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QUINHENTISMO

1500.........................................................................1601
A CARTA PROSOPOPÉIA
Pero Vaz de Caminha Bento Teixeira

CONTEXTO HISTÓRICO-LITERÁRIO
• Renascimento; Mercantilismo.
• Conquista e Colonização da América.
• Reforma Protestante.
• Companhia de Jesus e Contra- Reforma.
• Período Manuelino (o ponto alto das Grandes
Navegações).
• Descobrimento do Brasil.
• Uma nova mentalidade humana e científica.
CARACTERÍSTICAS
Cartas, relatórios,
Literatura informativa sobre o Brasil para documentos,
os europeus mapas, etc.
(predominante)
A carta de Pero Vaz / Tratado da terra do
Brasil: Nativismo, estimulando a imigração

Informativa em geral
Literatura jesuítica
Anchieta: poesia e teatro

mistura de elementos europeus com a


O Teatro de Anchieta realidade indígena, para efeitos de
deculturação do nativo / Medievalizante

• Este período tem desdobramento no Romantismo e no


Modernismo quanto ao Nacionalismo...
A Carta de Caminha (fragmentos)
“De ponta a ponta, é tudo praia , muito chã e muito formosa.Pelo sertão
nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não
podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem
coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos...”
[...]

“Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo


a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o
melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela
deve lançar...”
Carta de Pero Vaz – Murilo Mendes
A terra é mui graciosa, Tem macaco até demais.
Tão fértil eu nunca vi. Diamantes tem à vontade,
A gente vai passear, Esmeralda é para os trouxas.
No chão espeta um caniço, Reforçai, Senhor, a arca.
No dia seguinte nasce Cruzados não faltarão,
Bengala de castão de oiro. Vossa perna encanareis,
Tem goiabas, melancias. Salvo o devido respeito.
Banana que nem chuchu. Ficarei muito saudoso
Quanto aos bichos, tem-nos Se for embora d'aqui.
muitos.
De plumagens mui vistosas.
Fado Tropical (fragmentos)
Composição: Chico Buarque/ Ruy Guerra
Oh, musa do meu fado,
Oh, minha mãe gentil,
Te deixo consternado
No primeiro abril,

Mas não sê tão ingrata!


Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no


sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é
claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar,
esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente
chora..."
A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem n
A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados,, P.V. A Carta. Disponível em:
CAMINHA, P.V. A Carta. Disponível em:
QUESTÃO : ENEM -2009

A feição deles é serem


pardos, maneira
d’avermelhados, de bons
rostos e bons narizes, bem
feitos. Andam nus, sem
nenhuma cobertura, nem
estimam nenhuma cousa
cobrir, nem mostrar suas
vergonhas. E estão acerca
disso com tanta inocência
como têm em mostrar o
rosto.
CAMINHA, P.V. A Carta. Disponível
ECKHOUT, A. “Índio Tapuia” em:
(1610-1666). Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br.
Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e
o trecho do texto de Caminha, conclui-se que
a) ambos se identificam pelas características estéticas marcantes,
como tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes
plásticas.
b) o artista, na pintura, foi fiel ao objeto, representando-o de maneira
realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso.
c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é
representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador.
d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura
Européia e a cultura indígena.
e) Há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que
o índio representado é objeto da catequização jesuítica.
BARROCO
1601.......................................................................1768
PROSOPOPÉIA OBRAS POÉTICAS
Bento Teixeira Cláudio M. da Costa
“A Arte da Contra-Reforma”
CONTEXTO HISTÓRICO-LITERÁRIO

• A Contra-Reforma;
• União Ibérica;
• Ciclo da cana-de-açúcar;
• A Bahia como centro econômico e
político do Brasil;
• Desenvolvimento da poesia e da prosa
em nossas letras.
CARACTERÍSTICAS
1. QUANTO AO CONTEÚDO:

 Conflito entre a visão antropocêntrica e


teocêntrica (Dualismo/Bifrontismo)
 Oposição entre o mundo material e o espiritual
 Restauração da fé religiosa medieval
(Cristianismo)
 Idealização amorosa, sensualismo e sentimento
de culpa cristão
 A efemeridade do tempo (Carpe Diem)
 Gosto por raciocínios complexos, intrincados,
desenvolvidos em parábolas e narrativas
bíblicas
2. QUANTO À FORMA:

 Vocabulário culto
Gosto pelas inversões sintáticas e por construções complexas e raras
Gosto pelo soneto e verso decassílabo
Estilos:

• Cultismo – jogo de palavras:

Que falta nesta cidade? . . . Verdade.


Que mais por sua desonra? . . . .Honra.
Falta mais que se lhe ponha? . . . Vergonha.

O demo a viver se exponha,


por mais que a fama a exalta,
numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha. (Gregório de Matos)
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
(Boca do Inferno)
- Estilos desenvolvidos: Cultismo & Conceptismo
- Produção poética:

Lírica Amorosa (sentimental)

* Tema Amoroso Lírica Fescenina (erótica)

- *Tema Social - A sociedade baiana


- O Clero e a Burguesia
- A corrupção política e social
- A economia (cana-de-açúcar)
- Os negros

*Lírica Religiosa (conflito: pecado X salvação)


*Lírica Filosófica (reflexão sobre o ser e o estar no mundo)
•Conceptismo – jogo de idéias; raciocínio lógico:
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Gloria tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória

(Gregório de Matos)
Os desenganos da vida

É a vaidade, Fábio, nesta vida,


Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.

É planta, que de abril favorecida,


Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.

É nau enfim, que em breve ligeireza,


Com presunção de Fenix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza:

Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa


De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara


De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,

Que por seu Deus, o não idolatrara?


Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,


Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
A cada canto um grande Muitos mulatos desavergonhados
Conselheiro que nos quer trazendo pelos pés aos homens nobres:

governar cabana e vinha: posta nas palmas toda a picardia.

não sabem governar sua


Estupendas usuras nos mercados
cozinha, e querem governar o todos os que não furtam, muito pobres:
mundo inteiro! eis aqui a Cidade da Bahia.

Em cada porta um bem


freqüente Olheiro da vida do
Vizinho e da Vizinha,
pesquisa, escuta, espreita e
esquadrinha
para levar à Praça e ao Terreiro.
PADRE ANTÔNIO VIEIRA

-Obras:
*Cartas
*Profecias (sebastianista)
*Sermões (cerca de 200)
- Estilo Conceptista
- Sonho com o “Grande
Império”
- Envolveu-se com questões
políticas, sociais e religiosas de
sua época.
PRINCIPAIS SERMÕES:

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
Metalingüístico; ensina a arte de pregar a palavra.

SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES


Crítica ao apresamento de índios no Maranhão.

SERMÃO DO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL


CONTRA AS DE HOLANDA
Conclamação à população baiana para resistir à tentativa de invasão
holandesa

SERMÃO DA PRIMEIRA DOMINGA DA QUARESMA


Criticava o escravidão indígena.

SERMÃO DO BOM LADRÃO


Criticava as injustiças sociais, pondo em xeque a Justiça dos
governantes.
Sermão XIV do Rosário
Foi pregado na Bahia para uma irmandade de negros, que revela a
repulsa sobre o preconceito de cor e ao tratamento cruel a que passavam
os escravos.

“Em um engenho sois imitadores de Cristo Crucificado:


porque padeceis de um modo muito semelhante ao que o
mesmo senhor padeceu na sua cruz. (...) Cristo despido, e
vos despidos, Cristo sem comer e vós famintos; Cristo em
tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. (...) Eles
mandam e vós servis, eles dormem e vós velais; eles
descansam, e vós trabalhais; eles gozam o fruto de vossos
trabalhos, e o que vós colhei deles é um trabalho sobre o
outro. Não há trabalhos mais doces do que os da vossa
oficina; mas toda essa doçura para quem é? Sois como as
abelhas de quem disse o poeta: "Sic vos non vobis mellificatis
apes". (Verso atribuído a Virgílio: "Assim vós, mas não para
vós, fabricais o mel, abelhas".)
O Quereres
Composição: Caetano Veloso

Onde queres revólver, sou coqueiro


E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro Razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer


Ah! Bruta flor, bruta flor
ARCADISMO
1768………..…….................................................1836
OBRAS POÉTICAS SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES
Cláudio M. da Costa Gonçalves de Magalhães
MOMENTO HISTÓRICO - LITERÁRIO

• Iluminismo;
• Inconfidência Mineira;
• Ciclo da Mineração;
• A região das Gerais como centro
econômico e político do Brasil;
• Formação da Arcádia Ultramarina.
CARACTERÍSTICAS
1. QUANTO AO CONTEÚDO:
“A ARTE ILUMINISTA”
• Retomada do Classicismo
 Racionalismo
 Cultura greco-romana

• Busca de clareza nas idéias


• Universalismo
• Idéias Iluministas
• Poesia pastoril, bucólica (uso de nome árcade e pseudônimo)
• A Natureza como cenário
• Idealização amorosa, convencionalismo, neoplatonismo, amor galante
• Ideologias desenvolvidas:

O Bom Selvagem –Jean J. Rousseau


Fugere Urbem – fuga da cidade
Carpe Diem – aproveitar o momento
Aurea Mediocritas – vida simples
Locus Amoenus – local tranqüilo

• Ressurgimento de academias
2. QUANTO À FORMA:
• Linguagem simples e nobre
 Menos figuras de linguagem
 Preferência pela ordem direta
 Vocabulário simples

• Gosto pelo soneto e pelo verso decassílabo


Cláudio Manuel da Costa
CARACTERÍSTICAS GERAIS:
Uso do pseudônimo Glauceste Satúrnio
Contenção emocional: racionalismo
Amor não correspondido: sofrimento (Nise)
Descrição da paisagem mineira: pastoralismo
Comparação entre o campo e a cidade

RÚSTICO X CIVILIZADO

POESIA ÉPICA : VILA RICA

Inspirado nas epopéias clássicas


Temática: expedições bandeirantes em busca de ouro e f
undação da cidade de Vila Rica
SONETO LXII – Cláudio Manoel da Costa
Torno a ver-vos, ó montes: o destino
Aqui me torna a por nestes outeiros:
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico e fino.

