those trees be bare;

Bold lover, never, never canst thou kiss

Though winning near the — do not


goal yet, grieve;

She cannot fade, though thou hast not thy bliss,

For ever wilt thou love, and she be fair!

III

Ah, happy, happy boughs! that cannot shed

Your leaves, nor ever bid the Spring adieu;

And, happy melodist, unwearied,

For ever songs for ever new;


piping

More happy love! more happy, happy love!

For ever warm and still to be enjoy'd,

For ever and for ever young;


panting,

Ali breathing human far above,


passion

That leaves a heart high-sorrowful and cloy d,

A burning forehead, and a tongue.


parching

IV

Who are these coming to the sacrifice?

To what altar, O mysterious


green priest,

Lead'st thou that heifer lowing at the skies,

And ali her silken flanks witli drest?


garlands

What little town by river or sea shore,


Or mountain-built with citadel,
peaceful

Is emptied of tliis folk, tliis rnorn?


pious

And, litde town, thy streets for evermore

Will silent be; and not a soul to tell

Why thou art desolate, can e'er return.

0 Attic shape! Fair attitude! with brede

01 marble men and maidens overwrought,

With forest branches and tlie trodden weed;

Thou, silent forin, dost tease us out of thought

As doth eternity: Gold Pastoral!

Whcn old age shall this waste,


generation

Thou shalt remain, in inidst of other woe

Than ours, a fricnd to man, to whom thou say'st,


"Beauty
is truth, truth beauty", — that is ali

Ye know on earth, and ali need to know.


ye
Ode sobre uma urna
grega

Inviolada noiva imersa na


quietude,

Filha do silêncio e do tempo lento,

Flórea historiadora dás virtude


que por

Lição mais doce do verso o fermento:


que

Que lenda folha-em-franjas visita tua forma

Humana ou divina, ou arribas nunca hesitantes

Na Tessália ou na Arcádia toda em folhagens?

Que mortais e deuses são esses? Que virgens relutantes?

Que louca Que fuga se conforma?


perseguição?

Que flautas e tambores? Que êxtases selvagens?

II

Doces as melodias se ouvem, porém mais doces


que

São aquelas inaudíveis. Tocai, flautas,

Não o ouvido, sim, carinhosas vozes,


para

Canções o espírito, sem som, sem pautas:


para

Jovem cantor, não é o esquecimento


possível

De tal música, e assim a árvore permanece;

Ousado amante, se o teu beijo ardente

Não atinge o fim, não há de haver lamento;

Ela também não muda em corpo e mente,

E sempre a terás no amor não arrefece.


que

III

Ah, feliz ramagem, hás de perder


jamais

As folhas, nem verás fugir a Primavera;

Feliz melodista, infatigável ser

A renovar a canção em era;


qualquer

Amor mais feliz! mais feliz, feliz amor!

Sempre ardente, sempre a ser fruído


para

Em sopro de eterna vida;


palpitante

Acima da paixão humana e seu clamor

Que deixa o coração farto, ensombrecido,

A fronte em fogo e a língua ressequida.

IV

são esses chegando o sacro ofício?


Quem para

Oh arcaico sacerdote, verde altar


para que
Conduzes o novilho do sacrifício,

Com sobre os flancos, sempre a brilhar?


grinaldas

Que aldeia ao rio ou à beira-mar,


junto

Com a montanha cidadela,


qual pacífica

Na manhã se esvaziou de sua gente?


piedosa

Ah, triste aldeia, nas ruas só o silêncio há

De habitar; nenhuma alma irá explicar ela


porque

Inteira se despovoou, desoladamente.

Atica forma! Alto Composição


porte!

De homens de mármore e virgens se ornamenta


que

Com ramos de selva e ervas calcadas no chão;

Tu, silenciosa forma, atormentas


que

A mente igual a eternidade: Fria Pastoral!

Quando o tempo esta arruinar,


geração

Tu ficarás, em meio ao infortúnio


geral,

Amiga a redizer a tantos com


presteza:
"A
beleza é a verdade, a verdade, a beleza"

— E é tudo o que se saber afinal.


precisa

Tradução de Afonso Henriques Ne'


Resenhas
[ARTEFATOS INDÍGENAS]. DESENHO EM NANQUIM.
Wilmar Silva:

Estilhaços no lago de

e Arranjos de
púrpura

e flores
pássaros

Cláudio Willer

nova edição de Estilhaços Em Arranjos de pássaros e flores-,

"eu, dentro da
no lago de diedro é meu sangue pele
púrpura

A editora onde idioma é memória nos ouvidos,


(originariamente pela piar

Anome, de Belo Horizonte, em 2006; de nhambu mastigo rubi-tomate


quando

agora em da 7Letras e Anome) separo sementes o almoço de ceres".


parceria para
"escrituras"
enseja observações sobre o modo como Precede-o uma das

esse — e ativo difusor encontradas no colossal acervo


poeta da enósticas
poesia
"O -
- uma Trovão Intelecto
prossegue tradição e ao mesmo de Nag Hammadi,

tempo a inova. Perfeito". Hino ou exortação uma


por

Nesse livro, assim como em Arranjos voz feminina, consiste na repetição do eu

de litúrgica e,
pássaros e flores, celebra a fusão do sou, conferindo-lhe qualidade
"eu"
com o mundo, a integração com evidentemente, poética:

a natureza. O é objeto análogo,


poema

em relação de equivalência e não apenas Pois eu sou a primeira: e a última

descrição de algo. Sou eu a venerada: e a desprezada.

