Você está na página 1de 9

WARNING OF COPYRIGHT RESTRICTIONS1

The copyright law of the United States (Title 17, U.S. Code) governs the making of
photocopies or other reproductions of the copyright materials.

Under certain conditions specified in the law, library and archives are authorized
to furnish a photocopy or reproduction. One of these specified conditions is that
the photocopy or reproduction is not to be “used for any purpose other than in
private study, scholarship, or research.” If a user makes a request for, or later
uses, a photocopy or reproduction for purposes in excess of “fair use,” that user
may be liable for copyright infringement.

The Yale University Library reserves the right to refuse to accept a copying order,
if, in its judgement fulfillment of the order would involve violation of copyright
law.

1
37 C.F.R. §201.14 2018
Haroldo de Campos

0 SEGUNDO ARCO -IRIS BRANCO

ILUMI/YÚRAS
Copyright © 2010
Carmen de P. Arruda Campos e Ivan P. de Arruda Campos

Copyright © desta edifâo


Editora Iluminuras Ltda.

Organizaçdo
Carmen de P. Arruda Campos
Thelma Médici Nóbrega

Capa
Eder Cardoso / Iluminuras
sobre foto de Carlos Bracher, s.d.

Revisâo técnica
Génese Andrade

Revisko
Leticia Castello Branco

(Este livro segue as novas regras do Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa.)

CIP-BRASIL. CATALOGAÇAO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIV ROS. RI

C2 IS
Campos, Haroldo de, 1929-2003
O segundo arco-fris branco / Haroldo de Campos. - Sao Paulo : Iluminuras, 2010.
il.

ISBN 978-85-7321-299-0

I. Literatura - Historia e critica. 2. Poesia - Historia e critica. 3. Cultura. I. Tftulo.

09-1056. CDD: 809


CDU: 82.09

10.03.09 12.03.09 011441

2010
EDITORA ILUMINURAS LTDA.
Rua Inacio Pereira da Rocha, 389 - 05432-011 - São Paulo - SP - Brasil
Tel./Fax: 113031-6161
iluminuras@iluminuras.com.br
www.iluminuras.com.br
SUMARIO

De quantos brancos se faz o branco?, 9


Flora Süssekind

PARTE U M / LITE RATU RA

I / Dominio hebraico

1.As formas literârias da Bíblia: a poesia, 25


2. Um voo de pâssaro, 39

II / Dominio hispano-americano e espanhol

3.Quatuor para Sor Juana, 45


4. Lezama: o barroco da contraconquista, 57
5. Trés (re)inscriçóes para Severo Sarduy, 63
6.Um encontro entre Juan Gelman e Haroldo de Campos, 75
7.A retorica seca de um poeta fluvial: Juanele Ortiz, 91
8. Perlongher: o neobarroso transplatino, 105
9. Sympoética latino-americana, 113
10.Julio Cortázar, 119
Liminar: para chegar a Julio Cortâzar, 119
Alibi para urna "contraversâo , 128
Urna invençâo de Morelli: Mallarmé selon Cortâzar, 131
11.Emir Rodriguez Monegal: palavras para urna ausência de palavra, 135
12.Tributo a César Vallejo, 139
13.Joan Brossa e a poesia concreta, 145

III / Dominio holandês

14.theo van doesburg e a nova poesia, 151

IV/ Dominio inglês (Irlanda e Estados Unidos)

15.Crepúsculo de ceguiloucura cai sobre Swift, 157


16.Do desesperanto à esperança: Joyce Revém, 165
17.William Carlos Williams: altos e baixos, 171
18.wallace stevens. estudo: duas peras, 181
19.Logopeia, toques surreais, giros barroquizantes:
a poesia de John Ashbery, 185
20.Ezra Pound: I punti luminosi, 191

PARTE DOIS / CULTURA

21. Um anglo-americano no Tropico: Richard Morse, 207


22. Barrocolúdio: transa chim?, 215
23.0 afreudisíaco Lacan na galâxia de lalíngua
(Freud, Lacan e a escritura), 227
24.0 poeta e o psicanalista: algumas invençóes linguísticas de Lacan, 249
25.A fala visível do livro mudo, 263
26.Gerald Thomas: o Homem de Nenhures, 273