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,


Os meus fiéis, meus doces companheiros
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás do seu cansado desatino.

Se o bem desta choupana pode tanto


Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que da cidade o lisongeiro encanto:

Aqui descanse a louca fantasia:


E o que até agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
MARÍLIA DE DIRCEU
O HOMEM E O POETA
• Poeta ilustrado (Arcádia Ultramarina);
• Notável poeta do Arcadismo;
• Magistrado e burguês;
• Sátira política dirigida (“Cartas Chilenas”);
• Líder intelectual e político da
Inconfidência;
• Prisão e degredo para Moçambique.
MARÍLIA DE DIRCEU (DUAS PARTES)

1ª parte:

• confidências amorosas;
• descrições da amada (convencionalismo
poético);
• planos e sonhos de felicidade e tranqüilidade;
• o poeta mostra-se epicurista, narcisista e
burguês.
• pastoralismo, bucolismo e locus amoenus;
• o máximo do carpe diem.
LIRA I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, d’ expressões grosseiro,
dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,


Graças à minha Estrela!
2ª parte:
• poemas escritos no cárcere (ilha das Cobras);
• sofrimento físico e moral;
• lembranças da amada; a solidão de Dirceu;
• reflexões sobre o destino, a justiça e a glória;
• equilíbrio neoclássico (esteticismo);
• o tom confessional e o pessimismo prenunciam
o Romantismo.
LIRA XXXVI

Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,


fui honrado pastor da tua aldeia;
vestia finas lãs e tinha sempre
a minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
nem tenho a que me encoste um só cajado.

Ah! minha bela, se a fortuna volta,


se o bem, que já perdi, alcanço e provo,
por essas brancas mãos, por essas faces
te juro renascer um homem novo,
romper a nuvem que os meus olhos cerra,
amar no céu a Jove e a ti na terra!
POESIA ÉPICA
CARAMURU
(Frei José de Santa Rita Durão)

- "Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem ...


Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame
Mas pagar tanto amor com tédio e asco ...
Ah! que corisco és tu ... raio ... penhasco!
Tão jura ingratidão menos sentira
E esse fado cruel doce me fora.
Se o meu despeito triunfar não vira
Essa indigna, essa infame, essa traidora
Por serva, por escrava, te seguira
Se não temera de chamar senhora
A vil Paraguaçu, que, sem que o creia
Sobre ser-me inferior, é néscia e feia
O URAGUAI (Basílio da Gama)

Cansada de viver, tinha escolhido


Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão e a mão no tronco
Dum fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Casa No Campo (fragmento)
Composição: Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo


Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Além do horizonte - Roberto Carlos
Além do Horizonte deve ter
Algum lugar bonito
Prá viver em paz
Onde eu possa encontrar
A natureza
Alegria e felicidade
Com certeza...
Lá nesse lugar
O amanhecer é lindo
Com flores festejando
Mais um dia que vem vindo...
Onde a gente pode
Se deitar no campo
Se amar na relva
Escutando o canto
Dos pássaros...
ROMANTISMO
1836...............................................................................1881
SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES O MULATO
Gonçalves de Magalhães
MEMÓRIAS PÓSTUMAS
DE BRÁS CUBAS

“A ARTE BURGUESA”
CONTEXTO HISTÓRICO-LITERÁRIO

• Revolução Francesa;
• Chegada da família real ao Brasil;
• Independência política;
• O Rio de Janeiro como centro
econômico e político do Brasil;
• Formação da literatura do Brasil
(indianismo, nacionalismo...).
CARACTERÍSTICAS
• Rejeição aos modelos clássicos
• Individualismo e subjetivismo
• Linguagem simples e popular (metafórica)
• Sentimentalismo (paixão, tristeza, angústia, ...)
• Idealização da mulher e dos sentimentos
• Culto à natureza
• Religiosidade cristã
• Valorização do passado
- histórico: medievalismo
• Natureza confidencial - individual: infância

•Liberdade artística
- Mistura de gêneros
- Predomínio da metáfora
- Afirmação do romance
POESIA ROMÂNTICA

PRIMEIRA GERAÇÃO: Indianista / Nacionalista

• Consolidador do Romantismo
• Idealização da mulher e do amor
• Nacionalismo
Gonçalves Dias Idealização do índio aos moldes medievais
 Exaltação da Natureza

• Saudade da Pátria
• Religiosidade
I – JUCA PIRAMA
Meu pai a meu lado
I Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Meu canto de morte, Firmava-se em mi:
Guerreiros, ouvi: Nós ambos, mesquinhos,
Sou filho das selvas, Por ínvios caminhos,
Nas selvas cresci; Cobertos d’espinhos
Guerreiros, descendo Chegamos aqui!
Da tribo tupi.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Da tribo pujante, Já cego e quebrado,
Que agora anda errante Que resta? — Morrer.
Por fado inconstante, Enquanto descreve
Guerreiros, nasci; O giro tão breve
Sou bravo, sou forte, Da vida que teve,
Sou filho do Norte; Deixai-me viver!
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
[...]
Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
[...}
--- Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
— Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. —
[...]
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
Um Índio
Composição: Caetano Veloso

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante


De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro
instante

Depois de exterminada a última nação indígena


E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das
tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi


Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá
CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Não permita Deus que eu morra,
Que tais não encontro eu cá; Sem que eu volte para lá;
Em cismar - sozinho, à noite - Sem que desfrute os primores
Mais prazer encontro eu lá; Que não encontro por cá;
Minha terra tem palmeiras, Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. Onde canta o Sabiá.
PARÓDIAS DA CANÇÃO DO EXÍLIO
Com Oswald de Andrade, Canto do
regresso à pátria:
Em Canção, Mário Quintana
Minha terra tem palmares parece fazer um protesto
Onde gorjeia o mar ecológico:
Os passarinhos aqui
Não cantam como os de lá Minha
terra tem mais rosas Minha terra não tem palmeiras...
E quase que mais amores E em vez de um mero sabiá,
Minha terra tem mais ouro Cantam aves invisíveis
Minha terra tem mais terra (...) Nas palmeiras que não há.

Não permita Deus que eu morra


Sem que eu volte para são Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo
Carlos Drummond, mais filosófico, reflete sobre
a distância da felicidade em Nova canção do
exílio:

Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto. (...) Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Também Murilo Mendes mostra-se irreverente com o
célebre poema romântico:

Minha terra tem macieiras da Califórnia


onde cantam gaturamos de Veneza. (...)
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas são mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera
chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
POESIA AMOROSA
Ainda mais uma vez - Adeus! II
Dum mundo a outro impelido,
I
Enfim te vejo! - enfim posso, Derramei os meus lamentos
Curvado a teus pés, dizer-te Nas surdas asas dos ventos,
Que não cessei de querer-te,
Do mar na crespa cerviz!
Pesar de quanto sofri.
Baldão, ludibrio da sorte
Muito penei! Cruas ânsias
Dos teus olhos afastado Em terra estranha, entre
Houveram-me acabrunhado, gente,
A não lembrar-me de ti!
Que alheios males não sente,
Não se condói do infeliz!
SEGUNDA GERAÇÃO: Byroniana

• Pessimismo
• Inadaptação à realidade / angústia de viver
• Escapismo
Álvares de Azevedo Valorização da noite, da boêmia, do sonho
Casimiro de Abreu  A morte
Fagundes Varela
• Aspecto macabro
•O medo de amar
ÁLVARES DE AZEVEDO
OBRA PÓSTUMA:

Teatro:
. Macário (1855)

Contos:
. Noite na Taverna (1855)

Poesia:
. Pedro Ivo (1855)
. Poemas do Frade (1862)
. Lira dos Vinte Anos (1886)
. Conde Lopo (1886)
POESIA LÍRICA AMOROSA
(PRIMEIRA PARTE)
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria


Pela maré das água embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...


Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!


Por ti — as noites eu velei chorando,
Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!
POESIA LÍRICA AMOROSA (segunda parte)

É ela! É ela! É ela! É ela!

É ela! é ela! — murmurei tremendo,


e o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura —
a minha lavadeira na janela.

Esta noite eu ousei mais atrevido,nas telhas


que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...


Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!
MEUS OITO ANOS – Casimiro
de Abreu
Que auroras, que sol, que vida.
Oh! que saudades que tenho Que noites de medodia
Da aurora da minha vida, Naquela doce alegria,
Da minha infância querida Naquele ingênuo folgar!
Que os anos não trazem mais! O céu bordado d'estrelas,
Que amor, que sonhos, que flores, A terra de aromas cheia,
Naquelas tardes fagueiras As ondas beijando a areia
À sombra das bananeiras, E a lua beijando o mar!
Debaixo dos laranjais!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Como são belos os dias Que doce a vida não era
Do despontar da existência! Nessa risonha manhã!
— Respira a alma inocência Em vez das mágoas de agora,
Como perfumes a flor; Eu tinha nessas delícias
O mar é — lago sereno, De minha mãe as carícias
O céu — um manto azulado, E beijos de minha irmã!
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor! (…)
Minha Flor, Meu Bebê
Composição: Cazuza / Dé / Bebel Gilberto

Dizem que tô louco Dizem que tô louco


Por te querer assim E falam pro meu bem
Por pedir tão pouco Os meus amigos todos
E me dar por feliz Será que eles não
Em perder noites de Entendem
sono Que quem ama nesta Vida
Só pra te ver dormir Às vezes ama sem querer
E me fingir de burro Que a dor no fundo esconde
Pra você sobressair Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê
TERCEIRA GERAÇÃO: Condoreira / Social - Castro Alves
POESIA SOCIAL
 Imagens plásticas
 Caráter retórico
 Ideal republicano
 Abolicionismo
• denúncia dos maus tratos ao negro
- abordagem do abuso sexual

POESIA AMOROSA
 Visão mais concreta da mulher (plano físico)
 O amor sentimental e o erótico
 Realização amorosa
NAVIO NEGREIRO – Castro Alves
IV

Era um sonho dantesco... O tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas


magras crianças, cujas bocas pretas
Regra o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsias e mágoas vãs.