Em Estilhaços no lago de Sou eu a meretriz: e a santa.


púrpura:

Sou eu a esposa: e a virgem.

eu anfíbio, escavo um rastro na Sou eu a mãe: e a filha.

memória do chão apenas Eu sou os membros de minha mãe.


para

suspender as colhem nos Sou eu a estéril: e a que tem muitos


plantas que

pés a trilha dos chacais de onde você [filhos.

exala em sombras, eu com este olhar Sou eu aquela cujo casamento é

de espadas e meus cílios de areia e e a que não se


[magnífico;

minhas retinas entornam [casou.


que pela

estrada Sou eu a parteira: e a não dá à


que

[luz;
Sou consolação: de meu compreender e, assim, descobrir a si
próprio

[trabalho. mesma e ao intelecto".

Sou eu a noiva: e o noivo. Definições negativas de um

princípio ou instância divina não foram


"O
Nas oito páginas que Trovão exclusividade Encontram-se
gnóstica.
- Intelecto Perfeito" ocupa na edição no Corpus herrneticum, manifestação da

brasileira de As escrituras doutrina iniciática contemporânea do


gnústicas, por

Bentley Layton (edições Loyola), vai cuja tradução e divulgação


gnosticismo,

expondo, de a ponta, oximoros no Renascimento teve enorme influência.


ponta

ou antinomias, pares de atributos e No Asclépio, o mais substancioso dos

condições opostas - "Deus


primeira-última, livros do Corpus herrneticum, é

venerada-desprezada, mãe-filha. E uma esfera inteligível, cujo centro está


"meu
inversões de seqüência temporal: em toda e a circunferência em
parte

marido é quem me
gerou". Também há nenhuma".
"Sou
transgressão de tabus: eu a mãe Com todos os cuidados
quanto
do meu e a irmã do meu marido". a sobre o
pai: generalizações que seria
"ocidental" "oriental",
O lógico da identidade e não e mesmo assim a
princípio

contradição é atacado todos os expressão antinomias, a valorização


por por
"entendimento
llancos. Percebe-se a mão de alguém do não-discursivo" e da
que

conhecia filosofia; e se empenhou superação de opostos são características


que
"a
em subverter esse conhecimento: de doutrinas e sistemas filosófico-

voz cujos sons são tão numerosos" religiosos da índia e China: religião
"o
e discurso cujas imagens são tão védica, budismo e taoísmo. Octavio Paz,

numerosas"; ao mesmo tempo se diz em 0 arco e a lira, comenta a troca dos


"a
síntese de significarite e significado, isto é aquilo em vez de isto ou aquilo-,

fala: de meu nome".


próprio

Oximoros e antinomias, sendo 0 oriental não sofreu


pensamento
'outro',
típicos da Antigüidade tardia e com desse horror ao ao que

afinidade com outros textos ainda é e não é ao mesmo tempo. [...]

mais antigos, ao mesmo tempo soam Todas essas doutrinas reiteram


"0 -
modernos. Trovão Intelecto a oposição entre isto e aquilo
que

Perfeito" de muito da é, simultaneamente, relativa e


parece precursor

contemporânea, em sua lógica do necessária, mas há um momento


poesia que
"isto
é aquilo". Partilha características em cessa a inimizade entre os
que

de outros textos das mesmas fontes. termos nos excludentes.


que pareciam

Todos, expressões, como observa

Layton em sua edição de escritos É o analógico,


pensamento
"entendimento
gnósticos, de um não- contraposto à lógica do discurso.

discursivo" viria a ser a Corroboram-no trechos dizendo,


que própria (melhor

experiência mística, a gnose: é o conceito do Tao-Te-Ching, de Lao-Tsé.


poemas)

de salvação, identificada ao Antinomias reaparecem voz de


gnóstico pela
conhecimento, à superação da dicotomia Ruini, e místico do século
poeta persa
de sujeito e objeto. Como é dito em XIII, expoente do sufismo e criador
"escrituras", "Zostrianos": "0
outra das o da ordem dos dervixes dançantes:
"pessoa
a se salva é a homem de Deus não é de ar nem de
que que procura
terra. / O homem de Deus não é de fogo a faca e o talho atroz! / Eu sou o rosto

nem de água. / 0 homem de Deus é e a bofetada! / Eu sou a roda e a mão

um mar ilimitado. / O homem de Deus crispada, / Eu sou a vítima e o algoz!"

faz chover de um céu claro." E E observar, comparando-o aos


pérolas possível
"0 -
através de são João da Cruz, com seu versos de Trovão Intelecto Perfeito"

"Para de
famoso vir ao não e os demais trechos escrituras e
preceito: que

és / hás de ir onde não és"; e da hinos religiosos, bem coino de poetas-


por
"noite
sua escura da alma": a mesma místicos aqui citados, a do
passagem
"escuridão do
luminosa" abstrato o concreto, o
já vislumbrada para geral para

Areopagita. do sagrado o profano.


pelo pseudo-Dionísio particular, para

Todos atendem ao ensinamento Em um adiante, Vicente


passo

expresso em outro texto 0 1 luidobro, em Altazor, confundiu todas


gnóstico,

evangelho segundo Filipe as hierarquias, do transcendente e


(também

na coletânea aqui citada, imanente, celestial e mundano, universal


publicado

de Layton), com orientações o e particular, da esfera do sujeito e do


para

adepto; recomendações sobre o modo de mundo dos objetos:

alcançar a através da superação


gnose,

da distinção entre ser e perceber, Sou vaga-lume e vou iluminando os


a

representação e seu objeto: da selva


[ramos

[...]