Fontes, 279
14. THEO VAN DOESBURG E A NOVA POESIA*

van doesburg: o artista plastico; o arquiteto. pontos de referência


obrigatórios para o estudo da evoluçâo criativa de formas nas artes visuais. veja-
se, p. ex., a `poetica dell'architettura neo plastica,' de bruno zevi, onde hi um
retrato de corpo inteiro da intensa atividade factiva do artista holandês, inclusive
de suas controvertidas relaçóes corn a bauhaus degropius.
van doesburg: o poeta de vanguarda — item pouquíssimo conhecido. graças
à importante antologia dos marginais" (anthologie der abseitigen") —
"ultimatum que a lucidez de carola giedionwelcker lançou contra o "'blackout
da historia' — foram repostos em circulaçâo alguns poemas de van doesburg.
palavras prévias da organizadora: "esta antologia preocupa-se corn os poetas
cujas obras sic, de difícil acesso, por nâo terem interessado aos grandes
editores, aparecendo em tiragens limitadas, de rapido esgotamento. o destino,
que lhes recusou um mais ampio círculo de leitores e os relegou a um
segundo piano, nâo nos parece compatível corn sua dimensâo artistica, sua
personalidade intensa e sua importância na evoluçâo histórica da poesia': (en
passant: manifestaçâo nacional de urn analogo processo de escamoteamento da
obra de arte — a nâo reediçâo das poesias e das invençóes em prosa de oswald de
andrade, para nâo falar de seus inéditos).
van doesburg pertence à categoria dos pintores-poetas (kurt schwitters,
kandinsky, klee, raoul hausmann, hans arp), identificavel principalmente na
moderna literatura de lingua alemâ, cuja obra, embora, em certos casos,
circunstancial e "bissexte, esta mais próxima do real sentido criativo de urna
nova poesia, por suas características de desnudamento formal, do que a maioria
dos profissionais do verso, peritos-provadores do alambique lirico ou sombrios
• Foi mantido o escilo que caractcrizou a coluna doJornal do Brasil nos anos 1950, na qual este texto foi publicado
originalmente, mantendo-se o uso apenas de letras minúsculas, italico para nomcs proprios, italico e aspas para
titulos de obras. (N.E.)

151
officiantes de cinzentas metafisicas, que, malgrado o lance dos dados mallarmaico
(1897), continuaram e continuam aguando a tradiçâo poética viva.
mas nâo é so. van doesburg foi dos que mais conscientemente, entre esses
experimentalistas, colocou o problema de urna nova forma poética. nâo ficou
nas soluçôes do tipo kandisnky/arp: urna espécie de abstracionismo tematico;
transposiçâo, em termos de conceitos verbais, dos efeitos visuais da arte nâo
figurativa, o que incluía um principio de organizaçâo ainda discursivo, nâo
muito diferente da escrita automatica. van doesburgnâo se deteve apenas numa
revoluçâo tematica, conteudística, que so até certo ponto e taticamente
corresponderia a urna nova visâo do poema. enfrentou o poema como um
problema de relaçôes e procurou resolvê-lo corn seu material especifico —
a palavra — sem apelo a qualquer retorica, ainda que de conteúdos abstratos.
seu livro "soldatenverzen" (1916 — "versos de soldado") compôe-se de urna
série de poemas corn duas, trés ou quatro palavras apenas. o "exhibit" que
apresentamos ("voorbijtrekkende troep" — "tropa em desfile") evidencia este
sentido de estrutura rigorosamente econômica, sem intromissâo de qualquer
residuo discursivo ou arabesco metaforico, procurando criar, corn elementos
exclusivamente grafico-sonoros, urna onomatopeia-ideograma de urna tropa
em movimento. nâo nos iluda o vocabulario militar, proprio da época (1' guerra
mundial — em 1914 van doesburg fora convocado), encontradiço também em
caligramas de apollinaire ou nas `parole in libertin"de marinetti e seu grupo. no
"tropa em desfile"nâo ha nenhuma intençâo de arranjo pictografico exterior,
corno, p. ex., na metralhadora e na bota do `2e. canonnier conducteur"; poema
publicado por apollinaire mais ou menos à mesma época (1915); tampouco a
figuraçâo por assim dizer "imitativa" da velocidade que ocorre no âpres la
marne, joffre visite le front en auto" (1919), de marinetti, caos verbal
"parolibrista", frenético malabarismo tipografico desprovido de qualquer
vontade construtiva. no poema de van doesburg a noçâo de organizaçâo rigida
esta sempre presente: pode-se dizer que, descartada a tematica circunstancial, ja
ha uma antevisâo de um problema concreto de composiçâo. a invasâo do bloco
verbal pelo branco da pagina é calculada de maneira a criar um movimento
intrinseco, nâo "figurado", mas resultante do jogo de fatores de proximidade e
semelhança. os cortes em "ransel"e "ruischen ; isolando e repetindo no campo visual