E ri-se a orquestra irônica, estrindente...


E da ronda fantástica serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
E ri-se a orquestra irônica, estrindente...
E da ronda fantástica serpente
Faz doudas espirais!
Qual um sonho dantesco as sombras voam
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Haiti (fragmento)
Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil

Quando você for convidado pra subir no adro


Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
POESIA AMOROSA
BOA NOITE – Castro Alves
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite!... E tu dizes — Boa noite
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos.
.......................................................................
É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua
O globo do teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
........................................................................
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
O ROMANCE ROMÂNTICO
1844.................................................................................1881
A MORENINHA O MULATO
Joaquim M. de Macêdo
MEMÓRIAS PÓSTUMAS
DE BRÁS CUBAS

• Retrato do modo de vida e da ideologia burguesa


• Maniqueísmo
conflito entre o bem e o mal
(herói) X (vilão)
•Enredo simples , linear
namoro difícil
desejo X dever
impasse amoroso (final feliz ou trágico)
•Personagens planos
idealizados
comportamento previsível
•Tempo cronológico (Uso do flashback)
•Linguagem metafórica
•Narrativa rápida (romance de ação)
TIPOLOGIA DO ROMANCE

ROMANCE URBANO:
Descrição dos costumes burgueses
Forte caráter sentimental.

ROMANCE INDIANISTA:
O índio como símbolo de nacionalidade
O bom selvagem
Miscigenação com o branco
Valorização dos mitos, tradições e lendas
Retorno ao passado histórico

ROMANCE HISTÓRICO:
Temática de fato histórico paralela à trama.

ROMANCE REGIONALISTA:
Abordagem do sertanejo e seus costumes
Descrições das paisagens interioranas.
JOSÉ DE ALENCAR

Patriarca da Literatura Brasileira


O B R A:
Romances urbanos: Cinco minutos (1856); A Viuvinha
(1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A Pata da Gazela
(1870); Sonhos d’Ouro (1872); Senhora (1875);
Encarnação (1893, póstumo).
Romances históricos: As Minas de Prata (1865);
Alfarrábios (1873); Guerra dos Mascates (1873).
Romances indianistas: O Guarani (1857); Iracema
(1865), Ubirajara (1874).
Romances regionalistas: O Gaúcho (1870); O Tronco do
Ipê (1871); Til (1872); O Sertanejo (1875).
JOAQUIM MANUEL DE MACEDO

A MORENINHA (Augusto e Carolina)

Fidelidade a uma promessa de infância; Amor entre


Augusto e Carolina;
A inconstância amorosa X fidelidade à promessa amorosa
(Augusto);
Uso de um perfil feminino tipicamente brasileiro:
a morena;
Visão paradisíaca da natureza brasileira;
Memórias de um
Sargento de Milícias
MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA

PRECURSOR • Os hábitos, a moda, o folclore, a religiosidade


das classes populares no início do século XIX.
DO REALISMO • Desmascaramento moral da sociedade

DESTRUIÇÃO DO
ROMANTISMO Ironia direta aos cacoetes românticos
• Crise da idealização: os personagens são
quase marginais.
• Crítica social
PREDOMÍNIO DO
HUMOR • Personagens caricaturizados
SOBRE O • Acontecimentos que desmentem
DRAMÁTICO • As aparências das pessoas
(ROMANCE • Situações cômicas
PICARESCO)
O ROMANCE REGIONALISTA

BERNARDO GUIMARÃES

PRINCIPAIS OBRAS:
• O Seminarista
• O Garimpeiro
• A Escrava Isaura

CARACTERÍSTICAS GERAIS:
É autor do primeiro romance regionalista (O Ermitão de Muquém)
• Estrutura de folhetim
• Valorização do pitoresco
• Utilização de uma linguagem oral / Técnica do “contador de causos”
• Tentativa abolicionista (A Escrava Isaura)
VISCONDE DE TAUNAY
PRINCIPAL OBRA:

Inocência
CARACTERÍSTICAS DA OBRA:
• Precisão de detalhes e da paisagem
• Estrutura romântica e final trágico
• Enfoque à mentalidade conservadora do sertanejo
• Triângulo amoroso : Inocência – Manecão – Cirino
• Presença do cientificismo ( alemão Mayer)
Simulado ENEM

Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta contínua


importunação de senhores e de escravos, que não a
deixam sossegar um só momento! Como não devia viver
aflito e atribulado aquele coração! Dentro de casa
contava ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado em
roubar-lhe a paz da alma, e torturar-lhe o coração: três
amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula
terrível e desapiedado, Rosa. Fácil Ihe fora repelir as
importunações e insolências dos escravos e criados;
mas que seria dela, quando viesse o senhor?!...
GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1995 (adaptado).
A personagem Isaura, como afirma o título do romance, era uma
escrava. No trecho apresentado, os sofrimentos por que passa a
protagonista
a) assemelham-se aos das demais escravas do país, o que indica o
estilo realista da abordagem do tema da escravidão pelo autor do
romance.
b) demonstram que, historicamente, os problemas vividos pelas
escravas brasileiras, como Isaura, eram mais de ordem sentimental
do que física.
c) diferem dos que atormentavam as demais escravas do Brasil do
século XIX, o que revela o caráter idealista da abordagem do tema
pelo autor do romance.
d) indicam que, quando o assunto era o amor, as escravas
brasileiras, de acordo com a abordagem lírica do tema pelo autor,
eram tratadas como as demais mulheres das sociedade.
e) revelam a condição degradante das mulheres escravas no Brasil,
que, como Isaura, de acordo com a denúncia feita pelo autor, eram
importunadas e torturadas fisicamente pelos seus senhores.

QUESTÃO ENEM - 2009
O SERTÃO E O SERTANEJO
Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo
matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do sol
transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que
algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do
seu isqueiro. Minando à surda na touceira. queda a vívida centelha.
Corra daí a instantes qualquer aragem, por débil que seja, e levanta-se
a língua de fogo esguia e trêmula, como que a contemplar medrosa e
vacilante os espaços imensos que se alongam diante dela. O fogo,
detido em pontos, aqui, ali, a consumir com mais lentidão algum
estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir de todo, deixando
como sinal da avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi
seguindo os velozes passos. Por toda a parte melancolia; de todos os
lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva, e
parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos
a traçar as pressas jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo num
trabalho íntimo de espantosa atividade. Transborda a vida.
TAUNAY, A. Inocência. São Paulo: Ática 1993 (adaptado).
O romance romântico teve fundamental importância na formação da
ideia de nação. Considerando o trecho acima, é possível reconhecer
que uma das principais e permanentes contribuições do Romantismo
para construção da identidade da nação é a
a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da
natureza nacional, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de
perspectiva de renovação.
b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela
classe dominante local, o que coibiu a exploração desenfreada das
riquezas naturais do país.
c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem
fantasia ou exaltação, de uma imagem da terra que revelou o quanto
é grandiosa a natureza brasileira.
d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o
sentimento de unidade do território nacional e deu a conhecer os
lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros.
e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do
interior do Brasil, formulando um conceito de nação centrado nos
modelos da nascente burguesia brasileira.
REALISMO
1881..........................................................................................1922
SEMANA DE ARTE MODERNA
MEMÓRIAS PÓSTUMAS
DE BRÁS CUBAS
A CRÍTICA À BURGUESIA
CONTEXTO HISTÓRICO-LITERÁRIO:
• 2ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL / SOCIALISMO (MARX);
• MEDICINA EXPERIMENTAL / CIENTIFICISMO;
• ORIGEM DAS ESPÉCIES / EVOLUCIONISMO (DARWIN);

• TEORIAS FILOSÓFICAS & CIENTÍFICAS:

 O POSITIVISMO, DE AUGUSTO COMTE;


 SOCIALISMO, DE KARL MARXKarl Mar
 EVOLUCIONISMO, DE DARWIN

DETERMINISMO (HIPÓLITO TAINE):