As não ver coisa E não sou só vaga-lume


pessoas podem

alguma no real, E sim também o ar em voa


mundo a não ser que

que se tornem essa mesma coisa. No [...]

reino da verdade, não é como os seres E logo sou árvore

humanos E mesmo árvore mantenho meus


no mundo, veem o sol
que

sem ser o sol, e veem o céu e a terra e de vaga-lume


[modos

assim diante sem ser eles. Antes,


por [...]

se você viu coisa lá, você se Agora sou roseira e falo em


qualquer

tornou aquela coisa... de roseira


[linguagem

[...]

de trovão e ressoo meus


E
possível comparar esse logion Sou rosa

gnóstico com a importante [pigarros


passagem
"arte
de Baudelaire sobre [...]
pura",

em um texto inacabado e Meu meu é todo o infinito.


publicado
"A "0
postumamente, arte filosófica":

é a arte segundo a concepção É a mesma confusão proposital


que pura

moderna? É criar em Estilhaços no lago de


a magia sugestiva estabelecida
que

contenha ao mesmo tempo o objeto e também em Arranjos de


e o
púrpura

sujeito, o mundo exterior ao artista e flores. Parece um Huidobro


e o
pássaros

artista." frenético, multiplicado, em trechos como


próprio
"onde limo as
Baudelaire é o em cuja obra este: sou tempestade
poeta

antinomias, contrastes, choques de unhas cozer um inverno e hibernar


para

opostos, têm importância especial. Um cães, cernes de cedros uma


punhais, para
"Hino habita as espreitas da
dos exemplos é o à beleza"; outro, cama / eu este que
"0 "Eu
Heautontiinoroumenos": sou solidão / / eu todopiscoso aguardo
[...]
uma noite menos insone". Mas há um de Al Capone

terceiro termo adicionado Wilmar Eu sou uma metralhadora


por em
"eu"
Silva ao e a todas as coisas estado de
que graça
compõem a natureza e o cosmos: o Eu sou a
pomba-gira do Absoluto.
"você".
Por isso, e pelo tom de exaltação

em seus poemas, pode ser adicionado Integram a confraria dos modernos


"misticismo
à categoria do do corpo", neopagãos,
poetas para quem, citando
apresentada Norman "eu
por Brown em Life Rimbaud, é um outro" - ou,

against death. antes, são muitos outros. Recriando

Sem dúvida, a de Wilmar o


poesia panteísmo, restauram a natureza

Silva também apresenta relação animada;


prosseguem a iluminação

de continuidade com outro místico vivida


por Gérard de Nerval ao escrever

do corpo, exemplar no registro "Versos


das o soneto dourados",
que o levou
antinomias "eu "tudo
e da do a
proclamação proclamar que é sensível",
"Poema "Cada
sou": Roberto Piva. Em seu
pois flor é uma alma em Natura

vertigem" de Ciclones, alterna o nascente; / Um mistério de amor no

sagrado e o profano; ou metal reside


promove dormente; / / À
[...] própria
uma sacralização do e uma matéria
profano encontra-se um verbo unido... /
"eu"
correlata através de um / Quase sempre
profanação, [...] 110 ser obscuro mora

expandido, total: um Deus escondido".1

Em Wilmar Silva, o é
panteísmo
Eu sou a viagem de ácido celebrado através de uma intensa e

nos barcos da noite colossal "eu",


orgia, da
qual tudo - o
"voce",
Eu sou o se masturba o a natureza, —
garoto que o universo

na montanha
participa.

[...]

Eu sou o Tambor do Xamã

o Xamã coberto Utilizei a tradução de Contador Borges, na


(&
abertura de Aurêlia
de e andrógino) (Iluminuras).
peles

Eu sou o beijo de Urânio


A de José
poesia

Santiago Naud*

Floriano Martins

Santiago NaurI é talvez Da maneira ele próprio refere


(1930) que

o de melhor convívio com em um do livro Ofício humano


poeta poema
"Querer
o espectro cósmico e mítico nos ter é avareza". Trata-
José (1966),

meandros de uma lírica brasileira. A se de uma elude os vícios da


poesia que

sua é intensamente religiosa Sua excelência está no convívio.


poesia posse.

e une o sagrado ao espírito humano, Porém tal convivência se fortalece

assimilando diferenças, ao mesclar ciclos, ao


polindo justamente povoar

confluências, evocando os elementos o poema de silêncio e vozerio, ascetismo

visíveis e invisíveis, nostálgicos e e sensualidade, suspeições e clarezas.

visionários, díspares e consensuais, Mesmo ao dizer de Jorge de Lima


que
"provavelmente, Carlos Drummond
uma festa de sentidos muito além com
para

da simplificação esquemática de nossa de Andrade, é o poeta brasileiro mais

tradição, se satisfaz, sob certos em minhas inquietações


que presente

aspectos, em opor Drummond a Cabral, mesmo aí, sabemos a força da


poéticas",

logo descartando o Santiago abrangência, profundidade


primeiro. pela própria

Naud, ao contrário, bem sabe o da do ato dado à luz de nossa lírica


poder poético

soma e também nisto nos dá uma ambos os E tal menção


grande por poetas.

lição. Sua faz surgir entre nós cumpre ainda com o notável ofício de
poesia

todos os nomes da Musa, seus truques chamar a atenção a importância da


para

de linguagem, máscaras rituais e vestes obra de Jorge de Lima, dentre as vozes

íntimas do espírito. Nada lhe escapa em mais fundamentais da em língua


poesia

nossa memória de testemunhos não sem violenta


poéticos. portuguesa, porém,

Recorre a todos os elementos a seu injustiça, de todo esquecido das


quase

dispor, mergulhando e trazendo à tona novas brasileiras.