152 0 SEGUNDO ARCO-IRIS BRANCO


elementos idênticos de modo a produzir urna espécie de sistole-diastole ritmica
(abrir e fechar de espaço); a minimizaçâo da estrutura de "ruischen"a "r; resolvendo
com um desfecho-silêncio (nao um "finale enfatico") a andadura da peça, o que
lembra certas estruturas analogas da música moderna (webern, p. ex.); a exploraçâo
consciente das semelhanças de letras (h/n, e/c), impondo um sentido de ordern às
desarticulaçóes do segmento ruischen e contribuindo para a dinamica desejada;
todos esses recursos (para nao falar no uso até certo ponto interessante, embora
discutível, pela margem de arbitrariedade, de negritos e grifos, intercambios de caixa
alta e baixa, corn funçao de tônicas-focos para urna leitura-partitura oral-visual) dao
um nível de interesse extremamente atual às pesquisas de theo van doesburg, que
parece ter trazido para sua poesia a disciplina neoplastica do movimento `dest#1"—
dique à anarquia dadaista/futurista; convite a urna poesia nova e construtiva.

outras obras de van doesburg:


poesia— "voile maan" ("luacheia")— 1913; `de stem uit de diepte"("a voz
da profundidade") — 1915; "x-beelden" — 1917-1920; "klankbeelden" —
1921.
experiências em prosa — caminoscopie"— 1921 (escrito em milâo, sob o
pseudônimo de aldo camini); "het andregezicht" Co outro rosto") — 1924-
1925.

carola giedion welcker sobre a prosa de van doesburg: "ele procura evocar as
palavras elementares e constantes e neutralizar a atmosfera tragica e sentimental.
pretende construir urna prosa universal, nao-anedótica e pura, em consonancia
corn seus princípios em pintura e em arquitetura" infelizmente, nao sao
reproduzidos excertos dessas invençóes em prosa publicadas na revista "de stil"
e portanto de difícil acesso — na "antologia dos marginais".