tempo /raça / meio
CARACTERÍSTICAS
• Objetividade
• Materialismo
• Verossimilhança
• Análise do caráter
• Narrativa aparentemente lenta
• Contemporaneidade
• Critica a burguesia ,clero e
monarquia:
 manipulação e alienação
 censura ao convencionalismo
 adultério, relações de aparências, interesse financeiro
• Linguagem concisa e clássica
MACHADO DE ASSIS
(1839/1908)
DE MENINO, DE HOMEM COMUM A MITO NACIONAL
• Nasceu no Morro do Livramento, em 21 de junho de
1839, Rio de Janeiro — o grande cenário — falece em
29 de setembro de 1908. Pobre, tímido, doente, míope,
epilético, estéril, gago, mulato; na velhice um câncer na
língua. Tornou-se um homem tímido, reservado e
discreto.
• Autodidata e culto, publicou seu primeiro texto em 1855
(um poema romântico intitulado ELA) e o primeiro livro
em 1864 — CRISÁLIDAS (poemas).
• Casou-se em 1869 com Carolina Augusta Xavier de
Novais, companheira que muito o ajudou na carreira
literária: “Carolina, tu pertences ao pequeno número de
mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar.”
CARACTERÍSTICAS
1ª FASE: Romântica
 Ressurreição;
 A mão e a Luva;
 Helena;
 Iaiá Garcia
2ª FASE: O salto qualitativo/o romance
problemático (romances realistas):
· Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881);
· Quincas Borba;
· Dom Casmurro (1899 e 1900)
· Esaú e Jacó;
· Memorial de Aires (1908)
FASE REALISTA - CARACTERÍSTICAS
QUANTO À VISÃO DE MUNDO
• Pessimismo;
• Humor e ironia;
• Denúncia da hipocrisia e do egoísmo;
• QUANTO ÀS PERSONAGENS
• Paixão pelo dinheiro;
• Egoísmo e vaidade;
• Medo da opinião alheia;
• Dissimulação
• Relatividade dos valores morais.
• QUANTO AO PROCESSO NARRATIVO
• Quebra da linearidade;
• Conversa com o leitor;
• Digressões;
• Metalinguagem;
• Intertextualidade.
TEMÁTICAS E ESTILO
 É um romance curioso onde a fantasia, o
humor e a crítica ocupam os caminhos da
escrita.
 Revela aspectos metalingüísticos
e intertextualidades na composição do
discurso.
 Abordagem psicológica das personagens;
 Quebra da estrutura tradicional da
narrativa, experimentalismo ficcional;
 Desmistificação das idealizações românticas;
 Narrativa documental e crítica à burguesia.
 Parasitismo social, econômico e político
das elites brasileiras.
A MULHER NA CONCEPÇÃO REALISTA
Leia atentamente os dois fragmentos de Memórias
póstumas de Brás Cubas:
I. “O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma
boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa!
Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às
vezes um imenso cenário. Por que bonita, se coxa?
Por que coxa, se bonita?”

II. “Não digo que lhe coubesse a primazia da beleza, entre


as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em
que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às
sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
maculasse o rosto nenhuma sarda ou [...]”
DOM CASMURRO
CARACERÍSTICAS GERAIS:
 Narrativa memorialista:
 Aspectos do narrador:
• 1a pessoa (Bento Santiago)
• fraqueza de caráter, submissão à figura feminina (mãe e esposa),
• deturpador dos fatos, aparente ingenuidade, calculista e possessivo
 O parasitismo social:
• José Dias, prima Justina, tio Cosme
 Teor acusatório: suposto adultério de Capitu com Escobar
 Narrativa não linear
 Tempo psicológico
 Desnudamento dos valores humanos:
• a cobiça, a inveja, a bajulação, o interesse financeiro, ...
• O caráter vocacional: Bentinho e Escobar
• A solidão humana
A pintura realista de Gustave Coubet (a realidade igual ao
que se via e o esmero da técnica)
Você só pensa em grana - Zeca Baleiro

Você rasga os poemas E desde então eu vivo


Que eu te dou Com meu banjo
Mas nunca vi você Executando os rocks
Rasgar dinheiro Do meu livro
Você vai me jurar Pisando em falso
Com meus panos quentes
Eterno amor Enquanto você rir
Se eu comprar um dia No seu conforto
O mundo inteiro... Enquanto você
Me fala entre dentes
Quando eu nasci Poeta bom, meu bem!
Poeta morto!...
Um anjo só baixou
Falou que eu seria
Um executivo
NATURALISMO
1881...............................................................................1922
O MULATO SEMANA DE ARTE MODERNA
ALUÍSIO DE AZEVEDO

Romances naturalistas
 Enfoque às camadas populares
(coletividade)
 Análise objetiva da realidade
 Influencias científicas:

• Determinismo
• Evolucionismo
• Positivismo

 Romances de tese experimental


 Despreocupação moral
O CORTIÇO (1890)
• OBRA-PRIMA DO NATURALISMO BRASILEIRO;

• ROMANCE DE ESPAÇO;

• O MEIO (CORTIÇO) DETERMINA O


COMPORTAMENTO DOS PERSONAGENS;

• DENÚNCIA SOCIAL:

 Capitalismo selvagem: exploração da miséria


coletiva –
favelas – divisão de classes;
 Ascensão social / influência / privilégios;
 Parasitismo / degradação moral e social do Homem.
ANÁLISE DE TEXTOS NATURALISTAS
CIENTIFICISMO / OBJETIVIDADE
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e
lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma
coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo,
daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

PATOLOGIA SEXUAL / ZOOMORFIZAÇÃO

Os olhos riam destilando uma lágrima de desejo; as narinas ofegavam;


adejavam trêmulas por intervalos, com a vivacidade espasmódica do
amor das aves; os lábios, animados de convulsões tetânicas,
balbuciavam desafios, prometendo submissão de cadela e a doçura dos
sonhos orientais.
Descobriu-lhe no cheiro da pele e no cheiro dos cabelos perfumes que
nunca lhe sentira; notou-lhe outro hálito, outro som nos gemidos e nos
suspiros. E gozou-a, gozou-a loucamente, com delírio, com verdadeira
satisfação de animal no cio.
O ATENEU
RAUL POMPÉIA
CARACTERÍSTICAS
• Romance de classificação eclética
(realista/naturalista/expressionista...);
• Romance autobiográfico.(Sérgio é o alter-ego, ou
seja, um outro “eu” de Raul Pompéia)

• Temáticas:
►Crítica à monarquia;
►Crítica ao sistema educacional;
► Solidão;
► Homossexualismo.
CARACTERÍSICAS ESPECÍFICAS

REALISMO NATURALISMO
Romance documental Romance de tese / experimental
( DETERMINISMO)

Psicologismo Animalização das personagens


(zoomorfismo / patologias)

Análise individual Análise coletiva / proletariado

Personagens esféricos Personagens populares


e burgueses e planos
Como Dois Animais - Alceu Valença

Uma moça bonita Meu olhar vagabundo


De olhar agateado De cachorro vadio
Deixou em pedaços Olhava a pintada
Meu coração E ela estava no cio
Uma onça pintada E era um cão vagabundo
E seu tiro certeiro E uma onça pintada
Deixou os meus nervos Se amando na praça
De aço no chão... Como os animais...
Mas uma moça bonita
De olhar agateado
Deixou em pedaços
Meu coração
PARNASIANISMO
1882...............................................................................1922
FANFARRAS SEMANA DE ARTE MODERNA
Teófilo Dias

Objetividade:
contenção emocional

•Perfeccionismo formal:
métrica rígida
apuro nas rimas

•Linguagem rebuscada:
vocabulário culto
inversões sintáticas

•Retomada da cultura clássica


•Caráter descritivo
•Estética da Arte pela Arte:
descomprometimento social
a poesia voltada para si mesma (metalinguagem)
A um poeta - Olavo Bilac
Longer do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!


Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica mas sóbria, como um templo grego.


Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,


Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BEIJO ETERNO (fragmentos) Diz tua boca: “Vem!”
“Inda mais”, diz a minha, a
Quero um beijo sem fim soluçar... Exclama
Que dure a vida inteira e Todo o meu corpo que o teu
aplaque o meu desejo! corpo chama
Ferve-me o sangue. Acalmo-o “Morde também!”
com teu beijo. Ai! morde! que doce é a dor
Beija-me assim! Que me entra as carnes, e as
O ouvido fecha o rumor tortura!
Do mundo, e beija-me, Beija mais! Morde mais! Que
querida! eu
Vive só para mim, só para a morra de ventura,
minha vida, Morto por teu amor!
Só para o meu amor!

As Pombas - Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...


Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüinea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada


Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam


Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
QUESTÃO SIMULADO ENEM
Ouvir Estrelas "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto


A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas“ (OLAVO BILAC )
Ouvir estrelas

Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo


que estás beirando a maluquice extrema.
No entanto o certo é que não perco o ensejo
de ouvi-las nos programas de cinema.
Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
que mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma boca de estrela dando beijo
é, meu amigo, assunto p’ra um poema.
Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
as estrelas, que dizem? Que sentido
têm suas frases de sabor tão raro?
Amigo, aprende inglês para entendê-las,
pois só sabendo inglês se tem ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas.
(Bastos Tigre)
A partir da comparação entre os poemas, verifica-se que,

a) no texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em


linguagem denotativa, enquanto no de Tigre, em linguagem
conotativa.
b) no texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes, e
no texto de Tigre, são próximas, acessíveis aos que as ouvem
e as entendem.
c) no texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais
trabalhada, como se observa no uso de estruturas como “dir-
vos-ei sem pejo” e “entendê-las”.
d) no texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem
metalinguística no trecho “Uma boca de estrela dando beijo/é,
meu amigo, assunto p’ra um poema.”
e) no texto de Tigre, a visão romântica apresentada para
alcançar as estrelas é enfatizada na última estrofe de seu
poema com a recomendação de compreensão de outras
línguas.
SIMBOLISMO
1893...............................................................................1922
MISSAL / BROQUÉIS SEMANA DE ARTE MODERNA
Cruz e Sousa

• O Eu profundo
• Pessimismo, dor de existir
• Linguagem vaga, sugestiva:
Símbolos e metáforas originais
Musicalidade
• Mistério, espiritualismo e misticismo
• Antimaterialismo, anti-racionalismo
• Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte (sublimação)

– Baudelaire: a teoria das correspondências (sensorialismo)


– Verlaine: a musicalidade
– Mallarmé: “Sugerir, eis o sonho”
– Rimbaud: a alquimia verbal
-- SCHOPENHAUER : PESSIMISMO
ANTÍFONA (fragmento)
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas! ...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras ...
Cavador do Infinito
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.
Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.
E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...
Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!
ISMÁLIA - Alphonsus de Guimaraens
E como um anjo pendeu
Quando Ismália enlouqueceu As asas para voar ...
Pôs-se na torre a sonhar ... Queria a lua do céu ,
Viu uma lua no céu , Queria a lua do mar ...
Viu outra lua no mar .
As asas que deus lhe deu
No sonho em que se perdeu , Rufaram de par em par ...
Banhou-se toda em luar ... Sua alma subiu ao céu ,
Queria subir ao céu , Seu corpo desceu ao mar ...
Queria descer ao mar ...