gerações

figuras inquietas de sonhos e visões. Não Esta carência de influência

em termos de sinal de conquista, antes orquestrada um silêncio (jue


por

um rigor une o relapso ao intencional é algo


pautado pela generosidade, por

expansivo. também se verifica em relação à


que

*
Resenha da obra Fábrica de ritos. Brasília: Thesaurus, 2011.
circulação da obra de Santiago em busca de novos contrários
própria que possa

Naud. Deficitária em remir unificando. Viagem das


grande parte pela plena

ausência de distribuição fora de Brasília, formas se descobrem e restaram


que

cidade onde seus livros vêm sendo no convívio. Viagem insolente da

editados nos últimos 30 anos. Aspecto ressurreição após cada sítio extraviado,
"assim
agravado condição esgotada da como alguém / depois de
pela passa

maior dos livros e pela ausência tudo / e leva o nome trocado".


parte perdido

em meio editorial brasileiro de alguns A construção do ao


própria poema,

de seus principais tít ulos, recorrer a uma de espirais no


publicados prática

no exterior: Conhecimento a oeste entalhe de e sentidos, modula


palavras

(Portugal, 1974), Dos nomes um instigante desafio entre o repetir e


(Argentina,

1977), IIII Prornontorio rnilenario o refletir, desdobrando-se em múltiplos

1983) e Piedra azteca sentidos alcançados a partir da ação de


(Panamá,

1985). Este último, um desses um verbo no outro.


(México,

exemplos engrandecedores de qualquer Piedra azteca confirma a condição

tradição lírica e, no entanto, do total visionária da de Santiago


poética

desconhecimento de leitores brasileiros, Naud, enlaçando-se no esplendor de

sem esquecer entre esses leitores se suas imagens com um livro lhe é
que que

encontram também nossos de vizinho no tempo, IIII Prornontorio


poetas,

toda estirpe e inquietude. rnilenario, luminoso colóquio com uma

Piedra azteca - com seu trevo de homônima


pintura do
panamenho

cinco sua arquitetura de cinco Adriano Herrerabarría. Acerta Mario


pétalas,

cantos ou capítulos - abriga em suas Augusto Rodríguez, ao dizer se


que
"uma
nervuras um interessante diálogo com o trata de obra de alucinantes

Drummond aqui referido, sucedendo-o sensações interiores, desafiar


já que parece

em sua evocação dos mitos urgentes. a interpretação do espectador, com o

Diálogo amplificado em surpreendente denso conteúdo de um transido


passado

direção com outro o mexicano de valores culturais, em


poeta, permanente

José Gorostiza, abertas à altura e rumo até o futuro".1 Também aqui o


portas

à síntese de duas entranháveis, tema definido e evocado transfigura-se e


poéticas

medulares e transcendentes, gera novos matizes. A densidade florestal

configurando um rito de da de Herrerabarría frutifica


particular pintura

convivência entre duas culturas, realçado nas mãos do verbo de Santiago Naud,

residência de Santiago Naud na forma de uma vegetação espiritual:


pela própria
"este
em ambos os O extenso eterno segredo / das dobras do
países. poema

que compõe o livro - cuja superfície tempo, / a madeira apodrecida


gotejando

aponta na direção de uma visita ao mito em convulsão / o sêmen desprezado,

ou celebração do milagre de Guadalupe os ódios ressentidos / / e o ritual


[...]
- reflete um domínio alquímico, onde iludindo / os livres, não somos".
que

a Pedra de Roseta transfigura-se na Uma vez mais se encontra


plenamente

forma de uma obsidiana, sua vez postulada a vertigem criativa apontada


por

transmudando-se, a cada canto, em

faca, fio, língua, borboleta,


punhal,
1 u
"Un
cuadro y uii poema", artigo de Mario
sem o espírito mineral, mas
perder
Augusto Rodríguez
publicado no jornal La
adentrando círculos e
profundidades República, Panamá, em 25 nov. 1983.
em Piedra azteca, o episódio barroco nos subsequentes, de esclarecer a

"um subjetivamente, me
da viagem de olho dentro do olho emoção que,

/ de outro olho / no outro, original". como consciência individual


justifica

Tive a oportunidade de conhecer ou membro específico do a


parte grupo que

da obra do artista de Seria uma atividade solar,


panamenho que, pertenço.

alguma maneira, entranha e descortina busca da luz faz uno o diverso, e


que

substanciosa fatia da de Santiago vice-versa.


poética

Naud. Ao destacar estes dois livros,

contudo, o fiz menos movido A obra de José Santiago Naud foi


pela

intenção de diferi-los dos tecida de forma visionária, obsessiva e


demais do que

simples razão Toda ela transcorre sempre em


pela de se tratarem de profética.

livros busca daquele até hoje se configura


até aqui não no Brasil. que
publicados

fie acordo como seu livro essencial e misterioso,


Estou com o que
poeta

se mostrou na íntegra, sabendo


quando afirma não haver em sua jamais
poesia

reorientações em mistério,
ou rupturas em termos guardar-se parcialmente

idêntico mistério o poeta tornou


essenciais de suas inquietudes. Suas que

transformações componente e inestimável de


internas conduzem-se queimante

sua Refiro-me a Cara de cão,


pelo mito das metamorfoses e não poética.
pela
até então —
de norte ou solidez. Ele cujas parcelas publicadas
perda guia,

confirma: Dos nomes Vez de Eros (1987),


próprio (1977),

de signos e Os avessos
Memórias (1994)