THEO VAN DOESBURG E A NOVA POESIA 153


theo von doesburg e o nova poesia
harofdo de campas
van doesburg: o artu4 ; o ar- tropa em movimento. net. nos Moda o
qulteto. pontes de refe ala obrigate- voesbuürb militar, prdprb da opaca
ries para o ertudo da evoluçdo arativa
de fores nas atea visuale vela-.e, p. (1.s, puma mondial — em 1914 van
ex, a "poetica dell'architettura neoplas- dasburp fora nnvocado),aeoatradlço
tica", de bruno ree!, onde hi um rattafo tambóm an callgnmas de opoWnabe ou
de corpo inteiro da intensa ativldade ode "parole In Warta" de marinati e sett
factiva do artista hoianda, Inclusive de
suas controrertldes relaçbes can a boa- grugo no "tropo an destile neo hi
haua de proptus. ne buma intents, de arraolo pliogra-
fico exterior, comp, p. ex, na metralba-
van doesburg o poeta de vanguards, — don e na bon do "ie. canonnter condor-
item pouquialmo conhecido. fracas 11
Importante "antologia dos marginal." tear", poema publicado pt* apo8/natre
("autholopk der abantipen") — "ulti- male ou mean 1 mama Opaca (19101;
matum que a lucides de carda 9ltdton- tampons.* a flguraçio por wan san disc
eenker lançou contra o "blackout da
hianrla" — foram reepostos em circuL- "banana" da relandad0 que worn no
sigma de van doesburg. 'smear b Horne, loffn nines le front en
çloas oe da organlsdora: "esta auto" (1919), de narbwta. cis verbal
Nt*l p Preocupa-se rom a poetas
culo obras sin de dlticll aceap, por No "parolfbneta", tramline malabarlaoo tl-
tere , lnteresrdo an grands edltdrs, pogrifbo desprovldo de qualquer vanta-
aparerendo em uragano Ilmitadas, de ria de conetrutiva. no poema de est* doss-
pion eegotamenlo. o destino, que thaa burg a noçio de organlaaçio rigida all
renown um mals ampio circolo de lei.
tore, e a nlegou a um Segundo plano, sempre pr ante: podeae filar que. des-
neo na parere compativel corn sua di- orteda a temalea circunennclat, 1s, Ina
mango artistica, sua peremWldade in- urna antevldo de um problema concreto
fama e sua Importincla na evoiuçio hie
terica da poesia." (en passant: mamfs- de cannonade. a invaafo do bloco Ver-
tarao naclmul de um analogo procsso bal pelo branco da pagina 6 calculada do
de eecemoteamento da obn de arte — a maestra a celar um movimento Intrin-
odo rredlçlo das poealae e das mven ses
em prosa de ossald de andrade, para aeW, mio "tlgurado", mu resultant* do
neo alar de lees inédite). lino de fatere, de proafmfdade e same-
lhangs• a cartes em "cons.' e "rule
ran doesburg portante icategoria do chen", isolando e repetndo no campo vi-
pmtors-pate nun scarifies", kon- sual elementos ldintbs da modo a pro-
dinsky, Idee, raol d ha0amann, hone arp), duals rama spiate de sistole-dünnt.
Iaentlficivel principalmente na moderna ritma (aanr e lecher de espago); a mi-
lltentun de lingua .ani, sula obn, nlmlogio da estrutura de "ra/ehen" a
ember., em certa caps, abcun.tanenl "r", reslvsodo corn um destocboallenclo
e "blaexta", enti mats prdadma do real (mio um "finale mfatloo") a andadura
aentldo arativo de urna non possa, per dt pegs, o quo lembra cartes struturu
Na. eaoerteratleu de delnudamQto analoga, da manica moderna (eebern,
formal, do que a da maloch da prnns- p. ex); a eapbraçfo codsakat* des ae-
atenns do verso, perita-provadors do memaoga. de )etra. (h /n, e /c), Im.
alamblque IWn ou sonrbrloe oacaales pond* um rondo der ordem ea desarti-
de cantatas meta/alms, que, malgrado calstdee do segmmn ruochen a con-
o lance dos dada malnrmtico (1997), tribuindo para a dbrlmlca des)ada; to
continuum/ e continuant &guaado a do tari reeuna (para mio fear no uso
tradlçeo poetica vera. ató ergo peato intereasnte, emboss da-
~1e4 pila maim de arbitrar edade,
mu neo 6 O. two doesburg col der que de negates e plies, innmlmblos de cal-
mal. consclentemente, entra are. ape o alta s babas, nom forgio der adnicas-
rlmenniatea, colocou o problema de foes, pan urna lettura-{artltura oral-
ama nova forma poética. odo flou nee visual) dio um nivei de intense extra-
minded do tipo kaM4uky/arp: urna a- momenta atual is pesqulss de the on
ped, de astraclonamo tem/tlo; trans- dosberg, que pence ter trando pars
poslçio, em tarma de canea. verbal., sua possa a dlsolplles neopliatica do
dos alma. visual da ara nib figurativa, morbomn "de .t l" — clique i anar-
o que acluls um panelplo de organ- qua dadaist& / futurists; COMM a una
saga abrda s asunivo, mio melts eta. poesia non e an.tiutha.
_ .5. .nNr.ltiel can . .
burg nie s deteve apsoas nuora revu- Ocra, obsaa de sap damning:
lsçlo tamktla, oonteudlatts, qua a6 ate polla — "olio moan" ("lu. ama..))
certo ponto e nticamente esrespmd da 1911; "de .as, as de diple"
a urna non ago do poema. arateadea dei
1919;" " — 1917192
0;
o poema corro um problema de Magda; "ktaakb.adas" — 1911.
e procurou re.0lVaio can .51 material
eepecifin — a palane — suer spalo a
_l:
qualquer netbrla, ainda qua de Conan- de auto 00ml-
doe astratte. eau lam "sotdatenwr- ne) o py ' ("o ou
ten" (1916 — "versos de sofdado") sm- too~swh") — 19U-1926.
pberse de ama earn de poems. amo dues,
carob elation seelokr saw a prosa de
trio ou quatro patinas opens. o "extol- aera doseburp: "ate procura evocar as pa-
bit" que aprsenturoe ("neeróybekbaa- arras elementares e co stante. e neu-
de trap" — "tropo est* siesta") midwm- tralise a atmosfera tragica e aentlmen-
ria hie aertldo de e.trutun sacrum,
nl pretende coostrmr urna pray uni-
vaest, nWoedótlra e pura, em nnao-
manta econemlca, arem mtraml neo de dacla om sus principal em patina
qualquer residuo dacunho ou arabesco e em lnfellarunte sito
m ledono. procurando amar, cons Me- do r~e nmrta deans lmven.
066, em bllcaduna resiste
mentos exclwlvamente grafloamorae, pedant* ascam
ulna onomatopóa-Ideograms der ems n~ da. marca —

Você também pode gostar