E no desvario seu ,
Na torre pôs-se a cantar ...
Estava perto do céu ,
Estava longe do mar ...
QUESTÃO SIMULADO ENEM
Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

(CRUZ E SOUSA,)
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto
cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das
almas, de Cruz e Sousa, são:

A. a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta,


de temas filosóficos.
B. a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à
temática nacionalista.
C. o refinamento estético da forma poética e o tratamento
metafísico de temas universais.
D. a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social
expressa em imagens poéticas inovadoras.
E. a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a
rima e a métrica tradicionais em favor de temas do
cotidiano.
PRÉ-MODERNISMO
1902..................................................................................1922
OS SERTÕES – Euclides da Cunha SEMANA DE ARTE MODERNA
CANAÃ – Graça Aranha
CONTEXTO HISTÓRICO – LITERÁRIO

► A República Velha
► A Revolta de Canudos
► O fenômeno do cangaço
► O fanatismo religioso
► A Revolta da Armada
► Greves operárias
► Ecletismo literário
Notícias Do Brasil (Os Pássaros Trazem)
Composição: Milton Nascimento/Fernando Brant

Uma notícia está chegando lá do Maranhão.


Não deu no rádio, no jornal ou na televisão.
Veio no vento que soprava lá no litoral
de Fortaleza, de Recife e de Natal.
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
e lá do norte foi descendo pro Brasil Central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul!
Aqui vive um povo que merece mais respeito!
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor.
Aqui vive um povo que é mar e que é rio,
E seu destino é um dia se juntar.
O canto mais belo será sempre mais sincero.
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar.
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade,
ser mais sábio que quem o quer governar!

A novidade é que o Brasil não é só litoral!


É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul.
Tem gente boa espalhada por esse Brasil,
que vai fazer desse lugar um bom país!
CARACTERÍSTICAS

● Transição cultural.
● Não é Escola Literária.
● Resíduos culturais do séc. XIX:
 Parnasianismo, Simbolistmo, Realismo - Naturalismo.

● Busca de novas formas de expressão.


● Redescoberta e reinterpretação social do Brasil:
 País doente, pobre, ignorado e esquecido.
SEGUNDA PARTE
"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não
tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do
litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro
lance de vista, revela o contrário(...). É
desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-
Quasimodo (...) é o homem permanentemente
fatigado (...) Entretanto, toda essa aparência de
cansaço ilude (...) No revés o homem
transfigura-se . (...) e da figura vulgar do tabaréu
canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto
dominador de um titã acobreado e potente, num
desdobramento surpreendente de força e
agilidade extraordinárias."
VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável


Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,


Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Urupês (fragmento)
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem
árvores frutíferas, nem horta, nem flores - nada revelador de
permanência.
Há mil razões para isso: porque não é a sua terra; porque se o
"tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para
frutas há o mato; porque a "criação" come; porque....
- Mas, criatura, com um vedozinho por ali ... A madeira está à
mão o cipó é tanto...
Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha
para o terreiro nú, coça a cabeça e cuspilha.
- Não paga a pena.
Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra
atravessada de fatalismo e modorra.
Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades.
De qualquer jeito se vive.
As Vanguardas Européias
• Principais Características do Período:
1. Belle Époque;
2. Euforia burguesa pelo advento da Era da
Máquina;
3. Culto ao progresso, à velocidade e aos
confortos proporcionados pela tecnologia;
4. Surgimento do cinematógrafo, do
automóvel e das máquinas voadoras.
Situação Histórica:

1. I Grande Guerra Mundial (1914-1918);


2. Ruína econômica dos países europeus;
3. Declínio dos valores e falência dos
ideais;
4. Desilusão, desencanto, perplexidade;
5. Descrédito das antigas “certezas”
científicas e religiosas.
Contexto Intelectual:
1. Psicanálise (o inconsciente), de
Sigmund Freud;
2. Intuicionismo (fonte do
conhecimento), de Henry Bergson;
3. “A morte de Deus” e a filosofia de
Friedrich Nietzsche ganham espaço;
4. A arte acompanha o colapso do
mundo burguês e reflete a tensão do
momento
ORIGEM: DERIVA DO FRANCÊS AVANT-GARDE, TERMO MILITAR QUE
DESIGNA AQUELES QUE, DURANTE UMA CAMPANHA, VÃO À FRENTE
DA UNIDADE. A PARTIR DO SÉCULO XX, PASSOU A SER EMPREGADO
PARA DESIGNAR AQUELES QUE NO CAMPO DAS ARTES E DAS IDÉIAS,
ESTAVAM À FRENTE DE SEU TEMPO.

DEFINIÇÃO: ENTENDE-SE, COM ESTE TERMO – VANGUARDA – UM


MOVIMENTO QUE INVESTE UM INTERESSE IDEOLÓGICO NA ARTE,
PREPARANDO E ANUNCIANDO DELIBERADAMENTE UMA SUBVERSÃO
RADICAL DA CULTURA E ATÉ DOS COSTUMES SOCIAIS, NEGANDO EM
BLOCO TODO O PASSADO E SUBSTITUINDO A PESQUISA METÓDICA POR
UMA OUSADA EXPERIMENTAÇÃO NA ORDEM ESTILÍSTICA E TÉCNICA.

(Giulio Carlo Argan)


Características Gerais
• Fundação da modernidade: novas linguagens
e temáticas;
• Enfocam a euforia e o pessimismo;
• Crítica às convenções burguesas;
• Irracionalismo;
• Negação do academicismo;
• Negação das formas fixas;
• Defesa da interdependência das linguagens
artísticas
QUADRO GERAL DAS PRINCIPAIS
VANGUARDAS EUROPÉIAS

CUBISMO FUTURISMO EXPRESSIONISMO DADAÍSMO SURREALISMO

1907 1909 1910-1920 1916 1924

Pablo F. Marinetti Tristan André Breton


Picasso Tzara
FUTURISMO
LANÇADO POR MARINETTI NO MANIFESTO “LE FUTURISME”, 1909.
SURGE ENTRE O SIMBOLISMO E A 1ª GUERRA MUNDIAL.
EXALTA A VIDA MODERNA.
CULTO DA MÁQUINA E DA VELOCIDADE.
DESTRUIÇÃO DO PASSADO E DO ACADEMICISMO.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
 Automóvel Correndo, de Giacomo Balla.
“Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia!-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, egenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!”
(Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa – fragmento da Ode Triunfal)
CUBISMO
 DECOMPOSIÇÃO DA REALIDADE EM FIGURAS GEOMÉTRICAS.
 MANIFESTA-SE A PARTIR DE 1917, NA LITERATURA.
 UMA POESIA AUSENTE DE LÓGICA.
 TÉCNICA DA COLAGEM / LINGUAGEM CAÓTICA (ABSTRATO).

No
âmago
da pirâmide
a vertigem do fim
frio claustro de trevas
a lâmina do nada cravada em mim
Violino e Uvas, de Pablo Picasso.
DADAÍSMO: A ANTIARTE

SURGE EM 1916, EM ZURIQUE.


PROMOVE UM CERTO “TERRORISMO” CULTURAL.
VALORIZA O NIILISMO (DESCRENÇA ABSOLUTA).
MUNDO ILÓGICO.
CULTUA A REALIDADE MÁGICA DA INFÂNCIA.
SEU PRINCIPAL DIVULGADOR FOI TRISTAN TZARA.
RECEITA DADAÍSTA PARA FAZER UM POEMA

Pegue um jornal.
Pegue uma tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e
meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscientemente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parece com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa,
ainda que incompreendido do público.

(Tristan Tazra)
EXPRESSIONISMO
 ARTE QUE MATERIALIZA AS MANIFESTAÇÕES DO MUNDO
INTERIOR;
 “ARTE DO GROTESCO” / SOFRIMENTO / DOR / ANGÚSTIA.
 POTENCIALIZA A CARGA DRAMÁTICA COM CORES FORTES.
INTERTEXTUALIDADE

O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava
Engolia com voracidade.
O Bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um
homem.

(Manuel Bandeira)
SURREALISMO: O COMBATE A RAZÃO

SURGE EM 1924 COM O MANIFESTO SURREALISTA DE ANDRÉ BRETON.


PROPÕE QUE O HOMEM SE LIBERTE DA RAZÃO, DA CRÍTICA, DA LÓGICA.
ADERE A FILOSOFIA DE SIGMUND FREUD.
EXPRESSA O INTERIOR HUMANO INVESTIGANDO O INCONSCIENTE.
Aparição de um rosto e de uma fruteira numa
praia, de Salvador Dali.
EXERCÍCIOS
Relacione imagens e textos aos
movimentos de vanguarda a que se
referem:
A)
BOTAFOGO - Murilo Mendes

Desfilam algas sereias peixes e galeras


E legiões de homens desde a pré-história
Diante do Pão de açúcar impassível.
Um aeroplano bica a pedra amorosamente
A filha do português debruçou-se à janela
Os anúncios luminosos lêem seu busto
A enseada encerrou-se num arranha-céu.
B)
C)
D)
E)
F)
RESPOSTAS
a) SURREALISMO
b) CUBISMO – Les demoiselles d’Avignon, de Picasso.
c) FUTURISMO – Dinamismo de um cão na coleira,
de Balla.
d) SURREALISMO – O Grande Masturbador, de Dali.
e) DADAÍSMO – A Batalha, de Ludwig Kassak.
f) EXPRESSIONISMO – O Bananal, de Lasar Segall.
(UEM-PR) Analise as proposições e assinale a alternativa correta:

1. No século XX, vanguardas são os movimentos artísticos que se


desenvolvem antes, durante e depois da Primeira Guerra Mundial.
2. Cubismo, Futurismo e Dadaísmo são manifestações da postura
demolidora assumida pela arte do século XX.
3. O Futurismo lançou-se contra o passado e sonhou uma
superliteratura do século da velocidade.
4. Para os dadaístas, não havia nem passado nem futuro; o que havia era
a guerra, o nada.

a) Apenas 1, 3 e 4 são corretas.


b) Apenas 1, 2 e 4 são corretas.
c) Apenas 2 é falsa.
d) Todas são falsas.
e) Todas são verdadeiras.
MODERNISMO (Primeira Fase)
1922................................................................................1930
SEMANA DE ARTE MODERNA

CARACTERÍSTICAS
▪ Ruptura com o tradicionalismo cultural;
▪ Linguagem coloquial;
▪ Versos brancos e livres;
▪ Caráter polêmico e destruidor;
▪ Influência das Vanguardas Européias;
▪ Teor crítico quanto à nossa realidade e ao
passado colonial;
▪ O cotidiano, o poema-piada;
▪ O desenvolvimento de tendências
Movimentos
(Pau-Brasil, Verde-Amarelo, Antropofagia, Anta);
Revistas
(Terra Roxa, Klaxon, Antropofágica, ...)
ANTECEDENTES DA SEMANA DE ARTE MODERNA

1912- retorno de Oswald da Europa com idéias futuristas.