- repercutem intensa
As leituras as do espelho (1996)
posteriores,

entre, memória e antevisão de


experiências vitais, a leitura de relação

Relação desfiada como uma


outros e, o mundo.
poetas principalmente,

incansável, onde o poeta se sente


estudo da mitologia universal me viagem

"trespassado Verbo / e salivado


foram desvelando os símbolos eu pelo por
que

estranhos". De uma margem ou


havia fixado inconscientemente em seres

do tempo, há toda uma colheita


versos e que não ao meu outra
pertencem
são resíduos foram
inconsciente, vinham de algo de imagens que que
pois
ao longo da vida do
maior — um inconsciente coletivo, se acumulando

o que naturalmente inclui


sabe?2 poeta,
quem próprio

e utopias, ancestral idade


antecedentes

humano e potencialidade de sua


Em preciosa complementação, avulta do ser

errância sobre a terra.


que

Tais resíduos se multiplicam

configurando o estilo,
a forma, a sintaxe e a lógica
que e repetem,

essencialmente anotando um
busquei, a de se comprometerem mas
par

não se limita ao
com a linha histórica, com a fundamento que jogo
poesia

cuja advertência caprichosa


escrita em língua semântico,
portuguesa,

enraízam livro e tratam, em um verso diz:


no primeiro encontramos que

"toquei o nome / em tudo


de novo que
n
"A outra vez se repetir", sendo esta a
organicidade da poesia brasileira não pode

encontra correspondência na crítica literária", autêntica vibração alquímica da


poesia
entrevista concedida por Naud a Danilo Gomes. Não à toa, o
de Santiago Naud. poeta
Suplemento Literário Minas Gerais, Belo
aclara:
Horizonte, em 10 jun. 1978.
Para mim a poesia corporiza um ato alcançou mais do ninguém na
que poesia

supremo de ociosidade e trabalho. É brasileira um de sensibilidade


grau que

como deixar-se levar na correnteza nos rever nossas idéias acerca


permitiu

da vida, com todo o seu mistério do real e seu suspeitoso estado contrário.

de maravilhas e horror, ou lavrar Santiago Naud recolheu bem a lição

como o ouro nas da e deu-lhe, entremeando seqüência e


profundezas

terra, mineral de conseqüência, um sabor singular, ao


precipitação pureza

máxima e infensa ao tempo, às traças dissipar outra fronteira, a que separa

ou à ferrugem.3 o lírico do épico. Em Fez de Eros, livro

que recorda a tessitura de um labirinto,

As associações apanhadas nessa uma de suas assim se inicia:


passagens
"Ponho
mineral de sons, imagens, um dragão no teu vestido! / Por
profusão

sentidos, entretecendo-se sem rejeitar baixo do a tua eriça / e enrija,


pano pele

contradições, dissonâncias, desvarios, estremecida, / e vai um abrindo


pouco

encontram neste uma rara / os abismos da infância". Na forma


poeta

expressão de é, ao de um dragão ali está o real, o


grandeza que posto

mesmo tempo, o retrato mais terrível imaginário, o lírico e o épico. A infância

da condição humana. 0 erótico é a da espécie


provocada própria

entrançado com o vozerio encoberto humana. A subjetividade é uma fonte

das ruas e becos, o coloquial exposto inestimável de acesso ao coletivo. Todo

de forma ostensiva, em sua este livro, exemplo, nos ensina é


provocativo por que

luxúria, como romper as barreiras


porém jamais percebido plenamente possível

uma vulgaridade. Dispor-se ao entre sem contestar


perigo gêneros precisar

magnífico de lembrar ao angelical seu tradição alguma, e sem tal


promover

alcance terreno, Interligar os contrários atitude à condição de uma vanguarda,

por analogias arriscadas. Não limitar-se ocasional como uma.


qualquer

ao lírico, ao mesmo tempo sem deixar O sempre


próprio poeta gosta

de ser lírico. Poesia de recordar a improvisação dos


profundamente que

complexa na mecânica sinfônica em repentistas foi o impulso a


primeiro

que está tecida, fluente na opção levar-lhe à escrita. Por ali sentiu as
porém

de sua entrega. Seus códigos não são primeiras essências dos da


pomares

fechados, indecifráveis. A sucessão língua, o de uma margem


português

de mistérios destaca não a torna e outra do Atlântico. Raros no


que poetas

incomunicável, ao contrário: alimenta Brasil entregam-se a este mergulho em

a fome do leitor impulsos de duas águas com a intensidade com


por que

participação, convívio, aprendizagem, o faz Santiago Naud. Não há retórica em

com este campo insondável é tão seu diálogo com esta nossa contradição
que

tangível e intangível a vida de lingüística. Assim a defino, na


quanto porque

cada um de nós. língua é se encontram as raízes


que

Ao mesclar mundo de nossas ambigüidades. No fundo,


prosaico

e atmosfera fantástica talvez


(o mundo não seja a cultura
portuguesa

prodigioso da imaginação), Drummond rejeitamos e sim a língua. A


que

rejeição isoladamente não constrói


O
uma realidade. A improvisação em
Preâmbulo do livro Antologia
pessoal, de José
Santiago Naud. Brasília: Thesaurus, 2001. Santiago Naud alcança um particular
sentido de entrega ao mistério. Ela social, lúcida ou delirante. Não se sente

com sua organização nervosa incomodado com uma estrutura vigente


própria,

ou sua energia organizada, reconhece em isolado. Quer romper com a própria

as estações rítmicas, semânticas, os natureza humana e não apenas com uma

de reconhecimento de leitos ou de seus caprichos. Eis a franca


planos parcela

estratégias de transposição de cursos, ousadia desta Por isto não


poesia. que

- sinceramente não importa


inquietudes, decepções. Trata-se de uma importa

caudalosa, - opor seus méritos ou equívocos


poética porém consciente

de sua volúpia, e com um inestimável aos rumos traçados seus


por pares

aproveitamento estético desse espírito Poetas brasileiros nascidos


geracionais.

1930 constituem - segundo


irrefreável. na década de

- o mais alto
Recordo isto movido uma carta meu entendimento grau
por

em 1963 lhe enviou Drummond. de nossa de entrada em um


que perspectiva
"Sua insultado
Ali dizia: tem esse dom de ambiente internacional pelo
poesia

extensibilidade; ela os temas e conhecido ciclo das vanguardas. Alguns


prolonga

as visões, não se satisfaz com o mistério desses corrigem com naturalidade


poetas

captado." A extensão do verso em os equívocos de nosso Modernismo, e o

Santiago Naud reflete a intensidade fazem com uma ainda hoje


com propriedade

incorpora domínios não considerada, cuja raiz é a mesma de


que e demônios da

linguagem. E um refinamento, antes de todas as nossas volubilidades.

ser um desmazelo. 0 verso longo, A de Santiago Naud nos


por poesia

alguma inadvertência, foi excomungado diz somos de alguma coisa.


que parte

no Brasil como uma não avançamos enquanto não


heresia. Em Que
parte,

vem a origem. Que as mil


daí a rejeição irreflexiva nossos identificamos
que

cultuam do mito, seja ele,


poetas em sigilo em cabeças qualquer que
quase

relação à se faz na América não refletir e simplesmente


poesia que podem pura

hispânica. Não se pode opor Celan uma sujeição à história. Que temos que
a

Rilke tomando recebê-la da maneira como


por fórum a extensão do percebê-la,

verso. A síntese, evocada com se apresenta, com o espírito


quando porém

um metro nas mãos, salte dentro de nós,


pode expressar preparado para que

simplesmente uma falta do se descubra em nós, faça


dizer. que que parte
que

A linguagem, a forma nós, as mil cabeças sendo nossas, as


de expressão, de

legítima ou afetada, independente O verbo se lança nu no espaço,


do nossas.

metro. exposto às variações e dissidências.

É fato todos cm um salão.


que a poesia de Santiago Estamos grande
"prolonga semânticas
Naud os temas e as visões". Até mesmo as ilusões

De alguma maneira recorre a uma sua fragilidade e seguem


fonte confidenciam

barroca é a mesma animava na festa. Estamos sem disfarce. Todos


que que a

de Drummond. Ou de Jorge de somos filhos da mesma urgência. Os


poesia

Lima. Ou de Murilo Mendes. Dá-lhe, no símbolos um novo diapasão.


ganham

entanto, tratamento distinto à nascente. Mas ninguém se iluda. O mistério


que

Já não lhe cabe ser deliberado ou tem outro nome. Sempre.

irrevogável em uma instância mítica ou


Biografias

Affonso Romano de SantVYnna I lorizonte, MG, 1937], poeta, cronista e ensaísta,


[Belo

ajudou a organizar <1 1 Semana do Poesia deVanguarda a Expoesia


(BH/1963),

fundou a revista Poesia Sempre. Entre seus livros, destaca-se Que país e
(1973),

este? (poesia), Barroco do à elipse e O enigma vazio (ensaio).


quadrado (ensaio)

Sua está em Poesia Reunida.


poesia

Afonso 1 Ienriques Neto I lorizonte, MG, 1944] é e Atual editor


[Belo poeta professor.

da revista Poesia Sempre, Biblioteca Nacional, entre outros,


da Fundação publicou,

os livros Restos & estrelas Tudo nenhum Abismo com


& fraturas (1975), (1985),

violinos Ser infinitas e Uma cerveja no dilúvio (2011).


(1995), palavras (2001)

Ailton Alves Lacerda Krenak Médio Rio Doce, MG, 1953], ambientalista
[região do

e escritor, Foi deputado e participou da


pertence à etnia indígena crenaque.

Assembléia Nacional a Constituição de 1988. Publicou


Constituinte elaborou
que
"O margem do ocidente,
a narrativa Eterno Retorno do Encontro" no livro A outra

organizado Adauto Novaes


por (1999).

André Vallias designer e produtor de


[São Paulo, SP, 1963] é poeta visual, gráfico

mídia interativa. Tem diversas antologias, entre elas, Media


textos em
publicados

an international e Céu acima: para um tombeau de


poetry: anthology (1996)

Haroldo de Campos hein?Poeta dos Contrários em 2011.


(2005). Publicou Heitie,

Basílio da Gama 1741-Lisboa, Portugal, 179,)]


[São José do Rio das Mortes, MG,

da efervescência literatura revelando seu


participou do arcadismo na portuguesa,

talento na obra Condenado ao degredo em Angola,


emblemática O Uraguai (1769).

ocupou cargos na administração de Pombal. Autor de A declarnação


do marquês

trágica e Os Campos Elíseos


(1772) (1776).

Bernardo Guimarães Preto, foi e crítico literário.


[Ouro MG, 1825-1884] jornalista

Célebre romance A escrava Isaura sua obra também contemplou a


pelo (1875),

Escreveu ainda O seminarista ilha maldita (1879) e Folhas de


poesia. (1872),/!

outono (1883).