1914- exposição de telas expressionistas de Anita Malfatti.
1917- publicação de obras:
 Há uma gota de sangue em cada poema – Mário de Andrade
 A cinza das horas – Manuel Bandeira
 Nós – Guilherme de Almeida
 Moisés e Juca Mulato – Menotti del Picchia
• Segunda exposição de Anita Malfatti.
• Artigo Paranóia ou Mistificação – Monteiro Lobato

1922 – Semana de Arte Moderna.


A SEMANA
LOCAL: Teatro Municipal de São Paulo / 13, 15 e
17, de fevereiro, de 1922.

OBJETIVOS DA SEMANA:
- Apresentar à sociedade a nova
concepção de arte e divulgar
novas formas de criação.
- Romper definitivamente com os
padrões tradicionais da arte.
- Promover a troca de idéias e técnicas entre
artistas de diferentes áreas.
PONTO ALTO :
Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra. O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Em ronco que aterra, Diz: — "Meu cancioneiro
Berra o sapo-boi: É bem martelado.
— "Meu pai foi à
guerra!" Vede como primo
— "Não foi!" — "Foi!" Em comer os hiatos!
— "Não foi!". Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!
O meu verso é bom Urra o sapo-boi:
Frumento sem joio — "Meu pai foi rei“
Faço rimas com — "Foi!"
Consoantes de apoio. — "Não foi!“
— "Foi!“
Vai por cinqüenta — "Não foi!“
anos
Brada em um assomo
Que lhes dei a norma: O sapo-tanoeiro:
Reduzi sem danos — "A grande arte é
A formas a forma. como Lavor de joalheiro.
Clame a saparia Ou bem de estatuário.
Em críticas céticas: Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Não há mais poesia,
Canta no martelo."
Mas há artes poéticas
. . ."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe), Lá, fugindo ao mundo,
Falam pelas tripas: Sem glória, sem fé,
— "Sei!" — "Não No perau profundo
sabe!" — "Sabe!". E solitário, é

Longe dessa grita, Que soluças tu,


Lá onde mais densa Transido de frio,
A noite infinita Sapo-cururu
Verte a sombra Da beira do rio
imensa;
Primeira Geração - “Fase Heróica”

• Espírito polêmico e destruidor:


• Anarquismo: "não sabemos discernir o que queremos".
• Eleição do moderno como um valor em si mesmo.
• Busca de originalidade.
• Luta contra o tradicionalismo.
• Juízos de valor sobre a realidade brasileira.
• Valorização do cotidiano.
• Nacionalismo.
OSWALD DE ANDRADE

“A massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico”

CARACTERÍSTICAS:

• Pesquisa estética
• Adaptação aos valores das vanguardas européias ao
contexto brasileiro
• Destruição da linguagem tradicional
• Uso da paródia, poema piada, poema-pílula
• Caráter polêmico
• Revisão crítica do passado histórico
• Nacionalismo (primitivismo)
• Desenvolvimento de Vanguardas

Pau-Brasil X Verde-Amarelo
Antropofagia X Anta
VANGUARDAS ARTÍSTICAS BRASILEIRAS

POESIA PAU-BRASIL (1924)


•poesia primitivista
•valorização do índio
•críticas ao colonialismo
•exploração das diversidades culturais brasileiras
•“criação” de uma língua brasileira
•crítica à cultura acadêmica

VERDE – AMARELO (1924)


•reação à Poesia Pau-Brasil
•nacionalismo extremado e ufanista
•idealização da raça brasileira pura: o índio
•posicionamento direitista, conservador
•aproximação ideológica ao nazi-facismo
ANTROPOFAGIA (1929)
•retomada radical da Poesia Pau-Brasil em
reação ao Verde-Amarelo
•devoração da cultura estrangeira
•caráter anárquico
•proximidade ao Comunismo e a Freud
•tentativa de superação das normas sociais
rígidas

ANTA (1929)
•desdobramento radical da Poesia Verde -
Amarelo
erro de português brasil

Quando o português chegou O Zé Pereira chegou de caravela


Debaixo duma bruta chuva E preguntou pro guarani da mata virgem
Vestiu o índio -Sois cristão?
Que pena! -Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Fosse uma manhã de sol Teterê tetê Quizá Quizá Quecê !
O índio tinha despido Lá longe a onça resmungava Uu! Ua! Uu!
O português O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
-Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval.

as meninas da gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis


Com cabelos mui compridos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós a muito bem a olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
MANUEL BANDEIRA
“O São João Batista do Modernismo”
OBRAS PRINCIPAIS
• Cinza das horas
• Libertinagem
• Ritmo dissoluto
• Carnaval
• Estrela da manhã
TEMAS E CARACTERÍSTICAS

•Tom confessional
• Valorização do cotidiano
• Enfoque à doença (tuberculose) e à morte
• Valorização das coisas mais simples da vida
• A temática do desejo insatisfeito
• A simplicidade expressiva
• Recordações de Recife, da família, da infância
• Poesia social
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana, a louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem ser a contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando estiver mais triste


Mas triste de não der jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
– Diga trinta e três.
– Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
– Respire.
.............................................................................
– O Senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o
pulmão direito infiltrado.
– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
TREM DE FERRO
Café com pão Oô...
Café com pão Foge, bicho
Café com pão Foge, povo
Passa ponte
Virge Maria que foi isso maquinista? Passa poste
Passa pasto
Agora sim Passa boi
Café com pão Passa boiada
Agora sim Passa galho
Voa, fumaça De ingazeira
Corre, cerca Debruçada
Ai seu foguista No riacho
Bota fogo Que vontade
Na fornalha De cantar!
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Vou depressa
Do vestido verde
Me dá tua boca Vou correndo
Pra matar minha sede Vou na toda
Oô... Que só levo
Vou mimbora vou mimbora Pouca gente
Não gosto daqui Pouca gente
Nasci no sertão Pouca gente...
Sou de Ouricuri
Oô...
MÁRIO DE ANDRADE
“O Papa do Modernismo”
POESIA – Paulicéia desvairada – Lira paulistana

• Primeira obra com elementos modernizadores


• Inovação estética
• Valorização da realidade de São Paulo

INSPIRAÇÃO

São Paulo! Comoção de minha vida...


Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
MACUNAÍMA

• Rapsódia primitivista: “herói sem nenhum caráter”


• Sátira à linguagem usual
• Valorização do folclore e das lendas nacionais
• Adoção de uma linguagem “oral”
• Tentativa de definição do brasileiro
• Identificação com o Primitivismo oswaldiano
• Vocábulos indígenas e africanos
• Gírias e provérbios
• Ditados populares
• Anedotas da história do Brasil
• Surrealismos
• Aspectos da vida rural e urbana
MACUNAÍMA (intenção crítica)

• Rapsódia
• Síntese da cultura e da mentalidade
brasileira
• Renovação da linguagem literária
• Nacionalismo crítico
• Alegoria dos destinos do país, que
escolheu caminhos europeus em lugar de
explorar s possibilidades de construir uma
grande civilização tropical.
MACUNAÍMA (fragmento)

No fundo do Mato-Virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa


gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um
momento em que o silêncio foi tão grande escutando o
murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma
criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
[...]
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou
mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar
exclamava:
- Ai! que preguiça!... e não dizia mais nada.
E também espertava quando a família ia tomar banho no rio,
todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando
mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa
dos guaimuns diz-que habitando a água doce por lá.
SEGUNDA GERAÇÃO - POESIA “CONSOLIDAÇÃO”

1930 ……....................POESIA SOCIAL...................1945


ALGUMA POESIA
Carlos Drummond de Andrade

CONTEXTO HISTÓRICO:

•Crise econômica de 1929: queda da Bolsa de


Nova Iorque
•Radicalização política:
• Direita (fascismo, nazismo, integralismo) e
Esquerda (comunismo)
•Revolução de 30
•Ascensão de uma burguesia industrial
• Estado Novo (1937 – 1945)
• II Grande Guerra Mundial (1938 – 1944)
CARACTERÍSTICAS GERAIS

–Tendência universalizante
–Estabilização das conquistas de 22
–Equilíbrio estético
–Temática do cotidiano
–Grupos temáticos:
- Poesia de tensão ideológica
(Carlos Drummond, Vinícius de Moraes)

- Poesia de preocupação religiosa e filosófica


(Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles,
Vinícius – 1ª fase)
CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE
TEMAS: VISÃO DO MUNDO:

- o passado - a idéia da "perda"


- o amor - a corrosão dos
valores
- a solidão - o humanismo
- a fraternidade
- a interrogação sobre
a existência
- a própria poesia

1ª Eu maior que o Mundo


(Ironia)
A DIALÉTICA DO EU: 2ª Eu menor que o Mundo
(Engajamento)
3ª Eu igual ao Mundo
(metafísica)
O homem atrás do bigode
Poema de sete faces é sério, simples e forte.
Quando nasci, um anjo torto Quase não conversa.
desses que vivem na sombra Tem poucos, raros amigos
disse: Vai, Carlos! ser gauche na o homem atrás dos óculos e do bigode,
vida.
As casas espiam os homens Meu Deus, por que me abandonaste
que correm atrás de mulheres. se sabias que eu não era Deus se
A tarde talvez fosse azul, sabias que eu era fraco.
não houvesse tantos desejos.
Mundo mundo vasto mundo,
O bonde passa cheio de pernas: se eu me chamasse Raimundo
pernas brancas pretas amarelas. seria uma rima, não seria uma solução.
Para que tanta perna, meu Deus, Mundo mundo vasto mundo,
pergunta meu coração. mais vasto é meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada. Eu não devia te dizer mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
[horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
(...)
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói.
PROCURA DA POESIA

Não faça versos sobre acontecimentos.


Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes.
Nem me releves teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
A FLOR E A NÁUSEA

Uma flor nasceu na rua!


Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
Ilude a policia, rompe o asfalto.
Façam completo silencio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.


Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Simulado ENEM
Canção amiga

Eu preparo uma canção,


em que minha mãe se reconheça
todas as mães se reconheçam
e que fale como dois olhos.
[...]
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção


que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

ANDRADE, C. D. Novos poemas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1948


(fragmento).
A linguagem do fragmento acima foi empregada pelo
autor com o objetivo principal de

a) transmitir informações, fazer referência a


acontecimentos observados no mundo exterior.
b) envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, o
leitor, em um forte apelo à sua sensibilidade.
c) realçar os sentimentos do eu lírico, suas sensações,
reflexões e opiniões frente ao mundo real.
d) destacar o processo de construção de seu poema,
ao falar sobre o papel da própria linguagem e do poeta.
e) manter eficiente o contato comunicativo entre o
emissor da mensagem, de um lado, e o receptor, de
outro.
VINÍCIUS DE MORAES

PRIMEIRA FASE (1933 - 1943)


•O Caminho para a Distância (1933)
•Forma e Exegese (1935)
•Ariana a mulher (1936)
•Novos Poemas (1938)

CARACTERÍSTICAS:
•Preocupação religiosa, sob a forma de intensa
angústia
•Consciência torturada pela precariedade da
existência
•Inspiração na tradição bíblica.
•Crise existencial: concepção de vida com pecado.
SEGUNDA FASE (1943 -1980)

•Cinco Elegias (1943)


•Poemas, Sonetos e Baladas (1943)
•Orfeu da Conceição (teatro - 1956)
•Livros de Sonetos (1957)
•Para Viver um Grande Amor (crônicas e poemas - 1962)
•Cordélia e o Peregrino ( teatro -1965)
•Para uma menina com uma flor (crônicas - 1966)

CARACTERÍSTICAS:

•Linguagem coloquial
verso curto e incisivo
presença do humor e da ironia.
•Retomada do soneto
•Temática amorosa (erotismo)
•Poesia de tensão social
Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento


Antes, com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto,
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angustia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
A ROSA DE HIROXIMA
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rósas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
JORGE DE LIMA

TEMAS E CARACTERÍSTICAS
•a vida nordestina
•a cultura negra
•a religiosidade
•poesia social

OBRAS PRINCIPAIS:
•Invenção de Orfeu
•O Tempo e a Eternidade
(com Murilo Mendes)
Essa Negra Fulô
Ora, se deu que chegou Ó Fulô! Ó Fulô!
(isso já faz muito tempo) (Era a fala da Sinhá)
no bangüê dum meu avô vem me ajudar, ó Fulô,
uma negra bonitinha vem abanar o meu corpo
chamada negra Fulô. que eu estou suada, Fulô!
Essa negra Fulô! vem coçar minha coceira,
Essa negra Fulô! vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
Ó Fulô! Ó Fulô! vem me contar uma história,
(Era a fala da Sinhá) que eu estou com sono, Fulô!
- Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos, Essa negra Fulô!
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô! “Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
Essa negra Fulô! que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Essa negrinha Fulô Entrou na perna dum pato
ficou logo pra mucama, saiu na perna dum pinto
para vigiar a Sinhá o Rei-Sinhô me mandou
pra engomar pro Sinhô! que vos contasse mais cinco."
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô? Essa negra Fulô!
Vai botar para dormir Essa negra Fulô!
esses meninos, Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô?
"Minha mãe me penteou Cadê meu lenço de rendas
minha madrasta me enterrou cadê meu cinto, meu broche,
pelos figos da figueira cadê meu terço de ouro
que o Sabiá beliscou." que teu Sinhô me mandou?
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô! Ah! foi você que roubou.
Ah! foi você que roubou.
Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá Essa negra Fulô!
chamando a Negra Fulô.) Essa negra Fulô!
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou? O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
-Ah! foi você que roubou! A negra tirou a saia
-Ah! foi você que roubou! e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
O Sinhô foi ver a negra nuinha a negra Fulô.
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa. Essa negra Fulô!
O Sinhô disse: Fulô! Essa negra Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
ah! foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô!
CECÍLIA MEIRELES
“Liberdade,essa palavra que o sonho humano
alimenta, que não há ninguém que explique e
ninguém que não entenda”...

TEMAS E CARACTERÍSTICAS:
• a solidão e a perda
• a passagem do tempo; efemeridade da vida
• herança neo-simbolista: uso contínuo de imagens /símbolos
• poesia intimista, subjetiva e musical
• poesia universal

OBRAS PRINCIPAIS:
•Viagem
•Vaga música
•Mar absoluto
•Retrato natural
•O Romanceiro da Inconfidência
RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,


Assim calmo, assim triste, assim magro
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?
ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA
Tema: Inconfidência Mineira Romance LX ou do caminho
O romanceiro apresenta todas da forca
as etapas da Inconfidência Os militares, o clero,
Mineira: Os meirinhos, os fidalgos
Que o conheciam das ruas, (...)
- Surgimento do ouro;
E aqueles que foram doentes
- Exploração desmedida; E que ele havia curado
- Cobrança de impostos; - Agora estão vendo ao longe,
De longe escutando o passo
- Surgimento do levante;
Do Alferes que vai à forca,
- Figura de Tiradentes = mártir; Levando ao peito o baraço,
- Perseguição dos intelectuais / poetas Levando no pensamento
árcades; Caras, palavras e fatos:
As promessas, as mentiras,
- Relação Tomás Antônio Gonzaga x
Línguas vis, amigos falsos...
Marília;
- Degredo de Tomás Antônio Gonzaga
2ª FASE MODERNISTA
REGIONALISMO DE 30 / ROMANCE DE 30 / NEO-REALISTA
2ª FASE MODERNISTA - PROSA

1930 .................................................. 1945

A BAGACEIRA (1928)
José Américo de Almeida

CARACTERÍSTICAS / CONTEXTO HISTÓRICO

- ERA VARGAS / 2ª GUERRA MUNDIAL


- ESTADO NOVO / CORONELISMO
- CONGRESSO REGIONALISTA DO RECIFE (1926)
-O LATIFÚNDIO, A SECA, A VIOLÊNCIA SOCIAL
- A CORRUPÇÃO, OS CONTRASTES SOCIAIS
- O HOMEM NORDESTINO...
JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA – 1º relato da geração de 30
– Programa “regionalista”
A Bagaceira (1928) – Temática da seca

GRACILIANO RAMOS

●Oscilando entre a ficção e a autobiografia,


o realismo de Graciliano tem sempre caráter
crítico” O herói não aceita o mundo, nem os
outros nem a si mesmo sendo problemático”
●Não há o predomínio do regionalismo da
paisagem, que só interessa, na medida que
integra com o psicológico;
●Traços marcantes: Economia vocabular,
uso restrito dos adjetivos, e a sintaxe
clássica que o distancia dos modernistas e o
aproxima de Machado de Assis.
PRINCIPAIS OBRAS:
São Bernardo - A luta pela ascensão social de Paulo
Honório; casamento com Madalena, o suicídio de sua mulher, e
a derrocada final do protagonista; Capitalismo X Socialismo.

Memórias do Cárcere - Escrito na prisão (autobiográfico)

Vidas Secas - – A trajetória de uma família do sertão


nordestino, opressos pela seca, pelo latifúndio e pelo Estado;
Anonimato social; linguagem seca; capítulos independentes;
Zoomorfismo x Antropomorfismo.

• ROMANCE CÍCLICO
 Enfoque à marginalização do sertanejo
VIDAS SECAS (fragmento)
"Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele
estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim
do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta.
Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura,
pareciam ratos - e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.
Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta,
esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o,
fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar
regalado.
- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam
admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era um
homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros.
Vermelho, queimado, tinha olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos;
mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-
se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse
percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano.
Isso para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de
vencer dificuldades.
JORGE AMADO

Cacau – A luta dos ‘coronéis” pela posse da terra


Suor boa para o cacau;
Jubiabá – A crise da sociedade cacaueira e o domínio
Terras do sem fim econômico;
São Jorge dos Ilhéus – Mistura de elementos naturalistas e
Românticos.

Carnaval – O universo das classes populares urbanos


Capitães da Areia e rurais;
– Romances “proletários”, fortemente
políticos e sociais.

Gabriela cravo e canela / Mar morto – Narrativas populares e sensuais;


Os velhos marinheiros / – Predomínio da ironia;
Teresa Batista, cansada – Visão anarquista / debochada;
de guerra / Tieta do Agreste – Linguagem popular.
RACHEL DE QUEIROZ 1ª mulher na A.B.L. / a força da mulher nordestina

O Quinze – O mundo miserável do sertanejo num


Memorial de Maria Moura período de seca;
João Miguel – Descritivismo / análise psicológica.