Bernardo Vilhena de Janeiro, RJ, 1949], e letrista de música popular


[Rio poeta

brasileira, é fundador e editor das revistas Ponte, e Malasarte. Publicou, entre outras

obras, O rapto da vida e o livro de poesias Atualidades atlânticas


(1975) (1979).
Carlos Fausto [São Paulo, 1963] é antropólogo, universitário, docurnentarista
professor

e fotógrafo. Publicou Inimigos história, e xarnanisrno na Amazônia


fiéis: guerra

(2001), Os índios antes do Brasil e coeditou Time and memoryin


(2000)

indigenous Amazônia (2007), com Michael I leckenberger.

Castro Alves Frederico de Castro Alves) Castro Alves, BA,


(Antonio [Curralinho, atual
"Poeta
1847-Salvador, BA, 1871] história como o dos Escravos". Sua
passou para

obra inclui Espumas Os escravos e ainda a Gonzaga


flutuantes (1870), (1883) peça

ou A Revolução de Minas (1875).

Chacal (Bicardo de Carvalho Duarte) de Janeiro, BJ, 1951] é e letrista.


[Bio poeta

Publicou, entre outros livros, Boca roxa Tontas coisas Drops de


(1979), (1982),

abril (1983), Comício de tudo (1986), Letra elétrika Posto Nove (1998), A
(1994),

vida é curta para ser Belvedere


pequena (2002), (2007).

Cláudio Willer [São Paulo, SP, 1940] é doutor em Letras, ensaísta e tradutor.
poeta,

Sua obra inclui a coletânea e a tradução de Vivo, Kaddish e outros poemas, de

Allen Ginsberg (1984), e Estranhas experiências É coeditor da revista


(2004).

eletrônica Agulha.

Eliane Potiguara de Janeiro, BJ, 1950] e escritora, e escritora


[Bio professora, poeta

indígena, remanescente dos Escreveu A terra é a mãe do índio


potiguaras. (1989),

Akajutibiro, terra do índio potiguara (1994), Metade cara, metade máscara

Sol do pensamento e O coco a noite


(2004), (2005) que guardava (2012).

Ferdinand Denis Ferdinand Denis) [Paris, França, 1798-1890] foi historiador,


(Jean

bibliotecário e escritor, especialista em história e cultura e do Novo


portuguesas

Mundo, sobretudo do Brasil. Publicou, entre outros, o livro Le Brésil, ou Histoire,

moeurs, usages et coutumes des habitam de ce royaume em com


(1822), parceria

o pintor Hippolyte Taunay, e Résumé de Thistoire du Brésil, suivi du Résumé de

Thistoire de la Guyane (1825).

Floriano Martins CE, 1957] é tradutor, ensaísta e editor. Entre seus


[Fortaleza, poeta,

títulos mais recentes encontram-se Tres estúdios un amor loco Duas


para (2006),

mentiras Teatro imposible e A alma desfeita em corpo


(2008), (2008) (2009).

Dirige a revista eletrônica Agulha.

de Goiás, GO, 1931], e crítico


Gilberto Mendonça T^les [Bela Vista poeta literário, é

autor dos livros de ensaio Sortilégio da criação (2005) e Discursos


paralelos (2011)

e dos livros de Álibis e Linear G. (2011), entre outros.


poesia (2000)

Gonçalves Dias Gonçalves Dias) [Caxias, MA, 1823-1864] foi advogado,


(Antonio

etnógrafo, teatrólogo e poeta indianista da romântica. Publicou,


jornalista, geração

entre outros, Primeiros cantos Segundos cantos Cantos: coleção de


(1846), (1851),

Os timbiras e Dicionário da língua tupi


poesias (1857), (1857) (1858).
Gonçalves de Magalhães José Gonçalves de Magalhães) [Rio de Janeiro,
(Domingos

RJ, 1811-Roma, Itália, 1882], conhecido também como visconde do Araguaia, foi

médico, diplomata, e ensaísta. Escreveu A alrna e o cérebro


professor, político, poeta

Comentários e e Os indígenas do Brasil a


(1876), pensamentos (1880) perante

História (1860), entre outros.

Graça Graúna do Campestre, RN, 1948] é


(Maria das Graças Ferreira) [São José

escritora e educadora universitária, autora de Tessituras da terra (2001), Tear

da palavra Criaturas de Nanderu e Contrapontos da literatura


(2007), (2010)

indígena contemporânea no Brasil (2013).

Gregório de Matos Guerra BA, 1636-Recife, PE, 1695] foi advogado e um


[Salvador,

dos maiores Não nada em vida. Entre 1923 e


poetas barrocos do Brasil. publicou

1933, Afrânio Peixoto de sua obra em seis volumes, sob o título


reuniu a totalidade

de Obras de Gregório de Matos.

Norberto de Souza e Silva de Janeiro, RJ, 1820-Niterói, RJ, 1891],


Joaquim [Rio

da literatura brasileira, foi


funcionário romancista e historiador
público, poeta,

autor de Modulações de um bosquejo na história da


poéticas: precedidas poesia

brasileira drama em cinco atos


(1841), Amador Bueno ou A fidelidade paulistana:

(1855), Cantos épicos (1861).

Keats um dos maiores nomes da segunda


Joiin [Londres, Inglaterra, 1795-1821] foi

romântica de vastíssima literária, que


geração da inglesa. Autor produção
poesia

inclui as Poemas e Endymion (1818).


publicações (1817)

mudou-se Manaus aos


Jorge Tufic [Sena Madureira, AC, 1930], filho de libaneses, para

15 estreou em 1956 com Varanda de


anos de idade. Poeta, ficcionista e ensaísta,

pássaros, ao se seguem mais de 50 livros.


qual

José de Alencar CE, 1829-Rio de Janeiro, RJ, 1877] foi jornalista, político,
[Fortaleza,

marcaram a formação da
advogado, dramaturgo e ficcionista, cujos romances

O Iracema
identidade brasileira. Entre suas obras destacam-se guarani (1857),

(1865), O gaúcho (1870),Senhora (1875) e O sertanejo (1875).

1722-Lisboa, Portugal, 1784] iniciou


José de Santa Rita Durão, frei Preta, MG,
[Cata

seus estudos Ingressou na Ordem de Santo


com os no Rio de Janeiro.
jesuítas

Agostinho épico Caramuru exalta as


e formou-se em teologia. Seu (1781)
poema

terras do indianismo na literatura


brasileiras e é considerado um dos
precursores

brasileira.

Eisenberg EUA, universitário, cientista ico


José [Hunterdon, 1968] é polít
professor

e coordenador-geral Centro da Biblioteca Nacional.


do dc Pesquisa e Editoração

e o
Entre suas
publicações,
destacam-se os livros As missões jesuíticas pensamento

moderno eA democracia depois do liberalismo (2003).


político (2000)
José Santiago Naud [Santiago, RS, 1930], formado em Letras Clássicas, tradutor e

professor universitário aposentado. Publicou entre outros títulos Pedra azteca

(1985), Antologia pessoal (2001) e Fábrica de ritos (2008).

Lúcia Sá [São Bernardo do Campo, SP, 1960] é universitária e autora


professora

de Life in the megalopolis: México City and São Paulo e Literaturas da


(2007)

floresta: textos amazônicos e cultura latino-americana


(2012).

I -.diz F. Papi
[Governador Valadares, MG, 1922-Rio de Janeiro, RJ, 2009] f oi
jornalista,
e escultor. Escreveu, entre outros, os livros de
poeta poesia Arado branco (1957),

Poemas do ofício: dos homens, dos deuses Os artífices da morte, da cinza,


(1964),

da vida (1967), Este ofício e Desarvorárvore


(1976) (1982).

Olga Savary [Belém, PA, 1933] é ficcionista, tradutora, crítica literária e


poeta,

ensaísta. Publicou, entre outros, Espelho Sumidouro


provisório (1970), (1977),

Altaonda (1979), Magma 100 hai-kais e Repertório selvagem: obra


(1982), (1986)

reunida
(1998).

Pedro de Niemeyer Cesarino Paulo, SP, 1977] é antropólogo especializado


[São

em etnologia indígena e nas relações entre antropologia, arte e literatura. Tem

publicado artigos em diversas revistas acadêmicas e textos literários e é autor de

Oniska: do xamanismo na Amazônia.


poética

Péiucles Eugênio da Silva Ramos SP, 1919-São Paulo, SP, 1992] foi
[Lorena, poeta,

crítico literário, antologista, filólogo e tradutor. Escreveu Sol,icm tempo (1953),

Lua de ontem Futuro Poesia completa e A noite da


(1960), (1968), quase (1972)

memória (1988).

Roberto Piva Paulo, SP, 1937-2010] foi autor de Paranóia Piazzas


[São poeta, (1963),

{\9(A),Abra os olhos e diga ah! (1975), Coxas Vinte com brócoli


(1979), poemas

(1981), Antologia poética (1985), Ciclones (1997).

Sérgio Cohn Paulo, SP, 1974] é poeta e editor. Publicou livros de poesia,
[São quatro

reunidos em O sonhador insone (2012). Organizou diversos títulos, entre eles a

caixa Poesia.br volumes, 2013), com um dos volumes dedicado aos cantos
(10

ameríndios.

Wagner Sciiadeck [Curitiba, PR, 1983] é formado em Letras, em


pós-graduado
"Fábula",
Desenvolvimento Editorial, e Publicou o na
professor poeta. poema

Revista da Oficina de Análise e Criação Literária, 2011, reeditada em 2013.

Walmir Ayala Alegre, RS, 1933-Rio de Janeiro, RJ, 1991] foi escritor,
[Porto poeta,

tradutor, crítico de arte e colaborador de e revistas. Sua obra inclui Cantata


jornais

Poesia revisada iluminada


(1966), (1972), A pedra (1976), Estado de choque

(1980) e Águas corno espadas (1983).


Wilmar Silva do Paranaíba, MG, 1965], e
[Carmo poeta perfomer, publicou Arranjos

de pássaros e flores Cachaprego Estilhaços no lago de


(2002), (2004), púrpura

(2006), Z a zero além de organizar e participar de várias antologias


(2010),

poéticas. E curador do de leitura Terça Poética, em com a


projeto parceria

Secretaria de Cultura de Minas Gerais.


POESIA SEMPRE

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N° 34 - Poesia Híndi Contemporânea

N° 35 - Islândia

N° 36 - Minas Gerais
Poesia Sempre - Ano 10 - Número 37

2013

Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional

ISSN 0104-0626

I. Literatura - - História - Periódicos I. Biblioteca


Periódicos. 2. Literatura e crítica

Nacional
(Brasil).

CDD 808.8

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Sempre pertencem

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somente imagens autorizadas. Não sendo identificados os detentores, os interessados

devem se manifestar. As opiniões nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos

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