JOSÉ LINS DO REGO (ciclo da cana-de-açúcar)

Menino de engenho – A trilogia que acompanha a infância, a


Doidinho adolescência e o retorno do personagem
Bangüê autobiográfico Carlos de Melo ao engenho
Usina Santa Rosa; narrativas em 1ª pessoa.

– A decadência dos senhores-de-engenho


Fogo Morto (coronel Lula de Holanda) do artesanato popular
(Mestre Zé Amaro) e o surgimento da visão liberal
democrático no quixotesco Capitão Vitorino.
ERICO VERISSIMO

Clarissa – Narrativas urbanas de fundo moralizante;


Música ao longe – Repetição de personagens que aparecem
em vários relatos: Clarissa, Vasco, Noel,
Olhai os lírios do campo
Fernanda;
O resto é silêncio
– Abordagem dos problemas sociais e morais.

– Gigantesco painel, em termos de ficção, da


O TEMPO formação histórica do Rio Grande do Sul,
EO O continente
abrangendo 200 anos;
O retrato
VENTO – Foco narrativo e suas gerações
O arquipélago
descendentes: Terra e Cambará;
– Linguagem tradicional, urbana.

– Relato político, com sentido alegórico;


– O texto se propõe como uma “leitura” dos
Incidente em Antares
acontecimentos de 64;
– Realismo fantástico.
3ª FASE MODERNISTA

1945.............................................................1978
CONTEXTO HISTÓRICO-LITERÁRIO

● FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E ERA VARGAS;


● A GUERRA FRIA; EUA X URSS;
● O GOVERNO “DOS CINQÜENTA ANOS EM CINCO”;
● O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DEMOCRÁTICO;
● REGIME MILITAR / ABERTURA POLÍTICA.
CONTEXTO LITERÁRIO

• NOVAS TENDÊNCIAS ARTÍSTICAS E CULTURAIS.


• A PESQUISA ESTÉTICA EM TORNO DA LINGUAGEM.
• DIMINUIÇÃO DOS LIMITES ENTRE PROSA E POESIA
• REINVENÇÃO DO CÓDIGO LINGÜÍSTICO.
•EXISTENCIALISMO.
•VANGUARDAS POÉTICAS (Tropicalismo / Concretismo ...)
• POESIA SOCIAL / MARGINAL / NEOPARNASIANA.
CLARICE LISPECTOR
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver
respostas, continuarei a escrever”.
A FICÇÃO DE CLARICE LISPECTOR
“Eu sou uma pergunta”.

• Narrativa intimista, filosófica, social e metalingüística;


• Ruptura da linearidade narrativa / Linguagem simples /
Discurso indireto livre / Prosa poética;
• Fluxo de consciência;
• Processo EPIFÂNIO (“Revelação”);
• Crise do universo feminino - A experiência pessoal
da mulher e o seu ambiente familiar;
• Escrita influenciada pelo Existencialismo (Sartre);
• Temática universal: - O eu e o outro; - A falsidade das
relações humanas;
OBRAS

• Perto do coração
selvagem;
• Laços de família;
• O lustre;
• Felicidade clandestina;
• A paixão segundo G.H.
• A hora da estrela.
A HORA DA ESTRELA (fragmento)
Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou,
perguntou-lhe:
- E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de
idéia.
- E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
- Macabéa.
- Maca – o quê?
- Bea, foi ela obrigada a completar.
- Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.
- Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a
Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não
era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser
chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu
certo - parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou
desanimada e com pudor - pois como o senhor vê eu vinguei… pois é…
- Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de
honra.
JOÃO GUIMARÃES ROSA
A FICÇÃO DE GUIMARÃES ROSA
• REGIONALISMO UNIVERSAL, MÍTICO, MÍSTICO, CÓSMICO;
• LINGUAGEM: ORALIDADE / REGIONAL / POÉTICA / SONORIDADE/
ARCAÍSMO / NEOLOGISMO;
• REALISMO FANTÁSTICO;
• CONVÍVIO ENTRE O SAGRADO E O DEMONÍACO;
• “O SERTÃO É O MUNDO”.
CONTO: . SAGARANA (estréia-1946)
. PRIMEIRAS ESTÓRIAS (1962)
. TUTAMÉIA (TERCEIRA ESTÓRIAS)
. ESTAS ESTÓRIAS (póstuma - 1969)
NOVELA:
. CORPO DE BAILE: MANUELZÃO E MIGUILIM / NO URUBUQUAQUÁ, NO
PINHÉM / NOITES DO SERTÃO
ROMANCE:
. GRANDE SERTÃO: VEREDAS (1956)
DIVERSOS: AVE, PALAVRA (póstuma - 1970)
Grande Sertão: Veredas (fragmento)
Explico ao senhor, o diabo vive dentro do homem, os crespos do
homem- ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto,
por si , cidadão, é que não tem diabo nenhum .Nenhum! é o que digo
O senhor aprova? Me declare tudo, franco - é alta mercê que me faz; e
pedir posso, encarecido. Este caso- por estúrdio que me vejam - é de
minha certa importância. Tomara não fosse...
Mas, não diga que o senhor, instruído, que acredita na pessoa dele?
Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já o
campo! Ah, a gente , na velhice, carece de Ter sua aragem de
descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito, Nunca vi.
Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse
lhe contar... Bem , o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas
mulheres, nos homens. Até : nas crianças- eu digo. Pois não é ditado:'
menino- trem do diabo'? E nos usos , nas plantas , nas águas, na
terra, no vento... Estrumes....O diabo na rua , no meio do redemoinho
JOÃO CABRAL DE MELO NETO

• “O ENGENHEIRO DA PALAVRA”
•CONCISÃO NA LINGUAGEM.
• RIGOR FORMAL E SEMÂNTICO.
•NOVA DIMENSÃO DO DISCURSO LÍRICO.
• LINGUAGEM AUTOCONCENTRADA (METALINGUAGEM)
•VERSO SUBSTANTIVO E DESPOJADO.
• POETA DAS POUCAS E EXATAS PALAVRAS.
• DESPREZO PELA CONFISSÃO SENTIMENTAL.
OBRAS

• A pedra do sono;
• O engenheiro;
• O cão sem plumas;
• Educação pela pedra;
• Auto do frade;
• Morte e Vida Severina
(Auto de Natal
Pernambucano)
MORTE E VIDA SEVERINA (fragmento)
E se somos Severinos Mas, para que me
iguais em tudo na vida, conheçam
morremos de morte igual, melhor Vossas
mesma morte severina: Senhorias
que é a morte de que se e melhor possam seguir
morre a história de minha vida
de velhice antes dos passo a ser o Severino
trinta, que em vossa presença
de emboscada antes emigra.
dos vinte de fome um
pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
OS CONCRETISTAS

Haroldo de Campos
Augusto de Campos
Décio Pignatari
Ferreira Gullar
CARACTERÍSTICAS:

- Pregam o fim da poesia intimista e do eu lírico.


- Concepção poética baseada na geometrização e
visualização da linguagem.
- Linguagem sintética .
- Valorização da palavra solta (som, forma, visual,
carga semântica)
José Paulo Paes

Epitáfio para um banqueiro

n e g ó c i o
e g o
ó c i o
c i o
O
I N F I N I T O
N F I N I TO
F I N I T O
I N I T O
N I T O
I T O
T O
O
O T
O T I
O T I N
O T I N I
O T I N I F
O T I N I F N
O T I N I F N I Pedro Xisto
Augusto de Campos

LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO


LUXO LUXO LUXOLUXO LUXO LUXO
LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO
LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO
LUXO LUXO LUXO LUXOLUXO LUXO LUXO
LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO
Décio Pignatari

beba coca cola (1957)


“Um poeta desfolha a bandeira
E amanhã tropical se inicia”

• Forte movimento cultural iniciado


em l967, a partir dos Festivais de
Música Popular Brasileira da TV
Record.
• Proposta de uma postura
nacionalista crítica e de ruptura
formal.
• Influenciados pelo concretismo no
que diz respeito à estética, tiveram
entre seus criadores os nomes de
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom
Zé, Os Mutantes (conjunto do qual
participava Rita Lee), o maestro
Rogério Duprat e o poeta Torquato
Neto.
FERREIRA GULLAR

Nascido em São Luis do Maranhão, em 1930, Ferreira Gullar,


procurou apontar em sua obra a problemática da vida política e social
do homem brasileiro.

1ª Concretismo
● Guerra fria
Fases: 2ª Social Temas : ● Corrida atômica
● Neo capitalismo
obra: Poema Sujo ● Lutas raciais
• Agosto 1964 Ao peso dos impostos, o verso
sufoca,a poesia agora responde
Entre lojas de flores e de
a inquérito policial-militar.
sapatos,bares, mercados,
Digo adeus à ilusão mas não ao
butiques,
mundo. Mas não à vida,
viajo
meu reduto e meu reino.
num ônibus Estrada de Ferro
Do salário injusto,
Leblon. da punição injusta,
Volto do trabalho, a noite em da humilhação, da
meio, fatigado de mentiras. tortura,
O ônibus sacoleja. Adeus, do horror,
Rimbaud, relógio de lilases, retiramos algo e com ele
concretismo, neoconcretismo, construímos um artefato
ficções da juventude, adeus, um poema
uma bandeira
que a vida eu compro à vista
aos donos do mundo.
Ferreira Gullar
Mensagem
"Bom mesmo é ir a luta com
determinação, abraçar a vida com
paixão, perder com classe e vencer
com ousadia, pois, o triunfo pertence a
quem se atreve...
A vida é muita para ser insignificante.“
Fernando Pessoa.
Um forte abraço e bons estudos!!!

Professor Josiel Portela

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